28
57ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE GOIÂNIA Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Sala 332 Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100 62-3243-8442 | www.mpgo.mp.br EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA ____ VARA DA FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE GOIÁS – GOIÂNIA. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS (MP-GO), por meio da 57ª Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Combate à Corrupção, no uso de suas atribuições legais e constitucionais, vem, respeitosamente, perante V. Exª, com fundamento nos artigos 127 e 129, incisos III e IX, da Constituição Federal; no artigo 46, incisos VI e XI, da Lei Complementar nº 25, de 1998; nos artigos 210, § 1º, 200, inciso V e 209, da Lei nº 8.069, de 1990; Lei 8.429/92; Lei 13.105/15 e nos demais dispositivos legais pertinentes, propor a presente AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

57ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE GOIÂNIA Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Sala 332

Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100

62-3243-8442 | www.mpgo.mp.br

EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA ____ VARA DA

FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE GOIÁS – GOIÂNIA.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS (MP-GO),

por meio da 57ª Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e

Combate à Corrupção, no uso de suas atribuições legais e constitucionais, vem,

respeitosamente, perante V. Exª, com fundamento nos artigos 127 e 129, incisos

III e IX, da Constituição Federal; no artigo 46, incisos VI e XI, da Lei

Complementar nº 25, de 1998; nos artigos 210, § 1º, 200, inciso V e 209, da Lei nº

8.069, de 1990; Lei 8.429/92; Lei 13.105/15 e nos demais dispositivos legais

pertinentes, propor a presente

AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Page 2: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

2

em desfavor de:

EDSON JOSÉ FERRARI, brasileiro, Conselheiro do TCE/GO, portador da

carteira de identidade nº 506474 – SSP/GO, CPF nº 135.131.761-04, residente e

domiciliado na Rua GV 3, QD. 3, LT. 14, Residencial Granville, Goiânia/GO,

CEP 74.366-020, podendo ser citado no seu domicilio funcional, TCE/GO, que se

localiza na Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, nº 332, Centro, Goiânia/GO -

CEP 74.003-010

Em linhas gerais, o MPEGO requer que seja responsabilizado o requerido

pela prática de atos que atentam contra a moralidade, a impessoalidade e a

eficiência administrativa e a publicidade, além de afronta à legalidade,

conforme narrativa a seguir.

I - DOS FATOS

1. Como denotam gravações noticiadas pela imprensa e não

desmentidas pelo réu

(https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=1743562495880586&id=1397837

253786447&refsrc=https%3A%2F%2Fm.facebook.com%2Fdokajuru%2Fvideos

%2F1743562495880586%2F&_rdr), o Conselheiro Edson José Ferrari dialoga

com o Governador de GO, Marconi Perillo, demonstrando relação íntima e de

amizade, inclusive, pondo-se a afirmar que agirá em relação a todo aquele que

se puser contrariamente aos anseios do chefe do executivo goiano, mesma

postura de autêntico servilismo, comportamento típico de vassalo.

Page 3: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

3

2. Como é cediço, não raro Promotores de Justiça, Procuradores do

Ministério Público de Contas, Associações e cidadãos em geral, legitimados

constitucionalmente, socorrem-se do TCE-GO justamente para questionarem

atos e contratos firmados pelo Governo estadual.

3. No entanto, essas autoridades, entidades e pessoas, sem o saber,

correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS,

pois, ao contrário do que se deveria esperar de uma Corte de Contas, o

Conselheiro Edson José Ferrari está a postos, segundo ele mesmo alega, para

agir em benefício do suposto representado, nem que para isso adote medidas

contra aqueles que deveria preservar.

4. Vejamos o que fora divulgado pela imprensa:

“Edson Ferrari: “Aí eu quero te dizer que eu vou... Esses nego aí que

estão te sacaneando, você pode deixar eles comigo, viu

Já comecei a movimentar hoje. Depois, eu te falo pessoalmente. Viu, tá

bom”.

(...) Pode deixar, pessoal que tentou te sacanear não vai ficar

incólume não, tá. Pode deixar comigo”.

5. O próprio Conselheiro, ainda, em outras passagens, admitiria a

sua relação de amizade para com o Governador, além de se considerar seu

amigo e devedor:

“Conselheiro: Rapaz, acabei de falar seu nome aqui, meu amigo.

(...) Falaram lá em Brasília que eu tinha tomado posse em seu gabinete.

(...) Você vai ajudar eu começar a construir essa sede, vai ser minha

marca, aí, viu.

A sede vai se chamar Governador Marconi Perillo. Você vai ver...

Eu devo isso tudo a você também, meu amigo.

Governador: Nós fazemos. Nós somos uns pelos outros aí”.

6. A relação de amizade entre o Governador, parte a ser julgada, e o

Conselheiro julgador foi objeto de representação ao TCEGO, Presidência e

Corregedoria, e criminal, ao PGR (cópias anexas).

Page 4: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

4

7. Além dessas iniciativas, o Ofício 18/GPGC-2016 (consulte-se com

seus anexos), destaca, por igual, a RELAÇÃO DE AMIZADE DO

CONSELHEIRO DO TCE DE GO, EDSON JOSÉ FERRARI, COM O

GOVERNADOR DO ESTADO, MARCONI FERREIRA PERILLO JÚNIOR.

8. O nobre representante do MPC Goiano destaca:

a. Trechos de sessão plenária extraordinária sobre as contas

do Governo, quando se questionou a suspeição da citada

autoridade que, além de ocupar cargos no Governo Estadual,

chegou a viajar com o Chefe do Executivo à Rússia, mesmo

estando já na qualidade de Conselheiro do TCE GO;

b. O Conselheiro confessa a relação de amizade com o

governador e sua fidelidade a essa amizade;

c. O mesmo Conselheiro, quando então exercia a Presidência

do TCE GO desativou as mais importantes estruturas de

fiscalização do Tribunal, dificultando sobremaneira a

fiscalização das contas do Governador Marconi Ferreira Perillo

Júnior, seu amigo;

d. De fato, foi criada junto ao TCE GO a 6ª Divisão de

Fiscalização (6ª DF), para acompanhar, fiscalizar e controlar a

receita do Estado. Mas o que se observou é que inexistem

fiscalizações realizadas pela 6ª DF, precisamente a contar do

momento em que se iniciou a gestão do então Presidente Edson

José Ferrari, porquanto este esvaziou, completamente, a 6ª

Divisão de Fiscalização, como demonstram os documentos

acostados (cópia da documentação juntada ao MS nº

201592263518);

Page 5: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

5

e. Esta conduta permitiu ao Governador e amigo, Marconi

Ferreira Perillo Júnior, a ausência de atuação do controle externo

sobre as receitas públicas, bem assim propiciado condições para

a ocorrência de diversas irregularidades, que permitiram o

exponencial e inimaginável incremento do déficit na conta

centralizadora, como apontado detalhadamente no Relatório

sobre as Contas do Governador do Estado (Parecer Prévio das

Contas de Governo – 2014, Item III do relatório do Relator), já

que a inspeção e auditoria autodeterminadas pelo Plenário da

Corte de Contas foram indevidamente adiadas sine die por

atuação dele — que, no exercício da Presidência do TCE-GO

possui função precipuamente administrativa, como assim

prescreve o artigo 23 do Regimento Interno da Corte (RITCE-

GO), como bem revela o Procurador de Contas Eduardo Luz

Gonçalves, no subitem 3.7 de sua representação (Representação

nº 201500047002462);

f. O mesmo Conselheiro, então Presidente, cumprindo a sua

promessa, promoveu ilegítimo desmonte do MPC-GO,

notadamente no Gabinete Procurador Fernando dos Santos

Carneiro (que atua contra o nepotismo patrocinado pelos

próprios Conselheiros do TC, incluído aí o Conselheiro Edson

José Ferrari, pelo Governador e por Secretário de Estado, dentre

outros, e contra as irregularidades perpetradas em razão da nova

sede do TCE GO). Seu único fito teria sido, então, retaliar o

membro ministerial. Foi preciso que o representante do MPC-

GO se socorresse da Justiça para garantir mínima estrutura de

trabalho, cujo Mandado de Segurança contou com

Page 6: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

6

posicionamento ministerial favorável e pedido julgado

procedente pelo Tribunal de Justiça (Processo nº 201393195075);

g. O mesmo Conselheiro notabilizou-se em vedar ao MPC-

GO o amplo acesso às informações públicas, o que mais uma vez

levou o Procurador de Contas a ajuizar Mandado de Segurança

(201390703908), com pedido julgado procedente, “dada a

evidente violação a direito líquido e certo do impetrante”,

inclusive com aplicação de multa pessoal ao então Presidente do

TCE-GO Edson José Ferrari, pela demora e cumprimento parcial

da decisão; e

h. O Conselheiro Ferrari seria suspeito em autos de outro

processo em que existe interesse pessoal para o deslinde da causa,

acabando por reter e inviabilizar o julgamento do feito, como é

exemplo a Representação nº 2014000470021961 – MPC/GO, de que

indevidamente ele é relator, embora oficialmente instado a

reconhecer sua suspeição (Ofício nº 106/GABPFSC-2015), por ter

sido representado pelo MPC-GO pela prática da mesma conduta,

quando no exercício da Presidência do TCE-GO (Representação nº

2014000470016562), e, ainda, por obstaculizar as ações de controle

externo, destinadas a fiscalizar as obras de construção do próprio

Tribunal de Contas Estadual.

II - OS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

SUSPEIÇÃO NÃO DECLARADA 1 http://www.tce.go.gov.br/ConsultaProcesso?proc=294390 2 http://www.tce.go.gov.br/ConsultaProcesso?proc=292686

Page 7: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

7

9. Como é sabido, a Lei Orgânica do TCE GO (Lei 16.168/07), pelo

menos formalmente, prevê (artigo 22, parágrafo único) que se deve aplicar ao

Conselheiro que lá atua os casos de suspeição de parcialidade, previstos na

legislação pertinente.

10. Ora, o CPC, artigo 1353, vigente à época dos fatos, veda o

julgamento obviamente por quem seja amigo da parte, tudo de molde a não

comprometer a imparcialidade que deve pautar-se o magistrado.

11. Não por outro motivo, o MPC/DF arguiu a impossibilidade de ex

Conselheiro do TCDF julgar as contas de governo, em razão de declarações

ofertadas, no ato de sua posse, que induziam a relação de amizade com então

Governador, cujas contas seriam julgadas. O TCDF não hesitou e na Sessão

Ordinária nº 4313, de 15/12/09, proferiu a Decisão nº 8028/09, mandando

proceder à indicação de novo relator para aquelas Contas, reconhecendo a

procedência da representação ministerial, tendo, ainda, afastado mencionado

Conselheiro de suas atividades, em geral, na mesma Corte, em virtude de sua

participação no rumoroso caso policial, conhecido como Caixa de Pandora

(cópias anexas).

12. Retornando ao Conselheiro goiano, o MPC GO também agiu. A

propósito, vejam-se trechos de sessão plenária extraordinária sobre as contas do

Governo, quando se questionou a suspeição da citada autoridade que, além de

ocupar cargos no Governo Estadual, chegou a viajar com o Chefe do

Executivo à Rússia, mesmo estando já na qualidade de Conselheiro do TCE

GO:

Procurador Fernando: “Senhor Presente, agora uma questão de ordem

que é a suspeição do relator para apreciar as contas do governador

(...) o nobre conselheiro foi secretário particular do Governador

3 No novo CPC (Lei nº 13.105/15), art. 145.

Page 8: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

8

Marconi Perillo de 1999 a 2004 (...) Senhor Presidente, a questão de

ordem levantada por mim se trata da amizade intima, não estou aqui

criticando atos de secretário, mas tão somente amizade intima

(...) revelada na viagem do conselheiro à Rússia, que foi uma

viagem particular ao encontro, que me parece, do governo e do

Governador, participando, inclusive, de reuniões de Estado – reuniões

exclusivamente do Poder Executivo.

Conselheiro Edson Ferrari: “Senhor Presidente, solicito a palavra.

Duas questões. Primeiro que a viagem à Rússia eu fiz com meus recursos

de toda a monta. Viajei com minha esposa e não nego a minha

amizade com quem quer que seja. Sou fiel a elas. (...) Declaro que

sou fiel a minhas amizades!”.

13. Ora, o magistrado de contas, tal qual o membro do Poder

Judiciário, está obrigado a se declarar suspeito em situações como as

flagradas. Mas não o fez.

14. Além do mais, na linha do “somos uns pelos outros” beneficiou

o requerido a Sra CHRISTIANE JAYME PEIXOTO --- cunhada do

Governador, irmã de VALÉRIA PERILLO ---, nomeando-a para o cargo de

ASSESSOR II.

15. Isso é tanto quanto basta para demonstrar a clara relação de

amizade para com o Governador; fosse isso pouco, revela gratidão e mantém

uma relação de troca, nem que para isso aja contra aqueles que ousarem a se

postar no caminho do Chefe do Executivo, que retribui a “lealdade”,

afirmando que naquela Corte, onde deveria imperar a imparcialidade,

“somos uns pelos outros aí”. Conduta que merece o nosso rechaço e que não se

admite em uma República.

Page 9: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

9

16. De fato, o Conselheiro requerido, além de ter votado as contas de

2014, consumando a prática do ato ímprobo, era o relator das contas do

Governador, seu amigo, para o exercício de 2015. Era, porque reconhecendo

que, de fato são verídicas as denúncias divulgadas pela imprensa, declinou

das suas funções de relator, para o exercício de 2015

(http://www.contasabertas.com.br/website/arquivos/12803). Mas isso só

aconteceu, após 04 associações e 02 representantes do MP, um estadual e

outro federal, de fora do ambiente do controle externo goiano, virem a

publico denunciá-lo, exigindo que a Presidência e a Corregedoria o

afastassem.

17. Assim agindo, o Conselheiro requerido viola o artigo 135, I, II e V

do CPC (145, I e IV, do NCPC) e, em maior tom, a Constituição Federal, que

veicula o cumprimento dos princípios da moralidade e da impessoalidade.

18. Mas não é só. O Conselheiro pratica ato de improbidade

administrativa, a exemplo do artigo 11, caput, I e II (Lei 8429/92), bem assim

eventuais crimes de abuso de autoridade e prevaricação, visando benefícios

pessoais, como próprio declara almejar com a construção do prédio do TCE

GO, para que se constitua em sua “marca”.

PERSEGUIÇÃO A TODOS QUE SE PÕEM NO CAMINHO DO

GOVERNADOR. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA MORALIDADE,

IMPESSOALIDADE E DA PUBLICIDADE.

19. Como visto e transcrito, nesta peça, o requerido afirma que irá agir

contra todos que se põem no caminho do Governador de GO. E, realmente,

assim procedeu.

20. Uma dessas vítimas é, sem dúvida, o Procurador do Ministério

Público de Contas de GO, Fernando dos Santos Carneiro.

Page 10: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

10

21. Como comprovam as documentações acostadas, o requerido

tentou impedir que o representante do MPC/GO tivesse acesso a dados que

comprovam a prática de atos irregulares, tendo sido obrigado a se valer do

Judiciário, que obviamente reconheceu a prática de ato abusivo e condenou

mencionado Conselheiro ao pagamento de multa, ante sua reiterada

postergação no cumprimento de decisão judicial (MS nº 201390703908).

22. Disse, mais, o TJGO, que há incontrovérsia sobre a cláusula de

garantia, inscrita no artigo 130 da Constituição Federal, vocacionada a outorgar

aos membros do Ministério Público especial as prerrogativas do Ministério

Público Comum (TJGO, MS 226351-78).

23. Nada disso seria necessário, até porque o STJ já havia consagrado

a obrigatoriedade de atendimento das requisições do Ministério Público junto

ao Tribunal de Contas, necessárias ao desempenho de suas atribuições, a fim de

se ter condições de avaliar, fiscalizar, investigar (RMS 22591/RN).

24. Ao dar concreção a sua fala ao Governador, além de perseguir o

Procurador, tentando impedi-lo de agir, o requerido acabou cometendo ato de

improbidade administrativa, por violação ao princípio da publicidade, artigo

11, caput, bem assim por negar publicidade a atos oficiais, inciso IV,

descumprindo ainda à Lei de Processo Administrativo, 9784/99, que preconiza

a divulgação oficial dos atos administrativos, e a Lei de Acesso à Informação,

12.527/11 (Lei do Estado de Goiás nº 18.025/2013).

25. Acentue-se, por todo o exposto, a violação chapada e acintosa ao

princípio constitucional da publicidade, inserto no artigo 37 c/c artigo 5,

XXXIII da CF. Reconhece o Texto maior que tudo o que o Estado faz, deixa de

fazer ou contrata, ou seja, tudo o que é publico deve ser de conhecimento do

povo, interessa rigorosamente a qualquer cidadão, corolário, ainda, do

princípio da moralidade administrativa.

Page 11: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

11

26. Nesse sentido, leciona José Afonso da Silva:

“A publicidade sempre foi tida como um princípio administrativo porque

se entende que o Poder Público, por ser público, deve agir com a

maior transparência possível, a fim de que os administrados

tenham, a toda hora, conhecimento do que os administradores

estão fazendo. Especialmente exige-se que se publiquem atos que devem

surtir efeitos externos, fora dos órgãos da Administração.

A publicidade, contudo, não é um requisito de forma do ato

administrativo, não é elemento formativo do ato, é requisito de eficácia e

moralidade. Por isso mesmo, os atos irregulares não se convalidam com a

publicação, nem os regulares a dispensam para a sua exequibilidade,

quando a lei ou o regulamento a exige.

Agora é a Constituição que a exige (Curso de Direito Constitucional

Positivo, 14ª Edição, p. 617).

27. Mas os atos de perseguição não pararam por aí. O Conselheiro,

enquanto no exercício da Presidência do TCE-GO, retirou todas as condições

de trabalho do Procurador, fato que, também, levou o representante do MPC

GO a se socorrer do Judiciário, com idêntico êxito.

28. Trata-se de uma das piores estruturas de trabalho existente no

MPC brasileiro, fato que é público e notório e tem chamado a atenção,

inclusive, do Conselho Nacional de Procuradores Gerais de Contas (CNPGC).

29. Tais fatos precisam ser contrastados com o volume de recursos de

que dispõe o TCE GO. Em 2015, o TCE GO recebeu R$ 113.695.570,12; e, em

2016, esses valores foram, até fevereiro de 2016, de R$ 18.885.601,21.

30. Com um quadro de apenas 04 Procuradores e 14 servidores, o

MPC GO todo consome menos de R$ 4 milhões de reais ao ano! Isso é nada

perto dos recursos dirigidos ao TCE GO. Além disso, a estrutura de trabalho

toda do MPC GO é menor que a de um único gabinete de conselheiro do

TCE-GO, como, por exemplo, o do Conselheiro Hélder Valin Barbosa (cópia

anexa).

Page 12: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

12

31. No Gabinete do Procurador que é perseguido, há apenas 01

servidor, contra, em média, 14, no gabinete dos Conselheiros do TCE goiano.

32. Dessa sorte, demonstra-se que não é a falta de recursos que

impede o TCE de destinar ao MPC goiano condições de trabalho, mas, sim,

práticas de retaliação.

33. Nem se alegue, nesse campo, que se está diante de

discricionariedade administrativa, insindicável ao Poder Judiciário.

“(...) Assim, é óbvio que o Poder Judiciário, a instâncias da parte, deverá

invalidar atos que incorram nos vícios apontados, (...) já que – repita-se –

discricionariedade é margem de liberdade que efetivamente exista perante

o caso concreto” (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso

de Direito Administrativo, p. 386/387).

34. De fato, conforme lições do festejado administrativista antes

citado, o gestor não tem em suas mãos um cheque em branco para agir como

bem queira:

“Não se confundem discricionariedade e arbitrariedade. Ao agir

arbitrariamente o agente estará agredindo a ordem jurídica, pois terá e

comportado fora do que lhe permite a lei. Seu ato, em consequência, é

ilícito e por isso mesmo corrigível judicialmente. Ao agir

discricionariamente, o agente estará, quando a lei lhe outorgar tal

faculdade (que é simultaneamente um dever), cumprindo a determinação

normativa de ajuizar sobre o melhor meio de dar satisfação ao interesse

público por força da indeterminação legal quanto ao comportamento

adequado à satisfação do interesse público no caso concreto.

(...)

Por outro lado, a “liberdade” que a norma jurídica haja conferido em seu

mandamento ao administrador (...) não lhe é outorgada em seu proveito

ou para que faça dela o uso que bem entenda. (...)

Assim, a discricionariedade existe, por definição, única e tão-somente

para proporcionar em cada caso a escolha da providência ótima, isto é,

daquela que realize superiormente o interesse público almejado pela lei

aplicanda. Não se trata, portanto, de uma liberdade para a Administração

decidir a seu talante, mas para decidir-se de modo que torne possível o

Page 13: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

13

alcance perfeito do desiderato normativo” (Celso Antônio Bandeira de

Melo, in Curso de Direito Administrativo, pp. 382 e 387).

35. Corretamente, o Ministro AUGUSTO SHERMAN CAVALCANTI,

do TCU, no Processo TC 015.707/2013-0, afirma que não pode a Administração,

mesmo no exercício de poder discricionário, afastar-se dos princípios

constitucionais implícitos e explícitos a que se submete, entre os quais os da

motivação, eficiência e economicidade. E, em sendo assim, obriga-se o

administrador a justificar sua escolha, para comprovar que ela é a que melhor

atende ao interesse público e aos princípios da eficiência e economicidade:

“Esta é outra questão extremamente interessante. Até que ponto poderia

a discricionariedade do administrador ser objeto de sindicância por parte

dos órgãos de controle. Sobre o tema, sobretudo em questões atípicas, a

motivação é que dá o suporte de validade do ato. No caso concreto,

considero que o conteúdo do ato administrativo discricionário pode se

submeter à apreciação do Tribunal de Contas e do Poder Judiciário.

Colhe-se na doutrina e na jurisprudência teorias elaboradas com a

finalidade de fixar limites ao exercício do poder discricionário e ampliar a

possibilidade de exame pelos órgãos de controle externo e pelo Poder

Judiciário, porque a discricionariedade conferida ao administrador há de

se conformar ao que dispõem a lei e a Constituição.

Não pode a Administração, mesmo no exercício de poder discricionário,

afastar-se dos princípios constitucionais implícitos e explícitos a que se

submete, entre os quais os da motivação, eficiência e economicidade”.

36. A questão tem correlação direta com o direito fundamental à boa

administração pública. Segundo Juarez Freitas, “o agente púbico está obrigado a

sacrificar o mínimo para preservar o máximo dos direitos fundamentais” (FREITAS,

Juarez. O controle dos atos administrativos e princípios fundamentais. 3ª Ed,

ver e ampl. São Paulo: Malheiros 2004, p. 104).

37. Não se ignore que o direito a um devido processo legal e à

celeridade processual são direitos da mais alta relevância, como se extrai da

Page 14: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

14

previsão expressa, dentre outros, no artigo 5º, LXXVII da CF. Isso só é possível

com condições, estrutura e respeito ao trabalho do MPC goiano!

38. Seguindo nesse raciocínio, cite-se Justen Filho, utilizando o termo

“personalização do Direito Administrativo”, rejeita a burocracia em detrimento da

sociedade civil, da dignidade humana e dos direitos fundamentais, que devem

prevalecer na atividade administrativa. Segundo o autor, é daí que deriva a

proposta de superação de concepções meramente técnicas para assumir a

prevalência de enfoque ético, por meio do qual se reconhece a supremacia dos

direitos fundamentais e a consagração dos procedimentos democráticos de

formação e manifestação da vontade estatal (JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de

direito administrativo. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 47).

39. A esse respeito, Diogo de Figueiredo Moreira Neto registra que o

primado dos direitos fundamentais, desfrutado a partir do século XX, não deixa

espaço para o arbítrio ou imposições políticas, “por mais justificadas que se

apresentem” (MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Mutações de Direito

Público, 3. Ed. Ver. Ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2007, p. 65).

40. Assim, não é demasiado afirmar, como faz Sarmento, que a

Administração Pública, no século XXI, é instrumento de realização dos direitos

fundamentais dos administrados (SARMENTO, Daniel. Direitos fundamentais

e relações privadas. 2ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 106).

41. É chegado, portanto, o momento de rever conceitos, com vista ao

controle principiológico da função administrativa, que deve ser marcada pela

preponderância da boa-fé e do respeito aos direitos fundamentais consagrados

no texto constitucional. A gestão administrativa não pode ser dissociada desses

valores, admitindo-se um gestor irresponsável, ineficiente, que tudo pode em

detrimento do cidadão. O binômio Estado-súdito deve ser substituído pelo

Estado-cidadão, Estado-sociedade, o que clama para uma mudança

Page 15: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

15

paradigmática, em que a gestão deva ser concertada, e, não, impositiva e

arbitrária.

42. Em outras palavras, não só pode, como deve ser feito o controle

sob o viés solicitado. É a própria Constituição Federal, nos artigos 37 e 70, que

obriga o cumprimento dos princípios constitucionais da Administração

Pública.

PREVARICAÇÃO

43. Como é sabido, o Conselheiro requerido foi compelido a realizar

acordo no Superior Tribunal de Justiça, nos autos do Inquérito nº 941, o que só

foi feito por ter por certa a sua ampla responsabilidade:

PET no INQUÉRITO Nº 941 - DF (2013/0241570-7) (f)

RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ

EMENTA

INQUÉRITO. CONSELHEIRO DE TRIBUNAL DE CONTAS

ESTADUAL. SUPOSTO CRIME DO ART. 319 DO CÓDIGO PENAL.

TRANSAÇÃO PENAL OFERECIDA PELO MPF E ACEITA PELO

INVESTIGADO E SEU ADVOGADO. PAGAMENTO DE MULTA A

INSTITUIÇÃO DE CARIDADE. HOMOLOGAÇÃO. CUMPRIMENTO

PERANTE O JUÍZO DAS EXECUÇÕES.

Brasília - DF, 19 de agosto de 2015.

44. Mais uma vez, o Conselheiro atua por interesses pessoais; seja

quando retarda a prática de atos; seja quando vota em processo que está

suspeito. E, obviamente, a prática de prevaricação é inequivocamente um ato

de improbidade administrativa, a teor do artigo 11, II da Lei de Improbidade.

IV – DO DIREITO

Page 16: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

16

45. Da narrativa dos fatos anteriores, subsumidos à Lei 8429/92 vê-se

que é clara a prática de improbidade administrativa. Cumpre relembrar que o

propósito desta ação é a condenação do réu pela prática de atos preordenados e

voltados a proteger seus amigos e prejudicar aqueles que considera inimigos,

votando, ainda, em processo de controle externo de seu amigo (contas de 2014

do governador de GO, por exemplo) e, ainda, atuando, por interesse pessoal,

em tramitação de processo no TCE GO, fato reconhecido pelo STJ, em autos

que discutiu a prática de prevaricação. Além disso, cumprindo a promessa de

perseguir desafetos, pratica atos de improbidade contra representante do

MPC/GO e, assim agindo, acaba por violar o devido processo legal, o dever de

transparência, a moralidade e a eficiência.

46. Ora, a ilegalidade da conduta, como já explicado, está

materializada no vasto acervo probatório, comprovando que o requerido vota

em processos que não deveria e deixa de alegar sua suspeição, além de praticar

atos para prejudicar pretensos desafetos.

47. Não reside nenhuma dúvida de que toda a sucessão de ações

ilícitas que dão as cores da empreitada ímproba levada a efeito pelo requerido

violaram o interesse público e orientaram-se na direção da satisfação de seu

interesse privado no caso.

48. A moldura fática do evento guarda correspondência com o que a

Convenção Interamericana Contra a Corrupção, incorporada ao ordenamento

jurídico nacional por meio do Decreto nº 4.410/2002, qualifica como ato de

corrupção, em seu artigo VI, item 1, observe-se:

“l. Esta Convenção é aplicável aos seguintes atos de corrupção:

(…)

c. a realização, por parte de um funcionário público ou pessoa que

exerça funções públicas, de qualquer ato ou omissão no exercício de

Page 17: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

17

suas funções, a fim de obter ilicitamente benefícios para si mesmo ou

para um terceiro” (destaque acrescido).

49. Na mesma linha, o evento se iguala ao que o art. 19 da Convenção

das Nações Unidas Contra a Corrupção, incorporada ao ordenamento pátrio

pelo Decreto nº 5.687/2006, classifica como abuso de funções, in verbis:

Artigo 19

Abuso de funções

“Cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar as medidas

legislativas e de outras índoles que sejam necessárias para qualificar como

delito, quando cometido intencionalmente, o abuso de funções ou do

cargo, ou seja, a realização ou omissão de um ato, em violação à

lei, por parte de um funcionário público no exercício de suas

funções, com o fim de obter um benefício indevido para si mesmo

ou para outra pessoa ou entidade”(destacamos)

50. A Constituição da República, no art. 37, § 4º, por sua vez, consagra

como improbidade administrativa os vícios comportamentais graves de

agentes públicos e de particulares que com eles se aliam, remetendo à lei

específica o papel de tipificação das condutas.

51. A Lei nº 8.429/1992, que regulamenta o dispositivo constitucional,

demarca no seu art. 4º que: “Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são

obrigados a velar pela estrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade,

moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos.”

52. Mais adiante, em seu art. 11, a alcunhada Lei de Improbidade

Administrativa apresenta-nos o rol onde se encontram tipificados os atos

praticados pelo requerido, conforme descrição feita no tópico antecedente:

“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta

contra os princípios da administração pública qualquer ação ou

omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade,

Page 18: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

18

legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou

diverso daquele previsto, na regra de competência;

II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;

(...)

IV – negar publicidade a ato oficial;”

53. De acordo com todo o delineamento já apresentado, vê-se que está

perfeitamente configurado e tipificado o evento ímprobo.

54. O dolo é, também, cristalino e fala por sim mesmo. Com efeito,

conforme decidido pela Segunda Turma do STJ no REsp 765.212⁄AC, o elemento

subjetivo necessário à configuração de improbidade administrativa censurada pelo art.

11 da Lei 8.429⁄1992 é o dolo genérico, consistente na vontade de realizar ato que

atente contra os princípios da Administração Pública. E é inegável tal consciência.

Rememorem-se as falas do próprio Conselheiro flagrado e as decisões judiciais que

reconheceram as práticas aqui narradas.

55. Assim, perfeitamente cabível o entendimento do STJ (1ª e 2ª Turmas), segundo

o qual não se exige a presença de dolo específico, mas apenas o dolo eventual,

presumido, ou seja, não há necessidade de comprovação de intenção especial do

ímprobo, além de realizar a conduta tida por incompatível com os princípios

administrativos. Mas ainda assim, foi justamente o que ocorreu no caso presente.

56. Trata-se, repita-se, de dolo in re ipsa, ou seja, presumido, que fala por si

mesmo (1141721 / MG). Assim, o dolo na presente ação está plenamente

configurado, pois é manifesta a vontade do requerido de realizar conduta

contrária ao princípio da legalidade e da impessoalidade.

57. Oportuno frisar, ainda, que o enriquecimento ilícito e o dano ao Erário são

apenas secundários com relação à norma residual contida na no art. 11 da mesma

lei, abaixo transcrito. Isso é o mesmo que afirmar que, para que se concretize a

ofensa ao art. 11 da Lei de Improbidade, revela-se desnecessária a comprovação de

Page 19: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

19

enriquecimento ilícito do requerido ou a caracterização de prejuízo ao Erário.

Nesse sentido:

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA

CONTRA CHEFE DO PODER EXECUTIVO MUNICIPAL.

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. UTILIZAÇÃO DE FRASES DE

CAMPANHA ELEITORAL NO EXERCÍCIO DO MANDATO.

ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO

PÚBLICO. VIOLAÇÃO DO ART. 267, IV, DO CPC, REPELIDA. OFENSA

AOS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS. INTERPRETAÇÃO DO ART. 11

DA LEI 8.429⁄92. LESÃO AO ERÁRIO PÚBLICO. PRESCINDIBILIDADE.

INFRINGÊNCIA DO ART. 12 DA LEI 8.429⁄92 NÃO CONFIGURADA.

SANÇÕES ADEQUADAMENTE APLICADAS. PRESERVAÇÃO DO

POSICIONAMENTO DO JULGADO DE SEGUNDO GRAU.

(...)

2. A ação civil pública protege interesses não só de ordem patrimonial

como, também, de ordem moral e cívica. O seu objetivo não é apenas

restabelecer a legalidade, mas também punir ou reprimir a imoralidade

administrativa a par de ver observados os princípios gerais da

administração. Essa ação constitui, portanto, meio adequado para

resguardar o patrimônio público, buscando o ressarcimento do dano

provocado ao erário, tendo o Ministério Público legitimidade para propô-la.

Precedentes. Ofensa ao art. 267, IV, do CPC, que se repele.

3. A violação de princípio é o mais grave atentado cometido contra a

Administração Pública porque é a completa e subversiva maneira frontal

de ofender as bases orgânicas do complexo administrativo. A

inobservância dos princípios acarreta responsabilidade, pois o art. 11 da

Lei 8.429⁄92 censura “condutas que não implicam necessariamente

locupletamento de caráter financeiro ou material” (Wallace Paiva Martins

Júnior, “Probidade Administrativa”, Ed. Saraiva, 2ª ed., 2002).

(...) 6 . A tutela específica do art. 11 da Lei 8.429⁄92 é dirigida às bases

axiológicas e éticas da Administração, realçando o aspecto da proteção de

valores imateriais integrantes de seu acervo com a censura do dano moral.

Para a caracterização dessa espécie de improbidade dispensa-se o prejuízo

material na medida em que censurado é o prejuízo moral. A corroborar esse

entendimento, o teor do inciso III do art. 12 da lei em comento, que dispõe

sobre as penas aplicáveis, sendo muito claro ao consignar, “na hipótese do

art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver...” (sem grifo no

original). O objetivo maior é a proteção dos valores éticos e morais da

Page 20: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

20

estrutura administrativa brasileira, independentemente da ocorrência de

efetiva lesão ao erário no seu aspecto material.

7. A infringência do art. 12 da Lei 8.429⁄92 não se perfaz. As sanções

aplicadas não foram desproporcionais, estando adequadas a um critério de

razoabilidade e condizentes com os patamares estipulados para o tipo de ato

acoimado de ímprobo.

8. Recurso especial conhecido, porém, desprovido.

(REsp 695.718⁄SP, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA,

julgado em 16⁄08⁄2005, DJ 12⁄09⁄2005 p. 234, grifei).

58. Enfatize-se, ainda:

20. É desnecessário perquirir acerca da comprovação de enriquecimento

ilícito o administrador público ou da caracterização de prejuízo ao Erário.

O dolo está configurado pela manifesta vontade de realizar conduta

contrária ao dever de legalidade, corroborada pelos sucessivos aditamentos

contratuais, pois é inequívoca a obrigatoriedade de formalização de

processo para justificar a contratação de serviços pela Administração

Pública sem o procedimento licitatório (hipóteses de dispensa ou

inexigibilidade de licitação).

21. Este Tribunal Superior já decidiu, por diversas ocasiões, ser

absolutamente prescindível a constatação de dano efetivo ao patrimônio

público, na sua acepção física, ou enriquecimento ilícito de quem se

beneficia do ato questionado, quando a tipificação do ato considerado

ímprobo recair sobre a cláusula geral do caput do artigo 11 da Lei

8.429/92.

22. Verificada a prática do ato de improbidade administrativa previsto no

art. 11 da Lei 8.429/1992, consubstanciado na infringência aos princípios

da legalidade e da moralidade, cabe aos julgadores impor as sanções

descritas na mesma Lei, sob pena de tornar impunes tais condutas e

estimular práticas ímprobas na Administração Pública. STJ, REsp 1377703

/ GO RECURSO ESPECIAL

2011/0305987-5

Page 21: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

21

59. Assim sendo, deve ser arguida, em primeiro grau de jurisdição, a

responsabilidade do requerido pelos atos de improbidade praticados, nada

obstando o fato de ser Conselheiro do TCE-GO (vide o julgamento pelo STF da

Reclamação 2138/DF).

V - DOS PEDIDOS

I – Pedido Liminar

60. Como é cediço, tanto a doutrina quanto a jurisprudência pátria já

admitem a existência de danos morais coletivos, como no presente caso, eis que

diante dos danos difusos causados pelos inúmeros atos de improbidade

administrativa praticados pelo confesso suspeito, prevaricador e agora ímprobo

réu. Danos morais coletivos, consistentes nos graves prejuízos causados as

finanças do Estado. Ademais, é pacífico o deferimento de medidas liminares em

ações de improbidade administrativa, com base no art. 12 da Lei 7.347/85 e nos

artigos 294 e 297 do novel Código de Processo Civil, a seguir transcritos:

“Art. 12 - Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem

justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.”

“Art. 294. A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou

evidência.

Parágrafo único. A tutela provisória de urgência, cautelar ou

antecipada, pode ser concedida em caráter antecedente ou incidental”.

“Art. 297. O juiz poderá determinar as medidas que considerar

adequadas para efetivação da tutela provisória”. (destaques não

originais).

Page 22: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

22

61. Com efeito, no âmbito doutrinário, conforme magistério de

Cândido Dinamarco, o tempo atua como condição corrosiva de direitos4,

porquanto acarreta efeitos deletérios não somente ao processo, mas também, no

caso em baila, a toda sociedade. Assim, a tutela de urgência emerge como

verdadeiro catalisador do interesse público em face do lapso temporal, uma vez

que mitiga as consequências negativas decorrentes da continuidade da atuação

temerária do Conselheiro Edson José Ferrari.

62. Guardando paralelo com a doutrina brasileira, a jurisprudência

nacional trilha semelhante caminho, a saber:

TJ-DF - Mandado de Segurança MS 93758320058070000 DF 0009375-

83.2005.807.0000 (TJ-DF) Data de publicação: 28/02/2008 Ementa:

MANDADO DE SEGURANÇA - IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA - DECRETO QUE DETERMINOU O

AFASTAMENTO DE AGENTE PÚBLICO DOEXERCÍCIO DO

CARGO ATÉ À CONCLUSÃO DO PROCESSO

ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR - ART. 20 , PARÁGRAFO

ÚNICO , DA LEI Nº 8.429 /92 - POSSIBILIDADE - SEGURANÇA

DENEGADA. 1. SE AS CONDUTAS APURADAS SE AMOLDAM

ÀS ESPECIFICADAS NO ART. 11 , CAPUT, DA LEI Nº 8.429 /92, A

AUTORIDADE COMPETENTE PODERÁ DETERMINAR O

AFASTAMENTO DOAGENTE PÚBLICO DO EXERCÍCIO DO

CARGO, EMPREGO OU FUNÇÃO, SEM PREJUÍZO DA

REMUNERAÇÃO, QUANDO A MEDIDA SE FIZER NECESSÁRIA

À INSTRUÇÃO PROCESSUAL, CONFORME PREVÊ O

PARÁGRAFO ÚNICO, DO ART. 20, DA REFERIDA LEI. 2. A

MEDIDA DE QUE TRATA O PARÁGRAFO ÚNICO , DO ART. 20 ,

DA LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA , TEM CARÁTER

CAUTELAR, AINDA QUE NÃO ESTIPULE PRAZO PARA O

AFASTAMENTO.

63. De lege lata, o art. 300 do Código Processual Civil de 2015 aduz

que a concessão da tutela de urgência depende da existência de elementos que

evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao

resultado útil do processo, a saber:

4 DINAMARCO, Cândido Rangel. O regime jurídico das medidas urgentes. In: Nova era do

processo civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 65

Page 23: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

23

“Art. 300: A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que

evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado

útil do processo”. (grifado).

64. Para tanto, basta a presença do fumus boni iuris e do periculum in

mora, pressupostos estes que se encontram, à saciedade, demonstrados na

inicial.

65. De fato, a fumaça do bom Direito restou cristalina em face da

robusta prova acostada aos autos.

66. Em semelhante sentido, o perigo da demora é pungente, visto que

o requerido é Conselheiro do TCEGO, continuando a exercer a sua função,

apesar de flagrado em interceptação lícita, verdadeira confissão acerca das

práticas ímprobas e ameaçadores que desenvolve no exercício do nobre

processo de julgar. Além disso, foi processado e se considerou que praticou

os fatos que lhe rendem ensejam à pecha de prevaricador. Foi reconhecido,

pela r Justiça Estadual de GO, por se recusar a dar publicidade a ato público,

e, na mesma toada, se reconheceu que não fornece condições de trabalho

essenciais, para o exercício da atividade ministeriais. Em tese, ao menos três

decisões judiciais, duas, do TJE GO e uma, do STJ, reconhecendo práticas

ilícitas, não podem ser consideradas pouca coisa.

67. Excelência, sob a ótica do interesse público primário, a quem

interessa a atuação irregular do Tribunal de Contas do Estado de Goiás na

medida em que o Conselheiro Edson Ferrari está disposto a “não deixar

incólume” quem supostamente “sacaneia” seu amigo, o Governador Marconi

Perillo?! Fosse isso pouco, quem garantirá a atuação imparcial desse

conselheiro para relatar os inúmeros processos que tramitam naquela Casa,

envolvendo atos do governo, a exemplo de licitações, contratos, etc? Além

disso, é de notar que, somente após denúncias, frise-se, afastou-se, tão

somente, da relatoria das Contas de Governo do ano/exercício 2015, mas, não,

Page 24: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

24

da sua votação --- quando se sabe que há indícios de que o Governador do

Estado de Goiás realizou sucessivas operações financeiras irregulares nesse

ano a fim de mascarar a gravíssima situação fiscal vivida pelo Estado5! As

chamadas “pedaladas fiscais” que tiveram como consequência o processo de

impeachment da Presidente da República.

68. Materializando sua disposição em “não deixar incólume” quem

supostamente “sacaneia” seu amigo, o Governador Marconi Perillo, o

Conselheiro Edson Ferrari, enquanto ocupava a Presidência do Tribunal de

Contas do Estado de Goiás, desmantelou toda estrutura de trabalho do

Procurador do Ministério Público de Contas Fernando dos Santos Carneiro ---

desmonte esse formalmente já reconhecido pelo Ministério Público do Estado

de Goiás (Parecer nº 0463/2014) e, inclusive, pelo Tribunal de Justiça do Estado

de Goiás, conforme se verifica no aresto jurisprudencial do Mandado de

Segurança nº 201393195075:

“MANDADO DE SEGURANÇA. ATO OMISSIVO. MÉRITO

ADMINISTRATIVO. DISPONIBILIZAÇÃO DE RECURSOS

HUMANOS. GABINETE PROCURADOR DO TCE. INÉRCIA.

COMPROMETIDO DAS FUNÇÕES INSTITUCIONAIS.

ILEGALIDADE. O Controle de legalidade dos atos administrativos pelo

Poder Judiciário não ofende o princípio da separação dos poderes. 2 –

Constitui prática ilegal a conduta omissiva da autoridade

gestora, que se queda inerte no seu dever de viabilizar um

quantitativo mínimo de pessoal para a composição do gabinete

do Procurador do Ministério Público junto ao TCE, por se

afigurar em expressa afronta aos ditames do artigo 33 da Lei

16.168/07, dado que se persistente a situação poderá desencadear a

inviabilização da efetivação das funções constitucionais do

impetrante. Segurança concedida em parte. (MS: nº 201393195075.

Relator: Marcus da Costa Ferreira, subst.. Desemb. Kisleu Dias. Redator:

Desemb. Gilberto Marques Filho. Julg. Em 02/10/2014. 4ª câmara cível

do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás). – Destacado. 5 O CNJ, v.g, em recente decisão, reconheceu a irregularidade na transferência de recursos

realizada entre o Estado de Goiás e o Fundo de Modernização do Tribunal de Justiça do Estado

de Goiás (DOC).

Page 25: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

25

69. Enquanto o Procurador Fernando dos Santos Carneiro questionou

a licitação e a construção da nova sede do Tribunal de Contas do Estado, além

de diversos casos de nepotismo --- lembrando que o Conselheiro Edson José

Ferrari mantinha sua esposa e sua cunhada trabalhando nessa Corte e o

Governador ainda tem sua cunhada em cargo em comissão também na Corte

de Contas ---, boa parte das ações desse Conselheiro, no exercício da

Presidência, se voltou para sufocar a atividade do Procurador, retirando todo

o pessoal de apoio.

70. Não se dando por vencido mesmo a tantas e recorrentes práticas

ilegais, o Procurador Fernando dos Santos Carneiro ainda questionou os

empréstimos realizados entre Tribunal de Contas do Estado; Assembleia

Legislativa e Tribunal de Justiça do Estado de Goiás com o Governo do Estado

de Goiás; agora, embora também questionado, esse Conselheiro é relator de

uma das representações, da qual ele não abandona a relatoria, não obstante sua

evidentíssima suspeição.

71. Tudo isso só vem materializar o que fora combinado entre esses

agentes públicos. Para relembrar, segundo as próprias afirmações do requerido:

Conselheiro Ferrari: “Pode deixar, pessoal que tentou de sacanear não

vai ficar incólume não, tá. Pode deixar comigo” (Desmonte da

estrutura do gabinete do Procurador Fernando Carneiro);

Governador Marconi: “Nós somos uns pelos outros” (Recusa em

nomear o Procurador Fernando dos Santos Carneiro para o cargo

de Procurador-geral, pois este questionara a legalidade de

inúmeras ações em do governo e do TCE-GO).

72. Fosse isso pouco, a 6ª Divisão de Fiscalização do TCE/GO, criada

pela Lei nº 15.689, de 02 de junho de 2006, com o intuito de fiscalizar as receitas

do Estado, conforme prescreve o art. 25 da Constituição do Estado de Goiás, foi

desativada pelo Conselheiro Edson José Ferrari, em 2011, quando no exercício

da Presidência; propiciando que o déficit na conta centralizadora do Estado

Page 26: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

26

(que em tese jamais poderia ser negativo, crescesse de R$621.271.070,166 para

R$ 1.492 bilhão em 2014. Mais do que “pedaladas”, verdadeiro escândalo fiscal.

73. Assim, ante a ausência de imparcialidade, para não falar da

acintosa violação aos princípios da legalidade, da eficiência e da moralidade,

descabido permitir ao requerido a continuidade das suas funções naquela

Corte, seja para julgar as contas de seu amigo, Governador Marconi Perillo,

relativas ao exercício de 2015; seja para continuar no exercício do cargo de

conselheiro e praticando atos de improbidade, em tão nobre e relevante

função, para só buscar-se uma reparação após decisão ao final da presente ação.

74. Ademais, não restam dúvidas de que o afastamento do

Conselheiro Edson José Ferrari não acarretará qualquer prejuízo à continuidade

dos serviços desenvolvidos no Tribunal de Contas do Estado de Goiás, bem

como aos processos sob a relatoria desse Conselheiro.

75. Isso porque, o art. 25 da Lei Orgânica do Tribunal de Contas do

Estado de Goiás prevê expressamente que os auditores serão convocados a

substituir os conselheiros em situações de afastamento, senão vejamos:

Art. 25. Os Auditores, mediante convocação prévia, substituirão os Conselheiros em

seus impedimentos e ausências por motivo de licenças, férias, vacância do cargo ou outro

afastamento legal.

76. Ou seja, rechaça-se, assim, de pronto, qualquer argumento no

sentido de que o afastamento do mencionado conselheiro acarretaria prejuízos

ao Tribunal de Contas do Estado de Goiás.

77. Posto isso, o MPGO requer, em liminar, que:

6https://tcenet.tce.go.gov.br/Downloads/Arquivos/003618/Contas%20do%20Governador%20An

o%202011.pdf, pg. 116.

Page 27: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

27

a) Seja suspenso, imediatamente, de suas funções o Conselheiro

requerido, bem assim, suspenso das funções de julgar as contas do

Governo, exercício de 2015;

b) Sejam requisitadas cópias integrais, ao Egrégio STJ, do Inq 941,

vez que, não se faz possível a consulta de suas peças, nos termos do

artigo 17, parágrafo 3º da Lei 8429/92;

II- Pedido Definitivo

Diante do exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE

GOIÁS requer:

1. a notificação do requerido EDSON JOSÉ FERRARI, para

apresentar manifestação, na forma do disposto no art. 17, § 7º, da Lei nº

8.429/92;

2. prestada ou não, que seja recebida a presente ação e citado o réu

para apresentar resposta (art. 17, § 9º, da Lei nº 8.429/92);

3. a citação do Estado de GOIÁS, na pessoa do Exmo. Sr.

Procurador-Geral, com endereço na Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, 3 - St.

Central, Goiânia - GO, 74003-010, para atuar ao lado do Ministério Público ou

se abster de fazê-lo, na forma do disposto no art. 17, §3º, da Lei nº 8.429/92;

4. após a instrução do feito, que sejam julgados procedentes os

pedidos, para, na forma do disposto no art. 12, inciso III, da Lei nº 8.429/92,

condenar o requerido:

4.1.confirmando a liminar deferida e determinando -se a

perda da função pública;

4.2.à suspensão dos seus direitos políticos por 5 (anos) anos;

4.3. ao pagamento de multa civil em valor equivalente cem

Page 28: EXMO(A). SR(A). JUIZ(JUÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA ... · correm riscos, como corre risco o Estado Democrático de Direito, em GOIÁS, pois, ao contrário do que se deveria

28

vezes o valor da sua remuneração ; e

4.4. à proibição de receber benefícios ou incentivos fiscais ou

creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa

jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 3 (anos) anos.

4.5 à condenação do réu por danos morais coletivos, face a

repercussão difusa causada por seus atos de improbidade administrativa na

vida da sociedade e em especial nas contas públicas.

Protesta pela produção de todos os meios de prova em direito

admitidos, a serem requeridos, eventualmente, no momento oportuno.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais).

GOIÂNIA, 02 de maio de 2016.

Fernando Aurvalle Krebs

Promotor de Justiça