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Grandes Culturas - Cultivar 167

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Abril de 2013

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Saldo da ferrugem.......................16O aumento da severidade da ferrugem-asiática e os esforços para manter a sustentabilidade dos cultivos de soja no Brasil

Danos agravados........................28De que forma enfrentar o ataque de ácaros,pragas que crescem em importância emcultivos de soja, milho e algodão

Resposta ao ataque....................10O papel do tratamento de sementes como alternativa para enfrentar o percevejo barriga-verde em lavouras de milho

Destaques

Índice

Diretas 04

Aplicação conjunta contra daninhas resistentes em milho 08

Ataque de percevejo barriga-verde em milho 10

Ácaro vermelho em soja 14

Balanço da ferrugem-asiática na soja 16

Helicoverpa armigera e o complexo Heliothinae no Brasil 20

Danos agravados por ácaros no sistema produtivo 28

Como estancar os prejuízos da lagarta Helicoverpa 30

Qualidade da calda durante aplicações 36

Coluna ANPII 40

Coluna Agronegócios 41

Mercado Agrícola 42

Praga do momento..............................20Como enfrentar os desafios do complexo Heliothinae, que inclui H. armigera,espécie quarentenária que acaba de ser identificada no Brasil

Expediente

Cultivar Grandes Culturas • Ano XV • Nº 167 • Abril 2013 • ISSN - 1516-358X

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

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Diretas

04 Abril 2013 • www.revistacultivar.com.br

PioneerA Dupont Pioneer destacou na Expodireto 2013 as variedades de soja RR adaptadas para o Sul do Brasil (95Y21, 95R51 e 95Y72) com vasta rede de ensaios, além de híbridos recomendados para a produção de silagem com maior volume e qualidade. Também foi apresentado o serviço de Tratamento de Sementes Industrial Pio-neer, com diversas opções de produtos para atender às necessidades específicas dos produtores.

Dupont PioneerA Dupont levou seu portfólio de defensivos agrícolas e sementes para a Expodireto. A empresa focou principalmente suas tecnologias para milho e soja, com o fungicida Aproach Prima, os inseticidas Premio e Lannate e os herbicidas Classic e Accent.

AgroesteA Agroeste apresentou na Expodireto a variedade de soja AS 3570 Ipro, com a tecnologia Intacta RR2 PRO, que promete revolucionar o plantio de soja, e o híbrido de milho AS 1656 PRO2, que também traz a tecnologia VT PRO2, com potencial produtivo superior na região Sul.

Dekalb A Dekalb apresentou na Expodireto 2013 o programa de multi-plantio, uma composição de híbridos desenvolvida para auxiliar o agricultor a ampliar o potencial produtivo da lavoura. Acompanha-mento de campo, visitas periódicas ao agricultor, recomendações de adubação de cobertura, além de fungicida e manejo assistido em áreas com tecnologia RR2 fazem parte das soluções integradas oferecidas no programa.

Agroceres Sementes Agroceres destacou na Expodireto dois híbridos para a região Sul, que terão a tecnologia VT PRO2 com tolerância ao herbicida glifosato, proporcionado pela tecnologia Roundup Ready 2, e a tecnologia YieldGard VT PRO, que assegura a resistência às três principais lagartas do milho: lagarta-do-cartucho, lagarta-da-espiga e broca-do-colmo.

Intacta RR ProA Monsanto levou para a Expodireto as vantagens da nova tecno-logia de soja Intacta RR2 Pro, adaptada para o mercado brasileiro. O público que visitou a feira teve a oportunidade de participar de mesas-redondas e conversar com representantes da empresas e agricultores que já testaram o produto em suas lavouras.

Guilherme Lobato

05www.revistacultivar.com.br • Abril 2013

FMCA FMC participou mais uma vez da Expodireto Cotrijal com inovações e tecnologias para as culturas de soja, milho e arroz. A empresa aproveitou o evento para lançar o fungicida Galileo XL, para o controle de ferrugem asiática.

BioGeneA BioGene apresentou na Expodireto 2013 os híbridos BG7046, BG7051H, BG7060HR, BG7061H e BG7065H posicionados para a região Sul. Os produtores receberam informações sobre qualidade de plantio, manejo em pré e pós-emergência de plantas daninhas na cultura do milho, tratamento de sementes industrial e manejo integrado de pragas.

BrasmaxA Brasmax apresentou na Expodireto 2013 os lançamentos: Veloz, Alvo e Tornado direcionados para soja. A equipe Brasmax também trabalhou durante o evento para transmitir com qualidade todas as informações necessárias sobre o manejo das culturas.

CheminovaA Cheminova destacou o fungicida Authority que apresenta a vantagem de ser uma combinação de ingredientes ativos de grande capacidade de redistribuição na área foliar. O produto não causa efeito juvenoide nas plantas, ou seja, não segura o crescimento da planta tratada. Com esta ação, o defensivo assegura que a planta manterá seu desenvolvimento pleno, refletindo em ganhos de produtividade.

NideraA Nidera Sementes apresentou na Expodireto 2013 a NS 6211 RR, seu lançamento com a nova tecnologia Intacta para a cultura da soja. Entre as principais vantagens da tecnologia estão o alto rendimento nas regiões do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, alto número de vagens por inserção e ótima arquitetura de planta.

MicotoxinasA Bayer promoveu, na Expodireto, palestras sobre “problemas ocasio-nados por micotoxinas nos grãos”, abordada pelo pesquisador Carlos Augusto Mallmann, da Universidade Federal de Santa Maria, e sobre o “manejo preventivo de doenças da soja”, abordada pela fitopatolo-gista Silvana Furlan, do Instituto de Biologia de Campinas.

06 Abril 2013 • www.revistacultivar.com.br

PacoteA FMC apresentou pela primeira vez no Sul do Brasil o fungicida Ga-lileo XL, para o controle de ferrugem asiática, e o inseticida Talisman. Segundo Eduardo Menezes, gerente de Cultura de Grãos da FMC, o inseticida possui uma tecnologia diferenciada para o controle de lagartas e percevejos. Também foi destaque na feira o produto Rocks, inseticida para tratamento de sementes de soja com amplo espectro de controle.

HeatO destaque da Basf durante a Expo-direto Cotrijal foi o Heat, o mais novo inseticida da empresa indicado para o controle de plantas daninhas resisten-tes, como buva, trapoeraba, corda de viola, leiteiro e picão preto. A empresa também destacou o programa Agro-Detecta, que oferece informações sobre os melhores momentos para realizar as pulverizações de controle de diversas doenças, em culturas variadas. “Com o AgroDetecta o produtor é alertado com uma antecedência de até dez dias sobre a possível incidência de doenças. Com isso há uma diminuição nas eventuais perdas”, explica Marcelo Machado, ge-rente de Negócios Cereais Sul da Basf.

ProteçãoA Bayer CropScience destacou durante a Expodireto 2013 campos demonstrativos, onde apresentou soluções para lavouras oferecidas pela empresa, como os fungicidas FOX e Sphere Max para o mane-jo do complexo de doenças na soja e CropStar, inseticida voltado para o tratamento de sementes em soja e milho. Mauro Alberton, diretor de portfólio da Bayer CropsCience, acompanhou as ações da empresa.

Semente tratadaDurante a Expodireto 2013 a Syngenta levou para a feira uma área onde os visitantes tiveram a oportunidade de conhecer as vantagens do tratamento de sementes industrial. A equipe técnica enfatizou que o sistema elimina a realização dessa operação na fazenda, garantindo ao agricultor sementes com tecnologia que permite a obtenção das melhores produtividades. Em produtos a empresa destacou o Cruiser e o Avicta Completo.

MileniaA Milenia destacou na Expodireto Cotrijal os produtos Galil, Poquer, Vezir e Azimut. Durante a feira, agricultores de várias regiões do Brasil tiveram a oportunidade de conhecer o portfólio de produtos e esclarecer dúvidas. As equipes de Vendas e Marketing formaram o time da Milenia no evento.

ProduquímicaQuem visitou o estande da Produquímica na Expodireto 2013 pôde realizar o Tecnotour Produquímica, uma atividade que ofereceu aos participantes maior conteúdo técnico sobre os produtos e serviços da empresa. “Através do contato com a tecnologia digital, de forma prática e interativa, os visitantes percorreram seis estações compa-rativas. Foi uma experiência divertida e com muito aprendizado”, avaliou o gerente de Desenvolvimento Técnico da Produquímica, Ithamar Prada.

Eduardo Menezes e Jeferson Krampe

Marcelo Machado

Mauro Alberton (dir.)

07www.revistacultivar.com.br • Abril 2013

LaboratórioA Syngenta montou na Expodireto um laboratório em parceria com a Universidade de Passo Fundo (UPF), com o objetivo de esclarecer aos visitantes dúvidas sobre as principais pragas, doenças e ervas daninhas que afetam os diferentes tipos de lavouras.

IharaPela primeira vez a Ihara participou da Expodireto Cotrijal. A empre-sa apresentou soluções tecnológicas, incluindo os manejos de mofo branco e buva, problemas atuais que estão prejudicando as lavouras do produtor, informou Lucas Von Pinho Botelho, desenvolvimento de Mercado Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O objetivo da empresa no evento foi oferecer ferramentas e alternativas que auxi-liam o agricultor a ter uma melhor produtividade de sua lavoura e rentabilidade de seu negócio, finaliza Botelho.

MorganDurante a Expodireto a Morgan Sementes e Biotecnologia apre-sentou a tecnologia Powercore TM, primeiro evento em milho com cinco genes estaqueados aprovado no Brasil contra as principais pragas e plantas daninhas desta cultura. Os visitantes conheceram híbridos da empresa indicados para a região, já com a nova tecnologia incorporada. A empresa expôs, ainda, os benefícios do tratamento de sementes industrial, com inseticidas e fungicidas.

DestaqueA Dow AgroSciences levou à Expodireto seu portfólio completo de proteção de cultivos, sementes e biotecnologia, com destaque para os produtos Powercore, Spider e Intrepid.

Dow AgroSciencesUm dos focos da participação da Dow AgroSciences durante a Expodireto Co-trijal foi apresentar seu portfólio para a cultura de soja, demonstrando situações da lavoura, dessecação e aplicação com o uso do herbicida seletivo Spider, ideal para o controle da buva, daninha que preocupa os produtores do Rio Grande do Sul. Segundo Afonso Matos, líder de Marketing para Grandes Culturas, ao longo dos anos a companhia investiu no desenvolvimento de tecnologias capazes de atender às necessidades presentes e futuras da sojicultura. “Como resultado desse trabalho oferecemos o Soy Solution, um pacote de soluções para todo o ciclo produtivo da soja”, explicou Matos.

InpEVO Instituto Nacional de Processamentos de Embalagens Vazias (InpEV), que atua há mais de dez anos na destinação de embalagens vazias de defensivos agrícolas, e as associações dos distribuidores de defensivos agrícolas responsáveis pelo gerenciamento das centrais de recebimento de embalagens do Rio Grande do Sul estiveram presentes na Expodire-to Cotrijal. O estande do instituto foi composto pelo túnel de vivência “Ciclo de vida das embalagens”. Interativo, com filmes, áudio e painéis educativos, proporcionou uma viagem por todas as etapas que percorre a embalagem: desde a compra do produto até sua destinação final. Além do túnel, também foram atrações o painel de responsabilidades, a apresen-tação teatral “A surpresa de Lixildo” e a presença do espantalho Olimpio, personagem símbolo das campanhas do instituto.

Afonso Matos

08 Abril 2013 • www.revistacultivar.com.br

Milho

Aplicação conjuntaUtilizado à exaustão, o herbicida glifosato tem apresentado casos de biótipos resistentes à sua aplicação. É o caso do azevém-anual, espécie largamente empregada em sistema de

semeadura direta para a formação de cobertura de solo, na cultura do milho. Por isso se torna necessário buscar novas opções de dessecação, com a associação de outros herbicidas, com

efeito aditivo para ampliar o espectro de controle de plantas presentes na área

O azevém-anual (Lolium multi-florum L.) é uma gramínea de inverno que está presente em

praticamente todas as lavouras da região Sul do Brasil. Esta espécie é largamente utilizada para formação de palha para a cobertura de solo no sistema de semeadura direta, sendo também utilizado nas entre linhas de pomares para formar cobertura de solo e diminuir a incidência de plantas daninhas.

Para que o sistema de semeadura direta seja viável são necessários herbicidas eficazes para a dessecação das plantas utilizadas como cobertura e que formarão a palhada, como é o caso do azevém-anual. No passado, o herbici-da mais utilizado para a dessecação das plantas de cobertura era o glifosato, produto de ação sistêmica, aplicado no controle de plantas daninhas anuais e perenes, e sem atividade residual no solo. Todavia, devido ao uso in-tensivo desta molécula herbicida nas mesmas áreas durante muitos anos, ocorreu a seleção de biótipos resistentes à sua aplicação.

Com o desenvolvimento dos casos de resistência ao herbicida, tornou-se necessária a busca por novas opções de dessecação em

áreas com azevém resistente ao glifosato, para a semeadura de culturas de verão como o milho. A associação da molécula de glifosato com outro herbicida para a operação de dessecação é uma prática utilizada com efeito aditivo, ou seja, busca ampliar o espectro de controle de plantas presentes na área.

Nas opções de graminicidas com atividade em azevém resistente ao glifosato, estão dis-poníveis no mercado os herbicidas do grupo dos inibidores da enzima acetil coenzima A (ACCase), como clethodim e sethoxydim. Porém, estes graminicidas não são registrados

para operação de dessecação e tampouco são seletivos para a cultura do milho, sendo reco-mendados para o controle em pós-emergência de gramíneas anuais e perenes. Em áreas onde ocorrem azevém com resistência ao glifosato, clethodim apresenta alta eficácia. Porém, não há informações sobre o intervalo entre a des-secação do azevém com clethodim e a época de semeadura do milho.

Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da aplicação conjunta dos herbicidas glifosato e clethodim na dessecação do azevém resistente ao glifosato, sobre a produtividade

Turra, Fernanda, Kaspary e Fabiane avaliaram aplicação dos herbicidas glifosato e clethodim na dessecação de azevém

desfavoráveis, durante o período de condução do experimento, com forte estiagem, havendo baixíssimas precipitações pluviométricas, con-sideradas anormais quando comparadas com as médias históricas para a região.

Em relação à produtividade de grãos, quando a semeadura do milho foi realizada mais cedo, obteve-se a maior produtividade, equivalente a 5.505kg/ha (Figura 1). Quando da semeadura aos 20 DAT, a produtividade ficou em situação intermediária de 3.980kg/ha e aos 30 DAT foi equivalente a 2.262kg/ha, ou seja, 59% a menos quando comparada à primeira época de semeadura. Resultados semelhantes foram também observados por outros autores, onde não houve diferença significativa no desenvolvimento das plantas de milho quando o herbicida clethodim foi aplicado anteriormente à semeadura da cultura. Ainda, de acordo com os mesmos autores, clethodim pode ser aplicado para o controle de plantas daninhas na operação de dessecação no sistema de semeadura direta do milho, desde que respeitado o intervalo de, pelo menos, sete dias entre a aplicação e a semeadura. Deste modo, ressalta-se a ausên-cia de efeito residual do herbicida clethodim quando da associação com glifosato na desse-cação de azevém, mesmo quando o intervalo para a semeadura do milho foi de apenas dez dias após a dessecação.

O herbicida clethodim na dose de 240g i.a/ha, quando associado ao glifosato (1.080g e.a/ha) na dessecação de azevém, em intervalo de, pelo menos, dez dias para a semeadura do mi-lho, é eficiente no manejo do azevém resistente ao glifosato e não causa dano à cultura.

do milho cultivado em sistema de semeadura direta, em diferentes épocas de semeadura após a dessecação.

O experimentOO experimento foi conduzido a campo,

no período de outubro de 2011 a março de 2012, na Universidade Federal de Santa Ma-ria, (UFSM/Cesnors), Campus de Frederico Westphalen, no Rio Grande do Sul (latitude 27°21’33” Sul; Longitude 53°23’40” Oeste e 522m de altitude). O clima da região é subtropical do tipo Cfa segundo a classificação de Köppen (1948), com temperatura média anual de 18ºC. O solo do local é classificado como Latossolo Vermelho aluminoférrico típico (Embrapa, 1999), com 50% de argila, pH 6,1 e 3,1% de matéria orgânica.

A cobertura de solo na área experimental durante o inverno foi composta por azevém-anual. Foram colhidas as partes aéreas do azevém através de quatro amostras coletadas em 0,25m², previamente antes da dessecação da área. As amostras foram secas em estufa a 55°C por 72 horas e, após, foram pesadas, quando se determinou a massa seca da parte aérea (kg/ha). O delineamento experimental empregado foi o de blocos casualizados, com quatro repetições, em parcelas subdivididas, sendo arranjados nas parcelas principais os herbicidas utilizados na dessecação (glifo-sato a 1.080g e.a/ha; glifosato + clethodim 1.080g e.a/há + 240g e.a/ha), acrescidos de óleo mineral a 0,5% v/v e nas subparcelas, as épocas de semeadura do milho (dez, 20 e 30 dias após a aplicação dos tratamentos de dessecação – DAT).

A aplicação dos herbicidas ocorreu no dia 29/9/2011, utilizando-se pulverizador costal pressurizado a CO2 com pressão constante de 29Lb/pol. O volume de calda aplicado foi de 200L/ha. No momento da aplicação, a umi-dade relativa do ar estava em torno de 40%, a temperatura era de 30ºC e a velocidade do vento de 6,48km/h.

A semeadura do milho realizada 10 DAT ocorreu em 9/10/11, aos 20 DAT em

09www.revistacultivar.com.br • Abril 2013

19/10/2011 e aos 30 DAT no dia 29/10/2011, todas de forma manual. O híbrido cultivado foi o P1630H, em uma população de 71.428 plantas/ha. O espaçamento utilizado foi de 0,70m, com 300kg/ha de adubo na formulação (N-P-K) 5-20-20, aplicado na semeadura.

As variáveis avaliadas na cultura por oca-sião da colheita foram: produtividade de grãos em área útil de 4,2m², estatura de planta (m), diâmetro de espiga (mm), comprimento de espiga (cm), número de fileiras de grãos por espiga e número de grãos por espiga.

A área experimental apresentou cobertura vegetal de azevém equivalente a 6,1t/ha. De maneira geral, para todas as variáveis avaliadas, não foi constatada interação significativa entre os tratamentos de dessecação e as épocas de semeadura do milho (p≥0,05), havendo sig-nificância apenas para épocas de semeadura (Tabela 1).

O milho, quando semeado dez dias após a dessecação, apresentou maior estatura de planta e maior número de grãos por espiga (Tabela 1). Na semeadura dos 20 DAT, não houve diferença daquela realizada aos 10 DAT para o diâmetro de espiga e número de fileiras de grãos. Porém, todas as variáveis foram reduzidas quando a semeadura foi realizada mais tardiamente, ou seja, 30 DAT. Isso de-corre possivelmente das condições climáticas

tabela 1 - estatura de planta (ep), diâmetro de espiga (Die), número de fileiras de grãos por espiga (nFG), número de grãos por espiga (nGe) do milho, híbrido p1630H, em função das épocas de semeadura pós-dessecação. UFSm/Cesnors, Frederico Westphalen/rS, 2011/12

1Dias após a aplicação dos tratamentos de dessecação (glifosato – 1.080g e.a ha-1; glifosato + clethodim – 1.080g e.a ha-1+ 240g i.a ha-1). 2médias seguidas de mesma letra na coluna, não diferem significativamente entre si pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade.

Épocas de semeadura10 DAt120 DAt30 DAtC.V. (%)

Die (mm)43,7 A41,5 A37,7 B

5,7

ep (m)2,5 A2

2,3 B2,1 C4,6

nFG (no)17,3 A17,0 A14,8 B

6,3

nGe (no)611,8 A460,6 B310,8 C

20,7

Figura 1 - produtividade de grãos de milho, híbrido p1630H, em função da época de semeadura pós-dessecação. UFSm/Cesnors, Frederico Westphalen/rS, 2011/12

Marcos Alexandre Turra,Fabiane Lamego,Tiago Kaspary eFernanda Caratti,UFSM/Cesnors

Experimento foi conduzido em outubro de 2011 em área da UFSM/Cesnors

CC

10 Abril 2013 • www.revistacultivar.com.br

Milho

Resposta ao ataquePraga responsável por sérios prejuízos na cultura da soja, o percevejo barriga-verde cresce em importância também em lavouras de milho, favorecido por fatores como a semeadura direta logo após a colheita da soja precoce. A adoção do tratamento de

sementes é uma das estratégias para enfrentar o inseto, que produz danos diferentes em relação a híbridos convencionais e transgênicos

O percevejo barriga-verde, Diche-lops melacanthus (Heteroptera: Pentatomidae) há muito tempo

causa prejuízos na cultura da soja. Mais recentemente este inseto aumentou sua importância como praga também no milho, principalmente em semeadura direta, logo após a colheita de soja precoce, o que ocorre nos meses de janeiro e fevereiro nos Cerrados do Centro-Oeste do país.

Os percevejos desta espécie, ao se ali-mentarem, introduzem seus estiletes na base das plântulas de milho (Figura 1A) através da bainha até as folhas internas, causando posteriormente necrose ou le-sões. Segundo Slansky e Panizzi (1987), os danos nos tecidos vegetais são resultantes da penetração dos estiletes e duração da alimentação, associados a secreções saliva-res pré-digestivas tóxicas, provocando ne-crose tecidual. Além das lesões nas folhas, sintomas mais intensos são deformações das plantas que podem levá-las à morte e/ou intenso perfilhamento, que originam perfilhos totalmente improdutivos.

Um dos fatores que têm contribuído

para o aumento de importância do inseto na cultura do milho é o uso do sistema de plantio direto, que preconiza o não revolvi-mento do solo e manutenção da palhada.

Segundo Carvalho (2007), ninfas e adultos são encontrados sobre o solo, próximos à base das plantas ou sob os restos culturais da soja, o que fornece abrigo e alimento, resultando

Figura 1 - Adultos de Dichelops melacanthus alimentando-se na base de plântulas demilho (A) e lesões causadas no tecido vegetal em função da alimentação (B)

A B

inicial das plantas.Quando se analisou a influência dos hí-

bridos e a redução na altura das plantas em função da não utilização do tratamento de sementes, observou-se que em alguns hí-bridos não houve diferença entre conven-cionais e transgênicos. Podem ser citados como exemplos 30F35 e 30F35H; DKB390 e DKB390 VTpro. Já nos híbridos Impacto e Impacto TL, AG8088 e AG8088YG e principalmente 2B710 e 2B710HX, houve redução de altura significativamente maior nos híbridos convencionais (Figura 4). Quando comparado a redução média de altura dos híbridos convencionais com os transgênicos, observou-se que os híbridos convencionais tiveram em média 33,7% de redução na altura contra 17,8% dos híbri-dos transgênicos, o que pode ser explicado, em grande parte, pela diferença entre os híbridos 2B710 e 2B710HX.

Em relação aos componentes de produtividade das plantas, não foram ob-servadas diferenças significativas entre os híbridos avaliados, exceto para o número de fileiras de grãos/espiga, em que o híbri-do 2B710HX apresentou maior número de fileiras, enquanto o híbrido DKB390 VTpro mostrou o menor número. Porém, para o fator correspondente ao tratamento químico de sementes, observou-se diferen-ça significativa em todos os parâmetros

em crescimento populacional.Outro fator que pode ter contribuído

para o aumento expressivo desses insetos em cultivos de milho foi a liberação de híbridos de milho geneticamente modi-ficados (Bt) no Brasil, já que o uso desta tecnologia propicia a redução do núme-ro de pulverizações para o controle da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiper-da), realizado por alguns inseticidas que possuíam algum efeito sobre os percevejos, controlando-os indiretamente.

DAnos em híBriDos ConvenCionAis e trAnsgêniCosEm trabalho realizado em parceria entre a

Apta Regional Centro Norte de Pindorama e

11www.revistacultivar.com.br • Abril 2013

a FCAV/Unesp de Jaboticabal, ambas de São Paulo, objetivou-se avaliar os danos ocasionados por este percevejo em plantas de diferentes híbridos co-merciais convencionais e transgênicos de milho, submetidos previamente ou não ao tratamento químico de sementes. Para garantir a presença do percevejo, as plantas foram infestadas artificialmente na densidade de um inseto adulto por planta (Crosariol Netto et al, 2012 a,b).

Para a porcentagem de plantas com sintomas de ataque do percevejo não foram observadas diferenças sig-

do pendoamento. Observou-se em todas as avaliações que plantas submetidas ao trata-mento químico de sementes apresentaram em média maior altura em relação a aquelas cujas sementes não foram tratadas com tiametoxam. Isso demonstra que o tratamento de sementes contribui para a menor porcentagem de plantas atacadas, menor sintoma de ataque e consequentemente para o maior desenvolvimento

Figura 2 - porcentagem de plantas com sintomas de ataque do percevejo barriga-verde em híbridos de milho convencionais e transgênicos. pindorama (Sp), 2010/2011

Figura 3 - porcentagem de plantas com sintomas de ataque do percevejo barriga-verde oriundas de sementes tratadas e não tradadas previamente com inseticida. pindorama (Sp), 2010/2011* inseticida tiametoxam

tabela 1 - efeito do ataque do percevejo barriga-verde no peso de espiga (g) com e sem palha, peso de grãos por planta (g) e número de fileira de grãos por espiga. pindorama (Sp), 2010/2011

Sem palha187,6147,8161,2156,3147,9139,4130,6203,9174,8154,3160,41,97ns

133,9b186,8 a27,41**

0,79ns28,2

Com palha210,9168,5181,1177,7162,0156,8148,1221,8185,5175,1178,71,87ns

149,0b208,5 a31,27**

0,70ns26,64

peso de grãos/planta (g)

150,3116,9130,1125,6121,6115,9100,6154,8127,1119,9126,31,65ns

104,4b148,2 a30,68**

0,55ns27,99

nº de Fileira de grãos/espiga

14,8 ab13,4 ab13,1 ab14,2 ab14,0 ab13,0b

13,2 ab16,9 a15,7 ab15,4 ab

14,42,21*

13,2b15,6 a

18,51**

0,96ns17,32

peso de espiga (g)

médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste de tukey. ns – não significativo a 5% de probabilidade pelo teste de tukey. **, *; Significativo a 1% e 5% de probabilidade pelo teste F.

Híbridos (H)

30F3530F35 HAg8088

Ag8088 YgDKB390

DKB390 Vtpro2B710

2B710 Hximpacto

impacto tLmédia

teste F (H)trat. Sem (tS)não tratadas

tratadasteste F (tS) interação

teste F (H x tS)CV (%)

tabela 2 - efeito do ataque do percevejo barriga-verde na massa de espiga (g) com e sem palha, massa por planta (g) e número de fileira de grãos por espiga. em isolinhas convencionais e transgênicas. pindorama (Sp), 2010/2011

Sem palha157,9160,30,06ns

Com palha177,5180,00,05ns

nº fileira de grãos/espiga (g)

14,214,60,63ns

peso de grãos/planta (g)

125,9126,60,01ns

peso de espiga (g)

médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste de tukey. ns – não significativo a 5% de probabilidade pelo teste de tukey.**, *; Significativo a 1% e 5% de probabilidade pelo teste F.

Híbridos

Convencionaistransgênicos

teste F

nificativas entre os híbridos (Figura 2). No entanto, nota-se que de modo geral todos os híbridos transgênicos tiveram menor porcentagem de ataque que suas isolinhas convencionais, com exceção do par de híbri-dos Impacto/Impacto TL, onde o transgênico registrou maior porcentagem de ataque. A alta porcentagem de plantas com sintomas de ataque em todos os híbridos pode ser explicada pela alta infestação.

Quando as sementes dos híbridos de milho foram previamente tratadas com inseticida, observou-se que a porcentagem de plantas atacadas foi significativamente menor (Figura 3).

Outro parâmetro avaliado foi a altura das plantas, desde a emergência até o início

Marcos Doniseti Michelotto,Apta Reg. Centro Norte de PindoramaJacob Crosariol Netto eAntonio Carlos Busoli,FCAV/Unesp de Jaboticabal

12 Abril 2013 • www.revistacultivar.com.br

avaliados, em que as plantas oriundas de sementes submetidas ao tratamento quími-co com tiametoxam demonstraram melhor desempenho de produtividade em relação às plantas oriundas de sementes não sub-metidas ao tratamento (Tabela 1).

Observou-se nesta situação, em que estava presente um inseto por planta, uma redução média de aproximadamente 30% na produção de grãos/planta quando não se utilizou o tratamento de sementes (Tabela 1)

Na análise realizada para verificar o efeito do ataque do percevejo nas variáveis de produtividade entre os híbridos conven-cionais e suas respectivas isolinhas trans-gênicas, não foram observadas diferenças

significativas (Tabela 2), ou seja, apesar dos híbridos transgênicos terem apresentado desempenho superior em relação aos con-vencionais, isto não refletiu na melhora dos componentes de produtividade, conforme observado na Tabela 2.

Os resultados obtidos até o momento demonstram que o percevejo barriga-verde, ao se alimentar de plântulas de milho, causa efeitos negativos às plantas, como diminuição da altura e nos componentes de produtividade. Os híbridos convencio-nais e transgênicos respondem de forma diferente ao ataque do percevejo, sendo os híbridos convencionais os mais prejudica-dos em um primeiro momento, mas não a ponto de interferir na produtividade.

O que realmente parece ser uma im-portante ferramenta para o produtor é a utilização de inseticida via tratamento de sementes, pois acarreta na diminuição do número de plantas atacadas e redução dos danos ocasionados pelo inseto, propor-cionando melhor desenvolvimento das plantas e produtividade de grãos. Outros estudos estão sendo desenvolvidos com o intuito de se determinar os reais danos do percevejo em condições de campo e seus reflexos na produtividade.

Figura 4 - porcentagem de redução da altura em função da não utilização do tratamento de sementes para o controle do percevejo barriga-verde

CC

14 Abril 2013 • www.revistacultivar.com.br

Soja

Sinal vermelhoÁcaros têm se tornado cada vez mais presentes e danosos às lavouras de soja no Brasil. É o caso da espécie Tetranychus desertorum, cuja incidência na cultura demanda a aplicação

de acaricidas para diminuir sua população. Diante de uma lista limitada de defensivos registrados para o controle, a busca por alternativas possui papel indispensável

Dentre as pragas que afetam a cultura da soja estão ácaros te-traniquídeos e tarsenomídeos.

Sua ocorrência nessa cultura foi verificada nas safras 2002/03 e 2003/04, no Rio Grande do Sul, onde houve presenças de Tetranychus urticae, Polyphago tarsonemus latus, Mononychellus planki, T. desertorum e T. gigas (Guedes et al, 2004 e Roggia et al, 2004). Estas ocorrências eram inicial-mente localizadas e atribuídas a períodos secos (veranicos). Mas recentemente foram verificadas de forma generalizada no estado gaúcho, em níveis que determinaram a utilização de controle.

Nos EUA as ocorrências de ácaros são comuns, o que exige o emprego de acarici-das. Sua presença está relacionada ao baixo nível de umidade relativa do ar, associado às pulverizações antecipadas e desnecessá-rias de inseticidas-acaricidas. Na Argentina têm sido registradas elevadas populações de ácaros das duas famílias já referidas. No Brasil, os registros de ocorrências de popu-lações de T. urticae, T. desertorum e P. latus têm surpreendido técnicos e produtores e determinado a aplicação de acaricidas para

a redução dessas populações a níveis tole-rados pela cultura da soja. Entretanto, são raros os produtos registrados para ácaros na cultura. Deste modo, a identificação e a avaliação de produtos eficientes para o controle de ácaros são oportunas e indis-pensáveis à produção de soja.

experimentO Um experimento com o objetivo de

avaliar o controle de Tetranychus deserto-rum em soja foi instalado na safra agrícola 2009/10, em Santa Maria, Rio Grande do Sul, coordenadas 29° 42’ 59.50″ S e 53° 43’ 59.77″ O, em lavoura comercial com o cultivar Fundacep 53, na densidade de 14 plantas por metro linear, espaçamento de 45cm entre linhas. Os tratamentos estão descritos na Tabela 1.

O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com sete tratamentos e quatro repetições. A parcela foi constituída de dez linhas de 10m de extensão. Os pro-dutos foram aplicados no estádio R2 (Fehr et al, 1971) utilizando-se um pulverizador costal, de pressão constante (CO2), equi-pado com pontas tipo XR 11002, calibrado

para 150L de calda/ha.No momento da instalação a tempera-

tura era de 23°C, umidade relativa estava em 68%, ventos com orientação NO a 2.8m/s.

As amostragens foram feitas aos três, sete, dez, 14 e 21 dias após a aplicação dos tratamentos (DAT), além de uma avaliação prévia da população. Para estas avaliações

Ácaros são responsáveis por perdas em cultivos de soja no Brasil

Dir

ceu

Gas

sen

foram contados os ácaros em 1cm² de dez folíolos de soja/parcela, do terço médio e superior das plantas. Os valores obtidos foram submetidos à análise da variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. O controle do ácaro foi calculado pela fórmula de Abbott (1925).

reSULtADOS preLiminAreSO teste de Tukey não apresentou dife-

rença significativa entre os tratamentos. Porém, a média da testemunha diferiu dos demais em todas as avaliações, evidencian-do que os tratamentos, independentemen-te de controle, apresentaram ação biocida (Tabela 2).

Quanto ao período residual, constatou-se que a eficiência de controle no decorrer das avaliações aumentou. Esses fatores são importantes, pois houve um crescimento de eficiência com o aumento da dose e no transcorrer do tempo. A ação pode estar associada às características intrínsecas de cada produto.

O espiromesifeno, nas dosagens ava-liadas, apresentou excelente eficiência no controle do ácaro vermelho, em soja.

Quanto à mistura metamidofós + es-piromesifeno, com a redução da dose, constatou-se um controle de 85,47% aos três DAT chegando a 90,07% aos dez DAT, declinando para 81% aos 21 DAT. Até aos dez DAT a mistura, praticamente, se equivale aos percentuais de controle das três doses de espiromesifeno, quando em análise isolada. A partir dessa data a mis-tura perde força e é superada até mesmo pela menor dose de espiromesifeno (240g i.a./ha).

A mistura espirotetramate + imida-cloprido + óleo não apresentou sucesso nas duas primeiras datas de avaliação, permitindo controle de 72,26% e 79,41%, respectivamente. Porém, aos dez DAT e

14 DAT sua eficiência cresceu, chegando a 87,02% e 86,48%, decrescendo aos 21 DAT.

Os tratamentos e as doses avaliadas controlam o T. desertorum, podendo ser indicados para o controle desta praga. En-quanto perduraram as avaliações a cultura não apresentou efeito fitotóxico.

A partir dos dados observados é possível concluir que os produtos espiromesifeno e a mistura metamidofós + espiromesife-no, nas doses avaliadas, controlam com eficiência agronômica ≥ 80% o ácaro T. desertorum, em soja. Não foi observado efeito fitotóxico na cultura.

www.revistacultivar.com.br • Abril 2013

Presença e danos provocados pelo ácaro vermelho em folha de soja

Detalhe de Tetranychus desertorum causando prejuízos à cultura da soja

J.V.C. Guedes

Nathália Leal de Carvalho,Universidade de Passo Fundo

CC

15

tabela 1 - tratamentos e respectivas doses dos produtos

tratamentos

metamidofósmetamidofós + espiromesifeno

espirotetramat + imidacloprido + óleo metilado de soja

espiromesifeno

testemunha

Conc.600g/L

600g + 240 g/L 480g/L + 850g/kg

240 g/L

---

Form.CS

CS+SCSC+Ce

SC

---

g i.a./ha600

360 +12030 + 90 + 0,25%

240300360---

ml p.C./ha1000

600+200250 + 0,25%

400500600---

Dosesproduto

1 Produto comercial;²2 porcentagem de controle (Fórmula de Abbott); 3 Dias após a aplicação dos tratamentos; * médias, nas colunas, seguidas pela mesma letra, não diferem estatisticamente entre si (tukey 5%); ** Contagem de ácaros em 1cm² em dez trifólios/parcela, no terço médio e superior.

tabela 2 - porcentagem de controle do ácaro vermelho, t. desertorum, em soja. Santa maria (rS). Safra agrícola 2009/10

tratamentos

metamidofósmetamidofós + espiromesifeno

espirotetramat + imidacloprido + óleo metilado de soja

espiromesifeno

testemunhaCV (%)

média*11,2 ± 1,11 a11,8 ± 1,63 a12,20 ± 1,19 a12,6 ± 1,20 a11,2 ± 1,21 a10,9 ± 0,90 a11,6 ± 1,25 a

pC2²---------------------

pC2

78,6385,4772,2677,7780,3487,17

----

média*2,5 ± 0,45 b1,7 ± 0,39 b3,2 ± 0,46 b2,6 ± 0,42 b2,3 ± 0,30 b1,5 ± 0,37 b

11,7 ± 1,09 a

03 DAt

49,08

pré-contagem

31,67

pC2

81,3788,2379,4182,2387,2589,21

---

média*1,9 ± 0,31 b1,2 ± 0,29 b2,1 ± 0,31 b1,8 ± 0,24 b1,3 ± 0,21 b1,1 ± 0,18 b10,2 ± 0,95 a

07 DAt

47,52

pC2

75,5790,0787,0283,9689,3191,60

---

média*3,2 ± 0,49 b1,3 ± 0,26 b1,7 ± 0,26 b2,1 ± 0,34 b1,4 ± 0,26 b1,1 ± 0,18 b13,1 ± 1,08 a

10 DAt

47,52

pC2

66,6688,2886,4891,8990,9993,69

---

média*3,7 ± 0,47 b1,3 ± 0,30 c1,5 ± 0,22 c0,9 ± 0,23 c1,0 ± 0,21 c0,7 ± 0,21 c

11,0 ± 0,90 a

14 DAt

43,60

pC2

39,7981,6377,5591,8392,8594,89

---

média*5,90 ± 0,69 b1,80 ± 0,32 c2,20 ± 0,32 c0,80 ± 0,25 c0,70 ± 0,21 c0,50 ± 0,22c9,80 ± 0,73 a

21 DAt

43,74

Avaliação em 1cm2²/10 trifólios/parcela**

Dirceu Gassen

16 Abril 2013 • www.revistacultivar.com.br

Soja

Ferrugem perversa

À medida que a colheita de soja avança já se pode tirar algumas conclusões sobre a ocorrência

da ferrugem-asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi) na safra 2012/2013, ainda que as situações mais graves em relação à doença costumem ocorrer nos cultivos semeados mais tardiamente, colhidos a partir do mês de março.

A anunciada safra recorde de grãos está se confirmando e, de acordo com a previsão do sexto levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), serão colhidos 183,58 milhões de toneladas, o que representa aumento de 10,5% em relação à safra passada. Comparada ao último levantamento, houve redução de 0,8%, em decorrência, principal-mente, das condições climáticas adversas, como o excesso de chuva na região Centro-Oeste, prejudicando a colheita, e a estiagem no Sul do País. A soja é o destaque, com

crescimento de 23,6% em relação à última safra e produção estimada em 82,06 milhões de toneladas.

No Brasil, prejuízos com a ferrugem da soja foram estimados em mais de 19 bilhões de dólares até a safra 2011/12, considerando as perdas em produtividade, a arrecadação de impostos e os custos com o tratamento com fungicidas (Figura 1). Na safra 2011/12, as perdas por conta da doença foram maiores no estado do Mato Grosso, onde chuvas abun-dantes favoreceram a ocorrência da doença e dificultaram as aplicações de fungicida no mo-mento correto. Outros estados produtores tra-dicionalmente afetados pela ferrugem, como Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul, sofreram com forte estiagem, condição desfavorável à ocorrência da doença.

O CLimA e A DOençAAté o início de março, a ferrugem não se

destacou como um fator significativo de per-das de produtividade. As condições climáticas de neutralidade em relação ao El Niño cau-saram distribuição irregular de precipitação na maioria das regiões produtoras, levando a períodos de seca seguidos de períodos com alta precipitação (Figura 2). Mas os meses de novembro e dezembro, que podem ser considerados “chaves” para o estabelecimento da doença e também para o início da aplica-ção de fungicidas, apresentaram em média precipitações abaixo do normal (com exceção do Rio Grande do Sul em dezembro), sendo pouco favorável para a ocorrência da doença e, ao mesmo tempo, possibilitando a entrada do agricultor na lavoura para realizar as aplicações sem atraso.

No mês de janeiro, com exceção do Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, que tiveram baixa precipitação, os demais estados registraram precipitações acima da média. Em

Responsável por prejuízos de mais de 19 bilhões de dólares até a safra 2011/12, a ferrugem-asiática registrou aumento de severidade a partir do mês de fevereiro no Brasil. Com isso as

atenções se voltam para os cultivos mais tardios de soja, que passam a correr sérios riscos caso o controle químico não seja adequado. De manejo complexo, a doença exige novas ferramentas

antirresistência para preservar a sustentabilidade da cultura

18 Abril 2013 • www.revistacultivar.com.br

A partir da metade de fevereiro houve aumento da severidade da ferrugem-asiática segundo monitoramento do Consórcio Antiferrugem

fevereiro, também ocorreram boas precipita-ções. Em consequência disso, em várias regiões onde a ferrugem estava com progresso lento, houve aumento considerável da severidade da doença a partir da metade de fevereiro. Com isso, os cultivos mais tardios estão correndo risco de perda por ferrugem caso o controle químico não seja feito de forma adequada.

O número de ocorrências de ferrugem da soja registradas até o momento (19/3/2013) (Figura 3), no site do Consórcio Antiferrugem (www.consorcioantiferrugem.net), reflete a situação de clima descrita, embora se trate de uma amostragem, pois não se tem informantes em todos os munícipios que cultivam soja no Brasil. Foram registradas 439 ocorrências em dez estados (Figura 4), um número relativa-mente baixo se comparado às safras de maior epidemia, mas superior às 262 ocorrências registradas no mesmo período da safra pas-sada. Dessas 439 ocorrências, oito foram em soja guaxa, uma em soja perene e uma em área de pesquisa.

No Rio Grande do Sul, as ocorrências aumentaram consideravelmente no mês de janeiro, como provável consequência das boas precipitações de dezembro, mas não evoluíram em severidade por causa dos períodos de seca em janeiro e fevereiro. No Paraná, a ocorrência irregular das precipitações também levou ao aparecimento de ferrugem em diversos locais, mas de forma relativamente tardia e sem evolução acentuada de severidade. No Mato Grosso foi registrada a presença de soja guaxa

com ferrugem a partir do final de outubro, o que pode ter contribuído para o surgimento das primeiras ocorrências ainda em dezembro, apesar do clima desfavorável que retardou a evolução da doença. Entretanto, com as altas precipitações de janeiro e fevereiro, vários municípios mostraram rápido aumento de severidade a partir de fevereiro.

COntrOLe O controle químico com fungicidas

é ainda a principal forma de combate à ferrugem-asiática. Apesar do grande número de produtos registrados, a maioria pertence ao grupo químico dos triazóis, com diversos

similares genéricos e combinações de triazóis e estrobilurinas. A partir da safra 2007/08, começou a ser observada menor eficiência dos triazóis, em consequência da seleção de populações menos sensíveis do fungo aos fungicidas do grupo. A partir dessa safra, o Consórcio Antiferrugem passou a orientar que fossem utilizadas apenas misturas de triazóis e estrobilurinas, que além de mais eficientes funcionam como uma estratégia antirresistên-cia devido aos diferentes mecanismos de ação. Com a menor eficiência dos fungicidas do gru-po dos triazóis, pode haver aumento da pres-são de seleção para resistência aos fungicidas do grupo das estrobilurinas. Estudos mostram

Fotos

tabela 1 – Primeira ocorrência de ferrugem da soja registrada no site do Consórcio Antiferrugem em cinco estados por seis safras. Fonte: Consórcio Antiferrugem

Safra

2007/20082008/20092009/20102010/20112011/20122012/2013

pr06/dez12/dez17/nov24/nov04/dez29/nov

rS27/dez12/jan22/nov13/dez10/jan07/jan

mS03/dez16/dez18/nov02/dez31/jan21/dez

mt11/dez04/jan17/nov13/jan19/dez06/dez

Data da 1ª detecção de ferrugemGO

28/dez18/dez19/nov09/dez05/jan13/dez

Figura 1 – estimativa do custo da ferrugem da soja para o Brasil em 11 safras

Figura 2 – Desvio da precipitação em relação à normal climatológica. Fonte: inmet, 2013

que, em teoria, há probabilidade muito baixa de ocorrer resistência completa de P. pachyrhizi à estrobilurina. No entanto, o ideal é que esses fungicidas não sejam utilizados em aplicações isoladas. Produtos do grupo químico carboxa-mida em mistura com estrobilurinas estão em fase de registro no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) e poderão incrementar a eficiência do controle químico da ferrugem, bem como contribuir na estra-tégia antirresistência ao fungo.

Ainda em relação ao controle químico da ferrugem, a associação de fatores como a suscetibilidade das cultivares, a alta agressi-vidade do fungo, o baixo custo de aplicação de fungicidas em relação ao preço da soja e as extensas áreas de cultivo no país levaram ao aumento do número de aplicações que atual-mente beiram a média de três por safra, mas com casos de quatro ou mais em muitas áreas. A situação chegou a ser mais grave, princi-palmente na região Centro-Oeste, antes da adoção do vazio sanitário da soja, que proibiu o cultivo na entressafra. Mesmo assim, reco-mendações para aplicações calendarizadas cada vez mais cedo, ainda no estádio vegeta-

tivo da soja, têm ajudado a manter o número alto de aplicações, mesmo em anos de clima desfavorável à doença. Essas aplicações têm sido feitas principalmente com o argumento de se aplicar antes do fechamento das entre linhas da soja, para atingir o baixeiro das plantas e garantir o controle preventivo. Essa aplicação não raramente tem se demonstrado desnecessária. Em um cenário com semea-duras realizadas cada vez mais cedo, a partir de 15 de setembro, e utilização de cultivares cada vez mais precoces, aplicações no estádio vegetativo podem acabar sendo feitas ainda no mês de outubro. No entanto, a maioria das primeiras ocorrências de ferrugem tem sido constatada a partir de dezembro nos principais estados produtores (Tabela 1). Evidentemente, cultivos mais tardios poderão necessitar aplicações no estádio vegetativo, mas que sejam feitas baseadas em monitoramento. Na safra 2012/13, a Emater monitorou áreas de produtores no Paraná que colheram soja sem aplicação de fungicida e sem a presença de ferrugem, enquanto áreas vizinhas nas mesmas condições, mas não monitoradas, fizeram duas aplicações (en-

genheiro agrônomo Alcides Bodnar, Emater, Paraná, comunicação pessoal).

Desequilíbrios em populações de artró-podes fitófagos têm sido cada vez mais fre-quentes e começam a ameaçar a viabilidade da soja. Já há algum tempo está ocorrendo a diminuição da incidência de fungos en-tomopatogênicos como Nomuraearileyi (doença branca) e daqueles pertencentes ao grupo dos Entomophthorales tais como Pandora sp. e Zoophthora sp. (doença mar-rom). A lagarta Chrysodeixis includens, a falsa medideira, era naturalmente mantida em equilíbrio por esses fungos que, certamente, estão sendo controlados pelos fungicidas utilizados para controlar a ferrugem (Bueno et al, 2007). Além disso, a ocorrência de soja louca II, ataques de ácaros e de mosca branca, resistência a inseticidas e herbici-das, entre outros problemas, demonstram desequilíbrios que podem estar ocorrendo pelo uso de produtos químicos sem o critério técnico adequado.Rafael Moreira Soares e Claudine Dinali Santos Seixas,Embrapa Soja

CC

Figura 3 – ocorrências de ferrugem de 1º de dezembro a 23 de fevereiro nas safras 2005-2006 a 2012-2013. Fonte: Consórcio Antiferrugem

Figura 4 – número de focos de ferrugem-asiática da soja por estado na safra 2012-2013. Fonte: Consórcio Antiferrugem

20 Abril 2013 • www.revistacultivar.com.br

Capa

Após o recorde de produção agrí-cola em 2012, de acordo com as previsões oficiais, o Brasil se

tornará em 2013, o maior produtor de soja do mundo, com mais de 82 milhões de toneladas. Em 2012, a produção brasileira de grãos e de oleaginosas totalizou mais de 162 milhões de toneladas (alta de 1,2% em relação a 2011), e em 2013 deve chegar a 178 milhões de tone-ladas, um provável aumento de quase 10% e um novo recorde de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE). Entretanto, todos esses recordes tem sido obtidos a duras penas, e, provavelmente, essa expectativa de produção não poderá ser alcançada devido aos entraves enfrentados ultimamente pelos agricultores brasileiros.

Um dos problemas que vem preocupando de forma gradual e contínua, especialmente os produtores das Regiões Norte, Centro-Oeste e Sul do País é o aparecimento de frequentes

surtos de lagartas que, provavelmente, inicia-ram suas populações há alguns anos atrás, mas que somente agora mostraram sua força des-truidora em muitas lavouras do Brasil como a soja, algodão, milho, feijão, tomate, sejam estas culturas geneticamente modificadas ou não. A esse complexo de lagartas pertencentes à subfamília Heliothinae que no primeiro momento foram identificadas como Heliothis virescens e Helicoverpa zea, podemos agora também acrescentar a espécie Helicoverpa armigera, sendo esta última identificada no dia 22/03/2013 em amostras coletadas nos Estados de Goiás, Bahia, Minas Gerais e Mato Grosso, pelo taxonomista Vitor O. Becker, especialista em espécies da família Noctuidae. Cabe salientar que H. armigera é uma espécie altamente agressiva, considerada até então como praga quarentenária para o Brasil. Esse complexo de Heliothinae apresenta como característica comum, grande mobilidade,

alta capacidade de reprodução, ampla gama de hospedeiros como soja, algodão, milho, feijão, tomate, sorgo e milheto, além de outras culturas e tem confundido muitos produtores e consultores tanto no que se refere à iden-tificação, como também na dificuldade de implementação de táticas de controle.

LAGArtAS em SUrtONo Brasil, as espécies de Helicoverpa,

embora extremamente polífagas, estavam relacionadas basicamente às culturas de milho, tomate e algodão, porém com baixa ocorrência de danos, sendo que a partir de 2012 foram relatados ataques seguidos que causaram danos severos como ocorreu nas áre-as agrícolas de Goiás. Inicialmente, os surtos se fizeram presentes nas lavouras de tomate, seguidos por grandes populações nas culturas da soja, feijão e milho e, atualmente, há uma grande expectativa em relação à sua chegada,

Praga da vezPraga da vezLucia Vivan

A espécie Helicoverpa armigera, altamente destrutiva e quarentenária no Brasil, acaba de ser identificada em meio ao complexo de lagartas da família Heliothinae no País. Desde a safra de 2011/12 esses insetos têm assolado de forma mais intensa lavouras de soja, milho, algodão, feijão, tomate, além de outros cultivos comerciais. Identificação correta, monitoramento e manejo integrado são exigências-chave para se obter sucesso no combate a esse desafio

A espécie Helicoverpa armigera, altamente destrutiva e quarentenária no Brasil, acaba de ser identificada em meio ao complexo de lagartas da família Heliothinae no País. Desde a safra de 2011/12 esses insetos têm assolado de forma mais intensa lavouras de soja, milho, algodão, feijão, tomate, além de outros cultivos comerciais. Identificação correta, monitoramento e manejo integrado são exigências-chave para se obter sucesso no combate a esse desafio

reAção orgAnizADA e os DAnos nA BAhiANo Fórum Regional sobre Helicoverpa

realizado em Luís Eduardo Magalhães/Bahia no dia 22 de fevereiro, com a presença de mais de 1,5 mil profissionais do setor, foram relatadas por produtores perdas e prejuízos estimados em torno de R$ 140,00/ha para a safra 2012/13 de soja. Somam-se a isso as aplicações extras de inseticidas nas lavouras e as perdas de produção. Segundo muitos produtores foram necessárias aproximada-mente três aplicações a mais na cultura em comparação à safra passada.

Estão sendo previstas severas perdas em cultivos de algodão em alguns municípios da Bahia e do Mato Grosso por conta do ataque deste complexo de lagartas, comprovando o potencial destrutivo que esses insetos apresen-tam quando não controlados de forma efetiva. Além disso, os danos foram potencializados basicamente por três fatores: dificuldade na identificação correta da espécie, utilização indiscriminada de inseticidas e a oferta de hospedeiros de forma contínua sem que haja quebra dos ciclos de desenvolvimento destas pragas, o que dificultou o estabelecimento de manejos adequados.

emergênCiA FitossAnitáriAO surto inesperado de Helicoverpa le-

vou o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) a baixar uma portaria (PORTARIA Nº 42, DE 5 DE MARÇO DE 2013) a fim de declarar como emergência fitossanitária a situação do intensivo ataque da praga Helicoverpa zea em lavouras de al-godão e soja durante a safra 2012/2013, com o objetivo da implementação de um plano de supressão da praga e adoção de medidas emergenciais para as safras de 2012/2013 a

novamente, às lavouras recém transplantas de tomate do Estado. Todavia, o maior surto registrado até então de Heliothinae no Brasil ocorreu no Oeste Baiano durante a safra de 2011/12 quando as lagartas deste complexo atacaram diferentes culturas da região, em especial a cultura do algodão, chegando a causar perdas de até 80% na produção. Nes-ta safra (2012/13) essas pragas voltaram a incidir com altas populações na Região Oeste da Bahia, inicialmente em cultivos irrigados de soja, sendo registradas, até oito aplicações de inseticidas somente para o controle de lagartas do referido grupo. Posteriormente, esse complexo de Heliothinae foi observado atacando cultivos de soja nos Estados do Maranhão, Piauí, bem como no Sul do Paraná (região de Ponta Grossa), onde causou severos danos durante os estádios iniciais da cultura. Além disso, no final desta safra, essas lagartas foram também observadas atacando soja nos Estados de Goiás, Mato Grosso e Norte do Mato Grosso do Sul (Região em torno de Chapadão do Sul).

A safra 2012/13 de milho foi também marcada por surtos sem precedentes dessas lagartas nas principais regiões produtoras, talvez a maior já registrada desde o início da comercialização das sementes de milho gene-ticamente modificado (milho Bt). Além da já conhecida Spodoptera frugiperda, as lagartas de Helicoverpa spp. passaram a ser as grandes vilãs tanto nos cultivos de primeira safra como de safrinha. Foi constatado no Oeste do Estado do Paraná (mais precisamente na Região de Campo Mourão) alta incidência de lagartas de Helicoverpa causando danos em plantas de soja safrinha ou em plantas de milho Bt circundadas por plantas de soja tiguera. Neste último, relatos dão conta da passagem destas

lagartas, após a dessecação, da soja tiguera para o milho. Também em algumas regiões do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul vários produto-res de milho safrinha relataram a ocorrência de Helicoverpa sp. em lavouras Bt, sendo que estes ataques iniciaram-se no espigamento, observando-se certa preferência a espigas com estigmas claros.

Ainda na atual safra agrícola do Mato Grosso, observaram-se altas populações de H. virescens e, provavelmente, H. armigera na cultura da soja. Em algumas localida-des prevaleceu a incidência de Helicoverpa sp. (chegando a quase 70%) e em outras havia uma distribuição equivalente para as duas espécies. Outro fato a destacar foi a predominância das infestações no início do desenvolvimento da cultura (estágios V3 a V5), embora não se observasse falhas de controle dos inseticidas principalmente quando foram utilizadas as diamidas, que se apresentaram eficientes quando aplicadas em situações com predominância de lagartas pe-quenas (< 1,0 cm). Além disso, em algumas regiões, a população se estendeu até o período reprodutivo ocasionando perdas devido ao ataque nas vagens.

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Frutos de tomateiro atacados por Helicoverpa spp. Goiás/2012

Helicoverpa armigera em vagem verde de soja (esquerda) e à direita grande diversidade de cores da lagarta em milho safrinha após dessecação da soja tiguera, em Ubiratã, 2013

Fabio Santos

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22 Abril 2013 • www.revistacultivar.com.br

2014/2015. A medida instituiu um Grupo de Gerenciamento Situacional da Emergência Fitossanitária, no âmbito do Mapa, com o objetivo de identificar, propor e articular a implementação de ações emergenciais, ágeis e eficazes para contenção da praga, a fim de assegurar o completo restabelecimento da normalidade produtiva.

Há quatro espécies conhecidas de He-liothinae que podem ser encontradas nas lavouras do país:

HeLiOtHiS VireSCenS Chamada de lagarta das maçãs tem como

característica adultos com asas de coloração verde-oliva-pardacenta, com três linhas oblí-quas avermelhadas e asas posteriores de colo-ração esbranquiçada, sendo esses caracteres fáceis de identificação no campo. Os ovos são colocados nos ponteiros das plantas de forma isolada, sempre em folhas novas, numa média de 600 ovos/fêmea.

As lagartas recém-eclodidas não apresen-tam estrias nem manchas e são de coloração verde, mas à medida que crescem assumem uma coloração variável de verde até bem escura e apresentam micropêlos, facilmente observados com uma pequena lupa de bolso, que saem de pintas salientes do 1º, 2º e 8º segmentos abdominais (Figura 1). As lagartas de H. virescens podem também ser facilmente separadas das espécies de Helicoverpa pela presença de placa dentada na parte interna da mandíbula (Figura 2) e de cerdas na pinácula.

Finda a fase larval, transformam-se em

pupas no solo e são de coloração marrom, dando origem a novos adultos em torno de 10 a 15 dias. Esta espécie pode entrar em diapausa e permanecer no solo na fase de pupa por até 130 dias. Seus ataques estão sendo identifica-dos em lavouras de tomate, soja e algodão. No caso da soja, esta lagarta apresenta-se tanto na fase inicial, atacando plantas recém-emergidas, como na fase reprodutiva, perfurando vagens e ocasionando queda na produção. Nos cultivos de algodão e tomate, seus ataques se concentram nos frutos ocasionando perdas irreversíveis para o produtor.

heLiCoverPA zeA Chamada lagarta da espiga ou broca

grande do tomate, os adultos possuem asas an-teriores amareladas ou castanho-amareladas, com uma mancha escura no centro e uma franja externa na ponta bem característica. As asas posteriores são mais claras com faixa escura acompanhando a margem lateral e uma mácula discoide no centro de cada asa. Além disso, segundo a literatura, possuem apenas um espinho apical nas tíbias anteriores. Os

ovos são colocados de forma isolada nos estilo estigmas das espigas de milho, nas sépalas do tomateiro, nas espiguetas do sorgo ou em folhas e brotações de outras culturas, como soja e feijão. O número de ovos pode chegar ao redor de 1000/fêmea.

As lagartas recém-eclodidas são de colora-ção creme e quando desenvolvidas adquirem coloração variável, marrom, amarelada, alaran-jada, esverdeada, rosada ou quase preta, com faixas escuras pelo corpo e manchas pretas na base das cerdas (pinácula), sem a presença de microespinhos (Figura 4) e ausência de placa dentada na face interna da mandíbula (Figura 1) características que as diferenciam da espécie H. virescens. A pupa tem coloração marrom e permanece no solo em torno de 15 dias para a emergência dos adultos.

As lagartas têm sido encontradas nos cultivos de algodão danificando botões florais e flores, além de maçãs pequenas e grandes. Em cultivos de tomate, também foi verificada sua presença alimentando-se de frutos sejam verdes ou maduros, inviabilizando-os para o consumo ou para a industrialização. Em milho atacam as espigas e na soja além do dano ini-cial nas plântulas, sua investida pode ocorrer na fase reprodutiva perfurando vagens e se alimentando de grãos em formação.

HeLiCOVerpA ArmiGerA É uma espécie que apresenta grande

mobilidade e alta capacidade de sobrevivência sob condições adversas, podendo completar várias gerações por ano, finalizando seu ciclo de ovo a adulto entre quatro a seis semanas no período de verão. O adulto apresenta nas asas anteriores uma série de pontos nas margens e uma mancha em forma de vírgula na sua parte inferior. As asas posteriores são mais claras apresentando uma borda marrom escura na extremidade apical, havendo dimorfismo sexual entre machos e fêmeas. Uma fêmea pode colocar de 1000 a 1500 ovos sempre de forma isolada sobre os talos, frutos e folhas e de preferência no período noturno. Para a pos-tura, preferem a página superior das folhas e as

Espiga de milho atacada por Helicoverpa sp. MT, 2013

Morfologia das asas dos adultos de H. virescens (a); Helicoverpa zea (b); H. armigera (c) e H. gelotopoeon (d)

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superfícies pubescentes, sendo que o período de postura pode durar de 8 a 10 dias.

O período larval é constituído de seis ins-tares. A lagarta possui coloração variável, do verde ao amarelo claro a um tom mais escuro. São detalhes característicos, a sua cápsula cefálica de cor pardo claro, umas finas linhas brancas laterais e a presença de pelos. Para o caso de lagartas a partir do 4º instar o quarto segmento apresenta formato de “sela” devido à presença de tubérculos abdominais escuros e bem visíveis (Figura 6).

Além disso, quando perturbada apresenta um comportamento peculiar encurvando a cápsula cefálica até o primeiro par de falsas pernas, permanecendo deste modo por um bom tempo. Outra característica observada nesta espécie diz respeito à textura do tegu-mento que se apresenta de aspecto levemente coriáceo, muito diferente das lagartas de outras espécies de Helicoverpa, podendo ser esta particularidade um fator de resistência a inseticidas de contato, visto que apresentam-se pouco eficientes para esta praga.

H. armigera apresenta distribuição na

Ásia, Oceania incluindo Austrália, África e Europa agora, mais recentemente, no Brasil, sendo que nos países de origem demonstra elevada capacidade de desenvolver resistência a inseticidas, especialmente para produtos a base de piretróides, organofosforados e carbamatos. Por ser polífaga, pode causar danos em diferentes culturas de importância econômica como algodão, leguminosas em geral, sorgo, milho, girassol e amendoim, além de hortaliças, plantas ornamentais e frutíferas. Portanto, são mais de 180 espécies de plantas nativas e silvestres hospedeiras da praga, distribuídas em pelo menos 47 famílias. As lagartas de H. armigera se alimentam de folhas e caules, contudo mostram forte pre-ferência por órgãos reprodutivos como brotos, inflorescências, frutos e vagens. Além disso, apresentam uma tendência para agressividade, são carnívoras e propensas ao canibalismo. A

fase de pupa ocorre no solo e pode permanecer em diapausa durante toda uma estação, não emergindo até a estação seguinte. Isto faz com que as gerações não sejam uniformes, podendo ser encontradas fêmeas adultas ao longo de quase todo o ano. Entretanto, esta é só mais uma das inúmeras pesquisas que precisarão ser implementadas para se saber exatamente como será o comportamento da referida praga no País.

HeLiCOVerpA GeLOtOpOeOn Esta praga é conhecida na Argentina por

Bolillera e mais recentemente foi denominada de lagarta das ponteiras por Gassen (2013). Esta espécie já é conhecida nas lavouras ar-gentinas pelos seus danos em várias culturas dentre elas, soja, algodão, ervilha, girassol, milho, cebola, tomate, fumo e linho.

No Brasil foi coletada por Ceslau Bie-

Figura 1 – Heliothis virescens apresenta pintas salientes com a presença de micropelos

Figura 3 - Tíbia anterior de Helicoverpa zea (a) e H. gelotopoeon (b), com vista lateral do número dos espinhos que diferenciam as espécies

Outro fato a acrescentar, bastan-te curioso, é a constatação de

cópulas entre espécies diferentes, neste caso H. virescens com Helicoverpa sp., verificada várias vezes no campo nestes últimos meses. Esta é uma característi-ca já observada em espécies invasoras geneticamente relacionadas, sendo que ao copular há uma troca de material genético (hibridização) e se esta troca se der em quantidade suficiente, a consti-tuição genética da população pode ser alterada, havendo assim uma espécie de extinção genética e o desenvolvimento de uma nova espécie. Ainda segundo a literatura, caso essa espécie apresente fertilidade, será altamente invasiva e poderá se tornar ainda mais agressiva do que as duas espécies individualmente

CópulA eNtre eSpéCIeS (Pysek & Richardson, 2010). Portanto estudos para verificação desta ocorrência tornam-se necessários.

Figura 2 - Mandíbula de H. virescens com placa dentada na face interna

Cópula entre Heliothis virescens e Helicoverpa sp. em cultivo de tomate, maio de 2012.

Morrinhos (GO)

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zanko, em Pelotas, 1952 e Dionísio Link, em Santa Maria, 1972. E segundo Gassen (2013) é considerada como lagarta esporádica em soja, desde a década de 70, e citada como praga na cultura desde a safra de 2007, mais especificamente nos Estados da Região Sul do País, isso se deve, provavelmente, em razão da fronteira seca de transito livre existente entre o Brasil e a Argentina.

Os adultos possuem asas anteriores de cor marrom, podendo variar para marrom avermelhado, verde oliva ou cinza, sendo as asas posteriores mais claras com faixa escura acompanhando a margem lateral. Além disso, possui, segundo a literatura, de cinco a seis espinhos robustos e proeminentes nas tíbias anteriores (Figura 3b), o que a diferencia da H. zea que tem apenas um espinho na tíbia anterior. A diferenciação de H. gelotopoeon de H. virescens pode se dar também pela ausência de espinhos no primeiro, segundo e oitavo segmento abdominal e presença de placa esclerotizada sobre a superfície dorsal do pro-tórax de coloração verde que em H. virescens é escura e pêlos do corpo de coloração branca enquanto em H. virescens é escura.

Quanto a correta diferenciação entre as espécies H. gelotopoeon, H. armigera e H. zea, é importante salientar que, atualmente, esta se baseia em detalhes encontrados no aparelho genital masculino.

Os ovos são colocados também de forma isolada, preferencialmente nas brotações ter-minais das plantas. As larvas recém-eclodidas possuem coloração marrom escuro acinzenta-do e permanecem no interior dos folíolos da soja fazendo um pequeno casulo. A medida

que crescem adquirem coloração variável do amarelo a verde claro ou quase negro, segundo o tipo de alimentação utilizada. Esta lagarta pode atacar a soja em vários estágios, como por exemplo, recém-emergida, consumindo os co-tilédones, destruindo a planta antes mesmo da emissão das folhas definitivas. Também pode atacar nas fases de emissão de folíolos e neste caso tem preferência pelas brotações, ramos e folhas mais novas, principalmente se estas lagartas são remanescentes de safras anteriores. Entretanto quando começam sua fase larval na cultura em desenvolvimento, costumam permanecer dentro das brotações, produzindo danos iniciais imperceptíveis, e a medida que crescem, as lagartas aumentam sua voracidade e iniciam desfolhas significativas nas culturas. Quando avançam para o estagio reprodutivo os danos se concentram nas inflorescências e mais tarde nas vagens consumindo grãos em desenvolvimento. Por este motivo a literatura considera uma praga ávida por proteínas e hidratos de carbono, além do que, apresenta maior tolerância aos inseticidas normalmente utilizados na cultura. Estas são, na verdade, características muito semelhantes as encon-tradas em H. armigera.

Para Lannone (2011) os níveis de controle adotados para esta praga em lavouras na Ar-gentina foram ajustados para os diferentes gru-pos de maturação, bem como espaçamentos utilizados, sendo que para soja com 35cm de espaçamento, foi recomendado o controle na fase inicial, quando forem encontradas de 1 a 2 lagartas/m, ou então 10% de plantas com pre-sença de lagartas nos brotos. Quando a lagarta adquire o comportamento de desfolhadora, a

recomendação é de três lagartas/m em condi-ções normais e em veranicos uma lagarta/m. E, finalmente, quando atingem as inflorescências ou as vagens o nível de controle recomendado é de 0,5 lagartas/m. Segundo Igarzabal (2010) estudos realizados em Córdoba no ano de 2012 comprovaram que uma lagarta de H. gelotopoeon pode consumir até 18 grãos, com média de 10 grãos consumidos/lagarta o que equivale a cerca de 50 kg de perdas/ha.

Seria importante uma investigação da entrada da H. armigera pela fronteira Brasil/Argentina, pois considerando a dificuldade de diferenciação entre as duas espécies (H. armigera e H. gelotopoeon) e os relatos também de ataques da praga em Estados vizinhos a Argentina, há uma grande possibilidade de que naquele País a espécie presente não seja outra senão a H. armigera e, portanto poderá se aventar a probabilidade da entrada desta praga no País por esta fronteira seca. Assim, são recomendados estudos aprofundados para elucidar esta questão, inclusive com identificação imediata de espécimes obtidos na Argentina.

Enfim, para todas as espécies descritas recomenda-se, atenção redobrada nos moni-toramentos, pois além daqueles normalmente executados com o método do pano, verifica-ções semanais nas brotações com intuito de monitorar ovos e pequenas lagartas são muito importantes para que o controle possa ser realizado com um maior número de lagartas recém-eclodidas, com o objetivo de impedir o alastramento da praga nas áreas e a evolução dos danos na cultura.

eStrAtÉGiAS pArA O mAnejOA correta identificação das espécies de

Heliothinae que estejam ocorrendo em uma

Figura 4 – Helicoverpa spp. apresenta pintas salientes sem a presença de micropelos

Figura 5 - Mandíbula de H. zea sem placa dentada na face interna

25www.revistacultivar.com.br • Abril 2013

determinada área é fator chave para o sucesso do manejo integrado desse complexo de la-gartas. Da mesma forma, técnicas efetivas de amostragens de ovos, lagartas ou até mesmo pupas são essenciais como subsídios para as tomadas de decisões sobre as melhores táticas de controle, devendo os levantamentos ser realizados não somente em uma cultura ou propriedade, mas sim em todas as possíveis plantas hospedeiras de ocorrência na região. A tecnologia de manejo de pragas em grandes áreas, talvez possa ser uma estratégia adequada para o manejo do complexo de Heliothinae, pois esse sistema de controle é adequado para o manejo de insetos que apresentam grande mobilidade como são as espécies hora citadas. Dentre as vantagens desta abordagem de controle destacam-se a reduzida ocorrência de ressurgência da praga no ambiente manejado, a maximização do controle biológico natural e a redução do número de aplicações de inse-ticidas. No entanto, este princípio somente opera com eficiência quando é apoiado por um sistema competente de monitoramento da praga alvo de forma regional.

A adoção de monitoramentos frequentes nas lavouras, antes, durante e após o desenvol-vimento das culturas é uma estratégia eficaz para a prevenção dos danos causados por estas lagartas, pois se sabe que muitos dos problemas enfrentados na safra 2012/2013 foram gerados pela simples falta de percepção por parte dos responsáveis em detectar estas pragas nas suas fases iniciais de desenvolvimento, nas quais os controles são comprovadamente mais efetivos.

ArmADiLhAs Com Feromônio sexuALO uso de armadilhas iscadas com feromô-

nio sexual pode ser uma ferramenta impor-tante para o monitoramento de adultos de Helicoverpa, cujos resultados, quando correla-cionados com a incidência de ovos ou de larvas presentes nas plantas, fornecem um cenário importante da probabilidade de ocorrência de surtos da praga na região e, consequen-temente, da necessidade de implementação de medidas de controle. O feromônio sexual pode ser também utilizado nas áreas de cul-tivo através da técnica de confundimento de machos, impedindo os insetos de encontrar o parceiro e se acasalar e, consequentemente, de se reproduzirem. Todavia, apesar da existência desse tipo de feromônio para a maioria das es-pécies de Heliothinae, a sua utilização não tem sido efetivamente implementada, necessitando de ajustes na composição e/ou formulação dos feromônios com o objetivo de obter uma

melhor bioatividade para as populações de Heliothinae do Brasil.

As vArieDADes trAnsgênCiAsCaso o produtor decida plantar cultivos

transgênicos Bt de milho ou algodão, reco-menda-se utilizar sempre materiais pirami-dados como VIPTERA, VTPRO, VTPRO2, POWER CORE, INTRASECT, BOLGARD II e WIDESTRIKE, ou seja, que expressam duas ou mais proteínas Bt. Esta opção pode aumentar a eficiência de controle da praga alvo, bem como reduzir a probabilidade de desenvolvimento de resistência às plantas Bt em questão. Isso pode explicar, em parte, os problemas enfrentados com lagartas de Helico-verpa na cultura do milho na região da Bahia, onde 70% do milho Bt plantado na região expressava apenas uma proteína (Cry1F).

HeLiCOVerpA ArmiGerA no ALgoDãoFitt (1989) relatou que H. armigera pre-

domina entre os lepidópteros que atacam a cultura do algodão do período médio a final do desenvolvimento da cultura. As larvas po-dem ocasionar danos em todas as estruturas e estágios do algodoeiro, particularmente nas estruturas reprodutivas como o botão floral e as maçãs jovens que, potencialmente, reduzem a produção quando atacadas.

A cultura do algodoeiro tem recebido populações de Helicoverpa sp. migrantes das

culturas de soja e milho (culturas fornece-doras), sendo esse fato perceptível nas áreas atacadas do sudoeste da Bahia. No algodoeiro ocorre o dano a partir da fase de floração, onde a lagarta prefere se alimentar de botões florais a folhas, avançando até a fase de maçãs com perdas expressivas nesse período.

Em relação a primeira geração do algodão Bt INGARD na Austrália que expressa a proteína Cry1AC, foi testada a ação inseticida para H. armigera e a reduzida toxicidade dessa cultivar proporcionou condições favoráveis para o desenvolvimento de indivíduos resis-tentes à proteína Cry1AC, favorecendo a evo-lução da resistência. Também com a tecnologia Bollgard II (Cry1AC/Cry2Ab) os trabalhos na Austrália tem demonstrado que mais de 20% de larvas de H. armigera consideradas susce-tíveis tem sobrevivido nos materiais Bt2 na fase de maçãs ou cut-out. O mesmo trabalho demonstrou que mais de 30% das larvas so-breviveram quando criadas em materiais com a proteína Cry1AC, entretanto seu desenvol-vimento até a fase de pupa foi dez dias maior quando comparado com as criadas em algodão não-Bt (S. Dowes, dados não publicados). Entretanto, Bollgard II usualmente oferece controle superior de H. armigera (Pyke, 2008), uma vez que a proteína Cry2AB é expressa em níveis tóxicos em plantas com estágios mais avançados. Dessa forma, durante o estágio de floração pulverizações com inseticidas em

Posição característica da espécie Helicoverpa armigera, após ser perturbada

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26 Abril 2013 • www.revistacultivar.com.br

campos de Bollgard II (Whitburn & Downes, 2009) podem ser necessárias.

Atualmente no Brasil tem-se a tecnologia WideStrikeTM com as proteínas Cry1Ac e Cry1F que asseguram proteção às plantas durante todo o ciclo da cultura contra os danos provocados pela alimentação de larvas de lepi-dópteros. No entanto, em relação ao controle de larvas de Helicoverpa sp. não se tem efetivi-dade completa do controle, sendo que alguns indivíduos sobrevivem nesse material.

os imPACtos nA sojA e áreAs De reFúgioNo caso da soja INTACTA, embora ocorra

a expressão de apenas a proteína Cry1Ac, acredita-se que o seu uso irá contribuir para o manejo das Heliotinae nos agroecossistemas, já que eventos piramidados em soja tem pre-visão para ser liberados somente daqui quatro a cinco anos.

Recomenda-se, com relação aos cultivos transgênicos Bt, a adoção, em pelo menos 20% da área plantada, de refúgios estruturados com materiais convencionais (não transgênicos), os quais devem apresentar fenologia, ciclo e manejo semelhantes. Além disso, é impres-cindível que não haja aplicação de produtos a base de Bt, para o controle de lagartas nestas áreas. E, em se tratando de refúgios, uma es-tratégia bastante eficaz seria a obrigatoriedade da adoção através de leis federais, instituídas pelos órgãos fiscalizadores para todas as áreas de cultivo, pois embora haja, atualmente, uma percepção geral para a necessidade de refúgios, essa medida caiu em desuso por parte dos produtores.

o ControLe químiCoCom relação ao controle químico, sempre

que possível, recomenda-se a utilização de inseticidas em tratamento de sementes para o controle de pragas iniciais da cultura como a lagarta elasmo, percevejo barriga verde e vaquinhas, além de possibilitar uma redução nas aplicações foliares na fase inicial das cul-turas. Deve-se também buscar, sempre que possível, retardar o máximo possível a primeira aplicação de inseticida nas lavouras de algodão e de soja, obedecendo os níveis de controle estabelecidos pela pesquisa. Em adição, recomenda-se utilizar produtos seletivos aos inimigos naturais até os 70 dias após a emer-gência do algodão e até o completo fechamento da soja nas entrelinhas, evitando sempre o uso de inseticidas fosforados e piretróides, considerados normalmente não seletivos para os inimigos naturais. Procedendo-se desta forma haverá o estabelecimento dos primeiros inimigos naturais das pragas (predadores e parasitóides) nas culturas, proporcionando com isso, reflexos positivos para os cultivos em razão da manutenção do equilíbrio bioló-gico no agroecossistema. Deve ser abolida dos sistemas produtivos brasileiros, uma prática bastante utilizada pelos produtores, que é a calendarização generalizada das aplicações de inseticidas, que muitas vezes são desnecessá-rias, indiscriminadas e causadoras de desequi-líbrios biológicos no agroecossistema.

Com o intuito de conter a H. armigera que está atacando lavouras de algodão e de soja, na região Oeste da Bahia, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) autorizou a importação e aplicação de produtos agroquímicos, registrados em outros países, que tenham como ingrediente ativo único a substância benzoato de emamectina. A autorização foi publicada no Diário Oficial da

União (DOU) no dia, 04 de abril, de 2013.A inserção para utilização dessas sustâncias

foi concedida em caráter emergencial após ne-gociações entre os Ministérios da Agricultura, Saúde e Meio Ambiente, no âmbito do Comitê Técnico para Assessoramento de Agrotóxicos (CTA). Em 18/03/2013 o Comitê Técnico de Assessoramento para Agrotóxicos (CTA) já havia autorizado exclusivamente para a Bahia, o registro do benzoato de emamectina, produto esse específico para combater lagartas de Helicoverpa spp.

Entre as principais regras, para regula-mentar o uso do Benzoato de Emamectina destacam-se aptos a usar o produto contendo o ingrediente ativo, as Associações ou Sindicatos de produtores rurais, cooperativas ou os pró-prios produtores, a partir dos planos técnicos aprovados pelas autoridades fitossanitárias dos Estados.

A aplicação da substância também será acompanhada por Fiscais Estaduais Agrope-cuários e supervisionada por Fiscais Federais Agropecuários. As propriedades que utilizarem os produtos serão objeto de fiscalização de uso, sendo monitoradas também as doses, número de aplicações e tecnologias utilizadas.

Dentre os ingredientes ativos que tem proporcionado controle de lagartas de Heli-coverpa nas culturas da soja, milho e algodão podemos destacar clorantraniliprole, fluben-diamide, clorfenapyr, indoxacarb e spinosad. Entretanto, nas aplicações de inseticidas, é de importância fundamental rotacionar os modos de ação dos produtos para reduzir a pressão de seleção dos ingredientes ativos. O uso de iscas tóxicas a base de melaço ou açúcar + inseticida carbamato, aplicadas nas bordaduras das lavouras, constitui também uma ação complementar para o controle de adultos de Helicoverpa.

pOnteS VerDeS e CLimAConsiderando-se a polifagia deste grupo

de Heliothinae, a presença de pontes verdes no período da entressafra de soja, algodão e milho tem favorecido a sobrevivência das lagartas no campo durante este período. O que muitos precisam entender é que apesar de não ocorrer invernos rigorosos, como os países do hemisfério norte, há períodos de secas prolongadas, dos quais, atualmente, são modificados com grandes projetos de irrigação e com isso se criam as chamadas “pontes ver-des”, onde os insetos pragas, doenças e plantas daninhas crescem e se multiplicam, atingindo seu cume nas safras de verão. Dessa forma, a implementação de um plano de vazio sanitário

H. armigera apresenta tendência para agressividade, é carnívora e propensa ao canibalismo

Laryssa M. Bernardes

27www.revistacultivar.com.br • Abril 2013

para as culturas irrigadas e de sequeiro de milho, soja e algodão poderá constituir em importante estratégia para o manejo deste complexo de lagartas. Este vazio sanitário poderá ser realizado entre os meses de agosto a outubro (ex. 20/08 a 20/10) e terá maior efeito se for normatizado por instrumento legal e contar com o envolvimento dos responsáveis pelo sistema de defesa vegetal, de cada região agrícola do País. Outra questão importante seria a necessidade do estabelecimento de um calendário de plantio para as diferentes culturas e regiões do país, sendo importante salientar que quanto mais estreita a janela de plantio mais adequada será para o manejo de Helicoverpa.

COntrOLe CULtUrALEm adição, como estratégia de con-

trole cultural de lagartas de Heliothinae recomenda-se a eliminação eficiente de soqueiras e rebrotas de algodão, bem como de tigueras de soja e de algodão após a co-lheita. A destruição mecânica de pupas de Helicoverpa em áreas com alta infestação da praga, através do revolvimento do solo, pode também ter grande contribuição para o manejo dessa praga, especialmente nas áreas irrigadas sob pivô, sendo o mês de agosto a época mais adequada para realizar esta operação em regiões como as que se apresentam na Bahia, Distrito Federal e Goiás.

inimiGOS nAtUrAiSLagartas de Helicoverpa podem ser ata-

cadas por um grande número de inimigos naturais em condições de campo, dependendo do tipo de manejo adotado no agroecossiste-ma. Vários predadores, parasitoides e pató-genos de ovos e de lagartas são relatados na literatura. No caso de ovos, parasitoides do gênero Trichogramma apresentam uma gran-de associação especialmente com as espécies H. zea e H. armigera. Existe a possibilidade real de multiplicação e liberação a campo de parasitoides do gênero Trichogramma visando o controle de ovos de Helicoverpa em cultivos de soja, milho e algodão como foi relatado no Fórum Regional de Helicoverpa, na Bahia.

Na safrinha de milho deste ano, no Estado do Paraná, foi constatada uma alta incidência de lagartas de Helicoverpa parasitadas por moscas da família Tachinidae (informação pessoal de André Shimohiro). Além disso, os vírus da poliedrose nuclear (baculovírus) de H. armigera e H. zea tem sido testados com sucesso para o controle dessas pragas em vários países do mundo com destaque na Europa, Estados Unidos e Austrália. Sendo que esse vírus foi regulamentado pelo Mapa para uso emergencial no controle de lagartas Helitohinae. Considerando-se também que H. armigera é uma praga exótica no Brasil, deveriam os pesquisadores envolvidos buscar por inimigos naturais exóticos nas regiões de origem de ocorrência da lagarta, podendo vir

Figura 6 - Lagartas de H. armigera a partir do 4º instar apresentam o quarto segmento em forma de “sela” devido à presença de tubérculos escuros e bem visíveis

a ser uma estratégia promissora para auxiliar no manejo dessa praga no País.

treinAmento e integrAçãoFinalmente, o sucesso no manejo de la-

gartas de Heliothinae nas diferentes culturas em que atacam somente acontecerá com o envolvimento de profissionais adequadamente treinados e/ou familiarizados com as carac-terísticas de identificação das espécies, bem como das técnicas de monitoramento e de manejo integrado desse complexo de pragas nos cultivos. Assim, é imprescindível criar um ambiente para realização de cursos dirigidos à capacitação de monitores sobre as diferentes táticas a serem empregadas para o manejo des-te grupo de insetos, especialmente nas culturas do algodão, soja, milho e tomate.

Por fim, resta registrar nosso reconheci-mento ao taxonomista Vitor O. Becker pela identificação da espécie H. armigera, aqui citada. E aos alunos da Universidade Federal de Goiás (UFG), pesquisadores e consultores de diversas instituições públicas e privadas que contribuíram de forma direta ou indireta na execução deste artigo.Cecilia Czepak Universidade Federal de Goiás Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste Lucia Madalena Vivan, Fundação MT Karina C. Albernaz, Universidade Federal de Goiás

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Soja tiguera em milho atacada por Helicoverpa armigera, no Paraná, 2013 e à direita presença da lagarta em vagem madura

Cecília CzepakAndré Shimohiro

28 Abril 2013 • www.revistacultivar.com.br

Pragas

As culturas da soja, milho e algo-doeiro se destacam no Brasil por determinar o desenvolvimento de

muitas regiões. A região dos Chapadões é uma das que foram impulsionadas em função deste agronegócio. No entanto, a produção destas culturas apresenta problemas fitossanitários em função do ataque de pragas, doenças e plantas daninhas.

Dentre os problemas, a presença de ácaros registrou aumento de frequência na região e no restante do Brasil, principalmente em locais ou anos com maior incidência de veranicos. Dessa forma houve aumento de sua impor-tância tanto pelos danos causados como pela necessidade do uso de defensivos agrícolas.

Os ácaros-praga são artrópodes pertencen-tes à classe Arachinida fitófagos e polífagos, ou seja, são encontrados em vários habitats e alimentam-se de diversas espécies vegetais, onde perfuram as células com seus estiletes e se alimentam dos líquidos extravasados nas folhas. Diferenciam-se dos insetos (classe In-secta) por não possuir segmentação no corpo e por apresentarem quatro pares de pernas.

No passado, os ácaros fitófagos eram considerados pragas secundárias em algumas

culturas, como o caso da soja, porém a utili-zação de alguns defensivos para o controle de pragas nas culturas fez com que a presença de inimigos naturais reduzisse drasticamente, aumentando a população dos ácaros fitófagos de modo considerável.

Atualmente, no Brasil, as espécies de ácaros que atacam soja e algodoeiro são o ácaro-rajado Tetranychus urticae, o ácaro-verde Mononychellus planki, ambos tetraniquídeos, e o ácaro-branco Polyphago tarsonemus latus, da família Tarsonemidae.

Na cultura do milho, trata-se de um problema novo, sendo muitas vezes localiza-do, como constatado em algumas visitas da equipe da Fundação Chapadão. No intuito de verificar o prejuízo de M. planki na cultura do milho observaram-se diferenças em pro-dutividade da ordem de 5% em locais com a presença desta praga na ordem de 30 ácaros por folha de milho.

De modo geral, os ácaros perfuram as células e se alimentam do líquido exsudado. O ácaro-verde (M. planki) se localiza próximo às nervuras, ou mesmo quando do aumento da população entre as nervuras. Normalmente começa o ataque na face inferior e, após,

quando em altas populações, chega a atingir a face superior das folhas, provocando alterações fisiológicas nas plantas, desfolha prematura e levando à queda em produtividade.

A maior ocorrência desta praga, em geral, se verifica nos estádios reprodutivos, princi-palmente quando há maior enfolhamento da lavoura, o que propicia melhor condição de sobrevivência para os ácaros, e no final da lavoura. Na cultura da soja, em estádios após R3, tem-se observado aumento da população, coincidentemente com menor umidade, o que pode favorecer a praga. A espécie Mo-nonychellus planki é um ácaro de maior ocor-rência no interior das plantas, colonizando primeiramente o terço médio e, após, o terço superior, causando desfolha precoce da cultura e diminuindo consequentemente a produção. Esta espécie foi encontrada em regiões do Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, na última safra. Seus danos podem chegar a prejuízos da ordem de 5% na produtividade da cultura da soja, quando não controladas e em infestações de 30 ácaros por folha, em 70% das folhas das plantas, por um período de 30 dias na cultura anterior ao estádio R7.

Outros ácaros também são muito impor-

Danos agravadosO sistema produtivo de soja, milho e algodão tem sido afetado de forma crescente pelo ataque de ácaros nas últimas safras, principalmente nos Cerrados. Controlar de forma eficiente essas

pragas impõe o manejo correto de inseticidas e a adoção de medidas integradas como o combate a plantas daninhas que servem de hospedeiras

O sistema produtivo de soja, milho e algodão tem sido afetado de forma crescente pelo ataque de ácaros nas últimas safras, principalmente nos Cerrados. Controlar de forma eficiente essas

pragas impõe o manejo correto de inseticidas e a adoção de medidas integradas como o combate a plantas daninhas que servem de hospedeiras

exemplo, Commelina benghalensis.A utilização de acaricidas é uma alterna-

tiva rápida e eficiente a fim de evitar os surtos destas pragas, no entanto, existem algumas diferenças na ação dos produtos. Alguns gru-pos químicos têm apresentado controle aquém do esperado, como observa-se em alguns trabalhos desenvolvidos na safra 2011/2012, na Fundação Chapadão.

As diferenças na ação dos acaricidas devem ser levadas em consideração, sendo necessário, em alguns casos, a reaplicação na cultura, a fim de evitar os prejuízos. O ajuste de dose para cada espécie de ácaro não pode ser esquecido.

Por serem alvos de difícil controle, a tec-nologia de aplicação exerce papel importante, sendo a busca da melhor tecnologia possível dentro da propriedade uma prioridade para o manejo desta praga.

tantes no sistema, como a espécie Tetranychus urticae (ácaro-rajado), que, semelhantemente ao ácaro-verde, apresenta no corpo as manchas dos depósitos de sua alimentação retidos nos ventrículos. Este ácaro foi encontrado princi-palmente em soja cultivada sobre resteva de algodão e em soqueiras manejadas quimica-mente, onde sobraram tigueras no sistema.

Na cultura do algodoeiro se destaca por ser uma praga que requer de duas a quatro intervenções na safra, com custos em torno de 25 dólares por hectare, somente em acaricida. Com a saída de moléculas do mercado de defensivos, como o caso do endossulfan, será necessária a utilização de outros inseticidas, que se usados de forma incorreta podem desequilibrar o sistema. Neste caso, quem realiza a recomendação deve basear-se em amostragens fidedignas que permitam adotar a medida na hora correta, além de, em alguns casos, possibilitar usar defensivos que tenham ação sobre esta praga, ou mesmo defensivos seletivos aos inimigos naturais nesta cultura, práticas recomendadas dentro do Manejo integrado de pragas (MIP).

O ácaro-branco (Polyphago tarsonemus latus) apresenta ocorrência importante em diversas culturas. Em algodoeiro sua presença está ligada principalmente após as adubações nitrogenadas, além de outros nutrientes apli-cados foliarmente e fatores coincidentes como dias úmidos e quentes. Na safra 2011/2012, em virtude das chuvas prolongadas, esta praga ocorreu em vários surtos, necessitando cuidados maiores, em virtude da região do Cerrado normalmente apresentar um inverno seco, principalmente a partir de maio, quando cessam as chuvas e a praga diminui.

Vale destacar ainda que esta praga em

soja ataca tecido novo em formação. Desta forma, as vagens podem em algum momento apresentar sintomas semelhantes à antracnose em soja, sendo confundidos os danos com esta doença. No entanto, a praga pode ter atacado o tecido e após o fungo agir como oportunista no local.

A ocorrência destes ácaros também está li-gada a vários fatores, como o clima, hospedeiros existentes nas áreas (provocando as chamadas “pontes verdes” que deixam os indivíduos se perpetuarem para a próxima safra) e ao manejo adotado pelo produtor e técnico, onde cita-se o uso sem critérios dos piretroides, que podem dizimar os inimigos naturais dos ácaros-praga. Destacam-se, nesse caso, os ácaros predadores da família Phytoseiidae.

Os piretroides são defensivos que propor-cionaram o controle de diversas pragas, mas que atualmente junto a outras aplicações (as chamadas “caronas ou mesmo misturas”) têm levado à eliminação dos inimigos naturais e em alguns casos até ao estimulo à reprodução dos ácaros, em um fenômeno conhecido como hormoligose, que provoca o aumento populacional dos indivíduos. Não somente os piretroides, mas também os neonicotinoi-des podem aumentar a população de ácaros. É importante lembrar que uma fêmea tem capacidade para colocar de 20 a até 200 ovos (no caso de M. planki em soja, em intervalo de 12 dias, e 200 para T. urticae em algodoeiro, com intervalo de 20 dias).

áCAros e PLAntAs DAninhAsAs plantas daninhas não podem ser esque-

cidas dentro do manejo de ácaros. Em estudo coordenado pela Embrapa destaca-se que os ácaros se hospedam em várias delas, como, por

Adulto de Mononychellusplanki em soja

eficiência de controle de polyphago tarsonemus latus na cultura do algodoeiro eficiência de controle de tetranychus urticae na cultura do algodoeiro

eficiência de controle de mononychellus planki na cultura da soja

Germison Tomquelski,Alcenir Silveira eRafael Vilela,Fundação Chapadão

CC

Grupo químicoCetoenol

Avermectinatetrazinapirazol

Feniltioureia

Concentração24018500240500

ingrediente ativoespiromesifeno

Abamectina + óleoClofentezinaClorfenapir

Diafentiurom

Dose (g.i.a).ha-1

1205,4100192250

Grupo químicoCetoenol

Avermectinatetrazinapiretroide

ingrediente ativoespiromesifeno

Abamectina + óleoClofentezinaBifentrina

Dose (g.i.a).ha-1

1205,410050

Grupo químicoCetoenol

Avermectinatetrazina

ingrediente ativoespiromesifeno

Abamectina + óleo Clofentezina

Dose (g.i.a).ha-1

1205,4100

29www.revistacultivar.com.br • Abril 2013

30 Abril 2013 • www.revistacultivar.com.br

Pragas

Desde fevereiro de 2012, a la-garta do gênero Helicoverpa tem atacado diversos cultivos

do Brasil, em níveis populacionais elevados nunca vistos anteriormente. Assumindo o comportamento de praga do Sistema de Pro-dução, as infestações também decorrem de um ambiente que se encontra desequilibrado e o inseto desafia um controle sustentável, pois este gênero da praga é bastante sério e de difícil controle no mundo todo. As espécies H. zea, H. armigera, H. punctigera e

H. gelotopoeon, por exemplo, têm histórico de dramáticos surtos e prejuízos pelo mun-do. Adotar medidas práticas, funcionais e urgentes para restabelecer minimamente o equilíbrio biológico é o caminho para ame-nizar a problemática, independentemente da espécie ocorrente.

Os problemas começaram a partir do seu epicentro, na região oeste da Bahia, atingindo o sul do Maranhão e sul do Piauí ainda na safra 2012. Na sequência, a praga foi relatada causando sérios prejuízos entre

as mais importantes regiões e cultivos do Cerrado, em milho de verão, algodão, milho de outono, feijão, sorgo, caupi, milheto, milho irrigado e soja. Pelo País, também há relatos de ataques em café, citros, tomate, pimentão, dentre outras plantas. Admite-se que na safra atual, a praga infesta lavouras de pelo menos 12 estados da Federação. As peculiares características biológicas da praga contribuem para o aumento populacional de Helicoverpa nas áreas de produção.

Tipicamente, está estabelecido um sistema em que há culturas fornecedoras e receptoras da praga, em um fluxo no espaço e no tempo, entre vizinhanças e re-giões, naquilo que é comumente chamado de movimento de dispersão, com pontes

Para conter as infestações de Helicoverpa que se espalham pelas lavouras de pelo menos 12 estados brasileiros, em diversos cultivos, são necessárias medidas integradas, com manejo

regionalizado, utilização correta da tecnologia e gerenciamento das ações para reequilibrar os sistemas de cultivo de modo sustentável

Estancar prejuízos

tamanhos médio e grande, o que debilita a boa proteção de plantas;

5) Produtores sem assistência agronô-mica de qualidade tiveram problemas para iniciar um controle adequado no início das infestações, enfrentando dificuldades na distinção entre lagartas de Helicoverpa e Heliothis virescens (lagarta-das-maçãs-do-algodoeiro).

biológicas e hospedeiros alternativos. Nas fases de florescimento e frutificação da soja e algodoeiro a redistribuição constante da praga é notável, com posturas continuadas, que têm sido muito intensas, dificultando o controle e agravando os prejuízos.

A distribuição da(s) espécie(s) ocorrente(s) carece de um estudo mais detalhado. Também, é urgente um estudo taxonômico de qualidade no País, de prefe-rência utilizando marcadores moleculares, e não apenas exame de genitálias de mariposas. Desta forma, este texto trata o problema ape-nas pelo nome do gênero: Helicoverpa.

As Possíveis CAusAs Dos surtosAlém das características biológicas da

praga, atribui-se aos seguintes fatores o aumento populacional de Helicoverpa nas áreas de produção, que são multipraga e com policultivos:

1) Ocorreu um desequilíbrio climático no oeste da Bahia, sul do Maranhão e do Piauí, caracterizado por uma longa seca, que favoreceu a sobrevivência de Helicoverpa a partir do mês de fevereiro de 2012;

2) Existe um esquema de diversificação e sucessão de culturas muito favorável à praga

Helicoverpa, no atual modelo de produção (milho – feijão – sorgo – caupi – milheto – algodão – milho irrigado – soja);

3) Existem evidências a campo de que a retirada do inseticida endosulfan do mer-cado favoreceu o descontrole da praga no algodão;

4) Ocorre reduzida eficiência dos in-seticidas comerciais atuais em lagartas de

Danos severos provocados por Helicoverpa em algodão

31www.revistacultivar.com.br • Abril 2013

Fotos Rogério Inoue

32 Abril 2013 • www.revistacultivar.com.br

A soCieDADe se orgAnizAA gravidade do problema propiciou

a formação do Grupo de Gerenciamento do Programa Fitossanitário (formado pela Associação de Agricultores Irrigantes da Bahia, Associação Baiana dos Produtores de Algodão, Associações de Engenheiros Agrônomos de Luís Eduardo Magalhães e de Barreiras, Fundação de Apoio à Pesquisa e Desenvolvimento do Oeste Baiano, Fundo para o Desenvolvimento do Agronegócio do Algodão, consultores agronômicos, cien-tistas e outras entidades da sociedade civil organizada), em parceria com o Governo do Estado da Bahia, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Associa-ção Brasileira dos Produtores de Algodão e Instituto Brasileiro do Algodão (a Portaria Nº 42, de 5 de março de 2013, da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa, estabelece a Emergência Fitossanitária para o problema). Este Grupo de Gerenciamento do Progra-ma Fitossanitário tem a missão de pensar, planejar, definir e aplicar medidas para o restabelecimento do equilíbrio biológico do Sistema de Produção, dentro de princípios econômicos, ecológicos, sociais, científicos e tecnológicos, respeitando a pluralidade de ideias e diversidade.

Dentre as ações do Grupo ocorreram vá-rias visitas técnicas nas áreas com problemas, observações de campo, coletas e experimen-tação. Ocorreu a Missão Austrália 2013, que consistiu na visita técnica às instituições de pesquisa, produtores, empresas, consultorias e projetos de extensão daquele país, o qual enfrentou severos ataques de Helicoverpa armigera e Helicoverpa punctigera nos anos 90 com muito método, organização, disciplina, conhecimento científico e medidas de boa prática agrícola. Na época, ocorreram perdas

de 75% na produção do país. Atualmente, os australianos possuem um modelo de sucesso que resolve o problema com a praga por lá. Na sequência, uma série de reuniões foi realizada para chegar a uma proposta de plano global baseado nas melhores práticas agronômicas. A apresentação dos resultados iniciais do Grupo culminou como o Fórum sobre Helicoverpa, em 22 de fevereiro de 2013, na cidade de Luís Eduardo Magalhães, na Bahia.

prOGrAmA reGiOnAL pArAreeqUiLiBrAr O SiStemAA proposição do Grupo de Gerencia-

mento do Programa Fitossanitário para o combate de Helicoverpa é baseada na adoção de uma série de medidas fitossanitárias, de forma coletiva e no âmbito regional, com ampla adesão dos usuários, devidamente sistematizada e com algumas medidas de controle legislativas, mandatórias. O plano de ação para manejar Helicoverpa em um sistema sustentável passa pela intensificação ecológica, uso adequado das plantas-Bt e as melhores práticas agronômicas. As principais medidas consistem em:

1) Definir período de vazio sanitário sem cultura hospedeira (mandatório);

2) Implantar calendário de plantio rigo-roso (mandatório);

3) Adotar práticas de preservação de inimigos naturais da(s) praga(s);

4) Quando cultivar algodão-Bt, utilizar plantas com duas proteínas sempre;

5) Não pulverizar inseticidas maléficos aos inimigos naturais, como piretroides e organofosforados, em milho, fase vegetativa

da soja e primeiros 70-80 dias após a emer-gência do algodoeiro;

6) Divulgar tabelas de produtos seletivos a inimigos naturais de pragas;

7) Na cultura do algodão, devido à falta de opções de produtos seletivos e que con-trole o bicudo, inseticidas organofosforados podem ser utilizados de modo supervisiona-do na fase inicial do cultivo;

8) Solicitar proatividade no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o registro emergencial de defensivos agrícolas biológicos e químicos.

9) Rotacionar inseticidas com modos de ação distintos ao longo do ciclo agríco-la, para minimizar o risco de evolução de resistência;

10) Intensificar o uso de culturas-Bt com duas proteínas sempre;

11) Adoção de refúgio estruturado com pelo menos 20% de plantas não Bt de fenolo-gia e manejo semelhantes (mandatório);

12) Adoção de refúgio alternativo com-plementar (Crotalaria ochroleuca, sorgo, guandu, grão de bico ou alfafa sem uso dos principais modos de ação de inseticidas utili-zados em algodão, soja, feijão e milho);

13) Não pulverizar produtos à base de Bt nos refúgios (mandatório);

14) Fazer intensificação ecológica na cul-tura do milho, com uso de produtos seletivos aos inimigos naturais, adoção de culturas-Bt com duas proteínas sempre e que controlem a lagarta Helicoverpa;

15) Amostrar Helicoverpa nas espigas do milho controlando-a de modo seletivo e econômico;

16) Produzir e liberar massalmente o

• Ovo – adulto: 35-40 dias• Período de incubação: 2-5 dias• Período larval: 14-18 dias• Período pupal: 12-18 dias• Pupa no solo• Longevidade de adultos: > 8 dias• 1-3 gerações/safra• Principais hospedeiros: legumes

(soja, feijão, caupi, guandu), panículas de sorgo e milheto, estruturas repro-dutivas de algodoeiro, espiga de milho, tomate, plantas daninhas etc.

ASpeCtoS bIoeColóGICoS GerAIS

Fórum sobre Helicoverpa, realizado em fevereiro,em Luís Eduardo Magalhães, na Bahia

Aba

pa

34 Abril 2013 • www.revistacultivar.com.br

Grupo que participou de missão técnica na Austrália, com visitas a instituições de pesquisa, produtores, em-presas, consultorias e projetos de extensão para conhecer o combate da Helicoverpa armigera e H. punctigera

parasitoide de ovos Trichogramma pretiosum nas lavouras de milho-Bt, e/ou usar o vírus da poliedrose nuclear (VPN) específico contra Helicoverpa;

17) Implantar biofábricas de produção de inimigos naturais eficientes;

18) Intensificar as amostragens de ovos e lagartas de Helicoverpa na cultura do algodão, preferindo combatê-las pequenas até o nível de controle (três a seis lagartas em 100 plantas);

19) Eliminar plantas involuntárias de milho, soja e algodão em cultivos comer-ciais e áreas não desejadas;

20) Limitar as épocas de cultivo de milho semente ou em irrigação (manda-tório);

21) As empresas de sementes de milho devem estar integradas e adaptadas às me-lhores práticas agrícolas (mandatório);

22) Realizar a destruição de pupas de Helicoverpa sob o solo, com revolvimento leve, mediante mapeamento prévio das áreas de risco, para não prejudicar o Plantio Direto generalizadamente;

23) Evitar frutificação desnecessária (que multiplique Helicoverpa) em milheto de cobertura de solo e biomassa;

24) Destruir soqueira, tiguera e rebro-ta, como determina a legislação (manda-tório);

25) Construir manejo viável e susten-tável de plantas de soja, milho e algodão resistentes a herbicida(s);

26) Instruir, educar, treinar e qualificar monitores de pragas em escolas de forma-ção continuada;

27) Intensificar a assistência agronô-mica em todas as lavouras, por profissional habilitado, capaz, competente e com óti-mas qualidades em seus serviços;

Para finalizar, vale lembrar que as so-luções para a problemática da Helicoverpa estão nas tecnologias, no manejo de risco, na qualidade dos serviços e das pessoas. Um futuro de sucesso passa por fazer bem feito, de uma única vez e da melhor manei-ra possível, onde o manejo da resistência, a intensificação ecológica do sistema, o preço das commodities e a viabilização do módulo de produção precisam estar favorá-veis para a sustentabilidade do agronegócio brasileiro.

Paulo E. Degrande,UFGD/FCACelso Omoto,USP/Esalq

CC

Luís H. Kasuya

Rogé

rio

Inou

e

Presença da lagarta Helicoverpaem vagem de feijoeiro

36 Abril 2013 • www.revistacultivar.com.br

Tecnologia de aplicação

Calda de qualidade

A operação de aplicações conjuntas de defensivos agrícolas, adjuvantes e fertilizantes foliares tem crescido

consideravelmente. Em virtude de muitas destas aplicações serem posicionadas no mes-mo estádio da cultura, o produtor rural não encontra outra alternativa a não ser colocar os produtos juntos no tanque do pulverizador para, inclusive, reduzir os custos operacionais. Contudo, a qualidade da calda de aplicação pode ficar singificativamente comprometida, prejudicando a eficácia dos produtos.

Infelizmente, essa mistura de produtos no tanque de pulverização é um impasse na legislação, visto que não fica claro sua prática. Esta operação era permitida até o ano de 2002 quando o Decreto Federal n° 4.074 de janeiro deste ano, artigo 66, parágrafo único, menciona que os produtos somente poderão ser prescritos em receita agronômica se constar

Nas operações de aplicação de defensivos, adjuvantes e fertilizantes foliares, diversos pontos precisam ser observados, desde a origem da água até as ferramentas utlizadas para avaliação

química da solução formada para pulverização

nas recomendações de uso no rótulo e bula do produto. Na sequência, a Instrução Normati-va 46 de julho de 2002, artigo 1°, determina às empresas a retirada da mistura de tanque dos rótulos e bulas de seus produtos. Assim, como as misturas foram retiradas dos rótulos e bulas, o engenheiro agrônomo não pode receitá-las.

Apesar disso, existem diversos pontos a serem levados em consideração com relação à qualidade da calda de pulverização. Prio-ritariamente, a origem da água utilizada e as ferramentas para avaliação química da solução formada para pulverização.

A água é o solvente universal usado como principal veículo em aplicações de produtos de proteção vegetal, constituindo mais de 95% do volume de pulverização. As proprie-dades da água utilizada para as pulverizações podem influenciar de maneira significativa o

desempenho dos produtos nela misturados. Ao contrário da água pura, a qualidade das águas subterrâneas é variável entre as fontes e pode ser determinada por vários fatores, principalmente condutividade elétrica e pH, além de dureza, turbidez e temperatura.

A condutividade elétrica (CE) representa a concentração de íons na solução que são ca-pazes de conduzir corrente e, por conseguinte, causar dissociação de moléculas. A presença de cátions livres dissolvidos como cálcio, mag-nésio, ferro, zinco, alumínio, manganês, sódio, potássio, dentre outros, pode ser originária de produtos não quelatizados e influenciar significativamente a eficácia dos demais. Quanto maior a CE, maior é a presença de íons em suspensão que podem interagir com as moléculas dos produtos (Carlson e Burn-side, 1984). Ainda de acordo com os autores, valores de CE de 0,4dS.m-1 já são bastante

tração de íons hidrogênio) ou a alcalinidade de uma solução. A escala varia de 0 a 14, sendo valores menores que sete, pH ácido (baixo), igual a sete, neutro, e valores maiores que sete, pH alcalino (elevado). É importante lembrar que pequenas mudanças na escala de pH representam grandes mudanças na acidez ou alcalinidade, por exemplo, um pH 5,0 é dez vezes mais ácido que pH 6,0 e 100

foliar e a membrana celular podem criar bar-reiras para a absorção de soluções carregadas negativamente (Chahal et al, 2012). Além disso, a carga negativa da solução pode atrair íons carregados positivamente na água, que tendem a formar complexos com os produtos, hidrólise, em última análise, reduzindo a sua absorção pela planta.

O valor do pH descreve a acidez (concen-

elevados, indicando possível queda na eficácia do produto (Figura 1).

Os produtos podem existir na forma neutra ou ionizada, o que é dependente do pH da água em que são solubilizados. Alguns ficam na forma neutra quando em pH ácido, quando em pH alcalino tornam-se carregados negativamente, ficando na forma ionizada, condutora de corrente elétrica. A cutícula

Figura 1 – valores de Condutividade elétrica (Ce) de diferentes fontes e ph de água

Figura 2 – pH final dos produtos formulados de ativos isolados e mistura em água a pH 6

Figura 3 – AACP de ferrugem da soja em função de diferentes ph da calda de pulverização

Figura 4 - AACp de oídio da soja em função de diferentes pH da calda de pulverização

37www.revistacultivar.com.br • Abril 2013

6,0 4,4 6,0

38 Abril 2013 • www.revistacultivar.com.br

vezes mais ácidodo que pH 7,0. Esta relação é válida também para pH alcalino.

Cada formulação de ativo isolado e sua mistura possui uma faixa de pH ideal quando misturados somente com o veículo água. Na Figura 2 são apresentados triazol, estrubiluri-na e o produto formulado da mistura desses mesmos ativos, mostrando que os triazóis tamponam em pH 4 a 5, já estrubilurinas e misturas, em pH 5 a 6,5. Grandes alterações nestes valores de pH podem comprometer a eficácia dos produtos utilizados.

Valores de pH muito ácido e muito alcalino não só afetam a carga de moléculas químicas, como podem atingir também a sua estabilidade, influenciando a sua meia-vida. A meia-vida de um produto é o período de tem-po que leva para que ocorra 50% de hidrólise, ou seja, metade da quantidade de ingrediente sofra degradação. Em termos práticos, esta queda é representada pela menor eficiência do produto em controlar o alvo, resultando em menor período residual para próxima apli-cação (Figuras 3, 4, 5, 6 e 7). De acordo com Gheller, pH < 3,5 corre risco de dissociação iônica e precipitação do produto com redução na solubilidade, aumentando os riscos de fi-totoxicidade; já pH > 7 pode sofrer hidrólise alcalina com degradação do ingrediente ativo, afetando a meia-vida do produto.

Além disso, a redução na solubilidade de alguns produtos pode produzir partes em suspensão na solução. Essas frações insolu-bilizadas ou precipitados suspensos podem bloquear as pontas e peneiras dos bicos de pulverização, diminuindo a quantidade de produto depositado sobre a superfície da planta, e, portanto, diminuindo a quantidade de ingrediente ativo no alvo.

Em geral, os inseticidas são mais suscetí-veis à hidrólise do que fungicidas, herbicidas, desfolhantes ou reguladores de crescimento. Inseticidas organofosforados e carbamatos são mais suscetíveis do que os inseticidas hidrocarbonetos clorados. Alguns piretroides também exibem suscetibilidade à hidrólise. Determinados pesticidas hidrolisam-se muito rápido e a velocidade de hidrólise pode ser

acelerada no intervalo de pH de 8 a 9 (Deer & Beard, 2001) e para cada aumento de pH, a velocidade de hidrólise vai aumentar em aproximadamente dez vezes. A gravidade das perdas devido à hidrólise é regulada pelo grau de alcalinidade da água, a suscetibilidade do defensivo, a quantidade de tempo que o produto está em contato coma água e da temperatura da mistura.

AjUSte DO pHPara superar o efeito antagonista do pH

da água, ajustadores de pH podem ser usados para manter o pH adequado. Antes de usar tampões de pH, consultar o rótulo do produto, já que alguns produtos já são formulados para atuar como um tampão de pH.

Substâncias tamponantes podem ser usadas quando a água a ser utilizada estiver com pH na faixa adequada (4 – 7) (Deer & Dead, 2001). O efeito tampão se atribui no momento da mistura, continua durante o armazenamento no tanque e se mantém até que a água tenha evaporado a partir da gota de pulverização. Alguns materiais, tais como fungicidas à base de cobre, incluindo sulfato básico de cobre e óxido de cobre, não devem ser tamponados com solução ácida, pois pode ocorrer solubilização de metais e produzir um efeito fitotóxico quando pulverizado sobre as plantas.

Produtos utilizados para acidificar solu-

ções podem ser usados isoladamente ou em combinação com adjuvantes ou fertilizantes foliares em situações em que a água tem cará-ter alcalino elevado. Várias substâncias ácidas (ácidomuriático, cítrico, acético - vinagre, sulfatos etc) podem ser usadas para reduzir o pH de águas de pulverização antes de colocar os produtos fitossanitários no tanque.

COmO VeriFiCAr O pH e A CeExistem medidores digitais portáteis de

pH e CE com boa acurácia. Para este último o medidor vem calibrado de fábrica, não ne-cessitando de tal operação. No entanto, para leitura de pH é indispensável a calibração com as soluções tampão de pH 4 e pH 7 para correta avaliação, caso contrário, a leitura não é fidedigna. O uso do papel de tornassol pode não ser eficaz e gerar erros de leitura. Indicado-res de pH líquidos de cor, como, por exemplo, azul de bromotimol, podem ser utilizados. Diferentes fontes de água, superficiais e sub-terrâneas, podem ter o pH alterado em função do tempo, alteração que se dá geralmente no sentido de um estado mais alcalino.

Marcelo Madalosso,Instituto Phytus/URI SantiagoLeandro Marques,Simone Minuzzi eRicardo Balardin,Univ. Federal de Santa Maria

CC

Figura 5 – Severidade da doença no tratamento azoxistrobina + ciproconazol sob diferentes pH de calda, aos 28 dias após aparecimento das primeiras pústulas no tratamento testemunha

Figura 6 – Severidade de ferrugem da soja no tratamento azoxistrobina sob diferentes pH de calda, aos 28 dias após aparecimento das primeiras pústulas no tratamento testemunha

Figura 7 – Severidade de ferrugem da soja no tratamento ciproconazol sob diferentes pH de calda, aos 28 dias após aparecimento das primeiras pústulas no tratamento testemunha. Itaara, RS, 2012

pH 2,3 pH 2,9 pH 3,9 pH 4,5 pH 5,6 pH 2,3 pH 2,9 pH 3,9 pH 4,5 pH 5,6

Azoxistrobina + Ciproconazol Azoxistrobina

pH 2,3 pH 2,9 pH 3,9 pH 4,5 pH 5,6

Ciproconazol

40 Abril 2013 • www.revistacultivar.com.br

Coluna ANpII

em alta

A história da agricultura, como, aliás, toda a história da humanidade, passa por

ciclos que, muitas vezes retornam periodicamente. Tradicionalmente a agricultura era totalmente, ou quase, orgânica. Com as descobertas de Lie-big, assim como com o uso de produ-tos químicos inicialmente altamente eficientes para o controle de pragas, o emprego de produtos biológicos na agricultura sofreu grande decréscimo, sendo quase que totalmente substitu-ídos pelos químicos.

Se formos fazer um retrospecto, veremos que o uso de fertilizantes e de defensivos químicos trouxe, sem sombra de dúvida, importante incremento na produtividade das culturas e, por consequência, um acréscimo na produção de alimentos em todo o mundo. Os alimentos

e os produtos biológicos aparecem como uma tecnologia altamente vi-ável mesmo para grandes lavouras, na chamada agricultura de grande porte, em lavouras extensivas. No-vos produtos, como inoculantes para gramíneas, promotores de crescimen-to, defensivos biológicos à base de fungos, bactérias, vírus e até mesmo nematoides estão sendo introduzidos no mercado para auxiliar no controle de um grande número de pragas e doenças.

Evidentemente que não se cogita substituir o grande arsenal de utilís-simos agroquímicos pelos biológicos, mas estes ganham cada vez mais espaço como produtos modernos, de alta tecnologia, colaborando para uma agricultura mais técnica, mas produtiva e mais amigável com o ambiente.

Solon de AraujoConsultor da ANPII

doenças. O importante é que este tema, uso

de produtos biológicos na agricultura, seja tratado de forma técnica, cien-tífica, racional. Infelizmente muitas vezes quando se trata deste assunto ocorrem análises mais emocionais e menos racionais, com debates que despertam paixões como se fosse um jogo de futebol em que cada um torce por seu clube sem nenhum aspecto racional, mas sim sentimental. Este assunto deve ser tratado de forma criteriosa, científica.

Dentro dos novos aspectos de ma-nejo de pragas e doenças, o controle biológico e os defensivos químicos de-verão fazer parte de um conjunto de medidas para que as duas tecnologias tragam mais eficiência no controle dos danos causados nas lavouras, permitindo ao agricultor diminuir as

Produtos biológicos ganham espaço e despertam cada vez mais interesse, inclusive de grandes corporações

Problemas com o uso de defensivos e fertilizantes químicos estão fazendo com que se revisem alguns paradigmas na agricultura

tornaram-se mais abundantes e mais baratos, tirando da zona de fome endêmica enorme contingente de seres humanos.

Com o advento da agricultura orgânica os produtos desta natureza foram retomados como ferramentas viáveis para este tipo de manejo de áreas produtivas, limitando-se, por algum tempo, a este nicho de mer-cado.

Somente a fixação biológica de nitrogênio permaneceu, por muitos anos, como a única tecnologia bio-lógica utilizada tanto na agricultura orgânica como na grande agricultura, sendo massivamente aplicada na cultura da soja, através dos inocu-lantes à base de bactérias fixadoras de nitrogênio.

Entretanto, problemas com o uso de defensivos e fertilizantes químicos estão fazendo com que se revisem alguns paradigmas na agricultura

A produção biológicos, antes res-trita a pequenas empresas, despertou a atenção de grandes corporações multinacionais, que passaram a introduzir esta linha de produtos no mercado. Hoje, há uma grande efervescência na agricultura, com o desenvolvimento de novos produtos biológicos, para os mais diversos usos, em uma ampla gama de culturas. O elevado custo de desenvolvimento de novas moléculas de defensivos químicos, o aumento da resistência de insetos aos inseticidas atualmente em uso e a pressão ambiental para um menor uso de agroquímicos, aliados ao investimento para desenvolver produtos biológicos cada vez mais eficazes, têm feito com que uma nova onda se espalhe entre os agricultores que aceitam os produtos desta na-tureza como tecnologias que podem propiciar elevada produtividade e bons níveis de controle de pragas e

grandes perdas que insetos, fungos, nematoides e bactérias causam às plantas.

Assim, tanto no campo da fixação biológica do nitrogênio, de promotores de crescimento, como no controle biológico, os produtos à base de microrganismos apresentam-se como uma tecnologia viável, econômica e altamente rentável para o agricultor. As empresas filiadas à Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII), que já vêm produzindo inoculantes há vários anos, participando deste esforço para o maior uso de produtos biológicos na agricultura, investem cada vez mais para aprimorar a qualidade de seus produtos com o objetivo de atender às demandas do agronegócio brasileiro. CC

anseios do consumidor, principalmente em aspectos nutricionais. A exposição a seguir deta-lha a situação dos principais produtos agrícolas cultivados com materiais GM:

1) Algodão: são dezenas de variedades de algodão GM, cultivadas em diferentes países, que apresentam resistência a herbicidas e/ou insetos (variedades Bt). A área de algodão GM no mundo supera 20M/ha (milhões de hectares), ou 81% do total, sendo 11M/ha na Índia, ou 88% da área, o mesmo índice dos EUA;

2) Arroz: um dos principais alimentos do mundo, o arroz desperta interesse dos órgãos de pesquisa públicos e privados. O arroz dourado volta à pauta de discussão, assim como existem estudos avançados de novas variedades GM resis-tentes a pragas, em especial a insetos;

3) Abóbora: já são seis as variedades GM co-merciais de abobrinha, derivadas de dois eventos que conferem resistência a três vírus que dizimam a cultura. Elas são cultivadas exclusivamente nos Estados Unidos e no Canadá;

4) Canola: variedades tolerantes a herbicidas

frangos, suínos e gado de corte ou leite. Além disso, da soja são extraídos outros alimentos, como leite de soja, tofu, bebidas de frutas e soja e a pasta misso. Dos quase 105 milhões de hectares cultivados com soja, no mundo, cerca de 82% são ocupados com soja GM. A maior proporção se encontra na Argentina (99%), seguida por EUA e Brasil (90%).

OUtrOS ASpeCtOSMicro-organismos como bactérias, fungos

ou fermentos foram modificados com genes de estômagos de animais para produzir quimosina, e passaram a ser cultivados em laboratório. A quimosina resultante deste processo - e que depois é inserida no soro do leite, para produzir queijo – é tida como idêntica à que era extraída da forma tradicional. Essa enzima é pioneira entre os produtos gerados por OGMs e está no mercado desde os anos 90.

Trigo e centeio, que são os principais cereais usados para fazer pão, continuam sendo planta-dos de forma convencional. Entretanto, outros

Tempo houve em que transgênico era sinônimo de capeta ou similar. No momento, pesquisas de opinião

nos Estados Unidos e na Europa indicam que a resistência aos Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) tem caído, refletindo uma gradual mudança de posição da percepção pública. Institutos científicos independentes têm demonstrado que a transgênese, obedecidos os rígidos protocolos de segurança impostos pela legislação, não apresenta riscos à saúde do con-sumidor superiores aos existentes em alimentos convencionais e tradicionais.

Órgãos internacionais, como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agri-cultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), têm aceitado e repercutido esta posição, o que consolida a nova visão global sobre trans-gênicos. É esta nova percepção que permitiu que mais de 175 milhões de hectares fossem cultivados com transgênicos, em todo o mundo. No Brasil são quase 40 milhões, com crescimento anual superior a 20%, nos últimos cinco anos.

O começo não foi assim. ONGs pilotaram uma batalha feroz contra o arroz dourado, uma variedade que contém até três vezes mais vitamina A que as convencionais. O objetivo era reduzir a cegueira e a mortalidade entre populações pobres, com elevada taxa de morbidade por falta de acesso a alimentos com vitamina A. Como 60% da dieta destas populações é composta de arroz, surgiu a ideia do arroz dourado. A ideia “morreu” antes de serem colhidas as primeiras espigas. Outro produto que “não pegou” foi o tomate com maior tempo de prateleira (FavrSavrTomato) e a primei-ra variedade de batata tolerante a agroquímico.

Talvez o grande indicador da mudança seja a aprovação pelos órgãos de controle dos EUA do salmão transgênico, que chegará ao mercado em 2014. Trata-se do primeiro animal genetica-mente modificado a entrar na cadeia de consumo comercial, após haver enfrentado anos de estudos, discussão e polêmica.

pAnOrAmAA lista dos produtos geneticamente modifica-

dos já é grande e tende a crescer aceleradamente nos próximos anos. Em termos globais, o milho tem o maior número de eventos aprovados (121 em 23 países), seguido por algodão (48 em 19 países), batata (31 em dez países), canola (30 em 12 países) e soja (22 em 24 países).

O futuro será marcado pela diversidade, fruto de ondas sucessivas de produtos GM que, além das características que interessam ao produtor (resistência a herbicidas ou a pragas), atenderão

ou com maior produtividade e características nutricionais melhoradas estão disponíveis na Europa, EUA, Japão, Austrália, além do Canadá, onde 98% da canola é GM. No mundo todo, são plantados 11M/ha com canola GM, representan-do 30% da área total de cultivo;

5) Feijão: a Embrapa obteve, em 2011, a apro-vação na Comissão Nacional Técnica de Biosegu-rança (CTNBio) para o cultivo comercial de uma variedade de feijão resistente ao vírus do mosaico dourado. Esta enfermidade pode ser devastadora e arrasar lavouras de feijão, sendo a praga mais importante da cultura na América Latina;

6) Mamão papaia: cientistas americanos de-senvolveram uma variedade de mamão resistente a vírus, que devasta as plantações e, atualmente, 85% da área de mamão papaia do Havaí é plan-tada com mamão GM, sendo consumida nos Estados Unidos, Canadá e Japão;

7) Milho: o milho conta com grande di-versidade de variedades GM, sendo 55M/ha cultivados com GM (35% da área). No Brasil são 18 materiais autorizados pela CTNBio, tolerantes a herbicidas e/ou a insetos, cobrindo mais de 85% da área, valor similar ao obser-vado nos EUA;

8) Soja: uma vez esmagada, da soja obtém-se óleo e farelo. A maior parte do óleo é destinada diretamente à alimentação humana e parte dela segue para a indústria de biodiesel. Parcela do farelo proteico segue diretamente para a indústria de alimentos, enquanto a maior proporção é uti-lizada para formulação de rações, que alimentam

ingredientes usados em pão e bolos vêm da soja (farinha, óleo e lecitina), do milho (glucose e ami-do) ou de micro-organismos modificados (ácido ascórbico, enzimas e glutamato). Dependendo da proporção destes elementos transgênicos no produto final (acima de 1%), ele terá que ser rotulado.

Nas cadeias de energia, a transgênese é uma ferramenta fundamental para obter micro-organismos tanto para aproveitamento de material lignocelulósico (resíduos), quanto para diversificar o portfólio de biocombustíveis. A obtenção de etanol celulósico e de farneseno a partir de cana-de-açúcar é exemplo concreto de tecnologias pré-comerciais.

Há 20 anos, quando a engenharia genética engatinhava, escrevi um artigo prevendo que, na década de 2020, todo o produto agrícola im-portante, cultivado no mundo, teria variedades transgênicas. E que, ao final daquela década, a maior parte da área cultivada no mundo seria coberta com materiais GM. Produtos derivados de variedades geneticamente modificadas já ocupam parcela significativa da dieta alimentar, em escala global. Isso se tornou possível pela mudança da percepção social do risco dos transgênicos – uma derivada direta dos protocolos de segurança, do avanço da Ciência e das políticas públicas de proteção à saúde do consumidor.

Coluna Agronegócios

41www.revistacultivar.com.br • Abril 2013

transgênicos na mesa

Décio Luiz GazzoniO autor é Engenheiro Agrônomo

CC

Escrevi um artigo prevendo que, na década de 2020, todo o produto agrícola importante, cultivado no mundo, teria variedades transgênicas

Coluna Mercado Agrícola

Safra cheia obrigará Brasil a melhorar logística

TRIGO - O mercado do trigo mostra produtores otimistas e que tendem a plantar mais nesta nova safra. Com isso, aumentam as chances de recupera-ção dos prejuízos da safra anterior, que foi de 4,3 milhões de toneladas e que agora começa com potencial de 5,5 milhões de toneladas a seis milhões de toneladas. Mesmo com forte avanço (se o clima permitir) o País estará longe das 11 milhões de toneladas que deverão ser consumidas neste novo ano comercial. Os indicativos variam de R$ 650,00 a R$ 750,00 por tonelada, níveis favoráveis aos produtores que podem ter lucratividade neste ano. Com indicativos de que o plantio nos estados centrais deverá crescer e voltar aos patamares dos melhores anos nessa região, que tem pagado acima destes va-lores para o trigo e onde deverão ser celebrados muitos contratos antecipados, que favorecem os produtores a plantarem com garantia de lucros.

algodão - O mercado observa a confirmação da queda na área plantada e junto a isso grande atraso no plantio. Desta forma, se estima queda na produtividade e surgem sinais de reação nas cotações, que deverão crescer ainda mais nos próximos meses. Com os indicativos que avançaram para patamares de R$ 60,00 a R$ 64,00 em março contra R$ 55,00 a R$ 58,00 por arroba, registrado em fevereiro. É preciso lembrar que este percentual já tinha avançado 20% sobre as cotações de janeiro. Existem sinais de crescimento e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) tem apontado que a China irá importar 15 milhões de fardos, contra 14 milhões de fardos estimados no mês anterior. Há boas expectativas à frente.

eua - A Safra 2013/14 está em fase inicial, agora com indicativos de que poderá haver recorde de colheita de milho e também de soja, o que tende a trazer apelo negativo para as cotações em Chicago, se o clima mostrar boas

miLHOExportações perdem ritmo A colheita avançou e há muito milho sendo

embarcado nos portos neste momento. Existem poucos negócios novos em realização, porque os portos já estão estrangulados e não podem rece-ber mais navios. Com isso, os negócios, nestes próximos dois meses, tendem a se concentrar no mercado interno para o consumo do setor de ração. Como houve disparada dos preços dos fretes e pouco interesse de compra nos portos, percebe-se o produto interno recuar e desta forma as cotações de março ficaram cerca de R$ 3,00 a R$ 4,00 abaixo do que se encontravam em fevereiro. E existe espaço para recuar uns R$ 2,00 ou R$ 3,00 a mais nos próximos dois meses, porque haverá menor pressão de compra que interesse de venda. O governo não deverá atuar nesta primeira safra. Os portos operavam com cotações para a saca de 60 quilos entre R$ 29,00 e R$ 31,00 em março, contra valores ao redor de R$ 34,00 em fevereiro. Nas próximas semanas o mercado será mais favorável aos consumidores.

SOjAIndicativos estáveis em plena colheita O mercado da soja mostrou calmaria

e estabilidade nas cotações, mesmo com a disparada do preço dos fretes no Brasil. Isso porque houve alta no mercado externo, com o grão avançando para a faixa de 15 dólares por bushel em Chicago, dando espaço para manter os indicativos. Os produtores mos-tram disposição para segurar parte da safra que ainda não foi negociada, para fechamen-to no segundo semestre. Há indicativos de que 65% da safra tenha sido comercializada até março. Existe fôlego para as cotações se manterem firmes nestes próximos dois ou três meses.

FeijãoContinua com boas cotações O feijão segue com indicativos fortes

apesar de ter ocorrido leve pressão de baixa no começo de março. Houve recuperação dos indicativos a partir da segunda semana. Havia poucos vendedores e cotações altas na segunda

quinzena do mês, com feijão Carioca va-riando de R$ 180,00 a R$ 250,00 a saca. O feijão Preto se mantinha estável, entre R$ 120,00 e R$ 160,00. O feijão Preto Chinês, nos portos, alcançou patamares acima de R$ 150,00. A expectativa é de que o mercado continue firme em abril.

ArrozColheita avança e há queda nas cotaçõesO mercado do arroz aguarda a chegada

da safra, estimada em 12 milhões de tone-ladas para um consumo muito próximo do resultado da colheita. Cenário que serve de apelo de baixa para os compradores, que viram as cotações recuarem da faixa de R$ 35,00 para R$ 30,00 em março. Percebe-se que ainda há espaço para as cotações recuarem um pouco mais e chegarem ao fundo do poço em abril, quando existem chances de surgir as pri-meiras tentativas de alta, principalmente na segunda quinzena do mês, quando a colheita estiver fechada.

CURTAS E BOAScondições em abril. Os exportadores seguem a todo vapor. A soja já fechou as projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mui-to antes do encerramento do ano comercial, que ocorre no final de agosto. O país tende a se socorrer de importações para suprir necessidades internas.

chIna - As compras de alimentos e fibras continuam aquecidas e tudo indica que o país terá recorde de importações em 2013. Com recorde em soja e também em arroz. O mesmo arroz que no ano passado registrou im-portações de 2,6 milhões de toneladas e que talvez possa alcançar a marca de três milhões de toneladas importadas em 2013. Somente de Myanmar os chineses já compraram mais de 800 mil toneladas neste ano. Já a soja pode chegar à faixa das 65 milhões de toneladas importadas, contra as 63 milhões de toneladas inicialmente estimadas pelo USDA. Os chineses também deverão comprar grandes volumes de milho e seguirão como locomotiva mundial na demanda de alimentos.

meRcOsul - O clima prejudicou a safra de todos os países, com in-dicativos de que o Brasil tenha perdido aproximadamente dez milhões de toneladas entre soja e milho. Há prejuízos maiores na Argentina, que pode ter perdido 15 milhões de toneladas de grãos com as inundações no início da safra e a seca registrada nos últimos meses. Também houve perdas no Paraguai, que teria perdido pelo menos 3,5 milhões de to-neladas de soja e de milho. Quase 30 milhões de toneladas da safra da região foram ceifadas pelo clima e isso serve de apelo para impulsionar as cotações internacionais. Cenário que dá ao Brasil mais um ano para buscar melhorar rapidamente a capacidade de armazenagem, logística e principalmente dos portos para a exportação.

42 Abril 2013 • www.revistacultivar.com.br

Vlamir [email protected]

A safra 2013 se encontra em colheita e tudo indica que haverá recorde de volume de produção e de preços dos fretes, com dificuldades para novos embarques nos portos e perdas de faturamento por parte dos produtores, que deixam uma fatia dos lucros nas filas de caminhões. Em março, no Mato Grosso, para chegar ao Terminal Ferroviário era necessário enfrentar filas de aproximadamente 60 quilômetros, com demora de até uma semana para descarregar. Caminhões que deveriam servir para transportar a safra eram usados como armazém, porque há carência de armazenagem, pois a safra avançou de forma muito mais rápida que a evolução da capacidade de armazenamento. Desta forma, o setor de armazenagem segue como um dos grandes atrativos para investimentos no Brasil. Há que se considerar que a safra deste ano ainda poderia ter sido dez milhões de toneladas maior, não fossem as perdas registradas na soja e no milho. Tudo indica que na nova safra plantada no segundo semestre haverá área maior e provável novo recorde de colheita. E novamente o País enfrentará problemas para armazenar a produção e transportar a safra. Os portos serão os mesmos e pouca alteração na capacidade de embarque tende a ser observada. Com isso, filas de navios se formarão ao largo dos portos e novamente se deixará de carregar bilhões de reais para as regiões produtoras. Dinheiro que vem sendo perdido pelo caos logístico que o País vive. O Brasil segue como um dos melhores (ou como o melhor) do mundo para investimentos no agronegócio e logística para atender ao setor.