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ercaoo Crise não afeta negócios de fusões e aqursiçoes . ..&..;"..,.~o.;···~.pe anima mostra que , o numero .de operações continua em patamares elevados, demonstrando confiança na . econorma brasileira 46 I Executivos Financeiros E m meio às incertezas que rondam a economia mundial, o número de operações de fusões e aquisições no Brasil continua em alta. Durante os seis primeiros meses de 2011 foram anun- ciados 73 acordos no País, envolvendo fusões, aquisi- ções, ofertas públicas de ações (OPAs)e reestruturações societárias, cujos negócios movimentaram R$ 75,3 bi- lhões. No primeiro semestre de 2010, considerado um ano excepcional, foram registrados 75 acordos. Até o final do ano, o ritmo de operações deve permane.cer em patamares elevados, o que evidencia o descolamento da trajetória entre os efeitos da crise financeira global e as perspectivas de expansão da economia brasileira. Na visão do presidente do subcomitê de fusões e aquisições da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), Bruno Amara!, esse movimento decorre do perfil das opera- ções, que incluem também ofertas públicas de ações e reestruturações societárias. "Apesar de os problemas (na economia mundial) afetarem o mercado acioná rio, o impacto no mercado de fusões e aquisições é mais baixo, porque ele é representado por movimentos nos quais as empresas implementam estratégias de longo prazo", explica Amaral. Um eventual impacto mais expressivo da queda das bolsas estrangeiras nas operações de fusões e aquisi- ções teria efeito, pondera o executivo, somente em um cenário de turbulência mais prolongada, como ocorreu entre o final de 2008 e o começo de 2009. "No dia a dia de quem toca as operações de fusões e aquisições, ainda não se percebe um impacto muito grande daquilo que está acontecendo nas bolsas de valores em relação às operações em estudo", comparou. Os números do primeiro semestre de 2011 são consi- derados surpreendentes, principalmente devido ao ele- vado número de operações realizadas no ano passado. Em 2010, foram 143 negócios, com um movimento total de R$ 184,8 bilhões. Desse montante, 75 operações e R$ 91,7 bilhões transacionados foram concluídas nos seis primeiros meses. "O primeiro semestre de 2011 foi um semestre forte, o que é surpreendente, porque o ano passado já havia"sido um ano recorde. E é natural que depois de um ano com resultados expressivos, o mer- cado demore um pouco para voltar a ter um volume significativo", analisou. O Ranking de Fusões e Aquisições da Anbima, entre- tanto, mostrou que essa tendência não se confirmou. Em número de transações, a queda do semestre em relação ao mesmo período de 2010 foi de apenas dois negócios. O volume transacionado, por sua vez, encolheu 17,9% em igual comparação, para R$ 75,3. bilhões, devido ao perfil das operações. Quase 80% das transações deste ano movimentaram abaixo de R$ 1 bilhão, enquanto que no ano passado essa participação foi de menos de 70%.

ercaoo Crise E - Abvcap · Entre os principais destaques de 2011 aparecem duas operações decorrentes de negócios anunciados no ano passado. É o caso da maior transação do se-

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Page 1: ercaoo Crise E - Abvcap · Entre os principais destaques de 2011 aparecem duas operações decorrentes de negócios anunciados no ano passado. É o caso da maior transação do se-

ercaoo

Crisenão afeta

negócios defusões e

• •aqursiçoes

...&..;"..,.~o.;···~.peanimamostra que

,o numero

.de operaçõescontinua empatamareselevados,

demonstrandoconfiança na.econorma

brasileira

46 I Executivos Financeiros

Em meio às incertezas que rondam a economiamundial, o número de operações de fusões eaquisições no Brasil continua em alta. Duranteos seis primeiros meses de 2011 foram anun-

ciados 73 acordos no País, envolvendo fusões, aquisi-ções, ofertas públicas de ações (OPAs)e reestruturaçõessocietárias, cujos negócios movimentaram R$ 75,3 bi-lhões. No primeiro semestre de 2010, considerado umano excepcional, foram registrados 75 acordos. Até ofinal do ano, o ritmo de operações deve permane.cer empatamares elevados, o que evidencia o descolamentoda trajetória entre os efeitos da crise financeira globale as perspectivas de expansão da economia brasileira.

Na visão do presidente do subcomitê de fusões eaquisições da Associação Brasileira das Entidades dosMercados Financeiros e de Capitais (Anbima), BrunoAmara!, esse movimento decorre do perfil das opera-ções, que incluem também ofertas públicas de açõese reestruturações societárias. "Apesar de os problemas(na economia mundial) afetarem o mercado acioná rio,o impacto no mercado de fusões e aquisições é maisbaixo, porque ele é representado por movimentos nosquais as empresas implementam estratégias de longoprazo", explica Amaral.

Um eventual impacto mais expressivo da queda dasbolsas estrangeiras nas operações de fusões e aquisi-ções teria efeito, pondera o executivo, somente em umcenário de turbulência mais prolongada, como ocorreuentre o final de 2008 e o começo de 2009. "No dia a diade quem toca as operações de fusões e aquisições, aindanão se percebe um impacto muito grande daquilo queestá acontecendo nas bolsas de valores em relação àsoperações em estudo", comparou.

Os números do primeiro semestre de 2011 são consi-derados surpreendentes, principalmente devido ao ele-vado número de operações realizadas no ano passado.Em 2010, foram 143 negócios, com um movimento totalde R$ 184,8 bilhões. Desse montante, 75 operações e R$91,7 bilhões transacionados foram concluídas nos seisprimeiros meses. "O primeiro semestre de 2011 foi umsemestre forte, o que é surpreendente, porque o anopassado já havia"sido um ano recorde. E é natural quedepois de um ano com resultados expressivos, o mer-cado demore um pouco para voltar a ter um volumesignificativo", analisou.

O Ranking de Fusões e Aquisições da Anbima, entre-tanto, mostrou que essa tendência não se confirmou. Emnúmero de transações, a queda do semestre em relaçãoao mesmo período de 2010 foi de apenas dois negócios.O volume transacionado, por sua vez, encolheu 17,9%em igual comparação, para R$ 75,3. bilhões, devido aoperfil das operações. Quase 80% das transações desteano movimentaram abaixo de R$ 1 bilhão, enquanto queno ano passado essa participação foi de menos de 70%.

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Entre os principais destaques de 2011 aparecemduas operações decorrentes de negócios anunciadosno ano passado. É o caso da maior transação do se-mestre, no montante de R$ 20,8 bilhões, relativa à re-estruturação societária das controladas pela TelemarParticipações. A segunda maior operação, no montantede R$ 11,3 bilhões, foi referente à incorporação da Vivopela Telesp. Ambos os negócios decorrem do processode reorganização do setor ocorrido no ano passado,quando a Portugal Telecom vendeu participação naVivo e assumiu fatia na concorrente Oi (Telemar).

Graças a esses dois negócios, o setor de Tecnolo-gia da Informação (TI) e Telecomunicação respondeupor 45,3% do volume das operações no primeiro se-mestre - foram ao todo nove operações e um valormovimentado de R$ 34,1 bilhões. A mesma repre-sentatividade foi detectada pela Pesquisa Fusões eAquisições da KPMG, a qual apontou os setores de TIe Telecomunicações e Mídia como principais fontesde grandes negócios nos primeiros meses de 2011.Além das áreas mencionadas, o ranking da Anbimaaponta os setores de Recursos Naturais, Financeiroe Energia como destaques semestrais.

MERCADO INTERNOSe por um lado a turbulência na economia global

não deve afetar o ritmo das operações realizadas noBrasil, por outro o próprio executivo da Anbima sina-liza que os negócios a serem efetivados no segundosemestre podem se concentrar principalmente em se-tores voltados ao mercado doméstico. Nessa lista estãoempresas dos setores alimentício e de varejo, os quaisestão envolvidos em discussões sobre grandes negó-cios. É o caso, por exemplo, da compra da Schincariolpela japonesa irin. !

Amarallembra também que a decisão do ConselhoAdministrativo de Defesa Econômica (Cade) - de obri-gar a Brasil Foods (BRF) a negociar ativos - também éum potencial driver para novas operações no segundosemestre. o mesmo período, constará no ranking daAnbima a aquisição da AES Atimus pela TIM Participa-ções, em uma operação avaliada em R$ 1,6 bilhão.

Dez Maiores OperaçõesAnunciadas no Semestre

• Reestruturação Societária das controladas pela TelemarParticipações, resultando na simplificação da estruturasocietária, com o valor dos minoritários de R$ 20,8 bi

• Incoq~oração da Vivo pela Telesp por R$ 11,3 bi

• Aquisição de participação na Pride Internacional pelaEnsco, parte Brasil no volume de R$ 5,5 bi

• A Ashmore Energy vendeu sua participação naElektro para a lberdrola por R$ 4,8 bi

,-

• Compra de participação na Cia Brasileira de Metalurgiae Mineração por consórcio de japoneses e coreanos novolume de R$ 3,2 bi

• Transação envolvendo a compra de ações detidas pelo BESdo Banco Bradesco pela Cidade de Deus, totalízando R$2,8 bi

• Aumento da participação do Grupo EBXna Venta na,resultando no controle por R$ 2,0 bi

• Formação da CPFLEnergias Renováveis com os ativos daCPFLe ERSA,valor de R$ 1,8 bi

• Aquisição do BERJpelo Bradesco por R$ 1,8 bi• Venda de participação de 51% da holding de seguros

do Santander na América Latina (parcela Brasil) paraa Zurich no valor de R$ 1,6 bi

Outro efeito esperado em decorrência das incer-tezas na economia mundial é a maior participaçãode fundos de private equity em grandes operações."Quando você não tem uma competição tão forte domercado de emissões de ações, é natural que essesfundos tenham uma participação mais destacada nasoperações de fusões e aquisições", explicou Amaral."Muitos fundos encerraram ciclos de investimento emuitos fizeram captação recentemente. Então, paraeles, esse é o melhor cenário possível, no qual asexpectativas de avaliação (das empresas) não estãoinfluenciadas por uma bolsa muito valorizada", justi-ficou. Ao mesmo tempo, muitas empresas não podem

"O primeiro semestre de 2011 foi um semestreforte, o que é surpreendente, porque o ano passado já haviasido um ano recorde. E é natural que' depois de um ano comresultados expressivos, o mercado demore um pouco para

voltar a ter um volume significativo",Bruno Amaral

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"esperar" por uma recuperaçãonos indicadores macroeconômi-cos mundiais e por isso o negóciofica facilitado.

As operações envolvendo ape-nas grupos estrangeiros ou em-presas brasileiras sendo adquiri-das por companhias estrangeiras(onde é mais representativa aparticipação de fundos de priva-te equity) representaram 42,3%do montante negociado em ope-rações no primeiro semestre. Amaior parte das operações, ou41,3% do total, foi resultante deacordo envolvendo apenas em-presas brasileiras, tendência quedeve se rnanterno segundo se-mestre, segundo Amaral.

O ranking da Anbima mos-trou que a participação de em-presas norte-americanas nas

compras de empresas brasileiras no primeiro semes-tre alcançou 42,9% do total, ante 14,3% do mesmoperíodo de 2010. A variação, entretanto, não significaque as empresas norte-americanas ignoraram a cri-se e aceleraram as compras no Brasil. "Não enxergoum maior interesse por parte dos Estados Unidos.Acredito que essa maior participação tenha ocorridoem função da menor relevância da Europa", explica.Principal protagonista na compra de empresas brasi-leiras, o velho continente viu sua participação nesses

negócios encolher de 57,1% nosseis primeiros meses do ano pas-sado para 47,6% neste ano.

A manutenção dessa trajetó-ria, explicada pelo momento deli-cado pelo qual passa a economiada Zona do Euro, ainda é incerta.Amaral sinaliza que apenas umadefinição mais clara das dimen-sões e da duração da crise podetornar o cenário mais previsível.Por enquanto, a percepção aindaé de otimismo moderado, mesmoque uma volta mais expressiva dosestrangeiros ao mercado nacionaldemore um pouco mais a ocorrer.-É improvável que (o segundo se-mes re) ameace os recordes doano passado, mas também nãoacho que será um semestre ruim.Acho que será um período com umvolume razoável", projetou. ef

Total - Montante e Número de Operações (R$ bilhões) - Anúncio

Número de Operações

75 148 99 95 143 75 73

184,8

2006 2007 2008 2009 2010 1510 1511

Duas maioresoperações dosemestresomam R$ 32,1 bilhões

Total - Montante e Número de Operações (R$ bilhões) - Fechamento!

Número de Operações

73 124 89 10273 46 47

140,4

2006 2007 2008 2009 2010 1510 1511

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