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Grandes Culturas - Cultivar 150

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Novembro de 2011

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Mais desafiadores.......................22O crescimento dos problemas com percevejos e a importância de adotar o controle de forma racional e sustentável nas áreas de cultivo de soja

Destaques

Índice

Diretas 04

Eventos - Conafe 2011 06

Nutrição em cana-de-açúcar 08

Táticas contra o mofo-branco em algodão 12

Doenças e sanidade das sementes em arroz 16

Controle de percevejos em soja 22

Dinâmica das doenças na cultura da soja 26

Cuidados com a nova safra de soja 30

Rotação e controle de daninhas em várzea para soja 34

Reaplicação de calcário nas culturas de milho e soja 38

Informe empresarial - Produtos para o feijão 42

Coluna ANPII 44

Coluna Agronegócios 45

Mercado Agrícola 46

A dinâmica das doenças.......................26Como utilizar fungicidas de forma eficiente, dentro das estratégias de manejo de várias doenças, cuja intensidade de incidência é variável a cada safra de soja

Expediente

Cultivar Grandes Culturas • Ano XIII • Nº 150 • Novembro 2011 • ISSN - 1516-358X

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: [email protected]

Grupo Cultivar de Publicações Ltda.CNPJ : 02783227/0001-86Insc. Est. 093/0309480Rua Sete de Setembro, 160, sala 702Pelotas – RS • 96015-300

DiretorNewton Peter

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Assinatura anual (11 edições*): R$ 157,90(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 17,00Assinatura Internacional:US$ 130,00Euros 110,00

Nossos Telefones: (53)

Nossa capa

Quase indestrutível.....................12Como barrar o mofo-branco no algodoeiro, doença causada por fungo cujos escleródios podem permanecer no solo por até dez anos

Sanidade monitorada..................16O papel da semente de alta qualidade sanitária na busca por mais produtividade em lavouras de arroz irrigado do Sul do Brasil

Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

• Geral3028.2000• Assinaturas:3028.2070• Redação:3028.2060

• Comercial:3028.20653028.20663028.2067

Dirceu Gassen

REDAÇÃO• Editor

Gilvan Dutra Quevedo• Redação

Carolina S. SilveiraJuliana Leitzke

• Design Gráfico e DiagramaçãoCristiano Ceia

• RevisãoAline Partzsch de Almeida

MARKETING E PUBLICIDADE• Coordenação

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Sedeli FeijóJosé Luis Alves

CIRCULAÇÃO• Coordenação

Simone Lopes• Assistente

Ariane Baquini• Assinaturas

Natália Rodrigues• Expedição

Edson Krause

GRÁFICAKunde Indústrias Gráficas Ltda.

Embrapa Soja

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04 www.revistacultivar.com.br • Novembro 2011

Diretas

Boas práticasA Bayer CropScience oferece aos produtores de milho do Centro-Sul do Brasil mais uma alternativa para o manejo de plantas daninhas. Trata-se do herbicida sistêmico Soberan, com ação em pós-emergência de infestan-tes de folhas largas ou estreitas que competem com a cultura na absorção de nutrientes, luz, água e espaço. “Os produtores estão mais atentos a fatores que possam gerar prejuízos à lavoura e diminuir sua competiti-vidade de mercado”, afirma Marcus Lawder, gerente de Cultura Milho da Bayer CropScience.

Novo presidenteA Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) elegeu em outubro sua nova diretoria. Luiz Carlos Corrêa Carvalho (Caio) substitui Carlo Lovatelli na presidência da entidade. O man-dato é de três anos e a posse ocorre em janeiro de 2012. Carvalho é engenheiro agrônomo formado pela Esalq, com cursos de pós-gradu-ação em Agronomia e em Administração pela Faculdade de Economia e Administração da USP e Vanderbilt University (USA). Ligado ao setor de açúcar e álcool, atua desde 1983 como diretor da Canaplan, empresa de consultoria e projetos para o setor sucroalcooleiro. É também diretor de Relações com o Mercado das Usinas do Grupo Alto Alegre S/A e sócio da Bioagên-cia, empresa comercializadora de etanol nos mercados interno e externo.

PromoçãoAntonio Carlos Zem é o novo presidente da FMC para a América Latina. Com 33 anos de trabalho na empresa o exe-cutivo acumula em seu currí-culo a façanha de ter elevado a companhia do 12º para o 4º lugar no ranking das principais indústrias de defensivos agrí-colas do país. Zem continuará no comando, também, do Grupo Agroquímico.

MarketingCarlos Eduardo de Oliveira Zamataro é o novo gerente de Marketing (Trigo/Arroz/Feijão) da Unidade Sul da Syngenta. Uma das atribuições recentes do dirigente foi coordenar o Trigold Action, programa que tem por objetivo unir a empresa, o revendedor e o produtor no desafio da maior rentabilidade em trigo. O evento ocorreu na fazenda da Sementes Mutuca, em Arapoti (PR).

PalestranteO professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e colaborador ad hoc do Instituto Phytus, Ricardo Balardin, participou entre os dias 26 e 28 de outubro de consultoria e treinamentos em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. O evento foi promovido pela Interagro, agropecuária boli-viana, em parceria com multinacional da área de insumos agrícolas. Durante os três dias, Balardin ministrou treinamento sobre manejo de doenças da soja. O grupo participante visitou propriedades rurais para avaliar o status da ferrugem da soja na Bolívia, com o objetivo de posicionar o manejo da doença no Brasil. A consultoria e o treinamento estão direcionados para produtores rurais e con-sultores técnicos da distribuidora.

Dia de CampoEm torno de 100 pessoas participaram, em outubro, do Dia de Campo na fazenda da Sementes Mutuca, em Arapoti, Paraná. Além de palestras, os participantes puderam acompanhar, in loco, o desenvolvimento da cultura do trigo. O evento contou com apre-sentação do diretor técnico da fazenda, Ivo Frare. Os proprietários da fazenda, Ely de Azambuja Germano Neto e Bento Azambuja Germano acompanharam de perto as atividades.

Marcus Lawder

Luiz Carlos Corrêa Carvalho

Antonio Carlos Zem

Carlos Eduardo de Oliveira Zamataro

AlgodãoA Stoller marcou presença no 8º Congresso Brasileiro de Algodão. A empresa apresentou estratégias fisiológicas e nutricionais que tem por objetivo proporcionar às plantas de algodão maior eficiência para expressar o máximo do seu potencial produtivo, proporcio-nando maior produtividade e rentabilidade ao produtor.

Ricardo Balardin

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05www.revistacultivar.com.br • Novembro 2011

NutrientesLamartini Silva Martins, da Altagro, empresa si-tuada em Lavras, Minas Gerais, apresentou no Congresso de Feijão sua linha completa de nu-trientes com suspensão concentrada.

ReconhecimentoMaria José Del Pelosso, presidente do 10º Congresso Nacional de Pesquisa do Feijão (Conafe) entregou à família de Homero Aidar, falecido em junho

PalestraPedro Antônio Arraes Pereira, di-retor-presidente da Embrapa, re-alizou a palestra inaugural do 10º Congresso Nacional de Pesquisa de Feijão (Conafe). Arraes destacou os desafios para a cultura, como a busca de inovações, que permitam intensificar o cultivo sustentável, o aumento da produtividade e a economia de recursos naturais como solo, água, nutrientes, biodiversidade e redução do avanço da agricultura sobre áreas sensíveis dos diversos biomas brasileiros.

LançamentoNo jantar de confraternização do 10º Congresso do Feijão (Conafe), Nilson Caldas, gerente de Marketing de Cultivos Feijão e Soja da Basf, apresentou o fungicida Opera Ultra. O produto possui amplo espectro, seletividade e age no controle de doenças com efeito fisiológico AgCelence. “Atualizar os profissionais na área técnico-científica mostrando as soluções que a Basf possui para o cultivo do feijão é o nosso objetivo no Congresso. Apresentamos, além do Opera Ultra, o herbicida Amplo com espectro diferenciado no controle de plantas daninhas e o fungicida Comet com benefícios AgCelence comprovados”, explicou Caldas.

ParticipaçãoOs gerentes de Culturas Marco Antônio Araújo e Ademir Santini, da Bayer CropScience, apresentaram os benefícios do programa Muito Mais Feijão, durante o Conafe, realizado em Goiânia (GO). O programa oferece aos produtores informações, treinamentos e um portfólio de soluções integradas para a prevenção e o manejo das principais pragas e doenças nas lavouras, com o objetivo de aumentar a produtividade e a qualidade do feijão.

Centro SulParticiparam do Congresso de Feijão, em Goiânia, representantes do Projeto Centro Sul de Feijão e Milho abrangendo as regiões administra-tivas do Instituto Emater/Seab de Guarapuava, Irati, Ivaiporã, Curitiba, Ponta Grossa, Santo Antônio da Platina e União da Vitória, em um total de 67 municípios, tendo por objetivo melhorar a rentabilidade da agricultura familiar com base no sistema feijão/milho, com o objetivo de melhorar a eficiência do sistema através do uso adequado da tecnologia. É um projeto de cunho social, que além de levar informações sobre o uso adequado da tecnologia, também ensina aos produtores os meios de diversificação da propriedade, informações sobre regras e políticas públicas, contribuindo para que essas famílias tenham melhorias na qualidade de vida. O projeto é fruto da parceria entre Emater, Syngenta, Embrapa, Iapar, Senba e governo do Paraná.

Projeto técnicoA equipe da Syngenta apresentou no Congresso de Feijão o projeto técnico Gtec-Feijão, integrado por consultores técnicos, cooperativas, extensionistas e pesquisadores, com o objetivo específico de debater, criar, desenvolver e transferir novas tecnologias para a cultura do feijão. Desde 2002 foram realizados mais de dois mil trabalhos téc-nicos. Com os resultados obtidos no Gtec, a Syngenta criou o projeto 6TON que usa a tecnologia gerada por este grupo para aumentar a produtividade e a rentabilidade dos produtores de feijão. O fungicida Amistar Top, os inseticidas Engeo Pleno e Actara e os dessecantes ZappQI e Reglone foram destaques da empresa no evento.

Pedro Antônio Arraes Pereira

Maria José Del Pelosso (direita)

Lamartini Silva MartinsMarco Antônio Araújo e Ademir Santini

do ano passado, placa em homena-gem ao pesquisador responsável por desenvolver trabalhos científicos que deram origem ao desenvolvi-mento da tecnologia para o cultivo de feijão no período de entressafra, nas várzeas tocantinenses do vale do rio Javaés, que abrange um total de 100 mil hectares já incorporados ao sistema de produção.

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06 Novembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Eventos

CC

O 10º Congresso Nacional de Pesquisa de Feijão (Conafe), que ocorreu em outubro na Univer-

sidade Federal de Goiás, em Goiânia, contou com a presença de aproximadamente 815 participantes. O evento é realizado no Brasil a cada três anos e reúne os agentes de toda a cadeia produtiva do feijão comum, para a dis-cussão de assuntos relacionados à pesquisa, ao consumo, ao mercado, a sistemas de produção, melhoramento, fitossanidade, mecanização, irrigação e sementes.

Com o tema Inovações para a Compe-titividade da Cadeia Produtiva do Feijão, o

objetivo geral do evento foi possibilitar atua-lizações aos profissionais da área e intercâmbio técnico-científico e cultural, com a meta de fortalecer os elos da cadeia produtiva da cul-tura. O congresso contou com a participação de diversas empresas, como Bayer, Syngenta, Basf e Indústrias Reunidas Colombo.

Os temas de destaque das mesas-redondas versaram sobre as oportunidades para exportação, tolerância à deficiência híbrida, eficiência da adubação nitrogenada, fixação biológica do nitrogênio, produção integrada, organização de recursos genéticos, genômica, feijão transgênico e mofo branco.

Um dos destaques foi a palestra de José Ber-rios, que atualmente trabalha na pesquisa de alimentos pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, em Albany, Califórnia. O pesquisador abordou a nova visão do feijão como alimento. Expôs, com pesquisas científi-cas, os poderes nutricionais e medicinais desse alimento, indispensáveis à saúde humana.

Palestrantes abordaram, ainda, inovações na pesquisa agrícola, controle bio-lógico de doenças de feijoeiro, nematoides e estudo de raízes. Maria José Del Pelosso, presidente do congresso, destacou que há a necessidade de se incorporar inovações às atividades produtivas, pois é determinante para que se amplie a capacidade de inovação, inserir os avanços do conhecimento em novas tecnologias, produtos e serviços. Como o feijão comum é um produto de fundamental impor-tância na alimentação básica dos brasileiros, a comissão do 10º Conafe considerou essencial e estratégico abordar aspectos relevantes das pesquisas com feijão no Brasil e no exterior. Ainda, segundo Del Pelosso a comissão orga-nizadora considerou a interdisciplinaridade original do sistema de produção para conceber uma programação com foco em inovações para a competitividade da cadeia produtiva da cultura.

Feijão em debateCongresso em Goiás reúne integrantes dos diversos elos da cadeia

produtiva para discutir desafios e rumos da cultura no Brasil

Empresas como Basf, Bayer, Indústrias Reunidas Colombo e Syngenta participaramdo evento e expuseram seus produtos e soluções para a cultura do feijão

CC

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Cana-de-açúcar

08 Novembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

A sustentabilidade em assuntos de bioenergia tem que ser garantida em todas as fases da produção,

inclusive na adubação da cultura no campo. Os fertilizantes são imprescindíveis para os ve-getais, pois aproximadamente 5% da matéria seca das plantas são componentes minerais. Dessa forma, os nutrientes de plantas são importantes fatores de produção e não têm substitutos. Porém, o emprego desses insumos deve ser feito de forma adequada a fim de não comprometer o balanço ambiental favorável dos biocombustíveis, pois existem emissões de gases de efeito estufa que estão associadas com a produção e o uso dos fertilizantes. Estima-se que aproximadamente 5% do gás natural consumido no mundo são gastos na produção de NH3, principalmente para a fabricação de fertilizantes. São emitidos aproximadamente sete a 14 quilogramas de CO2 equivalente para cada quilograma de N fertilizante usado na agricultura, computando-se os gases gerados na produção, transporte e aplicação no campo. De fato, 25% ou mais dos gases de efeito estufa emitidos para a produção de cana-de-açúcar se devem ao emprego de fertilizantes nitroge-nados. Para os outros nutrientes, as emissões são menores, mas, não nulas: para cada quilograma de P2O5 e de K2O empregados na adubação, são emitidos cerca de 1 e 0,7kg de CO2 equivalente, respectivamente.

A cana-de-açúcar é uma planta com grande capacidade de acumular biomassa. A

produtividade média da região Centro-Sul no Brasil é superior a 80t/ha de colmos, mas, em muitas lavouras, rendimentos superiores a 150t/ha não são incomuns, especialmente no ciclo da cana-planta. As quantidades de nutrientes que a planta precisa retirar do solo para sustentar o desenvolvimento são enormes (Tabela 1), mas, boa parte pode ser reciclada e retornar ao campo, reduzindo as necessidades

de reposição com adubos.A cana-de-açúcar é uma cultura eficiente

no consumo de insumos necessários para a produção vegetal, devido às altas produtivida-des. Por exemplo, dados da IFA (International Fertilizer Industry Association) mostram que as quantidades de nutrientes usadas para a produção de etanol de cana-de-açúcar no Brasil foram muito inferiores àquelas empre-

Troca recíprocaA cana-de-açúcar é uma das culturas com elevada demanda de nutrientes para o seu desenvolvimento. Mas parte desses elementos pode ser reciclada e retornar ao solo, oque reduz a necessidade de reposição de adubos e torna a produção mais sustentável

Figura 1 - Subprodutos do processamento de cana para a produção de açúcar e etanol. Todos podem ser empregados com segurança no solo, reciclando nutrientes

Leila Dinardo

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que seriam perdidos ou dispersados pela queima. Além disso, a cobertura de material vegetal ajuda a manter o solo úmido por mais tempo e o protege da erosão. Parte dessa palha que permanece sobre o solo provavelmente será recolhida no futuro para a produção de energia por processos convencionais de incine-ração em fornos ou como etanol celulósico, de segunda geração. De qualquer maneira, uma parcela da palha deve ser mantida no campo, onde desempenha papel importante para a manutenção da fertilidade e preservação da qualidade do solo.

Portanto, é possível compatibilizar a necessidade de suprir a cana-de-açúcar usada para a produção de biocombustíveis com fertilizantes minerais, e a reciclagem de nutrientes por meio do uso de subprodutos. Desse modo, pode-se produzir bioenergia de forma sustentável, a partir de uma das espé-cies vegetais mais eficientes para acumular biomassa, cujas técnicas de cultivo o Brasil am-plamente domina. Futuros desenvolvimentos tecnológicos devem tornar esse quadro ainda mais favorável.

Tabela 1 - Nutrientes extraídos por plantas de cana-de-açúcar para a produção de 100t de colmos

NutrienteN

P2O5 K2OCaOMgO

S

Extração (kg)150 a 30015 a 60

180 a 40020 a 8030 a 6030 a 60

gadas para produzir volume semelhante de etanol de milho nos EUA (Tabela 2). Na safra 2007/2008, ambos os países produziram em torno de 23 bilhões de litros de etanol a 25 bilhões de litros de etanol. Porém, o consumo de NPK em cana-de-açúcar foi de aproxima-damente um terço daquele empregado para o cultivo do milho usado somente para a produção do biocombustível. No caso do ni-trogênio (N), cujo impacto ambiental é maior, a cana-de-açúcar necessitou de um quinto do fertilizante aplicado no milho (Tabela 2).

O processamento da cana-de-açúcar para a produção de açúcar e de álcool gera grandes volumes de subprodutos (Figura 1). Desta-cam-se as quantidades de vinhaça: para cada litro de etanol são produzidos de dez litros a 13 litros de vinhaça, um subproduto fluido rico em potássio e em matéria orgânica. Para cada tonelada de cana moída são também gerados 35kg de torta de filtro e 250kg de bagaço. Este último é geralmente queimado para produzir energia (vapor e eletricidade), dispensando o uso de energia externa para o processamento da cana e até gerando excedente que pode ser fornecido a consumidores externos de eletricidade. O bagaço queimado gera cinzas, ricas em nutrientes minerais. Esses resíduos do processamento de cana-de-açúcar não con-têm metais pesados ou outros contaminantes importantes que possam causar danos ao solo, pois são oriundos de material vegetal. Ao con-trário, são produtos ricos em matéria orgânica e nutrientes, que podem ser retornados ao solo com vantagens agronômicas, econômicas e ambientais. De fato, os principais produtos exportados da indústria da cana-de-açúcar – o açúcar e o etanol – são compostos somente por carbono (C), oxigênio (O) e hidrogênio (H). Assim, grande parte dos nutrientes minerais (N, P, K, Ca, S etc) pode ser reciclada e retor-

nar ao campo. Áreas cultivadas com cana-de-açúcar, que

recebem subprodutos, tais como torta de filtro e vinhaça, podem ter a adubação bastante reduzida ou até dispensada, pois quantida-des consideráveis de nutrientes retornam ao solo (Tabela 3). As práticas de reciclagem adotadas com cana-de-açúcar justificam as doses relativamente pequenas de adubos que são empregadas nessa cultura no Brasil, em comparação com aquelas utilizadas em vários outros países produtores, o que contribui para um balanço ambiental favorável do etanol aqui produzido.

A colheita da cana-de-açúcar sem quei-ma (cana crua) vem sendo crescentemente adotada no Brasil. No estado de São Paulo há legislação que estabelece que, dentro de alguns anos, não será mais possível queimar a cana antes da colheita. Atualmente, em algumas regiões, 90% da cana já é colhida crua. A cana crua deixa sobre o solo uma espessa camada de folhas e ponteiros, com 10t a 15t de matéria seca por hectare. Esse grande volume de mate-rial orgânico contribui para reciclar nutrientes

Heitor Cantarella, Zaqueu Fernando Montezano Instituto Agronômico de CampinasRaffaella Rossetto,APTA

CC

Tabela 2 - Consumo de fertilizantes em 2007/2008 para a produção de etanol de cana-de-açúcar no Brasil e de etanol de milho nos EUA (milhões de toneladas de nutrientes)

Consumo de fertilizantes N

P2O5 K2O Total

Produção de etanol (billhoes de L)

Brasil (Cana)0,32 0,16 0,43 0,91 22,5

EUA (Milho)1,57 0,58 0,65 2,80 24,7

Tabela 3 - Consume médio de nutrientes e calcário em cana-de-açúcar em áreas que recebem e que não recebem subprodutos da indústria

Planta

501251203000

Soca

9025

120

Insumo

NP2O5

K2OCalcário

Média ponderada

8245

120600

Planta

050

1203000

Soca

70250

Média ponderada

8245

120600

Área sem resíduos Áreas c/vinhaça e torta de filtro

--- kg/ha ---

Grande quantidade de palha (cerca de 15t/ha de matéria seca) é deixada sobre o solo quando a cana-de-açúcar é colhida sem queimar

Cantarella aborda a importância de se produzir bioenergia de forma sustentável

09www.revistacultivar.com.br • Novembro 2011

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Algodão

12 Novembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Quase indestrutívelA incidência do fungo Sclerotinia sclerotiorum, causador do mofo-branco, tem aumentado

nos últimos anos na cultura do algodoeiro, devido ao crescimento da quantidade de escleródios, estruturas capazes de permanecer no solo por até dez anos, mesmo em condições adversas. Medidas preventivas, formação de palhada, rotação de culturas,

escolha de cultivares menos suscetíveis e alterações no espaçamento e densidade das plantas estão entre as estratégias para enfrentar esse vilão

O cultivo intensivo do algo-doeiro e de outras culturas hospedeiras de Sclerotinia

sclerotiorum eleva os riscos de desenvolvi-mento intenso de certas doenças, como é o caso do mofo-branco. Este fungo ataca grande quantidade de oleaginosas como soja, girassol, nabo-forrageiro, feijoeiro e algumas plantas daninhas invasoras. Em virtude disto, existem sempre plantas para serem colonizadas e, consequentemente, uma intensa produção de escleródios, constituindo um banco de inóculo inicial por inúmeros anos. Estes escleródios, uma especialização das estruturas vegetativas do fungo, contribuem para a sobrevivência e perpetuação da espécie. Possuem formato variável, podem atingir vários centímetros de comprimento e são capazes de perma-necer no solo por até dez anos, em condi-ções adversas como a ausência de plantas hospedeiras.

Esta doença pode ocorrer a partir de duas formas de germinação do escleródio, uma miceliogênica e outra carpogênica. A germinação miceliogênica consiste no surgimento de hifas do fungo a partir do escleródio, que infectam o tecido da planta quando ocorrem condições ambientais me-nos favoráveis. Já a germinação carpogênica é favorecida pela ocorrência de incidência de luz no escleródio, temperaturas amenas (10ºC a 25ºC) e elevada umidade relativa do ar. Dá-se a partir da germinação dos escleródios no solo, que emitirão uma es-

Escleródios de mofo-brancoencontrados no solo

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trutura reprodutiva chamada de apotécio (em formato de taça), onde são produzidos e liberados os ascósporos (esporos sexuais infectivos, em número de dois milhões por escleródio e produzidos por 10-15 dias) no ar que irão infectar a planta ao entrar em contato com o tecido.

A fase mais favorável para a doença se dá no florescimento da cultura, a partir da senescência das flores, que ao atingirem o solo servem de substrato e estimulam a formação dos apotécios.

O mofo-branco ataca toda a parte aérea da planta causando lesões inicialmente pequenas, que rapidamente infectam todo o tecido formando um micélio branco característico. Posteriormente, apresenta podridão mole e úmida, seguida da morte de hastes, ramos e pecíolos. A infecção, nor-malmente, ocorre na junção do ramo com o pecíolo, onde ficam aderidas as pétalas ou folhas caídas, caracterizando o início da infecção com o fechamento da cultura e florescimento, quando pétalas de flores senescentes são primeiramente colonizadas pelos ascósporos e, posteriormente, pene-tram em outros órgãos.

Em diversas regiões tem sido observada a presença de S. sclerotiorum com intensi-dade cada vez mais severa, principalmente

nas regiões de cerrado com altitudes mais elevadas (acima de 600m). Essas regiões propiciam condições climáticas favoráveis ao fungo, apresentando baixas temperaturas durante a noite, alto regime de chuvas e alta umidade.

O fungo causador do mofo-branco é introduzido na área de diferentes formas. A mais importante ocorre quando escleródios são transportados junto às sementes das culturas provenientes de campos infectados, visto que sua coloração e tamanhos podem passar despercebidos em um lote de semen-tes. Como a infecção se dá sistemicamente na planta, pode ocorrer a presença de hifas de S. sclerotiorum dentro do embrião das

sementes, caracterizando uma infecção logo após a germinação da planta e a entrada no fungo na área. Esta forma possibilita a disseminação a grandes distâncias. Outra possibilidade de disseminação é o carrea-mento de escleródios entre áreas por meio de maquinários agrícolas ou pessoas ao transitarem de um local com a presença do fungo para um não contaminado. A disse-minação do fungo pelos ascósporos no ar ocorre somente a curtas distâncias, pois a liberação se dá no solo, ficando retida pelo dossel da cultura.

Após a introdução de S. sclerotiorum em uma área, sua eliminação é conside-rada impossível, pois os escleródios ficam soterrados no solo e é uma estrutura de resistência eficiente, não sendo eliminada facilmente. O produtor então será forçado a lidar com a doença no campo.

A ferramenta para o controle do mofo-branco é, primeiramente, evitar a entrada da doença. Caso isso ocorra deve-se buscar a redução do inóculo inicial e a diminuição do progresso da doença, reduzindo sua incidência e severidade.

O controle desta doença se inicia, por-tanto, com a exclusão do patógeno, ou seja, evitar que seja introduzido na área. Para isso deve-se lançar mão de diversas estra-

Pecíolo e maçã atacados por mofo-branco

Fotos Alfredo R. Dias

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14 Novembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Fotos Alfredo R. Dias

O algodoeiro é uma importante cultura para o país, havendo

grande produção nos estados locali-zados no Centro-Oeste brasileiro. É principalmente utilizada como matéria-prima para a indústria têxtil e o caroço destinado para a alimentação animal. A região dos Chapadões de Mato Grosso do Sul propicia uma boa produtividade de fibra e uma qualidade diferenciada, reconhecida e certificada com o selo Algodão dos Chapadões.

NO BRASIL

tégias, iniciando-se com a certificação da qualidade das sementes a serem plantadas e evitar o tráfego de pessoas e maquinários de áreas sabidamente contaminadas para outras livres da doença.

Um dos manejos culturais recomen-dados é a formação de palhada, que irá interferir na incidência de luz (o patógeno possui alta dependência de luz para emis-são dos apotécios) e impedirá a dispersão dos ascósporos no ar, formando uma barreira física, inviabilizando a carga de ascósporos. Também atua como isolante térmico, reduz oscilações de temperatura e melhora a qualidade física e biológica do solo, aumentando a população de micror-ganismos antagonistas que parasitam e/ou degradam os escleródios.

A rotação de culturas é uma das prin-cipais ferramentas do controle, com o uso principalmente de gramíneas, que de modo geral não são hospedeiras, como milho, milheto, sorgo e pastagem. Tem como objetivo reduzir o número de escleródios na área. Essas culturas fornecem ambiente úmido e favorável ao fungo, que irá formar apotécios sob uma cultura não hospedeira,

acarretando no esgotamento de muitos escleródios no solo que não irão germinar novamente, tornando-os inviáveis, como o ocorrido sob a palhada.

Pode ser obtida uma redução da doença pelo seu escape, alterando a densidade e o espaçamento de plantas, pois podem propiciar condições de microclima mais favoráveis para o desenvolvimento da doença. Como exemplo, foi observada na região dos Chapadões maior severidade da doença no cultivo de algodoeiro adensado (espaçamento de 0,45m e 0,5m), apresen-tando danos superiores ao do cultivo em espaçamento convencional de 0,8-0,9m praticados na região.

A escolha de cultivares também deve ser acertada. Procurar por materiais com alguma resistência e com características morfológicas que dificultem a infecção pelo patógeno. Ramos mais curtos e fruti-ficação agregada podem evitar a formação de microclima, principalmente em cultivos adensados.

O controle químico está indisponível para o controle desta doença, devido à ausência de produtos registrados no Mapa, mas tem grande potencial para ser impor-tante ferramenta no manejo de S. sclero-tiorum, tanto na aplicação via foliar como no tratamento de sementes (já disponível para as culturas da soja e feijão).

Em trabalho realizado na região dos Chapadões em Costa Rica, Mato Grosso do Sul, fruto da parceria entre Fundação Cha-padão e Iharabras, com apoio da UFMS – Campus de Chapadão do Sul - e do Grupo Schlatter observou-se a aplicação de alguns fungicidas na cultura do algodoeiro.

Produtos já registrados para o controle da doença em outras culturas - como a soja - foram eficientes na redução da inci-dência e da severidade da doença. Também reduziram significativamente a produção de micélio e de escleródios nos capulhos do

Gráfico 1 - Produtividade entre os tratamentos testemunha e melhor tratamento com fungicida

Formação de escleródios no interior de maçã atacada por mofo-branco

algodoeiro, demonstrando que o controle químico é uma ferramenta útil na redução dos danos causados pela doença, além de permitir incremento na produtividade (Gráfico 1).

Desta forma, observa-se a necessidade de pesquisa e desenvolvimento de fungici-das para o controle do mofo-branco na cul-tura do algodoeiro. Principalmente quando considerado o potencial que a doença vem apresentando, em especial para os cultivos adensados em regiões com clima favorável. O controle químico será uma ferramenta indispensável no manejo desta doença, lembrando que não se trata de uma solução definitiva para o problema, mas sim de mais uma medida para ser utilizada em conjunto com as outras disponíveis.

Rodrigo Moratelli eGustavo Theodoro,Univ. Fed. de Mato Grosso do SulAlfredo Dias,Fundação ChapadãoEmerson CappellessoIharabras

Maçã com sintomas de mofo-branco

CC

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Com saltos em produtividade registrados ao longo das últimas safras no Sul do Brasil, o arroz irrigado ainda esbarra em obstáculos como ataques de insetos-praga e doenças que limitam a

expressão do potencial produtivo das lavouras. Nesse cenário cresce cada vez mais a importância do uso de sementes de alta qualidade sanitária, livre de fungos e de outras impurezas, para

prevenir a introdução e a disseminação de patógenos, bem como seus efeitos nocivos, tanto no estabelecimento da cultura como em epidemias que comprometam o futuro da produção

Arroz

16 Novembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Sanidade monitorada

As lavouras de arroz irrigado no Sul do Brasil sofreram significativo incremento nos

índices de produtividade ao longo da última década, fato que se deve à maior adoção de boas práticas de manejo, preconizadas pela pesquisa. No en-tanto, algumas situações têm limitado a expressão do potencial produtivo da lavoura irrigada nessa região, com des-taque para problemas fitossanitários que ocorrem desde o estabelecimento da cultura até a colheita, como o ataque de insetos-praga e as doenças causadas principalmente por fungos.

Dentre as doenças, destacam-se a sempre temida brusone, cujos danos podem comprometer a totalidade da produção de uma cultivar suscetível em situações de ambiente favorável e falhas no manejo. Além dessa, a mancha parda, causada por Bipolaris oryzae, é uma doença endêmica e considerada de importância secundária quanto ao seu impacto no rendimento, mas que tem potencial de reduzir significati-vamente o peso e o número de grãos (que apresentarem-se manchados e gessados), diminuindo a qualidade do produto para a indústria.

Além dos impactos no rendimento,

danos indiretos podem decorrer do plantio das sementes infectadas, princi-palmente por fungos. Em lavouras des-tinadas à produção de sementes, fungos como B. oryzae são problemáticos, uma vez que a sua localização interna nas se-mentes permite sobrevivência por mais de seis meses e a continuidade do seu ciclo quando da germinação. Os efeitos primários envolvem a debilitação e a morte de plântulas, podendo levar à ne-cessidade de ressemeadura. Além disso, plântulas necrosadas constituem foco inicial para a disseminação do inóculo secundário e posterior desenvolvimento de epidemias na lavoura. Dezenas de outras espécies de fungos podem estar associadas às sementes de arroz, seja devido a infecções originadas no campo ou no armazém, mas com importância variável em função do nível de inóculo na semente.

Levantamentos da qualidade sani-tária de sementes de arroz conduzidos em meados da década de 1990, no Rio Grande do Sul, revelaram baixos níveis relativos de incidência de B. oryzae, com média de 2,63% em 350 lotes (Franco et al, 2001). Análises esporádicas de fun-gos em sementes de arroz conduzidas a partir do início da década de 2000

mostraram queda na qualidade sanitária das sementes, verificada pelo aumento da prevalência e incidência de B. oryzae e outros fungos, comparada à década anterior (Farias et al, 2005; Bayer et al, 2005). Além de B. oryzae, outros fungos que causam manchas em sementes de arroz também têm se destacado, como Alternaria padwickii (Farias et al, 2004). Recentemente, um estudo mostrou a presença de outras espécies de Bipolaris em 167 lotes de sementes de arroz irri-gado da safra 2005/06 no Rio Grande do Sul, tais como Bipolaris cuvispora, B. cynodontis e Bipolaris sp., cujos impactos ainda são pouco conhecidos, embora ocorram em bem mais baixa incidência em relação à Bipolaris oryzae (Farias et al, 2011).

Apesar do alerta, ainda se carece de estudos de base epidemiológica para a identificação dos fatores de risco que predispõe as plantas ao ataque de doen-ças e fungos que se transmitem por se-mentes nos campos de produção de uma região. Sementes de arroz irrigado são produzidas em sua maioria pelo Insti-tuto Rio Grandense do Arroz (Irga) que recebe em sua rede de laboratórios um montante de cinco a sete mil amostras/ano oriundas de todas as regiões pro-

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dutoras de sementes, o que representa uma área ao redor de 10.000 hectares/ano. Testes de sanidade de sementes não são feitos de maneira rotineira nesses laboratórios.

Com o objetivo de caracterizar a qualidade sanitária de sementes de

arroz irrigado ao longo de três safras e estudar aspectos da epidemiologia de B. oryzae introduzido via sementes, um projeto de pesquisa em rede apoiado pelo CNPq, por meio do Edital 42/2008, está sendo liderado pelo Laboratório de Epidemiologia da Universidade Federal

do Rio Grande do Sul, em parceria com o Instituto Rio Grandense do Arroz, a Universidade da Região da Campanha e a Universidade Federal de Pelotas. A seguir serão apresentados e discutidos de maneira sucinta os resultados preli-minares do trabalho.

Figura 1 - Prevalência e incidência média de fungos associados à sementes de diferentes cultivares de arroz produzidas nas áreas de produção do Instituto Rio Grandense do Arroz no Estado do Rio Grande do Sul nas safras 2008/09 e 2009/10

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18 Novembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

MonItoRAMEnto dA SAnIdAdE dE SEMEntES Um total de 249 e 282 lotes de se-

mentes de arroz irrigado foi obtido das safras 2008/09 e 2009/10, respectiva-mente, das áreas de produção do Irga. Mais de uma dezena de cultivares foi avaliada, porém, mais de 80% dos lotes eram das cultivares Puitá Inta CL, Irga 422CL e Irga 424. Análises de prevalên-cia (frequência nos lotes) e incidência (percentual em um lote) de fungos em sementes foram feitas utilizando-se o teste de substrato de papel de filtro, segundo a recomendação. Os resultados de prevalência e a incidência média dos principais fungos associados com man-chas de glumas e grãos são apresentados na Figura 1. Outros gêneros de fungos presentes nas amostras em frequências muito baixas foram Gerlachia, Epicocum, Rhizoctonia, Cladosporium, Fusarium, Aspergillus e Penicillium. Dentre os fungos manchadores, maiores valores de prevalência (>70%) e incidência média (ao redor de 5%) foram observados para fungos dos gêneros Bipolaris, Phoma e Curvularia, com maiores valores na safra 2009/10, considerando todos os gêneros de fungos. Especificamente para espé-cies de Bipolaris, embora o valor médio tenha sido relativamente baixo na safra 2008/09, 30 lotes apresentaram valores de incidência >15%, sendo 18 lotes >30%. Quanto às regiões orizícolas, os maiores valores médios foram na Planície Costeira Interna, seguidos da Planície Costeira Externa e Zona Sul (Figura 2). Já na safra 2009/10, a média de Bipolaris oryzae foi de 2,9% com 15 lotes >15% e quatro lotes >30%. Dentre as regiões, a mais alta média de incidência foi obser-

vada na Depressão Central, seguida das Planícies, Zona Sul e Campanha. Em ambas as safras, os lotes mais limpos foram originados da Fronteira Oeste (Figura 2).

Os dados são preliminares e mostram uma radiografia nos dois anos avaliados. No entanto, permitem observar que os níveis de incidência de fungos mancha-dores são relativamente mais baixos do que aqueles relatados em análises con-duzidas no início da década de 2000. É possível que melhores práticas de manejos fitotécnico e fitossanitário, por força do Projeto 10, adotadas pelo Irga nas áreas de produção de sementes, possam estar contribuindo para a melhoria da quali-

dade sanitária das sementes. No entanto, ainda há um bom número de lavouras que sofrem mais com o ataque do patógeno, resultando em lotes severamente infecta-dos, principalmente aquelas localizadas nas regiões de planície costeira e região central, o que pode ser explicado por uma condição edafoclimática que pode levar à maior favorabilidade do ambiente para as epidemias de mancha parda nas folhas e em grãos. Análises preliminares também indicam que há, possivelmente, efeito de cultivares que diferem em níveis de resistência à doença. Um terceiro ano de dados que está em análise no presente momento permitirá identificar e mapear os fatores de risco para a infecção por B.

Figura 2 - Incidência média de Bipolaris oryzae associados à sementes de diferentes cultivares de arroz produzidas nas zonas orizícolas do Estado do Rio Grande do Sul nas safras 2008/09 e 2009/10

Uma condição edafoclimática pode levar a maior favorabilidade do ambiente para as epidemias de mancha parda nas folhas e em grãos

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determinadas regiões do estado nas últimas safras. Os danos observados no estabelecimento inicial da cultura, apenas considerando a infecção por B. oryzae, sugerem que práticas como o tratamento de sementes com fungicidas podem ser importantes para minimizar esses impactos. Uma análise conjunta de experimentos conduzidos no Irga sobre efeito do uso de fungicidas na velocidade de emergência e estande de arroz irrigado (Scelzo et al, 2011) mos-trou resposta positiva ao tratamento de sementes com fungicida (carboxim + thiram na dose comercial registrada de 200ml/100kg de sementes), resultando em maior incremento no estande apenas nas semeaduras antecipadas (época de mais baixas temperaturas) comparados à semeadura normal e tardia. Incrementos em estande de 10% a 70% no número de plantas foram observados na época antecipada, caindo para valores neutros ou negativos na época preferencial e tardia. Conclui-se que cada vez mais se deve priorizar a produção de sementes de alta qualidade sanitária associada com práticas que garantam a sanidade da lavoura, evitando assim introdução e disseminação de patógenos e seus efeitos deletérios no estabelecimento da cultura e possível contribuição futura nas epidemias na lavoura.

oryzae e outros fungos.

EFEItoS dE SEMEntES InFEctAdAS coMBIPolARIS oRyzAE NO ESTABELECIMENTOExperimentos de campo, em um

número total de sete, foram conduzidos ao longo de três safras consecutivas na estação experimental da Urcamp e do Irga, nos municípios de Bagé e em Cachoeirinha, respectivamente. Os tratamentos consistiram na semeadura de lotes infectados artificialmente para produzir cinco níveis de incidência de Bipolaris oryzae nas sementes (3%, 6%, 12%, 24% e 48% de incidência), além de uma testemunha (semente limpa - 0%). Os ensaios foram implantados em uma ou duas épocas de plantio para um mesmo ano/local. A partir de 30 dias após o plantio, avaliou-se o estande, contando-se o número de plântulas por m2. Os dados foram normalizados em percentual de redução de estande em relação ao número de plantas emergidas na testemunha.

Os resultados preliminares mostram uma tendência geral de efeito negativo da presença de B. oryzae nas sementes (com exceção de uma situação - Cachoeirinha, safra 2008/09) no estande verificado pelo aumento exponencial no percentual de redução de estande em valores que atingi-ram 20% a 50% de redução nos lotes com máxima incidência do fungo. No entanto, reduções de 10% a 15% podem ocorrer mesmo com o uso de sementes com inci-dência variando de 6% a 12% do patógeno (Figura 3).

Uma tendência de mais alta redução do estande foi observada nas semeaduras antecipadas, momento em que as mais baixas temperaturas do solo podem resultar em germinação mais lenta, propiciando melhores condições para o ataque do fungo antes mesmo da emergência da planta. Além do efeito no estande, outras análises

em andamento têm o enfoque no efeito dos níveis de incidência de B. oryzae sobre a época de estabelecimento da doença, no progresso das epidemias de mancha parda e na produtividade. Até o momento os resultados indicam que, nas condições do experimento, o efeito negativo na redução do estande pode ser compensado pela maior capacidade de perfilhamento da cultura do arroz, minimizando o impacto na produtividade. Quanto às epidemias de mancha parda, em situações de ambiente favorável, a doença pode ter seu estabele-cimento antecipado quando o inóculo é in-troduzido via semente, podendo constituir de fonte adicional de inóculo ou mesmo principal em locais onde o patógeno não está presente.

PERSPEctIvASEm suma, os resultados obtidos no

projeto mostram que há uma variação grande nos níveis de incidência de fungos em sementes, especialmente B. oryzae, com lotes de boa qualida-de sanitária sendo produzidos em

Figura 3 - Percentual médio de redução de estande (número de plantas/m2) em relação à testemunha (sementes limpas) em sete ensaios de campo (uma a duas épocas por ano) conduzidos em Bagé e cachoeirinha ao longo de três safras

Emerson M. Del Ponte e André A. SchwanckUniv. Federal do Rio Grande do SulCândida R.J. de Farias e Priscila R. Meneses,Univ. Federal de PelotasDaniel dos S. Grohs e Gustavo D. FunckInstituto Rio Grandense do Arroz

CC

19www.revistacultivar.com.br • Novembro 2011

Grãos manchados, com sintoma característico de mancha parda

Semente de arroz infectada por Bipolaris oryzae

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Soja

22 Novembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Mais desafiadores

Atualmente, o manejo do com-plexo de percevejos que ataca as vagens e suga os grãos de soja

é o principal desafio do manejo integrado de pragas da cultura (MIP-Soja). A pouca diversidade de inseticidas registrados com diferentes modos de ação, a resistência comprovada de populações da praga a alguns inseticidas, as deficiências na tec-nologia de aplicação desses defensivos e o seu uso errôneo devido ao abandono da amostragem e dos níveis de ação estão entre as principais causas da ocorrência de altas infestações da praga nas lavouras de soja nas últimas safras. Manejar corretamente o percevejo não significa aplicar mais vezes ou mais cedo os inseticidas. Pelo contrário, o uso abusivo do controle químico apenas agrava o problema com a praga.

Há uma grande diversidade de espécies de percevejos que atacam a soja. As mais frequentes e importantes são o percevejo marrom, Euschistus heros, o percevejo verde pequeno, Piezodorus guildinii e talvez em menor escala na atualidade, o percevejo verde, Nezara viridula, além de algumas outras espécies que esporadicamente ocor-rem nas lavouras. No passado, esses insetos apenas apareciam nas lavouras de soja em populações elevadas no período reproduti-vo. Entretanto, atualmente, devido às altas populações, os percevejos estão chegando com maior intensidade, mais cedo nas lavouras e populações elevadas podem ser observadas ainda no período vegetativo da cultura. Isto tem levado os sojicultores a questionarem se não seria necessária a aplicação de inseticidas já nesta fase para o

contro-le desses

insetos. É impor-

tante salientar que no perío-

do vegetativo, os percevejos sugam a

planta, já que os grãos ainda não foram forma-

dos. Nessa fase, a planta de soja tolera uma quantidade de

percevejos muito maior que o ní-vel de ação (três-quatro vezes maior)

sem a ocorrência de qualquer redução na produtividade. O grande potencial de dano do percevejo ocorre mesmo quando essa praga se alimenta diretamente dos grãos. Por isso, o MIP-Soja considera que os problemas com percevejos são importantes a partir do início da formação das vagens (estágio R3, fase de canivetinho), necessi-tando controle quando a população estiver igual ou acima do nível de ação (NA). Por-tanto, o NA representa o momento certo de se iniciar o controle. Na cultura da soja, esse NA é de dois percevejos (ninfas e/ou adultos) ≥ 0,5cm por metro de fileira de plantas se a lavoura for para produção de grãos ou um percevejo (ninfa e/ou adulto) ≥ 0,5cm por metro de fileira de plantas se a lavoura for para produção de sementes. Os níveis de ação para controle de pragas foram amplamente adotados na sojicultura brasileira na década de 80, após a difusão das recomendações do MIP-Soja. Isso contribuiu para que o uso de inseticidas

Mais desafiadores Dir

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Crescem os problemas com percevejos em soja no Brasil. A cada safra esses insetos atacam com maior intensidade e mais cedo as lavouras, com populações elevadas já no período

vegetativo da cultura. A saída para os produtores é apostar no manejo integrado da praga, com foco na amostragem para determinar os níveis de ação e o momento correto de adotar o

controle químico, associado a outras estratégias conjuntas

Crescem os problemas com percevejos em soja no Brasil. A cada safra esses insetos atacam com maior intensidade e mais cedo as lavouras, com populações elevadas já no período

vegetativo da cultura. A saída para os produtores é apostar no manejo integrado da praga, com foco na amostragem para determinar os níveis de ação e o momento correto de adotar o

controle químico, associado a outras estratégias conjuntas

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23www.revistacultivar.com.br • Novembro 2011

Figura 1 - Fatores do manejo de doenças na cultura da soja visando alta produtividade. Santa Maria, 2011

nessa cultura no país fosse reduzido de aproximadamente seis aplicações por safra (na década de 70) para apenas uma ou duas aplicações por safra após a adoção do MIP-Soja e dos níveis de ação para controle de pragas.

Entretanto, nos últimos anos houve grandes mudanças no sistema produtivo. Entre essas alterações estão novas cultiva-res de soja que foram lançadas no mercado com diferentes características como tipo de crescimento indeterminado, ciclo precoce, entre outras. Isto contribuiu para que nos últimos 40 anos a média de produtividade da cultura no país praticamente dobrasse. Passou-se de uma produtividade média de menos de 1.500kg/ha na década de 70 para uma produtividade de cerca de 3.000kg/ha nos dias atuais. A busca incessante pelo aumento da produtividade, associada aos bons preços pagos pela soja e ao baixo custo de muitos inseticidas, infelizmente, tem levado os produtores a questionarem a va-lidade do NA recomendado pela pesquisa para o controle de percevejos. Essa dúvida, associada à redução do número de técnicos da assistência técnica oficial, contribuiu para que muitos produtores abandonassem o MIP-Soja, passando a aplicar os inse-ticidas na soja junto com herbicidas em pós-emergência ou com fungicidas na fase reprodutiva, sem qualquer amostragem da população de pragas e a devida comparação com o nível de ação. Isso tem sido feito na tentativa de aproveitar a operação agrícola (aplicação de herbicida ou fungicida) que está sendo realizada. Com essa aplicação errônea de inseticidas realizada junto (“na carona”) dos herbicidas e fungicidas e não mais no momento apropriado (que é o nível de ação), o controle de percevejos na soja tem tido resultados desastrosos. Atualmen-te, voltou-se, como no início da década de 70, a utilizar próximo a seis ou até mais aplicações de inseticidas por safra, sendo que grande parte destas aplicações é para

o controle de percevejos. O uso abusivo de inseticidas tem contribuído para a seleção de populações de percevejos resistentes a alguns dos inseticidas utilizados. Isso tem sido comprovado, em algumas localidades do país, principalmente para os inseticidas mais antigos e muito usados como o meta-midofós e o endossulfan, entre outros.

Neste contexto, frente às elevadas populações encontradas de percevejos, é importante salientar que apesar dos ques-tionamentos sobre a necessidade de contro-

le antecipado de percevejos na soja, resul-tados recentes de pesquisa, com algumas das novas cultivares de soja (ciclo precoce e crescimento indeterminado), mostram que os níveis de ação recomendados continuam confiáveis, indicando o melhor momento para o sojicultor começar a aplicação de inseticidas com sabedoria, preservando a produtividade da lavoura, assim como o meio ambiente em que vive. Comparando-se áreas onde o controle foi feito no nível de ação recomendado (dois percevejos ≥

Inseto adulto de percevejo-marrom Euchistus heros

O percevejo-verde-pequeno está entre as espécies que mais ocorrem em lavouras de soja

Adeney Bueno

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24 Novembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

tabela 1 - Produtividade e qualidade da semente de soja após aplicação de inseticidas em diferentes momentos (níveis de ação) no controle de percevejos na cultura. Embrapa Soja, Arapongas, PR safra 2010/2011

Tratamento

1) nível de ação de percevejos2) ¼ do nível de ação de percevejos

3) Aplicação junto com herbicida ou fungicida4) Testemunha sem controle

cv (%)

Produtividade(kg ha-1)1

3812,5 ± 96,5 a 3992,9 ± 116,5 a 3678,9 ± 76,6 a 3267,2 ± 39,9 b

4,78

teste de tetrazólio (%)1dano Percevejos (escala 6-8)2

4,5 ± 2,6 b1,0 ± 0,4 b4,8 ± 2,3 b13,7 ± 2,2 a

30,00

1Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (P>0,05).2tetrazólio (6-8) representa a % de sementes inviáveis pelo dano de percevejos.

0,5cm por metro) com áreas onde o trata-mento foi feito antecipadamente com ¼ no nível de ação (0,5 percevejo ≥ 0,5cm por metro = 1 percevejo a cada duas batidas de pano) ou quando o inseticida foi apli-cado junto com o herbicida ou fungicida, observou-se claramente os benefícios da adoção do NA para percevejos. Nas áreas, onde o NA (dois percevejos ≥ 0,5cm por metro) foi adotado, foram necessárias apenas duas aplicações de inseticidas, uma necessidade de aplicação inferior às áreas de controle antecipado (seis aplicações) ou de aplicação de inseticidas junto ao herbicida e fungicida (quatro aplicações), com mesma produtividade e qualidade de grãos produzidos (Figura 1 e Tabela 1). Isso comprova os benefícios da adoção dos

tabela 2 - Recomendações gerais para o manejo dos percevejos na cultura da soja

controlar os percevejos a partir do estágio R3 (início das primeiras vagens) apenas quando a população for igual ou maior que os níveis de ação (através de um monitoramento bem feito com o auxílio do pano de batida);os níveis de ação (dois percevejos ≥ 0,5cm/metro para soja destinada a grãos ou um percevejo ≥ 0,5cm/metro para soja destinada à semente) são confiáveis inclusive para as cultivares mais novas (soja precoce e de crescimento indeterminado);Usar o sal de cozinha (0,5% do volume de calda – v/v) na calda inseticida, principalmente quando a soja apresentar desafios para a tecnologia de aplicação (o sal auxilia na contaminação do percevejo com o inseticida - tecnologia de aplicação). tomar o cuidado de lavar bem o equipamento após a aplicação porque resíduos de sal no metal podem fazer que o mesmo enferruje; Sempre fazer a rotação de inseticidas utilizados (≠ modos de ação);Reservar o uso das misturas (neonicotinoides + piretroides), do acefato ou de outro produto recomendado para controle de percevejos apenas para uso no período reprodutivo da soja para o controle dessa praga: Isso reduz a pressão de seleção para percevejos resistentes a esses inseticidas e preserva sua ação para o controle dessa praga por maior tempo.

Figura 2 - Procedimento de amostragem de pragas que deve ser realizado separadamente nos diferentes talhões em que a área for dividida. Repetir a batida de pano em seis pontos quando o tamanho do talhão for de 1ha a 10ha. Repetir em oito pontos quando o talhão for de 11ha a 30ha e em dez pontos quando o talhão for de 31ha a 100ha (na medida do possível não usar talhões maiores que 100ha, pois compromete a sua homogeneidade)

1O PASSO

2O PASSO 3O PASSO Apenas um lado das linhas é agitado

4O PASSO

1 a 1,40m

1m

pitada e apenas contribuirá para agravar os problemas, gerando dificuldades para o manejo da praga, pois representa uma maior pressão de seleção para insetos re-sistentes, além de causar um desequilíbrio do agroecossistema com a morte dos ini-migos naturais e outros insetos benéficos que contribuem para sustentabilidade da produção de soja.

Sendo assim, a melhor solução para o manejo dos percevejos é a retomada do MIP-Soja nas diferentes regiões produto-ras do país. Para que isso seja possível, é preciso que o produtor retome o uso do pano de batida (Figura 2) para realizar o monitoramento de forma confiável e siga criteriosamente as principais recomenda-ções para o manejo dessa praga destacadas na Tabela 2.

Na atualidade os registros de percevejo-verde ocorrem em menor escala em relação às espécies principais

Adeney de Freitas Bueno,Embrapa SojaRegiane Cristina O. de F. Bueno,Universidade de Rio VerdeBeatriz S. Corrêa-FerreiraConsultora FapeagroFlávio Moscardi,UEL e Unioeste

níveis de ação para percevejos e indica que qualquer aplicação feita antes que esses níveis sejam atingidos é uma ação preci-

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Soja

26 Novembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Relação dinâmica

A ocorrência de qualquer doença depende da interação entre hos-pedeiro, patógeno e ambiente. Na

cultura da soja, o fator ambiente, ou seja, as condições climáticas durante a safra, faz com que as doenças predominantes variem sua in-tensidade de uma safra para outra. Os relatos regionais apresentados na XXXII Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil (RPSRCB), realizada em agosto de 2011 em São Pedro, São Paulo, mostram mudança quanto às principais doenças foliares que incidiram na cultura na safra 2010/11.

A ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, apresentou incidência tardia, com ausência de relatos de perdas nas principais regiões produtoras. A menor inci-dência da ferrugem pode ser explicada pela condição ambiental desfavorável durante o inverno de 2010, com baixas precipitações, que desfavoreceu a sobrevivência de plantas de soja voluntárias e consequentemente a sobrevivência do fungo P. pachyrhizi na en-tressafra. Um segundo fator ambiental que desfavoreceu a ferrugem em 2010/11 foi o atraso no início das precipitações da safra.

Esse atraso reduziu a janela de semeadura evitando a disseminação de esporos do fungo produzidos nas lavouras semeadas mais cedo para as lavouras semeadas mais tarde, fato comumente observado quando a janela de semeadura é extensa (setembro a dezembro). Após dez anos com a doença no Brasil, o produtor aprendeu a manejar a ferrugem e as reclamações de perdas com essa doença vêm diminuindo mesmo em safras com condições para epidemia, ocorrendo de forma localizada em decorrência de atrasos nas aplicações de fungicidas quando as condições climáticas são desfavoráveis. Mesmo com a queda de efici-ência apresentada pelos fungicidas do grupo dos triazóis, que vem sendo observada desde a safra 2006/07, as misturas prontas de triazóis e estrobilurinas têm controlado a doença de forma eficiente. Nos resultados dos ensaios cooperativos de 2010/11, realizados por di-versas instituições de pesquisa, foi observada variação na porcentagem de controle das mis-turas prontas avaliadas na safra, nos plantios realizados no final da época de semeadura, mas mesmo assim as misturas apresentaram controle eficiente com mediana próxima a

80% de controle. Os fungicidas do grupo dos triazóis (tebuconazol e ciproconazol), aplicados isolados, apresentaram mediana de controle próxima a 30%, não devendo ser utilizados de forma isolada (http://www.cnpso.embrapa.br/download/CT87_VE.pdf).

Os relatos da RPSRCB mostraram maior incidência de doenças como a mancha-alvo (Corynespora cassiicola) e a antracnose (Col-letotrichum truncatum), de forma geral em todas as regiões. Nesse caso, a maior incidência da mancha-alvo pode ser atribuída ao fator hospedeiro, ou seja, a maior suscetibilidade de algumas cultivares que predominaram no campo na safra 2010/11 e a ausência ou baixa eficiência das misturas de triazóis e estrobiluri-nas que controlam a ferrugem sobre o fungo C. cassiicola. Fungicidas do grupo dos benzimida-zóis que, segundo trabalhos publicados, eram a melhor opção de controle para essa doença, têm mostrado oscilação na eficiência em dife-rentes locais. Nos trabalhos apresentados na RPSRCB, ensaios realizados no Mato Grosso mostraram ausência de eficácia de controle da mancha-alvo com carbendazim, mesmo quando utilizadas quatro aplicações com doses

Relação dinâmicaDependente da interação entre hospedeiro, patógeno e ambiente, a incidência de doenças

como ferrugem asiática, mofo-branco, mancha-alvo e antracnose tem intensidade variável a cada safra. Importante ferramenta de controle, o uso de fungicidas exige critérios e sempre que possível a associação com outros recursos, como a resistência genética, para prolongar

a vida útil dessas estratégias de manejo

Fotos Embrapa Soja

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avaliado para a mancha-alvo, pode-se obser-var que o potencial de dano dessa doença é baixo, quando comparado com a ferrugem. Na safra 2010/11, mesmo com o relato da presença dessa doença em algumas cultivares, as produtividades foram altas. O potencial de dano da doença varia de acordo com a cultivar, uma vez que se pode observar no campo que alguns materiais possuem resistência genética a essa doença. Para a safra 2011/12, o produtor poderá contar com o controle químico com fungicida como uma ferramenta adicional de manejo da mancha-alvo, caso opte por uma cultivar suscetível.

Credita-se o aumento de relatos de an-

tracnose à confusão de sintomatologia com a mancha-alvo. Apesar do sintoma típico da mancha-alvo ser manchas circulares nas folhas, de coloração castanho-clara a castanho-escura, geralmente com pontuações escuras no centro semelhante a um alvo (Figura 1A), também podem ocorrer lesões nas nervuras das folhas, em hastes e vagens (Figura 1B), semelhantes às de antracnose.

Normalmente, o fungo C. truncatum encontra-se associado às plantas de soja desde as fases iniciais da cultura, podendo causar morte de plântulas, necroses dos pecíolos e manchas nas folhas, hastes e vagens. Vagens infectadas nos estádios R3/R4 adquirem

Figura 1 - Sintomas de mancha-alvo em trifólio de soja (A) e em hastes, vagens e pecíolos (B)

variando de 250g i.a./ha a 500g i.a./ha (Reu-nião de Pesquisa de Soja 2011, p. 123-125) e ausência de benefício da adição de tiofanato-metílico na mistura de triazol e estrobilurina (Reunião de Pesquisa de Soja 2011, p. 204-207). Em ensaio realizado pela Embrapa Soja, em Marilândia (PR), em cultivar suscetível à mancha-alvo, a eficiência média de controle foi de 30% com três aplicações de 250g i.a./ha de carbendazim, sem aumento significativo de eficiência com o aumento de dose até 500g i.a./ha de carbendazim. Essa ausência ou baixa eficiência dos fungicidas do grupo dos benzimidazóis para o controle da mancha-alvo pode explicar a predominância dessa doença no campo, nas cultivares suscetíveis, mesmo com a utilização de fungicidas. Na ausência de produto eficiente para o controle dessa doença, não havia forma de se determinar o dano causado. Na RPSRCB, o fungicida trifloxistrobina 60g i.a/ha + protioconazol 70g i.a./ha foi aprovado para constar na publicação Tecnologias de Produção de Soja para o controle da mancha-alvo, mostrando boa eficiência de controle. Esse produto entra no mercado na safra 2011/12, também com boa eficiência de controle da ferrugem nos ensaios cooperativos. Nos ensaios onde o fungicida trifloxistrobina + protioconazol foi

A) B)

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coloração castanho-escura a negra, não for-mam grãos e normalmente ficam retorcidas. Em vagens infectadas na fase de granação, é possível observar manchas escuras (Figuras 2A e 2B) com pontuações negras (acérvulos do fungo, Figura 2C) ocasionando o apodre-cimento parcial ou completo das vagens e dos grãos. As condições que favorecem a antrac-nose são precipitações frequentes associadas à alta temperatura. Em razão da facilidade de isolamento de Colletotrichum spp. de tecidos necrosados, têm-se atribuído muitos sinto-mas, com causas distintas, à antracnose. Não há produtos indicados pela RPSRCB para o controle dessa doença na parte aérea, princi-palmente em função da inconsistência dos resultados de ensaios no campo. O tratamento de sementes com fungicidas formulados em mistura de produtos sistêmicos e de contato é indicado quando forem utilizados lotes de sementes infectadas por C. truncatum. Impor-tantes medidas de controle da antracnose são a utilização de sementes sadias, manutenção de níveis adequados da nutrição da soja, principalmente com potássio, rotação de cul-turas, evitar população excessiva de plantas, manter cobertura do solo com palha e eliminar impedimentos químicos e físicos do solo ao aprofundamento de raízes.

O mofo-branco, causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, apresentou menor incidência na safra 2010/11. Essa doença é bastante dependente do fator ambiente, sendo predominante em regiões altas (acima de 700 metros), com temperaturas noturnas amenas, e em anos com precipitações bem distribuídas na época da floração, que favorecem a forma-ção do apotécio (estrutura de frutificação do fungo) e liberação de ascósporos. Na RPSRCB, os fungicidas fluazinan (375 – 500g i.a./ha) e procimidona (500g i.a/ha) foram aprovados para constar na publicação Tecnologias de Pro-dução de Soja para o controle do mofo-branco. Os ensaios cooperativos de controle químico do mofo-branco mostraram que a eficiência de controle desses fungicidas foi superior ao único produto (tiofanato metílico) que possuía registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

O controle químico do mofo-branco é uma importante ferramenta que deve ser empregada para proteger as plantas no perío-do de floração, momento em que estão mais vulneráveis à infecção, mas não se deve esta-belecer o uso de fungicidas foliares como única estratégia para controlar a doença, pois os resultados dos ensaios cooperativos mostraram que há produção de escleródios (estruturas de sobrevivência do fungo), mesmo com os fungicidas mais eficientes. Desta forma, outras medidas para o manejo da doença devem ser adotadas, tais como a rotação e sucessão com culturas não hospedeiras, uso de sementes

de boa qualidade sanitária e isentas de escle-ródios, manutenção de cobertura uniforme de solo com palhada, emprego de controle biológico com Trichoderma spp., limpeza de máquinas e equipamentos que possam reter escleródios e utilização de cultivares de soja que permitam bom arejamento entre plantas (porte ereto, menor engalhamento, folhas menores) e que apresentem períodos mais curtos de floração.

Com a entrada da ferrugem asiática no Brasil, em 2001, a utilização de fungicidas foi intensificada na cultura com sucesso para reduzir perdas com essa doença. Como outras doenças são controladas com os mes-mos fungicidas, observa-se uma tendência de menor preocupação das empresas de melhoramento com a incorporação de re-sistência genética nas cultivares. A redução na eficiência dos fungicidas do grupo dos triazóis para o controle da ferrugem, após seis safras com o uso desse grupo de fungi-cidas na cultura, e a oscilação de eficiência observada com fungicidas do grupo dos benzimidazóis para o controle da mancha-

alvo, mostram que basear o controle de doenças em uma única estratégia, nesse caso fungicidas, não é sustentável em longo prazo. A utilização constante de fungicidas ocasiona uma pressão de seleção que pode levar a mudanças no padrão genético das populações de patógenos na cultura da soja, podendo selecionar indivíduos resistentes a fungicidas. Os fungicidas representam importante ferramenta de controle, mas é fundamental que sejam utilizados asso-ciados a estratégias antirresistência e como uma das técnicas de manejo. A associação de fungicidas com a resistência genética a doenças é estratégia complementar e não excludente, devendo estar associada sempre que possível para prolongar a vida útil dessas duas importantes ferramentas de manejo de doenças.

Figura 2 - Infecções tardias causando apodrecimento de vagens e grãos (A e B). Imagem ampliada de acérvulos de Colletotrichum truncatum produzidos sobre tecido infectado (C)

Cláudia Godoy, Claudine Seixas, Maurício Meyer e Rafael SoaresEmbrapa Soja

A) B)

C)

CC

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Soja

30 Novembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Safra planejada

Com o fim do vazio sanitário e o início do período das chuvas, os produtores de soja começaram

o plantio de uma nova safra. Na atribula-ção das tarefas do dia a dia alguns pontos importantes do planejamento, associados ao manejo das pragas iniciais e de plantas daninhas são, algumas vezes, esquecidos ou realizados de forma inadequada. Por exem-plo, a ausência da amostragem de pragas de solo antes do plantio traz dificuldades para

o manejo de corós e percevejo-castanho, uma vez que a adoção de medidas de controle após a implantação de lavoura é pouco eficiente. Outro equívoco é o uso de inseticidas junto à dessecação de plantio, algumas vezes utilizado para controlar lagartas que atacam as plantas remanescen-tes do cultivo anterior e que podem reduzir o estande da nova cultura que está sendo instalada. Esse uso de inseticidas pode ser evitado com um melhor planejamento da

operação, como a adoção da dessecação antecipada da área, pois, com a eliminação das plantas hospedeiras, as pragas ficam sem alimento e morrem ou abandonam o local antes do novo cultivo se estabelecer. Ainda, com a dessecação antecipada é possível ter melhor plantabilidade, o que diminui falhas no estande de plantas, também podendo proporcionar melhor rendimento na operação de plantio. Mas atenção! É preciso avaliar o status hídrico

No cultivo de soja, cuidados no manejo de pragas iniciais e de plantas daninhas não podem ser negligenciados, sob pena de o produtor arcar com severos prejuízos.

Amostrar pragas de solo, adotar a dessecação antecipada, quando as condições hídricas permitirem, e empregar o tratamento de sementes com inseticidas, sempre que

necessário, estão entre as estratégias para garantir bons resultados

Safra planejada

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das plantas a serem dessecadas. Plantas estressadas, vindas de um longo período de estiagem, não respondem bem à desseca-ção. Rebrota de espécies perenes é um fato comum após uma dessecação em período inadequado. Para saber se a dessecação já pode ser iniciada, observe se existe boa quantidade de coloração verde nas folhas e principalmente se novas folhas já foram emitidas pelas espécies a serem controla-das. Quando por algum motivo a desseca-ção antecipada não puder ser realizada, o tratamento de sementes com inseticidas ainda é uma alternativa menos agressiva ao meio ambiente quando comparado ao uso de inseticidas junto à dessecação de plantio e pode ser uma alternativa a ser utilizada pelo produtor quando observada a ocorrência de pragas na área.

O planejamento da safra é uma das etapas mais importantes para o manejo de pragas (principalmente as iniciais) e de plantas daninhas da lavoura de soja. Infelizmente, essa ação é, algumas vezes, negligenciada pelo produtor, que acaba pagando caro por este equívoco. Antes da semeadura, o sojicultor precisa prever a realização das amostragens de solo para verificar a infestação de pragas de raízes. Isso é necessário porque as principais medidas de manejo dessas pragas devem ser adotadas antes ou durante o plantio. Muitas vezes, devido a não realização da amostragem prévia, o produtor apenas percebe que irá enfrentar problemas de pragas de raízes quando os sintomas do ataque estão visíveis nas plantas. Nesse ponto, com a lavoura já instalada, não há inseticida ou outra medida de controle que seja eficiente e economicamente viável.

Entre as pragas de raízes mais comuns estão os corós e o percevejo-castanho. Essas pragas, de hábito subterrâneo, têm aumen-tando em importância na cultura da soja, principalmente na região do Cerrado, mas também nos estados produtores da região Sul. Os corós são besouros (Coleoptera) da família Melolonthidae, cujas larvas vivem no solo e destroem as raízes secundárias das plantas, comprometendo a produtividade da cultura, quando em altas populações. No Rio Grande do Sul predomina a pre-sença das espécies Phyllophaga triticophaga e Diloboderus abderus, causando prejuízos às culturas de soja, trigo, milho, centeio e aveia, entre outras. No estado de Goiás, o gênero predominante é Liogenys, sendo que a espécie L. fuscus é a normalmente encontrada danificando plantas de soja. Diferentemente dos corós, o percevejo-castanho é um inseto sugador do gênero Scaptocoris, de coloração marrom, castanha ou âmbar, pertencente à família Cydnidae (Hemiptera). No Brasil, há registros da ocorrência do percevejo-castanho desde o Norte ao Sul do país, mas os danos econô-micos são observados mais frequentemente na região dos Cerrados.

A intensidade dos danos do coró e

do percevejo-castanho nas lavouras não ocorre somente em função da população dos insetos, mas, também, do desenvol-vimento radicular da planta, do estádio de desenvolvimento da cultura na época do ataque, entre outros fatores. Por isso, entre as medidas recomendadas de ma-nejo estão, além de táticas de controle e redução populacional da praga, estratégias que aumentam a tolerância da planta às investidas desses insetos (Tabela 1). Os inseticidas, uma das principais ferramentas de controle, são eficientes contra pragas de raízes apenas quando aplicados no sulco de plantio ou em tratamento de semen-tes. Para tratamento de sementes é ainda aconselhável que o produto utilizado tenha translocação na planta, tanto simplástica quanto apoplástica, visto que essas pragas podem atacar as raízes que se formam abaixo da profundidade de plantio. Por isso, muitos produtores preferem o uso de inseticidas no sulco de plantio. Neste caso, tem-se a desvantagem de ser necessária uma adaptação da bomba de aplicação junto à semeadora, o que permite que o produto seja aplicado sobre a semente antes que o sulco de plantio seja fechado. No entanto, é importante salientar que não é recomendado o uso de inseticida

Tabela 1 - Medidas gerais de manejo de pragas de raízes

Medidas para aumentar a tolerância da planta ao ataque das pragas de raízes: Escolha das cultivares (preferir cultivares de crescimento rápido – com mais raízes); Inoculação com bactérias fixadoras de nitrogênio; Evitar a formação de camadas adensadas no solo; Correção de acidez e fertilidade do solo; Época de semeadura (procurar a evasão = não sincronia com estádio mais nocivo da praga).

Medidas para reduzir a população de pragas de raízes:Fazer a rotação de culturas (com plantas não hospedeiras ou hospedeiras não preferenciais);

Evitar safrinha em áreas muito atacadas (especialmente com plantas hospedeiras preferenciais);Inseticidas: aplicação no sulco ou tratamento de semente quando observar uma grande infestação no plantio (não fazer uso de inseticidas na ausência da praga);

Manejo de solo associado ou não à pulverização com inseticidas (justificável e possível somente em áreas de manejo convencional).

Procedimento de amostragemde pragas de raízes

Embr

apa

Soja

Matheus Zanella

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quando não forem observados insetos na amostragem prévia ao plantio, ou quando não existir histórico de ocorrência dessas pragas na área de cultivo.

Antes de plantar é importante obser-var, também, se na vegetação da área há ou não infestação de lagartas, que após a dessecação possam sobreviver no solo e se alimentar das plantas novas ao emergir. Na fase inicial da lavoura, o ataque da lagarta-rosca pode ocorrer, mas outras lagartas, como do cartucho-do-milho, também podem ser observadas causando os mesmos sintomas de redução de es-tande, devido ao corte das plantas jovens rente ao solo. Muitas vezes, para o contro-le dessas pragas os sojicultores optam por utilizar inseticidas junto à dessecação de plantio. Esse uso de inseticidas, além de poder ser evitado, traz também risco de contaminação para o solo. A simples ado-ção da dessecação antecipada (20 - 30 dias antes do plantio) é, na maioria dos casos, suficiente para evitar essas lagartas. Isso ocorre porque, sem alimento, esses insetos morrem ou abandonam a área, eliminando o problema antes do plantio.

Além disso, com a dessecação an-tecipada é possível ter uma melhor plantabilidade, principalmente em áreas

com alta infestação de plantas daninhas, ou em área onde se semeou alguma espécie forrageira para cobertura do solo ou para uso na integração lavoura-pecuária, como a Brachiaria decumbens, a Brachiaria brizantha ou a Brachiaria ruziziensis. Essa operação (dessecação antecipada) previne falhas no estande de plantas e, pode, também, proporcio-nar melhor rendimento na operação de plantio. Com a dessecação antecipada é possível realizar uma segunda, em período próximo ao plantio, com o ob-jetivo de corrigir falhas que porventura tenham ocorrido na primeira operação, ou mesmo controlar um novo fluxo de plantas daninhas emergidas. Essa ação é importante, principalmente, em áreas com elevado banco de sementes de inva-soras e onde serão cultivadas variedades de soja convencional (não resistente ao herbicida glifosato).

Mas vale frisar, novamente! É preciso avaliar o status hídrico das plantas a serem dessecadas, pois plantas estres-sadas, vindas de um longo período de estiagem, não respondem bem à des-secação. A rebrota de espécies perenes é, por exemplo, fato comum após uma dessecação em período inadequado. Para

Adeney de Freitas Bueno Sérgio de Oliveira ProcópioEmbrapa SojaRegiane Cristina O. de F. Bueno,Universidade de Rio Verde

um bom funcionamento de um herbicida é necessário que as plantas-alvo estejam em atividade metabólica, ou seja, fotos-sintetizando, transpirando, acumulando carbono, translocando os fotoassimilados às regiões das plantas conhecidas como “drenos” (locais que naquele momento estejam em crescimento/desenvolvi-mento, em expansão, precisando de fotoassimilados para constituir novas or-ganelas, membranas, tecidos etc). Como exemplos de “drenos” podem ser citados os meristemas apicais e radiculares na fase vegetativa ou as flores e as vagens na fase reprodutiva.

Na prática, para saber se a desseca-ção pode ser iniciada, observe se existe boa quantidade de coloração verde nas folhas e, principalmente, se novas folhas já foram emitidas pelas espécies a serem controladas. Quando, por algum moti-vo, a dessecação antecipada não puder ser realizada, o uso do tratamento de sementes com inseticidas ainda é uma alternativa menos agressiva ao meio ambiente quando comparado ao em-prego de inseticidas junto à dessecação de plantio e pode ser uma ferramenta a ser utilizada pelo produtor quando observar a ocorrência de pragas na área. É importante salientar que toda apli-cação de defensivos agrícolas deve ser realizada com responsabilidade e apenas quando necessário, pois grande parte dos produtos aplicados acaba se deslocando para outros destinos ambientais que não o alvo desejado da aplicação. Por isso, consulte sempre um engenheiro agrôno-mo antes de tomar qualquer decisão e o mais importante, planeje sua safra com bastante antecedência. CC

Embrapa Soja

Sintomas do ataque de pragas de raízes (deficiência nutricional e falhas de estande)

Figuras 3 e 4 - Larva de coró (esquerda) efoto do percevejo-castanho adulto (direita)

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Soja

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Equação possívelFotos Irga 2011

Rotacionar a soja com arroz irrigado é alternativa viável para reduzir a infestação de plantas daninhas nas áreas de várzea. Mas um dos principais desafios nesse tipo de cultivo é garantir

a limpeza das lavouras sem perder potencial produtivo. Para manter a produtividade o produtor precisa lançar mão de um manejo preciso, que mitigue os efeitos negativos das infestantes

Os agroecossistemas de várzea são, dentre os ambientes cultivados na estação estival no Brasil, provavel-

mente aqueles que apresentam um dos maio-res níveis de infestação com espécies de plantas daninhas. Neste período, as várzeas reúnem condições favoráveis ao estabelecimento destas espécies, pois, além de temperatura adequada, há umidade e fertilidade no solo (Fleck, 2002). Por essa razão, as plantas daninhas são um dos principais problemas no cultivo do arroz irriga-do, cultura mais praticada nas áreas de várzea na região Sul do Brasil. Na safra 2010/11, aproximadamente 60% das áreas orizícolas do Rio Grande do Sul cultivaram arroz Clearfield, o que representa a maior área do mundo com o emprego desta tecnologia (Irga, 2011). Esta necessidade advém da elevada infestação destas lavouras com arroz vermelho (Oryza sativa), uma vez que a tecnologia permite controlar esta infestante de forma seletiva ao arroz cultivado. Mas, os efeitos colaterais advindos do uso contínuo desta estratégia de controle, como a resistência de diversos biótipos a herbicidas, indicam ser necessário integrar práticas de manejo e culturas para o manejo sustentável das espécies de plantas daninhas em lavouras nas várzeas.

A rotação de culturas é uma prática agronômica recomendável e reconhecida pela importância técnica no controle de plantas

daninhas, insetos-praga e moléstias, por favorecer a melhoria das qualidades física, química e biológica do solo, e por incrementar a sustentabilidade da atividade agrícola. Neste sentido, a rotação de cultivos de arroz e soja tem propiciado melhorias significativas com relação ao controle das plantas daninhas nos sistemas de cultivo das áreas de várzea. Os benefícios desta prática de manejo vêm sendo difundidos desde a década de 1940, quando Bonifácio Carvalho Bernardes relatou em livros resultados de experimentos conduzidos na Estação Experimental de propriedade do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) em Cachoeirinha, no Rio Grande do Sul (Bernades, 1946). Entretanto, maior adoção desta estratégia veio com o desenvolvimento da tecnologia Roundup Ready (RR), o que permitiu controlar as infestantes de forma eficaz, prática e econômica. Desde então, o cultivo intercalado no tempo entre arroz e soja tem se constituído em enorme oportunidade para a redução do nível de infestação das áreas de várzea com as plantas daninhas.

O cultivo de soja apresenta algumas instabilidades produtivas nas várzeas que geralmente estão associadas às condições ambientais adversas deste agroecossistema, tanto por excesso quanto por déficit hídrico. Este fato justifica a necessidade de realização de práticas de manejo específicas para estas

áreas, objetivando-se a diminuição de quais-quer fatores que causem estresses à cultura da soja. Assim, para obter alto rendimento de grãos, necessita-se controlar eficazmente as infestantes na cultura da soja nas áreas de várzea, limitando a interferência negativa destas espécies. Satisfeita esta condição, a soja cumpre com a sua função primordial de redução do nível de infestação com plantas daninhas e se torna uma importante opção de renda para os agricultores.

PRIncíPIoS PARA o MAnEjo dEInFEStAntES nA cUltURA dA SojAMuitos programas de manejo foram

propostos para subsidiar estratégias de con-trole de plantas daninhas nas lavouras de soja, em sua maioria baseados em períodos de convivência entre a comunidade daninha e a cultura. Em geral, estes programas sugerem manter a lavoura “no limpo” entre 15 e 45 dias após a emergência da soja, o que equivale, respectivamente, aos estádios fenológicos V3 e V6 (Vidal, 2010). Caso as plantas daninhas não sejam controladas neste período ou a decisão pelo controle for tardia, as perdas de produtividade de grãos podem atingir valores de até 85% (Oerke, 2006). Isto implica em haver conscientização dos agricultores de que as ações de controle devem sempre ocorrer nos momentos oportunos e na intensidade

Equação possívelRotacionar a soja com arroz irrigado é alternativa viável para reduzir a infestação de plantas daninhas nas áreas de várzea. Mas um dos principais desafios nesse tipo de cultivo é garantir

a limpeza das lavouras sem perder potencial produtivo. Para manter a produtividade o produtor precisa lançar mão de um manejo preciso, que mitigue os efeitos negativos das infestantes

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adequada.A formulação das estratégias adequadas

de controle das infestantes da cultura da soja deve ser composta por “ações obrigatórias” e “ações flexíveis”, de acordo com as carac-terísticas de cada área (Figura 1). As ações obrigatórias referem-se às práticas de manejo realizadas antes da implantação da lavoura e no início do período crítico da interferência das plantas daninhas na cultura (estádio V3). Nestas épocas, é oportuno manter a lavoura de soja necessariamente “no limpo” para que a cultura se estabeleça e se desenvolva livre da interferência exercida pelas plantas daninhas. As ações flexíveis são práticas de manejo que objetivam complementar os efeitos obtidos com as ações obrigatórias, sendo fundamentais nos casos de elevado nível de infestação da área. Algumas informações básicas obtidas com o monitoramento das espécies, da den-sidade e do tamanho das infestantes são fun-damentais para a tomada de decisão a respeito do uso destas ações. Com isso, as estratégias de controle devem sempre ser formuladas para cada tipo de situação, uma vez que existem distintas combinações de ações possíveis para o manejo das infestantes.

Sabidamente, o revolvimento do solo realizado antes da semeadura das culturas anuais estimula a germinação das sementes de plantas daninhas nas lavouras e, com isso, incrementa o nível de infestação da área. Com efeito, o preparo do solo para implantação da soja em várzea aumenta em até quatro vezes a densidade de plantas daninhas na lavoura, em comparação ao plantio direto (Figura 2). Esta prática simples oportuniza ao agri-cultor reduzir o banco de sementes do solo, em especial com arroz vermelho, quando as infestantes que emergem são bem controla-das na sequência. Deste modo, a realização de preparo do solo exige que o controle em pós-emergência seja realizado no momento

oportuno para que não ocorra interferência precoce das infestantes na soja. Caso contrário, os efeitos serão limitados.

PREvEnção dA RESIStêncIA dE InFEStAntES nAS ÁREAS dE vÁRzEAUma das principais reflexões atuais acerca

das práticas empregadas para o manejo de infestantes na orizicultura nas áreas de várzea é o aparecimento de novos casos de biótipos re-sistentes a herbicidas (Kalsing, 2011). De fato, os registros atuais confirmam a ocorrência de, pelo menos, seis espécies de plantas daninhas que possuem biótipos resistentes a herbicidas que ocorrem neste ambiente (Heap, 2011). Estes casos levaram os produtores a buscar alternativas para contornar esta situação, sendo a soja RR uma boa oportunidade para o controle de biótipos resistentes com glifosato. Mas, deve-se ter sempre em mente que as plantas daninhas das áreas de várzea podem adquirir resistência a outros herbicidas, cabendo ao agricultor preservar esta tecnolo-gia. Caso contrário, os benefícios advindos do controle das infestantes serão perdidos ao longo do tempo e, após safras sucessivas, pode ocorrer a seleção de biótipos resistentes ao glifosato. A seguir, apresentam-se algumas medidas de prevenção da resistência de plantas

daninhas.Para prevenir a resistência nas áreas de

várzea:• Utilizar somente sementes e produtos

com certificação;• Praticar rotação de herbicidas com

diferentes modos de ação;Herbicidas em pré-emergência e herbici-

das em pós-emergência;• Praticar rotação de sistemas de cultivos

na área ao longo do tempo;Cultivo convencional, cultivo mínimo,

plantio direto, entre outros;• Praticar rotação de culturas e/ou de

atividades na área ao longo do tempo;Rotação de arroz e soja, integração lavoura

e pecuária, entre outras;

É PoSSívEl “lIMPAR A ÁREA cUltIvAdA” E“GARAntIR A PRodUtIvIdAdE” dA SojA?A cultura da soja apresenta a maior área

agrícola cultivada no território brasileiro e, nos próximos anos, estima-se que ocorrerá aumento gradual do cultivo desta leguminosa em rotação com o arroz irrigado nas áreas de várzea. Para isto, foram necessários tempo e investimento em melhoramento genético e práticas de manejo neste ambiente, sobretudo pelos pesquisadores do Instituto Rio Gran-dense do Arroz (Irga). As informações obtidas permitem afirmar que é possível “limpar a área cultivada” e “garantir a produtividade”, desde que as recomendações da pesquisa sejam seguidas pelos agricultores. Estes dois objetivos não são antagônicos e alcançar elevadas pro-dutividades com a cultura da soja na várzea requer um manejo preciso que mitigue os efeitos negativos das plantas infestantes.

Plantas infestantes em lavoura comercial de soja cultivada em ambiente de várzea

Figura 1 - Estratégias de controle de infestantes na cultura da soja transgênica em função da época e dose de aplicação de glifosato (Adaptado de christoffoleti, 2010) dose de glifosato equivalente à concentração de 360g i.a. l-1

Figura 2 - densidade de plantas infestantes do grupo das gramíneas anuais em função de distintos sistemas de cultivo da soja em área de várzea (vedelago et al, 2011) cc = cultivo convencional, cM = cultivo mínimo e Pd = plantio direto

CC

Augusto Kalsing, Anderson Vedelago, Cláudia Lange e Valmir G. MenezesInstituto Rio Grandense do Arroz

35www.revistacultivar.com.br • Novembro 2011

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38 Novembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Soja e milho

Quanto reaplicar

Na região do Cerrado ocorrem limitações à produção de grande parte das culturas em

decorrência dos efeitos da acidez, associada à presença de alumínio trocável em con-centrações tóxicas e baixos teores de cálcio e magnésio.

A correção da acidez do solo por meio da calagem se faz necessária para a obtenção de melhores produtividades das culturas e maior eficiência do uso dos fertilizantes. A calagem é, portanto, um dos pilares para uma agricultura sustentável no Cerrado.

Resultados de pesquisas na região mos-tram longo efeito residual da calagem, com bons rendimentos das culturas até seis anos após a aplicação de calcário em doses para elevar o pH em água do solo para 5,5 a 6,0, que corresponde ao intervalo de saturação por bases de aproximadamente 35% a 50% nesses solos.

O objetivo desse trabalho foi avaliar a quantidade de calcário utilizada para man-

ter a saturação por bases do solo em 50%, em experimento de adubação fosfatada cultivado por 15 anos com soja e milho em dois sistemas de cultivo do solo - sistema de preparo convencional (SPC) e sistema de plantio direto (SPD) -, adubados com duas fontes de fósforo - superfosfato triplo (SFT) e fosfato natural reativo (FNR).

O estudo foi realizado na área experi-mental da Embrapa Cerrados, em Planal-tina (DF), altitude de 1.014m, precipitação média anual de 1.570mm e temperatura média anual de 21,3°C. O relevo caracte-riza-se como suave ondulado e a vegetação original é o Cerrado. Trata-se de um la-tossolo vermelho distrófico muito argiloso (64% de argila), com teor de P extraível por Mehlich I muito baixo (1,0mg/dm-3 na camada de 0cm a 20cm), na instalação do experimento, em setembro de 1994.

O experimento tinha como objetivo principal a avaliação agronômica de fontes de P aplicadas na dose de 80kg/ha/ano de P2O5, em dois modos de aplicação, lanço ou

sulco de semeadura, sob sistema de preparo convencional (aração até 20cm de profun-didade com arado de discos seguida de uma grade niveladora) e plantio direto.

Em 1985, a área desmatada recebeu calcário, foi cultivada por três anos con-secutivos com adubos verdes e, posterior-mente, mantida sob pousio. Por ocasião do estabelecimento do experimento, em 1994, foram aplicados a lanço e incorporados calcário dolomítico com PRNT de 68% para elevar a saturação por bases a 50% (Tabela 1), gesso agrícola na dose de 3,0t/ha-1, potássio, enxofre e micronutrientes.

Soja (Glycine max) foi cultivada nos nove primeiros anos, milho (Zea mays) no décimo ano e, nos anos seguintes houve a rotação entre milho e soja, sendo que o milheto (Pennisetum glaucum) passou a ser utilizado como cobertura de inverno após o nono cultivo, semeado no final da esta-ção chuvosa e roçado antes da maturação fisiológica. As dimensões das parcelas ex-perimentais eram de 8m x 4m (32m2), com

Estudo realizado na região do Cerrado avalia a necessidade de reaplicação de calcário em experimento de adubação fosfatada cultivado por 15 anos com soja e milho em sistemas de cultivo

convencional e plantio direto, com aplicação de superfosfato triplo e de fosfato natural reativo

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Djalma de Sousa

O milho foi cultivado no décimo ano e, nos anos seguintes, houve a rotação entre milho e soja, sendo que o milheto (Pennisetum glaucum) passou a ser utilizado como cobertura de inverno após o nono cultivo

espaçamento entre linhas de 0,50m para a soja, 0,80m para o milho e 0,20m para o milheto. O experimento foi conduzido sob irrigação suplementar por aspersão.

Para a realização deste trabalho foram selecionados quatro tratamentos: FNR e SFT aplicados no sulco de semeadura, ambos na dose de 80kg/ha/ano de P2O5 sob SPC ou SPD. O delineamento expe-rimental foi blocos ao acaso em parcelas subdivididas com três repetições, com os sistemas de cultivo (SPC e SPD) nas parcelas maiores e as fontes de P (FNR e SFT) distribuídas aleatoriamente nas subparcelas. O FNR continha 28,2% de P2O5 total, com solubilidade de 44% em solução de ácido cítrico a 2% (relação fosfato: solução extratora de 1:100). O SFT continha 47,6% de P2O5 total, com solubilidade de 92% em solução de ácido cítrico a 2%.

As amostras de solo para a determi-nação da dose de calcário a ser reaplicada foram coletadas em outubro de 2000 e 2009, sendo as aplicações realizadas nos anos subsequentes. Foram tomadas 20 subamostras para cada amostra composta coletadas aleatoriamente na área útil de cada parcela, na camada de 0cm a 20cm. Depois de coletadas, as amostras foram se-cas ao ar, maceradas e passadas em peneira de 2mm. Foi então realizada análise quí-mica do solo segundo os métodos descritos em Embrapa (1997). O calcário utilizado no ano 2001 era dolomítico com PRNT de

73%, enquanto o utilizado no ano de 2010 era magnesiano com PRNT de 85%.

A análise de variância para as doses de calcário aplicadas foi feita considerando o modelo misto de máxima verossimilhança restrita via Proc Mixed do SAS 9.1 (SAS, 2003), e quando apontou significância o teste de hipótese de Student (t) (P<0,05) foi utilizado para distinção das médias.

RESUltAdoS E dIScUSSãoNo período de 15 anos foram realiza-

dos 11 cultivos de soja e quatro de milho. A produtividade média da soja e do mi-

lho foi de 2.676kg/ha e 11.112kg/ha de grãos, respectivamente. Nos dois últimos cultivos, o 14º e 15º com soja e milho, respectivamente, o rendimento médio de grãos foi de 3.759kg/ha e 12.023kg/ha, respectivamente, refletindo o aumento na oferta de fósforo, aplicado anualmente.

Considerando-se os 15 anos de cultivo, a maior quantidade total de calcário reco-mendada foi para o tratamento com SPC e SFT como fonte de fósforo (2.317kg/ha), enquanto a menor foi no SPD e FNR (780kg/ha). Nesse período, para as culturas adubadas com SFT foram necessários em média 154kg/ha/ano e 116kg/ha/ano de

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40 Novembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

calcário (PRNT 100%) no SPC e SPD, respectivamente, enquanto que para o FNR essas quantidades foram 106kg/ha/ano e 52kg/ha/ano, respectivamente.

Para a reaplicação feita após o 6º cultivo, no SPD foi necessário 31% me-nos calcário que no SPC, possivelmente devido à menor taxa de mineralização da matéria orgânica nesse sistema, devido ao não revolvimento do solo, como também a menores perdas de bases (cálcio, magnésio e potássio) por lixiviação para a camada abaixo dos 20cm.

Para a reaplicação feita após o 15° ano de cultivo, quando a fonte de fósforo foi o SFT, foram necessários 345% mais calcário (800kg/ha-1) que nos tratamentos que re-ceberam FNR, na média dos dois sistemas

de cultivo. No SPC foi necessário aplicar 70% mais calcário (329kg/ha-1) que no SPD, na média das duas fontes de fósforo (Tabela 3).

Considerando o total de calcário aplicado até após o 15º cultivo (Tabela 3), quando a fonte de fósforo foi o FNR a quantidade aplicada para manter a saturação por bases em 50% foi 42% in-ferior à do SFT. Essa menor quantidade de calcário necessária quando se utilizou o FNR pode ser explicada pelas reações de dissolução dos fosfatos naturais apa-títicos, cujos ânions PO4

3- e CO32- (o

conclUSõESA necessidade de reaplicação de calcário

(PRNT 100%) para manter a saturação por bases em 50%, expressa como média durante o período de 15 anos de condução do expe-rimento, variou de 154kg/ha/ano, quando se utilizou superfosfato triplo sob sistema de preparo convencional do solo, a 52kg/ha/ano, tendo-se como fonte de fósforo o fosfato natural reativo no sistema plantio direto.

A quantidade total de calcário reaplicada nesse período foi 35% menor no sistema plantio direto em relação ao sistema de pre-paro convencional na média das fontes de fósforo e 42% menor para o fosfato natural reativo em relação ao superfosfato triplo na média dos sistemas de preparo do solo.

Tabela 1 - Análise química do solo (1) na camada de 0 a 20cm e aplicações de calcário antes (1985) e na ocasião da implementação do experimento (1994)

(1) Segundo os métodos descritos em Embrapa (1997). (2) dose aplicada (PRnt 100%) de calcário dolomítico.

Ano

19851994

pH

4,55,4

Ca2+

0,822,41

--- cmolc dm-3 ---Mg2+

0,202,01

K+

0,100,11

H+Al

9,135,27

Al3+

1,400,08

CTC

10,259,80

v

10,946,2

NC (2)

kg ha-1

4.010380

(1) S, t, v e nc correspondem à soma de bases (ca, Mg e K), capacidade de troca de cátions a pH 7,0, saturação por bases e necessidade de calcário para elevar v a 50%, respectivamente.

Tabela 2 - Análise de solo da camada de 0cm a 20cm e quantidade de calcário reaplicada (PRnt=100%) durante 15 anos de cultivo com soja e milho em um latossolo vermelho muito argiloso sob sistema de preparo convencional ou plantio direto recebendo 80kg/ha/ano de P2O5 aplicados no sulco de semeadura como superfosfato triplo (SFt) ou fosfato natural reativo (FnR)

Após 15° cultivoSFT2,627,4435,21.105

FnR2,717,8434,51.212

SFT3,068,5435,81.212

FnR4,038,8145,7382

Análise do solo/recomendação(1)

S, cmolc dm-3

T, cmolc dm-3

v, %NC, kg ha-1

Após 6° cultivo Após 15° cultivoSFT2,797,3637,9892

FnR3,017,4240,5697

SFT3,799,2840,8852

FnR4,689,5449,183

Após 6° cultivoSistema de plantio diretoSistema de preparo convencional

tabela 3 - Quantidade de calcário aplicada (PRnt=100%) durante 15 anos de cultivo com soja e milho em um latossolo vermelho muito argiloso para fontes de fósforo (superfosfato triplo – SFt e fosfato natural reativo – FnR) na média do sistema de cultivo do solo, e para sistema de cultivo do solo (sistema de preparo convencional – SPc e sistema de plantio direto – SPd) na média das fontes de fósforo

Médias seguidas da mesma letra na linha não diferem entre si pelo Teste de Student (P>0,05), para fontes de fósforo ou sistemas de cultivo.

FnR

954 a232 b

1.186 b

Momento da aplicação

Após 6° cultivoApós 15° cultivo

Total

Sistemas de cultivoFontes de fósforoSFT

998 a1.032 a2.030 a

--- kg ha-1 ---SPd

794 b468 b

1.262 b

SPC

1.158 a797 a

1.955 aA correção da acidez do solo por meio da calagem se faz necessária para a obtenção de melhores produtividades das culturas e maior eficiência do uso dos fertilizantes

último em substituição isomórfica ao fosfato ou como carbonatos de cálcio e magnésio livres) se associam a prótons consumindo acidez do solo. Considerando-se os 15 anos de cultivo foram utilizados 1.200kg/ha de P2O5, ou seja, 4.255kg/ha do FNR, o que propiciou aplicar 844kg/ha a menos de calcário no solo em relação ao SFT (Tabela 3).

No SPD, para o período de 15 anos foi aplicado em média 35% menos calcário que no SPC (Tabela 3), indicando que práticas conser-vacionistas poderão favorecer maior efeito residual do calcário.

Djalma fala da necessidade de reaplicação de calcário em experimento de adubação fosfatada

Detalhe de calcário na superfície do solo em sistema de plantio direto

Djalma Martinhão G. de Sousa e Thomaz Adolpho Rein,Embrapa CerradosRafael de Souza NunesUniversidade de Brasília

CC

Fotos Djalma de Sousa

Page 41: Grandes Culturas - Cultivar 150
Page 42: Grandes Culturas - Cultivar 150

Informe empresarial

É fato: o feijão é um dos ali-mentos que não podem faltar no prato dos brasileiros. No

almoço ou no jantar, é consumido quase todos os dias, o que faz com que o Brasil figure na lista dos maiores consumidores deste grão: são em média 16 quilos por pessoa/ano.

Segundo dados levantados periodi-camente pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio da Companhia Nacional de Abas-tecimento (Conab), a primeira safra de

2011 está estimada entre 1,31 milhão de hectares e 1,35 milhão de hectares, o que significa queda entre 5% e 8% em relação à safra anterior. Todos os estados produtores de feijão registraram uma safra menor em comparação à passada. Os fatores para a diminuição da área plantada podem ser explicados por co-mercialização instável, riscos climáticos e pelas boas perspectivas de outras cul-turas, como soja e milho, que têm maior estabilidade e liquidez. Tudo isso tem feito com que os produtores optem pelo

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42 Novembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

O feijão nosso de cada diaProdução é menor nesta safra, mas com o tratamento correto a produtividade pode ser maior

plantio de culturas que tragam maior segurança e rentabilidade.

SolUçãoComo produzir mais e melhor na

mesma área plantada? O desafio é grande, mas não é impossível. É preciso que o produtor entenda que, para ser eficiente, é necessário investimento que agregue valor à sua lavoura. “É importante frisar que a melhor forma de aumentar rentabilidade da produ-ção é produzindo mais! Os agricultores

Page 43: Grandes Culturas - Cultivar 150

nitrogênio e fósforo, pode-se acrescen-tar ainda mais de uma saca de feijão por hectare. “É fato que, se utilizarmos fontes solúveis de NPK (Nitrogênio, Fósforo e Potássio) os efeitos do Bulk serão ainda maiores. Isso porque a plan-ta tende a vegetar mais e o processo de translocação proporcionado pelo Bulk continua por mais tempo, resultando numa eficiência ainda maior”, finaliza Cavagnoli.

Cavagnoli explica que com o uso dos dois produtos, o Grain-Set na pré-florada (R5) e o Bulk no florescimento (R6), houve aumento no número de vagens e de grãos por vagem, o que determina o potencial produtivo do feijoeiro

CC

43www.revistacultivar.com.br • Novembro 2011

R1270268320

R2282389303

R3287281269

R4275271314

Tratamento

TestemunhaBulk (R6)

Grain-Set e Bulk (R5/R6)

Média279a302a302a

% 100108108

número de vagens/m2

R15,615,176,54

R25,544,684,52

R33,614,616,29

R45,874,705,40

Tratamento

TestemunhaBulk (R6)

Grain-Set e Bulk (R5/R6)

Média5,16a4,79a5,69a

% 10093110

número de vagens/m2

R126,626,322,3

R226,226,526,6

R327,126,827,6

R428,327,724,9

Tratamento

TestemunhaBulk (R6)

Grain-Set e Bulk (R5/R6)

Média27,026,825,3

% 1009994

número de vagens/m2

R1403236394665

R2409348284231

R3310744754670

R4456544364225

Tratamento

TestemunhaBulk (R6)

Grain-Set e Bulk (R5/R6)

Média3949a4345a4448a

% 100110113

número de vagens/m2

Sc/ha65,872,474,1

Bulk é um fertilizante foliar com-posto de potássio e aminoácidos

que auxiliam no crescimento da planta e na translocação de carboidratos para os grãos/frutos de maneira eficiente e equilibrada.

Benefícios• Favorece o equilíbrio nutricional;• Uniformiza melhor a qualidade

dos grãos;• Promove o processo de transloca-

ção de carboidratos para os grãos;

Grain-Set é um fertilizante foliar à base de extratos vegetais e nutrientes,

CARACteRíStICA dOS pROdutOScomplexado por aminoácidos com composição equilibrada que auxiliam no complexo reprodutivo dos cultivos.

Vantagens• Crescimento mais vigoroso das

plantas;• Maior desenvolvimento radicular;• Minimização dos efeitos negativos

em situações de estresse, tais como danos por insetos, doenças, granizo, “seca” etc;

• Maior “enchimento” e peso dos grãos;

• Maior produtividade e melhor qualidade dos grãos.

precisam ser seletivos na escolha e na utilização dos produtos ofertados pelo mercado, procurando investir em solu-ções modernas, eficientes e diferencia-das, possibilitando assim atingir maiores produtividades e maior qualidade do produto colhido, agregando-lhe valor. Com esse tipo de investimento o pro-dutor consegue produzir mais e melhor e com isso reduzir o custo e aumentar a rentabilidade da cultura”, explica o en-genheiro agrônomo e gerente de vendas da Improcrop para o Planalto Central, Cleiton Cavagnoli.

Em testes realizados em Unaí, uma das principais e mais tecnificadas regi-ões produtoras de feijão do Brasil, sob a supervisão de Cavagnoli, foi verificado aumento de oito sacas de feijão por hec-tare, com a utilização de dois produtos da Improcrop: o Grain-Set e o Bulk. “Com o uso dos dois produtos, o Grain-Set na pré-florada (R5) e o Bulk no floresci-mento (R6), conseguimos aumento no número de vagens e de grãos por vagem, o que determina o potencial produtivo do feijoeiro. Com o Bulk, conseguimos melhora na taxa de translocação de car-boidratos das folhas para os grãos. Isso fica evidenciado através do peso médio de mil grãos e no percentual de peneira 12 na classificação, o que, além de promover incrementos na produtividade, traz tam-bém benefícios qualitativos, agregando assim valor no produto final, já que com a utilização do Bulk conseguimos padro-nizar a maturação”, explica Cavagnoli.

Os testes foram realizados em blocos de quatro por dez metros e avaliados o número de plantas por hectare, o número de vagens por plantas, o número de grãos por vagem, o peso médio de mil grãos e a produtividade.

Cavagnoli explica que além da uti-lização do Grain-Set e do Bulk, se for utilizado também o Liqui-Plex Finish na fase de enchimento de grãos (R7/R8) associado a uma fonte solúvel de

obs.: testemunha padrão do produtor

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44 Novembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Coluna ANpII

Hora de mudar

Na edição de março de 2010, escrevemos um artigo sobre a inoculação do feijoeiro e

agora voltamos ao assunto, pois nos parece inconcebível que uma leguminosa da impor-tância do feijão em nossa alimentação diária ainda se beneficie tão pouco do nitrogênio biológico.

Embora já tenhamos estirpes de Rhizo-bium tropici de eficiência elevada, o uso de inoculantes no feijoeiro continua “patinan-do”, sem sair do lugar, mantendo-se estável há vários anos, conforme Gráfico 1.

Como se observa, as projeções para os próximos anos, se não houver uma mu-dança substancial na maneira de enfocar a Fixação Biológica de Nitrogênio em feijoeiro, são de estacionamento no uso de inoculan-tes na cultura.

Com uma mudança de enfoque será possível uma alteração neste panorama, mudando-se a linha de tendência da curva, aumentando fortemente o uso deste insumo na produção de feijão.

Mas quais seriam estas mudanças, ne-cessárias para alterar o rumo, fazendo com que o feijoeiro passe a se beneficiar mais ativamente do nitrogênio biológico?

Em primeiro lugar, há necessidade de que toda a cadeia ligada à cultura, desde a pesquisa (em todos os aspectos relacionados ao feijoeiro) até o agricultor, se conscientize que a fixação biológica é estratégica para a produção desta leguminosa. A partir desta posição, toda a cadeia passará a trabalhar para que a cultura busque, de forma con-junta e ordenada, incrementar o uso da inoculação.

A partir daí, uma vez firmado um con-ceito de que a fixação biológica do nitrogênio é essencial para a cultura, há a necessidade de se desenvolver um plano estratégico de marketing que envolva todos os stakeholders de forma integrada para que a FBN entre na agenda de todos.

À pesquisa microbiológica caberá buscar estirpes cada vez mais eficientes e compe-titivas, métodos de inoculação mais fáceis de uso pelo agricultor e outras inovações, como aditivos que aumentem a nodulação e a capacidade de fixação, bem como de-terminar as quantidades de bactérias por semente para uma boa nodulação e o índice de mortalidade causado pelos defensivos utilizados nas sementes. A co-inoculação de Rhizobium com outras bactérias é um ponto extremamente promissor, que pode-rá aumentar a taxa de fixação de maneira significativa.

Às áreas de pesquisa em melhoramento e nutrição caberá desenvolver cultivares que respondam ao nitrogênio biológico e conhecer as interações do sistema simbiótico com os nutrientes, respectivamente. Em termos de nutrição é necessário determinar a quantidade ideal de micronutrientes, em especial molibdênio e cobalto, nutrientes essenciais para o funcionamento da enzima nitrogenase, responsável pela transformação do N2 em formas assimiláveis pela planta

As empresas que produzem inocu-lantes, por sua vez, deverão buscá-los na concentração ideal para a cultura, métodos de inoculação que atendam às necessidades práticas do agricultor e desenvolver sistemas de distribuição adequados às especificidades

Solon de AraujoConsultor da ANPII

da cultura, fazendo o produto chegar às mãos dos pequenos agricultores e dos que ainda têm pouco acesso à tecnologia.

Os agentes de assistência técnica, tanto os oficiais (Emater) e os particulares (coo-perativas, consultorias e outros) deverão se capacitar das vantagens econômicas do uso de inoculante, passando a recomendar seu emprego nas lavouras assistidas tecnicamen-te, uma vez comprovados seus benefícios e suas limitações.

Finalmente, cabe aos agricultores buscar informações pertinentes ao assunto, tendo sempre em mente as grandes vantagens econômicas e ambientais do nitrogênio biológico sobre o químico. A conscientização tem que ser ampliada, no sentido do uso correto do inoculante, pois de nada adianta um inoculante de qualidade, com estirpes altamente eficientes, se não for usado de forma adequada em sua fase final.

Desta forma, é de fundamental impor-tância para que o feijoeiro passe a utilizar em grande escala o nitrogênio de origem biológica, que todos os agentes envolvidos com a cultura se unam em um plano estra-tégico, de médio prazo, abrangendo toda a cadeia, agindo de forma coordenada, com objetivos claros e bem definidos. A ANPII tem defendido esta bandeira em vários fóruns, pois nos parece ser o caminho para mudarmos a curva de tendência do uso de inoculantes na cultura desta leguminosa, de fundamental importância para a alimenta-ção do brasileiro.

A cultura do feijoeiro, leguminosa presente na alimentação diária dos brasileiros, ainda usufrui de forma tímida dos benefícios do nitrogênio biológico. Para alterar esse cenário a ANPII defende plano estratégico que envolve todos os agentes ligados à cadeia produtiva

CC

Gráfico 1 - Uso atual de inoculantes em feijoeiro e projeção para os próximos anos Gráfico 2 - Mudança de linha de tendência no uso de inoculantes, com alterações no enfoque

A partir de 2012, projeção feita por forecast (The Management Scientist. Anderson, Sweeney and Wiliams).

Page 45: Grandes Culturas - Cultivar 150

Coluna Agronegócios

45www.revistacultivar.com.br • Novembro 2011

Redução de emissões de GEE na agropecuária

Parcela ponderável das emis-sões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil decorre do

desmatamento. Logo, evitá-lo é a grande alternativa que temos para diminuir a emissão de GEE, o que é particularmente válido para regiões, como o Centro-Oeste, onde a fronteira agrícola avança sobre o Cerrado, nos limites da Amazô-nia. Entretanto, no âmbito mais restrito da agropecuária, o manejo das culturas e o uso adequado do solo contribuem para que a agricultura seja conduzida com menos emissões.

Estudo realizado por pesquisadores brasileiros e norte-americanos, utilizando um modelo biogeoquímico, estimou os impactos das emissões de GEE até 2050, em diferentes cenários de desmatamento

equivalente. Com uma abordagem integra-da, os cientistas estimaram a dinâmica dos GEE, em cenários futuros de ecossistemas naturais e agrícolas após o desmatamento, usando o Modelo de Ecossistemas Terres-tres (TEM, na sigla em inglês).

Os autores concluíram que as emissões em Mato Grosso podem variar de 2,8 petagramas de CO2-equivalente a 15,9 petagramas de CO2-equivalente até 2050. O desmatamento é a maior fonte de GEE nesse período, mas os usos posteriores da terra correspondem a uma parcela substan-cial – de 24% a 49% – das emissões futuras. Tanto o desmatamento como o futuro manejo do uso da terra serão importantes para a emissão de GEE, logo, ambos os aspectos devem ser considerados na hora de traçar estratégias e políticas públicas

mudanças, as emissões de GEE são subs-tancialmente menores.

Quando o solo é intensamente revol-vido, ele é oxigenado e a matéria orgânica fresca fica exposta. Isso acelera a decompo-sição desse material pelos microrganismos do solo e provoca muitas emissões de GEE. No plantio direto isso não ocorre. O segundo aspecto da técnica agrícola convencional é a remoção da palha e de outros restos vegetais, que têm grandes porcentagens de carbono em sua compo-sição e que, em vez de poluir a atmosfera, podem enriquecer o solo e beneficiar a produção. A palha no campo vai sendo lentamente utilizada pelos microrganis-mos, retendo carbono, nitrogênio, fósforo e outros nutrientes no solo.

A rotação de culturas é o terceiro

Décio Luiz GazzoniO autor é Engenheiro Agrônomo,

pesquisador da Embrapa Soja

No âmbito mais restrito da agropecuária, o manejo das culturas e o uso adequado do solo contribuem para que a agricultura seja conduzida com menos emissões

e de uso do solo na fronteira agrícola de Mato Grosso. O estudo foi desenvolvido em parceria entre cientistas da Esalq, do Cena, da USP e da Universidade de Brown (EUA) e foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), em 2010.

FontES dE EMISSõESDe acordo com os autores, o desmata-

mento da vegetação nativa causa grande emissão de GEE. Mas, após o desfloresta-mento, também há emissões, que depen-dem do uso do solo. As áreas originalmente de vegetação nativa podem ser convertidas em pastagens ou cultivos anuais, ou ainda iniciar com pecuária e depois incorporar-se à agricultura. O objetivo do trabalho foi estimar as emissões de GEE considerando cenários com diferentes tipos de conver-são do uso do solo, partindo de áreas de vegetação nativa.

Três GEEs típicos foram considerados: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (NOx), que são os mais co-mumente emitidos em áreas utilizadas pela agropecuária. Para os cálculos do estudo, todas as unidades foram expressas em CO2

ou no desenvolvimento de tecnologias relacionadas à mitigação das mudanças climáticas.

A fim de validar os dados obtidos com o modelo TEM, os pesquisadores compa-raram os cenários atuais com simulações de cenários já conhecidos de emissões de GEE, aliados ao trabalho de campo para obtenção dos dados necessários. A vali-dação dos dados foi feita baseada em 12 testes estatísticos. Constatada a adequação do modelo com eventos já ocorridos, foi possível utilizá-lo para estimar as emissões de GEE no futuro.

MAnEjo do Solo E dAS cUltURASApós a conversão do uso do solo, se

a área for utilizada para agricultura, as emissões de GEE podem variar muito de acordo com as práticas agrícolas. Um exemplo clássico é o contraste que se observa entre o preparo convencional do solo e a técnica de plantio direto. O plantio direto muda completamente a concepção da prática agrícola com base em um tripé: a não mobilização do solo em área total, a manutenção da palha na superfície do solo e a rotação de culturas. Com essas

aspecto que contribui para reduzir as emissões de GEE. Além da questão fi-tossanitária envolvida – as monoculturas são mais suscetíveis a pragas, com maior necessidade de uso de agroquímicos – a rotação de culturas proporciona o acúmulo de diferentes tipos de palha sobre o solo. Quando as culturas são alternadas periodi-camente, os restos orgânicos que ficam no solo também variam. Cada microrganismo tem preferência por determinado tipo de material orgânico. Se os restos orgânicos forem sempre provenientes das mesmas plantas, vão atender um grupo específico de microrganismos. Se houver rotação de culturas, a superposição de palhas de vários tipos também aumentará a biodi-versidade local.

O grande mérito deste estudo foi o de colocar números em fatos conhecidos e abordá-los com metodologia científica comprovada, demonstrando a importância de tecnologia adequada de manejo do solo e das culturas, para reduzir as emissões de GEE da agropecuária. CC

Page 46: Grandes Culturas - Cultivar 150

Coluna Mercado Agrícola

Safra sendo plantada com otimismo e dentro do período ideal no Brasil

TRIGO - O mercado do trigo caminha para o fechamento da colheita no Rio Grande do Sul e já está todo colhido no Paraná. Neste ano houve problemas climáticos sobre as lavouras e a produção ficou comprometida, sendo que parte está sendo encaminhada para ração e o que teremos de produção não atenderá metade do que consumiremos. Desta forma, em 2012 teremos que importar na faixa das seis milhões de toneladas (ou acima) para cobrir o consumo e com o dólar em alta o trigo chegará mais caro ao mercado brasileiro. Sinal de que teremos reação das cotações a partir de janeiro.

algodão - Os produtores têm diminuído o plantio desta safra 2011/12, porque a soja voltou a ser atrativa e os indicativos do algodão (que estavam em forte alta no primeiro semestre) recuaram. Mesmo alguns avanços nas últimas semanas não foram suficientes para atrair os produto-res. Mas há espaço para reação à frente, porque há perdas importantes na safra e que ainda não foram contabilizadas. O “fundo do poço” da pluma já passou e agora deveremos começar a ver avanços positivos.

eua - A safra está fechando com grandes perdas, com o milho sendo apontado para menos de 315 milhões de toneladas quando se esperava colher na faixa das 350 milhões de toneladas. A soja deve ficar ao redor das 83 milhões de toneladas, quando a expectativa era de algo superior às 90 milhões de toneladas. O arroz registra pouco mais de oito milhões de toneladas contra 11 milhões de toneladas colhidas na safra passada. Este último, em decorrência principal da queda de área e os demais de grandes problemas climáticos, como inundação no início e calor e seca no meio da safra. Bom para o restante dos produtores mundiais, principalmente os

MILHOCotações voltando a ganhar forçasO mercado do milho, no final de outubro,

voltou a ganhar forças, com alta nos indicativos (que estavam calmos desde setembro). Apresen-ta avanços e novamente ultrapassa a faixa dos R$ 30,00 no FOB/RS e acima de R$ 27,00 no FOB/PR. Ocorreram incrementos no Sudeste, porque estamos entrando no pico da entressafra e, como as exportações levaram grande parte da produção brasileira, o consumo interno está aquecido e trouxe espaço para novos avanços. Com o mercado externo interessado no milho brasileiro ocorrem avanços nos portos, o que de-verá seguir pressionando os indicativos do grão em novembro, quando normalmente se busca formar estoque para passagem de ano. O ano se aproxima do final, com excelentes indicativos para os produtores.

SojANegócios pontuais e pressão de alta O comércio da soja mostra descasamento

entre mercado interno e externo, ou seja, quando

cresce em Chicago avança no Brasil, mas quando recua lá fora, pouca alteração ocorre interna-mente, porque os vendedores não aparecem e, para atender às necessidades das indústrias (que seguem o esmagamento, principalmente para o setor do biodiesel) há espaço para cor-reções positivas em novembro. A crise europeia promete dar uma trégua neste mês, o que deve resultar em fôlego para Chicago avançar e dar melhores cotações de fechamento futuro para os produtores brasileiros.

FEIjãoBoas expectativas para os produtoresO mercado do feijão, neste ano, apresentou

cotações médias próximas da estabilidade no Carioca, com patamares que giraram entre R$ 90,00 e R$ 140,00 praticados nestas últimas semanas. O cenário é de fôlego para crescer mais, porque os produtores, que normalmente pulam de uma cultura para outra, apostaram forte no milho e na soja. Com isso, a primeira safra do feijão está escassa, quase não se vê lavouras e isso irá refletir forte nas cotações nos próximos

quatro meses, quando se espera avanços nos in-dicativos no feijão Preto, que passou o ano frágil, entre R$ 50,00 e 70,00, e de agora em diante poderá ver números maiores. O dólar em alta favorece o feijão porque limita a importação do Preto. Desta forma caminha-se para momentos positivos aos produtores.

ARRozReação chegando tardeOs produtores diminuíram a área do arroz

no Rio Grande do Sul devido às cotações, que não cobriam os custos. Junto a isso, as chuvas (que foram escassas no mês de outubro) tam-bém forçaram parte do setor a ir em busca de plantios alternativos, com aumento da soja e também de milho, em locais em que normal-mente haveria arroz. Desta forma, o mercado começou a mostrar reação nas cotações no final de outubro e tende a continuar forçando ajustes agora em novembro. Mas para a maior parte dos produtores a reação chega tarde e não deverá reverter a forte queda na produção que deve ocorrer nesta safra.

CURTAS E BOASbrasileiros, para quem as perspectivas são de um bom ano em 2012.

chIna - As importações seguem com avanço forte. Com queda acen-tuada na safra de soja (apontada em 13,5 milhões de toneladas contra 15 milhões de toneladas estimadas inicialmente), o país deverá importar grandes volumes e o consumo seguirá aquecido. A crise mundial afetou pouco o mercado chinês, que aponta para o crescimento de 9,1% anua-lizado para o terceiro trimestre de 2011, sinalizando que tem fôlego para manter o consumo em crescimento (porque a inflação está caindo e desta forma traz apelo na demanda). As estimativas são de crescimento das importações em 2012.

aRGenTIna - Os produtores temem pelo clima, que já começa a dar sinais de problemas, porque as chuvas em outubro foram fracas e os indicativos de novembro não mostram grandes mudanças. Os primeiros prognósticos indicam que poderá ocorrer limitação de produtividade. Há expectativa de crescimento no plantio do milho para a faixa dos 4,9 mi-lhões de hectares contra os 4,56 milhões de hectares deste último ano. A produção, que foi de 22 milhões de toneladas, poderá alcançar 27,5 milhões de toneladas. Mas, como as chuvas não estão caindo a contento, há temor de que esse crescimento não se concretize. Na soja o país espera por uma área de 18,6 milhões de hectares, contra 18,5 milhões de hectares do ano passado. A sinalização é de que o cultivo da oleaginosa deve crescer menos do que o mercado apostava e desta forma não deverão ocorrer grandes mudanças na produção, que pode até cair se confirmado o fenômeno La Niña, neste começo de 2012, cujos sinais climáticos já estão aparecendo. O cenário favorece os produtores brasileiros.

46 Novembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Vlamir [email protected]

Estamos começando uma grande safra de grãos 2011/12 no Brasil, com a soja, novamente, na liderança, com a maior área, devendo chegar à marca de 25 milhões de hectares. O clima é de muito otimismo por parte dos produtores, que já negociaram uma boa fatia do que irão co-lher. Com destaque para os agricultores do Mato Grosso, que já apontam ter comercializado na faixa de 50% a 60% do que pretendem colher, garantindo os custos dos insumos, sem ter de sair correndo para vender na “boca” da colheita. Percebe-se que os produtores estão se profissio-nalizando e buscam trabalhar com segurança e garantia de lucros para se manter na atividade com saúde financeira. O setor tem aproveitado os bons momentos que o mercado proporcionou para as cotações futuras e houve uma corrida para vendas antes da colheita, período em que se espera que as cotações dos fretes estejam bastante aquecidas e pressionem os indicativos para baixo nas regiões mais distantes dos portos. Os primeiros indícios apontam para uma supersafra e junto à soja vem o milho com forte avanço no plantio desta primeira safra de verão (que pode ficar próxima de oito milhões de hectares plantados contra os 7,1 milhões de hectares cultivados na safra passada), indo para colheita na faixa das 40 milhões de toneladas ou pouco acima, devido ao bom clima visto até o momento e ao plantio que se deu no período ideal para o cereal. As primeiras estimativas apontam que deveremos ter recorde de plantio da safrinha do milho, que começará no final de janeiro em áreas de soja plantadas precocemente no Paraná e Mato Grosso. Na safrinha do milho os números que nos chegam indicam novo recorde de área, com patamares acima de cinco milhões de hectares, contra pouco mais de 4,6 mil plantados neste último ano. Os sinais são de safra cheia dos dois principais grãos brasileiros e grandes exportações devendo se confirmar.

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