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PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE BIOCOMPÓSITOS DE POLI(3- HIDROXIBUTIRATO-CO-3-HIDROXIVALERATO) (PHBV)/RESÍDUO DA PRODUÇÃO DE FÉCULA DE MANDIOCA Flávia Rocha Drummond Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Materiais da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientadores: Rossana Mara da Silva Moreira Thiré Paulo Henrique Machado Cardoso Rio de Janeiro Fevereiro de 2016

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PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE BIOCOMPÓSITOS DE POLI(3-

HIDROXIBUTIRATO-CO-3-HIDROXIVALERATO) (PHBV)/RESÍDUO DA

PRODUÇÃO DE FÉCULA DE MANDIOCA

Flávia Rocha Drummond

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia de Materiais da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientadores: Rossana Mara da Silva

Moreira Thiré

Paulo Henrique Machado

Cardoso

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2016

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Drummond, Flávia Rocha

Produção e Caracterização de Biocompósitos de

Poli(3-hidroxibutirato-co-3-hidroxivalerato) (PHBV) /

Resíduo da Produção de Fécula de Mandioca / Flávia Rocha

Drummond – Rio de Janeiro: UFRJ / ESCOLA

POLITÉCNICA, 2016.

ix, 44, p.: il.; 29,7 cm

Orientadores: Rossana Mara da Silva Moreira Thiré

Paulo Henrique Machado Cardoso

Projeto de Graduação – UFRJ / Escola Politécnica /

Engenharia de Materiais, 2016.

Referências Bibliográficas: p. 39-44

1. PHBV. 2. Resíduo da produção de fécula de mandioca. 3.

Biocompósitos. 4. Polímeros biodegradáveis, I. Thiré,

Rossana Mara da Silva Moreira et al. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Engenharia de Materiais

III. Título.

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Agradecimentos

Primeiramente, gostaria de agradecer aos meus orientadores Rossana Thiré e Paulo

Henrique Cardoso por me orientar, ensinar e aconselhar, por toda atenção, apoio e paciência,

pela amizade e carinho e por acreditarem em mim.

Aos meus pais, Cláudia Rocha e Carlos Augusto Drummond, ao meu irmão, Caio

Augusto Drummond, e à minha avó, Luci Rocha, pelo amor, presença e apoio nas minhas

escolhas.

À minha família pelo carinho e apoio.

À minha amiga, Ingrid Rohde, por sempre estar presente na minha vida e pela

amizade.

Aos amigos que fiz na graduação, Beatriz Akel, Bianca Gomes, Larissa Gouvêa,

Paula Orduña, Taís Lemos, Daniel Salvio, Felipe Cristaldi, Gil Fernandes, Guilherme

Londres, Matheus Berlandi, Pietro Consentino e Ana Carolina do Monte, por todos os

estudos, amizade e festas que passamos juntos.

À amiga que o intercâmbio me deu, Isabel de Oliveira, pela longa jornada lá fora e

pela amizade aqui no Brasil.

Aos meus colegas do laboratório de Biopolímeros Marianna Oliveira e Dahyna

Iribarren pela convivência e pelas conversas no almoço.

Ao professor Célio Costa Neto, pela utilização da prensa no Laboratório de Análises

Químicas e Processamentos Cerâmicos e à professora Renata Simão, pela utilização do

homogeneizador no Laboratório de Superfícies Poliméricas e Asfálticas.

Aos professores da graduação de Engenharia de Materiais, que contribuíram com o

meu aprendizado ao longo do curso e que, de alguma forma, com a realização deste projeto.

Em especial ao professor Ericksson Almendra, que foi um excelente orientador acadêmico.

Aos técnicos do Laboratório Multiusuário de Caracterização de Materiais por todas as

amostras analisadas.

À professora Verônica Calado e aos técnicos do LABTER pelas análises de TGA.

Aos bolsistas e técnicos que me ajudaram a realizar as análises necessárias para este

trabalho. Em especial ao aluno de doutorado Agmar José, por toda atenção e ajuda.

À EMBRAPA, por ceder o material deste trabalho.

A todos que torceram por mim e que me deram força.

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E, por fim, mas muito importante, ao meu namorado e melhor amigo, Luis Fernando

Iglésias, que me acompanhou desde o primeiro momento de faculdade e que sempre esteve

presente ao longo dessa jornada em todos os momentos e de todas as formas.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Materiais.

PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE BIOCOMPÓSITOS DE POLI(3-

HIDROXIBUTIRATO-CO-3-HIDROXIVALERATO) (PHBV)/RESÍDUO DA

PRODUÇÃO DE FÉCULA DE MANDIOCA

Flávia Rocha Drummond

Fevereiro/2016

Orientadores: Rossana Mara da Silva Moreira Thiré

Paulo Henrique Machado Cardoso

Curso: Engenharia de Materiais

O PHBV é um polímero termoplástico, biodegradável e de fonte renovável, sendo uma

alternativa ao uso de polímeros sintéticos tradicionais, com o intuito de reduzir danos ao meio

ambiente. A produção de fécula de mandioca gera elevada quantidade de resíduo

(aproximadamente 93% de raiz processada) na etapa de separação do amido. O

aproveitamento deste resíduo é de grande importância devido à dificuldade de transporte e de

armazenamento e do detrimento causado ao meio ambiente com sua disposição errada. O

objetivo deste trabalho foi avaliar a possibilidade de aproveitamento deste resíduo como

reforço na produção por casting e por moldagem por compressão de biocompósitos com

matriz de PHBV. Esses biocompósitos foram caracterizados quanto às suas propriedades

físico-químicas e térmicas. Os resultados deste trabalho indicaram que foi possível produzir

os biocompósitos por ambas as técnicas e que o resíduo tem potencial para ser utilizado como

carga de enchimento de matriz de PHBV com formulação inferior a 6,25% m/m para

biocompósitos produzidos por casting, e que, por moldagem por compressão, a formulação

com 10% m/m seria a mais indicada, apesar de ter reduzido ligeiramente a estabilidade

térmica do polímero.

Palavras-chave: PHBV, resíduo da produção de fécula de mandioca, biocompósitos,

polímeros biodegradáveis.

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment or the

requirements for the degree of Materials Engineer.

PRODUCTION AND CARACTERIZATION OF BIOCOMPOSITES OF POLY (3-

HYDROXYBUTYRATE-CO-3-HYDROXYVALERATE) (PHBV)/RESIDUE OF

CASSAVA STARCH PRODUCTION

Flávia Rocha Drummond

Fevereiro/2016

Advisors: Rossana Mara da Silva Moreira Thiré

Paulo Henrique Machado Cardoso

Course: Materials Engineering

PHBV is a thermoplastic, biodegradable and derived from renewable source polymer, thus it

is an alternative to the use of traditional synthetic polymers to reduce the damage to the

environment. The production of cassava starch generates a high amount of cassava bagasse

(about 93% of processed root) in separation step of starch. The utilisation of this waste is

very important due to the difficult of transportation and storage, besides the detriment caused

to environment by its wrong disposal. The objective of this work was to evaluate the

possibility to use this bagasse as reinforcement in the production by casting and by

compression molding of biocomposites with PHBV matrix. The physical-chemical and

thermal properties of these biocompósitos were characterized. The results indicated it was

possible to produce biocomposites with both techniques. The residue can be used as filler in

PHBV matrix with formulation below 6,25% w/w to biocomposites produced by casting,

while those produced by compression molding, the formulation more suitable was 10% w/w,

despite it slightly reduced the thermal stability of the polymer.

Key words: PHBV, residue of cassava starch production, biocomposites, biodegradable

polymers.

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Sumário

1 Introdução .......................................................................................................................... 1

1.1 Objetivo ....................................................................................................................... 2

1.1.1 Objetivos específicos ........................................................................................... 2

2 Revisão Bibliográfica......................................................................................................... 3

2.1 Materiais biocompósitos ............................................................................................. 3

2.2 Matrizes Poliméricas biodegradáveis .......................................................................... 5

2.2.1 Polihidroxialcanoatos – PHAs ............................................................................. 6

2.3 Resíduo da Produção de Fécula de Mandioca (CFM) ................................................. 9

3 Materiais e Métodos ......................................................................................................... 12

3.1 Materiais .................................................................................................................... 12

3.2 Métodos ..................................................................................................................... 13

3.2.1 Produção de filmes de biocompósitos de PHBV/Resíduo da produção da fécula

de mandioca por casting .................................................................................................. 13

3.2.2 Produção de filmes de biocompósitos de PHBV/Resíduo da produção da fécula

de mandioca por moldagem por compressão ................................................................... 14

3.2.3 Caracterização dos biocompósitos e do resíduo da produção de fécula de

mandioca .......................................................................................................................... 16

4 Resultados e Discussões .................................................................................................. 18

4.1 Caracterização dos biocompósitos produzidos por casting....................................... 18

4.1.1 Espectroscopia no Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR) ........... 18

4.1.2 Difração de Raios X (DRX) ............................................................................... 21

4.1.3 Análise Termogravimétrica (TGA).................................................................... 23

4.1.4 Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC) ................................................... 26

4.2 Caracterização dos biocompósitos produzidos por moldagem por compressão ....... 28

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4.2.1 Espectroscopia no Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR) ........... 28

4.2.2 Difração de Raios X (DRX) ............................................................................... 30

4.2.3 Análise Termogravimétrica (TGA).................................................................... 31

4.2.4 Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC) ................................................... 34

5 Conclusões ....................................................................................................................... 36

6 Sugestões para Trabalhos Futuros ................................................................................... 38

7 Referências Bibliográficas ............................................................................................... 39

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1 Introdução

Anualmente, mais de 100 milhões de toneladas de polímeros são produzidas, sendo a

maioria proveniente do petróleo. Esta categoria de materiais está presente em todas as áreas,

desde utilidades domésticas, medicina e indústria aeroespacial (PITT et al., 2011). Estes

produtos, ao serem descartados no meio ambiente, demoram 100 anos em média para que sua

total decomposição ocorra, elevando a quantidade de lixo sólido na natureza (ROSA et al.,

2001).

Os polímeros biodegradáveis mostram-se como uma saída a esta questão, pois, quando

submetidos à ação de microorganismos, degradam-se em um curto período de tempo – de 6 a

12 meses em média – sem prejudicar o meio ambiente (COUTINHO et al., 2004).

Os polihidroxialcanoatos (PHAs) são uma classe de polímeros que se diferenciam dos

outros polímeros biodegradáveis devido ao fato de serem obtidos naturalmente por um amplo

número de bactérias pela fermentação de açúcares e lipídeos. Dos PHAs, o poli(3-

hidroxibutirato-co-3-hidroxivalerato) (PHBV) é um dos mais comuns desta classe e tem sido

largamente estudado (ANDERSON et al., 2013). Entretanto, sua instabilidade térmica no

estado fundido, dificuldade de processamento relativa, baixa taxa de cristalização, alto grau

de cristalinidade e baixo alongamento na ruptura, além do seu alto custo quando comparado a

polímeros convencionais, restringem seu uso para substituição de polímeros sintéticos

convencionais para algumas aplicações (THIRÉ et al., 2011). O preço de 1 Kg de PHA varia

de 1,50 a 5,00 €, enquanto o preço de 1 Kg de polipropileno varia de 0,20 a 0,40 €

(URTUVIA et al., 2014).

Como um recurso para minimizar o alto custo de produtos feitos de polímeros

biodegradáveis, uma carga natural pode ser utilizada para formulação de um biocompósito.

Assim, o custo é diminuído e as propriedades do material podem ser mantidas ou melhoradas.

Durante a etapa de separação do amido da fibra na produção de fécula de mandioca,

uma elevada quantidade de resíduo úmido (aproximadamente 93% de raiz processada) é

gerada. Este resíduo agroindustrial, se não descartado de maneira correta, pode apresentar

riscos ao meio ambiente. Os industriais das fecularias de mandioca também têm interesse e

necessidade de reaproveitar este resíduo, uma vez que estes encontram dificuldades no

armazenamento e no transporte, além da preocupação com o descarte (LEONEL &

CEREDA, 2000b).

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1.1 Objetivo

O objetivo deste estudo foi a produção e a caracterização de biocompósitos de poli(3-

hidroxibutirato-co-3-hidroxivalerato) (PHBV)/resíduo da produção de fécula de mandioca,

visando buscar uma alternativa para o aproveitamento deste resíduo agroindustrial.

1.1.1 Objetivos específicos

Produzir filmes de biocompósitos de PHBV/resíduo da produção da fécula de

mandioca com diferentes concentrações por casting;

Produzir filmes de biocompósitos de PHBV/resíduo da produção da fécula de

mandioca com diferentes concentrações por moldagem por compressão;

Caracterizar o resíduo da produção de fécula de mandioca e os filmes produzidos

quanto às suas propriedades térmicas e físico-químicas.

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2 Revisão Bibliográfica

2.1 Materiais biocompósitos

Compósitos são materiais heterogêneos – formados por dois ou mais componentes – e

multifásicos, onde as fases integrantes são química e fisicamente diferentes e uma interface

distinta as separa. As fases que compõem os compósitos são: a matriz, que é uma fase

contínua e que compreende a outra fase, nomeada fase dispersa ou descontínua. A

combinação das propriedades das fases constituintes, suas quantidades relativas e a geometria

da fase dispersa contribuem para a constituição das propriedades do compósito. O compósito

é separado em três divisões principais: reforçado com partículas, reforçado com fibras e

estruturais (CALLISTER, 2013, MARINUCCI, 2011).

Os compósitos reforçados com partículas são subdivididos em compósitos com

partículas grandes e compósitos reforçados por dispersão. No caso dos compósitos com

partículas grandes, as interações partícula-matriz não devem ser abordadas no nível ou ponto

de vista atômico ou molecular, sendo empregada a mecânica do contínuo. Uma grande

variedade de geometrias é possível para as partículas, contudo, elas precisam apresentar

dimensões aproximadas em todas as direções (CALLISTER, 2013).

Biocompósitos são constituídos de matrizes de polímeros biodegradáveis e de fases

descontínuas biodegradáveis, normalmente biofibras. Como ambos componentes são

biodegradáveis, espera-se que o compósito também seja biodegradável (AVEROUS &

BOQUILLON, 2004).

A seleção do processo de fabricação de um material compósito depende dos materiais

constituintes do compósito, sendo a matriz o principal constituinte a ser analisado (GIBSON,

2012). Deve-se considerar também a forma do produto final e as propriedades pretendidas

para que seu desempenho responda ao esperado.

Os processos de fabricação usados para compósitos dividem-se em processos de molde

aberto e processos de molde fechado. No processo de molde aberto, somente um molde é

necessário e apenas uma das faces da peça tem acabamento liso e uniforme, ao passo que, no

processo de molde fechado, um par de moldes é necessário e ambas as faces tem acabamento

liso (MARINUCCI, 2011).

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No caso de compósitos poliméricos, alguns dos métodos utilizados são: laminação

manual, pultrusão, moldagem por compressão, spray-up, casting, dentre outros (SANTOS &

TAVARES, 2013, MARINUCCI, 2011).

A técnica de casting (ou vazamento) é um método simples de moldagem descontínuo,

que pode ser usada para polímeros termoplásticos e termorrígidos. O processo baseia-se em

vazar uma solução viscosa do polímero em um molde, como exemplificado na Figura 1a

(MANO & MENDES, 2004). No caso de compósitos, a carga é adicionada à solução

polimérica.

O processo de moldagem por compressão é um método de moldagem descontínuo e

caracteriza-se pela utilização de prensa com moldes aquecidos. Nesta técnica, o material

amolecido ou fundido é comprimido dentro da cavidade do molde (MANO & MENDES,

2004). Este tipo de processamento permite uma elevada produtividade, reduzida mão-de-

obra, diminuição do desperdício de matérias-primas e acabamento liso em ambas as faces da

peça produzida. Entretanto, é necessário um alto investimento do equipamento, pois este deve

suportar pressões de até 14 MPa e temperaturas normalmente superiores a 150°C

(MARINUCCI, 2011). A Figura 1b exemplifica esta técnica.

No presente estudo, os biocompósitos fabricados foram reforçados com partículas

provenientes do resíduo da produção de fécula de mandioca, que se encaixam na subdivisão

de compósitos com partículas grandes, e foram produzidos por casting e por moldagem por

compressão.

Figura 1: Representação esquemática da técnica de: (a) casting (Adaptado de MANO &

MENDES (2004)); (b) moldagem por compressão.

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2.2 Matrizes Poliméricas biodegradáveis

A matriz em um compósito tem a função de conferir a forma geométrica, transferir a

força aplicada no compósito às fibras, manter a orientação e proteger a fase descontínua de

danos superficiais, contribuindo, assim, no controle de suas propriedades. Os materiais

usados como matrizes em compósitos podem ser polímeros, metais e cerâmicos (GIBSON,

2012, MARINUCCI, 2011).

Os polímeros são macromoléculas formadas pelo encadeamento de unidades repetitivas

ligadas entre si por ligação covalente (CANEVAROLO, 2006). A classificação dos polímeros

pode ser feita de diversas formas, sendo uma delas quanto à sua fusibilidade: em

termoplásticos e em termorrígidos (MANO & MENDES, 2004).

Termoplásticos são plásticos cujas ligações entre as cadeias poliméricas são

secundárias, como ligações de hidrogênio e Van der Waals. Quando submetidos a um

aumento de pressão e temperatura, estas ligações secundárias podem ser quebradas, tornando

o material fluido e moldável. Quando temperatura e pressão são retiradas, as ligações

secundárias são restauradas e o polímero solidifica-se com formas definidas. Se aumentos de

temperatura e pressão são aplicados novamente, o polímero sofre o mesmo efeito de

amolecimento e fluxo, sendo assim, portanto, um processo físico reversível, ou seja, é

reciclável (CANEVAROLO, 2006).

Termorrígidos, também conhecidos como termofixos ou polímeros em retículo, são

plásticos cujas cadeias poliméricas estão ligadas entre si por ligações primárias (ligações

cruzadas), que são formadas durante a reação de cura, dando origem a uma estrutura

tridimensional. Após a cura, aumentos de temperatura não modificam seu estado físico e

degradam o material. Trata-se, portanto, de um material insolúvel, infusível e não-reciclável.

Desta forma, a moldagem dos termorrígidos ocorre antes da cura (sem ligações cruzadas).

Estes polímeros são comumente utilizados como matrizes de compósitos estruturais

(MALLICK, 2007, CANEVAROLO, 2006).

Os polímeros definidos como biodegradáveis referem-se aos polímeros cuja degradação

resulta primariamente da ação de microorganismos de ocorrência natural, como, por

exemplo, algas, fungos e bactérias, gerando dióxido de carbono (CO2), água e biomassa na

presença de oxigênio (FRANCHETTI & MARCONATO, 2006). Os polímeros

biodegradáveis podem ser sintéticos, assim como policaprolactona (PCL), ou derivados de

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fontes renováveis, assim como o amido e os polihidroxialcanoatos (PHAs) (AVEROUS &

BOQUILLON, 2004).

2.2.1 Polihidroxialcanoatos – PHAs

Os polihidroxialcanoatos (PHAs) são uma família de biopoliésteres produzidos por

numerosos microorganismos a partir de uma variedade de substratos, incluindo açúcares e

ácidos graxos. Estes biopolímeros são sintetizados e armazenados como carbono intracelular

e como reserva energética no microorganismo sob limitação nutricional de nitrogênio,

fósforo, oxigênio ou depois de uma mudança de pH. Os PHAs acumulam-se em grânulos

citoplasmáticos e, uma vez que o nutriente limitado é fornecido à célula, estes compostos de

armazenagem de energia são degradados e utilizados como fonte de carbono para o

crescimento bacteriano. Dependendo do microorganismo, da fonte de carbono e das

condições de cultura, diferentes homopolímeros e copolímeros de PHA e combinações dos

mesmos são sintetizados (URTUVIA et al., 2014, SILVA, 2010).

A Figura 2 apresenta a estrutura química geral do PHA, onde n é o número de CH2

presente na cadeia principal e R é o grupo lateral (URTUVIA et al., 2014).

Figura 2: Representação da estrutura química do PHA (URTUVIA et al, 2014).

As propriedades físicas do PHA são determinadas pelas variações do comprimento da

cadeia principal ou das cadeias laterais. Esta variação permite ao PHA apresentar

propriedades mecânicas e térmicas similares aos polímeros tradicionais, mantendo sua

biodegradabilidade (THELLEN et al., 2008).

A Tabela 1Erro! Fonte de referência não encontrada. refere-se aos diferentes

monômeros de PHA que podem ser obtidos variando-se os grupos laterais R e o número de

CH2 na cadeia principal n.

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Tabela 1: Fórmulas estruturais do monômero de PHA (Adaptada de URTUVIA et al.

(2014)).

R n PHA

H 1 3-hidroxipropionato (3HP)

CH3 1 3-hidroxibutirato (3HB)

CH2CH3 1 3-hidroxivalerato (3HV)

H 2 4-hidroxibutirato (4HB)

H 3 5-hidroxivalerato (5HV)

Os monômeros mais comuns e largamente estudados são o 3-hidroxibutirato (3HB) e

o 3-hidroxivalerato (3HV) (URTUVIA et al., 2014).

O homopolímero poli(3-hidroxibutirato) – PHB é a forma mais comum de PHA e

demonstra ser um termoplástico biodegradável e biocompatível, com propriedades similares

ao polipropileno (PP). Entretanto, o PHB possui uma alta cristalinidade relativa, tornando-o

frágil e conferindo-o um tempo relativamente longo de degradação sob condições fisiológicas

(ASHBY & SOLAIMAN, 2014). Devido à sua temperatura de decomposição de

aproximadamente 200°C, muito próxima da sua temperatura de fusão, possui baixa

estabilidade no estado fundido (SQUIO & ARAGÃO, 2004).

A cadeia lateral do PHB é um grupo metil, como mostrada na Figura 3, e apresenta

configuração helicoidal compacta. Sua temperatura de fusão (Tf) e de transição vítrea (Tg)

são aproximadamente 180°C e 5°C, respectivamente. (DUARTE, 2004).

Figura 3: Estrutura PHB (URTUVIA et al., 2014).

2.2.1.1 Poli(3-hidroxibutirato-co-3-hidroxivalerato) – PHBV

O copolímero PHBV (Figura 4) é resultado da incorporação de unidades

monoméricas de 3-hidroxivalerato (3HV) ao homopolímero PHB, tornando-o mais flexível e

com maior resistência à ruptura à proporção que a fração de 3HV aumenta. Com o aumento

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desta fração, a temperatura de fusão diminui – em relação ao PHB – sem afetar a temperatura

de degradação. Um melhor processamento térmico do copolímero é obtido, pois viabiliza a

utilização de temperaturas menores, tornando-o mais interessante para produção industrial

(SQUIO & ARAGÃO, 2004).

Figura 4: Representação da estrutura química do PHBV (SILVA, 2010).

Algumas propriedades mecânicas e físico-químicas do PHBV em função da

porcentagem em mol de 3HV e do polipropileno isotático são apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2: Parâmetros mecânicos e térmicos do copolímero PHBV a 25°C em função da

porcentagem em mol de 3HV e do polipropileno isotático (Adaptado de MEIGA (2010),

SILVA (2010), AVELLA et al. (2000)).

Composição

(% mol de

3HV)

Temperatura

de fusão (°C)

Temperatura

de transição

vítrea (°C)

Limite de

resistência à

tração (MPa)

Alongamento

na ruptura

(%)

Módulo de

Elasticidade

(GPa)

0

160 a 177 -4 a 15 14 a 40 1 a 6 1,1 a 3,5

11

157 2 38 5 3,7

20 114 -5 26 27 1,9

34 97 -9 18 970 1,2

Polipropileno

isotático 174 -17 30 10 1,5

Outra característica do PHBV é sua insolubilidade em água. Somente alguns

solventes apolares, como o clorofórmio, por exemplo, são utilizados para solubilizar o PHBV

(SILVA, 2010).

Como reportado pelos autores SINGH et al. (2008), a utilização de fibras naturais,

como a fibra de bambu, foi estudada como reforço de biocompósitos com matriz de PHBV,

X y

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9

sendo constatado que o módulo de elasticidade dos biocompósitos aumentou em 175% com

40% m/m de fibra, em comparação com o PHBV puro.

2.3 Resíduo da Produção de Fécula de Mandioca (CFM)

A mandioca (Manihot esculenta Crantz), também conhecida como aipim e macaxeira

no Brasil, é uma raiz originária da América do Sul e cultivada em todos os continentes, com

exceção da Europa. Em 2013, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e

Alimentação (FAO), o Brasil participou com 7,8% da produção mundial, sendo o 4° maior

produtor do mundo. Por ser de fácil adaptação e cultivada em todos os estados do Brasil, está

entre os oito primeiros produtos agrícolas do país relativo à área cultivada e é o sexto

referente ao valor de produção (PORTAL EMBRAPA, 2016).

De acordo com a RESOLUÇÃO - CNNPA1 nº 12, de 1978, amido é o produto

amiláceo extraído das partes aéreas comestíveis dos vegetais, como por exemplo sementes; e

fécula é o produto amiláceo extraído das partes subterrâneas comestíveis dos vegetais, como

tubérculos e raízes.

A produção da fécula de mandioca no Brasil teve uma média de volume produzido de

550 mil toneladas por ano nos últimos nove anos. Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo

são os três maiores produtores de fécula de mandioca do país, nesta ordem (GROXKO,

2016).

As etapas da produção de fécula de mandioca consistem em (MACIEL et al., 2009):

1) Lavagem e descascamento acontecem concomitantemente. A casca fina é removida

e a casca grossa é mantida;

2) Seleção das raízes: averiguação de raízes impróprias;

3) Moagem (Triturador) das raízes;

4) Centrifugação: separação do amido da fibra;

5) Prensagem da massa;

6) Secagem da massa prensada;

7) Padronização da farinha, que é conduzida para o moinho;

8) Farinha é envasada para distribuição.

O resíduo, também conhecido como farelo ou bagaço, utilizado no presente trabalho é

um bioproduto formado durante a etapa de separação na produção da fécula de mandioca.

1 CNNPA = Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos

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10

Este farelo é caracterizado como um material fibroso da raiz, contendo parte da fécula que

não foi extraída durante o processamento. A composição média após a secagem do resíduo de

diversas indústrias brasileiras apresenta 75% de amido, 15% de fibras lignocelulósicas e 10%

de umidade – com uma porcentagem ínfima de proteínas, lipídios e cinzas – e possui pH 5,5

(PASQUINI et al., 2010, ALMEIDA, 2009, LEONEL & CEREDA, 2000a, LEONEL &

CEREDA, 2000b). A composição mineral média do bagaço é de 0,06% de nitrogênio, 0,02%

de fósforo, 0,13% de potássio, 0,24% de cálcio, 0,11% de magnésio, 98 mg/kg de ferro, 4

mg/kg de zinco e 1 mg/kg de cobre (ALMEIDA, 2009).

Dois polímeros compõem o amido: amilose e amilopectina, ambos compostos de

unidades repetitivas α-D-glucose. A amilose é na sua maior parte linear, enquanto que a

amilopectina é altamente ramificada (THIRÉ et al., 2006). A fórmula geral do amido é

(C6H10O5)n (ALMEIDA, 2009).

As fibras lignocelulósicas são constituídas essencialmente por celulose, hemicelulose e

lignina, com teores médios em massa de 50, 30 e 17,5% respectivamente. Pectinas, ceras e

minerais também compõem as fibras em pequenas quantidades (CARDOSO, 2014).

A celulose e a hemicelulose são polissacarídeos com diferentes composições de

monômeros e arranjos moleculares. A celulose é formada por unidades de celobiose com

cadeias lineares e elevada cristalinidade (PASQUINI et al., 2010); possui regiões cristalinas e

amorfas, sendo que a parte cristalina tem duas fases: Celulose I (fase mais presente) e

Celulose II (CARDOSO, 2014). A hemicelulose é composta por diferentes precursores de

açúcar, tem cadeia ramificada e é essencialmente amorfa (PASQUINI et al., 2010).

A lignina é um polímero termoplástico complexo formado por um ou mais alcoóis

aromáticos, além de ser totalmente amorfo. Liga-se covalentemente com a celulose e a

hemicelulose. (CARDOSO, 2014).

A grande quantidade de resíduo gerado (cerca de 93% de raiz processada) (LEONEL

& CEREDA, 2000), sua elevada umidade (85%) e seu baixo valor comercial – R$15,00 a

tonelada – (FIORDA et al., 2013) são vistos como um problema para os industriais da área,

devido à dificuldade de transporte e de armazenamento, danos causados ao meio ambiente

com sua disposição final de maneira incorreta e seu baixo valor de mercado (LEONEL &

CEREDA, 2000, PANDEY et al., 2000).

O uso de fibras obtidas a partir deste resíduo tem sido estudado como carga natural –

com o objetivo de reforçar biomateriais, modificando sua hidrofobicidade e suas

propriedades finais –, como aditivo de alimentos, entre outros. Devido às suas vantagens

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11

ecológicas inerentes, este tipo de fibra natural celulósica desempenha um papel importante

em algumas aplicações desde as últimas décadas. Seu aproveitamento é explorado como

reforço “verde” alternativo às fibras sintéticas tradicionais para diversas aplicações em razão

de suas vantagens, como considerável dureza, flexibilidade, fácil processamento,

reciclabilidade e por ser ecologicamente correto (VERSINO et al., 2015, PASQUINI et al.,

2010).

PASQUINI et al. (2010) extraíram whiskers de celulose a partir do resíduo de mandioca,

utilizando-os como reforço em matrizes de borracha natural. Os autores observaram

melhorias nas propriedades mecânicas do compósito contendo 10% m/m de reforço em

relação aos filmes de borracha natural sem reforço.

VERSINO et al. (2015) separaram o amido, a casca e as fibras da raiz de mandioca. O

amido obtido foi transformado em amido termoplástico (TPS), o qual foi utilizado como

matriz para a produção de biocompósitos reforçados com a casca e as fibras extraídas. A

adição de 1,5% m/m de bagaço aumentou 260% o modulo de elasticidade e aumentou 128%

a tensão máxima do compósito em relação ao filme de amido sem carga.

Até o presente momento não foi encontrado nenhuma referência de trabalhos envolvendo

a produção de biocompósitos de PHBV/resíduo da produção de fécula de mandioca (CFM).

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12

3 Materiais e Métodos

3.1 Materiais

O polímero utilizado foi o PHBV – lote 109 (Biocycle 2000) – fornecido pela PHB

Industrial S.A. (São Paulo, Brasil) em forma de pó (Figura 5a). A Tabela 3 refere-se aos

dados fornecidos pela empresa sobre o PHBV.

A carga utilizada, chamada de CFM, foi o resíduo da produção de fécula de mandioca

(Figura 5b), da Halotek Fadel Industrial Ltda, que foi cedida pela EMBRAPA ALIMENTOS

e peneirada em peneira com abertura de 0,35 mm. Na Figura 5c é apresentado o detalhe da

morfologia heterogênea e não equiaxial das partículas que constituem o farelo. Esta imagem

foi obtida utilizando um estereomicroscópio COLEMAN NSZ-405.

O solvente usado foi o Clorofórmio P.A. ACS – Estabilizado com amileno da Vetec

Química fina LTDA, e o plastificante foi a Triacetin 99% da ALDRICH®.

Figura 5: a) PHBV em pó; b) Resíduo da produção de fécula de mandioca

peneirado em peneira de 0,35 mm; c) Imagem do resíduo peneirado em peneira de 0,35

mm utilizando um estereomicroscópio COLEMAN NSZ-405.

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Tabela 3: Dados fornecidos pela PHB Industrial S.A. sobre o PHBV (lote 109).

Composição

(%HV) Pureza (%)

Temperatura

de fusão (°C)

Massa Molar

Ponderal Média

Mw (g/mol)

Grau de

Cristalinidade

(%)

4,07 99,9 173,5 394,984 53,8

3.2 Métodos

3.2.1 Produção de filmes de biocompósitos de PHBV/Resíduo da produção da fécula

de mandioca por casting

As soluções foram preparadas em um balão de vidro acoplado a um sistema de

agitação e aquecimento em banho de óleo, utilizando um placa de agitação e aquecimento

IKA® C-MAG HS7 (Figura 6). O PHBV foi solubilizado em 100 mL de clorofórmio,

acrescentando 35% m/m de triacetina como plastificante e porcentagens variadas de CFM em

relação ao PHBV. As formulações preparadas estão listadas na Tabela 4.

Tabela 4: Formulações das amostras produzidas por casting.

Nome das amostras PHBV (g) Triacetina (g) CFM (g) CFM (% m/m em

relação ao PHBV)

PHBV0 8 2,8 0 0

PHBV01 8 2,8 0,1 1,25

PHBV05 8 2,8 0,5 6,25

PHBV1 8 2,8 1 12,5

PHBV2 8 2,8 2 25

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14

Figura 6: Sistema de agitação e aquecimento em banho de óleo.

O procedimento adotado pelo grupo de pesquisa do Laboratório de Biopolímeros do

PEMM/COPPE de solubilização do PHBV no clorofórmio em presença do plastificante e da

carga consistiu em duas etapas consecutivas:

Etapa 1: Agitação magnética constante por 2 horas a temperatura ambiente para que

ocorresse o inchamento do polímero.

Etapa 2: Aquecimento a 65°C durante 2 horas para que acontecesse a solubilização,

mantendo a agitação constante.

Em seguida, aguardou-se a solução atingir a temperatura ambiente, quando foi vertida em

molde de vidro mantido também a temperatura ambiente, a fim de o solvente evaporar

completamente.

3.2.2 Produção de filmes de biocompósitos de PHBV/Resíduo da produção da fécula

de mandioca por moldagem por compressão

Primeiramente, foi feita a mistura no Homogeneizador MH-50-H (MH Equipamentos

LTDA) (Figura 7a) do PHBV com a triacetina como plastificante a 5% m/m e com diferentes

teores de carga em relação ao PHBV, os quais foram reportados na Tabela 5. A mistura

(Figura 7b) foi colocada na estufa a 37°C por aproximadamente 24 horas. Em seguida, a

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15

mistura foi mantida em saco plástico fechado até o momento do processamento por

moldagem por compressão.

A moldagem por compressão foi realizada com um espaçador de 1 mm na prensa

hidráulica MA 098/A (Marconi) (Figura 8), com uma temperatura de 168°C, pressão de 10 t

por 20 minutos e posteriormente resfriada na prensa hidráulica modelo C S/N 41000-915

(Carver) (Figura 8) com Banho Maria (M. S. Mistura) a aproximadamente 30°C, com pressão

de 0,5 t por 5 minutos (THIRÉ et al., 2006).

Tabela 5: Formulações das amostras produzidas por moldagem por compressão.

Nome da amostra PHBV (g) Triacetina (g) CFM (g)

CFM (% m/m

em relação ao

PHBV)

PHBV0’ 50,00 2,50 0,00 0

PHBV5’ 47,60 2,40 2,40 5

PHBV10’ 45,45 2,27 4,55 10

Figura 7: a) Homogeneizador MH-50-H (MH Equipamentos LTDA); b) Mistura ao sair

do homogeneizador.

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Figura 8: Prensa Hidráulica modelo C S/N 41000-915 (Carver) à esquerda e Prensa

Hidráulica MA 098/A (Marconi) à direita.

3.2.3 Caracterização dos biocompósitos e do resíduo da produção de fécula de

mandioca

3.2.3.1 Espectroscopia no Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR)

O espectro foi obtido utilizando um Spectrum 100 (PerkinElmer) com cristal de ZnSe

e acessório de reflectância total atenuada (ATR) entre 4000 e 550 cm-1

, com resolução de 4

cm-1

e 32 varreduras por amostra, para verificar se houve interação química entre a carga e a

matriz.

3.2.3.2 Difração de Raios X (DRX)

A difração de Raios X foi realizada em um difratômetro XRD-6000 (SHIMADZU),

operado com tensão de 30 kV, corrente de 30 mA e fonte de radiação de CuKα (λ = 0,1542

nm). Uma varredura contínua com 2θ entre 5° e 35° foi realizada a uma velocidade de 2°/min

e passo de 0,02°. Esta análise foi realizada com o intuito de verificar se houve mudanças no

padrão de difração de raios x com adição de diferentes teores de carga.

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17

3.2.3.3 Análise Termogravimétrica (TGA)

A estabilidade térmica dos filmes e da carga foi determinada avaliando a medida de

variação de massa da amostra em função da temperatura. O analisador termogravimétrico

utilizado foi o PerkinElmer Pyris 1 Thermogravimetric Analyzer sob atmosfera de nitrogênio

(N2) com vazão de 20 mL/min e com aquecimento de 23°C até 800°C a 10°C/min. A massa

de cada amostra foi aproximadamente de 5 a 10 mg.

3.2.3.4 Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC)

O experimento de DSC foi realizado em um DSC 8000 Differential Scanning

Calorimeter (PerkinElmer), sob atmosfera de N2. As amostras de 5 a 10 mg foram aquecidas

em dois ciclos e resfriadas, como segue. No primeiro ciclo de aquecimento, as amostras

foram aquecidas de 50°C até 210°C a uma taxa de 10°C/min, a fim de eliminar a história

térmica da amostra. Em seguida, foi realizado um resfriamento rápido a uma taxa de

150°C/min até 50°C. O segundo ciclo de aquecimento foi conduzido com as mesmas

condições do primeiro ciclo. A partir da curva do segundo ciclo de aquecimento foi possível

obter a temperatura de cristalização (Tc) e a temperatura de fusão (Tf), além da entalpia de

fusão (ΔHf) e de cristalização (ΔHc). A temperatura de transição vítrea (Tg) não foi observada.

A massa de cada amostra variou entre 6 e 8 mg, aproximadamente. O grau de cristalinidade

(XC) foi calculado considerando a entalpia de fusão da amostra (ΔHf), a entalpia de fusão do

polímero 100% cristalino (ΔH0

f) e a fração mássica do PHBV (WPHBV) presente na amostra,

segundo a Equação 1.

Equação 1:

No presente trabalho, a entalpia de fusão do polímero 100% cristalino foi considerada

146 J/g, visto que a proporção de hidroxivalerato na amostra de PHBV é inferior a 10%

(SILVA, 2010).

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4 Resultados e Discussões

4.1 Caracterização dos biocompósitos produzidos por casting

Os filmes finos produzidos por casting obtiveram espessura média de 0,16 mm, e a

Figura 9 apresenta uma foto do filme PHBV05 para exemplificar.

A porcentagem utilizada de plastificante foi estabelecida após alguns testes.

Primeiramente, foram utilizados 30% m/m de triacetina em relação ao PHBV. Porém, os

filmes racharam ao secar. Soluções contendo 40% m/m em relação ao PHBV também foram

testadas, entretanto os filmes também racharam durante sua secagem. Com 35% m/m em

relação ao PHBV, os filmes secaram sem rachar.

Figura 9: Amostra PHBV05 (produzida por casting).

4.1.1 Espectroscopia no Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR)

Nos espectros de FTIR (Figura 10) foram analisadas as principais bandas de absorção

do PHBV0, do CFM e dos biocompósitos produzidos por casting. Para uma melhor

visualização, o espectro foi dividido em duas partes. A primeira parte de 4000 a 2500 cm-1

(Figura 11) e a segunda de 2500 a 550 cm-1

(Figura 12).

No espectro de FTIR do PHBV0, observaram-se as regiões de 3015 a 2950 cm-1

(bandas 2996 cm-1

e 2976 cm-1

), de 2945 a 2925 cm-1

(banda 2934 cm-1

) e de 2885 a 2850

cm-1

(banda 2854 cm-1

). Estas bandas podem ser referidas ao estiramento assimétrico da

ligação CH3, ao estiramento da ligação CH2 e ao estiramento simétrico do CH3,

respectivamente (LIU et al., 2009). Uma banda acentuada em 1718 cm-1

, correspondente ao

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19

estiramento do grupamento éster (C=O) presente na cadeia molecular da estrutura cristalina

do PHBV, e uma pequena proeminência em 1740 cm-1

, relacionada ao estiramento da ligação

C=O da região amorfa do PHBV, puderam ser notadas (SINGH et al., 2008). As bandas na

faixa de 1500 a 800 cm-1

, relacionadas às flexões das ligações CH3 e CH e aos estiramentos

das ligações C–O–C e C–C, estão fortemente sobrepostas (LIU et al., 2009).

No espectro da carga pôde-se observar uma banda ampla na região de 3500 a 3200

cm-1

, que está relacionada à deformação axial de O–H da ligação de hidrogênio

intermolecular (SILVERSTEIN et al., 2006). Em torno de 2900 cm-1

, o estiramento

característico da ligação C–H foi constatado. Uma pequena banda na região entre 1300 e

1200 cm-1

pode estar relacionada à vibração da ligação C–O do anel aromático da lignina,

componente das fibras presentes no CFM (WICAKSONO et al., 2013). As bandas na região

de 1150 a 800 cm-1

possivelmente estão relacionadas a vibrações de ligações do anel

glicosídico presente nos polissacarídeos do resíduo (MANDAL & CHAKRABARTY, 2011,

SILVERSTEIN et al., 2006).

Os espectros das amostras de PHBV01, PHBV05, PHBV1 e PHBV2 não

apresentaram diferença em relação ao de PHBV0, com exceção da banda de 3500 a 3200 cm-

1, que aparece somente na curva de PHBV2 e está relacionada ao estiramento da ligação O–H

dos grupos OH, que são provenientes da carga presente no compósito (SILVERSTEIN et al.,

2006). Provavelmente esta banda pôde ser vista somente nesta amostra porque a porcentagem

de carga presente nela é alta (25% m/m em relação ao PHBV).

Há uma sobreposição significativa das bandas do PHBV e da carga na região de 1500

a 800 cm-1

. Devido à baixa concentração de carga presente nos biocompósitos, não foi

possível distinguir as sobreposições das bandas de vibração.

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Figura 10: FTIR das amostras produzidas por casting e do CFM.

Figura 11: FTIR das amostras produzidas por casting e do CFM de 4000 a 2500 cm-1

.

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Figura 12: FTIR das amostras produzidas por casting e do CFM de 2500 a 550 cm-1

.

4.1.2 Difração de Raios X (DRX)

O padrão de difração de raios X do filme de PHBV0 e dos filmes biocompósitos

PHBV01, PHBV05, PHBV1 e PHBV2 produzidos por casting estão apresentados na Figura

13.

O perfil de difração do PHBV obtido neste trabalho assemelha-se ao perfil do

homopolímero PHB apresentado por THIRÉ et al. (2006). Possivelmente, a baixa

porcentagem de HV existente no PHBV utilizado (~4%) não afetou o padrão de cristalinidade

do material.

Os picos apresentados nos difratogramas foram correlacionados aos seus planos

cristalográficos de acordo com as informações apresentadas por: SILVA (2010), HUANG et

al. (2009) e THIRÉ et al. (2006) e estão representados na Tabela 6.

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Figura 13: Gráfico DRX das amostras produzidas por casting e do CFM.

Tabela 6: Picos equivalentes ao padrão de DRX da amostra PHBV0 e os planos

cristalográficos correspondentes.

2θ (°) 13,3 16,5 20,1 21,9 25,1 26,9 30,3

Plano

Cristalográfico (020) (110) (021) (101) (121) (040) (200)

O padrão de difração do CFM apresentou predominância de um halo amorfo,

indicando a baixa cristalinidade do material. No entanto, um pico largo foi observado em 2θ

= 22°. Este pico de difração pode estar relacionado ao plano (002) da celulose I (CARDOSO,

2014), pertencente à fibra presente na carga. Outra hipótese seria relacionar este pico ao

padrão de cristalinidade do tipo B do amido presente no resíduo (THIRÉ et al., 2006). Como

neste trabalho não foi realizada uma análise de composição do resíduo, não foi possível

definir qual destes componentes estaria em maior quantidade e mais evidenciado no padrão

de DRX.

Observou-se que os padrões de DRX das amostras dos filmes biocompósitos

produzidos por casting apresentaram picos de difração no mesmo ângulo 2θ observado para a

amostra de PHBV0.

0

50

100

150

200

250

300

350

400

5 10 15 20 25 30 35

Inte

nsi

da

de

(u.a

.)

PHBV0

PHBV01

PHBV05

PHBV1

PHBV2

CFM

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4.1.3 Análise Termogravimétrica (TGA)

A análise termogravimétrica dos filmes e da carga permitiu avaliar a influência desta

na estabilidade térmica dos biocompósitos.

Na Figura 14 estão representadas as curvas de TGA para todas as amostras

produzidas por casting e da carga e, na Figura 15, suas derivadas (DTG). Os pontos mínimos

na curva de DTG correspondem à temperatura onde a velocidade máxima de degradação

ocorre em cada etapa.

Todas as amostras apresentaram dois estágios de perda de massa, com exceção do

PHBV2, que apresentou três estágios, sendo o 3° estágio indicado pela seta na Figura 15.

Figura 14: Gráfico TGA das amostras produzidas por casting e do CFM.

0

20

40

60

80

100

120

0 200 400 600 800 1000

Mass

a (

%)

Temperatura (°C)

PHBV0

PHBV01

PHBV05

PHBV1

PHBV2

CFM

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Figura 15: Gráfico DTG das amostras produzidas por casting e do CFM.

As Tabelas 7, 8 e 9 apresentam a temperatura de início de perda de massa (Tonset) e a

temperatura de taxa máxima de perda de massa (Tpico) para cada amostra para a 1ª, 2ª e 3ª

etapa de perda de massa, respectivamente.

Tabela 7: 1ª etapa de perda de massa no DTG das amostras produzidas por casting e do

CFM.

Amostra Tonset (°C) Tpico (°C)

CFM 46,1 60,3

PHBV0 124,4 159,2

PHBV01 123,4 158,3

PHBV05 120,0 150,9

PHBV1 122,4 159,1

PHBV2 112,4 148,4

-40

-35

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0

5

0 200 400 600 800 1000

Der

ivad

a d

a m

ass

a (

%/m

in)

Temperatura (°C)

PHBV0

PHBV01

PHBV05

PHBV1

PHBV2

CFM

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Tabela 8: 2ª etapa de perda de massa no DTG das amostras produzidas por casting e do

CFM.

Amostra Tonset (°C) Tpico (°C)

CFM 302,1 338,3

PHBV0 285,5 305,8

PHBV01 287,2 303,7

PHBV05 291,0 306,7

PHBV1 288,5 304,5

PHBV2 268,8 286,9

Tabela 9: 3ª etapa de perda de massa no DTG da amostra PHBV2.

Amostra Tonset (°C) Tpico (°C)

PHBV2 300,3 330,9

Para o PHBV0, o 1º estágio apresentou aproximadamente 17% de perda de massa e a

velocidade máxima de degradação ocorreu próximo de 159°C. Por se tratar de um polímero

hidrofóbico e pelo fato da Tpico estar muito acima de 100°C, podemos supor que esse 1º

estágio está relacionado à decomposição do plastificante. Já o 2º estágio está relacionado à

degradação do polímero, que acontece quase que unicamente via mecanismo de cisão

aleatória da cadeia, formando um éster cíclico de seis membros como estado transitório

(SILVA, 2010).

A amostra CFM apresentou duas etapas de perda de massa. Provavelmente, a primeira

correspondente à evaporação da água e a segunda à despolimerização do amido e da celulose

(TEIXEIRA et al., 2009).

As curvas dos biocompósitos apresentaram um comportamento similar ao do PHBV0,

exibindo a ocorrência de duas etapas de perda de massa. Entretanto, a amostra PHBV2

exibiu, além das duas etapas, um pico de sobreposição (indicado com a seta) em uma

temperatura próxima à Tpico do 2º estágio de perda de massa do CFM. Este 3º pico de perda

de massa foi visto somente no filme de PHBV2, possivelmente devido à sua alta porcentagem

de carga em relação às outras amostras, que é de 25% m/m em relação ao PHBV.

Observou-se que os biocompósitos com até 12,5% m/m de CFM em relação ao PHBV

(PHBV1) mantiveram a estabilidade térmica, com exceção da amostra PHBV05, que

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26

apresentou uma redução de aproximadamente 8°C na Tpico na 1ª etapa de perda de massa. A

adição de maior carga (PHBV2) resultou em uma redução de aproximadamente 10°C na Tpico

e na Tonset no 1º estágio de perda de massa e de cerca de 20°C nas temperaturas do 2º estágio

de perda de massa em comparação com o PHBV0, o que ocasionou uma diminuição da

estabilidade térmica do material.

4.1.4 Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC)

Esta técnica permitiu analisar o efeito do teor de CFM na temperatura de fusão e na

entalpia de fusão dos biocompósitos produzidos por casting.

O 1º aquecimento foi feito para apagar a história térmica da amostra. A amostra foi

resfriada rapidamente com o intuito de evitar a cristalização durante este estágio.

As curvas de DSC relativas ao 2º aquecimento de todas as amostras (Figura 16)

apresentaram um pico de fusão complexo com um pico principal precedido de um pico

menor. Mais de um pico pode ser atribuído à fusão de diferentes tipos de cristais com

diferentes tamanhos e estabilidades térmicas. Especificamente, cristais menores e menos

perfeitos fundem em temperaturas mais baixas do que cristais maiores e mais perfeitos.

Múltiplos picos de fusão observados no DSC são características comuns em muitos

polímeros semicristalinos, incluindo poliésteres, e podem ser atribuídos também à existência

de diferentes modificações cristalinas ou ao processo de recristalização na fusão que ocorre

durante a varredura de DSC (WELLEN et al., 2015).

A Tabela 10 exibe suas temperaturas de fusão (Tf), os valores de entalpia de fusão

(ΔHf) e o grau de cristalinidade (XC).

As temperaturas de transição vítrea (Tg) e de cristalização (Tc) não foram observadas

no gráfico, pois estas podem ter ocorrido a temperaturas inferiores a 50°C, como reportado

no trabalho de SILVA (2010).

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27

Figura 16: Gráfico DSC do 2° Aquecimento das amostras produzidas por casting.

Tabela 10: Resultado DSC do 2° Aquecimento das amostras produzidas por casting.

Amostra Tf (°C) ΔHf (J/g) XC (%)

PHBV0 157,8 56,9 39,0

PHBV01 160,5 56,9 39,5

PHBV05 160,5 54,0 39,5

PHBV1 161,2 45,9 35,9

PHBV2 158,5 48,4 44,2

De acordo com a Tabela 10, foi possível verificar que a introdução de CFM até 25%

m/m em relação ao PHBV (amostra PHBV2) não afetou significativamente a Tf dos

biocompósitos em comparação ao PHBV0. Todavia, uma redução no XC de

aproximadamente 8% ocorreu no filme PHBV1 e um aumento de cerca de 13% ocorreu no

filme PHBV2 em relação ao PHBV0. A presença de uma quantidade maior de carga pode ter

facilitado a organização das cadeias do PHBV e, com isso, facilitado a cristalização do

polímero.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

5

0 50 100 150 200 250

Hea

t F

low

En

do U

p (

mW

)

Temperatura (°C)

PHBV0

PHBV01

PHBV05

PHBV1

PHBV2

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28

4.2 Caracterização dos biocompósitos produzidos por moldagem por

compressão

Os filmes produzidos por moldagem por compressão obtiveram espessura média de 1,2

mm (Figura 17).

Figura 17: Filmes produzidos por moldagem por compressão. Da esquerda para a

direita: PHBV0', PHBV5' e PHBV10'.

4.2.1 Espectroscopia no Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR)

Os espectros de FTIR do PHBV0’, dos biocompósitos produzidos por moldagem por

compressão e do CFM (Figura 18) apresentaram as mesmas bandas que os espectros dos

filmes produzidos por casting. Para uma melhor visualização das bandas, o espectro foi

dividido em duas partes, sendo a primeira de 4000 a 2000 cm-1

(Figura 19) e a segunda de

2000 a 550 cm-1

(Figura 20).

Assim como observado nos espectros de FTIR dos biocompósitos produzidos por

casting, as principais bandas de PHBV e de CFM apresentaram sobreposições na região de

1500 a 800 cm-1

. No entanto, mesmo para a formulação com maior porcentagem de CFM

produzido por moldagem por compressão (amostra PHBV10’), não foi possível observar a

banda referente ao estiramento de O–H presente na carga.

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29

Figura 18: FTIR das amostras feitas por moldagem por compressão e do CFM.

Figura 19: FTIR das amostras feitas por moldagem por compressão e do CFM de 4000

a 2000 cm-1

.

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30

Figura 20: FTIR das amostras feitas por moldagem por compressão e do CFM de 2000

a 550 cm-1

.

4.2.2 Difração de Raios X (DRX)

O padrão de difração de raios X dos filmes moldados por compressão e do CFM estão

apresentados na Figura 21.

Os picos apresentados nos padrões de DRX dos filmes produzidos por moldagem por

compressão coincidem com os apresentados nos filmes produzidos por casting (índice 4.1.2).

Os picos exibem uma alta definição, assim como em outro trabalho já reportado na literatura

que foram produzidos filmes por moldagem por compressão (THIRÉ et al., 2006). Assim, foi

possível visualizar um pico a mais (2θ = 22,6°) no perfil de DRX dos filmes produzidos por

moldagem por compressão, o qual apareceu sobreposto com o pico em 2θ = 21,6° nos filmes

produzidos por casting na Figura 13.

Os picos do PHBV0’ estão representados na Tabela 11.

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Figura 21: Padrão de DRX dos filmes produzidos por moldagem por compressão e do

CFM.

Tabela 11: Picos equivalentes ao padrão de DRX da amostra PHBV0' e os planos

cristalográficos correspondentes.

2θ (°) 13,5 16,9 20,0 21,6 22,6 25,5 27,1 30,8

Plano

Cristalográfico (020) (110) (021) (101) (111) (121) (040) (200)

Observou-se que os padrões de difração de raios X das amostras PHBV5’ e PHBV10’

apresentaram picos na mesma posição dos picos da amostra PHBV0’.

No perfil de DRX do CFM foi apresentado somente um pico em 2θ = 22° e houve

predominância de um halo amorfo, caracterizando a baixa cristalinidade do material, como já

reportado no índice 4.1.2.

4.2.3 Análise Termogravimétrica (TGA)

A análise termogravimétrica do PHBV0’, PHBV5’, PHBV10’ e do CFM permitiu

avaliar a influência do resíduo da produção de fécula de mandioca na estabilidade térmica

dos biocompósitos moldados por compressão.

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

5 10 15 20 25 30 35

Inte

nsi

da

de

(u.a

.)

CFM

PHBV0'

PHBV5'

PHBV10'

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32

As curvas de TGA e da sua derivada (DTG) para todas as amostras produzidas por

moldagem por compressão e para o CFM estão apresentadas nas Figuras 22 e 23,

respectivamente.

Foi observado que as curvas do PHBV0’ e dos biocompósitos PHBV5’ e PHBV10’

apresentaram comportamento similar, exibindo a ocorrência de apenas uma etapa de perda de

massa.

Como reportado no índice 4.1.3, o CFM apresentou duas etapas de perda de massa,

sendo, possivelmente, a primeira relacionada à água e a segunda ao amido e à celulose

(TEIXEIRA et al., 2009).

Figura 22: Gráfico TGA das amostras produzidas por moldagem por compressão e do

CFM.

-20

0

20

40

60

80

100

120

0 200 400 600 800 1000

Ma

ssa

(%

)

Temperatura (°C)

PHBV0'

PHBV5'

PHBV10'

CFM

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33

Figura 23: Gráfico DTG das amostras produzidas por moldagem por compressão e do

CFM.

A temperatura de início de perda de massa (Tonset) e a temperatura de taxa máxima de

perda de massa (Tpico) para a 1ª etapa de perda de massa de cada amostra estão apresentadas

na Tabela 12. A Tabela 13 refere-se à 2ª etapa de perda de massa do CFM.

Tabela 12: 1ª etapa de perda de massa no DTG das amostras produzidas por moldagem

por compressão e do CFM.

Amostra Tonset (°C) Tpico (°C)

CFM 46,1 60,3

PHBV0’ 294,2 307,4

PHBV5’ 279,4 293,1

PHBV10’ 289,7 302,4

Tabela 13: 2ª etapa de perda de massa no DTG do CFM.

Amostra Tonset (°C) Tpico (°C)

CFM 302,1 338,3

O estágio de decomposição dos filmes provavelmente refere-se à perda de massa do

PHBV (SILVA, 2010). A incorporação do CFM à matriz de PHBV não alterou

-60

-50

-40

-30

-20

-10

0

10

0 200 400 600 800 1000

Der

iva

da

da

ma

ssa

(%

/min

)

Temperatura (°C)

PHBV0'

PHBV5'

PHBV10'

CFM

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expressivamente a estabilidade térmica da amostra PHBV10’, ocorrendo uma redução pouco

significativa de 4,5°C na Tonset e de aproximadamente 5°C na Tpico. Entretanto, para o

biocompósito PHBV5’, houve uma diminuição de aproximadamente 15°C da Tonset e de 14°C

da Tpico, indicando uma possível instabilidade térmica do filme para este teor de carga (5%

m/m em relação ao PHBV).

4.2.4 Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC)

O efeito do teor de CFM nas temperaturas e de transição térmica dos biocompósitos

produzidos por moldagem por compressão foi analisado por DSC.

Para apagar a história térmica da amostra, normalmente um 1º aquecimento foi

realizado. Com o propósito de evitar a cristalização, a amostra foi resfriada rapidamente.

As curvas do 2º aquecimento das amostras produzidas por moldagem por compressão

estão apresentadas na Figura 24 e a Tabela 14 exibe suas temperaturas de fusão (Tf) de

cristalização (Tc) e os valores de suas entalpias.

As temperaturas de transição vítrea (Tg) e de cristalização (Tc) do PHBV não foram

observadas no gráfico, pois estas podem ter ocorrido a temperaturas inferiores a 50°C, como

reportado no trabalho de SILVA (2010). No entanto, para a amostra PHBV0’, foi possível

verificar a presença de um pico de cristalização exotérmico em 62,6°C.

Figura 24: Gráfico DSC do 2° aquecimento das amostras produzidas por moldagem por

compressão.

-2

0

2

4

6

8

10

12

0 50 100 150 200 250

Hea

t F

low

En

do

Up

(m

W)

Temperatura (°C)

PHBV0'

PHBV5'

PHBV10'

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Tabela 14: Resultado DSC do 2° aquecimento das amostras produzidas por moldagem

por compressão.

Amostra Tf (°C) ΔHf (J/g) Tc (°C) ΔHc (J/g) XC (%)

PHBV0’ 168,1 67,9 62,6 - 8,0 46,5

PHBV5’ 167,8 65,5 - - 47,2

PHBV10’ 167,9 67,2 - - 51,1

Analisando a Tabela 14, pôde-se notar que a inserção de CFM até 10% m/m em relação

ao PHBV não alterou significativamente a Tf nem a ΔHf dos biocompósitos.

O grau de cristalinidade da amostra PHBV10’ aumentou aproximadamente 10% em

relação ao PHBV0’.

O grau de cristalinidade apresentado pelos filmes produzidos por moldagem por

compressão foi maior do que os obtidos por casting, possivelmente devido ao tipo de

processamento. Uma hipótese para explicar esses resultados pode estar relacionada à

degradação sofrida pelas cadeias poliméricas em função do tipo de processamento. No

processamento por moldagem por compressão, as cadeias poliméricas estão mais sujeitas à

degradação devido ao fornecimento de energia térmica e mecânica (devido à ação do rotor do

homogeneizador), formando cadeias menores. Enquanto que no processamento por casting

ocorreu apenas uma solubilização, um processo físico onde não há quebra de ligações

primárias no polímero. Sendo assim, pode-se supor que cadeias menores, por apresentarem

maior mobilidade, possam dar origem a uma maior quantidade de cristais (maior grau de

cristalinidade) e estes cristais poderiam estar mais organizados e com melhor qualidade (Tf

maior).

As temperaturas de cristalização (Tc) das amostras PHBV5’ e PHBV10’ não foram

visualizadas na curva do 2º aquecimento. Não é possível afirmar se o material cristalizou em

uma temperatura menor que 50°C e/ou se a cristalização ocorreu apenas durante o

resfriamento. É possível propor que a carga agiu como agente nucleante, pois facilitou de

algum modo a cristalização.

No caso do PHBV0’, provavelmente também ocorreu cristalização no resfriamento,

pois a entalpia de cristalização é muito menor do que a entalpia de fusão.

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36

5 Conclusões

Foi possível produzir biocompósitos de PHBV utilizando resíduo da produção de fécula

de mandioca tanto por casting quanto por moldagem por compressão. Os resultados de FTIR

indicaram que possivelmente não houve interação química entre a carga e a matriz em ambos

os métodos de produção. No entanto, como já esperado, houve mudança na morfologia, no

grau de cristalinidade e nas propriedades térmicas em função do tipo de técnica utilizado para

a produção do biocompósito.

Os biocompósitos de PHBV/resíduo da produção de fécula de mandioca produzidos por

casting apresentaram propriedades semelhantes ao filme de PHBV0 para amostras com carga

até 1,25% m/m em relação ao PHBV. Já os produzidos por moldagem por compressão

apresentaram estabilidade térmica inferior ao PHBV0’, porém, houve uma melhoria na

qualidade dos cristais formados e no grau de cristalinidade em comparação aos filmes

produzidos por casting.

Nos filmes produzidos por casting foi possível observar que a introdução de carga até

25% m/m em relação ao PHBV não alterou significativamente o padrão de cristalinidade do

polímero nem a temperatura de fusão. Entretanto, com a introdução de 12,5% m/m (PHBV1)

o grau de cristalinidade diminuiu e com a introdução de 25% m/m (PHBV2), aumentou. A

estabilidade térmica dos biocompósitos foi mantida para teores de carga até 12,5% m/m, com

exceção da amostra PHBV05. Somente no filme com 25% m/m foi observado um estágio de

degradação referente à presença da carga.

Já nos filmes produzidos por moldagem por compressão, observou-se que foi obtido o

mesmo padrão de cristalinidade dos filmes produzidos por casting, porém, com picos mais

bem definidos, indicando uma possível melhoria na qualidade dos cristais formados. A Tf foi

mantida para todas as amostras produzidas por moldagem por compressão. Somente para a

amostra PHBV0’ o pico relacionado à cristalização foi observado. Teores de carga de 5% e

10% m/m em relação ao PHBV diminuíram a estabilidade térmica do material.

Os resultados deste trabalho indicaram que o resíduo da fécula de mandioca tem

potencial para ser utilizado como carga de enchimento de matriz de PHBV com formulação

inferior a 6,25% m/m em relação ao PHBV para biocompósitos produzidos por casting, e

que, para biocompósitos produzidos por moldagem por compressão, a formulação com 10%

m/m seria a mais indicada para utilização como carga da matriz de PHBV, apesar de ter

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37

reduzido ligeiramente a estabilidade térmica do polímero e aumentado o grau de

cristalinidade em relação ao PHBV0’.

Sendo assim, a produção de biocompósitos com matriz de PHBV pode ser uma solução

em potencial para utilização do resíduo da produção de fécula de mandioca, diminuindo os

problemas ambientais acarretados pela sua disposição final de maneira incorreta, ao mesmo

tempo em que reduziria o custo do polímero e melhoraria algumas de suas propriedades.

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6 Sugestões para Trabalhos Futuros

Utilizar de planejamento de experimentos a fim de otimizar o teor de carga e o teor

de plastificante aplicados;

Caracterizar quimicamente o resíduo da produção de fécula de mandioca;

Analisar mecanicamente os materiais, utilizando, por exemplo, Análise Dinâmico-

Mecânica (DMA), ensaio de tração e/ou ensaio de flexão;

Avaliar o grau de degradação do PHBV causado pelo processamento por moldagem

por compressão, utilizando, por exemplo, Cromatografia de Permeação em gel

(GPC);

Comparar as propriedades do biocompósito com as propriedades dos polímeros

sintéticos tradicionais;

Analisar a permeação de gases de forma a avaliar a potencialidade dos biocompósitos

na produção de embalagens biodegradáveis;

Avaliar a biodegradabilidade dos biocompósitos.

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