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Grandes Culturas - Cultivar 149

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Outubro 2011

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Esforço conjunto........................27A importância de medidas integradas, adotadas de forma harmônica com oambiente, para conter lagartas em soja

Destaques

Índice

Diretas 04

Prevenção à deriva 08

Plantas daninhas em feijão 10

Controle de nematoides em café 14

Manejo de doenças em lavouras de soja 16

Controle de lagartas em soja 27

Tratamento de sementes de soja 30

Uso do cloreto de mepiquat em algodão 34

Como escolher genótipos de milho 38

Eventos - Congresso de Algodão 42

Eventos - Abag 2011 43

Coluna ANPII 44

Coluna Agronegócios 45

Mercado Agrícola 46

Caminho para aumentar a produtividade..16O papel do manejo eficiente de doenças para que o sojicultor consiga produzir mais, sem pôr em risco a sustentabilidade da cultura

Expediente

Cultivar Grandes Culturas • Ano XIII • Nº 149 • Outubro 2011 • ISSN - 1516-358X

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: [email protected]

Grupo Cultivar de Publicações Ltda.CNPJ : 02783227/0001-86Insc. Est. 093/0309480Rua Sete de Outubro, 160, sala 702Pelotas – RS • 96015-300

DiretorNewton Peter

[email protected]

Assinatura anual (11 edições*): R$ 157,90(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 17,00Assinatura Internacional:US$ 130,00Euros 110,00

Nossos Telefones: (53)

Nossa capa

Competição implacável................10Como combater plantas daninhas, responsáveis por severas perdas na cultura do feijão

Interação favorável....................14A ação de fungos micorrízicos e nematófagos no manejo de nematoides em cafeeiro

Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

• Geral3028.2000• Assinaturas:3028.2070• Redação:3028.2060

• Comercial:3028.20653028.20663028.2067

Marcelo Madalosso

REDAÇÃO• Editor

Gilvan Dutra Quevedo• Redação

Carolina S. SilveiraJuliana Leitzke

• Design Gráfico e DiagramaçãoCristiano Ceia

• RevisãoAline Partzsch de Almeida

MARKETING E PUBLICIDADE• Coordenação

Charles Ricardo Echer• Vendas

Pedro Batistin

Sedeli FeijóJosé Luis Alves

CIRCULAÇÃO• Coordenação

Simone Lopes• Assistente

Ariane Baquini• Assinaturas

Natália Rodrigues• Expedição

Edson Krause

GRÁFICAKunde Indústrias Gráficas Ltda.

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Diretas

PrêmioO diretor-presidente da FMC América Latina, An-tonio Carlos Zem, recebeu o Prêmio Valores da Terra Empresarial 2011, entregue aos empresários que mais se destacaram no exercício de suas atividades e contribuí-ram para o desenvolvimen-to da cidade de Uberaba. “Quando a FMC se ins-talou em Uberaba, há 30 anos, o Distrito Industrial estava em formação. Passa-das três décadas, podemos observar a trajetória de crescimento do município, que caminhou a passos largos rumo ao desenvolvi-mento”, declarou.

GerenteMarcelo Lasak assumiu a ge-rência da fábrica da FMC, em Uberaba. Lasak é formado em Engenharia Química pela Poli/USP, possui MBA em Adminis-tração de Negócios pela FIA/USP e acumula mais de 20 anos de experiência profissional, especialmente na gestão de ope-rações fabris em empresas como Benntag, Ecolab e Vitória, todas no segmento químico.

BiológicosO gerente de Projetos de Resis-tência e de Pragas Urbanas, da Basf, Carlos Antônio Medei-ros, apresentou no Congresso de Fitopatologia, em Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul, a linha de produtos biológicos da empresa. Foram destacados o Cetro, à base de feromônios para confusão sexual, QL Agri, acaricida e nematicida, o bioestimulante Kelpak e o biofungicida Serenade.

PresençaO pesquisador do Instituto de Fungicidas da Bayer, em Monheim, Alemanha, Andreas Mehl, participou do 44º Con-gresso de Fitopatologia, em Bento Gonçalves, no Rio Gran-de do Sul. Auxiliou a equipe no esclarecimento das dúvidas dos produtores e integrou uma mesa-redonda onde foi aborda-do o tema resistência de fungos à aplicação de fungicidas.

FungicidaDurante o 44º Congresso de Fitopatologia, a Syngenta deu continui-dade à campanha de divulgação do fungicida Priori Xtra. “Queremos mostrar que a empresa está próxima dos produtores e investe cada vez mais no desenvolvimento de produtos que atendem suas neces-sidades”, disse o gerente de Fungicidas da Syngenta, Leo Zappe.

Carlos Antônio Medeiros

Marcelo Lasak

Antonio Carlos Zem (dir.)

Tiago Zanatta e Sênio Prestes

Andreas Mehl

FungicidasLeo Zappe, gerente de marketing para fungicidas da Syngenta, esteve presente no 8º Congresso Brasileiro de Algodão, onde a empresa apresentou sua linha completa de produtos para a cultura. Para o manejo das principais doenças do algodão a Syngenta dispo-nibiliza os fungicidas Priori Xtra, Score e Mertin. Em futuro próximo contará com mais uma inovação proveniente do lançamento de PrioriTop, atual-mente em fase de registro. Leo Zappe

PresidênciaA Dow AgroSciences tem novo presidente. Ramiro De La Cruz assumiu o cargo no dia 1º de outubro. De La Cruz é engenheiro agrônomo, graduado pela Universidade Nacional de Colômbia, e tem MBA pela Universidade Butler de Indianapolis/USA. Seu ingresso na Dow Química, da Colôm-bia, ocorreu em 1988. Desde então já passou por diversas funções em Pesquisa & Desen-volvimento, Recursos Humanos, Six Sigma e Comercial antes de ser nomeado (Lider Global) GBL para Inseticidas, em 2007, e Líder da Região Mesoandina, em 2009.Ramiro De La Cruz

EquipeOs técnicos de desenvolvimento de produtos da Basf Tiago Zanatta, de Lucas do Rio Verde, Mato Grosso, e Sênio Prestes, de Castro, Paraná, fizeram parte da equipe da empresa no 44º Congresso de Fitopatologia. O portfólio de produtos da empresa e o efeito fisiológico proporcionado pelo Sistema AgCelence foram destaques no evento.

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Segurança e inovação A diretora de Assuntos Regulató-rios da Syngenta para a América Latina, Rose Rodrigues, partici-pou de mesa-redonda durante o 44º Congresso de Fitopatologia sobre segurança alimentar e ino-vação na agricultura. A executiva abordou temas como a necessida-de do desenvolvimento de novas tecnologias e produtos com dife-rentes modos de ação que contri-buirão para a sustentabilidade da agricultura brasileira.

Quatro em umA Itaforte apresentou no 44º Congresso de Fitopatologia o Tricho-dermil, que atua na prevenção de doenças radiculares, no manejo de mofo branco, na promoção de crescimento das plantas, na dimi-nuição dos efeitos danosos de fitonematoides e também auxilia na indução de resistência das plantas. “É um produto 4 em 1”, frisou o diretor da empresa Ariclenis Ballarotti.

TroféuDurante jantar de confraternização do 44º Congresso Brasileiro de Fi-topatologia foi anunciado o ganhador do troféu “Bota Dr. Álvaro Santos Costa”. Neste ano o título foi concedido a Edna Dora Martins Newman, pesquisadora da Ceplac. A entrega do prêmio foi feita por Rose Rodrigues, diretora de Assuntos Regulatórios da Syngenta para a América Latina.

AdubosA Wiser participou do 44º Congresso Brasileiro de Fitopatologia. A empresa é especializada na área de fertilizantes para a agricultura e trabalha com adubos líquidos, minerais e orgânicos.

ParticipaçãoO representante técnico de Vendas da MbAC Fertilizantes, Érico Borges Mano, apresentou palestra sobre o projeto Itafós Arraias SSP e o Fosfato Natural Itafós na cultura de arroz. “Participar do seminário reforçou a imagem da MbAC Fertilizantes entre os pro-dutores do arroz, além de oferecer possibilidades de testar nossos produtos em outras culturas. Ficou claro que há muita expectativa quanto à empresa, já que somos a primeira indústria de fertilizantes de Tocantins”, disse Mano.

Rose Rodrigues

Fiber MaxUm dos destaques da Bayer CropScience no 8º Congresso Brasileiro de Algodão foi o lançamento das variedades de algodão Fiber Max FM 951LL e FM 975WS. “A FM 951LL é com tecnologia LibertyLink para o manejo das plantas daninhas. Já a FM 975WS é uma variedade com a tecnologia WideStrike, que confere à planta resistência ao ataque das principais lagartas do algo-doeiro”, explica Warley Palota, gerente de Negócios Sementes & Traits de Algodão da Bayer CropScience.

Qualidade AlgodãoA Bayer lançou oficialmente o programa Qualidade Algodão durante o 8º Congresso Brasileiro de Algodão. O objetivo é possibilitar que os produtores agreguem mais valor ao pro-duto final. “A Bayer oferece desde a semente Fiber Max, linha completa de produtos, até os maturadores e desfoliantes, acompanhamento permanente da equipe técnica, sistema de bar-ter e apoio à exportação. A indústria reconhece a fibra produzida dentro deste programa como sendo um produto superior e, consequente-mente, paga um valor diferenciado”, explica Fernando Prudente, gerente de Algodão.

Opera UltraA Basf apresentou durante o 8º Congresso Brasileiro de Algodão o Opera Ultra para o controle das doenças do algodão, com destaque para a ramulária. O Opera Ultra tem os benefícios do F500 e mais o adicional do metconazole, explica o gerente de Marketing de Cultivos, responsável pela cultura do algodão no Brasil, Fernando Costa Abreu.

Warley Palota

Fernando Prudente

Fernando Costa Abreu

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BollgardA Deltapine apresentou aos seus clientes e participantes do 8º Con-gresso do Algodão as primeiras cultivares de algodão com duas tecno-logias na mesma planta – Bollgard e Roundup Ready. A combinação destas tecnologias confere ao algodão tolerância aos herbicidas à base de glifosato e controle de três importantes pragas que atacam a cultura: o curuquerê do algodão, a lagarta-da-maçã e a lagarta rosada.

MudançasA Syngenta entende que o mercado de inseticidas de algodão está sofrendo grandes mudanças e está preparada para o novo cenário, explica Nilson Nicoli Filho, gerente de Marketing de Algodão. Com a entrada da biotecno-logia, a retirada de alguns inseticidas amplamente utilizados na cultura e a migração de pragas de outras culturas, a Syngenta está apresentando por-tfólio completo e de baixa toxicidade com produtos como Chess, Engeo Pleno, Ampligo e Avicta, explica.

SanidadeA Dupont apresentou durante o 8º Congresso Brasileiro de Algodão o seu portfólio para a cultura com destaque para os fungicidas Oranis e Aproach Prima, indicados para controle de ra-mulose e ramulária respectivamente. Segundo Fernando Arantes, gerente de Marketing Fungicidas, para que a cultura fique protegida do início ao final do ciclo, a indicação é de que seja realizada a primeira aplicação com Oranis e as demais aplicações com Aproach Prima.

Tecnologia preservadaA divisão BioScience da Bayer CropScience está com nova equipe responsável pela implementação de sistema integrado de controle de tecnologia, que visa proteger os direitos de propriedade intelectual sobre as sementes com transgenia. A equipe é formada por Catiusse Reis, Juliana Kudaka e Camila Costa, coordenadora do setor de Integridade e Controle de Tecnologia.

Linha AlgodãoA FMC esteve presente em peso no 8º Congresso Brasileiro de Algodão, onde apresentou as principais tecnologias para a cultura. Kedilei Duarte, gerente de Herbicidas; Flávio Centola, gerente de Fungicidas, e Gustavo Canato, gerente de Marketing, acompanharam de perto o lançamento do herbicida Profit, o inseticida nematicida Rugby 200 CS e o regulador de crescimento Legend. “Com estes três lançamentos a FMC mostra que a todo o momento desenvolve produtos com a mais alta tecnologia para os produtores”, destacou Canato.

ParceriaA Syngenta está ampliando sua atuação no setor algodoeiro, com foco em sementes e integração de tecnologias. A partir desta safra, além do portfólio completo de pro-dutos, a empresa passa a oferecer sementes com alto poder produtivo que atendam as necessidades dos clientes, explica Emilhano Stefanello Lima, diretor de Culturas Locais e Especialidades. No primeiro momento, a Syngenta lançará as variedades BRS 335 e BRS 336 da Embrapa e também as varie-dades FMT 707RX, FMT 705RX e FMT 709, da Fundação Mato Grosso.

ComunicaçãoAngela Neves, Fabiane Martins e Erika Cruz, do departamento de Comu-nicação e Relacionamento com o Cliente da Basf, estiveram presentes no 8º Congresso Brasileiro de Algodão, onde conferiram de perto o lançamen-to do fungicida Opera Ultra, a nova opção para o controle das principais doenças da cultura, com destaque para o controle da ramulária.

Nilson Nicoli Filho

Fernando Arantes

Emilhano Stefanello Lima

Catiusse Reis, Juliana Kudaka e Camila Costa

Angela Neves, Fabiane Martins e Erika CruzGerd Stammler

Kedilei Duarte, Flávio Centola e Gustavo Canato

ResistênciaCientista sênior e pesquisador de re-sistências a fungicidas da Basf, Gerd Stammler veio da Alemanha para participar do 44º Congresso de Fitopato-logia, no Rio Grande do Sul. Em mesa-redonda, falou sobre o monitoramento da resistência de fungos, ressaltando a necessidade de constantes análises de monitoramento e o avanço das pesqui-sas para a solução do problema.

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PresençaO presidente da FMC, Antonio Car-los Zem, e Ronaldo Pereira, diretor de Distribuição da FMC, prestigiaram o 8º Congresso de Algodão, realizado no Expo Center Norte, em São Pau-lo, de 19 a 22 de setembro. Durante o evento de lançamento de três pro-dutos para a cultura de algodão eles trocaram ideias com colaboradores e clientes da empresa.

BasfPara atender melhor as expectativas do setor algodoeiro, a Basf montou um serviço para ouvir em seu estande a opinião de pro-dutores de algodão, consultores e técnicos. Os visitantes também puderam conhecer o Digilab, que funciona numa rede integrada de pesquisadores espalhados por todo o Brasil, além dos benefícios do recém-lançado Opera Ultra.

BayerA equipe da Bayer CropScience destacou durante todo o Congresso Brasileiro de Algodão a importância de cultivar algodão com quali-dade de exportação. Aliando o lançamento das sementes FM 951 LL e FM 975WS da linha Fiber Max e o seu Programa de Qualidade, a empresa mostrou a importância de visar excelência na produção da fibra e soluções que gerem diferencial de mercado.

FMCA equipe da FMC presente no 8º Congresso Brasileiro de Algodão concentrou suas forças em apresentar aos participantes soluções para aumentar a produtividade e a qualidade de fibra. No estande, a equipe recepcionou os produtores e tirou dúvidas sobre o portfólio da empresa, principalmente dos produtos Rugby 200 CV, Legend e Profit, lançados durante o evento.

SyngentaParticipante desde a primeira edição, a Syngenta reforçou sua marca ins-titucional e mostrou seu portfólio completo de produtos para controle de pragas do algodão com os produtos Ampligo, Engeo Pleno, Avicta Completo e Chess, que obteve registro recentemente. Durante todo o 8º Congresso Brasileiro de Algodão o time da empresa acolheu os visitantes e forneceu informações sobre os produtos da empresa para a cultura do algodão.

IharaA Ihara lançou durante o 8º Congresso Brasileiro de Algodão o insetici-da Safety, produto para o controle do bicudo, que será uma alternativa também para o manejo integrado de pragas na cultura do algodoeiro. Os visitantes puderam conhecer todos os produtos da linha algodão, apresentados pela equipe de engenheiros agrônomos da empresa.

BiocontrolePresentes no 8º Congresso de Algodão Ari Gitz e Mário Yacoara de Menezes Neto, sócios da Biocontrole, acompanharam as inovações tecnológicas e as pesquisas voltadas para a cultura do algodão. Ambos destacaram a importância do evento para o desenvolvimento tecnológico e científico, além de proporcionar ao produtor rural um acompanhamen-to das inovações, manejo e controle de pragas pesquisadas até então.

Antonio Carlos Zem e Ronaldo Pereira

Samuel Moraes, Mário Neto e Ari Gitz

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08 Outubro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Tecnologia

Aplicação planejada

Na pulverização de produtos fitossanitários, a deriva resulta em problemas como desperdício de defensivos, perda de eficiência e contaminação ambiental. O estabelecimento de um índice de classificação dos riscos, com base na interação dos adjuvantes e das pontas utilizadas, é importante para auxiliar o produtor na tomada de decisão sobre as melhores técnicas de aplicação

A deriva na aplicação de produtos fitossanitários pode causar con-taminação ambiental e danos às

vegetações vizinhas, além da potencial redu-ção da eficiência dos produtos. Técnicas de Redução de Deriva (TRD) como adjuvantes e pontas de baixa deriva são empregadas para minimizar o potencial de impacto do proble-ma. Entretanto, seu emprego não isenta o apli-cador da observação das condições climáticas adequadas e da análise dos riscos inerentes ao ambiente em torno dos locais onde os produ-tos serão aplicados. Contudo, as interações entre os diversos fatores, no momento do tratamento fitossanitário, tornam complexo o planejamento das atividades, notadamente no que se refere à escolha da técnica em função do tipo de produto e da condição de aplicação.

Segundo Ozkan (1993) uma das princi-pais formas de reduzir a deriva é a utilização do espectro de gotas adequado, sendo que a estimativa do risco de deriva pode ser baseada em ensaios das técnicas de aplicação em túnel de vento (Leon et al, 1998; Hoffmann, 2010). Diversos sistemas de classificação de risco de deriva foram propostos, como o Lerap no Rei-no Unido (Gilbert, 2000) e a norma ISO que trata do assunto (ISO, 2006). Alguns desses trabalhos tiveram como objetivo sistematizar a escolha de uma TRD de acordo com o poten-cial de risco de cada situação de aplicação.

Entretanto, dadas as características fundi-árias e climáticas específicas dos países euro-peus, onde estes trabalhos foram publicados, na maioria dos casos a proposta sempre foi ba-seada na determinação de faixas de segurança na aplicação, que muitas vezes não encontram correlação prática com as condições da maioria das áreas agrícolas em países como o Brasil.

Neste sentido, o objetivo do presente trabalho foi desenvolver um sistema de classificação de técnicas de redução de deriva (TRD) baseada em ensaios de túnel de vento, com o objetivo de auxiliar no processo de escolha das técnicas de aplicação com base no seu potencial de redução do risco de deriva.

Material e MétodosPara a avaliação do potencial de deriva

de diferentes técnicas de aplicação foram realizados ensaios em túnel de vento com velocidade do fluxo de ar de 2ms-1 conside-rando os tratamentos descritos na Tabela 1. As caldas foram aplicadas com pontas de jato plano Teejet modelos XR 8003 e AI 8003, operando na pressão de 200kPa e 400kPa, respectivamente. O bico foi fixado a 0,44m em relação ao piso do túnel e a deriva foi coletada por fios de polietileno de 2mm de diâmetro, posicionados de maneira perpendicular ao sentido do vento, nas distâncias de 1,0m; 1,5m; 2,0m e 2,5m em relação à ponta de pulverização e nas distâncias de 0,1m e 0,25m em relação ao piso do túnel, de acordo com Moreira Junior (2009). Para cada repetição, com o ventilador em operação e o fluxo de ar estabilizado, o sistema de pulverização foi acionado por dez segundos em cada aplicação. Todas as caldas foram preparadas contendo 0,6% do corante Azul Brilhante para a deter-minação dos depósitos por espectrofotometria. Ao término da pulverização foram retirados os fios coletores, que foram acondicionados individualmente em sacos plásticos para pos-terior extração do corante em 15ml de água deionizada. Após esta lavagem de todos os fios coletores, o líquido resultante foi analisado em um espectrofotômetro UV-visível de duplo

feixe, modelo Cintra 20. Os resultados de absorbância do líquido foram transformados em ppm do corante por meio de curvas-padrão para a transformação em porcentagem de de-riva da calda aplicada. As condições climáticas durante cada pulverização foram monitoradas, restringindo-se as aplicações para as condições de temperaturas abaixo de 30ºC e umidade relativa acima de 50%. Os resultados foram analisados pela comparação direta de cada tratamento com o padrão, que foi represen-tado pela pulverização com ponta XR e calda contendo surfatante não iônico, nos moldes da metodologia descrita por Fritz et al (2009). Para cada um dos demais tratamentos, deno-minados como TRDs (técnicas de redução de deriva), o percentual de redução na deriva foi calculado pela Equação 1.

% de redução na deriva = (deriva da TRD - deriva do padrão)/deriva do padrão x 100 (Equação 1)

Com base nestes cálculos as TRDs foram classificadas de acordo com os seguintes critérios:

• Percentual de redução de deriva abaixo de 25%: TRD “sem classificação”;

• Percentual de redução de deriva na faixa de 26% a 50%, TRD classificação “uma estrela”;

• Percentual de redução de deriva na faixa de 51% a 75%, TRD classificação “duas estrelas”;

• Percentual de redução de deriva acima de 75%, TRD classificação “três estrelas”.

Resultados e discussõesA Figura 1 apresenta o percentual de

deriva determinado nas análises em túnel de vento, comparando o tratamento padrão

Na pulverização de produtos fitossanitários, a deriva resulta em problemas como desperdício de defensivos, perda de eficiência e contaminação ambiental. O estabelecimento de um índice de classificação dos riscos, com base na interação dos adjuvantes e das pontas utilizadas, é importante para auxiliar o produtor na tomada de decisão sobre as melhores técnicas de aplicação

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com as TRDs (técnicas de redução de deri-va) propostas pelos diferentes tratamentos. Observa-se que todas as TRDs sugeridas pro-piciaram valores menores de perdas do que a técnica padrão. Agrupando-se os tratamentos em função das pontas utilizadas foi possível estimar que as pontas AI proporcionam menor potencial de deriva do que as XR (0,0390% e 0,0832%, respectivamente, considerando a média das caldas avaliadas), indicando que a simples substituição de uma ponta XR por uma AI já se torna opção para o manejo da aplicação com o objetivo de reduzir o risco de deriva. De modo geral, a comparação do comportamento entre as caldas mostrou que as tendências de potencial de deriva se posi-cionaram de maneira oposta em cada ponta: para a XR o maior potencial de deriva ocorreu com a calda contendo nonil fenol (tratamento padrão), enquanto o menor foi obtido com o óleo mineral, ficando o óleo vegetal na situação intermediária. De maneira inversa, para a ponta AI o maior potencial de deriva foi obtido com o óleo mineral, ficando o menor valor para o nonil fenol, mantendo-se o óleo vegetal em situação intermediária. A partir da classifi-cação proposta na metodologia desenvolvida para este trabalho, a Tabela 2 apresenta um “ranking” das técnicas de redução de deriva (TRD) no que se refere ao seu potencial de reduzir as perdas na aplicação.

Na análise da Tabela 2 se observa que adotando a técnica padrão como parâmetro de comparação foi possível determinar que a utilização de óleo vegetal na calda já promove um grau de redução de deriva à ponta XR, posicionando o tratamento como uma TRD “uma estrela” (valor de redução entre 26% e 50%). No caso da substituição do óleo vegetal pelo óleo mineral, o potencial de redução de deriva com a ponta XR se torna ainda maior, elevando sua classificação para “duas estrelas” (TRD com valor de redução entre 51% e

75%). No caso das pontas AI, a adição de óleo vegetal ou mineral não apresentou diferença quanto ao ranking, mantendo “duas estrelas” para ambas a situações. Apenas quando o ad-juvante passou a ser o nonil fenol para a ponta AI é que o potencial de deriva foi elevado para “três estrelas” (TRD com valor de redução acima de 75%).

Tendo em vista o objetivo deste trabalho de se classificar as TRDs pelo seu potencial comparativo a um método padrão, torna-se possível a proposição de diferentes formas de manejo desta informação com vistas à otimi-zação da tecnologia de aplicação dos produtos fitossanitários. Como exemplo, no processo de tomada de decisão por parte do engenheiro agrônomo quanto à tecnologia de aplicação a ser utilizada, a TRD escolhida poderia ser determinada a partir de uma classificação do risco de deriva da situação de aplicação. Assim, situações que representassem baixo risco de deriva poderiam ter a recomendação de uma TRD “uma estrela” (como a ponta XR com óleo vegetal), enquanto situações de risco intermediário poderiam supor o uso de TRDs “duas estrelas” (XR com óleo mineral, por exemplo). No caso de um risco elevado de deriva, a recomendação deveria se basear em uma ponta AI com adjuvante à base de nonil fenol (TRD “três estrelas”). Ainda, os próprios rótulos dos produtos fitossanitários poderiam ter indicações quanto ao grau de redução de

tabela 1 - descrição dos tratamentos

Ponta

XrXrXraiaiai

Pressão (bar)

222444

adjuvante

surfante não iônico a base de nonil fenol etoxiladoÓleo vegetal emulsionável

Óleo mineralsurfante não iônico a base de nonil fenol etoxilado

Óleo vegetal emulsionávelÓleo mineral

tratamento

Xr NF (Padrão)Xr oVXr oMai NFai oVai oM

*informado pelo fabricante das pontas, de acordo com a norma asae s572

Produto comercial

in-tecNatur'l Óleo

Nimbusin-tec

Natur'l ÓleoNimbus

Classe de gotas

FinasFinasFinas

GrossasGrossasGrossas

Concentração do p.c. v/v (%)

0,06251,00,5

0,06251,00,5

tabela 2 - “Ranking” das técnicas de redução de deriva (trd) no que se refere ao seu potencial de reduzir as perdas na aplicação em comparação ao tratamento padrão

redução da deriva (%)0,0

-38,3-64,7-79,6-66,5-61,7

tratamentoXr NF (Padrão)

Xr oVXr oMai NFai oVai oM

Classe da trd-**********

deriva desejado. Desta maneira, os produtos que potencialmente possam causar maiores problemas em determinada situação, como a aplicação de herbicidas não seletivos nas pro-ximidades de culturas sensíveis, poderiam ter em seu rótulo a ressalva de que tais defensivos deveriam, obrigatoriamente, ser aplicados com técnicas “três estrelas”, por exemplo. Por fim, os estudos das faixas de segurança para aplicação nas áreas vizinhas a zonas urbanas ou mananciais também poderiam ser bene-ficiados, visto que os valores das distâncias poderiam ser vinculados à classificação das TRDs, assim como previsto nos trabalhos de Gilbert (2000) e ISO (2006).

coNclusõesO uso do túnel de vento propiciou con-

dições para o delineamento de um índice de classificação das técnicas de redução de deriva (TRD) tomando-se como base a interação dos adjuvantes e das pontas utilizadas em cada aplicação. Para a ponta XR, a adição de óleo vegetal e de óleo mineral melhorou o potencial de redução do risco de deriva. Para a ponta AI o melhor potencial de redução da deriva foi obtido com um adjuvante contando nonil fenol em sua formulação. A discussão e a validação de um ranking de TRDs indicaram as possibilidades de aplicação prática da fer-ramenta no processo de tomada de decisão na aplicação dos produtos fitossanitários.

Fernando Carvalho, Rodolfo Chechetto, Caroline Vilela, Anne Silva, Alisson Mota, Rone Oliveira e Ulisses Antuniassi,Unesp/Botucatu

Figura 1 - Percentual de deriva determinado nas análises em túnel de vento comparando o padrão com as tRds (técnicas de redução de deriva) propostas pelos diferentes tratamentos

CC

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Feijão

O feijão é uma cultura de ampla adaptação a variadas condições edafoclimáticas do Brasil, inte-

grando grande parte dos sistemas de produção de pequenos, médios e grandes produtores rurais. Sendo uma planta de ciclo vegetativo curto, em média 90 dias, torna-se bastante sensível à competição com as plantas dani-nhas, sobretudo nos estádios iniciais de seu desenvolvimento.

Perdas na cultura do feijão devido à com-petição com espécies daninhas podem variar de 15% a 97%, dependendo da cultivar, da época de semeadura e de composição e den-sidade das espécies competidoras que ocorrem (Lunkes, 1997) (Tabela 1). Estima-se que plantas daninhas reduzam em 25% a produ-tividade de grãos na cultura, mesmo apesar da utilização de diferentes métodos de controle (Vidal et al, 2010). Considerando a produti-vidade média do Brasil (feijão de 1ª safra) de 1.037kg/ha ou 17 scs/ha, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na safra 2009/10, as perdas podem chegar a 4 scs/ha. Isso ocorre porque o manejo das infestantes acaba sendo realizado, muitas vezes, em época incorreta ou mesmo com

doses inadequadas de herbicidas. É sabido que na cultura do feijão, o pe-

ríodo em que as plantas daninhas causam maiores prejuízos compreende os primeiros 30 dias após a emergência (DAE) (Victoria Filho, 1994). Em estudo realizado com feijão “cario-ca” em competição com o papuã (Brachiaria

plantaginea), o período crítico de prevenção à interferência, ou seja, época em que se deve realizar algum método de manejo das infes-tantes para evitar perdas acima das aceitáveis na lavoura, ficou entre 15 e 30 DAE (Passini, 2001). Porém, quando a comunidade infes-tante foi composta por carrapicho-de-carneiro

Competição implacável

De ciclo vegetativo curto, a cultura do feijão sofre com a ação de plantas daninhas, principalmente nos estádios iniciais de desenvolvimento. As perdas podem chegar a quatro sacas por hectare, enquanto a produtividade média do Brasil é de 17 sacas por hectare. Realizar o manejo na época correta, escolher o herbicida adequado e utilizá-lo na dose recomendada são medidas indicadas para minimizar os prejuízos

Competição implacável

De ciclo vegetativo curto, a cultura do feijão sofre com a ação de plantas daninhas, principalmente nos estádios iniciais de desenvolvimento. As perdas podem chegar a quatro sacas por hectare, enquanto a produtividade média do Brasil é de 17 sacas por hectare. Realizar o manejo na época correta, escolher o herbicida adequado e utilizá-lo na dose recomendada são medidas indicadas para minimizar os prejuízos

A milhã (Digitaria sanguinalis) integra a lista das principais plantas daninhas que infestam lavouras de feijão

10 Outubro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Fotos Fabiane Lamego

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Corriola, Ipomoea spp., cuja presença é comumem áreas de produção do feijoeiro

registrados para a cultura de feijão indica que entre 1986 e 1994 houve o máximo de cinco produtos com atividade residual, sendo que, atualmente, apenas três ingredientes ativos são de aplicação ao solo. Em contraste, nos últimos 25 anos, a quantidade de herbicidas para aplicação em pós-emergência no feijoeiro aumentou progressivamente, passando de sete ingredientes ativos em 1984 para 19 compos-tos em 2009 (Figura 1).

Os herbicidas residuais registrados para uso na cultura do feijão em pré-emergência são trifluralin e pendimethalin. Controlam

(Acanthospermum hispidum), nabo (Raphanus raphanistrum) e capim-carrapicho (Cenchrus echinatus) e o espaçamento da cultura era de 60cm entre linhas, a interferência iniciou aos 13 DAE; com a redução do espaçamento da cultura para 45cm, a competição foi atrasada para 23 DAE (Scholten et al, 2008).

A utilização de herbicidas no feijão registra aumento nos últimos anos, embora ainda sejam voltados a cultivos comercias, em médias e grandes lavouras. Herbicidas são eficazes no controle das plantas daninhas, apresentando elevado rendimento operacional

e custo baixo quando comparados a outros métodos de controle, como capinas manuais ou mecânicas. Os herbicidas recomendados para a cultura do feijão são basicamente aplicados em pré-plantio incorporado (PPI), pré-emergência (Pré) e pós-emergência (Pós) (Tabela 2). Para garantir a emergência do feijoeiro na ausência de infestantes podem-se utilizar herbicidas pré-emergentes com ativi-dade residual, seletivos ao feijão. Mas, a quan-tidade de produtos com esse perfil de atuação tem diminuído ao longo do tempo (Figura 1). De fato, levantamento dos ingredientes ativos

Figura 1 – ingredientes ativos herbicidas registrados para o feijoeiro para aplicação em pós-emergência (azul) e ao solo (vermelho) durante os últimos 25 anos. uFsM, Frederico Westphalen (Rs), 2011

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Fabiane, Trezzi e Vidal destacam a importância de combinar o uso de herbicidas com o manejo integrado

Fabiane Pinto Lamego, UFSMRibas Antônio Vidal,UFRGSMichelangelo Muzell Trezzi,UTFPR

tabela 1 – Principais plantas daninhas infestantes na cultura do feijão

Nome científico

Brachiaria plantagineaeleusine indica

Cyperus rotundusdigitaria sanguinalisdigitaria horizontalis

Bidens pilosa, Bidens subalternanssida rhombifolia

commelina benghalensisGalinsoga parviflora

euphorbia heterophyllaipomoea spp.

Richardia brasiliensis

Família

PoaceaePoaceae

CyperaceaePoaceaePoaceae

asteraceaeMalvaceae

Commelinaceaeasteraceae

euphorbiaceaeConvolvulaceae

rubiaceaeadaptado de Cobucci (2008); lorenzi (2006).

Nome comumMonocotiledôneas

Papuãcapim-pé-de-galinha

tiriricaMilhã

capim-colchãodicotiledôneas

Picão-pretoGuanxumatrapoeraba

Picão-brancoleiteiroCorriola

Poaia-branca

tabela 2 – Principais herbicidas registrados para controle de plantas daninhas na cultura do feijão

época de aplicaçãoPPi ou Pré

PPiPréPréPÓsPÓsPÓsPÓs

Plantas daninhas controladasGramíneas

Gramíneas e algumas dicotiledôneasGramíneas e algumas dicotiledôneasGramíneas e algumas dicotiledôneas

Folhas largasGramíneas

Folhas largasGramíneas

adaptado de Cobucci (2008).

ingrediente ativoPendimethalin

trifluralintrifluralin

s-metolachlorBentazonclethodimFomesafensethoxydim

dose (l ou g ha-1)2,0 a 3,0 l

1,2 a 2,4 l / 1,5 a 2,0 l3,0 a 4,0 l

1,25 l1,5 a 2,0 l0,4 a 0,6 l0,9 a 1,0 l

1,25 l

plantas daninhas de “folha estreita”, no caso de pendimethalin e também algumas espécies de “folhas largas”, no que se refere a trifluralin. Por ser um produto fotodegradável e volátil, trifluralin é recomendado em condições de solo seco ou com pouca umidade, sendo incorporado após a aplicação, até a profun-didade de 15cm. Já pendimethalin deve ser incorporado mecanicamente ou via irrigação, à superfície do solo, em situação de pouca umidade do solo. Esses produtos apresentam baixíssima translocação, apenas o suficiente para exercerem ação sobre as plantas.

A aplicação de herbicidas em pré-emergên-cia, bastante utilizada no sistema convencional de cultivo, pode ser adotada imediatamente após o preparo do solo, próximo à semeadura. É importante, neste caso, observar a dose recomendada, que varia de acordo com o tipo de solo; solos argilosos ou ricos em matéria orgânica requerem doses maiores de produto. Nesta modalidade de aplicação tem-se regis-trado o herbicida s-metolachlor, com efeito sobre gramíneas e algumas “folhas largas”. Este produto, embora eficiente, apresenta restrição de uso em solos muito arenosos.

S-metolachlor é eficiente para o controle de trapoeraba (Commelina spp.) quando a planta é originária de sementes. Em um estu-do para investigar a eficiência de s-metolachlor no controle de milhã (Digitaria sanguinalis) no feijão carioca, aos 40 DAE, observou-se

Planta de caruru, daninha que compete com o feijoeiro por espaço, luminosidade e nutrientes

12 Outubro 2011 • www.revistacultivar.com.br

injúria no feijoeiro nas parcelas aspergidas com s-metolachlor nas maiores doses ava-liadas (1.440 e 1.920g ia/ha), contudo sem efeito deletério na produtividade de grãos da cultura (Lamego et al, 2011). Já ao se avaliar a eficácia do herbicida alachlor, embora este tenha sido eficiente no manejo de milhã, cau-sou fitotoxicidade ao feijão carioca, reduzindo a produtividade da cultura em até 47%. De maneira geral, são observados sintomas de fitotoxicidade no feijão após a aplicação de herbicidas, o que pode estar relacionado com tipo de solo, dose do produto empregada, cultivar utilizada, dentre outros. Procópio et al (2003) verificaram que as cultivares de feijão “carioca” e vermelho 2157 foram mais sensíveis ao herbicida S-metolachlor que Pérola e Jalo Precoce.

Para aplicação em pós-emergência há maior número de ingredientes ativos registra-

dos para o feijão, porém com limitação para o controle de espécies daninhas de “folha larga” (Tabela 2). Muitas vezes, esses produtos são utilizados para complementar aplicações de pré-emergência quando as infestações de plantas daninhas são elevadas.

Embora grande parte dos herbicidas Pré tenha caído em desuso em culturas com ampla adoção do sistema de semeadura direta, em culturas como o feijão ainda são utilizados estes produtos para garantia de um bom es-tabelecimento, sem competição com plantas daninhas, principalmente dado o ciclo curto do feijoeiro. Convém salientar que o sistema de semeadura direta apresenta muitos bene-fícios no aspecto de conservação de solo. Mas com relação ao manejo de plantas daninhas o sistema de plantio direto é contraditório. Por um lado, o plantio direto reduz a densidade de infestantes devido à presença da palha na superfície do solo. Por outro lado, os herbicidas de ação residual podem ter sua atividade re-duzida, pois ficam retidos, em parte, na palha. Mesmo assim, os herbicidas de aplicação em pré-emergência devem ser utilizados para garantir o estabelecimento da cultura sem infestação.

A opção pelo uso de herbicidas em pré-emergência deve ser feita de forma criteriosa, considerando aspectos como textura do solo, teor de matéria orgânica e precipitações plu-viométricas que ocorrem muito próximas à aplicação dos produtos. Estes fatores podem influenciar o resultado final, afetando a efi-ciência de controle das espécies daninhas e também podem causar maior ou menor fito-toxicidade às plantas cultivadas. No entanto, embora o uso de herbicidas seja uma forma eficaz de manejo de plantas daninhas, não se deve esquecer que o manejo ideal é aquele integrado, ou seja, que inclui outros métodos culturais, mecânicos, físicos e biológicos, dentro do possível, como o objetivo de evitar a evolução de plantas daninhas resistentes aos herbicidas, um dos grandes problemas atuais enfrentados pelos produtores. CC

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Os nematoides são organismos vermiformes, que podem ocorrer em vários ambientes. Muitas

espécies que habitam o solo e parasitam as plantas são fitonematoides. Estes nematoides infectam as raízes de várias espécies de plantas de importância agrícola, fazendo com que ocorra diminuição na eficiência de absorção de água e nutrientes. Como consequência, ocorre redução no crescimento vegetativo e

Café

14 Outubro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Interação favorávelEmprego de fungos micorrízicos e nematófagos apresenta resultados positivos no combate a nematoides na cultura do cafeeiro. Além de reduzir a reprodução desses organismos vermiformes, a ação de ambos também se mostrou possível quando associada à aplicação de fungicidas e nematicidas

Cul

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Interação favorávelEmprego de fungos micorrízicos e nematófagos apresenta resultados positivos no combate a nematoides na cultura do cafeeiro. Além de reduzir a reprodução desses organismos vermiformes, a ação de ambos também se mostrou possível quando associada à aplicação de fungicidas e nematicidas

na produção, culminando, na maioria dos casos, na morte da planta. Estima-se que a redução na produção de café no Brasil, devido ao ataque destes patógenos, possa chegar a 20%. No cafeeiro as espécies de nematoides responsáveis por este expressivo dano à cultura pertencem ao gênero Meloidogyne e as espécies mais prejudiciais são: M. exigua, M. incognita e M. paranaensis.

Nos últimos anos o emprego de controle

biológico na agricultura, para reduzir os danos causados por pragas e doenças, tem recebido atenção crescente, devido à preo-cupação da sociedade com a preservação do meio ambiente. Micorrizas são associações entre fungos do solo e raízes das plantas. Os fungos micorrízicos desenvolvem várias estruturas dentro das raízes das plantas (hifas, vesículas e arbúsculos) e externamente às raízes (esporos e hifas). A grande quantidade de hifas externas aumenta em mais de 100 vezes a área explorada no solo, auxiliando as raízes na absorção de água e de nutrientes. As micorrizas contribuem, também, para o controle de nematoides, porque reduzem sua penetração nas raízes micorrizadas. Plantas micorrizadas apresentam, ainda, alterações bioquímicas e fisiológicas que proporcionam maior tolerância ao ataque dos nematoides. Os fungos nematófagos, por sua vez, têm a habilidade em colonizar a região das raízes das plantas, desenvolvendo hifas em forma de redes ou nódulos adesivos que aprisionam, infectam e se alimentam dos nematoides.

Em estudos desenvolvidos nos laborató-rios e em casa de vegetação no Iapar têm sido obtidos resultados promissores do controle de nematoides no cafeeiro com o uso dos fungos micorrízicos e nematófagos. Os estudos feitos com quatro cultivares de cafeeiro (Mundo Novo, Catuaí, Iapar 59 e IPR-100) mostraram que as micorrizas e os fungos nematófagos apresentaram redução da reprodução de Meloidogyne paranaensis no cafeeiro. Houve também interação entre os dois fungos, o que representa que o efeito dos fungos inoculados conjuntamente é maior que o inoculado isoladamente, com redução na reprodução do nematoide em até 85%. Adicionalmente a este efeito no controle dos nematoides, as plantas que receberam os fungos (micorrizas e nematófagos) apresentaram maior desen-volvimento na altura, no número de folhas e nos teores de nutrientes, tanto na parte aérea como nas raízes.

Foi estudado também o efeito da uti-lização de fungicidas e de nematicidas no estabelecimento destes fungos nas raízes do cafeeiro. Os resultados evidenciaram que tanto as micorrizas como os fungos nema-tófagos apresentam boa tolerância a estes produtos químicos, apresentando, assim, boa capacidade de estabelecimento nas raízes e manutenção do controle dos nematoides (M. paranaensis) mesmo na presença dos produtos químicos.

Os resultados obtidos nesta pesquisa abrem a perspectiva de uma prática muito promissora no controle dos nematoides que vai ao encontro dos anseios dos produtores, com relação à preocupação econômica e ambiental. Os resultados possibilitam, ainda, o cultivo do cafeeiro em muitas propriedades

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Pesquisa Café e desenvolvido, em parceria, pelos pesquisadores do Laboratório de Mi-crobiologia do Solo, da Área de Solos e do Laboratório de Nematologia, da Área de Proteção de Plantas, do Iapar. CC

anteriormente inviabilizadas pela infestação com nematoides.

O projeto de pesquisa continua em an-damento, sendo desenvolvidos experimentos de campo, em regiões infestadas com os nematoides, com o objetivo de confirmar os resultados já obtidos em laboratórios e em casa de vegetação. Os resultados preliminares destes experimentos de campo têm mostrado que as plantas de cafeeiro que receberam as micorrizas e os fungos nematófagos apresen-tam melhor desenvolvimento. Posteriormente o projeto entrará em outra fase, onde serão produzidos os inóculos dos fungos (micorrí-zicos e nematófagos) para serem distribuídos aos agricultores. Eventualmente os produtores poderão ser treinados para multiplicar estes fungos na própria propriedade. Entretanto, apesar da multiplicação destes fungos pelos agricultores na propriedade ser tecnicamente possível, existe a necessidade da implantação de um rigoroso controle de qualidade para que não ocorra, de maneira inadvertida, con-taminação, multiplicação e disseminação de patógenos indesejáveis.

Uma prática com grande potencial de ser implantada seria a multiplicação destes fungos em laboratório, com rigoroso controle de qualidade, e inoculação nas mudas na fase de produção no viveiro. Posteriormente,

Em estudo desenvolvido pelo Iapar, planta que recebeu inoculação com fungos foi comparada com duas testemunhas

as mudas seriam transplantadas no campo com as micorrizas e os fungos nematófagos já estabelecidos nas raízes, o que aumentaria muito a tolerância das plantas aos nematoides. Associado a esta prática, o grupo de pesquisa no Iapar tem utilizado também o cultivo de es-pécies leguminosas com potencial de diminuir a população dos nematoides nos solos.

Este projeto é financiado pelo Consórcio

Elcio Balota eAlessandra Scherer,Iapar

Elcio Balota

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Capa

16 Outubro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Caminho para produzir

Fotos Marcelo Madalosso

Diante das características das lavouras brasileiras, o desafio de controlar doenças em soja é gigantesco. Ao mesmo tempo em que as medidas precisam ser tecnicamente embasadas, há que se compatibilizá-las com decisões operacionais e administrativas. Tudo isso, com a exigência de produzir mais, sem perder de vista a necessidade de manter a sustentabilidade da cultura. O controle químico é ferramenta importante, mas não pode ser considerado de forma isolada. Dar à planta condições de aproveitar a proteção oferecida pelos fungicidas é requisito indispensável para alcançar eficiência

A grande diversidade de doenças na cultura da soja torna o manejo integrado estratégia obrigatória

para o controle eficiente e sustentável. Em-bora várias tenham sua ocorrência restrita a algumas regiões (mela, mofo branco, oídio, mancha alvo, antracnose), é possível obser-var incidência cosmopolita de outras como ferrugem, DFC, podridões radiculares. A complexidade de alvos agrava o problema na cultura da soja.

Controlar doenças considerando as carac-terísticas da lavoura brasileira é, sobretudo, um exercício de estratégia operacional e técnica. No âmbito da estratégia operacional, fatores climáticos são tão decisivos quanto a escolha de cultivar, de data de semeadura, de semea-dora ou de um defensivo.

Em um cenário cuja diversidade de alvos é crescente e precocemente estabelecida, programas de controle devem considerar as características fitotécnicas e fisiológicas das diversas cultivares como ponto de partida para garantir sua sustentabilidade. Cultivares altamente produtivas podem apresentar de-clínio na rusticidadee, se o ciclo for reduzido, dependência crescente na preservação da área

foliar verde. O nível de importância que for dado à expressão fisiológica da cultura será determinante para possibilitar a expressão do potencial produtivo das diferentes cultivares.

A dimensão das áreas de cultivo, prin-cipalmente no Cerrado brasileiro, obriga os produtores a priorizarem aspectos gerenciais e operacionais, muitas vezes em detrimento de programas tecnicamente eficientes de controle das doenças. O grande desafio neste caso é o desenho de estratégias tecnicamente embasadas, mas não conflitantes com decisões operacionais ou administrativas.

MaNejo das doeNçasDiversos são os aspectos ligados ao correto

manejo das doenças da cultura da soja (Figuras 1 e 2). Provavelmente, uma hierarquização dos fatores seja impossível de ser feita, tendo em vista a sua complementaridade. Contudo, as-sumindo serem decisivas as decisões operacio-nais e técnicas no processo, fatores da fazenda e do ambiente certamente serão decisivos. A tomada de decisão, com base nos parâmetros de infraestrutura e aconselhamento técnico, é o ponto de partida. A determinação das fontes de inóculo e da taxa de progresso de

cada doença (ou do seu conjunto) é parâme-tro determinante na interação Ambiente x Patógeno x Hospedeiro.

coNdições aMBieNtesUmidade elevada e água livre sobre a

folhagem da planta são necessárias para infec-ções secundárias de muitas doenças fúngicas e bacterianas da parte aérea da planta (Figura 3). O período entre a deposição de um esporo até a penetração da hifa de infecção pode ser de 6 horas a 24 horas. A água pode afetar a sobrevi-vência, dispersão e inoculação dos patógenos, favorecendo o estabelecimento das doenças. Os patógenos possuem diversas estruturas de sobrevivência que podem se manter viáveis no solo durante longos períodos. Um dos fatores que podem interferir significativamente na longevidade destas estruturas é a quantida-de de água no solo. As sementes infectadas constituem-se em outra fonte de inóculo importante. Uma das formas de dispersão de propágulos de patógenos está relacionada ao ciclo secundário de infecção, quando sobre as lesões esporuladas é observado o efeito do im-pacto das gotas da água de chuva ou irrigação, projetando-os para outras partes da planta ou

Diante das características das lavouras brasileiras, o desafio de controlar doenças em soja é gigantesco. Ao mesmo tempo em que as medidas precisam ser tecnicamente embasadas, há que se compatibilizá-las com decisões operacionais e administrativas. Tudo isso, com a exigência de produzir mais, sem perder de vista a necessidade de manter a sustentabilidade da cultura. O controle químico é ferramenta importante, mas não pode ser considerado de forma isolada. Dar à planta condições de aproveitar a proteção oferecida pelos fungicidas é requisito indispensável para alcançar eficiência

Caminho para produzir

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ramento tenham sustentabilidade. Contudo, diferenças varietais em relação à taxa de pro-gresso da doença têm sido observadas entre cultivares de soja (Figura 4), que apresentam mecanismos de resistência parcial diferentes entre si. O aumento da resistência durante a fase vegetativa e posterior diminuição na fase reprodutiva indica a necessidade do estabele-cimento de estratégias protetoras nos estádios iniciais da infecção, que podem ser observados ainda nos estádios vegetativos.

éPoCa de seMeaduraA partir da entrada da doença na lavoura

é observada evolução da epidemia que irá resultar na severidade final. Esta evolução será diretamente relacionada à pressão de inóculo inicial, condições climáticas, condições de cultivo e momento em que a patogênese se estabelece na planta. Se de um lado tem-se o desenvolvimento da população do patógeno, de outro a população do hospedeiro pode atingir um desenvolvimento que abrigue o inóculo, impedindo que os impactos de uma pulverização atinjam adequadamente o alvo.

O que tem sido observado nas últimas safras aponta para clara relação entre antecipação da semeadura, encurtamento do ciclo das cultiva-res e baixa densidade de inóculo. Cultivares de ciclo médio e tardio apresentam maior expo-sição ao inóculo, devido ao maior período de permanência no campo, apresentando maior risco de ataque severo da doença.

Doenças radiculares tendem a ser favoreci-das pela antecipação da semeadura, principal-mente no Sul do Brasil, onde o solo está mais frio. Podridão por carvão pode ser favorecida por condições de baixa umidade no solo (mais comum em semeaduras do tarde). Podridão por Phytophtora parece ser mais favorecida em períodos de maior umidade do solo.

NutRiçãoA busca por novas alternativas para auxi-

liar as técnicas de controle já existentes é im-prescindível. Possibilitar às plantas condições necessárias para manifestar sua máxima resis-tência ou tolerância, considerando a primeira como a capacidade da planta em impedir a entrada e/ou limitar o desenvolvimento do

17www.revistacultivar.com.br • Outubro 2011

mesmo para outras plantas. O processo de ino-culação de um patógeno envolve a deposição de um propágulo sobre a superfície de uma planta e sua posterior penetração para colo-nização dos tecidos. No caso dos patógenos fúngicos, após a deposição dos propágulos, a penetração pode ocorrer via aberturas naturais ou diretamente a partir, tanto da ação física do tubo de infecção, como enzimática, através da degradação de compostos constituintes da epiderme. Em ambos os casos a duração do molhamento foliar é uma das condições que mais predispõem o estabelecimento de interação compatível.

A oferta de água livre sobre a superfície foliar, causada por precipitações frequentes ou irrigação, associada à temperatura noturna entre 18ºC e 26°C, é a condição fundamental para o início da infecção, dispersão do patóge-no e desenvolvimento severo da epidemia da ferrugem asiática. A partir da infecção inicial a ferrugem pode progredir, rapidamente, atingindo severidade elevada em menos de 20 dias.

CoNtrole GeNétiCoEsforços têm sido despendidos no sentido

da obtenção de cultivares com resistência a doenças. A resistência varietal, construída com base oligogênica, gera forte tendência de surgimento de isolados virulentos e con-sequente instabilidade. Em diversos casos a rotação varietal, associada à proteção química, pode aumentar a durabilidade da resistência em cultivares comerciais.

A preferência do produtor, expressada pela tendência ao aumento de área cultivada com germoplasma resistente, promove pressão de seleção na população do patógeno. Em conse-quência, o surgimento de isolados virulentos acaba promovendo quebra da resistência. Embora não seja possível generalizar, pató-genos com alta mutabilidade vertical serão favorecidos pela repetitividade de variedades com genes idênticos para resistência. Até o momento não estão disponíveis cultivares de soja com resistência vertical ao fungo P. pachyrhizi. A variabilidade presente no fungo é o principal fator na quebra dos genes de resistência vertical e que deve ser amplamente conhecida para que os programas de melho-

Folha de soja com sintomas de antracnose, uma das doenças em que o tratamento de sementes apresenta resultados positivos

Figura 1 - Fatores do manejo de doenças na cultura da soja visando alta produtividade. santa Maria, 2011

Figura 2 - Fatores do manejo de doenças na cultura da soja visando alta produtividade, evidenciando os fatores da fazenda. santa Maria, 2011

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18 Outubro 2011 • www.revistacultivar.com.br

patógeno e a tolerância como a habilidade da planta em suportar o ataque, sem que ocorram perdas significativas na produção, são fundamentais.

A nutrição, considerada fator ambiental, também pode alterar a reação das plantas aos patógenos, influenciando o progresso da doença e, consequentemente, o controle. Usualmente, um suprimento balanceado de nutrientes, que permita crescimento ótimo, é também considerado ideal para a resistência de plantas.

O manejo das doenças deve considerar como um dos seus pilares o manejo fisioló-gico do hospedeiro. Para que a planta atinja a máxima resposta fisiológica é necessário que seja favorecida pelas práticas de manejo como nutrição, arranjo de plantas e densida-de populacional, de forma que possibilite a máxima conversão de radiação incidente, dos nutrientes e da água. Estratégias integradas de manejo, que possibilitem a manutenção de área foliar sadia e a máxima atividade fi-siológica da planta a partir do período crítico (florescimento), podem determinar o rendi-mento de grãos.

Quanto maior a área foliar ativa da planta, maior será a garantia de rendimento. Assim, a maximização da proteção da área foliar tem impacto significativo na resposta fisiológica da planta e, por consequência, na produtivi-dade da cultura. Observando o complexo de doenças de final de ciclo e a ferrugem asiática, a grande diferença é que a ferrugem consegue diminuir a possibilidade de captura de recur-sos pela precocidade de ataque e a doença de final de ciclo afeta no final do processo produtivo, conferindo menor impacto na ex-pressão de potencial da cultura. Neste sentido, a adubação com base em diferentes nutrientes influencia (positiva ou negativamente) a seve-ridade das doenças da soja.

Embora tanto a resistência como a tole-rância sejam controladas geneticamente, o am-biente exerce grande influência sobre ambas, e a nutrição mineral representa fator ambiental que pode ser, de certo modo, facilmente mane-

jada. A nutrição mineral provoca mudanças na anatomia e na morfologia da planta, que, por sua vez, altera consideravelmente a resposta ao ataque de microrganismos patogênicos. Além disso, vários mecanismos bioquímicos relacionados à sua defesa são extremamente dependentes do estado nutricional.

eFeitos da NutRição MiNeRalTrabalhos realizados na Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM) estudaram o efeito da nutrição mineral com P, K e Ca na suscetibilidade da soja à ferrugem asiática, para dar suporte ao manejo integrado de doenças. A variação na quantidade de P e K adicionada ao solo, bem como as combinações de dosagens, influenciou a severidade e a taxa de progresso da ferrugem. A influência do K foi mais pronunciada do que P quando foram avaliadas severidade e taxa de progresso da ferrugem, ambas em baixas quantidades. Este resultado conferido pelo K pode ser devido à ativação de enzimas envolvidas na respiração e fotossíntese, processos fornecedores de cadeias

de carbono para a síntese de substâncias de defesa. Além disto, o K tem rápida reposição para a solução do solo, em comparação ao P, o que garante maior disponibilidade à planta.

A adubação equilibrada entre P e K pro-duziu os melhores resultados para ambas as cultivares. Quando esses nutrientes foram reduzidos ou não adicionados na adubação, foi observada maior severidade da ferrugem. Em contrapartida, a menor severidade e a menor taxa de progresso foram observadas nas maiores dosagens dos nutrientes (170 e 140Kg/ha-1 de P e K, respectivamente).

O manejo integrado, na sua concepção plena, é a agregação de todas as condições e práticas de manejo suficientes e necessárias para que a planta expresse-se fisiologicamente, permitindo a expressão genética de todo seu potencial de rendimento e minimizando seu grau de exposição à ação danosa dos patóge-nos. O fungicida é apenas um composto que vai auxiliar nesse processo.

arraNjo PoPulaCioNalAliado ao componente nutricional, o

manejo populacional da cultura assume grande importância na busca por aumentos de produtividade e no manejo de doenças. A adequação no arranjo de plantas através do aumento do espaçamento entre linhas pode permitir maior interceptação de radiação solar no terço inferior da planta. Nas folhas sombre-adas há menor atividade fotossintética e, por consequência, ocorre redução na produção de fotoassimilados. Desse modo, a redução no espaçamento entre linhas irá acelerar esse processo, levando as folhas baixeiras à senescência, o que provoca impacto negativo no rendimento da cultura. Elmore (2004) ressalta que a interceptação de radiação solar é maximizada em espaçamentos equidistantes entre plantas, resultando em maiores pro-dutividades na cultura da soja pelo melhor aproveitamento da luz.

O sombreamento da folha também promove a inativação do fitocromo, que é responsável pela percepção da luz. Assim,

Mesmo restrita a algumas regiões produtoras, a mela exige cuidados e atenção dos sojicultores

Figura 3 - Fatores do manejo de doenças na cultura da soja visando alta produtividade, evidenciando os fatores do ambiente. santa Maria, 2011

Figura 4 - Variações na curva da taxa de progresso de Phakopsora pachyrhizi nas cultivares de soja al83, BRs 184 e embrapa 48 durante o estádio fenológico V1. santa Maria, 2011

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20 Outubro 2011 • www.revistacultivar.com.br

a velocidade de envelhecimento das células passa a ser influenciada pela redução na incidência de luz (Floss, 2004). Desta forma, é desencadeada uma sequência de processos fisiológicos que irão culminar na abscisão da folha, gerando desequilíbrio de energia na planta, com impacto direto na eficiência das defesas e favorecendo a infecção pelos patógenos.

Além de preocupações sobre rendimento, também é considerado o impacto do espaça-mento entre linhas sobre as doenças da soja (Figura 5). A incidência do mofo branco (Scle-rotinia sclerotiorum) aumenta sob condições de adensamento de plantas, pela formação e manutenção de um microclima quente e úmi-do por mais tempo, proporcionando condições adequadas para estabelecimento do patógeno (Elmore, 2004). A redução no espaçamento entre linhas de soja acarreta aumento na área foliar, com prejuízo à penetração e cobertura

do fungicida, comprometendo a eficácia de controle químico. Além do mofo branco e das doenças de final de ciclo (DFC), a ferrugem asiática também se beneficia do adensamento da cultura (Balardin & Madalosso, 2006). Esses dados são coerentes com Debortoli et al (2006), que trabalharam com espaçamentos de 45cm e 30cm, verificando diferenças de produtividade superiores a 1ton/ha com o maior espaçamento (Figura 6). Da mesma forma, maior tempo de molhamento foliar, provocado pelo adensamento de plantas, favorece o aumento da taxa de progresso e disseminação da doença para as demais plantas.

PRoteção da cultuRaO tratamento de sementes, além da

proteção à semente (como o próprio nome sugere), é importante no estabelecimento da cultura. Tradicionalmente é realizado com

produtos curativos, protetores e/ou sistêmicos que propiciam residual de 12 a 15 dias, con-trolando um determinado tipo de patógeno. Entretanto, o tratamento de sementes como alternativa que possibilite maior desenvolvi-mento radicular, aumento no vigor da plântula e proteção na parte aérea contra doenças, já é uma realidade. O tratamento de sementes como estratégia para redução do inóculo ini-cial, que origina uma doença (Berger, 1977) é importante para doenças como antracnose, mancha alvo e complexo de final de ciclo. Esta estratégia de controle também atrasa o início da epidemia e diminui a sua taxa de progresso (Ballico, 2002). O efeito positivo do tratamento de sementes na redução da severi-dade das doenças no estádio vegetativo sugere que essa prática possa retardar a aplicação de fungicidas na parte aérea e reduzir o número de aplicações.

PreVeNtiVo X CuratiVo Na Parte aéreaO sucesso do controle químico das doen-

ças da soja depende da fase em que se encontra a patogênese e a que pressão de inóculo o fungicida é submetido. O controle realizado após a visualização dos sintomas (curativo e erradicante) afeta negativamente a eficiência do ingrediente ativo, bem como o período residual do fungicida (Vitti et al, 2004). Os fungicidas têm sua eficácia muito reduzida quando aplicados após o estabelecimento da ferrugem (Figura 7). Um atraso de sete dias na aplicação do fungicida para controle de ferrugem asiática (após a detecção da doença) pode ser suficiente para produzir desfolha significativa da cultura.

A aplicação do fungicida de forma curativa afeta a eficácia de controle, havendo redução na severidade e no progresso da ferrugem, porém, com eficiência comprometida nas aplicações realizadas a partir do terceiro dia após a inoculação. O efeito curativo erra-dicante tende a ser mais pronunciado nas primeiras 48 horas a 72 horas após a infecção dos patógenos.

Um dos principais fundamentos do Folha de soja com sintomas da presença de oídio, patógeno

que integra o complexo de doenças que afeta a cultura

Figura 5 - elementos da interação patógeno x hospedeiro. santa Maria, 2011 Figura 6 - influência do espaçamento entre linhas sobre a eficácia de dois programas de controle e dois níveis de adubação. santa Maria, 2011

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A ocorrência do mofo branco, a exemplo de outras doenças, tem crescido nas lavouras brasileiras

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controle fungicida preventivo é a prevenção do aparecimento de mutantes resistentes da ferrugem. A utilização do fungicida em baixa população do patógeno, além de reduzir o inóculo inicial dentro da lavoura, elimina as chances de um mutante resistente ou esporo predominar na população do patógeno (Fi-gura 7). Neste aspecto, a primeira aplicação em base forte (estrobilurina sistêmica mais triazol) permite uma eliminação racional destas células ou esporos resistentes por atuar na respiração dos esporos e corpo do fungo (estrobilurina) e formação de membranas do fungo (triazóis). Este duplo mecanismo de ação permite maior estabilidade dos sistemas de controle e fungicidas atuais.

PreVeNtiVo X CuratiVo: residualAplicações curativas promovem altera-

ção na ação do fungicida devido ao estádio de progresso em que a doença se encontra, enquanto que nas aplicações preventivas o fungicida permanecerá um período de tempo nos tecidos da planta sem que o patógeno tenha iniciado o processo de infecção. Assim, o residual efetivo em aplicações preventivas é mais prolongado, já que a totalidade do tecido vegetal encontra-se metabolicamente favorável à ação do fungicida, aliado à ausência de inóculo sobrevivente após a aplicação. As aplicações preventivas possibilitam residual mais longo em relação às aplicações curativas, devido ao somatório de condições fisiológicas da planta, ao nível de inóculo disponível para infecção, aliado à probabilidade de o produto ser depositado em uma maior porcentagem de tecido sadio da planta.

O período residual será resultado da estra-tégia de controle estabelecida na forma de um plano de manejo integrado (Figura 8). Pode ser impactado por fatores tão diversos quanto o momento de aplicação do fungicida em relação ao desenvolvimento da planta ou da patogêne-se, densidade populacional do patógeno, idade do tecido, nutrição e diversos componentes

de manejo fitotécnico da planta, ou mesmo da expressão de genes menores associados à resistência parcial (Figura 9).

Nas aplicações preventivas, o efeito resi-dual do fungicida é favorecido pela ausência da interação entre o inóculo do patógeno e a planta hospedeira. Em adição, o momento adequado de proteger uma planta também tem relação à associação entre os estádios fenológicos e os momentos fisiologicamente críticos na planta.

Na transição entre o período vegetativo e o reprodutivo, ocorre aumento no dreno de energia para os órgãos de reserva, aumentando a ineficiência dos processos de defesa que se tornam mais onerosos do que benéficos, do ponto de vista de equilíbrio energético. Esta dinâmica favorece o desenvolvimento da doença e reduz a atividade do fungicida nos tecidos da planta.

O período residual de um fungicida, característica peculiar aos diversos grupos

Figura 7 - Área abaixo da curva de progresso da ferrugem considerando uma aplicação preventiva (14 dias antes da inoculação), curativa (três dias após a inoculação) e erradicante (nove dias após a inoculação) detriazol + estrobilurina e triazol. santa Maria, 2011

Figura 8 - Fatores responsáveis pela duração do residual de controle proporcionado pela aplicação de um fungicida. santa Maria, 2011

químicos, consiste na manutenção de um ingrediente ativo no interior dos tecidos da planta em concentração suficiente para inibir ou retardar a infecção causada por um patógeno. Neste caso, considera-se como residual absoluto o período de tempo em que os fungicidas podem conferir proteção à planta, ou seja, benzimidazóis (15 dias), triazóis (22 e 25 dias) e estrobilurinas (27 e 30 dias). No caso de misturas de fungicidas de grupos diferentes, o efeito sinérgico poderá conduzir a um período residual absoluto maior do que observado, considerando os produtos isolados. Na ausência de sinergismos entre os componentes da mistura, pode ser observada relação entre o residual da mistura e o obser-vado pelo componente cujo residual for o de maior duração.

Por outro lado, considerando-se os dife-rentes estádios da patogênese como referencial para o momento da aplicação de um ingre-diente ativo, o residual efetivo é conceituado como o período de tempo compreendido entre a deposição do fungicida sobre a superfície da planta e o surgimento de sintomas em magnitude superior à verificada no momento da aplicação. Dois cenários são possíveis: o fungicida é aplicado antes do estabelecimento da infecção ou já em presença de infecção estabelecida. Como um longo período de tempo pode decorrer entre a infecção inicial e a formação de sintomas detectáveis, o residual efetivo manifesta-se de forma diferente caso a aplicação do fungicida seja realizada de forma curativa ou erradicante.

O período residual absoluto de determina-do ingrediente ativo é apenas uma referência já que, por tudo o que é feito do ponto de vista de manejo de uma cultura e da dinâmica populacional do patógeno, o residual efetivo converte-se no residual realmente alcançável sob condições de campo. Além disto, a maior compreensão do próprio conceito de doença permite entender, de forma inequívoca, a dinâmica fisio-populacional de plantas e pa-

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Figura 9 - influência da idade do trifólio e do espectro de gotas sobre o residual de controle de um fungicida. santa Maria, 2011tógenos, possibilitando extrair maior benefício do controle químico, entendido neste ponto como maior período residual efetivo.

O período residual efetivo de um fungicida perpassa as características intrínsecas que o ingrediente ativo apresenta sob condições experimentais, podendo variar em função da relação entre o curso da patogênese e as condições fisiológicas gerais da planta. De maneira mais explícita, entende-se que o pe-ríodo residual será resultado da estratégia de controle estabelecida na forma de um plano de manejo integrado, e que pode ser impactado por fatores tão diversos quanto o próprio mo-mento de aplicação do fungicida em relação ao desenvolvimento da planta ou da patogênese, densidade populacional do patógeno, idade, nutrição e diversos componentes de manejo fitotécnico da planta, ou mesmo da expressão de genes menores associados à resistência parcial.

O cenário observado em doenças como requeima da batata, brusone do arroz, ferru-gem do trigo ou ferrugem asiática da soja, em contraste à pinta preta do tomateiro, cercos-poriose da soja ou septoriose do trigo, indica a necessidade de uma leitura cuidadosa de doenças cuja taxa de progresso pode acarretar uma explosão populacional do patógeno ou

daquelas cuja progressão é mais lenta.Mesmo que o controle preventivo, por

conceito, considere a deposição de um ingre-diente ativo previamente ao início da pato-gênese, o resultado final será diferente entre as doenças do grupo cuja taxa de progresso é mais elevada. O que esperar, então, de uma aplicação realizada após o estabelecimento de uma doença, mesmo que sua progressão seja mais lenta?

A aplicação de um fungicida, após o início

da infecção, sofre reduções tão mais drásticas no residual quanto maior for a densidade populacional do patógeno no momento da aplicação. É provável que alguns compo-nentes da patogênese, tais como número e distribuição dos locais de infecção aliados à taxa de progresso do fungo, possam obrigar ao produtor aumento no número de aplicações. Nestas condições o resultado final é um nú-mero excessivo de aplicações associado a um retorno financeiro incoerente ao investimento

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realizado e que potencialmente poderia ser mais satisfatório, se respeitadas as condições da planta, do patógeno e de sua interação.

Na interação fungicida-patógeno as aplicações curativas resultam em dificuldade crescente do fungicida em eliminar ou reduzir a evolução da doença. Nessas condições, o au-mento na intensidade de atividade metabólica de defesa da planta reduz a oferta de elementos constitutivos que possam estar envolvidos na atividade do fungicida, acelerando sua degra-dação e reduzindo o período cuja concentração do ativo na planta mantenha-se em patamar de letalidade eficiente.

Em contrapartida, nas aplicações preventi-vas, o efeito residual do fungicida é favorecido pela ausência da interação entre o inóculo do patógeno e a planta hospedeira, maior concen-tração de compostos constitutivos devido à re-duzida produção de compostos induzidos que acabam, em conjunto, permitindo uma lenta extinção do ativo nos tecidos da planta.

outros Fatores Em adição, o momento adequado de

proteger uma planta também tem relação à associação entre os estádios fenológicos e os momentos fisiologicamente críticos na plan-ta. Um exemplo é a produção de etileno, que acelera a degradação de tecidos ao mesmo tempo em que favorece o estabelecimento da doença. Nestas condições, naturalmente o residual do fungicida vai decrescer. Na transição entre o período vegetativo e o repro-dutivo, ocorre aumento no dreno de energia para os órgãos de reserva, aumentando a ineficiência dos processos de defesa que se tornam mais onerosos do que benéficos do ponto de vista de equilíbrio energético. Esta dinâmica favorece o desenvolvimento da doença e reduz a atividade do fungicida nos tecidos da planta.

O estado nutricional da planta tem efeito direto nesta dinâmica, pois uma planta bem-nutrida tem maior capacidade de reduzir o impacto desse desequilíbrio energético pela manutenção dos tecidos fisiologicamente ativos por um período mais prolongado. Outro fator de relevância prende-se à as-sociação entre a nutrição da planta e seu manejo cultural.

Alterações no arranjo de plantas devido ao aumento no espaçamento entre linhas ou à variação na densidade de plantas podem propiciar maior incidência de radiação solar em toda a planta, mantendo as folhas com uma maior atividade fotossintética mesmo no dossel inferior. Fatores microclimáticos como redução no período de molhamento foliar, aumento de aeração e redução na concentra-ção precoce de etileno retardam ou inibem a infecção pelo patógeno. Consequentemente, além de uma deposição mais facilitada do

Balardin, Madalosso e Zabot elencam os fatores a serem considerados emensuram o desafio do produtor brasileiro ao manejar doenças em soja

fungicida, a redução de atividade patogêni-ca irá resultar em aumento no residual do fungicida. Por outro lado, o adensamento de plantas, juntamente com um elevado índice de área foliar, favorece a atividade patogênica, prejudicando a penetração e a deposição de fungicida sobre o alvo, refletindo no seu resi-dual. O residual do fungicida será reduzido, obrigando maior número de aplicações, mas cada vez menos eficazes, devido à associação dos fatores de má penetração, lenta atividade metabólica da planta e, proporcionalmente, maior densidade populacional remanescente a cada aplicação.

Além dos fatores nutricionais e do ma-nejo cultural, é importante destacar que a manifestação da resistência parcial através de um maior período de latência e menor taxa de progressão da doença acarreta me-nor densidade populacional do patógeno. Na medida em que a pressão de inóculo diminuir sobre os tecidos do hospedeiro será observado aumento no residual do fungicida, à semelhança do observado do ponto de vista fisiológico.

Se uma correta tecnologia de aplicação for associada à adequação no arranjo espacial e populacional das plantas, favorecendo maior deposição e cobertura das folhas de todo o dos-sel da planta pelo fungicida aplicado, o residual será aumentado. A adequação da tecnologia de aplicação compreende ajuste de variáveis como volume de calda, pontas de barra que produzam DMV e DMN compatíveis com o dossel que se busca cobrir. Outros fatores como arquitetura da planta, estádio fenológico em que o fungicida é aplicado e local mais provável de infecção afetarão o resultado final de uma aplicação ou, mais especificamente, o residual do fungicida. Adicionalmente, o horá-rio e as condições climáticas no momento da aplicação comprometem o residual de um fun-gicida. É importante enfatizar que toda a vez que a deposição de um fungicida for afetada por quaisquer fatores e que uma quantidade inferior de ingrediente ativo for aplicada sobre a planta, todos os componentes populacionais do patógeno, aliados às variáveis fisiológicas da planta, produzirão efeito sobre o residual do

fungicida ainda mais relevante.A associação entre a tecnologia de apli-

cação de fungicidas líquidos e o manejo fito-técnico pode proporcionar maior adequação no manejo fitossanitário. A tendência atual é a prática de modalidades que requer menor volume de aplicação. Segundo Giordani (2002), cultivares de soja apresentam diferen-tes arquiteturas e, dependendo do índice de área foliar sadio, um percentual semelhante na severidade da doença poderá acarretar danos diferenciados entre as cultivares.

coNclusãoA garantia de um controle confiável não

depende apenas do ingrediente ativo, mas de todos os aspectos envolvidos na estratégia de manejo das doenças. É fundamental que a utilização do controle químico seja entendida como um complemento do manejo integrado de doenças. A conjugação dos fatores de dinâmica epidêmica da doença, limitações operacionais de cada propriedade, limitações de residual e modo de reação que os produtos químicos possuem deve ser considerada e, principalmente, a necessidade de não com-prometer a sustentabilidade do agronegócio da soja. Para que a doença seja controlada, a expressão fisiológica deverá ser tão eficiente quanto a possibilidade de conversão de recursos, ao mesmo tempo em que as ações de degradação causadas pelas doenças sejam minimizadas. O manejo integrado na sua concepção plena é a agregação de todas as práticas de manejo suficientes e necessárias para que a planta expresse-se fisiologicamente, permitindo a expressão genética de todo seu potencial de rendimento e minimizando seu grau de exposição à ação danosa dos patóge-nos. Neste contexto, o fungicida é apenas um composto que vai auxiliar nesse processo. Por outro lado, se a planta não tiver condições de aproveitar essa ferramenta, o processo torna-se ineficiente.Ricardo Balardin,UFSMMarcelo Madalosso eLucio Zabot,Instituto Phytus

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Esforço conjunto

O manejo de lagartas na cultura da soja é baseado no Manejo Integrado de Pragas (MIP) que

se alicerça no conhecimento de amostragens, biologia, níveis de controle e no combate natural. Dentre as estratégias de controle o químico é o mais utilizado por conta de diversos fatores como eficiência, comodidade, custo, entre outros.

A utilização da estratégia do controle químico, no entanto, apresenta alguns problemas que porventura podem ocorrer, como desequilíbrio biológico, resistência da praga a inseticidas etc. Desta forma, na cadeia produtiva existem elos que são: a pesquisa realizada por inúmeras instituições de ensino e por centros de pesquisa gera informações sobre as pragas e seus inimigos naturais (predadores, parasitoides e patógenos), os níveis de danos, as amostragens, o controle químico e o biológico. A extensão rural e o número de técnicos ainda não são suficientes e, de uma maneira geral, a difusão tem sido feita por cooperativas, instituições privadas e fabricantes de insumos, e muito pouco pela extensão oficial. A indústria de inseticidas tem se empenhado no desenvolvimento de novas moléculas, cada vez menos tóxicas ao meio ambiente e à saúde humana e com seletividade aos inimigos naturais. E há os agricultores usuários do MIP soja, que são o principal foco dos programas de conscien-tização e a quem deve chegar a informação pronta para o uso no campo.

A cultura da soja está sujeita, durante todo o seu ciclo, aos danos de diferentes espécies de

pragas. Por exemplo, a lagarta falsa-medideira (Pseudoplusia includens) é a principal desfo-lhadora da cultura da soja na região Centro-Oeste do Brasil. Isto em decorrência da alta capacidade de consumo de área foliar (que pode chegar até 200cm2) e por estar presente em altas populações em praticamente todas as lavouras de soja da região nas últimas safras. Além da desfolha, pode se observar a campo o ataque de lagartas, geralmente grandes, em vagens de soja já formadas, potencializando os danos causados pelo inseto.

Essas lagartas são, em geral, mais toleran-tes às dosagens usuais de inseticidas quando comparadas com a Anticarsia gemmatalis, conhecida como lagarta-da-soja. Além disso, a falsa-medideira tem o hábito de se hospedar mais internamente entre as folhas das plan-tas, o que dificulta seu controle e exige muita qualidade da tecnologia de aplicação, que deve ser capaz de atingir a praga nos terços inferiores e no interior das plantas de soja.

Em condições de campo são poucos os

inseticidas que têm apresentado eficiência satisfatória no controle desta lagarta. São produtos geralmente de largo espectro, cujas dosagens elevadas são danosas sobre as popu-lações de agentes de controle biológico, sendo necessária neste sentido a busca de inseticidas mais seletivos e que apresentem eficiência.

laGarta da sojaOutra lagarta importante para a soja é a

espécie Anticarsia gemmatallis. A lagarta da soja, principalmente nas regiões sojicultoras do Centro-Oeste, tem ocorrido nas primeiras semeaduras, sendo os meses de outubro, no-vembro e dezembro os de maior ocorrência. Para regiões mais frias, como o Sul do Brasil, a presença da praga tem se dado no decorrer de todo o desenvolvimento da cultura, visto que nesses locais existe um período maior de semeadura da cultura da soja.

Dentro de cinco dias eclodem as lagar-tas, que se alimentam das folhas. Crescem rapidamente e podem atingir em torno de

Esforço conjuntoMatheus Zanella

O combate eficiente de lagartas na cultura da soja passa por medidas integradas, adotadas de forma harmônica com o ambiente, para reduzir a população das pragas a níveis de danos

não econômicos. Considerado como uma das ferramentas de manejo, o uso de inseticidas deve priorizar a aplicação de defensivos de ação comprovada e seletivos a inimigos naturais

O combate eficiente de lagartas na cultura da soja passa por medidas integradas, adotadas de forma harmônica com o ambiente, para reduzir a população das pragas a níveis de danos

não econômicos. Considerado como uma das ferramentas de manejo, o uso de inseticidas deve priorizar a aplicação de defensivos de ação comprovada e seletivos a inimigos naturais

Lagarta falsa-medideira (à esquerda) e danos em folha de soja (à direita)

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Fotos Rotundo, 2006

50mm de comprimento, com seis instares. Em seguida, se transformam em pupas no solo. Nos estádios iniciais as lagartas podem pendurar-se por um fio de seda, tanto para mudar de lugar na planta quanto para não caírem ao solo (o chamado estádio de “fio”) e se comportam como mede-palmo. Os insetos apresentam a coloração variável de verde, pardo-avermelhada a preta quando em alta população, com estrias brancas.

Algumas fases da cultura, como os pe-ríodos anteriores ao florescimento e após, em estádios R2-R4, são as em que ocorrem maiores picos desta praga na região dos Chapadões. Fato que pode ser explicado em função da biologia (em monitoramen-tos realizados observa-se uma ocorrência alta de adultos nos meses de dezembro e janeiro, com infestações “mistas” de grande quantidade de ovos e lagartas). Outro ponto determinante se dá nas fases reprodutivas, por estar a cultura “fechada”, o que prejudica a tecnologia de aplicação, diminuindo de certa forma o controle.

MaNejo da Falsa-MedideiraNos últimos anos, alguns experimentos

foram desenvolvidos na Fundação Chapa-dão para ajustar o manejo de Pseudoplusia includens. Um dos estudos foi realizado no município de Chapadão do Sul, Mato Gros-so do Sul, com programa de manejo, aten-dendo aos índices de controle preconizados pela pesquisa, para aplicações nos estádios vegetativos V5 e V8 (este último próximo do florescimento, porém ainda sem “fechar a cultura”). Os tratamentos consistiram em aplicações de fisiológico/diamidas, fisiológico/fisiológico+organofosforado, fisiológico isolado, carbamato isolado e dia-mida isoladamente, descritos no Gráfico 1, com o respectivos ingrediente ativo e dose do produto comercial em ml ou grama por hectare, para cada aplicação.

Os resultados mostraram que há diferença no controle, sendo superior a

diamida (flubendiamida), quando compa-rada a fisiológicos e outros programas. No entanto, dentro do programa de manejo é imprescindível o técnico estar atento ao processo de resistência, sendo importante muitas vezes a rotação de produtos a fim de evitar possíveis problemas. Em vários casos recomenda-se ao técnico manejar as pragas com inseticidas que apresentem uma eficiência um pouco menor, para evitar problemas futuros. No primeiro momento, pode não ocorrer problemas com o uso continuado, mas com o passar do tempo há riscos de se perder uma fer-ramenta de controle.

Em outros casos também se observa que o aumento de dose, principalmente para os fisiológicos, se fez necessário para maior eficiência, Mas este tipo de medida tem que ser adotado com critérios básicos, como a pesquisa. Muitas doses de diversos inseticidas registrados apresentam falhas de controle, necessitando ajuste. Vale

lembrar, também, que entra nestes casos de insucesso a tecnologia de aplicação, in-festações muito altas, entre outros pontos que têm comprometido o sistema.

Os inseticidas raramente devem ser considerados isoladamente no controle de pragas. Esse tipo de controle deverá fazer parte de um conjunto de medidas, que atu-ando em harmonia com o ambiente, seja capaz de reduzir a população das pragas a níveis de danos não econômicos.

outras laGartasOutras pragas como a lagarta-da-maçã

do algodoeiro (Heliothis virescens), que tem recebido destaque com principal lagarta, dependendo da região-ano, pode em al-guns casos levar a “furos” no sistema de manejo integrado de pragas, por necessitar de inseticidas com poder de choque maior que os fisiológicos, devendo desta forma o técnico analisar a condição da sua lavoura para não haver ocorrência de perdas. Nos ensaios da Fundação Chapadão, na safra 2010/2011, somente alguns inseticidas apresentaram controle satisfatório da pra-ga, quando analisados como ferramenta única. Merecem destaque clorotraniliprole, flubendiamida e spinosad.

Na aquisição de inseticidas o produ-tor deve dar preferência aos defensivos de eficiência comprovada, seletivos aos inimigos naturais. Desta forma haverá condições para as sociedades atuais e pos-teriores produzirem mais alimentos, com sustentabilidade técnica, econômica, social e ambiental, princípios fundamentais no Manejo Integrado de Pragas, em Sistemas Sustentáveis de Produção Agrícola.

Folha de soja danificada, com a presença da lagarta da soja A. gemmatalis

Grafico 1

Dano às vagens provocado por Heliothis virescens

Germison Vital Tomquelski, Fundação ChapadãoGustavo Mamoré Martins, Luciana Cláudia Toscano eWilson Itamar Maruyama, UEMS

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30 Outubro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Sanidade inicial

Muitas doenças podem se desenvolver na cultura da soja, desde a sua emergência,

diante da ocorrência de condições favorá-veis ao seu desenvolvimento. Essas condi-ções são específicas. Já foram relatadas mais de 40 doenças, que podem ser causadas

por fungos, bactérias, vírus e nematoides. A maioria das doenças na cultura da

soja é causada por fungos, que em grande parte são transmitidos e/ou transporta-dos pelas sementes, que também podem preservá-los viáveis e patogênicos por muitos anos.

Para a implantação da cultura de soja e também de outras culturas, é ideal que se adote o manejo integrado de doenças. Um dos principais passos dentro desse manejo é o uso de sementes certificadas, que garan-tam a boa germinação, vigor das plantas e boa qualidade sanitária da cultura.

As sementes de soja contaminadas por patógenos constituem-se em importante veículo de sua disseminação a curta ou lon-ga distância. As sementes podem, também, introduzir uma nova raça de patógeno, em região onde não havia sua ocorrência.

Os patógenos podem contaminar as sementes de soja durante o ciclo da cultura, na ocorrência da doença no campo e têm poder de sobreviver por longo período. Essas sementes, ao serem utilizadas na semeadura, tendem a originar plântulas doentes, que serão os focos iniciais da do-ença ou fonte de inóculo primário.

Patógenos presentes logo no início da cultura podem antecipar a ocorrência das doenças e, conforme as condições ambien-tes favoráveis ao seu desenvolvimento, tendem a se agravar e ocorrer com maior severidade durante o ciclo, exigindo mais gastos devido ao maior número de aplica-ções de produtos ao seu controle.

PatÓGeNos da PaRte aéReaMuitos fungos disseminados pelas

sementes podem causar doenças na parte aérea da cultura da soja. Dentre as princi-pais doenças e seus patógenos encontram-se: antracnose (Colletotrichum truncatum), cancro da haste (Diaporthe phaseolorum f. sp. meridionalis), crestamento foliar e mancha púrpura da semente (Cercospora Kikuchii), mancha-alvo (Corynespora cassiicola), mancha-olho-de-rã (Cercos-pora sojina), mancha-parda ou septoriose (Septoria glycines), míldio (Peronospora manshurica), mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum) e seca da vagem e da haste (Phomopsis spp.). Conforme as condições ambientes favoráveis ao desenvolvimento de cada doença, sua ocorrência pode causar sérios danos à cultura e prejuízos ao produtor.

No combate ao complexo de doenças que afetam a cultura da soja, o tratamento de sementes é uma das medidas que, adotada de forma integrada com outras estratégias de

manejo, auxiliam a garantir mais produtividade e qualidade na lavoura. Entre as vantagens do processo se destacam o baixo custo e a facilidade de adoção

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Fotos Margarida Ito

PatÓGeNos haBitaNtes do soloPodridões do sistema radicular e morte

de plantas de soja são doenças causadas por fungos habitantes do solo, transmi-tidos por sementes. Dentre as principais doenças e seus patógenos encontram-se: mancha parda da haste (Phialophora grega-ta), mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum), murcha-de-fusarium (Fusarium oxysporum), murcha-de-sclerotium (Sclerotium rolfsii), podridão cinzenta do caule (Macrophomi-na phaseolina), podridão de phytophthora (Phytophthora megasperma f. sp. sojae), podridão radicular de corynespora (Corynes-pora cassiicola), podridão radicular seca (Fu-

sarium solani), podridão radicular vermelha (Fusarium solani f. sp. glycines) e podridão de rizoctonia (Rhizoctonia solani).

O fungo S. sclerotiorum, que foi dis-seminado ao longo dos anos às regiões produtoras do Brasil, provavelmente através de sementes contaminadas e escleródios em contaminação concomitante às sementes, tem causado sérios prejuízos em soja e em outras grandes culturas. Sua “explosão” ocorreu nas últimas safras. Esse fungo apre-senta forma especial de ataque às plantas, ora como fungo de solo, ora como fungo da parte aérea, exigindo manejo integrado e, no caso de controle químico, o tratamento de

sementes. E, na cultura, há ainda a exigên-cia de que o produto atinja também o nível do solo, onde ficam o micélio, os escleródios (estruturas de resistência) e os apotécios e ascosporos. Para o tratamento químico das sementes, encontra-se o fungicida (tiofa-nato metílico + fluazinam) e dentro em breve outros defensivos estarão disponíveis no mercado.

Aspergillus spp. e Penicillium spp. são fungos de armazenamento, que vêm do campo nas sementes e podem deteriorá-las. O tratamento químico das sementes, com produtos indicados, antes do armazenamen-to, pode prevenir a deterioração.

Figura 1

Sementes com a presença de fungos e à direita matéria que recebeu tratamento com fungicidas

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Medidas de CoNtrole

No campo de produção de sementesPara a obtenção de sementes de boa

qualidade fisiológica e sanitária são reco-mendados, sempre que possível, o uso de cultivares melhoradas para resistência a pató-genos, semeadura em época e locais de clima apropriados, sob cultivo em solo adequado, com calagem e adubação recomendadas, bons tratos culturais e controle de pragas e doenças, através de constante e eficiente monitoramento da cultura.

É importante a realização da colheita no estádio correto, com a completa maturação das sementes, além de realizar adequado beneficiamento antes do armazenamento, para a retirada de impurezas.

tratamento químico de sementes O tratamento químico é recomendado se

o lote de sementes apresentar patógenos para proteção contra a sua introdução na área ou conforme o destino das sementes, se o his-tórico da área indicar presença de patógenos,

restos culturais contaminados e condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento de doenças. É um processo de baixo custo e de fácil adoção, que proporciona proteção à cultura na sua fase inicial, evitando a má germinação das sementes e o baixo estande da cultura.

Fungicidas têm proporcionado bom controle das doenças da cultura da soja, como dos patógenos nas sementes e também pre-sentes no solo ou nos restos culturais. No site http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons encontram-se os pro-dutos registrados para o controle de doenças e o tratamento de sementes.

coNsideRações FiNaisO uso de sementes certificadas de culti-

vares de soja (com agregação de valores como maior produtividade, resistência genética a pragas e doenças), produzidas de forma a proporcionar maior vigor e germinação (além de melhor qualidade sanitária), forma

Margarida Fumiko Ito,IAC/Apta

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Mancha púrpura da semente à esquerda e escleródiosde mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum) à direita

a base fundamental para a implantação da cultura.

A adoção do uso de sementes certificadas, acompanhadas de boletim de análise sanitá-ria, e dentro dos padrões, contribui para o melhor controle das doenças da cultura da soja, evitando a disseminação e a introdução de patógenos nas áreas produtoras.

A introdução do fungo S. sclerotiorum, patógeno causador do mofo branco em soja e em mais de 400 espécies de plantas, em mui-tas regiões é um exemplo do uso de sementes portadoras desse fungo. Esse fato demonstra a importância do uso de sementes isentas de patógenos e, sendo necessário, o tratamento de sementes para seu controle.

O tratamento de sementes é uma medi-da indispensável no manejo de doenças na cultura da soja, em algumas situações, para se obter melhor sanidade inicial, proporcio-nando estande adequado e maior chance de se ter uma cultura que alcance o seu poten-cial genético, para proporcionar colheita de produto de melhor qualidade e em maior quantidade.

Morte de plantas e podridão do sistema radicular (acima) e escleródios: estruturas de resistência (abaixo)

Aspergillus sp e Penicillium sp, fungos que vêm nas sementes e se desenvolvem durante o armazenamento

Entre os patógenos da parte aérea está o cancro da haste (Diaporthe phaseolorum f. sp. meridionalis)

Margarida fala da importância de usar sementes certifi-cadas e de lançar mão do tratamento quando necessário

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Fotos Margarida Ito

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Dose determinadaDe hábito de crescimento perene, o algodoeiro acabou transformado em cultura anual por conta

da exploração econômica. Como resultado surge a exigência de controlar o desenvolvimento vegetativo das plantas, para evitar a baixa fixação de botões florais e o abortamento prematuro

dos frutos. O cloreto de mepiquat é uma das alternativas para auxiliar no controle desse problema. Mas ao definir a quantidade a ser aplicada é preciso estar atento a fatores que influenciam na

eficiência do produto, como a elevação da temperatura e a escolha de cultivares mais vigorosas

O algodoeiro é um dos fotossistemas mais complexos entre as plantas cultivadas. Isso por que o seu

hábito de crescimento, que é originalmente do tipo perene, foi alterado para propiciar produtividade econômica, sendo então cultivado como cultura anual (Wendel et al, 2010). A consequência disto é que em algu-mas condições adversas, a planta prioriza o desenvolvimento vegetativo, resultando em baixa fixação de botões florais e abortamento prematuro de frutos.

Assim, faz-se necessário o uso de substân-cias que regulem o crescimento das plantas e que proporcionem o uso eficiente de recursos disponíveis, tais como a luminosidade. A arquitetura do dossel vegetal do algodoeiro pode ser modificada com o uso do cloreto de mepiquat (CM), um inibidor da síntese do ácido giberélico. Gwathmey et al (1995) ob-servaram que o CM diminuiu a porcentagem de intercepção de luz nas folhas do ponteiro, todavia, permitiu maior penetração de luz no terço médio da planta. O CM pode inibir o crescimento vegetativo através da redução do índice de área foliar e do comprimento dos internódios (Bogiani & Rosolem, 2009; Reddy et al, 1990), tanto quanto do comprimento dos ramos frutíferos (Athayde & Lamas, 1999).

A temperatura é um dos fatores ambien-tais que mais interferem no crescimento e no desenvolvimento do algodoeiro, sendo o perío-do de cada fase de desenvolvimento encurtado conforme a temperatura é aumentada de 13ºC a 30ºC (Hesketh et al, 1972).

O regime de temperatura diurna/notur-na em que houve maior alongamento do caule, expansão da área foliar e acúmulo de biomassa foi de 30/22°C (Reddy et al, 1992). Os mesmos autores observaram que sob temperaturas de 30/22°C houve produção de quatro vezes mais ramos frutíferos do que sob 20/12°C, e alta abscisão de botões florais sob regimes de temperatura de 40/32°C. E isso ocorre em plantas C3 porque a medida em que aumenta-se a temperatura, a afinidade da rubisco por CO2 diminui, acarretando em menor oferta de carbono para síntese de

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carboidratos (Taiz & Zeiger, 2009). Por outro lado, sob temperaturas baixas a fotossíntese pode ser limitada pela disponibilidade de fosfa-tos no cloroplasto (Geiger & Servaites, 1994). Adicionalmente tem-se que a atividade da sucrose synthase é alterada sob temperaturas extremas, impedindo assim que os açúcares sejam transportados das folhas para os frutos. Portanto, o crescimento e o desenvolvimento das fibras ficam limitados.

A interação entre temperatura e doses de cloreto de mepiquat foi estudada por Souza et al (2007), onde observou-se que as temperatu-ras extremas (25/15ºC e 39/29ºC) levaram a uma perda na eficácia do cloreto de mepiquat e que o aumento da dose de CM não foi efi-ciente no controle do crescimento das plantas quando submetidas ao mais elevado regime de temperatura (39/29°C dia/noite). Hodges et al (1991) concluíram que a aplicação de CM e o regime de temperatura influenciaram o crescimento do algodoeiro, bem como as taxas de fotossíntese e respiração.

Um método para tomada de decisão da aplicação de CM em algodoeiro foi desen-volvido por Barrabé et al (2007) e levou em consideração o índice de área foliar e a bio-massa da parte aérea, mostrando-se eficiente para a determinação do momento correto de se aplicar o regulador. As produtividades foram variadas em anos e locais, causadas principalmente pelas inconstâncias pluviomé-

tricas e pela fertilidade do solo, mas em anos cujas precipitações foram normais, o uso do regulador de crescimento reduziu o porte das plantas e melhorou a produtividade. Apesar de esse modelo ter sido eficiente no controle da altura das plantas, não levou em consideração as diferenças varietais nem das temperaturas, pois de acordo com Reddy (1994) as fases fenológicas podem ser antecipadas com o aumento da temperatura média diária.

Sendo assim, este trabalho foi desenvol-vido na Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, campus de Botucatu, São Paulo, com o objetivo de estimar as doses de cloreto de mepiquat a serem aplicadas em diferentes condições ambientais de crescimento.

A estimativa das doses a serem aplicadas foi realizada levando-se em consideração o crescimento diário para obtenção do número de nós requeridos pela planta de algodão para que possa expressar uma boa produtividade. Considerou-se que seriam requeridos 25 nós para que a planta de algodão possa ter sua produtividade otimizada, sendo que cinco são nós vegetativos, cinco são nós no ponteiro, que não refletem em produtividade, e 15, o número de nós em que a planta produzirá, totalizando assim os 25 nós (Rosolem, 2001). Sendo a altura máxima desejável de 1,25m para propiciar eficiente colheita mecânica e econômica, a distância média entre os nós seria de 5cm. Considerando que a cada três dias em média ocorre o surgimento de um nó (Ritchie et al, 2007), seria necessário que a planta crescesse 5cm (125cm/25 nós), que corresponde à distância média entre os nós, ou seja, aproximadamente 1,6cm por dia (5cm/3). Com base nestas informações foi realizado um cálculo da dose de regulador a ser aplicada nas plantas de algodão para que obtivessem crescimento de 1,5cm por dia.

Todos os cálculos consideraram o acúmulo

Evitar a baixa fixação e o abortamento de botões florais é um dos desafios dos produtores

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dades de calor em plantas, que tiveram altura final de 1,30m.

Plantas tratadas com CM raramente obtêm produtividades superiores às não tra-tadas (Kerby, 1985), no entanto, em condições muito favoráveis ao crescimento, tais como altas temperaturas, material genético muito vigoroso, solos com alta disponibilidade de nitrogênio, o uso do regulador de crescimento é indispensável para obtenção da máxima colheita econômica, e para que isso ocorra o ideal é que as plantas tenham entre 1,30m e 1,40m por ocasião da colheita.

Reddy et al (1992) destacaram que a maior taxa de elongação do caule e dos ramos frutí-feros do algodoeiro ocorreu a temperaturas de 30/22ºC, portanto, em altas temperaturas há necessidade de um maior rigor no controle da altura das plantas, e isso é possível com o au-mento da dose do regulador de crescimento.

Um modelo para nortear a aplicação de cloreto de mepiquat foi desenvolvido por Reddy (1993) e relacionou fatores como temperatura, altura da planta, espaçamento de cultivo, bem como a concentração de regu-lador no tecido vegetal após a aplicação, com a dose a ser aplicada. A validação do modelo foi realizada em campo, sob diferentes tipos de solos, variedades e épocas de aplicação do regulador. O resultado de 11 observações de campo foi que a diferença entre as produti-vidades observadas das estimadas variou no máximo 10% para mais ou para menos. No entanto, a dose do regulador variou de 0,291L/ha até 0,877L/ha (201%) mostrando que a condição ambiental tem forte influência na definição da dose do regulador a ser aplicada e que nem sempre a maior dose proporcionou mais produtividade.

Em síntese, a elevação da temperatura bem como a escolha de cultivares mais vigo-rosas são fatores que influenciam na eficiência do cloreto de mepiquat. Portanto, devem ser levadas em consideração na tomada de decisão da dose a ser aplicada em cada ambiente de produção.

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de 10 GD por dia, de acordo com a seguinte equação:

Onde T: temperatura máxima diária; t: temperatura mínima diária e 15ºC: tempera-tura base do algodoeiro.

A condição normal de crescimento foi re-presentada por uma variedade de crescimento não muito vigoroso (Delta Opal) e acúmulo de até 10 GD diários. Nessa condição, o crescimento diário seria de 1,5cm. Numa condição mais favorável para o crescimento, com uma variedade mais vigorosa, a planta cresceria mais, requerendo, portanto, maior dose de regulador. Para simular esta situação, foi calculada a dose para crescimento de 1,25cm por dia.

Para simular uma condição muito favorá-vel ao crescimento, temperaturas altas por pelo menos uma semana, umidade satisfatória no solo e variedade muito vigorosa, foi utilizado como indicador, o crescimento de 1,0cm por dia.

Para realização do cálculo da dose a ser aplicada em função do crescimento diário (1,5cm/dia; 1,25cm/dia e 1,00cm/dia) foram consideradas a altura das plantas, a massa de matéria seca obtida em função da altura das plantas e a concentração necessária de pro-duto por grama de matéria seca e por planta. Tal concentração foi obtida considerando a taxa de crescimento das plantas, nas três doses aplicadas de regulador aos 60 GD e a concentração do regulador nas plantas nas três doses aplicadas com base em dados de massa de matéria seca, área foliar e cálculo de retenção de calda nas plantas.

Relacionando-se os resultados de cresci-mento das plantas em função da concentração e a relação entre altura e produção de matéria seca, construiu-se a Tabela 1.

Pelos dados obtidos, observa-se que em uma condição favorável, a necessidade de aplicação de CM é em média 86% a mais do que na condição normal e de 173% numa condição muito favorável de crescimento (am-biente favorável e cultivar vigorosa). Quando não existe diferença entre os ambientes de crescimento, o fator genético tem influência sobre a dose requerida de regulador, sendo

necessária, em média, a adição de 47% a mais quando o algodoeiro for cultivado em um ambiente com temperaturas mais elevadas, pois a sensibilidade das cultivares ao cloreto de mepiquat é diferente, sendo que as cultivares mais tardias e, portanto, mais vigorosas, reque-rem maiores doses de regulador (Bogiani & Rosolem, 2009), uma vez que essas cultivares respondem de forma mais efetiva à aplicação do regulador de crescimento (Bader & Niles, 1986). A temperatura é o efeito ambiental que mais interfere no crescimento e desenvolvi-mento do algodoeiro, e a interação temperatu-ra x regulador de crescimento foi estudada por Souza et al (2007), que observaram melhores respostas das doses de cloreto de mepiquat sob os parâmetros fisiológicos e de crescimento fo-ram sob o regime de temperatura de 32/22ºC, sendo que as temperaturas extremas (25/15ºC e 39/29ºC) levaram a uma perda na eficácia do cloreto de mepiquat, e nessa situação nem mesmo o aumento da dose de CM foi eficiente no controle do crescimento das plantas.

Conforme foi demostrado por Cathey & Meredith a interação temperatura com reguladores de crescimento se dá pela escolha da época da semeadura (1988), pois plantas tratadas com cloreto de mepiquat obtiveram menores alturas de 9%, 17% e 20% do que plantas não tratadas, quando semeadas em meados de abril (cedo), início de maio (ideal) e meados de maio (tardia), respectivamente. Os autores concluíram que o melhor efeito do regulador de crescimento foi obtido em semeaduras em épocas ideais ou tardias, uma vez que o crescimento vegetativo foi melhorado.

O crescimento do algodoeiro sob diferen-tes temperaturas, representado no presente trabalho como condição favorável ou muito favorável (Tabela 1), foi estudado por Hodges et al (1991). Os autores observaram que a elongação do caule do algodoeiro não tratado com cloreto de mepiquat foi maior que em plantas tratadas sob temperaturas da ordem de 30/20ºC, porém sob temperaturas de 25/15ºC não houve efeito do tratamento com cloreto de mepiquat, concluindo-se que a necessidade de aplicação de cloreto de mepiquat é maior sob regimes de temperaturas mais altas. Porém, os autores observaram que a taxa de emissão diária de nós foi maior em temperaturas de 30/20ºC do que 25/15ºC. Apesar de ter havido pouco efeito da aplicação de cloreto de mepiquat sobre o número de nós emitidos por dia, este foi mais pronunciado em plantas não tratadas.

Kerby (1985) observou que a resposta da aplicação do cloreto de mepiquat sobre a produtividade foi significativamente correla-cionada com as unidades de calor acumuladas, sendo que as maiores produtividades foram obtidas quando acumuladas menores quanti-

tabela 1 - cálculo da dose de regulador à base de cloreto de mepiquat (PiX) a ser aplicada em função do crescimento diário das plantas de algodão, tendo como base a altura inicial

Normal

816243341

Favorável

1530456076

altura--- cm ---

60 70 80 90 100

--- g ha-1 ---Muito favorável

22 44 66 89 111

Condição de crescimento

Fábio Rafael Echer,Ciro Antonio Rosolem e Rafael Werle,Universidade Estadual Paulista

CC

Cul

tiva

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É preciso lançar mão de reguladores de crescimento para controlar o excesso de desenvolvimento vegetativo

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38 Outubro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Milho

Opção corretaNa escolha do genótipo de milho a ser cultivado, seja para a produção de grãos ou silagem,

produtores precisam levar em consideração diversos aspectos, como as características do material selecionado, as condições climáticas da região de plantio, bem como as práticas culturais e de

manejo necessárias para garantir melhor desempenho. Com planejamento, condução da cultura e adequação da tecnologia ao sistema produtivo é possível melhorar o rendimento da lavoura

Atualmente existe grande oferta de híbridos de milho no mercado destinados à produção de grãos, si-

lagem ou dupla aptidão. Segundo a Embrapa, para a safra 2009/2010 foram oferecidas 325 cultivares convencionais e 104 transgênicas. Dentre os fatores positivos da diversidade de genótipos está o poder de escolha do produtor, podendo assim adaptá-lo aos sistemas pro-dutivos. Em contrapartida, existem lacunas no conhecimento por parte de técnicos e agricultores, que muitas vezes não permitem a maximização das produções em função das escolhas equivocadas dos genótipos para cada sistema produtivo, dentre outros. Uma característica importante a respeito da oferta dos genótipos de milho no mercado reside no fato de que a taxa de substituição é elevada, proporcionada pela eficiência nos programas de melhoramento genético da cultura do mi-lho. Isso não permite que o agricultor consiga repetir os mesmos genótipos por um longo período ou até mesmo identificar um que seja mais adaptado para determinada região.

O milho é uma cultura com elevada capacidade de produção de matéria seca total (folhas + colmo + espigas + raízes). No caso de produção de grãos, alguns estudos indicam que os recordes registrados foram de

31,4 t/ha na região do “Corn Belt” America-no. No Brasil, os recordes produtivos foram de 16,8 t/ha em Minas Gerais (Coelho et al, 2004). Dessa forma, o objetivo desse artigo é apresentar e discutir algumas questões rela-cionadas com a escolha de genótipos de milho para os diversos sistemas produtivos, com o objetivo de maximizar a produtividade.

caRacteRização e Bases tecNolÓGicasA cultura do milho possui três ciclos

definidos em função da soma térmica até atingir o pendoamento-espigamento. Segun-do alguns autores como Fancelli & Dourado Neto (2004), os genótipos que apresentam exigências térmicas menores que 830ºC são classificados como superprecoces, 831ºC a 890 ºC como precoces e de 891ºC a 1.200 ºC como de ciclo normal ou tardio.

A escolha do ciclo da cultura do milho é importante, pois semeaduras em épocas precoces, em locais com as quatros estações bem definidas e com início da primavera com temperaturas diurnas amenas, deve-se optar por genótipos que tenham ciclo mais curto, pois assim a planta irá possuir um ciclo mais longo que o habitual, isso ocorre pela diferença entre a temperatura média diária

e a temperatura base da cultura (média de 10ºC), o que resultará em poucos graus/dias acumulados para o florescimento. Se a escolha for por genótipos com ciclo normal (ciclo lon-go), irão possuir um período vegetativo além da sua própria média, pois necessitarão mais dias para completar o ciclo vegetativo até o florescimento. Geralmente, os sistemas pro-dutivos que optam pela produção de milho na segunda safra (safrinha) objetivando silagem possuem um período de semeadura bastante restrito. Se por um lado o vazio forrageiro pode afetar os animais pela baixa oferta e qualidade das forrageiras que estão no final do ciclo, por outro pode haver problemas em relação a geadas precoces que tendem a comprometer a produção e a qualidade forrageira. Dessa forma, o mais indicado é verificar o zonemanto climático para a cultura do milho, bem como ter conhecimento das médias climáticas de temperatura e associar isso aos ciclos dos genótipos disponíveis no mercado. Só então, de posse dessas informações, é que é recomen-dado escolher o genótipo a ser adquirido.

A rotação de culturas depende da ca-pacidade técnica de cada propriedade, pois é preciso gerenciar e planejar as áreas e a instalação das diferentes culturas no tempo

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e no espaço. Dessa forma, é necessário oti-mizar o uso de máquinas, principalmente de tratores, semeadoras e ensiladeiras, uma vez que existem períodos críticos em que há so-brecarga de trabalho para esses equipamentos, pela alta demanda. Muitas vezes é adequado planejar o empréstimo ou ainda a terceirização dos serviços para assim conseguir realizar as práticas culturais em tempo hábil. Em peque-nas propriedades, a terceirização de serviços de ensilagem é bastante corriqueira, mas o produtor rural deve ter garantias de que a silagem seja realizada no estádio fenológico do milho mais adequado, permitindo assim uma qualidade mais adequada para a sua silagem. Essas propriedades ainda possuem um agra-vante, como as áreas de cultivo são limitadas, frequentemente a recomendação de rotação cultural não é seguida a rigor, o que põe em risco o sistema produtivo, pela degradação do solo. Dessa forma, outras técnicas deverão ser adotadas para minimizar os prejuízos produ-tivos e evitar o declínio da fertilidade do solo. As grandes propriedades, geralmente com melhores condições tecnológicas (assistência técnica e maquinários), devem estar sempre atualizadas tecnicamente e manter as máqui-nas em condições para realizar a colheita, a ensilagem e a semeadura do milho.

Bases GeNétiCasOs programas de melhoramento gené-

tico da cultura do milho são realizados por empresas públicas e privadas, apresentando variações no decorrer dos anos. As principais bases genéticas disponíveis no mercado são os híbridos simples (cruzamento de duas linhagens endogâmicas), híbridos triplos (um híbrido simples x linhagem endogâmica), híbrido duplo (dois híbridos simples) e as variedades de polinização aberta (cruzamento de vários genótipos). A distribuição dos genó-tipos de milho quanto às bases genéticas em sete anos de avalição (safra 95/96 – 01/02), segundo a Associação Paulista de Produção

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de Sementes (APPS, 005/1999 e 004/2000, dados compilados por Martin et al, 2007) indica que, na média, o percentual utilizado de híbridos simples foi de 24,48%, híbridos triplos de 26,45%, híbridos duplos de 40,59% e variedades de polinização aberta de 8,47%. Com o passar dos anos, houve alteração na dinâmica das bases genéticas oferecidas no mercado. Atualmente, safra 2010/2011, para o ensaio centro superprecoce (organizado pela Embrapa Milho e Sorgo) foram ofertados 32 genótipos, dos quais 19 (59,38%) são híbridos simples, sete (21,87%) são híbridos triplos, um (3,12%) é híbrido duplo, dois (6,25%) são híbridos intervarietais e três (9,37%) são variedades cultivadas. Com isso, verifica-se que as empresas produtoras de sementes estão oferecendo e comercializando genótipos mais específicos (híbridos simples), destinados a manejos de alta tecnologia.

Essa alteração na dinâmica dos programas de melhoramento deve-se à própria evolução dos programas, que ampliam suas bases de pesquisas, bem como a relação produtor e empresa, buscando genótipos mais adapta-dos a regiões e a condições específicas. Nesse sentido, os híbridos simples são os genótipos que respondem melhor quando cultivados sob condições ideais de solo, irrigação, con-

trole de pragas, doenças e plantas daninhas. Ou seja, para os híbridos simples o ideal é que condições de estresses ambientais sejam minimizadas para que a produtividade seja máxima. Em linhas gerais, os híbridos triplos são menos exigentes em condições ambientais em relação aos simples e mais exigentes que os híbridos duplos, e assim sucessivamente até variedades cultivadas, menos exigentes.

Ao considerar-se o manejo tecnológico de cada propriedade, deve-se observar se o local possui manejo de irrigação, se a adubação é baseada em laudos de análise do solo e na expectativa de rendimento e se o controle de pragas, doenças e plantas daninhas é realizado com o objetivo de maximizar o potencial produtivo dos genótipos. Nesse caso específico, os genótipos mais adaptados são os híbridos simples e triplos, com maiores potenciais de produtividade. Porém, quando o nível tecnológico empregado na lavoura é baixo, sem irrigação, manejo de adubação inadequado, ineficiente controle de pragas, doenças e plantas daninhas, então as bases genéticas mais adaptadas são os híbridos duplos e as variedades cultivadas. Há, ainda, casos de produção com muitas dificuldades de máquinas e implementos agrícolas, em que o manejo é dificultado, além da utilização da produção na própria propriedade, bem como como o recurso financeiro diponível para investimento ser muito baixo. Nesse tipo de situação, as variedades de polinização aberta são as mais indicadas.

O custo de aquisição das sementes pode variar de menos de 5% até mais de 30% do custo total de produção, em alguns casos. Dessa forma, o produtor rural deve optar por adequar o uso do genótipo com as suas condições de produção e expectativas de rendimento. De nada adianta utilizar um hí-brido com potencial elevadíssimo se as outras condições não acompanharem todo o sistema

Para maximizar a produtividade, é preciso escolher cultivares adequadas às condições da região de plantio

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Com a maior popularização e utilização dos híbridos simples e triplos, houve uma ten-dência de que as plantas de milho tivessem o porte reduzido. Com o menor porte houve a possibilidade de ampliação do número de plantas por hectare, onde a produção por planta (espiga) pode ser menor em relação às plantas maiores, porém, o ganho é por unidade de área e pelo maior número de plantas por hectare.

Ao considerar-se, por exemplo, uma única planta, uma produção boa dessa planta seria de 168 gramas. A medida que aumenta-se o número de plantas por hectare, haverá um aumento linear da produtividade por planta (Figura 1). Até se atingir o “ponto crítico”, onde aumen-tando a densidade de plantas a produção não aumenta mais linearmente, existindo uma defasagem, dada pela competição entre plantas, mas mesmo assim existe o aumento da produtividade até a máxima eficiência técnica (para o exemplo da Figura 1, 8.610kg/ha com densidade de 70.000 plantas por hectare). A partir dessa densi-dade, que irá variar de acordo com o nível tecnológico e o manejo aplicado, existirá uma redução da produtividade aumentando a densidade de semeadura, pois a competi-ção ficará cada vez mais intensa.

A elevação do “ponto crítico” onde inicia-se a competição entre plantas, pode ser realizada ao proporcionar à planta um ambiente mais confortável e equilibrado para a sua produção. Isso é conseguido por meio da semeadura em época adequada para cada região, obedecendo-se o zone-amento agroclimatológico e as exigências do genótipo; controle de pragas, doenças e plantas daninhas que possam debilitar o crescimento e desenvolvimento das

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produtivo. Nesse caso, a produção de milho irá ficar limitada pela condição de menor oferta no manejo.

tiPo de GRãoOs genótipos de milho estão divididos em

três tipos distintos quanto à textura do grão: dura, semidura e dentada (mole). Sua diferen-ciação se dá pelo arranjamento do amido no interior do endosperma. Grãos de textura dura são provenientes do denso arranjo dos grãos de amido com a proteína, sendo que possuem menor quantidade de endosperma amiláceo e a parte dura ou cristalina é predominante e envolve por completo o amido amiláceo. Os grãos de textura mole ou dentada apresentam grãos de amido densamente arranjados nas laterais dos grãos de maneira a formar um cilindro aberto que envolve parcialmente o embrião na parte central do grão. E os de textura semidura e/ou semidentada estão em condições intermediárias, entre os de textura dura e dentada.

Para a produção de grãos, genótipos que possuem a textura dura são mais indicados pela armazenagem ser facilitadada, com menores problemas com pragas de armazena-mento, pela dificuldade que o pericarpo duro impõe aos insetos (na maioria) em penetrar no grão e assim causar menos perdas. Além disso, a taxa de germinação é superior, pois o embrião possui uma melhor proteção ao am-biente externo, acarretando assim maior valor na comercialização. Contudo, nos sistemas produtivos que têm por objetivo o consumo in natura os genótipos de milho com grãos dentados são mais recomendados (Embrapa, 2010; Cruz et al, 2002). Isso se deve ao fato de os grãos serem mais facilmente digeridos pelos animais, tanto na silagem como no consumo direto, sendo mais facilmente

degradados pelas bactérias do rumem, faci-litando a digestão.

Desta forma, os sistemas produtivos que têm por objetivo a produção animal, devem optar por utilizar genótipos de milho com textura dentada, pois além dos aspectos técnicos da produção (maior janela de corte, digestibilidade e aproveitamento da silagem), estes genótipos tendem a possuir um valor de mercado menor que os de textura dura, o que faz com que o custo de produção da silagem seja menor. Já para a produção de grãos, em que existe a necessidade da rápida colheita, transporte e boa armazenagem, os genótipos de textura dura são os mais indicados. No entanto, uma prática corriqueira é a implantação da lavoura de milho sem que haja a definição antecipada da finalidade da lavoura. Isso prejudica todos os aspectos de manejo da produção. O conceito de que se a lavoura está em níveis adequados deve-se produzir grãos, caso contrário produz-se silagem, não condiz com o profissionalismo que a atividade agrícola exige.

arquitetura de PlaNta XdeNsidade de seMeaduraA arquitetura da planta está intima-

mente relacionada com a densidade de semeadura, tanto a arquitetura da parte aérea quanto das raízes. Entre as décadas de 1980 e 1990, predominavam as variedades de polinização aberta e os híbridos duplos. Isso foi motivado pelo início dos programas de melhoramento genético da cultura e também pelo custo quase proibitivo dos híbridos triplo e simples. Com isso, as plantas com essa configuração genética, na maioria de ciclo longo, eram plantas com maior estatura e folhas mais horizontais.

Figura 1 - Variação teórica da produção por unidade de planta (g pl-1) e por unidade de área (kg ha-1) em função da população (dourado Neto et al., 2001)

Além do nível tecnológico, técnicas de manejo têm papel importante no aumento da produtividade

Thomas Newton Martin

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plantas; realização da adubação adequada e equilibrada; utilização de sementes com qualidade (genética, fisiológica, física e sanitária), distribuição espacial das plantas e a utilização de irrigação. Essas práticas fa-zem com que o ponto de máxima eficiência técnica seja obtido a partir de uma maior densidade de semeadura.

aduBação de Base e coBeRtuRa x NíVel tecNolÓGicoQuando comparamos a produção de

grãos do milho com a de silagem, esta última resulta na exportação de maior quantidade de nutrientes do solo, pois além da retirada dos grãos, a parte vegetativa também é removida. Assim, problemas de fertilidade do solo se manifestarão mais cedo na pro-dução de silagem do que na produção de grãos, principalmente quando essa silagem for obtida de uma mesma área por anos consecutivos e não se adotar um sistema de manejo de solo e adubações adequadas.

Embora seja importante que todos os nutrientes extraídos sejam repostos ao solo, o elemento que mais limita a pro-dução e a qualidade da silagem de milho é o nitrogênio (N), pois este nutriente é facilmente lixiviado no solo, não ficando efeito residual para a safra seguinte. De acordo com o nível de tecnologia adotado pelo produtor, doses maiores ou menores

poderão ser adotadas, tanto para produção de grãos como para silagem. Se o produtor faz um acompanhamento da fertilidade do solo, através de análises rotineiras de solo e/ou de planta, pelo menos de dois em dois anos, e faz a correção e a adubação conforme as recomendações técnicas, o uso de doses mais elevadas de N poderia ser empregado (de até 200kg/ha ou mais), buscando maior produtividade e melhor retorno do investi-mento. Já no caso de o produtor ter pouco controle sobre os aspectos de fertilidade do solo, menores doses seriam recomendadas, pois o risco é maior em relação ao retorno esperado.

Em relação a épocas de aplicação de N para o milho, o ideal é uma dose em seme-adura, que poderá ser de até 40kg/ha (não usar doses maiores devido ao risco de perda por excesso de chuvas após a semeadura) e o restante em cobertura, podendo ser em

uma, duas ou até três aplicações, conforme a dose recomendada e o nível tecnológico do produtor. Agricultores que têm maquinário adequado disponível podem parcelar em mais vezes. Quanto a doses a serem aplica-das, para silagem a quantidade de N deverá ser maior que para grãos, para compensar a exportação na parte vegetativa da planta, pois aproximadamente 70% é translocado para o grão e os outros 30% do N ficam na parte vegetativa. Então, como valor médio, deve ser acrescido pelo menos 30% na dose recomendada para a produção de grãos, para compensar a maior exportação na silagem. Lembrando sempre que é essencial se fazer rotação de culturas, tanto para produção de grãos como silagem.

coNsideRações FiNaisIndependentemente do nível tecnoló-

gico empregado pelos produtores de milho (grão ou silagem) é possível a melhoria da produtividade com o uso de técnicas de manejo, planejamento, condução da cul-tura e adequação da tecnologia ao sistema produtivo.

Menezes, Pavinato e Martin destacam a importância de adequar a tecnologia ao sistema produtivo

Thomas Newton Martin, UFSMPaulo Sergio Pavinato e Luis Fernando G. de Menezes,Univ. Tecn. Federal do Paraná

CC

Fotos Divulgação

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42 Outubro 2011 • www.revistacultivar.com.br

mais favorável, e o manejo da cultura desde o plantio até a colheita é específico e merece atenção.

Outro tema que ganhou destaque nas palestras e também entre os expositores foi a consolidação da biotecnologia na cultura. Variedades tolerantes a herbicidas e que resistem a pragas como lagarta-da-maçã, lagarta rosada e curuquerê são oferecidas em diversas opções de cultivares com ape-nas uma das tecnologias ou ambas numa mesma semente. Estas tecnologias, além de possibilitarem uma economia com a redu-ção de doses de defensivos, conferem maior qualidade final à fibra, em consequência ao menor estrago ocasionado pelas pragas. No cultivo convencional, as pragas conseguem causar um estrago nas plantas até serem detectadas e o controle com inseticida seja realizado, problema que não ocorre com a cultivar transgênica, já que os insetos interrompem a ingestão após os primeiros contatos com a cultura.

O produtor Walter Horita compara os benefícios que as cultivares transgênicas de milho proporcionaram à cultura, para exem-plificar o que significa a entrada da biotecnolo-gia no algodão. “A média de produtividade com cultivares convencionais de milho em lavouras da Bahia era de aproximadamente 140 sacas/hectare. Com a entrada das cultivares transgê-nicas resistentes a insetos, chegamos próximos a 200 sacas/hectare”, explica. É um acréscimo na ordem de 30% na produtividade, sem contar a redução dos custos com aplicações de defensivos.

Outros temas como pegajosidade do algodão, problemas e resultados da safra 2010/2011 e resistência múltipla a doenças também foram discutidos durante os quatro dias do evento.

Eventos

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Futuro do algodão

O 8º Congresso Brasileiro do Al-godão, realizado de 19 a 22 de setembro no Expo Center Norte,

em São Paulo, foi a maior edição realizada até o momento. Com mais de 1.800 participantes, o evento discutiu durante quatro dias o futuro do setor algodoeiro, os desafios enfrentados pe-los produtores no cultivo e as novas tecnologias disponíveis no mercado. O tema desta edição foi Evolução da cadeia para construção de um setor forte e contou com 85 palestrantes, que falaram para um público formado por espe-cialistas, pesquisadores, políticos, empresários do agronegócio, presidentes de multinacionais e comitivas internacionais.

Realizada em paralelo ao congresso, a Cotton Expo 2011, que está na sua quinta edi-ção, teve a participação de 22 expositores dos setores de agroquímicos, máquinas agrícolas e máquinas para beneficiamento do algodão.

“Com certeza este debate contribuiu não só para o algodão, mas também foi um mo-

mento importante para discutir informação de interesse do agronegócio brasileiro, como sustentabilidade, questões macroeconômicas do algodão, a commodity brasileira no cená-rio internacional, entre outros assuntos que estarão em pauta no próximo ano nas notícias agrícolas e econômicas”, garantiu Ronaldo Spirlandelli, presidente da Associação Paulista dos Produtores de Algodão e presidente do 8° Congresso Brasileiro do Algodão & Cotton Expo 2011.

O manejo de pragas, doenças e invasoras sempre é assunto que pauta grande parte das palestras em todas as edições do congresso. Neste ano não foi diferente. O controle do bicudo e outras pragas, além das principais doenças que atingem as plantações de al-godão adensado, predominaram os debates no segundo dia do evento. Com a chegada de máquinas específicas para colher algodão adensado, a cultura ganhou espaço principal-mente na região do Cerrado, que tem clima

Pesquisadores, empresários e produtores debatem os desafios da produção e comercialização do algodão para os próximos anos, durante o 8º Congresso Brasileiro do Algodão

Mais de 20 expositores mostraram as novidades do mercado para a cultura do algodão

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nas manifestações por parte dos integrantes do setor, sugeriu o ex-ministro da Agricul-tura Roberto Rodrigues, em sua palestra. “O entrave está na falta de liderança, o que não ocorre apenas no Brasil, mas em todo o mundo. O governo, na realidade, não sabe como deve se comportar", finaliza.

Para o ex-secretário da Agricultura de São Paulo, João Sampaio, o governo não adota uma política adequada porque ele está condicionado ao interesse dos eleito-res, que, por sua vez, não estão conscientes da importância do setor agrícola. Yoshiaki Nakano, diretor da FGV, se mostrou, no entanto, otimista. Para ele, a nova classe média é conservadora e deverá cobrar do governo uma atitude mais ativa em favor do agronegócio.

Outro desafio, debatido por especialistas em marketing, consultores e representantes do setor produtivo, é criar uma aproximação maior do agronegócio com a sociedade brasi-leira. Campanhas já estão sendo trabalhadas com o objetivo de mudar a imagem negativa que parte da população urbana tem do setor agrícola.

O congresso foi encerrado com homena-gens a personalidades que contribuem com o agronegócio brasileiro.

Eventos

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Um olhar sobre o agronegócioA Associação Brasileira do Agro-

negócio (Abag) realizou no mês de agosto o 10º Congresso Bra-

sileiro de Agronegócio (CBA), que este ano debateu as mudanças e os paradigmas do agronegócio brasileiro. O evento seguiu a mesma linha de raciocínio desenvolvida nos últimos CBAs e contou com a participação de técnicos, analistas e alguns de seus repre-sentantes mais significativos e atuantes.

O presidente da Abag, Carlo Lovatelli, alertou em sua palestra de abertura que até o final de outubro deste ano o mundo terá sete bilhões de habitantes e que o Brasil tem grande responsabilidade na alimentação desse enorme contingente humano. Isso ocorre ao mesmo tempo em que Estados Unidos e Europa emitem sinais de desarrumação e de insolvência em suas economias. "O olhos do mundo estão voltados para o Brasil", declarou. Para ele, o desenvolvimento do agronegócio depende de políticas públicas adequadas e de investimentos pesados.

Os debates posteriores se acercaram em torno de dois pilares principais, que abor-daram os desafios da produção de energia e alimentos baratos, e a relação estabelecida pelo agronegócio com o Estado e com a

sociedade.O paradigma do alimento barato foi

abordado pelo economista José Roberto Mendonça de Barros, consultor da MB Associados. Ele entende que os preços dos alimentos ainda não explodiram, mas a tendência é de alta no futuro por diferentes razões: aumento da demanda mundial, especialmente por causa do crescimento da população urbana, do aumento da renda e de mudanças nos padrões alimentares; volatilidade nos preços das commodities, demanda por água e energia e, no caso do Brasil, valorização do real frente ao dólar, tributação elevada e gargalos em infraestru-tura e logística para escoar a produção. "A demanda é crescente e continuará a pressio-nar o mercado, mas, por enquanto, os preços devem ficar estáveis", acrescentou. Ele ainda acredita que o agronegócio brasileiro é um caso de sucesso, mas os problemas não são triviais. "Temos que reduzir a dependência da China, avançar nos biocombustíveis de segunda geração e na bioquímica e resolver de forma rápida questões de regulamenta-ção, compra de terras e política ambiental", destaca.

A difícil relação entre o agronegócio e o governo exige estratégia que inclui a clareza

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44 Outubro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Coluna ANPII

Potenciais e desafios

O solo é um verdadeiro labora-tório químico, bioquímico e biológico. Permanentemente

ocorrem reações de diversas naturezas, que modificam os compostos, as estruturas e dão dinâmica a toda uma série de eventos. É esta dinâmica que nos leva a entender o solo como um organismo vivo, mutante, constantemente em transformação, o que pode favorecer ou prejudicar as culturas que nele são plantadas.

Em algumas ocasiões o solo passou a ser considerado como um mero suporte para as raízes e para água e a expressão “fazer o solo” significava simplesmente colocar os fertilizantes químicos nas proporções indi-

gramíneas, utilizando-se paralelamente o poder que as bactérias têm de favorecer o crescimento das plantas. Solubilizadores de fósforo e micorrizas também apresentam um futuro promissor, abrindo horizontes para novas aplicações de microrganismos na agricultura.

No que se refere ao controle de pragas, algo semelhante também ocorre: durante um tempo pensou-se que os produtos quí-micos poderiam até mesmo exterminar as pragas e doenças, mas atualmente se percebe que isto não ocorre, pois os organismos cau-sadores de danos desenvolveram resistência e novos e mais potentes defensivos são demandados. Já se desenvolvem produtos

Solon de AraujoConsultor da ANPII

Mas além da mudança na forma de estudar, também há a necessidade deinvestir muito, tarefa que cabe à pesquisa oficial e às indústrias do ramo

biológicos passem a ser considerados como produtos de “primeira opção” e não como “alternativos”. Entre estas mudanças está a forma como se estuda os microrganismos na agricultura. Fruto de nossa formação cartesiana, separando tudo em partes, temos o hábito de dividir os microrganismos em categorias: fixadores de N, promotores de crescimento, controle biológico etc. Ocorre que nos esquecemos de comunicar isto aos microrganismos e eles trabalham de forma mais ampla, com um mesmo organismo fazendo várias funções: um fixador de N pode ter ação também no crescimento da planta pela produção de hormônios e ou pela solubilização de fósforo e pode agir

Além do aporte nutricional, o emprego de produtos à base de microrganismos ganha força no controle de pragas e doenças. Mas para que se transformem em “primeira

opção” e não permaneçam estagnados como meramente “alternativos”, muitas etapas ainda precisam ser vencidas

cadas pela análise. Mas, com o tempo, este entendimento passou a ser insuficiente.

A necessidade de melhorar o nível de matéria orgânica, de usar microrganismos que otimizem a estrutura e a dinâmica do solo, enfim, compreendê-lo como um conjunto de organismos vivos passou a ser fundamental. A fixação biológica do nitrogênio (FBN) vem sendo utilizada em larga escala, apontando para um caminho onde o uso de produtos biológicos pode incrementar a produtividade das culturas e, ao mesmo tempo, preservar o ambiente, enriquecendo a fertilidade do solo de uma forma constante, melhorando-o dia a dia.

Hoje, além das leguminosas, já se usa com sucesso a FBN em culturas de

à base de microrganismos que ajudam a controlar eficientemente pragas e doenças, diminuindo a necessidade de defensivos químicos.

Desta forma, abre-se um horizonte cada vez mais amplo para o uso de microrganis-mos nos processos da grande agricultura. Embora não se vislumbre em curto prazo uma substituição total de fertilizantes e defensivos químicos pelos biológicos, há a certeza de que a utilização técnica de ambos permitirá uma agricultura mais eficaz, com reflexos no aumento da produtividade das culturas, orgânicas ou convencionais, e em uma maior proteção ao ambiente.

Entretanto, algumas mudanças de en-foque são necessárias para que os produtos

como antagônico a algum patógeno. Mas além da mudança na forma de es-

tudar, também há a necessidade de investir muito, tarefa que cabe à pesquisa oficial e às indústrias do ramo, que devem desen-volver produtos com muito estudo, teórico e prático, que incluam testes de eficiência agronômica para oferecer ao agricultor não somente um produto, mas toda uma tecno-logia, com informações sobre as condições de uso, o que esperar dele, bem como as limitações existentes. Somente com isto o produtor passará a confiar plenamente nos produtos biológicos.

As empresas da ANPII já desenvolvem produtos biológicos para uso no agronegó-cio, em seus departamentos de P&D e em convênios com universidades. Com toda a certeza, dentro dos próximos anos o mer-cado poderá contar com todo um arsenal de biológicos para uso em diversos tipos de culturas, com evidentes benefícios para o agricultor e para o país. CC

Figura 1 - como estudamos Figura 2 - como os microrganismos se comportam

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Coluna Agronegócios

45www.revistacultivar.com.br • Outubro 2011

Mudanças climáticas e produtividade

Uma das questões que ator-mentam grupos científicos ao redor do mundo é a

extensão do impacto das mudanças climáticas globais, mormente secas intensas, na produtividade líquida de explorações agrícolas e florestais. Por ser um fenômeno ainda recente, a polêmica e a diversidade de opiniões permeiam as discussões científicas, que estão longe de encontrar um ponto de consenso. Recentemente, as páginas da revista Science serviram de foro para discutir este tema, envolvendo três equipes de cientistas que se debruçaram sobre o assunto, com opiniões diferentes.

O primeiro artigo, publicado por Maosheng Zhao and Steven W. Running (Science 329:940-943, 2010), aponta

de 0,55 pentagrama de carbono (550 milhões de toneladas). Secas em larga escala, circunscritas regionalmente, provocaram a redução da NPP, conjun-tamente com a tendência de clima mais seco no Hemisfério Sul, contrastando com o aumento da NPP no Hemisfério Norte. Uma eventual queda contínua na NPP reduz a fixação de carbono pelas plantas, podendo conduzir à redução na produtividade dos cultivos e intensi-ficar a competição entre a produção de alimentos, de biocombustíveis e outros produtos agrícolas não alimentares.

réPliCaNa edição de 26/8/11 da Science

foram publicadas contestações ao artigo de Maosheng Zhao e a sua resposta.

ências lógicas destas suposições.

tréPliCaN a m e s m a e d i ç ã o ( S c i e n c e

333:1093-e, 2011) o grupo de Zhao rebate as críticas, reportando que novos testes com o modelo Modis mostraram que outros índices de vegetação tinham variações negativas ainda mais fortes que a NPP, ao longo da década. Mesmo ajus-tando o modelo, com redução dos efeitos da temperatura, do estresse hídrico e da respiração (pontos metodológicos mais contestados por Samanta e Medley), não foi possível obter uma tendência positiva na NPP, reforçando a conclusão de que as secas induziram a diminuição da NPP global, ao longo da última década.

Independentemente da sofisticada

Décio Luiz GazzoniO autor é Engenheiro Agrônomo,

pesquisador da Embrapa Soja

Áreas altamente produtivas poderão ter seu potencialameaçado por déficit hídrico ou por excesso de água

declínio na capacidade das florestas de capturar carbono, atribuindo o fenômeno ao aumento no número e na intensidade das secas na década passada. Os autores utilizaram um modelo de computador baseado no algoritmo Modis NPP, sendo NPP a sigla em inglês para produção pri-mária líquida. Os pesquisadores investi-gavam se a tendência da década anterior (clima mais quente, produtividade mais alta) era o fator climático diretriz ou se outro fenômeno poderia interferir de forma mais decisiva na NPP.

De acordo com estes autores, a NPP é uma boa medida para quantificar a quantidade de carbono atmosférico fixado pelas plantas e acumulado como biomassa. Estudos anteriores mostra-ram que o aumento da temperatura e da radiação solar estabeleceu uma ten-dência ascendente na NPP entre 1982 a 1999. A última década (2000-2009) foi a mais quente desde o início dos registros climáticos sistemáticos, o que deveria implicar na continuidade dos aumentos na NPP global. No entanto, as estimativas fornecidas pelo modelo apontaram uma redução da NPP global

Um grupo de cientistas liderados por Arindam Samanta, e que contou com a colaboração de professores da UFV e da Unicamp, contestou os resulta-dos encontrados por Zhao (Science 333:1093-c, 2011). Os autores argumen-tam que as tendências encontradas são de baixa magnitude, e que os padrões regionais e as variações interanuais des-critas são vieses do modelo de Modis, utilizado por Zhao. De acordo com o grupo de Samanta, imagens de satélite não mostram alterações estatisticamente significativas em mais de 85% da área coberta com vegetação ao sul de 70° N, durante o período 2000-2009.

Igualmente, Belinda E. Medlyn (Science 333:1093-d, 2011) contesta a metodologia utilizada por Zhao, afir-mando que os resultados não são fruto de medições diretas, porém baseados em resultados de um modelo matemático, que considera uma forte dependência da NPP em relação à temperatura. Como tal, Medlyn afirma que, ao examinar os pressupostos subjacentes aos resultados, é possível demonstrar que suas descober-tas podem ser explicadas como consequ-

digressão teórica dos cientistas envolvi-dos, nossa visão é de que, empiricamente, as mudanças climáticas globais em curso nas últimas décadas reconfigurarão a geografia da agropecuária global. Áreas altamente produtivas poderão ter seu potencial ameaçado por déficit hídrico ou por excesso de água. Por outro lado, áreas com restrições térmicas ou hídricas poderão ser incorporadas à produção agrícola, pela adequação destes parâme-tros às exigências das culturas.

Do ponto de vista prático, percebe-se a importância do arsenal tecnológico para enfrentar este novo desafio. O zoneamento agrícola permanentemente atualizado, o uso de técnicas sustentá-veis de manejo de solo e de cultivos e, especialmente, a utilização de cultivares e variedades tolerantes à seca são as principais ferramentas de que disporá o produtor rural para enfrentar um proble-ma que já o afeta e cuja tendência é de que seja ainda mais intenso, no futuro próximo. CC

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Coluna Mercado Agrícola

consumo mundial de alimentos aquecido garante boas cotações aos produtores

TRIGO - O mercado do trigo está em fase de colheita no Paraná e de de-senvolvimento das lavouras no Rio Grande do Sul, com indicativos de boas condições de umidade e reclamações localizadas dos produtores do oeste e norte do Paraná, que registraram perdas com as geadas. As cotações têm permanecido estabilizadas e os negócios seguem “das mãos para boca dos moinhos”. Com esse cenário os triticultores reclamam por apoio do governo via contratos de Opções ou alternativas para poder segurar os estoques ou até mesmo fazer AGFs. O produto importado não chega barato, mas os moinhos continuam apostando nessa opção, que lhes traz prazos longos para pagar. A valorização do dólar, nas últimas semanas, poderá reverter o quadro e trazer os compradores para o trigo nacional. O importado ficará mais caro, de outubro em diante.

algodão - O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou seu quadro mundial para o algodão neste mês, apontando para leve queda nos estoques iniciais e também redução nos finais. A produção mundial deve se manter ao redor dos 122,9 milhões de fardos, enquanto o consumo está estimado em 115,2 milhões de fardos. O quadro de queda no ritmo econômico mundial tem feito o setor crescer menos do que os produtores esperavam. Mesmo assim, as cotações continuam a indicar que há margem de lucros, porém menores do que os contratos realizados nos meses anteriores, quando havia uma forte onda altista nas cotações. A notícia nova vem da China, que aponta crescimento da produção de algodão local para 34 milhões de fardos contra a estimativa anterior

MilhoSafrinha fechou melhor que expectativaO mercado do milho está com a safrinha

fechada e, devido ao clima seco e às geadas, esperava-se por grandes perdas. As estimativas iniciais chegaram a indicar que o Brasil colheria menos de 19 milhões de toneladas. Mas, agora, no fechamento dos números, há indicativos de que alcançará a casa das 20,5 milhões de tonela-das. Houve bom desempenho na produtividade, no Mato Grosso do Sul e no Paraná, mesmo com geadas. As perdas foram menores que o esperado, ou as lavouras resistiram mais, sinalizando que o bom investimento em tecnologia, realizado pelos produtores, surtiu efeito positivo. Desta forma, a safra está um pouco maior, mas não há sinalização de que haverá sobras de milho ou pressão de baixa nas cotações, porque o mercado segue exportador. Os indicativos nos portos estavam na faixa dos R$ 31,00 em setembro, o que favoreceu boas cotações, mantendo o quadro positivo para as próximas semanas. Os consumidores reclamam dos custos do milho (principalmente o setor suíno, que teve repre-sadas as exportações para Rússia e aos poucos deverá voltar a vender em volumes maiores). O quadro segue de mercado firme.

sojaEntressafra e descasamento das cotações O mercado da soja livre está na entressafra

brasileira e com isso haverá pressão dos vendedores, que valorizarão o pouco que ainda resta do produto, com tendência de operar com valores superiores ao que liquida a exportação. Com fechamentos regio-nalizados dentro das necessidades do setor do óleo (principalmente biodiesel que está em crescimento forte e do setor de ração). Dessa forma, atende às necessidades pontuais e as cotações seguem firmes. Com a comercialização da safra nova bem avançada, haverá uma fase de calmaria nos negócios, até que os produtores tenham garantia de colheita de uma boa safra e voltem a fechar novas posições.

FeiJãoNordeste começa a comprar no Centro-SulO mercado do feijão operou em cima de valores

estabilizados, na base dos R$ 90,00 aos R$ 120,00 por saca para o Carioca de boa qualidade nas regiões produtoras dos estados centrais e Nordeste, de onde estava saindo ou restava produto. Como o Nordeste teve perdas fortes na cultura neste ano, já começa a buscar feijão na região Central, Goiás e Minas Gerais. Desta forma, dá fôlego para que as cotações possam avançar a patamares maiores. Os produtores

que têm produto de melhor qualidade ou nobre apostam em números acima dos R$ 150,00 em pouco tempo, porque não há indicativos de entrada de safra para as próximas oito semanas, o que abre espaço para pressão e correção positiva.

arroZExercendo as OpçõesOs produtores começam a exercer as Opções

que realizaram junto a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em agosto e apostam na realização de fechamentos no final de setembro e outubro, antes mesmo do vencimento final das posições, marcado para 30 de novembro. O governo autorizou a antecipação e desta forma os orizicultores seguem em busca dos R$ 27,50 (que liquida nas posições desta virada de mês). Enquanto isso, o mercado segue atrelado a no-vos contratos de PEP e Pepro e o governo tenta fazer troca de arroz que possui em estoque por produto beneficiado, para usar em programas sociais e doações internacionais. Os indicativos variam dos R$ 22,50 aos R$ 25,00 e o mercado segue nos melhores níveis do ano, mas abaixo das expectativas dos produtores, que esperavam ne-gociar, neste período, entre R$ 27,00 e R$ 30,00 (números difíceis de serem atingidos).

CURTAS E BOASde 33 milhões de fardos. Consequentemente, o país irá importar menos (estima-se 14,5 milhões de fardos contra os 15 milhões apontados no mês de agosto). O USDA prevê que o Brasil colherá 8,7 milhões de fardos.

eua - A safra está em colheita e os números mostram que o milho terá a sua de 328 milhões de toneladas (20 milhões de toneladas abaixo do que se esperava no plantio). A soja está em 83,9 milhões de toneladas, também muito aquém das quase 90 milhões de toneladas que poderia colher se o clima fosse favorável. A safra geral dos EUA menor neste ano já é um fator positivo para as cotações de médio e longo prazo.

chIna - As compras de soja neste último trimestre do ano devem chegar à marca das 15 milhões de toneladas. Destas, sete milhões devem sair da América do Sul. Tradicionalmente, o grande fornecedor dos últimos volumes do ano para os chineses eram os Estados Unidos. Agora, com perdas na safra americana e disponibilidade por aqui, os chineses têm dado preferência à nossa soja.

aRGenTIna - Os produtores estão plantando a nova safra e tudo indica que haverá crescimento, com avanço no milho para 3,5 milhões de hectares (poden-do chegar à marca das 25 milhões de toneladas ou mais, frente às 21 milhões de toneladas colhidas neste ano). Junto a isso, a soja pode chegar a 55 milhões de toneladas contra as 51 milhões de toneladas deste ano. Os produtores não demonstram preocupação com o La Niña, embora existam previsões de que o fenômeno climático possa atingir o país neste verão.

46 Outubro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Vlamir [email protected]

De acordo com os últimos dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção mundial de grãos nesta nova safra 2011/12 deve alcançar a marca das 2,26 milhões de toneladas. Apontada como a maior safra da história, tudo indica que não será suficiente para atender ao consumo, que avança em ritmo mais acelerado. O cenário favorece os produtores, com cotações em alta. Os indicativos são de que o consumo avance para as 2,278 milhões de toneladas, frente as 2,231 milhões de toneladas consumidas no último ano comercial. Mesmo que tudo ocorra dentro do normal, com clima favorável e boa safra, permanecerá grande o aperto no abastecimento. Os estoques mundiais de grãos serão os menores dos últimos quatro anos e com a oferta em queda e o consumo em alta, o mercado internacional seguirá com indicativos fortes, mantendo cotações lucrativas aos produ-tores brasileiros. Começa o plantio de uma nova safra brasileira e os produtores têm de aproveitar o bom momento para colher grandes produtividades, alta qualidade e maximizar os lucros, buscando melhorar o grau de capitalização, diminuir a dependência de financiamentos e recursos de terceiros ou mesmo dos bancos oficiais, para que possam comprar os insumos na melhor época possível, pagando à vista e com valores mais atrativos, além de vender a produção no momento de cotações maiores e não quando se acumulam as dívidas (e normalmente os preços se encontram nos níveis mais baixos do ano). O produtor brasileiro sai de uma boa safra (que tirando exceções como arroz, foi de lucratividade) e entra numa nova etapa (ao que tudo indica melhor). Os produtores que ainda não realizaram posições futuras para garantir os custos têm bons momentos pela frente para fazê-las. Outra boa notícia para o setor é a de que o dólar parou de cair e mostra momentos melhores e mais favoráveis aos fechamentos com lucros. Há sinais de que um grande ano agrícola virá. O Brasil está na largada do novo plantio e a recomendação é fazer tudo certo, com a melhor tecnologia possível, e buscar o máximo de ganhos. Tudo aponta para grandes lucros. É hora de ganhar com as lavouras!

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