Ficha técnica:

Textos de Walter GomesIlustrações e arranjo técnico de Quim

Ferreira

- Era uma vez ...

- ...era uma vez uma gota de água que precisava de tomar banho.

- Por que é que estão a fazer essa cara de espanto?

- É alguma coisa do outro mundo uma gota de água precisar de se lavar?

- Então uma gota de água - Então uma gota de água não se pode sujar?não se pode sujar?

- Pois olhem que esta gota de - Pois olhem que esta gota de água de quem estou a falar, água de quem estou a falar, está suja e bem suja!está suja e bem suja!

- Se não acreditam, esperem um pouco, que - Se não acreditam, esperem um pouco, que ela já aí vem e conta-vos.ela já aí vem e conta-vos.

- Até chegar aqui, já corri muitos - Até chegar aqui, já corri muitos caminhos, e vivi muitas aventuras, algumas caminhos, e vivi muitas aventuras, algumas boas, outras nem por isso.boas, outras nem por isso.

- Olá, eu chamo-- Olá, eu chamo-me Gota de Água.me Gota de Água.

- Nasci muito longe - Nasci muito longe daqui, num país que daqui, num país que se chama Espanha.se chama Espanha.

- E até apanhei algumas boleias, vejam lá.

- A primeira foi logo quando desci da nuvem onde me tinha juntado com milhões de amigas, todas iguais a mim: caí em cima das penas de uma grande águia, que conseguia voar sem bater as suas enormes asas. Chamam-lhe Águia-real, talvez por ser tão grande...

- Fui em cima dela durante um bom bocado, até

que ela virou a cabeça de repente, para ver um coelho a

correr lá em baixo nos campos. Como eu estava

distraída deitada de costas, desequilibrei-me e lá fui a

grande velocidade até que me consegui agarrar a uma folha

de uma árvore.

- Depois desci para outra, e outra, e outra, escorreguei pelo tronco, e só parei para descansar no meio das ervas.

- Mas não - Mas não descansei por descansei por muito tempo: muito tempo:

ainda me ainda me estava a estava a encostar, encostar, quando quando

comecei a comecei a descer pela descer pela

terra abaixo.terra abaixo.

- Foi aí que tive - Foi aí que tive outra boleia: outra boleia: entrei num entrei num túnel de túnel de minhoca, que minhoca, que por acaso vinha por acaso vinha a passar a passar naquele naquele instante, e me instante, e me levou agarrada levou agarrada a ela, até eu a ela, até eu ficar presa a ficar presa a uma raiz.uma raiz.

- Depois infiltrei-me mais pela terra dentro, até - Depois infiltrei-me mais pela terra dentro, até ficar numa espécie de lago subterrâneo, cheio ficar numa espécie de lago subterrâneo, cheio de gotas de água.de gotas de água.

- Durante alguns dias, a - Durante alguns dias, a minha vida foi só brincar minha vida foi só brincar com as minhas amigas com as minhas amigas gotas; dançávamos à corda, gotas; dançávamos à corda, corríamos umas atrás das corríamos umas atrás das outras, e dizíamos "olá" às outras, e dizíamos "olá" às gotas que iam chegando.gotas que iam chegando.

- Até que, um belo dia, fizemos uma longa fila, e - Até que, um belo dia, fizemos uma longa fila, e corremos até à superfície, a um sítio que se corremos até à superfície, a um sítio que se chama nascente, que é o sítio onde as pessoas chama nascente, que é o sítio onde as pessoas dizem que nasce um rio.dizem que nasce um rio.

- Por isso, eu e as outras gotas éramos agora um - Por isso, eu e as outras gotas éramos agora um rio.rio.

- Ser rio é estar sempre - Ser rio é estar sempre em movimento - desde a em movimento - desde a nascente, nunca nascente, nunca paramos. paramos. Umas vezes Umas vezes vamos devagarinho, que vamos devagarinho, que até dá sono; outras vezes, até dá sono; outras vezes, com licença que ninguém com licença que ninguém nos apanha. nos apanha.

- Até ficamos com dores nas pernas. E a cabeça - Até ficamos com dores nas pernas. E a cabeça anda à roda, que aquilo é só curvas e mais anda à roda, que aquilo é só curvas e mais curvas.curvas.

- Mas, como é tudo a brincar, nunca nos - Mas, como é tudo a brincar, nunca nos cansamos.cansamos.

-A única coisa que estragou a festa foi o que nos aconteceu, já estávamos quase a chegar aqui à foz: Passámos perto de um enorme cano...

- ...e de lá saíam umas coisas escuras que se agarravam a nós. Ficámos assim, todas sujas.

- Agora nem - Agora nem conseguimos conseguimos

brincar, brincar, porque porque ficamos ficamos

coladas a coladas a todos os todos os

objectos que objectos que passam no passam no

rio. rio.

- O meu banho não é igual ao dos - O meu banho não é igual ao dos meninos e das meninas.meninos e das meninas. Para eu ficar mais Para eu ficar mais limpa, tenho de passar por umas coisas que se limpa, tenho de passar por umas coisas que se chamam filtros.chamam filtros.

- Vou explicar-vos como é, com a vossa ajuda.- Vou explicar-vos como é, com a vossa ajuda.

- Até - Até cheiramos cheiramos

mal. mal.

- É por isso - É por isso que preciso que preciso

urgentementurgentemente de tomar e de tomar um grande um grande

banho.banho.

- - Primeiro, Primeiro, arranjam arranjam um copo um copo de água de água suja...suja...

- ... - ... depois, depois, fazem fazem

passar a passar a água água

suja por suja por um filtro um filtro de café...de café...

- ... finalmente, irão ter a possibilidade de ver - ... finalmente, irão ter a possibilidade de ver um copo de água muito mais limpa!um copo de água muito mais limpa!

- Que tal? - Que tal? Resulta ou Resulta ou não?não?

- Agora o que faz falta é arranjar filtros destes - Agora o que faz falta é arranjar filtros destes para todas as gotas de água do rio Douro para para todas as gotas de água do rio Douro para que as minhas irmãs gotas fiquem também que as minhas irmãs gotas fiquem também limpinhas.limpinhas.

- É para os - É para os meninos meninos poderem poderem nadar no nadar no

nosso meio, nosso meio, que é uma que é uma coisa muito coisa muito

gira. Sabiam gira. Sabiam que quando os que quando os

meninos meninos nadam, nadam,

fazem-nos fazem-nos muitas muitas

cócegas?cócegas?

- É verdade. Se não - É verdade. Se não acreditam experimentem estar acreditam experimentem estar com muita atenção quando com muita atenção quando nadam, e hão-de confirmar que nadam, e hão-de confirmar que nos irão ouvir rir.nos irão ouvir rir.

FF II MM

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Ficha técnica:

Textos de

Walter Gomes

Ilustrações e arranjo técnico de

´Quim Ferreira