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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DO PIAUÍ FAESPI CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA RAQUEL GUEDELHA CARVALHO A REPRESENTAÇÃO DAS MULHERES NEGRAS NAS COLUNAS SOCIAIS DOS JORNAIS IMPRESSOS DE TERESINA-PI TERESINA PI 2017

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    FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DO PIAUÍ – FAESPI

    CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA

    RAQUEL GUEDELHA CARVALHO

    A REPRESENTAÇÃO DAS MULHERES NEGRAS NAS COLUNAS SOCIAIS DOS

    JORNAIS IMPRESSOS DE TERESINA-PI

    TERESINA – PI

    2017

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    RAQUEL GUEDELHA CARVALHO

    A REPRESENTAÇÃO DAS MULHERES NEGRAS NAS COLUNAS SOCIAIS DOS

    JORNAIS IMPRESSOS DE TERESINA-PI

    Monografia apresentada à Faculdade do Ensino Superior do Piauí - FAESPI, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Psicólogo. Orientador: Profº. Me. Augusto Ferreira Dantas Júnior.

    TERESINA – PI

    2017

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    RAQUEL GUEDELHA CARVALHO

    A REPRESENTAÇÃO DAS MULHERES NEGRAS NAS COLUNAS SOCIAIS DOS

    JORNAIS IMPRESSOS DE TERESINA-PI

    Monografia apresentada à Faculdade do Ensino Superior do Piauí - FAESPI, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Psicólogo.

    Aprovado em: _____/_____/2017.

    BANCA EXAMINADORA

    ___________________________________________________ Profº. Me. Augusto Ferreira Dantas Júnior

    Orientador Faculdade do Ensino Superior do Piauí – FAESPI

    __________________________________________________ Profª. Me. Hivana Raelcia Rosa da Fonseca

    1ª Examinadora

    Faculdade do Ensino Superior do Piauí – FAESPI

    _____________________________________________________

    Profª. Me. Ana Carolina Magalhães Fortes 2ª Examinadora

    Faculdade do Ensino Superior do Piauí – FAESPI

  • 3

    AGRADECIMENTOS

    A minha mãe, que nos momentos de desespero e cansaço me deu força e

    coragem para lutar. Por ser o meu incentivo e a minha referência em todos os

    sentidos. Todas as minhas conquistas são dedicadas a você. Ao meu pai pela

    torcida e pelas risadas. Ao meu irmão, pois no momento em que mais precisei

    estendeu sua mão para me ajudar.

    Ao meu orientador Augusto Dantas, por acreditar no meu potencial, emprestar

    seus livros e me encorajar com muito ânimo e alegria. E pelas palavras quando eu

    achava que não ia dar certo: “vai sim, porque minha fia é morta de sabida”.

    A minha professora Hivana Fonseca por enxergar em mim uma pessoa

    capaz, por abraçar a minha pesquisa e por todas as indicações e referências acerca

    do meu tema. A coordenadora Karolyna Pessoa por sempre se mostrar solícita

    quando eu precisei.

    A minha amiga Brena, pela companhia ao longo desses anos, principalmente

    nesse ano de 2017. Aos meus amigos de faculdade Isabel, Inez, Récio, Márcia,

    Claudiane e Gessyca pelo apoio ao longo desses cinco anos de convivência.

    Aos meus amigos Ilka e Flávio pelo incentivo e pergunta diária: “cadê o

    TCC”?

    E a todas as escolhas que eu fiz até chegar aqui.

  • 4

    O preconceito velado tem o mesmo efeito, mesmo estrago Raciocínio afetado, falar uma coisa e ficar do outro lado Se o tempo é rei vamos esperar a lei, Tudo que já passei nunca me intimidei Já sofri, já ganhei, aprendi, ensinei, Tentaram me sufocar mas eu respirei Há tanta gente infeliz com vergonha da beleza natural É só mais um aprendiz que se esconde atrás de uma vida virtual Gorda, preta, loira o que tiver que ser, magra, Santa, doida somos a força e o poder Basta, chega, bora, levanta a cabeça e vê.

    Karol Konca

  • 5

    RESUMO

    O presente trabalho tem como objetivo analisar a representação das mulheres negras nas colunas sociais dos jornais impressos de Teresina e em quais contextos essas mulheres aparecem. Nesse processo foram consideradas as concepções acerca da “ideologia do branqueamento”, a constituição da identidade negra no contexto escolar, a situação social da mulher negra no Brasil e de que forma a imagem dessa mulher vem sendo explorada pelos meios de comunicação. A pesquisa documental foi adotada enquanto procedimento metodológico, e nesse processo além de uma revisão bibliográfica acerca do tema, monitorou-se de agosto a outubro as colunas sociais dos dias de sexta-feira, sábado e domingo dos dois principais jornais do estado, com a finalidade de perceber mulheres negras e contextualizar suas aparições. Os resultados sugerem uma quase invisibilidade dessas mulheres nas colunas sociais, sendo inexpressivas numericamente em relação às suas aparições. Palavras-chaves: Mulheres negras. Jornais. Afrodescendência.

  • 6

    ABSTRACT

    This work aims to analyze the representation of black women on the social columns of Teresina newspapers and in which contexts these women use to appear. In this process, it was considered the conceptions about the "whiteness ideology", the black identity in the school context, the black woman social position in Brazil and how the image of this woman has been exploited by the media. Documentary research was adopted as a methodological procedure, and besides bibliographical review on the subject, social columns of the two main newspapers of Piauí State were monitored from August to October, for the purpose to perceive black and brown women and contextualize their appearances. The results suggest a practical invisibility of these women on social columns. Considering that Teresina's black and brown women are not a minority in the population. Key-words: Black women. Newspapers. African ancestry.

  • 7

    SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 8

    2 A IDEOLOGIA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL.................................. 11

    3 A SITUAÇÃO SOCIAL DA MULHER NEGRA NO BRASIL.......................... 14 3.1 A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NEGRA NOS MEIOS DE

    COMUNICAÇÃO............................................................................................. 16

    3.2 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A ORIGEM DAS COLUNAS SOCIAIS NO BRASIL.....................................................................................................

    19

    3.3 A PSICOLOGIA ESCOLAR VOLTADA PARA OS NEGROS NA EDUCAÇÃO....................................................................................................

    21

    4 METODOLOGIA............................................................................................. 26

    5 RESULTADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS........................................ 29

    6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 40

    REFERÊNCIAS.............................................................................................. 43

    ANEXOS......................................................................................................... 47

  • 8

    1 INTRODUÇÃO

    O presente trabalho propõe a análise da representação das mulheres negras

    nas colunas sociais dos jornais impressos de Teresina PI, buscando perceber qual a

    expressividade dessas mulheres sob a ótica da narração foto-jornalística de tais

    meio de comunicação.

    A pesquisa aborda fatos possíveis de serem observados no cotidiano do

    leitor, afinal, em quase todas as empresas e locais de atendimento em geral,

    encontra-se os principais jornais da cidade para que clientes possam folheá-los no

    ato de uma espera. Além disso, as sessões das colunas sociais são coloridas,

    facilitando a observação dos resultados.

    Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010,

    negros e pardos correspondem a cerca de 70% da população do país. Apesar da

    grande diversidade étnica existente, o mito da democracia racial está distante de ser

    uma verdade no Brasil. Se mais da metade da população brasileira se autodeclarou

    negra ou parda, por que esse grupo ainda é tratado como minoria?

    A desigualdade social existente revela um abismo na comparação entre

    negros e brancos. Observa-se um forte componente racial. Conforme a Pesquisa

    Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2015, aqueles autodeclarados negros

    e pardos correspondiam a 54% da população brasileira, sendo que sua presença no

    grupo dos 10% mais pobres era superior: 75%. No grupo do 1% mais rico da

    população, a porcentagem de pretos e pardos é de apenas 17,8%. Verificou-se que

    indivíduos não-brancos não fazem parte até mesmo na parcela com mais privilégios

    econômicos da população.

    Tal disparidade racial também é observada em relação à expressividade de

    negros e pardos nos meios de comunicação. Pacheco (2001) pontua que

    comumente nos variados meios de comunicação do Brasil, os afrodescendentes

    vem sendo representados de forma estigmatizada e desigual em relação aos

    brancos, isso ocorre pela baixa representatividade dos afrodescendentes nos papeis

    de destaque na mídia, sendo os papeis mais comuns os de atletas, trabalhadores

    braçais mal remunerados, motoristas, empregadas domesticas, músicos ou

    passistas de escola de samba (ARAÚJO, 2008; PACHECO, 2001).

    Acevedo e Nohara (2008) entrevistaram afrodescendentes a fim de se

    entender a forma como estes compreendem a retratação dos afrodescendentes nas

  • 9

    mídias. Em suas análises, ficou nítido que eles entendem que a presença de negros

    e pardos é pouco evidenciada e para alguns, eles estão frequentemente associados

    nos meios de comunicação a imagens negativas como pobreza, violência,

    criminalidade e etc. Os retratos que estigmatizam também dão conta de uma

    associação limitada do negro ao futebol, carnaval, samba, pagode ou funk da

    periferia.

    Em relação a Teresina, de acordo com o IBGE (2010), a capital piauiense é a

    segunda entre todas as capitais do Nordeste com maior prevalência de pretos e

    pardos, sendo a sétima no país. As mulheres são a maioria dos habitantes, seguindo

    uma tendência nacional de maior expressividade no numero de mulheres em relação

    aos homens, contabilizando 433.618 mulheres e 380.612 homens em Teresina

    (IBGE, 2010).

    Um estudo sobre a representação das mulheres negras nas colunas sociais

    dos jornais impressos de Teresina é oportuno, pois, mesmo negros e pardos

    correspondendo a cerca de 70% da população da cidade (IBGE, 2010), esse grupo

    ainda é percentualmente pouco evidenciado nos meios de comunicação, e quando é

    representada, a imagem é carregada de estigmas sociais.

    A pergunta que orienta essa pesquisa é: Como as mulheres negras são

    representadas nas colunas sociais dos jornais impressos de Teresina PI. Para

    respondê-la, utilizamos procedimentos de análise de conteúdo juntamente com uma

    análise qualitativa. Após atingir o objetivo no qual percebeu-se a forma que a mulher

    negra é representada nos jornais, buscou-se analisar dois objetivos específicos: a

    regularidade na qual as mulheres negras são apresentadas nas colunas sociais e

    em quais contextos específicos ela é representada.

    A motivação em pesquisar a questão racial surgiu devido ao interesse em

    entender como a Psicologia aborda as relações raciais no nosso país. Através do

    entendimento de que a mídia é uma das fontes de produção de subjetividade, surgiu

    a ideia de estudar como os meios de comunicação podem influenciar na construção

    da identidade dos afrodescendentes e contribuir com a formação da subjetividade

    das pessoas sobre esse tocante. É importante dizer que trabalhos na área da

    Psicologia sobre afrodescendência são escassos o que acaba propondo que esse

    tema seja pesquisado por mais profissionais da área.

    A pesquisa busca propor uma reflexão sobre a representação racial em um

    meio de comunicação popular na cidade de Teresina, pois é entendível que uma

  • 10

    sociedade pluralista como a teresinense, deveria ser representada em todos os

    meios de comunicação de forma autentica e igualitária.

  • 11

    2 A IDEOLOGIA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL

    O conceito de branqueamento do negro no Brasil contingenciou-se

    principalmente pela mídia e meios de comunicação, dos quais são os maiores

    formadores de opinião pública e padrões de beleza, através de suas publicidades,

    interim da história brasileira da propaganda, contudo, algumas mudanças têm

    surgido nos últimos anos para combater o racismo, e assim gerando algumas

    mudanças em favor do negro (CASTRO, 2007).

    De acordo com Castro (2007), juntamente com a abolição da escravatura, por

    meio da assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, em 13 de maio de 1888, o

    negro deixou de ser mercadoria e passou a ser consumidor em potencial, sendo

    assim inadmissível os anúncios referentes ao comércio dos negros. Contudo até o

    negro se tornar mercado consumidor existiu um lapso temporal no qual o término da

    escravidão, foi apenas a primeira etapa. Primeiramente, o negro teria que conquistar

    a sua independência financeira. Porém antes disso acontecer o negro ficou um

    tempo significativo marginalizado na sociedade, sem função alguma, pois no campo

    foi substituído pela mão-de-obra estrangeira, consequência da imigração europeia e

    na cidade não encontrava ofício por falta de qualificação, sendo o negro nessa

    época foco de preconceito racial.

    Segundo Borges (2012), assim como em diversos países, no Brasil, a

    publicidade sempre andou de mãos dadas com o desenvolvimento do capitalismo.

    Aliás, esta atividade teve início em terras brasileiras no século XIX. Neste período, o

    crescimento da economia promoveu um aumento populacional nas áreas urbanas,

    que comportava variados setores nacionais que necessitavam comunicar sua

    existência ao mercado. Na busca de um quadro comum de referências, a mídia

    institui padrões operacionais: falas e sotaques, vestimentas, modelos de beleza,

    modos específicos de escrever, filmar e fotografar, estabelecendo sempre modelos e

    estilos de vida a serem seguidos.

    Sendo assim, os primeiros anúncios publicitários se referiam a ofertas de

    serviços de artesãos e profissionais liberais, vendas de imóveis, e também venda de

    escravos. Principal fonte de renda dos periódicos da época, os anúncios eram

    abundantes, chegando a dividir, e até mesmo a superar o espaço destinado aos

    editoriais e às notícias. (SCHWARCZ, 2001).

  • 12

    Para Lopes (2007), a publicidade, que dá suporte financeiro às produções

    televisivas, insiste em não associar à imagem do povo negro os produtos que

    anuncia mesmo aqueles sabidamente consumidos pelos afro-brasileiros em geral.

    Daí o dilema, da jovem negra que se acha feia por não ser parecida com as modelos

    dos anúncios, pois não tem a mesma pele clara, nem mesmo os cabelos louros e

    sedosos. E muito pior, daí também, o drama das menininhas que, na fantasia

    maternal de sua infância, são obrigadas a embalar em seus colinhos as bonecas

    louras e rosadas de sempre.

    É questionável o fato de um país conhecido pela sua diversidade racial

    possuir na figura do homem branco um padrão de ser humano.

    É interessante entender que o negro minimizado através da sua atenuação

    em vários meios de comunicação. Segundo Vaz e Mendonça (2002), a escassez de

    representatividade negra é observada também nos meios de comunicação impresso,

    como, por exemplo, nos cadernos de economia, que são direcionados aos

    indivíduos que a sociedade intitula de “bem-sucedidos”, nos cadernos de informática

    ou de automóveis e até nas colunas sociais podemos observar a escassez ou

    inexistência dos negros.

    Sobre o apagamento da representação dos negros é sintomático, por exemplo, que eles nunca tenham sido símbolos da nação. Tanto os brancos (‘europeus civilizadores’) como os índios (‘silvícolas heroicos’ e ‘bons selvagens’) já foram símbolos de uma identidade nacional, mas não o negro. Eles sempre tiveram a representação eclipsada (VAZ; MENDONÇA, 2002, p.4).

    É importante mencionar um marco importante relacionado à questão racial

    nos meios de comunicação impresso no século XIX, denominado “Imprensa Negra”,

    tal movimento se tratava de diversos jornais publicados por negros para abordar

    suas próprias questões. Segundo Dominguez (2007) m uma época pós-abolição, a

    Imprensa Negra foi uma das formas de mobilização encontrada pela população

    negra para participar de forma ativa na política e no intento de preservação da

    identidade racial, combatendo o “preconceito de cor”, termo da época.

    No Brasil o ideal estético é reforçado pela ideologia do branqueamento. É

    importante entender como foi implantada essa ideologia no Brasil, para que

    possamos entender as suas consequências na construção da identidade do afro-

    brasileiro. Há relatos que tais ideais surgiram no início do século XIX com projetos

  • 13

    imigracionistas que trariam milhares de imigrantes europeus brancos para o país.

    Hofbauer em uma entrevista sobre Racismo e o branqueamento da sociedade para

    o site Brasilianas.org (2010) definiu como se originou esse processo:

    Em 1821, o médico e filósofo Francisco Soares Franco apresentou um projeto no qual propôs que o lento processo de emancipação deveria ser acompanhado por uma política imigracionista, a qual deveria ter como objetivo a homogeneização da nação, isto é, a transformação da “raça negra” em “raça branca”. Um processo que – segundo ele – poderia ser efetuado num prazo de três gerações. Noventa anos depois, quando o fluxo imigratório estava em pleno andamento, o antropólogo João Baptista Lacerda repetiria este prognóstico, num discurso muito citado, no Congresso Universal das Raças em Londres (1911), afirmando que a imigração europeia e a seleção sexual (preferência por casamentos com brancos) fariam com que a “raça negra” fosse extinta dentro de um p razo de cem anos.

    De acordo com Araújo (2008) o ideal de beleza do país é norteado pela

    ideologia do branqueamento, onde traços negros acentuados acabam gerando uma

    consciência deturpada sobre os lugares subalternos que ocupam na sociedade.

    Ainda segundo Araújo (2008) foi a partir do ano de 1998 passaram a ocorrer

    mudanças na sociedade brasileira, visando diminuir a distinção entre raças no Brasil.

    Um reflexo que fortaleceu essa lenta mudança foi o Projeto de lei Nº 4370/98 do

    deputado Paulo Paim determinando uma cota de 25% de presença obrigatória de

    afrodescendentes em programas de televisão, filmes e peças e de 40% em

    propagandas.

    A identidade do indivíduo é moldada em partes através da forma como ele é

    representado por outros indivíduos, podendo afetar uma pessoa ou um grupo, sendo

    essa uma afetação vantajosa ou desvantajosa dependendo da forma como

    acontecerá essa representação, se representada de forma inadequada, poderá ser

    uma das principais fontes de opressão, limitando o oprimido a um modo de ser

    distorcido de sua realidade. (TAYLOR, 1994 apud SILVÉRIO, 2002). A ausência de

    referências positivas em que as minorias possam se espelhar pode acarretar muitas

    complicações psicológicas como crises de identidade e sensação de invisibilidade.

    (KELLNER, 2001 apud ACEVEDO; NOHARA, 2008).

    Para tanto, entende-se que os meios de comunicação podem intervir

    ideologicamente na construção da subjetividade de um povo, dificultando a

    representação do negro de forma livre de estereótipos.

  • 14

    3 A SITUAÇÃO SOCIAL DA MULHER NEGRA NO BRASIL

    Para Winch e Escobar (2012), ser negra no Brasil é estar inserida num ciclo

    de marginalização e discriminação social. Mulheres afrodescendentes costumam

    sofrer duplo preconceito: racial e de gênero. Se a mulher negra for pobre, o caso se

    agrava ainda mais. A herança do período escravocrata disseminou um juízo

    preconceituoso, que reserva para a afrodescendente, trabalhos domésticos ou que

    exploram o corpo. Assim como em qualquer campo social, nos meios de

    comunicação, dentre eles a publicidade, a mulher negra precisa comprovar

    competência mais vezes do que a mulher branca.

    No entanto, dados do último Censo do IBGE (2010) indicam que as mulheres

    negras são 25,5% da população brasileira, com um total de 48,6 milhões de

    pessoas, e são as maiores vítimas de violência criminal. De 2003 para 2013,

    assassinatos de mulheres negras aumentou 54,2%, segundo o Mapa de Violência

    2015: Homicídios de Mulheres no Brasil.

    O Sistema Nacional de Informações de Gênero (SNIG), que faz parte do

    Programa de Estatísticas de Gênero no IBGE, publicou em 2014 “Estatísticas de

    Gênero – Uma análise dos resultados do Censo Demográfico 2010”. A publicação

    apresenta e analisa dados censitários de 2000 e 2010 a partir de índices de

    desigualdades de gênero, aliada a disparidades de raça/etnia, idade, local de

    moradia (rural e urbano) e classes de rendimento. A dimensão de mulheres sem

    rendimentos explica a relação de dependência econômica das mulheres e a

    vulnerabilidade a situações de violência doméstica. Em 2010, 33,7% das mulheres e

    25,7% dos homens tinham rendimento mensal de até 1 salário mínimo. Dentre as

    mulheres negras 40,3% recebiam até 1 salário mínimo e dentre as rurais, 50,5%.

    Ainda de acordo com o SNIG, as políticas de proteção social influenciaram na

    melhoria dos rendimentos recebidos pelas mulheres. O rendimento em média das

    mulheres negras correspondia a 35% do rendimento médio dos homens brancos. As

    mulheres negras tinham um rendimento médio equivalente a 52% do rendimento das

    mulheres brancas. E as mulheres brancas, 67% do rendimento dos homens

    brancos. Vale ressaltar que as mulheres rurais são as que apresentaram receber

    rendimentos menores (R$ 480,00), valor inferior ao salário mínimo vigente em 2010.

    A distribuição dos rendimentos entre as mulheres é desigual relacionado a aos

    rendimentos entre os homens.

  • 15

    De acordo com o Geledés (Instituto da Mulher Negra), a discrepância dos

    dados entre mulheres negras e brancas pode ser constatada também na esfera da

    saúde pública. Em novembro de 2014, o Ministério da Saúde numa tentativa de

    combater o racismo no Sistema Único de Saúde (SUS) lançou uma campanha

    intitulada “SUS sem Racismo”, na página oficial da campanha dados revelaram

    existir uma diferença no atendimento entre negras e brancas, de acordo com as

    estatísticas as negras recebem menos tempo de atendimento em relação às

    brancas, sendo as negras 60% das vítimas da mortalidade materna no nosso país.

    Em relação ao acompanhamento no parto, 27% das mulheres negras o tem

    enquanto mulheres brancas somam 46,2%. A campanha também mostrou que

    62,5% das mulheres negras receberam orientações sobre a importância do

    aleitamento materno ao mesmo tempo em que as mulheres brancas somaram 77%.

    Atualmente a página da campanha “SUS sem Racismo” pode ser visualizada

    somente através da rede social Facebook, mas deixou de ser atualizada no ano em

    2014, mesmo ano em que foi lançada a campanha. Ainda de acordo com o instituto

    Geledés, na época do lançamento da campanha, o Conselho Federal de Medicina

    se posicionou contra alegando que o Ministério da Saúde estava insinuando que

    médicos estavam praticando uma espécie de “apartheid” oferecendo atendimento

    diferenciado baseado na cor da pele dos seus pacientes.

    De acordo com a antropóloga, fundadora do Geledés - Instituto da Mulher

    Negra -, Sueli Carneiro (2006), as mulheres negras possuem necessidades

    específicas e suas questões não devem ser reduzidas, unicamente, pela questão do

    gênero. A autora afirma que há um duplo rebaixamento, mulheres e negras,

    representando a parte mais marginalizada da sociedade brasileira, a mesma não

    acredita que isso seja proveniente de uma casualidade, mas sim de uma

    discriminação racial presente no cotidiano dessas mulheres negras.

    Dados estatísticos como os do início, ilustram a discrepância das condições

    sociais ofertadas as mulheres brancas e negras. Desigualdades como estas, são

    passíveis de análises não somente nos aspectos sociais, mas também, nas

    representações nos variados meios de comunicação.

  • 16

    3.1 A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NEGRA NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

    O preconceito contra a mulher negra é duplo “por ser mulher numa sociedade

    sexista e negra numa sociedade racista” (BARBOSA; SILVA, 2009. p. 51).

    Segundo Bento (2009) a mídia é o grande centro de preocupações do

    movimento negro. O Geledés – Instituo da Mulher Negra, uma das mais antigas

    organizações de movimento de mulheres negras, tem uma das mais importantes

    ações contra a TV Globo pela forma que os negros aparecem na emissora.

    Comumente nos variados meios de comunicação do Brasil, os

    afrodescendentes vem sendo representados de forma estigmatizada e desigual em

    relação aos brancos, isso ocorre pela baixa representatividade dos

    afrodescendentes nos papéis de destaque na mídia (PACHECO, 2001), sendo os

    papeis mais comuns os de atletas, trabalhadores braçais mal remunerados,

    motoristas, empregadas domesticas, músicos ou passistas de escola de samba

    (ARAÚJO, 2008). Outro fato conciso é a frequência em que os afrodescendentes

    estão relacionados a propagandas de produtos baratos, populares e étnicos.

    (ACEVEDO; NOHARA, 2008).

    Bento (2009) afirma que o número de negros que atuam em campanhas

    publicitárias é pouco e que estes não possuem fala, família e não aparecem em

    destaque, aparecem em campanhas apenas para representar uma diversidade

    racial. O autor afirma também que há um impacto físico, emocional, afetivo e

    espiritual na construção desse tipo de imaginário que afeta tanto homens brancos

    quanto negros, no quesito reafirmação e/ou exclusão.

    Borges (2012), abordou um fato ocorrido em 2010 relacionado a publicidade e

    a mulher negra, a propaganda da cerveja Devassa, onde mostrava uma mulher

    negra em um painel e a frase: “É pelo corpo que se reconhece a Negra”, a ideia

    dessa propaganda é oriunda do estereótipo que dá conta de um imaginário coletivo

    racista e sexista que minimiza a mulher negra ao seu corpo desde a época da

    escravidão. O mesmo autor também pontua que aparentemente a mídia se alimenta

    de ideias que se referem a mulher negra através de uma figuração sexual ou

    subalterna.

    Segundo Winch e Escobar (2012), Mulheres negras têm lutado para alcançar

    uma melhor posição social, e para isso é necessário um esforço gigantesco. A

    valorização do corpo da mulher negra é ofuscada por contornos estereotipados e

  • 17

    pensamentos historicamente limitados. A dignidade e o reconhecimento do intelecto

    da mulher negra são descartados em campanhas como a da Du Loren.

    Visivelmente, a função de objeto sexual, de entretenimento e diversão da mulher

    negra ainda é a imagem que alguns publicitários optam em transmitir.

    Para os autores, tal opção parece não considerar o contexto sócio-político

    que as afrodescendentes estão inseridas no Brasil. O anúncio que põe a mulher

    negra como dominadora de uma situação, e que foi ambientado em uma favela

    carioca, não leva em conta o fato de que as mulheres negras são as maiores vítimas

    da violência no Rio de Janeiro. E são justamente campanhas, como a Basta de

    Violência contra a Mulher, que inserem as afrodescendentes mais expressivamente.

    São espaços publicitários que recorrem à figura da mulher negra para representá-

    las, muitas vezes, como vítimas do sistema social, como seres carentes, que

    necessitam de alguma assistência governamental.

    De acordo com os autores, após as conquistas dos movimentos e

    manifestações que têm como objetivo a igualdade e luta contra o preconceito e

    discriminações raciais, verificamos a ampliação de um mercado direcionado aos

    afrodescendentes, que tem atraído muitos investimentos e capital.

    Para Coutinho (2011), é necessário que os negros se identifiquem com os

    produtos que irão comprar, especialmente se trazem imagens que possibilitam isso;

    porém não se deve descartar a ideia de que o mercado se aproveitou deste

    momento para lucrar com uma discussão em desenvolvimento.

    Castro (2010, p. 106) faz considerações sobre o papel da publicação:

    Foi esta discussão que nos fez perceber que, em Raça Brasil, o negro e a negra estão sempre bem vestidos, sempre bem penteados e sempre bem maquiados, por mais que se fale em problemas de periferia, de quilombo ou de favela. O homem e a mulher negros de periferia podem obter ascensão social, dignidade, fama e dinheiro sem que precisem adentrar o mundo do crime.

    Acevedo e Nohara (2008) entrevistaram afrodescendentes a fim de se

    entender a forma como estes compreendem a retratação dos afrodescendentes nas

    mídias, em suas análises, ficou nítido que eles entendem que a presença de negros

    e pardos é pouco evidenciada e para alguns, os afrodescendentes estão

    frequentemente associados nos meios de comunicação a imagens negativas como

    pobreza, violência, criminalidade e etc. Os retratos que estigmatizam também dão

  • 18

    conta de uma associação limitada do negro ao futebol, carnaval, samba, pagode ou

    funk da periferia.

    Wenceslau e Mendonça (2006) analisaram a revista Raça Brasil, que surgiu

    em 1996 com a proposta de aumentar a autoestima dos negros brasileiros. Os

    pesquisadores perceberam que a revista pode ser considerada feminina, voltada,

    basicamente, para a estética da mulher negra, os mesmos avaliaram que a

    publicação não se posiciona de forma politica acerca do pensamento do Movimento

    Negro Brasileiro, dessa forma, acreditam que a revista adota um posicionamento

    comercial e não político, o que chamaram de “revista controvérsia”.

    Bento (2009) pontua a dificuldade que meninas negras possuem em aceitar a

    sua aparência, principalmente o seu cabelo, um problema de pertencimento racial.

    É um “defeito de fabricação” do mundo negro, das meninas negras, que não conseguem sentir-se bem com seus cabelos? Não. Não é disso que estamos falando. Então, que influencia, que impacto tem, por exemplo, quando se passa da Xuxa para a Angélica, da Angélica para Eliana, que são absolutamente loiras? Que impacto isso tem sobre as meninas que não são loirinhas? (...) Quando pensamos em mídia e subjetividade estamos falando de narcisismo na sua versão mais cruel” (BENTO, 2009, p.142-143).

    Bento (2009) acredita que a subjetividade é uma herança que antecede o

    indivíduo sendo repassada para nossas próximas gerações e que podemos ser

    agentes de mudanças em relação aos reforçadores de desigualdades.

    A baixa quantidade de atrizes negras em papéis de destaque na televisão,

    bem como em campanhas publicitárias, realmente era ainda mais explícita em

    décadas anteriores. Quando modelos negras apareciam em editoriais de moda, na

    maioria das vezes, eram colocadas por estratégias específicas.

    O novo cenário internacional da moda influenciou diretamente as publicações

    brasileiras. Mas, ainda hoje, as afrodescendentes são minorias em editoriais de

    moda por aqui. E assim como ainda sobrevive aquela publicidade que vincula

    modelos negras ao esporte brasileiro, também há aquela que traz como

    protagonistas, mesmo que raramente, as próprias atletas negras.

    Bonadio (2009), em estudo sobre a participação de modelos negras em

    editoriais de moda, reportagens e anúncios impressos na década de 1960, observou

    que em um dos casos, a presença da modelo negra tinha vinculação direta ao

    futebol, mais precisamente à seleção brasileira da época. A associação da modelo

  • 19

    negra a jogadores negros de sucesso foi uma estratégia publicitária, que não visava

    incluir modelos afrodescendentes no meio artístico, muito menos social, mas sim

    fazer menção ao sucesso de Pelé e de tantos outros atletas negros do período.

    Como ressalta a autora em seu estudo, na década de 1960, o padrão de beleza da

    mulher excluía os traços africanos. Colocar uma modelo negra entre modelos

    brancas era uma tarefa ousada e arriscada para a época.

    A exclusão e estereotipização da figura feminina negra em construções

    publicitárias podem provocar crises de aceitação nas afrodescendentes, além de ser

    objeto gerador de doenças sociais adquiridas em situações desfavoráveis, como

    transtorno mental e depressão. É fato que as mulheres negras estão em

    desvantagem social no Brasil. Entretanto, elas existem, e em grande quantidade.

    Renegando essa realidade, o discurso publicitário acostumou-se a destinar espaços

    e posições subalternas para as negras. É dessa forma que a publicidade, bem como

    a mídia hegemônica, reproduz desigualdades e legitima valores deturpados da vida

    social. Os meios de comunicação nacionais reforçam a identidade racial negativa do

    negro, alimentando simbolicamente o ideal de branqueamento, sendo uma de suas

    consequências o desejo de euro-norte-americanização que faz com que, mesmo

    após cem anos do movimento eugenista, que iniciou no final do século XIX, negros e

    negras permaneçam com as mesmas compulsões desagregadoras de uma

    autoimagem depreciativa. (SANTOS, 2004, p.10)

    3.2 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A ORIGEM DAS COLUNAS SOCIAIS NO

    BRASIL

    Segundo Ramos (1990), em 1808 instituiu-se o primeiro jornal a Gazeta do

    Rio de Janeiro e, por conseguinte também surge o primeiro anúncio que deu início

    aos classificados, brotando as primeiras propagandas, que por serem apenas

    informativas eram desvalorizadas pelo produto e por meio da criação e arte.

    Naquela época, ainda o autor corrobora que: apregoando os traços, as

    características e virtudes dos negros ou negras a venda. Mostrando as vantagens

    das escolas para crianças, onde meninos e meninas de 8 a 10 anos aprendiam

    ofícios, para depois serem alugados. Principalmente descrevendo os foragidos,

    oferecendo pelos procurados, altas recompensas. Há classificados vergonhosos,

    como o de ingressos para ver uma negrinha mostro, com menos de 7 anos e peso

  • 20

    de mais de 9 arrobas, ou os que propõem raparigas de bonita figura, sem vícios,

    jovens amas-de-leite recém-paridas, vendas e compras a granel ou atacado. Há

    outros, poucos, que chegam a ser simpáticos. Será o caso do amoroso senhor

    pernambucano, atrás da escrava fugida, que ao descrevê-la se inflama, gasta

    dinheiro em pormenores avulsos, para concluir: e tem uns olhos tristes. Se já

    escreveram que a propaganda é a poesia do comércio, nesse caso ela virou drama

    ou tragédia. A ponto de serem queimados os arquivos da nossa escravatura. E de

    Gilberto Freyre, em livro sobre os anúncios de escravos nos jornais do século XIX,

    destacar a importância que tiveram para a definição dos tipos étnicos e

    constitucionais dos nossos negros e mestiços.

    Contudo, a origem das colunas sociais no Brasil possui sua influência nas

    “gossip columns” norte-americanas. O conteúdo apresentado estava relacionado às

    famílias ricas da sociedade, o que incluía relatos de festas, informações fúteis,

    curiosidades políticas, fofocas sobre milionários, artistas e celebridades (MARIA,

    2008).

    Para Maria (2008) as colunas sociais desde sua origem no Brasil viabilizando

    a criação de identidades e modelando comportamentos, fortalecendo lutas

    partidárias, envolvendo famílias da alta sociedade que almejavam se manter em

    seus grupos privilegiados socialmente.

    De acordo com Sodré (1983), a coluna social fortaleceu a construção da

    “mitologia pequeno-burguesa” dando notoriedade àqueles que detinham o poder.

    Historicamente o papel das colunas sociais era mostrar o estilo de vida das elites.

    [...] A temperatura ideológica deste gênero, ou seja, aquilo que constituía o “tom” jornalístico da visibilidade social da nova fração de classe no poder consistia na celebração de sinais exteriores de consumo conspícuo (SODRÉ, 2003, p, 1).

    De acordo com a pesquisadora Dejavite (2007) leitores de todas as classes

    sociais, sexo e idades solicitam o entretenimento nos jornais impressos. Os

    conteúdos mais solicitados pelo publico segundo ela são os de: Lazer, turismo,

    esportes, carros, televisão, a vida dos artistas e personalidades famosas, shows e

    cantores. Para a autora não se deve negar a relevância desse tipo de conteúdo

    jornalístico e tampouco negar ao publico, pois a missão do jornalismo é servir a

    sociedade.

  • 21

    3.3 A PSICOLOGIA ESCOLAR VOLTADA PARA OS NEGROS NA EDUCAÇÃO

    De acordo com Balbino (2008), a atuação competente e tendências

    inovadoras têm surgido em todas as áreas da psicologia. Conforme o autor, esses

    dados foram alcançados através das pesquisas, conferências e congressos do

    Conselho Federal de Psicologia que apontam para essa necessidade, incluindo

    certa conformidade de propostas multidisciplinares, que se traduz adequadamente

    em uma formação básica generalista sólida, além da formação tecnicista tão vigente

    ainda hoje nos cursos, e da ética comprometida com os problemas sociais.

    Conforme o autor, o conhecimento produzido na psicologia frequentemente é

    centrado muito no aspecto individual, excluindo uma análise mais aprofundada dos

    aspectos socioeconômicos e políticos, e contribuindo para a falta de

    contextualização do saber psicológico aos longos dos anos. Esse mesmo tipo de

    orientação e análise também era adotado nas orientações teórico-práticas na área

    de psicologia escolar.

    Elencando Severino (2010), dentro do conjunto temático apresentados pela

    psicologia, verifica-se através das problematizações que a Psicologia Brasileira tem

    conferido pouca atenção sobre a questão da diversidade étnica, da qual se destaca

    em sua pesquisa o trabalho de Ferreira (2004) que faz um levantamento com quase

    5 mil artigos, de periódicos e teses da Psicologia brasileira; ainda assim há somente

    11 que tratam de alguma forma de preconceito racial e de elementos vinculados à

    questão étnica afrobrasileira.

    Para Ferreira (2004), o psicólogo escolar não deve se acomodar ao

    “psicologismo”, tentando lidar com o aluno apenas na dinâmica intrapsíquica, mas

    considerando a sua realidade histórica e social. Por isso, para superar a atuação

    individualista, principalmente no que diz respeito à solução de casos de “alunos

    problemas”, o autor sugere um trabalho preventivo com pais e professores.

    Para o autor, a Psicologia não vem tratando do tema, pois se percebe que

    dos três eixos raciais principais que formaram a nação brasileira, o indígena e o

    africano permanecem intactos de serem objetos de investigação e exploração por

    parte dos psicólogos.

    Com base numa grande quantidade de trabalhos e pesquisas que se

    propõem a compreender, discutir e analisar sobre o assunto e assim poder tratar tais

    problemas, conjecturam-se mudanças concretas de ação através da psicologia na

  • 22

    busca de um novo fazer sobre a temática da Psicologia Escolar voltada para os

    negros na educação. Assim tais considerações, sobre as relações entre sociedade,

    educação e psicologia escolar, é interessante criar a possibilidade de aprofundar a

    leitura crítica em relação aos conhecimentos, repassados nesta área, e ao papel

    assumido pelo psicólogo escolar na sociedade.

    A Psicologia aplicada à educação é propulsora de grandes mudanças na

    escola, segundo Almeida (2006), no entanto alvo de poucos investimentos nos

    cursos de formação de psicólogo.

    A inclusão de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana tornou-se

    obrigatoriamente nos currículos de Educação Básico e trata-se de decisão política,

    com fortes repercussões pedagógicas, esta medida, reconhece-se que, além de

    garantir vagas para negros nos bancos escolares, é preciso valorizar devidamente a

    história e cultura de seu povo, buscando reparar danos, que se repetem há cinco

    séculos, à sua identidade e a direitos seus.

    Essas discussões em torno da diversidade sociocultural e das questões

    étnico-raciais desenvolvidas ao longo do século XX pelos movimentos sociais, em

    especial o Movimento Negro, culminaram com a aprovação em janeiro de 2003 da

    Lei 10.639, que estabelece o ensino obrigatório da História e Cultura Afro-Brasileira

    e Africana na Educação Básica.

    A Lei 10.639/03 chega ao Estado Brasileiro no bojo do debate da

    implantação das políticas de ações afirmativas para a população negra que, embora

    reivindicadas pelo movimento social negro, compõem o discurso estratégico dos

    organismos internacionais que defendem a instituição de políticas sociais

    focalizadas para os mais pobres, entre quais, os negros. A Lei 10.639 provocou um

    movimento em direção a ressignificação de práticas educacionais, no sentido de

    pautá-las na valorização da imagem da população negra e reafirmar as suas

    contribuições na formação nacional.

    Neste sentido, a Lei 10.639/03 pode configurar-se como um instrumento de

    luta para o questionamento da ordem vigente, na medida em que coloca em xeque

    construções ideológicas de dominação, fundadoras da sociedade brasileira.

    Conforme Gomes (2007, p.106):

    A Lei 10.639/03 e suas respectivas diretrizes curriculares nacionais podem ser consideradas como parte do projeto educativo emancipatório do Movimento Negro em prol de uma educação

  • 23

    antirracista e que reconheça e respeite a diversidade. Por isso, essa legislação deve ser entendida como uma medida de ação afirmativa, pois introduz em uma política de caráter universal, a LDBEN 9394/96, uma ação específica voltada para um segmento da população brasileira com um comprovado histórico de exclusão, de desigualdades de oportunidades educacionais e que luta pelo respeito à sua diferença.

    Contudo, descrevem que o racismo brasileiro é o que denota uma iniquidade

    maior, pois temos o produto de uma ideologia social, na lenda de uma ditadura racial

    que sendo assim, possui um certo grau de interferência sobre a Psicologia brasileira

    em grande escala que de certa forma, se revela compadecida desta realidade

    desmistificada.

    Outro aspecto é que além deste fato de reconhecimento negativista, a

    Psicologia não tem contribuído para conhecer mais a própria construção subjetiva da

    negritude e deixa de contribuir para evitar, ou para diminuir, os efeitos devastadores

    da discriminação (VINICIUS, 2002).

    Para Vinicius (2002), essa omissão traz consigo prejuízos para os indivíduos,

    que sofrem a discriminação social, e para a própria Psicologia. A primeira questão a

    ser levantada é que a Psicologia não reconhecendo o problema da discriminação

    racial, deixa de cooperar para esclarecer uma experiência social extremamente

    relevante, que é a desqualificação que o indivíduo recebe socialmente.

    Na verdade, o que se percebe segundo Crochík (1997), nessa construção e

    mudança diária social, é o preconceito de marca, que é o preconceito em relação à

    aparência. Por meio deste preconceito, é muito difícil as pessoas enxergarem o

    negro de outra forma. Ele é sempre visto de forma inferiorizada, se comparado ao

    branco.

    Foi a partir dos anos 20 que o preconceito passou a ser estudado e

    trabalhado como “atitude psicológica”. Até então, era compreendido como uma

    teoria. Um exemplo disto, é que os negros eram tidos como inferiores aos brancos, e

    os teóricos buscavam justificar e entender esse fato.

    Na maioria das vezes as crianças negras que são vítimas das manifestações

    racistas, não se dão conta do quanto estão sendo injustiçadas. Diante de tal

    problemática, a presente pesquisa torna-se relevante cientifica e socialmente, uma

    vez que busca evidenciar as consequências que as posturas racistas ou passivas

  • 24

    diante do racismo trazem para o processo ensino – aprendizagem e

    consequentemente para a convivência social.

    Por outro lado, entendemos os limites dessa pesquisa, que podem ser

    justificados de diversas formas: acreditamos na prática etnográfica, na “descrição

    densa”, como proposta por Geertz (1989) como meio indispensável para

    compreender as “tramas” que são tecidas no dia-a-dia das realidades dos sujeitos

    que se tornam interlocutores importantes em nossas pesquisas (dedicamo-nos,

    nesse trabalho, à prática etnográfica, mas compreendemos o limite do tempo que

    tivemos para melhor realizá-la). Outro limite que se impõe está relacionado ao olhar

    que foi privilegiado pela pesquisadora para a realização deste trabalho, que reflete

    suas opções teórico-metodológicas (é de nosso entendimento que outros olhares

    sobre o mesmo objeto podem tanto construir outros problemas como,

    inevitavelmente, outros resultados).

    Segundo Silveira (2007), é de fundamental importância o conhecimento e

    compreensão sobre os Direitos Humanos nas Políticas Públicas, pois é através

    destes reflexos que são descritas ações e estratégias para conquistas desses

    direitos, para combater qualquer tipo de desigualdade e garantir às pessoas uma

    sociedade, na qual todos tenham uma vida digna. Sendo assim, existem dois

    elementos que fundamentais dos Direitos Humanos: Igualdade: os direitos humanos

    são intitulados por todos os indivíduos pelo mero fato de serem Seres Humanos; e

    Dignidade esta concepção permite que junto ao conceito de igualdade haja o

    reconhecimento da diferença, tais como aquelas relacionadas ao gênero, á raça, á

    idade, etc., mas a igualdade de dignidade concede a qualquer ser humano o caráter

    de fim em si mesmo e não de mero meio para outros fins. (SILVEIRA, 2007, p.29).

    Os Direitos Humanos são valores construídos pela humanidade, e visam ser

    trabalhados constantemente na cultura e nos costumes das diversas sociedades que

    compõem o nosso planeta. Cabe, então à Psicologia enquanto ciência e profissão se

    comprometer com essa construção, pois qualquer tipo de prática que não discuta a

    dignidade e ética do ser humano deve ser repudiada e desconstruída.

    A Psicologia tem grandes contribuições e um papel primordial de ajuda aos

    indivíduos e aos grupos sociais na superação e construção das relações humanas.

    Silveira (2007) cita outro conceito para ser discutido pela Psicologia que é o de

    exclusão e inclusão, agregando a partir destes elementos, outros temas como:

    opressão, dominação, exploração, subordinação, a inclusão vem sendo utilizada no

  • 25

    processo pelo qual as pessoas que necessitam de condições especiais, possam

    gozar de direitos iguais aos demais cidadãos ou exercerem a sua cidadania. No

    vasto campo teórico da Psicologia, cabe a ela diagnosticar e tratar à diversidade,

    construindo meios de exercício à cidadania, juntamente com as Políticas Públicas,

    utilizando de mecanismos de prevenção, reabilitação, equiparação de oportunidades

    para a promoção do respeito e convivência à diversidade independente de qual seja

    a característica do indivíduo, seja ela de ordem física, racial, cognitiva ou cultural,

    (SILVEIRA, 2007).

  • 26

    4 METODOLOGIA

    Na pesquisa sobre a forma que mulher negra é representada nos jornais

    impressos de Teresina foi conjugada a técnica de pesquisa documental e

    quantitativa. De acordo com Fonseca (2002) a pesquisa documental se assemelha a

    pesquisa bibliográfica, sendo que esta se utiliza fontes constituídas por material já

    publicado, tal como livros e artigos científicos localizados em bibliotecas. Enquanto a

    pesquisa documental se baseia em fontes mais diversificadas e dispersas, sem

    tratamento analítico, como por exemplo: tabelas estatísticas, jornais, revistas,

    relatórios, documentos oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas, tapeçarias,

    relatórios de empresas, vídeos de programas de televisão, etc.

    Por se tratar de uma pesquisa de cunho social, buscou-se referencias acerca

    dos métodos de investigação em Psicologia Social. De acordo com Rodrigues,

    Assmar e Jablonski (2010) tais métodos são: o método de observação, o método

    correlacional e os métodos ex post facto. Para a realização deste trabalho

    configurou o método de observação, que segundo os autores citados acima se

    caracteriza como:

    Quando o psicólogo social simplesmente observa um comportamento social ou consulta arquivos que contem informações relevantes ao objeto de seu estudo, diz-se que ele utiliza método de observação. Consulta a censos demográficos, a arquivos (jornais, diários, etc.), bem como a observação direta do desenrolar de um comportamento social constituem exemplos de método observacional. Às vezes em sua atividade de observação, o pesquisados interege diretamente com as pessoas cujo comportamento está sendo observado (observação participante); outras vezes, a observação é feota de fora, isto é, sem que os observados tenham conhecimento de que alguém os observa (observação direta ou não participante). (RODRIGUES; ASSMAR, JABLONSKI, 2010, p.32).

    Após uma revisão bibliográfica acerca do tema, durante três meses

    monitorou-se os dois principais jornais do estado – Jornal Meio Norte e Jornal O

    Dia– que, juntos, cobrem todo o território do estado e representam as maiores

    tiragens diárias. O período compreendido foi de agosto a outubro de 2017, e os dias

    escolhidos para análise foram: sexta-feira, sábado e domingo.

    As colunas sociais escolhidas foram aquelas que continham fotos coloridas,

    levando em consideração que, dessa forma, a identificação das mulheres negras

  • 27

    seria feita de forma mais eficaz. Por tanto, as colunas sociais do Jornal O Dia

    analisadas foram: coluna Prisma, assinadas pelos jornalistas Eli Lopes e Élida de

    Sá, além da coluna Salada Vip assinada pelo colunista social Beto Loyola,

    referentes aos dias de sexta-feira. No jornal O Dia “Fim de semana”, correspondente

    aos dias de sábado e domingo, foram analisadas as colunas sociais do jornalista

    “Mariano Marques” e a coluna Up, assinada pelos colunistas Péricles Mendel e

    Cícero Cardoso.

    Em relação ao Jornal Meio Norte, as colunas escolhidas foram: a coluna

    “Inside”, assinada pelo jornalista Rivanildo Feitosa, referente ao dia de sexta-feira. A

    coluna “Clicks” – assinada pelo jornalista David Carvalho, Coluna “Arimatea

    Carvalho” e “Inside Weekend” - assinada pelo jornalista Rivanildo Feitosa, as três

    referentes aos dias de sábado e domingo.

    Tabela 1: Classificação das colunas sociais analisadas, separadas de acordo com o Jornal, dia da semana , colunas e colunistas.

    JORNAL “O DIA”

    DIA DA SEMANA

    COLUNA COLUNISTA

    Sexta-feira Prisma Eli Lopes e Élida de Sá

    Sexta-feira Salada Vip Beto Loyola

    Sábado/Domingo Mariano Marques Mariano Marques

    Sábado/Domingo UP Péricles Mendel e Cícero Cardoso.

    JORNAL “MEIO NORTE”

    DIA DA SEMANA

    COLUNA COLUNISTA

    Sexta-feira Inside Rivanildo Feitosa

    Sábado/Domingo Clicks David Carvalho

    Sábado/Domingo Arimatea Carvalho Arimatea Carvalho

    Sábado/Domingo Inside Weekend Rivanildo Feitosa

    Nesta etapa, os procedimentos metodológicos se resumiram à observação

    cuidadosa das edições dos dois jornais, compreendendo os dias de sexta, sábado e

    domingo, além da contagem das fotografias jornalísticas publicadas e identificação e

    catalogação daquelas em que figuravam mulheres negras e pardas.

  • 28

    Para ter acesso aos dois jornais, foram feitas visitas semanais ao Arquivo

    Público do Piauí, localizado na Rua Coelho Rodrigues no centro de Teresina. Com

    uma câmera de um celular modelo Iphone 5, fotografou-se as colunas sociais dos

    dias de sexta-feira, sábado e domingo dos meses de agosto, setembro e dezembro.

    Ao identificar uma mulher negra, imediatamente a foto era enviada para o e-mail,

    com o intuito de deixar já pré-selecionadas as fotos a serem analisadas pela

    pesquisadora.

    Após a contagem e a catalogação das fotos, foi realizada a organização dos

    dados em tabelas, organizadas por datas, jornal e coluna social, para transformá-los

    em números e em seguida analisar o contexto das fotos que contemplavam o objeto

    de estudo da pesquisa.

    Para o reconhecimento das mulheres negras, adotou-se critérios que se

    baseiam nas características fenotípicas, ou seja, na aparência dos sujeitos, e não

    em quesitos genéticos. Dessa forma, indivíduos do sexo feminino, com cabelos

    crespos, lábios grossos, nariz aberto e cor da pele escura foram considerados

    negros, e constaram nas estatísticas referentes a esta etnia, baseando-se no

    conceito que afirma que a classificação racial no Brasil é cromática, sendo a cor da

    pele um dos critérios determinantes (VAZ; MENDONÇA, 2004).

    Através da identificação das imagens em que aparecem mulheres negras e

    pardas, e os detalhes das publicações, foi possível fazer considerações acerca da

    representação das mulheres negras nos jornais locais. Levando em consideração

    todos os aspectos contextuais das fotos catalogadas.

  • 29

    5 RESULTADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS

    A catalogação da presença de mulheres negras e pardas nas fotografias das

    colunas sociais dos jornais impressos de Teresina mostrou uma quase invisibilidade

    dessas mulheres, o que corrobora com a tendência ao apagamento das mesmas

    nos meios de comunicação em geral, como por exemplo, na televisão, cinema,

    peças publicitárias, dentre outras.

    Em relação à ocorrência de fotos por semana e por jornal, observou-se que o

    Jornal Meio Norte nas tiragens intituladas de “final de semana”, que corresponde aos

    dias de sábado e domingo, possui um maior número de fotos, pois possui três

    colunas sociais com fotos coloridas, assinadas por jornalistas diferentes, sendo elas:

    Clicks – assinada pelo jornalista David Carvalho, Coluna do Arimatea Carvalho e

    Inside Weekend - assinada pelo jornalista Rivanildo Feitosa. Vale ressaltar que a

    coluna Inside Weekend possui o maior volume de páginas, totalizando 4 páginas

    coloridas dentro do jornal do final de semana.

    No Jornal O Dia nos dias de sexta-feira as colunas sociais analisadas foram a

    coluna Prisma, assinadas pelos jornalistas Eli Lopes e Élida de Sá, além da coluna

    Salada Vip assinada pelo colunista social Beto Loyola. No jornal O Dia “Fim de

    semana” foram analisadas as colunas sociais do jornalista “Mariano Marques” e a

    coluna Up, assinada pelos colunistas Péricles Mendel e Cícero Cardoso.

    Durante os três meses analisando as colunas pré-selcionadas dos dois jornais

    escolhidos, constatou-se que foram publicadas 1.130 fotografias jornalísticas que

    continham 2.765 pessoas, sendo que deste número, 1.191 eram homens brancos,

    52 eram homens negros e pardos, 1.470 eram mulheres brancas, sendo estas as

    mais expressivas numericamente e somente 49 mulheres negras e pardas

    apareceram nas colunas sociais analisadas.

    Tabela 2: número total de fotos analisadas, total de pessoas em geral, total de homens brancos, homens negros e pardos, mulheres negras e pardas por data no jornal “O Dia”.

    JORNAL O DIA

    DATA

    N° DE

    FOTOS

    N° DE

    PESSOAS BRANCOS NEGROS/PARDOS BRANCAS NEGRAS/PARDAS

    04.08.17 14 23 14 2 7 0

  • 30

    05 e 06.08.17 10 23 6 1 14 1

    11.08.17 12 22 10 2 10 0

    12 e 13.08.17 10 20 12 2 5 1

    18.08.17 12 34 15 1 18 0

    19 e 20.08.17 9 26 12 1 12 1

    25.08.17 13 38 8 2 19 5

    26 e 27.08.17 10 21 10 2 7 2

    01.09.17 13 24 11 1 11 1

    02 e 03.09.17 10 23 9 0 14 0

    8, 9 e

    10.09.17 10 16 7 1 7 1

    15.09.17 12 25 10 2 12 1

    16 e 17.09.17 10 53 25 0 28 0

    22.09.17 12 27 11 2 13 1

    23 e 24.09.17 10 17 7 1 7 3

    29.09.17 13 22 14 1 7 0

    30 e 31.09.17 10 37 19 1 15 2

    06.10.17 10 15 5 0 10 0

    07 e 08.10.17 10 22 11 2 9 0

    12 e 13.10.17 12 28 19 0 9 0

    14 e 15.10.17 9 19 9 0 10 0

    19 e 20.10.17 11 16 7 0 9 0

    21 e 22.10.17 9 23 9 1 12 1

    27.10.17 13 27 18 0 9 0

    28 e 29.10.17 6 21 10 0 11 0

    TOTAL

    GERAL 270 622 288 25 285 20

    Tabela 3: número total de fotos analisadas, total de pessoas em geral, total de homens brancos, homens negros e pardos, mullheres negras e pardas por data no jornal Meio Norte.

    JORNAL MEIO NORTE

    DATA

    N° DE

    FOTOS

    N° DE

    PESSOAS

    BRANCOS NEGROS/PARDOS

    BRANCAS NEGRAS/PARDAS

    04.08.17 7 14 5 1 8 0

    05 e 06.08.17 8 173 66 3 102 2

    11.08.17 10 17 6 1 9 1

    12 e 13.08.17 65 158 64 2 91 1

    18.08.17 9 19 12 0 7 0

    19 e 20.08.17 72 167 78 3 83 3

  • 31

    25.08.17 8 15 7 0 8 0

    26 e 27.08.17 60 150 62 1 87 0

    01.09.17 9 17 6 0 9 2

    02 e 03.09.17 67 142 43 2 95 2

    9 e 10.09.17 49 104 40 1 61 2

    15.09.17 9 13 6 1 6 0

    16 e 17.09.17 68 166 55 1 109 1

    22.09.17 9 13 6 1 5 1

    23 e 24.09.17 44 92 45 0 46 1

    29.09.17 8 11 5 0 5 1

    30.09 a

    01.10.17 70 153 67 0 85 1

    06.10.17 9 15 5 0 10 0

    07 e 08.10.17 66 209 91 0 113 5

    14 e 15.10.17 70 165 75 1 88 1

    21 e 22.10.17 71 162 66 4 89 4

    27.10.17 10 24 15 0 9 0

    28 e 29.10.17 62 144 78 4 60 1

    TOTAL

    GERAL 860 2143 903 26 1185 29

    Contextualizando a aparição das mulheres negras nas colunas sociais do

    jornais teresinenses

    Jornal “O Dia”

    Data: 05 e 06 de agosto de 2017

    Observou-se a presença de uma única mulher negra, na coluna “UP” sendo

    esta uma modelo e a ganhadora de um concurso de beleza nacional. Na ocasião a

    mesma aparecia na presença dos diretores de uma marca de roupas de um famoso

    armazém piauiense, na legenda foi dito que a modelo era a mais nova "parceira" da

    marca. Tal marca é descrita como "jovem, alegre e colorida" e possui um publico

    alvo de mulheres jovens. Na foto a vencedora do concurso aparece usando uma

    coroa e uma faixa, indicando o seu título obtido através do concurso de beleza.

    Data: 13 e 08 de agosto de 2017

    Mais uma vez na coluna “UP”, observou-se a presença de somente uma

    negra nas colunas sociais, a mulher em questão é uma Doutora em ciências da

    Comunicação. A mesma apareceu na foto ladeada de mais três pessoas em uma

    qualificação de mestrado.

  • 32

    Data: 19 e 20 de agosto de 2017

    Na publicação referente aos dias 19 e 20 de agosto o jornal O Dia “fim de

    semana” trouxe na capa principal (anexo 1) o título em caixa alta “O Racismo é Aqui”

    e logo abaixo o seguinte texto: “As disparidades por conta da raça afetam o

    cotidiano de negros e negras que convivem com a violação dos seus direitos em

    pleno século XXI. Para pesquisadores e para quem, literalmente, sente na pele as

    discrepâncias da sociedade, há uma naturalização do racismo”, na capa continha o

    desenho de uma pessoa negra de face a uma pessoa branca, onde além da

    representação das cores preto e branco no desenho, houve também uma

    acentuação de traços fenótipos na imagem de cada um. Abaixo do desenho, alguns

    dados sociais pertinentes a temática racial, foram mencionados, como:

    “trabalhadores brancos ganham salários médios 82% superiores aos rendimentos

    dos negros”, “as mulheres negras apresentam salários inferiores aos das mulheres

    brancas”, “segundo dados de 2005 a 2015, houve uma queda de 7,4% na

    mortalidade de mulheres brancas, amarelas e indígenas, mas um aumento de 22%

    de morte de mulheres negras”. A matéria da capa foi abordada no caderno Fim de

    Semana, onde foi possível observar a foto de uma mulher negra fazendo uma pose

    que indicava um caráter de onipotência e abaixo da foto a frase: “Racismo silencioso

    permite a violação de direitos humanos”.

    No entanto, vale ressaltar, que essa visibilidade negra que apareceu na capa

    e na matéria destinada ao tocante racial, não foi contemplada nas colunas sociais da

    mesma edição, na verdade, percebeu-se um quase apagamento do negro. Das 26

    pessoas que figuraram nas colunas sociais, somente um homem e uma mulher

    negra estavam entre eles. A mulher negra em questão, aparece na foto ao lado do

    marido, em comemoração ao aniversário deste, um famoso apresentador de

    televisão do estado do Piauí.

    Data: 25 de agosto de 2017

    Identificou-se na coluna “Prisma!, a presença de quatro mulheres negras.

    Três destas mulheres, duas adultas e uma criança, aparecem numa foto onde o

    contexto era o lançamento de uma linha capilar. Ressalta-se ainda que uma das três

    mulheres presentes no referido contexto é jornalista do Jornal o Dia. Em outra foto,

    ainda na mesma coluna, aparece novamente uma mulher negra, uma empresária do

    ramo de estética fazendo participação no desfile de uma marca de roupas local. Já

    na coluna “Salada Vip” aparece apenas uma mulher negra, trata-se da Miss Brasil

  • 33

    2017, piauiense e autodeclarada negra, o contexto é a chegada desta mulher em

    Teresina após vencer um concurso de beleza nacional.

    26 e 27 de agosto de 2017

    Na coluna “UP”, percebeu-se a aparição de apenas uma mulher negra, a Miss

    Brasil 2017 ao lado de duas empresarias do ramo de aluguel de peças finas. Na

    coluna “Mariano Marques”, novamente constatou-se a presença da Miss Brasil 2017

    como a única mulher negra na coluna social do referido dia, na ocasião, a modelo

    aparece numa foto promocional do concurso com uma legenda exaltando a sua

    beleza.

    01 de setembro de 2017

    Na coluna “Prisma” houve a aparição de apenas uma mulher parda, uma

    advogada ao lado de um tabelião em uma solenidade da UFRJ.

    08, 09 e 10 de setembro de 2017

    Nesta edição que correspondia aos dias de sexta, sábado e domingo,

    constatou-se a presença de apenas uma mulher negra, sendo esta, mais uma vez a

    Miss Brasil 2017, ao lado de um jornalista teresinense. A legenda da foto na coluna

    “Prisma”, mais uma vez, exaltava a sua beleza.

    15 de setembro de 2017

    Percebeu-se a presença de apenas uma mulher parda na Coluna “Salada

    Vip”. Ela aparece na foto ao lado do marido, um deputado e secretário de estado.

    22 de setembro de 2017

    Também na coluna “Salada Vip”, figurou nessa edição apenas uma mulher

    negra, uma delegada bastante atuante em casos de violência contra a mulher. A

    legenda exaltava a sua elegância.

    23 e 24 de setembro de 2017

    Observou-se na coluna “UP” a presença de duas mulheres negras/pardas. A

    primeira é uma médica de cor parda que aparece ao lado do seu namorado, também

    médico no aniversário do rapaz. A segunda mulher negra a aparecer na mesma

    coluna é uma graduanda em Administração, que aparece na foto vestida com uma

    beca e segurando o canudo de formatura, ao lado de uma amiga e um sobrinho. Já

    na coluna “Mariano Marques”, percebeu-se a presença de uma mulher negra, na

    foto ela aparece junto com o seu companheiro brindando com uma taça de vinho. Na

  • 34

    legenda o colunista parabeniza a mulher pelo seu aniversário. Não foi citado

    nenhuma informação acerca da vida profissional dessa mulher.

    30 e 31 de setembro de 2017

    A mesma médica, de cor parda, que apareceu na coluna Up do dia 22.09.17,

    voltou a aparecer na mesma coluna, dessa vez, no lançamento da nova coleção de

    uma marca de roupas de Teresina. Ainda na mesma coluna, observou-se outra

    mulher parda, que aparece com mais doze pessoas na foto. O contexto é uma

    mostra de "responsabilidade social" promovida por uma faculdade Teresinense, na

    legenda não foi citado os nomes daqueles que aparecem na fotografia.

    21 e 22 de outubro de 2017

    Percebeu-se a presença de apenas uma mulher negra, mais uma vez, a Miss

    Brasil 2017 foi a única negra a figurar nas colunas sociais do jornal O Dia na data

    mencionada. A modelo aparece em uma foto na coluna “UP”, recebendo uma

    medalha da "Ordem do Mérito Renascença" pelas mãos do governador do Piauí, em

    uma solenidade que ocorreu no Theatro 4 de Setembro. A" Ordem Renascença" é

    destinada a personalidades e entidades nacionais ou estrangeiras consideradas

    dignas da gratidão, admiração e reconhecimento por parte do povo e do Governo do

    Piauí.

    Jornal “Meio Norte”

    05 e 06 de agosto de 2017

    Na coluna “Arimatea Carvalho” percebeu-se a presença de duas mulheres

    negras. O contexto é o lançamento de uma campanha com o intuito de combater a

    violência contra a mulher na Câmara de Vereadores de Teresina. Uma das mulheres

    negras na foto é secretaria de Políticas Públicas do estado. O nome da segunda

    mulher não consta na legenda. Na foto, aparecem seis pessoas no total, e somente

    o nome da secretária e do presidente da câmara de vereadores de Teresina são

    citados. As demais pessoas são apresentadas como "representantes da campanha".

    11 de agosto de 2017

    Observou-se a presença de apenas uma mulher negra. Trata-se de uma

    piauiense que trabalha no exterior como top model internacional. Na foto, publicada

    na coluna “Inside” a modelo aparece caminhando em rua e a legenda da foto faz

    referência a sua beleza.

    12 e 13 de agosto de 2017

  • 35

    Na coluna “Inside Weekend”, identificou-se uma mulher parda. A mesma

    aparece em uma viagem ao Japão, junto com o marido e os filhos. Na legenda não

    foi citado a ocupação profissional da mulher e nem do marido, como é característico

    nas legendas das colunas sociais, a legenda mencionou apenas os nomes do casal

    e o destino da viagem realizada pelos mesmos.

    19 e 20 de agosto de 2017

    Notou-se a presença de três mulheres negras na coluna “Inside Weekend”. O

    contexto que contemplou as três foi o mesmo: uma solenidade de outorga da

    Medalha do Mérito Conselheiro Saraiva, considerada a maior comenda concedida

    pelo município às pessoas que, de alguma forma, contribuíram ou contribuem com o

    desenvolvimento da cidade. Todas elas foram contempladas com a referida

    comenda de reconhecimento. A primeira mulher analisada foi uma delegada que

    atua na área de violência contra a mulher; a segunda foi a defensora geral do

    estado, e a terceira mulher foi a pastora de uma Igreja Evangélica. Cabe ressaltar

    que na legenda da foto em que aparece a terceira mulher, não foi citado qual é a sua

    ocupação profissional, foi mencionado apenas o seu nome e sobrenome. Na foto

    das outras duas mulheres, foi especificado que se tratava de uma delegada e de

    uma defensora. Para que fosse possível saber a profissão e o motivo da

    homenagem àquela mulher não referenciada, foi preciso realizar uma pesquisa ao

    site Google, usando como palavra chave o nome e sobrenome da mesma,

    juntamente com o nome do evento, para que fosse possível identificar o seu ofício.

    26 e 27 de agosto de 2017

    Na publicação do fim de semana, referente aos dias 26 e 27 de agosto, notou-

    se uma grande repercussão midiática por conta da chegada à Teresina da

    vencedora do concurso de beleza Miss Brasil 2017, esta é uma modelo piauiense e

    autodeclarada negra. Além de ser capa do Jornal da referida data, ela também

    figurou em outros cadernos do jornal, como o caderno “fim de semana” que trouxe

    no título “Concurso se transforma através das décadas”. A modelo também

    apareceu na coluna de cunho político do jornalista Arimatea Carvalho; na coluna

    Opinião, assinada por autores diversos, totalizando, dessa forma, quatro aparições

    em quatro páginas diversas. Na mesma data, em relação às colunas sociais, a Miss

    Brasil foi a única mulher negra a marcar presença nas colunas. Sendo elas, na

    coluna UP ao lado de duas empresarias do ramo de aluguel de peças finas e na

  • 36

    Coluna “Mariano Marques”, onde ocasião a modelo aparece numa foto promocional

    do concurso com uma legenda exaltando a sua beleza.

    01 de setembro de 2017

    Nessa edição do Jornal Meio Norte, observou-se a presença de apenas uma

    mulher negra nas colunas sociais. Tratava-se da Miss Brasil 2017, no entanto, esta

    apareceu em duas fotos. Na primeira foto a modelo foi fotografada, em dos

    principais eventos de moda do Brasil, ao lado dos organizadores do evento. A

    segunda foto em que a Miss teresinense aparece é bastante simbólica, pois a

    modelo aparece à frente de uma versão do mapa da África com recortes das

    bandeiras das nações que fazem parte deste continente. Na legenda da foto é citado

    o nome da Miss com o complemento "em espaço que representa as nações

    africanas". É importante salientar que a Miss Brasil 2017 em algumas entrevistas

    fornecidas aos variados meios de comunicação, falou sobre o empoderamento da

    mulher negra, portanto, analisando a foto da modelo com o mapa da Africa ao fundo,

    percebe-se que a associação de sua imagem ao sentimento de pertencimento à sua

    identidade negra é bastante fortalecida.

    02 e 03 de setembro de 2017

    Na coluna “Clicks”, constatou-se a aparição de uma única mulher negra e mais uma

    vez a Miss Brasil 2017 aparece. Com o título "as piauienses que arrasaram na maior

    semana de moda do país" o colunista publicou os "looks" das mulheres piauienses

    que estiveram presentes em um evento, que é considerado o mais influente da

    moda no país, a foto da Miss exibindo o seu look aparece ao meio, ladeada por

    quatro fotos de mulheres piauienses brancas. Na coluna Arimatea Carvalho, notou-

    se a presença de apenas uma mulher negra também, na foto ela aparece

    prestigiando o lançamento de uma campanha de supermercados ao lado de uma

    empresária, e anfitriã do evento e do marido. Na legenda é informado o seu nome e

    a sua profissão. O colunista também faz uma associação matrimonial dessa mulher

    com o marido, um famoso apresentador de TV do estado, que também figura na

    mesma foto.

    09 e 10 de setembro de 2017

    Na coluna “Inside Weekend” foi observado a presença de duas mulheres

    negras/pardas. Na primeira foto, uma mulher parda aparece sozinha na foto, em um

    evento dedicado ao dia do nutricionista com vários profissionais da área em um

    espaço de festa na zona leste da capital piauiense. Na legenda é revelado o nome

  • 37

    da mulher sem citar sua ocupação profissional como é de praxe nas colunas sociais,

    o complemento da legenda é "reforçando o charme". Na segunda foto, uma mulher

    negra foi observada na mesma página da coluna já citada. A ocasião foi um evento

    de comemoração dos 123 anos do Theatro 4 de Setembro, considerada a principal

    casa de espetáculos do Piauí, o evento contou com uma premiação àqueles que

    contribuem com seus trabalhos voltados para sustentar a história desse local. Na

    foto, a mulher aparece de um palco, ao lado de um ator e diretor de um coletivo

    piauiense, na legenda não foi citado o nome da mulher e não foi feita nenhuma

    referência a ela, apenas do homem. Essa foto foi bastante significativa e análoga à

    temática da pesquisa. A mulher negra está ali, mas continua coberta pelo véu da

    invisibilidade.

    16 e 17 de setembro

    Também na coluna “Inside Weekend” foi percebido a presença de uma mulher

    negra. Na ocasião, uma festa de casamento, a mulher aparece ao lado do namorado

    e de uma amiga. Na legenda foi especificado o nome das três pessoas que figuram

    na foto, em qual festa eles estavam, mas não houve nenhum tipo de informação

    acerca da profissão dos mesmos.

    22 de setembro de 2017

    Notou-se a presença de apenas uma mulher negra, sendo ela, novamente, Miss

    Brasil 2017. Na foto ela aparece sozinha e na legenda houve uma referência à

    beleza da modelo, além da informação de que a mesma estava prestigiando um

    restaurante em São Paulo que serve comidas tipicamente piauienses.

    23 e 24 de setembro de 2017

    Uma única mulher negra aparece nas colunas sociais do jornal Meio Norte desse

    dia, sendo na coluna “Clicks”, e mais uma vez, essa presença foi a da Miss Brasil

    2017. Na foto ela aparece sozinha, fazendo merchandising para uma loja de

    calçados teresinense. A legenda faz referência à sua beleza, ao sapato que a

    mesma estava usando e a loja já citada.

    29 de setembro de 2017

    Dessa vez na Coluna “Click”, novamente a Miss Brasil 2017 aparece enquanto única

    negra nas colunas sociais. Na foto, a modelo aparece ao lado de dois homens

    teresinenses, a legenda não especificou qual a ocupação profissional das outras

    pessoas, informa apenas que o contexto da foto, trata-se de um ensaio fotográfico,

    na pinacoteca de São Paulo, para um Anuário teresinense.

  • 38

    30 de setembro e 01 de outubro de 2017

    Na coluna “Inside Weekend” percebeu-se a presença de apenas uma mulher

    negra edição do jornal. Na foto a mulher aparece ao lado do marido e do filho em um

    casamento em Tereisna, em sua legenda foi informado somente o nome das três

    pessoas, sem conter informações da ocupação profissional dos mesmos.

    07 e 08 de outubro de 2017

    Na coluna “Arimatea Carvalho” percebeu-se a presença de duas mulheres

    negras na mesma foto. Na foto aparecem seis mulheres que enfrentaram o câncer

    de mama e foram convidadas por uma marca de roupa piauiense para participarem

    de uma campanha com o objetivo de passar a mensagem de confiança e

    autoestima para as mulheres que lutam contra essa doença. Os nomes das seis

    mulheres foram citados nas legendas. Na mesma coluna também figurou uma

    terceira mulher negra, não foi citado o seu nome, mas pelo contexto percebeu-se

    que era uma das modelos contratadas para desfilar no evento "feira de noivas", a

    modelo aparece ladeada por mais nove pessoas na foto, o único nome citado é de

    uma "premiada publicitária", como a legenda a caracterizou. Já na coluna “Inside

    Weekend”, a quarta mulher parda percebida foi a mãe de um decorador de Teresina,

    que aparece na foto ao lado do filho com mais três pessoas comemorando o seu

    aniversário. A quinta mulher negra, observada na mesma coluna, aparece na foto de

    um casamento, ao lado dos noivos e de mais dois casais, o seu nome foi citado,

    mas não houve nenhuma outra informação sobre a mesma.

    14 e 15 de outubro

    Foi na coluna “Clicks” a única aparição de uma mulher negra na edição do

    jornal nessa data, trata-se de uma jornalista. Ela aparece prestigiando a inauguração

    de uma loja de roupas em um shopping na cidade de Timon - MA, ao lado de mais

    três mulheres.

    21 e 22 de outubro

    A primeira mulher negra observada nas colunas dessa data foi a Miss Brasil

    2017 recebendo a medalha da "Ordem do Mérito Renascença" pelas mãos do

    governador do Piauí, em uma solenidade que ocorreu no Theatro 4 de Setembro. Na

    foto, publicada na coluna “Inside Weekend”, ela aparece ladeada pelo governador já

    citado e pelos governadores de Sergipe e Minas Gerais. A mesma usava a coroa e

    faixa referente ao concurso de beleza do qual foi campeã. A segunda mulher negra

    observada na mesma coluna aparece em uma foto com mais duas mulheres

  • 39

    brancas no evento de dois arquitetos da capital. Na legenda foi citado apenas o

    nome das mulheres, sem especificar suas ocupações profissionais. Na coluna

    “Clicks” foi observado a aparição de apenas uma mulher negra, na foto ela aparece

    sozinha em sua colação de grau em RH.Na coluna “Arimatea Carvalho”, outra vez a

    Miss Brasil 2017 esteve presente, a ocasião foi um jantar ofertado especialmente

    para ela, na foto ela aparece ao lado de um empresário, que de acordo com a

    legenda, era um dos anfitriões do jantar. Ressalta-se um detalhe, nessa foto, a miss

    não apareceu usando a faixa e a coroa que corresponde ao título que carrega.

    28 e 29 de outubro

    Na coluna “Inside Weekend” constatou-se a presença de apenas uma mulher

    negra não só nessa coluna, mas em todas as colunas sociais do Jornal Meio Norte

    dessa data. A mulher em questão é uma senadora piauiense que na ocasião estava

    prestigiando um evento literário.

    Tabela 3: número de aparição das mulheres negras nas colunas sociais classificados por colunas sociais

    Colunas Sociais Aparições de mulheres negras

    Inside Weekend 13

    Clicks 8

    Up 8

    Prisma 6

    Inside 5

    Salada Vip 4

    Arimatea Carvalho 3

    Mariano Marques 2

  • 40

    6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Durante a realização dessa pesquisa, percebeu-se que estudos na área da

    Psicologia acerca da temática racial são pouco produzidos, tanto no contexto

    escolar, clínico ou social, as produções ainda são pouco expressivas. A

    inexpressividade de livros e de autores que tratem as questões do indivíduo negro é

    algo que deve ser discutido pelos psicólogos.

    A Psicologia pode e deve ajudar na problemática do afrodescendente,

    contribuindo para a sua afirmação de identidade, sentimento de pertencimento

    racial, além de lançar o seu olhar diferenciado sobre a discriminação entre raças.

    Enxerga-se na Psicologia escolar, por exemplo, uma boa oportunidade de levar a

    discussão sobre racismo, sobre construção de identidade ou até mesmo a sugestão

    de livros didáticos acerca da história do negro no Brasil e de trabalhos escolares que

    possam aproximar todos os alunos da afrodescendência, para que dessa forma,

    crianças negras tenham a possibilidade de vivenciar um olhar que não seja

    distorcido sobre a sua autoimagem.

    Entende-se que a Psicologia possui uma limitação em suas ações em vários

    contextos, porem cada vez mais busca estar inserida na atuação da garantia dos

    direitos das pessoas. Reparar os estigmas causados por conta das desigualdades

    sociais não é papel apenas do psicólogo, mas da sociedade como um todo. É

    notório os avanços e conquistas da população negra ao longo dos anos, muitas

    pessoas estão se unindo e aderindo à causa racial, a presença de Movimentos

    Negros e ONGS que lutam pela defesa da igual contribuem para o progresso.

    Porem, muito ainda falta para que as injustiças raciais sejam execradas.

    Nesta pesquisa foi possível constatar que a identidade é construída

    socialmente, e que se estabelece através de representações sociais que o meio

    relaciona com o indivíduo, e é por conta disso, que a discussão sobre a influência do

    papel dos meios de comunicação na constituição da subjetividade do indivíduo

    negro deve ser considerada. As crianças não nascem com uma imagem negativa do

    negro, ela segue uma tendência social que é reforçada pelos meios de comunicação

    e que não é corrigida pela escola. Seria ingenuidade achar que de alguma forma, a

    representação negativa ou a falta de representação do negro em papeis de

    relevância ou de destaque não possa contribuir de forma psíquica nos indivíduos

    negros e não negros. A falta de valorização da cultura e atributos de um povo não

  • 41

    propicia que a autoestima do sujeito ou de seu coletivo seja manifesta. E as

    representações estereotipadas transmitidas pelas mídias brasileiras, acabam

    distorcendo a concepção da autoimagem e prejudicando a autopercepção daqueles

    que não se sentem representados dentro da cultura do seu próprio país.

    As repercussões psíquicas na mulher negra sobre a defasagem do retrato

    dela perante a sociedade deve ser considerada e analisada com um olhar

    diferenciado pela Psicologia. Sabe-se que o processo de subjetivação de cada

    individuo se difere um do outro, mas aspectos raciais e de gênero são

    imprescindíveis nesse tocante. Problemas como sentimentos de inferioridade, baixa

    autoestima podem ocorrer dependendo da forma que essa demanda ressoará na

    autoimagem da mulher negra, é importante elaborar esses aspectos e nisso a

    Psicologia pode contribuir de forma exemplar.

    Os resultados apresentados nesse trabalho são uma prova de que há uma

    discrepância de representatividade entre mulheres brancas e mulheres negras. Se

    as mulheres negras não são minorias na população de Teresina, por que elas são

    pouco evidenciadas nas colunas sociais dos jornais locais? Uma visibilidade

    midiática inferior à presença física dessa amostra populacional da cidade diz muito

    sobre uma sociedade pluralista, porém, nada democrática. Não é esperado que os

    jornais locais realizem suas atividades baseados em dados geográficos e

    estatísticos, entretanto, espera-se dos meios de comunicação como um todo, uma

    diversidade democrática que trate com relevância as diferenças existentes nos

    aspectos de gênero, étnicos, culturais, etc.

    A análise dos resultados dessa pesquisa, mostrando a inexpressividade de

    mulheres negras nas colunas, mostra que a mídia impressa de Teresina está indo

    no sentido contrário às mais variadas formas de diversidade social. Percebeu-se que

    além da escassez de mulheres negras nessas colunas, também existe uma

    repetição das poucas mulheres que aparecem. Prova disso é a quantidade de vezes

    que a Miss Brasil 2017 aparece nas colunas sociais, totalizando 13 aparições. Em

    várias edições ela foi a única negra a figurar nesse meio. E se a Miss Brasil não

    fosse uma negra piauiense? O número de mulheres negras nas colunas sociais dos

    jornais de Teresina seria ainda mais inexpressivo. Ao invés de 49 mulheres negras

    que apareceram num total de 2.765 pessoas, esse numero cairia para 36,

    considerando que a Miss Brasil 2017 apareceu 13 vezes nas colunas sociais.

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    Lamenta-se que a ideologia do branqueamento, surgida no século XIX, com o

    objetivo de branquear a população, partindo do pressuposto de que os padrões

    eurocêntricos são os mais aceitáveis do ponto de vista do que é belo, infelizmente,

    continue sendo uma referência atual. Se mulheres negras e pardas correspondem a

    mais da metade da população, e ainda assim são invisíveis nos contexto midiático,

    nota-se que há uma tentativa de embranquecimento da população no momento em

    que os meios de comunicação majoritariamente se limitam a retratar apenas

    pessoas brancas.

    Os resultados deste trabalho sugerem que não somente as políticas de cunho

    social, benefícios econômicos ou a inclusão do negro em iniciativas públicas e

    privadas solucionarão os problemas de desigualdade social, é preciso um

    engajamento de todas as camadas da sociedade. Entende-se que decisões

    políticas, como as cotas raciais e a lei 10.639/03 são de suma importância para

    reparar algumas das violências sofridas pelos negros ao longo da história do Brasil,

    mas é preciso muito mais para que possamos alcançar o ideal de uma democracia

    étnica na nossa sociedade.

    É importante que haja uma interação de saberes científicos que visem

    compreender a raiz do problema racial, algo tão entranhado no pensamento coletivo,

    que faz com que as pessoas enxerguem de forma desigual umas as outras tendo

    como base apenas a cor da pele. A produção de pesquisas que tragam à tona as

    demandas dos negros em variados contextos, gerando discussões que visem

    diminuir o preconceito racial, assim como mostrar dados para possíveis estratégias,