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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I
CURSO DE PEDAGOGIA
ESCOLA: ESPAÇO ONDE AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS E PEDAGÓGICAS ACONTECEM
JAMINE KRAUSE DE SOUZA
SALVADOR 2010
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FICHA CATALOGRÁFICA : Sistema de Bibliotecas da UNEB
Souza, Jamine Krause de Escola: espaço onde as relações interpessoais e pedagógicas acontecem/ Jamine Krause de Souza . – Salvador, 2010. 93f. Orientadora: Profª. Drª. Isa Maria Faria Trigo. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação. Colegiado de Pedagogia. Campus I. 2010. Contém referências e apêndices.
1. Sociologia educacional. 2. Ambiente escolar. 3. Estudantes - Atitudes. 4.
Professores e alunos - Relações. 5. Educação de crianças. 6. Prática de ensino. I. Trigo, Isa Maria Faria. II. Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação.
CDD: 370.19
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JAMINE KRAUSE DE SOUZA
ESCOLA: ESPAÇO ONDE AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS E PEDAGÓGICAS ACONTECEM
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, sob orientação da Professora Dra. Isa Maria Faria Trigo.
SALVADOR 2010
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JAMINE KRAUSE DE SOUZA
ESCOLA: ESPAÇO ONDE AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS E PEDAGÓGICAS ACONTECEM
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, sob orientação da Professora Dra. Isa Maria Faria Trigo.
Salvador, 03 de setembro de 2010.
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Dedico esse trabalho a minha família e a Valnier, pessoas fundamentais na minha vida, que sempre me apoiaram para a realização dessa e de muitas outras conquistas.
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AGRADECIMENTOS
A Deus por me conceder a sabedoria e a força de vontade para conquistar meus objetivos. A Valnier, que a todo o momento, esteve presente, me apoiando e sendo um excelente companheiro. Aos meus pais e irmãos que me deram todo suporte necessário para a realização desse trabalho. A professora Isa Maria Faria Trigo pela contribuição de seus ensinamentos nas orientações e pela sensibilidade em discutir o tema, servindo de aprendizado para toda vida.
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“(...) abrir o espaço escolar e construí-lo como lugar de um modo tal que não restrinja a diversidade de usos ou sua adaptação a circunstâncias diferentes. Isso significa fazer do mestre ou professor um arquiteto, isso é, um pedagogo e, da educação, um processo de configurações de espaços. De espaços pessoais e sociais, e lugares”.
Antônio Viñao Frago
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RESUMO
Este trabalho buscou refletir sobre a importância do espaço escolar para as
relações interpessoais e pedagógicas, definindo categorias de análise que revelem
aspectos que proporcionaram ou não essas relações. Foram realizadas visitas e
observações que nortearam o trabalho. A pesquisa foi realizada no Colégio Estadual
Professor José B. de A. Bastos, em Salvador-BA com alunos, professores e
funcionários, teve cunho qualitativo e abrangeu o reconhecimento e a observação
participante do objeto da pesquisa. Diante dos fatos foi constatado que os espaços do
colégio estudado constroem as relações, apresentando-se de diversas maneiras,
significativas para os sujeitos atuantes nesses espaços de aprendizado e vivências. A
escola é considerada um lugar de oportunidades e de limites, projetada para a prática
de ensino-aprendizagem que abriga as relações. O indivíduo age sobre este e
determina como ele será utilizado e a depender dessa ação pode gerar momentos de
inclusão ou exclusão.
Palavras – Chave: Espaço Escolar. Relações Interpessoais. Relações Pedagógicas.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------1
1.0 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ---------------------------------------------6
1.1 – A IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO ESCOLAR --------------------------------7
1.2 – A ESCOLA, O ESPAÇO, O LUGAR E AS RELAÇÕES ---------------10
1.3 – A (IN)DISCIPLINA NO ESPAÇO ESCOLAR -----------------------------15
1.4 – A INCLUSÃO E A EXCLUSÃO NOS ESPAÇOS DA ESCOLA -----18
1.5 – A ESCOLA E O CURRÍCULO ------------------------------------------------21
2.0 – PERCURSOS METODOLÓGICOS ------------------------------------------24
2.1 – PRIMEIRAS INCURSÕES -----------------------------------------------------26
2.2 – A INSTITUIÇÃO -------------------------------------------------------------------30
3.0 – ANÁLISE DOS ESPAÇOS DO COLÉGIO JOSÉ BARRETO DE
ARAÚJO BASTOS ----------------------------------------------------------------------48
3.1 – CENAS QUE CHAMARAM ATENÇÃO ------------------------------------48
3.1.1 – Cenas da sala de aula ------------------------------------------------------ 48
3.1.2 – Cenas do pátio -----------------------------------------------------------------57
3.1.3 – Cenas da biblioteca ----------------------------------------------------------62
3.1.4 – Cenas da sala de dança ----------------------------------------------------69
3.1.5 – Cenas do refeitório -----------------------------------------------------------72
CONSIDERAÇÕES FINAIS -----------------------------------------------------------78
REFERÊNCIAS ---------------------------------------------------------------------------82
APÊNDICE
1
INTRODUÇÃO
O trabalho intitulado Escola: Espaço onde as Relações Interpessoais e
Pedagógicas Acontecem, visa analisar a importância do espaço escolar para as
relações entre alunos, professores e funcionários. Nesse, relato os aspectos que o
embasaram, que vão desde a curiosidade em estudar o tema, a partir de uma atividade
acadêmica, até a realização da pesquisa de campo, entrevistas e questionários,
baseados na importância do espaço escolar para as relações estudadas. Levo em
consideração o conceito de espaço e, vinculado a este, o de lugar; para que se entenda
porque a escola pode ser considerada um espaço; um lugar.
No primeiro capítulo discuto idéias e reflexões dos autores pesquisados,
colocando minha contribuição sobre o tema. Os autores referenciais neste estudo são:
Augustin Escolano (2001), Antônio Viñao Frago (2001), Edward Twitchell Hall (2005),
Milton Santos (1988) e Michel Foucault (2008).
No segundo capítulo faço uma análise de alguns espaços do colégio, eleitas por
mim a partir de algumas relações interpessoais e pedagógicas frequentes e observadas
nesse estudo. Estas relações assinalam e caracterizam o uso desse espaço escolar, e
são por ele também influenciadas. Para esta análise utilizei observações de campo
participantes, através da aplicação de questionário diretamente aos sujeitos, através de
entrevistas, para conhecer os alunos e saber de suas opiniões, idéias e impressões
acerca dos espaços que utilizam e a caracterização desses espaços, destacando os
aspectos ambientais, arquitetônicos e pedagógicos do colégio estudado. Como
estratégia de compreensão e análise, denominei de cenas a alguns dos momentos de
convivência e de utilização dos espaços pelos envolvidos; para assim, caracterizar
estas relações neste ambiente específico que considero de importância para a
2
compreensão acerca de usos e práticas de poder e de socialização dentro da escola,
invisíveis no cotidiano, mas viabilizadas através do recurso da análise desses eventos.
No terceiro capítulo descrevo os resultados alcançados, fazendo um link entre as
idéias dos autores, dos depoimentos dos alunos e a situação in loco, chegando assim a
algumas reflexões sobre o problema da pesquisa.
Para realizar esse trabalho, escolhi o Colégio Estadual Professor José Barreto de
Araújo Bastos1, localizado no bairro de São Caetano, pois tenho livre acesso ao colégio,
já que minha mãe, J.K, trabalha neste. Por conta disso, conheço boa parte dos
funcionários e professores, desde o ano de 2002 que o colégio era denominado de
“papelão” (divisórias em Eucatex e estrutura metálica). Relato esta minha inserção, pois
ela explica e define meu interesse e minha relação com a escola e com várias das suas
partes funcionais.
Não sou uma estranha, tendo com este espaço esta relação próxima. Assim,
pude transitar e me colocar, muitas vezes, no lugar dos alunos para poder perguntar
sobre algo que também vivenciei. Esta posição traz a possibilidade de perceber e de
propor categorias de análise que outro que não conhecesse o lugar não traria. Em
suma, não se pode dizer que seja uma observação participante no sentido que não
estou nas atividades que observei. Mas tenho uma visão e uma inserção participante e
comprometida com o objeto e com o percurso do que estou estudando.
Meu intuito foi pesquisar a importância do espaço no ambiente educacional; e, a
partir daí, definir como pergunta de partida: Qual a importância do espaço escolar para
as relações interpessoais e pedagógicas entre alunos da 5ª série, professores e
funcionários do colégio José Barreto de Araújo Bastos?
Vinculado à pergunta vem o objetivo geral, que é justamente refletir sobre essa
importância nas suas especificidades. Durante esta reflexão, criei algumas categorias
de análise que também podem ser compreendidas como objetivos específicos; elas
1 Durante a minha vida acadêmica, no curso de pedagogia, realizei outros trabalhos na escola,
são alguns deles: a respeito do papel social da escola na comunidade, da sua organização administrativa
e espacial, sobre a participação dos professores na organização da escola (atividades educacionais),
utilização das TIC’s (Tecnologias de Informação e Comunicação) pelos alunos e de que forma, sobre a
aplicação da Lei nº 11.645 de 10 de março de 2008 que garante o ensino de história afro-brasileira e
indígena, entre outros.
3
revelam aspectos que proporcionam - ou não as relações interpessoais no colégio.
Também utilizei a minha experiência como arquiteta para levantar questões sobre o
espaço físico da escola, e consequentemente, defini as categorias referidas.
Para a coleta de dados, fui a campo no intuito de realizar uma pesquisa
qualitativa, de caráter reflexivo, descritivo e exploratório; isso porque não abarquei o
conjunto total dos sujeitos das séries escolares. A abordagem a estes variou em função
da oportunidade que eles me deram, dos meus dias na escola e dos interesses que
tinha ligados aos espaços diversos da escola. Neste sentido realizei as entrevistas e fiz
os registros das observações de campo, relatando no meu diário de pesquisa as
situações que mais me chamaram a atenção e que nortearam o trabalho.
É de cunho qualitativo pelos tipos de escolha que fiz, a começar pelas situações
e sujeitos; porque fui a campo, fiz uma observação participante dos espaços do colégio
e das relações existentes; os conheci, trabalhei com as falas dos estudados, através
dos questionários, coletando dados úteis aos objetivos da pesquisa. Têm caráter
exploratório porque estimulei os entrevistados a pensar e falar livremente sobre o tema,
sendo uma pesquisa aberta e coletiva, mas inicial, ou seja, uma introdução ao tema.
Reflexivo porque o objetivo foi de analisar estas relações, promovendo a
discussão sobre o tema. E por fim, é descritivo, pois eu coletei as informações para
analisá-las, relatei no diário de pesquisa, os dados das observações, histórias e relatos
de vida e as respostas das entrevistas de modo a identificar o que seria essencial para
o trabalho.
A vontade de estudar o espaço escolar se deu a partir de uma atividade
realizada na disciplina Currículo e Educação, no 4º semestre, no curso de graduação
em Pedagogia, da Universidade do Estado da Bahia, ministrada pela professora
Elizabete Santana. Esta pediu que fizéssemos um memorial descritivo, relatando
nossas experiências durante o período escolar, no que mais nos tinha marcado nesse
tempo. Isso foi feito em grupo e, ao final dos relatos, os componentes de cada equipe
deveriam escolher a história mais interessante; foi assim que a minha equipe escolheu
a história da colega A.L.
Em seu relato, ela conta sua experiência no ensino fundamental I, como aluna da
Escola Municipal Santa Rita de Cássia, localizada em Jaguará, distrito de Feira de
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Santana, em 1989. A suposta “escola”, na verdade, era uma casa, na qual um dos
cômodos foi cedido para funcionar como espaço educacional.
Era uma escola adaptada para meninos e meninas do meio rural e de baixa
renda. Não possuía condições mínimas de conforto ambiental, a casa em si era grande,
mas a área destinada à escola era pequena para o número de alunos, pois se resumia
a um cômodo, sem áreas livres para recreação e circulação. Além disso, o material de
uso dos estudantes era guardado dentro de caixas sem legendas que as nomeassem
ou mesmo à turma a que pertencia e nas paredes ficavam dependuradas todas as
produções (desenhos, pinturas, textos, o quadro de giz, o calendário, parlendas,
histórias, cartazes dentre outras coisas).
Ela estudou nessas condições: uma sala de aula multisseriada; sem material
escolar adequado; condições de higiene precária; sem banheiro e conseqüentemente,
sem saneamento básico; sem espaço para o lazer; não possuía refeitório, biblioteca e
nem sala de leitura e os livros ficavam na casa da professora, não possibilitando o
acesso aos alunos.
Depois a professora Elisabete Santana pediu que, a partir desse memorial,
criássemos um tema que estivesse relacionado à disciplina Currículo e Educação. Com
isso, tive a idéia de falarmos sobre: O Espaço Escolar como parte Integrante do
Currículo, pois ele também educa. A partir daí, senti a necessidade de estudar o espaço
escolar, pois é um dos lugares em que as relações entre os indivíduos se fazem
presentes de maneira revelante para sua constituição enquanto indivíduos e sujeitos
sociais.
Trata-se de alunos de diferentes níveis de escolaridade, de personalidades,
atitudes e comportamentos diferentes, que convivem entre si e com funcionários e
professores que também possuem suas características peculiares, dividindo os
mesmos espaços do Colégio; compondo-os e transformando-os em lugares de
semelhanças e diferenças, de preconceitos, de ocultamentos e questionamentos, de
limites e possibilidades, de revelações, de sensações e de sentimentos variados. O
importante é que os espaços abrigam e reproduzem todas essas manifestações.
É importante reconhecer o papel da escola na sociedade; ela é considerada um
estabelecimento de ensino que deve priorizar a formação pessoal do indivíduo e
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proporcionar seu desenvolvimento cognitivo e social. Além disso, é vista como lugar de
reconhecimento e de ascensão social, pois o indivíduo que estuda se torna conhecedor
dos fatos que acontecem na sociedade, a ponto de opinar, de expor suas idéias,
assumindo uma postura crítica diante dos fatos. Isso é um diferencial no mercado de
trabalho; o indivíduo instruído consegue alcançar seus objetivos mais facilmente e
acaba se destacando ante os demais.
É desejo de muitos poderem estudar, adquirir conhecimentos, tornarem-se
sujeitos conhecedores dos problemas que assolam a sociedade e serem respeitados
por esta. Isso se torna mais desejável para aqueles mais necessitados, que vêem no
ensino gratuito e laico uma fonte de conhecimento e esperança por dias melhores. E a
escola é um dos espaços que o indivíduo aprende a conviver com o outro, a ser
sociável, a adquirir valores e significados a partir da vivência deste e neste espaço com
outros indivíduos.
Com o oferecimento de atividades e instalações adequadas ao ensino e
aprendizagem o aluno poderá ter boas recordações dessa época, tendo orgulho e
satisfação de ter convivido num espaço de oportunidades e de aprendizado. A escola
além de ser bem estruturada e precisa desempenhar funções que atendam às
necessidades de seus alunos. Para confirmar essa idéia, Edward T. Hall diz que: “O
que é realmente desejável é que exista flexibilidade e congruência entre projeto e
função para que haja uma variedade de espaços e as pessoas possam se envolver ou
não, como exijam a ocasião e a disposição de espírito.” (2005, p.139).
Então, entendo que o projeto de uma escola deve ser flexível, disponibilizando
ambientes diferenciados e variados, destinados a atividades educativas, culturais, de
esporte e de lazer.
E além dessas características, o espaço escolar é palco e constrói algo muito
valioso; as relações. Estas dão sentido ao espaço a partir do momento que se criam e
se apresentam neste, das mais variadas maneiras. O que, no caso deste trabalho, é
priorizado nas relações interpessoais e pedagógicas. Observar e refletir sobre os
espaços convenientes para essas relações, que acontecem com frequência e são
significativas para as aprendizagens e para a formação do aluno, eis o eixo fundante
desse trabalho.
6
1.0 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Esse capítulo reuniu um conjunto de idéias e reflexões acerca do objeto de
estudo que é o espaço da escola, destacando alguns autores que contribuíram para a
compreensão e análise da importância desse espaço para as relações interpessoais e
pedagógicas entre os alunos, professores e funcionários. A partir disso, dei sequência à
discussão e compreensão das idéias que me deram embasamento teórico, mostrando
que o espaço, de fato, é importante para essas relações, pois as possibilita ou as limita;
e para que isso aconteça, existem vários aspectos discutidos no capítulo seguinte.
Enfatizo o conceito de espaço, pois afirmo que a escola é um espaço,
considerando tudo aquilo que o compõe e, em paralelo a esse, discuto sobre a
exclusão dos sujeitos nos espaços da escola e suas significações, que são um fator
determinante, em alguns casos, para a utilização e permanência nestes.
Refiro-me ao espaço como dimensão integrante do currículo; refiro-me aqui
também ao chamado currículo oculto, porque estou considerando que este promove as
relações, comportando-as; consequentemente está impregnado de significados, ou
seja, de representações, que transmitem sensações e valores aos que convivem na
escola, a partir da relação com o outro. Estas relações normalmente não são
percebidas pelos sujeitos que as sofrem e protagonizam. Dessa forma, fica registrado
na sua vivência tudo que ocorreu neste espaço, porque eles experimentaram, em
determinado período escolar, situações determinantes para sua aprendizagem. Mas
nem sempre este registro fica como consciência ou se organiza para que o sujeito se
entenda melhor e ao meio que o cerca.
Pretendo aqui considerar a localização do Colégio José Barreto de Araújo
Bastos, sua comunidade, seus diferentes usos e funções, sua organização espacial, no
sentido de observar as relações interpessoais e pedagógicas nos diferentes espaços.
Minha maneira de trabalhar essas questões foi através do que chamo aqui de “cenas”.
São as situações que escolhi por evidenciarem algum aspecto que considero
importante, garantindo uma riqueza de detalhes no momento em que se processou a
análise do colégio, o que será visto no capítulo seguinte. Neste capítulo também
introduzo idéias que revelam a importância que a configuração espacial da escola tem
7
para o aprendizado do aluno, considerando sua localização, seus acessos e suas
atividades educativas. Antônio Viñao Frago contribui para essa análise, dizendo:
Para analisar a dimensão espacial dos centros docentes [...]. Em primeiro lugar deve-se considerar sua localização ou adequações em relação a outros espaços e lugares; depois o local ou território ocupado e a distribuição, no mesmo, das zonas edificadas e não edificadas e, assim, seguir progressivamente, desde essas últimas até a sala de aula, passando pelo edifício em seu conjunto e sua distribuição interna em diversos espaços e usos. Além disso, entre um espaço e outro será necessário considerar áreas de transição – pórticos, corredores, áreas de espera. (FRAGO, 2001, p.75).
As características da escola são evidenciadas na sua arquitetura, que abriga e
proporciona as mais variadas relações, condicionadas a partir de seu uso; por exemplo,
o que acontece num refeitório geralmente é diferente do que acontece numa sala de
aula, ou seja; espaços com finalidades diferentes estimulam e se destinam a atividades
diferentes; por isso, são setorizados. Com isso, as pessoas e os objetos se relacionam
através de sua separação no e pelo espaço.
1.1 A IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO ESCOLAR
No ano de 1985, na Espanha, começou os estudos sobre a escola com Jaime
Trilla que escreveu o livro: Ensayos sobre La escuela. El espacio social y material de La
escuela. Um dos enfoques dado pelo autor foi sobre a análise do espaço escolar em
sua perspectiva histórica com intuito de investigar o caráter ou a natureza da instituição
escolar. Mais adiante, na história da educação, aqueles que se interessavam por
questões organizativas, didáticas e curriculares, começaram a voltar-se ao estudo do
uso, da distribuição do espaço escolar e de sua transformação em lugar. Segundo
Viñao Frago (2001, p.11):
Apesar da importância da dimensão espacial da atividade humana em geral, e da educativa em particular, essa última é uma questão não estudada nem a fundo nem de modo sistemático. Quando a atenção se dirigiu a essa questão, foi para centrar-se mais [...] propostas efetuadas
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em relação a distribuição e usos do espaço escolar e nas regulações dos aspectos tecnoconstrutivos, higiênicos e pedagógicos dos edifícios escolares, do que nos aspectos de índole antropológica e relacionados com a história da escola como lugar e de sua realidade material. (FRAGO, 2001, p.11).
Isso porque, segundo Viñao Frago (2001, p.12):
[...] antes, os historiadores da educação se preocupavam com os aspectos ideológicos e legais, com os conflitos de lutas e poder, os processos de decisão política e com o papel do Estado na educação, esquecendo de considerar as instituições educacionais como centros de decisão e poder, por isso, de conflitos pessoais e intergrupais.
Além disso, pouco se importavam com o espaço escolar devido à dificuldade de
integrar profissionais, como o arquiteto, o pedagogo, o médico-higienista e o político-
administrativo, pois são áreas específicas que, integradas, podem analisar a escola na
sua dimensão espacial, humana e educativa. E por último, o espaço escolar não tem
lugar no programa normal de ensino curricular ou não é um tema que surge em tal
programa, sendo difícil à possibilidade de ser objeto de investigação científica.
Mas a partir dos novos campos de estudo, como a história do currículo e a
história da escola como instituição, dentro da história da educação, tornou-se viável a
ênfase na dimensão espacial da atividade educativa e da escola como realidade social
material e cultural. Sendo assim, a questão do espaço adquiriu importância nos últimos
tempos.
Com o passar dos anos, a escola, em termos espaciais, passou a ser vista mais
além da sua dimensão geométrica para assumir também uma dimensão espacial, no
sentido de analisar sua localização, seu entorno, sua relação com outros espaços e
lugares, o território ocupado, a localização e os acessos das áreas edificadas e não-
edificadas até chegar à sala de aula.
Foi na metade do século XIX, segundo Célia Dórea (2000, p.151), que, no Brasil,
se iniciou a preocupação com a estrutura física de prédios escolares. Com a República
brasileira, a escola passou a ser um instrumento de progresso histórico, com caráter
regenerador, sendo única teoricamente capaz de transformar o homem comum.
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Mas seria a única mesmo? Contesto essa idéia de Célia Dórea com a reflexão
de Libâneo que diz:
A escola está precisando rever os processos, os métodos as formas de educar, de ensinar e de aprender. Os professores e professoras precisam compreender que a escola não é mais, na atualidade, a única forma de transmissão do saber, o qual pode ser obtido em vários lugares, tais como, nos meios de comunicação, nas empresas, nos clubes, no dia-a-dia de qualquer pessoa. (CAVALIERE, 2009, apud LIBÂNEO, 2003, p.23).
A escola é um dos lugares nos quais aprendemos através da relação com o
outro e com o meio; é um dos mais importantes ambientes de aprendizagem dos
signos, das normas e dos valores, apreendidos através da convivência em sociedade.
Augustin Escolano (2001) contribui dizendo que:
A arquitetura escolar é também por si mesma um programa, uma espécie de discurso que institui na sua materialidade um sistema de valores, como os de ordem, disciplina e vigilância, marcos para a aprendizagem sensorial e motora [...]. (2001, p. 26).
Atualmente investe se mais na estrutura física das escolas. Isso pode ser
constatado na estrutura de algumas escolas mais recentes, a exemplo, o colégio em
estudo, o José Barreto de A. Bastos. Este possui parâmetros de acessibilidade, atende
aos mínimos requisitos de conforto ambiental em quase todos os espaços, e é uma
edificação projetada especificamente para funcionar um colégio e de porte especial;
pois, além da extensa área edificada e de área verde, abrange duas modalidades de
ensino: Fundamental II e Ensino Médio.
A arquitetura, mais do que abrigar variadas funções da atividade humana, é suporte de conteúdos simbólicos. Através de suas formas os edifícios caracterizam-se como símbolos destas mesmas funções. É por isso que ao longo da história aprendeu-se a decodificar a imagem da igreja, da mesquita, do prédio dos correios, da agência bancária e das escolas, entre tantas outras tipologias arquitetônicas que se forem consolidadas. (WOLFF, 1996, p.105).
Além disso, a escola é vista como referência nas cidades, levando em
consideração a sua importância no contexto social. Na época da República a
10
arquitetura escolar representava um ideal de modernidade, tornando-se um ambiente
organizado, higienizador e ordenado que ajudasse a configurar o espaço físico da
cidade. Segundo Julio Groppa Aquino (1996, p.37):
O papel de escola é de fermentar a experiência do sujeito perante a incansável aventura humana de desconstrução e reconstrução dos processos imanentes à realidade dos fatos cotidianos, na incessante busca de uma visão mais dilatada de suas múltipas determinações e dos diferentes pontos de vista sobre eles. Isso, a meu ver, define o conhecimento no seu sentido lato.
É nesse espaço que o indivíduo deve estar predisposto a aprender, a exercitar e
a desenvolver suas habilidades, a conhecer sobre os fatos da história da humanidade e
sobre o conhecimento de si mesmo como cidadão; ser pensante que adquire
informações e saberes para pô-los em prática na sociedade a favor do seu
desenvolvimento. Pois um ser sábio é capaz de tomar decisões, de buscar seus
objetivos, de ter atitude e de ser livre para assumir responsabilidades.
Além de pensar a escola como local de formação do cidadão, é preciso equipá-la
com mobília e material escolar adequado para atender as necessidades dos alunos,
principalmente a rede pública, que mesmo na era da República não se investia nelas. O
que o mobiliário representa no espaço escolar; essa pergunta pode ser entendida por
outra: Se um grupo de alunos estivesse em um laboratório de Ciências, esperando o
professor e, ao chegar, ele precisasse utilizar as mesas para demonstrar tal aparelho,
mas se não houvesse cadeiras com alturas adequadas e uma quantidade suficiente
para a turma, será que os alunos iriam se sentir bem? Essa pergunta mostra um pouco
os meandros desse trabalho.
1.2 A ESCOLA, O ESPAÇO, O LUGAR E AS RELAÇÕES
É preciso que se entenda o conceito de espaço e de lugar. E no caso do espaço
escolar, na sua estrutura física, este está repleto de signos e valores que são expressos
através das relações e atitudes dos envolvidos na sua exploração.
11
Para afirmar que o espaço abrange o conjunto desses elementos, Milton Santos
diz:
[...] o espaço deve ser considerado com um conjunto indissociável de que participam de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e, de outro, a vida que os preenche e os anima, seja a sociedade em movimento. O conteúdo (da sociedade) não é independente, da forma (os objetos geográficos), e cada forma encerra uma fração do conteúdo. O espaço, por conseguinte, é isto: um conjunto de formas contendo cada qual frações da sociedade em movimento as forma, pois têm um papel na realização social. (SANTOS, 1988, p.10).
A escola compõe-se desses objetos e pelas pessoas que a utilizam e se
apropriam das suas instalações; que em sua materialidade, expressa e reflete discursos
e ações destas, tornando-se assim, um ambiente das relações. Segundo Milton Santos
(idem, p.25):
[...] espaço é um conjunto de objetos e de relações que realizam estes objetos; não entre eles especificamente, mas para as quais eles servem de intermediários. Os objetos ajudam a concretizar uma série de relações. O espaço é resultado da ação dos homens sobre o próprio espaço, intermediados pelos objetos naturais e artificiais.
Para confirmar isto, Ribeiro (2004, p.103) diz que “Ao longo do tempo, a noção
de espaço foi sendo reconstruída, ressignificada, enriquecida, deixando de ser vista
apenas em sua dimensão geométrica, para assumir também a dimensão social”.
Então, entendo que a escola pode ser vista pela sua aparência, como também
pela sua dinâmica, saber de fato o que acontece nesse espaço, se as relações sociais
acontecem, se há práticas educativas e se são interessantes e significantes para os
alunos, assim como é sua aparência. Segundo Viñao Frago, o espaço quando é
ocupado e utilizado constitui-se num lugar. Lugar é onde se desenvolve a vida em
várias dimensões; é onde o homem habita e se apropria dos espaços através dos
diferentes modos de uso. Ele considera que o espaço é projetado e imaginado e o lugar
é construído e é através da ação humana sobre os objetos que se referiu Milton Santos.
Considero essa idéia relevante, pois o último se faz presente quando se tem o
espaço como suporte, estando disponível para converter-se em lugar para ser
construído. A escola como instituição é um espaço projetado para um determinado uso
e também um lugar, por ser um espaço utilizado, ocupado e sentido de determinada
forma.
12
Como homem percebe o mundo? É através de seu corpo de seus sentidos que ele constrói e se apropria do espaço e do mundo. O lugar é a porção do espaço apropriável para a vida – apropriada através do corpo – dos sentidos – dos passos de seus moradores, [...] (CARLOS, 2007, p.17).
Através do corpo e dos seus modos de uso, o homem consegue perceber e
habitar o espaço, estabelecendo relações sociais. E o lugar só é percebido se houver
um sujeito sensível; é algo que também é construído por um sujeito perceptivo, o qual
vê sentido nas coisas. Por exemplo, os alunos na escola fazem parte da comunidade
de São Caetano; a escola não é apenas uma instituição de ensino e sim um ponto de
encontro, onde as relações acontecem.
O espaço escolar é formado por vários subespaços, utilizados a depender das
atividades desenvolvidas; por exemplo, no colégio estudado, o auditório é destinado à
apresentação teatral, para palestras e reuniões ou qualquer outro tipo de evento que
reúna uma grande quantidade de pessoas; já a sala de dança é destinada as atividades
ligadas à dança que estimulem a expressão corporal e o desenvolvimento motor e
sensorial.
A respeito dessas diferenças, Hall afirma que “levando em conta a existência de
enormes diferenças individuais e culturais no que diz respeito às necessidades
espaciais, ainda há certas generalizações que podem ser feitas sobre o que diferencia
um espaço de outro.” (2005, p.66). Esta diferenciação está no uso que se faz desses
lugares, na disposição dos elementos estruturais e simbólicos que os compõem; outro
exemplo seria comparar o lugar da sala de aula com a área do pátio, pois são distintos,
e os alunos os utilizam de maneiras diferentes. A sala de aula é destinada,
tradicionalmente, à aprendizagem das disciplinas curriculares e para a prática da leitura
e escrita; já o pátio destina-se, essencialmente, às atividades recreativas, de
contemplação e de lazer, e, no caso do Colégio José Barreto, o pátio tem o outro
destino, que é o momento da espera dos alunos pelos professores; para daí então,
subirem para os pavimentos superiores para assistirem às aulas.
Essas atividades contribuem para a compreensão sobre espaço como um
“constructo humano” e logo, não pode haver sem a existência (não só a presença)
humana. Essa presença modifica os usos dos espaços, recriando e tendo todo um
significado, uma finalidade para os alunos; e, se as atendem, precisam de um espaço
13
para acontecer, e este também reproduzirá um significado para os mesmos. Afirmo isto
com base na análise de Viñao Frago sobre o espaço escolar, que diz:
Qualquer atividade humana precisa de um espaço e de um tempo determinados. Assim acontece com o ensinar e o aprender; com a educação. Dessa forma entende-se que a escola é pensada para ser um espaço para as práticas de ensino-aprendizagem, tendo um programa específico de necessidades destinadas a prática do educar. (FRAGO, 2001, p.61).
A escola sendo um espaço em que aprendemos através da relação com o outro
e com o meio, é um dos meios mais importantes de aprendizagem dos signos, dos
valores, das regras e normas da convivência em sociedade. Assim, afirma Ribeiro,
(2004, p.103) que “O espaço não é neutro e está impregnado de signos, símbolos e
marcas de quem o produz, organiza e nele convive, por isso, tem significações afetivas
e culturais”. Então, entende-se que o homem age sobre o espaço, modifica-o e se
apropria dele e consequentemente, este espaço refletirá e irá retratar as manifestações,
ações, discursos, atitudes e comportamentos dos que vivem nele, constituindo-se um
lugar.
Edward T. Hall coloca que “Não importa o que aconteça no mundo dos seres
humanos, acontecerá num cenário espacial (...)” (HALL, 2005, p.XI, prefácio), ou seja,
toda ação humana acontece num determinado espaço e em momentos. Hall vai mais
além, afirmando que “o espaço é um dos sistemas organizacionais básicos que dão
sustentação a todos os seres vivos – especialmente às pessoas”. (HALL, 2005, p.XII,
prefácio). Dá sustentação a partir do momento em que condiciona, “propõe” e oferece
recursos variados para que as atividades aconteçam e, a partir destas, as relações
entre os indivíduos se realizem.
O indivíduo age sobre o lugar, consegue percebê-lo através dos sentidos, aquilo
que conhecemos como sentidos ou “sistemas receptores”. A depender do sentido em
questão, variam basicamente a quantidade e a qualidade de informações processadas.
E também, a depender do indivíduo, um destes sistemas pode ser mais desenvolvido
que outros, a exemplo dos deficientes visuais que, por ter a visão parcialmente ou
totalmente comprometida, aprimoram os outros sentidos, como o tato, para perceber o
espaço e os objetos que o compõem, para fazer uso deste.
14
Utilizando estes sistemas é que o homem consegue perceber e viver de
diferentes modos o espaço, produzindo sensações subjetivas e proporcionando
experiências espaciais distintas.
É interessante ressaltar também que o indivíduo percebe o lugar pelos
movimentos do corpo que realiza, por exemplo, ao se atravessar um laguinho, pisando
em pedras dispostas a intervalos irregulares; ao pisar na grama em um jardim; sendo
estes últimos, objetos presentes nos espaços, identificados e percebidos pelo homem a
partir do momento em que este se apropria do mesmo. É isso que acontece com a
escola; o contato, a vivência dos alunos nos espaços do colégio permitida pelas
atividades educativas que produzem sensações, estímulos, impressões e
comportamentos por parte dos envolvidos, levando-os a uma determinada experiência
espacial. Esse contato e essa vivência se constatam na comunicação entre o ser
humano e o espaço, através do movimento corporal.
Por exemplo, o que se espera que os alunos façam na biblioteca? Que eles
promovam o hábito da leitura e o estudo sistemático daquilo que, na maioria das vezes,
estão motivados a aprender. E, ao permanecer nesta, eles irão vivenciar e perceber
tudo aquilo que compõe a mesma. Sucintamente, o que se pode fazer no espaço revela
sua vivência nele.
O sujeito dentro da escola e em ação nesta, poderá identificar sua dimensão, sua
organização e suas características espaciais e ambientais, a disponibilidade dos objetos
e recursos destinados à leitura e pesquisa, a relação entre todos os que a frequenta e,
ao final, eles produzirão impressões acerca desta, através do seu conhecimento. Estas
impressões serão mais ou menos conscientes em alguns momentos, alguns aspectos
ambientais da escola são percebidos apenas quando se observa o comportamento
humano. Então não basta analisar a estrutura (arquitetura) do Colégio; é preciso
perceber, basicamente, quem ocupa esse espaço, de que forma é feita essa ocupação,
o que se faz neste, quais as relações e comportamentos notáveis ao utilizá-lo. Isso
significa falar sobre quais as relações que o espaço abriga e proporciona.
15
1.3 A (IN)DISCIPLINA NO ESPAÇO ESCOLAR
Muitos professores se queixam da desobediência dos alunos em sala de aula, da
falta de compromisso com as atividades, da falta de postura e de silêncio nas aulas, da
bagunça, dos maus comportamentos e desrespeito, entre outros. Isso são sinais de
indisciplina, mas antes é preciso entender o conceito de disciplina, pois a primeira seria
a sua negação. Abordo este tema aqui, pois ele remete ao uso do espaço; restrições e
permissões, destruição do patrimônio publico, descaso e mau uso são alguns
fenômenos ligados a ele e às suas relações.
A disciplina é vista como o uso de bons modos de comportamento que permitam
a convivência harmônica. Mas se procurarmos os reais motivos pelos quais os alunos
apreendem esse tipo de comportamento, verificaríamos que muitos se mostram
disciplinados porque têm medo do castigo, ou se conformam em achar mais vantajoso
ficar quieto a ter que conflitar com o professor. E Julio Groppa Aquino comenta em seu
livro que:
Para o filósofo, Kant, por exemplo, a disciplina é condição necessária para arrancar o homem de sua natureza selvagem. Não se trata, portanto, apenas de “bons modos”: trata-se de educar o homem para ser homem, redimi-lo de sua condição animal. Permanecer parado e quieto num banco escolar é, para Kant, necessário, não para possibilitar o bom funcionamento da escola, mas para ensinar a criança a controlar seus impulsos e afetos. (AQUINO, 1996, p.10).
Então, Kant via a possibilidade de educar e “humanizar” o indivíduo se ele fosse
quieto e pacífico, sendo reflexo do ensino tradicional. Kant foi um dos primeiros teóricos
a formular e discutir a idéia de disciplina e a Escola surge dessa função: disciplinar os
corpos. Entendo que a idéia de Kant pressume que a educação torna o homem mais
humano e a disciplina tira a sua condição de “selvagem”, para alcançar a humanidade.
Já Foucault (2008, p.118) dizia que “Esses métodos que permitem o controle
minucioso das operações do corpo, que realizam a sujeição constante de suas forças e
lhes impõem uma relação docilidade-utilidade, são o que podemos chamar as
“disciplinas”.
16
Comparando as duas idéias, vejo que no meio escolar, existe uma cultura em
que os alunos precisam obedecer às regras impostas pela direção do colégio e pelo
professor em sala, para que haja trabalho educativo. Mas nem sempre, essas normas
surtem resultados na aprendizagem dos alunos, pois eles se tornam indisciplinados por
não concordarem, muitas vezes, no que estar sendo proposto ou pela forma que são
condicionados a ficarem: quietos, calados, sem opiniões ouvidas.
Deve sim, estabelecer uma ordem, respeito e tolerância na sala, para que todos
possam ser ouvidos e que haja discussão sobre o tema e a forma que ele pode ser
trabalhado. Nem sempre o aluno quieto, calado dentro da sala consegue aprender algo,
pois ele precisa dizer o que aprendeu dar sua opinião sobre o assunto explanado em
sala, falar das suas dificuldades sobre a abordagem em questão, questionar as
atividades propostas pelo professor, assim ele se torna autônomo nas suas decisões e
se torna um ser livre e pensante.
A indisciplina é um tema delicado para discutir, pois temos várias razões em
considerar que um indivíduo cometeu atitudes indisciplinares na sala de aula. Pode ser
pela perda de certos valores que conduzem a moral do indivíduo, ou por infringir as
normas estabelecidas pelo grupo por não concordar com elas, entre outras. São
justamente essas atitudes e comportamentos que são questionados no ambiente
escolar.
E o que acontece no interior do ambiente escolar também tem articulação com os
movimentos exteriores a ele. Segundo Julio Groppa Aquino (1996, p.33) “a indisciplina
apresenta-se como sintoma de relações descontínuas e conflitantes entre o espaço
escolar e as outras instituições sociais.” Isso porque os alunos vêem de realidades
diferentes, enfrentam problemas de todo o tipo. Essa é uma realidade de alunos, a
exemplo do colégio José Barreto, muitos oriundos da periferia, marginalizados pela
sociedade, tornando-se revoltados que não vêem perspectivas de dias melhores.
São esses indivíduos que vão para sala de aula e, a depender de seu estado de
humor, ficam intolerantes a qualquer atividade ou à ordem do professor. Isso acaba
ocasionando conflitos em sala de aula, precisando a direção intervir com punições.
Esse é um dos perfis de alunos indisciplinados que, a depender de sua faixa etária, de
17
sua atitude, de seu comportamento e vivência exigem punições cabíveis. Para Michael
Foucault:
[...] as medidas punitivas não são simplesmente mecanismos “negativos” que permitem reprimir, impedir, excluir, suprimir; mas que elas estão ligadas a toda uma série de efeitos positivos e úteis que elas têm por encargo sustentar (e nesse sentido, se os castigos legais são feitos para sancionar as infrações, pode-se dizer que a definição das infrações e sua repressão são feitas em compensação para manter os
mecanismos punitivos e suas funções. (FOUCAULT, 2008, p.25).
Em certos momentos as punições são recursos previstos e inevitáveis para
conter atos de desobediência e vandalismo, fatos estes, que ocorrem no colégio
estudado. Isso prevê uma correção às infrações cometidas, no desejo que elas não
ocorram mais.
Essas punições, atualmente, no ambiente escolar, são sutis e muitas vezes
eficazes para o fim a que se destina, qual seja, o de apenas controlar e minimizar
vandalismos na escola. Não há castigos nem o uso da violência e sim uma conversa
séria e rígida que se utiliza de recursos que mexem com o psicológico do aluno. Por
exemplo, o aluno que agrediu o colega, será suspenso, deixará de assistir as aulas
durante certos dias e só voltará na presença dos pais.
E antes disso o vice-diretor tem uma conversa séria com ele ameaçando
expulsá-lo se isso acontecer novamente. Diante dessa “ameaça”, ele se sente coagido
e para evitar a expulsão e o julgamento negativo do “outro”, procura não cometer mais
essa infração.
Nesse caso, ele se mostrou um indivíduo que reconheceu o erro, pois por um
lado, não ignorou e nem desprezou o juízo do outro (o vice-diretor) e, por outro,
considera condenável sua atitude, esta, condenável pela moral.
Mas há casos que nem toda disciplina é moral, pois ficar sentado, quieto e
atendo às aulas do professor não traduz a moral e nem toda indisciplina é condenável
moralmente, pois o aluno que é humilhado e injustiçado se sentirá no direito de se
revoltar contra o agressor. E, também, nem sempre o aluno que segue as normas
disciplinares da escola tem em mente as virtudes; muitas vezes, é pelo medo do castigo
ou por achar mais vantajoso não enfrentar o professor. Então, antes de condenar certos
18
atos como indisciplinados, temos que conhecer a razão de ser das normas e dos
comportamentos esperados.
O professor tem uma grande e difícil tarefa que é resgatar e reconhecer as
diferentes raízes morais da moral dos discentes, através da sua proposta de trabalho
fundamentada no conhecimento, pois através deste irá resgatar noções das regras, de
semelhanças e diferenças, irá proporcionar a regulação das ações e operações
humanas, norteando para o comportamento moral. Isso porque se o aluno é estimulado
a pensar, a produzir seu próprio conhecimento, irá, consequentemente, transformar as
suas inquietações e desobediências, segundo Augustin Escolano (1996, p.36) “em
ciência”, ou seja, em conhecimento, buscando respostas para os questionamentos e às
dúvidas.
Escolano (1996, p.37) propõe a “nova ordem pedagógica” que é convocar e
instigar os alunos à descoberta, a ultrapassarem o óbvio, a buscar respostas para os
problemas. No ensino tradicional, a disciplina era vista como obediência, resignação,
mas nos tempos atuais, deveria significar movimento, vontade de ultrapassar barreiras,
de questionar sobre algo, tornando-se, segundo Julio Groppa Aquino (1996, p.38) “vetor
de rebeldia para consigo mesmo e de estranhamento para com o mundo – qualidades
fundamentais do trabalho humano de conhecer.” E o diálogo entre o professor e o aluno
é fundamental porque o educador precisa entrar em negociação com os discentes a
respeito de suas estratégias de ensino, das formulações e aplicações das avaliações,
dos objetivos e dos conteúdos preconizados, preocupando-se com seu desempenho
futuramente e com sua aprendizagem.
1.4 A INCLUSÃO E A EXCLUSÃO NOS ESPAÇOS DA ESCOLA
Além de moldar comportamentos e de proporcionar um ambiente favorável à
realização das atividades e das relações, os espaços escolares podem ser
considerados aglutinadores, em termos sociais, sendo mais visíveis os que costumam
reunir as pessoas; ou desagregadores, em termos sociais, aqueles que tendem a
afastar as pessoas. Mas essas últimas denominações vão depender do constructo em
19
que elas são utilizadas, pois nem sempre o que é aglutinador numa cultura será do
mesmo modo em outra.
Em relação às atividades da escola estas têm o seu valor, seu significado e
quem as produz pode criar situações que gerem inclusão ou exclusão, ressaltando-se
que muitas vezes não são explícitas, mas transmitidas pela escola, naquilo que compõe
o chamado currículo oculto; o qual é constituído por todos aqueles aspectos que não
fazem parte do currículo oficial, mas que contribuem para aprendizagens sociais
relevantes.
Por exemplo, no colégio analisado, existe uma biblioteca; nesta acontecem
atividades destinadas basicamente à leitura e pesquisa. Para serem realizadas é
preciso objetos que lhe dêem todo suporte, que são basicamente, dentre outros, os
livros, revistas e jornais. Assim, os alunos podem ocupar e utilizar o espaço a depender
das suas necessidades, que são atendidas na biblioteca. Seja uma leitura silenciosa,
seja para pesquisar sobre algum tema ou simplesmente ler sobre as notícias do dia.
Isso evidencia a relação entre o espaço físico que, neste caso, foi projetado,
voltado para as atividades educativas e os alunos que frequentam esse espaço, porque
as atividades que ocorrem neste suprem as suas necessidades ou os induzem a
permanecerem nesse espaço, espontaneamente ou não. Consequentemente ocorrem
às relações interpessoais e pedagógicas entre os envolvidos. Isso porque muitas vezes,
como no caso desse estudo, o indivíduo é obrigado ou proibido de permanecer, ou até
mesmo, de transitar por um determinado espaço da escola, refletindo assim, sinais de
exclusão, neste caso, praticado pela direção da escola aos alunos.
Já inclusão é um desafio que implica mudar a escola como um todo; no projeto
pedagógico, na postura diante dos alunos, dentre outras. O intuito é valorizar as
particularidades de cada aluno, atender a todos na escola e incorporar a diversidade,
pois o interessante é que se inclua pela diferença. Ao conhecer e respeitar as
diferenças sociais, étnicas, físicas, sexuais, religiosas e intelectuais do outro e tirar
proveito positivamente delas, o aluno estará contribuindo para sua aprendizagem.
Isso porque, a partir do momento em que conhece e lida com as diferenças,
desconstrói a idéia preconceituosa sobre os fatos e aceita o outro com suas
particularidades, as quais fazem parte do nosso cotidiano, das suas vivências e dos
20
espaços que frequenta e dos quais se apropria, sendo protagonistas também dessa
ação humana.
O ato de incluir dá idéia de aprendizado. Ser inclusivo é aprender a viver com o
outro, é a participação das pessoas (da família, da comunidade, dos órgãos públicos,
do governo) em uma nova e rica proposta educacional que celebre a diversidade e as
diferenças. Mas, infelizmente, nem todos estão preparados para lidar com as
diferenças, e, desde sempre, as desigualdades sociais foram manifestadas de
diferentes tipos de exclusão, em diferentes segmentos sociais, seja no lar ou na escola.
No ambiente escolar, é comum a exclusão, seja entre professores e alunos, entre
alunos e alunos, entre professores e professores, entre professores e funcionários, etc.
A inclusão pode ser notada nas instalações do colégio, em relação às
adaptações no edifício, previstas pelo Plano Nacional de Educação para a educação no
ensino fundamental, estabelecendo que isso acontecesse gradativamente, num prazo
de cinco anos, obedecendo às normas técnicas ABNT (NBR 9050/94) sobre os
requisitos básicos de acessibilidade em edificações públicas, espaços e equipamentos
urbanos.
O Colégio já foi projetado prevendo adaptações rumo ao desenho universal,
como a utilização de rampas, sanitários para deficientes físicos, sinalizações pelo
colégio, as circulações largas, o dimensionamento das aberturas dos espaços
adequadas, entre outras.
A educação como direito de todos e obrigação do Estado, deve ser ofertada de modo a atender toda a população infanto-juvenil que se encontra em condições de freqüentá-la, ou seja, a educação deve contemplar toda a clientela que necessitar, incluindo assim os portadores de deficiência. Como decorrência deste princípio, há necessidade, por parte do poder público, de garantir recursos humanos e físicos para atender a toda esta demanda. (PNE, 2006, p. 1-2).
21
Existe a necessidade de realizar diagnósticos das condições de acessibilidade
nas edificações escolares. Para isso, o diretor tem o papel de identificar as
necessidades de reformas e manutenção de escola, definir as prioridades e fazer o
encaminhamento do pedido de verbas aos órgãos competentes, usando da sua
autonomia como gestor, desde que não contrarie os princípios da administração central.
1.5 A ESCOLA E O CURRÍCULO
Existem muitos tipos de currículo e aqui destaco dois tipos; um conhecido como
currículo oficial ou formal que é o oferecido pela escola, estruturado, basicamente, pela
relação de conteúdos e atividades correspondentes a cada disciplina ensinada em
determinado grau de ensino; pela carga horária dos professores; pela quantidade de
disciplinas divididas em cada série e seu tempo de duração, divididas comumente em
dias e semanas; pelas normas relativas às instituições de ensino. Outro em construção
ou oculto, àquele que reúne as experiências de vida dos alunos nos diferentes espaços,
contendo significados e valores que foram construídos, através do convívio e da ação
do indivíduo na sociedade, tornando-se aprendizagens significativas. Ambos, o aluno
aprende no currículo oculto são os comportamentos, as atitudes, as normas, valores e
orientações que se ajustam às estruturas da sociedade.
O currículo tem significados que vão muito além daqueles aos quais as teorias tradicionais nos confinaram. O currículo é lugar, espaço, território. O currículo é relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O currículo é autobiografia, nossa vida, curriculum vitae: no currículo se forma nossa identidade. O currículo é texto, discurso, documento. O currículo é documento de identidade. (SILVA, 2003, p. 150).
O currículo é um instrumento para o professor, pois o ajuda na prática
pedagógica, que deve fortalecer o processo de ensino e aprendizagem. Isso porque ele
elabora estratégias de ensino para abordar os conteúdos, já selecionados, propostos
pela disciplina, os chamados métodos de ensino e formule avaliações que estimulem o
desenvolvimento cognitivo do aluno. Portanto, um dos papéis do docente é direcionar e
22
comandar o processo de ensino e aprendizagem, e, se for preciso, modificando o
próprio currículo de acordo com as aptidões, os interesses e as características culturais
dos alunos; essas são questões propostas para acontecer no ambiente escolar.
Nota-se que a escola é um espaço de aprendizagens possibilitadas através das
relações sociais estabelecidas pelos envolvidos e dirigidas a eles. Essas relações são
representativas para os alunos, refletindo valores essenciais para o desenvolvimento
cognitivo, para as habilidades e para a formação da sua identidade. A depender de
como a escola está planejada e organizada, as atividades podem ser limitadas ou
possibilitadas para eles, isso se realmente forem realizadas ou não, refletindo-se assim
no currículo oculto dos mesmos.
Os espaços educativos estão dotados de significados e transmitem uma importante quantidade de estímulos, conteúdos e valores do chamado currículo oculto, ao mesmo tempo, em que impõem suas leis como organizações disciplinares. (ESCOLANO, 2001, p.27).
É currículo oculto é importante, pois ele está implícito no cotidiano escolar. Ele
expressa as atitudes, os comportamentos e os valores que fazem parte da vida dos
alunos internamente e externamente ao ambiente escolar, são aprendizagens sociais
relevantes. Imaginemos um aluno que, depois de muito tempo, retorna a escola que
estudou na sua infância e verificou que houve mudanças na sua estrutura construtiva e
começa a recordar aqueles espaços e o que se fazia antes neles, identificando que
lugares de hoje, com certas diferenças, contemplava o mesmo cenário de sua infância,
e os lugares que observava correspondiam aos seus primeiros esquemas perceptivos.
Segundo Augustin Escolano, (2001, p.23) “A escola havia sido, para ele, uma
experiência decisiva na sua aprendizagem das primeiras estruturas espaciais e na
formação de seu próprio esquema corporal”.
Essa formação dos primeiros esquemas cognitivos e motores no indivíduo
tornam-se um elemento significativo do currículo, pois é fonte de vivência e
aprendizagem. Para Agustin Escolano, (2001, p.27) “Os espaços educativos, como
lugares que abrigam a liturgia acadêmica, estão dotados de significados que transmitem
uma importante quantidade de estímulos, conteúdos e valores do chamado currículo
oculto [...]”. O currículo escolar é o conjunto das vivências do aluno dentro e fora da
23
escola, seu cotidiano, suas experiências de vida, suas relações sociais compartilhadas
e acumuladas ao longo dos anos, as quais contribuem para sua formação intelectual e
pessoal, e que não estão escritos ou legalmente instituídos, mas têm força dentro do
contexto.
O currículo escolar, nas sociedades, é ajustado às suas estruturas, e por esse
motivo, é considerado como um processo de socialização. Em, outras palavras,
condicionado aos ideais da sociedade capitalista de produção e consumo, com a idéia
de sair da escola, completar os anos escolares e se inserir no mercado de trabalho; isso
vale para os indivíduos das classes menos favorecidas.
Célia Dórea afirma em seu artigo, que, segundo Anísio Teixeira, sem instalações
adequadas não poderia haver trabalho educativo; assim o prédio, estrutura física e
preliminar para qualquer programa educacional, torna-se indispensável para as práticas
e planos de ensino propriamente ditos. (DÓREA, 2000, p.151).
Como exemplo, o relato de A.L., que comentarei no próximo capítulo, que expôs
suas sensações, suas angústias, suas dificuldades e superações durante o período que
marcou sua vida, sobretudo escolar. Isso traduz uma formação negativa, no sentido da
falta de infra-estrutura da escola, que era mal adaptada para seu uso, pois não atendia
às necessidades básicas do aluno, como: saneamento básico, tornando-se
experiências vividas. Momentos ruins ou, pelo menos, desconfortáveis, nessa escola;
só de imaginar que as crianças, para fazerem suas necessidades fisiológicas tinham
que sair da casa e ir para “dentro dos matos” isso incomoda e reflete o descaso total
das autoridades da região com a educação básica.
Foi essa impressão que ela teve da escola e desse período escolar, em que
sobressaíram as dificuldades dos alunos e os serviços básicos, mas que são de direito
de maneira eficaz e de qualidade que é a educação e as instalações para o ensino,
ficando registrado em sua memória.
24
2.0 PERCURSOS METODOLÓGICOS
Este capítulo é destinado a descrever, discutir e analisar as cenas de alguns
espaços do Colégio, as quais demonstram que as atividades e as relações
interpessoais e pedagógicas são reveladas através das atitudes, discursos e
comportamentos de cada um. E o escolhido, já citado, foi o Colégio Estadual Professor
José Barreto de Araújo Bastos, localizado em São Caetano, Salvador/BA.
O trabalho tem como objeto de estudo a educação e está vinculado à área de
ciências humanas e Sociais, e tem como foco a concepção do espaço escolar e sua
importância para as relações interpessoais e pedagógicas entre alunos, professores e
funcionários
O objeto central da pesquisa é o espaço escolar, observando algumas classes
de alunos e os protagonistas que destaco nas cenas são os alunos das 5ª séries A, C e
D. Identifiquei algumas atividades que, por enquanto, estão apenas disponíveis para
eles, as quais acontecem no turno oposto de suas aulas; e, por passarem maior tempo
na escola, mais do que os outros alunos, se relacionam mais com e nos ambientes do
colégio. Estas atividades são chamadas de oficinas; são atividades extracurriculares e
complementares que pretendem desenvolver no aluno a coordenação motora, o
raciocínio lógico, habilidades na leitura e na escrita, a expressão corporal, a arte de
representar e estimular a produção do conhecimento.
Atividades que compõem o currículo da escola e trazem para eles diversão,
interação com o grupo, conhecimento de si e do que são capazes de fazer que eles
internalizem e aprendam. Algumas foram criadas pelo Governo Federal, no projeto
chamado “Mais Educação” e outras criadas por professores que serão comentadas no
decorrer deste capítulo. Atividades lúdicas, de dança, teatro, capoeira, karaté, xadrez e
literatura que, basicamente, promovem o convívio do indivíduo com o grupo, tornando-
se importantes para sua a formação pessoal.
Esse tema foi escolhido, depois de muitas leituras que enfatizam a relevância do
espaço escolar para o aluno. Ele está incutido no currículo oculto e, o mais importante;
possibilita, ou não, que o sujeito se relacione com outros indivíduos, dependendo das
atividades que lhe são proporcionadas. A pergunta de partida, já enunciada na
25
introdução, aborda: qual a importância do espaço escolar para as relações
interpessoais e pedagógicas entre alunos da 5ª série, professores e funcionários do
colégio Estadual Professor José Barreto de Araújo Bastos?
Depois do tema escolhido e da delimitação e formulação do problema, passei ao
objetivo geral, qual seja, o de refletir sobre a importância do espaço escolar para as
relações interpessoais entre os alunos da 5ª série, professores e funcionários do
Colégio José Barreto de A. Bastos. Os objetivos específicos foram: 1- Analisar o espaço
escolar: a) com base na estrutura arquitetônica; b) no conforto ambiental dos
ambientes; c) na observação da forma com que os alunos utilizam e ocupam os
espaços (se eles freqüentam ou não, se destroem ou conservam as instalações do
colégio, quais as atividades que eles realizam que possibilitam o uso dos espaços), d)
na observação dos acessos a estes e sua funcionalidade em relação ao pretendido
explicito; e) na identificação das características e adequação do mobiliário escolar que
os compõem e sua conservação por parte dos alunos. Além disso, 2 - na caracterização
da organização espacial do colégio; 3 - na observação das relações que acontecem
entre os alunos da 5ª série, professores e funcionários no cotidiano escolar e 4 -
Destacar as atividades desenvolvidas nos espaços e sua procedência.
Nesse processo, realizei 17 visitas ao colégio, nos dias: 27/04 e 28/04; 03/05,
07/05, 10/05, 14/05, 17/05, 18/05, 21/05, 24/05, 25/05, 28/05, 02/06, 07/06, 11/06,
14/06 e 17/06; alternados, entre manhã e tarde. Nessas visitas fiz registros fotográficos
e escritos de testemunhos. O último, primeiramente, foi com duas turmas de alunos do
primeiro ano do ensino médio, em média de 30 alunos por turma, com idades entre 16 a
22 anos. Ainda não tinha estabelecido contato com os alunos da 5ª série. Mas foquei
as entrevistas em seis alunos da 5ª série, das turmas A, C e D, de 10 a 13 anos,
particularidades da escolha dos sujeitos questionados; professores e funcionários,
elaborando questionários. Por fim, coloquei as respostas deles que tiveram a ver com
os espaços escolhidos para o estudo.
26
2.1 PRIMEIRAS INCURSÕES
Primeiro fiz o contato com a vice-diretora da tarde A.S, no dia 27 de abril, falei
sobre a possibilidade de realizar a minha pesquisa no colégio; e ela autorizou. Já no dia
seguinte, pela manhã, às 07h30min, comecei a fotografar os espaços e a perceber a
chegada dos alunos ao colégio e a sua disposição no e pelos espaços. O mesmo
aconteceu no dia 03/05. Além disso, conversei com duas funcionárias R.C. e B.F. que
ficam no corredor, que dá acesso às salas de aula, sobre o assunto e me falaram um
pouco dos alunos e do colégio.
Ainda estava inquieta, pois não tinha escolhido a turma de alunos para
entrevistar e estudar. E foi assim, que no dia 07/05, minha mãe, J.K, me levou até uma
das salas em que acontecia a aula de artes, da professora A.C e me apresentou a ela.
Falei do propósito da minha visita e, consequentemente, expliquei o meu tema de
pesquisa e lhe pedi para assistir a aula. Era uma turma de primeiro ano que estava
apresentando seminário sobre arte impressionista.
A professora parou a aula para me apresentar ao grupo, falou do intuito da minha
visita e me passou a palavra. Comecei a falar com eles sobre o tema da pesquisa e fiz
perguntas sobre os espaços da escola, tais como: o que eles achavam dos espaços da
escola, quais eles mais frequentavam, sobre os acessos, a limitação a algum deles,
entre outros. Eles foram bem receptivos e responderam todas as perguntas, revelando
suas opiniões, suas idéias, seus sentimentos e suas impressões sobre a escola.
Já no dia 10/05 fui à escola pela manhã e fiquei sabendo das oficinas, já
mencionadas, para alunos da 5ª série e o que me incomodou foi saber que eram
“apenas” para eles; por que disso? Foi assim que a coordenadora das oficinas,
professora L.P. me disse que, por enquanto, só está disponível para eles, mas que no
próximo ano estenderá às demais séries. Diante disso, decidi direcionar a pesquisa
para os alunos da 5ª série, porque com essas oficinas eles passam maior parte do
tempo no colégio do que os outros alunos, já que as oficinas acontecem em período
oposto ao das aulas.
27
A partir do dia 14/05 comecei a tirar mais fotos em períodos distintos; de manhã
e a tarde, para verificar as diferenças das utilizações dos espaços focados. No dia
17/05 comecei a elaborar o questionário da pesquisa, finalizando com a professora Isa
Trigo no dia 21 de maio, para aplicá-lo no dia 24/05 com os alunos. Antes disso, no dia
21/05 fui até a biblioteca, pela manhã, para conversar com a bibliotecária A.P. A
conversa foi bastante proveitosa: ela me revelou informações importantes para o
trabalho como a respeito do funcionamento, as normas e as instalações da biblioteca, o
perfil dos alunos que a frequenta, opiniões sobre os espaços do colégio, relatos de vida
e sua relação com os alunos.
Chegando no dia 24/05, pela manhã, tirei mais fotos dos espaços e assisti à
primeira aula de dança, ministrada pela aluna da UNEB, do primeiro semestre, do
noturno, estagiária do projeto “Mais Educação”, C. No mesmo dia, estive também com o
professor de teatro, J., que também é estagiário do Programa Mais Educação; que dá
aula de teatro como hobby. Os dois se juntaram para darem aulas na sala de dança,
para ensaiar com os meninos a apresentação da quadrilha junina para o dia do
encerramento das atividades; 17/06.
Ao final da aula, na saída, chamei um grupo de quatro alunos e falei do meu
tema; sendo auxiliar dos professores da oficina, solicitei a eles que me respondessem a
um questionário sobre os espaços da escola. Eles aceitaram em fazer a entrevista; com
isso fomos até a biblioteca, pois era um dos lugares mais tranquilos para conversar,
naquele momento, pois estava no horário do intervalo.
Foram duas meninas, L. e H. e dois meninos; E. e A., todos da 5ª A e com 12
anos. Eles responderam todas as perguntas (ver apêndices), demonstraram suas
impressões e sentimentos que tem da escola, seus encantos e desencantos sobre o
que enfrentam na mesma.
No dia 25/05 observei os espaços e os alunos, além de entrevistar a vice-diretora
da manhã J.M. No dia 28/05 realizei mais entrevistas, agora, com duas alunas da 5ª D;
E. e C., ambas com 10 anos e uma da 5ª D, L. com 13 anos. Depois comecei a relatar
sobre a minha primeira impressão como pesquisadora, ou seja, como sujeito atuante,
28
consciente e participante das percepções e das ações e experiências dos indivíduos da
pesquisa, procurando compreender a significação social por eles atribuída ao ambiente
escolar e aos atos e comportamentos que realizam nesse ambiente, a partir das
análises das respostas aos questionários e às observações.
No dia 02/06, no colégio, encontrei E. e L., que me deram um forte abraço e
ficaram no pátio comigo, sentadas conversando. E em conversa eu perguntei a elas se
estavam gostando das oficinas e E., me respondeu: “Sim, eu gosto de ficar aqui na
escola, porque de manhã eu tenho oficina, meio-dia eu almoço; descanso e de tarde eu
tenho aula”. Já L. falou: “Sim! A gente não se preocupa em se sujar, porque aqui tem
chuveiro e quando a gente termina a oficina, antes de almoçar, a gente toma banho.”
Nos dias 07 e 11/06 visitei o colégio pela tarde e reencontrei os meninos que
participaram das entrevistas, me abraçaram e conversaram um pouco comigo das
atividades que estavam fazendo.
No dia 14/06, pela manhã, assistir a aula de xadrez com a professora regente,
formada em educação física, I.M. que me explicou sobre o que foi ensinado nas aulas e
que foi ela quem criou essa oficina na escola, porque gosta da atividade e achou bem
interessante aplicar com os alunos.
E por fim, no dia 17/06 foi à realização da festa junina do colégio, tanto de manhã
quanto a tarde; e nesse dia fiquei apenas observando a organização da festa, ajudando
na distribuição da merenda (com comidas típicas) na cozinha e tirando fotos da
confraternização entre professores, alunos e funcionários que teve direito a música ao
vivo, sendo esta realizada no refeitório; mais uma vez esse espaço sendo palco e
proporcionando as relações.
Com as visitas pude participar das cenas com os alunos para conhecê-los e
perceber, observar e registrar o que acontecia no espaço. Utilizei “cenas”, porque se
referem às situações em cada espaço que aconteceram no decorrer do período;
buscava observar como os espaços da escola promovem as relações; escolhi locais
estratégicos dentro do colégio que fossem relevantes a observação dos fatos e a
29
constatação do problema. Locais que eu percebi a frequência e a utilização pelos
alunos, professores e funcionários, sendo estes, basicamente, o refeitório, o pátio, a
biblioteca, as salas de aula, o auditório e a sala de dança, claro que em situações
diferentes.
Com as perguntas, eu coletei explicações e informações sobre comportamentos,
opiniões sobre os ambientes da escola, sobre as atividades educativas, o convívio entre
os envolvidos nesses ambientes, as relações que se constroem durante as atividades,
as impressões que se têm do espaço, o nível de satisfação dos alunos em estar nos
ambientes, a sua permanência nestes; e quais as características negativas e positivas
que vivenciam nos espaços. E como foi isso?
Eu me aproximei deles, ganhei a sua confiança, estimulando neles a curiosidade
em realizar uma entrevista, de sentar e conversar sobre sua escola, lugar de
aprendizagens. E o meu intuito era verificar se a escola atendia, em termos de espaço,
a realização das relações estudadas, identificadas também nas atividades
extracurriculares. Deixei claro a eles que precisava realizar a entrevista com quem
realmente frenquentava as oficinas, conhecendo o perfil desse aluno e seu
desempenho nas atividades, sendo um dos artifícios que eu usei para ganhar ainda
mais a confiança deles.
Eu entrevistei alunos da 5º série a respeito dos espaços do colégio e fiz uma
associação do que eu percebi, nestes, com os depoimentos dos alunos, constatando
assim nas questões já levantadas. Junto às entrevistas analisadas, foquei o estudo nos
espaços separadamente, ou seja, por setores, pois, segundo Agustin Escolano (2001,
p.28) “as pessoas e os objetos se relacionam precisamente através de sua separação
no e pelo espaço.” Para isso a seleção todo material coletado, organizando-o conforme
o grau de relevância para o tema. A partir daí comecei a descrever tudo que aconteceu
em determinados espaços, caracterizando-os, sendo associados às imagens para
melhor compreensão e visualização dos mesmos.
30
2.2 A INSTITUIÇÃO
O Colégio Estadual Professor José Barreto de Araújo Bastos está localizado na
Rua do Bambuí, s/n, São Caetano, Salvador/BA. Este foi inaugurado no dia 24 de
Agosto de 2004 pelo então Governador César Borges, acompanhado pelo então
Secretário da Educação Eraldo Tinoco e pelo ex-presidente do Congresso Nacional, na
época, Antônio Carlos Magalhães. (ver localização do colégio nos mapas 01, 02 e 03).
34
O mapa 02, p.32, mostra a proximidade do colégio com a Estação Pirajá e com o
Final de Linha de São Caetano, atendendo à comunidade do bairro e de bairros
vizinhos como: Marechal Rondon, Pirajá, Castelo Branco, Calabetão, Fazenda Grande
do Retiro, entre outros; próxima a este também fica a BR-324. A via principal que dá
acesso ao colégio é denominada Rua do Bambuí que dá acesso ao final de linha do
São Caetano. Esta via é de mão única, com cinco empresas de ônibus que rodam no
bairro que atende a demanda da população em termo de transporte coletivo. A Ronda
escolar também se faz presente na redondeza para garantir a segurança de todos. (ver
foto 33).
Foto 33 – Planta de localização do Colégio José Barreto, Fonte: Google Earth. Data: 28/04/2010
No mapa 03, p.33, temos uma vista aérea do Colégio, mostrando a dimensão da
edificação no terreno e das construções vizinhas, constituídas em sua maioria por
residências, mostrando o entorno da escola e também destacando os principais
espaços do colégio.
A existência do colégio se deu devido ao fechamento de outra escola, particular,
em São Caetano, denominada Cônsul S. S. Schindler que tinha convênio com o Estado
35
e a Prefeitura de Salvador e atendia alunos da pré-escola ao ensino fundamental II.
Com a extinção desta, os alunos tiveram que ser alocados em escolas estaduais e
municipais do bairro. Uma parte dos alunos do fundamental I foi para a Escola Barbosa
Rodrigues e os do ensino fundamental II para a Escola Moura Bastos, ambas,
localizadas no São Caetano. Para suprir a demanda dos alunos do bairro e de
localidades vizinhas, foi pensada a construção de um colégio que atendesse além o
ensino fundamental I e o II, também o ensino médio.
Foi assim que em 2002 começou a primeira instalação do colégio, de caráter
provisório, sendo denominada “escola de papelão”, pois a sua estrutura física não era
em alvenaria e sim, em Eucatex. Finalmente em 2004 o Colégio foi inaugurado,
denominado Colégio Estadual Professor José Barreto de Araújo Bastos, projetado pelo
arquiteto Eduardo Brandão. (ver foto 34).
Foto 34 – Entrada do Colégio, Autoria da Organizadora. Data: 14/05/10
Já a foto 35 corresponde à fachada principal do colégio, marcada por traços
horizontais; que é uma das características da arquitetura moderna do século XX. Este
foi construído com novos materiais, como o concreto armado, edificação com formas
geométricas simples, sem ornamentação e com grandes aberturas envidraçadas.
Segundo Edward Hall, “O uso do termo fachada é por si mesmo revelador. Ele indica o
reconhecimento de níveis a serem penetrados e sugere as funções desempenhadas
36
pelas características arquitetônicas que fornecem proteção, atrás das quais as pessoas
podem se recolher de quando em quando.” (HALL, 2005, p.131).
Foto 35 – Fachada principal do Colégio, Autoria da Organizadora. Data: 14/05/10
A fachada do edifício revela sua funcionalidade, pois se diferencia uma
arquitetura escolar de uma religiosa, de uma militar, entre outras. Isso porque possui
elementos simbólicos que estão em destaque na fachada que a caracteriza. No caso da
escola, o seu nome, em letras grandes, fica na entrada principal a edificação. A entrada
é controlada pela guarita, munida de muros ou grades altas.
A fachada do colégio, imponente, com eixos simétricos, com aberturas e
varandados que possibilitam a contemplação da paisagem e de edificações vizinhas. A
partir da observação dos espaços, identifiquei as atividades educativas e as relações
interpessoais e pedagógicas acontecendo no mesmo. Sendo assim, levo em
consideração todo significado que o espaço pode carregar consigo e influenciar na
formação pessoal dos alunos.
Antes da implantação da escola, o terreno baldio era utilizado como campo de
futebol e para reunião de marginais. A vizinhança temia pelo que eles pudessem fazer a
seus familiares e as suas residências, praticando assaltos, invasões domiciliares, enfim,
37
com uso da violência. Isso porque o São Caetano é um bairro popular que enfrenta os
problemas sociais de desigualdades, drogas, violência e criminalidade.
Minha mãe é quem ficava sabendo desses relatos e como morávamos próximo a
escola, na década de 80, ela também presenciava assaltos no local, até hoje, indo para
o colégio.
Depois de inaugurada, a escola mudou a rotina nesse lugar; isso se deve à
oferta e a realização de atividades educativas e sociais que acontecem no local, em prol
da melhoria da qualidade de vida dos que frequentam. A edificação do colégio contribui
para a organização do espaço urbano, possuindo características que revelam a sua
funcionalidade, bastante representativa para o bairro. Atualmente o colégio tornou-se
um ponto de referência para o bairro de São Caetano pela sua horizontalidade, pela
simétrica e formas geométricas regulares, bem como pela importância educacional que
tem ao atender este grande numero de alunos. (ver foto 36).
Foto 36 – Vista da varanda de uma das salas de aula, Autoria da Organizadora. Data: 14/05/10
Na atual administração encontra-se o Pedagogo e diretor, G.B, com mais de dez
anos de formação acadêmica; está no comando da escola há mais de quatro anos.
Segundo ele, o Colégio é de porte especial, pois atende cerca de 1.679 alunos,
funcionando os três turnos, possuindo auditório, biblioteca, laboratório de ciências e de
informática. Dispõe de 18 salas de aula, nove no 1º andar e nove no 2º andar, além das
38
salas de dança, de artes, com 59 professores formados em áreas específicas do
conhecimento, todos, com graduação e alguns com pós-graduação.
Além disso, os ambientes são mantidos limpos, exigência do diretor, pois reflete
um espaço higienizado, ventilado e iluminado.
A escola é composta por pavimentos que se dividem em setores (A, B e C). O
primeiro pavimento constitui-se por esses três setores; o setor “A” refere-se à guarita, o
Estacionamento o auditório e a biblioteca; o setor “B” a área administrativa que engloba
as circulações (corredores), Área da Escada, Secretaria, Mecanografia, Coordenação,
Sala para guardar Equipamentos Eletrônicos e Áudios-visuais, Almoxarifado, Vice
Diretoria, Diretoria, Sanitários dos professores e dos funcionários, Copa, Sala dos
professores, Arquivo, Laboratório de Ciências, Cozinha, Cantina; e o setor “C”
corresponde aos Sanitários para os alunos, Refeitório, Vestiários, Depósito de Material
de Limpeza (DML), Área da Rampa, Quadra Poliesportiva e o Estar dos porteiros. Já o
segundo e terceiro pavimentos possui a mesma divisão de setores que é: no setor “B”
ficam: A área da escada, circulações, as salas de aula. Já o setor “C” corresponde a
área das rampas, sanitários e mais salas. A última sala, que fica no final do corredor, no
segundo pavimento corresponde à sala de dança e no terceiro pavimento ao laboratório
de informática. (ver mapas 04, 05, 06, 07, 08, 09 e 10).
46
TABELA 1 – Equipamentos da Escola:
Lousa Ar condicionado
Computador Retroprojetor
Televisão DVD
Duplicadora Impressora
Equipamentos para o
Laboratório de Ciências
Aparelho de som
Data-show Xerox
Fax Vídeo
Todos os equipamentos estão funcionando. O retroprojetor, o data-show, vídeo,
DVD e o aparelho de som ficam guardados numa sala, próxima a coordenação (foto
127) e toda vez que o professor precisa utilizá-los procura a vice-diretora ou a
secretária para abrir a sala e pegá-los. A duplicadora e a Xerox ficam na mecanografia
a serviço interno da administração, como provas e documentos. Os equipamentos para
o laboratório de ciências ficam no próprio laboratório, com portas fechadas, só são
abertas quando tem aula. Fax, impressora, televisão, ar condicionado e computador são
distribuídos nos espaços administrativos do colégio e a lousa e televisão nas salas de
aula.
Foto 127 – Sala que guarda os equipamentos eletrônicos, Autoria da Organizadora. Data:
14/05/10
47
O colégio funciona com as seguintes modalidades de ensino:
Turno matutino: Ensino Médio; são sete turmas de 1º ano; quatro turmas
de 2º ano e três turmas de 3º ano.
Turno vespertino: Ensino Fundamental II são cinco turmas de 5ª série; três
turmas de 6ª série; três turmas de 7ª série; uma turma de 8ª série. Já o
Ensino Médio é uma turma de 1º ano; uma turma de 2º ano e uma turma
de 3º ano.
Turno Noturno: Ensino Médio são seis turmas de 1º ano; quatro turmas de
2º ano e quatro turmas de 3º ano.
OBS: Todas as turmas em média com trinta alunos matriculados
48
3.0 ANÁLISE DOS ESPAÇOS DO COLÉGIO ESTADUAL PROFESSOR JOSÉ BARRETO DE A. BASTOS
3.1 CENAS QUE ME CHAMARAM ATENÇÃO
A partir daqui, passo a descrever, em formato de quadros que denomino de
cenas, os eventos e espaços que observei. Divido-os em cenas de pátio, cenas da sala
de aula, do pátio, da biblioteca, da sala de dança e do refeitório, porque observei as
relações pedagógicas e as relações interpessoais sendo propostas e realizadas. A
seguir, relato e analiso essas cenas; associadas às estas, as entrevistas que realizei
com alunos da 5ª série, como também as conversas que tive com alunos do primeiro
ano, professores e funcionários do colégio.
3.1.1 Cenas da sala de aula
O Colégio José Barreto, para muitos alunos, é maravilhoso. Isso porque quem
está acostumado a utilizar espaços pequenos, sem comodidade, sem instalações
adequadas, ao se deparar com um ambiente escolar confortável, espaçoso, com
atividades interessantes, com recursos audiovisuais, atendendo as suas necessidades;
se sente privilegiado. Isso eu constatei nas entrevistas com os alunos da 5ª série, que
foi o foco da pesquisa.
Uma das perguntas que fiz a eles, do questionário foi: Quais os espaços que sua
escola tem? Para que servem?
Um dos espaços que a aluna H., 12anos, da 5ª A considera importante é o da
sala de aula: “serve para aprender, a gente não seria nada sem a sala de aula, a gente
não iria saber nada”. Do jeito que ela falou, com gestos e entonações, reflete sua
satisfação com a sala de aula e o mais importante, o reconhecimento desta, como
espaço de transmissão dos conteúdos essenciais para sua formação pessoal.
Ela revela ser um sujeito sensível que consegue perceber e qualificar o espaço,
neste caso, a sala de aula, enquanto ambiente de aprendizado. Mas este precisa estar
acessível a todos, a qualquer momento, pois é um dos espaços destinados aos
conteúdos pedagógicos que o qualifica. Este espaço também deve ser analisado na
perspectiva espacial, em relação aos aspectos de iluminação, ventilação, disposição do
49
mobiliário escolar, da conservação, da acústica e do dimensionamento, pois também o
qualifica.
Com base nisso, trago o relato do aluno E., 12 anos da 5ª A que discorda de H.:
“ah! toda vez tem que buscar cadeira em outra sala, não gosto”.
- “as portas estão quebradas, quadro riscado, fechadura quebrada”.
Essa insatisfação de E. foi motivada pela atitude de alguns de seus colegas que
quebraram as carteiras e com isso, as funcionárias da limpeza tiveram que retirá-las
das salas. Mas até o momento não foram substituídas, forçando atitudes como a de E.
de ter que buscar carteira em outra sala.
E quando essa outra sala está em aula, onde pegar essas carteiras?
Geralmente, nem todas as salas têm aula ao mesmo tempo por isso, é possível que os
alunos possam utilizar as carteiras das salas vazias. Mas isso causa um desconforto
para eles; e o que fazer diante dessa atitude de vandalismo de alguns alunos, que
segundo E. “são os maiores”, ou seja, alunos do ensino médio?
Eu perguntei aos entrevistados se eles já presenciaram esses alunos realizando
atos de vandalismo e eles responderam que “sim!”. Chamo de vandalismo porque
destroem algo que é de todos; um bem material que supri a necessidade deles; é uma
ação injustificável.
Além das carteiras, segundo funcionários e professores, se eles permanecerem
na sala, sem professor, eles arrombam as portas destas, quebram as carteiras, levam a
lixeira, entre outros. Para evitar atitudes como essas, a Direção adotou um sistema que
controla a entrada dos alunos nos pavimentos superiores que ficam as salas.
A vice-diretora, da manhã, J.M. relatou que esse sistema foi implantado desde a
penúltima administração, há quatro anos, mas só se efetivou, no ano de 2009, sendo
adotado o conceito de “sala ambiente”. Este conceito consiste na permanência do
professor, em uma única sala, à espera das turmas que ele leciona no dia. A turma ao
terminar de assistir a aula, sai, para que outra turma ocupe.
Isso faz com que os alunos não se sintam possuidores da sala de aula, tornando-
se um incômodo para eles, pois têm que parar a tarefa, o raciocínio do que estava
50
sendo elaborado, ou a relação que procedia naquele momento, porque não podem ficar
em sala.
Mas como disse J.M.: “Com esse sistema melhorou e evitou mais a bagunça, o
quebra-quebra, a confusão lá em cima”.
- “Mas mesmo assim temos que fazer sempre comunicados de conscientização
com os alunos.”
J.M. disse também que: “Em relação às carteiras, quando eles só danificam a
parte de madeira, ou seja, o assento e o encosto dão para consertar, mas quando
danificam a estrutura de ferro da cadeira, não; aí temos que devolver para secretaria de
Educação, que manda um caminhão vir buscar”.
Com essa atitude todos os alunos “pagam o preço” da falta de liberdade de
permanecer nas salas, como era no início do funcionamento da escola, em 2004, pois a
direção não tem como identificar, ao certo, quais são os responsáveis por essas
atitudes e aplicar a devida punição, servindo de exemplo para a turma.
Eu perguntei a J.M: qual o tipo de punição que é aplicada aos alunos ao
cometerem infrações? Ela disse: “Para a Secretaria de Educação não existe mais o
termo expulsão nem suspensão ao pé da letra. O que fazemos, nesses casos, é
chamar os pais dos alunos para conversar; no caso de uma infração grave, o melhor
seria que o aluno fosse para outro colégio e, inclusive, procuramos outro colégio que,
no consentimento dos pais, ele possa ser transferido”.
A foto 128 mostra os danos na estrutura física da sala de aula, tais como:
carteiras quebradas, paredes riscadas, a televisão fora do suporte, pois está em
manutenção por causa de suposto ato de vandalismo. É também nítida a má
conservação do mobiliário, dos objetos que compõem a sala.
51
Foto 128 – Caracterização da Sala de aula, Autoria da Organizadora. Data: 14/05/10
Não são compreensíveis atitudes como essas. Os alunos deveriam conservá-lo,
já que o mesmo possui boas instalações, é bem ventilado e iluminado naturalmente e a
sensação térmica agradável; características que facilitam a permanência do indivíduo
no espaço, propiciando a convivência neste. (ver fotos 129 e 130). Quantos alunos não
gostariam de um espaço adequado para estudar?
SUPORTE DA
TELEVISÃO QUE ESTÁ
QUEBRADA
LOUSA DANIFICADA PELOS
RISCOS DE OBJETOS
CORTANTES E DE CANETAS
IMPRÓPRIAS PARA RISCÁ-LA,
PORQUE NÃO SAEM COM
FACILIDADE, MANCHANDO-A A DESORGANIZAÇÃO DAS
CADEIRAS; ALGUMAS
ESTÃO RISCADAS E
QUABRADAS
52
Fotos 129 e 130 – Corredores de Acesso às Salas de Aula, Autoria da Organizadora. Data:
14/05/10
Eu relembro o relato de A.L. que estudou numa escola mal adaptada e sem
instalações adequadas. Já os alunos do Colégio José Barreto dispõem de espaços bem
estruturados, mas alguns não têm consciência disso e acabam danificando-os. Com a
má conservação do espaço dificulta a ocorrência das atividades e das relações se
efetivarem.
O espaço foi oferecido, existe e deve ser cuidado para que haja trabalho
educativo. E o convívio no espaço através das relações e das atividades pedagógicas
corresponde na produção de significados, através das representações que transmitem
valores e sensações aos que o utiliza. Um exemplo é a sala de aula que se constitui
num espaço de conivência entre alunos e professores, na produção de discursos, em
atitudes e comportamentos dos envolvidos, traduzindo-se como formas de
aprendizados.
O controle para as salas de aula pode até funcionar para evitar as situações
desagradáveis, já citadas acima, mas limita os alunos de ficarem em um espaço que
lhes é de direito. Diante dessas considerações, senti a necessidade de saber deles
sobre isto. Acabei conversando com alunos do primeiro ano, na hora da aula da
professora de artes, A.C. Ela dá aula nas segundas-feiras, terças-feiras e quintas-feiras,
nos dois turnos: pela manhã (aos alunos do ensino médio) e a tarde (aos alunos do
ACESSO
ÀS SALAS
DE AULA
PELAS
RAMPAS
CORREDORES
AMPLOS,
VENTILADOS E
ILUMINADOS
A ESCOLA
POSSUI
ESPAÇOS
COM VÃOS
ALTOS QUE
FACILITAM NA
VENTILAÇÃO
E NA
ILUMINAÇÃO
NATURAL
SANITÁRIOS
53
fundamental II). Como mencionei, no início, foi o meu primeiro contato com os alunos
do colégio, turma do primeiro ano, mas não tinha ainda definido a turma que iria
pesquisar.
A maioria é alunos de baixa renda que moram principalmente no próprio bairro.
São bastante agitados e comunicativos que possuem comportamentos diversos. No
total, são 30 alunos por turma com idades que variam de 16 a 22 anos.
Em conversa com a turma, comentei sobre o controle da permanência em sala
de aula. A maioria, apenas confirmou o fato, mas não parecia se incomodar, mas um
aluno pediu a palavra e disse: “não gosto desse sistema, porque, às vezes, preciso
estar em sala para estudar, ou copiar algum assunto na mão do colega ou algo
parecido e não posso”. Isso evidencia a necessidade desse aluno de utilizar o espaço
para a realização de atividades educativas e sociais, mas não lhes é permitido, gerando
momentos de exclusão.
Ainda em relação ao controle ao acesso as salas de aula, uma aluna falou: “em
relação ao controle da nossa entrada na sala, eu concordo, porque evita a bagunça, o
“quebra-quebra” e se acontece isso todos saem prejudicados, inclusive quem não tem
nada a ver com a bagunça”.
A aluna demonstra se conformar com esse sistema para evitar mais depredações
às instalações do colégio, mesmo que isso ocasione na falta de liberdade de estar num
espaço que proporciona aprendizados e vivências.
Se os alunos deixam de ocupar esse espaço, este perde a sua importância
educativa, pois, em alguns momentos, as relações deixam de acontecer. O interessante
é que os alunos entendam que a sala de aula é um espaço de aprendizado que precisa
ser conservado, pois é um bem comum e deve ser explorado da melhor maneira
possível. O que estar precisando é valorizar a funcionalidade que foi proposta para esse
espaço, considerando sua dimensão espacial como também sua dimensão social, para
evitar que relações e atividades deixem de acontecer por conta da falta de utilização do
mesmo.
Em relação à estrutura física do colégio, esta possibilita o controle aos espaços.
Isso porque o pátio fica na área central, dando acesso para outros espaços e os
andares independentes e controlados por portões de ferro. (ver fotos 131 e 132).
54
Fotos 131 e 132 – Escada de acesso aos Pavimentos Superiores, Autoria da Organizadora. Data:
14/05/10
Depois das escadas, para se chegar as salas de aula, os alunos passam por
corredor. É um espaço de circulação que em determinados horários abriga
concentrações de pessoas e essas concentrações são evidenciadas na hora do
intervalo de uma aula para outra. Como mostra a planta baixa das salas de aula do
segundo pavimento; que, assim como o terceiro pavimento possui esse corredor de
acesso. (ver mapa 11).
56
Outro motivo da implantação do sistema de controle para as salas de aula é para
evitar os alunos no corredor, pois incomoda quem está nas salas, mesmo com portas
fechadas. Isto é por causa do barulho das conversas e brincadeiras, revelando que a
acústica das salas está comprometida.
Para isso, Edward T. Hall afirma que “A percepção espacial não é uma questão
apenas do que pode ser percebido, mas do que pode ser excluído.” (HALL, 2005, p.55).
Por exemplo, quando o indivíduo estar num determinado espaço que possui algo que
lhe incomoda isso, ocasiona-se em um mal-estar e situações desagradáveis e se não
faz bem, deve ser excluído para que o ele possa utilizar de maneira eficaz e prazerosa
o espaço. No exemplo das salas do primeiro e segundo andar, do Colégio José Barreto,
a acústica está comprometida nos momentos em que há alunos no corredor fazendo
zoada então, para excluir, pelo menos por alguns instantes esse desconforto, controla-
se o acesso deles nesse espaço, consequentemente, o nível de ruído irá diminuir.
Na foto 133, percebe-se que próximo a porta, em cima na parede, há combogós
que ajudam na ventilação cruzada da sala, mas que comprometem a acústica desta,
pois da sala pode-se ouvir o que se passa no corredor e vice-versa.
Foto 133 – Sala de Aula, Autoria da Organizadora. Data: 14/05/10
COMBOGÓS QUE
AJUDAM NA
VENTILAÇÃO DA SALA,
MAS COMPROMETEM A
ACÚSTICA DA MESMA
57
3.1.2 Cenas do pátio
O que me chamou atenção, de início, quando eu passava em frente ao colégio,
de ônibus ou então a pé para ir para casa, era o fato de que, quase sempre, havia uma
boa parte dos alunos no pátio, uma quantidade considerável, a mesma se eles
estivessem no horário do intervalo. (ver fotos 134 e 135). Era cedo ainda para o
intervalo e eu não entendia o porquê de tantos alunos fora da sala. Só depois que
comecei a frequentar o colégio, para realizar a pesquisa, fiquei sabendo por
funcionários e professores que se tratava do sistema de controle, já mencionado.
Fotos 134 e 135 – Área do Pátio, Autoria da Organizadora. Data: 14/06/10
Além disso, percebia que eles se acomodavam nesse espaço tranquilamente,
ficando geralmente reunidos em grupos de acordo com a série; sentados; conversando
a espera de suas respectivas aulas. Da forma como eles estavam no pátio pareciam
aceitar essa permanência, não criando nenhuma resistência sobre isto.
Mas será que era isso mesmo? O que eles acham dessa permanência? Será
que eles preferiam ficar na sala de aula ao invés de ficar no pátio? Quais são suas
sensações o pátio proporcionava para eles?
58
Para constatar isso, uma das perguntas que fiz aos entrevistados foi à seguinte:
O que o espaço do colégio significa para vocês? Suas sensações e sentimentos.
E. de 12 anos, da 5ª A, falou: “tem lugar que eu gosto e tem lugar que não gosto”
e perguntei quais são eles e por quê? Ele disse: “Eu não gosto de ficar no pátio, gosto
de ficar em lugar que tenha atividade”.
- “acho legal ficar na quadra para jogar, conversar e praticar capoeira”.
Então, percebi que essa permanência, muitas vezes, não é bem vinda, no caso
de E., que quer se exercitar, ocupar o tempo e os espaços com atividades úteis ao seu
aprendizado. Além disso, tem também a satisfação de estar realizando atividades e
reunindo os grupos para essa realização, tornando-se uma diversão para eles.
E. associa o gosto por um espaço a partir do que se faz neste; se for algo
proveitoso, será visto com “bons olhos”, consequentemente, vai passar a identificá-lo
com interessante e o frequentará sempre que puder.
A estrutura física do pátio favorece a permanência dos alunos, pois eles não
ficam enclausurados em um lugar fechado, sem iluminação e ventilação e sim, numa
área a céu aberto, espaçosa, tendo uma parte coberta (cobertura em pilotis) onde ficam
os bancos; é um espaço centralizado que possui áreas verdes e o anfiteatro. Além
disso, dá acesso direto (centralizado) de um lado, a guarita, ao auditório, a biblioteca e
secretaria e do outro ao refeitório e as quadras. (ver mapa 12).
60
A permanência, obrigatória em alguns momentos, se tornava amena porque o
espaço proporciona comodidade e os livres acessos a outros espaços. É um local de
encontros, onde ocorre às conversas, os namoros, os conflitos, os desabafos, os
conselhos, as saudações, as expressões diversas, o momento de descanso, de
reflexão, entre outros.
Mas a exemplo de E, não adianta o espaço ser bem estruturado se não é bem
utilizado. Assim, como dizia Marcus Vitruvius, uma edificação para ser considerada uma
arquitetura deve ser firme, funcional e bela. O importante é dar sentido “àquele estar no
lugar” não é apenas estar no pátio à espera do professor e sim, além da espera, ter o
convívio com os colegas; e associado a isto poderia realizar atividades que tornassem
significativas.
No pátio, a disciplina é mantida, são sempre vistos, seja pela Direção, seja pela
vizinhança, pois o Colégio não tem muros, são grades de ferro que fica de frente a rua.
Na área administrativa, das janelas, a Direção do colégio vê quem está presente, o que
estão fazendo, quais as turmas que têm aula, sendo possível controlar
desentendimentos entre os alunos. (ver figura 136 e 137). Diante disso, Foucault afirma
que:
Importa estabelecerem-se as presenças e ausências, saber onde e como encontrar os indivíduos, instaurar as comunicações úteis, interromper as outras, poder a cada instante vigiar o comportamento de cada um, apreciá-lo, sancioná-lo, medir as qualidades ou os méritos. Procedimento, portanto, para conhecer, dominar e utilizar. A disciplina organiza um espaço analítico. (FOUCALT, 2008, p. 123).
61
Fotos 136 e 137 – As janelas dos espaços da Administração, Autoria da Organizadora. Data:
28/05/10
Segundo Foucault “a regra das localizações funcionais vai, pouco a pouco, nas
instituições disciplinares, codificar um espaço que a arquitetura deixava geralmente livre
e pronto para vários usos.” (FOUCAULT, 2008). Isso é verificado no pátio; espaço que
foi projetado para os momentos de recreação e lazer dos alunos, e agora ganhou uma
nova roupagem que além de satisfazer essas funções, se torna um espaço de vigilância
e controle implicitamente.
Neste pátio também existem algumas áreas verdes, espalhadas, com bancos de
cimento para os alunos contemplarem a paisagem. As gramas que fazem parte da
decoração da área não estão sendo cuidadas e nem conservadas, como mostra a foto
138. Na foto, estão nítidas três alunas sentadas em um dos bancos, pisando na grama.
É uma atitude errônea, porque a área destinada ao assento está pavimentada e
a fundo estar à grama que compõem as áreas arborizadas, importantes para o
equilíbrio térmico do ambiente, proporcionando sombra e ventilação natural.
62
Foto 138 – Área do Pátio, Autoria da Organizadora. Data: 14/05/10
3.1.3 Cenas da biblioteca
Os alunos quando entram na escola aguardam no pátio o professor chegar; e
com sua chegada, próxima ao horário da aula, eles começam a se concentrar nessa
circulação, próxima ao portão da escada. (ver foto 139).
Foto 139 – Acesso interno principal do Colégio, Autoria da Organizadora. Data: 14/05/10
ÁREA VERDE MAL
CONSERVADA
SÃO PEQUENAS ÁREAS DE
CONTEMPLAÇÃO QUE
INTEGRAM ESTETICAMENTE A
PARTE PAVIMENTADA, MAS NÃO
COMO ÁREA DE CIRCULAÇÃO
DE PESSOAS.
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O acesso pela escada é controlado por um funcionário que tem como suporte
uma grade de correr. Isso é para atender o regimento da escola que determinou o
controle da entrada dos alunos para os andares superiores. (ver fotos 140 e 141).
Fotos 140 e 141 – Portão interno principal e escada de acesso aos andares superiores, Autoria
da Organizadora. Data: 14/05/10
Enquanto os alunos aguardam a autorização para subir, se concentram no
corredor, ali eles conversam, verificam as atividades destinadas para aquele dia, se
informam com as funcionárias da direção sobre documentações e avisos, dentre outros.
Há sempre relações acontecendo entre os indivíduos, basta que o espaço abrigue-os e
os objetos de sua ação. (ver foto 142).
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Foto 142 – Secretaria, Autoria da Organizadora. Data: 14/05/10
Esse corredor dar acesso também à biblioteca e para compensar esse tempo de
espera para a sala de aula, os alunos aproveitam e concentram-se nesta, ocasionando
uma agitação, por alguns minutos, no seu interior. A bibliotecária, A.P, me relatou
alguns aspectos positivos e negativos da biblioteca, inclusive, esse citado acima.
“Ah! A biblioteca é mal localizada, muita zoada, ela deveria estar um local mais
reservado”. “É muita zoada, porque fica próximo da secretaria e do pátio, que é a área
de recreação dos alunos”.
Segundo as normas e os parâmetros arquitetônicos se prevêem que as
instalações da biblioteca sejam em locais mais reservados, livres de barulho para
proporcionar um ambiente calmo, silencioso, propício para leitura e pesquisa. Como
também a utilização de materiais acústicos para controlar a zoada no entorno do
recinto. Mas no caso da biblioteca do colégio, não há tal investimento e devido a isso e
à sua localização, próxima a entrada principal, o barulho incomoda em certos horários,
principalmente, no horário do intervalo, pois os alunos se concentram nesse corredor,
passam para o pátio ou ficam no balcão da secretaria, pedindo informação.
Mas dentro da biblioteca, os alunos respeitam o silêncio e se acomodam
tranquilarmente no espaço. Inclusive na entrevista eu perguntei aos alunos da 5ª série
quais os espaços do colégio que eles sentem-se melhor e por quê?
65
H., da 5ª A de 12 anos, respondeu: “na biblioteca porque a gente pode refletir, é
um lugar calmo, eu gosto de ir mais no 1º horário e no intervalo”.
É justamente nesses dois horários, que existe pouca movimentação de alunos no
recinto. Com isso, ela pode utilizar melhor o espaço e se apropriar com determinadas
atividades pedagógicas.
A biblioteca se divide em área dos sanitários, da administração, do balcão, das
prateleiras e das mesas e das prateleiras para os livros, divididos por área de
indicações das áreas do conhecimento. (ver fotos 143 e 144). O espaço da biblioteca é
fiscalizado e organizado para proporcionar maior comodidade aos alunos. Além de ser
um espaço limpo, climatizado e iluminado.
O controle de saída e entrada dos alunos nesta não é rigoroso, mas tem o intuito
de manter o espaço sempre organizado e silencioso.
Fotos 143 e 144 – Espaços da Biblioteca, Autoria da Organizadora. Data: 14/05/10
Mas a quantidade de mesas não supre a demanda dos alunos, considerando o
número de salas, 18 salas e a quantidade de alunos, em média 30 alunos por sala. Em
conversa, A.P. diz: “Alguns alunos se queixam da falta de espaço, mas não temos muito
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que fazer, inclusive, eu e as outras funcionárias da biblioteca estamos propondo um
novo layou2 para a biblioteca, mas nada concreto ainda”.
Isso porque existem apenas cinco mesas com quatro cadeiras cada, num total de
25 cadeiras, sendo o máximo de unidades cabíveis nesse espaço. Com isso, para
manter o silêncio no ambiente e a mobilidade desses 25 alunos no espaço de forma a
acessarem, sem problemas, as prateleiras, ultrapassa-se só mais 5% desse número de
alunos quando se trata de pesquisa rápida, proporcionado mobilidade os alunos ao
transitarem pelo espaço nas atividades desempenhadas. Isso proporciona um espaço
útil que possa distribuir as atividades sem prejuízo na sua eficiência na prestação dos
serviços a comunidade. (ver fotos 145 e 146).
Fotos 145 e 146 – Espaços da Biblioteca, Autoria da Organizadora. Acervo. Data: 14/05/10
Independente da quantidade de mesas, os alunos frequentam significativamente
a biblioteca, vão por conta própria, pesquisar, estudar ou simplesmente ler. Constatei
isso nas entrevistas, pois quando eu perguntei: Quais os espaços do colégio que vocês
mais frequentam e que se sentem melhor?
2 Layout – é uma opção de desenho da disposição dos objetos que compõem um determinado ambiente.
67
A aluna H. da 5ª A de 12 anos respondeu: “A biblioteca, porque eu me divirto,
leio livro para desenvolver mais a mente, eu fico naquele cantinho ali perto do ar
condicionado, ali eu fico conversando baixinho com minhas colegas ou vou sozinha pra
ler”.
Interessante que ela associa o espaço da biblioteca a diversão, tornando-se um
lugar prazeroso de estar para ler e brincar. A expressão “eu fico”, utilizada por ela,
revela que nesse espaço existem aspectos que favorecem e proporcionam sua
permanência de forma harmônica, possibilitando também a sua relação com outros
colegas. Porque ali ela senta, conversa, interage com o colega, brinca, escolhe o que
vai ler, ou seja, pratica várias atividades em um mesmo espaço.
Vinculado a essas atividades estão às relações interpessoais; quando ela fala
“eu”, deixa claro que é um sujeito atuante, que age sobre os espaços da forma que lhe
convir. Quando ela diz: “eu vou”, demonstra a sua autonomia para se relacionar com os
colegas (o outro), para ocupar o espaço, para realizar determinada tarefa, de acordo
evidente as normas da escola, estabelecendo a convivência e os laços afetivos. A
interação com o espaço se dá também quando ela diz: “eu fico ali perto do ar
condicionado”, pois mostra que o espaço da biblioteca tem elementos que fazem parte
de suas instalações que favorecem a permanência do indivíduo de maneira agradável,
possibilitando a prática das ações citadas; é um lugar de escolhas, de momentos que
ficam registrados na vida do indivíduo, favorecendo no seu aprendizado.
Entendo que a aluna gosta desse espaço, porque é acessível, como ela mesma
disse: “eu me sinto incluída em qualquer atividade, a biblioteca mesmo posso chegar a
qualquer hora”. Em seu depoimento, observei que ela procura explorar o espaço,
usufruir dos objetos que o compõe, voltados para o conhecimento. Portanto ele é
significativo para sua aprendizagem, porque além dos conteúdos escolares ela
aprendeu as vivências que acontecem naquele espaço que são internalizadas por ela,
fazendo parte do seu currículo.
E. de 10 anos, da 5ª D, falou: “A biblioteca; a gente aprende a ler e estudar”.
- “Eu me sinto bem por causa do silêncio”.
Com esses relatos, percebi primeiramente; que ela reconhece que a biblioteca
atende as suas necessidades no que diz respeito, basicamente, a leitura. Além disso,
68
no oferecimento de um diversificado material didático, proporcionando sua
permanência, na comodidade estabelecida através do mobiliário, no atendimento e
orientação prestada pela bibliotecária, na possibilidade de se reunir em grupo para
trabalhar as atividades pedagógicas e na obtenção de informações.
L., de 13 anos, da 5ª D, respondeu: “biblioteca, para estudar”
- “Utilizo quase todo dia e vou com minhas colegas”.
Nas suas respostas também identifiquei que ela identifica a biblioteca como
espaço de aprendizagens, de aquisição de conhecimento e cultura. Por isso mesmo
que não deixa de frequentá-la. É interessante perceber que o espaço é bem utilizado,
produzindo, assim, significações e valores aos alunos, favorecendo na sua formação
pessoal e cognitiva.
Outro fator importante é que o problema da falta de espaço é amenizado quando
os alunos estabelecem determinados horários de visita ao local; isso também traduz
numa forma de aprendizagem, estabelecendo estratégias para o uso do espaço.
Uma atividade interessante que também aconteceu na biblioteca foi o jogo de
xadrez. Essas aulas, para a aprendizagem dos alunos, são importantes porque os
estimulam a pensar, a ter atenção e a se concentrar. (ver fotos 147 e 148). Acredito que
se a professora continuar com essas aulas que priorizam essas atitudes, eles irão se
apropriar delas, levando-as para outras atividades que irão realizar.
Fotos 147 e 148 – Aula de Xadrez na Biblioteca, Autoria da Organizadora. Data: 14/06/10
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A professora I.M, graduada em educação física, disse que foi a criadora dessa
oficina na escola, pois joga xadrez e pensou em levar essa temática para o José
Barreto e por sinal, foi muito bem aceita pelos alunos. Em cada aula, ela, de início, faz
uma retrospectiva das aulas passadas, fazendo uma espécie de revisão com eles a
respeito de cada regra do jogo e eles respondem todas as suas perguntas, mostrando
já conhecer o jogo.
Notei a participação entusiasmada dos alunos na aula, na convivência afetiva
com a professora, na organização em grupos para realização da atividade que estimula
a ocorrência das relações interpessoais e pedagógicas, além do uso do espaço.
3.1.4 Cenas sala de dança
Os alunos do José Barreto são privilegiados, comparados a alguns alunos de
escola pública, pois o colégio foi projetado com ambientes amplos, destinados às
atividades culturais e artísticas. Por exemplo, uma sala de dança destinada ás aulas de
dança, o auditório e o anfiteatro para as apresentações teatrais, salas destinadas à
oficina de literatura, estas, realizadas no turno oposto das aulas curriculares. Mas, por
enquanto, estas oficinas só privilegiam os alunos da 5ª série e isso, reflete um
descontento de alguns alunos por não terem acesso a estas, ou pelo desconhecimento
dessas atividades.
Segundo a professora responsável pelas oficinas, L.A, elas se estenderão aos
demais alunos, mas não sabe a partir de quando. Essas oficinas são do projeto
chamado “Mais Educação”, do Governo Federal que incentiva essas atividades para os
alunos do ensino fundamental e médio. No colégio já começaram as primeiras aulas
dadas por estagiários.
No início, os alunos se mostraram entusiasmados com a novidade e disseram
gostar muito delas, principalmente as meninas.
- “eu gosto muito de dança, principalmente arrocha”
Notei o interesse da aluna em praticar uma dança que ela gosta que faz parte do
seu cotidiano social, que se praticada no ambiente escolar, esta terá certo entusiasmo
70
em participar das aulas, de dar sua contribuição ao que sabe sobre a dança e aprender
muito mais.
Assistir às primeiras aulas de dança e de Teatro e sentir os alunos satisfeitos
com as aulas. Estas acontecem em turno oposto ao das aulas, proporcionando o tempo
integral desses alunos na escola.
Percebo o empenho dos envolvidos, tanto dos professores que estão dispostos
em proporcionar diversão, cultura e aprendizado, quanto dos alunos, que gostam do
que estar sendo proposto nas oficinas, participando das atividades, cumprindo os
horários, estabelecendo relações e adquirindo experiências.
Na primeira aula de dança a professora C. reuniu os alunos em círculo na sala.
Apresentou instrumentos que irá trabalhar com eles nas aulas, conheceu um pouco de
cada um e aplicou uma atividade de desenho. Segundo ela, isto serviu para dar uma
introdução de como serão as aulas durante esse ano e para conhecer a turma. (ver
fotos 149 e 150).
Fotos 149 e 150 – Atividades na Sala de Dança, Autoria da Organizadora. Data: 24/05/10
A atividade foi lançada e os meninos ocuparam o centro da sala, se reuniram em
volta do cartaz e começaram a desenhar. À medida que ia aparecendo um desenho,
surgia palpites, conversas e risadas e consequentemente as relações se revelavam. A
maioria desenhou a si própria dançando, revelando o gosto pela dança e de seu
71
reconhecimento como agente dessa ação, mostrando-se disposta a praticar e
desenvolver ações que levem ao conhecimento da dança como atividade pedagógica.
No decorrer das aulas, constatei que eles ocupavam todo o espaço da sala com
atividades diferentes, seja para pintar um cartaz no centro da sala, seja para fazer um
círculo e assistir a apresentação da professora, alguns alunos sentavam-se por cima
dos livros para perceber o que os demais faziam, seja para brincar, seja para conversa
em grupo, enfim, as relações interpessoais e pedagógicas aconteceram.
A sala tornou-se um espaço útil, no qual as pessoas se distribuíram, agindo
sobre este, vivenciando-o e percebendo-o através dos sentidos. Tornou-se palco de
representações, um ponto de encontro, de discursos, insatisfações, alegrias, entre
outros. Isso tudo, graças a sua estrutura física que facilitou a permanência dos
envolvidos, pois é um espaço amplo, ventilado, iluminado; seu piso é tablado em
madeira, facilitando a locomoção dos alunos. Uma de suas paredes é revestida de
espelho da base até a certa altura para que eles possam se ver enquanto dançam. (ver
fotos 151 e 152).
Fotos 151 e 152 – Sala de Dança, Autoria da Organizadora. Data: 24/05/10
No período junino, quase todas as escolas realizam a festa de São João e no
Colégio José Barreto não foi diferente. Ficou sob a responsabilidade da professora de
dança C. e do professor de teatro J. em prepararem uma apresentação com os alunos
72
para o dia da festa. A festa estava marcada para acontecer no dia 17/06 e os meninos
estavam ensaiando em ritmo acelerado. Com isso os professores juntaram as turmas e
resolveram ensaiar na sala de dança. (ver fotos 153 e 154). Mais um indício que houve
cooperação e convívio entre os envolvidos, a utilização e apropriação do espaço na
realização de uma atividade artística e a afetivação de relações interpessoais e
pedagógicas num ambiente comum a todos.
Fotos 153 e 154 – Ensaios na Sala de Dança, Autoria da Organizadora. Data: 14/06/10
3.1.5 Cenas do refeitório
Em todo momento, nas visitas, constatei que o refeitório é um dos espaços mais
frequentado. Isso, porque os alunos passam a maior parte do tempo neste, a espera
pelo início das aulas. Este espaço possui elementos que estimulam essa permanência,
como a televisão, o DVD, caixas de som, além de ser um lugar bastante ventilado,
iluminado, amplo, com o acesso direto ao pátio, à rampa para os pavimentos superiores
e a área administrativa. (ver fotos 155 e 156).
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Fotos 155 e 156 – Refeitório, Autoria da Organizadora. Data: 14/06/10
Esses objetos proporcionam a convivência dos alunos nesse espaço, seja para
sentar-se próximo ao colega e assisti a um filme, seja para cumprimentar e conversar
com o colega, para jogar, para ensaiar apresentações artísticas e culturais, sendo
estas, relações interpessoais que são possíveis através de atitudes e comportamentos
que geram o convívio social, revelando-se experiências de vida ao indivíduo. Além
disso, esse espaço atende ao número de alunos, estimado por turno, devido as suas
características espaciais que possibilitam a realização de diversas atividades,
estimulando as relações, seja na hora das refeições, da espera pelas aulas, das idas
aos vestiários e sanitários, ao pátio e a cozinha; todos, locais que se comunicam com o
refeitório.
A entrada do refeitório é um vão aberto de um lado a outro, sem portões,
somente grades que facilitam a entrada de luz natural e ventilação. Essas grades
permanecem abertas boa parte do tempo, facilitando a permanência dos alunos neste,
abrigando situações de vivências e de relações dos envolvidos.
Esse espaço se comunica diretamente com o pátio, através dessa entrada,
diferente do que acontece com sua comunicação com a rampa que dá acesso aos
pavimentos superiores, pois é feita por meio de grades que permanecem sempre
fechadas.
74
Além disso, o acesso do refeitório a área administrativa, através de um corredor,
também permanece fechado, vetando a passagem, principalmente, dos alunos. Isso foi
depois que a Direção adotou o sistema de controle para as salas de aula. Há neste
caso, uma restrição do acesso para os espaços, pois, segundo a Direção do Colégio, foi
para controlar o acesso dos alunos nesse corredor, devido a bagunça e baderna que
alguns alunos faziam neste.
Para ir à cozinha, da área administrativa, a pessoa precisa sair da área edificada,
passando por todo pátio, chegando ao refeitório; e o mesmo percurso a merendeira faz
para levar o lanche nas salas dos professores.
Mas esse percurso forçado proporcionou também as relações, pois eu observei
que quando a merendeira passava, no pátio, alguns alunos a cumprimentava. Achei
interessante, porque ela interagia com os meninos no momento do percurso que ela
mesma considerava “cansativo”, e para amenizar esse percurso, optou pela
descontração com eles que por sinal, gostavam dessa relação.
Em que determinada hora do dia, foi servida a merenda escolar, e ao receberem
a merenda, os alunos se organizaram no espaço, ocupando as mesas que ficavam
dispostas somente na hora do intervalo. Mas a quantidade de cadeiras que são
autorizadas a ficar no refeitório não atende a todos os alunos. Isso porque, segundo a
merendeira e a Direção, eles danificam as mesas e cadeiras, que são plásticas, e que
não resistem aos constantes manejos bruscos e incorretos com isso, eles merendam
em pé ou nos bancos do pátio.
Mas um caso de má conservação, neste caso, do mobiliário escolar.
Já no dia 17/06 aconteceu à festa junina nos dois turnos. Alguns professores
participaram da festa, improvisaram uma quadrilha com os alunos.
O diretor, as vice-diretoras, coordenadora, alguns professores e funcionários se
concentraram tanto na cozinha como no refeitório para acompanhar e participar da
festa. Houve um momento que a coordenadora D., a vice diretora J.M. e o professor de
história J.S. chamaram os alunos para dançar, formando pares, e em seguida, já tinham
vários outros pares já formados pelos alunos no espaço. Foi importante porque houve
uma atitude de interagir no e pelo espaço, de ocupá-lo e aproveitar o momento de
confraternização.
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Os alunos chegavam e se concentravam no espaço que promoveu, aos poucos,
as relações interpessoais, proporcionando momentos de comunicação, da aproximação
dos professores com alunos, de maneira espontânea e afetiva. Sendo constatadas
atividades que modificaram a rotina nesse lugar e, este refletiu todas as manifestações,
comportamentos, atitudes e discursos ocorridos, tornando-se um ambiente de
aprendizado e de convivência. (ver fotos 157, 158, 159 e 160).
Fotos 157 e 158 – Festa junina no espaço do Refeitório, Autoria da Organizadora. Data: 17/06/10
Fotos 159 e 160 – Festa junina no espaço do Refeitório, Autoria da Organizadora. Data: 17/06/10
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Já à tarde, os meninos da 5ª série conseguiram apresentar o que ensaiaram
durante dois meses. Eles se programaram para realizar a apresentação da quadrilha
que aconteceu também no refeitório, porque em vista aos outros espaços do colégio, é
o mais adequado para acontecer esse tipo de atividade, devido suas dimensões
espaciais e pela ausência de obstáculos que dificultem a livre circulação dos usuários.
No momento da apresentação houve uma interação entre os que estavam dançando e
a turma que assistia, traduzindo-se numa atividade que envolveu sentimentos,
discursos, valores, desejos e satisfações entre os envolvidos. (ver fotos 161 e 162).
Fotos 161 e 162 – Festa junina no espaço do Refeitório, Autoria da Organizadora. Data: 17/06/10
Em outro momento da minha visita, assisti à aula de capoeira que também
aconteceu no refeitório. (ver fotos 163 e 164).
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Fotos 163 e 164 – Aula de capoeira no Refeitório, Autoria da Organizadora. Data: 02/06/10
Esta aula aconteceu a partir das 09h40min, um horário próximo justamente da
hora do intervalo dos alunos de manhã, do ensino médio que os da 5ª série chamam-os
de “maiores”, que se concentraram próximo à cozinha para receberem a merenda.
O momento foi desconfortante, porque o professor de capoeira estava como
dificuldades em falar com seus alunos por causa do barulho, da conversa e dos gritos
dos “maiores”, dificultando a concentração dos alunos na aula. Nota-se que houve um
conflito de atividades nesse espaço, sendo diferentes e com finalidades diferentes que
não se enquadravam no espaço, se realizadas ao mesmo tempo. Isso porque se os
alunos que estavam à espera da merenda quisessem sentar e comer, assistindo
televisão, não poderiam, por causa da ocupação de outro grupo de alunos no espaço
com a aula de capoeira.
A aula de capoeira exige que o sujeito ocupe e sinta o espaço para a prática dos
movimentos que a dança (luta) exige. Neste caso, o espaço se tornou pequeno, devido
a diferentes maneiras que se quer ocupar o mesmo que exigem posturas e disposições
corporais diferentes. O refeitório pode abrigar essas atividades, mas em momentos
diferentes.
78
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o intuito de estudar o espaço escolar e as relações interpessoais e
pedagógicas percebi que o Colégio José Barreto se enquadrava para o mesmo, pela
proximidade e vivencia que tive com o espaço durante parte da minha juventude. O
objetivo da pesquisa o de refletir sobre a importância do espaço escolar para essas
relações. Decidi, a partir dessa história pessoal, me inserir no contexto da escola para
identificar essa importância e os sujeitos que utilizavam e se apropriavam desse
espaço.
A escola é um espaço destinado à prática de ensino aprendizado que está a
serviço da população. Segundo o PNE (2006, p.1):
A educação como direito de todos e obrigação do Estado, deve ser ofertada de modo a atender toda a população infanto-juvenil que se encontra em condições de freqüentá-la, ou seja, a educação deve contemplar toda a clientela que necessitar (...). Como decorrência deste princípio, há necessidade, por parte do poder público, de garantir recursos humanos e físicos para atender a toda esta demanda.
E o espaço escolar, segundo Escolano (2001, p.26) “deve ser analisado como
um constructo cultural que expressa e reflete, para além de sua materialidade,
determinados discursos (...) é um elemento significativo do currículo, uma fonte de
experiência e aprendizagem”. A escola, especialmente neste caso, significa ascensão
social, reconhecimento do indivíduo pela sociedade, sendo esperado que esse aluno
seja preparado para o mercado de trabalho e para vida social. Sendo assim, um espaço
impregnado de representações que transmitem valores e sentimentos aos que habitam
neste.
Como o próprio aluno A. de 12 anos, da 5ª A disse, quando eu perguntei o que a
escola significa para ele: “Aprendo muita coisa, respeito mais as pessoas, modifiquei
meu comportamento”; em seguida eu perguntei: quem é responsável por isso? E ele
respondeu: “a professora e a família também”.
Quando o sujeito utiliza e age sobre esse espaço consegue percebê-lo através
dos sentidos, absorvendo o máximo de informações, sendo estas internalizadas e
apreendidas com a vivência neste. O espaço possibilita que as relações interpessoais e
79
pedagógicas aconteçam, porque possui instalações que condicionam o seu uso e
ocupação e objetos que dão suporte a estas. Como disse a aluna L., de 12 anos da 5ª
A quando eu perguntei quais as sensações e sentimentos que ela tem do colégio: “um
espaço mais aberto, amplo, que você não precisa sair do colégio”, com base nisso eu
perguntei: ele supre as suas necessidades? E ela disse: “sim, eu me sinto bem aqui”.
Ela demonstrou que se sente bem utilizando os espaços do colégio porque sua
estrutura física contempla sua permanência e convívio com outros alunos.
O que está faltando no colégio José Barreto é a consciência de alguns alunos
em conservar os espaços, mantendo-os dignos de serem utilizados a qualquer
momento, por todos. Para que a Direção não precise limitar o acesso aos ambientes
que os alunos possam freqüentar mais os lugares e se sintam possuidores deles de
forma harmônica e saudável.
Isso é, para o aluno se sentir incluído no ambiente escolar, para E., aluno da 5ª A
de 12 anos mude sou discurso que é “eu me sinto excluído, porque tem lugar que eu
não posso ir”. Ele demonstrou interesse em poder explorar os espaços, sendo acessível
quando precisar.
Posso diferenciar esse discurso quando um aluno se sente satisfeito porque
freqüenta os espaços do colégio, a exemplo de Helena da 5ª A de 12 anos que diz: “me
sinto incluída em qualquer atividade, a biblioteca mesmo posso chegar a qualquer
hora”.
Assim como L., de 12 anos da 5ª A, também que diz: “eu me sinto incluída,
porque participo das atividades da escola.”
- “eu gosto da escola toda, ando a cada minuto em cada espaço aqui”.
As alunas se sentem incluídas porque a Direção deu-lhes a oportunidade de
vivenciar outras atividades que proporcionam o uso de alguns espaços, antes
desconhecidos por muitos, como é o caso da sala de dança.
Mas, ao mesmo tempo em que a Direção promove essas atividades, ela também
proíbe o livre acesso e a permanência dos alunos em sala de aula, sempre que
precisarem, ocasionando atitudes de exclusão, porque deixa de oferecer a eles a
oportunidade, em alguns momentos, de vivenciar esse espaço de aprendizado, que é
lhes é de direito, e consequentemente, as relações deixam de acontecer.
80
Alguns alunos se sentem conformados com isso, não reivindicam, parecem até
não ter consciência de que estão sendo proibidos de utilizar um espaço em
determinados momentos que é seu direito, mas por causa de atitudes de outros alunos
(devido aos atos de vandalismo de alguns alunos) eles deixam de usá-lo.
Mas outros alunos acham melhor que seja restrita essa permanência porque
não querem ver a escola sendo destruída. Têm alunos também que não têm
consciência dessa atitude excludente, principalmente, os alunos da 5ª série, que são os
“mais novos” e não estão preparados para reivindicar e analisar sobre essa questão; e
ficam submetidos às normas do colégio.
Já têm alunos que se sentem conformados e aproveitam essa atitude para não
permanecerem em sala, como o aluno que me disse: “Ah! professora, estudar cansa”.
Esse, provavelmente, não faz questão em ficar em sala de aula. Inclusive quando
terminou a aula e eu fui conversar com a turma dele, ele estava me respondendo, já
perto da porta da sala, com a mochila, pronto para sair.
Mas para além do querer do aluno, a escola deve ser considerada como espaço
de oportunidades e de convivência, de possibilidades de realizar atividades para buscar
o conhecimento e de promover as relações. Pode ser que esse último aluno que
mencionei não esteja motivado a participar das atividades do colégio e sensível em
perceber os espaços, de fazer escolhas e de conviver mais nos espaços a partir destas,
como os alunos da 5ª série estão autorizados a fazer. Mais uma vez, evidencia-se aqui
a falta de oportunidade para alguns de se apropriar e se relacionar em alguns espaços
do colégio.
Segundo Viñao Frago (2001, p.63) “Essa tomada de posse do espaço vivido é
um elemento determinante na conformação da personalidade e mentalidade dos
indivíduos e dos grupos.” Cada indivíduo tem uma noção subjetiva dos espaços a partir
das relações que compartilhou e viveu, das atividades que realizou, considerando os
seus limites corporais e o espaço construído até onde se imagina agir e se deslocar
sobre ele.
Portanto a escola é um lugar pensado, projetado, construído e utilizado para a
prática do ensino; um lugar estável e fixo, mas o que muda são os tipos de ocupação
que se fazem dos seus subespaços.
81
Concluo percebendo que as coisas não são fixas, o que para um é bom, para o
outro pode não ser. Há exclusão, causada por fatores externos ao colégio, e estes
fatores moldam, mesmo que não se perceba, as relações entre os alunos, suas formas
de se reconhecerem e de tratarem uns aos outros e ao ambiente em que estudam.
Ambiente este que é em parte estrangeiro, em parte familiar. Em parte seu, em parte
contra si. São algumas das idéias que passam por este trabalho que, mesmo findando
não está terminado, pois as coisas se processam e mesmo dentro de mim sei que há
ainda muito a perceber neste caso.
82
REFERÊNCIAS
CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/ do mundo. 1. ed. São Paulo, Ed. LABUR, 2007.
FRAGO, Víñao Antônio e ESCOLANO, Augustin. Currículo, espaço e subjetividade: a arquitetura como programa.Tradução: Alfredo Veiga-Neto. 2. ed. Rio de Janeiro: Ed. DP7A, 2001. DÓREA, Célia Rosângela Dantas. Anísio Teixeira e a arquitetura escolar, planejando escolas, construindo sonhos. Revista da FAEEBA. Salvador, n.13, jan./jun. 200, p.151-160. HALL, Edward T. A dimensão oculta. Tradução: Waldéa Barcellos. São Paulo: Martins Fontes, 2005. CAVALEIRE, Gláucia de Cássia M.S: Inter-relação entre espaço escolar e currículo. Disponível em: <http://www.ufjf.br/espaçoeducação/file/2009/11/cc07_3pdf>. Acesso em 20/03/2010.
AQUINO, Julio Groppa. Indisciplina na sala de aula. 6. Ed. São Paulo: Summus, 1996. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução: Raquel Ramalhete. 35. Ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2008. SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado, fundamentos Teórico e metodológico da geografia. Hucitec. São Paulo,1988. RIBEIRO, Solange Lucas: Espaço escolar: um elemento (in)visível no currículo.
Disponível em: <http:// www.uefs.br/sitientibus/pdf/31/espaço_escolar>. Acesso em 15/03/2010.
Site PNE – Plano Nacional de Educação, 2006.
Disponível em: <http:// portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/pne.pdf. Acesso em 10/08/2010.
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PERGUNTAS (QUESTIONÁRIO):
Quais são os espaços que sua escola tem? Você pode me dizer quais são e pra que servem?
Quantas vezes você foi a cada um? usou? Como você esteve em cada espaço? (usou, apenas viu de fora, entrou, mas não sentou, não utilizou, etc.)
O que o espaço do colégio significa para você? Suas sensações e sentimentos.
Você além da sala de aula, frequenta quais espaços? Por quanto tempo? Quais os períodos em que você os frequenta?
Quais os espaços onde se sente melhor? Por quê? E o que você faz nestes?
Você já se sentiu meio constrangido em usar algum espaço da escola? Se sim, qual e por quê?
Qual sua opinião a respeito da sua permanência no pátio até que o seu professor chegue e você possa subir?
Você é obrigado a esperar pelo professor fora da sala de aula, mais precisamente no pátio, proibido de subir e aguardá-lo nesta, qual sua opinião sobre essa proibição posta pela direção da escola?
Você sabe ou tem idéia por qual motivo você não pode ficar na sala de aula sem o professor, se sim, justifique-se?
Qual sua opinião sobre o espaço da biblioteca? Você utiliza a biblioteca constantemente, por quais motivos?
Você se sente estimulado a usar/ocupar os espaços do colégio? Existem pessoas que incentivem você a usar os espaços da escola? Que espaços seriam estes, caso existam? E que funções essas pessoas têm?
O que você sente que aprende nas oficinas?
As atividades que os professores realizam te satisfazem? O que você esperaria?
Você cuida do seu espaço escolar? Se você fosse responsável pelo espaço da escola, o que você cuidaria ou faria primeiro? Por quê?
Você utiliza o refeitório em quais momentos? E por quanto tempo/? Você se sente bem lá? Por quê?
Como você se sente; incluído ou excluído no seu espaço escolar, por quê?