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GESTÃO DEMOCRÁTICA: O USO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO COMO INSTRUMENTO NORTEADOR NA GESTÃO DAS ESCOLAS ESTADUAIS DA COORDENADORIA DISTRITAL IV EM MANAUS Arnoldo Menezes da Silva 1 , Alexandre Pereira Alfon 2 , Rosa Oliveira Marins Azevedo 3 RESUMO O presente trabalho tem por objetivo compreender a contribuição do Projeto Político Pedagógico na construção e viabilização da gestão democrática nas unidades educacionais da Coordenadoria Distrital IV. A concretização do Projeto Político Pedagógico é de extrema importância para a instituição escolar, uma vez que este deve reger seus passos na busca de um ensino de qualidade, devendo ser considerado um caminho de consolidação da autonomia da escola e deve ser embasado na observação da realidade onde a mesma se insere almejando a melhoria da comunidade escolar. Tal projeto é construído de forma coletiva, envolvendo gestores, professores, funcionários administrativos, alunos e pais para que a escola possa consolidar a sua democratização. Destaca-se ainda que este estudo se consubstancia a partir da pesquisa bibliográfica e empírica, tendo o aporte teórico metodológico ancorado em autores como Carneiro (2006), Cury (2000), Lück (2000), Padilha (2003), Paro (2000) e Vasconcelos (2006) que nos permitiu concluir que a gestão democrática está paulatinamente sendo construída de forma efetiva por meio da implantação do Projeto Político Pedagógico nas escolas da Zona Oeste da Cidade de Manaus. Palavras-chave: Escola Democrática, Autonomia, Projeto Político Pedagógico. ABSTRACT The present work aims to understand the contribution of the Political Pedagogical Project in construction and feasibility of democratic management in the educational units of the District Coordination IV. The achievement of political-pedagogical project is of extreme importance to the academic institution, since it must govern their footsteps in search of quality education and should be considered a way of consolidation of school autonomy and must be grounded in the observation of reality where it is inserted aiming to improve the school community. This project is built in a collaborative, involving administrators, teachers, administrators, students and parents to the school to consolidate its democracy. Note also that this study is embodied from the literature and empirical, methodological and theoretical basis grounded in authors such as Carneiro (2006) and Cury (2000), Lück (2000), Padilla (2003), Paro (2000) and Vasconcelos (2006) that allowed us to conclude that democratic management is gradually being built effectively through the implementation of Project Political schools of the western zone of the city of Manaus. Keywords: Democratic School, Autonomy, Political Pedagogical Project. 1 Graduando do Curso de Licenciatura em Química do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, e-mail: [email protected] 2 Graduando do Curso de Licenciatura em Química do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, e-mail: [email protected] 3 Mestre em Ensino de Ciências. Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, e-mail: [email protected]

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GESTÃO DEMOCRÁTICA: O USO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO COMO INSTRUMENTO NORTEADOR NA GESTÃO DAS ESCOLAS ESTADUAIS DA COORDENADORIA DISTRITAL IV EM MANAUS

Arnoldo Menezes da Silva1, Alexandre Pereira Alfon2 ,

Rosa Oliveira Marins Azevedo3

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo compreender a contribuição do Projeto Político Pedagógico na construção e viabilização da gestão democrática nas unidades educacionais da Coordenadoria Distrital IV. A concretização do Projeto Político Pedagógico é de extrema importância para a instituição escolar, uma vez que este deve reger seus passos na busca de um ensino de qualidade, devendo ser considerado um caminho de consolidação da autonomia da escola e deve ser embasado na observação da realidade onde a mesma se insere almejando a melhoria da comunidade escolar. Tal projeto é construído de forma coletiva, envolvendo gestores, professores, funcionários administrativos, alunos e pais para que a escola possa consolidar a sua democratização. Destaca-se ainda que este estudo se consubstancia a partir da pesquisa bibliográfica e empírica, tendo o aporte teórico metodológico ancorado em autores como Carneiro (2006), Cury (2000), Lück (2000), Padilha (2003), Paro (2000) e Vasconcelos (2006) que nos permitiu concluir que a gestão democrática está paulatinamente sendo construída de forma efetiva por meio da implantação do Projeto Político Pedagógico nas escolas da Zona Oeste da Cidade de Manaus.

Palavras-chave: Escola Democrática, Autonomia, Projeto Político Pedagógico.

AbSTRACT

The present work aims to understand the contribution of the Political Pedagogical Project in construction and feasibility of democratic management in the educational units of the District Coordination IV. The achievement of political-pedagogical project is of extreme importance to the academic institution, since it must govern their footsteps in search of quality education and should be considered a way of consolidation of school autonomy and must be grounded in the observation of reality where it is inserted aiming to improve the school community. This project is built in a collaborative, involving administrators, teachers, administrators, students and parents to the school to consolidate its democracy. Note also that this study is embodied from the literature and empirical, methodological and theoretical basis grounded in authors such as Carneiro (2006) and Cury (2000), Lück (2000), Padilla (2003), Paro (2000) and Vasconcelos (2006) that allowed us to conclude that democratic management is gradually being built effectively through the implementation of Project Political schools of the western zone of the city of Manaus.

Keywords: Democratic School, Autonomy, Political Pedagogical Project.

1 Graduando do Curso de Licenciatura em Química do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, e-mail: [email protected] Graduando do Curso de Licenciatura em Química do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, e-mail: [email protected] Mestre em Ensino de Ciências. Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, e-mail: [email protected]

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1. INTRODUçÃO

A humanidade vivencia na contempo-raneidade novas rupturas e novas configura-ções. Ocorre uma evolução lenta e gradual que se defronta com seus próprios limites emergindo novas demandas em vários seg-mentos da sociedade, inclusive para a gestão escolar em decorrência da necessária auto-nomia e democratização de sua gestão.

Sendo assim, para que se alcance o objetivo desta pesquisa que é compreender a contribuição do projeto político pedagógi-co na construção e viabilização da gestão de-mocrática nas unidades educacionais da Co-ordenadoria Distrital IV na cidade de Manaus, utilizaremos a pesquisa bibliográfica e empí-rica, tendo o aporte teórico metodológico ancorado em autores como Carneiro (2006), Cury (2000), Lück (2000), Padilha (2003), Paro (2000) e Vasconcelos (2006) a partir de uma perspectiva crítica dialética.

Cury (2000) assegura que a democra-cia deve ser o eixo que direciona as ações. Uma gestão democrática e participativa perpassa por todos os segmentos que com-põem a escola, tanto administrativo quanto financeiro e pedagógico. Elucida-se a par-tir daí que uma escola democrática prevê a construção coletiva do seu projeto político pedagógico que se consubstancia em uma exigência no processo de firmação da ci-dadania, pois contribui para a autonomia política da escola e do aluno. A construção coletiva do projeto educativo da escola dá sustentação e vida própria à escola.

Desta forma, o projeto político peda-gógico, quando construído coletivamente e objetivando a busca da autonomia da escola e do indivíduo é a marca registrada de uma gestão democrática. Nele está impresso o tipo de cidadão e de sociedade que se deseja, o tipo de escola que se quer, a forma como se buscará a construção da escola dos sonhos, enfim toda a identidade da escola. Ou seja, quando o grupo que interage na escola tem os mesmos princípios e buscam os mesmos objetivos em comum, a gestão da escola tem a tendência de se descentralizar e a tomada

de decisões passa a ser responsabilidade dos órgãos colegiados – grêmios, associações de pais e mestres, conselhos de professores, etc.

Contudo, toda a prática pedagógica adotada pela escola deve estar pautada no interesse da coletividade com isso o projeto político pedagógico aqui entendido como instrumento norteador da gestão escolar é imprescindível para a democratização dos espaços escolares, e a articulação deste es-paço com a sociedade.

2. ESCOLA DEMOCRÁTICA: SUA CONSTRUçÃO

A ampliação das liberdades demo-cráticas para a sociedade brasileira se deu na década de 1980 em pleno período de abertura política. A Constituição Federal de 1988, reflexo da pressão da sociedade civil que almejava um país democrático, traz em seu bojo mudanças em várias áreas, dentre as quais podemos evidenciar o artigo 206 que preconiza sobre a “gestão democráti-ca do ensino público, na forma da lei”. Para obedecer ao supracitado princípio constitu-cional, este novo modelo de democratização na educação pública passou por um longo processo de maturação sendo necessária in-clusive a reformulação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96, sancionada em 20/12/1996 e publicada no Diário Oficial em 23/12/1996) e a criação de um novo Plano Nacional de Educação – PNE (Lei nº 10.127 de janeiro de 2001) que foi pre-visto na CF/88:

O art. 214 da nova Constituição expressa o desejo da nação brasileira de um Plano Na-cional de Educação, de duração plurianual, que leve à erradicação do analfabetismo, à universalização do atendimento escolar, à melhoria da qualidade do ensino, à for-mação para o trabalho e à promoção hu-manística, científica e tecnológica do País. A sociedade, mais uma vez, eleva ao nível constitucional um desejo e um objetivo na-cional. (BRASIL, 2001, p.13)

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De acordo com a Constituição Federal de 1988, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e com o Plano Nacional de Educação, a construção da autonomia escolar deverá ser resultado da Gestão de-mocrática, através da qual a escola deverá assumir compromisso com a construção de sua identidade. Neste sentido, o artigo 14 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio-nal – LDB (Lei nº 9.394/96) ratifica o artigo constitucional 206 ao observar dois novos princípios: O primeiro enfatiza que esta ges-tão deve ter a participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto peda-gógico da escola. Enquanto que o segundo afirma que nela também deve ter a partici-pação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRA-SIL, 1996, Art. 14, I e II). Sobre a importância destes dois princípios, Carneiro (2006, p. 83) assegura que:

A participação dos professores e especialis-tas na elaboração do projeto pedagógico da escola e o congraçamento participati-vo em colegiados diretivos escolares fun-cionam como balizamentos desta ‘utopia concreta’ da gestão democrática escolar no âmbito das instituições públicas.

A LDB atual se diferencia das anterio-res por ter sido embrionada no Legislativo e não no Executivo e pela grande participação da sociedade civil: entidades, associações, como também especialistas, administrado-res e pesquisadores. Foi resultante de um embate de forças e interesses conflitantes e de um processo de construção complexo e polêmico, que duraram oito anos. Ela repre-senta um papel importante na formulação e gerenciamento de uma política educacio-nal para a sociedade brasileira. Contempla a gestão democrática, enfocando a autonomia dos entes federados (art. 3 e 14 do cap. VIII) e a formação (art. 63 e 67 da LDB): “os profis-sionais devem possuir formação docente e/ou pedagógica, além de experiência docen-te”. Possui como proposta básica, a gestão democrática, que se consolida na autonomia

financeira, pedagógica e administrativa da escola.

A temática gestão democrática tem suscitado debates, reflexões e iniciativas públicas na área educacional. Etimologica-mente, a palavra gestão está associada a germinar, fazer crescer, executar. Seria a ge-ração de um modo novo de administrar uma realidade que, como coloca Cury (2002, p. 173), é democrática em si mesma por impli-car a comunicação, o envolvimento coletivo e o diálogo. Para este teórico, a gestão de-mocrática da educação é, ao mesmo tempo, transparência e impessoalidade, autonomia e participação, liderança e trabalho coletivo, representatividade e competência.

O PNE contempla a gestão democráti-ca, sob o ângulo da gestão dos recursos, num primeiro momento, e em seguida, a gestão financeira e pacto federativo, para, finalmen-te, abordar a gestão democrática mais dire-tamente, apresentando 25 metas de gestão, envolvendo os três momentos. Quanto ao financiamento e gestão o PCN/2001 (Parâ-metros Curriculares Nacionais) assinala que:

Cumpre consolidar e aperfeiçoar outra di-retriz introduzida a partir do Fundef, cuja preocupação central foi a equidade. Para tanto, é importante o conceito operacio-nal de valor mínimo gasto por aluno, por ano, definido nacionalmente. A equidade refere-se não só aos sistemas, mas aos alu-nos em cada escola. Assim, de nada adianta receber dos fundos educacionais um valor por aluno e praticar gastos que privilegiem algumas escolas em detrimento das es-colas dos bairros pobres. A LDB preceitua que aos Municípios cabe exercer a função redistributiva com relação a suas escolas. (BRASIL, 2001, p.102)

Desta forma, para que as escolas se tornem autônomas existe a necessidade das mesmas cumprirem as metas de acordo com o PNE, e para tal utilizam-se do projeto po-lítico pedagógico que se consubstancia de acordo com Vasconcelos (2004, p. 169) em um plano global da instituição que pode ser entendido como a sistematização, nunca

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definitiva, de um processo de planejamento participativo, que se aperfeiçoa e se concre-tiza na caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar.

Evidencia-se, portanto a necessidade de estabelecimento de diretrizes, objetivos e metas, execução e avaliação, a escola pode desenvolver projetos específicos de interes-se da comunidade escolar, que devem ser sistematicamente avaliados e revitalizados. A gestão democrática da escola significa, por-tanto, a conjunção entre instrumentos for-mais - eleição de direção, conselho escolar, descentralização financeira - e práticas efe-tivas de participação, que conferem a cada escola sua singularidade, articuladas em um sistema de ensino que igualmente promo-va a participação nas políticas educacionais mais amplas.

3. GESTÃO ESCOLAR: UMA PERS-PECTIVA DA ESCOLA DEMOCRÁTI-CA

O gestor de uma escola precisa ser portador de profundos conhecimentos pe-dagógicos para que tenha a capacidade de compreender o universo escolar em sua to-talidade. Para este profissional é necessá-rio a capacidade de viabilizar a articulação das políticas de formação com a de gestão além de se ter uma visão estratégica e ho-lística, sobretudo, no que tange a constru-ção do projeto político pedagógico que é uma ferramenta que possibilita gestão de-mocrática.

Para Lück (2000), um diretor de es-cola é um gestor da dinâmica social, um mobilizador e orquestrador de atores, um articulador da diversidade para dar-lhe unidade e consistência na construção do ambiente educacional e promoção segura da formação de seus alunos, suas ações te-nha em mente o conjunto todo da escola e seu papel educacional. Não apenas imedia-to, mas de repercussão no futuro, em acor-do com visão estratégica e com amplas po-líticas educacionais.

No que tange à gestão democráti-ca, Veiga (2006) evidencia que este é um campo em aberto e passível à construção do conhecimento e da aprendizagem em virtude da dificuldade que se tem de mu-danças de paradigmas. Por muito tempo, a educação viveu apenas sob o domínio do modelo da modernidade fincado em suas verdades prontas, em seus conhecimentos cristalizados e sem direito à participação da coletividade. Atualmente um dos princi-pais paradigmas a ser quebrado é o de assi-milar novas formas de se relacionar com o conhecimento, a pesquisa, a organização e a função da comunidade no envolvimento da educação.

É possível vislumbrar instituições que serviriam como modelos na constru-ção deste novo processo de democratiza-ção da escola pública. Tais instituições se evidenciam por terem gestores que esta-belecem um relacionamento entre meios e fins para solucionar problemas educacio-nais e administrativos além de buscarem superar os desafios e romper com a rotina burocrática. Neste sentido, é fundamental que haja o envolvimento de toda a comu-nidade não somente na execução, mas também no planejamento e na avaliação das atividades realizadas.

Podemos constatar que a escola apresenta uma função contraditória, pois ao mesmo tempo em que é fator de ma-nutenção, ela transforma a cultura. Ou seja, a escola mantém e transforma ao mesmo tempo, influência e é influenciada pela sociedade. Diante do exposto, enfatiza-se a importância da formação dos gestores, pois os mesmos precisam estar imbuídos de domínio ético, políticos e possuírem a compreensão da autonomia que de acordo com Padilha (2003) deve estar fundada no respeito à diversidade, à riqueza das cultu-ras e à procura da superação das marcantes desigualdades locais e regionais na parti-ção e no envolvimento de todos.

O processo de gestão democrática constrói-se na correlação das forças políti-cas colocando o bem comum em primeiro

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plano. Não se origina no interior da escola, porém este espaço é campo privilegiado de intervenções política e ideológica, pois traz na sua essência pedagógica a possibi-lidade de construção de novos paradigmas e práticas que priorizem a via democrática.

Paro (2000) assegura que a partici-pação democrática não se dá espontanea-mente, pois antes de tudo é um processo histórico em construção coletiva. Sendo assim, coloca-se a necessidade de se pre-verem mecanismos institucionais que não apenas viabilizem, mas também incenti-vem práticas participativas dentro da esco-la pública. Desta forma, é necessário que se estabeleça novas relações entre a escola e o contexto social no qual está inserida para que se promova a democratização da ges-tão escolar.

Outra dimensão da prática de uma gestão democrática, além do planejamen-to participativo é a importância que se dá ao currículo como uma preocupação efeti-va do modelo de educação que se quer na escola. Um currículo tem implícito o tipo de aluno que se quer formar dentro da es-cola. Imprescindivelmente deve-se querer um aluno preparado para atuar na socieda-de, munido de conhecimentos básicos que possam lhe ajudar a buscar cada vez mais conhecimentos para atuar na sociedade. Sobre isto, Libâneo (2004) ressalta que:

O currículo deve contemplar as novas for-mas de aquisição do conhecimento, tornar o aprendizado dos alunos numa experiên-cia pedagógica que vise como aprender numa sociedade global, de constantes mudanças. Ele deve destacar a importância dos temas transversais e da interdisciplina-ridade, com intuito de possibilitar ao aluno confrontar conhecimentos escolares, com saberes do seu contexto social. (p. 52)

Deste modo, Paro (2000) assevera que a gestão escolar é um processo a ser construído paulatinamente, no entanto, na prática há a necessidade de que seja opor-tunizado à sociedade que participem de forma efetiva desde o desenvolvimento de

um clima amistoso nas relações humanas no âmbito da escola até a luta pelos direitos hu-manos de toda ordem no nível da sociedade global. Neste sentido, é necessário que haja um comprometimento com a gestão demo-crática que deve ser:

[...] inspirada na cooperação recíproca en-tre os homens deve ter como meta a cons-tituição, na escola, de um novo trabalhador coletivo que, sem os constrangimentos da gerência capitalista e da parcelarização de-sumana do trabalho, seja uma decorrência do trabalho cooperativo de todos os envol-vidos no processo escolar, guiados por uma ‘vontade coletiva’, em direção ao alcance dos objetivos verdadeiramente educacio-nais da escola. (PARO, 1986, p. 160)

Medeiros (2003) assevera que a ges-

tão democrática da educação formal está as-sociada ao estabelecimento de mecanismos legais e institucionais e à organização de ações que desencadeiem a participação so-cial: na formulação de políticas educacionais; no planejamento; na tomada de decisões; na definição do uso de recursos e necessidades de investimento; na execução das delibera-ções coletivas; nos momentos de avaliação da escola e da política educacional. Também a democratização do acesso e estratégias que garantam a permanência na escola, tendo como horizonte a universalização do ensino para toda a população, bem como o debate sobre a qualidade social dessa educação uni-versalizada. Esses processos devem garantir e mobilizar a presença dos diferentes atores envolvidos, que participam no nível dos sis-temas de ensino e no nível da escola.

Neste caso é evidente que o processo de gestão de democrática consubstancia-se em um desafio diante dos problemas sociais vivenciados pela sociedade, no entanto, é necessária a ampliação de espaços de deba-te sobre a temática para que possamos re-fletir sobre a construção do projeto político pedagógico na escola como um processo co-letivo, envolvendo os diversos agentes que fazem parte da realidade escolar.

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4. PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGI-CO: CAMINhO PARA A CONqUIS-TA DA AUTONOMIA

A construção do projeto político pe-dagógico, conforme Veiga (2006) surge a par-tir da necessidade de organizar e planejar a vida escolar. Neste sentido, o Projeto Político Pedagógico é a marca original da escola, ele pode propor oferta de uma educação de qua-lidade, definindo ou aprimorando seu mode-lo de avaliação levando em consideração os principais problemas que interferem no bom desempenho dos alunos; estabelecer e aper-feiçoar o currículo voltado para o contexto sociocultural dos educandos; apontar metas de trabalho referentes à situação pedagógica, principalmente no que se refere às experiên-cias com metodologias criativas e alternativas. Em função disso, é que se considera impor-tante estruturar os princípios que norteiam as práticas educacionais. Neste sentido o Projeto Político Pedagógico exige profunda reflexão e Vieira (2002, p.09) assinala que:

[...] Seu processo de construção aglutinará crenças, convicções, conhecimentos, da comunidade escolar, do contexto social e científico constituindo-se em compromisso político e pedagógico coletivo.

Desta forma, pode-se assegurar que o projeto político pedagógico é um instrumen-to teórico-metodológico para a intervenção e mudança da realidade. É um elemento de organização e integração da atividade prá-tica da instituição neste processo de trans-formação. Sob a ótica de Padilha (2003) o projeto político pedagógico deve ser um ins-trumento de diagnóstico e transformação da realidade escolar, construído coletivamente. Para Vasconcelos (2006, p. 169),

O Projeto Político Pedagógico (ou Projeto Educativo) é o plano global da instituição [...] um processo de Planejamento Partici-pativo, que se aperfeiçoa e se concretiza na caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar.

É evidente que a ampliação da au-

tonomia da escola e a democratização de sua gestão constituem, hoje, exigências histórico-sociais, ou seja, a autonomia e a de-mocratização da gestão da escola são deman-dadas pela própria evolução da sociedade.

Vale ressaltar que os problemas rela-cionados com a educação não são exclusi-vamente responsabilidade do governo, mas uma responsabilidade social. As soluções devem ser buscadas em conjunto e isso só se consegue quando os espaços de discussões são abertos.

A prática da autonomia escolar, por-tanto, demanda ainda de alguns mecanismos que a sustenta: existência de estrutura de ges-tão colegiada. O Consed (1997, p.14) define as estruturas de gestão colegiada como:

[...] mecanismos coletivos escolares cons-tituídos, em geral, por professores, alunos, funcionários, pais e por representantes da sociedade, escolhidos pela comunidade escolar, com o objetivo de apoiar a gestão da escola e tornar a organização escolar um ambiente dinâmico de aprendizagem social. Através delas, portanto, todas as pessoas ligadas à escola podem se fazer representar e decidir sobre aspectos admi-nistrativos, financeiros e pedagógicos.

Sendo assim, as estruturas de gestão colegiada se constituem como instrumen-to de participação e de gestão democrática e o projeto político pedagógico pode ser considerado um caminho de consolidação da autonomia da escola. Vale ressaltar que a autonomia escolar já era discutida desde a década de 70, porém foi em meados da dé-cada de 80 que a mesma entrou em pauta de discussão e ganhou espaço nos documentos oficiais do governo brasileiro, cujo processo de democratização torna-se presente nas instâncias política e civil. Paro (2000, p. 53) afirma que:

A autonomia deverá ser um processo que procura democratizar a prática pedagó-gica, permitindo a participação de toda

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comunidade escolar; participação essa nos âmbitos pedagógico, administrativo e financeiro, de caráter consultivo, deliberati-vo e normativo. Essa prática que, ao dinami-zar os diversos segmentos que compõem a comunidade escolar, num projeto totaliza-dor e solidário, possa contribuir com o seu papel de força auxiliar na transformação histórica da escola e da sociedade.

Em consonância com o supracitado

autor, Veiga (2006, p. 110) assinala que o pro-jeto político pedagógico é um instrumento de trabalho que mostra o que vai ser feito, quando, de que maneira, por quem para chegar a que resultados. Além disso, explici-ta uma filosofia e harmoniza as diretrizes da educação nacional com a realidade da esco-la, traduzindo sua autonomia e definindo seu compromisso com a clientela. É a valorização da identidade da escola e um chamamento à responsabilidade dos agentes com as racio-nalidades interna e externa. Esta ideia impli-ca a necessidade de uma relação contratual, isto é, o projeto deve ser aceito por todos os envolvidos, daí a importância de que seja ela-borado participativa e democraticamente.

Ou seja, o projeto político pedagógico é voltado para construir e assegurar a gestão democrática e caracteriza-se por sua elabo-ração coletiva e não se constitui em um agru-pamento de projetos individuais, ou em um plano apenas construído dentro de normas técnicas para ser apresentado às autoridades superiores.

Para a escola concretizar a construção de seu projeto precisa antes ter clareza do alu-no, do ser cidadão que deseja alicerçar; es-tar organizada em princípios democráticos; valorizar o interativo e por fim, embora não menos importante, que possa contar com os profissionais que priorizam as orienta-ções teórico-metodológicas de constru-ção coletiva de projeto. O Projeto Político Pedagógico no momento de sua constru-ção determina, além de outras questões, a linha de raciocínio da gestão escolar, se é democrática ou não. É de vital importância construir uma proposta pedagógica a par-tir das necessidades dos educandos acom-

panhando o contínuo progresso educacio-nal e as exigências da vida em seu âmbito social, político e econômico. (VEIGA, 2006, p.91)

No entanto, sabe-se que a concreti-

zação do projeto político pedagógico não é tarefa fácil, pois é um processo que exige rup-tura continuidade, sequência, interligação, do antes, do durante e do depois, é um avançar continuado. As mudanças propostas muitas vezes não são bem aceitas pela comunidade, porque dá ideia de mais trabalho, mais tempo, mais custos, etc. Gadotti (1994) evidencia que todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para ar-riscar-se atravessar um período de instabilida-de e buscar nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor que o presente. Um projeto educati-vo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação do possível, com-prometendo seus atores e autores.

O projeto político pedagógico deve ser um conjunto de metas e ações, previstas, planejadas, operacionalizadas e avaliadas, sempre visando objetivos que se pretende alcançar, tendo como finalidade elaborar princípios, diretrizes e escolhas de ações para melhor organizar as atividades desenvolvidas pela escola como um todo.

Para Veiga (2006) a avaliação do projeto político pedagógico, numa visão crítica, parte da necessidade de se conhecer a realidade es-colar, buscar explicar e compreender critica-mente as causas da existência dos problemas, bem como suas relações, suas mudanças e se esforça para propor ações alternativas. Para que o projeto político pedagógico seja eficaz é necessário que o mesmo passe por constan-tes avaliações. As metas estabelecidas no ano devem ser vistas como um percurso percorri-do, e devem ser discutidas e avaliadas periodi-camente pela comunidade escolar, para cons-tatar o que está dando certo, ou não, e quais as causas que impedem a concretização de determinadas metas, e juntos buscar soluções

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para atingir os objetivos proposto. Avaliar e acompanhar o projeto político pedagógico é avaliar os resultados da própria organização do trabalho pedagógico.

Vale ressaltar que a concretização e vi-vência do projeto político pedagógico é uma exigência legal que precisa ser transformada em realidade por todas as escolas do país. Entretanto, não se trata apenas de assegurar o cumprimento da legislação vigente, mas, sobretudo, de garantir um momento privile-giado de construção, organização, decisão e autonomia da escola.

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓ-GICOS

A metodologia de acordo com Mi-nayo (1994) inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que pos-sibilitam a construção da realidade e o sopro divino do potencial criativo do investigador. Neste sentido a metodologia foi desenvolvi-da em dois momentos: o primeiro refere-se à pesquisa bibliográfica e o segundo momento à pesquisa empírica.

A pesquisa bibliográfica nos possibili-tou dialogar com teóricos que discutem a te-mática oferecendo fundamentos para análise dos dados que foram coletados, a fim de am-pliar o conhecimento sobre o assunto a que nos propusemos abordar.

No momento da pesquisa empírica utilizamos duas modalidades de pesquisa: a quantitativa e a qualitativa consubstanciado em três eixos de análise: dados da escola, per-fil do gestor e percepção dos mesmos quanto a construção, implantação, implementação e avaliação do PPP na sua escola.

A amostra da pesquisa foi definida de forma aleatória, onde se escolheu 7 gestores de um universo de 32 gestores de Escolas Es-taduais da Coordenadoria Distrital IV4 da cida-4 A Secretaria de Educação e Qualidade do Ensino – SEDUC – possui uma administração descentralizada por Coordenadorias Distritais em zonas específicas da cidade de Manaus. A Coordenadoria Distrital IV faz parte dos Órgãos de Atividades-Fim da SEDUC e é composta por 32 unidades educacionais da Zona Oeste tendo sua sede na escola Presidente Castelo Branco no bairro de São Jorge.

de de Manaus, ou seja, a amostra foi composta por aproximadamente 21,87% deste universo. O processo de coleta de dados/informações, constituído por entrevistas e por questioná-rios, foi feita durante o período de 13 a 24 do mês de maio de 2010.

Tomou-se como referência teórico-me-todológica uma perspectiva crítica dialética para compreender a contribuição do Projeto Político Pedagógico na concretização da au-tonomia bem como a construção da gestão democrática.

6. RESULTADOS

O perfil da amostra foi constituído por 7 gestores o que corresponde a aproximada-mente 21,87% do universo da Coordenado-ria Distrital IV.

Para compreensão acerca desta pes-quisa buscamos primeiramente, identificar o perfil dos gestores das 7 unidades educacio-nais pesquisadas e constatamos que 100% dos gestores são do sexo feminino e pos-suem idade entre 40 e 60 anos.

Quanto à formação constatamos que todos os sujeitos da pesquisa possuem gra-duação e pós-graduação lato sensu, mas so-mente dois gestores possuem especialização em Gestão Escolar. Vale ressaltar que todos participaram de cursos de capacitação em Formação e Atualização para Gestores bem como de Gestão Escolar oferecido pela SE-DUC no ano de 2005. Com isso, ficou eviden-te que as escolas pesquisadas estão sendo geridas por profissionais qualificados, o que nos levou a deduzir a existência de estímulo, na rede de ensino, à capacitação profissional.

Verificamos ainda que os sete ges-tores entrevistados possuem em média 13 anos de experiência no âmbito da docência. No entanto, como gestor, nenhum dos sujei-tos possuem mais de 5 anos de experiência embora apresentem experiência na gestão de mais de 1 escola.

No que tange à caracterização do espaço físico das escolas, os gestores foram unânimes ao afirmarem que as escolas pos-suem uma estrutura adequada e suficiente

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para suprir as necessidades tanto adminis-trativa, docente e pedagógica quanto dos discentes.

Os gestores enfatizaram ainda sobre a qualidade dos serviços prestados pelos seus funcionários, incluindo vigias, zeladores e merendeiras e ressaltaram sobre a impor-tância do apoio pedagógico. Sobre isto, em entrevista realizada no dia 14 de maio do cor-rente ano, o Gestor da escola A assegura que:

O apoio pedagógico é de extrema impor-tância por auxiliar na gestão escolar no que diz respeito a todas as ações pedagógicas da escola. Compete ao apoio pedagógico administrar junto ao gestor além de definir as coordenadas pedagógicas, as normas da escola bem como averiguar a aprendiza-gem por turma e as dificuldades dos alunos e professores.

Diante do exposto, verificou-se que os gestores estão atuando em consonância com Medeiros (2003), uma vez que estão buscando a democratização do acesso e es-tratégias que garantam a permanência na escola e tendo a preocupação acerca da qua-lidade social dessa educação universalizada.

Luck (2000) e Padilha (2006) afirmam que o gestor deve possuir profundos conhe-cimentos pedagógicos para a compreensão do universo escolar, bem como possuir a ca-pacidade de viabilizar a articulação no que concerne a construção do projeto político pedagógico. Neste sentido, ancorados nos supracitados autores questionamos, dos su-jeitos da pesquisa sobre o processo de im-plantação do Projeto Político Pedagógico em cada escola. As respostas apresentadas mos-tram que os gestores pesquisados possuem conhecimentos acerca da importância da construção bem como da reformulação do projeto que deve acontecer a cada dois anos, conforme evidenciam as falas a seguir:

O Projeto Político Pedagógico é fundamen-tal na gestão escolar, pra equipe gestora e pra todo gestor. O Projeto Político Pedagó-gico é um documento onde todos devem participar, todos da comunidade interna

e externa onde nós possamos traçar me-tas, diretrizes pra que a escola promova suas ações naturalmente. (Gestor C, em 17/05/10)

[...] todas as escolas tem que ter um Projeto Político Pedagógico, porque ele é o guia. É o que norteia o trabalho de uma escola. Quando eu cheguei aqui o Projeto Político Pedagógico já estava pronto e foi reformu-lado em 2009. A reformulação acontece de dois em dois anos. Ao observar o Projeto Político Pedagógico da escola achei que deveria fazer alterações dentro da minha meta de gestão, então a primeira coisa que foi feita foi uma reunião com os professo-res, depois com os funcionários adminis-trativos, com os alunos maiores de 15 anos de idade e também com os pais dos alunos. (Gestor B, em 16/05/10)

[...] o Projeto Político Pedagógico é um norteador do nosso trabalho e sem o qual nós não podemos dar prosseguimento ao nosso processo do dia-a-dia porque sabe-mos que educação é isso, é um processo contínuo e nós temos que ter as normas, as diretrizes, temos que ter um norte pra que agente possa prosseguir dentro da escola. [...] nós temos que por em prática esse do-cumento, pois compõe as normas da pró-pria escola; pra se fazer uma gestão demo-crática é necessário que aconteça o projeto político pedagógico. Quando eu assumi a escola, tivemos que reunir com os profes-sores, os representantes de turmas, os pais, o padre, o conselho tutelar, os nossos par-ceiros para mostrar o nosso trabalho e fazer com que cada um tivesse oportunidade de analisar e participar conosco do processo de reformulação do PPP que deve ser de 2 em 2 anos”. (Gestor D, em 20/05/10)

Vale ressaltar que todos os gestores asseguraram que o projeto político pedagó-gico é um documento norteador na gestão escolar, no entanto nenhum soube informar a data de elaboração do primeiro projeto da escola, afirmando somente que quando as-sumiram o projeto já existia. Tal informação não foi identificada no histórico da escola que consta nos Projetos Políticos Pedagógi-

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cos apresentados aos pesquisadores. Enfati-zamos ainda que os dois gestores mais anti-gos estão na função desde o ano de 2005.

De acordo com Paro (2000) a autono-mia deverá ser um processo que procura de-mocratizar a prática pedagógica, permitindo a participação de toda comunidade escolar. Sendo assim, questionou-se dos gestores sobre o grau de conhecimento que a comu-nidade escolar possui acerca da importância do projeto político pedagógico na gestão democrática e participativa e evidenciou-se que o conhecimento não é unânime, confor-me a resposta a seguir:

Esse Projeto Político Pedagógico não foi construído só pela diretora, nem pela equi-pe gestora, então todos têm a obrigação de saber. Agora você sabe que isso é um pro-cesso contínuo que agente tem que todo ano ta falando se não as pessoas esque-cem. [...] nós sabemos que família e escola andam lado a lado, nós temos aqui na esco-la em média 700 alunos matriculados, nós convocamos esses pais para as reuniões, se for uma reunião pedagógica, vamos di-zer no caso do Projeto Político Pedagógico eles participam, mas não tanto quanto nós gostaríamos. É um assunto muito comple-xo, porque sabemos que a família é a célula nata da sociedade, mas hoje, nos dias que estamos vivendo existem famílias deses-truturadas, famílias que ainda, infelizmente não conseguiram ter aquela responsabili-dade, aquele compromisso com seus filhos. (Gestor F, em 22/05/10)

Quando eu assumi a gestão da escola, os funcionários da administração, zeladores, merendeiras e vigias não sabiam o que era o Projeto Político Pedagógico. Primeiro que eles não sabiam o que era político e confundiam muito isso. Informamos a eles sobre o Projeto Político Pedagógico. Com os professores não tive tanto problema porque eles já sabiam o que era o projeto. (Gestor A, em 13/05/10)

Cabe enfatizar que a fala do Gestor F elucida que o Projeto Político Pedagógico trouxe mudanças para o espaço escolar, no entanto, se espera uma participação mais

efetiva principalmente da comunidade esco-lar externa.

Diante do exposto, foi possível perce-ber que atuação dos gestores está de acordo com o que preconiza Padilha (2003), ou seja, existe uma preocupação dos mesmos em in-formar à comunidade escolar sobre a impor-tância do projeto político pedagógico e que este se consubstancia em um instrumento de diagnóstico e transformação da realidade escolar, construído coletivamente.

O projeto político pedagógico é vol-tado para construir e assegurar a gestão democrática e caracteriza-se por sua ela-boração coletiva, verificamos que nas esco-las pesquisadas, houve uma reformulação partindo do coletivo. Vale ressaltar que não podemos aqui afirmar sobre a construção do Projeto Político Pedagógico em sua primeira versão, pois como assinalado anteriormente, os gestores não apresentaram informações consistentes sobre o mesmo, fazendo refe-rência somente à reformulação realizada a partir do início de suas respectivas gestões. De acordo com relato dos sujeitos pesquisa-dos, verificou-se ainda que na atual gestão o Projeto Político Pedagógico foi reformulado de forma coletiva. Tal fato evidencia a neces-sidade de constantes reformulações do Pro-jeto Político Pedagógico, uma vez que este busca traduzir as necessidades escolares que se alteram de acordo com as transformações ocorridas na sociedade.

Vasconcelos (2004) assegura que o projeto político pedagógico é um plano que pode ser entendido como a sistematização não definitiva de um planejamento partici-pativo originado no âmbito de uma gestão democrática constituída por um conjunto de instrumentos que promovam a participação nas políticas educacionais mais amplas. Dian-te do exposto, questionou-se sobre a presen-ça dos Conselhos Escolares e Associação de Pais, Mestres e Comunitários (APMC) no âm-bito de cada escola e verificou-se a presença de ambos em 100% das escolas pesquisadas. No entanto não possuem grêmios escolares que se constituiria em um espaço de parti-cipação que daria aos alunos a possibilidade

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de transformarem a sua realidade, proporem alternativas, lutarem por seus direitos e, o mais importante, exercerem a sua cidadania. Sobre o conselho escolar, o Gestor G afirmou que:

[...] nós já criamos aqui na nossa Escola o Conselho Escolar, nós temos o Conselho e nele nós temos uma representatividade de cada segmento; dos parceiros, da Escola, dos pais de alunos, dos alunos, professo-res e isso facilita trabalhar com o Conselho. (23/05/10)

O Gestor E afirmou que a presença das APMC’s é de fundamental importância, pois

[...] o Ministério da Educação - MEC envia o dinheiro dividido como Capital e Custeio. O MEC define o quanto se pode gastar como Capital e como Custeio e todos os recursos da secretaria passam pela APMC, ou seja, todo o dinheiro que vem à escola passa pela associação.

Neste caso, as falas supracitadas re-presentam a realidade de todas as escolas pesquisadas no que tange à importância da descentralização existente na gestão demo-crática.

Outra dimensão importante, na ges-tão democrática, é o currículo  apresentar o modelo de educação que  almeja para  a es-cola. Quando questionados sobre isto, ob-servamos um consenso entre os gestores ao assegurarem que as escolas estão a cada dia buscando aperfeiçoar o currículo para que este contemple as novas formas de aquisi-ção do conhecimento. Fica claro, portanto a preocupação dos gestores em possibilitar aos alunos o confronto dos conhecimentos escolares com os saberes de uma sociedade global que passa por constantes mudanças.

A pesquisa elucida que os gestores buscam viver no dia a dia o projeto político pedagógico em suas respectivas escolas. É unânime a afirmativa de que o projeto é im-portante não só para o gestor, mas, sobretu-do para a comunidade escolar. Verificamos que 100% dos entrevistados não consegui-

ram destacar algo que seja mais importan-te em sua gestão, uma vez que consideram tudo imprescindível.

Concluímos a partir da amostra estu-dada, que o projeto político pedagógico é considerado indispensável na gestão demo-crática e que os gestores o entendem como ferramenta que possibilita o conhecimen-to das reais necessidades da comunidade escolar. Verificou-se ainda que o mesmo é entendido pelos sujeitos da pesquisa como instrumento teórico-metodológico que per-mite o a intervenção e mudança na realida-de, porém, ficou evidente no decorrer das entrevistas a angústia sentida pelos gestores quanto às dificuldades enfrentadas por eles na implantação efetiva do mesmo, uma vez que isto pressupõe o envolvimento da comu-nidade escolar em sua totalidade. Em suma, muitas questões deverão ser consideradas ainda por todos aqueles que sonham e lutam por uma escola democrática e de qualidade.

7. CONSIDERAçõES FINAIS

O projeto político pedagógico é en-tendido como ferramenta norteadora para a consolidação da gestão democrática, no en-tanto é necessário que a escola crie um am-biente favorável para a participação de toda a comunidade escolar.

A construção, implementação e re-formulação contínua do Projeto Político Pe-dagógico é tarefa árdua e complexa que se consubstancia em um grande desafio para os gestores uma vez que pressupõe o envol-vimento de toda a comunidade escolar. No entanto, vislumbrando a qualidade educa-cional, estes profissionais devem buscar a su-peração todos os desafios para que o Projeto Político Pedagógico se concretize.

A pesquisa em locus permitiu a cons-tatação de que em quatro escolas o discurso dos gestores apresentava consonância com o Projeto Político Pedagógico apresentado no momento da pesquisa. Observamos o empenho dos gestores em viabilizar a parti-cipação tanto da comunidade interna como externa, assumindo desta forma o papel de

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co-responsáveis na construção de um pro-jeto que objetive o ensino de qualidade e para que isso aconteça é imprescindível que o diretor esteja capacitado, desenvolvendo características de coordenador, colaborador e de educador, para que se consiga imple-mentar um processo de planejamento parti-cipativo.

Ficou claro o envidamento de esfor-ços dos gestores pesquisados no que tange à implementação do projeto político pedagó-gico nas escolas geridas por eles. Cabe-nos ressaltar que o engajamento é de tamanha amplitude que os gestores se emocionam ao falar do projeto como instrumento nortea-dor da gestão democrática de suas respecti-vas escolas e da importância do mesmo para a comunidade escolar interna e externa.

Em relação às outras três escolas, os gestores asseguraram a existência do Projeto Político Pedagógico, no entanto, não apre-sentaram o documento aos pesquisadores e afirmaram que os projetos haviam sido en-caminhados à SEDUC para avaliação. Tal fato evidenciou e reforçou a percepção de que para estes gestores o projeto político peda-gógico se configura apenas em documentos meramente burocráticos construídos para fins de cumprimentos de exigências legais e não como um documento que representa a própria organização do trabalho pedagógico da escola como um todo.

Nessas mesmas escolas não se perce-beu também outro aspecto relevante que é a consolidação da gestão democrática, uma vez que esta é resultado de ações construí-das coletivamente onde o Projeto Político Pedagógico deveria ser um instrumento que viabilizasse a participação. Deste modo, an-corados no princípio de que a autonomia escolar pressupõe o cumprimento de metas estabelecidas pelo PNE, e que para o cum-primento destas metas se utiliza o Projeto Político Pedagógico, pode-se compreender, portanto que a autonomia escolar não ocor-re em sua plenitude em 100% das escolas pesquisadas.

Vale ressaltar que nas escolas em que se pode visualizar o projeto político pedagó-

gico, observamos uma falta de padronização dos elementos que o compõe, o que aponta para a não existência de normas específicas para tal construção ou o não cumprimento das mesmas.

Outro fator relevante foi a existência, em todas as escolas, de quadros demonstra-tivos de resultados obtidos no ano anterior e de metas a serem alcançadas no ano corren-te, o que pressupõe o engajamento dos ges-tores em comunicar a gestão. Essa estratégia torna possível a divulgação de informações para um maior número de pessoas simulta-neamente e ajuda a estabelecer a prática de compartilhamento de informações à comu-nidade escolar bem como a apresentação de documentos fiscais que comprovem os gas-tos da escola.

Neste sentido, concluímos que a co-laboração participativa autêntica pode pos-sibilitar à ampliação de esforços no sentido de garantir uma escola pública de fato e de direito e que sua existência e atuação este-jam voltadas para suprir as necessidades de seus alunos, de seus profissionais e da popu-lação local. Para tanto, se faz necessário que a construção do projeto político pedagógico esteja pautada na perspectiva de organizar e planejar a vida escolar, considerando o de-safio de articular as singularidades de cada escola à políticas públicas mais amplas. A reflexão coletiva da escola é extremamente importante e necessária a fim de que exis-ta um compromisso de todos a respeito da concretização do Projeto Político Pedagógi-co bem como do entendimento deste como ferramenta norteadora e necessária para à gestão democrática.

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