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Instituto Superior Politécnico de Viseu ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA FISIOTERAPIA E REABILITAÇÃO FÍSICA EM ANIMAIS DE COMPANHIA TRABALHO FINAL DE CURSO Enfermagem Veterinária Liliana Fonseca Ferreira VISEU, 2010

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Instituto Superior Politécnico de Viseu

ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA

FISIOTERAPIA E REABILITAÇÃO FÍSICA EM ANIMAIS DE COMPANHIA

TRABALHO FINAL DE CURSO

Enfermagem Veterinária

Liliana Fonseca Ferreira

VISEU, 2010

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Instituto Superior Politécnico de Viseu

ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA

FISIOTERAPIA E REABILITAÇÃO FÍSICA EM ANIMAIS DE COMPANHIA

TRABALHO FINAL DE CURSO

Enfermagem Veterinária

Liliana Fonseca Ferreira

Orientador: Dr. João Mesquita

VISEU, 2010

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O Orientador

_________________________________ (Dr. João Mesquita)

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“As doutrinas expressas neste trabalho

são da exclusiva responsabilidade do autor”.

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V

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todas as pessoas que, directa ou indirectamente, tornaram

possível a conclusão deste trabalho.

Agradeço aos meus pais por me terem dado a oportunidade de cursar em

Enfermagem Veterinária, pois sem o seu apoio não teria sido possível concretizar

este grande objectivo de vida.

Aos meus amigos que de uma forma ou outra me ajudaram e apoiaram ao

longo da minha vida, cada um de uma maneira especial.

Aos meus colegas de academia que lutaram comigo, me apoiaram e

vencemos muita coisa juntos, principalmente às amigas que se formaram nesta

conquista, Isabel, Diana, Armanda e Liliana.

A toda a equipa do Hospital Veterinário Montenegro, e aos meus colegas

estagiários por me terem recebido da melhor forma, pelos ensinamentos

transmitidos, pelas lições de vida e pelo companheirismo.

Ao meu orientador, Dr. João Mesquita, pelo apoio prestado durante toda a

realização do trabalho final de curso, pela orientação na sua execução e por toda

disponibilidade demonstrada.

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VI

TÍTULO: Fisioterapia e Reabilitação Física em Animais de companhia.

RESUMO

A fisioterapia e reabilitação animal é uma área de actividade cada vez mais

praticada em cães e gatos, sendo sobretudo usada para ajudar os animais a

regressarem às suas funções naturais antes da lesão. O interesse por esta área em

animais surge dos benefícios já comprovados em Medicina Humana e na tentativa

de adaptar algumas das técnicas em pacientes animais. A fisioterapia encontra-se

em grande expansão em Medicina Veterinária, contudo ainda não aceite por todos.

A selecção do tratamento para um paciente animal vai depender das informações

recolhidas pelo clínico durante uma avaliação exaustiva do paciente, sendo

abordado o procedimento para um correcto exame. Sendo a avaliação da dor um

dos pontos fulcrais num processo de reabilitação é importante a sua correcta análise

e controlo. A escolha do protocolo terapêutico é um dos parâmetros mais

importantes e fundamentais para a recuperação de um paciente. Na elaboração do

protocolo é preciso ter em conta a as necessidades do paciente, as modalidades de

fisioterapia disponíveis, a disponibilidades social e financeira do proprietário,

procurando sempre o mais rápido e melhor meio de recuperação. A participação

activa do proprietário é fulcral para uma recuperação mais rápida. Abordado também

neste trabalho foram os vários métodos de fisioterapia existentes e aplicáveis à

Medicina Veterinária, nomeadamente a termoterapia, com aplicações de frio e de

calor, o uso de ultra-sons, técnicas de massagem, e exercícios terapêuticos

passivos, assistidos e activos. Abordaram-se ainda técnicas mais recentes mas de

igual sucesso, como a utilização da hidroterapia e a estimulação eléctrica. Existem

tratamentos alternativos, como a acupunctura, que estão a ganhar peso na Medicina

Veterinária de igual forma como na Medicina Humana. São apresentados três casos

clínicos que surgiram durante a realização do estágio no Hospital Veterinário

Montenegro, que foram resolvidos com o auxílio da fisioterapia e dos cuidados de

enfermagem. Não sendo uma área compreendida por todos, dá reconhecidas

vantagens para quem a pratica.

PALAVRAS-CHAVES

Fisioterapia, Dor, Massagem, TENS, Acupunctura

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VII

TITLE: Physiotherapy and Physical Rehabilitation in Pets.

ABSTRACT

Animal physical therapy and rehabilitation is an area of activity with

increasing utilization in dogs and cats, but mostly to help animals to get back to their

normal functions after an injury. The interest for these practices in animals comes

from the verified benefits in Human Medicine and from the attempt to adapt some of

the techniques in animal patients. Physical therapy is in great expansion inside the

Veterinary Medicine, although not yet accepted by all. The choice of treatment for an

animal patient will depend of the information gathered by the physician during an

exhaustive clinical appraisement. Being the pain appraisement one of the key points

in the rehabilitation process, its correct analysis and control is an important phase.

The choice of the therapeutical process is one of the most important and

fundamental characteristics in patient recovery. In a protocol elaboration, the

patient’s necessities, the physical therapy modalities available and the social and

financial status of the owner, need to be accounted. The owner’s active participation

is crucial for a complete and fast recovery. Approached in this thesis were the

several physical therapy methods available and applicable in Veterinary Medicine,

such as thermotherapy with hot and cold applications, the use of ultrasounds,

massage techniques and passive therapeutical exercises, assisted and active. More

modern techniques are also approached such as hydrotherapy and electrical

stimulation. There are alternative treatments like acupuncture; these are gaining

importance in Veterinary Medicine and in Human Medicine. There are presented

three clinical cases that appeared during the realization of an internship in the

Montenegro Veterinary Hospital. These cases were solved with the help of the

physical therapist and the nursing staff. This area, although yet not fully understood

by all, is showing to be extremely fruitful in animal rehabilitation to those who practice

it.

KEYWORDS

Physiotherapy, Pain, Massage, TENS, Acupuncture

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VIII

ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS …………………………………………………………………….... V TÍTULO, RESUMO, PALAVRAS-CHAVE ……………………………………..………. VI TITLE, ABSTRACT, KEYWORDS ……………………………………………….......... VII ÍNDICE GERAL ………………………………………………………………………….. VIII ÍNDICE DE FIGURAS …………………………………………………………………….. XI ÍNDICE DE QUADROS …………………………………………………………………. XI ÍNDICE DE ABREVIATURAS ………………………………………………………….. XV I. APRESENTAÇÃO DO HOSPITAL VETERINÁRIO MONTENEGRO ……………. 16 II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA …………………………………………………………. 18 1. INTRODUÇÃO À FISIOTERAPIA …………………………………………………… 19 1.1. OBJECTIVOS ……………………………………………………………………….. 20 1.2. INDICAÇÕES………………………………………………………………………… 20 1.3. CONCEITOS BÁSICOS…………………………………………………………….. 21 2. EXAME DO PACIENTE ………………………………………………………………. 23 2.1. EXAME CLÍNICO ……………………………………………………………………. 23 2.2. EXAME FÍSICO ……………………………………………………………………… 24 3. DOR ……………………………………………………………………………………… 28 3.1. CLASSIFICAÇÃO DA DOR …………………………………………………………29 3.2. AVALIAÇÃO DA DOR ……………………………………………………………… 30 3.3. MANEIO DA DOR …………………………………………………………………… 31 4. PROTOCOLO TERAPÊUTICO………………………………………………………. 34 4.1. A ESCOLHA DO PROTOCOLO TERAPÊUTICO ………………………………. 34 4.2. A IMPORTÂNCIA DO PROPRIETÁRIO …………………………………………. 35 4.3. MANEIO DO PESO …………………………………………….…………………… 36 5. MÉTODOS DE FISIOTERAPIA ……………………………………………………… 37 5.1. TERMOTERAPIA ……………………………………………………………………. 37

5.1.1. APLICAÇÃO DE FRIO - CRIOTERAPIA ……………………………… 37

5.1.2. APLICAÇÃO DE CALOR ……………………………………………….. 38

5.1.3. ULTRA-SOM TERAPÊUTICO ………………………………………….. 39

5.1.3.1. INDICAÇÕES E EFEITOS ……………………………………………. 41

5.1.3.2. CONTRA – INDICAÇÕES ………………………………………….. 41

5.2. MASSAGEM …………………………………………………………………………. 42

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IX

5.2.1. RESULTADOS …………………………………………………………… 42

5.2.2. INDICAÇÕES …………………………………………………………….. 43

5.2.3. CONTRA-INDICAÇÕES ………………………………………………….43

5.2.4. TÉCNICAS DE MASSAGEM …………………………………………… 43

5.2.4.1. “EFFLEURAGE” OU DESLIZAMENTO SUPERFICIAL …………… 43

5.2.4.2. “PÉTRISSAGE” OU MASSAGEM MAIS PROFUNDA …………….. 44

5.2.4.3. FRICÇÃO ……………………………………………………………….. 45

5.2.4.4. AGITAR …………………………………………………………………. 46

5.3.4.5. PERCUSSÃO ………………………………………………………… 46

5.3. EXERCÍCIOS TERAPÊUTICOS- CINESIOTERAPIA …………………………… 47 5.3.1. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO PASSIVO ………………………………. 48

5.3.2. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO ASSISTIDO ……………………………. 51

5.3.3. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO ACTIVO ………………………………… 54

5.4. HIDROTERAPIA …………………………………………………………………….. 60 5.4.1. INDICAÇÕES …………………………………………………………….. 62

5.4.2. CONTRA-INDICAÇÕES ………………………………………………… 62

5.4.3. MODALIDADES DE HIDROTERAPIA ………………………………… 62

5.4.3.1. PASSADEIRA SUB - AQUÁTICA ……………………………………. 63

5.4.3.2. OUTROS EXERCÍCIOS …………..………………………………….. 63

5.5. ESTIMULAÇÃO ELÉCTRICA ……………………………………………………… 65 5.5.1. EFEITOS BIOLÓGICOS ………………………………………………… 67

5.5.2. INDICAÇÕES …………………………………………………………….. 67

5.5.3. CONTRA-INDICAÇÕES ………………………………………………… 67

5.5.4. COLOCAÇÃO DOS ELÉCTRODOS E A DOSE DE ESTIMULAÇÃO

ELÉCTRICA A USAR …………………………………………………………………….. 68

5.5.5. ESTIMULAÇÃO ELÉCTRICA NERVOSA TRANSCUTÂNEA (TENS) 71

5.6. MÉTODOS ALTERNATIVOS ……………………………………………………… 72 5.6.1. ACUPUNCTURA …………………………………………………………. 72

5.6.1.1. INDICAÇÕES…………………………………………………………. 74

5.6.1.2. CONTRA-INDICAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS ……………………. 74

6. ASPECTOS ECONÓMICOS DA FISIOTERAPIA …………………………………. 75 7. CASOS CLÍNICOS ……………………………………………………………………. 76 7.1. CASO CLÍNICO Nº1. “SHUMI” …………………………………………………… 76

7.1.1. IDENTIFICAÇÃO ………………………………………………………… 76

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X

7.1.2. DIAGNÓSTICO ………………………………………………………….. 76

7.1.3. PLANO FISIOTERAPÊUTICO DURANTE O INTERNAMENTO …… 79

7.1.4. PLANO FISIOTERAPÊUTICO APÓS A ALTA ……………………….. 80

7.2. CASO CLÍNICO Nº2. “MIRÓ” …………………………………………………….. 82 7.2.1. IDENTIFICAÇÃO ………………………………………………………… 82

7.2.2. DIAGNÓSTICO …………………………………………………………... 82

7.2.3. PLANO FISIOTERAPÊUTICO DURANTE O INTERNAMENTO …… 85

7.2.4. PLANO FISIOTERAPÊUTICO APÓS A ALTA ……………………….. 86

7.3. CASO CLÍNICO Nº3. “SPOTTY” ………………………………………………….. 88 7.3.1. IDENTIFICAÇÃO ………………………………………………………… 88

7.3.2. DIAGNÓSTICO …………………………………………………………… 88

7.3.3. PLANO FISIOTERAPÊUTICO DURANTE O INTERNAMENTO …… 90

7.3.4. PLANO FISIOTERAPÊUTICO APÓS A ALTA ……………………….. 92

8. CONCLUSÃO ………………………………………………………………………….. 94 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ………………………………………………… 96 ANEXO A - TABELA DOS ANALGÉSICOS MAIS USADOS EM CÃES E GATOS 102

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XI

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Hospital Veterinário Montenegro (vista exterior). ……………. ……………16

Figura 2. Localização do HVM no mapa. . ……………………………………………. 16

Figura 3. Corpo clínico do HVM. ………………………………………………………...17

Figura 4. Recepção. a) e b). ………………………...…………………………………...18

Figura 5. Consultório pequeno. .... ………………………………………………………18

Figura 6. Sala de cirurgia. ………………………………………………………………. 18

Figura 7. Internamento geral do HVM. ………...……………….……………………….18

Figura 8. A influência do Sistema Músculo-esquelético. ..…………………. ………. 21

Figura 9. Factores importantes para a estrutura e mobilidade. .………. ………..…. 21

Figura 10. Realização do “Kliber test”. ...………………………………………………. 25

Figura 11. Realização do teste “Spinal Process Maneuver”. ………………………...25

Figura 12. Goniómetro. …………………………………………………………………...26

Figura 13. Medição da ROM nas articulações num Labrador Retrivers: a) Flexão e

extensão do carpo; b) Flexão do cotovelo e ombro, respectivamente; c) Extensão do

cotovelo e ombro, respectivamente. ……………………………………………………. 26

Figura 14. Medição da massa muscular através de uma fita específica. …………...27

Figura 15. Alterações do grau de intensidade e duração da dor, em função do

tempo, na sequência de uma lesão tecidular significativa e persistente. ……………28

Figura 16. Exemplos de variações da dor ao longo do tempo. ………………………28

Figura 17. Localização das áreas comuns de dor. Dor insuportável (verde claro), dor

moderada (verde escuro) e dor ligeira (sem cor). ……………………………………...29

Figura 18. Escalas numéricas e visuais analógicas. ………………………. ………. 31

Figura 19. Instrução de um proprietário no uso de TENS em casa. ………………...35

Figura 20. Aplicação de frio através de um saco de gelo revestido por uma toalha.38

Figura 21. Imersão dos membros de um cavalo em água fria como técnica

escolhida. …………………………………………………………………………………...38

Figura 22. Aplicação de calor através de infravermelhos. ……………………………39

Figura 23. Aplicação de calor através de ultra-sons. . ………………………………. 40

Figura 24. “Effleurage” ao longo da coluna. ……………………………………………44

Figura 25. “Effleurage” no membro posterior. …………...……………………………. 44

Figura 26. “Pétrissage” no membro posterior. …………………………………………45

Figura 27. Técnica de fricção. ……………………………………………………………46

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XII

Figura 28. Percussão com a zona lateral da mão.……………………………………. 47

Figura 29. Percussão com a palma da mão em forma de concha.…………………. 47

Figura 30. Flexão do membro posterior. ………………………………………………. 49

Figura 31. Alongamento do membro posterior. ………………………………………. 49

Figura 32. Alongamento do membro posterior num gato. ..…………………………. 49

Figura 33. Aplicação do reflexo flexor num paciente durante a fisioterapia.………. 50

Figura 34. Movimento bicicleta.…………………………………………………………. 51

Figura 35. Caminhar com auxílio de uma toalha. ……………………………………...52

Figura 36. Exercício numa tábua instável. ……………………………………………. 52

Figura 37. Animal em estação sobre uma bola terapêutica. a) e b). ………………. 53

Figura 38. Animal apoiando os membros posteriores sobre uma bola terapêutica. 53

Figura 39. Subir e descer escadas. ……………………………………………………. 55

Figura 40. Exercício de dança. …………………………………………………………. 56

Figura 41. Aplicação do exercício de carrinho de mão em um gato. ………………. 56

Figura 42. Exercício na passadeira. ...…………………………………………………. 58

Figura 43. Exercício com cavaletes. ..…………………………………………………. 58

Figura 44. Exercício com cavaletes realizado por um gato. ..………………………. 58

Figura 45. Obstáculos verticais. …………………………………………………………59

Figura 46. Mochila com vários pesos. …….…………………………. ………………. 60

Figura 47. Distribuição do peso do animal mediante a quantidade de água em que é

imerso. ………………………………………………………………………………………61

Figura 48. Piscina para cães. ……………………………………………………………63

Figura 49. Piscina para animais de grande porte. ……………………………………. 63

Figura 50. Passadeira sub-aquática. ……………………………………………………64

Figura 51. Colete salva-vidas para cães. ..……………………………………………. 64

Figura 52. Onda de estimulação típica. …………………………………………………66

Figura 53. Estimulação segmentária, cada área do corpo pode ser tratada numa

área específica (da mesma cor), bilateral à coluna. ………………………………...…69

Figura 54. Apresentação de diferentes áreas de tratamento (vermelho) e respectivas

áreas de aplicação dos eléctrodos, bilateral à coluna (azul). a) Anca (L2 – S1); b) Joelho (L3 – S1); c) Tarso (L4 – S1); d) Ombro (C4 – C7); e) Cotovelo (C6 – Th1); f) Carpo (C7 – Th2)….……………………………. …………………………………………70

Figura 55. Acupunctura veterinária. a) Adaptado de Anónimo 2, s/d; b) Adaptado de

Pereira, 2007; c) Adaptado de Anónimo 6, s/d. ………………………………………. 73

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XIII

Figura 56. Shumi. ..………………………………………………………………………. 76

Figura 57. Raio X de contraste do Shumi. a) e b). ..…………………………………. 78

Figura 58. Shumi em fisioterapia, numa sessão de Exercício Passivo. ..…………. 80

Figura 59. Shumi em fisioterapia, numa caminhada com o apoio da toalha. ……. 80

Figura 60. Miró. ……………………………………………………………………………82

Figura 61. Ferida de decúbito. …………………………………………………………...82

Figura 62. Miró sem mobilidade, com apresentação de feridas de decúbito. ……...82

Figura 63. Estreitamento do espaço intravertebral L2 – L3. a) e b)…………………..83

Figura 64. Mielografia do Miró. a) Preparação da sala de cirurgia para a realização

da mielografia; b) Recolha do líquido cefalorraquidiano; c) Recolha do líquido

cefalorraquidiano para o teste de Pandy; d) Introdução do líquido de contraste……84

Figura 65. Spotty..…………………………………………………………………. ……. 88

Figura 66. Recolha de Líquido cefalorraquidiano. ……………………………………. 89

Figura 67. Imagem radiográfica da mielografia. ...……………………………………. 89

Figura 68. Aplicação de estimulação eléctrica no Spotty.………………………. ……91

Figura 69. Aplicação de frio, através de um saco de gelo revestido por uma toalha.

………………………………………………………………………………………………. 91

Figura 70. Compressão vesical no Spotty. ……………………………………………. 92

Figura 71. Algaliação no Spotty. …………………………………………………………92

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XIV

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1. ROM medidos num Labrador Retriver (em percentagem)..………………26

Quadro 2. Avaliação da escala visual analógica..……………………………………...31

Quadro 3. Os três níveis de dor e correspondentes protocolos analgésicos, segundo

a classificação da OMS..…………………………………………………………………. 32

Quadro 4. Pesos (Kg) mais usados em animais..……………………………………...59

Quadro 5. Diferentes estímulos de acordo com a terminologia electroterapêutica da

APTA..……...………………………………………………………………………………. 65

Quadro 6. Local de colocação dos eléctrodos dependendo do tipo de

estimulação………………………………………………………………………………….68

Quadro 7. Padrão Bioquímico do Shumi. ………………………………………………76

Quadro 8. Hemograma do Shumi. ………………………………………………………77

Quadro 9. Plano pós-cirúrgico instituído no caso do Shumi. …………………………79

Quadro 10. Plano fisioterapêutico do Shumi para casa. ……………………………...81

Quadro 11. Padrão Bioquímico do Miró..………………………………………………. 83

Quadro 12. Hemograma do Miró.....……………………………………………………. 84

Quadro 13. Plano pós-cirúrgico instituído no caso do Miró.....………………………. 85

Quadro 14. Plano fisioterapêutico do Miró para casa.……………….………………. 86

Quadro 15. Padrão Bioquímico do Spotty. ……………………………………………. 88

Quadro 16. Hemograma do Spotty. ……………………………………………………. 89

Quadro 17. Plano pós-cirúrgico adequado às necessidades do Spotty. ……………90

Quadro 18. Plano fisioterapêutico do Spotty para casa. ……………………………...92

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XV

ÍNDICE DE ABREVIATURAS

AC – Corrente alternada.

AINES – Anti-inflamatórios não esteróides.

APTA – Associação Americana de Fisioterapia.

BUN – Concentração de ureia no sangue.

CHCM – Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média.

DC – Corrente directa.

EMS – Estimulação eléctrica muscular.

GPT (ALT) – Transaminase glutâmico pirúvica ou alanina aminotransferase.

GOT (AST) – Transaminase glutâmico oxalacética ou aspartato aminotransferase.

HCM – Hemoglobina Corpuscular Média.

HVM – Hospital Veterinário Montenegro.

MNS – Neurónio motor superior.

NMES – Estimulação eléctrica neuromuscular.

RDW – Percentagem de anisocitose de hemácias.

RMN – Ressonância magnética nuclear.

ROM – Amplitude de movimento.

TAC – Tomografia axial computorizada.

TENS – Estimulação eléctrica nervosa transcutânea.

VCM – Volume Corpuscular Médio.

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16

I. APRESENTAÇÃO DO HOSPITAL VETERINÁRIO MONTENEGRO

No âmbito da Licenciatura em Enfermagem Veterinária da Escola Superior

Agrária de Viseu, realizou-se um estágio curricular de cinco meses (de Março de

2010 a Julho de 2010) no Hospital Veterinário Montenegro (HVM) (Figura 1), na

cidade do Porto, Rua Pereira Reis Nº191 (Figura 2).

Figura 1. Hospital Veterinário Montenegro (vista exterior)(Adaptado de Anónimo 1, s/d).

Figura 2. Localização do HVM no mapa (Adaptado de Anónimo 2, s/d).

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17

Este estágio teve como objectivos principais consolidar os conhecimentos

teóricos adquiridos durante o curso de Enfermagem Veterinária e aperfeiçoar

técnicas de trabalho na prática do dia-a-dia de um hospital.

O estágio foi orientado pelo director clínico do hospital, o Dr. Luís

Montenegro e restante equipa, nas áreas de medicina interna, exames

complementares de diagnóstico, cirurgia e na formação pessoal no que respeita a

comunicação e interacção com os proprietários dos animais. O corpo clínico (Figura

3) existente no HVM durante o meu período de estágio era composto por dez

Médicos Veterinários, dois Enfermeiros Veterinários, uma recepcionista e vários

estagiários (de Medicina Veterinária e/ou Enfermagem Veterinária).

As instalações deste hospital estão adequadas às necessidades exigidas

para realizar o melhor trabalho e dar as melhores condições aos nossos clientes. As

instalações passam por um rés-do-chão, onde se encontra a recepção (que inclui

sala de espera e WC para clientes) (Figura 4), os consultórios médicos (grande e

pequeno (Figura 5)), sala de ecografia e radiografia, sala de cirurgia (Figura 6),

internamento geral (Figura 7), internamento para pacientes com patologias infecto-

contagiosas, um balcão como todo o equipamento de análises clínicas, de raio-X

digital, autoclave e uma arca onde se colocam os pacientes prontos para cremação.

No 1º piso situa-se a cozinha, a sala de estar (onde se realizam as refeições e

trabalhos/documentos), a sala de hemodiálise e a farmácia. No 2º piso temos o WC

para o pessoal do hospital, escritório de administração, sala das rações e ainda uma

Figura 3. Corpo clínico do HVM (Adaptado de Anónimo 3, s/d).

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18

sala vestuário/dormitório. Exteriormente o hospital possui um espaço onde são

realizados os passeios dos animais internados e possíveis visitas feitas no exterior.

Figura 4. Recepção (Adaptado de Anónimo 4, s/d).

Figura 6. Sala de cirurgia (Adaptado de Anónimo 6, s/d).

Figura 5. Consultório pequeno (Adaptado deAnónimo 5, s/d).

Figura 7. Internamento geral.

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19

II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1. INTRODUÇÃO À FISIOTERAPIA

Segundo Forterre (2004) a fisioterapia é definida como uma estimulação

generalizada ou tratamento selectivo de uma função fisiológica comprometida por

meios físicos naturais, incluindo uma terapia de estimulação, de regulação e de

adaptação. A fisioterapia pode ainda ser descrita como sendo o tratamento médico

de doenças ortopédicas e neurológicas, onde há o uso exclusivo das forças naturais,

tais como a luz, água, electricidade, calor, frio, massagem e movimento (Weeren,

2007).

Fisioterapia é um termo bastante usado na medicina humana, onde está

implementada há já muitos anos, mas só nos últimos anos é que tem revelado

interesse da medicina veterinária. Parte do interesse surge dos muitos benefícios

comprovados na reabilitação no pós-operatório de pacientes humanos e na tentativa

de adoptar algumas das técnicas para os pacientes animais. Esta área tem sido alvo

de muitos estudos por parte de investigadores para comprovar os benefícios em

pacientes animais. A fisioterapia é uma área em grande expansão em medicina

veterinária, com a existência de diversas oportunidades de formação (cursos de pós-

graduação para veterinários e fisioterapeutas em diversas universidades europeias,

Áustria, Alemanha, Espanha e cursos/palestras promovidos por diversas

associações veterinárias). Porém neste momento em Portugal não existe qualquer

tipo de regulamentação governamental ou da Ordem do Médicos Veterinários sobre

esta prática. Na área da fisioterapia e reabilitação animal só no Reino Unido existe

alguma regulamentação, nos restantes países europeus a prática da fisioterapia

encontra-se na mesma situação que Portugal.

A fisioterapia tem duas características diferentes, mas interligadas. Uma

delas diz respeito à utilização de uma máquina apropriada ou terapêutica,

empregada na fase de cicatrização para auxiliar a recuperação do tecido, a outra

preocupa-se com a reeducação do movimento e é conhecida como reabilitação

(Bromiley, 2000). É cada vez mais usada em cães e gatos, também já usada em

cavalos, sempre com o objectivo de eliminar a causa músculo-esquelética e/ou

neurológica, de melhoria dos sinais clínicos, e promover o retorno à função normal.

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1.1. OBJECTIVOS

A fisioterapia tem como principais objectivos eliminar a causa da disfunção,

realçar os sinais clínicos e o alívio da dor. Dor que interfere com o bem-estar dos

pacientes, e é capaz de causar imunosupressão, inapetência ou caquexia, ou dor

que pode conduzir à redução ou mesmo desuso dos membros. Reduzir a

inflamação, melhorar a irrigação sanguínea, promover a cicatrização, estimular o

sistema nervoso, prevenir a neuropraxia e o entorpecimento muscular. Prevenir ou

minimizar a atrofia de músculos, cartilagem, ossos, tendões e ligamentos, evitar

aderências e a retracção dos tecidos, reduzir contracções e a tensão muscular são

outras das vantagens da fisioterapia. Esta área da medicina permite também o

maneio de peso em animais com excesso de peso, a melhora específica e geral de

aptidões cardiovasculares, permite prevenir o aparecimento de doenças

secundárias, diminui o uso de medicamentos anti-inflamatórios, diminui o esforço

físico e providencia efeitos psicológicos positivos para pacientes e proprietários

(Clark & McLaughlin, 2001; Levine & Millis, 2004; Bockstahler, 2006; Rivière, 2007; Martins, 2010).

1.2. INDICAÇÕES

A fisioterapia está indicada em situações de reabilitação pós-cirúrgica em

casos ortopédicos e neurológicos, lesões músculo-esqueléticas como tendinites,

bursites (inflamação de uma bolsa sinovial), entorses, mobilidade reduzida, fraqueza

muscular; afecções discais associadas a dor e paresia; lesões articulares como

contracturas e artrites; alívio da dor; cicatrização de feridas; alterações no

desempenho de um animal atleta; edemas e problemas na circulação sanguínea e

linfática; complicações do sistema cardiorespiratório e maneio do peso para preparar

fisicamente o animal para a cirurgia (Clark & McLaughlin, 2001;Levine & Millis, 2004;

Rivière, 2007).

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Tratamento de Problemas Músculo-esqueléticos

Vascularização

Estrutura

Mobilidade

Sistema Músculo-esquelético

1.3. CONCEITOS BÁSICOS

O sistema músculo-esquelético ocupa o papel principal na fisioterapia e

reabilitação animal (Figura 8), o seu tratamento vai actuar sobre os tecidos,

melhorando a mobilidade que tenha sido reduzida de algum modo, a dor, a estrutura

e vascularização dos tecidos.

Após um trauma é fundamental a restauração da mobilidade através da

reorganização e vascularização dos tecidos, caso contrário existe uma redução da

amplitude dos movimentos nas articulações.

O sistema músculo-esquelético tem a sua função influenciada por ciclos de

carga e de descarga (Figura 9). A estrutura e manutenção do tecido conjuntivo

dependem destes ciclos e basta um deles falhar para ocorrer uma alteração a nível

da estrutura e mobilidade da parte afectada.

Indirectamente

Carga Descarga

Figura 8. A influência do Sistema Músculo-esquelético (Adaptado de Forterre, 2004).

Figura 9. Factores importantes para a estrutura e mobilidade (Adaptado de Forterre (2004).

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O movimento fisiológico é essencial para a boa condição do sistema

locomotor (Rivière, 2007). Segundo Millis (2004) e Rivière & Sawaya (2006) citado

por Rivière (2007) todos os órgãos do sistema locomotor estão sujeitos a alterações

durante a carga ou a imobilização não fisiológica. Segundo Rivière (2007) alterações

estas, em que a elasticidade e a resistência mecânica da cartilagem articular e do

osso subcondral diminuem. O metabolismo ósseo modifica-se e as cápsulas, os

ligamentos e tendões sofrem contracção e podem esclerosar. Desenvolvem-se

aderências com perda da mobilidade articular e deficiência proprioceptiva. O tecido

muscular esquelético sofre uma retracção degenerativa, com formação de fibrose e

aderências entre os ligamentos. O que irá aumentar a fadiga muscular, a

perturbação dos processos cicatriciais e provocar um decréscimo na eliminação dos

resíduos metabólicos e na má circulação sanguínea e linfática capaz de afectar as

principais funções do corpo.

Quando um paciente se encontra em condições patológicas ou pós-

operatórias muitas vezes não consegue colocar uma carga completa no membro

afectado e através de exercícios passivos e activos da fisioterapia evitam que

coloque essa carga sobre o sistema músculo-esquelético. Permitindo deste modo

uma recuperação mais rápida e eficaz.

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2. EXAME DO PACIENTE

A selecção do tratamento vai basear-se principalmente nas bases do clínico,

bem como no conhecimento da anamnese e exame físico do paciente animal. Ao

contrário de um paciente humano um animal não tem a capacidade de descrever o

que está a sentir, apenas de mostrar sinais de problemas (Goff & Crook, 2007).

Nas perturbações da locomoção nem sempre é claro qual a causa primária,

se de ordem neurológica ou osteoarticular. Deste modo é então indispensável

realizar um exame clínico rigoroso para se poder aplicar o tratamento mais eficaz. As

afecções que provocam alterações a nível da locomoção raramente colocam o

paciente em risco de vida, contudo a rapidez com que se estabelece um tratamento

adequado e eficaz pode ser determinante para a recuperação funcional.

Para o sucesso na medicina de reabilitação física é imprescindível obter

uma exaustiva avaliação do animal de modo a se obter um diagnóstico que permita

a escolha do tratamento ideal. Em alguns casos é necessário recorrer a exames

complementares como a ressonância magnética nuclear (RMN) e a tomografia axial

computorizada (TAC) para permitir obter uma avaliação mais rigorosa. De acordo

com Bockstahler et al. (2004) nunca se deve iniciar qualquer tratamento sem possuir

um diagnóstico clínico final.

2.1. EXAME CLÍNICO

Numa avaliação inicial é importante fazer uma pesquisa profunda para obter

a informação geral acerca do animal e da sua história clínica. É importante que o

clínico saiba todos os pormenores, de modo a poder descartar hipóteses e chegar a

um diagnóstico. Dados gerais como hábitos alimentares, vacinação e

desparasitação, alergias, a actividade do animal (cão de guarda, de caça, cão guia)

e o nível de actividade em que se encontrava anteriormente ao problema são

fundamentais para o clínico. Quanto à patologia presente é importante o clínico

questionar o proprietário acerca do início, duração, tratamentos implementados,

evolução e resposta do animal ao tratamento. É importante nunca esquecer que são

os proprietários quem melhor conhece os nossos pacientes.

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O exame clínico é bastante importante para poder determinar se existe

alguma patologia, quais as consequências, o tratamento e se possui alguma contra-

indicação a alguma das modalidades de fisioterapia, e correr o risco de agravar

sinais (Bockstahler et al., 2004; Goff & Crook, 2007). Por exemplo num animal que

sofra de insuficiência cardíaca e/ou respiratória está contra-indicado o uso da

passadeira sub-aquática no seu tratamento.

2.2. EXAME FÍSICO

Seguido do exame clínico é muito importante avaliar outros parâmetros,

como a postura, a atitude, o equilíbrio, a vivacidade, a ergonomia, a amplitude de

movimento e a dor, de modo a escolher o plano terapêutico ideal a cada paciente.

Para a avaliação da postura e da atitude recorremos à avaliação de determinados

exercícios realizados pelo animal. Exercícios como o andar, sentar, deitar, manter-se

em estação, subir e descer escadas, andar em círculos, avaliando a flexão e

extensão das articulações, a posição da cabeça, se existe claudicação através da

avaliação do modo como coloca os membros e se apresenta défices proprioceptivos,

dentro das capacidades do animal (Bockstahler et al., 2004).

Outro passo muito importante no exame clínico é a palpação dos membros e

do tronco. A importância da palpação deve-se ao facto de poder avaliar a simetria, o

tónus e a condição muscular, a temperatura das articulações e/ou músculos, a

presença de edema, algum sinal de dor e tensão. Usando as duas mãos, uma mão

em cada membro simultaneamente (para ser mais fácil verificar alguma diferença),

inicia-se a avaliação pelos membros anteriores, da parte distal para a parte proximal,

seguindo para os membros posteriores e por fim avaliar-se os músculos do tronco,

da parte cranial para a parte caudal, percorrendo todos os músculos de forma

sistemática (Bockstahler et al., 2004).

Existem dois testes específicos para avaliar o tronco do animal, são eles o

“Kibler test” e o “Spinal Process Maneuver”. O “Kliber test” consiste em fazer uma

prega de pele na região sacral e com as duas mãos colocadas lateralmente á coluna

vertebral deslocar a dobra no sentido cranial (Figura 10). Este teste é importante

porque fornece informações sobre problemas nos músculos e pontos de tensão, e

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caso existam seria muito difícil conseguir fazer a prega de pele. O teste “Spinal

Process Maneuver” consiste em pressionar com intensidade crescente as vértebras

entre dois dedos (por exemplo polegar e indicador) deslocando-os vertical e

horizontalmente (Figura 11). Está indicado no tratamento de bloqueios vertebrais e

na detecção de défices de mobilidade, contudo é preciso ter cuidado em pacientes

com traumatismo medular e hérnias discais (Bockstahler et al., 2004).

Pode-se ainda avaliar o paciente através de um exame ortopédico e

neurológico. A avaliação ortopédica e neurológica realiza-se com o animal em

decúbito lateral ou em estação, e consiste na avaliação de músculos, ossos longos,

articulações, ligamentos, tendões, com o objectivo de o clínico verificar a existência

de alguma anomalia. Na tentativa de encontrar pontos de dor, edema, crepitação e

alguma tensão nos músculos (Bockstahler et al., 2004).

Como testes adicionais temos a avaliação da amplitude do movimento e a

medição da massa muscular, que não são apenas parte importantes no exame

clínico mas também são bastantes úteis para a avaliação do progresso da

fisioterapia do animal.

A amplitude do movimento ou Range of Motion (ROM) corresponde ao grau

de movimento articular e é avaliada através da goniometria. O goniómetro (Figura

12) deve ser colocado mediante o animal e a sua estrutura anatómica. O objectivo é

medir o ângulo alcançado no movimento de flexão e extensão (Figura 13) da

articulação em causa até ao limite fisiológico. Tendo em conta que cada animal é

Figura 10. Realização do “Kliber test” (Adaptado de Leiria, 2008).

Figura 11. Realização do teste “Spinal Process Maneuver” (Adaptado de Leiria, 2008).

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a)

b) c)

único, o melhor é efectuar a medição também no membro saudável de modo a

termos um termo de comparação do grau de alteração/normalidade (massa

muscular, patologia articular, tendões e ligamentos) (Quadro 1).

Articulação Flexão Extensão

Carpo 32 196

Cotovelo 36 166

Ombro 57 165

Tarso 39 164

Joelho 42 162

Anca 50 162

Quadro 1. ROM medidos num Labrador Retriever (em percentagem) (Adaptado de Bockstahler et al., 2004).

Figura 12. Goniómetro(Adaptado de Bocktahler etal., 2004).

Figura 13. Medição da ROM nas articulações num Labrador Retriever. a) Flexão e extensão do carpo; b) Flexão do cotovelo e ombro, respectivamente c) Extensão do cotovelo e ombro, respectivamente (Adaptado de Bocktahler et al., 2004).

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A medição da massa muscular consiste na medição do perímetro muscular

do membro ou da região em causa, porém mede-se frequentemente através da coxa

e/ou úmero (Bockstahler et al., 2004). Para a medição utiliza-se uma fita métrica

específica e calibrada como se verifica pela Figura 14.

Todas as medições realizadas deverão posteriormente ser realizadas no

mesmo local, com o animal no mesmo estado (sedado ou não sedado), na mesma

posição, pelo mesmo clínico e com a mesma pressão para tentar minimizar ao

máximo a ocorrência de interferências no resultado.

Figura 14. Medição da massa muscular através de uma fita específica (Adaptado de Leiria, 2008).

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3. DOR

Segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) a dor é

uma experiência emocional ou sensorial desagradável, que provoca reacções de

protecção motoras e autónomas, por sua vez, conducentes à aprendizagem de

processos de prevenção passíveis de alterar o comportamento específico da

espécie em causa, incluindo a interacção social (Gogny, 2006; Mills et al., 2007).

A dor é mais uma defesa do organismo como a tosse e o vómito, sendo

complicado a sua distinção entre fisiológica e patológica (Figura 15). As reacções

motoras e autónomas resultantes fazem o papel protector até um certo ponto, a

partir do qual, se tornam mais prejudiciais do que o estímulo que desencadeou

originalmente a resposta (Tacke & Henke, 2004). É a intensidade do estímulo e a

duração da respectiva aplicação que faz a distinção entre dor fisiológica e dor

patológica (Figura 16).

Intensidade

Duração

Dor fisiológica Fase II

Fase I

Fase III

Duração

Intensidade

Dor patológica e analgesia

Figura 15. Alterações do grau de intensidade e duração da dor, em função do tempo, na sequência de uma lesão tecidular significativa e persistente (Adaptado de Gogny, 2006).

Figura 16. Exemplos de variações da dor ao longo do tempo (Adaptado de Gogny, 2006).

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3.1. CLASSIFICAÇÃO DA DOR

Podemos classificar a dor perante três parâmetros, a sua duração, origem e

características clínicas (Tacke & Henke, 2004; Mills et al., 2007). Quanto á duração

é possível classificar em dor aguda que surge imediatamente a uma lesão e

desaparece quando o ferimento cicatriza. Tem uma função de alarme e tem boa

resposta a analgésicos. A dor crónica não tem função de alarme, tem boa resposta a

fármacos e não está relacionada com estímulos nociceptivos mas tem indicação de

fisioterapia. É importante fazer a distinção entre dor aguda e dor crónica pois

necessitam de diferentes abordagens na terapia (Figura 17) (Holler, 2009).

Pode ter origem somática, em tecidos superficiais, como a pele e/ou em

tecidos profundos, como ligamentos, ossos, músculos e articulações. Origem

visceral, em órgãos internos torácicos, abdominais e pélvicos. Pode ainda surgir no

pós-operatório (como dor aguda), numa degenerescência crónica (sendo possível o

agravamento da dor, atrofia muscular e inactividade). Ser uma dor neurogénica ou

neuropática (geralmente dor crónica, e provocada por lesões no sistema nervoso) ou

mesmo dor oncológica (dependente do tamanho dos tumores e da presença de

metástases).

Figura 17. Localização das áreas comuns de dor. Dor insuportável (verde claro), dor moderada (verde escuro) e dor ligeira (sem cor) (Adaptado de Santos, 2009).

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3.2. AVALIAÇÃO DA DOR

Um dos maiores problemas de identificação da dor em animais é mesmo a

incapacidade de a classificar. Ao contrário dos seres humanos, que possuem a

capacidade de classificar ou ajudar o clínico a classificar a sua dor, nos animais tem

que ser unicamente o clínico a avaliar a dor sem qualquer ajuda por parte do animal.

Um animal com dor, apesar de não conseguir expressar por meio de palavras o que

está a sentir irá tentar comunicar a dor por meio de comportamentos anormais

(expressão facial, postura corporal e vocalização), e tanto se pode refugiar como

imobilizar-se ou reagir com agressividade.

A avaliação da dor nos animais requer por parte do clínico experiência e

bom poder de observação (Tacke & Henke, 2004), porém segundo Gogny (2006)

não existe formação suficiente para avaliar e tratar os pacientes com dor. Em alguns

animais é muito complicado identificar a dor e determinar a sua intensidade. Os

recursos terapêuticos a que os clínicos normalmente têm acesso (fármacos

oficialmente aprovados) não são suficientes, pelo menos em alguns países, como a

França (Gogny, 2006).

A avaliação da dor vai depender da análise de uma série de sinais

comportamentais, como a postura, a expressão facial, alterações das pupilas, algum

tipo de vocalização e comportamento diferente, a presença de dor á palpação, o

interesse pela alimentação, possível auto-mutilação e claudicação. Podem ser

integrados em sistemas de pontuação subjectiva, ou através de escalas analógicas

(Figura 18) ou numéricas. Sendo fundamental a colaboração do proprietário para

indicar o grau de dor que lhe parece sentir o animal, sendo quem melhor conhece o

animal. Temos ainda a possibilidade de avaliação do grau da dor (Quadro 2) através

da medição da frequência cardíaca, respiratória e a pressão arterial, sendo

parâmetros que sofrem alterações na presença de dor. Contudo é preciso ter em

atenção que o stress e a agitação são factores que também podem provocar

alterações nestes parâmetros (Tacke & Henke, 2004).

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3.3. MANEIO DA DOR

O principal objectivo do maneio da dor é prevenir o aparecimento de

sintomas e consequências da dor patológica ou no pós-operatório, porém sem

interferir com o seu ciclo (Tacke & Henke, 2004). Segundo Joshi & Ogunnaike

(2005) citado por Sellon (2009) após uma análise das consequências do inadequado

controlo da dor persistente no pós-operatório em pacientes humanos, é agora bem

aceite que a dor inadequadamente controlada e o stress gerado pela resposta do

animal têm consequências fisiológicas e psicológicas, que podem levar à disfunção

de órgãos e aumentar a taxa de morbilidade e mortalidade no pós-operatório.

Gravidade da dor Escala (mm)

Ausência de dor 0-25

Dor ligeira 26-50

Dor moderada 51-75

Dor insuportável 76-100

Quadro 2. Avaliação da escala visual analógica (Adaptado de Tacke & Honke, 2004).

Figura 18. Escalas numéricas e visuais analógicas (Adaptado de Anónimo, Carvalho & Kowacs, 2008).

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Os analgésicos estão recomendados nas fases iniciais do tratamento (para

evitar o desenvolvimento da “memória da dor”), independente do tipo de dor e os

métodos de fisioterapia disponíveis (termoterapia, TENS, massagem, acupunctura,

etc.), porém apresentam alguns cuidados a ter. Podem ser administrados

analgésicos de classes diferentes concomitantemente, caso não haja qualquer

contra-indicação no seu uso, devem ser usadas doses muito baixas e de acordo

com as necessidades de cada paciente (Tacke & Henke, 2004).

A dor foi dividida em três níveis com consequentes protocolos analgésicos,

consoante a respectiva potência e relação benefício/risco pela Organização Mundial

de Saúde (OMS), como podemos verificar pelo Quadro 3. Segundo Mills et al. (2007)

os analgésicos diminuem a sensação da dor mas não a eliminam.

As principais classes farmacológicas utilizadas nos protocolos apresentados

no Quadro 3 são os AINES, os analgésicos opiáceos, os anestésicos dissociativos e

os agonistas alfa2.

O maneio farmacológico é apenas uma parte no controlo da dor, muitos

pormenores relacionados com cuidados de enfermagem e integração no contexto

Fase I (Dor Ligeira)

Esperada ou observada

AINES ou fármacos

similares utilizados

individualmente, ou com

dose reduzida de

morfina

Fase II (Dor Moderada)

Esperada ou observada,

ou insucesso dos

analgésicos da fase I

AINES + opióides fracos

ou AINES + dose

reduzida de morfina ou

anestesia local

Fase III (Dor Aguda)

Esperada ou observada

ou insucesso dos

analgésicos da fase II

Dose elevada de morfina

e/ou sistema transdérmico

de fentanil e/ou anestesia

locoregional +

potenciação (AINES,

quetamina, agonista alfa2

Quadro 3. Os três níveis de dor e correspondentes protocolos analgésicos, segundo a classificação da OMS (Adaptado de Gogny, 2006).

Quadro 3. Os três níveis de dor e correspondentes protocolos analgésicos, segundo a classificação da OMS (Adaptado de Gogny, 2006).

Legenda: AINES – fármacos anti-inflamatórios não esteróides.

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social desempenham um papel fundamental (Tacke & Henke, 2004). Métodos de

fisioterapia como a termoterapia, massagem, TENS, tratamentos alternativos como a

acupunctura, o uso mínimo de cateteres, um ambiente calmo, maneio suave e

cuidadoso do animal são alguns exemplos de como se pode minimizar a dor do

animal. O maneio da dor desempenha um papel importantíssimo em todas as etapas

da reabilitação física e o animal jamais deve sentir algum tipo de desconforto (Clark

& McLaughlin, 2001). Cada animal necessita de um maneio específico e de uma

selecção de métodos adequados ao seu grau de dor, e para uma gestão a longo

prazo os protocolos para casa são os mais ideais (Holler, 2009).

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4. PROTOCOLO TERAPÊUTICO

O objectivo principal da realização de um protocolo terapêutico é assegurar

e preservar uma recuperação funcional total e o mais rapidamente possível.

4.1. A ESCOLHA DO PROTOCOLO TERAPÊUTICO

Segundo a Associação Americana de Fisioterapia o protocolo terapêutico é

elaborado segundo cinco parâmetros, uma avaliação inicial, um exame

fisioterapêutico, um diagnóstico fisioterapêutico, um prognóstico e o tratamento

(Bockstahler et al., 2004). A avaliação inicial inclui o conhecimento minucioso da

história e exame clínico. Após a avaliação inicial o clínico deve reunir toda a

informação já recolhida e ainda o resultado do exame físico (referido no ponto 3.1.2.)

elaborando o exame fisioterapêutico. Quanto ao diagnóstico fisioterapêutico,

constitui uma avaliação mais sintomática, através da análise da tensão muscular, da

atrofia e da dor. A escolha do plano terapêutico é ainda influenciada pela experiência

do clínico e pelo conhecimento dos benefícios já provados na Medicina Humana

(Clark & McLaughlin, 2001), modalidades disponíveis, disponibilidade social e

financeira do proprietário, procurando sempre o melhor e mais rápido meio de

recuperação.

Segundo Bockstahler et al. (2004) é impossível estabelecer um plano

fisioterapêutico padrão para cada animal. Um plano de tratamento instituído para um

animal no pós-operatório não será o mesmo para um animal geriátrico. A fase em

que o animal inicia a fisioterapia também é importante, as necessidades de um

animal que inicia o tratamento no dia da cirurgia são diferentes das necessidades de

iniciar a fisioterapia após a cicatrização da sutura. Ao implementar um protocolo de

reabilitação física, deve ser usada uma abordagem centrada no animal ao decidir

quando iniciar cada passo, em vez de uma abordagem estritamente centrada no

calendário (Clark & McLaughlin, 2001). No entanto estes protocolos podem ser

tomados como gerais, e posteriormente adapta-los às necessidades individuais de

cada animal.

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4.2. A IMPORTÂNCIA DO PROPRIETÁRIO

O proprietário desempenha um papel importantíssimo no que diz respeito à

reabilitação do seu animal. O sucesso da terapia não depende apenas de uma boa

intervenção terapêutica e de uma óptima escolha em relação ao protocolo, depende

fundamentalmente do acompanhamento do dono e do seu apoio. A participação

activa do proprietário é muitas vezes uma mais valia para uma recuperação mais

rápida (Bockstahler et al., 2004). A fisioterapia não é um tratamento fácil e rápido,

leva algum tempo, embora em alguns casos se observe resultados positivos pouco

tempo após o seu início, noutros, como numa situação crónica, a paciência é muitas

vezes necessária até que resultados sejam visíveis. É importante que haja uma boa

relação clínico/proprietário para que aumente a motivação do proprietário, e para

que possam debater as melhores soluções, os objectivos e meios necessários para

a realização de cada um dos tratamentos. Outro papel muito importante é o seu

envolvimento directo na reabilitação do animal, através da aplicação de métodos de

fisioterapia. Aplicações de calor e frio, massagem, exercícios terapêuticos, como os

movimentos de bicicleta tanto em decúbito lateral com em estação, o exercício de

levantar e sentar, passeios com trela, e em alguns casos usando a estimulação

eléctrica (Figura 19). Métodos minuciosamente explicados e seguindo algumas

recomendações, e comunicar com o clínico acerca dos resultados e dificuldades

presentes nas sessões, de modo a haver a actualização de frequências e métodos a

usar. No tratamento de gatos é especialmente importante a participação activa do

proprietário, permitindo uma rápida reabilitação e melhoria dos sinais clínicos.

Figura 19. Instrução de um proprietário no uso de TENS em casa (Adaptado de Bockstahler et al.,2004).

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4.3. MANEIO DO PESO

O maneio do peso é um importante aspecto na fisioterapia de cães e gatos

com problemas ortopédicos e neurológicos, em que o excesso de peso contribui

para o desenvolvimento de problemas músculo-esqueléticos e exerce uma pressão

excessiva sobre articulações, ligamentos e tendões (Bockstahler et al., 2004). É

preciso prevenir a obesidade em cães especialmente quando se considera que

carregam 60% do seu peso nos membros anteriores (Innes, 2006).

Um animal obeso com problemas ortopédicos exige um protocolo

terapêutico especial. Segundo a experiência de alguns clínicos a combinação da

perda de peso e a realização de exercícios especiais traz melhores resultados. O

ideal é que o início dos exercícios terapêuticos coincida com o início do programa de

perda de peso. O sucesso vai depender muito do protocolo escolhido para o

paciente, e é importante que o proprietário tenha um papel activo durante todo o

processo, cumprindo ele próprio o protocolo estabelecido para casa.

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5. MÉTODOS DE FISIOTERAPIA

5.1. TERMOTERAPIA

A termoterapia consiste no uso terapêutico de agentes físicos ou meios de

aquecimento e arrefecimento do corpo do animal.

5.1.1. APLICAÇÃO DE FRIO - CRIOTERAPIA

A aplicação de frio tem efeitos fisiológicos contrários à aplicação de calor

contudo ambos são ideais no combate à dor e à diminuição do grau de espasmo

muscular. Em geral induz vasoconstrição, limitando o fluxo sanguíneo à área

afectada levando a uma redução do edema; diminuição do metabolismo celular;

alívio da dor por diminuição da condução nervosa e redução do espasmo muscular

(Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Tacke & Henke, 2004; Sawaya,

2007). A sua aplicação está indicada em situações agudas (após uma lesão e no

período pós-operatório até 72h), trauma, artrites, tendinites, miosites e na prevenção

de inflamação após exercício (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004;

Sawaya, 2007).

A crioterapia consiste na aplicação de cubos de gelo (Figura 20), cobertos

com uma toalha (de modo a não estarem em contacto directo com a pele) e colocar

sobre a área a tratar. Existem também acumuladores de frio, compressas ou panos

molhados e sistemas de imersão de água fria (usado muito em cavalos, Figura 21)

como alternativas aos cubos de gelo. O tempo de aplicação deve ser entre 15 a 25

minutos mas vai depender da estrutura e do animal em tratamento. Nos cavalos são

relatados períodos de exposição até 45 minutos, revelando um estudo que um

cavalo com lesão do tendão flexor digital superficial foi submetido a tratamento com

frio durante uma hora com resultados positivos e sem sinais de qualquer tipo de

dano celular (Leiria, 2008).

De acordo com Clark & McLaughlin (2001) a crioterapia superficial pode

penetrar nos tecidos a uma profundidade de 1 a 4 cm, com a maior alteração de

temperatura a ocorrer a 1 cm de profundidade. Para atingir temperaturas mais

baixas em tecidos mais profundos pode-se usar um penso compressivo, como uma

ligadura elástica. Deve-se sempre não prolongar o tempo de exposição e evitar o

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contacto directo com a área afectada de modo a não causar o efeito contrário,

vasodilatação e formação de edema local por diminuição da temperatura local.

A crioterapia não está indicada em animais com alterações de sensibilidade,

problemas circulatórios (como vasculite, doença vascular periférica, lesão isquémica

e formigamento), diabetes mellitus ou feridas abertas (Clark & McLaughlin, 2001;

Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007).

5.1.2. APLICAÇÃO DE CALOR

Após a inflamação aguda estar resolvida é benéfica a aplicação de calor na

área afectada (hipertermia superficial) de modo a estimular a vasodilatação,

melhorar o fluxo sanguíneo nos tecidos superficiais, aliviar a dor, provocar o

relaxamento muscular, aumentar a velocidade de condução do impulso, alterar o

limiar de excitabilidade nociceptiva e aumentar a oxigenação, e facilitar a

cicatrização (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Tacke & Henke,

2004; Sawaya, 2007;). É aplicada normalmente em situações de artrites crónicas,

rigidez e tensão muscular, espondiloartrose, espondilose. Para promover maior

elasticidade e flexibilidade criando boas condições para a aplicação de métodos

passivos de fisioterapia, como massagens e a estimulação eléctrica (Clark &

McLaughlin, 2001;Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007).

Figura 20. Aplicação de frio através de um saco de gelo revestido por uma toalha.

Figura 21. Imersão dosmembros de um cavalo em água fria como técnica escolhida (Adaptado de Leiria, 2008).

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Este método consiste na aplicação de uma fonte de calor na área afectada,

atingindo cerca de 1 a 11 mm de profundidade do tecido (terapia superficial) através

de compressas, toalhas, botijas de água quente, parafina, hidroterapia, e

infravermelhos (Figura 22), durante 15 a 20 minutos. Se pelo contrário a temperatura

atingir 1 a 3 cm de profundidades já se realiza uma terapia profunda, alcançada

através de ultra-sons. A frequência do tratamento vai depender do tipo, do grau de

problema e do efeito desejado. É muito importante uma vigilância constante da pele

para prevenir danos como queimaduras.

A aplicação de calor deve ser evitada em situações de inflamação local

aguda, tumores, feridas abertas, hematomas, problemas graves de circulação e na

ausência de sensibilidade (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004;

Sawaya, 2007).

5.1.3. ULTRA-SOM TERAPÊUTICO

O ultra-som terapêutico é a técnica mais usada em animais domésticos para

aquecer os tecidos mais profundos. O ultra-som é produzido incidindo uma corrente

eléctrica de alta frequência num cristal, como o quartzo (piezoeléctrico). Graças ao

efeito piezoeléctrico o cristal altera a corrente que recebe produzindo ondas

ultrasónicas (Bockstahler et al., 2004). As ondas à medida que vão sendo

absorvidas no músculo vão transformando a energia mecânica em calor. A

Figura 22. Aplicação de calor através de infravermelhos.

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quantidade de calor produzida vai depender da área a tratar (tipo de tecido e

gravidade), frequência, intensidade, modo de aplicação e resposta individual do

animal.

Na fisioterapia e reabilitação são usadas ondas de frequência que variam

entre 0.5 a 5 MHz, mas o mais frequente é verificar-se equipamentos com

frequências de 1 MHz (baixa frequência) e 3.3 MHz (alta frequência) (Bockstahler et

al., 2004). A frequência é escolhida consoante a profundidade do tecido desejado

para incidir o ultra-som, se a profundidade de penetração desejada for entre 0 a 3

cm (zonas ósseas) usa-se a frequência 3 MHz, se for entre 2 e 5 cm (tecidos mais

profundos) já se utiliza a frequência mais baixa, 1MHz (Bockstahler et al., 2004). A

intensidade corresponde à taxa de energia distribuída por unidade de área (W/cm2).

Podem ser usados dois modos de transmissão de ultra-sons, modo contínuo, em

que a energia é constantemente produzida e modo pulsátil. No modo pulsátil é

possível escolher a duração do período de transmissão e do período de pausa,

permitindo o uso de intensidades mais elevadas alcançando os níveis de

temperatura desejados sem provocar qualquer tipo de dano tecidular e alterar a

permeabilidade das células e melhorar o seu metabolismo (Bockstahler et al., 2004).

A sonda pode ser colocada directamente na pele sobre um gel hidrossolúvel

(sobre uma pele tosquiada, aumenta a transmissão de ultra-sons) (Figura 23) ou

quando se trata de uma área pequena ou irregular pode-se imergir a área submersa

em água e colocar a sonda a 1 a 2 cm de distância (Clark & McLaughlin, 2001;

Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007). Os movimentos devem ser suaves, lentos e

em círculos (Bockstahler et al., 2004).

Figura 23. Aplicação de calor através de ultra-sons (Adaptado de Anónimo 7, s/d).

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5.1.3.1. INDICAÇÕES E EFEITOS

Existe uma grande variedade de indicações para o uso do ultra-som como

meio terapêutico, patologias articulares ou componentes ligados, como artrites,

sinovites, tendinites, bursites, patologias musculares, aderências. Pode também

potenciar a aplicação transdérmica de fármacos (Clark & McLaughlin, 2001).

A terapia por ultra-sons apresenta efeitos térmicos e efeitos não térmicos.

Os efeitos térmicos permitem um alívio da dor, diminuindo a tensão muscular

levando a um aumento do fluxo sanguíneo para os músculos, melhoria da

elasticidade das estruturas fibrosas, melhoria da nutrição dos tecidos, aumentando a

suplementação de oxigénio e aumentando a eliminação de produtos metabólicos. Os

efeitos não térmicos incluem o aumento da permeabilidade celular, do transporte de

cálcio, remoção de células sanguíneas do espaço intersticial e aumento da

actividade fagocítica dos macrófagos (Clark & McLaughlin, 2001).

5.1.3.2. CONTRA – INDICAÇÕES

O seu uso está contra-indicado em áreas infectadas, áreas com problemas

de circulação, na presença de trombos ou na presença de tumores malignos. Não se

deve aplicar directamente sobre os olhos, coração, útero grávido, gónadas e

cartilagem em animais jovens (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004;

Sawaya, 2007; Leiria, 2008). A maior parte das preocupações surge do perigo de

queimaduras dos tecidos, devido a intensidades muito elevadas e movimentos muito

lentos ou então períodos de paragem da sonda no mesmo ponto, podendo provocar

cavitação instável, um fenómeno no qual se formam e crescem umas bolhas de gás

que expandem e explodem afectando os tecidos (Clark & McLaughlin, 2001;

Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007).

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5.2. MASSAGEM

A massagem tem sido parte integrante e natural da fisioterapia, medicina do

desporto e da reabilitação humana. É já um facto conhecido há muito tempo que a

massagem se confirmou eficaz em animais, que eles a aceitam bem e até reagem

favoravelmente; daí ter sido tida como modalidade no tratamento veterinário

(Bockstahler et al., 2004). Apesar de poder haver alguma passagem directa de

princípios e práticas de humanos para os animais, é claro que existem ideias

unicamente para os animais, até porque existem diferenças anatómicas, funcionais e

cinesiológicas. Os animais não podem ser instruídos para relaxarem ao contrário

dos humanos (Monk, 2007).

A sessão deve ser realizada num ambiente calmo, numa superfície

confortável que permita ao animal relaxar mais facilmente. O próprio clínico devera

apresentar-se relaxado, confiável de modo a transmitir alguma tranquilidade ao

animal e tentar estabelecer algum contacto inicial com ele de modo a criar algum

relaxamento entre ambos. Sempre que possível deve ser aplicado calor na área a

massajar, antes e após a massagem.

5.2.1. RESULTADOS

Esta modalidade tem diferentes efeitos e objectivos, consoante as técnicas

escolhidas, a sua duração, frequência, intensidade, velocidade e direcção.

Os seus efeitos passam por permitir o relaxamento mental e físico do animal;

quebrar aderências, o ciclo vicioso da dor e a tensão muscular; libertar endorfinas

endógenas; melhorar a circulação venosa, linfática e arterial; facilitar a eliminação de

resíduos e a suplementação de oxigénio; estimula o sistema nervoso e acelera a

recuperação muscular (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Tacke &

Henke, 2004; Rivière, 2007). A massagem não afecta a massa muscular, o grau de

atrofia ou a força segundo Geiringer (1988) citado por Clark & McLaughlin (2001).

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5.2.2. INDICAÇÕES

As suas principais indicações são consequências dos efeitos descritos

anteriormente, estando como objectivo primário a eliminação da dor e consequente

contracção muscular, que exacerba ainda mais a dor pré-existente (Bockstahler et

al., 2004). Podemos recorrer á massagem em situações de tensão muscular

secundária a um problema medular ou articular, mobilização de aderências,

regulação da tonicidade muscular, prevenção e/ou recuperação de lesões antes e

após os exercícios ou redução ou prevenção de estase e linfostase (Bockstahler,

2004).

5.2.3. CONTRA-INDICAÇÕES

Esta modalidade está contra-indicada em situações em que a área a

massajar se encontre com uma inflamação e/ou infecção, doenças dermatológicas,

como presença de dermatófitos, tumores, febre, insuficiências cardíacas

descompensadas ou distúrbios circulatórios (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler,

2004).

5.2.4. TÉCNICAS DE MASSAGEM

Existe uma grande diversidade de técnicas possíveis de aplicar em Medicina

Veterinária, porém apenas serão apresentadas as que são consideradas como as

mais eficazes.

5.2.4.1. “EFFLEURAGE” OU DESLIZAMENTO SUPERFICIAL

Esta técnica permite a manipulação de músculos superficiais, aumentando o

fluxo sanguíneo e linfático, neutralizando a estase (Bockstahler et al., 2004). Pode

ainda ser usada entre massagens mais profundas ou no fim de cada sessão de

massagens com a intenção de relaxar o animal. É frequentemente realizada com o

animal em estação, colocando-se o clínico de lado ou mesmo atrás do animal. A

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técnica consiste em deslocar as mãos suavemente sobre a superfície da pele do

animal, com movimentos no sentido do crescimento do pêlo, começando pelo

pescoço partindo para as costas, garupa (Figura 24) e terminando nos membros

(Figura 25). Depois de massajar os membros partir novamente para o pescoço, e

assim repetidamente. As mãos devem permanecer abertas, realizando movimentos

lentos e que estejam sempre em contacto, nunca passar com as duas mãos de uma

vez directamente duma área para a outra, por exemplo deixar uma mão no membro

posterior e colocar a outra no pescoço e só então largar a mão do membro e passa-

la para o pescoço (Bockstahler et al., 2004). Permitir que a pele deslize suavemente

sobre a fáscia subjacente vai reduzir as aderências segundo Blaser (1988) citado

por Clark & McLaughlin (2001).

5.2.4.2. “PÉTRISSAGE” OU MASSAGEM MAIS PROFUNDA

Pode ser aplicado superficialmente ou mais profundamente (Bockstahler et

al., 2004). Uma vez superficial obtém-se uma diminuição do tónus muscular, através

da realização de uma prega de pele e massajando os tecidos (Figura 26). A direcção

deve ser no sentido das fibras musculares, podendo em todo o caso ser diagonal ou

perpendicular a elas, iniciando sempre na cauda e ir evoluindo para o pescoço, se a

lesão for nos membros deve evoluir da região distal-proximal (Bockstahler et al.,

Figura 24. “Effleurage” ao longo da coluna (Adaptado de Leiria, 2008).

Figura 25. “Effleurage” nomembro posterior (Adaptado de Leiria, 2008).

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2004; Rivière, 2007). O “Pétrissage” em profundidade consiste em manobrar um

grupo de músculos entre o polegar e os restantes dedos (abrindo e fechando as

mãos). Nas costas colocamos uma mão de cada lado da coluna vertebral ou ambas

as mãos do mesmo lado. Devemos aumentar o grau de pressão muito lentamente,

uma vez com este exercício verificar-se um aumento da tonicidade muscular,

podendo gerar dor.

5.2.4.3. FRICÇÃO

Esta técnica pode ser realizada de forma superficial ou profunda, numa área

localizada ou disseminada do corpo do animal (Figura 27) (Bockstahler et al., 2004).

Permite o aumento do fluxo sanguíneo, promove a eliminação de toxinas e ainda

pode quebrar aderências (Bockstahler et al., 2004). Para exercer esta técnica numa

área maior são utilizadas as pontas dos dedos ou o punho, deslizando

cuidadosamente para a frente e para trás ou em direcção contrária às fibras

musculares, aumentando a pressão conforme a necessidade. Numa área mais

localizada desliza-se de forma circular as pontas dos dedos (idealmente uma mão

em cima da outra para ajudar na massagem), deslocando assim a pele e numa

pressão baixa inicialmente, aumentando até atingir as camadas mais profundas de

músculos. É uma excelente técnica para aliviar áreas com demasiada tensão.

Encontra-se contra-indicada em situações agudas, inflamatórias e/ou infecciosas ou

Figura 26. “Pétrissage” no membro posterior (Adaptado de Leiria, 2008).

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em regiões com deposições de cálcio segundo Pinheiro (1998) citado por Leiria

(2008).

5.2.4.4. AGITAR

Consiste numa técnica superficial usada para o relaxamento de músculos,

durante a manipulação de tecidos profundos e no final de sessões de massagens.

Através desta técnica pode-se trabalhar um conjunto de músculos (agarrando um

grupo de músculos e gentilmente agitar para a frente e para trás) ou o membro

inteiro (agarrando a parte distal do membro e agitando gentilmente).

5.2.4.5. PERCUSSÃO

Técnica muito usada para relaxar os músculos e melhorar a circulação

(Bockstahler et al., 2004). Através de batimentos suaves realizados na pele com a

palma da mão em forma de concha (Figura 28) ou com a zona lateral (Figura 29)

(Rivière, 2007; Bockstahler et al., 2004). Permite trabalhar grandes áreas

musculares (Rivière, 2007).

Figura 27. Técnica de fricção (Adaptado de Leiria, 2008).

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5.3. EXERCÍCIOS TERAPÊUTICOS- CINESIOTERAPIA

Segundo Mikail & Pedro (2006) citado por Leiria (2008) a cinesioterapia é um

método não invasivo e utiliza o movimento como meio de terapia.

Os principais objectivos passam por aumentar o ROM, a flexibilidade, o uso

do membro afectado, reduzindo o grau de claudicação, fortalecer e aumentar a

massa muscular e a agilidade sem presença de dor (Clark & McLaughlin, 2001;

Bockstahler et al., 2004; Rivière, 2007). Os exercícios terapêuticos são uma parte

fundamental na reabilitação física de um paciente em condições crónicas e no pós-

operatório, fazem também parte de um plano de tratamento para casa, onde os

proprietários são os principais responsáveis pela evolução do seu animal. Esta fase

é muito importante pois cria-se uma ligação cada vez mais forte entre proprietário e

animal, e os proprietários começam a ter noção das alterações da condição física

dos seus animais e quando tal acontece procuram ajuda médica de imediato.

Graças à grande variedade de exercícios é possível escolher os que melhor

se adequam a cada paciente, desde movimentos passivos, assistidos a activos, e é

importante que não se torne numa rotina, numa sessão de exercícios repetidos que

aborreçam tanto o clínico como o paciente (Bockstahler et al., 2004). Deve-se tentar

nunca provocar dor no paciente podendo prejudicar toda a recuperação conseguida

até ao momento, através do reflexo inibidor, e encadear um menor uso do membro.

Figura 28. Percussão com a zona lateral da mão (Adaptado de Leiria, 2008).

Figura 29. Percussão com a palma da mão em forma de concha (Adaptado de Leiria, 2008).

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A aplicação de frio (crioterapia) posteriormente a uma sessão de exercícios intensos

é o ideal para permitir o alívio da dor e minimizar a inflamação.

5.3.1. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO PASSIVO

É um exercício que ajuda a manter ou melhorar a flexibilidade dos músculos,

tendões e ligamentos, a flexão e extensão das articulações, e melhorar a estrutura e

a função neuromuscular. É muito usado na recuperação de cães em condições

neurológicas, como ruptura do disco intervertebral, ou complicações do sistema

músculo-esquelético (Bockstahler et al., 2004). O tempo e a frequência do exercício

vão depender de cada animal. É fundamental proporcionar conforto ao animal,

colocando-o sob uma superfície protegida por algo acolchoado e não proporcionar

uma sessão muito exigente, correndo o risco de provocar dor e atrasar a

recuperação. Tal como o nome indica o animal não participa activamente no

processo, o que também exige do clínico um maior conhecimento da anatomia e

fisiologia do corpo.

a) Exercício de amplitude de movimento (ROM)

Segundo Bockstahler et al. (2004) este exercício é importante em cães

jovens e cães submetidos a cirurgias da articulação, principalmente fracturas de

cotovelo e fémur e estabilização de uma ruptura do ligamento cruzado cranial. O

objectivo principal é flectir e estender as articulações individualmente dependendo

do seu grau de amplitude confortável (Bockstahler et al., 2004). Isto é, uma

articulação é lentamente flectida ou estendida (dependendo do movimento desejado)

até se obter qualquer sinal de desconforto por parte do animal, como uma

vocalização, um aumento de tensão no membro ou um revirar da cabeça no sentido

do estímulo. Geralmente a flexão da articulação é mais tolerada que a extensão.

Existem outros movimentos considerados como apropriados, como é o caso

do movimento de rotação, principalmente no ombro e quadril, e os movimentos de

adução e abdução.

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b) Exercício de alongamento

Muitas vezes é usado em associação com o exercício ROM, e em situações

de rigidez muscular e diminuição da amplitude do movimento (ROM). O seu principal

objectivo é alongar e realinhar os tecidos moles e o colageneo para não rasgar nem

dilacerar os tecidos, de acordo com (Bockstahler et al., 2004). Este exercício

consiste em flectir (Figura 30) ou estender lentamente (Figuras 31 e 32) uma

articulação dependendo do movimento desejado, até se obter qualquer sinal de

desconforto por parte do animal, como uma vocalização, um aumento de tensão no

membro ou um revirar da cabeça no sentido do estímulo. Em geral o movimento de

extensão é menos confortável que o de flexão. Podem ser também realizados

movimentos de adução, abdução e rotação.

Figura 30. Flexão do membro posterior. Figura 31. Alongamento do membroposterior (Adaptado de Leiria, 2008).

Figura 32. Alongamento do membro posterior num gato (Adaptado de Anónimo 8, s/d).

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c) Exercício do reflexo flexor

Este exercício é principalmente usado em pacientes com défices

neurológicos bem como no exame neurológico. Consiste em beliscar a pele

existente entre os dedos, em resposta o paciente deve flectir o membro estimulado

(Figura 33). O estímulo tem como objectivo a contracção muscular, de modo a

prevenir atrofia por desuso e aumento do tónus muscular.

d) Movimento de bicicleta

O movimento de bicicleta pode ser realizado posicionando o animal em

decúbito lateral ou em estação. Este exercício é muito utilizado em animais com

défices neurológicos, em associação com o ROM e em animais que tenham

dificuldade em suportar o seu peso nos membros (usando neste caso apenas a

posição de estação). Neste movimento o exercício passa por ir lentamente formando

círculos, no sentido caudal-dorsal-cranial (Figura 34), caso necessário em posição

de estação pode-se colocar uma mão de lado para auxiliar o animal. Sendo preciso

flectir e estender todas as articulações durante a execução de um círculo. O

objectivo principal passa por influenciar o sentido pela marcha e prevenir ou

melhorar o ROM.

Figura 33. Aplicação do reflexo flexor num paciente durante a fisioterapia.

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5.3.2. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO ASSISTIDO

É um exercício adequado para pacientes que já conseguem suportar algum

do seu peso, principalmente pacientes com défices neurológicos e/ou lesões

pélvicas bilaterais. Tem como principais objectivos aumentar a força, resistência,

propriocepção e sensibilidade neuromuscular (Bockstahler et al., 2004). Os

exercícios assistidos consistem em exercícios em que o animal participa activamente

porém com auxílio do clínico.

a) Manter-se em estação assistido por uma toalha

O exercício assistido consiste em providenciar um suporte para o cão ou

gato (um arnês, uma toalha, etc.) para o conduzir e apoiar durante a execução de

movimentos simples, como o caminhar (Figura 35) (Rivière, 2007). O exercício

permite assistir um animal que não tenha força necessária para suportar a totalidade

do peso do seu corpo. O cão é colocado na posição de estação e com o auxílio de

uma toalha ou funda auxiliar o animal na sustentação do seu peso, permitindo que

este carregue apenas o peso que é capaz (Bockstahler et al., 2004). Porém com o

seguimento do tratamento a força realizada pelo clínico deve diminuir à medida que

o animal vai aumentando a quantidade de peso capaz de suportar.

Figura 34. Movimento bicicleta (Adaptado de Leiria, 2008).

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b) Prancha de equilíbrio

É uma actividade que permite fortalecer o equilíbrio do animal. Consiste em

colocar o animal sobre uma prancha de equilíbrio ou uma simples tábua instável,

auxiliando-o para evitar possíveis quedas, realizando-se movimentos oscilatórios em

todas as direcções (Figura 36).

c) Bola terapêutica

A bola terapêutica é uma boa ajuda para o animal com problemas

proprioceptivos que o apoia durante a marcha. De acordo com Saunders (2007)

citado por Leiria (2008) é muito importante em pacientes neurológicos, pós-

cirúrgicos, com displasia da anca ou cotovelo, com artrites, patologia lombosagrada

Figura 35. Caminhar com auxílio de umatoalha.

Figura 36. Exercício numa tábua instável (Adaptado de Anónimo 7, s/d).

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a) b)

e em animais de desporto, O exercício consiste em colocar o animal em estação

sobre a bola (Figura 37) ou apoiando apenas os membros posteriores ou anteriores

(Figura 38), movimentando-se lateralmente, para a frente e para trás (Bockstahler et

al., 2004).

d) Flexão e extensão cervical e flexão lateral

Flexão e extensão cervical e flexão lateral permitem que o animal melhore a

mobilidade de modo a se manter em estação, equilibrado. Realiza-se este exercício

estimulando o animal a movimentar a cabeça no sentido lateral e/ou dorsal – ventral,

caso necessário pode-se usar objectos (como uma bola) ou mesmo uma

recompensa como estímulos.

Figura 37. Animal em estação sobre uma bola terapêutica (Adaptado de HVM, 2010).

Figura 38. Animal apoiando os membros posteriores sobre uma bola terapêutica (Adaptado de HVM, 2010).

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5.3.3. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO ACTIVO

De acordo com Riviére (2007) os exercícios terapêuticos activos deverão ser

iniciados o mais cedo possível, tendo em conta as fases de cicatrização do tecido

lesado. Isto é, a iniciação deste tipo de exercícios vai depender da resposta do

paciente á reabilitação. É necessário que o animal responda aos exercícios passivos

sem desconforto aparente e que já seja capaz de suportar o seu peso sobre o

membro afectado. Os exercícios activos têm como principal objectivo a recuperação

da força e locomoção. Permitindo também uma recuperação e melhoramento da

capacidade cardiorespiratória bem como do nível de actividade e um alívio da dor.

Existe uma grande variabilidade de exercícios activos e o importante é saber

escolher os que melhor se adequam a cada animal.

a) Caminhar lentamente

Este exercício talvez seja dos mais importantes na reabilitação do pós-

operatório e em animais com afecções crónicas. As caminhadas são frequentemente

realizadas incorrectamente, têm de ser realizadas á velocidade do cão, não de quem

o leva a caminhar (Bockstahler et al., 2004). Estas caminhadas têm que ser feitas

muito lentamente para o animal conseguir equilibrar o seu peso e não ter receio de ir

colocando o membro afectado no solo, podemos também contribuir para que isso

aconteça elogiando-o sempre que o apoiar no solo.

Inicialmente as caminhadas devem ser realizadas 2 a 3 vezes por dia

durante uns 2 a 5 minutos cada. Após os primeiros dias de caminhadas se a

claudicação não tiver piorado pode-se ir aumentando o tempo em 1 a 3 minutos por

dia (Bockstahler et al., 2004).

b) Subir / Descer escadas

Subir e descer escadas é o exercício ideal para trabalhar a extensão das

articulações (Figura 39). Este exercício deve ser iniciado quando o animal já se

encontra com melhorias visíveis e já ser capaz de caminhar sobre o membro

afectado apesar da existência de alguma claudicação. Deverá começar por

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caminhar lentamente em degraus de altura baixa de modo a ir adquirindo o uso

normal dos membros e adaptando os membros a alguma extensão, não permitindo

que este avance degraus ou mesmo que salte sobre eles. Assim verificado evolução

no quadro do animal poder-se-á introduzir desafios e caminhar por degraus de altura

mais elevada. É vantajoso para criar força muscular principalmente nos membros

posteriores (Bockstahler et al., 2004).

c) Dançar

Este exercício consiste em levantar os membros anteriores do solo e

movimentar o animal para a frente e para trás, parecendo que este está a dançar

(Figura 40). Este método permite um fortalecimento dos músculos dos membros

posteriores. Alguns animais tentam se esticar de tal modo que quase conseguem

chegar ao solo, nestas situações o ideal é que o clínico se coloque na parte de trás

do animal e que lhe levante os membros anteriores, segurando pelas axilas

(Bockstahler et al., 2004).

Deve-se adequar o ângulo de elevação dos membros de acordo com o efeito

que se pretenda. Uma vez ser muito difícil fazer com que alguns cães se movam

sobre o membro afectado recomenda-se o uso de açaime (Bockstahler et al., 2004).

Figura 39. Subir e descer escadas (Adaptado de Rivière, 2007).

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d) Carrinho de mão

O exercício “carrinho de mão” permite que o animal fortaleça os músculos

dos membros anteriores. Este método exige que se levante ambos os membros

posteriores do solo e se mova o animal para a frente (Figura 41). Um animal com

propriocepção normal vai mover-se para a frente para não cair, animais com alguma

fraqueza dos membros anteriores podem necessitar de um apoio.

Deve-se adequar o ângulo de elevação dos membros de acordo com o efeito

que se pretenda. Uma vez ser muito difícil fazer com que alguns cães se movam

sobre o membro afectado recomenda-se o uso de açaime (Bockstahler et al., 2004).

Figura 40. Exercício de dança (Adaptado de Leiria, 2008).

Figura 41. Aplicação do exercício de carrinho de mão em um gato(Adaptado de Rivière, 2007).

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e) Levantar / Sentar

Os exercícios de levantar/sentar são ideais para aumentar a capacidade de

ROM e força nos posteriores, fortalecendo os glúteos, os extensores do joelho e do

pescoço. Segundo Bockstahler et al. (2004) são movimentos usados principalmente

em situações de displasia da anca e afecções dos membros posteriores. É preciso

ter atenção e verificar se o animal se senta e levanta correctamente, flectindo ao

mesmo tempo ambos os membros posteriores quando se senta e se os estende ao

mesmo tempo quando se coloca em estação.

f) Estímulo nociceptivo

Este exercício consiste em colocar por exemplo uma carica ou mesmo uma

tampa de plástico na extremidade do membro saudável, de modo a criar um

desconforto e encorajar o uso do membro afectado. Contudo é preciso ter cuidado

com este exercício pois pode provocar desconforto tal que o animal recuse mesmo a

movimentar-se.

g) Passadeira rolante

A passadeira rolante é dos métodos mais utilizados em reabilitação animal

(Figura 42). A sensação do solo movimentar-se debaixo do animal vai incentiva-lo a

usar o membro afectado para tentar equilibrar o seu peso de modo a não cair,

realizando deste modo uma marcha mais equilibrada e correcta. Durante esta

actividade o ideal é que esteja presente mais que uma pessoa a acompanhar o

animal no exercício. Uma pessoa pode colocar-se em frente ao animal a incentiva-lo

a andar, se necessário recorrer a recompensas, e outra de lado do animal de modo

a que possa visualizar adequadamente a sua marcha e efectuar qualquer correcção

se necessário. Inicialmente ou em animais mais fracos pode ser usado uma faixa a

suportar o peso.

Este exercício permite um alívio da dor e do stress do movimento em certas

circunstâncias, tais como, dor em casos de distensão da anca num cão com

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displasia da anca e num pós-operatório de ligamento cruzado (Bockstahler et al.,

2004).

h) Obstáculos horizontais

Este é um método usado com a finalidade de incentivar o uso do membro

afectado e aumentar o ROM, através do uso de cavaletes (Figuras 43 e 44). Em

alguns casos uma simples escada pode servir para a realização do exercício

(Bockstahler et al., 2004). Os trilhos estão espaçados igualmente ou com larguras

diferentes, um boa ideia é inicialmente os espaços terem a mesma largura mas um

pouco menor que o comprimento das passadas do paciente (Bockstahler et al.,

2004). O objectivo é fazer com que o animal caminhe por entre os espaços,

permitindo a extensão e flexão das articulações dos membros.

Figura 42. Exercício na passadeira (Adaptado de Anónimo 9, s/d).

Figura 43. Exercício com cavaletes (Adaptado de Anónimo 7, s/d).

Figura 44. Exercício com cavaletes realizado por um gato (Adaptado de Anónimo 9, s/d).

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i) Obstáculos verticais

Estes obstáculos verticais são postes colocados em linha recta, de modo a

que o animal passe entre eles, de um lado para o outro (Figura 45). É útil para

permitir a flexão lateral da medula espinal, aumentar a propriocepção e fortalecer os

músculos. A distância entre os postes deverá ser menor que o comprimento do

próprio animal, de modo que o obrigue a flectir a medula espinal.

j) Exercícios de fortalecimento muscular

Os exercícios de fortalecimento muscular são usados para melhorar a força

e a velocidade do animal. Incluem actividades como levantar e carregar pesos

(Quadro 4), e correr a grandes velocidades em pequenas distâncias. Levantar e

carregar pesos em fisioterapia animal é semelhante ao levantar pesos de uma

pessoa (Bockstahler et al., 2004). Existem umas mochilas com vários pesos (Figura

46) que podem ser colocadas sobre o dorso do animal fortalecendo vários músculos

e uns pesos para se colocarem directamente nos membros com objectivo de ajudar

a fortalecer os músculos durante a flexão na marcha.

Peso (Kg) 0.25 0.5 1 2

Tamanho do cão Pequeno Médio Grande Muito grande

Quadro 4. Pesos (Kg) mais usados em animais (Adaptado de Bockstahler et al., 2004).

Figura 45. Obstáculos verticais(Adaptado de Anónimo 7, s/d).

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k) Levantar a pata

Este exercício consiste em estimular o cão a levantar um dos membros

anteriores usando um biscoito como recompensa. Tem como finalidade flectir a

articulação do cotovelo e fortalecer os músculos dos membros anteriores. Pode

também ser utilizado para combater uma atrofia muscular.

5.4. HIDROTERAPIA

Existem provas suficientes na actualidade do sucesso da hidroterapia em

seres humanos, contudo existe uma grande falta de informação na literatura

veterinária e de fisioterapia no que diz respeito a protocolos, directrizes e na

implementação desses programas em animais (Monk, 2007). Muitos dos princípios e

técnicas de hidroterapia usadas em humanos podem ser usados em pacientes

animais, tendo em consideração as diferenças de tamanho, tipo de corpo, lesões e

diferenças na comunicação (Monk, 2007).

A água tem uma variedade de propriedades que são importantes avaliar de

modo a ser possível desenvolver programas de hidroterapia ideias para animais, de

modo a haver um correcto uso e máximo aproveitamento da técnica. A densidade da

Figura 46. Mochila com vários pesos (Adaptado de CiaPet, 2008).

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água é de 1.0, a densidade de outros corpos depende da sua composição e é

comparada á da água. A gordura possui 0,8 de densidade, que uma vez menor que

a da água, irá flutuar, já o tecido ósseo tem densidade de 2.0, afundando na água

(Bockstahler et al., 2004; Monk, 2007). A capacidade de flutuar de um corpo vai ser

igual ao peso do liquido movimentado por esse mesmo corpo quando imerso,

segundo o principio de Arquimedes. A terapia aquática é uma forma especial de

exercício que ajuda a reduzir a quantidade de peso que o paciente suporta até 91%

(Figura 47). Esta situação permite que o animal suporte menor peso que em terra,

permitindo exercer movimentos mais confortavelmente. A pressão hidrostática

também é um parâmetro importante de avaliar, corresponde á pressão exercida pela

água sobre o corpo imerso. Esta pressão confere algum grau de apoio e

sustentação ao animal auxiliando no movimento e pode ainda reduzir edemas por

melhorar a circulação sanguínea e linfática, contudo cria alguma resistência ao

movimento do tórax sendo um pouco perigoso para animais com problemas

cardíacos e/ou respiratórios. É importante também perceber que existe à superfície

uma maior e mais forte ligação entre moléculas em relação á profundidade, o que

torna a terapia dentro de água mais fácil ao animal (Bockstahler et al., 2004; Monk,

2007).

Figura 47. Distribuição do peso do animal mediante a quantidade de água em que é imerso (Adaptado de Leiria, 2008).

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5.4.1. INDICAÇÕES

A hidroterapia ou terapia aquática tem se tornado muito importante na

reabilitação de pequenos e grandes animais. É considerada por muitos como o

melhor método de fortalecimento muscular; aumento da mobilidade; melhoria da

condição corporal, da circulação sanguínea e da capacidade cardiorespiratória;

reduzir e/ou prevenir a atrofia, espasmos musculares, hipertonicidade e o edema

(Bockstahler et al., 2004; Monk, 2007). Está indicada principalmente em situações

de patologia neurológica como no pós-cirúrgico do disco intervertebral, mielopatia

degenerativa e mielopatia fibrocartilaginosa embólica; no pós-cirúrgico de ortopedia

com fracturas, ruptura do ligamento cruzado cranial e displasia da anca. É favorável

também em casos de artrite, espondilose e fraqueza muscular (Bockstahler et al.,

2004; Monk, 2007; Rivière, 2007).

5.4.2. CONTRA-INDICAÇÕES

A hidroterapia não é uma terapia que possa ser aplicada a todos os animais,

apesar de ser excelente em certas situações existem outras em que o seu uso é

contra indicado ou é preciso ter um cuidado acrescido. Como na presença de uma

situação de ferida aberta, drenante e/ou infectante, a incisão ainda por cicatrizar,

problemas gastrointestinais, respiratórios, cardíacos ou sistémicos, medo da água,

hipertermia, falta de condição física, epilepsia, animal com tosse do canil ou na

presença de problemas de incontinência urinária ou fecal (Clark & McLaughlin, 2001;

Bockstahler et al, 2004; Monk, 2007).

5.4.3. MODALIDADES DE HIDROTERAPIA

Após a avaliação do estado de reabilitação em que se encontra o animal é

preciso escolher o método de hidroterapia mais adequado aos objectivos do seu

tratamento, ao seu tamanho e ao equipamento disponível. Existe uma enorme

variedade de opções para animais de pequeno porte como uma simples banheira,

tanque, piscinas para crianças e piscinas para adultos (usada para natação e a

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realização de exercícios), praias, barragens, lagos, rios, passadeiras aquáticas,

piscinas próprias para animais de pequeno porte (usada para natação e a realização

de exercícios, Figura 48). Para animais de grande porte pode-se recorrer a piscinas

construídas para o efeito (Figura 49), praias, barragens, rios e a passadeiras

aquáticas.

É importante nesta terapia pensarmos como entra e sai o animal da água.

Se for numa piscina de reabilitação permite que o animal entre de um modo gradual

através de uma rampa, se estiver a usar um tanque ou uma banheira baixa-se

lentamente e com cuidado o animal ou coloca-se o animal dentro e vai-se enchendo

o tanque ou banheira calmamente com água. O importante é não encorajar o animal

a saltar para dentro e/ou para fora e nunca deixá-lo sozinho durante a terapia.

5.4.3.1. PASSADEIRA SUB - AQUÁTICA

Para a realização de exercícios dentro de água, a passadeira sub-aquática

(Figura 50) constitui o equipamento mais valioso, permitindo adaptar a cada animal

as condições mais favoráveis, desenvolvendo a sua força muscular e aumentando o

ROM. Mas é preciso ter alguns cuidados, colocá-la num local amplo e ter umas

Figura 49. Piscina para animais de grande porte (Adaptado de Monk, 2007).

Figura 48. Piscina para cães (Adaptado de Monk, 2007).

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dimensões consideráveis de modo a ser possível monitorizar o tratamento por todos

os lados e ainda contribuir para a diminuição da ansiedade do animal. Deve ser

inspeccionada regularmente, avaliar a funcionalidade do termóstato (que mantém

automaticamente a temperatura da água) e efectuar a limpeza necessária.

A passadeira sub-aquática permite ainda, andar a velocidades, inclinações e

níveis de água diferentes, mediante a condição do animal e a sua progressão

(Bockstahler et al., 2004).

Exercícios como manter-se em estação são benéficos em situações de

patologia neurológica como pós cirúrgico de hérnias discais, mielopatia degenerativa

e mielopatia fibrocartilaginosa embólica. Este exercício permite-lhes ganhar alguma

estabilidade, coordenação e força muscular. Inicialmente pode-se apoiar o animal

com as mãos ou com alguma faixa para o ajudar a equilibrar-se e ir soltando as

mãos, porém assim que se vir algum sinal de fraqueza voltar a apoiá-lo. É

recomendável a utilização de colete salva-vidas (Figura 51), facilitando a

manipulação e é um suporte extra para o animal. Uma vez já capaz de permanecer

em estação pode-se avançar para exercícios como o de “bicicleta” com o objectivo

de melhoramento da locomoção, da propriocepção e melhoramento da amplitude do

movimento. Pode-se ainda tentar provocar desequilíbrios no animal através da

colocação de pressão sobre o animal ou provocando alguma turbulência na água,

permitindo alguma conquista da coordenação, propriocepção e fortalecimento

muscular. Outro exercício também ele importante é o caminhar dentro de água, mas

é preciso dar algum tempo ao animal para se habituar, o ideal é que a primeira

sessão seja apenas de brincadeira, dando muitos elogios e prémios.

Figura 50. Passadeira sub-aquática (Adaptado de Bockstahler et al., 2004).

Figura 51. Colete salva-vidas para cães(Adaptado de Monk, 2007).

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5.4.3.2. OUTROS EXERCÍCIOS

No caso de não haver a possibilidade de uso de uma passadeira, os

exercícios descritos anteriormente, o manter-se em estação na água, a colocação de

obstáculos (como o exercício de bicicleta, sustentação de pesos) e o simples

caminhar na água podem ser realizados num lago ou lagoa. Podemos acrescentar o

exercício da natação como uma mais valia para o animal. A natação é um excelente

exercício para o fortalecimento dos músculos e aumentar o ROM das articulações,

uma vez que nadar requer uma maior flexão do joelho e um movimento maior dos

membros. Para se poder executar este exercício é preciso haver condições

favoráveis, a temperatura ser a mais adequada, e é importante secar bem o animal

após este sair da água.

5.5. ESTIMULAÇÃO ELÉCTRICA

De acordo com Bockstahler et al. (2004) a estimulação eléctrica corresponde

a uma modalidade de fisioterapia e reabilitação muito vantajosa no tratamento de

várias doenças ortopédicas e neurológicas, principalmente aquelas que causam dor

aguda e crónica ou atrofia muscular.

Existe uma diversidade de tipos de estimulação (Quadro 5) possíveis através

da aplicação de uma corrente eléctrica, cuja resposta vai depender de parâmetros

de estimulação como, intensidade, frequência e duração do pulso (Figura 52).

NMES

(Estimulação eléctrica neuromuscular)

Estimulação eléctrica de um músculo ou tecido

através de um nervo ileso.

TENS

(Estimulação eléctrica nervosa transcutânea)

Uma forma de NMES, usada para o tratamento

da dor.

EMS

(Estimulação eléctrica muscular)

Estimulação directa sobre as fibras musculares

de um músculo sem nervo.

Quadro 5. Diferentes estímulos de acordo com a Terminologia electroterapêutica da APTA (Adaptado de Bockstahler et al., 2004).

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Segundo Bockstahler et al. (2004) as correntes utilizadas para a emissão de

estímulos são classificadas consoante as suas propriedades físicas, existindo assim,

uma corrente contínua (DC) ou galvânica, corrente cujo fluxo é unidireccional e

raramente é usado em terapia somente em iontoforese. Iontoforese é definida como

a introdução de radicais químicos nos tecidos, técnica usada com vários objectivos

fisioterapêuticos, tais como, promover a vasodilatação, analgesia e o relaxamento

muscular. Uma corrente alternada (AC) é uma corrente eléctrica cujo fluxo inverte a

direcção, sendo por isso bidireccional. Uma corrente pulsátil que tal como o nome

indica, é transmitida por pulsos e é frequentemente usada em terapia.

A intensidade da estimulação corresponde á amplitude do impulso, quando a

intensidade do estímulo é aumentada pelo terapeuta, a amplitude é maior. A

duração do impulso (microsegundos) é o parâmetro chave para determinar os

efeitos da estimulação, estimulação muscular ou alívio da dor (Baxter & McDonough,

2007). A frequência corresponde ao número de impulsos por segundo, em hertz

(Hz), ao qual vai depender a resposta do estímulo.

Duração do impulso

Amplitude do impulso

Figura 52. Onda de estimulação típica (Adaptado de Baxter & McDonough, 2007).

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5.5.1. EFEITOS BIOLÓGICOS

Os seus efeitos biológicos abrangem uma resposta motora e, de acordo com

Bockstahler et al. (2004), a resposta do músculo á estimulação eléctrica varia de

acordo com a frequência. Com formação de contracções simples, contracções

múltiplas, contracções tetânicas e mioquimia. Contracções tetânicas correspondem

a contracções musculares maiores que a duração do estímulo, os estímulos chegam

com tanta rapidez que não é possível relaxamento entre contracções sucessivas.

Mioquimia corresponde a um tremor rápido, persistente, episódico e benigno nos

músculos. Surge hiperémia local pelo trabalho muscular exercido nas contracções e

pela libertação de vasodilatadores endógenos. A estimulação da circulação

sanguínea, a redução do tónus muscular e a libertação de endorfinas endógenas

são das situações capazes de promover algum grau de analgesia provocada pela

estimulação eléctrica.

5.5.2. INDICAÇÕES

A estimulação eléctrica está indicada em situações de atrofia muscular

resultante de situações neurológicas; alterações musculares como rupturas;

cicatrização de fracturas (por indução da osteogénese); problemas circulatórios;

maneio da dor aguda ou crónica resultante de problemas neurológicos, como

síndrome de cauda equina, síndrome de Wobbler, hérnias discais e músculo-

esqueléticos, como artrite, espondilose, espondiloartrose, após cirurgias ortopédicas

e promover um aumento da força muscular (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler

et al., 2004; Baxter & McDonough, 2007).

5.5.3. CONTRA-INDICAÇÕES

A estimulação eléctrica apesar de ser muito vantajosa para a reabilitação e

fisioterapia animal apresenta algumas contra-indicações, como o não ser aplicada

sobre olhos e glândulas, em feridas abertas, regiões inflamadas, doenças

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infecciosas, tumores, no tratamento de dor casual e em zonas anestesiadas

(Bockstahler et al., 2004; Baxter & McDonough, 2007).

5.5.4. COLOCAÇÃO DOS ELÉCTRODOS E A DOSE DE ESTIMULAÇÃO

ELÉCTRICA A USAR

Antes da aplicação dos eléctrodos é importante rapar o pêlo da área a ser

tratada com o propósito de melhorar a condutibilidade (Clark & McLaughlin, 2001;

Baxter & McDonough, 2007), e segundo uns autores deve-se humedecer a área com

água ou álcool (Bockstahler et al, 2004), segundo outros é preferível usar água e

sabão, evitando o álcool (Baxter & McDonough, 2007).

Segundo Merrick (1993) citado por Clark & McLaughlin (2001) têm sido

observados melhores resultados quando a NMES é usada em conjunto com

crioterapia superficial e pensos compressivos.

Existem diversos tipos de estimulação e o importante é saber seleccionar o

ideal a cada animal, dependendo do tratamento pretendido (Quadro 6).

Tipo de estimulação Localização dos eléctrodos

Estimulação local Directamente na área da dor.

Estimulação do nervo periférico

Um directamente na área da dor o outro numa

área próxima, em nervos localizados perto da

superfície da pele.

Estimulação segmentaria

(Figura 53)

Directamente sobre a raiz nervosa do segmento

espinal correspondente, enervar o músculo alvo

através do nervo.

Estimulação muscular

Um directamente sobre o ponto motor (área

onde o nervo motor entra no músculo) do

músculo alvo e o outro na inserção do músculo.

Quadro 6. Local de colocação dos eléctrodos dependendo do tipo de estimulação (Adaptado de Bockstahler et al, 2004).

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Os eléctrodos devem ser colocados no sentido contrário ao crescimento do

pêlo e uma vez colocados podem ser fixados com uma faixa de velcro (Bockstahler

et al. 2004) ou pelo próprio terapeuta, o que permite um maior controlo da

intensidade das ondas. Assim que é encontrado o local ideal para a colocação dos

eléctrodos é importante marcar a zona de fixação de alguma forma para em cada

tratamento usar o mesmo local (Clark & McLaughlin, 2001; Baxter & McDonough,

2007) (Figura 54).

Os parâmetros de estimulação como intensidade, frequência e duração

devem ser ajustados a cada animal, de acordo com o tipo e gravidade da doença e a

resposta ao tratamento. A resposta do animal deverá ser avaliada durante e no fim

da sessão.

Em termos gerais, em situações de condição aguda é aconselhado o uso de

correntes de baixa intensidade. É importante manter a um nível imediatamente

abaixo da reacção do animal e aumentar a intensidade do estímulo até que o animal

reaja, através de inquietação, salivação, e voltar a diminuir até a reacção

desaparecer.

Figura 53. Estimulação segmentária, cada área do corpo pode ser tratada numa área específica (da mesma cor) bilateral à coluna (Adaptado de Bockstahler et al.,2004).

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Figura 54. Apresentação de diferentes áreas de tratamento (vermelho) e respectivas áreas de aplicação dos eléctrodos, bilateral é coluna (azul). a) Anca (L2 – S1); b) Joelho (L3 – S1); c) Tarso (L4 - S1); d) Ombro (C4 – C7); e) Cotovelo (C6 – Th1); f) Carpo (C7 – Th2) (Adaptado de Bockstahler et al., 2004).

a) b)

c) d)

e) f)

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5.5.5. ESTIMULAÇÃO ELÉCTRICA NERVOSA TRANSCUTÂNEA (TENS)

A TENS é utilizada em situações de dor aguda e crónica, já que possibilita

por diferentes vias a sua diminuição (Bockstahler et al., 2004; Baxter & McDonough,

2007; Sawaya, 2007). A modulação da dor é possível, segundo a teoria de controlo

da dor de Melzack e Wall de 1965, “gate control theory” (Bockstahler et al., 2004;

Bockstahler, 2006; Sawaya, 2007) ou então pela libertação de substâncias

endógenas como endorfinas e encefalinas (Sawaya, 2007).

Existem diferentes métodos para a realização de TENS, sendo o mais

comum, o baseado na teoria de controlo da dor, utilizando altas frequências (50-

150Hz) e baixas intensidades (Bockstahler et al., 2004). A utilização de correntes de

baixa frequência (2-4Hz) e de alta intensidade que permite a libertação de

endorfinas (Bockstahler et al., 2004). Existe ainda a possibilidade de realizar

impulsos de corrente com altas frequências (40-150 Hz) e de intensidade superior à

técnica anterior (Bockstahler et al., 2004). A realização de uma terapia TENS

alternando os valores de intensidade, frequência e duração permite evitar que o

animal se habitue ao tratamento e que deixe de haver resposta ao mesmo

(Bockstahler et al., 2004).

A colocação de eléctrodos é feita sobre a articulação afectada (medial e

lateralmente) ou ao longo dos músculos dorsais de forma transversal ou longitudinal,

mediante a região dolorosa (Bockstahler et al., 2004).

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5.6. MÉTODOS ALTERNATIVOS

Têm como objectivo recuperar a homeostase de todo o organismo,

proporcionando condições óptimas para a recuperação funcional do tecido. A

doença em alguns animais é progressiva de tal forma que os clientes podem

procurar tratamentos alternativos (Innes, 2006).

5.6.1. ACUPUNCTURA

Segundo alguns autores a acupunctura (acus = agulha e pungere = picar ou

puncionar) pode ser definida como um método de tratamento da Medicina

Tradicional Chinesa que envolve a inserção de agulhas muito finas em pontos pré-

estabelecidos (meridianos) no corpo de um indivíduo a tratar, de modo a produzir

uma determinada reacção fisiológica (Moiron, 2002; Tilghman, 2005; Joaquim,

2009).

Faz parte das mais antigas técnicas de cura médica existentes no ramo da

Medicina. Acredita-se que há cerca de 7000 anos atrás tenha existido uma terapia

semelhante na Índia. No Oriente foi usada durante milhares de anos como

modalidade profiláctica e terapêutica. Nestes tempos eram usadas agulhas de pedra

e espinhas de peixes. Após a Idade da Pedra a tecnologia foi evoluindo para bambu,

jade, cobre, ferro, ouro e prata e na actualidade usa-se aço inoxidável e/ou

combinações de metais. A acupunctura veterinária é quase tão antiga quanto a

acupunctura em si (Moiron, 2002). Na actualidade todas informações publicadas

provêm da França, Bélgica, Áustria; República da China, China e EUA. Embora se

tenha dúvidas que a acupunctura teve origem na China essas dúvidas desaparecem

na certeza de terem sido os chineses a sistematizá-la. Até a Sociedade Internacional

de Acupunctura Veterinária se fundar em 1974 os veterinários só podiam aprender

acupunctura viajando para a China, e muitos foram os que viajaram.

De acordo com a filosofia médica da China antiga, a acupunctura permite a

cura por restabelecer o equilíbrio da energia do corpo, uma vez que a doença é o

resultado de um desequilíbrio dessa energia. Segundo a ciência ocidental, e de

acordo com os pontos usados, a acupunctura induz a libertação de certas hormonas,

como o cortisol, ou de substâncias analgésicas como endorfinas (analgésico

endógeno) e serotonina, estimula nervos, aumenta a circulação sanguínea de

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a)

b)

c)

diversos órgãos e induz vários mecanismos anti-inflamatórios. Apesar de alguns dos

efeitos fisiológicos da acupunctura já terem sido várias vezes estudados e serem

bem conhecidos, existem outros que ainda não são fáceis de explicar à luz da

medicina ocidental (Pereira, 2007).

A acupunctura veterinária tornou-se conhecida pelo uso de agulhas na

estimulação de pontos de acupunctura com o intuito de aliviar a dor ou aliviar a

função dos vários sistemas do corpo de um animal (Figura 55). Contudo a

estimulação por agulhas é apenas mais uma técnica de acupunctura entre muitas,

como a estimulação por calor ou frio, acupressão (pressão com os dedos), ultra-

sons, laser, aquapunctura, electroacupunctura, implantação e fitoterapia.

Figura 55. Acupunctura veterinária. a) (Adaptado de Anónimo 7, s/d); b) (Adaptado de Pereira,2007); c) (Adaptado de Anónimo 10, s/d).

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5.6.1.1. INDICAÇÕES

A acupunctura está indicada em patologias mais comuns da Medicina

Veterinária como o alívio da dor (aguda e/ou crónica), afecções motoras dos

membros anteriores, paralisia e paresia dos membros posteriores e a indução de

respostas nervosas autónomas. E de lesões músculo-esqueléticas degenerativas

e/ou da coluna vertebral; patologias dérmicas, respiratórias, reprodutivas e do tracto

gastrointestinal; geriatria (medicina preventiva e qualitativa) e em casos de

alterações de comportamento (Moiron, 2002; Tacke & Henke, 2004; Anónimo 6, s/d;

Pereira, 2007; Souvlis, 2007).

5.6.1.2. CONTRA-INDICAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS

A principal contra-indicação em causa é o iniciar um tratamento sem

diagnóstico correctamente estabelecido ou mesmo sem determinar qual a

verdadeira etiologia (Moiron, 2002). Isto porque a acupunctura pode mascarar ou

modificar a sintomatologia (dor e problemas neurológicos, por exemplo) dificultando

ainda mais a precisão do diagnóstico. Existem situações em que é necessário ter

alguns cuidados e outros em que deve ser evitada, tais como após uma refeição

pesada, após uma sessão de exercício físico intenso, em animais exaustos, em

fêmeas gestantes e em animais que tenham sido receitados corticoesteroides e

atropina (Moiron, 2002).

A experiência profissional neste método de fisioterapia é um parâmetro

valioso para evitar possíveis consequências. Contudo podem ocorrer e o mais

frequente é o agravamento do problema, principalmente em casos dolorosos.

Normalmente é de curta duração, cerca de 24 a 48 horas. Pode dever-se a uma

aplicação excessiva de estimulação, selecção de pontos errados, escolha de pontos

excessiva ou mesmo pelo tempo em que as agulhas são mantidas em contacto com

a pele (Moiron, 2002).

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6. ASPECTOS ECONÓMICOS DA FISIOTERAPIA

Como já foi possível confirmar anteriormente, para além dos benefícios da

fisioterapia nos animais, no que diz ao controlo da dor e à aceleração da

recuperação, esta também apresenta benefícios para os hospitais/clínicas. Contudo

apesar de hoje em dia já ser mais aceite ainda são poucos os hospitais/clínicas que

a praticam. Assim sendo um hospital/clínica que ofereça serviços de reabilitação no

pós-operatório e fisioterapia terá vantagens sobre outras clínicas, receberá casos

encaminhados de outras clínicas, proporcionará os melhores e mais variados

métodos de tratamento, transparecerá uma boa imagem. Deste modo agradando

aos clientes, tornando-os féis á clínica e que comentem entre colegas/amigos a

variedade e qualidade dos serviços, será uma referência para clientes e clínicas

(Bockstahler, 2004).

Os investimentos podem ser onerosos contudo para começar podem ser

usados equipamentos mais baratos e evoluir de acordo com os resultados que se

obtiver, como a adesão, a gratificação e a satisfação dos proprietários. Por exemplo

a crioterapia e aplicações de frio, as massagens e os exercícios terapêuticos são

métodos com eficácia comprovada que não exigem um grande investimento e

podem ser aplicados em pacientes com problemas ortopédicos e neurológicos. Os

tratamentos de estimulação eléctrica podem não só ser utilizados na clínica mas

também alugados ao proprietário para realizar a terapia em casa sendo uma forma

de rentabilizar o dinheiro investido (Bockstahler, 2004). As horas que são

dispendidas com o animal, com o plano de tratamento instituído, os métodos

realizados e sua frequência são serviços que podem ser cobrados (Bockstahler,

2004).

Muitos exercícios podem ser realizados por auxiliares ou enfermeiros

veterinários e estes até podem instruir os proprietários da forma de uso, porém o

médico veterinário é o responsável pelo animal e deve-se manter informado do seu

progresso. Os exercícios mais complicados, como a massagem mais profunda

(pétrissage), hidroterapia na passadeira sub-aquática, termoterapia com ultra-sons,

etc.) devem ser realizados no hospital/clínica para uns resultados mais eficazes,

transmitindo uma imagem mais profissional ao proprietário.

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7. CASOS CLÍNICOS

7.1. CASO CLÍNICO Nº1. “SHUMI”

7.1.1. IDENTIFICAÇÃO

Raça: Fox Terrier Pêlo Curto;

Sexo: Masculino;

Data de Nascimento: 30 de Maio de 1998;

Peso: 11.5 Kg;

Não castrado.

7.1.2. DIAGNÓSTICO

O Shumi (Figura 56) é um canídeo com aproximadamente 12 anos de idade,

com vacinação e desparasitação em dia. Veio referido da Clínica Veterinária das

Infías (em Braga) no dia 20 de Abril de 2010 para o HVM devido à presença de

défices proprioceptivos nos membros posteriores, com o propósito de realização de

mielografia com suspeita de hérnia discal.

Procedeu-se então à avaliação clínica do Shumi, com o intuito de conhecer o

caso minuciosamente de modo a poder obter um resultado positivo na sua

resolução. Logo após a actualização do caso foram estabelecidos os parâmetros

pré-anestésicos, Perfil Bioquímico (Quadro 7) e Hemograma (Quadro 8).

Valores Obtidos Valores de Referência

Glicose 86 74mg/dl (60-120)

Creatinina 0.5 1.0mg/dl (0.6-2.0)

GPT (ALT) 501 U/L (9-90)

Fosfatase Alcalina 3146 U/L (29-250)

BUN 21.1 mg/dl (9-30)

Legenda: GPT (ALT) – Transaminase glutâmic-pirúvica ou alanina aminotransferase; BUN – Concentração de ureia no sangue.

Quadro 7. Padrão Bioquímico do Shumi (Adaptado de HVM, 2010).

Figura 56. Shumi.

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Valores Obtidos Valores de Referência

Hematies 6.19 mill./ul (5.5-8.5)

Hematócrito 42.1 % (35-55)

Hemoglobina 15.6 g/dl (10-18)

VCM 68.1 fl (58-73)

HCM 25.2 pg (19-25)

CHCM 37 g/dl (28-40)

Leucócitos 10.98 mil. (6.0-17.0)

Neutrófilos 7.67 G 3-11.5

Linfócitos 2.99 1-4.8

Monócitos 0.32 0.2-1.3

Plaquetas 371 mil. (120-550)

Através destes parâmetros é possível descartar possíveis afecções

infecciosas, inflamatórias, e metabólicas que possam despoletar esta sintomatologia.

Com é possível verificar pelos Quadros 7 e 8 verifica-se uma alteração a nível

hepático (corrigido posteriormente) mas nada capaz de provocar estes sintomas.

Efectuou-se então a mielografia, ainda dia 20 de Abril. Pelas imagens

radiográficas (Figura 57) tiradas posteriormente à mielografia foi possível verificar a

presença de uma interrupção do líquido de contraste a nível T12 - T13, compatível

com uma hérnia discal toracolombar.

Foi então exposta a situação do Shumi aos proprietários propondo uma

hemilaminectomia de descompressão medular a nível torácico (T12 - T13) e

explicando que a recuperação poderá não ser fácil. A cirurgia foi realizada no dia 21

de Abril.

Legenda: VCM – Volume Corpuscular Médio; HCM – Hemoglobina Corpuscular Média; CHCM – Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média.

Quadro 8. Hemograma do Shumi (Adaptado de HVM, 2010).

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a)

b)

Figura 57. Raio X de contraste do Shumi. a) e b).

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7.1.3. PLANO FISIOTERAPÊUTICO DURANTE O INTERNAMENTO

Após a hemilaminectomia foi instituído um plano fisioterapêutico (Quadro 9).

Existe um plano fisioterapêutico base já elaborado para aplicar em situações

traumatismos medulares, o qual sofreu alterações de modo a adaptar às

necessidades do Shumi.

Este plano consiste em três sessões diárias de fisioterapia, que podem

demorar desde 30 a 60 minutos cada, dependendo do exercício.

Iniciou-se a fisioterapia com aplicações de frio (saco de gelo, por exemplo)

nas primeiras 48 horas, e aplicações de calor (botija de água quente, por exemplo)

Dia/Hora 10:00 15:00 21:00 23-Abr Frio (15') Frio (15') Frio (15')

24-Abr Frio (15') Frio (15') Frio (15')

25-Abr Calor (10') Calor (10') Calor (10')

Exercício Passivo (10')

26-Abr Calor (10') Calor (10') Calor (10')

Exercício Passivo (10') Exercício Passivo (10')

27-Abr Massagem (15') Massagem (15')

Exercício Passivo (10') Exercício Passivo (10') Exercício Passivo (10')

28-Abr Massagem (15') Massagem (15') Exercício Activo Exercício Activo Exercício Activo

29-Abr Exercício Activo Exercício Activo Exercício Activo

30-Abr Exercício Activo Exercício Activo Exercício Activo

01-Mai Exercício Activo Exercício Activo Exercício Activo

02-Mai Exercício Activo Exercício Activo Exercício Activo

03-13 Mai Calor (10') Exercício Activo Electroestimulação (10’) Exercício Activo

Quadro 9. Plano pós-cirúrgico instituído no caso do Shumi (Adaptado de HVM, 2010).

Nota: O Exercício Passivo consiste em massagens suaves e técnicas para relaxar e fortalecer os músculos. O Exercício Activo consiste em caminhar assistido por toalha.

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nos dois dias seguintes, ambos revestidos por uma toalha para não estarem em

contacto directo com a sutura. Nos dias seguintes iniciou-se o exercício passivo

lentamente (Figura 58), com massagens suaves ao longo da fisioterapia (dias)

aplicando mais força nas massagens com técnicas de flexão e extensão.

Aproximadamente uma semana após a cirurgia introduziu-se o exercício activo, com

caminhadas apoiadas pelo auxílio de uma toalha.

O Shumi foi evoluindo lentamente sempre com um atraso maior no membro

posterior esquerdo, e em concordância com os proprietários iniciou-se o método de

estimulação eléctrica.

O plano instituido permitiu-lhe recuperar parcialmente os movimentos por

parte dos membros posteriores contudo sempre com um atraso no membro posterior

esquerdo, no qual ele sentia maior dificuldade em apoiar a face plantar de forma

correcta no chão tendo a tendência para arrastar a pata (Figura 59).

7.1.4. PLANO FISIOTERAPÊUTICO APÓS A ALTA

O Shumi teve alta dia 13 de Maio de 2010 com o compromisso por parte dos

donos de darem continuidade á fisioterapia em casa de acordo com o Quadro 10 e a

sua reabilitação ser acompanhada pela Clínica Veterinária das Infías, de onde veio

referido.

Figura 58. Shumi em fisioterapia, numa sessão de Exercício Passivo.

Figura 59. Shumi em fisioterapia, numa caminhada com o apoio da toalha.

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Massagens (2 a 3 vezes por dia)

� Escovagem no sentido do pêlo_15 vezes;

� Massagem superficial (movimentos circulares em direcção ao coração) _5 minutos;

� Massagem profunda (nas massas musculares com movimentos circulares em direcção ao

coração) _5 minutos;

� Movimentos passivos (nas articulações individuais e movimentos “bicicleta”, primeiro

movimentos curtos e depois “exagerados”_10 minutos;

� “Beliscar” os dedos e contrair o movimento da pata _10 vezes.

Passeios assistidos

� Com auxílio de uma toalha ou cachecol na zona abdominal_3 a 5 vezes por dia.

Passeios (com trela)

� Passear em zonas com diferentes pisos (ex: erva, cimento e areia);

� Andar em sentido transverso em rampas para ambos os lados.

Quadro 10. Plano fisioterapêutico do Shumi para casa. (Adaptado de HVM, 2010).

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7.2. CASO CLÍNICO Nº2. “MIRÓ”

7.2.1. IDENTIFICAÇÃO

Raça: Indeterminada;

Sexo: Masculino;

Data de Nascimento: 05 de Outubro de 2001;

Peso: 9.5 Kg;

Não castrado.

7.2.2. DIAGNÓSTICO

O Miró (Figura 60) é um canídeo de interior e exterior privado, com

aproximadamente 9 anos de idade, vacinação e desparasitação em dia. Tem história

crónica de problemas dermatológicos.

Apresentou-se dia 27 de Junho de 2010 numa consulta com um quadro de

tetraplegia com défices de propriocepção, mais marcados no lado esquerdo com

reflexos miotáticos e sensibilidade normais. Há cerca de 3 semanas atrás

apresentava um quadro de fraqueza dos membros posteriores, que veio a agravar.

No exame físico foi nítido a presença de algumas feridas de decúbito

(Figuras 61 e 62).

Figura 60. Miró.

Figura 62. Miró sem mobilidade, com apresentação de feridas de decúbito.

Figura 61. Ferida de decúbito.

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Quando se apresentou na consulta os proprietários traziam consigo um Raio

X Simples realizado na Clínica Veterinária de Infías (local de onde veio referido)

onde se podia verificar uma diminuição do espaço intervertebral L2 – L3 com

irregularidade das facetas articulares (Figura 63).

Após avaliação da situação do Miró foi necessário estabelecer parâmetros

pré-anestésicos para tirar dúvidas quanto à existência de qualquer afecção capaz de

despoletar tal sintomatologia. Quanto aos parâmetros de Bioquímica (Quadro 11) e

Hemograma (Quadro 12) apesar de se verificar uma alteração a nível hepático tudo

se encontra bem para prosseguir com o Miró para a realização da mielografia

(Figura 64).

Valores Obtidos Valores de Referência

Glicose 65 74mg/dl (60-120)

GPT (ALT) 93 U/L (9-90)

GOT (AST) 72.3 U/L (8-38)

Fosfatase Alcalina 1280 U/L (29-250)

a) b)

Legenda: GOT (AST) – Transaminase glutâmica oxalacética ou aspartato aminotransferase.

Quadro 11. Padrão Bioquímico do Miró (Adaptado de HVM, 2010).

Figura 63. Estreitamento do espaço intervertebral L2 – L3. a) e b).

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Valores Obtidos Valores de Referência

Hematócrito 35 % (35-55)

c) d)

b)

Quadro 12. Hemograma do Miró (Adaptado de HVM, 2010).

a)

Figura 64. Mielografia do Miró. a) Preparação da sala de cirurgia para a realização da mielografia; b) Recolha do líquido cefalorraquidiano; c) Recolha do líquido cefalorraquidiano para o teste de Pandy; d) Introdução do líquido de contraste.

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O resultado dos achados histológicos removidos durante a cirurgia e

posteriormente enviados para a anatomia patológica é sugestivo de osteomielite.

7.2.3. PLANO FISIOTERAPÊUTICO DURANTE O INTERNAMENTO

Após a saída dos resultados e cirurgia realizada (ainda no dia 27 de Junho)

foi instituído um plano fisioterapêutico (Quadro 13) adequado às necessidades do

Miró para uma mais rápida e eficaz recuperação, de modo a conseguir recuperar os

movimentos e voltar a ter uma vida com qualidade.

Dia/Hora 10:00 15:00 21:00 28-Jun Frio (15') Frio (15') Frio (15')

29-Jun Frio (15') Frio (15') Frio (15')

30-Jun Calor (10') Calor (10') Calor (10')

Exercício Passivo (10') Exercício Passivo (10')

01-Jul Calor (10') Calor (10') Calor (10')

Exercício Passivo (10') Exercício Passivo (10') Exercício Passivo (10')

02-Jul Massagem (15') Massagem (15')

Exercício Passivo (10') Exercício Passivo (10') Exercício Passivo (10')

03-Jul Massagem (15') Massagem (15')

Exercício Passivo (10') Exercício Passivo (10') Exercício Passivo (10')

04-Jul Massagem (15') Massagem (15') Exercício Activo Exercício Activo Exercício Activo

05-Jul Exercício Activo Exercício Activo Exercício Activo

06-Jul Exercício Activo Exercício Activo Exercício Activo

07-Jul Exercício Activo Exercício Activo Exercício Activo

Quadro 13. Plano pós-cirúrgico instituído no caso do Miró (Adaptado de HVM, 2010).

Nota: O Exercício Passivo consiste em massagens suaves e técnicas para relaxar e fortalecer os músculos. O Exercício Activo consiste em caminhar assistido por toalha.

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Este plano consiste em três sessões diárias de fisioterapia, que podem

demorar desde 1 hora a 1 hora e 40 minutos cada, dependendo do exercício. O seu

plano consiste nas primeiras 48 horas após a cirurgia na aplicação de frio (através

de um saco de gelo, por exemplo), no 3º e 4º dia passa-se a aplicações de calor (por

exemplo através de uma botija de água quente) ambas sempre protegidas por uma

toalha para não estarem directamente em contacto com a sutura. Ao terceiro dia

deu-se início a exercícios passivos, com massagens suaves ao principio e aplicando

mais força nas massagens com técnicas de flexão e extensão.

No caso de Miró ao sétimo dia já foi possível começar com as caminhadas

auxiliadas por uma toalha.

A fisioterapia no caso do Miró foi fundamental para a sua recuperação

devido a tetraplegia apresentada anteriormente á cirurgia. Este respondeu bastante

bem às sessões de fisioterapia recuperando a mobilidade rapidamente.

7.2.4. PLANO FISIOTERAPÊUTICO APÓS A ALTA

Uma vez a responder bastante bem, a fazer as sessões sem qualquer

dificuldade foi lhe dado alta 10 dias após o inicio do plano. Em casa iniciou sobre

compromisso dos proprietários, um plano fisioterapêutico (Quadro 14).

No caso do Miró não se utilizou a estimulação eléctrica como método

auxiliar à recuperação uma vez ter recuperado de forma bastante positiva e sem

essa ajuda, contudo foi pedido aos proprietários que o trouxessem a uma consulta

de controlo uma semana depois para uma avaliação à necessidade de estimulação

eléctrica.

Massagens (2 a 3 vezes por dia)

� Escovagem no sentido do pêlo_15 vezes;

� Massagem superficial (movimentos circulares em direcção ao coração) _5 minutos;

Quadro 14. Plano fisioterapêutico do Miró para casa. (Adaptado de HVM, 2010).

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� Massagem profunda (nas massas musculares com movimentos circulares em direcção ao

coração) _5 minutos;

� Movimentos passivos (nas articulações individuais e movimentos “bicicleta”, primeiro

movimentos curtos e depois “exagerados”_10 minutos;

� “Beliscar” os dedos e contrair o movimento da pata _10 vezes.

Passeios assistidos

� Com auxílio de uma toalha ou cachecol na zona abdominal_3 a 5 vezes por dia.

Passeios (com trela)

� Passear em zonas com diferentes pisos (ex: erva, cimento e areia);

� Andar em sentido transverso em rampas para ambos os lados.

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7.3. CASO CLÍNICO Nº3. “SPOTTY”

7.3.1. IDENTIFICAÇÃO

Raça: Basset Hound;

Sexo: Masculino;

Data de Nascimento: 07 de Julho de 2004;

Peso: 30 Kg;

Não castrado.

7.3.2. DIAGNÓSTICO

O Spotty (Figura 65) é um Basset Hound de aproximadamente 6 anos com

cerca de 30 Kg com vacinação e desparasitação em dia. Dia 19 de Julho de 2010

apresentou-se no HVM numa consulta de urgência com quadro de tetraparesia,

segundo a dona tudo começou há uma semana atrás com o claudicar do membro

posterior direito, contudo apenas no dia 19 de Julho (apresentação á consulta) se

verificou a perda total da mobilidade, poucas horas antes da consulta. Procede-se

então á realização do exame neurológico no qual se verifica alterações ao nível do

neurónio motor superior (MNS) nos quatro membros mas maior hiperestesia no

membro anterior direito e exames hematológicos para descartar possíveis afecções

capazes de exibir esta sintomatologia. Como é possível confirmar pelos Quadros 15

e 16 tudo se encontra dentro dos valores de referência.

Valores Obtidos Valores de Referência

Glicose 71 74mg/dl (60-120)

Ureia 24 mg/dl (24-72)

Creatinina 0.5 1.0mg/dl (0.6-2.0)

GPT (ALT) 40 U/L (9-90)

Fosfatase Alcalina 62 U/L (29-250)

Quadro 15. Padrão Bioquímico do Spotty (Adaptado de HVM, 2010).

Figura 65. Spotty.

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Valores Obtidos Valores de Referência

Hematies 8.61 mill./ul (5.5-8.5)

Hematócrito 55.3 % (35-55)

Hemoglobina 18.4 g/dl (10-18)

VCM 64.3 fl (58-73)

HCM 21.3 pg (19-25)

CHCM 33.2 g/dl (28-40)

RDW 9.8 % (10-14)

Leucócitos 8.33 mil. (6.0-17.0)

Neutrófilos 5.80 3-11.5

Linfócitos 2.29 1-4.8

Monócitos 0.24 0.2-1.3

Plaquetas 143 mil. (120-550)

Já estabelecidos os parâmetros pré-anestésicos prossegue-se com a

mielografia (Figuras 66 e 67).

Legenda: RDW – Percentagem de anisocitose de hemácias.

Quadro 16. Hemograma do Spotty (Adaptado de HVM, 2010).

Figura 66. Recolha de Líquidocefalorraquidiano.

Figura 67. Imagem radiográfica da mielografia.

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Quanto ao líquido cefalorraquidiano este encontrava-se normal. Em relação

às sequências radiográficas tiradas após a mielografia estas revelaram a existência

de uma área de instabilidade entre C6-C7. No dia seguinte, 20 de Julho segue-se

com a hemilaminectomia.

7.3.3. PLANO FISIOTERAPÊUTICO DURANTE O INTERNAMENTO

Foi instituído um plano fisioterapêutico para a recuperação do Spotty

(Quadro 17). Foi analisado o plano base em situações de traumatismo medular e

estudado quais seriam os melhores métodos de fisioterapia capazes de satisfazerem

as necessidades da sua recuperação.

Dia/Hora 10:00 15:00 21:00

22-Jul Frio (15') Frio (15') Frio (15')

23-Jul Frio (15') Frio (15') Frio (15')

24-Jul Calor (10') Calor (10') Calor (10')

Exercício Passivo (10’) Exercício Passivo (10')

25-Jul Calor (10') Calor (10') Calor (10')

Exercício Passivo (10') Exercício Passivo (10') Exercício Passivo (10')

26-Jul Massagem (15') Massagem (15')

Exercício Passivo (10') Exercício Passivo (10') Exercício Passivo (10')

27-Jul Massagem (15') Massagem (15') Massagem (15')

Exercício Passivo (10') Electroestimulação (10’) Exercício Passivo (10')

28-Jul Massagem (15’) Massagem (15’) Massagem (15’)

Exercício Passivo (10') Electroestimulação (10’) Electroestimulação (10’)

29-Jul Massagem (15’) Massagem (15’) Massagem (15’)

Exercício Passivo (10') Electroestimulação (10’) Exercício Passivo (10')

Quadro 17. Plano pós-cirúrgico adequado às necessidades do Spotty (Adaptado de 2010).

Nota: O Exercício Passivo consiste em massagens suaves e técnicas para relaxar e fortalecer os músculos. O Exercício Activo consiste em caminhar assistido por toalha.

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O plano consiste em três sessões diárias onde se incorporaram sessões de

estimulação eléctrica (Figura 68).

Como em todas as fisioterapias iniciou-se o plano com aplicações de frio

(Figura 69) seguido de aplicações com calor (botija de água quente, por exemplo)

revestidas com uma toalha para não estarem em contacto directo com a sutura.

Ao terceiro dia iniciou-se os exercícios passivos, com massagens suaves ao

principio e aplicando mais força nas massagens com técnicas de flexão e extensão,

no começo alternando com aplicações de calor e depois com massagens de modo a

ir preparando músculos para os exercícios.

Apesar do tratamento estar a ser realizado correctamente o Spotty não

recuperou como o esperado. Ao fim de alguns dias de massagens e exercício

passivo deveria já estar minimamente apto a realizar caminhadas com o auxílio de

uma toalha (exercício activo), porém não se verificou a evolução que seria normal.

O Spotty de facto não estava a reagir apenas com as massagens e o

exercício passivo, então decidiu-se iniciar com a estimulação eléctrica. Verificaram-

se algumas melhorias, não muito significativas em termos de movimentação, mas os

proprietários achavam-no muito mais entusiasmado.

Além do atraso que surgiu na sua recuperação este apresentava-se com

incontinência urinária, sendo necessária uma avaliação da bexiga e aplicar

Figura 69. Aplicação de frio, através de um saco de gelo revestido por uma toalha.

Figura 68. Aplicação de estimulação eléctrica no Spotty.

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compressão (Figura 70) ou mesmo utilizar o método de algaliação (Figura 71) em

certas alturas.

7.3.4. PLANO FISIOTERAPÊUTICO APÓS A ALTA

Em combinação com os proprietários a alta do Spotty deu-se dia 29 de

Julho. A sua recuperação não foi muito fácil, estava a evoluir muito lentamente e não

tinha recuperado totalmente a movimentação mas já se ia movendo sozinho. Apesar

de ainda não conseguir caminhar os proprietários optaram por o levar para casa e

comprometeram-se eles próprios a continuar a fisioterapia. A situação de micção já

estava resolvida contudo foi recomendado uma vigília quanto a essa situação e caso

ele não urinasse por ele próprio para realizarem compressão da bexiga. O plano

enviado para casa foi o ilustrado pela Quadro 18.

Massagens (2 a 3 vezes por dia)

� Escovagem no sentido do pêlo_15 vezes;

� Massagem superficial (movimentos circulares em direcção ao coração) _5 minutos;

� Massagem profunda (nas massas musculares com movimentos circulares em direcção ao

coração) _5 minutos;

� Movimentos passivos (nas articulações individuais e movimentos “bicicleta”, primeiro

movimentos curtos e depois “exagerados”_10 minutos;

Quadro 18. Plano fisioterapêutico do Spotty em casa. (Adaptado de HVM, 2010).

Figura 71. Algaliação no Spotty. Figura 70. Compressão vesical no Spotty.

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� “Beliscar” os dedos e contrair o movimento da pata _10 vezes.

Passeios assistidos

� Com auxílio de uma toalha ou cachecol na zona abdominal_3 a 5 vezes por dia;

� Se não urinar comprimir a bexiga_2 vezes por dia.

Passeios (com trela)

� Passear em zonas com diferentes pisos (ex: erva, cimento e areia);

� Andar em sentido transverso em rampas para ambos os lados.

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8. CONCLUSÃO

A Medicina Veterinária já há vários anos tem registado grandes progressos

no diagnóstico e tratamento das perturbações de locomoção, tanto ao nível médico

como cirúrgico. Uma cirurgia bem sucedida é meio caminho andado para um bom

resultado num paciente em recuperação. Com taxas de sucesso bastante elevadas,

a fisioterapia em animais afirma-se cada vez mais como um recurso de excelência,

não invasivo, para restaurar a mobilidade. A falta de formação e de regulamentação

não demove os que a praticam, e acreditam que permite recuperações mais rápidas,

com menos dor e menor número de complicações. Por outro lado acredita-se que o

sucesso da fisioterapia vá depender do tipo e localização da lesão, da sua

antiguidade e gravidade. Além de depender do animal (se é cooperante ou não)

outro parâmetro também ele importante e fulcral para a confirmação do sucesso é a

expectativa dos proprietários. É muito importante que os proprietários mantenham

uma boa relação com o clínico. É também essencial que sejam mantidos a par de

todas as etapas da recuperação do seu animal e que posteriormente confiem e

acreditem na equipa e no tratamento, de forma a regressarem com o animal aos

exames regulares e á realização de novas sessões de fisioterapia.

O estágio curricular foi de grande importância na evolução da aprendizagem,

permitiu-me aplicar a teoria adquirida durante os 3 anos de curso e ganhar alguma

experiência para enfrentar os desafios seguintes. A área da fisioterapia e

reabilitação sempre foi do meu interesse e curiosidade, é muito gratificante poder

auxiliar e acompanhar o paciente durante a sua reabilitação, criar laços com o

mesmo e ajudá-lo na recuperação da mobilidade. É gratificante nós os enfermeiros e

médicos veterinários sermos responsáveis pela recuperação da qualidade de vida

de um paciente animal. Sabia da existência da fisioterapia em veterinária contudo

desconhecia o avanço da tecnologia nesta vertente em animais. É bom saber que

aos pouco e pouco nos vamos interessando mais pela reabilitação dos nossos

animais, e que exista quem procure obter formação nesta área. Por agora não é

uma tarefa fácil uma vez ainda não haver qualquer regulamentação e modos de

formação no nosso país, mas acredito que mais algum tempo chegue a Portugal. Foi

importante reconhecer a importância do papel do(a) enfermeiro(a) veterinário(a)

nesta área tão importante da Medicina Veterinária. Temos um papel tão fundamental

como o controlo da dor.

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Quanto ao quem pode ou não praticar fisioterapia em animais, ainda é uma

questão, é um assunto polémico. Ainda não existe qualquer regulamentação em

Portugal que defina quem pode ou não actuar nesta área. Em Portugal os

fisioterapeutas a intervir em animais não têm a seu dispor nenhum tipo de formação

(pós-graduação ou mestrado) na área. Ao contrário do Reino Unido que já possui

um curso de pós-graduação de Fisioterapia em Animais dirigido a fisioterapeutas

através da Association of Chartered Phyiotherapists in Animal Therapy.

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ANEXO A

TABELA DOS ANALGÉSICOS MAIS USADOS EM CÃES E GATOS

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ANEXO A.1. Lista de analgésicos mais usados em cães de gatos.