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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA-G0
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS
Processo de Origem: 7092191.92.2011.8.09.0143
Ação Civil Pública Com Pedido Cominatório de Obrigação de Fazer
Agravante: Ministério Público do Estado de Goiás
Agravado: Município de São Miguel do Araguaia-GO
Origem: Comarca de São Miguel do Araguaia
RAZÕES DO AGRAVO DE INSTRUMENTO
Egrégio Tribunal,Eminente Relator,
Douta Procuradoria,
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, com
espeque no artigo 129, III, da Constituição da República, e no artigo 25, inciso IV,
alínea “b”, da Lei n.° 8.625/93, instaurou, no âmbito da Promotoria de Justiça de São
Miguel do Araguaia, o PPICP - Procedimento Preparatório de Inquérito Civil Público
n.° 005/2007, com o escopo de investigar eventuais irregularidades no Concurso
Público 001/2007 deflagrado pelo Município de São Miguel do Araguaia-GO e por
conseguinte aferir sobre o procedimento de nomeação e contratação de candidatos
aprovados no aludido certame seletivo, em virtude da ofensa ao artigo 37, caput, e
seus incisos II e V, da Constituição da República de 1988.
Emerge das provas produzidas na fase pré-processual,
que, através do Edital inscrito sob o Nº 01/2007 (doc anexo), o Município de São
Miguel do Araguaia, ainda no ano de 2007, realizou Concurso Público destinado a
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum,Setor Alto Alegre.Fone/FAX: 62 3364 1020
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selecionar candidatos para a constituição de Reserva Técnica e para o provimento de vagas existentes no seu quadro de pessoal, em conformidade
com o artigo 37, II, da Constituição Federal, mediante a publicação do Edital n.º 01,
de 16 de maio de 2007.
O Edital n.º 01/2007 (doc anexo) destinou-se ao
preenchimento de 258 vagas em diversos cargos, dentre eles o de professor,
conforme quadro sinótico descrito abaixo:
nº Cargo Vagas *
1 Agente de Combate a Endemias 15
2 Auxiliar de Serviços de Higiene e Alimentação 60
3 Auxiliar de Serviços de Saúde 15
4 Biomédico 3
5 Cirurgião – Dentista – Clínico Geral 6
6 Cirurgião – Dentista – Endodontia 1
7 Cirurgião – Dentista – Odontólogo Para Pacientes Com Necessidades Especiais
1
8 Enfermeiro 10
9 Farmacêutico 2
10 Farmacêutico - Bioquímico 2
11 Fisioterapeuta 4
12 Fonoaudiólogo 2
13 Médico Cardiologista 1
14 Médico Cirurgião Geral 3
15 Médico Clínico Geral 7
16 Médico Ginecologista/Obstetra 2
17 Médico Ortopedista/Traumatologista 1
18 Médico Pediatra 1
19 Psicólogo 3
20 Técnico em Enfermagem 34
21 Técnico em Radiologia 2
22 Assistente Social 2
23 Operador de Serviços Gerais 35
24 Professor III 46
TOTAL 258* Total de vagas incluindo às destinadas aos Portadores de Necessidades Especiais.
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As provas foram realizadas em 02 de dezembro de 2007,
sendo considerados aprovados e classificados os candidatos referidos no edital
08/2007, de 21 de dezembro de 2007. (doc. anexo).
Por sua vez, em 21 de dezembro de 2007 foi
homologado o concurso, dando publicidade através do Diário Oficial do Estado nº
20.280, publicado em 02 de janeiro de 2008 (doc anexo).
Antes de exaurimento do prazo de validade, o concurso
foi prorrogado por mais 01 (um) ano, mediante edição do Decreto Executivo
Municipal inscrito sob o nº 412/2009 com previsão para o término de sua validade
em 02/01/2011. (doc anexo).
Assim, desde a época da homologação do concurso,
vários candidatos aprovados e classificados foram nomeados, mas muitos
permaneceram sem a devida nomeação, tendo em vista que o Governo Municipal de
São Miguel do Araguaia-GO, acabou preterindo-os, lançando mão dos famosos
“contratos especiais”, permitindo o ingresso de pessoal no serviço público municipal
a margem do que preleciona os arts. 37, II e V, da CF.
Noticiando e confirmando a prática de contratações
irregulares, em prejuízo dos candidatos aprovados e classificados no concurso em
debate, uma comissão representativa dos candidatos classificados e aprovados no
mencionado concurso público, depois de aguardarem por um longo período a
nomeação e tendo em vista as inúmeras contratações precárias realizadas pelo
agravado e por conseguinte a proximidade com a expiração do prazo de validade do
certame, resolveram aportar-se no pier do ofício do Ministério Público na Comarca
de São Miguel do Araguaia-GO.
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Entrementes, formularam representação junto à
Promotoria de Justiça de São Miguel do Araguaia/GO, sendo inscrita sob o protocolo
de nº 2010629 de 07/12/2010, solicitando a adoção de providências no sentido de
evitar as nefastas contratações precárias e por igual maneira buscar compelir o
Município de São Miguel do Araguaia-GO a se abster da prática de efetuar
contratações precárias a margem da legislação pertinente, assim como ser
compelido a nomear os candidatos aprovados e aproveitar os candidatos
classificados no mencionado concurso, fato que culminou na juntada da
representação evidenciada, no Procedimento Preparatório de Inquérito Civil Público
005/2007, em razão da sua pertinência temática. (doc anexo).
Ocorre, que se apurou através do Procedimento
Preparatório de Inquérito Civil Público 005/2007 uma verdadeira burla a este
concurso público, por parte do Município agravado, em flagrante desrespeito às leis,
em especial à Constituição Federal, e aos princípios que regem a Administração
Pública.
Veja-se que tal situação foi objeto de representação
formulada por candidatos classificados no mencionado concurso público. (doc
anexo) e termos de declarações lançado no incluso Procedimento Ministerial (doc
anexo)
Não se vai aqui buscar provar a veracidade dessas
afirmações feitas nos mencionados Termos de Declarações, mesmo por não ser
esta a finalidade do presente agravo manejado, porém, em todas essas afirmações,
ela toca-se no cerne da questão (contratação ilegal de servidor público em
detrimento de candidato aprovado e classificado em concurso público), e isso só é
possível pelo fato de não se atender ao preceito constitucional constante do art. 37,
II, que exige a efetivação dos servidores públicos mediante a realização de
concursos.
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Obviamente, a não realização de concurso público, ou
sua realização e não obediência estrita, como no presente caso, acabam por
possibilitar as práticas clientelistas exaustivamente enfatizadas na petição inicial. No
caso vertente, os candidatos aprovados e classificados deveriam ter sido
convocados para a posse e devidamente efetivados ao invés de serem aviltados
pelo Governo Municipal de São Miguel do Araguaia-GO em priorizar as contatações
precárias em manifesto flagrante de burla constitucional.
Todavia, optou a Administração Pública por “contratar
servidores sob o abrigo de contratos temporários e precários”, situação esta
evidentemente ilegal. E pior, este tipo de procedimento, além de ilegal, possibilita
que servidores não concursados venham a ser “contratados”, como de fato ocorreu,
privilegiando os apadrinhados políticos que não foram aprovados e classificados no
concurso público.
Em verdade, foram e são eles contratados em razão da
necessidade do Município ter profissionais em seus quadros para a execução de
serviços públicos, dentre eles, o de promoção a educação e a saúde, tão relevante
para a sociedade, serviço estes essenciais, de forma que a necessidade em mantê-
las revela-se de forma contínua pelo concurso público e não eventual e/ou casual,
em homenagem ao Princípio da Continuidade do Serviço Público.
Agindo assim, usa o agravado de uma prática comum no
Brasil e contumaz neste município, que prestigia o clientelismo, em razão de
interesses políticos-pessoais, em detrimento das normas e da Constituição Federal.
Ao invés de dar posse aos aprovados e classificados,
investindo-os nos cargos, parte-se para a “contratação precária”. Isso dá uma
conotação de “favor” ao ato do Administrador Público, e torna o
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“contratado/beneficiado” vulnerável quanto ao seu “emprego”, e até mesmo sua
“subsistência”.
Abre-se assim espaço para manipulações, pressões, bem
como para a famigerada troca de favores, consubstanciada na manutenção do
emprego em troca do voto. Isso decorre do fato de se “dar um emprego” a quem
dele precisa, o que é muito bem usado pelos políticos brasileiros, e, como, não podia
ser diferente, tornou-se prática reiterada, corriqueira e festejada neste município.
Observa-se, que as provas edificadas, confirma tudo o
que foi consignado até agora quanto ao uso político das vagas no Serviço Público
Municipal, o que garante a continuidade da “malfadada prática” no decorrer do
tempo, inclusive em Gestões anteriores. Logo, dúvida não resta de que a
“contratação temporária” é uma opção política, clientelista e manifestamente
antijurídica.
Por sua vez, o concurso público tem por um dos
fundamentos exatamente o oposto, no caso, acabar com esta idéia de “favor”, já que
o aprovado investiu-se em cargo público através da sua meritocracia e do seu
próprio esforço, pois se preparou para obter a aprovação.
Por outro lado, a condição de efetivo lhe confere
estabilidade no cargo público, o que tem dois grandes aspectos: primeiro, o fato de
ter estabilidade no cargo, rompendo-se a dependência em relação ao Administrador
quanto a permanência no cargo, e com sua consequência, a garantia conferida ao
servidor de não submeter aos humores do gestor público, já que possui garantias
asseguradas pelo ordenamento jurídico.
Em razão das observações feitas, a investidura no cargo
público enfraquece as práticas clientelistas e, usando o jargão popular, o famoso
“toma lá, dá cá”, o que não agrada aquele Administrador oportunista e não
comprometido com os reais valores da sociedade.
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Claro também que os concursados são pessoas que
estão devidamente preparada para o exercício de cargo público, uma vez que
tiveram seus conhecimento testados. Nesse aspecto, impõe observar, que a título de
ilustração, é preciso pontuar, que dentre as vagas oferecidas no mencionado
concurso público, encontra-se uma das mais nobres e importantes, a de professor, demonstrando que a investidura no cargo de professor por intermédio de concurso
público representa qualidade de ensino e qualificação dos alunos, além de prestigiar
e valorizar a carreira do magistério público.
A ilegal prática de “contratação precária e temporária” traz
para o corpo docente do município pessoas cuja qualificação é no mínimo
questionável, ante a ausência de parâmetro quanto ao preparo destes profissionais.
Diante das informações prestadas foram requisitadas ao
Município São Miguel do Araguaia-GO a informação sobre a existência de
servidores contratados sem concurso público, sendo facilmente percebido que
existem vários servidores exercendo cargos públicos nesta municipalidade ao
arrepio da lei, conforme denota-se da documentação remetidas pela Srª Secretária
Municipal de Governo e Administração, a Srª. Enaity Alencar Parreira Veloso.(doc
anexo).
Na mesma linha, mediante requisição formulada pelo
Ministério Público a Secretária Municipal de Educação buscando levantar
informações sobre o quantitativo de contratações precárias, apontou que somente
em relação ao cargo de higiene e alimentação existem 22 pessoas sob abrigo de contratações precárias no exercício deste cargo em detrimento dos aprovados e classificados. (doc anexo) e de igual maneira, no tocante ao cargo de Professor,
foram informados que existem 20 pessoas que foram contratadas para ocuparem cargos de professores junto à Rede Municipal de Ensino. (doc
anexo) e duas pessoas que foram precariamente contratadas para ocuparem os
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cargos de enfermeira, sendo que uma delas (Bibiana Cristina Silva de Oliveira)
foi classificada no concurso em destaque e até o presente momento não foi
convocada, porém encontra-se sob abrigo de contrato precário. (doc anexo).
A despeito disso, convém registrar que a representação
formulada por uma comissão de candidatos ao mencionado Concurso Público,
inscrita sob o protocolo de nº 2010629 de 07/12/2010, trouxe a tona a informação de
que somente na Secretária de Educação existem 20 servidores exercendo ilegalmente o cargo de professor, sendo que alguns deles encontram-se no exercício ilegal do Magistério Público a mais de 03 (três) anos. (doc anexo), acrescendo-se a isso, o quantitativo de 57 pessoas que ocupam ilegalmente o cargo de operador de serviços gerais travestido de agente de serviços. (doc anexo).
Assim, restou comprovado que existem vagas a serem
preenchidas e que existe também orçamento para o pagamento dos nomeados,
situação que leva ao reconhecimento do direito subjetivo dos aprovados e
classificados à nomeação para os respectivos cargos ofertados no Concurso Público
01/2007.
Quando a ação foi proposta, o prazo de validade do
concurso estava na iminência de expirar-se, e, curiosamente só veio a ser
prorrogado após a propositura desta ação. Logo, diante do direito subjetivo dos
aprovados e classificados no concurso público e do perigo de demora em esperar a
boa vontade do Município de São Miguel do Araguaia/GO a nomear os candidatos
aprovados e aproveitar os classificados, a única solução vislumbrada pelo Ministério
Público para dirimir este conflito de interesse foi a via judicial, realizando um juízo
sobre o direito subjetivo dos concursados à nomeação.
Diante desse esquadro, o Parquet postulou a concessão de medida liminar inaudita altera pars determinando-se ao MUNICÍPIO DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA/GO que promova a imediata nomeação dos aprovados
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e classificados no concurso público, regidos pelo Edital n.º01/2007, e com
homologação publicada no Diário Oficial do Estado n.º 20.280, de 02 de janeiro de 2008, observando rigorosamente a ordem de classificação para os respectivos cargos, até o número das contratações precárias e designações realizadas para os cargos mencionado no referido edital, tomando-se como parâmetro o número de cargos ocupados por servidores contratados sem concurso, tendo em vista a gravidade do ferimento constitucional, sob o pena de multa diária de R$ 1.000,00 (um mil reais), a recair pessoalmente sobre o Gestor deste município, o Srº Ademir Cardoso dos Santos;.
Todavia, o MM Juiz de Direito de São Miguel do Araguaia,
na decisão ora recorrida, indeferiu a liminar pleiteada pelo Ministério Público, sob o
argumento de que para a concessão in limine do pedido, porquanto evidente
exceção aos princípios do contraditórios e da ampla defesa, faz se necessária a
verificação da urgência do provimento, ou seja, que este não possa aguardar o
deslinde final da actio sem prejuízo à parte autora, bem como a plausibilidade dos
fatos alegados.
Asseverou ainda, que no caso em censura, não
vislumbrou a necessária urgência. Isso porque os documentos digitalizados e
acostados nos autos virtuais demonstram que a situação inquinada de ilegal vem
ocorrendo há mais de três anos, ao passo que somente agora houve a propositura
da competente ação judicial. Assim, à míngua de perigo de dano pela demora, não
há falar em concessão de liminar. Inconformado com a r. decisão, não restou outra
alternativa a este órgão ministerial a não ser recorrer a este Ilustrado Juízo ad quem
para restabelecer o vigor e a força normativa da Constituição da República, com
especial relevância para o comando normativo insculpido em seu art. 37, II,
mediante a obtenção da liminar negada no juízo a quo.
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1. DOS PRESUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE
1.1. Tempestividade
De início, convém pontuar que, nos termos do art. 522,
caput, c/c art. 188 do Código de Processo Civil, o Ministério Público goza da
prerrogativa de ter o prazo recursal em dobro, o que, no caso do agravo de
instrumento, totaliza 20 dias para interposição.
Assim, intimado da decisão ora atacada no dia 13 de
junho de 2011, o prazo recursal do Parquet só começou a fluir em 14 de junho e se
expira em 03 de julho. Portanto, tempestiva a presente irresignação.
1.2. Legitimidade
A legitimidade recursal do Ministério Público decorre da
permissão expressamente concedida pelo artigo 499 e seu § 2º, do Código de
Processo Civil.
1.3. Interesse
O interesse recursal mediato do Ministério Público deriva
do próprio ordenamento constitucional, que, no art. 127, caput, lhe confiou a missão
de defender a ordem jurídica, o regime democrático, o interesse público e os direitos
sociais e individuais indisponíveis.
Já o interesse recursal imediato do Parquet, na hipótese
em comento, repousa no fato de a decisão hostilizada ter indeferido o pedido de
concessão de medida liminar inaudita altera pars, prorrogando a ocorrência da
lesão ao patrimônio público sob o prisma imaterial, consentindo com a prática das
nefastas contratações precárias de servidores em detrimento de candidatos
aprovados e classificados no aludido certame seletivo, em manifesta violação ao art.
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37, II e V, da CF/1988, cuja defesa, sob a perspectiva do interesse público primário,
compete ao Ministério Público.
1.4. Adequação
De acordo com o artigo 522, caput, do Código de
Processo Civil, “das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez)
dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte
lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação
e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será admitida a
sua interposição por instrumento”.
Com efeito, a decisão hostilizada, que indeferiu
concessão de medida liminar inaudita altera pars, é suscetível de causar grave
lesão de difícil reparação, por postergar, de forma desarrazoada, uma situação de
flagrante inconstitucionalidade, viabilizando a ocorrência da lesão ao patrimônio
público sob o prisma imaterial, consentindo e perpetuando com a prática das
nefastas contratações precárias de servidores em detrimento de candidatos
aprovados e classificados no aludido certame seletivo, em manifesta violação ao art.
37, II e V, da CF/1988.
Assim, adequada é a pretensão recursal ora reclamada.
1.5. Dos requisitos específicos do agravo
Conforme estatui o artigo 524, III, do CPC, o agravo de
instrumento deve trazer o nome e o endereço completo dos advogados constantes
do processo.
O cumprimento deste requisito, encontra-se devidamente
satisfeito, conforme infere-se da cópia do instrumento procuratório.
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Noutro ângulo, nos moldes do artigo 525 do CPC, o
presente Agravo de Instrumento está instruído com as seguintes peças:
1) cópia da petição inicial e dos principais elementos
probatórios que a instruíram. Nesse aspecto, deve registrar, que em razão deste
agravo estar sendo interposto na modalidade virtual, todo as provas edificadas pelo
Ministério Público podem ser visualizadas em sua integralidade, tendo em vista que
foram digitalizadas e acompanham o caderno probatório anexado na inicial.
2) cópia da decisão agravada;
3) certidão de intimação do Ministério Público. Em relação
ao cumprimento desta exigência, muito embora o art. 525, I, do CPC, estabeleça
que a petição do agravada deva ser instruída com certidão da respectiva intimação,
em se tratando de autos virtual, tal exigência encontra-se devidamente satisfeita
pelo próprio sistema projudi, que em seu campo denominado movimentação
processual, acaba por disponibilizar todo histórico da movimentação processual,
permitindo, inclusive, que a informação disponibilizada seja precisa e crível.
2. DO MÉRITO
De início, impõe-se observar que a pretensão recursal
cinge-se à demonstração de que os requisitos para a concessão da medida liminar
são manifestos. Vejamos.
Ao contrário do que se entendeu na sentença hostilizada,
patente o requisito da verossimilhança das alegações contidas na inicial, uma vez
que o expediente praticado pelo agravado, consistente na contratação precária de
servidores em nítida preterição aos candidatos aprovados e classificados no aludido
concurso, configura violação aos princípios da Legalidade, impessoalidade e
moralidade insculpidos no caput do art. 37, bem como afronta o preceito contido no
art. 37, II e V, da CR/1988, que estabelece, como regra geral, a obrigatoriedade de
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se realizar a investidura em cargo ou emprego público mediante a aprovação prévia
em concurso público de provas ou de provas títulos.
Não obstante isso, muito embora o douto juízo singular
tenha ventilado em sua decisão que não vislumbrou a necessária urgência para a
concessão do provimento liminar, ao passo que a situação inquinada de ilegal vinha
ocorrendo há mais de (03) três anos e somente agora houve a propositura da
competente ação judicial, insta esclarecer, que, data venia, tal alegação
encontrando-se destoada da realidade fática, como adiante demonstraremos.
Não custa rememorar, que quando a ação foi proposta, o
prazo de validade do concurso estava na iminência de expirar-se, e, curiosamente
só veio a ser prorrogado após a propositura desta ação. Logo, diante do direito
subjetivo dos aprovados e classificados no concurso público e do perigo de demora
em esperar a boa vontade do Município de São Miguel do Araguaia/GO a nomear os
candidatos aprovados e aproveitar os classificados, a única solução vislumbrada
pelo Ministério Público para dirimir este conflito de interesse foi a via judicial,
realizando um juízo sobre o direito subjetivo dos concursados à nomeação.
Por sua vez, em 21 de dezembro de 2007 foi
homologado o concurso, dando publicidade através do Diário Oficial do Estado nº
20.280, publicado em 02 de janeiro de 2008 (doc anexo).
Antes de exaurimento do prazo de validade, o concurso
foi prorrogado por mais 01 (um) ano, mediante edição do Decreto Executivo
Municipal inscrito sob o nº 412/2009 com previsão para o término de sua validade
em 02/01/2011 e por conseguinte prorrogado até o dia 02/02/2012. (doc anexo)
Ocorre, que as contratações precárias realizadas pelo
Município Agravado somente passaram a ganha relevo no ano de 2010. Tanto é
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verdade que a representação dirigida pela comissão representativa dos candidatos
aprovados e classificados somente aportou nesta Promotoria de Justiça no final de
2010, após vários candidatos aprovados e classificados terem formulados
requerimentos de índole administrativa buscando efetivarem as suas nomeações
terem sido ignorados pelo agravado.
Isso porque, o município agravado, por intermédio do seu
gestor, além de quedar inerte sobre os pedidos formulados pelos candidatos,
continuou lançando mão dos nefastos contratos precários.
Tal circunstância dificultou a aferição e fiscalização pelos
expectadores no tocante as contratações efetuadas pelo município agravado, ante a
ausência de diário oficial no âmbito desta prefeitura e mediante todos os artifícios
engendrados pelo gestor em dificultar o acesso sobre as nomeações por ele
realizadas, com vistas a impedir que os candidatos pudessem imprimir controle de
fiscalização e por conseguinte bater as portas do judiciários mediante negativa
administrativa em materializar as nomeações postuladas.
Desta maneira, ao contrário do alegado pelo douto juízo
singular, esta situação não vinha se perdurando por mais de 03 (três) anos. Do
contrário, ela veio a se acentuar no ano de 2010, sendo que não custa rememorar
que durante o prazo de validade do concurso, o candidato possui mera expectativa
de direito que se convola em direito líquido e certo no momento em que a
administração pública lança mão dos contratos precários.
Assim, tendo em vista a possibilidade de expirar o prazo
de validade do mencionado concurso, uma comissão representativa aportou no pier
desta Promotoria de Justiça final do ano de 2010 com o firme propósito de buscar
combater esta malfadada prática de contratações precárias, como forma de
assegurar a higidez do art. 37, II, da CF/1988, o que culminou na ajuizamento da
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evidenciada ação civil pública tão necessária na busca pela moralização das
contratações realizadas pelo governo municipal de São Miguel do Araguaia-GO.
Veja-se, que o entendimento esposado pelo culto juízo
singular para denegar o pedido de natureza liminar, ao argumento de que não
vislumbrou urgência necessária ao seu deferimento, acaba por permitir que o
agravado continue violando a constituição em seu art. 37, II, da CF/1988 e de forma
deliberada atenda aos seus caprichos políticos promovendo contratações precárias
em detrimento dos candidatos aprovados e classificados no aludido certame
seletivo, provocando o que Karl Loewenstein denominou de erosão da consciência
constitucional: desiste-se de cumprir e conferir aplicabilidade à Constituição, esvaziando sua força jurídica.
Noutro vértice, ainda convém registrar, que conforme o
disposto no edital nº 01, de 16 de maio de 2007, o Concurso Público regulamentado
por este edital, destina-se a selecionar candidatos para a constituição de Reserva Técnica e para o Provimento de vagas existentes no Quadro de Pessoal da
Prefeitura de São Miguel do Araguaia-GO.
Desta forma, é perfeitamente possível o aproveitamento
dos candidatos classificados, pois o item 20 do mencionado edital, cujo título ficou
assim: Das Disposições Finais, em seu sub item 20.6, preleciona que o candidato
classificado permanecerá na Reserva Técnica do Concurso, podendo ser convocado
durante o período de validade do mesmo, de acordo com a necessidade e o
interesse do Município de São Miguel do Araguaia-GO.
Assim, mesmo que não houvesse tal previsão expressa,
não haveria nenhum óbice legal ao aproveitamento dos classificados, que o diga,
com expressa previsão e mediante necessidade do serviço público, pois ao contratar servidor mediante contrato precário em detrimento dos candidatos
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aprovados e classificados, ficou patente a necessidade do serviço público e a disponibilidade financeira para o custeio da remuneração dos servidores.
Noutro vértice, após a contextualização fática, necessário
pontuar, que na atual conjuntura doutrinária e jurisprudencial já não encontra mais
ressonância e respaldo a tese comumente defendida pelos gestores públicos, que
os candidatos aprovados fora do número de vagas estabelecidas no Edital, não
podem ser nomeados, ao falso argumento de que esses candidatos não possuem
direito líquido e certo à nomeação, devendo estar adstrita ao mero juízo de
conveniência e oportunidade do Gestor Público responsável pela realização do
Concurso Público. Essa tese, encontra-se rechaçada pela moderna construção
jurisprudencial dos Tribunais Superiores.
Ainda que a nomeação dos candidatos aprovados fora do
número de vagas deva ocorrer nas hipóteses em que as nomeações não foram
integralmente preenchidas pelos candidatos aprovados e classificados, oportuno
registrar que, in casu, o direito desses candidatos em serem nomeados encontra-se
amparado pela construção jurisprudencial e doutrinária hodierna, conforme se
demonstrará.
Nesse ponto, merece esclarecimento que o Município de
São Miguel do Araguaia-GO deveria convocar e nomear os candidatos aprovados e
classificados no aludido concurso, ao invés de lançar mão dos famosos contratos
precários.
Ressalta-se que a situação do Município de São Miguel
do Araguaia é grave, porquanto não bastasse o número excessivo de
comissionados, ainda não convoca os candidatos do concurso realizado no ano de
2007.
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A desídia do Governo Municipal de São Miguel do
Araguaia-GO está fartamente demonstrada nos autos, sendo inúmeras as funções
desempenhadas por servidores comissionados que são típicas dos cargos efetivos
objeto do concurso público, o que, por si só, constitui fraude a obrigatoriedade
constitucional do concurso público.
Assim, diante da contratação ilegal de servidores
comissionados por esta municipalidade, não há dúvidas da necessidade de
ocupação dos cargos públicos, bem mesmo de que o Município de São Miguel do
Araguaia-GO possui disponibilidade financeira para tanto. Destarte, não subsiste
razão plausível para que o município agravado se negue a nomear os candidatos
aprovados e classificados no concurso público.
In casu, o direito subjetivo à nomeação dos candidatos
aprovados e classificados no concurso público se dá sob dois enfoques: primeiro
pela vinculação que se submete a Administração Pública em preencher os cargos
disponibilizados no concurso público e, segundo, pela obrigatoriedade de se nomear
candidatos aprovados e classificados em concurso público em face da existência de
contratos a título precário firmados pela Administração Pública fora das hipóteses
autorizadas por lei.
No primeiro caso, o Superior Tribunal de Justiça por
reiteradas ocasiões manifestou-se da seguinte forma:
RECURSO ORDINÁRIO – MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO
PÚBLICO. CITAÇÃO DOS DEMAIS CANDIDATOS. DESNECESSIDADE –
OMISSÃO QUANTO À NOMEAÇÃO DE SERVIDOR CLASSIFICADO.
CANDIDATOS REMANESCENTES APROVADOS. CARGOS VAGOS.
NOMEAÇÃO. ATO VINCULADO. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. DIREITO
LÍQUIDO E CERTO. 1. A Administração Pública só pode ser exercida em
conformidade com a lei. A atividade administrativa consiste na
expedição de atos infralegais e, portanto, complementares à lei. 2 . O
candidato em concurso público têm assegurado o direito à nomeação, Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum,Setor Alto Alegre.
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se aprovado dentro do limite de vagas previsto no edital, em face do
disposto em lei estadual. O provimento no cargo, na hipótese dos
autos, não consiste em mera expectativa de direito, mas em ato
vinculado à clara e expressa determinação legal. 3. Na espécie, o direito
atribuído aos candidatos classificados dentro do número de vagas há
de ser deferido aos demais aprovados, diante da impossibilidade de
serem providas as vagas com os candidatos classificados, desde que
respeitada a ordem de classificação. 4. A Administração não pode
deixar de prover as vagas, nomeando os candidatos remanescentes,
depois da prática de atos inequívoco, a necessidade de preenchimento
de vagas. Recurso provido.” (STJ, 6ª Turma, RMS 21.308/MG, rel.
Ministro Paulo Medina, julgado em 05.09.2006, DJ 02.10.2006, p. 314).
(Destacou-se).
No voto condutor do Acórdão acima transcrito, o Relator
Ministro Paulo Medina prestou as seguintes considerações pertinentes a hipótese
ora tratada, verbis:“Conforme consta no relatório, logo após a data da homologação do
concurso, a Administração nomeou seis candidatos. Cinco deles na
listagem geral e um portador de deficiência. Desses, apenas uma
encontra-se empossada no cargo. Assim, é forçoso reconhecer que há
vagas não providas que deverão ser preenchidas pelos candidatos
remanescentes.”
E continuou:“ Entendo que há similitude entre as situações postas à apreciação do
Judiciário, pois, na espécie dos autos, embora não tenha surgido novas
vagas, dos candidatos aprovados dentro do limite das vagas, somente
um permanece efetivamente no cargo. A Administração, além disso,
demonstrou a necessidade de provimento dos cargos, ao empossar, ou
tentar empossar, os seis candidatos aprovados nos limites das vagas.
Tais fatos têm o condão de transmudar a mera expectativa de direito em
direito subjetivo.”
No mesmo sentido, a melhor Doutrina por Celso Antônio Bandeira de Mello1, ao tratar em sua obra acerca da nomeação candidatos
aprovados em concurso público, ensina que:
1Curso de Direito Administrativo, Malheiros, 15ª ed. p. 259Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum,Setor Alto Alegre.
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“Como consequência dessa prioridade, a Administração só com eles
poderá preencher as vagas existentes dentro do seu período de
validade, quer já existissem quando da abertura do certame, quer
ocorridas depois. É certo, outrossim, que não poderá deixá-lo escoar
simplesmente como meio de evadir ao comando de tal regra, nomeando
em seguida os aprovados em concurso público sucessivo, que isso
seria um desvio de poder. Com efeito, se fosse possível agir desse
modo, a garantia do inciso IV do art. 37 da CR/88 não valeria nada,
sendo o mesmo uma letra morta”. (Sem ênfases no original)
Conclui-se, portanto, que exteriorizada a vontade de
contratar da Administração Pública, o número de vagas por ela ofertado deverá ser
preenchido em razão de sua vinculação ao motivo que justificou a realização do
concurso público.
Aplicável ao caso, portanto, a Teoria dos Motivos Determinantes que na doutrina de José dos Santos Carvalho Filho2 pode ser
compreendida da seguinte forma:
“Desenvolvida no direito francês, a teoria dos motivos determinantes
baseia-se no princípio de que o motivo do ato administrativo deve
sempre guardar compatibilidade com a situação de fato que gerou a
manifestação da vontade. E não se afigura estranho que se chegue a
essa conclusão: se o motivo se conceitua como a própria situação de
fato que impele a vontade do administrador, a inexistência dessa
situação provoca a invalidação do ato.
Acertada, pois, a lição segundo a qual 'tais motivos é que determinam e
justificam a realização do ato e, por isso mesmo, deve haver perfeita
correspondência entre eles e a realidade.” (Grifo conforme texto
original).
Quanto ao segundo enfoque - omissão na nomeação de
candidatos aprovados em concurso público em benefício de contratações precárias
2Manual de Direito Administrativo. Aut e Op Cit.. Editora Lumen Juris, 17ª Ed. 2007. p. 107/108
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– Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves3, na consagrada obra Improbidade
Administrativa, prestam as seguintes considerações:
“Considerando que a discricionariedade reside na liberdade de aferir a
real necessidade da nomeação para a satisfação do interesse público,
não guardando similitude com o arbítrio que há muito corrói a
administração pátria, afigura-se evidente que é defeso ao administrador
contratar agentes outros, concursados ou não, com vínculo temporário
ou permanente, para desempenhar a atividade que deveria ser
executada pelos aprovados no concurso e que ainda não foram
nomeados. Neste caso, a contratação de agentes que não participaram
do certame, durante o lapso de validade deste, torna evidentes, a um só
tempo, a necessidade de que novos servidores sejam contratados e o
arbítrio do administrador ao não nomear aqueles que haviam sido
aprovados. Verificada esta situação, a expectativa dos aprovados se
transmuda em direito líquido e certo, o que, além de tornar cogente a sua nomeação, legitima o Ministério Público a pleitear tal
providência em juízo, já que afastada a discricionariedade inerente a atos dessa natureza.”
E continuam:
“Os cargos em comissão são criados por lei e destinam-se apenas às
atribuições de direção, chefia e assessoramento. Devem ser criados em
número compatível com a necessidade do serviço e a disponibilidade
orçamentária do ente responsável pelo pagamento de sua remuneração,
sendo vedado exercer atividades outras que não as referidas na
Constituição.
Havendo nítido desequilíbrio entre o número de cargos em comissão e
as atividades a serem desempenhadas, ou mesmo a superioridade em
relação aos cargos de provimento efetivo, ter-se-á a
inconstitucionalidade da norma que os instituiu, restando violados os
princípios da proporcionalidade e da moralidade”. (Destacou-se).
No mesmo sentido, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, no Mandado de Segurança nº 16662-6/101, sob a relatoria do 3 Improbidade Administrativa. 3ª Ed. Lumen Juris. Rio de Janeiro 2006. p. 369/370
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Desembargador Rogério Arédio Ferreira, proferiu o Acórdão, cuja ementa segue
abaixo transcrita:“MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. CONVOCAÇÃO.
RESERVA TÉCNICA. CONTRATAÇÃO DE SERVIDORES A TÍTULO
PRECÁRIO. 1 – A jurisprudência é pacífica no sentido de que a
aprovação em concurso público gera mera expectativa de direito a
nomeação, competindo a administração, na seara de seu poder
discricionário, nomear os candidatos aprovados de acordo com a sua
conveniência e oportunidade. 2 – A mera expectativa se transforma em
direito subjetivo, com a imposição a administração de nomear os
aprovados dentro do prazo de validade do concurso, caso tenha havido
preterição na ordem classificatória ou contratação a título precário para
preenchimento de vagas existentes, em detrimento da nomeação dos
candidatos aprovados em concurso público válido. Segurança
concedida”. (TJGO – 3ª Câmara Cível. DJ 224 de 26/11/2008. Rel. Des.
Rogério Arédio. Processo 200801343458). (Destacou-se).
Destarte, não há dúvidas de que quando candidatos
aprovados e classificados em concurso público forem preteridos com a contratação
de servidores comissionados para desempenharem as funções que lhes são típicas,
a discricionariedade do ato administrativo “transmuda-se” para ato vinculado, e a
expectativa de direito à nomeação em direito subjetivo.
Ademais, a contratação precária de servidores pelo
Município Réu além de configurarem ofensa à Carta Constitucional, em virtude de
caracterizarem transgressão aos princípios da legalidade, da eficiência e da
moralidade, constitui fraude ao concurso público, passível de penalização dos
agentes públicos às sanções enumeradas no art. 11 da Lei 8.429/92, circunstância que inclusive já está sendo objeto de apuração por parte do ofício do Ministério Público no âmbito da Comarca de São Miguel do Araguaia-GO. Veja
se:“EMENTA - STJ - ADMINISTRATIVO. CONTRATAÇÃO DE SERVIDOR
SEM CONCURSO PÚBLICO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. LESÃO
A PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS. AUSÊNCIA DE DANO AO ERÁRIO.
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1. A lesão a princípios administrativos contida no art. 11 da Lei nº
8.429/92, em princípio, não exige dolo ou culpa na conduta do agente
nem prova da lesão ao erário público. Basta a simples ilicitude ou
imoralidade administrativa para restar configurado o ato de
improbidade. Caso reste demonstrada a lesão, o inciso III do art. 12 da
Lei nº 8.429/92 autoriza seja o agente público condenado a ressarcir o
erário.
2. A conduta do recorrente de contratar e manter servidores sem
concurso público na Administração amolda-se ao caput do art. 11 da Lei
nº 8.429/92, ainda que o serviço público tenha sido devidamente
prestado.
Logo, o direito subjetivo à nomeação dos candidatos
aprovados e classificados no Concurso Público 01/2007 realizado pelo Município de
São Miguel do Araguaia/GO é público e notório, tendo em vista a existência de
cargos vagos para os quais foram nomeados e contratados a título precário, como
exaustivamente demonstrado na presente ação e fartamente comprovado através
das provas robustas produzidas no Procedimento Ministerial incluso.
O Superior Tribunal de Justiça, em decisão recente,
assim decidiu:ADMINISTRATIVO - RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE
SEGURANÇA - CONCURSO PÚBLICO - NECESSIDADE DO
PREENCHIMENTO DE VAGAS, AINDA QUE EXCEDENTES ÀS
PREVISTAS NO EDITAL, CARACTERIZADA POR ATO INEQUÍVOCO DA
ADMINISTRAÇÃO - DIREITO SUBJETIVO À NOMEAÇÃO -
PRECEDENTES.
1.A aprovação do candidato, ainda que fora do número de vagas
disponíveis no edital do concurso, lhe confere direito subjetivo à
nomeação para o respectivo cargo, se a Administração Pública
manifesta, por ato inequívoco, a necessidade do preenchimento de
novas vagas.
2. A desistência dos candidatos convocados, ou mesmo a sua
desclassificação em razão do não preenchimento de determinados
requisitos, gera para os seguintes na ordem de classificação direito
subjetivo à nomeação, observada a quantidade das novas vagas
disponibilizadas.
3. Hipótese em que o Governador do Distrito Federal, mediante decreto,
convocou os candidatos do cadastro de reserva para o preenchimento
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de 37 novas vagas do cargo de Analista de Administração Pública –
Arquivista, gerando para os candidatos subsequentes direito subjetivo
à nomeação para as vagas não ocupadas por motivo de desistência.
4. Recurso ordinário em mandado de segurança provido. (STJ – 2ª
Turma, RMS 32105/DF. Rel. Ministra Eliana Calmon. Dje 30/08/2010).
(Destacou-se)
Noutra senda, o ato unilateral do Poder Público em
realizar contratações precárias representa não só a existência de recursos
financeiros para efetivamente realizar contratações, bem como a necessidade de
preenchimento dos referidos cargos.
Durante as investigações em sede de Procedimento
Preliminar nesta Promotoria de Justiça, foram requisitados informações sobre a
existência de contratos temporários e precários realizados pelo Município, sendo
comprovado que várias pessoas foram contratadas a título precário para o exercício
dos cargos oferecidos no Concurso Público 001/2007, com especial ênfase para os
cargos de professor, Auxiliar de higiene e alimentação e Operador de Serviços
Gerais, fato que comprova a inércia do Poder Público em nomear os aprovados na
área.
Os contratados temporariamente pelo Município
encontram-se desempenhando as mesmas funções que os aprovados e
classificados no mencionado concurso, e mesmo assim, o Município prefere manter
os referidos contratos a nomear os aprovados no certame, razão pela qual surge
não mera expectativa, mas sim o direito subjetivo à nomeação dos aprovados e
classificados para os referidos cargos.
Nessa linha de intelecção, convém registrar, que
recentemente o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, acatou pedido
formulado pelo Ministério Público do Estado de Goiás em sede de apelação Cível, e garantiu à nomeação e posse de candidatos classificados em cadastro de reserva técnica nos cargos de gestor de tecnologia de informática e de analista de
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tecnologia de informática do quadro geral do Governo do Estado de Goiás, tendo em vista que a Administração realizou contratação precária de servidores em detrimento dos candidatos aprovados e classificados no concurso. Segue
ementa do julgado:
APELACAO CIVEL. ACAO CIVIL PUBLICA. CONCURSO PUBLICO.
AUSENCIA DE INTERESSE DE AGIR SUPERVENIENTE. EXPIRACAO DO
PRAZO DE VALIDADE DO CERTAME. NAO CONFIGURACAO.
CANDIDATOS CLASSIFICADOS NA RESERVA TECNICA. MERA
EXPECTATIVA DE DIREITO A NOMEACAO. CONTRATACAO PRECARIA
DE SERVIDORES EM DETRIMENTO DOS CANDIDATOS APROVADOS
NO CONCURSO. ILEGALIDADE. DIREITO SUBJETIVO A NOMEACAO E
POSSE NO CONCURSO. I - O ESCOAR DO PRAZO DE VALIDADE DO
CONCURSO NAO TEM, POR SI SO, IMPLICACAO COM QUALQUER
PRESSUPOSTO PROCESSUAL, NEM ESGOTA O INTERESSE DO
AUTOR, QUANDO O OBJETIVO DO PLEITO PORTICO CINGE-SE AOS
AUTOS RELACIONADOS A NOMEACAO DE SERVIDORES
SUPOSTAMENTE PRETERIDOS. DE MAIS A MAIS, TEM-SE QUE, SE A
ACAO FOI AJUIZADA DENTRO DO PRAZO DE VALIDADE DO CERTAME
(10/02/08), A DEMORA DE SEU JULGAMENTO INSITO A FORMALIDADE
DO PROCEDIMENTO JUDICIAL, NAO PODE ENSEJAR A EXTINCAO DO
PROCESSO SEM JULGAMENTO DO MERITO. II - COMO REGRA,
INSTITUI-SE A SISTEMATICA DE QUE A APROVACAO EM CONCURSO
PUBLICO FORA DO NUMERO DE VAGAS ORIGINARIAMENTE
PREVISTAS, INTEGRANDO OS CLASSIFICADOS O CHAMADO
CADASTRO DE RESERVA TECNICA, TAMBEM GERA MERA
EXPECTATIVA DE DIREITO A NOMEACAO, COMPETINDO A
ADMINISTRACAO PUBLICA DECIDIR ACERCA DA OPORTUNIDADE E
CONVENIENCIA EM PROVER OS CARGOS QUE PORVENTURA FIQUEM
DISPONIVEIS DURANTE O PRAZ O DE VALIDADE DO CERTAME. III -
CONTUDO, ESSA EXPECTATIVA SE CONVOLA EM DIREITO
SUBJETIVO, IMPONDO-SE A ADMINISTRACAO O DEVER DE NOMEAR,
CASO TENHA HAVIDO PRETERICAO NA ORDEM CLASSIFICATORIA OU
CONTRATACAO A TITULO PRECÁRIO, DE SERVIDORES, PARA O
PREENCHIMENTO DE VAGAS EXISTENTES, EM DETRIMENTO DA
NOMEACAO DE CANDIDATOS APROVADOS NA RESERVA TECNICA
EM CERTAME AINDA VALIDO. NESTES CASOS, A NOMEACAO E A
POSSE, QUE SERIAM, A PRINCIPIO DISCRICIONARIAS, TORNAM-SE
VERDADEIROS ATOS VINCULADOS, GERANDO EM CONTRAPARTIDA,
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DIREITO SUBJETIVO PARA O CANDIDATO APROVADO DENTRO DE
TAL PREVISAO. IV - RESTADO COMPROVADO NOS AUTOS, QUE
EXISTEM CANDIDATOS APROVADOS PARA OS CARGOS DE GESTOR
DE TECNOLOGIA DE INFORMATICA E DE ANALISTA DE TECNOLOGIA
DE INFORMATICAO, E, ESTANDO INCONTROVERSO QUE HOUVE A
CONTRATACAO, EM CARATER PRECARIO, DE PROFISSIONAIS PARA
SUPRIR A CARENCIA DE PESSOAL NA AREA DE INFORMATICA, HAJA
VISTA A EXISTENCIA DE CARGOS VAGOS, NO PRAZO DE VALIDADE
DO CERTAME, NESCE, ASSIM, O DIREITO LIQUIDO E CERTO DE
EXIGIR DA AUTORIDADE COMPETENTE PELA REALIZAÇÃO DO
CERTAME, A NOMEACAO, POIS DEMONSTRADA, INEQUIVOCAMENTE,
A NECESSIDADE DE SERVIDORES PARA INTEGRAR O QUADRO DE
PESSOAL DA ADMINISTRACAO. V - CONSTATADA A ILEGALIDADE DA
CONDUTA DA ADMINISTRACAO, REVELA-SE INQUESTIONAVEL O
DIREITO SUBJETIVO, DOS CLASSIFICADOS NO CADASTRO DE
RESERVA TECNICA, A NOMEACAO E POSSE NOS CARGOS DE
GESTOR DE TECNOLOGIA DE INFORMATICA E DE ANALISTA DE
TECNOLOGIA DE INFORMATICA, DESDE QUE SEJA OBSERVADA A
ORDEM DE CLASSIFICACAO. APELACAO CONHECIDA E PROVIDA. (1ª
Câmara Cível – DJ 368 de 03/07/2009 – Acórdão: 09/06/2009 – Relator:
Des. Luiz Eduardo de Sousa – Recurso: 133338-6/188 – apelação cível-
processo nº 200804175408)
Infelizmente, as contratações precárias que vem
ocorrendo no Município possuem natureza essencialmente política, e a omissão em
não nomear os aprovados representa uma afronta aos mínimos preceitos
estabelecidos pelo Estado de Direito que vivemos, pois não somente a moralidade,
impessoalidade, como a razoabilidade, a legalidade, a indisponibilidade e a
supremacia do interesse público ficam feridas diante desta conduta omissiva.
A relevância do tema que ora se debate, a propósito, é
tão magnífica, que de forma paradigmática, o Egrégio STJ – Superior Tribunal de
Justiça se manifestou recentemente que a demora injustificável na posse em concurso público pode ensejar no pagamento de indenização, abrangendo, tão
somente, danos materiais, consubstanciados na soma de todos os vencimentos e
vantagens que o indivíduo teria percebido se nomeado na data correta. Confira-se:Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum,Setor Alto Alegre.
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EMENTA – STJ - ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO
REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS. CONCURSO PÚBLICO. POSSE TARDIA POR ATO
DA ADMINISTRAÇÃO. CANDIDATO DESCLASSIFICADO EM PERÍCIA
MÉDICA. VISÃO MONOCULAR. OBRIGAÇÃO DO ESTADO DE REPARAR
O DANO PATRIMONIAL. ACÓRDÃO RECORRIDO EM SINTONIA COM A
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. 1. Agravo regimental interposto contra
decisão que negou seguimento a recurso especial em razão de o
acórdão a quo estar em sintonia com o entendimento jurisprudencial do
STJ. 2. No caso dos autos, o autor da ação, portador de visão
monocular, conseguiu ser nomeado para o cargo de técnico judiciário
por força de decisão judicial (RMS n. 26.105/PE) e postula indenização
por danos materiais decorrentes de sua nomeação tardia. O Tribunal de
origem reconheceu o direito do autor à indenização por danos
materiais, consistente no pagamento das verbas remuneratórias que
deveriam ter sido auferidas por ele, caso tivesse tomado posse na data
correta, com observância da ordem de classificação. 3. Quando se
verifica a vitoriosa aprovação em um concorrido certame, dentro do
número de vagas oferecidas, a frustração de uma expectativa legítima
fundada em direito subjetivo já adquirido, que traz ao lume a
possibilidade de o aprovado vir a auferir, com estabilidade e por meio
de seu trabalho técnico, ganhos significativos, desde sempre
pretendidos e perseguidos, dá suporte à pretensão de recebimento de
indenização por danos materiais, à luz do artigo 186 do Código Civil.
Precedentes: EREsp 825.037/DF, Rel. Ministra Eliana Calmon, Corte
Especial, DJe 22/02/2011; REsp 1.117.974/RS, Rel. Min. Luiz Fux,
Primeira Turma, DJe 02/02/2010; AgRg no Ag 976.341/DF, Rel. Ministra
Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 04/10/2010; REsp
1.056.871/RS, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, Dje
01/07/2010; REsp 825.037/DF, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJ
29/11/2007. 4. Agravo regimental não provido.
Logo, na hipótese em apreço, a necessidade do serviço e
a existência das vagas almejada restaram comprovados nos autos de modo inequí-
voco, vez que, conforme anteriormente observado, houve contratação precária de
servidores pela Administração, em caráter precário, dentro do prazo de validade do
certame.
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Por conseguinte, como se não bastasse a ocupação
irregular de cargos, percebe-se também que os habilitados em concurso estão
sendo preteridos em prol de outros servidores para os cargos vagos concorridos.
Assim, se, por um lado, a nomeação do candidato
aprovado em concurso público é ato discricionário da Administração, e se o
candidato aprovado tem mera expectativa de um direito à nomeação, e não o direito
a essa nomeação, certo é também que, desobedecida a ordem de classificação em concurso pelo preenchimento da vaga com a nomeação de outro candidato, com classificação inferior, ou a contração de profissional não concursado, fere direito líquido e certo dos candidatos classificados para as vagas, justificando a reforma da decisão em sede de liminar indeferida pelo juízo primevo.
Conclui-se portanto, que a contratação preferencial de
terceiros, não habilitados em concurso público, configura visível ofensa aos
princípios constitucionais que visam dotar a administração pública de transparência,
eficiência,impessoalidade e, sobretudo, a indispensável conduta ética, e por tal
razão merece ser expurgada de nosso cotidiano.
Este Tribunal, inclusive por seu Órgão Especial, tem
reiteradamente decidido acerca da questão em debate:
“MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. AGANP. CARGO
DE ANALISTA DE GESTÃO ADMINISTRATIVA PSICOLOGIA.INTERESSE
PROCESSUAL VISUALIZADO. CONTRATAÇÃO DE SERVIDORES EM
COMISSÃO NO PRAZO DE VALIDADE DO CERTAME. PRETERIÇÃO.
1. Remanesce o interesse no julgamento do writ, pois ainda que tivesse
sido impetrado após expirada a validade do concurso, 'não se questiona
atos da administração relacionados à realização do concurso público,
mas sim atos referentes a nomeação dos candidatos' (STJ, 5A. TURMA,
RMS 24690, REL. MIN. FELIX FISHER, DJ DE 12/05/2008).
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2. Constitui direito líquido e certo dos impetrantes suas nomeações em
cargos para os quais lograram êxito em concurso público,quando há,
pela administração pública, quebra da ordem classificatória aqui
demonstrada pela colocação de comissionados para exercerem as
funções em vacância, a título precário dentro da validade do certame.
A existência de vagas, a realização de concurso e a inequívoca
necessidade de contratação somados ao ato comissivo da
administração em não proceder as nomeações dos candidatos
aprovados, impõem a concessão da ordem de segurança pleiteada.
SEGURANCA CONCEDIDA.”(TJGO, Corte Especial, MS 166950/ 101, Rel.
Des. Leobino Valente Chaves, DJ 288 de 05/03/2009)
A jurisprudência brasileira é unânime ao censurar
situações análogas a aqui exposta, onde existem temporários em lugar de
aprovados em concurso público com o prazo de validade aberto. Nesse sentido,
confira-se o entendimento esposado pelos tribunais pátrios:
EMENTA – TJSP - Demanda condenatória - Aprovação em concurso público; dentro do número de vagas - Expiração do prazo de validade
do concurso sem efetivação da nomeação - Direito subjetivo à
nomeação - Apelação e reexame necessário parcialmente providos;
APELAÇÃO CÍVEL N° 990.10.244493-7; COMARCA: BANANAL;
RECORRENTE: JUÍZO EX OFFICIO; APELANTE: PREFEITURA
MUNICIPAL DE ARAPEI; APELADO: ROSEMEIRE MARIA ARANTES
CHANTAL; JUÍZA PROLATORA DA DECISÃO RECORRIDA: DRA. MARIA
ISABELLA CARVALHAL ESPOSITO.
Acórdão: Apelação Cível em Mandado de Segurança 2004.010332-8
Relator: Luiz Cézar Medeiros Data da Decisão: 31/08/2004. EMENTA:
ADMINISTRATIVO - CONCURSO PÚBLICO - CANDIDATO APROVADO -
PRETERIÇÃO - CONTRATAÇÃO DE TERCEIROS A TÍTULO PRECÁRIO -
EXISTÊNCIA DE VAGAS - DIREITO LÍQUIDO E CERTO À NOMEAÇÃO É
certo que a aprovação em concurso público gera apenas expectativa de
direito à nomeação; todavia, "a mera expectativa se convola em direito
líquido e certo a partir do momento em que, dentro do prazo de validade
do concurso, há contratação de pessoal, de forma precária, para o
preenchimento de vagas existentes, em flagrante preterição àqueles
que, aprovados em concurso ainda válido, estariam aptos a ocupar o
mesmo cargo ou função" (RESP n. 476.234/SC, Min. Felix Fischer).
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Em recente e elogiável decisão, o Egrégio Tribunal de
Justiça do Estado de Minas Gerais, firmou entendimento idêntico ao que se busca
por intermédio desta ação civil pública:
TJMG - EMENTA: ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO.
APROVAÇÃO EXCEDENTE. DIREITO À NOMEAÇÃO E POSSE.
CONTRATAÇÃO PRECÁRIA. I - Sem olvidar a regra de que, em
princípio, candidato aprovado em concurso público detém não mais que
expectativa de direito à nomeação, a jurisprudência recente do STJ tem
orientado no sentido de que, quando aprovado dentro do número de
vagas previstas no edital, o candidato possui direito subjetivo à
nomeação. II - Lado outro, demonstrada a necessidade de
preenchimento das vagas ante a celebração de contratos temporários,
ainda que com candidatos aprovados, a Administração tem por dever
buscar, nos candidatos excedentes, por ordem de classificação, aquele
a ser nomeado. III - Uma garantia-individual - daquele habilitado em
certame frente ao cargo objeto de contratação temporária - não se
sobrepõe à outra, maior, mais ampla, que rege, também, o provimento
público, ligada à legitimidade preferencial dos demais candidatos que
hajam obtido melhor classificação. AGRAVO DE INSTRUMENTO N°
1.0143.09.021990-6/001 - COMARCA DE CARMO DO PARANAÍBA -
AGRAVANTE(S): MUNICÍPIO CARMO PARANAIBA REPRESENTADO(A)
(S) POR MARCOS AURELIO COSTA LAGARES - AGRAVADO(A)(S): ENI
MARIA ALVES VELOSO - RELATOR: EXMO. SR. DES. FERNANDO
BOTELHO ; Relator: Des.(a) FERNANDO BOTELHO Relator do Acórdão:
Des.(a) FERNANDO BOTELHO Data do Julgamento: 23/09/2010 Data da
Publicação: 24/11/2010.
Destarte, essa postura adotada pelo agravado reclama
enérgica atuação do Ministério Público com a chancela do Poder Judiciário, ambos
no impostergável dever de concretizar, na maior medida possível, os preceitos cons-
titucionais, notadamente aqueles atinentes aos valores imateriais do patrimônio pú-
blico.
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Sobreleva registrar que a Constituição da República é fru-
to da vontade política nacional, erigida mediante consulta das expectativas e das
possibilidades do que se vai consagrar. Por essa razão, suas disposições são co-
gentes, sob pena de restarem vãs e frias enquanto encartadas sem vida no papel.
Completados vinte anos da Carta Constitucional Cidadã,
urge que seus preceitos sejam plenamente efetivados, para não fraudar justas ex-
pectativas da coletividade e retardar ainda mais a consolidação material do regime
democrático. Por isso, o Poder Judiciário deve ser provocado a restaurar a força nor-
mativa da Constituição e a máxima efetividade das normas constitucionais, sobretu-
do aquelas atinentes aos direitos fundamentais, dentre os quais se destaca o do ci-
dadão de ter uma administração pública proba e eficiente, incompatível com a vulne-
ração ao princípio da legalidade, impessoalidade em decorrência do malfadado ex-
pediente de contratações precárias.
Noutro passo, no que tange ao requisito do 'fundado re-
ceio de dano irreparável ou de difícil reparação', este repousa na possibilidade de
que as nefastas contratações precárias em questão, além de inconstitucional e de
cunho político-eleitoreiro, seja perpetuada em prejuízo dos princípios norteadores da
Administração Pública (moralidade, impessoalidade, legalidade), corolários da su-
premacia do interesse público e por conseguinte em violação exposta ao princípio da
acessibilidade ao concurso público inserto no art. 37, II, da CF/1988.
Nessa trilha, sobressai flagrante o periculum in mora, por-
quanto se as contratações precárias continuarem sendo lançadas a cabo pelo gestor
do Município de São Miguel do Araguaia-GO como estão, a afronta à ordem consti-
tucional perpetuará durante toda a tramitação da ação civil pública, o qual, de um
modo geral, não possui resolução célere, acrescendo-se a isso, a iminente possibili-
dade de ocorrer a expiração do prazo de validade do certame antes do deslinde da
questão. Em juízo de probabilidade, poderá haver inutilidade do provimento jurisdici -
onal reclamado, com perda parcial do objeto da ação proposta, se não julgado o mé-
rito antes do término do prazo de validade do concurso, já que o maior desejo do Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum,Setor Alto Alegre.
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município agravado por intermédio do seu gestor Ademir Cardoso dos Santos é a
expiração da validade do concurso.
Ademais, verifica-se ausente o periculum in mora inverso,
isto é, a nomeação dos candidatos aprovados e classificados em nada prejudicará o
interesse público primário, haja vista que o expediente de efetuar contratações pre-
cárias demonstra de forma inequívoca que há necessidade em se realizar contrata-
ções para atendimento da demanda nos serviços públicos. Todavia, a contratação
deve ser realizada priorizando os aprovados e classificados no referido concurso e
não aliados políticos como vem se realizando, não havendo que se cogitar de peri-
culum in mora inverso.
Desta forma, inegável que a conduta do agravado
configura violação a ordem constitucional, numa repudiável subversão aos valores
imateriais do patrimônio público, notadamente, aos vetores axiológicos da
legalidade, impessoalidade e moralidade.
No caso concreto, resta cristalino que o comportamento
do agravado causou e continua gerando gravíssimo dano ao patrimônio público, sob
o prisma material, na medida em que, sobrepondo-se ao indisponível interesse
público, o agravado busca efetuar contratações precárias, em vez de pautar-se pela
devida observância do princípio do concurso público inserto no art. 37, II, da
CF/1988.
Entrementes, convém frisar, que conforme esposado pelo
eminente doutrinador, Celso Antônio Bandeira de Mello, vulnerar um princípio é a
mais grave agressão dentro do sistema, porquanto configura franco ataque às suas
normas estruturantes.
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No caso presente, a tese jurídica sustentada na inicial
encontra respaldo em regras e princípios jurídicos de matriz constitucional, vertidos,
notadamente, nos artigos 37, caput e seu inciso II, da Constituição da República.
Da análise do arcabouço probatório trazido com a inicial e
nesta esfera recursal, em sede de cognição não exauriente, sumária vertical,
vislumbram-se presentes os pressupostos necessários ao deferimento da
antecipação da tutela recursal, nos termos do art. 527, III, c/c art. 558, ambos do
CPC.
Se a tutela de urgência não for deferida, certamente o
agravado continuará a manter a situação de inconstitucionalidade, vulnerando a
força normativa da Constituição (Konrad Hesse) e a máxima efetividade das normas
constitucionais, mediante odioso expediente das contratações precárias em
detrimento de candidatos aprovados e classificados no concurso público em debate.
Por fim, curial observar, eminente relator, que este
Egrégio Tribunal não tolera expedientes administrativos que priorizam as con-
tratações precárias em detrimento de candidatos aprovados e classificados
em concurso público, o que reforça a tese ora sustentada pelo Ministério Pú-
blico. Confira-se:
EMENTA TJGO: MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. AGANP. AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ- CONSTITUÍDA. NÃO VERIFICAÇÃO. CANDIDATOS CLASSIFICADOS NA RESERVA TÉCNICA. MERA EXPECTATIVA DE DIREITO À NOMEAÇÃO. CONTRATAÇÃO PRECÁRIA DE COMISSIONADOS E TEMPORÁRIOS EM DETRIMENTO DOS CANDIDATOS APROVADOS NO CONCURSO. ILEGALIDADE. DIREITO LÍQUIDO E CERTO À NOMEAÇÃO E POSSE NO CONCURSO.I- Manifestamente insubsistente a alegação de ausência de prova pré-constituída, quando a petição inicial foi instruída com os documentos necessários à comprovação da pretensa violação a direito líquido e certo.II- Como regra, institui-se a sistemática de que a aprovação em concurso público fora do número de vagas originariamente previstas,
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integrando os classificados o chamado 'cadastro de reserva técnica', também gera mera expectativa de direito à nomeação, competindo à Administração Pública decidir acerca da oportunidade e conveniência em prover os cargos que porventura fiquem disponíveis durante o prazo de validade do certame.III- Contudo, essa expectativa se convola em direito subjetivo, impondo-se à Administração o dever de nomear, caso tenha havido preterição na ordem classificatória ou contratação a título precário, de servidores comissionados e temporários, para o preenchimento de vagas existentes, em detrimento da nomeação de candidatos aprovados na reserva técnica em certame ainda válido. Nestes casos, a nomeação e a posse, que seriam, a princípio discricionárias, tornam-se verdadeiros atos vinculados, gerando em contrapartida, direito subjetivo para o candidato aprovado dentro de tal previsão.IV- Restando comprovado nos autos, a classificação dos impetrantes no concurso público, e estando incontroverso que houve a contratação, em caráter precário, de comissionados, para suprir a carência de pessoal, haja vista a existência de cargos vagos, no prazo de validade do certame, nasce, assim, o direito líquido e certo de exigir da autoridade competente à nomeação, pois demonstrada, inequivocamente, a necessidade de servidores para integrar o quadro de pessoal da Administração.V- Constatada a ilegalidade da conduta da Administração, revela-se inquestionável o direito líquido e certo dos impetrantes à nomeação e posse nos cargos para os quais foram classificados no cadastro de reserva técnica, desde que seja observada a ordem de classificação. MANDADO DE SEGURANÇA Nº 17373-0/101; (200804089994); COMARCA DE GOIÂNIA; IMPETRANTE : CARLOS EDUARDO SILVA DE FARIA E OUTRO(S); IMPETRADO : SECRETÁRIO DA FAZENDA DO ESTADO DE GOIÁS; RELATOR : DES. LUIZ EDUARDO DE SOUSA.
Por oportuno, apenas por amor ao debate, necessário
consignar, que conforme denota-se dos documentos requisitados pelo Ministério
Público ao município agravado, restou inequivocamente comprovado a tese
ministerial, sendo, afirmado pelo Município agravado que apenas na Secretaria de
Educação existem 20 servidores exercendo o cargo de professor em regime de
contrato precário e de igual forma 22 servidores em exercício precário do cargo de
higiene e alimentação.Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum,Setor Alto Alegre.
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3. DOS PEDIDOS
Diante de todo o exposto e considerando que a
jurisprudência desta Corte é assente na direção de condicionar a reforma de
decisões interlocutórias prolatadas no primeiro grau, para substituição pelo
pronunciamento do órgão colegiado, apenas aos casos em que revelada ilegalidade ou equívoco, situação plenamente aplicável ao caso em alusão,
tendo em vista que de forma robusta ficou demonstrando nos autos que há razão
para que este Egrégio Tribunal de Justiça venha reformar o ato judicial atacado, o
MINISTÉRIO PÚBLICO, firme na ordem jurídica em vigor, requer:
1 - o recebimento e o conhecimento do presente Agravo
de Instrumento, em razão da presença dos pressupostos subjetivos e objetivos de
admissibilidade recursal;
2 - a concessão de efeito suspensivo ativo,
correspondente à tutela antecipada recursal, nos termos do art. 527, III, do CPC,
para que o agravado, inaudita altera parte, seja condenado na OBRIGAÇÃO DE FAZER, consistente em promover a imediata nomeação dos aprovados e classificados no concurso público, regidos pelo Edital n.º 01/2007, e com
homologação publicada no Diário Oficial do Estado n.º 20.280, de 02 de janeiro de
2008, observando rigorosamente a ordem de classificação para os respectivos cargos, até o número das contratações precárias e designações realizadas para os cargos mencionado no referido edital, tomando-se como parâmetro o número de cargos ocupados por servidores contratados sem concurso, tendo
em vista a gravidade do ferimento constitucional, sob o pena de multa diária de R$
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1.000,00 ( um mil reais), a recair pessoalmente sobre o Gestor deste município, o Srº Ademir Cardoso dos Santos;
3 - o provimento do agravo, confirmando-se a liminar, de
modo a reformar a decisão objurgada, tornando definitiva a obrigação de fazer
descrita na alínea anterior.
São Miguel do Araguaia-GO, 01 de julho de 2011.
Cristina Emília França MaltaPromotora de Justiça
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