Farmacologia Humana Da Hoasca - Estudos Clínicos

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  • 8/14/2019 Farmacologia Humana Da Hoasca - Estudos Clnicos

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    FARMACOLOGIA HUMANA DA HOASCA -ESTUDOS CLNICOS

    Avaliao Comparativa Basal entre usurios do Ch Hoasca de longo prazo econtroles. Avaliaes fisiolgicas dos efeitos agudos ps ingesto do Ch Hoasca

    ANDRADE, E.N.1; BRITO, G.S.2; ANDRADE, E.O.1; NEVES,E.S2..; McKENNA, D3. ; CAVALCANTE, J.W.4; OKIMURA,

    L.5; GROB, C.6; CALLAWAY J.C.7et al.8

    Como parte do Projeto Farmacologia Humana da Hoasca, foram conduzidos osensaios clnicos abrangidos em dois estudos distintos:

    1. Estudo comparativo basal sobre os efeitos clnicos de uso a longo prazocomparando-se o Grupo de usurios do Ch Hoasca de pelo menos 10 anos e umgrupo de controles que nunca utilizou este Ch.

    2. Avaliao fisiolgica dos efeitos agudos aps a ingesto do Ch.

    MTODOS

    Experimentadores e Controles

    Um grupo de 15 homens que estiveram usando o ch com regularidade por 10 anosou mais, constituiu o grupo de experincia (Experimentadores). Eles foram selecionadosaleatoriamente entre 24 candidatos que se apresentaram espontaneamente paraparticipao nos estudos.

    Cada experimentador teve que indicar uma pessoa do grupo de controle de acordocom o seguinte critrio: preferencialmente deveriam ser escolhidos entre irmos, primos,parentes, colegas de trabalho ou um amigo que teria aproximadamente a mesma idade; nousurio de drogas; no alcolatra; de preferncia no fumante, sendo que esta ltima

    condio no seria um critrio de excluso do estudo.Todos os participantes foram informados sobre os objetivos da pesquisa e os

    procedimentos que eles iriam se submeter, e assinaram um documento formal deconsentimento de participao na pesquisa. O protocolo de pesquisa foi aprovado peloComit de tica do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina e doConselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas.

    Avaliao Clnica Basal

    Todos os Experimentadores e de Controle foram submetidos a uma entrevista clnica,exames fsicos e um painel de testes laboratoriais conhecido como SMAC-24 (incluindo ECG).

    Todos esses procedimentos foram conduzidos pele equipe mdica do Departamento de

    1Departamento de Clnica Mdica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Amazonas, AM,

    Brasil.2

    Centro de Estudos Mdicos UDV, Braslia, DF, Brasil.3

    Heffter Institute on Etnobothanical Research, Santa Fe, NM, USA4

    Cardiologista do Hospital Universitrio da Universidade Federal do Amazonas5

    Diretora do Laboratrio Central do Hospital Universitrio da UFAM6

    Diretor da Diviso da Criana e Adolescncia Depto. De Psiquiatria da UCLA.7

    Neurocientista da Universidade de Kuopio, Finlndia8

    A verso final deste texto foi redigida por Glacus Brito e Elizabeth Neves.

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    Medicina Interna, Faculdade de Medicina da Universidade do Amazonas, no HospitalUniversitrio Getulio Vargas, em Manaus.

    Medies Fisiolgicas Agudas

    As dependncias clnicas foram instaladas num templo da UDV em Manaus, chamadoNcleo Caupuri. Este local foi escolhido por manter um ambiente familiar para osexperimentadores e tambm pela boa assistncia dos lderes e membros da Unio do

    Vegetal.Seis sesses de avaliao foram feitas. Uma dose de 2 ml por kg para o corpo foi

    estabelecida pelos Mestres da UDV" e pesquisadores, baseados em conhecimentosanteriores dos efeitos do ch, experenciados pela equipe de pesquisa numa sesso informalconduzida por um Mestre da UDV", onde o ch foi ingerido para conhecer subjetivamentesua ao.

    O ch usado para este teste foi preparado por um experiente Mestre da UDV, e osprocedimentos e as quantidades exatas dos vegetais foram observadas e anotadas pelaequipe de pesquisa.

    O grupo clnico realizou as seguintes medies: temperatura oral, dimetro da pupila,batimentos cardacos, presso arterial, freqncia respiratria e ECG, em intervalos

    regulares: Tempo Zero - Basal (anterior ingesto), 20, 40, 60, 90, 120, 180 e 210 minutosaps a ingesto do Ch; amostras sangneas foram tambm coletadas nestes mesmosintervalos, e mais uma amostra 8 horas aps a ingesto. Toda urina foi coletada durante as24 horas seguidas da ingesto.

    RESULTADOS

    Avaliao Clnica Basal

    Ambos os grupos (Experimentadores e Controles) foram comparveis em idade,tempo de tabagismo, tempo de alcoolismo, uso de drogas. A nica diferena significativa foia renda: os Controles tinham um nvel de poder aquisitivo maior do que osExperimentadores. No houve nveis diferentes em relao a: clulas sangneas vermelhas,creatinina, fosfatase alcalina, colesterol, Transaminase Glutamico-Oxalactica, TransaminaseGlutamico-pirvica, Bilirrubina total e fraes, sdio, potssio, clcio e HDL. Encontrou-sediferena significativa na contagem de plaquetas: os de controle tinham maior quantidade(359.000/mm3) do que os experimentadores (271.000/mm3) (p

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    TABELA 1 Medies Fisiolgicas durante efeitos agudosaps ingesto do ch Hoasca

    Tempo

    apsIngesto

    Dimetro dapupila

    X (DP)

    Freqncia

    cardaca

    X (DP)

    Freqnciarespiratria

    X (DP)

    PressoArterialsistlica

    X (DP)

    PressoArterialdiastlica

    X (DP)

    TemperaturaOral

    X (DP)

    Zero 3.67 0.62 72 11 18 03 126 15 83 11 37.0 0.2

    20 4.00 0.93 79 17 19 03 136 09 91 11 37.1 0.240 4.73 0.88 75 15 21 04 137 12 92 11 37.1 0.2

    60 4.67 0.98 72 13 19 03 131 14 89 14 37.1 0.3

    90 4.60 0.83 69 13 21 04 128 12 85 14 37.1 0.5

    120 4.80 1.08 64 08 20 03 126 17 84 12 37.2 0.4

    180 4.87 0.64 66 08 21 03 125 10 84 11 37.2 0.4

    210 4.80 0.68 68 12 21 03 123 13 81 11 37.3 0.4

    X=MEDIA; DP= DESVIO PADRO

    DISCUSSO

    A generalizao dos resultados encontrados nesta pesquisa fica comprometida porno se tratar de uma amostra aleatria de todos os integrantes da UDV que residem emManaus. Da mesma forma, o grupo Controle no uma parcela representativa da populaomasculina residente em Manaus. Ambos grupos, porm, foram comparveis pelos critriosestabelecidos, exceto pela renda.

    A avaliao clnica basal no mostrou nenhuma diferena significante entre esses doisgrupos, com exceo do nmero de plaquetas que foi significativamente menor no grupodos experimentadores em relao a seus controles. Entretanto, a mdia observada nosexperimentadores estava dentro do limite da normalidade.

    Os dois casos de bloqueios cardacos (BRD e BRE) podem ter vrias causas noinvestigadas neste teste, como a Doena de Chagas e outras. A avaliao clnica basal nomostrou nenhuma disfuno cardaca entre os usurios de Hoasca. No foi encontrado entreos dois grupos nenhuma diferena significativa, ou comprometimento clnico nos usurios doCh Hoasca nos diversos sistemas avaliados: Neurosensorial, endcrino, Cardio-Respiratrio,Gastrointestinal e Heptico e Renal.

    Na avaliao dos parmetros de efeitos fisiolgicos de fase aguda, o exame fsicomostrou um pequeno aumento no dimetro da pupila (3.67 4.80) o qual no pode serconsiderado isoladamente como um efeito farmacolgico ativo simpatomimtico. Naverdade, muitos dos experimentadores estavam um pouco ansiosos e tensos antes dasesso de experimentao.

    Houve uma queda da freqncia cardaca medida pela pulsao durante aexperimentao de 72 batidas / min. no incio da experincia para 68 batidas / min. ao finalde 4 horas, houve no entanto uma pequena elevao da FC aos 20 minutos ps ingesto doch com uma mdia de 79 batidas / min. Um experimentador alcanou o pico de 100 batidaspor minuto. Observou-se um aumento mdio da pulsao nas medies em 20, 40, 60, e 90minutos.

    Considerado como efeito mais intenso depois da ingesto do ch Hoasca, sendo quepara alguns isto aconteceu at 120 minutos. As medies da presso sistlica seguem omesmo padro da taxa dos batimentos cardacos.

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    A regresso de curva pressrica mdica mostra uma pequena queda no comeo e nofim da sesso de experimentao, mas um pequeno aumento de 20 a 90 minutos foiobservado. Os nmeros mais altos achados foram de um experimentador que comeou em160 mm/hg, evoluiu com 150, 160, 140. Os registros principais de presso sangneadiastlica tambm seguiram o mesmo padro.

    Todos os parmetros avaliados sugerem um estimulao adrenrgica, ou simptica,na primeira hora e meia aps a ingesto do ch, sendo que para alguns casos isto pode serobservado at a segunda hora. Aps este perodo observada uma resposta tipo

    parassimptica, ou de repouso, com reduo de todos os parmetros, freqncia cardaca,presso arterial e freqncia respiratria.

    O ECG tambm demonstrou esta resposta de relaxamento com reduo significativada freqncia cardaca e chegando em alguns casos com retardo da repolarizaoventricular.

    CONCLUSO

    Esta a primeira avaliao clnica em usurios do Ch Hoasca. Ambos AvaliaoClnica Basal (ACB) e Efeitos Fisiolgicos Agudos (EFA) so os primeiros estudos destasubstncia psicoativa utilizada por sculos na Amrica.

    Os autores consideram esta avaliao como um estudo clnico piloto, e muitos deseus aspectos podero ser melhor elucidados quando os resultados do estudofarmacocintico estiverem disponveis. Os resultados encontrados reafirmam as observaesempricas nos diversos grupos que utilizam regularmente este ch em seus rituais religiosos,onde pessoas que fazem o uso por 30 anos ou mais se apresentam saudveis, lcidas e cujoperfil de morbidade no diferente das outras pessoas das comunidades onde vivem.

    A Avaliao Clnica Basal demonstrou que em usurios antigos no h nenhumadisfuno clnica comparando-os com os Controles. De acordo com a anlise das MediesFisiolgicas Agudas, mesmo com alguns parmetros, como os de presso sangnea,mostraram um pequeno aumento no comeo dos efeitos agudos entre 20 e 90 minutos, nocausaram nenhuma disfuno ou dano clnico importante na dose utilizada, 2 ml/dose porquilograma do peso corporal.

    Com os resultados finais de outros estudos neste projeto, bem como farmacocintico,perfil neuroendcrino, LD50, ns poderemos alcanar uma compreenso mais adequada doseventos registrados neste estudo clnico.

    Pela metodologia utilizada, os resultados encontrados tanto nos estudos clnicoscomparativos em usurios de longo prazo e controles, quanto as avaliaes fisiolgicas defase aguda, no apontam danos evidenciveis a sade humana. Novos estudos, entretanto,so necessrios para elucidao dos efeitos agudos a nvel de atividade eltrica da atividadecardaca.

    AGRADECIMENTOS

    Agradecemos a todos os voluntrios experimentadores e de controle queparticiparam deste projeto. Tambm a todas as pessoas que direta e indiretamentecontriburam para o desenvolvimento deste estudo.

    Este projeto teve o patrocnio de doaes particulares da Bothanic Dimensions, umaorganizao sem fins lucrativos de incentivo ao pesquisa cientfica na rea de estudosetnobotnicos.