Exame clínico de enfermidades do sist nervoso em equinos e ruminantes

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/14/2019 Exame clnico de enfermidades do sist nervoso em equinos e ruminantes

    1/17

    Importncia do exame clnico para o diagnstico dasenfermidades do sistema nervoso em ruminantes eeqdeos

    Franklin Riet-Correa1, Gabriela Riet-Correa2 e Ana Lucia Schild3

    O EXAME CLNICO correto de um animal com sinais nervosos permite saber apossvel localizao das leses no sistema nervoso (SN), o que fundamental para odiagnstico presuntivo e tratamento. Permite, tambm, recomendar o sacrifcio deanimais sem possibilidades de tratamento. Para o estudo das enfermidades do SN

    necessrio um intercmbio permanente entre o clnico e o patologista. Isto significa queo clnico deve incorporar a sua rotina a realizao sistemtica de necropsias e o enviodos materiais mais adequados para o diagnstico no laboratrio. Como nasenfermidades do SN a letalidade alta, essa deve ser uma prtica freqente,imprescindvel, tanto para o clnico como para o patologista. Em uma necropsia corretado SN necessrio retirar o encfalo inteiro (crebro, cerebelo e tronco enceflico).Quando se suspeita de uma enfermidade infecciosa o encfalo deve ser cortadolongitudinalmente. Uma metade deve ser fixada em formol a 10% (ou at 20-30% parafixao mais rpida e eficiente) em um volume aproximado de uma parte de tecido em10 partes de formol. A outra metade deve ser enviada refrigerada para examemicrobiolgico. Apesar das dificuldades, a campo, de retirar a medula nos grandesanimais, isto necessrio quando o animal apresenta sinais clnicos que sugerem uma

    leso medular ou uma leso difusa do SN.

    Antes de realizar o exame do SN necessrio conhecer os dados epidemiolgicos e ahistria clnica do caso com a maior preciso possvel. Conhecer a evoluo clnica doanimal importante: cistos, tumores e abscessos podem ter evoluo lenta;enfermidades infecciosas, que causam inflamao difusa do SN, e traumatismos temevoluo rpida. O conhecimento das diferentes enfermidades que afetam o sistemanervoso dos ruminantes na regio onde o clnico trabalha , tambm, muito importante.

    Para o exame clnico correto do SN necessrio ter conhecimento prvio de algunsaspectos anatmicos e fisiolgicos do mesmo. No sistema nervoso central, os neurniosencontram-se na substncia cinzenta. Esta est localizada na periferia do crebro e

    cerebelo, no centro da medula, e distribuda em ncleos no tronco enceflico. Asubstncia branca formada por axnios mielinizados que se distribuem em tratos.Estes tratos podem ser eferentes (motores) ou aferentes (sensitivos); estes ltimostransmitem informao referente a dor, temperatura, propriocepo, tato, sabor, etc.Alguns desses tratos transmitem, tambm, informaes referentes ao sistema nervosoautnomo. Os tratos so denominados segundo seu local de origem e terminao(espinhocerebelares, vestibuloespinhais, etc.)

  • 8/14/2019 Exame clnico de enfermidades do sist nervoso em equinos e ruminantes

    2/17

    Mediante o exame do sistema nervoso podem ser detectadas alteraes basicamente em4 funes: 1) motora; 2) proprioceptiva; 3) sensitiva; 4) do sistema nervoso autnomo.

    A funo motora realizada por dois tipos de neurnios: os neurnios motoressuperiores, localizados principalmente no tronco enceflico, em grandes animais, e quetm uma funo inibidora sobre os neurnios motores inferiores; e os neurnios motores

    inferiores, localizados nos cornos ventrais da medula. Uma alterao motora manifesta-se clinicamente por paralisia, que pode ser total ou parcial (paresia). A paresia,dependendo da localizao da leso, aparece como uma debilidade dos msculos dosmembros, cabea e/ou pescoo. Quando as leses localizam-se nos neurnios motoresinferiores a paralisia flcida. Quando a leso afeta os neurnios motores superiores ouos tratos que conduzem seus axnios a paralisia espstica; isto porque os neurniosmotores inferiores so liberados da funo inibidora exercida normalmente pelosneurnios motores superiores. Em ruminantes e eqinos as leses no crtex cerebral nocausam paralisia, uma vez que os neurnios motores superiores localizam-se

    principalmente no tronco enceflico. O contrrio ocorre com os primatas, que possuemneurnios motores superiores no crtex cerebral.

    A funo proprioceptiva permite ao animal ter noo espacial da localizao de seusmembros, pescoo e cabea. Esta noo transmitida desde receptores localizados

    principalmente nas articulaes atravs dos tratos espinhocerebelar, espinhoreticular eespinhotalmico a neurnios localizados no tronco enceflico e cerebelo. Leseslocalizadas nesses tratos ou neurnios causam deficincias proprioceptivas, conhecidascomo ataxia. Algumas provas mencionadas mais adiante servem para determinardeficincias proprioceptivas.

    Alm da informao proprioceptiva os neurnios sensitivos do sistema nervosoperifrico transmitem informaes de sensaes dolorosas para os neurnios sensitivosda medula, tronco enceflico e cerebelo e estas a enviam ao crebro para um

    processamento posterior da informao. As deficincias nocioceptivas so detectadasobservando a resposta a estmulos dolorosos (pinamento com agulhas, por exemplo),mas sempre deve-se levar em considerao que o animal pode no responder pordeficincia nocioceptiva, ou por incapacidade para responder devido a paralisia. Noscasos de paralisia importante observar a expresso facial do animal para detectarsinais de dor.

    O sistema nervoso autnomo (simptico e parassimptico) controla a atividade damusculatura lisa e cardaca e das glndulas. Forma parte dos nervos oculomotor, facial,vago e glossofarngeo e, tambm, encontra-se na medula espinhal. Leses nos nervoscranianos mencionados anteriormente podem causar anormalidades na contrao das

    pupilas, na salivao e na atividade da musculatura lisa do sistema digestivo e

    respiratrio superior. Alteraes do sistema nervoso autnomo relacionadas medulaespinhal causam alteraes funcionais das vsceras das cavidades torcica e abdominal.Leses no vago devido a reticulite traumtica causam diminuio dos movimentos dos

    pr-estmagos (indigesto vagal). Defeitos no controle dos esfncteres e motilidade da bexiga e reto so causados por alteraes do sistema parassimptico localizado naregio sacra da medula espinhal.

    Leses no hipotlamo podem causar distrbios na regulao da temperatura(hipertermia ou hipotermia).

  • 8/14/2019 Exame clnico de enfermidades do sist nervoso em equinos e ruminantes

    3/17

    LOCALIZAO DAS LESES E SINAIS CLNICOS

    Leses localizadas no crebro e tlamo causam alteraes da atitude ou do estadomental: agressividade, depresso, sonolncia, mania, galope desenfreado, andar

    compulsivo, presso da cabea contra objetos, torneio, bocejos, mugidos, convulses(contraes musculares involuntrias com perda do conhecimento) e coma. Nas lesesfocais unilaterais o animal pode apresentar desvio lateral da cabea e pescoo. Emalguns casos em que a leso afeta o crebro causando edema cerebral(polioencefalomalacia, abscesso cerebral) observa-se opisttono. Este sinal, que ocorre,tambm, nas afeces cerebelares, deve-se ao aumento do tamanho do crebro queempurra o cerebelo atravs do foramen magno causando a herniao do mesmo.

    A cegueira quando de origem central causada por uma leso na regio occipital docrtex cerebral. Na cegueira de origem central h ausncia de leses nos olhos e

    presena de reflexo pupilar. Cegueira sem resposta ao estmulo da luz na pupila causada por leses da retina, nervo ptico, quiasma ptico ou trato ptico rostral.

    Ausncia do reflexo pupilar, sem cegueira, indica leso do nervo oculomotor.

    Leses localizadas no cerebelo causam ataxia, dismetria (principalmente hipermetria) etremores de inteno. Os tremores de inteno, principalmente em humanos, ocorremem conseqncia de uma ao voluntria; em animais a forma mais fcil de identificartremores de inteno atravs da observao de movimentos rtmicos laterais dacabea, que aumentam quando o animal estimulado a realizar alguma atividade. Oanimal com leses cerebelares permanece com os membros abertos, cambaleia e tende acair.

    Leses localizadas no tronco enceflico causam depresso, paresia e, principalmente,sinais de alteraes dos nervos cranianos (ver exame da funo dos nervos cranianos).Quando h torneio, com alteraes da marcha, a leso pode estar localizada na medulaoblonga.

    Quando a leso localiza-se no sistema vestibular (ouvido interno, nervo vestbulo-coclear e ncleos vestibulares) observam-se ataxia, toro da cabea (em seu eixolongitudinal), nistagmo e estrabismo. O animal no mantm o equilbrio e pode girarsobre seu corpo ou de lado. Se a leso unilateral o animal cai ou gira para o ladoafetado. O sistema vestibular um sistema proprioceptivo, que ajuda o animal a mantersua orientao e posicionamento no ambiente em que est. Ajuda a manter a posio ecoordenar os movimentos da cabea, tronco e membros e a manter o equilbrio durantea marcha e o descanso. Os ncleos dos nervos cranianos III, IV e VI, que controlam os

    movimentos dos olhos, esto em contato com o sistema vestibular.As leses na medula espinhal causam diversos graus de debilidade, ataxia, alteraesnocioceptivas e do sistema nervoso autnomo. A presena e gravidade dos sinaisclnicos depende de dois fatores: o segmento da medula em que est localizada a leso;e a extenso e profundidade da mesma, que determinam os tratos que foram afetados(motores, proprioceptivos ou sensitivos) e se est afetada, tambm, a substnciacinzenta, considerando que quando esto afetados os cornos dorsais as alteraes sosensitivas ou proprioceptivas e quando esto afetados os cornos ventrais as alteraes

  • 8/14/2019 Exame clnico de enfermidades do sist nervoso em equinos e ruminantes

    4/17

    so motoras. Alguns critrios para determinar a localizao das leses medulares somencionados a seguir:

    1) Paralisia dos neurnios motores superiores (NMS) causa paralisia espstica, aumentodo tono muscular e dos reflexos;

    2) Paralisia dos neurnios motores inferiores (NMI) causa paralisia flcida, comdiminuio dos reflexos e do tono muscular e atrofia muscular neurognica rpida;

    3) Uma leso moderada na medula cervical pode causar sinais de ataxia somente nosmembros plvicos;

    4) Em um animal sem sinais eurolgicos da cabea a leso pode estar localizada emqualquer regio da medula;

    5) difcil diferenciar entre ataxia e debilidade, mas no importante uma vez que ostratos ascendentes proprioceptivos e os tratos motores descendentes esto juntos nasubstncia branca da medula;

    6) Com leses compressivas locais na medula cervical ou tronco enceflico os sinaisneurolgicos so mais severos nos membros plvicos do que nos torcicos;

    7) Quando o animal est em decbito lateral e no consegue levantar a cabea, a leso pode estar localizada nos tratos descendentes do tronco enceflico ou na medulacervical provavelmente entre C1 e C4. Leses unilaterais impedem que o animal levantea cabea quando a leso est do lado superior. Um animal com leso entre a C4 e T2

    pode levantar a cabea, mas permanece em decbito e tanto os membros posterioresquanto os anteriores apresentam paralisia espstica. Uma leso completa, antes da T2resulta em morte por asfixia devida a paralisia do nervo frnico.

    8) Alteraes nos membros plvicos, sem alteraes nos torcicos, indicam lesotraco-lombar. Em caso de leses severas nesta regio o animal pode adotar a posiode co sentado. Se no consegue adotar esta posio possvel que a leso estejalocalizada cranial T2;

    9) Leses localizadas na intumescncia torcica (C6-T2) causam severas alteraes nosmembros torcicos e plvicos. Nesta regio leses somente de NMI afetamexclusivamente os membros torcicos e no os plvicos;

    10) Leses da regio sacra causam incontinncia urinria e reteno de material fecal.No causam paralisia ou ataxia dos membros plvicos;

    11) A sndrome de Schiff-Sherrington ocorre nas leses compressivas graves da regiotraco-lombar, que causa paralisia de NMI nos membros plvicos e de NMS nosmembros torcicos. Isto porque neurnios localizados entre L1 e L7 so responsveis

    pela inibio de alguns neurnios motores da intumescncia torcica;

    12) Uma leso leve da medula afeta os tratos espinhocerebelares e vestbulo espinhais(NMS) que esto localizados superficialmente, causando debilidade extensora (NMS) eataxia;

  • 8/14/2019 Exame clnico de enfermidades do sist nervoso em equinos e ruminantes

    5/17

    13) Em leses bilaterais graves ocorre perda de nociocepo do peristeo dos dedos e dacauda;

    14) As provas dos reflexos espinhais so teis para localizar leses em reas especficas.Em um reflexo monossinptico (reflexo patelar por exemplo) participa um neurniosensitivo, um neurnio motor inferior, o nervo aferente e o eferente. A ausncia de

    reflexo indica uma leso em alguma dessas estruturas. Se est alterada somente a poromotora o animal no tem reflexo mas sente dor.

    15) Leses dos plexos lombossacro e braquial causam paralisia ou paresia dos membrosplvicos ou torcicos com reduo ou ausncia dos reflexos e da sensibilidade;

    16) As provas de sensibilidade para detectar hiperestesia, parestesia ou anestesia,utilizando agulhas, por exemplo, podem servir para localizar leses da medula espinhal.Entretanto, devemos considerar que as reaes dor variam entre animais e, em ummesmo animal, entre as diferentes regies.

    Exame da cabea

    Observar se existem sinais caractersticos de leses do crebro e tlamo, cerebelo,tronco enceflico ou sistema vestibular (ver pginas anteriores).

    Exame dos nervos cranianos

    Algumas das provas a serem realizadas para detectar alteraes dos nervos cranianos eos sinais clnicos mais freqentes so mencionados a seguir.

    I. Olfatrio. Testar resposta a qumicos no irritantes (xilol, benzeno) e busca dealimentos.

    II. ptico. Realizar o exame da viso ameaando com a mo. Ver capacidade dedesviar obstculos e constatar o reflexo pupilar com uma fonte de luz. As duas pupilasdevem contrair-se simultaneamente. Na cegueira causada por leso do crtex occipitalno h perda do reflexo pupilar. Neste caso a leso contralateral (leses do encfalodireito causam cegueira do olho esquerdo)

    III. Oculomotor. O animal v, mas no apresenta reflexo pupilar. Em leses unilateraiscontrai-se somente uma pupila. Pode haver estrabismo ventro-lateral e/ou paralisia da

    plpebra (ptose).

    IV. Troclear. Observa-se estrabismo dorsal.

    V. Trigmeo. Avaliar o tono da mandbula e os movimentos mastigatrios. Ocorre paralisia da mandbula. Ver se h atrofia dos msculos masseter ou temporal. Verreflexo palpebral. Examinar perda de sensibilidade da face, crnea e mucosa nasal.

    VI. Abducente. Observam-se estrabismo medial e falta de retrao do globo ocular ouexoftalmia.

    VII. Facial. Causa paralisia da face (plpebra, orelha, lbio, nariz).

  • 8/14/2019 Exame clnico de enfermidades do sist nervoso em equinos e ruminantes

    6/17

    VIII. Vestbulo coclear. H surdez e desequilbrio para o lado da leso (unilateral) oupara os dois lados (bilateral). Observa-se toro da cabea e/ou nistagmo horizontal ourotatrio.

    IX e X. Glossofarngeo e vago. O glossofarngeo sensitivo e o vago motor para alaringe e faringe. Suas alteraes causam disfagia, megaesfago, paralisia ou paresia da

    faringe e alteraes da voz. Examinar o reflexo de deglutio.

    XI. Acessrio. Observa-se atrofia dos msculos esterno ceflico, braquioceflico etrapzio.

    XII. Hipoglosso. Observar controle muscular da lngua, assim como desvio ou atrofiada mesma.

    Exame da postura e marcha(alteraes do tronco enceflico, cerebelo o medula)

    Animais com leses do crtex cerebral e tlamo apresentam marcha normal. Leses dotronco enceflico causam ataxia, paresia ou paralisia dos membros. Leses do cerebelo

    causam ataxia ou dismetria. Se nenhuma anormalidade encontrada no exame dacabea provvel que a leso esteja localizada na medula ou nos nervos perifricos.

    As principais alteraes a serem detectadas durante a marcha so ataxia (propioceptiva)e debilidade (motora). Sinais de ataxia ou debilidade podem ser detectados puxando acauda ou empurrando o animal para um lado durante a marcha; observa-se que o animalno apresenta ou apresenta menor resistncia que o normal a esta ao. A debilidade mais marcada em casos de paralisia dos neurnios motores inferiores. Quando h

    paralisia dos neurnios motores superiores os membros esto rgidos e o animal,aparentemente est mais forte. A debilidade nota-se, tambm, quando o animal,caminhando ou em estao, afrouxa os membros. Quando caminha em crculos ou coma cabea levantada pode cair ou dobrar os membros. Quando um dos membros suspenso, o membro oposto pode apresentar dificuldade para sustentar o peso do corpo,apresentando tremores ou causando desequilbrio ou queda. Ataxia um defeito

    proprioceptivo inconsciente que se evidencia como incoordenao durante a marcha.Pode causar cambaleio do corpo ou abduo exagerada dos membros ao caminhar oucorrer. Durante a estao o animal pode permanecer com os membros cruzados. Aataxia pode ser detectada colocando o membro para fora ou para dentro do seu eixonormal e observando se o animal retorna o mesmo a sua posio original. Pode,tambm, se flexionar o membro deixando-o apoiado nas pinas e constatando seuretorno posio normal. Detecta-se, ainda, fazendo o animal caminhar passando porobstculos de alguns centmetros de altura: se h deficincia proprioceptiva o animaltende a bater nos objetos com a parte anterior dos cascos.

    Deve se considerar que as leses musculares ou neuromusculares podem causar,tambm, alteraes na postura e marcha. Debilidade severa nos 4 membros, sem ataxia,espasticidade ou outras alteraes evidentes do SN, sugere enfermidade neuromuscular.Debilidade em um s membro sugestiva de uma leso do nervo perifrico ou umaleso muscular desse membro.

    Exame do pescoo e membros anteriores

  • 8/14/2019 Exame clnico de enfermidades do sist nervoso em equinos e ruminantes

    7/17

    Ver sensibilidade da pele. Ver posicionamento proprioceptivo mediante a aduo ouabduo dos membros, observando se o animal os recoloca em posio normal. Oreflexo da colocao ttil pode ser examinado vendando os olhos do animal e fazendo-oandar para observar a colocao correta dos membros. O cruzamento dos membros podeindicar a perda do sentido proprioceptivo. Ver se o animal consegue corrigir sua posiodepois de colocado em decbito lateral. Ver leses em C6-T2 ou no plexo braquial

    mediante o reflexo flexor ou de retrao comprimindo a pele ou os dedos e observandoa flexo do membro. Examinar a sensibilidade (nociocepo) da regio. A dor significaque o nervo sensitivo perifrico, a medula e as vias do tronco enceflico para o crtexesto normais. Ver se h atrofia dos msculos dos membros e do pescoo.

    Se no existem alteraes no exame da cabea e os membros torcicos esto alterados, aleso est localizada no plexo braquial ou medula. Em leses da medula cervical osmembros anteriores estaro alterados e os reflexos dos membros posteriores estaronormais ou exagerados. Se no h alteraes da cabea ou membros anteriores a lesoestar localizada atrs da T2.

    Exame do tronco, membros posteriores, nus e cauda

    O tronco observado quando h postura anormal, desvios de coluna, dor,insensibilidade ou hiperestesia a picadas suaves de agulhas e atrofia muscular. Constatar

    posicionamento proprioceptivo dos membros posteriores (da mesma forma que nosanteriores). Ver reflexo do panculo pela contrao do msculo cutneo na resposta a

    picadas de agulha. Do mesmo modo ver contrao do esfncter anal e da cauda. Verreflexo patelar e reflexo flexor.

    Para escrever o texto anterior foram consultados de Lahunta (1983), Mayew (1989),King (1994), Summers et al. (1995), Radostits et al. (2000) e Merk Manual (2001).

    SINAIS CLNICOS E LOCALIZAO DAS LESES EM ALGUMASENFERMIDADES DO SN DE RUMINANTES NO BRASIL E URUGUAI

    Hidrocefalia

    uma enfermidade congnita caracterizada por dilatao com presena de lquido nosventrculos. O animal apresenta depresso, sonolncia, mugidos contnuos, falta derelao com o ambiente e, ocasionalmente, no se mantm em estao. H aumento devolume do crebro e do crnio.

    Hipoplasia cerebelarObserva-se hipermetria e perda de equilbrio. Os sinais aparecem ao nascimento e soestveis. O cerebelo est diminudo de tamanho. Freqentemente causada pelainfeco do feto pelo vrus da diarria viral bovina.

    Abiotrofia cerebelar

  • 8/14/2019 Exame clnico de enfermidades do sist nervoso em equinos e ruminantes

    8/17

    Observam-se hipermetria, perda de equilbrio e ataques epileptiformes. Pode aparecerao nascimento ou alguns dias depois. Os sinais so progressivos e levam morte. Hleses histolgicas de degenerao das clulas de Purkinje do cerebelo.

    Hipermetria hereditria

    Enfermidade no progressiva observada na raa Shorthorn, causada por gene recessivoautossmico e caracterizada por sinais clnicos de hipermetria. No so observadasleses macroscpicas nem histolgicas.

    Carncia de cobre

    Afeta bovinos no Rio Grande do Sul e ovinos e caprinos na regio Nordeste do Brasil.Aparece ao nascimento ou algumas semanas depois. Causa ataxia e debilidade

    progressivas, que levam a uma paralisia flcida. Podem observar-se tremoresmusculares, principalmente da cabea. Alguns animais nascem com paralisia.Observam-se degenerao neuronal, hipomielinognese e leses degenerativas(degenerao Walleriana) da mielina, principalmente na medula.

    Polioencefalomalacia

    Causa leses degenerativas da crtex cerebral. Os sinais mais evidentes so cegueira,opisttono, nistagmo, estrabismo, incoordenao e depresso. Pode ocorrer devido acarncia de tiamina, intoxicao por enxofre ou intoxicao por sal.Microscopicamente, podem observar-se leses degenerativas no crtex cerebral. Hedema cerebral evidenciado pela herniao do crebro por debaixo do tentrio e docerebelo atravs do forame magno. Alguns dos sinais clnicos so causados pelo edemacerebral, que comprime o cerebelo e o tronco enceflico. Histologicamente, observa-sedegenerao e necrose do crtex cerebral. Em casos iniciais h resposta ao tratamentocom vitamina B1.

    Intoxicao por chumbo

    A localizao das leses e os sinais clnicos cerebrais so similares aos dapolioencefalomalacia. O edema cerebral menos marcado que nesta ltima.

    Encefalite por herpes vrus bovino-5

    Esta infeco causa, tambm, polioencefalomalacia, portanto os sinais clnicos sosemelhantes as anteriores, podendo ser mais graves devido encefalite difusa docrebro e tronco enceflico.

    Mieloencefalite por herpesvrus-eqino-1

    O herpesvrus eqino-1 causa aborto, doena neonatal e, eventualmente, sinais clnicosneurolgicos que podem ocorrer isolados ou junto com as outras formas da infeco.Geralmente afeta eqinos adultos que apresentam andar cambaleante, debilidade eincoordenao, que iniciam nos membros posteriores, atinge os anteriores e leva aodecbito. Podem ocorrer reteno de urina e fezes e ereo. Sinais dos nervos craneanosso menos frequentes. As leses se localizam preferentemente nos vasos sangneos da

  • 8/14/2019 Exame clnico de enfermidades do sist nervoso em equinos e ruminantes

    9/17

    substncia branca da medula com marcada infiltrao perivascular de clulasmononucleares e reas de malacia.

    Encefalomielites virais dos eqinos

    As encefalomielites virais dos eqinos so enfermidades infecciosas produzidas por 3

    tipos diferentes, mas relacionados, de Alphavirus: Leste (EEE), Oeste (WEE) eVenezuela (VEE), transmitidos por mosquitos. As manifestaes clnicas so variveise podem ser inaparentes. Os sinais neurolgicos incluem ranger de dentes, depresso,ataxia, andar em crculos ou a esmo, presso da cabea contra objetos,hiperexcitabilidade, paralisia, anorexia, cegueira e, na fase final, embotamento dossentidos. Os cavalos mantm a cabea baixa, orelhas cadas, ptose labial e protuso dalngua. H tambm, paralisia da faringe e, em decbito, movimentos de pedalagem. Nose observam leses macroscpicas e as leses histolgicas esto limitadas substnciacinzenta. H necrose neuronal e neuroniofagia, manguitos perivasculares com presenade clulas mono e polimorfonucleares e microgliose. As leses so mais acentuadas nocrtex cerebral, tlamo e hipotlamo.

    Raiva

    A raiva paraltica, transmitida por morcegos hematfagos, causa ataxia e debilidade dosmembros. Os sinais so progressivos, iniciando-se nos membros posteriores,estendendo-se posteriormente aos anteriores e finalizando em decbito permanente.Pode haver tenesmo retal e relaxamento do esfncter anal. H sinais de alteraes dotronco enceflico, como paralisia da lngua. Na raiva urbana, transmitida por ces podehaver sinais de alterao do crtex cerebral, como mania, agressividade e mugidos. Noh leses macroscpicas e as leses histolgicas na raiva paraltica localizam-se

    principalmente no tronco enceflico e medula. H corpsculos de inclusoprincipalmente no cerebelo. Em eqinos as manifestaes da enfermidade so variveis, podendo ocorrer paralisia ascendente, hiper-salivao, ataxia e paresia dos membrosposteriores, paralisia da laringe, clica e perda do tnus do esfincter anal.

    Febre catarral maligna

    Afeta bovinos e cervos. Quando apresenta sinais nervosos causa depresso profunda,incoordenao, presso da cabea contra objetos, convulses e paralisia. Causa tambm,ceratite, ulceraes dos sistemas digestivo e respiratrio com salivao e corrimentonasal e febre. Causa uma vasculite difusa no SN e outros rgos. Est associada

    presena de ovinos junto com os bovinos. Apresenta, geralmente, baixa morbidade eletalidade de praticamente 100%.

    LeucoseEm bovinos uma das formas clnicas mais freqente do linfossarcoma a nervosa.Caracteriza-se por debilidade e ataxia progressiva dos membros posteriores e afetaanimais adultos. Em semanas ou meses o quadro evolui para decbito esternal

    permanente e o animal tem que ser sacrificado. O tumor localiza-se nas meninges daregio sacra e ltima poro lombar da medula causando compresso. A enfermidadetem sido observada, tambm, em caprinos com leses localizadas na regio torcica damedula.

  • 8/14/2019 Exame clnico de enfermidades do sist nervoso em equinos e ruminantes

    10/17

    Encefalite e artrite caprina (CAE)

    um lentivirus da famlia Retroviridae, difundido no Brasil, que causa artrite, pneumonia, mastite e encefalite em caprinos. A forma nervosa afeta principalmentecabritos de 2 a 4 semanas de idade. Os sinais clnicos caracterizam-se, principalmente,

    por paralisia dos neurnios motores superiores e deficincias proprioceptivas. Em

    alguns dias pode evoluir para paralisia dos 4 membros e decbito permanente.Microscopicamente observam-se mltiplos focos de infiltrados perivasculares delinfcitos e macrfagos na substncia branca cerebral, associados a desmielinizao, einfiltrao de clulas inflamatrias mononucleares na substncia cinzentas da medulaespinhal. Pode haver leses na parte caudal do tronco enceflico.

    Visna

    Afeta ovinos e causada por um lentivirus da famlia Retroviridae semelhante ao daCAE. Apresenta-se com uma forma nervosa (visna) ou uma forma respiratria (maedi).

    No Brasil tm sido detectados anticorpos para este vrus e o mesmo foi isolado de umcordeiro sem sinais clnicos e de uma ovelha com artrite, perda progressiva de peso e

    mastite. A forma nervosa afeta ovinos adultos causando paresia e ataxia gradual dosmembros posteriores, que progride lentamente para paralisia. Podem-se observar,tambm, postura anormal da cabea, nistagmo e tremores dos lbios. As leses sosimilares s descritas para CAE.

    Scrapie

    uma encefalopatia espongiforme causada por um pron, que tem sido diagnosticadadiversas vezes no Brasil. Os sinais clnicos so lentamente progressivos e, inicialmente,o animal pode andar separado do rebanho. O sinal clnico caracterstico o prurido, quefaz que o ovino se coce contra objetos causando perda de l e leses da pele. Podemobservar-se ataxia e hipermetria, assim como ranger de dentes. As leses histolgicas,localizadas principalmente no mesencfalo, ponte, medula oblonga e medula espinhal,caracterizam-se por vacuolizao de neurnios e do neurpilo.

    Listeriose

    Afeta esporadicamente bovinos, ovinos, caprinos e bubalinos. Causa paralisiaassimtrica dos nervos cranianos, principalmente o facial. Os sinais mais freqentes so

    paralisia unilateral da orelha, plpebra e lbio. Outros sinais de alteraes de outrosnervos cranianos podem ocorrer, inclusive sinais do sistema vestibular. As leseslocalizam-se no tronco enceflico e na maioria das vezes so somente histolgicas, com

    presena de microabscessos.

    Abscessos do SN

    Os sinais clnicos dependem da localizao do abscesso. Uma localizao freqente nas vrtebras dorsais e lombares. Ocorrem em conseqncia de infeces umbilicais.Podem ocorrer, tambm, mielite ascendente em ovinos depois do corte da cauda. Ossinais so em geral progressivos, levando finalmente a paralisia dos membros

    posteriores. Podem ocorrer abscessos da hipfise em bovinos que foram submetidos aodesmame interrompido para diminuir o anestro ps-parto das vacas. Nestes casos h

  • 8/14/2019 Exame clnico de enfermidades do sist nervoso em equinos e ruminantes

    11/17

    evidncias de compresso do nervo trigmeo e abducente. Infeces bacterianas quechegam ao tronco enceflico atravs do nervo vestbulo-coclear so observados comocomplicao da otite parasitria causada porRaillietia auris e nematdeos da famliaRhabditidae. Nestes casos observa-se uma sndrome vestibular. Podem haver leses emoutras reas do tronco enceflico causando sinais associados a outros nervos cranianos.

    Botulismo

    O botulismo causa paralisia flcida generalizada, afetando tambm a lngua, cauda emandbula. Inicialmente observa-se dificuldade para a marcha seguida de decbito

    permanente (sndrome da vaca cada). No apresenta leses macroscpicas nemhistolgicas.

    Ttano

    Surtos de ttano so observados freqentemente em bovinos, ovinos e caprinos,associados a traumatismos coletivos: tosquia, banhos, castrao, corte de cauda evacinaes ou administrao de medicamentos com produtos ou seringas contaminadas.

    Os eqinos so mais sensveis que os ruminantes. O diagnstico realiza-se pelos dadosepidemiolgicos e sinais clnicos que so caractersticos: tetania e rigidez generalizadada musculatura, trismo mandibular, prolapso da terceira plpebra, rigidez da cauda,orelhas eretas, hiperexcitabilidade, tetania dos msculos masseteres, constipao ereteno urinria. No causa leses no SN.

    Necrose simtrica focal

    uma enfermidade de curso subagudo ou crnica causada pela toxina psilon doClostridium perfringens tipo D. Ocorre, preferentemente, em cordeiros, na primavera.Os sinais clnicos so depresso, marcha sem rumo ou em linha reta, incoordenao e,ocasionalmente, cegueira. A maioria dos animais morrem em 1 a 14 dias.Macroscopicamente, observam-se reas marrons ou avermelhadas, simtricas, focais,localizadas na cpsula interna, ncleos da base, tlamo, mesencfalo e pednculoscerebelares. Histologicamente, observam-se degenerao e necrose nessas reas.

    Meningite bacteriana

    freqente em bovinos no perodo neonatal. Est associada a imunodepresso, quepode ser causada pela ingesto inadequada de colostro ou pela infeco pelo vrus dadiarria viral bovina ou outros agentes. Os sinais clnicos caracterizam-se por febre,depresso ou hiperestesia, opisttono com a musculatura do pescoo rgida de formaque a tentativa de flexo do mesmo difcil, reflexos aumentados e, ocasionalmente,

    convulses em resposta a estmulos auditivos. Na necropsia pode observar-seinflamao purulenta a fibrinopurulenta das leptomeninges, que esto de aspecto opacoou floculento. A meningite pode estar associada a processos inflamatrios em outrosrgos.

    Cenurose

    Afeta ovinos e com menor freqncia bovinos. Os sinais clnicos, que em geral so progressivos, dependem da localizao do cisto. A localizao mais freqente no

  • 8/14/2019 Exame clnico de enfermidades do sist nervoso em equinos e ruminantes

    12/17

    crebro, causando movimentos de torneio, cegueira e depresso. freqente, tambm, alocalizao em cerebelo causando hipermetria, incoordenao, desequilbrio e outrossinais caractersticos desta localizao. Ocorrem com menor freqncia na medula, comsinais progressivos de ataxia e debilidade. Algumas vezes os sinais so estveis emconseqncia da morte e degenerao do parasita no SN.

    Encefalopatia heptica (intoxicaes por Senecio spp, Crotalaria spp e Echiumplantagineum)

    Nestas intoxicaes em bovinos observam-se agressividade, algumas vezesincoordenao, tenesmo retal e, ocasionalmente, prolapso retal e diarria. Os sinais dosistema nervoso so causados, principalmente, pela espongiose (vacuolizao) dasubstncia branca do crebro e cpsula interna, que ocorrem em conseqncia dainsuficincia heptica (hiperamonemia). No se sabe qual a causa do tenesmo retalque, junto com a agressividade, um dos sinais mais caractersticos. Em eqinos podemocorrer emagrecimento, depresso ou hiperexcitabilidade, andar a esmo, presso dacabea contra objetos, torneio ou galope desenfreado. As leses histolgicas do crebrocaracterizam-se pela presena de grupos de astrcitos de Alzheimer tipo II no cortex e

    gnglios da base. Tanto em equdeos quanto em bovinos h leses hepticas de fibrose,megalocitose e proliferao de clulas dos ductos biliares.

    Intoxicao porAteleia glazioviana

    Esta intoxicao, que causa, tambm, abortos e fibrose cardaca em bovinos pode causarsinais nervosos caracterizados por letargia, depresso, cegueira e andar lento ecambaleante. Os animais permanecem por longos perodos dentro de sangas ou

    banhados e em decbito freqente, algumas vezes com a mandbula apoiada no solo. No h leses macroscpicas no SN. Histologicamente, observa-se vacuolizao dasubstncia branca (espongiose), principalmente da medula cerebelar, pednculoscerebelares e tronco enceflico.

    Intoxicaes por Clavicepspaspali, Cynodondactylon, Ipomoea asarifolia ePhalarisspp

    Estas intoxicaes causam uma sndrome tremorgnica, que se caracteriza por tremorese incoordenao. Inicialmente os tremores podem afetar a cabea e o pescoo, masquando os animais so agitados agravam-se afetando todo o corpo e provocando aqueda dos animais, que, posteriormente, levantam-se em alguns minutos. Quando seretira a fonte de intoxicao os animais se recuperam em 7-15 dias. As intoxicaes porC. paspali e C. dactylon, que afetam bovinos no sul do Brasil, no causam lesesmacroscpicas ou histolgicas de significado. A intoxicao por I. asarifolia afeta

    caprinos, ovinos e bovinos no Nordeste do Brasil e tambm no causam leseshistolgicas. A intoxicao porPhalaris spp., que pode causar, tambm, outros sinaisnervosos e morte sbita, afeta bovinos em Santa Catarina e pode afetar ovinos. Causaleses macroscpicas caracterizadas pela presena de um pigmento verde-azulado

    principalmente no tlamo, medula oblonga e mesencfalo. Esse pigmento observa-semicroscopicamente dentro dos neurnios.

    Intoxicao por resduos de cevada contaminados comAspergillus clavatus

  • 8/14/2019 Exame clnico de enfermidades do sist nervoso em equinos e ruminantes

    13/17

    No Rio Grande do Sul a intoxicao por toxinas de Aspergillus clavatus foirecentemente diagnosticada em bovinos leiteiros alimentados com resduos de cevada.Os animais apresentam paralisia flcida e alteraes da marcha caracterizadas porincoordenao motora, fraqueza, paresia e paralisia dos membros posteriores. Quandomovimentados ou excitados, apresentam tremores musculares e freqentemente caiam.A morte ocorre aps um curso clnico de 2 a 14 dias. Na necropsia observam-se leses

    degenerativas e necrticas dos msculos dos membros anteriores e posteriores.Histologicamente h degenerao e necrose neuronal no tronco enceflico, medulaoblonga, ponte e cornos ventrais da medula espinhal (Loretti et al. 2003).

    Intoxicao porSolanumfastigiatum eS.paniculatum

    Esta intoxicao afeta bovinos e caracteriza-se por crises epileptiformes peridicas.Quando os animais so perturbados apresentam tremores, opisttono, nistagmo,extenso dos membros anteriores, desequilbrio e quedas para trs ou para o lado.Recuperam-se rapidamente em alguns segundos at um minuto. Entre as crises noapresentam sinais clnicos significativos. No h leses macroscpicas e as leseshistolgicas caracterizam-se por vacuolizao e posterior desaparecimento das clulas

    de Purkinje do cerebelo. Os axnios destas clulas, localizados na camada granular,substncia branca, medula e pednculos cerebelares, sofrem degenerao Walleriana.

    Intoxicao porIpomoeacarnea eSida carpinifolia

    A intoxicao por I. carnea afeta caprinos, ovinos e bovinos na regio Nordeste doBrasil. A intoxicao porSida carpinifolia afeta caprinos, eqinos e bovinos no sul doBrasil. Clinicamente, estas intoxicaes caracterizam-se por sonolncia, incoordenao,emagrecimento progressivo, tremores, movimento lateral da cabea e hipermetria. Estas

    plantas contm como princpio ativo inibidores enzimticos que causam enfermidadesdo armazenamento de oligossacardeos. No h leses macroscpicas significantes. Asleses histolgicas caracterizam-se por vacuolizao dos neurnios e clulas de diversosrgos. No sistema nervoso a vacuolizao neuronal difusa, mas mais evidente nasclulas de Purkinje do cerebelo.

    Intoxicao porHalimiumbrasiliense

    Afeta ovinos no Uruguai e Rio Grande do Sul. Causa convulses peridicas, queocorrem principalmente quando os ovinos so movimentados ou assustados. Entre ascrises a maioria dos animais no apresenta sinais clnicos; entretanto, alguns apresentamincontinncia urinria ou incoordenao dos membros posteriores. Alguns animais, queapresentam crises muito freqentes, emagrecem progressivamente, caem em decbito

    permanente e morrem. Se os ovinos so retirados dos campos onde existe a planta ou

    depois de novembro, quando o ciclo da planta finaliza, a maioria se recupera. Animaispouco afetados no apresentam leses histolgicas significativas. Naqueles gravementeafetados ocorre degenerao axonal difusa na substncia branca, principalmente namedula espinhal e cpsula interna.

    Intoxicao porProsopis juliflora

    A favas desta rvore, quando constituem 50% ou mais da dieta, e so ingeridas poralguns meses, causam intoxicao em bovinos e caprinos na regio Nordeste do Brasil.

  • 8/14/2019 Exame clnico de enfermidades do sist nervoso em equinos e ruminantes

    14/17

    A intoxicao causa sinais clnicos caractersticos de insuficincia do trigmeo: paralisiae atrofia neurognica do masseter, paralisia mandibular, salivao, lngua protusa emastigao e ruminao com a cara inclinada para que os alimentos no caiam da boca.As leses histolgicas caracterizam-se por degenerao e desaparecimento dosneurnios do ncleo motor do trigmeo.

    Intoxicao porEquisetum spp

    Em eqinos a intoxicao por Equisetum arvense causa mau desenvolvimento efraqueza do trem posterior, ataxia e dificuldade de dar a volta. O princpio ativo da

    planta uma tiaminase. Leses no sistema nervoso central no tem sido identificadas.Equisetum palustre afeta bovinos e causa fraqueza progressiva, com sinais de paralisia,precedidos de inquietao ou excitabilidade temporria. Mortes s ocorrem em animaismuito doentes que permanecem em decbito.

    Intoxicao porPteridium aquilinum

    Esta planta contm uma tiaminase capaz de inativar a tiamina, causando em eqinos

    sinais clnicos de incoordenao, tremores musculares, ataques convulsivos, opisttonoe morte. No tm sido observadas leses macroscpicas nem histolgicas. No Brasilesta intoxicao foi diagnosticada somente uma vez em asininos.

    Diplodiose

    uma micotoxicose causada porDiplodia maydis, quando so ingeridos os picndios dofungo que aparecem como pequenos pontos pretos do tamanho da cabea de umalfinete. Ocorre no Rio Grande do Sul, em restevas de milho. Os sinais clnicoscaracterizam-se por lacrimejamento, salivao, tremores musculares, ataxia, paresia edismetria, com flexo exagerada dos membros durante a marcha. Em alguns animaisocorre paralisia com decbito permanente seguido de morte. A maioria dos animaisrecupera-se ao ser retirada das restevas. No se observam leses macroscpicas nemhistolgicas significativas.

    Leucoencefalomalacia

    uma enfermidade dos eqinos causada pela ingesto de milho contaminado com ofungoFusarium moniliforme. O desenvolvimento do fungo e suas toxinas (fumonisinasB1 e B2) est intimamente relacionado com a umidade e a ocorrncia de quedas detemperatura que causam choque trmico.. Os sinais clnicos caracterizam-se poranorexia, sonolncia e depresso ou hiperexcitabilidade, dificuldade de apreenso dealimentos e mastigao, ataxia, tremores, presso da cabea contra objetos, torneio,

    cegueira uni ou bilateral e decbito. As leses macroscpicas caracterizam-se poraumento de tamanho de um dos hemisfrios cerebrais com amolecimento dascircunvolues. Ao corte a substncia branca do crebro est amarelada, com reas demalacia, observando-se, geralmente, cavidades contendo fludo. A cpsula interna e otlamo geralmente esto afetados. reas amareladas ou hemorrgicas so raramenteobservadas nos tubrculos quadrigmeos, pednculos cerebelares, ponte e medulaoblonga. As leses so, geralmente unilaterais e quando bilaterais so mais marcadasem um dos lados do encfalo.

  • 8/14/2019 Exame clnico de enfermidades do sist nervoso em equinos e ruminantes

    15/17

    Babesiose

    A babesiose causada porBabesiabovis causa agressividade ou depresso, prostrao,febre e ataques convulsivos. Raramente observa-se hemoglobinria nesta forma daenfermidade. Macroscopicamente, aparece severa congesto do crtex cerebral. Emesfregaos e cortes histolgicos do crtex cerebral, e em menor quantidade em outros

    rgos, observam-se numerosasB. bovis em eritrcitos que se encontram marginando asparedes dos capilares. Outras leses macroscpicas so as hemorragias pericrdicas, oaumento de tamanho do bao e a ictercia com fgado amarelo ou alaranjado.

    Mieloencefalite eqina por protozorio

    uma enfermidade neurolgica infecciosa de eqinos, geralmente fatal, transmitida pelo agente protozorio Sarcocystis neurona. Os sinais clnicos so variveis edependem da regio e da extenso das leses, as quais so multifocais. Observam-semalacia e reao inflamatria no supurativa. As leses afetam mais freqentemente amedula e a apresentao mais comum uma alterao na marcha, com ocomprometimento de um ou mais membros, dependendo da localizao das leses na

    medula. Usualmente, h ataxia assimtrica dos membros posteriores, fraqueza e atrofiamusculares. Quando est envolvido o tronco enceflico e os ncleos dos nervoscranianos observa-se depresso, ataxia, paralisia facial e protuso, flacidez e paralisia dalngua, atrofia dos msculos temporal e masseter e disfagia. Quando a leso nocrebro pode observar-se depresso, alteraes no comportamento, cegueira ediminuio das respostas sensoriais ameaa no lado da face contralateral leso.

    Intoxicao por organofosforados e carbamatos

    Causa salivao, miose, bradicardia, diarria, tremores musculares, tetania, ataxia,desorientao, convulses e coma. Nos casos crnicos observam-se leses histolgicasde degenerao dos nervos perifricos e tratos da medula espinhal.

    Cetose

    uma enfermidade metablica que afeta bovinos de alta produo e ovinos comprenhez mltipla. No Rio Grande do Sul e no Uruguai tem sido descrita, tambm, emvacas prenhes gordas (principalmente novilhas e vacas falhadas do ano anterior), quesofrem restrio alimentar no ltimo ms de gestao. Em ovinos e vacas prenhes

    predominam os sinais nervosos. As ovelhas separam-se do rebanho e parecem cegas, permanecendo alerta mas sem movimentar-se. Se so foradas a andar batem emobjetos ou pressionam a cabea contra os mesmos. Posteriormente, apresentam tremoresmusculares e convulses. Morrem em depresso profunda depois de 2 a 7 dias. Nas

    vacas prenhes observam-se hiperexcitabilidade, agressividade, atitude de alerta,tremores musculares e incoordenao; 1 a 4 dias depois dos primeiros sinais nervososocorre decbito permanente e posteriormente morte. Em bovinos, ao contrrio dosovinos, o tratamento antes do decbito eficiente. Os sinais nervosos ocorrem porhipoglicemia e no h leses macroscpicas nem histolgicas no SN. Observa-sedegenerao gordurosa do fgado.

    Hipocalcemia

  • 8/14/2019 Exame clnico de enfermidades do sist nervoso em equinos e ruminantes

    16/17

    uma enfermidade metablica que afeta vacas no perodo perinatal, principalmente nas primeiras 48 horas depois do parto. Inicialmente, observam-se excitao ehiperexcitabilidade com tremores musculares, movimentos de cabea, mugidos edispnia. Estes sinais evoluem para o decbito esternal, com diminuio dos reflexos,midrase, decbito lateral, perda da conscincia e coma. A maioria dos animais serecupera depois do tratamento com clcio.

    Para maiores informaes sobre as doenas mencionadas consultar Tokarnia et al.(2000) e Riet-Correa et al. (2001).

    REFERENCIAS

    De Lahunta A. 1983. Veterinary Neuroanatomy and Clinical Neurology. 2nd ed. V.W.Saunders, Philadelphia. 271p. [ Links ]

    King A.S. 1994. Physiological and Clinical Anatomy of the Domestic Mammals.

    Central Nervous System. Oxford University Press, Oxford. 325p. [ Links ]

    Loretti A.P., Colodel E.M., Driemeier D., Corra A.M., Bangel Jnior J.J., Ferreiro L.2003. Neurological disorder in dairy cattle associated with the consumption of beerresidues contaminated withAspergillus clavatus. J.Vet. Diag. Invest. (Em publicao)

    Mayhew I. G. 1989. Large Animal Neurology. Lea & Febiger, Philadelphia.380p. [ Links ]

    Merck Veterinary Manual 2001. 8th edition. Aiello S.E. (ed.), Merck & Co, USA, p.889-896. [ Links ]

    Radostits E.M., Gay C.C., Blood D.C. & Hinchcliff K.W. 2000. Veterinary Medicine.9th edition. W.B. Saunders, London, p. 501-550. [ Links ]

    Riet-Correa F., Schild A.L., Mendez M.C. & Lemos R.A.A. 2001. Doenas deRuminantes e Eqinos. 2 ed. Varela, So Paulo. Vol 1, 425p., Vol 2, 573

    p. [Links ]

    Summers B.A., Cummings J.F. & De Lahunta A. 1995. Veterinary Neuropathology. Ed.Mosby, St Louis. 527 p. [ Links ]

    Tokarnia C.H., Dbereiner J. & Peixoto P.V. 2000. Plantas Txicas do Brasil. Editora

    Helianthus, Rio de Janeiro. 310p. [ Links ]

    1Centro de Sade e Tecnologia Rural, Universidade Federal de Campina Grande,Campus de Patos, Jatob, Patos, PB 58700-000. E-mail: [email protected];

  • 8/14/2019 Exame clnico de enfermidades do sist nervoso em equinos e ruminantes

    17/17

    2Depto de Patologia, Faculdade de Veterinria, Universidade Federal de Gois, Jata,GO.

    3Laboratrio Regional de Diagnstico, Faculdade de Veterinria, Universidade Federalde Pelotas, Pelotas, RS 96010-900.

    O arquivo disponvel sofreu correes conforme ERRATA publicada no Volume 23Nmero 1 da revista.

    www.vetarquivos.blogspot.com