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1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE Paula Freire Iorio Camargo GESTÃO DO RISCO NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Paula Freire Iorio Camargo

GESTÃO DO RISCO NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

Rio de Janeiro 2010

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Paula Freire Iorio Camargo

GESTÃO DO RISCO NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

Monografia apresentada para a Pós Graduação em Gestão em Instituições Financeiras, da Universidade Cândido Mendes – Instituto A Vez do Mestre.

Orientador: Profª Ana Claudia Morrissy

Rio de Janeiro 2010

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Agradeço aos meus amigos e família, pelo suporte e incentivo ao meu desenvolvimento profissional.

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Dedico este trabalho a todos meus colegas e amigos da Caixa Econômica Federal.

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo analisar os principais instrumentos de gestão que

podem ser utilizados pelas Instituições Financeiras com o objetivo de minimizar os riscos

existentes na área bancária, tais como o Risco Operacional, de Mercado e de Crédito.

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METODOLOGIA

O presente trabalho trata de uma Revisão Blbliográfica. Foram analisadas as obras dos

autores José Roberto Securato, que versa sobre análise e avaliação do Risco para Pessoas

Físicas e Jurídicas, Morton Glantz, que propõe o gerenciamento de riscos bancários através de

uma engenharia de Crédito, e Michel Crouhy, Dan Galai e Robert Mark, que tratam o

gerenciamento de risco sob as abordagens conceitual e prática.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................................... 8 1. GERENCIAMENTO DOS RISCOS NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS.... 9 2. RISCO OPERACIONAL.................................................................................... 12 2.1 Legislação Brasileira que dispõe sobre o risco operacional................................14

3. RISCO DE MERCADO......................................................................................16 3.1 VaR (Value at Risk) – Valor em Risco............................................................... 17 3.2 Legislação sobre o risco de mercado ................................................................. 18 4. RISCO DE CRÉDITO ....................................................................................... 20 4.1 Introdução ao Risco de Crédito ......................................................................... 20 4.2 Os 6 C’s do Crédito ........................................................................................... 21 4.3 Políticas de Crédito ........................................................................................... 22 4.4 Crédito destinado à Pessoa Física ..................................................................... 23 4.5 Modelos de Avaliação de Risco ....................................................................... 24 4.5.1 Credit Scoring .................................................................................................. 24 4.5.2 Behaviour Scoring …………………………………………………………… 25 4.5.3 RAROC – Risk Adjusted Return on Capital …………………………………. 25 4.6 Classificação do Risco de Crédito – Rating ..................................................... 26 5. APLICAÇÃO DA GESTÃO DO RISCO NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS BRASILEIRAS ............................................................................................................ 28 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 33 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 34

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INTRODUÇÃO

O tema escolhido para este estudo foi o Risco nas Instituições Financeiras.

Cada vez mais, as Instituições Financeiras têm se tornado organizações complexas,

que demandam uma administração eficaz em todos os seus setores. Diante dessa

complexidade, os gestores têm tido dificuldades para identificar, mensurar e administrar os

riscos existentes, que podem trazer grandes prejuízos para os bancos.

Desta forma, o presente trabalho se propõe a analisar os principais instrumentos de

gestão do risco de mercado, de crédito e operacional nas instituições financeiras.

O primeiro capítulo trata de uma abordagem conceitual da Gestão do Risco nos

bancos, enfatizando os Acordos de Basiléia e seus desdobramentos para as instituições

financeiras brasileiras.

O segundo capítulo versa sobre o risco operacional, analisando suas causas e

desdobramentos, assim como definindo os estágios da gestão deste tipo de risco.

O terceiro capítulo trata do risco de mercado, definindo as suas quatro variantes: o

risco de taxa de juros, risco de preço de ações, risco de câmbio e risco de preço de

commodities. Também trata sobre o VaR (Value at Risk) – Valor em Risco, sua definição e

forma de cálculo.

O quarto capítulo aborda o risco de crédito, começando pela definição dos 6 C’s do

crédito. Adiante, vemos a definição das políticas de crédito, dos modelos de avaliação de risco

de crédito (credit scoring, behaviour scoring e RAROC), e também da classificação de risco,

o rating.

O quinto e último capítulo procura verificar a correlação entre os riscos acima

definidos e a sua aplicabilidade nas instituições financeiras brasileiras.

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CAPÍTULO 1 - GERENCIAMENTO DOS RISCOS NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

O risco está em tudo que fazemos. Desde uma compra na internet, até pegar um ônibus

na esquina próxima, sabemos que apesar de serem atividades constantes do dia-a-dia e que

passam despercebidas, para quase tudo que fazemos, há um fator de risco relacionado.

Para uma Instituição Financeira, o conceito de risco adquire um sentido mais amplo.

Quando se trata de uma intermediação financeira entre duas ou mais partes, há de se dispor de

instrumentos de gestão que garantam, ou ao menos minimizem o risco da operação.

Entretanto, o risco pode ser entendido de forma mais subjetiva, considerando que a percepção

do risco acontece de forma diferente de pessoa para pessoa.

Com o propósito de proteger os clientes das instituições bancárias, o sistema

financeiro e, portanto a economia nacional, existem órgãos que controlam as atividades das

mesmas, procurando manter em níveis aceitáveis os diferentes tipos de risco e evitar,

portanto, a possibilidade de grandes perdas.

A nível mundial, o representante destes esforços é o Comitê de Supervisão Bancária

de Basiléia, que agrupa os representantes de bancos centrais e supervisores de instituições

financeiras dos países do Grupo dos Dez – G10 (Alemanha, Bégica, Canadá, Estados Unidos,

França, Itália, Japão, Países Baixos, Reino Unido, Suécia, Suíça), visando fortalecer a solidez

dos sistemas financeiros. Este Comitê trabalha identificando práticas bancárias sãs,

reconhecendo os princípios básicos, os quais são difundidos mundialmente. Qualquer país, de

acordo com o grau de desenvolvimento de seu sistema financeiro, pode adotar os conjuntos de

práticas e princípios segundo suas necessidades.

Os princípios mais importantes defendidos pelo Comitê de Basiléia são: estabelecer

um ambiente de risco de crédito apropriado, operar sob um processo seguro de concessão de

crédito, manter um processo de gerenciamento, avaliação e monitoramento de crédito

apropriado, assegurar controles adequados sobre os riscos de crédito e estabelecer o papel dos

supervisores.

Em 1988, foi assinado o primeiro Acordo de Basiléia ou Basiléia I, que se trata de um

acordo de supervisão bancária, por iniciativa do Comitê, e suportado por mais de 100 países.

A principal questão discutida no acordo foi a criação de exigências mínimas de capital que

devem ser respeitadas por bancos comerciais, como precaução contra o risco de crédito. O

acordo também prevê os mecanismos de mensuração de risco de crédito e estabelece as

exigências de um padrão mínimo de capital. Desde então, as medidas preconizadas foram

sendo progressivamente introduzidas por autoridades monetárias de diversos países.

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Apesar das precauções determinadas pelo Basiléia I, não foi possível evitar falências

de instituições financeiras na década de 90, o que levou o Comitê a lançar em 2004 o Acordo

de Basiléia II, em substituição ao anterior. Estas novas regras visam limitar a possibilidade de

ocorrência de uma crise bancária internacional, assegurando para isso que cada banco,

individualmente, dispõe de níveis de capital suficientes para realizarem as atividades que

compreendem algum risco. O novo Acordo fixa-se em três pilares: Capital (guardar),

Supervisão (fiscalizar), Transparência e Disciplina de Mercado (divulgação de dados).

Em sua obra, Crouhy et al (2001) definem a estruturação e gestão da gerência de risco

da seguinte forma:

“Para que possam medir, precificar e controlar risco de forma abrangente,

instituições financeiras devem estabelecer políticas apropriadas para toda a empresa e

desenvolver metodologias relevantes, também em toda empresa, que seja, acopladas a uma

infra-estrutura de gerência de risco para a empresa como um todo.

Um componente importante da gerência de risco integrada é a medição e a gerência de todos

os riscos da empresa em termos de unidade de medida e estratégia comuns. Os riscos que

precisam ser abordados incluem risco de mercado de negociação, risco de mercado de gap

de tesouraria corporativa, risco de liquidez, risco de crédito na carteira de negociação, risco

de crédito na carteira de atividades bancárias e risco operacional.”

De acordo com as premissas acima, é possível organizar a estrutura da gerência de

risco em três pilares: a infra-estrutura, a política e as metodologias de melhores práticas.

Em um primeiro momento, para tornar possível o funcionamento de políticas e

metodologias de melhores práticas, é necessária a infra-estrutura de risco. São quatro os

componentes principais da infra-estrutura de uma instituição financeira: pessoas, operações,

dados precisos e tecnologia.

Considera-se o mais importante deles as pessoas, uma vez que, possuindo o ambiente

e o suporte corretos, são as pessoas que fazem com que todo o resto aconteça.

Em relação à integridade de dados e tecnologia aplicada, é importante ressaltar que

estes são fatores que asseguram uma vantagem competitiva para a instituição, considerando

que a agilidade na distribuição de serviços financeiros e segurança das operações serão

determinantes para se manter uma abordagem racional e consistente à gerência de risco.

As políticas de melhores práticas visam determinar limites de risco para a organização

como um todo e para as suas principais atividades. Dentre as principais, podemos destacar as

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Políticas de Risco de Mercado, de Crédito e Operacional, as quais serão detalhadas nos

próximos capítulos.

As metodologias baseadas em melhores práticas compreendem os instrumentos

utilizados pelas instituições para medição do risco. Normalmente, as metodologias

empregadas pelos bancos consideram os conhecimentos sobre os mercados de interesse,

cálculos matemáticos e utilização de sistemas de informações confiáveis.

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CAPÍTULO 2 – RISCO OPERACIONAL

O risco operacional constitui-se no risco que uma empresa corre em função de falhas

internas no seu sistema. Estas falhas podem variar de defeitos nos sistemas computacionais,

até erros humanos ou fraudes.

Podemos subdividir o risco operacional em dois componentes básicos: o risco de

falha operacional e o risco operacional estratégico.

O risco de falha operacional ocorre em função dos transtornos que podem ocorrer no

funcionamento da operação de uma empresa. Estes riscos operacionais internos são causados

por falhas causadas por pessoas, processos ou tecnologia dentro de uma unidade de negócios.

As falhas podem ser previstas (que devem estar incluídas no plano de negócios da

instituição) ou imprevistas. Os principais riscos operacionais têm sua origem nas falhas

imprevistas, uma vez que este tipo de falha pode levar a um grau inesperado de perdas

financeiras. A instituição deve suprir a perdas decorrentes do componente esperado dessas

falhas abastecendo as receitas esperadas com uma quantidade suficiente de reservas. Além

disso, a empresa deve reservar capital econômico suficiente para cobrir o componente

inesperado, ou recorrer aos seguros.

Segundo Adriana e Corrar, apud Risk Management Association (2000, p. 1-10), com

relação à gestão do risco operacional, é possível escalonar a estrutura de gestão em cinco

estágios, conforme disposto a seguir:

Estágio I – Base tradicional: nesse estágio, não existe uma estrutura formal para

tratamento dos riscos operacionais. Assim, considerando-se que os riscos operacionais sempre

existiram, esses são administrados isoladamente por seus gestores, que dependem

demasiadamente da auditoria interna para verificação de perdas. Além disso, existe total

dependência da qualidade e integridade dos funcionários e acionistas.

Estágio II – Conscientização: atingem esse estágio as organizações que desenvolvem

área específica para gerenciamento de riscos operacionais, com definições de políticas,

responsabilidade e ferramentas de apoio. As ferramentas, nessa fase, normalmente incluem

mapeamento dos processos com a identificação de riscos e formalização dos controles

utilizados, estruturação de banco de dados com histórico de eventos de perdas, criação de

indicadores de eficiência e rentabilidade.

Estágio III – Monitoramento: Depois de identificar todos os riscos operacionais, é

importante entender quais suas implicações para os negócios. O enfoque, então, torna-se o

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acompanhamento do nível atual de risco operacional e a efetividade das funções de

gerenciamento. Indicadores de risco (quantitativos e qualitativos) e metas ou limites, são

estabelecidos para monitoramento. As medidas de exposição ao risco são consolidadas (por

meio, por exemplo, de scorecards). Nessa fase, as áreas de negócios percebem a importância

do gerenciamento do risco operacional e destinam funcionários para a analisarem e

monitorarem os processos e atividades.

Estágio IV – Quantificação: nesse estágio, a instituição já possui uma melhor

compreensão da sua situação de exposição ao risco operacional, assim já consegue focar-se na

quantificação dos riscos e predizer acontecimentos futuros. Para tanto, são utilizadas

ferramentas mais analíticas, baseadas em dados reais, uma vez que o banco de dados de

evento de perda, iniciado no estágio II, agora tem informações suficientes.

Estágio V – Integração: O valor agregado pela gestão do risco operacional é

plenamente reconhecido pelas áreas de negócios, que já se preocupam com a integração

completa da quantificação de todos os riscos da organização, não apenas os operacionais. A

quantificação, também, é aplicada na definição do planejamento estratégico e na melhoria da

qualidade dos processos.

No que se refere à relação entre causa e efeito, a maioria dos bancos começa reunindo

as perdas, e depois tenta atribuir-lhes as respectivas causas. Empresas de consultoria

atualmente prestam serviços que podem ajudar as instituições a estabelecer relação entre

causa e efeito, como o exemplo da tabela a seguir:

Categoria

do Risco

A Causa O efeito (a perda) Fontes de Dados para

Probabilidade e

Magnitude dos Dados

Relativos às Perdas

Pessoas

(Recursos

Humanos)

Perda de funcionários-

chave que foram para a

concorrência

Variação na receita/lucros (por

exemplo, custo de recrutamento de

substitutos, custos de treinamento,

transtornos causados aos funcionários

existentes

Técnicas delphi *

baseadas em avaliação da

empresa

Processo Queda da produtividade

com o crescimento do

volume

Variação dos custos de processo em

relação aos níveis previstos, excluindo

deficiências de processo

- Variância histórica

- Estimativa dos

fornecedores

- Benchmarking do setor

Tecnologia Despesa de atualização Variação dos custos operacionais de - Variância histórica

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para o ano 2000 tecnologia em relação aos níveis

previstos

- Estimativas dos

fornecedores

- Benchmarking do setor

* Uma técnica para a formação de consenso e tomada de decisões em grupo, com a

finalidade de prever resultados futuros

Fonte: Gerência de Risco, EMEA, Global Financial Markets, IBM.

2.1 Legislação Brasileira que dispõe sobre o risco operacional

Através do Comunicado 12.746 de 2004, o BACEN comunicou os procedimentos para

a implementação da nova estrutura de capital (Basiléia II) e, posteriormente com publicação

da Resolução 3.380 em 29 de junho de 2006 divulgou a implementação de estrutura de

gerenciamento do risco operacional, passando a inserir o mercado financeiro brasileiro no

contexto da preocupação crescente com os fatores de risco e, especialmente, com o impacto

que o risco operacional passaria a ter na alocação de capital das instituições financeiras.

A Resolução 3.380, em seu 2º artigo, define o risco operacional como a possibilidade

de ocorrência de perdas resultantes de falha, deficiência ou inadequação de processos

internos, pessoas e sistemas, ou de eventos externos, incluindo o risco legal associado à

inadequação ou deficiência em contratos firmados pela instituição, bem como a sanções em

razão de descumprimento de dispositivos legais e a indenizações por danos a terceiros

decorrentes das atividades desenvolvidas pela instituição.

Entre os eventos de risco operacional apontados pela Resolução 3.380, inclui-se:

I - fraudes internas;

II - fraudes externas;

III - demandas trabalhistas e segurança deficiente do local de trabalho;

IV - práticas inadequadas relativas a clientes, produtos e serviços;

V - danos a ativos físicos próprios ou em uso pela instituição;

VI - aqueles que acarretem a interrupção das atividades da instituição;

VII - falhas em sistemas de tecnologia da informação;

VIII - falhas na execução, cumprimento de prazos e gerenciamento das atividades na

instituição.

Para que tais riscos possam ser atenuados, o artigo 3º da Resolução 3.380 apresenta o

que deve estar previsto na estrutura de gerenciamento do risco operacional:

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I - identificação, avaliação, monitoramento, controle e mitigação do risco operacional;

II - documentação e armazenamento de informações referentes às perdas associadas ao

risco operacional;

III - elaboração, com periodicidade mínima anual, de relatórios que permitam a

identificação e correção tempestiva das deficiências de controle e de gerenciamento do risco

operacional;

IV - realização, com periodicidade mínima anual, de testes de avaliação dos sistemas

de controle de riscos operacionais implementados;

V - elaboração e disseminação da política de gerenciamento de risco operacional ao

pessoal da instituição, em seus diversos níveis, estabelecendo papéis e responsabilidades, bem

como as dos prestadores de serviços terceirizados;

VI - existência de plano de contingência contendo as estratégias a serem adotadas para

assegurar condições de continuidade das atividades e para limitar graves perdas decorrentes

de risco operacional;

VII - implementação, manutenção e divulgação de processo estruturado de

comunicação e informação.

O cronograma de implantação dessa estrutura foi definido da seguinte forma:

I - Até 31 de dezembro de 2006: indicação do diretor responsável e definição da

estrutura organizacional que tornará efetiva sua implementação

II – Até 30 de junho de 2007: definição da política institucional, dos processos, dos

procedimentos e dos sistemas necessários à sua efetiva implementação

III – Até 31 de dezembro de 2007: efetiva implementação da estrutura de

gerenciamento de risco operacional, incluindo os itens previstos no art. 3º, incisos III a VII.

Além das providências acima, a Resolução 3.380 também determina:

a) Estrutura independente da Auditoria Interna

b) Indicação de diretor responsável

c) Identificação, avaliação, monitoramento, controle e mitigação

d) Documentação e armazenamento das informações sobre perdas

e) Relatórios periódicos para identificação e correção das deficiências

f) Elaboração de planos de contingências

g) Disseminação da cultura de gerenciamento de risco operacional

h) Realização de testes periódicos para avaliação dos sistemas de controle de riscos

operacionais

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CAPÍTULO 3 – RISCO DE MERCADO

De forma simplificada, risco de mercado é o risco de que mudanças nos preços e taxas

do mercado financeiro reduzam o valor de um título ou de uma carteira. Tais mudanças

podem ocorrer em função de alteração na taxa de juros, divulgação de indicadores

econômicos (inflação, crescimento, poupança, confiança do consumidor), crises políticas,

escândalos, denúncias, crises financeiras ou bancárias - nacionais ou internacionais, guerras,

revolução, atentados terroristas, grande oscilações nos mercados internacionais, mudanças de

ordem política, alteração de ministérios importantes, alteração nas alíquotas de imposto pelo

governo, aceitação pelo mercado de colocação de títulos públicos, classificação do risco do

país pelos organismos internacionais, resultados de pesquisas de intenção de votos em

períodos eleitorais, volatilidade de mercado e liquidez.

De acordo com Crouhy et. al (2001), são quatro os tipos de risco de mercado:

I – Risco de taxa de juros

A forma mais simples de risco de taxa de juros é o risco de que o valor de um título

de renda fixa cairá como resultado de uma mudança nas taxas de juros de mercado. Posições

abertas surgem com maior freqüência de diferenças nos prazos de vencimento, de valores

nominais e de datas de repactuação de instrumentos e fluxos de caixa que se assemelham a

ativos (ou seja, comprados) e os que se assemelham a passivos (ou seja, vendidos).

Os bancos devem atuar com mais sensibilidade em relação às taxas de juros, em

função dos fatores exógenos (condições econômicas e nivel das taxas de juros) e dos fatores

endógenos (fatores associados à composição dos ativos e passivos, à qualidade e maturidade

dos empréstimos, e à maturidade dos fundos captados).

II – Risco de preço de ações

O risco de preço associado a ações tem dois componentes: o Risco geral de mercado

refere-se à sensibilidade do valor de um instrumento ou de uma carteira a uma mudança no

índice de bolsas de valores. Já o Risco específico ou indiosincrático refere-se à parcela de

volatilidade de preço de uma ação que é determinada pelas características específicas à

empresa, como sua linha de negócios, a qualidade de sua gerência ou uma interrupção em seu

processo de produção. O risco geral de mercado não pode ser eliminado através da

diversificação da carteira, enquanto o risco específico pode ser eliminado pela diversificação.

Existem métodos para explicar o comportamento do preço das ações em relação a um

determinado mercado, possibilitando aos investidores avaliarem o impacto de risco sobre o

ativo. Entre os métodos disponíveis, temos o CAPM (Capital Asset Pricing Model), que pode

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ser traduzido como “Remuneração pela espera mais Remuneração pelo risco”. O CAPM

utiliza o índice β – beta para medir o risco não diversificável.

A idéia estabelecida no cálculo do CAPM é a de compensar o investidor pelo capital

próprio investido no negócio, considerando dois elementos: remuneração pela espera e

remuneração pelo risco.

III – Risco de câmbio

As principais fontes de risco de câmbio são as correlações imperfeitas nas

movimentações de preços de moedas estrangeiras e as flutuações das taxas de juros

internacionais. A exemplo dos demais riscos de mercado, o risco de câmbio surge de posições

abertas ou de hedging (as atividades que tem por objetivo econômico principal propiciar a

redução, ou até mesmo a eliminação, de riscos de mercado) imperfeito. Embora seja

importante reconhecer taxas de câmbio como fator de risco de mercado distinto, a valoração

de transações cambiais requer conhecimento do comportamento das taxas de juros internas e

estrangeiras, além do conhecimento das taxas cambiais spot (taxa do momento).

IV – Risco de preço de commodities

Primeiramente, podemos definir commodities (significa mercadoria em inglês) como

mercadorias, principalmente minérios e gêneros agrícolas, que são produzidos em larga escala

e comercializados em nível mundial. As commodities são negociadas em bolsas mercadorias,

portanto seus preços são definidos em nível global, pelo mercado internacional.)

De forma abrangente, podemos dizer que o risco de commodities é o risco devido à

oscilação dos preços de produtos físicos, tais como produtos agrícolas, petróleo e metais. Este

tipo de risco difere fundamentalmente dos riscos de taxa de juros e de câmbio, uma vez que a

maioria das commodities é negociada em mercados nos quais a concentração de oferta pode

aumentar a volatilidade de preços. Além disso, a liquidez de mercado frequentemente

acompanha e alcança altos níveis de volatilidade de preço. Desta forma, preços de

commodities geralmente têm volatilidade mais altas e maiores descontinuidades de preço do

que a maioria dos títulos financeiros negociados.

3.1 VaR (Value at Risk) – Valor em Risco

O VaR significa a máxima perda potencial do valor de uma carteira de instrumentos

financeiros com uma dada probabilidade e em um horizonte pré-definido. O VaR é uma

medida concisa cujo objetivo é de agregar o risco de mercado de todas as classes de ativos.

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A grande vantagem para o uso do conceito de VaR em uma instituição financeira é

que este integra o risco de todo o ativo/passivo em uma única medida numérica, resumindo

o risco total, para acompanhamento por sua diretoria. Entretanto, a maior deficiência do

conceito de VaR é que risco é um conceito multidimensional, logo, a integração do risco total

de uma instituição em uma única medida numérica requer simplificações.

Existem três metodologias para o cálculo do VaR:

I – Metodologia Analítica (Variância-covariância): A metodologia analítica considera que a

distribuição das mudanças no valor da carteira seja normal. O valor é encontrado da derivação

da mediana e a variância dessa distribuição normal, a partir da distribuição multivariante dos

fatores de risco e da composição da carteira.

II – Metodologia de Simulação Histórica: As mudanças do preço e taxas de juros são

analisadas ao longo de um período histórico específico. São três passos para o cálculo do VaR

nesta modalidade:

- Seleção de uma amostra de mudanças diárias no valor dos fatores de risco ao longo de um

determinado período de tempo;

- Aplicação das mudanças diárias ao valor corrente dos fatores de risco, e reavaliação da

carteira atual, de acordo com a quantidade de números de dias da amostra histórica;

- Construção do histograma de valores da carteira e identificação do VaR que isola o primeiro

percentil de distribuição na cauda da esquerda, supondo que o VaR tenha o nível de confiança

de 99%.

III – Metodologia de Monte Carlo: consiste em simular um grande número de vezes preços e

taxas, obtendo vários cenários possíveis. São três as etapas para o cálculo o VaR nesta

modalidade:

- Geração de cenários: usando as estimativas de volatilidades e correlações para os ativos que

compõem a carteira, é produzido um grande volume de cenários de preços futuros. Para isto, é

selecionado um modelo estocástico para representar o movimento dos preços;

- Valuation da carteira: com os preços gerados para cada cenário, calculamos o valor da

carteira em cada caso, obtendo as variações no valor marcado a mercado;

- Resultados: tendo os valores da carteira em cada cenário, podemos apresentar a distribuição

das mudanças no valor MtM da carteira (soma do valor marcado a mercado de todos os ativos

da empresa) e outras medidas de risco.

3.2 Legislação sobre o risco de mercado

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A Resolução 3.464, em seu 2º artigo, define o risco de mercado como a possibilidade

de ocorrência de perdas resultantes da flutuação nos valores de mercado de posições detidas

por uma instituição financeira. Estão incluídos os riscos dasoperações sujeitas à variação

cambial, das taxas de juros, dos preços de ações e dos preços de mercadorias (commodities).

De acordo com a Resolução, a estrutura de gerenciamento de risco de mercado deve

conter:

I – políticas e estratégias para o gerenciamento do risco de mercado claramente

documentadas, que estabeleçam limites operacionais e procedimentos destinados a manter a

exposição ao risco de mercado em níveis considerados aceitáveis pela instituição;

II - sistemas para medir, monitorar e controlar a exposição ao risco de mercado, tanto para as

operações incluídas na carteira de negociação quanto para as demais posições, os quais devem

abranger todas as fontes relevantes de risco de mercado e gerar relatórios tempestivos para a

diretoria da instituição;

III - realização, com periodicidade mínima anual, de testes de avaliação dos sistemas;

IV - identificação prévia dos riscos inerentes a novas atividades e produtos e análise prévia de

sua adequação aos procedimentos e controles adotados pela instituição; e

V - realização de simulações de condições extremas de mercado (testes de estresse), inclusive

da quebra de premissas, cujos resultados devem ser considerados ao estabelecer ou rever as

políticas e limites para a adequação de capital.

Com relação à estrutura de gerenciamento de risco, a Resolução 3.464 prevê a

constituição de uma única unidade responsável pelo gerenciamento do risco de mercado do

conglomerado financeiro e das respectivas instituições integrantes e pela atividade de

identificação e acompanhamento do risco de mercado das empresas não financeiras

integrantes do consolidado econômico-financeiro.

O cronograma de implantação dessa estrutura foi definido da seguinte forma:

I - até 31 de dezembro de 2007: indicação do diretor responsável e definição

da estrutura organizacional para implementação do gerenciamento do risco de mercado;

II - até 31 de março de 2008: definição da política institucional, dos processos,

dos procedimentos e dos sistemas necessários à sua efetiva implementação;

III - até 30 de junho de 2008: efetiva implementação da estrutura de gerenciamento

de risco de mercado.

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CAPÍTULO 4 – RISCO DE CRÉDITO 4.1 Introdução ao Risco de Crédito

Primeiramente cabe aqui definir o conceito de crédito. Em Securato (2002), temos a

definição vinda do latim creditum, que significa “confiança ou segurança na verdade de

alguma coisa, crença/reputação, boa fama...”. Isto significa nada mais do que uma relação de

confiança entre duas ou mais partes em uma operação.

Transferindo a definição acima para uma instituição financeira, podemos entender o

crédito como uma intermediação financeira entre as partes, na qual existe uma operação de

empréstimo, sobre o qual incide uma remuneração que chamamos de juros.

Em sua introdução ao conceito de risco de crédito, Silva (2000) discorre sobre a

operação e seus riscos conforme abaixo:

“o Crédito, no sentido restrito, consiste na entrega de um bem ou de um valor

presente mediante a promessa de pagamento em data futura. Enquanto promessa de

pagamento, há o risco da mesma não ser cumprida. A formalização do acordo de crédito por

meio de um contrato bem elaborado é uma condição fundamental para assegurar ao credor o

direito de receber, independente da vontade do devedor de pagar. Nesse sentido, o auxílio do

departamento jurídico é necessário. Entretanto, pouco adianta o credor ter assegurado o

direito de receber se o devedor não dispuser de recursos para satisfazer o pagamento. Essa

condição leva à necessidade da decisão de crédito ser precedida de uma análise técnica. O

analista, ao examinar uma proposta de crédito, estará atento às diversas variáveis

relacionadas ao risco do cliente, ao presente (viabilidade de seu empreendimento e outros

dados relevantes) e ao futuro quanto à capacidade de pagamento. A expectativa em relação à

capacidade de pagamento poderá ou não ser confirmada. Apesar da possibilidade de que

fatores inesperados e adversos possam ocorrer e inviabilizar o cumprimento da obrigação,

não há dúvida de que a análise de crédito presta grande contribuição para a manutenção e o

gerenciamento de uma carteira de crédito saudável.”

Podemos entender que há uma diferença entre o conceito de risco e o conceito de

incerteza, o que tem sido amplamente debatido entre os autores do gênero. Para o risco,

entendemos que o mesmo existe quando a pessoa que irá tomar a decisão dispõe de recursos

tais como dados estatísticos e probabilidades que poderão se transformar em estimativas, e

auxiliarão em sua tomada de decisão. Já em relação à incerteza, esta ocorre quando o

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tomador de decisões não dispõe de nenhum dado acerca do fato, tornando sua decisão

extremamente subjetiva e intuitiva.

4.2 Os 6 C’s do Crédito

Originalmente, na literatura, encontramos a definição de Weston e Brigham (1972)

para os 5 C’s do Crédito, quais sejam: Caráter, Capacidade, Condições, Capital e Colateral.

Adiante, Silva (2000), acrescentou o 6º C, que se refere ao fator Conglomerado. Abaixo,

encontramos as definições:

Caráter: refere-se à intenção de pagar e à índole do tomador. Destaca-se a performance do

tomador nos aspectos: identificação, pontualidade, existência de restrições, experiência em

negócios, atuação na praça. Também pode ser entendido como o registro histórico do tomador

em cumprir suas obrigações passadas.

Capacidade: trata-se da habilidade do tomador em pagar os compromissos assumidos. A base

da análise da capacidade é o relatório de visitas, ou seja, a averiguação presencial das

condições de funcionamento e operação, no caso de pessoa jurídica, e a verificação da vida

profissional, estabilidade como empregado, vida como empresário ou autônomo, vida

familiar, no caso de pessoa física. Estas informações coletadas devem demonstrar, com

particular ênfase na liquidez e no endividamento, a capacidade do tomador em honrar seus

compromissos.

Condições: são os fatores do ambiente externo e conjuntural do cliente que serão analisados.

Os aspectos que devem ser observados são os seguintes: informações sobre os produtos e

mercado, o ambiente macroeconômico e setorial; o ambiente competitivo; e a dependência da

empresa em relação ao governo. Para as pessoas físicas, sua relação trabalhista e a

consistência da empresa no mercado em que atua, o tempo de emprego, seu relacionamento

social e comercial.

Capital: trata da situação econômico-financeira da empresa ou da pessoa física. Para as

pessoas jurídicas, os documentos utilizados são o Balanço Patrimonial, Demonstração de

Resultados, Demonstração e Origens de Aplicações e Recursos, Demonstração de Mutações

do Patrimônio Líquido, Declaração de Imposto de Renda – Pessoa Jurídica. Para as pessoas

físicas, ode-se desenvolver um modelo simplificado de Balanço Patrimonial e da

Demonstração de Resultado do Exercício, conjugado com a Declaração do Imposto de Renda.

Colateral: refere-se aos bens patrimoniais do tomador, que podem ou não ser utilizados para

garantia do crédito. Quanto maior for o montante e qualidade dos ativos disponíveis, maior a

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chance da instituição financeira reaver os recursos emprestados, caso o requerente falte com

suas obrigações.

Conglomerado: refere-se à análise financeira de controladas, controladoras, coligadas e

interligadas, para que possa fazer uma análise mais apurada com relação ao pleiteante do

crédito. A empresa deve ser analisada no âmbito do grupo de empresas que a contenha. No

caso de pessoas físicas, o conglomerado inclui uma análise de crédito do grupo familiar,

considerando-se o cônjuge e demais familiares dependentes ou não.

4.3 Políticas de Crédito

As políticas de crédito são os padrões que devem ser seguidos pelas instituições

financeiras, tendo como objetivo básico a orientação nas decisões de crédito. Silva (2000), em

sua obra, observa a estrutura fundamental:

“Pela sua importância, a política de crédito deverá estar reservada aos escalões

hierárquicos mais altos dentro das organizações. Para os bancos, normalmente, há um

“Comitê de Crédito”, que é uma espécie de órgão colegiado, que responde pelas decisões de

crédito...”

Ainda, sobre os critérios de concessão dos bancos:

“Os bancos, em geral, tendem a ter critérios rigorosos na concessão de crédito, pois o

prejuízo decorrente do não-recebimento de uma operação de crédito, representará a perda

do montante emprestado.”

Paiva (1997),destaca os aspectos que devem ser considerados na elaboração da política

de crédito:

a) mercado-alvo: deve-se definir a composição da carteira quanto ao porte, ramo e risco

com o qual se deseja trabalhar;

b) Impedimento: a política deve estabelecer limites quando a instituição não possuir

completo entendimento sobre um modo de atuação de determinada empresa, quando

determinado tipo de tomador apresentar freqüentes problemas de crédito, gerando

endividamento, e quando o tomador possuir condições privilegiadas perante as leis ou

opinião pública;

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c) aceitação de riscos: a instituição deve traçar diretrizes e parâmetros, visando a

uniformização dos perfis de risco das carteiras, definindo os padrões de qualidade e

perdas máximas admissíveis;

d) limites de crédito: permite adequar o limite de empréstimo de acordo com a

capacidade financeira do proponente, aumentando a probabilidade do retorno dos

capitais emprestados, e acordo com o seu nível de risco;

e) garantia: entende-se que a garantia seja acessória às operações, visando dar mais

segurança à operação, justificada pelo comprometimento pessoal e patrimonial do

tomador. Caso haja a inadimplência da dívida, a garantia poderá ser executada,

garantindo o retorno do valor emprestado. Entretanto, a prioridade do banco sempre

deverá ser a de receber o valor e prazo acordados em contrato, sendo a execução da

garantia a última opção, devido à sua morosidade e custo elevado.

Glantz (2007), lista algumas instruções amplas para uma política de crédito, definidas por

um dos maiores bancos de Nova York, o Manufactures Hanover Trust:

a) Os empréstimos devem ser feitos com finalidades construtivas, consistentes com os

melhores interesses do banco, seus clientes, seus acionistas e a comunidade, assim

como devem ter um bom plano de pagamento e se basear em bons princípios de

concessão de créditos;

b) Os empréstimos devem ser precificados competitivamente e devem compensar o

banco pelos riscos assumidos. Ainda, devem estar dentro das leis e normas aplicáveis;

c) Devem ser evitados empréstimos de natureza especulativa e quando os bancos estão

subordinados a outros credores.

4.4 Crédito destinado à Pessoa Física

A análise do crédito destinado à pessoa física é feita através da coleta de informações e

documentos que possibilitem avaliar a capacidade de pagamento e medir o nível de risco

do proponente.

Os bancos brasileiros possuem, em auxílio à obtenção de informações, empresas

especializadas em informações de risco de crédito, tais como a SERASA, e o SPC –

Serviço de Proteção do Crédito. Estas empresas possuem banco de dados histórico que

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permitem analisar situações de pontualidade do cliente, tais como inadimplências,

protestos, falências, concordatas.

Para efetuar a análise cadastral do tomador, são necessários os documentos de

identidade, CPF, Certidão de Nascimento/Casamento (permitem confirmar a identidade do

tomador, assim como evitar o cadastramento de homônimos) comprovantes de residência

e renda, relação de bens com o valor de mercado e ônus sobre os mesmos, se for o caso,

fontes de referências comerciais e bancárias.

Juntamente com a documentação, é preenchida uma ficha cadastral que será utilizado

para a análise de risco de crédito do proponente.

4.5 Modelos de Avaliação de Risco

4.5.1 Credit Scoring

O credit scoring consiste na compilação e comparação dos dados preenchidos a ficha

cadastral com parâmetros quantitativos e qualitativos previamente estabelecidos, de forma a

resultarem numa pontuação. De acordo com dados estatísticos, é determinado um ponto de

corte que resulta na aprovação ou não do crédito.

Desta forma, a idéia essencial dos modelos de credit scoring é identificar certos

fatores-chave que influenciam na adimplência ou inadimplência dos clientes, permitindo a

classificação dos mesmos em grupos distintos e, como conseqüência, a decisão sobre a

aceitação ou não do crédito em análise.

Lang (1994) exemplifica a pontuação de um modelo de credit scoring, por meio da

tabela a seguir:

Características do devedor Baixa Pontuação Alta Pontuação

Residência Alugada Própria

Tempo de residência na região < 6 meses > 10 anos

Nível de receita bruta anual < US$ 15.000 > US$ 100.000

Ocupação Baixa qualificação Alta qualificação

Tempo no emprego < 3 meses > 10 anos

Número de cartões de crédito Nenhum 5 ou mais

Empréstimos de empresas financeiras Vários Nenhum

Relação dívidas/receita bruta >30% <5%

Contas correntes ou de poupança Nenhuma Ambas

Idade < 30 anos > 50 anos

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4.5.2 Behaviour Scoring

Trata-se de um modelo de análise de risco baseado no comportamento do tomador,

levando em consideração grande quantidade de variáveis vinculadas ao comportamento dos

indivíduos.

A elaboração deste modelo é um tanto mais complexa do que a do credit scoring,

sendo que devem ser considerados deversos fatores, dentre os quais podem ser destacados:

a) Hábitos de consumo: definem o que o indivíduo consume e de que forma: se

compra em lojas, catálogos, internet, etc.;

b) Hábitos de lazer: qual a freqüência do indivíduo em cinemas, shopping center,

academias, tipos de restaurantes, clubes freqüentados;

c) Viagens: freqüências de viagens nacionais e internacionais, seja a trabalho ou a

lazer;

d) Tipos de aplicação financeira: qual a composição de carteira do tomador, qual seu

comportamento diante do risco – agressivo, arrojado, conservador, indiferente;

e) Compatibilidade entre renda e patrimônio: verifica se os hábitos de consumo e o

patrimônio do cliente são compatíveis com sua renda;

f) Análise das obrigações assumidas pelo indivíduo: constata a pontualidade nas

operações efetuadas.

4.5.3 RAROC – Risk Adjusted Return on Capital

O RAROC foi formulado por uma instituição financeira norte-americana nos anos

setenta. Conforme originalmente definido, o RAROC pode ser escrito matematicamente da

seguinte forma:

RAROC = Lucro Econômico

Capital Econômico

O lucro econômico é definido como o lucro efetivo, sem a influência de eventos

extraordinários ou convenções contábeis que não reflitam a situação econômica real da

instituição.

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Atualmente, a grande maioria das instituições financeiras líderes adota o RAROC (ou

uma variação dele) em suas rotinas diárias. O RAROC pode ser utilizado como uma

ferramenta de tomada de decisão para:

a) Alocação de capitais;

b) Avaliação de desempenho econômico;

c) Determinação de spreads diferenciados, compatíveis com as perdas esperadas;

d) Administração ativa de portfólios;

e) Otimização de portfólio de crédito.

4.6 Classificação do Risco de Crédito - Rating

A Resolução 2.682 de 1999 determina que as instituições financeiras classifiquem as

operações de crédito nos níveis AA, A, B, C, D, E, F e H, devendo a classificação ser

amparada por informações internas e externas, contemplando, pelo menos, os seguintes

aspectos:

I - em relação ao devedor e seus garantidores:

a) situação econômico-financeira;

b) grau de endividamento;

c) capacidade de geração de resultados;

d) fluxo de caixa;

e) administração e qualidade de controles;

f) pontualidade e atrasos nos pagamentos;

g) contingências;

h) setor de atividade econômica;

i) limite de crédito;

II - em relação à operação:

a) natureza e finalidade da transação;

b) características das garantias, particularmente quanto à suficiência e liquidez;

c) valor.

A classificação deve ser realizada mensalmente, de acordo com a tabela a seguir,

considerando também a provisão para fazer face aos créditos de liquidação duvidosa:

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O rating é uma classificação que considera a capacidade de um país ou uma empresa

saldar seus compromissos financeiros. A avaliação é feita por empresas especializadas, as

agências de classificação de risco, que emitem notas, expressas na forma de letras e sinais

aritméticos, que apontam para o maior ou menor risco de ocorrência de suspensão de

pagamentos.

Para publicar uma nota de risco de crédito, os especialistas dessas agências avaliam

além da situação financeira de um país, as condições do mercado mundial e a opinião de

especialistas da iniciativa privada, fontes oficiais e acadêmicas.

O rating é sempre aplicado a títulos de dívida de algum emissor. Se uma empresa quer

captar recursos no mercado e oferece papéis que rendem juros a investidores, a agência

prepara o rating desses títulos para que os potenciais compradores avaliem os riscos.

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CAPÍTULO 5 - APLICAÇÃO DA GESTÃO DO RISCO NAS INSTITUIÇÕES

FINANCEIRAS BRASILEIRAS

As discussões propostas pelo Comitê de Basiléia desde 1974 até os dias de hoje

provaram a fundamental relevância de aplicações de regras e controles para garantir a

administração dos riscos nas instituições financeiras.

Com relação ao risco de mercado, as responsabilidades devem ser compreendidas em

todos os níveis do banco. A mais importante atribuição da gerência de risco de mercado é a de

implantar e monitorar as políticas de risco, contando com o apoio de uma função interna de

auditoria capacitada.

Os comitês de gestão do ativo/passivo são responsáveis pelo estabelecimento,

documentação e fiscalização de todas as políticas que envolvem risco de mercado, incluindo

os riscos de liquidez, de câmbio e de taxas de juros. São também atribuições do comitê a

delegação de limites de risco de mercado ao principal executivo de risco, e a responsabilidade

em assegurar que a infra-estrutura da instituição suporte os objetivos de risco de mercado do

banco.

A responsabilidade pela estratégia, políticas e metodologias e governança geral da

gerência de risco pertence ao principal executivo de risco. Este executivo possui autoridade,

delegada pelo comitê de gestão do ativo/passivo, para decisões do dia-a-dia.

A nível de negócios, também deve existir um comitê que será responsável por

assegurar a gerência das compensações desejadas de risco/recompensa. O comitê deve

gerenciar questões de projeto que determinam como o risco será gerenciado, refletindo o

relacionamento existente entre os negócios e a função gerência de risco da instituição. Outra

função do comitê é a de aprovar políticas que sejam aplicáveis à mediação e gerência de risco,

assim como avaliar os limites de risco para alçadas de renegociação e crédito.

Para Glantz (2007), em relação ao risco de crédito, a estratégia deve incluir a intenção

do banco para conceder crédito com base no tipo de crédito (ex: comercial, habitacional), no

setor econômico, localização geográfica, moeda, prazo de vencimento e lucratividade

antecipada, incluindo a identificação de mercados-alvo e todas as características que o banco

deseja realizar em sua carteira de crédito.

Sobre a gestão do risco de crédito, vejamos abaixo a leitura dada pelo Comitê de

Basiléia, em seu relatório informativo “Principles for the Management of Credit Risk”:

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“Como acontece em todas as outras áreas de atividade do banco, a diretoria tem um papel

relevante na supervisão das funções de concessão de crédito e gerenciamento do risco do

crédito bancário. Todo banco deveria desenvolver estratégias ou planos de risco de crédito

que estabeleçam objetivos para orientar as atividades de concessão de crédito bancário, e

adotar diretrizes e procedimentos necessários à condução de tais atividades. A estratégia

sobre risco de crédito, assim como outras significativas diretrizes, deveriam ser aprovadas e

periodicamente revisadas pela diretoria. A diretoria precisa reconhecer que a estratégia e as

diretrizes devem cobrir as muitas atividades do banco em que a exposição ao risco de crédito

é muito significativa.”

Desta forma, entende-se que a diretoria do banco é responsável por todo o

planejamento estratégico, e ainda, definir uma tolerância do banco aos riscos. A diretoria

também deve se certificar de que a gerência estabeleça um sistema de avaliação para

determinar o valor dos riscos, desenvolver um sistema para relacionar o risco com o nível do

capital do banco e estabelecer um método de compatibilidade com as políticas internas. É

importante que a diretoria adote efetivos controles internos, diretrizes e procedimentos, e

assegure que a gerência comunique de forma sistêmica em toda a instituição.

De acordo com Silva (2000), podemos definir abaixo os principais componentes para

aplicar uma política de crédito nos bancos:

a) Definição estratégica do banco: neste item, é explicada a base para elaboração da

política de crédito. No planejamento estratégico da instituição deve ser

estabelecido o segmento que ela deseja transacionar, os produtos que serão

oferecidos e os objetivos de lucratividade a ser alcançado. Normalmente esse tipo

de decisão é tomada pela diretoria em comitês de ativos e passivos;

b) Forma de decisão e delegação de poderes: uma das principais preocupações em

uma política de crédito está relacionada aos poderes de decisão para a concessão.

Essa decisão pode ser individual, conjunta ou colegiada, sendo esta última

conhecida como comitê de crédito. Quanto mais elevado o poder de decisão

individual, maior será a agilidade no processo de concessão de crédito, contudo

isto acarretará menor controle sobre a qualidade das concessões;

c) Análise de crédito: A definição do tipo de análise a ser empregada e sua

abrangência é um dos pontos mais importante nas avaliações de risco dos clientes.

Não raro, algumas instituições copiam os modelos de ficha cadastral de outros,

passando a utilizar os mesmos indicadores e a mesma forma de análise para

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carteiras de clientes com perfis diferentes, o que pode levar à utilização de padrões

e critérios inadequados. Além disso, os bancos trabalham com clientes de

diferentes nichos, o que deve ser considerado de forma diferenciada no modelo de

análise.

d) Limites de crédito: a concessão dos limites é mais abrangente do que uma análise

de crédito, devendo ser fixados limites para vários produtos em diversos prazos,

em função da qualidade do cliente e das garantias associadas às operações. Em

geral, as instituições financeiras segmentam os limites por cliente em três formas

de operação. A primeira relaciona-se com as operações de financiamento padrão,

como empréstimos e títulos. A segunda corresponde às operações rotativas, nas

quais são abertas linhas de crédito pelas quais o cliente pode retirar recursos em

pequenas quantidades, durante o prazo do contrato. A terceira corresponde às

operações com derivativos que poderão representar créditos potenciais em razão de

variações no preço e taxas de mercado

e) Normas legais: em razão dos bancos utilizarem recursos captados de terceiros nas

suas operações de financiamento, existe a necessidade de fiscalização e

normatização das operações de crédito por parte dos órgãos reguladores. Dessa

forma, a política de crédito bancária deve estar bem alinhada às regras definidas

pelas autoridades.

No tocante ao gerenciamento de riscos operacionais, Baraldi (2005), defende que o

gerenciamento de riscos na organização são os conhecimentos, os métodos e os processos

organizados para reduzir os prejuízos, perdas e danos e aumentar os benefícios na

concretização dos objetivos estratégicos.

Devem ser considerados no gerenciamento de riscos operacionais a avaliação das

probabilidades de perda, com a identificação dos riscos considerados inevitáveis, ou aqueles

que podem ter sua probabilidade de ocorrência diminuída, de acordo com a relação custo-

benefício das medidas de segurança da empresa, com o objetivo de facilitar a escolha de um

programa de gestão adequado ao nível de segurança que deverá ser atingido.

Assim, o gerenciamento de riscos operacionais deve contemplar não apenas medidas

para a redução de riscos, mas também estabelecer ações que objetivem manter uma instalação

funcionando, dentro de padrões de segurança considerados toleráveis.

Duarte (2005), define quatro estágios para o gerenciamento de riscos operacionais, de

acordo com a tabela a seguir:

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ESTÁGIO I

Tradicional

ESTÁGIO II

Conscientização

ESTÁGIO III

Quantificação

ESTÁGIO IV

Integração

Não há uma

definição formal dos

riscos operacionais

na empresa.

Os riscos

operacionais estão

definidos e

detalhados.

A cultura para o

gerenciamento de

riscos operacionais

foi estabelecida na

empresa.

Medidas de riscos

operacionais

ntegradas às

medidas de risco

existentes no setor.

O gerenciamento

de riscos

operacionais é

entendido como

função da Auditoria

interna.

A cultura para o

gerenciamento dos

riscos operacionais

encontra-se no

estágio inicial de

desenvolvimento.

Existência de

bancos de dados

com cobertura

abrangente sobre

perdas

operacionais.

As estimativas para

capital econômico

relativo aos riscos

operacionais foram

implementadas e

são acompanhadas

pela alta direção.

Os riscos

operacionais são

tratados

informalmente.

Pessoas alocadas

para gerenciar

riscos operacionais.

Os indicadores para

perdas operacionais

foram

implementados e

são acompanhados

regularmente pela

alta direção.

As metodologias de

valor adicionado ao

acionista foram

implementadas e

são acompanhadas

pela alta direção.

Dependência

exclusiva do caráter

das pessoas, e não

dos procedimentos

internos.

Primeiros

indicadores de

riscos operacionais

mplementados.

Existência de

estimativas para o

nível de provisão e

de capital

econômico para

riscos operacionais

em algumas

unidades.

Os requerimentos

sobre riscos

operacionais em

novos produtos e

serviços são feitos

informalmente, sem

regularidade e

obrigatoriedade.

O requerimento

formal para a

identificação de

riscos operacionais

está presente nos

novos produtos e

serviços.

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Para uma eficiente política de gestão de riscos operacionais, é necessário que a

instituição possua um programa de Governança Corporativa, que apresente os quatro

seguintes pilares: a prestação de contas; a transparência das atividades empresariais; o

profissionalismo e a responsabilidade corporativa em conformidade com as políticas internas,

aplicáveis em todo o âmbito da instituição.

A Governança Corporativa avalia todos os sistemas relativos ao controle de uma

organização, através de mecanismos eficientes, a fim de assegurar o alinhamento das

atividades empresariais aos interesses dos proprietários ou acionistas. A constituição da

Governança Corporativa é formada de um Conselho de Administração, Conselho Fiscal e

Auditoria, podendo também ser considerada como um mecanismo de aprimoramento da

gestão, com o objetivo de proporcionar a maximização de valor para os acionistas, aliada aos

interesses internos e externos do banco.

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CONCLUSÃO

Embora possa parecer simples a princípio, mitigar os riscos em uma instituição

financeira é uma atividade complexa, que deve ser integrada ao planejamento estratégico e

aplicada no dia-a-dia do banco.

Todos os tipos de gerenciamento do risco devem ter como objetivo final a

maximização do resultado econômico, isto é, contribuir para elevar o lucro da instituição.

Para que possa ser atingido um gerenciamento de risco satisfatório em uma instituição

financeira, é necessário um investimento inicial em banco de dados, equipamentos e pessoal

qualificado, o que não acontece em todas as instituições brasileiras. O prêmio principal por

um bom gerenciamento de risco é uma instituição mais segura, conhecedora de suas

vantagens e desvantagens æ em termos de retorno e risco em relação aos seus concorrentes.

Um dos principais motivos que levam a instituição bancária a investir na gestão dos

riscos é devido à sua atuação em um ambiente instável, no qual existe muita volatilidade, e

também devido aos órgãos controladores que impõem padrões mínimos de identificação,

medição e controle.

Cabe ressaltar que a instituição financeira deve saber trabalhar com cenários futuros,

entretanto, devido à incerteza das condições de mercado e outros fatores externos, existe

apenas a condição de se trabalhar com noções de risco baseadas em probabilidades e

tendências, e nem sempre será possível avaliar todas as relações de causa e efeito.

Cabe reforçar que o sucesso na implantação de uma gestão de riscos está relacionado

com a conscientização e o apoio da diretoria, uma vez que este deverá fazer parte da cultura e

da política da mesma, além da integração com o seu Planejamento Estratégico e Financeiro,

fornecendo condições favoráveis para a realização das tarefas, agregar valor aos processos e

contribuir para o direcionamento da instituição aos objetivos estabelecidos.

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BIBLIOGRAFIA

BARALDI, Paulo. Gerenciamento de Riscos Empresariais. São Paulo: Campus, 2005. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Comunicado nº 12.746 e Resoluções nº 2.682, 3.380 e 3.464. Disponíveis no site http://www.bcb.gov.br DUARTE, Antonio Marcos. Gestão de Riscos para Fundos de Investimentos; 1º Edição. São Paulo: Pearson, 2005. CROUHY, Michel, GALAI, Dan, MARK, Robert. Gerenciamento de Risco: Abordagem Conceitual e Prática. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. GLANTZ, Morton. Gerenciamento de Riscos Bancários. São Paulo: Elsevier, 2007. LANG, Larry R. Strategy for Personal Finance. MCGraw-Hill, 15th Edition, 1993. PAIVA, Carlos Alberto de Carvalho. Administração do Risco de Crédito. Rio de Janeiro: Qualitimark, 1997. SILVA, José Pereira da. Gestão e Análise do Risco de Crédito. São Paulo: Atlas, 2000. SECURATO, José Roberto. Crédito – Análise e Avaliação do Risco Pessoas Físicas e Jurídicas. São Paulo: Saint Paul, 2002. TRAPP, Adriana, CORRAR, Luiz. Avaliação e Gerenciamento do Risco Operacional no Brasil: Análise de caso de uma instituição financeira de grande porte. Acessado em 03/08/2010, Disponível em www.eac.fea.usp.br/cadernos/completos/cad37/adriana_corrar_pg24a36.pdf WESTON, J. Fred, BRIGHAM, Eugene P. Managerial Finance. New York: Holt, 1972.