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FLUIDOS DE CORTE: UMA ABORDAGEM GERAL E NOVAS TENDÊNCIAS Fabio Cordeiro de Lisboa (UFAM ) [email protected] Jessyca Jordanna Barroso de Moraes (UFAM ) [email protected] Massako de Almeida Hirashita (UFAM ) [email protected] Os processos de usinagem geram uma grande quantidade de calor que provoca resultados indesejáveis no produto final, além de elevar o custo de produção deste. Para reduzir ou dissipar o calor gerado utiliza-se os fluidos de corte. No entantoo, apesar de todos os benefícios dos fluidos de corte, pesquisas ressaltam que sua aplicação cria severos impactos ambientais, como a poluição ou contaminação da água, do solo, e do ar, além de problemas para a saúde dos operadores. Diante do exposto, este artigo tem por objetivo apresentar um quadro geral sobre os fluidos de corte (funções, classificação, seleção, e outros) e algumas das tendências tecnológicas e de aplicação que visam à redução ou à eliminação do uso dos fluidos de corte nos processos de usinagem. As informações aqui apresentadas foram coletadas por meio de pesquisas em literaturas relacionadas ao tema. Palavras-chaves: Processo de usinagem, fluidos de corte, impactos ambientais, tendências tecnológicas. XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

FLUIDOS DE CORTE: UMA ABORDAGEM GERAL E …abepro.org.br/biblioteca/enegep2013_TN_STO_185_056_23095.pdf · fluidos de corte como lubrificante e/ou refrigerante. Taylor, em 1890, foi

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FLUIDOS DE CORTE: UMA

ABORDAGEM GERAL E NOVAS

TENDÊNCIAS

Fabio Cordeiro de Lisboa (UFAM )

[email protected]

Jessyca Jordanna Barroso de Moraes (UFAM )

[email protected]

Massako de Almeida Hirashita (UFAM )

[email protected]

Os processos de usinagem geram uma grande quantidade de calor que

provoca resultados indesejáveis no produto final, além de elevar o

custo de produção deste. Para reduzir ou dissipar o calor gerado

utiliza-se os fluidos de corte. No entantoo, apesar de todos os

benefícios dos fluidos de corte, pesquisas ressaltam que sua aplicação

cria severos impactos ambientais, como a poluição ou contaminação

da água, do solo, e do ar, além de problemas para a saúde dos

operadores. Diante do exposto, este artigo tem por objetivo apresentar

um quadro geral sobre os fluidos de corte (funções, classificação,

seleção, e outros) e algumas das tendências tecnológicas e de

aplicação que visam à redução ou à eliminação do uso dos fluidos de

corte nos processos de usinagem. As informações aqui apresentadas

foram coletadas por meio de pesquisas em literaturas relacionadas ao

tema.

Palavras-chaves: Processo de usinagem, fluidos de corte, impactos

ambientais, tendências tecnológicas.

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Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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1. Introdução

O termo usinagem é aplicado a todos os processos de fabricação onde ocorre a retirada de

material – cavaco – pela ferramenta, conferindo à peça: forma, dimensão e acabamento (DIN

8580, 2009 APUD SOUZA, 2011). Durante essa retirada de material é gerada uma grande

quantidade de calor, devido ao atrito que ocorre entre a ferramenta-peça e cavaco-ferramenta.

Este calor pode desgastar a ferramenta além do normal e aumentar as dimensões da peça

(dilatação térmica). Para diminuir e/ou extrair da ferramenta e da peça o calor, usam-se os

fluidos de corte como lubrificante e/ou refrigerante.

Taylor, em 1890, foi o primeiro que averiguou e mediu a influência dos fluidos de corte na

usinagem dos materiais. Sua constatação se deu por meio da utilização de água para resfriar a

ferramenta, reduzindo os indesejáveis efeitos da alta temperatura na mesma. Além disso, tal

feito conseguiu aumentar a velocidade de corte em 33% sem prejudicar a vida útil da

ferramenta. Logo depois, Taylor utilizou uma solução água e sabão para impedir a peça e/ou a

ferramenta de enferrujar.

Ao longo do tempo, vários experimentos foram realizados e novos meios-refrigerantes

surgiram (óleos graxos, óleos minerais, combinação de óleos e aditivos-, óleos emulsionáveis

e fluidos de corte). No entanto, apesar de todos os benefícios dos fluidos de corte, sua

aplicação cria severos problemas ambientais como a poluição, problemas de saúde aos

operadores e contaminação da água e do solo. Neste cenário, tendências tecnológicas e de

aplicação visam à redução ou à eliminação do uso dos fluidos de corte nos processos de

usinagem. (VACARO, 2009; SOUZA, 2011; LAWAL et al., 2012)

Diante do exposto, apresentamos um quadro geral sobre os fluidos de corte (funções,

classificação, seleção, e outros) e algumas das tendências relacionadas ao seu uso e impactos

gerados ao meio ambiente e à saúde humana. As informações aqui apresentadas foram

coletadas por meio de pesquisas em literaturas relacionadas ao tema e apresentadas de forma a

relacionar melhoria de produtividade, ergonomia e impacto ambiental ao correto

dimensionamento da vazão e seleção dos fluidos de corte nos processos de usinagem.

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2. Funções e propriedades do fluido de corte

A grande quantidade de calor gerado nas operações de corte, devido à energia que se deve ter

para conseguir retirar o cavaco e à energia derivada do atrito entre o cavaco-ferramenta e

entre a ferramenta-peça, provoca resultados indesejáveis na superfície de trabalho, na

ferramenta, influenciando na qualidade e no custo do produto final. Assim, surgem os fluidos

de corte, que “são aqueles líquidos e gases aplicados na ferramenta e no material que está

sendo usinado, a fim de facilitar a operação de corte” (AVALLONE ET. AL., 1978 APUD

CIMM), tendo como principais funções:

Refrigerar a região de corte;

Lubrificar as áreas em atrito;

Retirar o cavaco da zona de corte;

Proteger a ferramenta, a peça e a máquina da corrosão e oxidação. (CIMM -

CENTRO DE INFORMAÇÃO METAL MECÂNICA)

Para desempenhar suas funções, entretanto, os fluidos de corte precisam apresentar algumas

propriedades. Um fluido de corte deve ter como um bom refrigerante:

Baixa viscosidade a fim de que flua facilmente;

Capacidade de envolver “molhar” para estabelecer um bom contato térmico;

Alto calor específico e alta condutividade térmica. (DINIZ, 1999)

Estas características facilitarão a dissipação rápida do calor. Mesmo quando o material da

ferramenta é resistente ao desgaste, o refrigerante é utilizado para garantir as “qualidades

dimensionais, geométricas e de superfície” da peça (DINIZ, 1999).

E deve ter como um bom lubrificante:

Resistir a pressões e temperaturas elevadas sem vaporizar;

Boas propriedades antifricção e antissoldantes;

Viscosidade adequada – a viscosidade deve ser suficientemente baixa para

permitir uma fácil circulação do fluido e suficientemente alta de modo a

permitir uma boa aderência do fluido às superfícies da ferramenta. (DINIZ,

1999)

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Estas propriedades permitem que o fluido consiga chegar à região de corte, diminuindo o seu

coeficiente de atrito, ainda que submetido a altas velocidades de corte.

Além das propriedades de refrigerar e lubrificar, outras propriedades também são desejáveis

em um fluido de corte: ausência de odores desagradáveis, antiespumante, compatibilidade

com o meio ambiente, entre outros. Como não existe um fluido que atende a todas as

exigências, os fluidos são modificados com aditivos que melhoram as características próprias

do fluido ou lhe atribuem novas qualidades. No entanto, deve-se considerar que a melhoria de

certas características pode influenciar negativamente outras e que as qualidades desejáveis

variam de acordo com a aplicação. Assim, é necessário um estudo de cada caso para definir o

fluido mais adequado.

3. Classificação

Não há uma classificação padrão dos fluidos de corte. Ferraresi (1977) classifica os fluidos

em três grupos: sólidos, líquidos e gasosos. Diniz (1999), por sua vez, classifica-os em: ar,

tipos aquosos e óleos. Em outra referência, os fluidos dividem-se em dois grupos: os não

miscíveis em água e os miscíveis em água (DIN 51385, 1991 APUD STOETERAU, 2007).

Na tentativa de unificar as classificações existentes, apresenta-se a Figura 1 que destaca,

também, as principais composições e propriedades dos fluidos de corte.

Figura 1 - Tipos, composição e propriedades dos fluidos de corte

Fonte: Adaptado de Ferraresi (1977) e Diniz (1999); elaboração própria

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4. Seleção do fluido de corte

Ao selecionar o fluido de corte adequado para determinada operação de usinagem é

necessário se ter claro o objetivo que se deseja alcançar com a utilização do fluido de corte e

levar em conta alguns fatores comentados a seguir.

4.1 Condições de usinagem

Em usinagem de condições severas (usinagem onde se tem alto avanço e profundidade e baixa

velocidade de corte) e com forças de corte elevadas, é usado como fluido de corte lubrificante

o óleo puro, que é aplicado nas partes em contato. Já na usinagem branda ou leve, onde há

velocidade de corte alta, usa-se a emulsão, pois é necessária principalmente a refrigeração.

(DINIZ, 1999)

4.2 Material da ferramenta

A escolha de materiais para as ferramentas usadas nos processos de usinagem é muito

importante para se ter sucesso na operação. Alguns destes materiais são o aço rápido, o metal

duro, a cerâmica e o diamante e devem conter as seguintes propriedades, segundo Ferraresi

(1977) e Diniz (1999):

Elevada dureza a quente;

Elevada dureza a frio;

Tenacidade;

Resistência à abrasão;

Estabilidade química;

Facilidade de obtenção a preços econômicos.

Porém, nenhum material tem todas essas características, logo, é necessário listar as

propriedades principais e as secundárias que se quer ter. O aço rápido, por exemplo, mantém a

dureza até temperaturas em torno de 600°C, possuindo maior resistência à abrasão. Tem como

fluido de corte as emulsões com aditivos antiferruginosos, pois não podem ser expostos à

água devido à corrosão. (FERRARESI, 1977; DINIZ, 1999)

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4.3 Material da peça

Segundo Ferraresi (1977), conhecer o material da peça a ser usinada e o seu comportamento é

decisivo para uma escolha correta do fluido de corte. Assim, surge o conceito de

usinabilidade, que nada mais é do que a propriedade que os materiais têm de se deixarem ser

usinados. Muitos fatores exercem influência na usinabilidade dos materiais como: variação da

composição do material da peça, o quanto deformou a frio, as propriedades mecânicas, entre

outros.

A laminação a quente afeta a usinabilidade da seguinte maneira:

Aços contendo até 0,30% de carbono: há um abaixamento do índice de

usinabilidade;

Aços contendo de 0,30 a 0,40% de carbono: há pouca influência;

Aços contendo acima de 0,40% de carbono: há um aumento do índice de

usinabilidade. (FERRARESI, 1977)

Os materiais da peça podem ser: aço; ferro fundido; alumínio e suas ligas; magnésio e suas

ligas; cobre e suas ligas; e níquel e suas ligas. Na Figura 2 é possível ver quais são os fluidos

de corte usados em algumas operações de corte segundo os materiais da peça.

4.4 Operação de usinagem

Cada operação de corte tem objetivos e parâmetros de usinagem diferentes entre si. Sendo

assim, cada processo tem o fluido de corte que mais se adequa a ele, levando-se em conta a

finalidade da operação e o material da peça a ser usinada (Figura 2).

Figura 2 - Fluidos de corte segundo o material da peça e a operação de usinagem

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Fonte: Adaptado de Ferraresi (1977); elaboração própria

4.5 Máquina-ferramenta e produção

Para se chegar ao produto final, um corpo/peça passa por diversas transformações físicas. A

complexidade dessas sucessivas transformações, ou ciclo de fabricação, aliada ao tipo de

produção (variedade de produtos e volume de produção) influenciam na determinação da

máquina-ferramenta adequada ao processo e, consequentemente, o fluido de corte adequado.

Operações específicas e exigentes podem ser facilmente realizadas por máquinas-

ferramentas clássicas, utilizando-se fluidos especiais aditivados. Ex: brochadeiras,

rosqueadeiras, superacabadoras, etc;

Operações variadas e perfis mais complexos podem ser obtidos por máquinas-

ferramentas de reprodução, empregando-se fluidos de uso geral, de grande

compatibilidade. Ex: centros de usinagem.

4.6 Aspectos ecológicos (operadores e meio ambiente)

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Em suas composições, os fluidos de corte contêm óleos e agentes químicos que podem causar

danos ao solo, água e ar. Portanto, os fluidos de corte devem ser descartados adequadamente

segundo legislação ambiental existente.

Óleos de corte puros ou integrais podem ser vendidos para refinação; regenerados pelo

fabricante ou empresas especializadas; queimado para aproveitamento energético (caldeiras)

ou incinerado de acordo com a legislação ambiental. Quanto aos óleos emulsionáveis, os

processos de descarte podem ser divididos em: físico (filtração e quebra térmica), químico

(adição de sais) e físico-químico (quebra ácida com adsorção a quente). No entanto, todos eles

têm em comum os seguintes estágios: quebra da emulsão, separação do óleo e tratamento da

água. A escolha do processo depende do estado da emulsão, de sua composição e do custo

envolvido. (GONÇALVES, 2010)

Grande parte dos fluidos possui componentes que podem causar, além do impacto ambiental,

doenças ao ser humano. O contato do fluido com o operário pode ser direto ou através de

vapores, névoa ou subprodutos formados durante a usinagem, podem causar problemas de

pele, câncer, ou doenças pulmonares. Algumas medidas preventivas como uso de cremes

protetores e a adoção de EPIs adequados podem minimizar ou eliminar o risco de

contaminação do operador. (GONÇALVES, 2010; SOUZA 2011)

4.7 Análise econômica

Relação custo-benefício relacionada à: aquisição, armazenamento, preparo, controle em

serviço e o descarte do fluido de corte. Estas despesas correspondem a cerca de 16% do custo

de produção por peça. (SOUZA, 2011)

4.8 Recomendações dos fabricantes

Considerar as recomendações não apenas do fabricante do fluido de corte, mas, também, da

máquina-ferramenta e da ferramenta para escolha adequada do fluido de corte.

5. Manutenção

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Os mesmos cuidados que se tem com máquinas, por exemplo, deve-se ter com os fluidos de

corte, a fim de evitar a degradação prematura dos mesmos. Cuidados especiais desde o

armazenamento até o ponto de aplicação do fluido na região de corte devem ser tomados.

5.1 Óleos de corte

Os óleos devem ser removidos periodicamente para sofrerem operações de limpeza (filtração,

centrifugação ou similares) caso, quando em trabalho, se contaminem rapidamente com

cavacos e impurezas diversas. Estas operações de limpeza podem ser feitas na própria

máquina operatriz, desde que o grau de impurezas permita e que contenha tubulações e

espaços indispensáveis a uma adequada filtração do fluido de corte. Após a remoção do óleo

de corte e da limpeza das tubulações e unidades, o sistema é preenchido com o óleo limpo ou

então óleo novo. (FERRARESI, 1997)

5.2 Óleos emulsionáveis e fluidos químicos

Toda emulsão deve ser preparada misturando-se o óleo na água. A emulsão invertida (água

em óleo) resultará em uma mistura instável. Ressaltando-se que, a introdução do óleo no

tanque acontece ao mesmo tempo que a agitação da água para se proceder à emulsão. Devido

a água dessa preparação ser de suma importância para os fins esperados da emulsão, deve-se

ter alguns cuidados. O recomendável é que a água usada na operação sempre deve ser sem

dureza alguma e no caso de existência da dureza é necessário que a água sofra tratamento

antes de ser usada na preparação do fluido de corte. Além disso, deve-se ter cuidado com o

pH da água que, para emulsão recém preparada, deve ficar entre 8,5 e 10,0 (alcalino).

(FERRARESI, 1997; SÁ, 2010)

Em processos de usinagem onde há grande geração de calor a concentração da emulsão

precisa ser observada, pois tal calor excessivo pode provocar a evaporação da água. Em

processos como a retificação, por exemplo, o que pode ocorrer é o consumo rápido do óleo da

emulsão, tornando-a mais diluída. Segundo Ferraresi (1977), “a vida das emulsões pode variar

de uma semana a seis meses”. Mas cuidados ao se refrigerar as emulsões podem melhorar a

vida desses fluidos.

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Na composição dos óleos solúveis é comum incluir agentes bactericidas, devido a uma

possível presença de microorganismos (bactérias, fungos e algas) na água, que podem

desestabilizar e provocar mau cheiro do fluido de corte por causa do ataque das bactérias aos

sulfatos inorgânicos encontrados na água natural. Para se dizer que o fluido de corte é de boa

qualidade ele precisa ter grande resistência a este estado de emulsão rançosa.

Geralmente os fluidos de corte são submetidos a processos de purificação com os seguintes

objetivos:

a) Redução da mão de obra na limpeza de reservatórios;

b) Controle das propriedades dos fluidos, para que sejam garantidas as

concentrações corretas para cada máquina (nos sistemas centralizados);

c) Redução do descarte com possibilidade de remoção de metálicos finos, resíduos

de rebolo e outros contaminantes;

d) Melhoria da qualidade das peças fabricadas;

e) Aumento da vida útil do fluido de corte. (CIMM - CENTRO DE

INFORMAÇÃO METAL MECÂNICA)

O processo de purificação pode ser feito através de procedimentos simples como a decantação

(escumação) e filtração ou através de dispositivos especiais.

6. Aplicação dos fluidos de corte

Os fluidos sólidos podem ser aplicados “diretamente na superfície de saída da ferramenta,

antes da operação de usinagem”, ou como “aditivo metalúrgico”. Os fluidos de corte líquidos

e gasosos “são aplicados diretamente sobre região de corte” (FERRARESI, 1977).

De modo geral, para que o fluido de corte desempenhe suas funções deve ser aplicado

próximo da aresta de corte, nas interfaces peça/ferramenta/cavaco. Não há um consenso em

relação à melhor direção de aplicação de fluido.

Ao definir a forma de aplicação deve-se considerar, além do tipo do fluido de corte

empregado e as direções do jato, o tipo de operação de usinagem, a pressão e o volume do

fluido.

7. Tendências tecnológicas

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Aspectos produtivos, econômicos e ambientais, apresentados no tópico sobre seleção do

fluido de corte, têm levado a pesquisas e desenvolvimentos de técnicas que visam reduzir ou

eliminar o uso de lubri-refrigerantes nos processos de usinagem. Em consonância com essa

tendência surgem as técnicas de aplicação de mínima quantidade de fluido de corte (MQF), o

resfriamento criogênico e a usinagem a seco. (LAWAL, 2012)

7.1 Usinagem a seco

O processo de usinagem a seco implica em abrir mão dos benefícios do fluido de corte. No

entanto, resulta, também, na eliminação de custos de aquisição e manutenção dos fluidos, bem

como dos impactos negativos ao meio ambiente e à saúde do operador. Resultados positivos

têm sido obtidos, empregando esta técnica em operações de torneamento e fresamento,

utilizando-se ferramentas de metal-duro revestido, de cerâmica e de nitreto de boro cúbico. A

aplicação desta técnica, entretanto, exige a adaptação de todos os fatores influentes no

processo: sistema de refrigeração da máquina-ferramenta, sistema de remoção do cavaco,

parâmetros de corte, entre outros.

Figura 3 - Usinagem a seco

Fonte: Stoeterau, 2007

7.2 Usinagem com técnica de resfriamento criogênico

Consiste na aplicação de nitrogênio líquido para redução da temperatura durante o processo

de usinagem. É uma alternativa ambientalmente correta, uma vez que não há fluido de corte

para se descartar, pois o nitrogênio evapora inofensivamente no ar. Além do mais, o cavaco

gerado por esta técnica está livre de contaminantes, podendo ser reciclado. Experimentos

revelam bom desempenho desta técnica a baixas velocidades de corte, bem como, redução do

desgaste do flanco e aumento da vida da ferramenta. No entanto, a regulação do fluxo e

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pressão do nitrogênio líquido são fatores críticos, para evitar o arrefecimento demasiado da

peça de trabalho e, consequentemente, um aumento da força de corte.

7.3 Usinagem com quantidade mínima de fluido de corte (MQF)

Quando não é possível eliminar o uso do fluido refrigerante, utiliza-se a técnica de mínima

quantidade de fluido de corte. Nesta técnica, o fluido, contendo pequena quantidade óleo, é

pulverizado na região de corte, normalmente, na saída do cavaco ou entre a superfície de folga

da ferramenta e a peça. As vazões de fluido utilizando o MQF (10 a 20 ml/h) são bem

menores que na usinagem convencional com lubrificação abundante (300 a 4000 ml/min). O

controle sobre a quantidade de fluido é importante, uma vez que os diferentes processos de

usinagem necessitam de quantidades diferentes de lubrificidade.

Figura 4 - Comparação das quantidades de fluido aplicado em furação: (a) normal; (b) MQF

Fonte: Souza (2011)

A ação lubrificante do fluido reduz o atrito e as componentes das forças empregadas devido a

maior penetrabilidade do óleo sob a forma de vapor. Além do mais, as pequenas partículas de

fluido permitem sua rápida absorção e, consequentemente, a redução da temperatura. No

entanto, a usinagem com MQF gera um aumento na emissão de vapor, névoa e fumaça de

óleo, o que implica na necessidade de um maior controle das emissões, por meio do

encapsulamento da máquina-ferramenta ou de sistema de exaustão eficiente.

A usinagem a seco e a técnica MQL baseiam-se no desenvolvimento reduzido de calor,

exigindo ferramentas otimizadas, com revestimentos e geometrias que auxiliem na remoção

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do cavado e combatem o superaquecimento. Esta técnica pode ser agrupada em dois sistemas

de alimentação:

Interno - fornecimento por meio de canais embutidos na ferramenta. O ar pressurizado

e o fluido de corte são misturados no bocal por meio de um dispositivo. Neste

fornecimento o fluido está constantemente disponível nos pontos críticos. Indicado

para operações de furação e alargamento;

Externo – fornecimento no qual o bocal é montado separadamente, na zona da

máquina. A mistura (ar e fluido) é obtida por um dispositivo colocado em um tanque

específico. Indicado para operações de fresamento e torneamento.

Figura 5 - Alimentação externa e interna

Fonte: DGUV, 2010 apud Lawal et al., 2012

Vários estudos foram realizados aplicando-se a técnica MQF em diversas operações de

usinagem (torneamento, fresamento, furação, retificação), utilizando-se vários parâmetros de

processo (materiais, velocidades de corte, velocidades de avanço, profundidade, lubri-

refrigerante, e outros) e diversos critérios de desempenho (componentes da força de

usinagem, qualidade e rugosidade da superfície, desgaste do flanco, temperatura na região de

corte, vida da ferramenta destacando as vantagens do seu uso sob diferentes lubri-

refrigerantes). Os resultados dos experimentos mostram bom desempenho da técnica MQF

conforme observado nas figuras abaixo.

Figura 6 - Variação na rugosidade da superfície no processo de torneamenteo do aço, em

diferentes condições de arrefecimento

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Fonte: Khan et al., 2009 apud Lawal et al., 2012

Figura 7 - Desempenho de diferentes condições de arrefecimento no processo de furação,

utilizando óleo sintético (MQL) e óleo de base vegetal com concentração 10% (emulsão

aplicada em abundância)

Fonte: Vacaro, 2009

Figura 8 - Desempenho de diferentes condições de arrefecimento no processo de fresamento,

utilizando óleo sintético (MQL) e óleo de base vegetal com concentração 10% (emulsão

aplicada em abundância)

Fonte: Vacaro, 2009

8. Conclusão

Ao desempenhar suas funções os fluidos de corte introduzem melhorias econômicas e

funcionais nos processos de usinagem. Entretanto, as propriedades dos meios lubri-

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refrigerantes diferem dependendo do seu tipo e da sua composição, não existindo um fluido

ideal. Assim, para atender as especificidades de cada operação, faz-se uso de aditivos que

acentuam características inerentes ao lubrificante ou lhe conferem novas características

desejáveis.

Considerando a diversidade de fluidos de corte (sólido, líquido e gasoso) e as variáveis

envolvidas em uma operação, para seleção do fluido de corte adequado ao processo foram

apontados alguns critérios: condições de usinagem, material da ferramenta, material da peça,

operação de usinagem, máquina-ferramenta, produção, aspectos ecológicos, análise

econômica e recomendações dos fabricantes. Os critérios apresentados servem para orientar

na definição do fluido, não sendo definitivos e nem devendo restringir-se a estes.

Ainda quanto aos critérios de seleção, destacamos: a análise econômica, posto que o lucro é o

objetivo final de qualquer empresa e todas as variantes de um processo vão influenciar direta

ou indiretamente no custo final do produto; e os aspectos ecológicos, em virtude do cenário

mundial que prima por soluções verdes e da legislação ambiental, além do fato de que este

critério influencia no primeiro. Assim, fatores econômicos e ambientais tem impulsionado a

busca por alternativas que visam à redução ou eliminação dos fluidos de corte.

Quanto às novas tendências, dentre as alternativas mencionadas, a técnica de mínima

quantidade de fluido de corte (MQF) tem mostrado melhor desempenho na usinagem. Além

de contribuir para o combate aos problemas ambientais e a redução de custos devido à

redução na quantidade de fluido empregada no processo. No entanto, alguns fatores críticos

ainda precisam ser considerados, tais como otimização de ferramentas, o controle da vazão do

fluido e o controle das partículas em suspensão.

Referências

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DINIZ, Anselmo Eduardo; MARCONDES, Francisco Carlos; COPPINI, Nivaldo Lemos. Tecnologia da

usinagem dos materiais. 3 ed. São Paulo: Artliber Editora, 1999. 244p.

FERRARESI, Dino. Fundamentos da usinagem dos metais. São Paulo: Edgard Blücher, 1977. 796p.

GONÇALVES, Bruno Bastos; YAGINUMA, Gabriel Fernando; YAMAMOTO, Marcelo Kazuo. Óleos de

usinagem: tipos, classificação e desempenho. Universidade Estadual Paulista, 2010, 13p. Disponível em:

<http://wwwp.feb.unesp.br/jcandido/manutencao/Grupo_18.pdf>. Acesso em: 22 fev. 2013.

LAWAL, Sunday Albert; CHOUDHURY, Imtiaz Ahmed; NUKMAN, Yusoff. A critical assessment of

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