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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAIBA-FESP CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO GIOVANNI PETRUCCI POSIÇÃO HIERÁRQUICA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE O DIREITO AMBIENTAL COMO UM DIREITO HUMANO NO ORDENAMENTO BRASILEIRO: ANÁLISE ACERCA DO PARADIGMA IMPOSTO PELO ART. 5°,§ 3° DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 JOÃO PESSOA 2014.2

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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAIBA-FESP CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

GIOVANNI PETRUCCI

POSIÇÃO HIERÁRQUICA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE O DIREITO AMBIENTAL COMO UM DIREITO HUMANO NO ORDENAMENTO

BRASILEIRO: ANÁLISE ACERCA DO PARADIGMA IMPOSTO PELO ART. 5°,§ 3° DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

JOÃO PESSOA 2014.2

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GIOVANNI PETRUCCI

POSIÇÃO HIERÁRQUICA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE O DIREITO AMBIENTAL COMO UM DIREITO HUMANO NO ORDENAMENTO

BRASILEIRO: ANÁLISE ACERCA DO PARADIGMA IMPOSTO PELO ART. 5°,§ 3° DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Trabalho de conclusão de Curso em forma de Artigo científico apresentado à Coordenação do Curso de Bacharelado em Direito, pela Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – Fesp, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito. Área: Direito Constitucional Orientadora: Prof.ª Ms. Maria do Socorro da Silva Menezes

JOÃO PESSOA 2014.2

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GIOVANNI PETRUCCI

POSIÇÃO HIERÁRQUICA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE O DIREITO AMBIENTAL COMO UM DIREITO HUMANO NO ORDENAMENTO

BRASILEIRO: ANÁLISE ACERCA DO PARADIGMA IMPOSTO PELO ART. 5°,§ 3° DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Artigo Científico apresentado à Banca Examinadora de Artigos Científicos da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP, como exigência para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.

APROVADO EM____/______2014

BANCA EXAMINADORA

____________________________________ Prof.ª Ms. Maria do Socorro da Silva Menezes

ORIENTADORA-FESP

____________________________________ Prof. Esp. Ivo Sérgio Correia Borges da Fonseca

MEMBRO – FESP

____________________________________ Prof. Dr. Rogério Moreira de Almeida

MEMBRO - FESP

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AGRADECIMENTOS

A Deus pоr tеr mе dado saúde е força pаrа superar аs dificuldades.

Meus agradecimentos а todos meus familiares, qυе fizeram parte dа minha

formação е qυе vão continuar presentes еm minha vida.

A minha orientadora, pelo emprenho dedicado à elaboração deste trabalho.

A esta faculdade, sеυ corpo docente, direção е administração qυе

oportunizaram а janela qυе hoje vislumbro υm horizonte superior, eivado pеlа

acendrada confiança nо mérito е ética aqui presentes.

A todos qυе direta оυ indiretamente fizeram parte dа minha formação, о mеυ

muito obrigado.

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SUMÁRIO

RESUMO..................................................................................................................... 5

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 6

2 BREVE ESBOÇO ACERCA DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS

HUMANOS .................................................................................................................. 7

3 DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO COMO

DIREITO HUMANO ................................................................................................... 10

4 ENTRADA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS NO ORDENAMENTO

JURÍDICO BRASILEIRO .......................................................................................... 11

5 POSIÇÃO HIERÁRQUICA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS .................... 14

6 POSIÇÃO HIERÁRQUICA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE

DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO .................. 16

7 INCLUSÃO DO § 3° AO ART. 5° DA CF: INOVAÇÃO CONSTITUCIONAL OU

RATIFICAÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE? ..................................................... 21

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 22

ABSTRACT ............................................................................................................... 24

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POSIÇÃO HIERÁRQUICA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE O

DIREITO AMBIENTAL COMO UM DIREITO HUMANO NO ORDENAMENTO

BRASILEIRO: ANÁLISE ACERCA DO PARADIGMA IMPOSTO PELO ART. 5°,§ 3°

DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Giovanni Petrucci*

Maria do Socorro da S. Mendes†**

RESUMO

A Emenda Constitucional 45/2004 trouxe relevantes contribuições para o ordenamento jurídico brasileiro. Uma delas foi a inclusão do §3° ao art. 5° da Constituição Federal. Ao longo da história constitucional brasileira, a temática acerca da posição hierárquica de tratados internacionais foi tema recorrente nas principais Cortes do nosso país. A inclusão do referido parágrafo veio como uma possível solução para este problema ao dar hierarquia constitucional aos tratados que versem sobre direitos humanos que forem aprovados de acordo com o procedimento lá previsto. Porém. com sua entrada em vigor. surgiram novos questionamentos: Também possuem hierarquia constitucional os tratados sobre direitos humanos que não obedeceram ao procedimento previsto no supracitado § 3°? Dentre estes tratados, também estão os que defendem o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado? Qual a hierarquia dos tratados sobre direitos humanos aprovados anteriormente à inclusão do referido parágrafo? Os demais tratados internacionais também possuem hierarquia constitucional? Direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito humano? O presente artigo científico. utilizando a metodologia de pesquisa bibliográfica e documental, visa esclarecer estas perguntas baseado em posições doutrinárias e jurisprudenciais. tecendo uma análise acerca do novo quadro instituído pela inclusão do 3° verificando se. realmente. ele trouxe inovação à organização constitucional brasileira e destacando o papel do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito humano. Palavras-Chave: Direito Constitucional. Direito Internacional. Direito Ambiental. Tratados Internacionais. Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado.

* Funcionário Público. Gerente da CBTU. Ex-Prefeito do município de Cubati-PB. Concluinte do

curso de Bacharelado em Direito da FESP Faculdades, Semestre 2015.1, e-mail: [email protected].

**†Professora da FESP Faculdades. Especialista em Direito Ambiental e Mestre em Economia pela

Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Atuou como orientadora desse Trabalho de Conclusão de Curso, e-mail: [email protected].

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1 INTRODUÇÃO

Após mais de 20 anos de regime autoritário no Brasil, a Constituição Federal

de 1988 surge como símbolo da democracia, sendo tratada pela população

brasileira como Constituição Cidadã. De todos os textos constitucionais que o nosso

país possuiu. a nossa atual Carta Magna é a que melhor detalha e a que mais

protege os direitos humanos. Esta proteção é feita de tão intensa maneira que,

muitas vezes. seu texto se toma redundante1 Isto foi uma escolha do legislador

constituinte com o objetivo de proteger veementemente esta temática no

ordenamento jurídico brasileiro.

1 Por exemplo. o caput do art.5° da Constituição Federal informa que "Todo

são iguais perante a lei. sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à

liberdade, à segurança e à prosperidade. nos termos seguintes:" (BRASIL, 1988).

Em seguida, o seu inciso I afirma que "homens e mulheres são iguais em direitos e

obrigações. nos termos desta Constituição" (BRASIL. 1988). Ora. se todos são

iguais perante a lei. não precisava o legislador constituinte repetir que homens e ":

mulheres são iguais em direitos e obrigações.

2 A exemplo do RE 80.004-SE. RE 71.154-PR. ADI IA80-DF, HC 88.240-SP e

HC n.131-RJ. ambos julgados no Supremo Tribunal Federal

(http://www.stf.jus.br/portal/principal/principal.asp).

Até 2004, a única referência feita pelo texto constitucional aos tratados

internacionais sobre os direitos humanos estava presente no § 2° do art. 5°: "Os

direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do

regime e dos princípios por ela adotados, ou dos Tratados Internacionais em que a

República Federativa do Brasil seja parte" (BRASIL, 1988). O presente texto tem

como objetivo deixar claro que o rol constitucional de direitos fundamentais é

exemplificativo e não exaustivo. Logo, são materialmente constitucionais os direitos

e garantias não expressos na Constituição, mas resultantes de seus regimes e

princípios ou dos tratados internacionais dos quais o Brasil seja parte.

Devido a este dispositivo constitucional, geraram-se sérias controvérsias

acerca da posição hierárquica dos tratados internacionais que versam sobre direitos

humanos. Além disso, a situação complicava-se quando havia discordância entre o

texto constitucional e o dos tratados. Vários casos foram levados à apreciação pelas

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Cortes Brasileiras, especialmente o Supremo Tribunal Federal, que resultaram em

importantes decisões jurisprudenciais cujas essências serão analisadas neste artigo.

Porém, em 2004, surge uma nova abordagem constitucional acerca dos

tratados internacionais sobre direitos humanos: a inclusão do § 3° ao art. 5° da

Constituição Federal. Segundo ele, "Os tratados e convenções internacionais sobre

direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em

dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros. serão equivalentes

às emendas constitucionais" (BRASIL, 1988). Sob uma primeira perspectiva, o

problema acerca da hierarquia dos tratados internacionais sobre os direitos

humanos estava resolvido. Porém. surgem novos questionamentos acerca da

posição hierárquica dos demais tratados sobre direitos humanos aprovados

anteriormente à emenda ou que, mesmo aprovados após a emenda, não tenham

atingido o quórum exigido pelo parágrafo.

Ademais, a complexidade aumenta quando a matéria começa a adentrar

outros ramos do Direito, a exemplo do Direito Ambiental. Poderia. portanto. um

tratado internacional que versasse sobre o direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado ser considerado como um tratado acerca de direitos humanos?

Assim sendo, o presente artigo visa esclarecer melhor essa questão,

apresentando um posicionamento acerca da hierarquia dos tratados constitucionais,

além de analisar o paradigma imposto pelo art. 5°. § 3° da Constituição Federal de

1988. através de decisões jurisprudenciais e posicionamentos doutrinários, sendo.

portanto, um trabalho cuja metodologia aplicada envolveu as técnicas de pesquisa

bibliográfica e documental.

2 BREVE ESBOÇO ACERCA DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS

HUMANOS

Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo vislumbrou a necessidade de se

proteger certos direitos e garantias que haviam sido desrespeitados durante este

período pelos regimes de extrema direita a exemplo do nazismo. Extermínios de

pessoas em massa, prisões arbitrárias e destruições nucleares mostraram à

população mundial que, se não fossem tomadas decisões rápidas e enérgicas para

proteger direitos fundamentais,o mundo chegaria ao seu fim.

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Foi neste cenário que começaram a surgir os organismos internacionais de

proteção dos direitos humanos nos moldes que temos atualmente. E. com o

surgimento destas organizações, os tratados internacionais ganharam novas

conotações. Cumpre aqui destacar que, embora a temática dos direitos humanos

tenha ganhado relevo na segunda metade do século XX. o marco inicial de sua

discussão veio muito antes.

Argumentando a esse respeito, Dantas (2011) afirma que:

Podemos entender como marco inicial da discussão acerca destes direitos o

surgimento da religião cristã. Ao pregar.ideais como o amor e o respeito ao

próximo. a indisponibilidade da vida e a igualdade dos homens. Jesus Cristo

é tido por muitos como o primeiro e principal impulsionador para a

positivação destes direitos. Porém. a grande aceitação e evolução dos

mesmos se deu a partir do século XVII. Embora sua obra tenha sido

utilizada para justificação do absolutismo monárquico. Hobbes já afirmava

em sua obra máxima "Leviatã" que a vida é o maior de todos os bens.

Rousseau. além de defender a vida. passou a considerar a liberdade como

intrinsecamente necessária à vida em sociedade. Enfim. a relação, que

antes era de superioridade do Estado em relação aos indivíduos. passou a

ser de servidão por parte do Estado em defender os direitos destes.

Seguindo essa linha de raciocínio, Mazzuoli (2002, p. 223) é enfático ao

afirmar que:

Na Bíblia Sagrada. no livro de Gênesis. está escrito: "Criou Deus. pois. o homem à sua imagem" (Cap. I, v. 27). como querendo significar, nas palavras de Hannah Arendt que "a própria vida é sagrada. mais sagrada que tudo mais no mundo: e o homem é o ser supremo sobre a terra.

Portanto, esse caráter sagrado dado à figura humana é um dos principais

motivos que levam, hodiemamente, a uma maior proteção dos direitos humanos. Foi

durante o período das Grandes Revoluções (Francesa e Americana) que estes

direitos passaram a ganhar maior ênfase no mundo jurídico, através de sua

positivação. A partir daí, foram se expandindo pelas legislações nacionais.

Para se ter uma ideia, não podemos falar em Constituição, no sentido

moderno do tenho, sem fazemos referência à existência da proteção aos direitos

humanos. Logo, sua importância ganha cada vez mais destaque, exemplificado por

suas características elencadas conforme segue:

No que diz respeito às características destes direitos. muitos afirmam que são

universais e absolutos. Porém, esta caracterização deve ser entendida através de

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algumas exceções. Quando se fala em direito universal, entendemos que todas as

pessoas são titulares do mesmo. Mas, vale ressaltar que há alguns restritos a

determinadas pessoas ou a determinadas classes. A imunidade parlamentar

(prevista no § 8° do artigo 53 da CF). por exemplo. não atinge todas as pessoas

indistintamente. Além disso, direitos abrangidos pelo ordenamento brasileiro podem

não ser abrangidos por outras nações. Vale ressaltar também que, ao se falar em

direitos absolutos, entende-se que eles não podem sofrer qualquer tipo de restrição.

Todavia. pode acontecer de haver conflitos entre eles e um se sobrepor em relação

ao outro. Logo, devemos entender estas características em termos. Os direitos

fundamentais são históricos tendo em vista que sua compreensão e evolução se dá

através dos momentos históricos que cada ordenamento vivencia. Logo, um direito

tido como fundamental hoje pode não ser compreendido da mesma forma daqui a

100 anos. Também são inalienáveis e indisponíveis, pois não podem ser objetos de

renúncia ou de 10 comercialização. Neste ponto. vale ressaltar que estas

características. da mesma forma que as do parágrafo anterior, devem ser

compreendidas em parte. pois há direitos que fogem a esta regra (a exemplo do

direito à imagem e à intimidade previsto no ano 5°, X da CF). Por fim, cabe ressaltar

que possuem aplicabilidade imediata, tendo em vista que, por serem essenciais à

manutenção do Estado Democrático de Direito. não podem ter sua aplicabilidade

desconsiderada. Porém, é importante mencionar as exceções. no que diz respeito

às normas com eficácia contida (que precisam de regulamentação por legislação

infraconstitucional), a exemplo do direito de greve estabelecido pelo artigo 9° da CF.

(DANTAS, 2011).

Importante esclarecer que, quando falamos em evolução histórica dos direitos

humanos, é importante destacaml0s que eles são divididos em gerações ou

dimensões. Isto não quer dizer que há sobreposição de direitos posteriores em

relação aos anteriores. Na verdade, há uma evolução nas temáticas protegidas.

Porém, no contexto geral, o que há é um acréscimo na proteção destes direitos.

Portanto, os direitos de 2° geração não substituem os da 1°. Eles apenas versam

sobre novas temáticas e o ordenamento protege ambos.

Ratificando esse posicionamento apresenta-se o argumento que segue:

Essa distinção entre gerações dos direitos fundamentais é estabelecida

apenas com o propósito de situar os diferentes momentos em que esses grupos de

direitos surgem como reivindicações acolhidas pela ordem jurídica. Deve-se ter

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presente. entretanto, que falar em sucessão de gerações não significa dizer que os

direitos previstos num momento tenham sido suplantados por aqueles surgidos em

instante seguinte. Os direitos de cada geração persistem válidos juntamente com os

direitos da nova geração, ainda que o significado de cada um sofra o influxo das

concepções jurídicas e sociais prevalentes nos novos momentos(BRANCO, 2010, p.

310).

Partindo agora para a classificação dos direitos fundamentais em gerações,

estacamos, sendo corrente doutrinária majoritária. a existência de três: a dos direitos

individuais, a dos direitos sociais e a dos direitos difusos e coletivos. os quais são

explicitados do seguinte modo:

A 1ª geração de direitos fundamentais recebe o nome de geração dos direitos

individuais por seus direitos terem como titular o próprio indivíduo. Estes foram os

primeiros a serem positivados e são considerados indispensáveis á existência

humana. Como exemplo, podemos citar os direitos civis e políticos.

Já a 2ª geração compreende os direitos sociais. Desta vez, não se pensa

mais na figura humana restrita ao indivíduo, mas sim nos anseios da sociedade.

buscando-se a igualdade e a justiça social. Os direitos à educação. saúde, trabalho,

moradia. dentre outros pertencem a esta geração.

Por fim. temos a 3ª geração de direitos fundamentais que abrange os direitos

difusos e coletivos. São direitos que transcendem à figura do indivíduo ou de um

grupo social. Eles envolvem a humanidade como um todo e. por este motivo, não

possuem um dono específico. São os direitos de solidariedade e fraternidade.

Cabe-nos destacar que alguns autores ainda falam em direitos de 4ª geração

envolvendo temáticas como a democracia, o pluralismo e a bioética. Porém,

resolvemos destacar apenas as três principais em virtude de serem as trabalhadas

majoritariamente pela doutrina nacional.

3 DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO COMO

DIREITO HUMANO

Canotilho (2001, p. 393). ao estabelecer uma diferença entre direitos

humanos fundamentais, ensina que:

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As expressões direitos do homem e direito fundamentais são frequentemente utilizadas como sinónimas. Segundo a sua origem e significado poderíamos distingui-las da seguinte maneira: são direitos válidos para todos os povos e em todos os direitos do homem tempos (dimensão jusnaturalista-universalista); direitos fundamentais são os direitos do homem. jurídico-institucionalmente garantidos e limitados espacio-temporalmente. Os direitos do homem arrancariam da própria natureza humana e daí o seu carácter inviolável, intemporal e universal: os direitos fundamentais seriam os direitos objectivamente vigentes numa ordem jurídicaconcreta (grifo do autor).

Vislumbra-se. assim, que a diferença entre tais conceitos é meramente

doutrinária, razão pela qual não é errado considerá-los expressões equânimes. O

direito fundamental é tão somente um direito humano positivado. A principal

diferença, pois, entre os direitos fundamentais e os humanos reside na ideia de

positivação. Os direitos humanos existem naturalmente. trazendo parte da própria

existência humana. Ocorre que. quando eles são positivados. adquirem a

nomenclatura de fundamentais.

Especificamente em relação ao direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado não restam dúvidas de que ele não é só um direito humano. mas.

também. um direito fundamental. O objetivo de se defender o equilíbrio ecológico do

ambiente é proteger o ser humano. através de um convívio harmônico entre os

seres. Ademais. este desejo encontra-se positivado no art. 225 da Constituição

Federal, que prevê que"todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado.

Portanto. defendemos a ideia de que a divisão em direitos fundamentais e

humanos possui um fim meramente didático. sendo, na verdade, todos direitos

fundamentais, essenciais à convivência humana em comunidade. E, dentro de tal

grupo,também encontra-se o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

4 ENTRADA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS NO ORDENAMENTO

JURÍDICO BRASILEIRO

O art. 21, I da Constituição Federal afirma que "Compete à União manter

relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais"

(BRASIL. 1988). Além disso. o art. 84, VIII do texto constitucional menciona que

"Compete privativamente ao Presidente da República celebrar tratados, convenções

e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional" (BRASIL. 1988).

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Interpretando, conjuntamente, os dispositivos acima mencionados, observa-se que a

primeira fase do processo de ingresso dos tratados internacionais no ordenamento

jurídico brasileiro é de competência do Poder Executivo, mais especificadamente do

Presidente da República.

Nada impede, porém. que outros representantes deste Poder Executivo. a

exemplo do Ministro das Relações Exteriores e dos diplomatas brasileiros. portando

procuração habilitada para realização de tais atos, possam participar desta primeira

fase. Assim, conforme nos informa Piovesan (20 10, p. 47). "o processo de formação

dos tratados tem inicio com os atos de negociação. conclusão e assinatura do

tratado, que são de competência do órgão do Poder Executivo". Observe-se que,

neste primeiro momento, a competência é do órgão e não do Chefe do Poder

Executivo. Isto se dá pelo fato de que, nem sempre, o Presidente da República

poderá acompanhar de perto os trâmites de elaboração destes tratados

internacionais. Sua presença, conforme se verá mais adiante. só será obrigatória no

ato de ratificação do instrumento internacional. a fim de que ele possa adquirir força

jurídica no ordenamento interno.

Esta primeira fase se encerra com a assinatura do tratado. Esta tem como

objetivo indicar apenas sua autenticidade e definitividade. Nas palavras de Piovesan

(2010, p. 47) "o Estado. com a assinatura, ainda não se obriga no plano

internacional. já que isto só ocorre com a ratificação do documento".

Segundo as lições de Mazzuoli (2002, p. 158), "estando satisfeito com o

acordo celebrado, o Chefe do Poder Executivo submete-o ao crivo do Parlamento,

representativo da vontade da Nação, podendo, também, em caso de insatisfação.

mandar arquivá-lo". Cabe destacar, nesta segunda fase, dois procedimentos que o

Chefe do Executivo pode vir a fazer: mandar arquivar o tratado ou submetê-lo à

análise do Congresso Nacional.

Em relação ao primeiro, o arquivamento do documento não produzirá nenhum

efeito no plano interno do ordenamento jurídico, tendo em vista que, conforme já

explanado, ele sequer penetrou neste plano. Porém, não havendo nenhuma objeção

por parte do chefe do Executivo, inicia-se a segunda parte do procedimento de

ingresso dos tratados internacionais que corresponde à análise por parte do

Congresso Nacional3.

3 O processo normal de aprovação do texto dos tratados internacionais no

Congresso Nacional obedece às seguintes etapas: 1°) recepção da mensagem do

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Presidente da República seguida da Exposição de Motivos do Ministro das Relações

Exteriores e do texto com o inteiro teor do tratado internacional que está sendo

submetido à apreciação; 2°) Leitura em Plenário na Câmara dos Deputados dos

documentos recepcionados; 3°) Avaliação dos textos por parte da Comissão de

Relações Exteriores da Câmara dos Deputados; 4°) Formação de um parecer

apresentando um projeto de decreto legislativo no âmbito da Câmara dos

Deputados; 5°) Avaliação do projeto por parte da Comissão de Constituição. Justiça

e Redação da Câmara dos Deputados; 6°) Discussão e aprovação em turno único

no Plenário da Câmara dos Deputados; 7°) Redação final do Projeto que será dada

pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados; 8°) Após a

aprovação da Redação Final, o projeto segue para o Senado Federal; 9°) Leitura em

Plenário no Senado Federal do projeto recepcionado; 10°) Análise da Comissão de

Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal; 11°) Discussão e

aprovação em turno único no Plenário do Senado Federal: e 12°) Promulgação do

Decreto Legislativo por parte do Presidente do Senado.

Ao analisar, o Congresso pode decidir pela aprovação do texto do Tratado ou

por sua desaprovação. É importante destacar as palavras de Mazzuoli (2002, p. 160)

ao afirmar que "a manifestação do Congresso Nacional só ganha foros de

definitividade, quando desaprova o texto do tratado anteriormente assinado pelo

Chefe do Executivo". Isto se dá porque, se o Congresso desaprova. por mais que o

Presidente da República tenha o interesse de ratificar o documento. ele não está

autorizado para tal. Porém, o fato do Parlamento Brasileiro aprovar o texto do

tratado não dá definitividade em relação à sua ratificação, pois esta é de

competência exclusiva do Presidente da República. Ao aprovar, o que o Congresso

faz é dar a autorização ao Chefe do Executivo para que ele possa ou não ratificar o

documento, embora ele não esteja obrigado a fazê-lo.

Esta aprovação se dá por meio de um decreto legislativo. Este documento

não é o responsável pelo ingresso do tratado no ordenamento interno brasileiro. Ele

não tem o poder de transformar o tratado assinado em norma jurídica. Trata-se.

apenas, do meio pelo qual o Congresso Nacional aprova o texto do referido tratado e

submete-o para a ratificação do Presidente da República, iniciando a 3. fase deste

processo.

Ao ser aprovado o texto do tratado, o decreto legislativo é promulgado pelo

Presidente do Senado Federal e publicado no Diário do Congresso Nacional e no

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Diário da União, seguindo para o Presidente da República. Neste momento, cabe a

ele decidir se ratifica ou não o documento. Caso não deseje ratificar, as disposições

do tratado jamais entrarão no ordenamento interno brasileiro. Mas, caso o chefe do

Executivo opte pela ratificação do documento, expede-se um decreto de execução,

promulgando e publicando. assim, o conteúdo dos tratados no Diário Oficial da

União. É a partir deste momento que o Estado se obriga pelo tratado no plano

internacional e ele penetra no ordenamento jurídico interno, passando a ter força

vinculante internamente. Por fim, após a ratificação, deve ser feita a troca ou o

depósito do instrumento de ratificação seguindo as normas previstas pelo Direito

Internacional.

5 POSIÇÃO HIERÁRQUICA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS

Mazzuoli (2002) afirma que existem duas espécies de tratados internacionais

no ordenamento jurídico brasileiro: os tratados que versam sobre temas comuns e

os tratados sobre temática de direitos humanos. Embora o ingresso deles no nosso

ordenamento se dê da mesma forma, suas posições hierárquicas são diferentes.

Neste tópico, iremos abordar a posição hierárquica dada aos tratados

internacionais considerados comuns, ou seja, aqueles que versam sobre temática

que não envolva os direitos humanos. Segundo Mazzuoli (2002, p. 190), "há mais de

vinte anos (desde 1977, como já se falou) vigora na jurisprudência do STF o sistema

paritário onde o tratado. uma vez formalizado, passa a ter força de lei ordinária".

O Recurso Extraordinário 80.004-SE é referência no estudo da hierarquia dos

tratados internacionais no Brasil. Naquela ocasião, o Supremo Tribunal Federal

decidiu que, após todo o trâmite correspondente ao ingresso dos tratados

internacionais no ordenamento jurídico brasileiro, eles passam a ocupar a posição

de legislação infraconstitucional. Consequentemente, estão no mesmo plano

hierárquico que as leis ordinárias.

Diante do exposto, os tratados internacionais comuns têm força jurídica de

revogar as leis ordinárias e serem revogados por elas de acordo com o princípio

jurídico Lex posteriori derogat priori. Surge, portanto, um problema de ordem

internacional, já que, à medida que esses tratados possam ser revogados pela

legislação interna, o Estado Brasileiro terá de responder internacionalmente pelo

descumprimento dos tratados internacionais.

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Ao longo dos anos, este posicionamento foi-se firmando no Excelso Pretório a

ponto desta Corte não dar sequer status de lei complementar a estes tratados

(repita-se: considerados comuns), conforn1e o Ministro Celso de Mello relatou em

seu voto na ADI 1.480. Segundo o ministro, embora haja essa relação de paridade

entre os tratados comuns e a legislação infraconstitucional, eles não podem

disciplinar matéria que esteja sujeita pela Constituição à legislação complementar.

Logo, a nosso ver e orientado pelas lições de Mazzuoli (2002), a Corte Suprema

Brasileira estabeleceu, através destas jurisprudências, uma forma de facilitação do

descumprimento de acordos internacionais firmados pelo Estado Brasileiro.

Porém, não iremos nos debruçar nesta temática tendo em vista que o objetivo

principal deste artigo é analisar a posição hierárquica dos tratados que versem sobre

direitos humanos e não daqueles considerados comuns. Mas. antes de adentrarmos

na análise do objeto de estudo deste artigo, faz-se importante destacar. após um

longo estudo doutrinário, as quatro posições firmadas acerca do posicionamento

hierárquico dos tratados internacionais no ordenamento brasileiro: tese da

legalidade. supralegalidade. constitucionalidade e supraconstitucionalidade.

Os defensores da tese da legalidade dão aos tratados internacionais a

posição hierárquica de infraconstitucionalidade no ordenamento brasileiro. É a tese

defendida, ao longo da história. pelo STF em relação aos tratados tidos como

comuns. Segundo ela. os tratados ingressam no ordenamento brasileiro. conforme já

foi dito. com força de lei ordinária e podem vir a ser revogados se uma lei posterior

versar sobre a mesma temática de forma contrária ou uma lei superior (a exemplo da

Constituição) também dispor sobre a mesma matéria de forma diferente.

Já os doutrinadores que defendem a tese da supralegalidade dos tratados

internacionais nos informam que estes documentos, ao ingressarem no

ordenamento brasileiro, têm uma posição hierárquica especial: estão acima da

legislação infraconstitucional, porém abaixo da Constituição. É a tese defendida por

Mazzuoli (2002), embora minoritária, em relação aos tratados comuns. Além disso, é

a posição jurisprudencial adotada pelo Supremo Tribunal Federal em relação aos

tratados internacionais sobre direitos humanos que não passaram pelo trâmite

estabelecido no art. 5°, § 3° da Constituição Federal conforme se abordará no

próximo item.

Ainda há os defensores da constitucionalidade dos tratados internacionais.

Segundo esta corrente, estes tratados entram no ordenamento brasileiro hierarquia

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de norma constitucional. É a posição defendida por Piovesan e Mazzuoli e adotada

neste artigo como se verá posteriormente, em relação aos tratados internacionais

que versem sobre a temática dos direitos humanos. Além disso. é o posicionamento

firmado pelo STF em relação aos tratados que tenham passado pelo processo

previsto no art. 5°, § 3° da Constituição Federal.

Tem-se, também, o posicionamento que dá caráter supraconstitucional aos

tratados internacionais. Segundo este, as normas disciplinadas pelos tratados

internacionais estão acima da própria Constituição dos Estados. É o posicionamento

defendido pelos internacionalistas em relação aos tratados internacionais que

versam sobre direitos humanos.

Por fim, remetendo-nos aos tratados tidos como comuns, ou seja, daqueles

que não tratam sobre temática referente aos direitos humanos. caso haja conflitos

envolvendo suas normas e a legislação ordinária, a posição jurisprudencial firmada

pelo STF é que deve prevalecer a norma mais recente, obedecendo ao princípio Lex

posleriori derogal priori, já que estamos tratando de normas com mesmo nível

hierárquico.

Caso o conteúdo destes tratados comuns venha de encontro ao previsto na

Constituição Federal, a solução deste conflito se dá pela aplicação do princípio Lex

posleriori derogal priori, dando prevalência ao texto constitucional que encontra-se,

hierarquicamente, acima destes tratados.

6 POSIÇÃO HIERÁRQUICA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE

DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO

Após analisar a hierarquia dos tratados internacionais tidos como comuns c

as diferentes posições doutrinárias e jurisprudenciais acerca da temática. cabe-nos

ingressar no ponto principal deste artigo que visa analisar a posição hierárquica dos

tratados internacionais sobre direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado

no ordenamento brasileiro.

Conforme já exposto em tópico específico, não restam dúvidas de que o

direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito humano, haja vista

que seu principal objetivo é justamente assegurar o bem estar dos homens e sua

convivência harmoniosa com outros seres. Assim. falar em posição hierárquica dos

tratados internacionais sobre este direito é o mesmo que se falar em situação

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jurídica dos tratados internacionais sobre direitos humanos. E, a este respeito. o § 2°

do art. 5° da Constituição Federal afirma que "Os direitos e garantias expressos

nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por

ela adotados. ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do

Brasil seja parte" (BRASIL,1988).

De acordo com a interpretação deste dispositivo. o rol de direitos

fundamentais previstos em nossa Carta Magna é exemplificativo, e não exaustivo.

Isto quer dizer que. a qualquer momento, novos direitos fundamentais podem

penetrar no plano constitucional, seja através do regime ou dos princípios adotados

pela nossa Constituição. como também pelos tratados internacionais dos quais o

Brasil faz parte.

Logo, de acordo com a mais simples hermenêutica constitucional, não restam

dúvidas acerca de que os tratados internacionais dos quais o Brasil faz parte são

meios que permitem o ingresso de novos direitos e garantias fundamentais na

Constituição não previstos anteriormente. Podemos ir mais adiante:

independentemente do tratado ter se incorporado ao ordenamento interno ou não, á

medida que o Brasil lhe é signatário, estes direitos já adquirem caráter

constitucional.

Verifica-se que a constitucionalidade destes direitos humanos, dentre os quais

o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado encontra-se presente.

previstos em tratados internacionais se dá de forma material. já que os dispositivos

não fazem parte do texto constitucional. Portanto, todo direito humano previsto em

tratados internacionais dos quais o Brasil seja parte é materialmente constitucional.

independentemente do tratado fazer pat1e ou não do nosso ordenamento interno

por meio do decreto de execução.

Ainda o art. 5° do texto constitucional, em seu § 1°, confere aplicação

imediata às normas definidoras de direitos e garantias fundamentais. Se os tratados

internacionais, indubitavelmente, são normas definidoras destes direitos e garantias

fundamentais, por que não lhes dar aplicação imediata? Por que eles só passarão a

surtir efeitos no ordenamento após a promulgação de um decreto de execução?

Portanto, este parágrafo ratifica o nosso posicionamento exposto acima.

Vale ressaltar que estamos nos referindo aos tratados internacionais que

versam sobre o direito humano ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Em

relação aos demais tratados, que não dispõem sobre direitos humanos, a sua

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exigibilidade interna só se dará depois de todo o procedimento descrito no item

anterior deste trabalho. Logo, mesmo antes da Emenda Constitucional 45/2004 que

acrescentou o § 3° art. 5° da Constituição Federal, as normas sobre meio ambiente

ecologicamente equilibrado previstas em tratados internacionais dos quais o Brasil

faz parte e já possuíam a hierarquia de norma constitucional, assegurada pelo § 2°

do mesmo dispositivo.

A inclusão do § 3° que afirma que "Os tratados e convenções internacionais

sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso

Nacional. em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão

equivalentes às emendas constitucionais" (BRASIL, 1988) veio apenas formalizar a

posição hierárquica de constitucionalidade que os tratados internacionais sobre meio

ambiente ecologicamente equilibrado já possuíam. Logo, o nosso posicionamento é

de que os tratados sobre tal temática que passaram pelo trâmite previsto acima são,

além de material, formalmente constitucionais. Já os demais tratados sobre o direito

ao meio ambiente ecologicamente equilibrado que não obedeceram a este árduo

processo também são constitucionais, só que não formalmente, e sim materialmente

graças ao § 2° do supracitado art. 5° da CF.

Porém, infelizmente, esta não é a posição corroborada pelo Supremo Tribunal

Federal. De acordo com o julgamento do Habeas Corpus 88.240/SP, de relatoria da

então ministra Ellen Gracie, ficou firmado o posicionamento no STF de que os

tratados internacionais sobre direitos humanos, dentre os quais os acerca do direito

ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, dos quais o Brasil faz parte que não

obedeceram ao trâmite previsto no § 3° do art. 5° da CF tem caráter hierárquico de

supralegalidade, ou seja, estão acima da legislação infraconstitucional mas abaixo

da Constituição:

3. Há o caráter especial do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos

art. 11 e da Convenção Americana sobre Direitos Humanos - Pacto de San José da

Costa Rica (art. 7°. 7). ratificados. sem reserva. pelo Brasil. no ano de 1992. A esses

diplomas internacionais sobre direitos humanos é reservado o lugar específico no

ordenamento jurídico, estando abaixo da Constituição, porém acima da legislação

interna. O status normativo supra legal dos tratados internacionais de direitos

humanos subscritos pelo Brasil torna inaplicável a legislação infraconstitucional com

ele conflitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de ratificação. (HC 88.240/SP,

Segunda Turma do STF. Relatora Min. Ellen Gracie).

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Entendemos esta decisão, com todo o respeito ao nosso Excelso Pretório,

como uma forma que os respeitáveis Ministros encontraram de favorecer os direitos

humanos sem retirar a ideia de superioridade da Constituição.

Não vislumbramos um desrespeito ao texto constitucional à medida que

concedemos caráter hierárquico constitucional aos tratados internacionais sobre

direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, independentemente de terem

passado pelo crivo do art. 5°, § 3° da CF. Já ficou bem demonstrado que,

independentemente da existência do supracitado parágrafo, estas normas sobre

direitos humanos já possuem hierarquia constitucional concedida pela própria

Constituição em seu § 2°. O que o legislador fez, ao criar o § 3°, foi tentar formalizar

essa posição no ordenamento jurídico.

Além disso, não se admite o posicionamento de que, ao conceder o caráter

constitucional às normas previstas nos tratados internacionais que não passaram

pelo procedimento idêntico ao das emendas à Constituição, estar-se-ia afrontando a

Soberania Nacional Devemos, conforme nos ensina Mazzuoli (2002, p. 335),

adequar o nosso conceito de soberania ao fenômeno de globalização pelo qual o

mundo passa nos dias atuais. Assim ele define esta temática:

Soberania. em realidade. é o poder que detém o Estado. de impor, dentro de

seu território. suas decisões, isto é. de editar suas leis e executá-Ias por si próprio. É

o poder que, dentro do Estado, internamente. não encontra outro maior ou de mais

alto grau.

E vai além, ao afirmar que "no âmbito externo, entretanto, isto não ocorre. Os

Estados, nas suas relações internacionais. encontram-se pareados. em situação dc

coordenação, ou seja, em plena igualdade jurídica" (MAZZUOLI. 2002. p. 336). Por

fim, finaliza afirmando que, ao adotar preceitos de direitos humanos inclusos em

tratados internacionais, indubitavelmente, a soberania sofre uma transformação.

mas não é extinta: 20.

Em se tratando de proteção dos direitos humanos. a noção de soberania

sofre, ainda. outra transformação. No cenário internacional de proteção. os Estados

perdem a discricionariedade de. internamente, a seu alvedrio e a seu talante, fazer

ou deixar de fazer o que bem lhes convier. Neste contexto é que, devem os Estados-

partes num tratado internacional. cumprir todo o acordado, sem objetar disposições

de seu direito interno como justificativa para o não-cumprimento do que foi pactuado.

Há. pois. neste cenário de proteção dos direitos humanos. um enfraquecimento da

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noção da nãointerferência internacional em assuntos internos (Carta das Nações

Unidas. art. 2°. alínea 7), flexibilizando. senão abolindo. a própria noção de

soberania absoluta. Não existem direitos humanos globais, internacionais e

universais, sem uma soberania flexibilizada, o que impediria a projeção desses

direitos na agenda internacional (MAZZUOLl, 2002. p. 337).

Portanto, não há dúvida de que uma nação que se diz desenvolvida e

democrática deve escolher preservar os direitos humanos. em especial o direito ao

meio ambiente ecologicamente equilibrado. em detrimento de uma fexibilização de

sua soberania. O que não pode acontecer é uma extinção desta soberania, pois,

assim, em vez de estarmos favorecendo os direitos humanos. estaríamos os

descumprindo.

É nesse sentido que alguns autores vão mais além e ainda defendem uma

ideia de supraconstitucionalidade destes direitos. Buscando referência na sociologia

jurídica e na Filosofia do Direito, eles defendem que os direitos humanos já estavam

intrínsecos à nossa existência desde o período jusnaturalista. Então,

independentemente da existência de um texto positivo e, até mesmo, de uma

Constituição, os direitos humanos. dentre os quais o direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, já existiam e já eram exigíveis. Portanto, eles estariam

acima do próprio texto constitucional. Eles se encontrariam numa posição

hierárquica de supraconstitucionalidade.

Não queremos ter tão longe e buscar defender essa tese da

supraconstitucionalidade que ainda não é forte na seara constitucional brasileira.

Mas. diante de todo o exposto, consideramos que, independentemente do

cumprimento do art.5°, § 3° da CF, todos os tratados internacionais que versem

sobre direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado dos quais o Brasil faz

parte, mesmo que ainda não tenham entrado no nosso ordenamento jurídico,

possuem hierarquia constitucional.

Porém, o posicionamento atual do Supremo Tribunal Federal em relação aos

tratados internacionais sobre tal direito seguem duas ordens distintas: uma primeira

que atribui status constitucional aos tratados que tenham se submetido ao processo

21 previsto no § 3° do art. 5° da CF, e uma segunda que atribui status supralegal

aos tratados que não passaram por este procedimento, seja porque foram ratificados

anteriormente ao ingresso do supracitado parágrafo, seja porque não conseguiram

atingir, em sua aprovação, o quórum qualificado. Havendo, consequentemente,

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conf1ito entre normas infraconstitucionais e tratados internacionais direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado, estes irão se sobressair, seja porque

possuem caráter supralegal, seja porque possuem status constitucional.

Porém, existindo conflito entre os tratados internacionais sobre direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado e os dispositivos constitucionais, de acordo

com a jurisprudência do STF, haverá diferentes soluções. Se o tratado houver

ingressado no ordenamento brasileiro posteriormente à EC 45/2004 e obedecido ao

trâmite do art. 5°, § 3°, estaríamos diante de um conflito de normas de mesmo grau

hierárquico, aplicando-se, neste caso, não o princípio Lex posleriori derogal priori,

mas, sim, o de primazia da norma mais favorável (pois estamos tratando de direitos

humanos). Agora, se o tratado não houver obedecido o procedimento do S 3°, a

norma que se sobressai é a da Constituição Federal, pois este tratado teria

hierarquia supralegal, estando acima apenas da legislação infraconstitucional, mas

abaixo da Constituição.

Destarte, é hora de, data venia, as Cortes Superiores Brasileiras, em especial

o Supremo Tribunal Federal, rever este seu último posicionamento e dar primazia à

temática dos direitos humanos, dentre os quais a do direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, independentemente de ser incorporada por meio de um

tratado internacional ou não, pois só as respeitando poderemos ter uma nação

soberana, desenvolvida e democrática.

7 INCLUSÃO DO § 3° AO ART. 5° DA CF: INOVAÇÃO CONSTITUCIONAL OU

RATIFICAÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE?

Após analisar toda a sistemática referente à incorporação dos tratados

internacionais no ordenamento jurídico brasileiro e à posição hierárquica que eles

assumem no âmbito interno, temos condição de responder a pergunta tema deste

capítulo: a inclusão de um § 3° ao art. 5° da Constituição Federal foi uma inovação

ou uma ratificação de constitucionalidade?

Inovar significa acrescentar, dar uma contribuição nova a determinada 22

temática. Indubitavelmente, o § 3° trouxe uma importante contribuição para o

ordenamento brasileiro: a formalização da hierarquia constitucional dos tratados

sobre direitos humanos, dentre os quais o direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado. Com isto. ninguém nega o status constitucional dos tratados referidos no

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supracitado parágrafo e que obedeceram todo o trâmite lá previsto. Porém.

conforme já foi explanado. independentemente da existência do art. 5°. § 3°, os

tratados internacionais que versam sobre direitos humanos já possuíam hierarquia

constitucional.

Logo, entendemos que o que ocorreu foi uma ratificação de

constitucionalidade, ou seja, uma confirmação da hierarquia constitucional que os

referidos tratados já possuíam materialmente. Não houve uma inovação quanto ao

status destas normas: elas possuíam hierarquia constitucional de acordo com o § 2°

e continuaram com esta hierarquia após a inclusão do § 3°. Repetimos: o que houve

foi uma formalização da hierarquia constitucional de tais normas.

Não podemos deixar de mencionar que tal incorporação reflete um avanço na

tentativa de introduzir formalmente os dispositivos de tratados internacionais sobre

todos os direitos humanos na Constituição. Porém. na forma de tratar a matéria. a

Emenda Constitucional 45/2004 não fez nada mais que ratificar um posicionamento

já existente e que poderia ser abstrai do, conforme demonstrado, através da

hermenêutica constitucional.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ante o exposto, verifica-se que, diante do novo quadro em que o mundo se

encontra, graças ao processo de globalização que vem se intensificando desde final

do século passado, há a necessidade do ordenamento jurídico brasileiro se adequar

a este novo paradigma. O Brasil não pode mais fechar as portas do seu

ordenamento interno para o avanço do Direito, especialmente no que toca ao Direito

Ambiental. A temática dos tratados internacionais sobre direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado corresponde apenas a um ponto que precisa ser melhor

refletido pelos operadores do direito.

Não existe sociedade desenvolvida e democrática que não expanda e proteja

os direitos humanos, especialmente o direito ambiental. Eles são direitos, conforme

foi mencionado. essenciais para o desenvolvimento de qualquer que seja o 23

ordenamento jurídico. Os tratados internacionais correspondem a mais uma fonte

que visa ampliar e proteger o rol destes direitos fundamentais. Consequentemente,

ao incorporá-los. a melhor forma de garantir seu respeito e proteção é concedendo

caráter constitucional a estes tratados.

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Em nenhum momento, isto irá afetar a soberania do Estado ou descumprir os

preceitos constitucionais. já que o próprio § 2° do art. 5° de nosso Texto Maior

garante a hierarquia constitucional material a estes documentos. A Emenda

Constitucional 45/2004. que acrescentou o § 3° ao art. 5° da Constituição Federal,

trouxe um avanço no sentido de formalizar a hierarquia constitucional dos

supracitados tratados. Mas. em geral, significou apenas uma ratificação de

constitucionalidade destes. Ou seja, mesmo que não existisse o § 3°, os tratados

internacionais sobre direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado

continuariam tendo hierarquia constitucional.

Por fim, é importante destacar que as Cortes Superiores Brasileiras,

especialmente o Supremo Tribunal Federal, precisam modificar suas jurisprudências

no sentido de acatar como normas de hierarquia constitucional todos os tratados

internacionais que versem sobre direitos humanos, especialmente sobre o direito ao

meio ambiente ecologicamente equilibrado. Só assim, o Brasil poderá dar um passo

à frente em busca de se integrar ao Direito Internacional ao mesmo tempo em que

buscará dar uma maior prevalência aos direitos sobre meio ambiente.

O papa João Paulo II se refere a estes direitos na Carta Encíclica Evangelium

Vitae da seguinte forma:

Tudo quanto se opõe à vida. como seja toda a espécie de homicídio.

genocídio, aborto. eutanásia e suicídio voluntário; tudo o que viola a integridade da

pessoa humana. como as mutilações, os tormentos corporais e mentais e as

tentativas para violentar as próprias consciências: tudo quanto ofende a dignidade

da pessoa humana, como as condições de vida infra-humanas, as prisões

arbitrárias. as deportações. a escravidão. a prostituição. o comércio de mulheres e

jovens: e também as condições degradantes de trabalho, em que os operários são

tratados como meros instrumentos de lucro e não como pessoas livres e

responsáveis. Todas estas coisas e outras semelhantes são infamantes: ao mesmo

tempo que corrompem a civilização humana, desonram mais aqueles que assim

procedem. do que os que padecem injustamente; e ofendem gravemente a honra

devida ao Criador. Chega assim a uma viragem de trágicas consequências. um

longo processo histórico, o qual, depois de ter descoberto o conceito de "direitos

humanos" como direitos inerentes a cada pessoa e anteriores a qualquer

Constituição e legislação dos Estados. incorre hoje numa estranha contradição:

precisamente numa época em que se proclamam solenemente os direitos invioláveis

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24

da pessoa e se afirma publicamente o valor da vida, o próprio direito à vida é

praticamente negado 24 e espezinhado. particularmente nos momentos mais

emblemáticos da existência. como são o nascer e o morrer (JOÃO PAULO II,1995).

Finalizamos o trabalho com esta citação porque, ao nosso ver, ele sintetiza o

espírito desse estudo ao tratar o direito ambiental como um direito humano.

Destarte, qualquer forma de proteger o direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado deve ser bem-vinda, pois este existe e deve ser

protegido independentemente da existência de Estado ou de Constituição, sobretudo

diante das situações de desequilíbrio em curso no mundo globalizado onde, entre

outras questões destacamos a fome, a miséria e o desrespeito aos direitos

humanos.

HIERARCHICAL POSITION OF THE INTERNATIONAL TREATY ON ENVIRONMENTAL LAW AS A HUMAN RIGHT IN THE BRAZILIAN PLANNING:

ANALYSIS ABOUT PARADIGM TAX BY ART. 5 °, § 3 OF THE FEDERAL CONSTITUTION OF 1988

ABSTRACT

The Constitutional Amendment 4512004 brought outstanding contributions to

the Brazilian legal system. One was the inclusion of § 3 to art. 5 ofthe Federal Constitution. Along the Brazilian constitutional history. the theme about the rank of intemational treaties was a reeurring theme in the main courts of our country. The inelusion of this paragraph carne as a possible solution to this problem by giving eonstitutional status to treaties that deal with human rights that are approved in accordance with the procedure laid dovm there. However. with its entry into force, new questions emerged: They also have constitutional rank the human rights treaties that did not obey the procedure under § 3 above? Among these treaties are also those who defend the right to an ecologieally balanced environment? What is the hierarehy of human rights treaties previously approved the inclusion of that paragraph? The other international treaties also have constitutional status? Right to an ecologically balanced environment is a human right? The scientific this Article using the bibliographic and documentary research methodology seeks to carify these questions based on doctrinal and jurisprudential positions, weaving an analysis ofthe new frame\vork established by the inclusion of § 3 making sure that, indeed, he brought innovation to the Brazilian eonstitutional organization and highlighting the role of the right to an ecologieally balanced environment as a human right.

Keywords: Constitutional Law. lntemational Law. Environmental Law. International Treaties. Ecologically Balanced Environment.

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C837p Petrucci, Giovanni. Posição hierárquica dos tratados internacionais sobre o

direito ambiental como um direito humano no ordenamento brasileiro: análise acerca do paradigma imposto pelo Art. 5º, § 3º da Constituição Federal de 1988. / Giovanni Petrucci. – Joao Pessoa, 2014.

25f. Orientadora: Profª. Ms. Maria do Socorro da Silva Menezes. Artigo Científico (Graduação em Direito).Faculdades de

Ensino Superior da Paraíba – FESP. 1. Direito Constitucional 2. Direito Internacional 3. Direito

Ambiental 4. Tratados Internacionais 5. Meio Ambiente. 6. Ecologicamente Equilibrado I. Título.

BC/Fesp CDU: 349.6 (043)