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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 2ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE RORAIMA PROCESSO Nº 1000432-51.2017.4.01.4200 AÇÃO CIVIL PÚBLICA CONECTAS DIREITOS HUMANOS, associação civil sem fins lucrativos, qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP, inscrita no CNPJ sob o n. 04.706.954/0001-75, com sede na Av. Paulista, 575, 19º andar, CEP 01311-000, São Paulo-SP (doc. 1), neste ato representada por sua Diretora Executiva Juana Magdalena Kweitel (doc. 2) por meio de seus procuradores (doc. 3) e INSTITUTO PRO BONO, associação sem fins lucrativos, qualificada como Organização Civil de Interesse Público – OSCIP, inscrita no CNPJ sob o n. 04.613.118/0001-46, com sede na Av. Paulista, 575, 19º andar, CEP 01311-000, São Paulo-SP (doc. 4), neste ato representada por seu Diretor Executivo Marcos Roberto Fuchs (doc. 2), vem respeitosamente à presença de V. Exa. manifestar-se na qualidade de AMICUS CURIAE na ação em epígrafe proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL DE RORAIMA e pela DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO DE RORAIMA, em face da UNIÃO, pelas razões a seguir articuladas.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 2ª … · Kweitel (doc. 2) por meio de seus procuradores (doc. 3) ... Brasil, o 2º maior destino, atrás apenas dos Estados Unidos,

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 2ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE RORAIMA

PROCESSO Nº 1000432-51.2017.4.01.4200 AÇÃO CIVIL PÚBLICA

CONECTAS DIREITOS HUMANOS, associação civil sem fins lucrativos, qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP, inscrita no CNPJ sob o n. 04.706.954/0001-75, com sede na Av. Paulista, 575, 19º andar, CEP 01311-000, São Paulo-SP (doc. 1), neste ato representada por sua Diretora Executiva Juana Magdalena Kweitel (doc. 2) por meio de seus procuradores (doc. 3) e INSTITUTO PRO BONO, associação sem fins lucrativos, qualificada como Organização Civil de Interesse Público – OSCIP, inscrita no CNPJ sob o n. 04.613.118/0001-46, com sede na Av. Paulista, 575, 19º andar, CEP 01311-000, São Paulo-SP (doc. 4), neste ato representada por seu Diretor Executivo Marcos Roberto Fuchs (doc. 2), vem respeitosamente à presença de V. Exa. manifestar-se na qualidade de

AMICUS CURIAE

na ação em epígrafe proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL DE RORAIMA e pela DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO DE RORAIMA, em face da UNIÃO, pelas razões a seguir articuladas.

I. DA POSSIBILIDADE DE MANIFESTAÇÃO COMO AMICUS CURIAE EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA

1. A presente ação civil pública tem por objeto a dispensa do pagamento de taxas a

estrangeiros economicamente hipossuficientes que, tendo ingressado em território brasileiro por via terrestre, sejam nacionais de país fronteiriço, para o qual ainda não esteja em vigor o Acordo de Residência para Nacionais dos Estados Partes do Mercosul e países associados, para fins de requerimento de concessão de residência temporária, aceitando-se como prova de vulnerabilidade econômica a declaração de hipossuficiência firmada pelo pleiteante, salvo se existir prova em contrário.

2. A taxa em alusão está prevista na Resolução Normativa nº. 126/2017, editada pelo

Conselho Nacional de Imigração (CNIg) em 3 de março de 2017, que estabelece a possibilidade de regularização da situação jurídica de estrangeiros imigrantes no Brasil por meio de residência temporária.

3. Digna de aplausos, a Resolução Normativa CNIg nº. 126/2017 acaba tendo seu

potencial protetivo bastante limitado pela exigência de pagamento de R$ 311,22 (trezentos e onze reais e vinte dois centavos)1 – entre custo de registro do estrangeiro e emissão de carteira –, montante que penaliza duramente justamente os migrantes mais vulneráveis, quais sejam, aqueles em situação de manifesta miséria econômica.

4. A relevância social desta demanda envolve a natureza coletiva e indisponível do

direito de estrangeiros de acesso à regularização de sua situação jurídica no Brasil.

5. Sobre a natureza coletiva da demanda, conforme destacado na inicial, um grupo de

pessoas – migrantes carentes provenientes da Venezuela que, em sua maioria, já se encontram em território nacional brasileiro – estão todos ligados ao Estado brasileiro por relação jurídica (qual seja, o interesse em regularizar sua situação jurídica no país). Conforme dados do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados)2, mais de 52 mil nacionais da Venezuela requereram refúgio em outros países só em 2017, sendo que cerca de 12,9 mil solicitaram o status de refugiado no Brasil, o 2º maior destino, atrás apenas dos Estados Unidos, com 18,3 mil solicitações; hoje há cerca de 30 mil venezuelanos em território brasileiro.

6. Como ressaltado na inicial, a presente Ação Civil Pública não se lastreia em um

suposto direito à regularização do qual seriam titulares todos os imigrantes, e sim ao direito de acesso à análise de seus requerimentos, algo que tem sido obstaculizado pela cobrança indiscriminada das taxas em alusão.

7. Quanto o caráter indisponível do direito de estrangeiros de acesso à regularização de

sua situação jurídica no Brasil, a precisa definição da situação jurídica do imigrante é, ao mesmo tempo, um direito e um dever, uma vez que o estrangeiro não pode dispor, juridicamente, de seu estado jurídico.

8. O debate aqui travado envolve, para além dos interesses meramente individuais,

aqueles referentes à preservação da harmonia e à realização dos objetivos

1http://www.pf.gov.br/servicos-pf/estrangeiro/acordo-de-residencia-mercosul-e-associados2ONUBR–NaçõesUnidasnoBrasil.“Maisde52milvenezuelanosjápediramrefúgioemoutrospaíses;Brasilé2ºcommaissolicitações”.Disponívelem<https://nacoesunidas.org/?p=126226>.Últimoacessoem27dejulhode2017.

constitucionais da sociedade e da comunidade. Assim, reconhece-se, de pronto, que se trata de um litígio de interesse público.

9. Nesse sentido, a ação civil pública, como medida judicial apta para buscar provimento

jurisdicional capaz de resolver uma situação jurídica coletiva, não pode deixar de ser cenário da pluralização do debate fundamental para que o magistrado disponha de todos os elementos informativos possíveis e necessários para a resolução da controvérsia coletiva.

10. Portanto, a participação de entidades e instituições que efetivamente representem os

interesses gerais da coletividade ou que expressem os valores essenciais e relevantes da sociedade, abrem a possibilidade de intervenção do amicus curiae como justificativa de aprimoramento da tutela jurisdicional coletiva.

11. Fredie Didier Jr. e Hermes Zaneti Jr3, corroborando com o entendimento da doutrina

de Cássio Scarpinella Bueno, defendem a intervenção de amicus curiae em qualquer ação coletiva, desde que se respeitem algumas condições:

“Há uma tendência doutrinária e jurisprudencial, porém, de admitir-se a intervenção de amicus curiae em qualquer ação coletiva, desde que a causa tenha relevância (que, em se tratando de ação coletiva, está quase sempre in re ipsa), e o possível amicus curiae tenha condições de auxiliar o trabalho do magistrado, contribuindo com informações e análises para o melhor julgamento da demanda. Seria uma intervenção atípica de amicus curiae, ideia que nos parece louvável, tendo em vista a finalidade da participação deste especial auxiliar do juízo: legitimar ainda mais a decisão do órgão jurisdicional, em um processo de evidente interesse público.” [grifo nosso]

12. Ora, em se tratando de demanda de marcado interesse público, é inegável a

importância do reconhecimento da intervenção de amicus curiae nesta Ação Civil Pública. Neste sentido, destacamos o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, cuja Terceira Câmara de Direito Público, ao julgar os embargos infringentes nº 9092747-45.2002.8.26.0000, deixou claro que mesmo que não haja previsão expressa de intervenção de amicus curiae na ação civil pública, ela deve ser aceita como medida a auxiliar no julgamento quando a demanda tiver relevância social inquestionável. Veja-se trecho do aludido acórdão:

“De outro lado, era perfeitamente possível a intervenção da “Conectas Direitos Humanos”, na qualidade de “amicus curiae”. Ensina Cássio Scarpinella Bueno, que ao contrário do largamente ministrado, a figura do “amicus curiae”, ou o “amigo da Cúria”, surgiu no século XVI na Inglaterra, e de lá seguiu para os Estados Unidos da América, mas de forma diversa, adaptando-se às regras utilizadas pela “Common Law” (“O Amicus Curiae” nos Tribunais Brasileiros – palestra proferida na Escola Paulista de Magistratura em 13.09.2011). Esta figura tinha por missão o auxílio dos sacerdotes na solução de lides que a eles eram trazidas, em uma época histórica em que as decisões judicias eram primeiramente proferidas pelo clero, e após, referendadas pela nobreza governante. Embora não haja lei que defina expressamente o “amicus curiae”, há uma série de diplomas legislativos que trazem, indiretamente, essa figura. Entre elas podemos citar:

3CursodeDireitoProcessualCivil.Vol.4.,ProcessoColetivo,9ºedição,2014,Ed.JusPodium,p.231.

- Art. 31 da Lei nº 6.386/76 – Mercado de Capitais; - Art. 89 da Lei nº 8.884/94 – lei antitruste; - Art. 49 da Lei nº 8.906/94 – Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil; - Art. 5º da Lei nº 9.469/97 – que estabelece prerrogativas da faz. Pública; - Art. 97 da Constituição Federal Incidente de Inconstitucionalidade. Há, também, leis mais recentes que chama o “amicus curiae” de “terceiros”: - Lei nº 9.868/99 – Lei da ADIn e ADc. Neste caso, há previsão expressa da intervenção de terceiros. - Lei nº 9.882/99 – Lei da ADPF – também, da mesma forma. - Lei nº 11.418/06 – Lei de Repercussão Geral. Assim, diante da legislação pátria, a função atual do “amicus curiae” é de ajudar o juiz a proferir uma decisão, quando por dois motivos: a decisão afetara outras pessoas e aquela pessoa que na sua imparcialidade traz provas ao juiz para auxiliar o juiz. Portanto, mesmo sem lei é possível e necessário, generalizar o “amicus curiae”, quando houver um processo paradigmático ou em não sendo deva ter um conteúdo valorativo muito forte. Dessa forma, era possível considerar a utilidade das argumentações trazidas pela Conectas, que serviriam para corroborar a decisão ora proferida.” [grifo nosso]

13. Assim, fica demonstrada a possibilidade jurídica da manifestação da requerente como

amicus curiae na presente ação civil pública.

II. DA LEGITIMIDADE DA REQUERENTE PARA SE MANIFESTAR COMO AMICUS CURIAE

14. Demonstrada a possibilidade da intervenção de amicus curiae e da relevância social que a demanda envolve, faz-se necessário analisar a representatividade das requerentes a fim de reconhecer a legitimidade para se manifestarem como amicus curiae.

15. No caso, é importante destacar que a organização Conectas Direitos Humanos tem

como uma de suas missões a efetivação dos fundamentos da República Federativa do Brasil, especialmente no que tange à cidadania e à dignidade da pessoa humana. Veja-se:

“Conectas Direitos Humanos foi fundada em 2001 com a missão de fortalecer e promover o respeito aos direitos humanos no Brasil e no hemisfério Sul, dedicando-se, para tanto, à educação em direitos humanos, à advocacia estratégica e à promoção do diálogo entre sociedade civil, universidades e agências internacionais envolvidas na defesa destes direitos. Conectas promove advocacia estratégica em direitos humanos, em âmbito nacional e internacional, com o objetivo de alterar as práticas institucionais e sociais que desencadeiam sistemáticas violações de direitos humanos. Desde 2006, tem status consultivo junto ao Conselho de Direitos Humanos das Organização das Nações Unidas (ONU) e, desde 2009, dispõe de status de observador na Comissão Africana de Direitos Humanos e dos Povos4. [grifo nosso]

4http://www.conectas.org

16. Conectas Direitos Humanos é hoje a organização não governamental com maior número de amici curiae perante o Supremo Tribunal Federal, já tendo ingressado com 48 (quarenta e oito) desde a sua fundação5.

17. Atuar em ações e processos destinados à efetivação dos direitos humanos inclui a

busca continua pela efetivação dos fundamentos da República Federativa do Brasil, especialmente no que tange à cidadania e à dignidade da pessoa humana, que são fundamentais para todo e qualquer serviço prestado pelo Estado.

18. Com relação aos fins institucionais da Conectas Direitos Humanos, vale transcrever o inciso VI do artigo 3º e o parágrafo 1º, item “d” do mesmo artigo de seu Estatuto (doc. 01), in verbis:

Artigo 3º - A ASSOCIAÇÃO será regida nos termos da Lei 9.790/99 e terá por finalidade promover, apoiar, monitorar e avaliar projetos em direitos humanos em nível nacional e internacional, em especial: [...] VI – promoção e defesa dos direitos humanos em âmbito judicial. Parágrafo 1º - A ASSOCIAÇÃO pode, para consecução de seus objetivos institucionais, utilizar todos os meios permitidos na lei, especialmente para: [...] g) Promover ações judiciais visando à efetivação dos direitos humanos. [grifo nosso]

19. Em relação ao Instituto Pro Bono, cumpre ressaltar que tem como missão a promoção da advocacia voluntária no Brasil como meio de proteção dos direitos humanos, expansão do acesso à justiça e fortalecimento da democracia:

Fundado em 2001, o Instituto Pro Bono existe para promover o direito de acesso à justiça de populações vulneráveis e organizações da sociedade civil, por meio do estímulo à advocacia voluntária e intercâmbio de conhecimentos jurídicos. As iniciativas do Instituto Pro Bono são desenvolvidas a partir de seu compromisso com o objetivo de desenvolvimento sustentável 16: promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.6

20. Ao longo de sua existência, o Instituto Pro Bono institucionalizou a prática da advocacia voluntária enquanto ferramenta de proteção não só de direitos humanos, mas também de liberdades fundamentais de indivíduos e grupos vulneráveis, firmando parceria para atuação na sua defesa.

21. Dentre as finalidades do Instituto Pro Bono, está previsto no art. 2º, de seu Estatuto Social que ele poderá desenvolver as seguintes atividades:

IV–Defesadedireitosfundamentaisedointeressepúblico:• Estimulara realizaçãodeparceriasentreorganismospúblicos,organizaçõesnãogovernamentaiseescritóriosdeadvocacia,paraadefesadedireitosedointeressepúblico;• Fomentaradefesadedireitosdapessoahumanaedointeressepúblico,podendoinclusiveserautoraemprocessojudicial,comoobjetivodealterarpráticasereformulara

5http://www.conectas.org/pt/acoes/stf-em-foco6http://www.probono.org.br/instituto.asp

atuação de instituições de forma a ampliar a garantia dos direitos e a consolidação doEstadoDemocráticodeDireito.

22. Restam, desde modo, devidamente demonstrados os requisitos necessários para a admissão da presente manifestação na qualidade de amicus curiae, quais sejam, relevância da matéria discutida, a representatividade do postulante e sua legitimidade.

III. OBJETO DA PRESENTE DEMANDA

23. A presente ação civil pública tem como objetivo, além da concessão liminar da tutela

antecipada, a dispensa do pagamento de taxas para fins de requerimento de concessão de residência temporária a estrangeiros que atendam aos seguintes critérios: a) sejam economicamente hipossuficientes, aceitando-se como prova da vulnerabilidade econômica a declaração de hipossuficiência; b) tenham ingressado em território brasileiro por via terrestre; e c) sejam nacionais de países fronteiriços ainda não abrangidos por Acordo de Residência para Nacionais dos Estados Partes do Mercosul e Países Associados.

24. Tendo em vista que o tema é de extrema relevância, a organização Conectas Direitos

Humanos e o Instituto Pro Bono, que ora se manifestam na qualidade de amicus curiae, oferecem, nesta oportunidade, argumentos em favor da concessão antecipada dos efeitos da tutela pretendida e do julgamento pela TOTAL PROCEDÊNCIA da presente Ação Civil Pública, pelas razões a seguir expostas.

IV. CONTEXTO: DIREITO DE ACESSO À DOCUMENTAÇÃO MIGRATÓRIA

25. Internacionalmente o acesso à documentação migratória se coloca no contexto do acesso a direitos fundamentais, com especial atenção a dois conjuntos amplos de situações: 1) situações humanitárias em sentido amplo, que englobam conflitos, desastres e perseguições; e 2) outras situações decorrentes de radicais assimetrias econômicas entre o peso das exigências documentais e as capacidades demonstradas pelas pessoas para fazer face a tais exigências em consonância com a manutenção de seu mínimo para sobrevivência - seja em virtude de circunstâncias pontuais, seja em virtude de agravados quadros de falência econômica e social nos territórios de origem desses deslocamentos. De forma abrangente, a doutrina internacional qualifica os deslocamentos que compartilham esses traços como migração de sobrevivência, ou survival migration7.

26. A partir desses diferentes países, blocos regionais e organismos internacionais se

esforçam por assegurar que a efetividade dos direitos fundamentais dos migrantes, particularmente aqueles envolvidos em contextos de vulnerabilidade permanente ou momentaneamente agravada por quadros de perseguição e grave e generalizada violação de direitos humanos, tenham acesso efetivo à proteção e a chances de recuperação das violências já sofridas.

27. É dentro deste contexto mais amplo que a manutenção de barreiras documentais ao

pleno exercício da cidadania se mostram perversas, sendo reconhecidas como entraves que podem ser afastados sob o manto dos princípios humanitários internacionais e das próprias bases dos processos de cooperação e integração

7LESTEREve.Socio-economicrights,humansecurityandsurvivalmigrants:Whoserights?Whosesecurityin:EDWARDS,Alice;FERSTMAN,Carla.HumanSecurityandNon-Citizens.Cambridge,2010,p.314.

regional, quando não das Constituições e fundamentos dos Estados Nacionais democráticos contemporâneos.

28. Dentre os principais obstáculos para a regularização documental estão a superação

de barreiras burocráticas e os custos financeiros por vezes associados à regularização do status administrativo migratório. Este breve relato se atém à supressão dos custos financeiros da documentação básica migratória, reconhecendo sua centralidade para o exercício da cidadania e de direitos fundamentais básicos por populações e grupos migrantes.

V. DISPOSIÇÕES DE DIREITO INTERNO

29. No Brasil, a despeito da cultura jurídica rotineiramente associar o ainda vigente

Estatuto do Estrangeiro (Lei n. 6.815/1980) à impossibilidade de aplicação de mecanismos de supressão de barreiras à documentação migratória, especialmente os custos considerados elevados dos processos de autorização de residência e emissão da Cédula de Identidade do Estrangeiro, é pertinente chamar atenção para os caminhos legais já enxergados e aplicados a situações envolvendo tanto o reconhecimento de razões humanitárias nos contextos migratórios, como motivos de vulnerabilidade e hipossuficiência econômica.

30. Inicialmente, a própria Constituição Federal brasileira estabelece no seu Art. 5º a

gratuidade dos atos inerentes à cidadania, que deve ser entendida não apenas de forma ampla, como também de forma não-discriminatória por motivos de nacionalidade, como prescrito no próprio caput do art. 5º:

LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei: (Vide Lei nº 7.844, de 1989) a) o registro civil de nascimento; b) a certidão de óbito; LXXVII - são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania. [grifo nosso]

31. Além das referências já feitas à moldura regional interamericana, o próprio Estatuto do

Estrangeiro remete a essa interligação com a moldura constitucional, o que não poderia ser diferente:

Art. 95. O estrangeiro residente no Brasil goza de todos os direitos reconhecidos aos brasileiros, nos termos da Constituição e das leis. (Lei 6.815/1980) [grifo nosso]

32. Constituição Federal que, ao ser interpretada pelo Judiciário, já teve, igualmente, os

efeitos da gratuidade dos documentos regulada na Lei n. 9265/1996 ampliada por similitude às pessoas migrantes:

“INTERNACIONAL. RENOVAÇÃO DE PEDIDO DE PERMANÊNCIA NO PAÍS. COBRANÇA DE TAXA. INSUFICIÊNCIA ECONÔMICA DO ESTRANGEIRO. ISENÇÃO. POSSIBILIDADE. 1. Cinge-se a presente lide a respeito da possibilidade de isenção de taxa cobrada ao autor em virtude de renovação de pedido de permanência no país. Tal isenção é pleiteada em razão de alegada insuficiência econômica do estrangeiro para realizar o pagamento. 2. Ainda que não haja previsão legal de isenção para o caso em comento, cabe ao Poder

Judiciário analisar se houve respeito aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade na realização de atos administrativos. 3. Não se configura razoável a cobrança da referida taxa, em razão de o pagamento desta ser prejudicial ao sustento do autor e de sua família, constituída no Brasil, e da qual seria afastado caso lhe fosse negada a possibilidade de renovar seu visto. Há que se respeitar o disposto no art. 5º. XXXIV, da CF, bem como o art. 1º da Lei nº 9.265/96. 4. Apelação e remessa oficial improvidas.”8

VI. DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

33. A ordem internacional em seus documentos fundadores e de mais ampla vigência entre países, que refletem em conjunto um acervo comum e partilhado de expectativas jurídicas, elege o acesso a direitos fundamentais como prioritário. No caso da Declaração Universal dos Direitos do Homem, por exemplo, a ideia da possibilidade de se locomover e de se assentar dentro das fronteiras dos países é registrada como uma dessas dimensões jurídicas fundamentais:

Artigo XIII 1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. 2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar. Artigo XIV 1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.

34. O direito de residência é justamente mediado pelos diferentes regramentos e

instituições migratórias, que podem ser organizados pelos diferentes países, em respeito a princípios orientadores de solidariedade, manifestados por exemplo, mas não unicamente, no direito de solicitar asilo. Este, motiva a Convenção sobre Refúgio de 1951, o Protocolo sobre o Status de Refugiados de 1967 e uma série de outros documentos a eles relacionados.

35. Essa carga normativa acompanha o Direito Internacional, que impele o

reconhecimento de certas situações como de excepcional interesse humanitário. Essas situações encontram repercussões jurídicas e políticas concretas e variadas, por exemplo, seguindo o imperativo da ajuda humanitária financeira, a intervenção humanitária com recortes bélicos e de manutenção da paz, e, com destaque entre outras formas, na recepção de pessoas e populações afetadas por conflitos, graves conturbações institucionais, vulnerabilidades extremas provocadas pelo homem ou pela natureza e diferentes formas de perseguição.

36. E mais expressamente, como articulado no Pacto Internacional sobre Direitos Civis e

Políticos, internalizado no Brasil pelo Decreto n.º 592, de 6 de julho de 1992, os Estados se comprometem a preservar o exercício dos direitos civis e políticos, inclusive quando não houver medidas legislativas preexistentes, vinculando os Estados a uma ação corretiva, aplicável às hipóteses de migração de sobrevivência em análise:

ARTIGO 2

8 TRF5 - PROCESSO: 00117270720124058100, APELREEX29370/CE, RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELONAVARRO,TerceiraTurma,JULGAMENTO:10/06/2014,PUBLICAÇÃO:DJE16/06/2014-Página151.

1. Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a respeitar e garantir a todos os indivíduos que se achem em seu território e que estejam sujeitos a sua jurisdição os direitos reconhecidos no presente Pacto, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer condição. 2. Na ausência de medidas legislativas ou de outra natureza destinadas a tornar efetivos os direitos reconhecidos no presente Pacto, os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a tomar as providências necessárias com vistas a adotá-las, levando em consideração seus respectivos procedimentos constitucionais e as disposições do presente Pacto. 3. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a: a) Garantir que toda pessoa, cujos direitos e liberdades reconhecidos no presente Pacto tenham sido violados, possa de um recurso efetivo, mesmo que a violência tenha sido perpetra por pessoas que agiam no exercício de funções oficiais; b) Garantir que toda pessoa que interpuser tal recurso terá seu direito determinado pela competente autoridade judicial, administrativa ou legislativa ou por qualquer outra autoridade competente prevista no ordenamento jurídico do Estado em questão; e a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; c) Garantir o cumprimento, pelas autoridades competentes, de qualquer decisão que julgar procedente tal recurso. [grifo nosso]

37. Em articulação direta com esse acervo de direitos, o Pacto Internacional sobre Direitos

Econômicos, Sociais e Culturais, também internalizado como lei no Brasil, prescreve:

ARTIGO 6º 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito ao trabalho, que compreende o direito de toda pessoa de ter a possibilidade de ganhar a vida mediante um trabalho livremente escolhido ou aceito, e tomarão medidas apropriadas para salvaguardar esse direito. 2. As medidas que cada Estado Parte do presente Pacto tomará a fim de assegurar o pleno exercício desse direito deverão incluir a orientação e a formação técnica e profissional, a elaboração de programas, normas e técnicas apropriadas para assegurar um desenvolvimento econômico, social e cultural constante e o pleno emprego produtivo em condições que salvaguardem aos indivíduos o gozo das liberdades políticas e econômicas fundamentais. ARTIGO 7º Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa de gozar de condições de trabalho justas e favoráveis, que assegurem especialmente: a) Uma remuneração que proporcione, no mínimo, a todos os trabalhadores: i) Um salário eqüitativo e uma remuneração igual por um trabalho de igual valor, sem qualquer distinção; em particular, as mulheres deverão ter a garantia de condições de trabalho não inferiores às dos homens e perceber a mesma remuneração que eles por trabalho igual; ii) Uma existência decente para eles e suas famílias, em conformidade com as disposições do presente Pacto; b) A segurança e a higiene no trabalho; c) Igual oportunidade para todos de serem promovidos, em seu Trabalho, à categoria superior que lhes corresponda, sem outras considerações que as de tempo de trabalho e capacidade; d) O descanso, o lazer, a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas, assim como a remuneração dos feridos. [grifos nossos]

38. Esses comandos asseguram uma dimensão de direito fundamental ao acesso aos

direitos de cidadania, especialmente seus aspectos civis e sociais, com pleno gozo das possibilidades de realização laboral e em outros domínios da vida. Tais direitos

são diretamente impactados pela existência de barreiras concretas de acesso à documentação básica de cidadania, como o registro civil para pessoas nacionais e a documentação migratória para pessoas migrantes nos territórios de acolhida.

VII. ENTENDIMENTO DE ÓRGÃOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS Sistema Interamericano de Direitos Humanos

39. Esse sentido claro de ampliação do escopo da proteção dos grupos de vulneráveis, em especial de grupos deslocados da proteção de seus países de origem por diversas razões, acompanha o espírito das normativas e declarações políticas seguidas pelos Estados da região latino-americana, como o brasileiro.

40. É o caso da Declaração de Cartagena, de 1984, que insta os países da região a

incorporarem, além das chamadas causas de fundado temor de perseguição clássicas do refúgio, também um princípio de proteção mais global envolvendo situações de graves e generalizadas violações de direitos humanos:

Terceira - Reiterar que, face à experiência adquirida pela afluência em massa de refugiados na América Central, se toma necessário encarar a extensão do conceito de refugiado tendo em conta, no que é pertinente, e de acordo com as características da situação existente na região, o previsto na Convenção da OUA (artigo 1., parágrafo 2) e a doutrina utilizada nos relatórios da Comissão Interamericana dos Direitos Humanos. Deste modo, a definição ou o conceito de refugiado recomendável para sua utilização na região é o que, além de conter os elementos da Convenção de 1951 e do Protocolo de 1967, considere também como refugiados as pessoas que tenham fugido dos seus países porque a sua vida, segurança ou liberdade tenham sido ameaçadas pela violência generalizada, a agressão estrangeira, os conflitos internos, a violação maciça dos direitos humanos ou outras circunstâncias que tenham perturbado gravemente a ordem pública.9 [grifo nosso]

41. Tal linha é reiterada por declarações regionais subsequentes que, partindo do núcleo

normativo do refúgio clássico, propõem uma extensão do chamado direito de asilo a hipóteses cada vez mais amplas e sobrepostas ao conceito inicialmente apresentado neste texto, referente às migrações de sobrevivência. Na Declaração de Brasília sobre proteção de pessoas refugiadas e apátridas nas Américas, de 2014, por exemplo, se sugere que os países da região estudem os efeitos da mudança climática e desastres naturais como uma vertente futura de ampliação desse conceito clássico10.

42. De modo geral, a mobilidade de migrantes e seu acesso a direitos, bem como a

supressão de barreiras aos direitos fundamentais, tem motivado um conjunto relevante de delineamentos da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), com o objetivo de esclarecer a aplicabilidade da Convenção Americana sobre Direitos Humanos nesses casos.

43. A Opinião Consultiva n. 18/2003 da Corte IDH11 estatui que o princípio de não-

discriminação inscrito na Convenção aborda e abarca a não-discriminação entre

9http://www.acnur.org/fileadmin/scripts/doc.php?file=fileadmin/Documentos/portugues/BD_Legal/Instrumentos_Internacionais/Declaracao_de_Cartagena10http://www.acnur.org/t3/fileadmin/Documentos/BDL/2014/9866.pdf 11http://bit.ly/2v6ywjl

nacionais e não-nacionais, tratando especificamente sobre a situação de migrantes não-documentados:

“Generalmente los migrantes se encuentran en una situación de vulnerabilidad como sujetos de derechos humanos, en una condición individual de ausencia o diferencia de poder con respecto a los no-migrantes (nacionales o residentes). Esta condición de vulnerabilidad tiene una dimensión ideológica y se presenta en un contexto histórico que es distinto para cada Estado, y es mantenida por situaciones de jure (desigualdades entre nacionales y extranjeros en las leyes) y de facto (desigualdades estructurales). Esta situación conduce al establecimiento de diferencias en el acceso de unos y otros a los recursos públicos administrados por el Estado”

44. O escopo de vigência tem, como prescrito na própria análise da Corte, alcance sobre

os países signatários da Convenção Americana:

60. Por estas razones, la Corte determina que todo lo que se señala en la presente Opinión Consultiva se aplica a los Estados Miembros de la OEA que han firmado indistintamente la Carta de la OEA, suscrito la Declaración Americana, la Declaración Universal, o han ratificado el Pacto Internacional de Derechos Civiles y Políticos, in dependientemente de que hayan o no ratificado la Convención Americana o alguno de sus protocolos facultativos.

45. Ao mesmo tempo, estabeleceu quando essa regra de igualdade entre nacionais e não-

nacionais poderia ou não ser cabível, bem como o imperativo superior de acesso a direitos mediado pelo respeito à dignidade da pessoa humana:

91. Por su parte, la Corte Interamericana estableció que: [n]o habrá, pues, discriminación si una distinción de tratamiento está orientada legítimamente, es decir, si no conduce a situaciones contrarias a la justicia, a la razón o a la naturaleza de las cosas. De ahí que no pueda afirmarse que exista discriminación en toda diferencia de tratamiento del Estado frente al individuo, siempre que esa distinción parta de supuestos de hecho sustancialmente diferentes y que expresen de modo proporcionado una fundamentada conexión entre esas diferencias y los objetivos de la norma, los cuales no pueden apartarse de la justicia o de la razón, vale decir, no pueden perseguir fines arbitrarios, caprichosos, despóticos o que de alguna manera repugnen a la esencial unidad y dignidad de la naturaleza humana.

46. Dessa forma, a moldura regional normativa nas Américas prevê aplicações nacionais

que podem embasar uma ação das autoridades públicas em situações de vulnerabilidade e risco à vida e à dignidade das pessoas, sendo indiferente se elas são nacionais do país de acolhida ou não.

Sistema Europeu de Direitos Humanos

47. Em caráter comparativo, também é relevante destacar como outro subsistema

normativo regional com acervo jurisprudencial robusto, incluindo sobre temas humanitários, se comporta diante de demandas concretas por acesso a direitos.

48. No contexto europeu, do qual o desenvolvimento do Direito Internacional

Interamericano é reflexo, compete à Corte Europeia de Direitos Humanos interpretar e promover a aplicação e conformidade normativa da ação dos Estados nacionais à

moldura normativa europeia, com destaque para a prevalência da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, de 1950.

49. Nesse sistema, há casos emblemáticos como G.R. vs. Países Baixos12 no qual se

discute, com fulcro na aplicação de normativa europeia que destaca a supremacia do acesso aos direitos fundamentais, afastou a cobrança de taxas migratórias que impediam a solicitação de residência migratória necessária para que uma pessoa migrante de origem afegã, o pleiteante do caso, se regularizasse após ter uma decisão de refúgio negada, mas ter um pedido de reunificação familiar aceito nos próprios Países Baixos. Dessa forma, a cobrança de taxa serviria como obstáculo à aplicação de dispositivo da Convenção Europeia que preza pela efetividade dos direitos, conforme interpretado pela Corte no caso em relação ao artigo 13 da Convenção Europeia:

Everyone whose rights and freedoms as set forth in [the] Convention are violated shall have an effective remedy before a national authority notwithstanding that the violation has been committed by persons acting in an official capacity. (citado diretamente de G.R. vs. Países Baixos)

50. O destaque se dá para a aplicação, na decisão, do afastamento da incidência de taxa

migratória, considerando que, mesmo havendo um trajeto burocrático nacional para pleitear alguma forma de isenção, este não seria inteiramente acessível. Em essência, a decisão afirma a lógica de que a proteção de direitos fundamentais pode ser prejudicada por barreiras documentais migratórias e que, mesmo nas situações em que algum nível de redução de taxas é permitido normativamente, caso ainda resultem barreiras de acesso, a aplicação do direito internacional regional pode ser utilizada para afastar esses obstáculos.

VIII. DIREITO COMPARADO: SELEÇÃO DE PAÍSES DA AMÉRICA DO SUL

51. No plano sul-americano, o reconhecimento de que as barreiras à documentação podem criar ou agravar quadros já seriamente afetados por vulnerabilidades subjetivas e por situações que apresentam demandas especiais de caráter humanitário muitas vezes já são expressamente previstas pelos poderes executivos, como parte de seu mandato de dar consecução aos princípios e regras internacionais e regionais com aplicabilidade e vigências ativas.

52. Tal é o caso da experiência recente da República do Peru que, por via de Decreto

(Decreto Supremo n. 206-83-EFC13), instala isenção de custos documentais quando eles representarem obstáculos à documentação de pessoas economicamente vulneráveis, ou quando forem pessoas refugiadas, asiladas, crianças e adolescentes, dentre outros casos:

En los casos de los extranjeros contratados por el Sector Público Nacional, becados, asilados y/o refugiados, la exoneración comprende también a los familiares que dependen económicamente de ellos. Asimismo, estarán exonerados de la Tasa Anual de Extranjería, los extranjeros Inmigrantes que comprueben ingresos mensuales menores a los sueldos y salarios mínimos vitales señalados por el Ministerio de Trabajo, correspondientes a la Provincia de Lima. (Decreto Supremo n. 206-83-EFC)

12http://hudoc.echr.coe.int/eng?i=001-10843613http://www.notariatambini.com/pdf/decreto-206-83.pdf

53. Ainda no Peru, durante discurso pelo feriado nacional, o presidente Pedro Pablo Kuczynski destacou a facilitação e ampliação da permissão temporal de permanência de cidadãos venezuelanos no Peru, baseada no compromisso com os esforços regionais para impedir o agravamento da crise política na Venezuela14.

54. No Uruguai, o certificado de residência é instrumento gratuito que possibilita atestar o

domicílio regular de estrangeiros no país, viabilizando o registro cívico nacional e conferindo direitos políticos em igualdade de condições15.

55. No Chile, a presidente Michelle Bachelet recentemente anunciou a criação de um visto

especial e gratuito que possibilitará regularizar a situação e crianças e adolescentes migrantes, assegurando pleno acesso à saúde e benefícios educacionais16.

56. Na Colômbia, foi divulgada a adoção de permissão especial de permanência a

nacionais da Venezuela, medida que se aplica a pessoas que tenham estejam com passaporte válido e que com permissão vencida para continuar no país. O requerimento de permissão especial é gratuito17.

IX. CONCLUSÃO

57. A presente manifestação como amicus curiae, tem por objetivo trazer a este mm. Juízo condições de dispor de todos os elementos informativos possíveis e necessários para resolução da presente controvérsia.

58. Os fatos trazidos na inicial demonstram que a adequada interpretação constitucional

possibilita o reconhecimento de imunidade de taxas para os estrangeiros migrantes hipossuficientes ou vulneráveis.

59. Nesse sentido, traz-se nesta manifestação entendimentos internacionais que

expressam normas de tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil, e que, por disposição expressa no art. 5º, parágrafo 2º da Constituição da República Federativa do Brasil, devem ser apreciadas pelo Poder Judiciário ao resolver a presente demanda.

60. Diante do exposto, a Conectas Direitos Humanos e o Instituto Pro Bono requerem

a sua admissão como amicus curiae na presente ação civil pública. 61. Reitera-se, ainda, o requerimento contido na inicial para reconhecer a procedência do

pedido, confirmando-se a liminar, de modo a dispensar do pagamento das taxas os estrangeiros economicamente hipossuficientes, que tenham ingressado no território brasileiro por via terrestre e sejam nacionais de país fronteiriço, para o qual ainda não esteja em vigor o Acordo de Residência para Nacionais dos Estados Partes do Mercosul e países associados, para fins de requerimento de concessão de residência temporária, aceitando-se como prova da vulnerabilidade econômica a declaração de hipossuficiência firmada pelo pleiteante, salvo se existir prova em contrário.

14“Perúamplíaelpermisotemporaldepermanenciaalosvenezolanos”.Disponívelem<http://bit.ly/2v7hh1x>15Maisinformaçõesemhttp://bit.ly/2v6BZ1i16“GobiernodeChileregularizarálasituacióndeniños,niñasyadolescentesmigrantesconunavisaespecial”.Disponívelem<https://www.mineduc.cl/?p=15184>.17“VenezolanosenColombiatendránpermisoespecialdepermanência”.Disponívelem<http://bit.ly/2v78hcJ>.

X. PEDIDO

62. Conectas Direitos Humanos e o Instituto Pro Bono requerem a sua admissão como amicus curiae na presente ação civil pública.

63. Caso não seja admitida a presente manifestação na qualidade de amicus curiae,

requer-se seu recebimento como memoriais. Termos em que, Pedem deferimento. De São Paulo para Boa Vista, Em 1º de agosto de 2017.

Rafael C. G. Custódio OAB/SP 262.284

Marcos Roberto Fuchs OAB/SP 101.663

Henrique H. A. de Souza OAB/SP 388.267

João Paulo Godoy OAB/SP 365.922

Jefferson R. Nascimento OAB/SP 383.307

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Processo Judicial Eletrônico

Justiça Federal da 1ª Região (1º grau)

Petição/Documento cadastrado com sucesso em 01/08/2017 18:08:54. Número do Processo: 1000432-51.2017.4.01.4200

Orgão Julgador: 2ª Vara Federal Cível e Criminal da SJRR Documento: Pedido de ingresso como Amicus Curiae

Tipo de Documento: Outras peças

Assinado por: RAFAEL CARLSSON GAUDIO CUSTODIOJuntado por: RAFAEL CARLSSON GAUDIO CUSTODIO

AUTORMINISTERIO PUBLICO DA UNIAODEFENSORIA PUBLICA DA UNIAO

RÉUADVOCACIA GERAL DA UNIÃOUNIÃO FEDERAL