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ERNANI SÁTYRO

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http://bd.camara.gov.br

Ernani Stiro

61PErFiSParLaMEntarES

ErnaniStyro

Braslia 2011

a experincia democrtica dos ltimos anos levou crescente presena popular nas ins-tituies pblicas, tendncia que j se pronunciava desde a elaborao da Constituio Federal de 1988, que contou com expressiva participao social. Politicamente atuante, o cidado brasileiro est a cada dia mais interessado em conhecer os fatos e personagens que se destacaram na formao da nossa histria poltica. a Cmara dos Deputados, que foi e continua a ser ao lado do povo protagonista dessas mudanas, no poderia dei-xar de corresponder a essa louvvel manifestao de exerccio da cidadania.

Criada em 1977 com o objetivo de enaltecer grandes nomes do Legislativo, a srie Perfis Parlamentares resgata a atuao marcante de representantes de toda a histria de nosso Parlamento, do perodo imperial e dos anos de repblica. nos ltimos anos, a srie pas-sou por profundas mudanas, na forma e no contedo, a fim de dotar os volumes oficiais de uma feio mais atual e tornar a leitura mais atraente. a Cmara dos Deputados bus-ca, assim, homenagear a figura de eminentes tribunos por suas contribuies histricas democracia e ao mesmo tempo atender os anseios do crescente pblico leitor, que vem demonstrando interesse indito pela histria parlamentar brasileira.

Flvio Stiro Fernandes nasceu em Patos (PB), em 13 de ja-neiro de 1942. Em 1964, graduou-se pela Faculdade de Direito do Recife. De volta a sua terra natal, foi advogado de ofcio da comar-ca por dez anos, alm de ter sido cofundador da Faculdade de Ci-ncias Econmicas e secretrio de Educao e Cultura.

Em 1974, convidado pelo ento governador Ernani Styro, as-sumiu a Secretaria do Interior e Justia da Paraba. No ano se-guinte, foi nomeado procurador-geral do Tribunal de Contas do Estado da Paraba e depois con-selheiro. Foi presidente do tribu-nal por trs vezes, onde ocupa atualmente a funo de ouvidor. Foi tambm corregedor e coorde-nador da Escola de Contas Con-selheiro Octaclio Silveira.

Ele tambm exerceu o magist-rio na Universidade Federal da Paraba, atuou como correspon-dente do Jornal do Commercio, em Patos, e como reprter do Dirio de Pernambuco, nos anos 60. Romancista, poeta, ensasta, historiador e articulista, autor de vrias obras de fico, poesia e historiografia, alm de ttulos jurdicos. Doutor em direito, teve vrios de seus trabalhos pu-blicados em revistas e jornais es-pecializados.

61PErFiSParLaMEntarESCmara dos Deputados

Conhea outros ttulos da Edies Cmara no portal da Cmara dos Deputados:

www2.camara.gov.br/documentos-e-pesquisa/publicacoes/edicoes

Ernani Styro foi representan-te do povo paraibano na C-mara dos Deputados durante oito mandatos, de 1946 a 1986, ano de sua morte. Sua atuao par-lamentar, iniciada na Assembleia Nacional Constituinte de 1946, revela uma postura coerente com suas convices polticas. Inde-pendentemente das presses que sofreu, ele mostrou ser capaz de proclamar e defender seus ideais em todas as horas e perante todos.

Na seleo de textos para esta pu-blicao, o organizador destaca a figura de Ernani Styro como um brasileiro que amou seu pas, um nordestino que defendeu sua re-gio, um paraibano que honrou a sua terra. Os discursos aqui reunidos, uma pequena parte do universo de seus pronunciamen-tos na tribuna do plenrio e nas comisses, evidenciam sua cons-tante preocupao com os pro-blemas brasileiros, com as afli-es do Nordeste e com os anseios paraibanos.

Esta obra integrante da srie Perfis Parlamentares homena-geia o parlamentar no ano em que comemorado o centenrio de seu nascimento, ocorrido a 11 de setembro de 1911.

Ernani Stiro

61PErFiSParLaMEntarES

ErnaniStyro

Braslia 2011

a experincia democrtica dos ltimos anos levou crescente presena popular nas ins-tituies pblicas, tendncia que j se pronunciava desde a elaborao da Constituio Federal de 1988, que contou com expressiva participao social. Politicamente atuante, o cidado brasileiro est a cada dia mais interessado em conhecer os fatos e personagens que se destacaram na formao da nossa histria poltica. a Cmara dos Deputados, que foi e continua a ser ao lado do povo protagonista dessas mudanas, no poderia dei-xar de corresponder a essa louvvel manifestao de exerccio da cidadania.

Criada em 1977 com o objetivo de enaltecer grandes nomes do Legislativo, a srie Perfis Parlamentares resgata a atuao marcante de representantes de toda a histria de nosso Parlamento, do perodo imperial e dos anos de repblica. nos ltimos anos, a srie pas-sou por profundas mudanas, na forma e no contedo, a fim de dotar os volumes oficiais de uma feio mais atual e tornar a leitura mais atraente. a Cmara dos Deputados bus-ca, assim, homenagear a figura de eminentes tribunos por suas contribuies histricas democracia e ao mesmo tempo atender os anseios do crescente pblico leitor, que vem demonstrando interesse indito pela histria parlamentar brasileira.

Flvio Stiro Fernandes nasceu em Patos (PB), em 13 de ja-neiro de 1942. Em 1964, graduou-se pela Faculdade de Direito do Recife. De volta a sua terra natal, foi advogado de ofcio da comar-ca por dez anos, alm de ter sido cofundador da Faculdade de Ci-ncias Econmicas e secretrio de Educao e Cultura.

Em 1974, convidado pelo ento governador Ernani Styro, as-sumiu a Secretaria do Interior e Justia da Paraba. No ano se-guinte, foi nomeado procurador-geral do Tribunal de Contas do Estado da Paraba e depois con-selheiro. Foi presidente do tribu-nal por trs vezes, onde ocupa atualmente a funo de ouvidor. Foi tambm corregedor e coorde-nador da Escola de Contas Con-selheiro Octaclio Silveira.

Ele tambm exerceu o magist-rio na Universidade Federal da Paraba, atuou como correspon-dente do Jornal do Commercio, em Patos, e como reprter do Dirio de Pernambuco, nos anos 60. Romancista, poeta, ensasta, historiador e articulista, autor de vrias obras de fico, poesia e historiografia, alm de ttulos jurdicos. Doutor em direito, teve vrios de seus trabalhos pu-blicados em revistas e jornais es-pecializados.

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Ernani Styro foi representan-te do povo paraibano na C-mara dos Deputados durante oito mandatos, de 1946 a 1986, ano de sua morte. Sua atuao par-lamentar, iniciada na Assembleia Nacional Constituinte de 1946, revela uma postura coerente com suas convices polticas. Inde-pendentemente das presses que sofreu, ele mostrou ser capaz de proclamar e defender seus ideais em todas as horas e perante todos.

Na seleo de textos para esta pu-blicao, o organizador destaca a figura de Ernani Styro como um brasileiro que amou seu pas, um nordestino que defendeu sua re-gio, um paraibano que honrou a sua terra. Os discursos aqui reunidos, uma pequena parte do universo de seus pronunciamen-tos na tribuna do plenrio e nas comisses, evidenciam sua cons-tante preocupao com os pro-blemas brasileiros, com as afli-es do Nordeste e com os anseios paraibanos.

Esta obra integrante da srie Perfis Parlamentares homena-geia o parlamentar no ano em que comemorado o centenrio de seu nascimento, ocorrido a 11 de setembro de 1911.

Ernani Stiro

61PErFiSParLaMEntarES

ErnaniStyro

Braslia 2011

a experincia democrtica dos ltimos anos levou crescente presena popular nas ins-tituies pblicas, tendncia que j se pronunciava desde a elaborao da Constituio Federal de 1988, que contou com expressiva participao social. Politicamente atuante, o cidado brasileiro est a cada dia mais interessado em conhecer os fatos e personagens que se destacaram na formao da nossa histria poltica. a Cmara dos Deputados, que foi e continua a ser ao lado do povo protagonista dessas mudanas, no poderia dei-xar de corresponder a essa louvvel manifestao de exerccio da cidadania.

Criada em 1977 com o objetivo de enaltecer grandes nomes do Legislativo, a srie Perfis Parlamentares resgata a atuao marcante de representantes de toda a histria de nosso Parlamento, do perodo imperial e dos anos de repblica. nos ltimos anos, a srie pas-sou por profundas mudanas, na forma e no contedo, a fim de dotar os volumes oficiais de uma feio mais atual e tornar a leitura mais atraente. a Cmara dos Deputados bus-ca, assim, homenagear a figura de eminentes tribunos por suas contribuies histricas democracia e ao mesmo tempo atender os anseios do crescente pblico leitor, que vem demonstrando interesse indito pela histria parlamentar brasileira.

Flvio Stiro Fernandes nasceu em Patos (PB), em 13 de ja-neiro de 1942. Em 1964, graduou-se pela Faculdade de Direito do Recife. De volta a sua terra natal, foi advogado de ofcio da comar-ca por dez anos, alm de ter sido cofundador da Faculdade de Ci-ncias Econmicas e secretrio de Educao e Cultura.

Em 1974, convidado pelo ento governador Ernani Styro, as-sumiu a Secretaria do Interior e Justia da Paraba. No ano se-guinte, foi nomeado procurador-geral do Tribunal de Contas do Estado da Paraba e depois con-selheiro. Foi presidente do tribu-nal por trs vezes, onde ocupa atualmente a funo de ouvidor. Foi tambm corregedor e coorde-nador da Escola de Contas Con-selheiro Octaclio Silveira.

Ele tambm exerceu o magist-rio na Universidade Federal da Paraba, atuou como correspon-dente do Jornal do Commercio, em Patos, e como reprter do Dirio de Pernambuco, nos anos 60. Romancista, poeta, ensasta, historiador e articulista, autor de vrias obras de fico, poesia e historiografia, alm de ttulos jurdicos. Doutor em direito, teve vrios de seus trabalhos pu-blicados em revistas e jornais es-pecializados.

61PErFiSParLaMEntarESCmara dos Deputados

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Ernani Styro foi representan-te do povo paraibano na C-mara dos Deputados durante oito mandatos, de 1946 a 1986, ano de sua morte. Sua atuao par-lamentar, iniciada na Assembleia Nacional Constituinte de 1946, revela uma postura coerente com suas convices polticas. Inde-pendentemente das presses que sofreu, ele mostrou ser capaz de proclamar e defender seus ideais em todas as horas e perante todos.

Na seleo de textos para esta pu-blicao, o organizador destaca a figura de Ernani Styro como um brasileiro que amou seu pas, um nordestino que defendeu sua re-gio, um paraibano que honrou a sua terra. Os discursos aqui reunidos, uma pequena parte do universo de seus pronunciamen-tos na tribuna do plenrio e nas comisses, evidenciam sua cons-tante preocupao com os pro-blemas brasileiros, com as afli-es do Nordeste e com os anseios paraibanos.

Esta obra integrante da srie Perfis Parlamentares homena-geia o parlamentar no ano em que comemorado o centenrio de seu nascimento, ocorrido a 11 de setembro de 1911.

61PERFISPARLAMENTARES

ernaniSTYrO

Braslia 2011

Mesa da CMara dos deputados 54 LegisLatura 1 sesso LegisLativa 2011-2015

presidente MarCo Maia1 vice-presidente rose de Freitas2 vice-presidente eduardo da Fonte1 secretrio eduardo goMes2 secretrio Jorge tadeu MudaLen3 secretrio inoCnCio oLiveira4 secretrio JLio deLgado1 suplente de secretrio geraLdo resende2 suplente de secretrio Manato3 suplente de secretrio CarLos eduardo CadoCa4 suplente de secretrio srgio Moraes

diretor-geral rogrio ventura teixeirasecretrio-geral da Mesa srgio saMpaio Contreiras de aLMeida

61PERFISPARLAMENTARESCmara dos Deputados

ernaniSTYrO

Centro de Documentao e informaoedies CmaraBraslia 2011

ensaio biogrfico e seleo de documentos e discursosFLViO STirO FernanDeS

CMara dos deputados

diretor Legislativo aFrsio vieira LiMa FiLho

Centro de doCuMentao e inForMao Cedidiretor adoLFo C. a. r. Furtado

Coordenao edies CMara Coedidiretora Maria CLara biCudo Cesar

Fotos Fundao ernani styro patos (pb)

projeto grfico suzana Curiadaptao e atualizao de projeto grfico pabLo brazCapa danieLa barbosadiagramao aLessandra Castro knig reviso e indexao seo de reviso e indexao

Cmara dos deputadosCentro de doCumentao e Informao CedICoordenao edIes Cmara CoedIanexo II praa dos trs poderesBraslIa df Cep 70160-900telefone: (61) 3216-5809 fax: (61) [email protected]

SRIEPerfis Parlamentares

n. 61Dados Internacionais de Catalogao-na-publicao (CIP)

Coordenao de Biblioteca. Seo de Catalogao.

Styro, Ernani, 1911-1986.Ernani Styro / organizao, seleo e apresentao, Flvio Stiro Fernandes.

Braslia : Cmara dos Deputados, Edies Cmara, 2011.783 p. (Srie perfis parlamentares ; n. 61)

ISBN 978-85-736-5856-9

1. Styro, Ernani, 1911-1986, atuao parlamentar, Brasil. 2. Poltico, biografia, Brasil. 3. Poltico, discursos etc, Brasil. I. Fernandes, Flvio Stiro. II. Ttulo. III. Srie.

CDU 328(81)(042)

ISBN 978-85-736-5855-2 (brochura) ISBN 978-85-736-5856-9 (e-book)

Sumrio

1 PARTEEnsaio Biogrfico

Origens 15

Estudos 17

Vida pblica 21

Homem de letras 33

Falecimento 35

Atuao parlamentar 37

2 PARTEDiscursos

Na Assembleia Nacional Constituinte 1946 41

Autonomia dos municpios e outras questes constitucionais Sesso de 19 de fevereiro de 1946 43

A questo do subsolo no projeto de constituio Sesso de 18 de maio de 1946 52

O veto parcial e a questo do subsolo no projeto de constituio Sesso de 21 de junho de 1946 58

Ainda a questo da explorao do subsolo Sesso de 30 de agosto de 1946 67

Sumrio

Na Cmara dos Deputados 73

Homenagens 73

Homenagem aos 18 do Forte de Copacabana Sesso de 5 de julho de 1951 73

Saudao ao ministro das Relaes Exteriores da ustria Sesso de 31 de julho de 1952 76

Saudao ao presidente Eduardo Victor Haedo Sesso de 7 de dezembro de 1961 79

Elogios 83

Getlio Vargas Sesso de 17 de abril de 1959 86

Santiago Dantas Sesso de 10 de setembro de 1964 89

Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco Sesso de 3 de agosto de 1967 94

Assis Chateaubriand Sesso de 17 de abril de 1968 99

Jos Amrico de Almeida o escritor e o estadista Sesso de 25 de maro de 1980 103

Argemiro de Figueiredo o advogado e o lder Sesso de 26 de maio de 1983 126

Augusto dos Anjos Sesso de 23 de abril de 1984 137

Joo Suassuna Sesso de 19 de maro de 1986 148

Legislao eleitoral 162

Apresentao de projeto de lei dispondo sobre o uso de retratos nos ttulos eleitorais Sesso de 13 de maio de 1953 164

Fixao do eleitor sua seo eleitoral Sesso de 1 de setembro de 1953 172

Sumrio

Em defesa da cdula oficial nica Sesso de 27 de maio de 1955 175

Pela lisura do pleito eleitoral Sesso de 19 de fevereiro de 1962 188

Problemas do Nordeste 200

Sobre alguns problemas que afligem os produtores rurais do Nordeste Sesso de 5 de maio de 1952 201

Em defesa da pequena e mdia audagem no Nordeste Sesso de 17 de junho de 1952 210

Refinaria de petrleo para o Nordeste Sesso de 9 de maio de 1955 215

Denunciando a explorao dos flagelados da seca Sesso de 28 de abril de 1958 224

Ainda a calamidade da seca Sesso de 4 de junho de 1980 (sesso vespertina) 235

Problemas brasileiros 247

Em defesa da criao da Petrobras Sesso de 2 de setembro de 1952 248

Pela incluso do monoplio estatal das refinarias no projeto de criao da Petrobras Sesso de 18 de setembro de 1952 254

Em defesa da garantia de preservao do Plano Piloto de Braslia Sesso de 29 de maro de 1960 256

Ainda a defesa do Plano Piloto de Braslia Sesso de 29 de maro de 1960 259

Poltica da Paraba 261

Os acontecimentos da Praa da Bandeira, em Campina Grande Sesso de 17 de julho de 1950 261

Sumrio

Ainda os acontecimentos da Praa da Bandeira, em Campina Grande Sesso de 24 de julho de 1950 265

Denunciando violncias policiais na Paraba Sesso de 22 de janeiro de 1952 285

Em defesa do presidente Epitcio Pessoa Sesso de 15 de julho de 1952 289

Denncia contra o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem Sesso de 7 de fevereiro de 1958 298

Denncia em torno de irregularidades do abastecimento dgua de Campina Grande Sesso de 23 de dezembro de 1958 300

Questes jurdicas e constitucionais 308

Sobre a instituio do Jri Sesso de 28 de agosto de 1947 308

De novo, a instituio do Jri Sesso de 6 de novembro de 1947 312

Ainda a instituio do Jri Sesso de 9 de janeiro de 1948 325

Emenda Raul Pilla, pelo Parlamentarismo Sesso de 16 de novembro de 1959 328

Pena de morte Sesso de 16 de fevereiro de 1962 334

O Cdigo Civil 334

A OAB e o Cdigo Civil Sesso de 1 de dezembro de 1983 335

Encaminhamento da votao do projeto de cdigo civil Sesso de 9 de maio de 1984 344

Sumrio

Congratulaes pela aprovao do Cdigo Civil Sesso de 10 de maio de 1984 346

Sobre o projeto do cdigo civil brasileiro Sesso de 6 de setembro de 1984 355

Poltica nacional 364

Consideraes sobre a crise poltico-militar decorrente do Manifesto dos Coronis Sesso de 8 de maro de 1954 366

Protesto contra a agresso ao jornalista Nestor Moreira Sesso de 17 de maio de 1954 377

Sobre o mandado de segurana do presidente Caf Filho Sesso de 1 de dezembro de 1955 390

Atentado ao jornal Dirio de Notcias Sesso de 28 de dezembro de 1955 405

Contra a decretao de estado de stio Sesso de 16 de janeiro de 1956 428

Pela revogao do estado de stio Sesso de 3 de fevereiro de 1956 435

Em defesa da concesso de anistia Sesso de 17 de maio de 1956 441

Protestando contra agresses a parlamentares na sede da Unio Nacional dos Estudantes (UNE) Sesso de 5 de junho de 1956 449

Contra pretendida homenagem ao gal. Odlio Denys Sesso de 26 de julho de 1956 455

Defesa do Congresso Nacional Sesso de 5 de maio de 1960 460

Votao da emenda parlamentarista Sesso de 1 de setembro de 1961 470

Sumrio

Plebiscito para definio do sistema de governo Sesso de 4 de dezembro de 1962 472

Desnecessidade de reforma da Constituio para possibilitar a reforma agrria Sesso de 15 de maio de 1963 489

A propsito da nota dos ministros militares sobre declaraes do governador Carlos Lacerda Sesso de 1 de outubro de 1963 500

Ameaadas as instituies democrticas do pas Sesso de 21 de novembro de 1963 512

Condenando o clima de agitao existente no pas Sesso de 27 de fevereiro de 1964 524

O comcio provocador do dia 13 Sesso de 17 de maro de 1964 536

A revoluo de 31 de maro de 1964 e a Constituio Sesso de 1 de abril de 1964 550

A Revoluo de 64 e a segurana nacional Sesso de 6 de abril de 1967 557

Refutao ao lder do MDB, Mrio Covas Sesso de 21 de junho de 1967 583

Debatendo a conjuntura poltica nacional Sesso de 25 de janeiro de 1968 605

Manifestando-se em resposta ao deputado Mrio Covas Sesso de 8 de abril de 1968 637

Em torno de fatos ocorridos na Universidade de Braslia Sesso de 4 de setembro de 1968 660

Em defesa de seu substitutivo ao projeto de lei de anistia Sesso de 21 de agosto de 1979 670

O perigo comunista no Brasil e no mundo Sesso de 26 de novembro de 1979 679

Sumrio

Alguns equvocos sobre uma assembleia nacional constituinte Sesso de 5 de agosto de 1985 694

Ainda sobre a convocao de uma assembleia nacional constituinte Sesso de 3 de setembro de 1985 703

3 PARTEPareceres

Parecer ao Projeto de Lei CN n 14, de 1979 (Lei da Anistia) 717

Parecer ao Projeto de Lei n 634, de 1975 (Cdigo Civil) 757

REfERnciAs 771

foTos 775

1a parTe

ENSAIO BIOGRFICO

15PerfiS ParlamentareS Ernani Styro

OrigensERnAni AYREs sTYRo E soUsA nasceu em Patos, estado da

Paraba, aos onze dias do ms de setembro de 1911, filho de Miguel Styro e Sousa e Capitulina Ayres Styro e Sousa.

Ao nascer, j trazia no sangue o germe da poltica, transmitido por alguns de seus ancestrais e parentes prximos. O seu trisav, Jos Raimundo Vieira, dono de extensas pores de terras no municpio de Patos, fez parte da primeira composio da cmara de vereadores da-quele municpio, quando de sua criao e instalao, em 1833. O seu bisav, Miguel Styro e Sousa, o primeiro desse nome, foi tambm membro daquela cmara, no sculo XIX, alm de integrante da anti-ga Guarda Nacional. O av materno, Firmino Ayres Albano da Costa, grande latifundirio no serto paraibano, foi deputado na assembleia legislativa da provncia em mais de uma legislatura, tendo tido grande atuao poltica no municpio de Pianc, um dos mais antigos e mais extensos da regio. O av paterno, Sizenando Styro e Sousa, participou da poltica local, exercendo o cargo de membro do Conselho Municipal, em Patos. Outro ascendente seu, Enas Pedro de Sousa, foi deputado estadual e nessa posio se achava quando Patos foi elevada condi-o de cidade pela Lei n 200, de 24 de outubro de 1903, de iniciativa do comendador Jos Campelo de Albuquerque Galvo. Um tio mater-no, Pedro Firmino da Costa e Sousa, foi deputado estadual em vrias legislaturas. Um tio paterno, Sizenando Flrido de Sousa, integrou o Conselho Municipal, em Patos, no incio deste sculo e foi prefeito da-quela cidade. Por fim, seu pai, Miguel Styro e Sousa, que larga influn-cia exerceu em sua formao, foi chefe poltico de Patos a partir do in-cio do sculo passado, mantendo-se nessa chefia por quase trinta anos. Sua hegemonia foi tamanha que a cidade passou a ser conhecida como Patos do major Miguel. Alm de deter a chefia poltica do importante municpio, Miguel Styro foi deputado estadual, antes de 1930, por trs legislaturas seguidas.

Antecedido de tais exemplos familiares e vivendo os dias da infncia sob a influncia das atividades polticas do pai, o seu esprito seria cam-po frtil onde medraria o gosto insopitvel pela poltica.

1 Parte enSaio Biogrfico16

No prefcio que escreveu para o livro Pela verdade, de autoria de Epitcio Pessoa, revelou Ernani Styro que datavam da campanha pol-tica de 1915, travada entre os partidrios do ilustre filho de Umbuzeiro e os do monsenhor Walfredo Leal, as suas primeiras recordaes da in-fncia. Ainda guardo bem ntidas disse ele a impresso das passeatas de Patos, dos folguedos, dos discursos, dos telegramas emocionantes que sublinhavam as marchas e contramarchas da luta.

Miguel Styro, que se dedicava tambm advocacia, embora no possusse o grau de bacharel em direito, influenciou, sem dvida, com o seu exemplo de rbula dedicado, o encaminhamento de seu filho para a carreira jurdica, em que Ernani Styro se destacou durante marcante fase de sua existncia.

17PerfiS ParlamentareS Ernani Styro

EstudosErnani Styro fez os estudos primrios em sua cidade natal, ten-

do sido aluno da professora Maria Nunes, veneranda mestra patoense; do professor Alfredo Lustosa Cabral e de Renato de Alencar, o futuro folclorista, que l residiu. Ainda em Patos, frequentou o Colgio 7 de Setembro, dirigido pelo professor Severino Correia de Oliveira. Ali foi aluno tambm daquele que seria, anos depois, seu colega e companhei-ro de bancada na Cmara dos Deputados e um dos mais brilhantes jor-nalistas brasileiros Rafael Correia de Oliveira.

Em 1924, j concludos os estudos primrios, matriculou-se Ernani Styro no Colgio Pio X, na capital paraibana. Em vrias de suas pginas ou discursos, teve ocasio de mencionar a sua viagem para a cidade da Parahyba, como ento se chamava a atual cidade de Joo Pessoa, e o que foi o seu primeiro contato com o mundo alm dos acanhados limites de sua pequena cidade. A partida deu-se em um dia de So Jos, conforme narrou em uma de suas crnicas domingueiras:

Manh do dia 19. Nuvens no cu e anseios nos coraes. Porm nada de chuva. Devamos ir missa. Era o dia do Patriarca, seno o chaveiro do cu, pelo menos aquele em cuja data se proferia a sentena: fartura ou misria.

Fomos missa e, mal terminava esta, a pancada de chuva ba-teu. Foi debaixo dgua que partimos, com minha me chorando de alegria e saudade, fazendo ainda as ltimas recomendaes. Que estudasse, me comportasse bem, no esquecesse as minhas oraes.

E l nos fomos, Miguel Styro, Francisco Lustosa Cabral, Nelson Lustosa e eu, num carro Ford de bigode, dirigido pelo chofer Dionsio Cunha. Dos cinco viajantes do dia 19 de maro de 1924, apenas eu e Nelson Lustosa estamos vivos.

Nesse tempo, gastava-se praticamente um dia, de Patos a Campina Grande. Almoamos em Juazeirinho, no Hotel de Simeo, e tocamos para Campina. Em frente ao hotel de Rmulo, onde fica-mos hospedados meu pai e eu, nos separamos dos outros compa-nheiros, que prosseguiriam de automvel, no dia seguinte. Tambm no dia seguinte ns estvamos tomando o trem.

1 Parte enSaio Biogrfico18

Como aluno do Colgio Pio X, orgulhava-se Ernani Styro de inte-grar a sua banda marcial, da qual fazia parte aquele que seria, tempos aps, seu companheiro no governo Costa e Silva, como chefe da Casa Militar, o general Jaime Portela, paraibano de Alagoa Nova. Naquele educandrio tambm manifestaram-se seus pendores para as letras. Participou da Arcdia Literria do estabelecimento e colaborou com a revista da instituio, ali divulgando o primeiro conto de sua autoria.

Posteriormente, transferiu-se para o tradicional Liceu Paraibano, onde concluiu o chamado curso preparatrio.

Apesar de dedicado aos estudos, Ernani Styro, numa demonstra-o da irresistvel vocao poltica que j se manifestava, no perdia oportunidade de assistir s sesses da assembleia legislativa. Para tanto ia at gazeta...

Por esse tempo, em nome dos alunos do velho colgio, saudou uma caravana estudantil da Aliana Liberal, que percorria todo o pas em campanha poltica, integrada por universitrios cariocas e gachos.

Nessa poca, um dos seus grandes sonhos era escrever um artigo para o jornal A Unio, que sobre ele exercia um grande fascnio, a pon-to de considerar-se, nesse aspecto, semelhante a Bilac, cuja aspirao maior de jovem era escrever na Gazeta de Notcias, matutino carioca do incio do sculo XX.

Em discurso pronunciado em Campina Grande, quando do lana-mento do livro Uma vida e muitas lutas, de autoria do marechal Juarez Tvora, e em presena deste, disse Ernani Styro:

Eu era um namorado dA Unio, com aquele encantamento, com aquele deslumbramento, por exemplo, com que Olavo Bilac, na sua poca, olhava para a Gazeta de Notcias, que era o viveiro da in-teligncia brasileira. Desde menino eu namorava as colunas de A Unio e desejava l publicar um artigo. Naquela poca, primeiranis-ta de direito, vali-me de Rafael Correia de Oliveira, ento diretor do rgo oficial, que ajudou a fazer a revoluo na Paraba. E publiquei o artigo sob o ttulo Juarez Tvora, cheio de entusiasmo, cheio de deslumbramento, cheio de palpitaes ao mesmo tempo revolucio-nrias e patriticas.

19PerfiS ParlamentareS Ernani Styro 19

Ultimados os preparatrios, Ernani Styro ingressou, em 1930, na gloriosa e tradicional Faculdade de Direito do Recife, aps aprovao no concurso vestibular. Iniciou-se, a, proveitosa etapa de sua vida, no s pela formao acadmica que obteve, mas tambm pela sedimentao de seus pendores polticos e literrios.

De fato, esse foi um perodo da maior significao para a sua for-mao profissional, poltica e literria. Alm dos estudos jurdicos, pro-priamente, iniciou-se na prtica poltica, engajando-se no movimento estudantil e afirmando-se como lder, com a conquista da presidn-cia do diretrio acadmico da velha escola. Da mesma diretoria par-ticipavam outros paraibanos, como Joo Arruda (tesoureiro), Alusio Afonso Campos (comisso cientfica) e Epitcio Pessoa Cavalcanti (co-misso social). Por outro lado, seu aprendizado jurdico fez-se no s nos bancos escolares, com as lies de cunho terico, como tambm na prtica, defendendo rus no foro criminal e patrocinando causas de natureza cvel, notadamente nas pocas de frias em Patos, sua cida-de natal. Por fim, no campo das letras igualmente se afirmou Ernani Styro lendo, estudando, pesquisando, escrevendo e atuando no Dirio de Pernambuco, de cuja redao fez parte nos tempos acadmicos. A di-vulgou trabalhos sobre temas diversos, inclusive uma apreciao sobre o livro Approximaes, de autoria do professor Odilon Nestor, paraibano, professor da Faculdade de Direito do Recife.

To variados eram os campos de atuao jurdico, poltico, lite-rrio que o seu esprito deve ter, com certeza, hesitado em decidir-se por qual deles enveredar. Ele mesmo revelou, em diferentes ocasi-es, que um de seus sonhos era a ctedra de direito penal na velha Faculdade de Direito do Recife, posio a que, sem dvida, teria sido fcil chegar. Um lugar de promotor lhe foi oferecido pelo interventor Carlos de Lima Cavalcanti.

Com a concluso do curso jurdico em 1933, aos vinte e dois anos de idade, Ernani Styro viu chegar a hora de definir-se, preferencialmente, por uma daquelas atividades. Digo preferencialmente porque, em ver-dade, sendo o direito, a poltica e a literatura as trs grandes paixes que ento alimentava (somente depois viria a maior de todas Antonietta), no abandonaria nenhuma delas. Naquela oportunidade, porm, uma teria de ser escolhida, prioritariamente, e essa deciso haveria de ser tomada a partir da colao de grau pela Faculdade de Direito do Recife.

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Vida pblicaA liderana exercitada por Miguel Styro em Patos fixara razes pro-

fundas. No obstante, o velho comandante no mais se encontrava em condies de levar avante seu barco. Vitimado por uma trombose, lo-comovia-se com dificuldade, o que tornava difcil o exerccio da chefia poltica. Alm disso, os ventos da poltica sopravam contra ele. Apesar de ter combatido ao lado da Aliana Liberal, encontrava-se no ostracis-mo e o municpio entregue a outras mos.

Seus amigos e correligionrios depositavam toda a esperana no filho do chefe, prestes a se formar no Recife. Quando Ernani Styro concluiu o curso jurdico, pois, tornou-se-lhe impossvel fugir ao chamamento que lhe faziam os companheiros de Miguel Styro. Decidiu, ento, fixar-se em Patos e substituir o pai na liderana po-ltica das Espinharas.

Algum tempo depois, com a promulgao da Constituio Federal de 1934, so convocadas, nos estados, as eleies para a escolha das res-pectivas assembleias constituintes estaduais. Ernani Styro obteve seu primeiro mandato eletivo, como deputado Assembleia Constituinte da Paraba pela legenda do Partido Libertador, cuja bancada contemplava, tambm, os nomes de Severino Lucena e Fernando Pessoa.

Durante as reunies teve destacada atuao, proferindo discursos, apresentando emendas, debatendo os principais problemas levados considerao daquele colegiado. Promulgada a Constituio estadual e transformando-se a assembleia constituinte em assembleia legislati-va ordinria, prosseguiu Ernani Styro desempenhando o mandato no mesmo ritmo.

Em 1936, em memorvel campanha, conseguiu reaver a prefeitura de Patos, com a eleio de seu irmo Clvis Styro.

Pouco depois, Ernani Styro, em carta dirigida a Antnio Botto de Menezes, presidente do Partido Libertador, comunicou o seu des-ligamento dessa agremiao pelos motivos que exps na missiva. Por essa poca, foi vtima de atentado bala em sua cidade natal, do qual, porm, escapou ileso.

Posteriormente, passou a apoiar o governo Argemiro de Figueiredo. Dois anos aps, o chefe do executivo estadual convidou-o para ocupar

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o cargo de chefe de polcia, no qual permaneceu at a nomeao para prefeito da capital.

Sua atuao como chefe de polcia foi assim por ele interpretada, em depoimento ao CPDOC, da Fundao Getlio Vargas:

Eu fui um chefe de polcia no Estado Novo, por conseguinte, de um regime ditatorial, discricionrio, e fui um chefe de polcia for-te. Tinha que ser. Fiz muitas prises polticas; mandei fazer muitas prises polticas. Agora, de uma coisa ningum pode me acusar: jamais atentei contra os direitos humanos. Eu nunca permiti, sen-do do meu conhecimento, que se maltratasse ningum, que se se-viciasse ningum, que se fizesse qualquer coao fsica ou moral contra ningum.

Sua passagem pela prefeitura da capital foi meterica. Dezenove dias aps haver tomado posse, a queda do interventor Argemiro de Figueiredo determinou, tambm, o seu afastamento.

Sucedeu-se ento uma fase de intensa advocacia em diversas co-marcas do interior, notadamente em Campina Grande, onde passou a residir, e em Patos. Durante esse tempo, dedicou-se, ainda, a atividades literrias, chegando a escrever uma novela, intitulada Rosa dos ventos, que daria origem, posteriormente, ao romance O quadro-negro.

Com a redemocratizao do pas, em 1945, Ernani Styro ingressou na Unio Democrtica Nacional, engajou-se na campanha do brigadei-ro Eduardo Gomes para presidente da Repblica e elegeu-se deputado assembleia nacional constituinte, com 6.759 votos. Os anais dessa as-sembleia registram o que foi sua atuao nos trabalhos de elaborao da Constituio de 1946. Dedicou-se defesa dos ideais municipalistas e discutiu, repetidas vezes, o problema da explorao do subsolo.

Promulgada a Carta Magna de 1946, transformou-se a assembleia nacional constituinte em Congresso ordinrio, formado pela Cmara dos Deputados e pelo Senado Federal.

A atividade parlamentar de Ernani Styro no pode ser descrita em poucas linhas. Ela se desenvolveu, como se sabe, em duas fases. A pri-meira, de 1946 a 1968, abrangendo seis legislaturas; a segunda, de 1979 a 1986, ano de seu desaparecimento, compreendendo dois mandatos. Ambas as fases testemunharam dias agitados da histria poltico-admi-

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nistrativa do Brasil. Grandes projetos e grandes campanhas se verifica-ram no decorrer dos dois perodos.

No final dos anos 40, por exemplo, o grande debate parlamentar girou em torno da cassao dos mandatos dos deputados e senadores eleitos pelo Partido Comunista. O general Eurico Gaspar Dutra tomou partido pela cassao e por ela empenhou-se, indo at cabala de votos entre os parlamentares. A UDN firmou posio contra a cassao. Em carta datada de 2 de dezembro de 1947, dirigida a Sebastio Francisco Fernandes, seu cunhado e amigo, Ernani Styro deu notcia de que, cha-mado a audincia com o presidente da Repblica, foi por este instado a votar pela cassao dos mandatos dos comunistas. Respondeu-lhe, po-rm, o parlamentar paraibano no poder atender ao apelo, em virtude de j haver o seu partido tomado posio contra a extrema medida.

Em 1950, Ernani Styro conquistou o segundo mandato de depu-tado federal. Sua votao alcanou 12.365 votos.

No incio dos anos 50, a ateno do Congresso se voltou para a dis-cusso em torno do projeto de lei que criava a Petrobras. O projeto go-vernamental era tmido, e a UDN empunhou a bandeira do monoplio estatal do petrleo. O deputado Ernani Styro teve destacada atuao, pronunciando, inclusive, importantes discursos e oferecendo emenda em favor da extenso do monoplio rea do refino do petrleo, tese que no foi aceita pelo Congresso.

Ainda nos anos 50, agitou-se o problema da reforma eleitoral, ten-dente a criar mecanismos que assegurassem maior pureza ao proces-so eleitoral, reconhecidamente defeituoso e, sobretudo, favorecedor de fraudes e deturpaes. Um projeto foi submetido ao Congresso e uma comisso mista foi designada para examinar a matria e sobre ela emi-tir parecer. Ernani Styro foi designado presidente dessa comisso e Gustavo Capanema, relator. O projeto no chegou a ser apreciado, ten-do em vista o desinteresse do PSD, o partido majoritrio, em levar frente sua discusso e aprovao.

Por essa poca, na qualidade de vice-lder, coube a Ernani Styro substituir o deputado Afonso Arinos de Melo Franco, temporariamente afastado da liderana da UDN.

A uma intensa atividade poltica de Ernani Styro correspondeu, nesse tempo, uma fase de grande produo literria. Passou a colaborar em vrios jornais do Rio, notadamente Tribuna da Imprensa, Dirio de

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Notcias, Dirio Carioca, A Manh, alm da Revista do Servio Pblico. So artigos de literatura, resenhas de livros, abordagem de problemas sociais, assuntos jurdicos, legislao etc.

1954 foi ano tumultuado da vida nacional, cujos dias agitados cul-minaram com o suicdio de Getlio Vargas. Foi um ano de grande signi-ficao na vida de Ernani Styro. Alm de sua participao nos convul-sionados dias que caracterizaram aquele perodo, obteve o seu terceiro mandato de deputado federal, com 13.010 sufrgios, e a Livraria Jos Olympio publicou o seu primeiro romance, O quadro-negro, bem rece-bido pela crtica. a histria de um advogado que, recm-formado, vol-ta terra natal com uma carta de bacharel, alguma literatura e nenhu-ma experincia, passando, a partir da, a enfrentar as incompreenses e os conflitos que surgem para ele no acanhado meio em que nasceu e a que retornou. Vrios escritores manifestaram seu agrado pelo que o ro-mance do parlamentar paraibano representou para as letras brasileiras.

O pendor para o romance se confirmou em 1957, quando a Livraria Jos Olympio editou Mariana, cuja ambientao se passa em Campina Grande.

1958 foi ano de muita luta, marcado pela eleio para deputados e senadores. A UDN, na Paraba, adotou para o Senado a candidatu-ra de Jos Amrico de Almeida, derrotado por Rui Carneiro, senador desde 1950. A estiagem que assolou o Nordeste deu lugar aos servios de emergncia, manipulados pelos tarefeiros de obras, interessados no triunfo da candidatura oficial. Surgiu, na ocasio, a conhecida expres-so indstria da seca. Ernani Styro pronunciou vrios discursos na Cmara dos Deputados, denunciando o envolvimento do DNER nos negcios escusos que se praticavam com o dinheiro pblico. As denn-cias na imprensa originaram, inclusive, uma investigao do Exrcito, chefiada pelo cel. Ramagem, que ao final elaborou longo relatrio. Na eleio desse ano, Ernani Styro conquistou seu quarto mandato. A per-manncia na Cmara Federal por tantos anos lhe sugeriu, nessa poca, a sentena por ele cunhada e que se tornou muito conhecida: Minha estrela pode no ser brilhante, mas constante.

Na campanha presidencial de 1960, seguindo a orientao da UDN, Ernani Styro engajou-se na luta em defesa da candidatura de Jnio Quadros. Acompanhou o futuro presidente por vrios estados do Brasil, participando de comcios e reunies em favor do homem da vassoura.

Com a renncia de Jnio e os acontecimentos que a ela se seguiram, Ernani Styro postou-se novamente nas trincheiras oposicionistas. Em 1962, com 9.899 votos, obteve o quinto mandato legislativo, tomando posio decidida contra a poltica do presidente Joo Goulart, reinves-tido, no incio de 1963, de todos os poderes e atribuies presidencia-listas. A quebra da disciplina militar; a eliminao da hierarquia dentro das foras armadas, com o insuflamento insubordinao; a agitao no campo, a pretexto de lutar pela reforma agrria; tudo isso compunha um quadro de desregramento institucional que colocava em perigo a pr-pria unidade nacional. Inconformado com esse estado de coisas, Ernani Styro decidiu enfrentar o poder central, atacando todos aqueles atos. Da tribuna da Cmara pronunciou mais de dez discursos denunciando a situao de insegurana em que se achava o pas.

A deposio de Joo Goulart resultou em uma srie de aconteci-mentos que mudaram completamente a face poltica do pas e aos quais no nos cabe, aqui, reportar, salvo aqueles fatos de que Ernani Styro participou mais diretamente.

Na rea parlamentar, o movimento militar necessitava de apoio e sustentao, o que se buscou conseguir mediante a formao do cha-mado Bloco Parlamentar Revolucionrio, do qual a UDN era o supor-te maior. A presidncia desse bloco foi confiada a Ernani Styro, que, no ano seguinte, seria eleito para a presidncia da Unio Democrtica Nacional. Era ele o dirigente mximo daquele partido quando o presi-dente Castelo Branco decretou a extino dos partidos polticos, tendo tido Ernani Styro oportunidade de manifestar ao presidente a sua in-conformao com o ato. Com a reformulao partidria, integrou-se o ex-presidente da UDN Aliana Renovadora Nacional (Arena), que durante vrios anos deu apoio ao regime militar.

Aproximando-se as eleies parlamentares de 1966, manifestou Ernani Styro o desejo de disputar uma vaga no Senado Federal; os seus correligionrios, no entanto, preferiram o nome de Alusio Afonso Campos. Confiando na indicao de seu nome para senador, Ernani Styro havia liberado seus companheiros para outras candidaturas a deputado federal. No obtendo xito em candidatar-se ao Senado, consequentemente encontrou-se Ernani Styro quela altura sem con-dies, tambm, de candidatar-se Cmara dos Deputados. Decidiu, ento, no pleitear qualquer cargo eletivo. Sabedor desse fato e tendo

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por Ernani Styro grande admirao por ser conhecedor dos servios por ele prestados nao, como parlamentar aguerrido e consciente de seus deveres , o presidente Castelo Branco resolveu interferir junto Arena da Paraba, exigindo que o doutor Styro fosse reconduzido ao Congresso Nacional. E assim se fez, com Ernani Styro obtendo o seu sexto mandato.

Ao presidente Castelo Branco sucedeu o presidente Artur da Costa e Silva, de cujo governo Ernani Styro foi lder na Cmara dos Deputados. Era lder da oposio, ao mesmo tempo, o deputado Mrio Covas, do MDB de So Paulo. O que foram os debates travados entre os dois lde-res est devidamente registrado nos anais da Cmara dos Deputados. No exerccio da liderana, o deputado paraibano foi acometido de pro-blemas cardacos, ficando proibido, por seus mdicos, de retornar ao cargo de lder do governo.

Foi quando, dando-se uma vaga no Superior Tribunal Militar, o presidente Costa e Silva o convidou para compor aquela corte. Em sua posse, Ernani Styro foi saudado por seu conterrneo, amigo e ex-ad-versrio poltico, ministro Alcides Vieira Carneiro.

difcil imaginar um homem pblico que a vida toda fora depu-tado, quer de oposio, quer de governo, ser, de repente, guindado po-sio de juiz e manifestar-se um magistrado. Ernani Styro conseguiu, sem dvida, essa faanha, j delineada em seu discurso de posse, no Superior Tribunal Militar:

Tentarei ser um juiz. S isto. Nem inclinado clemncia nem severidade. Juiz, sem adjetivo. A fora da expresso est no substan-tivo e no verbo, embora haja, por vezes, adjetivos necessrios. Juiz, a julgar no apenas com o corao, mas tambm com o corao. Juiz a julgar no apenas com o crebro, mas tambm, e muito, com o crebro. Julgar com todo o ser. Com os meus nervos, com o meu sangue, com a minha tranquilidade, mas tambm com a minha emoo. H uma palavra que pode resumir tudo isso: conscincia. No a conscincia abstrata, inorgnica, esttica. (Eis-me agora ad-jetivando, como um dos pecados de minha latinidade.) Conscincia dinmica, motivada, aplicada s circunstncias. Juiz, no escravo da lei. Escravo de ningum, nem de nada. Limitado pela lei, pelo direi-to. Atento ao indivduo, dignidade do ser humano, ao seu direito

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de defesa e s suas aspiraes de liberdade, mas atento tambm, no menos, aos direitos da sociedade, s suas necessidades de paz e de ordem. No sou dono de uma judicatura, senhor de um patrimnio, com o poder de distribuir benesses e liberalidades. Tambm no poderei ser instrumento de vinganas. Creio ter a noo precisa de minha misso. Creio possuir a linha do equilbrio e da prudncia, apesar de ser um extrovertido, por vezes um temperamental.

No STM seguiu a linha de conduta que se traou em seu discurso de posse: atuou com conscincia e dignidade, no permitindo que suas convices polticas e ideolgicas atropelassem a ao serena, embora decidida, do julgador. Alguns dos acrdos e despachos por ele prolata-dos foram reunidos no livro Direito penal militar e segurana nacional.

Na Paraba, os adversrios saudaram a sua ida para o Superior Tribunal Militar como o fim de sua carreira poltica. Ao envergar a toga, segundo o pensamento e o desejo de seus opositores, Ernani Styro es-taria se aposentando para sempre da poltica.

Poucos meses depois, Ernani Styro aposentou-se, sim, mas do cargo de ministro do STM. A modificao constitucional que deter-minou a escolha dos governadores atravs das assembleias legislativas pareceu-lhe e a muitos dos seus companheiros como a hora de ver o amigo velho no Palcio da Redeno. A fama, nunca comprovada, de que era ruim de urna sempre o alijava das cogitaes como candidato ao governo do estado pelo voto direto. Quando se iniciou o processo de indicao dos governadores pelo Planalto, grande foi a preocupa-o dos seus amigos e a esperana de seus adversrios. Semanalmente saam as indicaes, sem que a da Paraba despontasse. Enquanto isso, diferentes nomes eram sugeridos pela imprensa como provveis indica-es. Somente em julho de 1970, o presidente Mdici anunciou, em um mesmo dia, as ltimas indicaes: Raimundo Padilha, para o estado do Rio de Janeiro; Rondon Pacheco, para Minas Gerais, e Ernani Styro, para a Paraba.

Procedida a eleio pela assembleia, preparou-se Ernani Styro para o exerccio do cargo de governador do estado. Escolha do secretariado, conhecimento da situao financeira e econmica do estado, elaborao do plano de governo, tudo isso participava de suas cogitaes e cuidados.

A posse deu-se a 15 de maro de 1971.

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Em seu discurso de posse, aps relacionar as metas administrativas a que seu governo se propunha, enfatizou o desejo de manter bom e estreito relacionamento com os demais poderes: No somente por dis-posio de ordem constitucional, como pela minha prpria disposio, pela minha formao, pelo meu temperamento, quero que sejam har-mnicas e independentes as relaes entre os poderes do estado.

No tocante, em especial, ao relacionamento com o Poder Legislativo, suas palavras, ditas no mesmo pronunciamento, constituem uma verda-deira profisso de f democrtica:

Com esta Casa quero governar. Foi daqui que parti, precisamen-te h trinta e seis anos, para outras atividades pblicas, na sua maior parte ligadas ao Poder Legislativo.

Sei que daqui podero sair crticas, divergncias, talvez at ata-ques enrgicos. Nunca, porm, me faltar, disto tambm estou cer-to, a inspirao, o apoio, o voto para tudo quanto seja do interesse do povo. Quando falo em povo, agora como sempre, no falo em multides inflamadas, em desvarios, em demagogia, que a mais triste deformao da democracia. Falo em povo como quem pro-nuncia uma palavra ungida daquele sentimento de respeito dig-nidade da pessoa humana, pelo simples fato de ser uma pessoa hu-mana. natural que, para melhor servir a todos, muito tenha que negar a muitos. Mas o que quero antes de tudo que esta casa saiba, e sei que ela sabe, que nas minhas mos no se esmagar a legenda de honra dos homens pblicos de nossa terra.

Reportando-se ao movimento militar de 1964 ao qual sempre em-prestou apoio, desde o nascedouro aos estertores; nisso diferindo da-queles que, depois de se fartarem nas suas tetas gordas e robustas, dele fugiram quando as mamas tornaram-se magras e desnutridas , disse o governador que se empossava:

Serei fiel Revoluo de 31 de maro de 1964. Quaisquer que sejam os seus erros, ela nos salvou da destruio e do caos. Sou par-tidrio de uma democracia orgnica, dinmica, capaz de defender-se, e no de uma democracia esttica, anmica e suicida. neces-srio j o disse em entrevista imprensa no confundir a fora

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com a violncia. No h poder que se sustente sem o apoio da fora, empregada com oportunidade e comedimento. No h regime que se sustente na violncia, que a hipertrofia da fora. necessrio tambm no confundir o adversrio poltico com o inimigo do re-gime. Os partidos polticos devem ser apenas irmos separados, ecumenicamente ligados nas mesmas inspiraes patriticas.

Ernani Styro conseguiu alcanar o que almejava e que foi expos-to em seu discurso de posse. Realizou um governo operoso e probo. Poucas administraes na Paraba fizeram tanto quanto a dele. Manteve os pagamentos do estado em dia, quer os do pessoal, quer os decorren-tes de contratos com fornecedores de bens, prestadores de servios e empreiteiros de obras.

Ao concluir o mandato, que cumpriu at o fim, pde contabilizar um nmero considervel de obras, de inegvel valia para a Paraba e sua gente, dentre as quais so de salientar-se: centro administrativo de Jaguaribe; edifcio da assembleia legislativa; estdio de futebol da capi-tal; estdio de futebol de Campina Grande; concluso e funcionamento do Hotel Tamba, em Joo Pessoa; central de abastecimento de Joo Pessoa; central de abastecimento de Campina Grande; quartel do Corpo de Bombeiros de Joo Pessoa; Centro de Recuperao dos Presidirios do Estado (Cerepe); II adutora de Campina Grande; estrada Redeno do Vale (Patos-Conceio, trecho Patos-Itaporanga); Escola Polivalente Modelo Presidente Mdici (Joo Pessoa); Escola Polivalente Modelo Argemiro de Figueiredo (Campina Grande); prdio de A Unio, no Distrito Industrial, e novos equipamentos para o jornal oficial (Joo Pessoa); prdio da Ciretran de Campina Grande; Barragem da Farinha (Patos); Frum Miguel Styro (Patos); Colgio Capito Manuel Gomes (Patos); Unidade Administrativa Integrada (Patos); Escola de 1 Grau Rio Branco (Patos); alm de colgios e escolas fundamentais em vrias cidades do interior.

No plano institucional, alcanou, tambm, o seu desiderato: ape-sar da plena vigncia do AI-5, nunca se respirou clima to marcante de democracia e de tolerncia em relao s crticas dirigidas ao governo, quer pela assembleia legislativa, quer pela imprensa, todas elas recebidas sem qualquer violncia, em que pese a injustia e o mero partidarismo da maioria delas.

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Expressivo o testemunho do ex-ministro Fernando Nbrega, que assim se manifestou:

Exerceu pelo espao de quatro anos o mandato de governador da Paraba. Nunca perseguiu um adversrio. Jamais praticou ou per-mitiu violncia. Realizou no estado uma obra eficiente e discreta. Os servios pblicos l esto para mostrar o colorido de sua admi-nistrao. A honradez pessoal foi a marca indelvel de seu governo.

Ao findar-se o perodo de sua gesto, despontou, como era natural, o problema sucessrio, ainda pela via indireta. Ernani Styro, como por demais sabido, lutou com todas as suas foras pela indicao de seu candidato, o ex-deputado Ivan Bichara Sobreira, por fim escolhido pelo presidente Ernesto Geisel.

Retornando Paraba, depois de haver obtido a indicao do nome por ele preferido, enfatizou o ento governador paraibano a necessidade da unio do partido governista, declarando perante a multido que o recepcionou:

natural e justo este entusiasmo, principalmente partindo daqueles que estiveram sempre ao meu lado em todo este epis-dio. Mas eu tenho o dever de pedir a meus amigos uma palavra de serenidade, uma atitude de compreenso. Porque, se me bati com todo o meu esforo pela indicao de Ivan Bichara para governador do estado, fui tambm o primeiro a compreender que ele pertence no somente a ns, mas a toda a famlia arenista da Paraba. E ns s estaremos honrando a indicao do Sr. Presidente da Repblica, ns s estaremos correspondendo confiana com que ele escolheu Ivan Bichara defendido por mim , ns s estaremos altura de toda a grandeza desse episdio, se ajudarmos Ivan Bichara a bem governar a Paraba, pacificando todos os espritos.

Aps entregar o governo ao seu sucessor, Ernani Styro, embora sem mandato, jamais deixou de prestar assistncia poltica a seus ami-gos e correligionrios e de participar de todas as dmarches que se fa-ziam em torno da poltica paraibana. Aproximando-se, mais uma vez, o problema sucessrio, apoiou o chamado Acordo de Braslia, em favor

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da indicao do deputado Antnio Mariz ao governo do estado. Pelo acordo, ele seria candidato ao Senado, pela via indireta, como mandava a legislao da poca, cabendo a vaga pela via direta ao governador Ivan Bichara Sobreira. O Acordo de Braslia no foi aceito pela maioria dos convencionais da Arena, que optaram pela candidatura de Tarcsio de Miranda Buriti ao governo do estado, do governador Ivan Bichara ao Senado (via direta) e do senador Milton Cabral reeleio (via indireta).

Diante do resultado da conveno, Ernani Styro decidiu candida-tar-se a deputado federal, obtendo o stimo mandato parlamentar, com 28.959 sufrgios. Neste e no mandato seguinte o oitavo e ltimo de sua vida poltica, obtido pela legenda do Partido Democrtico Social (PDS), ao qual se filiara aps a reformulao partidria decorrente da extino do bipartidarismo , Ernani Styro teve uma destacada atu-ao, em que demonstrou a sua capacidade de luta, a sua tenacidade na defesa de ideias e princpios, sem se incomodar com o que deblate-rassem os seus opositores. Convocado pelo governo federal, emprestou sua colaborao em defesa de projetos de lei polmicos, encaminhados pela Presidncia da Repblica ao Congresso Nacional. Serviu como re-lator quando da tramitao dos projetos relativos anistia aos crimes polticos praticados a partir de 1961; ao disciplinamento das eleies de 1982. Outra das mais importantes misses de Ernani Styro, em sua ltima fase parlamentar, foi a relatoria do projeto do Cdigo Civil. Em seu alentado parecer, o deputado paraibano, honrando as tradies de cultura e saber jurdico de sua terra, aps anlise introdutria de carter geral, examinou, uma a uma, as 1.063 emendas oferecidas ao projeto. O relatrio foi aprovado e o projeto remetido ao Senado Federal.

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Homem de letrasJ tive oportunidade de escrever que poucas pessoas tero, como

Ernani Styro, encarnado to bem o ofcio de escritor. Advogado, depu-tado estadual, deputado federal em oito legislaturas, governador, minis-tro do Superior Tribunal Militar, em todos os cargos e ofcios que exer-ceu, ele revelou-se, sobretudo, o escritor, a ponto de, como governador da Paraba, manter uma coluna semanal nos jornais do estado e no ter faltado uma semana sequer. Mesmo quando a velha A Unio no circu-lava, ele antecipava a sua coluna, divulgando-a no sbado.

Como j disse acima, o seu primeiro romance O quadro-negro , lanado em 1954, foi bem recebido pela crtica. Olvio Montenegro, Adonias Filho, Lus Jardim, Amando Fontes, Srgio Milliet, Guimares Rosa, Jos Lins do Rego, Joel Pontes, Nilo Pereira, Carlos Drummond de Andrade, Mauro Mota, Wilson Martins, Temstocles Linhares e ou-tros mais saudaram com alegria o novo romancista paraibano.

Se o primeiro romance tem sua ambientao em Patos, terra natal do escritor, o segundo romance Mariana tem sua trama transcorri-da em Campina Grande, cidade onde o autor residiu por alguns anos e terra natal de sua esposa.

O terceiro romance Dia de So Jos relata fatos que se relacio-nam com os escndalos originados da indstria da seca e sua influn-cia na eleio senatorial de 1958. obra indita.

Ernani Styro era, ainda, ensasta, poeta e contista. Vrios so os en-saios de sua autoria, a grande parte da dcada de cinquenta, que, como j tive ocasio de observar, foi, sem dvida, a mais frtil, em termos de literatura, por parte de Ernani Styro. Seus ensaios versam, entre outros autores, sobre Cervantes, Rousseau, Dickens, Machado de Assis, Jos Lins do Rego, Lus Jardim, Rmulo Gallegos. Eles foram, em sua maio-ria, divulgados em suplementos literrios de jornais cariocas.

Como poeta, Ernani Styro teve alguns de seus trabalhos publicados na clebre Antologia Brasileira de Poetas Bissextos Contemporneos, organizada pelo poeta Manuel Bandeira. Somente em 1985 iria reunir em livro O canto do retardatrio os seus poemas, escritos ao longo dos anos. Na classificao de Manuel Bandeira, Ernani Styro, com a

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publicao desse livro, passou da condio de poeta bissexto para a de poeta contumaz.

Os contos de Ernani Styro se acham dispersos por jornais e revis-tas. O Correio das Artes, suplemento literrio do jornal A Unio, de Joo Pessoa, publicou algumas de suas produes desse gnero.

A sua bibliografia compreende, ainda, livros jurdicos (O novo con-ceito de legtima defesa, Direito penal militar e segurana nacional), cr-nicas (Sempre aos domingos), repositrio de parte das crnicas domin-gueiras, ao tempo em que governava a Paraba, alm de coletneas de discursos pronunciados na tribuna da Cmara dos Deputados.

A Fundao Ernani Styro, instituda pelo governo do estado da Paraba, para cultuar a sua memria e difundir a cultura na cidade de Patos, decidiu publicar suas Obras Completas, das quais j foram edita-dos os volumes Grande a vida (crnicas no includas em Sempre aos domingos), Retratos a bico de pena (coletnea de discursos proferidos na Cmara dos Deputados traando o perfil de conhecidas figuras da poltica nacional e estadual), O quadro-negro (3 edio), Tradio e re-novao (discursos proferidos ao longo de seu governo), Discursos aca-dmicos (discursos feitos nas sociedades literrias de que participou), Tradio e renovao (discursos na chefia do governo), Mariana (ro-mance, 2 edio), O canto do retardatrio (poesias, 2 edio). O plano inicial das Obras Completas, cuja publicao a Fundao Ernani Styro j iniciou, prev a edio de 37 ttulos.

35PerfiS ParlamentareS Ernani Styro

FalecimentoCasando-se em 1935 com Antonieta Styro, natural de Campina

Grande, Ernani Styro teve quatro filhos, um dos quais falecido em criana. Silede, Bertholdo e Gleide graduaram-se em direito, seguindo o exemplo do pai. Todos, casados, deram-lhe netos. Em 1985, ao lado dos filhos, netos, parentes e amigos, com missa na Catedral de Braslia e recepo em um dos clubes locais, Ernani Styro e Antonieta comemo-raram as bodas de ouro.

Menos de um ano depois, no dia 8 de maio de 1986, em Braslia, Ernani Styro foi acometido de problemas cardacos, vindo a falecer a caminho do hospital para onde o levavam seu filho Bertholdo e sua esposa Antonieta. Em carta que escrevera meses antes, Ernani Styro orientara seus familiares no sentido de sepult-lo onde falecesse, trans-portando-o, depois de dois anos, para Patos, sua terra natal.

Tendo o governo do estado institudo a Fundao Ernani Styro, deliberou a famlia que os restos mortais de Ernani Styro fossem depo-sitados no mausolu que para isso foi construdo na fundao.

A trasladao ocorreu no dia 8 de maio de 1993, com a presen-a de autoridades estaduais e federais, frente o governador Ronaldo Cunha Lima; o presidente do Congresso Nacional, senador Humberto Lucena; deputados federais; deputados estaduais; autoridades munici-pais e o povo em geral. Os restos mortais do saudoso paraibano, trazi-dos em avio da Fora Area Brasileira, foram recebidos no aeroporto Brigadeiro Firmino Ayres, em Patos, por autoridades, familiares, amigos e o povo em geral, o mesmo povo por quem ele lutou durante cinquenta anos de vida poltica e que naquele dia o homenageou e o acompanhou pelas ruas de sua cidade natal. Aqui nasceste e aqui vivers para sem-pre, dizia uma faixa prxima sua antiga residncia, sede da Fundao Ernani Styro.

Ao lado dos seus restos mortais, acham-se depositados os de sua querida Antonieta, transferidos, tambm, de Braslia, em ato simples, com a presena de familiares e amigos.

37PerfiS ParlamentareS Ernani Styro

Atuao parlamentarTendo exercido o mandato parlamentar durante quase trinta e cinco

anos, abrangendo uma legislatura estadual e oito federais, e aliando a isso maneira conscienciosa como encarava o exerccio da representa-o popular, a atuao de Ernani Styro como deputado por demais volumosa, representada por discursos, projetos, pareceres, apartes, re-querimentos, encaminhamentos de votaes, questes de ordem etc., a partir da Assembleia Constituinte Estadual de 1935, passando pela Assembleia Nacional Constituinte de 1946, e estendendo-se at o dia de seu falecimento, em 8 de maio de 1986, a compreendido um intervalo que vai de 1969 a 1979.

Interessam-nos, aqui, as suas atividades de constituinte nacional e deputado federal durante as diferentes legislaturas de que participou. Ao longo dos oito mandatos que obteve, integrou diversas comisses, permanentes e especiais, ocupou os cargos de vice-lder e de lder da Unio Democrtica Nacional e da Minoria oposicionista, assim como de lder de governo (Costa e Silva). Foi delegado ou observador par-lamentar em algumas misses de carter internacional, inclusive jun-to Organizao dos Estados Americanos (OEA) e Organizao das Naes Unidas (ONU).

Da tribuna da Cmara defendia princpios e ideias; discutia os mag-nos problemas nacionais; tratava da poltica de seu estado; relatava fatos de significao poltica, econmica e social; denunciava; homenageava figuras ilustres da poltica e da literatura; registrava efemrides. Tudo, enfim, que tivesse expressividade poltica, econmica, social, jurdica e literria merecia dele um registro, por entender, segundo suas prprias palavras, que o Congresso Nacional era a grande caixa de ressonncia por onde podiam ecoar todos os assuntos que merecessem a ateno do pas.

Os discursos e pareceres de Ernani Styro revelam a importncia de seu trabalho no Parlamento nacional e justificam a sua incluso entre os mais atuantes parlamentares brasileiros de todos os tempos. Quando os jornalistas credenciados junto ao Congresso Nacional costumavam fazer, ao fim de cada ano, a relao dos deputados mais participativos do perodo legislativo a encerrar-se, no era sem razo que o nome de

1 Parte enSaio Biogrfico38

Ernani Styro, costumeiramente, se via includo entre os dos dez depu-tados de maior atuao na Cmara dos Deputados.

Cabe-nos fazer um retrospecto de sua atuao parlamentar, nota-damente de seus principais discursos e pareceres, cuja escolha se fez segundo a temtica dos pronunciamentos, a comear pela fase consti-tuinte de 1946 e abrangendo pronunciamentos que versam sobre ho-menagens, elogios, poltica da Paraba, legislao eleitoral, questes jurdicas, Cdigo Civil, problemas brasileiros, problemas do Nordeste, poltica nacional.

Fizemos preceder cada discurso e parecer de uma pequena nota que assinala o tema do pronunciamento, com a observao abreviada NO (nota do organizador), com a qual ficam assinaladas a autoria e a res-ponsabilidade pelos conceitos e opinies ali emitidos.

2a parTe

DISCuRSOS

41PerfiS ParlamentareS Ernani Styro

Na Assembleia Nacional Constituinte 1946

Na sesso de 19 de fevereiro de 1946, Ernani Styro usou da palavra, fazendo um pronunciamento em que observou, de incio, que, segundo as normas gerais de atuao da Unio Democrtica Nacional no seio da constituinte, j magistralmente traadas na palavra do nosso emi-nente lder, Sr. Otvio Mangabeira, a preocupao maior do partido colaborar no sentido de que, no menor prazo possvel, possamos dar ao Brasil uma constituio altura dos anseios democrticos.

Mas adianta, repetindo o pensamento de Otvio Mangabeira isso no quer dizer que toda vez que surja uma necessidade de carter poltico, mesmo no sentido estritamente partidrio, no venhamos aqui reclamar, pedir, apelar, protestar, exercer, em suma, o nosso mandato.

Baseando-se nisso, o orador passou a denunciar alguns fatos ocor-ridos na Paraba, que no vem ao caso reproduzir nestas pginas, diante da maior importncia do restante do discurso.

Depois de algumas outras consideraes e de apartes diversos, o orador passou a outro assunto, mais de interesse geral para toda a na-o brasileira: o ato do presidente Jos Linhares, que anulou todo o alistamento eleitoral, medida que recebeu a condenao do orador e de outros parlamentares. Ernani Styro lamentou que depois de uma luta to rdua, de sacrifcio to grande, desmancha-se um alistamento como se fosse brinquedo de menino, que se arma e desarma para gudio da imaginao infantil. Participaram dos debates os deputados Fernandes Tvora, Paulo Sarasate e Domingos Velasco, todos solidrios com o pen-samento do orador, que, ao final, conclamou a que se revalidasse o alis-tamento eleitoral j feito, reabrindo-se a inscrio apenas para quantos ainda no se tinham alistado, e convocou a imprensa para amplo debate em torno da matria.

Embora no houvesse ainda projeto a debater, Ernani Styro passou a fazer consideraes sobre alguns pontos de carter geral, referindo-se, inicialmente, aos municpios. Para ele, a autonomia municipal no Brasil a maior das fices e a primeira providncia a tomar para alcanar essa autonomia estaria ligada discriminao de rendas.

2 Parte DiScurSoS42

Citando Oswaldo Trigueiro, em seu livro O regime dos estados na Unio Americana, Ernani Styro lembrou que nos Estados Unidos 44% da arrecadao pblica tocava aos municpios; 36%, Unio e 20%, aos estados. E observou que, no Brasil, computando os municpios das ca-pitais, tocava ao errio municipal apenas 11,75%. Se se abstraissem as capitais, esse percentual decairia para 6,5%.

Numa antecipao ao que atualmente se prega, Ernani Styro pro-ps que se desse mais responsabilidades aos municpios, contanto que se lhes desse mais recursos, mediante uma maior participao em al-guns impostos.

Por fim, passou a falar sobre a tcnica do contedo constitucional, condenando o costume que se tem de transportar para o mbito da Constituio todo um cortejo de matria de direito penal, de direito civil, de direito administrativo e de direito comercial.

Finalizando, observou que o tumulto e a agitao dos parlamenta-res sempre foi de todas as pocas e que no temos razo para descrer do funcionamento e do xito desta assembleia. Pode a nao descansar tranquila, que daqui sair uma constituio altura de seus foros jurdi-cos e dos seus elevados anseios democrticos.

Vale observar que esse pronunciamento de Ernani Styro foi um dos primeiros a abordar questes constitucionais que seriam objeto de debates na fase de elaborao da futura Carta Magna. A propsito desse discurso, diz o historiador Otaviano Nogueira que o seu encerramento, contendo uma profisso de f na constituinte, mereceu, pelos registros dos anais, uma consagrao inusitada para quem, aos 34 anos e com a nica experincia de um mandato de deputado estadual, chegava quase annimo a um senculo de tantas estrelas.

Na sesso de 18 de maio, proferiu discurso em que tratou da poltica do subsolo, isto , as minas e jazidas existentes no Brasil, defendendo o ponto de vista de que deviam ser preservados, em igualdade de condi-es, os direitos de preferncia dos superficirios, desde a pesquisa.

Em 21 de junho, outro pronunciamento, em que, depois de reme-morar os assuntos por ele tratados na sesso de 19 de fevereiro, passou a discorrer sobre o problema do veto, insurgindo-se contra o projeto constitucional que contemplava a possibilidade do veto parcial que ele

43PerfiS ParlamentareS Ernani Styro

entendia ser contrrio ao interesse pblico. Nesse mesmo discurso, re-tomou a discusso sobre o problema da explorao do subsolo, nos ter-mos da sua interveno anterior.

Na edio de 1 de setembro, o Dirio do Congresso Nacional publi-cou discurso por ele pronunciado em 30 de agosto, no qual retornou discusso sobre a questo do subsolo, recebendo apartes dos srs. Oscar Carneiro, Plnio Lemos, Jos Joffily, Joo Agripino e Fernandes Tvora. Tendo solicitado, com o apoio de outros parlamentares, destaque para a votao do artigo 144, 9, n I, do projeto primitivo, em vez do artigo 152, 1, do projeto revisto, o orador, mais uma vez, defendeu a preser-vao dos direitos do proprietrio do solo. (NO)1

Autonomia dos municpios e outras questes constitucionaissesso de 19 de fevereiro de 19462

Quem primeiro falou na Assembleia Constituinte versando ma-tria constitucional foi o deputado Jos Augusto, do Rio Grande do Norte. Este discurso de Ernani Styro foi o segundo que se fez abordando idntica temtica. Nele h uma primeira parte em que o parlamentar trata da poltica da Paraba, voltando-se, porm, de-pois, para temas de interesse nacional, como a questo do alista-mento eleitoral e, mais particularmente, sobre o que, no seu enten-dimento, deveria ser objeto de insero no texto constitucional, no-tadamente a autonomia dos municpios. A propsito desta orao do deputado paraibano, disse Octaciano Nogueira (A Constituinte de 1946: Getlio, o sujeito oculto, So Paulo, Martins Fontes, 2005, pg. 102): O encerramento de seu discurso, uma profisso de f na Constituinte, mereceu, pelo registro dos anais, uma consagrao inusitada para quem, aos 34 anos e com a nica experincia de um mandato de deputado estadual, chegava quase annimo a um sen-culo de tantas estrelas. (NO)

O SR. ERNANI STYRO Sr. Presidente, Srs. Constituintes. As normas gerais da atuao da Unio Democrtica Nacional, no seio do Congresso, j foram magistralmente traadas na palavra do nosso

1 Nota do Organizador (NO).2 Publicado no Dirio da Assembleia Nacional Constituinte, edio de 20 de fevereiro de 1946.

2 Parte DiScurSoS44

eminente lder, Sr. Otvio Mangabeira. Disse S.Exa. que a nossa preocu-pao maior, nesta Casa, colaborar no sentido de que, no menor prazo possvel, possamos dar ao Brasil uma Constituio altura dos anseios democrticos. Mas esclareceu S.Exa. isso no quer dizer que toda vez que surja uma necessidade de carter poltico, mesmo no sentido estrita-mente partidrio, no venhamos aqui reclamar, pedir, apelar, protestar, exercer, em suma, o nosso mandato.

Ainda dentro desta orientao, o nosso ilustre sublder, Sr. Jos Augusto, abriu, para honra da Unio Democrtica Nacional, os debates em torno de matria pura e propriamente constitucional.

V-se, assim, Sr. Presidente, que a Assembleia Nacional Constituinte est integrada s exigncias da opinio pblica nacional. Se, por ventu-ra, surgiram, a princpio, dvidas ou hesitaes; se, na imprensa mesmo, apareceu, alguma vez, restrio mais profunda atuao do Parlamento, a verdade que a grande, a verdadeira imprensa nacional est conos-co. No tememos a imprensa; confiamos bastante no seu patriotismo e vemos que se ajustou conosco, que somos representantes do povo, na situao em que ambos nos encontramos, de verdadeiras vlvulas das liberdades pblicas.

Feitas estas consideraes, senhores constituintes, e j que passam as primeiras nuvens sombrias que ameaavam o Parlamento, quero, an-tes de entrar na discusso da matria propriamente constitucional, dizer algumas palavras de natureza rigorosamente poltica.

A propsito da situao de Minas Gerais, vrios aspectos foram aqui ventilados, demonstrando claramente os oradores que se referiram a esse ponto no consultarem aos verdadeiros sentimentos de pacifica-o nacional as nomeaes do modo porque estavam sendo feitas pelo Exmo. Sr. Presidente da Repblica.

Nada temos a ver com essas nomeaes. Somos partido de oposio, partido vencido, mas que continua vencedor e erguido em postulados de que no renunciar nunca.

Feitas estas consideraes e esta advertncia, Srs. Constituintes, pe-las quais se v que a bancada udenista no deixar de zelar pela sorte do mais humilde de seus amigos e outra no seria a atitude de elementos eleitos pela vontade soberana do povo , quero passar segunda parte de meu discurso, mais de interesse geral para toda a nao brasileira.

45PerfiS ParlamentareS Ernani Styro

Num dos ltimos decretos-leis do presidente Linhares, atravs de dis-positivo que passou despercebido, anulou-se todo o alistamento eleitoral do Brasil. Inicialmente, havia-se disposto que apenas o alistamento ex-offcio passaria por uma reviso, renovados, assim, os ttulos primitivos.

O Sr. Fernandes Tvora Permita V.Exa. um aparte.O SR. ERNANI STYRO Pois no.O Sr. Fernandes Tvora O maior insulto que se podia fazer nossa

cultura jurdica foi anular todo o alistamento da populao brasileira, conseguido com enorme sacrifcio. O alistamento ex-offcio, esse sim, deveria sofrer rigorosa reviso, tendo em vista os seus vcios. Quanto ao outro, absolutamente.

O SR. ERNANI STYRO Muito obrigado a V.Exa.Em decreto posterior, apenas suprimiu-se a expresso ex-offcio e,

desse modo, ficou estabelecido que todo o alistamento eleitoral neces-sitava ser renovado.

O Superior Tribunal Eleitoral, recentemente, em obedincia a essa disposio do decreto-lei, baixou instrues mandando renovar todo o alistamento, com novas exigncias de fotografias, impresses digitais e documentao.

O Sr. Paulo Sarasate No h filmes no comrcio brasileiro. O tri-bunal ignora-o! Como obter fotografias sem filmes? Isso para que nunca mais haja eleies nos estados.

O SR. ERNANI STYRO So as maiores, Srs. Constituintes, as dificuldades de natureza material. Este o drama da democracia no Brasil. Depois de uma luta to rdua, de sacrifcio to grande, desman-cha-se um alistamento como se fosse brinquedo de menino, que se arma e desarma para gudio da imaginao infantil.

O Sr. Fernandes Tvora Pretende-se, positivamente, anular a von-tade dos homens livres do Brasil. Deve-se manter o alistamento ex-off-cio que nada custa s reparties pblicas.

O SR. ERNANI STYRO No pode, Sr. Presidente, permanecer uma situao dessa natureza. necessrio que ela chame a ateno do Poder Constituinte. E no proponho, desde logo, uma providncia jun-to ao Sr. Presidente da Repblica porque, se fizesse, lhe reconheceria o direito de baixar decretos-leis, o que matria controvertida neste plenrio. Da mesma forma, a revogao da lei pelo Congresso no te-ria finalidade prtica, porque, implicando o reconhecimento de que nos

2 Parte DiScurSoS46

cabem poderes legislativos ordinrios, estou certo de que a proposio no teria acolhimento.

Mas quero advertir a nao, desta tribuna, atravs da Assembleia Constituinte, do perigo que existe para a verdadeira democracia, sobretu-do, digamos, para os partidos de oposio, que se defrontam com todas as dificuldades e obstculos, para processar novamente o alistamento feito com lisura e do qual resultou um pleito realmente livre e democrtico.

O Sr. Domingos Velasco No alistamento de 34, gastamos, em m-dia, vinte cruzeiros para obter um ttulo de eleitor com trs fotografias. Para substituirmos os ttulos de sete milhes de brasileiros, e adotada a mesma base, sobrecarregaremos a economia do pas com cerca de 140 milhes de cruzeiros, no mnimo.

O SR. ERNANI STYRO Grato a V.Exa. As dificuldades de natu-reza material so grandes.

Mas, senhores, devemos atender, tambm, ao fator psicolgico, que no pode ser desprezado. Isso gera a descrena do povo no alistamento eleitoral. Ele observa que tudo se faz e se desfaz; nota a dificuldade que tem para se alistar eleitor quando, ao termo de cada eleio, tudo se anula para recomear novamente. Esse o drama, ou melhor, uma das facetas do drama da democracia.

O Sr. Paulo Sarasate Isso fruto ainda da ditadura. E vou explicar por qu. Quem fez as leis nessa poca gente que vive no Rio de Janeiro, em bom hotel ou apartamento, e nunca andou a cavalo pelos sertes e pelas serras, caa de quem sabe ler para transformar em eleitor.

O SR. ERNANI STYRO Vivesse onde vivesse o autor de uma providncia dessa natureza, se no fosse o mistrio e o segredo dos tais decretos-leis, debatido um assunto desses, toda a opinio pblica se le-vantaria, porque, senhores, isso no somente uma questo jurdica, mas tambm poltica na sua mais elevada significao.

O Sr. Domingos Velasco Sobretudo do interesse do povo.O SR. ERNANI STYRO necessrio, portanto, que nos apres-

semos na elaborao da nossa Constituio, para que fatos dessa na-tureza se no reproduzam, como estou certo de que, no Parlamento, no se repetiro.

Devemos providenciar, logo nos seja permitido, no sentido de se revalidar o alistamento eleitoral j feito, reabrindo-se a inscrio apenas para quantos ainda no se tenham alistado.

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Aproveito a oportunidade, Sr. Presidente, para sugerir imprensa do meu pas amplo debate em torno de questo de tanta magnitude.

No que entende com a matria propriamente constitucional, claro que, no havendo ainda projeto a debater, tenho que me referir a alguns pontos de carter geral, tecendo consideraes mais amplas. Entretanto, como deputado do Norte, e, mais do que isto, como homem do interior, quero pedir a ateno dos Srs. Constituintes para a situao dos municpios.

Senhores, a autonomia dos municpios no Brasil a maior das fic-es; , mesmo, expresso que vem sendo reproduzida de Constituio em Constituio, de lei em lei, de doutrina em doutrina, mas nunca atingiu a realidade prtica.

O Sr. Fernandes Tvora Enquanto no se dividir, equitativamente, a renda nacional, atribuindo-se aos municpios o que eles tm de direito, para poder progredir e dispor de tudo quanto necessitem, nunca eles va-lero coisa alguma, e o pas jamais ir para diante. Desde a constituinte anterior venho me batendo por esta superior necessidade.

O SR. ERNANI STYRO De pleno acordo com V.Exa. A primeira providncia no sentido de se alcanar essa autonomia no sero os dis-cursos, nem os dispositivos legais improfcuos. Devemos comear pela raiz a discriminao das rendas pblicas.

Sabemos atravs de opinies as mais autorizadas que, na Amrica do Norte, 44% da arrecadao pblica toca ao tesouro municipal; 36%, ao federal; e apenas 20%, ao tesouro dos estados. A despeito da posio de predomnio poltico tradicional do governo do estado, seus recursos e necessidades financeiras foram sempre consideravel-mente menores que os da Unio e das entidades polticas locais.

Esta uma observao do jurista Oswaldo Trigueiro, que escreveu, a propsito do Direito americano, o interessante livro O regime dos esta-dos na Unio Americana.

O Sr. Fernandes Tvora Em todos os pases civilizados, o munic-pio tem a maior parte na constituio das rendas nacionais. Somente no Brasil se pretende que vivam sem recursos.

O SR. ERNANI STYRO Enquanto isso, senhores, em servio de divulgao do Crculo de Estudos Municipais, temos mo a conferncia de um tcnico, Sr. Rafael Xavier, informando que, no Brasil, computando

2 Parte DiScurSoS48

os municpios das capitais, apenas 11,75% cabem aos municpios da ar-recadao das rendas pblicas.

O Sr. Gofredo Teles Nove a percentagem de So Paulo.O SR. ERNANI STYRO Refiro-me percentagem geral do

Brasil, que de 11,75, porque So Paulo d mais, enquanto que alguns estados do menos.

O Sr. Fernandes Tvora Na primeira Repblica o municpio tinha de 11% a 15%.

O SR. ERNANI STYRO Sr. Presidente, se abstrairmos, porm, os municpios das capitais, essa percentagem desce para 6,5 na escala geral dos municpios brasileiros.

necessrio, senhores, sem chegarmos ao extremo de deixar apenas 20% para os estados, que olhemos para a sorte dos municpios, para lhes dar, como teremos de defender oportunamente, uma percentagem em determinados impostos, como sejam, por exemplo, nas vendas e consig-naes e no imposto territorial. Poderemos, at, sobrecarregar mais os municpios nas suas responsabilidades; poderemos atribuir-lhes, tam-bm, certa dose de encargo em servios de sade e de instruo, pois que ainda assim ter sido atingida a finalidade, porque os municpios sabem que o produto dessa arrecadao, na percentagem que for esta-belecida, ser aplicado dentro do seu prprio territrio.

Temos inmeros municpios no Brasil que no possuem grupos escolares, postos mdicos, servio de saneamento rural. Uma situao destas no pode continuar, senhores, enquanto figura, nas constituies, a fico de uma autonomia que ainda estamos muito longe de atingir.

O Sr. Jaci Figueiredo Precisamos, igualmente, conquistar a autono-mia econmica dos municpios.

O SR. ERNANI STYRO Diz bem V.Exa. porque sem autonomia econmica no existe autonomia poltica.

O Sr. Jaci Figueiredo Evidentemente.O SR. ERNANI STYRO Senhores, outro ponto em que desejo

tocar, embora de leve, diz respeito ao que se tem chamado, apesar de com certo preciosismo, a tcnica do contedo constitucional.

Nossas constituies, at hoje, tm seguido um rumo que no est compatvel com os verdadeiros princpios que disciplinam a matria. Vemos quase que transportado para o mbito da Constituio todo um

49PerfiS ParlamentareS Ernani Styro

cortejo de matria de direito penal, de direito civil, de direito adminis-trativo e de direito comercial.

Uma constituio, senhores, a cpula sob a qual se abrigam todos esses direitos, mas da no se segue que tragamos para ela uma verda-deira torrente de matria estranha.

O Sr. Paulo Sarasate Neste ponto discordo de V.Exa., porque no Brasil se costuma violar muito facilmente as leis, e as constituies so menos violadas.

O SR. ERNANI STYRO A Constituio pode ser violada, como as leis ordinrias, mas isto no justifica que tragamos para a Constituio matria que lhe estranha.

Ora, Sr. Presidente, com essa orientao, ou a Constituio fica sujeita a constantes revises, ou os fenmenos que exigem, muitas ve-zes, a mudana das normas permanecero tolhidos pelos embaraos da lei bsica.

Posso citar, na Constituio de 34 porque somente ela merece o nos-so respeito, para no me referir jamais de 37 exemplos do que afirmo. Realmente foram normas seguidas pelos constituintes daquela poca a preciso e a tcnica. Entretanto, como exceo a essa preocupao dos constituintes de 34 de fazer uma constituio dentro do maior rigorismo tcnico, surgiram emendas de toda natureza que subverteram, por assim dizer, a prpria ordenao das matrias em nossa Carta Magna.

Vejamos aqui um dispositivo que no poderia ser preocupao se-quer de lei ordinria, porque matria de regulamento e est compondo uma constituio:

Art. 121, 3 Os servios de amparo maternidade e infncia, os referentes ao lar e ao trabalho feminino, assim como da fiscali-zao e orientao respectivas, sero incumbidos, de preferncia, a mulheres habilitadas.

Outro exemplo:

Art. 127 Ser regulado, por lei ordinria, o direito de prefern-cia que assiste ao locatrio para renovao do contrato e alienao de imveis.

2 Parte DiScurSoS50

Pura matria de Cdigo Civil:

Art. 144, pargrafo nico A lei civil determinar os casos de des-quite e anulao do casamento, havendo sempre recurso ex-offcio, com efeito suspensivo.

Qual foi a lei ordinria, qual foi a lei civil que deixou de regular o desquite e a anulao do casamento? O nosso Cdigo Civil, senhores, estabeleceu normas taxativas a respeito; e do direito anterior, embora com denominao diversa, j vinham providncias nesse sentido.

Ainda:

Compete aos estados e ao Distrito Federal organizar e manter sistemas educativos nos territrios respectivos, respeitadas as dire-trizes estabelecidas pela Unio.

Outra matria, Srs. Constituintes, que est implcita, naturalmente contida nas atribuies do estado.

Poderia, assim, citar uma torrente enorme do que poderamos cha-mar de interferncias, porque no so mais do que interferncias de ramos do direito na utilizao de princpios constitucionais, que no devem descer a semelhantes detalhes.

O Sr. Paulo Sarasate um corpo estranho Constituio, j que est to na moda essa expresso.

O Sr. Vergniaud Vanderlei O que sobra no ofende Quod abun-dat non nocet.

O SR. ERNANI STYRO Senhores, um de meus eminentes co-legas de bancada tem tambm assunto importante a trazer ao conheci-mento da Casa, razo por que desejo limitar minhas consideraes s palavras que j proferi, ressalvando outros assuntos para depois.

Quero finalizar, porm, insistindo em que o tumulto e a agitao dos parlamentos sempre foi de todas as pocas. Todos os parlamen-tos do mundo tm sido agitados sem descrdito, sem que isto impli-que uma negao de que a democracia seja o verdadeiro regime que nos convm.

51PerfiS ParlamentareS Ernani Styro

E, a propsito do Congresso de 91, que nos deu uma Constituio que, apesar de erros inevitveis, to grandes servios prestou demo-cracia liberal, a propsito de 91, no tenhamos a iluso de que os cons-tituintes fossem homens bem comportados, tirando grau dez em todas as sesses. No, senhores, num livro interessante de Aureliano Leal Tcnica constitucional brasileira esclarece ele, j com a preocupao de tambm defender o Parlamento, que sempre foi assim. E d exemplo:

Um dia, na Constituinte, discutindo-se uma moo, o senhor Demtrio Ribeiro fez certa reclamao ao presidente do Congresso, e este, defendendo seu ato, aludiu ao estado de desordem e vozeria que se nota na sala.

Na sesso de 2 de janeiro diz ainda o tratadista o deputado Pedro Amrico pediu o encerramento da discusso ponderando (com escndalo de seu colega Caetano de Albuquerque, que consi-derou a sua proposio agressiva), ponderando, dizia, que se dava em fsica um fenmeno que, s vezes, poder servir de imagem ao que se passa nas assembleias, em que brilham os grandes talentos, e vem a ser que dois raios de luz paralelos, incidindo sobre o mesmo ponto material, podem produzir a obscuridade. E o requerimento foi aprovado, para que a luz (a luz dos parlamentos!...) no fizesse a obscuridade.

Sr. Presidente, no temos razo para descrer do funcionamento e do xito desta Assembleia. Pode a nao descansar tranquila, que daqui sai-r uma constituio altura de seus foros jurdicos e dos seus elevados anseios democrticos.

2 Parte DiScurSoS52

A questo do subsolo no projeto de constituiosesso de 18 de maio de 19463

Este discurso trata, mesmo antes da apresentao do projeto de constituio a ser discutido na assembleia, da questo relativa po-ltica do subsolo, ou seja, de minas e jazidas existentes no territrio nacional. Na ocasio, o foco do orador a preferncia que se deveria dar, no texto constitucional, desde a pesquisa, ao proprietrio do solo, vale dizer, ao chamado superficirio, o que no estava garan-tido pelo Cdigo de Minas, de 1940, mas que restaria assegurada se a Constituio em elaborao a preservasse em seu texto. A mat-ria suscitou amplo debate, trazendo ao microfone de apartes vrios parlamentares que se manifestaram a favor ou contra as argumen-taes do orador. (NO)

O SR. ERNANI STYRO Sr. Presidente, Srs. Constituintes, o as-sunto que me traz tribuna, hoje, daqueles que melhor ficariam reser-vados para quando o projeto de Constituio tivesse, neste recinto, am-plo debate, mas sempre entendi que as questes relevantes, que exigem amadurecimento, as grandes questes jurdicas a respeito das quais nos temos de pronunciar, exigem, desde logo, antes mesmo de oferecermos emendas a respeito do projeto, toda discusso, todo esclarecimento, en-fim, toda contribuio da parte dos senhores representantes.

Trata-se, Sr. Presidente, de um dos aspectos mais importantes do ca-ptulo da ordem econmica e que se relaciona com a poltica do subsolo, isto , as minas e jazidas existentes no Brasil, matria que tem sido tratada em vrias Constituies e disciplinada, como natural, por leis ordinrias.

Pela Constituio de 1891, o direito de propriedade mantm-se em toda a plenitude, salvo a desapropriao por necessidade ou utilidade pblica, mediante indenizao prvia. As minas pertencem aos pro-prietrios do solo, salvo as limitaes estabelecidas por lei, a bem da explorao destes ramos de indstria (Art. 72, n 17).

Pela reforma de 1926, apenas se substituram expresses que no al-teraram os princpios estabelecidos. Deu-se porm, em 1934, aquilo a que o deputado Prado Kelly, com brilho e penetrao, chamou de revoluo

3 Publicado no Dirio da Assembleia Nacional Constituinte, edio de 19 de maio de 1946.

53PerfiS ParlamentareS Ernani Styro

branca, porque, praticamente, se deslocaram do domnio dos particu-lares, daqueles que eram superficirios das faixas de terra onde estavam colocadas as jazidas, para o domnio da Unio todas as riquezas ador-mecidas debaixo da terra.

At a, Sr. Presidente, nada de mais, e todos estamos de acordo, porque no se compreende, em nossa poca, o uso antissocial da pro-priedade; no se compreende que o interesse privado se sobreponha aos elevados interesses da nao; somente a Unio pode ter atribui-es, pode ter direitos sobre o subsolo de qualquer regio. Mas aconte-ce que essas constituies a partir de 1934, que tiraram do patrimnio privado para o da nao as riquezas do subsolo, mandaram garantir aos proprietrios, assim expropriados daquilo que lhes pertencia, pre-ferncia na explorao ou participao nos lucros. As leis ordinrias, que tm regulado a matria, at hoje apenas burlaram os dispositivos constitucionais, com graves prejuzos para aquelas pessoas despojadas de seu patrimnio.

Dizia ainda a Constituio de 1934, em seu artigo 119, 1: As au-torizaes ou concesses sero conferidas exclusivamente a brasileiros ou a empresas organizadas no Brasil, ressalvada ao proprietrio prefe-rncia na explorao ou coparticipao nos lucros.

Na Constituio de 1937 se reproduzem essas expresses, com ligei-ras modificaes que no alcanam o caso em debate.

No obstante, Sr. Presidente, o Cdigo de Minas de 1940 vem dando o direito de requerer pesquisas a qualquer pessoa que entenda de inva-dir a propriedade privada sem respeitar essa preferncia, essa participa-o nos lucros sem a qual no se atingem as altas finalidades previstas em lei. E isso, Sr. Presidente, porque o conceito de explorao propria-mente dito comea com a lavra, e a pesquisa fugiu, por assim dizer, exigncia dos dispositivos constitucionais. No se tem dado preferncia ao proprietrio do solo, desde a pesquisa.

Se quisermos, portanto, qu