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V. 14 (3) setembro-dezembro 2000ISSNOIO15907
GOVERNO ALMIR GABRlELFundação Santa Casa de Misericórdia do Pará
Núcleo Cultural
PRESIDENTE: Hélio Franco Macedo Junior
VICE-PRESIDENTE: Rosângela Brandão MonteiroEDITOR RESPONSÁVEL: Alípio Augusto Barbosa BordaloEDITOR ADJUNTO: Manoel Barbosa de Rezende
CONSELHO EDITORIAL:Eloisa Flora Arruda MouraGeraldo Roger Nonnando Jr.Jamilson Femandez da SilvaLeônidas Braga DiasManoel Santos CoimbraMarcus Vinicius H. Brito
Mario R. de Miranda -PANara Botelho Brito -PAOctávio Gomes Souza Jr. -PAOfir Dias Vi eira -PARaimundo Nonato Q. Leão -PAReinaldo Silveira de Oliveira -PARoberto Messody Benzecry -RJRosa Helena P. Gusmão -PASérgio Martins Pandolfo -PAWilliam Mota Siqueira -PAZéa Lins Lainson -PA
CONSELHO CIENTÍFICO:Antônio Celso Ayub -RSAntônio Spina-França -SPAlexandre C. Linhares -PAArival Cardoso de Brito -PACarlos Salgado Borges -MAGeraldez Tomaz -PBHabib Fraiha Neto -PAJosé João Neiva Neto -PAManoel A. Moreira -PAMaria de Lourdes B. Simões -PR
MEMBROS HONORÁRIOS:Camilo Martins Vianna, Clodoaldo Ribeiro Beckman, Clóvis de Bastos Meira e José Monteiro Leite
lntemational Standard Serial Number (ISSN): 01015907lndexada na Administração da Base de Dados LILACS -BIREME
Diagramação e composição: Elisandra Porto -EVOLUTION Editoração EletrônicaProdução: GRÁFICA SAGRADA FAMÍLIA
A REVISTA PARAENSE DE MEDICINA é o periódico bio-médico da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, comregistro n° 22, Livro B do 20 Ofício de Títulos, Documentos e Registro Civil das Pessoas Jurídicas, do Cartório ValleChermont, de 10 de março de 1997, Belém-PA.
Publicação
quadrimestral e distribuição gratuita. Tiragem: 1.500
Endereço:
REVISTA PARAENSE DE MEDICINAFundação Santa Casa de Misericórdia do ParáRua Oliveira Bello, 395 UmarizalFax: (091) 241-9266 Fones: (Oxx91) 210-2213/242-9022/242-800766.050-380 -Belém-Paráe-mail: [email protected]
www.santacasapara.org.br
Capa: candeeiro a vela da Coleção Sacra do Museu da Santa Casa.
EPmEMIOLOGIA DA FEBRE AMARELA NO ESTADO DO PARÁ, 1989 -19981
OF YELLOW FEVER IN PARÁ STATE, 1989 -1998EPIDEMIOLOGY
Graciane Soares de OLIVEIRA 2
Ivanilson de Vasconcelos SEPEDA 2
Alvaro Augusto Ribeiro D'Almeida COUTO 3
RESUMO
Objetivos: Descreve!; com base numa série histórica de dez anos, correspondente ao período de 1989 a1998, o perfil epidemiológico da Febre Amarela no Estado do Pará, enfatizando a epidemia do ano de 1998.Proceder uma avaliação sobre a dispersão do Aedes aegypti nos municípios paraenses e a relação deste fato como risco de reurbanização da doença. E, finalmente, avaliar as ações de controle que têm sido executadas. Método:Os dados foram obtidos junto ao Núcleo Estadual de Epidemiologia (NUEP1/SESPA) e Núcleo de Informação eSaúde (NIS/SESPA); a partir dos quais foram realizadas as análises de interesse do trabalho. Resultados: Registraram-se 38 casos distribuídos em 20 dos 143 municípios; dois importantes picos epidêmicos, um em 1993 e o outro em1998 e elevada proporção de letalidade, chegando a 100% nos anos de 1991,1993,1995 e 1997, reduzindo para34,7% em 1998. Determinou-se a prevalência da doença em indivíduos do sexo masculino e maiores de 15 anos(71%) desenvolvendo atividade de lavrador(36,8%).Conclusão: Identifica-se a necessidade do fortalecimento doprocesso de vigilância e controle da doença, bem como a necessidade do aumento da cobertura vacinal na populaçãoexposta, objetivando a redução do número de casos e o impedimento de uma possível reurbanização da FebreAmarela.
DESCRITORES: Febre Amarela; Epidemiologia; Controle
INTRODUÇÃO atingir 69 municípios, em 1998, principalmenteaqueles localizados ao Sul e Nordeste do estado.Figuras 1 e Ia.A Febre Amarela constitui um sério proble-
ma de saúde pública, especialmente na maioria dospaíses tropicais, onde as condições do meio ambi-ente favorecem o desenvolvimento e a proliferaçãodos vetores.
É uma antropozoonose, isto é, uma doençade animais silvestres, acometendo o homem aciden-talmente, principalmente quando este participa deatividades relacionadas com o ambiente silvestre.
Assim sendo, a Febre Amarela é objeto de pre-ocupação dos organismos oficiais de controle da doen-ça devido seu caráter de endernicidade. Sendo uma dasarboviroses mais importantes que afetam o homem naatualidade, é preocupante o fato da ocolTência do Aedesaegypti em todos os estados do Brasil.
A dispersão do Aedes aegypti no Estado doPará foi evidenciada a partir de 1992, chegando a Figura 1. Mapa do Estado do Pará com a dispersão do Aedes
aegypti por municípios de ocorrência no período de 1992 a 1998.Recebido em em 16.08.00 -Aprovado em 18.10.00
l-Trabalho realizado no lnstituto Evandro Chagas e no CESUPA.2-Graduandos do Curso de Farmácia e Bioquímica do CESUPA.3-Biomédico -Pesquisador Colaborador do Instituto Evandro Chagas/FUNASA/MS.
8 Revista Paraense de Medicina -v.14 (3) setembro-dezembro 2000
EPIDEMIOLOGIA DA FEBRE AMARELA NO ESTADO DO PARÁ. 1989 -1998
A manutenção e os vários mecanismos detransmissão do vírus da Febre Amarela, na Améri-ca do Sul, têm sido investigados à luz do esquemaeco-epidemiológico da doença na África1.
Considerando a magnitude que alcança aFebre Amarela no contexto das endemias tropicaisna Amazônia, e, pelo iminente risco de uma possí-vel reurbanização da doença em vários municípiosparaenses, hoje considerados altamente vulneráveis.
OBJETIVO
o presente estudo teve como objetivo primá-rio descrever a epidemiologia da Febre Amarela noEstado do Pará, considerando uma série histórica dedez anos, correspondente ao período de 1989 a 1998,enfatizando-se a epidemia ocorrida no ano de 1998.Examinar as variáveis de tempo, pessoa e lugar. E,finalmente, avaliar as ações de controle que têm sidoexecutadas, objetivando reduzir o número de casosd,e Febre Amarela Silvestre e impedir a suareurbanização, considerando os fatores queconcorrem para a endemicidade da doença.
Epiderniologicamente, o vírus da Febre Amarelapode apresentar-se sob duas modalidades: urbana esilvestre. Na Febre Amarela Urbana (FAU),transmitida pelo Aedes aegypti infectado, o homemé o único reservatório e hospedeiro vertebrado comimportância epidemiológica. Na Febre AmarelaSilvestre (FAS), mais comumente transmitida pelosmosquitos do gênero Haemagogus e Sabethes, osprimatas não humanos são os principaisreservatórios e hospedeiros vertebrados do vírusamarI1ico, sendo o homem um hospedeiro aciden-tal, ou seja, se vê acometido da doença por adentrarno habitat natural desses animais 7.
Em ambos os casos de Febre Amarela, sil-vestre e urbana, o agente etiológico é o vírusaman1ico pertencente ao gênero Flavivirus da fa-Inl1ia Flaviviridae, que inclui pelo menos 68 mem-bros. Caracteriza-se clinicamente por manifestaçõesde insuficiência hepática e renal que podem levar àmorte, em cerca de uma semana.
Hervé et aI., 19862, mencionam os achadosde Bates & Roca Garcia (1946), que evidenciaramum fenômeno biológico da mais alta importância,qual seja, de que os vetores uma vez infectados
Ano
1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998
C. do AraguaiaBelémRedençãoXinguaraAnanindeuaRondon do Pará-
C. do AraguaiaBelémRedençãoXinguaraRio MariaRondon do ParáS. G. do AraguaiaParagominasCuruçaAnanindeuaSalinópolisIrituiaMaritubaIgarapé AçuS. Isabel do Pará
C. do Araguaia C. do AraguaiaBelém BelémRedenção RedençãoXinguara XinguaraRio Maria Rio MariaRóndon do Pará Rondon do ParáDom Elizeu Dom ElizeuParagominas ParagominasCuruça CuruçaAnanindeua AnanindeuaSalinópolis SalinópolisIrimia IrituiaMarituba MaritubaIgarapé Açu Igarapé AçuS. Isabel do Pará S. Isabel do ParáS. Miguel do Guarná S. Miguel do Guarná
16 Aurora do Pará Aurora do ParáCastanha! Castanha!Igarapé Miri Igarapé MiriAbaetetuba AbaetetubaMarapanim MarapanimMarabá MarabáBragança BragançaBarcarena BarcarenaBenevides BenevidesMag. Bar'dta Mag. BarataIpixuna IpixunaGoianesa GoianesaTucuruf TucurufBreu Branco Breu BrancoMaracanã MaracanãVitória do Xingu Vitória do XinguPonta de Pedras Ponta de Pedras
S. João da Ponta S. Maria do Pará S. Maria do ParáUlianópolis Soure SoureS. da Boa Vista Cametá CarnetáBreves S.AntôniodoTauá S.AntôniodoTauá
Vigia VigiaMãe do Rio Mãe do Rio
0608
S. João da PontaUlianópolisS. S. da Boa VistaBrevesNova TimboteuaS. Luzia do Pará!taitubaSapucaiaTorné AçuS. C. de OdivelasEldorado dos CarajásConcórdia do ParáNovo RepartimentoPeixe-boiSantarémBujaruColaresCapanemaS. João de PirabasMocajubaAbel FigueiredoS. D. do AraguaiaTucurnãInbagapiLimoeiro do AjuruS. F. do ParáTailândiaViseuMojuOurilandia do Norte
69
43
Figura 1 a. Municípios do Estado do Pará com A. Aegypti no período de 1992 a 1998
Revista Paraense de Medicina -v .14 (3) setembro-dezembro 2000 9
EPIDEMIOLOGIA DA FEBRE AMARELA NO ESTADO DO PARÁ. 1989 -1998
MÉTODO que no sexo feminino foram registrados 08 casos(29%), sendo 05 em maiores e 03 em menores de15 anos. Dos seis casos em menores de 15 anos,quatro, foram registrados no município de Afuá.
A distribuição dos casos de Febre AmarelaSilvestre por ocupação, consolidada na Tabela 5,revela o maior comprometimento em, lavradorescom 14 casos (36,8%), seguindo-se de 06 (15,8%),ignorado 04 (10,5%), doméstica 03 (7,9%), braçal02 (5,3%) e as demais ocupações com 01 (2,6%)cada uma.
Dos cinco pacientes com relato de préviavacinação específica, quatro evoluíram à cura eapenas um foi à óbito. Entre a data da vacinação e oaparecimento dos primeiros sintomas, dois foramvacinados com 4 e 6 dias após o início das manifes-tações clínicas e os outros três entre 4 e 14 dias antesde quaisquer evidências de sintomas. Tabela 6.
.Área de Estudo.A área selecionada como alvo do presente
estudo foi o Estado do Pará.
.Período.As observações foram realizadas conside-
rando uma série histórica de dez anos, correspon-dente ao período de 1989 a 1998.
.Coleta e Tabulação de Dados.Os dados foram obtidos no Núcleo Estadu-
al de Epidemiologia -NUEPI/SESPA, Núcleo deInformação em Saúde -NIS/SESPA e GerênciaEstadual de Controle de Endemias -GECEN/PNS,através de consultas em fichas epidemiológicas,planilhas com informações consolidadas e relatóri-os técnicos.
Essas informações posteriormente foramtabuladas segundo os interesses do estudo. DISCUSSÃO
RESULTADOS o número de casos conhecidos a cada ano éextremamente variável. Nossos resultados revelam,além da expansão territorial, conforme ilustra aFigura 2, um aumento quantitativo dos casos deFebre Amarela. Entre 1989 e 1998, a incidência foimaior nos anos de 1993 com 0,15 casos/l00.000habitantes e 1998 com 0,39 casos/l00.000habitantes, correspondente a 08 e 23 casosrespectivamente, enquanto que nos demais anos dasérie histórica evidenciou-se a ocorrência de zero adois casos por ano.
Figura 2. Mapa do estado do Pará com a distribuição doscasos de Febre Amarela por município de ocorrência no pe-ríodo de 1989 a 1998.
Revista Paraense de Medicina -v.14 (3) setembro-dezembro 2000
o período de 1989 a 1998, evidenciou oregistro de 38 casos da doença, distribuídos em 20dos 143 municípios do estado. Destacam-se os anosde 1993 e 1998 por apresentarem os maiores nú-meros de casos, determinando assim dois impor-tantes picos epidêmicos. O primeiro em 1993,com 08 casos e uma taxa de letalidade de100%, o segundo, em 1998, com 23 casos e umataxa de letalidade de 34.7%. O município com omaior número de casos registrados no período foiAfuá, localizado na mesorregião Marajóonde foram notificados 17 casos com1etalidade de 17.6%, no ano de 1998.Tabela 1
Do total de casos, 18(47,4%) não tinham cobertura vacinal, em15 (39,5%) essa informação era ignorada esomente 05 (13,1%), constavam como vacinadosnas respectivas fichas de investigaçãoepidemiológica. Quanto a evolução clínica,evidenciou-se que 21 pacientes foram àóbito, 14 evoluíram para cura e apenas 03foram considerados ignorados. Tabela 2
A taxa de letalidade geral foi de55,3%, excluindo-se os casos ignorados. Jáos coeficientes de incidência e mortalidadeforam de 0.70 e 0.39/100.000 habitantes,respectivamente. Tabela 3
A Tabela 4 mostra a distribuição dos ca-sos por sexo e faixa etária. A doença ocorre maisentre os indivíduos do sexo masculino e maiores.de 15 anos, estes com 27 ~~os (71 %), enquanto
10
EPIDEMIOLOGIA DA FEBRE AMARELA NO ESTADO DO PARA. 1989 -1998
Tabela 1. Distribui ão dos casos de Febre Amarela Silvestre FAS or municí io, Pará 1989 -1998.
ANO1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998
Municípios CIO CIO CIO CIO CIO CIO CIO CIO CIO CIO Total17/03...
...
...
...
01/01
.,.
,,'
01/0101/0101/01
000 ...
...
...
...
...
...
...
000
..0
02/02...
01/01
01/0101/00
01/01
'"
,.,
",
01/01
'"
01/0101/00 ...
01/01
01/01
000
01/0101/01
01/01
...000
01/01
Total 00/00 01/00 02/02 01/00 08/08 00/00 01/01 00/00 02/02 23/08
17/0301/0101/0103/0301/0101/0101/0101/0101/0001/0101/0101/0001/0101/0101/0101/0101/0101/0001/0101/01
Fonte: DVS/NU EPI/SESPA.
C= Caso 0= Óbito
...Sem registro de casos
010101010111
Tabela 2. Situaç~o vacinal e evolução clínica dos pacientes com Febre Amarela Silvestre (FAS)se~undo municípios de ocorrência, Pará -1989 a 1998.No. de Situação vacinal EvoluSão clínica
Municípios Casos Sim Não Ie;norado Cura Obito I~noradoAfuá 17 05 08 04 11 03 03
Agua A do Norte 01 01 01Alenquer 01 01 01Almerim 03 01 02 03Altamira 01 01 01Bannack 01 01 01
Curralinho 01 01 01Floresta 01 01 01Gurupá 01 01 01ltaituba 01 01 01Marabá 01 01 01
Ceiras do Pará 01 01 01Óbidos 01 01 01
Porto de Moz 01 01 01Redenção 01 01 01
S.Félix do Xingá 01 01 01S.G. do Araguaia 01 01 01
Tailândia 01 01 01Tucumã 01 01 01Tucuruí 01 01 01
Fonte: DVS/NUEPI/SESPA.
Revista Paraense de Medicina -v.14 (3) setembro-dezembro 2000
Total 38 05 18 15 03
000
000
000
000
000
000
000
000
000 01/00...
000
000
000
AfuáÁgua Azul do Norte
AlenquerAlmerimAltamiraBannack
CurralinhoFlorestaGurupáItaitubaMarabá
Oeiras do ParáÓbidos
Porto de Moz
RedençãoS.Felix do XingúS.G.do Araguaia
TailândiaTucumãTucuruí
......
......
01/01
EPIDEMIOLOGIA DA FEBRE AMARELA NO ESTADO DO PARÁ. 1989 -1998
12 Revista Paraense de Medicina -v.14 (3) setembro-dezembro 2000
Tabela 3. Febre Amarela Silvestre: Casos, coeficientes de incidência,mor1alidade e letalidade -Estado do Pará. 1989 a 1998..
Anos No.Casos Oblto Incidência Mortalidade Letalldade %1989 ...1990 01 00 0.021991 02 02 0.03 0.03 100.01992 01 00 0.011993 08 08 0.15 0.15 100.01994 ...1995 01 01 0.01 0.01 100.0
1996 ...1997 02 02 0.03 0.03 100.01998 23 08 0.39 0.13 34.8
Total 0.70 0.39 55.338Fonte: DVSINUEPI/SESPA
000 Sel11 registro de casos
Tabela 4. Casos de Febre Amarela Silvestre, distribuição Ror sexo e1
faixa etária, segundo municípios do Estado do Pará, 1989 a 1998.No. de Masculino Feminino
Municípios Casos < 15 anos> 15 anos < 15 anos> 15 anosAfuá 17 01 10 03 03
Água A do Norte 01 01Alenquer 01 01Almerim 03 03Altamira 01 01Bannack 01 01
Curralinho 01 01Floresta 01 01Gurupá 01 01Itaituba 01 01Marabá 01 01
Oeiras do Pará 01 01Óbidos 01 01
Porto de Moz 01 01Redenção 01 01
S.Félix do Xingú 01 01S.G. do Araguaia 01 01
Tailãndia 01 01Tucurnã 01 01Tucuruí 01 01
~
Total 38 03 27 03 05Fonte: DVS/NUEPI/SFSP A.
EPIDEMIOLOGIA DA FEBRE AMARELA NO ESTADO DO PARÁ. 1989 -1998
01
Tabela 6. Casos de Febre Amarela Silvestre com relato de prévia vacinação específica
Data da Evolução Diferença entreNo.de casos Paciente Vacinação DPS --_Clínica Vacina e DPS
0711
121421
APBMSGLGDRSGP1?N
20/04/9807/04/9826/04/9827/04/9829/03/98
24/U4NM
21/04/9807/05/9821/04/9825/03/98
L'uraCura
CuraCura
Óbito
04 dias
14 dias
11 dias-06 dias *
-04 dias*
Fonfe:DVS/NUEPI/SESPALegenda: DPS -Data dos Prinleiros Sintonlas.
(*) Vacinação após início dos prinleiros sintonl8S.
A análise das fichas de notificação de Fe-bre Amarela permitiu observar que dois pacientes(casos 14 e 21) quando foram vacinados já apre-sentavam sintomas sugestivos de Febre Amarelaseis e quatro dias antes, respectivamente. O paci-ente, identificado como (caso 7), tomou vacina qua-tro dias antes do início dos sintomas e os outrosdois (casos 11 e 12), referem a vacinação com 14 e11 dias, respectivamente, antes do início dos pri-meiros sintomas, portanto um pouco além do tem-po limite para início de proteção eficaz da vacina.
Estes cinco casos de FAS, cujas fichas deinvestigação indicam vacinação prévia contra adoença, evidencia-se que quatro pacientes evoluí-ram à cura e apenas um foi à óbito, conforme foiregistrado na Tabela 7. Em todos os casos, incluin-do os dois (11 e 12), com alguns dias além do limi-te previsto para o início da proteção, concluiu-seque não houve falha da vacina, mesmo porque essespacientes já poderiam ser portadores do vírus
A epidemia do ano de 1998, onderegistraram-se 23 casos, traz uma característicaepidemiológica particular em relação aos anosanteriores, uma vez que 17 casos foram proceden-tes do município de Afuá. Esta freqüência cíclica eflutuante certamente está relacionada com fatoresepidemiológicos naturais como as epizootias e so-bretudo, com a baixa cobertura vacinal da popula-ção exposta, como foi constatado nos municípiosconstituintes da Mesorregião Marajó.
Analisando os dados, evidencia-se letalidadealta, no estado, alcançando valores de até 100% nosanos de 1991, 1993, 1995 e 1997; já em 1998, caiupara 34,7%. Isto pode relacionar-se com a precari-edade do sistema de vigilância, que só é capaz defazer a detecção de casos graves, bem como o aten-dimento primário e diagnóstico tardios, em decor-rência das condições oferecidas pelos serviços desaúde nas localidades de maior vulnerabilidade epela desinformação dos pacientes frente aos sinto-mas da doença.
13Revista Paraense de Medicina -v.14 (3) setembro-dezembro 2000
Tabela 5. Distribuição dos casos de Febre Amarela Silvestre no Estado do Pará,
segundo ocupação, casos ocorridos no período de 1989 a 1998.
AnosOcupação 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 Total
Agricultor 0.0 000 0.0 01 01
Braçal ...01 01 02
Doméstica 03 03
Estudante 0 .0. 01 01
Garimpeiro ...01 o.. ...01
Lavrador ...06 ...01 o.. 07 14
Menor ..0 01 "0 ...05 06
Pintor o.. ...000 01 01
Técnico em Geofísica 000 "0 o.. 01 01
Trabalhador Rural ..0 01 01
Serrador ...00. 0.0 01 01
Vaqueiro o.. -0'0 '0' 01 01
Professôr ...01 01
Ignorado .00 01 01 02 04Total 000 01 02 01 08 000 01 000 02 23 38
Fonte: DVSINUEPlISESPA
...Senl registro de casos
EPlDEMIOLOGIA DA FEBRE AMARELA NO ESTADO DO PARA. 1989 -1998
CONCLUSÕESamanlico bem antes da tomada da vacina, uma vezque a manifestação clínica, na maioria dos casos,se dá entre o terceiro e o sexto dia após a inoculaçãodo agente etiológico através da picada do mosquitotransmissor.
Quanto à distribuição dos casos de FebreAmarela por sexo e faixa etária, as observaçõescorroboram com o descrito na literatura, onde amaior freqüência dos casos se verifica entre adul-tos do sexo masculino. Os dados mostram que 27(71%) dos casos se enquadram nestas característi-cas. Entretanto, chama atenção que dos seis casosem menores de quinze anos, quatro são do municí-pio de Afuá. Possivelmente, esse fato está ligadoàs características geo-econômicas do município, quetem como principal atividade o extrativismo de pal-mito e frutas silvestres regionais, onde o processo deextração, colheita e comercialização envolve todosos membros da falnllia, daí porque, neste municípioe em outros da mesma região, é freqüente a ocon-ênciade Febre Amarela Silvestre em menores de 15 anos.
A presença e dispersão do Aedes aegypti noEstado do Pará é marcante. Conforme documenta-do nas Figuras 1 e Ia, em 1992, apenas o municípiode Conceição do Araguaia apresentava-se infesta-do. A partir de 1994 até 1998 a dispersão dessetransmissor foi explosiva, atingindo 69 municípiosdo Estado do Pará. Certamente, a presença do Aedesaegypti, na área urbana associada à ocorrência deFebre Amarela às proximidades, representa, nomomento, grande risco de reurbanização da doen-ça. É, portanto, fundamental a completa elimina-ção do vetor como melhor opção para o controle daFebre Amarela3.4.6.
Segundo dados da GECENIFNS/NUEPI/DI/DVS-SESPA no estado do Pará, no ano de 1998,dos 143 municípios 69 (48,25%) apresentavam-seinfestados pelo Aedes aegypti e 70% do total dosmunicípios mostravam um quadro crítico com bai-xa cobertura vacinal contra a Febre Amarela. Essequadro sugere uma elevada vulnerabilidade para areurbanização da doença.
As ações de vigilância, até o momentoexecutadas, têm sido ineficazes para diminuir osíndices de incidência da Febre Amarela Silvestre ede infestação do Aedes aegypti, interrompendo,portanto, a cadeia de transmissão da doença.
É preciso maior integração das instituiçõesentre as esferas de governo federal, estadual e mu-nicipal, bem como os segmentos organizados desociedade, através da mobilização popular, visan-do diminuir o contato do homem com o habitatnatural do mosquito.
Faz-se necessário estabelecer um mecanis-mo regular e sincronizado de acompanhamento dasações no Estado; fixar agentes de saúde nas áreaspara garantir a continuidade das atividades de vigi-lância entomológica, para que, com ações conjun-tas, possam realizar um trabalho que favoreça ocontrole da doença. É mister a assistência aos do-entes nas unidades básicas de saúde, visando asse-gurar o diagnóstico correto, assistência adequada eprecisa e a notificação dos casos. O processo deeducação, até o momento, se faz de forma deficien-te, precisa ser implementado e executado exausti-vamente, visando sensibilizar um maior númeropossível de indivíduos.
Considerando as análises levadas a efeitono presente estudo, evidencia-se, funda-mental-mente, a necessidade de ampliar a coberturavacinal da população de risco, estabelecer comoprioridade as medidas antivetoriais dirigidas aoA. aegypti, objetivando evitar a reurbanização daFebre Amarela, particularmente nos municípiosem que ocorreram casos de Febre AmarelaSilvestre.
Desta forma, fica claro que para evitara propagação da doença, o controle do vetor ur-bano, desempenha um papel importante, poisáreas infestadas com as formas domésticas doAedes aegypti correm o risco de reintroduçãoda Febre Amarela Urbana.
SUMMARY
Objectives: To describe, based on a ten years historical series, lhe epidemiological profile of yellow fever inPará State, emphasizing lhe epidemic ocurred in 1998,' to evaluate lhe dispersion of lhe Aedes aegypti in lhemunicipalities of Pará state; to determine lhe role ofthe mosquito dispertion on lhe risk ofreurbanization yellowfever and, finally, to evaluate lhe control measures applied. Methods: The data used for alI analyses for this study,was obtainedfrom lhe Pará State Health Service (SESPA). Results: The 38 cases ofyellow fever registred in lheperiod of 1989 to 1998, were distributed in 20 ofthe 143 municipalities of Pará stat. Two important epidemics had
14 Revista Paraense de Medicina -v .14 (3) setembro-dezembro 2000
EPIDEMIOLOGIA DA FEBRE AMARELA NO ESTADO DO PARA, 1989 -1998
occured in 1993 and 1998, anda high levei ofmortality, rising to 100% in 1991,19931995 and J997 was observed,but in 1998 a sharp decrease in this rale (34.7%) was registered. The prevalence of male infected older than 15 was71% while in those who work as ploughman was 36.8%. Conclusion: Ifis evident lhe need of strengthening lheprogrammes ofyellow fever vigilance and control, mainly for assuring vaccination to exposed population, in orderto reduce lhe number of cases and to prevent lhe reurbanization of yellow fevel:
KEY WORDS: YeIIow rever, EpidernioIogy, ContraI
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem aos técnicos do Núcleo Estadual de Epidemiologia DVS/NUEPI/SESPA,Núcleo de Informação em Saúde NIS/SESPA e Núcleo Estadual de Endemias NUEND/FUNASAlSESPA,fontes de obtenção dos dados que fundamentaram o presente estudo. Agradecem também aos pesquisado-res do Instituto Evandro Chagas, Dra. Elizabeth Salbé Travassos da Rosa e Dr. Pedro Femando da CostaVasconcelos, pela revisão crítica do manuscrito.
REFERÊN CIAS
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Endereço para correspondência:Alvaro A.R.D' Almeida CoutoAv. Conselheiro Furtado, 889 Ap. 102Batista Campos -Belém -Pará.CEP.66025.160Telefone: 224.3277
E-mail. [email protected]
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