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57ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE GOIÂNIA Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Sala 332
Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100
62-3243-8442 | www.mpgo.mp.br
EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA ____ VARA DA
FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE GOIÁS – GOIÂNIA.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS (MP-GO),
por meio da 57ª Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e
Combate à Corrupção, no uso de suas atribuições legais e constitucionais, vem,
respeitosamente, perante V. Exª, com fundamento nos artigos 127 e 129, incisos
III e IX, da Constituição Federal; no artigo 46, incisos VI e XI, da Lei
Complementar nº 25, de 1998; nos artigos 210, § 1º, 200, inciso V e 209, da Lei nº
8.069, de 1990; Lei 8.429/92; Lei 13.105/15 e nos demais dispositivos legais
pertinentes, propor a presente
AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
2
em desfavor de:
EDSON JOSÉ FERRARI, brasileiro, Conselheiro do TCE/GO, portador da
carteira de identidade nº 506474 – SSP/GO, CPF nº 135.131.761-04, residente e
domiciliado na Rua GV 3, QD. 3, LT. 14, Residencial Granville, Goiânia/GO,
CEP 74.366-020, podendo ser citado no seu domicilio funcional, TCE/GO, que se
localiza na Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, nº 332, Centro, Goiânia/GO -
CEP 74.003-010
Em linhas gerais, o MPEGO requer que seja responsabilizado o requerido
pela prática de atos que atentam contra a moralidade, a impessoalidade e a
eficiência administrativa e a publicidade, além de afronta à legalidade,
conforme narrativa a seguir.
I - DOS FATOS
1. Como denotam gravações noticiadas pela imprensa e não
desmentidas pelo réu
(https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=1743562495880586&id=1397837
253786447&refsrc=https%3A%2F%2Fm.facebook.com%2Fdokajuru%2Fvideos
%2F1743562495880586%2F&_rdr), o Conselheiro Edson José Ferrari dialoga
com o Governador de GO, Marconi Perillo, demonstrando relação íntima e de
amizade, inclusive, pondo-se a afirmar que agirá em relação a todo aquele que
se puser contrariamente aos anseios do chefe do executivo goiano, mesma
postura de autêntico servilismo, comportamento típico de vassalo.
3
2. Como é cediço, não raro Promotores de Justiça, Procuradores do
Ministério Público de Contas, Associações e cidadãos em geral, legitimados
constitucionalmente, socorrem-se do TCE-GO justamente para questionarem
atos e contratos firmados pelo Governo estadual.
3. No entanto, essas autoridades, entidades e pessoas, sem o saber,
correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS,
pois, ao contrário do que se deveria esperar de uma Corte de Contas, o
Conselheiro Edson José Ferrari está a postos, segundo ele mesmo alega, para
agir em benefício do suposto representado, nem que para isso adote medidas
contra aqueles que deveria preservar.
4. Vejamos o que fora divulgado pela imprensa:
“Edson Ferrari: “Aí eu quero te dizer que eu vou... Esses nego aí que
estão te sacaneando, você pode deixar eles comigo, viu
Já comecei a movimentar hoje. Depois, eu te falo pessoalmente. Viu, tá
bom”.
(...) Pode deixar, pessoal que tentou te sacanear não vai ficar
incólume não, tá. Pode deixar comigo”.
5. O próprio Conselheiro, ainda, em outras passagens, admitiria a
sua relação de amizade para com o Governador, além de se considerar seu
amigo e devedor:
“Conselheiro: Rapaz, acabei de falar seu nome aqui, meu amigo.
(...) Falaram lá em Brasília que eu tinha tomado posse em seu gabinete.
(...) Você vai ajudar eu começar a construir essa sede, vai ser minha
marca, aí, viu.
A sede vai se chamar Governador Marconi Perillo. Você vai ver...
Eu devo isso tudo a você também, meu amigo.
Governador: Nós fazemos. Nós somos uns pelos outros aí”.
6. A relação de amizade entre o Governador, parte a ser julgada, e o
Conselheiro julgador foi objeto de representação ao TCEGO, Presidência e
Corregedoria, e criminal, ao PGR (cópias anexas).
4
7. Além dessas iniciativas, o Ofício 18/GPGC-2016 (consulte-se com
seus anexos), destaca, por igual, a RELAÇÃO DE AMIZADE DO
CONSELHEIRO DO TCE DE GO, EDSON JOSÉ FERRARI, COM O
GOVERNADOR DO ESTADO, MARCONI FERREIRA PERILLO JÚNIOR.
8. O nobre representante do MPC Goiano destaca:
a. Trechos de sessão plenária extraordinária sobre as contas
do Governo, quando se questionou a suspeição da citada
autoridade que, além de ocupar cargos no Governo Estadual,
chegou a viajar com o Chefe do Executivo à Rússia, mesmo
estando já na qualidade de Conselheiro do TCE GO;
b. O Conselheiro confessa a relação de amizade com o
governador e sua fidelidade a essa amizade;
c. O mesmo Conselheiro, quando então exercia a Presidência
do TCE GO desativou as mais importantes estruturas de
fiscalização do Tribunal, dificultando sobremaneira a
fiscalização das contas do Governador Marconi Ferreira Perillo
Júnior, seu amigo;
d. De fato, foi criada junto ao TCE GO a 6ª Divisão de
Fiscalização (6ª DF), para acompanhar, fiscalizar e controlar a
receita do Estado. Mas o que se observou é que inexistem
fiscalizações realizadas pela 6ª DF, precisamente a contar do
momento em que se iniciou a gestão do então Presidente Edson
José Ferrari, porquanto este esvaziou, completamente, a 6ª
Divisão de Fiscalização, como demonstram os documentos
acostados (cópia da documentação juntada ao MS nº
201592263518);
5
e. Esta conduta permitiu ao Governador e amigo, Marconi
Ferreira Perillo Júnior, a ausência de atuação do controle externo
sobre as receitas públicas, bem assim propiciado condições para
a ocorrência de diversas irregularidades, que permitiram o
exponencial e inimaginável incremento do déficit na conta
centralizadora, como apontado detalhadamente no Relatório
sobre as Contas do Governador do Estado (Parecer Prévio das
Contas de Governo – 2014, Item III do relatório do Relator), já
que a inspeção e auditoria autodeterminadas pelo Plenário da
Corte de Contas foram indevidamente adiadas sine die por
atuação dele — que, no exercício da Presidência do TCE-GO
possui função precipuamente administrativa, como assim
prescreve o artigo 23 do Regimento Interno da Corte (RITCE-
GO), como bem revela o Procurador de Contas Eduardo Luz
Gonçalves, no subitem 3.7 de sua representação (Representação
nº 201500047002462);
f. O mesmo Conselheiro, então Presidente, cumprindo a sua
promessa, promoveu ilegítimo desmonte do MPC-GO,
notadamente no Gabinete Procurador Fernando dos Santos
Carneiro (que atua contra o nepotismo patrocinado pelos
próprios Conselheiros do TC, incluído aí o Conselheiro Edson
José Ferrari, pelo Governador e por Secretário de Estado, dentre
outros, e contra as irregularidades perpetradas em razão da nova
sede do TCE GO). Seu único fito teria sido, então, retaliar o
membro ministerial. Foi preciso que o representante do MPC-
GO se socorresse da Justiça para garantir mínima estrutura de
trabalho, cujo Mandado de Segurança contou com
6
posicionamento ministerial favorável e pedido julgado
procedente pelo Tribunal de Justiça (Processo nº 201393195075);
g. O mesmo Conselheiro notabilizou-se em vedar ao MPC-
GO o amplo acesso às informações públicas, o que mais uma vez
levou o Procurador de Contas a ajuizar Mandado de Segurança
(201390703908), com pedido julgado procedente, “dada a
evidente violação a direito líquido e certo do impetrante”,
inclusive com aplicação de multa pessoal ao então Presidente do
TCE-GO Edson José Ferrari, pela demora e cumprimento parcial
da decisão; e
h. O Conselheiro Ferrari seria suspeito em autos de outro
processo em que existe interesse pessoal para o deslinde da causa,
acabando por reter e inviabilizar o julgamento do feito, como é
exemplo a Representação nº 2014000470021961 – MPC/GO, de que
indevidamente ele é relator, embora oficialmente instado a
reconhecer sua suspeição (Ofício nº 106/GABPFSC-2015), por ter
sido representado pelo MPC-GO pela prática da mesma conduta,
quando no exercício da Presidência do TCE-GO (Representação nº
2014000470016562), e, ainda, por obstaculizar as ações de controle
externo, destinadas a fiscalizar as obras de construção do próprio
Tribunal de Contas Estadual.
II - OS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
SUSPEIÇÃO NÃO DECLARADA 1 http://www.tce.go.gov.br/ConsultaProcesso?proc=294390 2 http://www.tce.go.gov.br/ConsultaProcesso?proc=292686
7
9. Como é sabido, a Lei Orgânica do TCE GO (Lei 16.168/07), pelo
menos formalmente, prevê (artigo 22, parágrafo único) que se deve aplicar ao
Conselheiro que lá atua os casos de suspeição de parcialidade, previstos na
legislação pertinente.
10. Ora, o CPC, artigo 1353, vigente à época dos fatos, veda o
julgamento obviamente por quem seja amigo da parte, tudo de molde a não
comprometer a imparcialidade que deve pautar-se o magistrado.
11. Não por outro motivo, o MPC/DF arguiu a impossibilidade de ex
Conselheiro do TCDF julgar as contas de governo, em razão de declarações
ofertadas, no ato de sua posse, que induziam a relação de amizade com então
Governador, cujas contas seriam julgadas. O TCDF não hesitou e na Sessão
Ordinária nº 4313, de 15/12/09, proferiu a Decisão nº 8028/09, mandando
proceder à indicação de novo relator para aquelas Contas, reconhecendo a
procedência da representação ministerial, tendo, ainda, afastado mencionado
Conselheiro de suas atividades, em geral, na mesma Corte, em virtude de sua
participação no rumoroso caso policial, conhecido como Caixa de Pandora
(cópias anexas).
12. Retornando ao Conselheiro goiano, o MPC GO também agiu. A
propósito, vejam-se trechos de sessão plenária extraordinária sobre as contas do
Governo, quando se questionou a suspeição da citada autoridade que, além de
ocupar cargos no Governo Estadual, chegou a viajar com o Chefe do
Executivo à Rússia, mesmo estando já na qualidade de Conselheiro do TCE
GO:
Procurador Fernando: “Senhor Presente, agora uma questão de ordem
que é a suspeição do relator para apreciar as contas do governador
(...) o nobre conselheiro foi secretário particular do Governador
3 No novo CPC (Lei nº 13.105/15), art. 145.
8
Marconi Perillo de 1999 a 2004 (...) Senhor Presidente, a questão de
ordem levantada por mim se trata da amizade intima, não estou aqui
criticando atos de secretário, mas tão somente amizade intima
(...) revelada na viagem do conselheiro à Rússia, que foi uma
viagem particular ao encontro, que me parece, do governo e do
Governador, participando, inclusive, de reuniões de Estado – reuniões
exclusivamente do Poder Executivo.
Conselheiro Edson Ferrari: “Senhor Presidente, solicito a palavra.
Duas questões. Primeiro que a viagem à Rússia eu fiz com meus recursos
de toda a monta. Viajei com minha esposa e não nego a minha
amizade com quem quer que seja. Sou fiel a elas. (...) Declaro que
sou fiel a minhas amizades!”.
13. Ora, o magistrado de contas, tal qual o membro do Poder
Judiciário, está obrigado a se declarar suspeito em situações como as
flagradas. Mas não o fez.
14. Além do mais, na linha do “somos uns pelos outros” beneficiou
o requerido a Sra CHRISTIANE JAYME PEIXOTO --- cunhada do
Governador, irmã de VALÉRIA PERILLO ---, nomeando-a para o cargo de
ASSESSOR II.
15. Isso é tanto quanto basta para demonstrar a clara relação de
amizade para com o Governador; fosse isso pouco, revela gratidão e mantém
uma relação de troca, nem que para isso aja contra aqueles que ousarem a se
postar no caminho do Chefe do Executivo, que retribui a “lealdade”,
afirmando que naquela Corte, onde deveria imperar a imparcialidade,
“somos uns pelos outros aí”. Conduta que merece o nosso rechaço e que não se
admite em uma República.
9
16. De fato, o Conselheiro requerido, além de ter votado as contas de
2014, consumando a prática do ato ímprobo, era o relator das contas do
Governador, seu amigo, para o exercício de 2015. Era, porque reconhecendo
que, de fato são verídicas as denúncias divulgadas pela imprensa, declinou
das suas funções de relator, para o exercício de 2015
(http://www.contasabertas.com.br/website/arquivos/12803). Mas isso só
aconteceu, após 04 associações e 02 representantes do MP, um estadual e
outro federal, de fora do ambiente do controle externo goiano, virem a
publico denunciá-lo, exigindo que a Presidência e a Corregedoria o
afastassem.
17. Assim agindo, o Conselheiro requerido viola o artigo 135, I, II e V
do CPC (145, I e IV, do NCPC) e, em maior tom, a Constituição Federal, que
veicula o cumprimento dos princípios da moralidade e da impessoalidade.
18. Mas não é só. O Conselheiro pratica ato de improbidade
administrativa, a exemplo do artigo 11, caput, I e II (Lei 8429/92), bem assim
eventuais crimes de abuso de autoridade e prevaricação, visando benefícios
pessoais, como próprio declara almejar com a construção do prédio do TCE
GO, para que se constitua em sua “marca”.
PERSEGUIÇÃO A TODOS QUE SE PÕEM NO CAMINHO DO
GOVERNADOR. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA MORALIDADE,
IMPESSOALIDADE E DA PUBLICIDADE.
19. Como visto e transcrito, nesta peça, o requerido afirma que irá agir
contra todos que se põem no caminho do Governador de GO. E, realmente,
assim procedeu.
20. Uma dessas vítimas é, sem dúvida, o Procurador do Ministério
Público de Contas de GO, Fernando dos Santos Carneiro.
10
21. Como comprovam as documentações acostadas, o requerido
tentou impedir que o representante do MPC/GO tivesse acesso a dados que
comprovam a prática de atos irregulares, tendo sido obrigado a se valer do
Judiciário, que obviamente reconheceu a prática de ato abusivo e condenou
mencionado Conselheiro ao pagamento de multa, ante sua reiterada
postergação no cumprimento de decisão judicial (MS nº 201390703908).
22. Disse, mais, o TJGO, que há incontrovérsia sobre a cláusula de
garantia, inscrita no artigo 130 da Constituição Federal, vocacionada a outorgar
aos membros do Ministério Público especial as prerrogativas do Ministério
Público Comum (TJGO, MS 226351-78).
23. Nada disso seria necessário, até porque o STJ já havia consagrado
a obrigatoriedade de atendimento das requisições do Ministério Público junto
ao Tribunal de Contas, necessárias ao desempenho de suas atribuições, a fim de
se ter condições de avaliar, fiscalizar, investigar (RMS 22591/RN).
24. Ao dar concreção a sua fala ao Governador, além de perseguir o
Procurador, tentando impedi-lo de agir, o requerido acabou cometendo ato de
improbidade administrativa, por violação ao princípio da publicidade, artigo
11, caput, bem assim por negar publicidade a atos oficiais, inciso IV,
descumprindo ainda à Lei de Processo Administrativo, 9784/99, que preconiza
a divulgação oficial dos atos administrativos, e a Lei de Acesso à Informação,
12.527/11 (Lei do Estado de Goiás nº 18.025/2013).
25. Acentue-se, por todo o exposto, a violação chapada e acintosa ao
princípio constitucional da publicidade, inserto no artigo 37 c/c artigo 5,
XXXIII da CF. Reconhece o Texto maior que tudo o que o Estado faz, deixa de
fazer ou contrata, ou seja, tudo o que é publico deve ser de conhecimento do
povo, interessa rigorosamente a qualquer cidadão, corolário, ainda, do
princípio da moralidade administrativa.
11
26. Nesse sentido, leciona José Afonso da Silva:
“A publicidade sempre foi tida como um princípio administrativo porque
se entende que o Poder Público, por ser público, deve agir com a
maior transparência possível, a fim de que os administrados
tenham, a toda hora, conhecimento do que os administradores
estão fazendo. Especialmente exige-se que se publiquem atos que devem
surtir efeitos externos, fora dos órgãos da Administração.
A publicidade, contudo, não é um requisito de forma do ato
administrativo, não é elemento formativo do ato, é requisito de eficácia e
moralidade. Por isso mesmo, os atos irregulares não se convalidam com a
publicação, nem os regulares a dispensam para a sua exequibilidade,
quando a lei ou o regulamento a exige.
Agora é a Constituição que a exige (Curso de Direito Constitucional
Positivo, 14ª Edição, p. 617).
27. Mas os atos de perseguição não pararam por aí. O Conselheiro,
enquanto no exercício da Presidência do TCE-GO, retirou todas as condições
de trabalho do Procurador, fato que, também, levou o representante do MPC
GO a se socorrer do Judiciário, com idêntico êxito.
28. Trata-se de uma das piores estruturas de trabalho existente no
MPC brasileiro, fato que é público e notório e tem chamado a atenção,
inclusive, do Conselho Nacional de Procuradores Gerais de Contas (CNPGC).
29. Tais fatos precisam ser contrastados com o volume de recursos de
que dispõe o TCE GO. Em 2015, o TCE GO recebeu R$ 113.695.570,12; e, em
2016, esses valores foram, até fevereiro de 2016, de R$ 18.885.601,21.
30. Com um quadro de apenas 04 Procuradores e 14 servidores, o
MPC GO todo consome menos de R$ 4 milhões de reais ao ano! Isso é nada
perto dos recursos dirigidos ao TCE GO. Além disso, a estrutura de trabalho
toda do MPC GO é menor que a de um único gabinete de conselheiro do
TCE-GO, como, por exemplo, o do Conselheiro Hélder Valin Barbosa (cópia
anexa).
12
31. No Gabinete do Procurador que é perseguido, há apenas 01
servidor, contra, em média, 14, no gabinete dos Conselheiros do TCE goiano.
32. Dessa sorte, demonstra-se que não é a falta de recursos que
impede o TCE de destinar ao MPC goiano condições de trabalho, mas, sim,
práticas de retaliação.
33. Nem se alegue, nesse campo, que se está diante de
discricionariedade administrativa, insindicável ao Poder Judiciário.
“(...) Assim, é óbvio que o Poder Judiciário, a instâncias da parte, deverá
invalidar atos que incorram nos vícios apontados, (...) já que – repita-se –
discricionariedade é margem de liberdade que efetivamente exista perante
o caso concreto” (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso
de Direito Administrativo, p. 386/387).
34. De fato, conforme lições do festejado administrativista antes
citado, o gestor não tem em suas mãos um cheque em branco para agir como
bem queira:
“Não se confundem discricionariedade e arbitrariedade. Ao agir
arbitrariamente o agente estará agredindo a ordem jurídica, pois terá e
comportado fora do que lhe permite a lei. Seu ato, em consequência, é
ilícito e por isso mesmo corrigível judicialmente. Ao agir
discricionariamente, o agente estará, quando a lei lhe outorgar tal
faculdade (que é simultaneamente um dever), cumprindo a determinação
normativa de ajuizar sobre o melhor meio de dar satisfação ao interesse
público por força da indeterminação legal quanto ao comportamento
adequado à satisfação do interesse público no caso concreto.
(...)
Por outro lado, a “liberdade” que a norma jurídica haja conferido em seu
mandamento ao administrador (...) não lhe é outorgada em seu proveito
ou para que faça dela o uso que bem entenda. (...)
Assim, a discricionariedade existe, por definição, única e tão-somente
para proporcionar em cada caso a escolha da providência ótima, isto é,
daquela que realize superiormente o interesse público almejado pela lei
aplicanda. Não se trata, portanto, de uma liberdade para a Administração
decidir a seu talante, mas para decidir-se de modo que torne possível o
13
alcance perfeito do desiderato normativo” (Celso Antônio Bandeira de
Melo, in Curso de Direito Administrativo, pp. 382 e 387).
35. Corretamente, o Ministro AUGUSTO SHERMAN CAVALCANTI,
do TCU, no Processo TC 015.707/2013-0, afirma que não pode a Administração,
mesmo no exercício de poder discricionário, afastar-se dos princípios
constitucionais implícitos e explícitos a que se submete, entre os quais os da
motivação, eficiência e economicidade. E, em sendo assim, obriga-se o
administrador a justificar sua escolha, para comprovar que ela é a que melhor
atende ao interesse público e aos princípios da eficiência e economicidade:
“Esta é outra questão extremamente interessante. Até que ponto poderia
a discricionariedade do administrador ser objeto de sindicância por parte
dos órgãos de controle. Sobre o tema, sobretudo em questões atípicas, a
motivação é que dá o suporte de validade do ato. No caso concreto,
considero que o conteúdo do ato administrativo discricionário pode se
submeter à apreciação do Tribunal de Contas e do Poder Judiciário.
Colhe-se na doutrina e na jurisprudência teorias elaboradas com a
finalidade de fixar limites ao exercício do poder discricionário e ampliar a
possibilidade de exame pelos órgãos de controle externo e pelo Poder
Judiciário, porque a discricionariedade conferida ao administrador há de
se conformar ao que dispõem a lei e a Constituição.
Não pode a Administração, mesmo no exercício de poder discricionário,
afastar-se dos princípios constitucionais implícitos e explícitos a que se
submete, entre os quais os da motivação, eficiência e economicidade”.
36. A questão tem correlação direta com o direito fundamental à boa
administração pública. Segundo Juarez Freitas, “o agente púbico está obrigado a
sacrificar o mínimo para preservar o máximo dos direitos fundamentais” (FREITAS,
Juarez. O controle dos atos administrativos e princípios fundamentais. 3ª Ed,
ver e ampl. São Paulo: Malheiros 2004, p. 104).
37. Não se ignore que o direito a um devido processo legal e à
celeridade processual são direitos da mais alta relevância, como se extrai da
14
previsão expressa, dentre outros, no artigo 5º, LXXVII da CF. Isso só é possível
com condições, estrutura e respeito ao trabalho do MPC goiano!
38. Seguindo nesse raciocínio, cite-se Justen Filho, utilizando o termo
“personalização do Direito Administrativo”, rejeita a burocracia em detrimento da
sociedade civil, da dignidade humana e dos direitos fundamentais, que devem
prevalecer na atividade administrativa. Segundo o autor, é daí que deriva a
proposta de superação de concepções meramente técnicas para assumir a
prevalência de enfoque ético, por meio do qual se reconhece a supremacia dos
direitos fundamentais e a consagração dos procedimentos democráticos de
formação e manifestação da vontade estatal (JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de
direito administrativo. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 47).
39. A esse respeito, Diogo de Figueiredo Moreira Neto registra que o
primado dos direitos fundamentais, desfrutado a partir do século XX, não deixa
espaço para o arbítrio ou imposições políticas, “por mais justificadas que se
apresentem” (MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Mutações de Direito
Público, 3. Ed. Ver. Ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2007, p. 65).
40. Assim, não é demasiado afirmar, como faz Sarmento, que a
Administração Pública, no século XXI, é instrumento de realização dos direitos
fundamentais dos administrados (SARMENTO, Daniel. Direitos fundamentais
e relações privadas. 2ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 106).
41. É chegado, portanto, o momento de rever conceitos, com vista ao
controle principiológico da função administrativa, que deve ser marcada pela
preponderância da boa-fé e do respeito aos direitos fundamentais consagrados
no texto constitucional. A gestão administrativa não pode ser dissociada desses
valores, admitindo-se um gestor irresponsável, ineficiente, que tudo pode em
detrimento do cidadão. O binômio Estado-súdito deve ser substituído pelo
Estado-cidadão, Estado-sociedade, o que clama para uma mudança
15
paradigmática, em que a gestão deva ser concertada, e, não, impositiva e
arbitrária.
42. Em outras palavras, não só pode, como deve ser feito o controle
sob o viés solicitado. É a própria Constituição Federal, nos artigos 37 e 70, que
obriga o cumprimento dos princípios constitucionais da Administração
Pública.
PREVARICAÇÃO
43. Como é sabido, o Conselheiro requerido foi compelido a realizar
acordo no Superior Tribunal de Justiça, nos autos do Inquérito nº 941, o que só
foi feito por ter por certa a sua ampla responsabilidade:
PET no INQUÉRITO Nº 941 - DF (2013/0241570-7) (f)
RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ
EMENTA
INQUÉRITO. CONSELHEIRO DE TRIBUNAL DE CONTAS
ESTADUAL. SUPOSTO CRIME DO ART. 319 DO CÓDIGO PENAL.
TRANSAÇÃO PENAL OFERECIDA PELO MPF E ACEITA PELO
INVESTIGADO E SEU ADVOGADO. PAGAMENTO DE MULTA A
INSTITUIÇÃO DE CARIDADE. HOMOLOGAÇÃO. CUMPRIMENTO
PERANTE O JUÍZO DAS EXECUÇÕES.
Brasília - DF, 19 de agosto de 2015.
44. Mais uma vez, o Conselheiro atua por interesses pessoais; seja
quando retarda a prática de atos; seja quando vota em processo que está
suspeito. E, obviamente, a prática de prevaricação é inequivocamente um ato
de improbidade administrativa, a teor do artigo 11, II da Lei de Improbidade.
IV – DO DIREITO
16
45. Da narrativa dos fatos anteriores, subsumidos à Lei 8429/92 vê-se
que é clara a prática de improbidade administrativa. Cumpre relembrar que o
propósito desta ação é a condenação do réu pela prática de atos preordenados e
voltados a proteger seus amigos e prejudicar aqueles que considera inimigos,
votando, ainda, em processo de controle externo de seu amigo (contas de 2014
do governador de GO, por exemplo) e, ainda, atuando, por interesse pessoal,
em tramitação de processo no TCE GO, fato reconhecido pelo STJ, em autos
que discutiu a prática de prevaricação. Além disso, cumprindo a promessa de
perseguir desafetos, pratica atos de improbidade contra representante do
MPC/GO e, assim agindo, acaba por violar o devido processo legal, o dever de
transparência, a moralidade e a eficiência.
46. Ora, a ilegalidade da conduta, como já explicado, está
materializada no vasto acervo probatório, comprovando que o requerido vota
em processos que não deveria e deixa de alegar sua suspeição, além de praticar
atos para prejudicar pretensos desafetos.
47. Não reside nenhuma dúvida de que toda a sucessão de ações
ilícitas que dão as cores da empreitada ímproba levada a efeito pelo requerido
violaram o interesse público e orientaram-se na direção da satisfação de seu
interesse privado no caso.
48. A moldura fática do evento guarda correspondência com o que a
Convenção Interamericana Contra a Corrupção, incorporada ao ordenamento
jurídico nacional por meio do Decreto nº 4.410/2002, qualifica como ato de
corrupção, em seu artigo VI, item 1, observe-se:
“l. Esta Convenção é aplicável aos seguintes atos de corrupção:
(…)
c. a realização, por parte de um funcionário público ou pessoa que
exerça funções públicas, de qualquer ato ou omissão no exercício de
17
suas funções, a fim de obter ilicitamente benefícios para si mesmo ou
para um terceiro” (destaque acrescido).
49. Na mesma linha, o evento se iguala ao que o art. 19 da Convenção
das Nações Unidas Contra a Corrupção, incorporada ao ordenamento pátrio
pelo Decreto nº 5.687/2006, classifica como abuso de funções, in verbis:
Artigo 19
Abuso de funções
“Cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar as medidas
legislativas e de outras índoles que sejam necessárias para qualificar como
delito, quando cometido intencionalmente, o abuso de funções ou do
cargo, ou seja, a realização ou omissão de um ato, em violação à
lei, por parte de um funcionário público no exercício de suas
funções, com o fim de obter um benefício indevido para si mesmo
ou para outra pessoa ou entidade”(destacamos)
50. A Constituição da República, no art. 37, § 4º, por sua vez, consagra
como improbidade administrativa os vícios comportamentais graves de
agentes públicos e de particulares que com eles se aliam, remetendo à lei
específica o papel de tipificação das condutas.
51. A Lei nº 8.429/1992, que regulamenta o dispositivo constitucional,
demarca no seu art. 4º que: “Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são
obrigados a velar pela estrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos.”
52. Mais adiante, em seu art. 11, a alcunhada Lei de Improbidade
Administrativa apresenta-nos o rol onde se encontram tipificados os atos
praticados pelo requerido, conforme descrição feita no tópico antecedente:
“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta
contra os princípios da administração pública qualquer ação ou
omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade,
18
legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou
diverso daquele previsto, na regra de competência;
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;
(...)
IV – negar publicidade a ato oficial;”
53. De acordo com todo o delineamento já apresentado, vê-se que está
perfeitamente configurado e tipificado o evento ímprobo.
54. O dolo é, também, cristalino e fala por sim mesmo. Com efeito,
conforme decidido pela Segunda Turma do STJ no REsp 765.212⁄AC, o elemento
subjetivo necessário à configuração de improbidade administrativa censurada pelo art.
11 da Lei 8.429⁄1992 é o dolo genérico, consistente na vontade de realizar ato que
atente contra os princípios da Administração Pública. E é inegável tal consciência.
Rememorem-se as falas do próprio Conselheiro flagrado e as decisões judiciais que
reconheceram as práticas aqui narradas.
55. Assim, perfeitamente cabível o entendimento do STJ (1ª e 2ª Turmas), segundo
o qual não se exige a presença de dolo específico, mas apenas o dolo eventual,
presumido, ou seja, não há necessidade de comprovação de intenção especial do
ímprobo, além de realizar a conduta tida por incompatível com os princípios
administrativos. Mas ainda assim, foi justamente o que ocorreu no caso presente.
56. Trata-se, repita-se, de dolo in re ipsa, ou seja, presumido, que fala por si
mesmo (1141721 / MG). Assim, o dolo na presente ação está plenamente
configurado, pois é manifesta a vontade do requerido de realizar conduta
contrária ao princípio da legalidade e da impessoalidade.
57. Oportuno frisar, ainda, que o enriquecimento ilícito e o dano ao Erário são
apenas secundários com relação à norma residual contida na no art. 11 da mesma
lei, abaixo transcrito. Isso é o mesmo que afirmar que, para que se concretize a
ofensa ao art. 11 da Lei de Improbidade, revela-se desnecessária a comprovação de
19
enriquecimento ilícito do requerido ou a caracterização de prejuízo ao Erário.
Nesse sentido:
ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA
CONTRA CHEFE DO PODER EXECUTIVO MUNICIPAL.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. UTILIZAÇÃO DE FRASES DE
CAMPANHA ELEITORAL NO EXERCÍCIO DO MANDATO.
ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO
PÚBLICO. VIOLAÇÃO DO ART. 267, IV, DO CPC, REPELIDA. OFENSA
AOS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS. INTERPRETAÇÃO DO ART. 11
DA LEI 8.429⁄92. LESÃO AO ERÁRIO PÚBLICO. PRESCINDIBILIDADE.
INFRINGÊNCIA DO ART. 12 DA LEI 8.429⁄92 NÃO CONFIGURADA.
SANÇÕES ADEQUADAMENTE APLICADAS. PRESERVAÇÃO DO
POSICIONAMENTO DO JULGADO DE SEGUNDO GRAU.
(...)
2. A ação civil pública protege interesses não só de ordem patrimonial
como, também, de ordem moral e cívica. O seu objetivo não é apenas
restabelecer a legalidade, mas também punir ou reprimir a imoralidade
administrativa a par de ver observados os princípios gerais da
administração. Essa ação constitui, portanto, meio adequado para
resguardar o patrimônio público, buscando o ressarcimento do dano
provocado ao erário, tendo o Ministério Público legitimidade para propô-la.
Precedentes. Ofensa ao art. 267, IV, do CPC, que se repele.
3. A violação de princípio é o mais grave atentado cometido contra a
Administração Pública porque é a completa e subversiva maneira frontal
de ofender as bases orgânicas do complexo administrativo. A
inobservância dos princípios acarreta responsabilidade, pois o art. 11 da
Lei 8.429⁄92 censura “condutas que não implicam necessariamente
locupletamento de caráter financeiro ou material” (Wallace Paiva Martins
Júnior, “Probidade Administrativa”, Ed. Saraiva, 2ª ed., 2002).
(...) 6 . A tutela específica do art. 11 da Lei 8.429⁄92 é dirigida às bases
axiológicas e éticas da Administração, realçando o aspecto da proteção de
valores imateriais integrantes de seu acervo com a censura do dano moral.
Para a caracterização dessa espécie de improbidade dispensa-se o prejuízo
material na medida em que censurado é o prejuízo moral. A corroborar esse
entendimento, o teor do inciso III do art. 12 da lei em comento, que dispõe
sobre as penas aplicáveis, sendo muito claro ao consignar, “na hipótese do
art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver...” (sem grifo no
original). O objetivo maior é a proteção dos valores éticos e morais da
20
estrutura administrativa brasileira, independentemente da ocorrência de
efetiva lesão ao erário no seu aspecto material.
7. A infringência do art. 12 da Lei 8.429⁄92 não se perfaz. As sanções
aplicadas não foram desproporcionais, estando adequadas a um critério de
razoabilidade e condizentes com os patamares estipulados para o tipo de ato
acoimado de ímprobo.
8. Recurso especial conhecido, porém, desprovido.
(REsp 695.718⁄SP, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 16⁄08⁄2005, DJ 12⁄09⁄2005 p. 234, grifei).
58. Enfatize-se, ainda:
20. É desnecessário perquirir acerca da comprovação de enriquecimento
ilícito o administrador público ou da caracterização de prejuízo ao Erário.
O dolo está configurado pela manifesta vontade de realizar conduta
contrária ao dever de legalidade, corroborada pelos sucessivos aditamentos
contratuais, pois é inequívoca a obrigatoriedade de formalização de
processo para justificar a contratação de serviços pela Administração
Pública sem o procedimento licitatório (hipóteses de dispensa ou
inexigibilidade de licitação).
21. Este Tribunal Superior já decidiu, por diversas ocasiões, ser
absolutamente prescindível a constatação de dano efetivo ao patrimônio
público, na sua acepção física, ou enriquecimento ilícito de quem se
beneficia do ato questionado, quando a tipificação do ato considerado
ímprobo recair sobre a cláusula geral do caput do artigo 11 da Lei
8.429/92.
22. Verificada a prática do ato de improbidade administrativa previsto no
art. 11 da Lei 8.429/1992, consubstanciado na infringência aos princípios
da legalidade e da moralidade, cabe aos julgadores impor as sanções
descritas na mesma Lei, sob pena de tornar impunes tais condutas e
estimular práticas ímprobas na Administração Pública. STJ, REsp 1377703
/ GO RECURSO ESPECIAL
2011/0305987-5
21
59. Assim sendo, deve ser arguida, em primeiro grau de jurisdição, a
responsabilidade do requerido pelos atos de improbidade praticados, nada
obstando o fato de ser Conselheiro do TCE-GO (vide o julgamento pelo STF da
Reclamação 2138/DF).
V - DOS PEDIDOS
I – Pedido Liminar
60. Como é cediço, tanto a doutrina quanto a jurisprudência pátria já
admitem a existência de danos morais coletivos, como no presente caso, eis que
diante dos danos difusos causados pelos inúmeros atos de improbidade
administrativa praticados pelo confesso suspeito, prevaricador e agora ímprobo
réu. Danos morais coletivos, consistentes nos graves prejuízos causados as
finanças do Estado. Ademais, é pacífico o deferimento de medidas liminares em
ações de improbidade administrativa, com base no art. 12 da Lei 7.347/85 e nos
artigos 294 e 297 do novel Código de Processo Civil, a seguir transcritos:
“Art. 12 - Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem
justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.”
“Art. 294. A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou
evidência.
Parágrafo único. A tutela provisória de urgência, cautelar ou
antecipada, pode ser concedida em caráter antecedente ou incidental”.
“Art. 297. O juiz poderá determinar as medidas que considerar
adequadas para efetivação da tutela provisória”. (destaques não
originais).
22
61. Com efeito, no âmbito doutrinário, conforme magistério de
Cândido Dinamarco, o tempo atua como condição corrosiva de direitos4,
porquanto acarreta efeitos deletérios não somente ao processo, mas também, no
caso em baila, a toda sociedade. Assim, a tutela de urgência emerge como
verdadeiro catalisador do interesse público em face do lapso temporal, uma vez
que mitiga as consequências negativas decorrentes da continuidade da atuação
temerária do Conselheiro Edson José Ferrari.
62. Guardando paralelo com a doutrina brasileira, a jurisprudência
nacional trilha semelhante caminho, a saber:
TJ-DF - Mandado de Segurança MS 93758320058070000 DF 0009375-
83.2005.807.0000 (TJ-DF) Data de publicação: 28/02/2008 Ementa:
MANDADO DE SEGURANÇA - IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA - DECRETO QUE DETERMINOU O
AFASTAMENTO DE AGENTE PÚBLICO DOEXERCÍCIO DO
CARGO ATÉ À CONCLUSÃO DO PROCESSO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR - ART. 20 , PARÁGRAFO
ÚNICO , DA LEI Nº 8.429 /92 - POSSIBILIDADE - SEGURANÇA
DENEGADA. 1. SE AS CONDUTAS APURADAS SE AMOLDAM
ÀS ESPECIFICADAS NO ART. 11 , CAPUT, DA LEI Nº 8.429 /92, A
AUTORIDADE COMPETENTE PODERÁ DETERMINAR O
AFASTAMENTO DOAGENTE PÚBLICO DO EXERCÍCIO DO
CARGO, EMPREGO OU FUNÇÃO, SEM PREJUÍZO DA
REMUNERAÇÃO, QUANDO A MEDIDA SE FIZER NECESSÁRIA
À INSTRUÇÃO PROCESSUAL, CONFORME PREVÊ O
PARÁGRAFO ÚNICO, DO ART. 20, DA REFERIDA LEI. 2. A
MEDIDA DE QUE TRATA O PARÁGRAFO ÚNICO , DO ART. 20 ,
DA LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA , TEM CARÁTER
CAUTELAR, AINDA QUE NÃO ESTIPULE PRAZO PARA O
AFASTAMENTO.
63. De lege lata, o art. 300 do Código Processual Civil de 2015 aduz
que a concessão da tutela de urgência depende da existência de elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo, a saber:
4 DINAMARCO, Cândido Rangel. O regime jurídico das medidas urgentes. In: Nova era do
processo civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 65
23
“Art. 300: A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo”. (grifado).
64. Para tanto, basta a presença do fumus boni iuris e do periculum in
mora, pressupostos estes que se encontram, à saciedade, demonstrados na
inicial.
65. De fato, a fumaça do bom Direito restou cristalina em face da
robusta prova acostada aos autos.
66. Em semelhante sentido, o perigo da demora é pungente, visto que
o requerido é Conselheiro do TCEGO, continuando a exercer a sua função,
apesar de flagrado em interceptação lícita, verdadeira confissão acerca das
práticas ímprobas e ameaçadores que desenvolve no exercício do nobre
processo de julgar. Além disso, foi processado e se considerou que praticou
os fatos que lhe rendem ensejam à pecha de prevaricador. Foi reconhecido,
pela r Justiça Estadual de GO, por se recusar a dar publicidade a ato público,
e, na mesma toada, se reconheceu que não fornece condições de trabalho
essenciais, para o exercício da atividade ministeriais. Em tese, ao menos três
decisões judiciais, duas, do TJE GO e uma, do STJ, reconhecendo práticas
ilícitas, não podem ser consideradas pouca coisa.
67. Excelência, sob a ótica do interesse público primário, a quem
interessa a atuação irregular do Tribunal de Contas do Estado de Goiás na
medida em que o Conselheiro Edson Ferrari está disposto a “não deixar
incólume” quem supostamente “sacaneia” seu amigo, o Governador Marconi
Perillo?! Fosse isso pouco, quem garantirá a atuação imparcial desse
conselheiro para relatar os inúmeros processos que tramitam naquela Casa,
envolvendo atos do governo, a exemplo de licitações, contratos, etc? Além
disso, é de notar que, somente após denúncias, frise-se, afastou-se, tão
somente, da relatoria das Contas de Governo do ano/exercício 2015, mas, não,
24
da sua votação --- quando se sabe que há indícios de que o Governador do
Estado de Goiás realizou sucessivas operações financeiras irregulares nesse
ano a fim de mascarar a gravíssima situação fiscal vivida pelo Estado5! As
chamadas “pedaladas fiscais” que tiveram como consequência o processo de
impeachment da Presidente da República.
68. Materializando sua disposição em “não deixar incólume” quem
supostamente “sacaneia” seu amigo, o Governador Marconi Perillo, o
Conselheiro Edson Ferrari, enquanto ocupava a Presidência do Tribunal de
Contas do Estado de Goiás, desmantelou toda estrutura de trabalho do
Procurador do Ministério Público de Contas Fernando dos Santos Carneiro ---
desmonte esse formalmente já reconhecido pelo Ministério Público do Estado
de Goiás (Parecer nº 0463/2014) e, inclusive, pelo Tribunal de Justiça do Estado
de Goiás, conforme se verifica no aresto jurisprudencial do Mandado de
Segurança nº 201393195075:
“MANDADO DE SEGURANÇA. ATO OMISSIVO. MÉRITO
ADMINISTRATIVO. DISPONIBILIZAÇÃO DE RECURSOS
HUMANOS. GABINETE PROCURADOR DO TCE. INÉRCIA.
COMPROMETIDO DAS FUNÇÕES INSTITUCIONAIS.
ILEGALIDADE. O Controle de legalidade dos atos administrativos pelo
Poder Judiciário não ofende o princípio da separação dos poderes. 2 –
Constitui prática ilegal a conduta omissiva da autoridade
gestora, que se queda inerte no seu dever de viabilizar um
quantitativo mínimo de pessoal para a composição do gabinete
do Procurador do Ministério Público junto ao TCE, por se
afigurar em expressa afronta aos ditames do artigo 33 da Lei
16.168/07, dado que se persistente a situação poderá desencadear a
inviabilização da efetivação das funções constitucionais do
impetrante. Segurança concedida em parte. (MS: nº 201393195075.
Relator: Marcus da Costa Ferreira, subst.. Desemb. Kisleu Dias. Redator:
Desemb. Gilberto Marques Filho. Julg. Em 02/10/2014. 4ª câmara cível
do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás). – Destacado. 5 O CNJ, v.g, em recente decisão, reconheceu a irregularidade na transferência de recursos
realizada entre o Estado de Goiás e o Fundo de Modernização do Tribunal de Justiça do Estado
de Goiás (DOC).
25
69. Enquanto o Procurador Fernando dos Santos Carneiro questionou
a licitação e a construção da nova sede do Tribunal de Contas do Estado, além
de diversos casos de nepotismo --- lembrando que o Conselheiro Edson José
Ferrari mantinha sua esposa e sua cunhada trabalhando nessa Corte e o
Governador ainda tem sua cunhada em cargo em comissão também na Corte
de Contas ---, boa parte das ações desse Conselheiro, no exercício da
Presidência, se voltou para sufocar a atividade do Procurador, retirando todo
o pessoal de apoio.
70. Não se dando por vencido mesmo a tantas e recorrentes práticas
ilegais, o Procurador Fernando dos Santos Carneiro ainda questionou os
empréstimos realizados entre Tribunal de Contas do Estado; Assembleia
Legislativa e Tribunal de Justiça do Estado de Goiás com o Governo do Estado
de Goiás; agora, embora também questionado, esse Conselheiro é relator de
uma das representações, da qual ele não abandona a relatoria, não obstante sua
evidentíssima suspeição.
71. Tudo isso só vem materializar o que fora combinado entre esses
agentes públicos. Para relembrar, segundo as próprias afirmações do requerido:
Conselheiro Ferrari: “Pode deixar, pessoal que tentou de sacanear não
vai ficar incólume não, tá. Pode deixar comigo” (Desmonte da
estrutura do gabinete do Procurador Fernando Carneiro);
Governador Marconi: “Nós somos uns pelos outros” (Recusa em
nomear o Procurador Fernando dos Santos Carneiro para o cargo
de Procurador-geral, pois este questionara a legalidade de
inúmeras ações em do governo e do TCE-GO).
72. Fosse isso pouco, a 6ª Divisão de Fiscalização do TCE/GO, criada
pela Lei nº 15.689, de 02 de junho de 2006, com o intuito de fiscalizar as receitas
do Estado, conforme prescreve o art. 25 da Constituição do Estado de Goiás, foi
desativada pelo Conselheiro Edson José Ferrari, em 2011, quando no exercício
da Presidência; propiciando que o déficit na conta centralizadora do Estado
26
(que em tese jamais poderia ser negativo, crescesse de R$621.271.070,166 para
R$ 1.492 bilhão em 2014. Mais do que “pedaladas”, verdadeiro escândalo fiscal.
73. Assim, ante a ausência de imparcialidade, para não falar da
acintosa violação aos princípios da legalidade, da eficiência e da moralidade,
descabido permitir ao requerido a continuidade das suas funções naquela
Corte, seja para julgar as contas de seu amigo, Governador Marconi Perillo,
relativas ao exercício de 2015; seja para continuar no exercício do cargo de
conselheiro e praticando atos de improbidade, em tão nobre e relevante
função, para só buscar-se uma reparação após decisão ao final da presente ação.
74. Ademais, não restam dúvidas de que o afastamento do
Conselheiro Edson José Ferrari não acarretará qualquer prejuízo à continuidade
dos serviços desenvolvidos no Tribunal de Contas do Estado de Goiás, bem
como aos processos sob a relatoria desse Conselheiro.
75. Isso porque, o art. 25 da Lei Orgânica do Tribunal de Contas do
Estado de Goiás prevê expressamente que os auditores serão convocados a
substituir os conselheiros em situações de afastamento, senão vejamos:
Art. 25. Os Auditores, mediante convocação prévia, substituirão os Conselheiros em
seus impedimentos e ausências por motivo de licenças, férias, vacância do cargo ou outro
afastamento legal.
76. Ou seja, rechaça-se, assim, de pronto, qualquer argumento no
sentido de que o afastamento do mencionado conselheiro acarretaria prejuízos
ao Tribunal de Contas do Estado de Goiás.
77. Posto isso, o MPGO requer, em liminar, que:
6https://tcenet.tce.go.gov.br/Downloads/Arquivos/003618/Contas%20do%20Governador%20An
o%202011.pdf, pg. 116.
27
a) Seja suspenso, imediatamente, de suas funções o Conselheiro
requerido, bem assim, suspenso das funções de julgar as contas do
Governo, exercício de 2015;
b) Sejam requisitadas cópias integrais, ao Egrégio STJ, do Inq 941,
vez que, não se faz possível a consulta de suas peças, nos termos do
artigo 17, parágrafo 3º da Lei 8429/92;
II- Pedido Definitivo
Diante do exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE
GOIÁS requer:
1. a notificação do requerido EDSON JOSÉ FERRARI, para
apresentar manifestação, na forma do disposto no art. 17, § 7º, da Lei nº
8.429/92;
2. prestada ou não, que seja recebida a presente ação e citado o réu
para apresentar resposta (art. 17, § 9º, da Lei nº 8.429/92);
3. a citação do Estado de GOIÁS, na pessoa do Exmo. Sr.
Procurador-Geral, com endereço na Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, 3 - St.
Central, Goiânia - GO, 74003-010, para atuar ao lado do Ministério Público ou
se abster de fazê-lo, na forma do disposto no art. 17, §3º, da Lei nº 8.429/92;
4. após a instrução do feito, que sejam julgados procedentes os
pedidos, para, na forma do disposto no art. 12, inciso III, da Lei nº 8.429/92,
condenar o requerido:
4.1.confirmando a liminar deferida e determinando -se a
perda da função pública;
4.2.à suspensão dos seus direitos políticos por 5 (anos) anos;
4.3. ao pagamento de multa civil em valor equivalente cem
28
vezes o valor da sua remuneração ; e
4.4. à proibição de receber benefícios ou incentivos fiscais ou
creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 3 (anos) anos.
4.5 à condenação do réu por danos morais coletivos, face a
repercussão difusa causada por seus atos de improbidade administrativa na
vida da sociedade e em especial nas contas públicas.
Protesta pela produção de todos os meios de prova em direito
admitidos, a serem requeridos, eventualmente, no momento oportuno.
Dá-se à causa o valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais).
GOIÂNIA, 02 de maio de 2016.
Fernando Aurvalle Krebs
Promotor de Justiça