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Grandes Culturas - Cultivar 148

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Setembro de 2011

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Ação complementar....................34O papel da associação do glifosato a outros herbicidas no manejo de daninhas em algodão

Destaques

Índice

Diretas 04

Florescimento em cana 06

Informe - Bayer lança fungicida para soja 08

Eventos - Top Ciência 10

Nematoides em soja 12

Plantas daninhas em soja 16

Mancha alvo em soja 20

Pragas iniciais em milho 24

Eventos - Noite do arroz 28

Como monitorar a broca-do-café 29

Plantas daninhas em algodão 34

Broca-da-raiz em algodão 38

Empresas - Digilab ganha nova versão 42

Coluna ANPII 44

Coluna Agronegócios 45

Mercado Agrícola 46

Sensibilidade ameaçada........................20Cresce a preocupação com os riscos de resistência da mancha alvo à aplicação de fungicidas na cultura da soja

Expediente

Cultivar Grandes Culturas • Ano XIII • Nº 148 • Setembro 2011 • ISSN - 1516-358X

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: [email protected]

Grupo Cultivar de Publicações Ltda.CNPJ : 02783227/0001-86Insc. Est. 093/0309480Rua Sete de Setembro, 160, sala 702Pelotas – RS • 96015-300

DiretorNewton Peter

[email protected]

Assinatura anual (11 edições*): R$ 157,90(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 17,00Assinatura Internacional:US$ 130,00Euros 110,00

Nossos Telefones: (53)

Nossa capa

Vulnerável a insetos...................24Como prevenir a ação de pragas iniciais em milho, cultura predisposta ao ataque por conta da época de cultivo

Monitoramento eficiente.............29Armadilha artesanal auxilia na tomada de decisão quanto ao controle da broca-do-café

Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

• Geral3028.2000• Assinaturas:3028.2070• Redação:3028.2060

• Comercial:3028.20653028.20663028.2067

Luís Henrique Carregal

REDAÇÃO• Editor

Gilvan Dutra Quevedo• Redação

Carolina S. SilveiraJuliana Leitzke

• Design Gráfico e DiagramaçãoCristiano Ceia

• RevisãoAline Partzsch de Almeida

MARKETING E PUBLICIDADE• Coordenação

Charles Ricardo Echer• Vendas

Pedro Batistin

Sedeli FeijóJosé Luis Alves

CIRCULAÇÃO• Coordenação

Simone Lopes• Assistente

Ariane Baquini• Assinaturas

Luciane MendesNatália Rodrigues

• ExpediçãoEdson Krause

GRÁFICAKunde Indústrias Gráficas Ltda.

José Tadashi Yorinori

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04 www.revistacultivar.com.br • Setembro 2011

Diretas

Inseticida e herbicidaA FMC foi uma das patrocinadoras do VII Congresso do Arroz, realizado em Camboriú, Santa Catarina. No evento a empresa destacou o herbicida Gamit 360 CS para controle de folhas largas e estreitas e o inseticida Talisman, lançado para o mercado de arroz, para o controle de lagartas e percevejos.

ParticipaçãoA RiceTec participou do VII Congresso do Arroz Irrigado. A empresa destacou sementes híbridas, além do investimento que realiza em pesquisa e novas tecnologias.

PresençaKedilei Roncato Duarte, gerente de Herbicidas da FMC, esteve no VII Congresso do Arroz Irrigado, em Camboriú, Santa Catarina, onde acompanhou a distribuição de 500 manuais de identificação de plantas infestantes na cultura do arroz. O manual é de autoria dos con-sultores Henrique José da Costa Moreira e Horlandezam Bellires Nippes Bragança.

Arroz vermelhoA equipe da Basf destacou no VII Congresso do Arroz Irrigado, em Camboriú, Santa Catarina, os produtos Kifix e Only e o Sistema de Produção Clearfield, que auxiliam no melhor controle do arroz vermelho, uma das principais plantas infestantes que afetam os arrozais. Esses defensivos apresentam flexibilidade na aplicação com efeito pré e pós-emergente das plantas infestantes.

TS IndustrialA Bayer CropScience apresentou durante o XVII Congresso Brasileiro de Sementes, realizado em Natal (RN), seu novo modelo de negócios para o tratamento de sementes industrial, que se sus-tenta sobre quatro pilares: expertise e assistência técnica especializada; tecnologias exclusivas para o revestimento das sementes; equipamentos inovadores e portfólio com tecnologia de ponta. “O tratamento industrial de sementes é uma tendência, com foco em produtividade e máximo padrão de qualidade”, afirma Luis Henrique Fei-jó, gerente de Portfólio Tratamento de Sementes da Bayer CropScience.

PortfólioA linha de sementes de algodão Fiber-Max, da Bayer CropScience, foi um dos destaques da empresa no XVII Congresso Brasileiro de Sementes. “Nosso portfólio de sementes de algodão é reconhecido por seu alto potencial produtivo, qualidade da fibra, adaptabilidade, sanidade e estabilidade de produção, além de ter diferentes ciclos, que possibilitam ao produtor gerenciar melhor a época de plantio e explorar toda a produti-vidade da lavoura”, enfatiza Warley Palota, gerente de Negócios Sementes e Traits de Algodão da Bayer CropScience.

ErrataPor um equívoco de composição, na edição 147 de Cultivar Grandes Culturas, faltou incluir a autoria do artigo sobre a lista completa de cultivares de milho disponíveis para a safra 2011/12. Destaque de capa, o material inédito foi elaborado pelos pes-quisadores da Embrapa Milho e Sorgo José Carlos Cruz e Israel Alexandre Pereira Filho e pelo bolsista da Fapemig/Embrapa, Gustavo Henrique da Silva.

TecnologiaAirton Leites, gerente de Projetos Marketing, e Adolfo Uldrich, gerente de Biotecnologia, apre-sentaram no Congresso do Arroz a tecnologia Clearfield. Ambos par-ticiparam desde o início do desenvolvimento da ferramenta, eficaz no manejo do arroz ver-melho, principal planta daninha que afeta a cultura.

Luis Henrique Feijó

Warley Palota

Kedilei Roncato DuarteAirton Leites e Adolfo Uldrich

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05www.revistacultivar.com.br • Setembro 2011

Novo fungicidaA equipe da Bayer CropScience destacou o novo fungicida Fox, durante o 44º Congresso Brasileiro de Fitopatologia, em Bento Gonçalves (RS). “O lançamento pertence a uma nova classe química, chamada Triazolin-thione, indicado para o manejo da ferrugem asiática, e atua de maneira mais forte e abrangente no metabolismo do fungo, proporcionando eficácia mesmo em populações mais tolerantes”, afirma Rafael Pereira, gerente de Desenvolvimento de Fungicidas da Bayer CropScience. O produto também é indicado para controle do complexo de doenças nas lavouras de soja, como a mancha alvo e a antracnose.

ArrozO programa Muito Mais Arroz, o híbrido Arize QM1010 e o fungi-cida Nativo foram os destaques da Bayer CropScience no Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, em Balneário Camboriú (SC). “O Arize QM1010 é um híbrido de alto potencial produtivo que responde às boas práticas de manejo e proteção de cultivos, com resistência ao degrane e acamamento e que se adapta às diferentes regiões produtoras do grão”, explica Renato Luzzardi, gerente de Negócios de Arroz.

ComemoraçãoO jantar de premiação da 2ª edição do Desafio Nacional de Máxima Produtividade Safra 2010/11 contou com a presença dos executivos da Syngenta André Savino, diretor Soja Brasil; Ricardo Perez, gerente de Plataforma Integrada Soja Brasil; Marcelo Habe, gerente de Ma-rketing Clientes OTO Brasil; Renato Guimarães, chefe da Unidade de Negócios Norte; e Laércio Giampani, presidente da Companhia.

Destaque A Syngenta participou do VII Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado. Adilson Jauer, desen-volvimento técnico de Mercado Marketing, destacou os pro-dutos Cruiser, Engeo Pleno e Actara para a orizicultura. “O congresso é uma grande opor-tunidade para mostrarmos as soluções que a empresa oferece para o cultivo do arroz, em um momento estratégico para a companhia”, destacou a gerente de Culturas Locais da Syngen-ta, Andressa Lemos.

Principal eventoDurante o VII Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, a Ihara des-tacou os herbicidas Grasmax e Nominee. “É o principal evento para a discussão e apresentação das novas tecnologias aos envolvidos na cadeia do arroz”, avaliou o gerente comercial Rodrigo Lima.

OrganizaçãoO diretor de Marketing do Cesb, Nilson Dias Caldas, anunciou a 3ª edição do Desafio Nacional de Má-xima Produtividade Safra 2011/2012. “Esperamos chegar a dois mil produto-res participantes”, projetou Caldas.

ApresentaçãoO gerente de Marketing para as linhas de Arroz e Cana da Dow AgroSciences, Hugo Centurion, juntamente com a equipe de campo dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, apresentou no Congresso de Arroz seu portfólio de produtos e serviços ligados à cultura, com destaque para Ricer, Clincher, Bim 750BR e Alterne.

FórumO Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb) realizou o 2° Fórum Nacional de Produti-vidade, Safra 2010/2011. O evento ocorreu em agosto, na sede da Embrapa, em Brasília. Segundo o diretor executivo do Cesb, Edeon Vaz Ferreira, o principal objetivo é gerar ações e apontar caminhos para que o soji-cultor aumente sua produtividade. O fórum contou com pesquisadores da Embrapa, técnicos do Mapa, professores de universi-dades e representantes de diversas fundações brasileiras de pesquisa, além dos vencedores do 2º Desafio de Produtividade.

Andressa Lemos e Adilson Jauer

Edeon Vaz Ferreira

Nilson Dias Caldas

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Cana-de-açúcar

06 Setembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

A cana-de-açúcar desenvolve-se em uma faixa extensa no globo ter-restre, entre as latitudes 35º N e

35º S. É uma cultura com bom desempenho em condições de clima tropical, com duas estações bem definidas, uma quente e úmida, adequada para a brotação, perfilhamento e desenvolvimento vegetativo e outra fria e/ou seca para a maturação com acúmulo de sacarose nos colmos.

O Brasil é um país de extensão continental com grande diversidade climática para a pro-dução econômica de cana-de-açúcar, desde regiões com condições ótimas de tempera-tura e precipitação pluviométrica até as com limitações pelas baixas temperaturas e com deficiência ou excesso hídrico.

Embora todos os elementos do clima te-nham influência no desenvolvimento agrícola e industrial da cana-de-açúcar, a temperatura tem importância fundamental na fisiologia da cultura, da brotação à colheita, pois interfere na velocidade das reações bioquímicas e na ação de enzimas envolvidas nos processos de divisão, diferenciação e crescimento das células.

O fenômeno do florescimento que na maioria das culturas é normal, em cana-de-açúcar, na região Centro-Sul do Brasil, é dependente das condições climáticas no período indutivo, sendo o fotoperíodo o mais importante, seguido pela temperatura do ar.

Esses fatores não podem ser controlados, mas conhecendo-se o comportamento da variedade de cana-de-açúcar e identificando-os antecipadamente podemos tomar provi-dências para o controle ou a minimização dos efeitos indesejáveis do florescimento no aproveitamento agroindustrial, devido ao chochamento e à diminuição do ciclo da cul-tura, que acarretam redução dos rendimentos agrícola e industrial.

Pereira et al (1983) observaram que no período fotoindutivo ao florescimento da cana-de-açúcar, entre 25 de fevereiro e 20 de março, quando o comprimento do dia decresce de 12 horas e 30 minutos para 12 horas, a frequência de ocorrência de noites com temperatura mínima maior ou igual a 18ºC e dias com temperatura máxima menor ou igual a 31ºC discrimina anos com e sem

florescimento.Para estimar a ocorrência ou não de flo-

rescimento, Pereira et al (1983) determinaram a equação:

L = 1,263 – 0,06764X1 - 0,02296X2, onde:

X1 = número de noites com temperatura mínima maior ou igual a 18ºC.

X2 = número de dias com temperatura máxima menor ou igual a 31ºC.

Os valores de X1 e X2 devem ser conta-bilizados durante o período fotoindutivo de florescimento. Se L for positivo não haverá florescimento, se negativo indica que ocorrerá. Em caso de L = 0 interpreta-se como 50% de probabilidade de ocorrência de floresci-mento.

Barbieri et al (1984) mostram na Tabela 1 os períodos fotoindutivos para o florescimento

Figura 1 – Diferentes estágios de isoporização ou “chochamento” da cana-de-açúcar após a indução do florescimento

Flores indesejadasFlores indesejadas

Fotos Miguel Angelo Maniero

Fundamental para o melhoramento genético, o florescimento da cana-de-açúcar é prejudicial à exploração comercial da cultura, por levar à perda de peso, aumentar o teor de fibra e diminuir a extração de caldo, além de afetar negativamente a sacarose e depreciar o valor do produto

para venda. Para minimizar os efeitos o produtor precisa antecipar-se e tomar providências que começam por conhecer o comportamento das variedades utilizadas no cultivo

Fundamental para o melhoramento genético, o florescimento da cana-de-açúcar é prejudicial à exploração comercial da cultura, por levar à perda de peso, aumentar o teor de fibra e diminuir a extração de caldo, além de afetar negativamente a sacarose e depreciar o valor do produto

para venda. Para minimizar os efeitos o produtor precisa antecipar-se e tomar providências que começam por conhecer o comportamento das variedades utilizadas no cultivo

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Tabela 1 – Períodos fotoindutivos para florescimento da cana-de-açúcar

Período N 12:3022/1208/0120/0128/0103/0207/0210/0213/0215/0218/0220/0222/0224/0225/0226/0227/0228/0201/0301/0302/0303/0304/0304/03

Indutivo N 12:0020/0320/0320/0320/0320/0320/0320/0320/0320/0320/0320/0320/0320/0320/0320/0320/0320/0320/0320/0320/0320/0320/0320/03

No Dias8973605245413835333028262423222120191918171616

Latitude (s)0-89101112131415161718192021222324252627282930

N = comprimento do dia (horas).

Período N 12:0023/0923/0923/0923/0923/0923/0923/0923/0923/0923/0923/0923/0923/0923/0923/0923/0923/0923/0923/0923/0923/0923/0923/09

Indutivo N 12:3022/1206/1223/1115/1110/1105/1101/1129/1028/1025/1023/1021/1019/1018/1016/1015/1014/1013/1012/1011/1011/1010/1010/10

No Dias9175625448433936353230282625232221201918181717

Total Anual18014812210693847771686258545248454341393836353333

da cana-de-açúcar calculados considerando-se que a maioria das variedades de cana-de-açúcar necessita entre 12 e 12,5 horas de foto-período para que ocorra a indução, conforme relatada por Pereira et al (1983).

O QUE FAZER

No plantioRecomenda-se considerar o fotoperíodo,

o regime térmico e pluviométrico do local. Sendo constatado que a região tem

potencial climático para indução ao flores-cimento, efetuar o plantio de forma que a cultura não tenha atingido a idade mínima adequada ao florescimento durante o perí-odo indutivo.

Escolher variedades com baixo poten-cial para o florescimento, como exemplo SP80-1842, SP91-1049, CTC2, CTC6, RB855536, RB867515, IAC93-3046.

Caso se utilizem mudas de viveiros que floresceram, indica-se que o plantio seja rea-lizado em dias úmidos e utilizando-se maior densidade de gemas do que o normal, em virtude dos colmos florescidos apresentarem menor umidade, conforme recomendação de Barbieri et al (1984).

No corteDetectadas condições para indução ao

florescimento e considerando que a maioria das variedades após esse período demora de sete a dez semanas para emissão da

panícula, recomenda-se o corte das canas com alto potencial de florescimento (o mais rápido possível), com o objetivo de diminuir as perdas de sacarose.

A isoporização ou “chochamento” ocorre com intensidade diferente entre as variedades e é proporcional ao tem-po de sua permanência no campo após a época de indução ao florescimento (Figura 1).

REgULADOREs DE cREscImENTOApós o período de indução, entre 25

de fevereiro e 20 de março, se detectada a ocorrência do fenômeno, pode-se proceder ao uso de reguladores de crescimento, para a antecipação da maturação e o controle do florescimento, Caputo et al (2007).

A utilização dessa prática possibilita maior flexibilidade no planejamento da colheita e proporciona melhor qualidade de matéria-prima para indústria sucroalcooleira.

cONsIDERAçõEs FINAIsO florescimento da cana-de-açúcar é mui-

to importante para o melhoramento genético, mas prejudicial à sua exploração comercial, devido a perdas de peso e açúcar, aumento do teor de fibra e diminuição da extração do caldo, trazendo prejuízos ao produtor, por alterações negativas na comercialização da cana em virtude do teor de sacarose, Iaia et al (1985).

É preciso ficar atento às condições climáticas no período fotoindutivo e às alterações morfológicas como o apareci-mento do pendão floral nos talhões com cana-de-açúcar (Figura 2).

Figura 2 – Alterações morfológicas ocorridas na cana, após o período indutivo do florescimento

Miguel Angelo Maniero,Luiz Carlos Ferreira da Silva e Rubismar Stolf,Univ. Federal de São CarlosAntonio Marcos Iaia, Univ. Federal de Mato Grosso

CC

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Informe

A Bayer CropScience lançou para a safra 2011/2012 da cultura da soja, o fungicida Fox. Trata-se de

um produto composto pelo ingrediente ativo protioconazol, uma nova geração no grupo químico dos DMIs (fungicidas que atuam na demetilação da síntese de esteróis nos fungos), sendo quimicamente classificado como Tria-zolintiona.

O produto também leva em sua compo-sição, o trifloxystrobin, que age na respiração mitocondrial do fungo, ao inibir a transferência de elétrons no complexo III.

O fungicida age de duas maneiras no con-trole do complexo de doenças em soja, como mancha-alvo, oídio, doenças de final de ciclo e também no manejo da mela e antracnose, além, é claro, da ferrugem asiática, patógeno que a cada safra se mostra mais agressivo.

A fim de preservar a eficiência dos fungi-cidas e monitorar o comportamento quanto à sensibilidade da ferrugem asiática aos mecanis-mos atualmente presentes no mercado para o controle desta doença, a Bayer dá continuidade aos estudos iniciados na safra 2005/2006, de monitoramento da sensibilidade de Phakopsora pachyrhizi aos fungicidas dos grupos químicos dos DMIs e QOIs.

A metodologia utilizada nos ensaios foi desenvolvida pelos pesquisadores do Centro

Opção de manejo

de Pesquisa e Inovação Bayer CropScience no Brasil, em conjunto com especialistas do Insti-tuto de Fungicidas da empresa em Monheim, na Alemanha, sendo reconhecida e adotada pelo Frac internacional (The Fungicide Resistance Action Committee).

Desde o início do trabalho a empresa conduz os ensaios com a mesma metodologia e procedimentos, a fim de estabelecer uma linha base dos valores de EC 50 (concentração necessária de produto para controlar 50% de indivíduos de uma determinada população) en-contrados nos ensaios de monitoramento para cada ingrediente ativo estudado e relacioná-los

com os resultados dos fungicidas em campo, com ensaios paralelos.

O principal objetivo do estudo é verificar a variação na sensibilidade do fungo P. pachyrhizi a fungicidas. Os resultados obtidos, por meio do monitoramento, auxiliam na tomada de decisões para o controle de determinados fun-gos fitopatogênicos em plantas cultivadas, tais como definição do intervalo de aplicação, doses, combinação e rotação entre diferentes produtos com modo e/ou sítio de ação diferenciado, além de possibilitarem a busca de novas moléculas atuantes no controle destes fungos.

Observaram-se, a partir da safra 2007/2008, que amostras coletadas no mês de março evidenciaram a existência de um predomínio de populações menos sensíveis aos DMIs de primeira geração, tais como tebuconazol e ciproconazol em algumas regiões do Brasil, principalmente nos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, retornando a sua sensi-bilidade normal no início do período agrícola 2008/2009.

Na safra 2008/2009, as amostras coletadas em março apontaram que o predomínio de populações menos sensíveis aos DMIs de pri-meira geração estenderam-se para mais regiões do País, incluindo os estados de Minas Gerais, Goiás, Paraná e Bahia.

Já na safra 2009/2010, observou-se que

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08 Setembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Fungicida protioconazol + trifloxystrobin, pertencente ao grupo químico dos DMIs e quimicamente classificado como Triazolintiona, chega ao mercado para auxiliar no combate

ao complexo de doenças em soja, com destaque para o controle da ferrugem asiática

Imagem em microscopia eletrônicada ferrugem da soja

Área de soja tratada com triazol (à esquerda)e com o protioconazol (à direita)

Page 9: Grandes Culturas - Cultivar 148

Andreas Mehl Rafael Pereira Bayer CropScience

populações menos sensíveis foram detectadas em praticamente todos os estados brasileiros produtores de soja (Figura 1). Mesmo com a ocorrência tardia, na safra 2010/2011, as populações altamente sensíveis aos triazóis de primeira geração praticamente desapareceram, considerando as principais regiões produtoras de soja - de Luis Eduardo Magalhães, na Bahia, até o município de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Podemos confirmar que a flutuação na sensibilidade do fungo a DMIs de primeira geração está claramente ocorrendo em todas as regiões do Brasil, composta predominante-mente por indivíduos pouco sensíveis, desde a safra 2007/2008.

Atualmente, o protioconazol apresenta os menores valores e estabilidade quando determi-nada a LD 50 no programa de monitoramento da ferrugem. O que está diretamente ligado a sua eficiência em campo observada na safra 2010/2011, por meio da condução de 640 campos demonstrativos que compararam o tratamento Bayer CropScience com o fungicida nas primeiras aplicações, em diferentes regiões produtoras de soja no Brasil.

Para os fungicidas do grupo das estrobiluri-nas não foram observadas quaisquer mudanças em seu desempenho, em qualquer período ou região, significando que os ingredientes ativos pertencentes a este grupo químico continuam importantes e indispensáveis no controle da ferrugem asiática da soja.

Também se observa a eficácia do fungi-cida no controle de Corinespora cassiicola, a mancha-alvo, doença cada vez mais presente nas lavouras brasileiras e que também tem demonstrado baixa sensibilidade, em diversas

Pereira acompanhou ensaios realizados com o fungicida em diferentes regiões produtoras do Brasil

regiões, aos fungicidas que antes foram muito eficientes no controle desta doença, os benzi-midazóis.

Para o efetivo controle da ferrugem da soja, é recomendada a utilização de fungicidas de grupos químicos com diferentes distintos ou com diferenças específicas no seu sítio de ação, sendo também interessante o espectro de ação do fungicida, o que, atualmente, é possível com a utilização do novo produto.

FOX é recomendado na primeira ou na primeira e na segunda aplicações, quando o

plano de utilização de fungicidas foliares estiver programado para ser realizado em mais de duas aplicações. Os principais motivos da utilização do fungicida desta maneira, além de explorar o espectro de ação oferecido, é “uniformizar” em termos de sensibilidade do fungo, melhorando ainda mais o desempenho do fungicida subse-quente, neste caso o Sphere Max.

Segundo sugerido por Leroux&Walker (Pest Management Science, 2010), o fungicida à base de protioconazol apresenta os menores valores para o fator de resistência em mais de 20 isolados com mutação identificada no fungo Mycosphaerella graminicola, doença mais impor-tante em cereais na Europa.

Parker et al (2011) observou que a intera-ção de protioconazol com a enzima cyp 51 é diferente dos outros DMIs. Isso porque devido à presença do radical enxofre no anel azól da molécula, o espectro de cor detectado após a inibição da ligação do eburicol na cadeia de produção do esgosterol mostra uma coloração totalmente diferente das apresentadas por tebuconazol, por exemplo.

Baseada em uma série de ensaios conduzidos em diversas regiões do Brasil, por fitopatologistas brasileiros renomados e pela equipe do Desen-volvimento Agronômico da Bayer CropScience Brasil, aliados às informações geradas pela comunidade científica que estuda os diversos produtos que agem na demetilação da síntese de esteróis, é lançado no mercado o fungicida FOX, que além de sua eficiência comprovada em campo e no laboratório, traz amplo espectro de ação que resulta nos melhores rendimentos por área nas lavouras brasileiras.

Mehl é pesquisador do Instituto de Fungicidas, da Bayer, em Monheim, Alemanha

CC

Figura 1 - comportamento da sensibilidade da ferrugem da soja a triazol

09www.revistacultivar.com.br • Setembro 2011

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A nova versão do Digilab, batizada de 2.0, também foi apresentada na edição 2011 do Top Ciência no Brasil. O equipamento consiste na união de um microscópio digital, capaz de aumentar a imagem em até 200 vezes, e um software com banco de dados e imagens das principais pragas e doenças que atacam os cultivos agrícolas no País (veja matéria nesta edição).

PREmIAçãOEm 2011, o Prêmio Top Ciência já pas-

sou por Argentina, Costa Rica e Equador e terminou no Brasil, onde trabalhos de toda América Latina foram apresentados e avalia-dos. A comissão julgadora elegeu as melhores pesquisas levando em consideração a inovação da proposta, a viabilidade de implementação prática, a qualidade dos resultados alcançados, o cumprimento dos objetivos propostos, a fun-damentação teórica e metodológica e o amparo bibliográfico dos estudos. O evento envolve, aproximadamente, 20 cultivos, entre eles: soja, milho, arroz, feijão, trigo, girassol, café, algodão, cana-de-açúcar, citros, amendoim e hortifruti (tomate, batata, uva, melão, manga e maçã).

Este ano, 30 consultores e pesquisadores ganharam uma viagem técnica para a África do Sul.

Eventos

10 Setembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

CC

Fórum de tecnologiaTop Ciência chega à 6ª edição e reúne aproximadamente

400 participantes em Mogi das Cruzes, SãoPaulo

O anúncio de duas patentes desen-volvidas em parceria com pes-quisadores do Brasil e do Chile,

o lançamento de uma nova versão do Digilab, a inscrição de 585 trabalhos e a premiação de 30 consultores e autores de pesquisas com uma viagem técnica à África do Sul estão entre os destaques da 6ª edição do Top Ciência. O evento reuniu aproximadamente 400 partici-pantes de diversos países da América Latina, entre os dias 10 e 11 de agosto, em Mogi das Cruzes, São Paulo.

Das duas patentes anunciadas, uma delas, proposta em 2010, está relacionada à sinergia

entre herbicidas e fungicidas. Essa pesquisa foi estabelecida pela Basf com cientistas da Uni-versidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Tecnológica do Para-ná (UFTPR) e Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Na edição do evento realizado no Chile, em julho, também foi anunciada outra patente. Trata-se de um estudo com o fungicida Comet, elaborado por cinco funcionários da Compa-nhia no país, que verificaram a aplicabilidade do produto para o manejo da nogueira (árvore frutífera que produz a noz). A ideia é diminuir a morte prematura das flores da planta e con-tribuir para o aumento de sua produtividade. A patente foi submetida em setembro de 2009.

BRASILCereais e Cereais de Inverno

Jeferson Geraldo LobaszLavrobrasJurema SchonsUniversidade de Passo FundoMarcelo MadalossoInstituto PhytusSergio Abud da SilvaEmbrapa CPAC

PerenesVeronica Massena ReisEmbrapa AgrobiologiaGleuber Mariano TeixeiraGrupo Raizen – Regional PiracicabaFlávia PatricioInstituto Biológico - SPCesar Abel KrohlingAntonio Reinaldo PintoCoopercitrusCelso José da SilvaCoopercitrus

OleaginosasRicardo BalardinUniversidade Federal de Santa Maria

OS veNCedOreSGisela Regina IntroviniFapsenFabio Takemi MuttaAgrocemDaniela Tiago da SilvaUniversidade Federal de Mato Grosso (UFMT)Durval DouradoEscola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq)Marcelo VolfDalcin Planejamento Agropecuário HortifrutiJoão Batista VidaUEMMarcel DzierwaFazenda SerranaAndrea BrondaniUniversal Leaf Tabacos - ULFLourenço NyssenHolantec Consultoria HerbicidasLuis Henrique KasuyaKasuya ConsultoriaPatricia MonqueroUniversidade Federal de São Carlos (UFSCAR)

Non CropJuliane Salin ChoueiriMarangatu Sementes

América LatinaJose TarragoIntá Las BreñasCarlos Pérez * / Co-autor: Héctor Andrés Villar Pe-culioFaculdad de Agronomia – Universidad de La Republica Oriental HerbicidasAlberto MoresiSemillero El Carmen

CitrosJesús Bolívar Torres MéndezTicofrut

CereaisErnesto Hernandez MendietaGrandmend México

HortifrutiCesar PadovaniReybanpacJuan David Carmona Molina

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Soja

12 Setembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Entre os fatores que mais têm contribuído para a queda do rendimento da soja no Brasil,

sobretudo na região central, estão os nema-toides. Embora levantamentos sistemáticos de perdas envolvendo diferentes instituições de pesquisa, como ocorrem nos Estados Uni-dos, não estejam disponíveis, estima-se que todos os anos pelo menos 10% da produção brasileira de soja é perdida, em função do parasitismo exercido por esses organismos.

Os nematoides mais importantes para a soja no Brasil são Meloidogyne javanica, M. incognita, Heterodera glycines, Pratylenchus brachyurus e Rotylenchulus reniformis. Até o início da década de 90, os danos por nema-toides na soja brasileira quase sempre eram provenientes do nematoide-das-galhas (M. javanica e M. incognita). A partir da safra 1991/92, com a introdução do nematoide de cisto da soja (NCS), Heterodera glycines, esse parasita também passou a afetar gran-demente a cultura no País. Apesar de o NCS

Praga em evolução

ser mais agressivo à soja que o nematoide-das-galhas, sua distribuição pelas diferentes regiões sojícolas é bem mais restrita. Assim, os prejuízos causados por esses dois nematoides se equivalem. A importância do nematoide reniforme para a soja brasileira, em geral, se restringe às lavouras instaladas após a cultura do algodão (muito suscetível ao R. reniformis), como ocorre no sul do Mato Grosso do Sul.

Embora o nematoide das lesões radicula-res (P. brachyurus), a exemplo das espécies de Meloidogyne, tenha ocorrência generalizada no Brasil, sempre foi negligenciado pela quase totalidade dos sojicultores. Entre-tanto, o monocultivo de cultivares de soja muito suscetíveis e a semeadura de milho ou algodão (hospedeiros muito favoráveis desse nematoide), na entressafra, resultaram em aumento exagerado das populações do parasita no solo. A incorporação de solos com textura arenosa (<15% de argila) no sistema de produção também contribuiu para

aumentar os danos por P. brachyurus. Nesse tipo de solo, a soja fica mais vulnerável ao ataque do nematoide. Hoje, a importância do nematoide das lesões radiculares para a soja brasileira está plenamente reconhecida. Em alguns estados, como Mato Grosso (Figura 1) e Paraná (Figura 2), esse fitonematoide tem sido o mais frequente em amostras de solo e de raízes de soja. Em algumas regiões, especialmente do Brasil Central, em que a distribuição de chuvas permite o cultivo de milho em sucessão à soja, muitas vezes semeado no mesmo dia em que a oleaginosa está sendo colhida, os danos por P. brachyu-rus na soja já superam àqueles provocados pelo NCS e por nematoides formadores de galhas (Meloidogyne spp.). Até mesmo no Paraná, em que os solos normalmente são mais supressivos a nematoides (maiores teores de matéria orgânica, de argila e de macro e micronutrientes e, também, com atuação mais efetiva de inimigos naturais dos nematoides), a sucessão soja-milho também

Charles Echer

Praga em evoluçãoAgravado pelo monocultivo de cultivares de soja muito suscetíveis, pela semeadura de milho ou algodão na entressafra e pela incorporação de solos com textura arenosa, o nematoide das lesões radiculares (P. brachyurus) registrou explosão das populações nas últimas safras.

Rotação de culturas, atenção à época de plantio, uso de cultivares mais resistentes e método de alqueive estão entre as práticas recomendadas para manejar esses parasitas

Agravado pelo monocultivo de cultivares de soja muito suscetíveis, pela semeadura de milho ou algodão na entressafra e pela incorporação de solos com textura arenosa, o nematoide das lesões radiculares (P. brachyurus) registrou explosão das populações nas últimas safras.

Rotação de culturas, atenção à época de plantio, uso de cultivares mais resistentes e método de alqueive estão entre as práticas recomendadas para manejar esses parasitas

Page 13: Grandes Culturas - Cultivar 148

Fotos Paiol Assessoria. Sorriso, MT.

tem resultado em aumento das populações de P. brachyurus.

Nas lavouras de soja infestadas com P. brachyurus, geralmente os sintomas aparecem em reboleiras, onde o porte das plantas é menor do que o normal. A intensidade dos sintomas na parte aérea varia com a textura do solo, sendo maior em solos arenosos do que naqueles com textura média ou argilosa. A planta de soja atacada, na maioria dos casos, apresenta uma raiz principal morta ou menor. É possível observar, ainda, um superenraizamento próximo ao colo e raízes secundárias com presença de áreas necrosa-das e escurecidas.

Das diversas estratégias que vêm sendo adotadas pelos sojicultores brasileiros para o manejo de P. brachyurus, a semeadura, na entressafra, de espécies de crotalária que não multiplicam o nematoide, como por exemplo Crotalaria spectabilis e C. ochro-leuca, é a que tem resultado em redução mais rápida das populações do nematoide no solo. Os rendimentos das lavouras de soja implantadas após a utilização desses adubos verdes também têm sido maiores. Contudo, como a utilização da crotalária na entressafra não tem permitido eliminar por completo o parasita da área (Figura 3) e, em geral, como a soja semeada após esse adubo verde tem melhor desempenho, a população do nematoide volta a crescer rapidamente (Figura 4). Assim, principalmente em solos arenosos, em que populações relativamente baixas de P. brachyurus já causam dano na soja, é necessário repetir a semeadura da crotalária todos os anos. O ideal é o agricul-tor fazer uso da crotalária no verão (rotação soja-crotalária). Embora economicamente menos viável, na rotação o tempo de ausência do hospedeiro (soja) na área é praticamente o dobro daquele da sucessão e as condições de clima (umidade e temperatura no solo) também são mais favoráveis à eclosão dos juvenis do nematoide, que, não sendo capa-zes de se alimentarem na crotalária, acabam morrendo por inanição.

Alguns milhetos com fatores de reprodu-ção (FR) próximos de zero (‘ADR, 300’, ‘ADR

7010’, ‘ADR 8010’, dentre outros) também vêm sendo utilizados, geralmente em suces-são com a soja, para manejar populações de P. brachyurus em áreas infestadas. A despeito de ser menos eficiente que as crotalárias, em solos mais pesados (textura média ou argilo-sa), a semeadura do milheto tem permitido reduzir as populações do parasita o suficiente para garantir a obtenção de rendimentos econômicos de soja.

Tanto para a crotalária quanto para o mi-lheto, a eficiência no manejo de P. brachyurus sempre dependerá da utilização de genótipos apropriados (FR iguais ou próximos de zero),

À esquerda, lavoura de soja com sintomas de ataque de P. brachyurus (solo com textura arenosa), Vera (MT), e à direita, lavoura de soja com sintomas de ataque de P. brachyurus (solo com textura média), Nova Ubiratã (MT)

semeados em densidades que resultem em populações adequadas de plantas, e de um efetivo controle de plantas voluntárias (soja tiguera) e das ervas daninhas.

Pelo fato de a interação de P. brachyurus com a soja ser menos complexa, não havendo necessidade de formação de nenhuma célula especializada de alimentação, como ocorre com os nematoides de cisto e das galhas, as chances de encontrar fontes de resistência são menores. Todavia, avaliações em casa de vegetação e em área naturalmente infestada mostraram que, embora as principais culti-vares brasileiras de soja indicadas no Brasil Central não sejam resistentes (FR<1,0) a P. brachyurus, as mesmas diferem bastante com relação à capacidade de multiplicá-lo e de tolerá-lo. A despeito desses dois carac-teres, provavelmente, serem controlados por genes diferentes, cultivares mais resis-tentes (FR menores), como, por exemplo, BRSGO Chapadões, M-SOY 8378RR, M-SOY 8360RR, M-SOY 8585RR, M-SOY 8045RR, BRS Aurora, CD 219RR, TMG 103RR etc, também parecem tolerar mais o parasita. Estudos para esclarecer a herança da resistência da soja a P. brachyurus, utili-zando uma população segregante (gerações

Controle de P. brachyurus em soja com Crotalaria spectabilis

13www.revistacultivar.com.br • Setembro 2011

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14 Setembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Figura 1 - Frequência (%) da ocorrência das espécies de fitonematoides em amostras (solo/raízes) coletadas em lavouras de soja, no estado de mato grosso

Figura 2 - Frequência (%) da ocorrência das espécies de fitonematoides em amostras (solo/raízes) coletadas em lavouras de soja, no estado do Paraná

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, MT.

Figura 3 - Bioensaios para detecção de P. brachyurus no solo, em Vera (mT), antes (fevereiro de 2010) e após (outubro de 2010) a aplicação de diferentes tratamentos, na entressafra. Embrapa soja/Facs/Aprosoja, 2011

Figura 4 - Bioensaios para detecção de P. brachyurus no solo, em Vera (mT), na semeadura (outubro/2010), após a aplicação dos tratamentos na entressafra, e na colheita da soja (fevereiro/2011). Embrapa soja/Facs/Aprosoja, 2011

F2 e F3) originada do cruzamento entre as cultivares BRSGO Chapadões (resistente) e TMG 113RR (suscetível), estão em curso na Embrapa Soja.

Cultivares de soja mais resistentes e/ou mais tolerantes são as mais indicadas para semeadura em áreas infestadas e, também, para uso como parentais, em programas de melhoramento. Considerando que, na maioria das lavouras de soja afetadas do Brasil Central, normalmente as populações de P. brachyurus no solo estão muito eleva-das, o uso da cultivar de soja resistente e/ou tolerante deverá ser sempre precedido de

rotação/sucessão com uma espécie vegetal não hospedeira (FR=zero) ou hospedeira desfavorável (0<FR≤1,0) do nematoide.

O alqueive é um método antigo de mane-jo de nematoides que consiste em manter o solo por certo período sem qualquer vegeta-ção, de preferência também com revolvimen-to por meio de aração e/ou gradagem. Dessa forma, os nematoides acabam morrendo por inanição (falta de plantas hospedeiras), por dessecação e ação da luz (a faixa ultravioleta tem propriedades nematicidas). Resultados preliminares de experimento conduzido pela Embrapa Soja, no município de Vera, Mato

Grosso, com o apoio da Embrapa Agros-silvipastoril, do Fundo de Apoio à Cultura da Soja (Facs) e da Aprosoja, mostraram que a manutenção da área infestada com P. brachyurus no limpo, durante a entressafra, mediante a utilização de duas gradagens (fevereiro e julho), é eficiente para reduzir a população do nematoide (Figura 1). Contu-do, essa prática não deve ser recomendada de maneira generalizada, sobretudo em áreas sujeitas à erosão.

Em áreas infestadas com P. brachyurus deve-se, ainda, evitar semear a soja muito cedo (primeiras chuvas), especialmente se o solo for de textura arenosa. Nas seme-aduras mais tardias, tem-se mais tempo para a população do nematoide diminuir, minimizando, assim, os danos à cultura. Adicionalmente, quando a semeadura da soja ocorre após a regularização das chuvas, as plantas ficam menos sujeitas ao estresse hídrico e, desse modo, toleram mais o parasitismo do nematoide.

Planta de soja com raiz principal morta, em decorrência do ataque de P. brachyurus (esquerda). Planta de sojacom superenraizamento e raízes secundárias escurecidas, em decorrência do ataque de P. brachyurus (direita)

Waldir Pereira Dias,Henrique Debiasi e Júlio C. Franchini, Embrapa SojaNeucimara R. Ribeiro, AprosmatSuzana Aparecida de Carvalho eArlei Maceda, Centro Diag. "Marcos Enrietti"- Seab

CC

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Soja

16 Setembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Charles Echer

A tecnologia adotada nas la-vouras da soja RR (resistente ao glifosato), no Brasil e em

algumas regiões do Mato Grosso, através do uso exclusivo do herbicida glifosato, no controle das plantas daninhas, tem mostrado que em algumas situações o controle apresenta-se insatisfatório ou deficiente, levando a perda no rendimento de grãos. Vários trabalhos relatam a ocorrência de perdas de

rendimento de grãos, devido à mato-competição das plantas daninhas com a cultura da soja (Rizzardi et al, 2006, Melhorança, 2006; Constantin, et al, 2006, Kozlowski, 2006).

O combate insatisfatório, observado em algumas lavouras de soja em Mato Grosso, pode ser, em parte, atribuído

à presença de espécies de plantas da-ninhas em que o herbicida glifosato apresenta dificuldade de controle, como corda-de-viola (Ipomoea sp.) e trapoera-ba (Commelina benghalensis).

A planta daninha trapoeraba merece destaque, por estar presente na maioria das áreas onde é cultivada a soja no Bra-sil. Esta espécie tem desenvolvimento preferencial, sob condições de alta umi-dade do solo. Entretanto, pode perma-necer em solos de baixa umidade e cres-cer rapidamente com o início das chuvas (condição existente no bioma cerrado). A família comelinaceae apresenta sete espécies no Brasil, com destaque para espécie Commelina benghalensis, pre-sente nas lavouras de soja em áreas de cerrado. Devido às características desta espécie, é considerada tolerante ao herbicida glifosato quando aplicado em pós-emergência na soja transgênica (Christoffoleti, 2003). Uma das alter-nativas para minimizar a dificuldade de controle e evitar a matocompetição

A trapoeraba está presente na maioria das áreas onde é cultivada a soja no Brasil

O controle deficiente de plantas daninhas acarreta em prejuízos como perda no rendimento dos grãos

Efeito testadoEfeito testadoDentre as plantas daninhas tolerantes à aplicação de glifosato, a trapoeraba

é uma das mais importantes, por estar presente na maioria das áreas de cultivo da soja no Brasil. O uso de herbicida à base de glifosato 177,8g/L +

imazetapir 30g/L é uma das alternativas para melhorar o controle

Dentre as plantas daninhas tolerantes à aplicação de glifosato, a trapoeraba é uma das mais importantes, por estar presente na maioria das áreas de

cultivo da soja no Brasil. O uso de herbicida à base de glifosato 177,8g/L + imazetapir 30g/L é uma das alternativas para melhorar o controle

Foto

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17www.revistacultivar.com.br • Setembro 2011

com a cultura da soja é a utilização da associação de outros herbicidas com o glifosato (Buzatti, 2008).

Com o objetivo de avaliar o controle e o efeito da época de aplicação do her-bicida glifosato 177,8g/L + imazetapir 30g/L na planta daninha trapoeraba e o rendimento da soja, foi realizado um trabalho na região sul do MT.

mATERIAL E méTODOsO experimento foi realizado na

fazenda Guarita, Rondonópolis, Mato Grosso, na safra agrícola, 2008/09. O delineamento experimental foi em blo-cos ao acaso, seis repetições, parcelas de 3m x 6m (18m2) e parcela útil de 6m2. Os tratamentos utilizados estão apresentados no Quadro 1.

O experimento foi instalado em uma área onde já havia na entressafra a cul-tura do milheto, para cobertura do solo, e dez dias antes da semeadura da soja foi realizada a dessecação com herbicida, glifosato na dose de 1,26kg de equiva-lente ácido/ha mais 2,4-D amina na dose de 0,355kg de i.a/ha. A semeadura da soja foi realizada no sistema de plantio direto, em 13 de novembro de 2008, com a variedade Monsoy 8527, densi-dade de 13 sementes por metro linear e adubação de 300kg/ha de superfosfato simples mais 150kg/ha de Kcl.

Os tratamentos foram aplicados através de pulverizador costal, pres-surizado a CO2, barra de seis pontas (XR11015) espaçadas 0,5m. A época de aplicação dos tratamentos, o volume

de calda e as condições do tempo no momento da aplicação, são apresentados no Quadro 2.

As determinações realizadas foram: controle da planta daninha realizada aos 35, 47 dias após a aplicação (DAA) dos tratamentos e na pré-colheita. Utilizou-se uma escala percentual de zero a 100, sendo o valor zero sem controle e 100 corresponde à morte total da planta na parcela; rendimento de grãos foi rea-lizado através da colheita das plantas de três linhas centrais de 4m de com-primento de cada parcela. As amostras foram transformadas em kg/ha a 14% de umidade. Foi também realizados a análise de variância e o teste de Duncan a 5% de probabilidade.

REsULTADOsA densidade da planta daninha

trapoeraba, presente nas parcelas do ensaio, era em média de 110 plantas por metro quadrado.

No Quadro 3 são apresentados os resultados da percentagem de controle da planta daninha, trapoeraba, realizada aos 35 dias após a aplicação (DAA). A percentagem de controle foi superior a 90%, na aplicação realizada aos dez dias após a emergência (DAE) da soja.

Quadro 1 - Número do tratamento com os respectivos produtos, dose e época de aplicação

Nome comumTest. sem controle

capinaImazetapir + glifosatoImazetapir + glifosatoImazetapir + glifosatoImazetapir + glifosatoImazetapir + glifosatoImazetapir + glifosatoImazetapir + glifosatoImazetapir + glifosato

Dose, g i a.ha-1

----

54 + 32090 + 533,454 + 320

90 + 533,490 + 533,454 + 104054 + 104054 + 1220

Dose L de p.c.ha-1

----2

1,8 / 1,83,0

1,8 / 1,83,03,0

1,8 + 2,01,8 + 2,0 1,8 + 2,5

No Trat.12345678910

1= DAE (dias após a emergência da soja)

época de AplicaçãoZero

5 e 20 1DAE5 e 15 1DAE

5 DAE10 e 20 DAE

10 DAE15 DAE15 DAE20 DAE26 DAE

Quadro 2 - época de aplicação, volume de calda e condições do tempo no momento da aplicação dos tratamento. Fazenda guarita, Rondonópolis, 2009

TratamentosTest. sem controle

Test. no limpoglifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L / glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L 1

glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/Lglifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L / glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/Lglifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/Lglifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L

glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L + glifosato-sal de isopropilamina

glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L + glifosato-sal de isopropilamina

glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L + glifosato-sal de isopropilamina

época----

25/11 e 10/1225/11 e 6/12/0825/11/0830/11 e

10/12/0830/11/0806/12/0806/12/08

10/12/08

16/12/08

Volume de calda-----------

125 L/ha

125 L/ha135 L/ha

125 L/ha128 L/ha128 L/ha

122 L/ha

133 L/ha

No Trat.123

45

678

9

10

1= Aplicação seqüencial com intervalo médio de 10 dias.

condições----- ------

27oc e 65% de UR e 28oce 70% de UR

27oc e 65% de UR 25oc e 75% de UR e 28oc

e 70% de UR 25oc e 75% de UR28oc e 62% de UR28oc e 62% de UR

28oc e 70% de UR

27oc e 70% de UR

Vista parcial do experimento no campo

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18 Setembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Nos tratamentos em que o herbicida glifosato 177,8g/L + imazetapir 30g/L foi aplicado na dose de 3,0L.ha-1 ou sequencial na dose de 1,8L.ha-1, não foi apresentada diferença no controle da trapoeraba. Na aplicação realizada aos 5 DAE, provavelmente a dose de 1,8L/ha de glifosato 177,8g/L + imazetapir 30g/L seria suficiente para o controle da planta daninha. Entretanto, a aplicação sequencial mostrou maior efeito residu-al sobre a emergência de novas plantas de trapoeraba, devido ao ingrediente ativo imazetapir, presente no herbicida glifosato 177,8g/L + imazetapir 30g/L. Também foi observado que a aplicação sequencial apresentou menor fitotoxi-cidade nas plantas de soja.

Na avaliação realizada aos 47 dias após a aplicação (Quadro 3) os resul-tados obtidos foram semelhantes ao da realizada aos 35 DAA. Sendo que nos tratamentos aplicados aos 15 dias após a emergência, a percentagem de controle foi em média de 80%, pois nesse caso os

Quadro 4 - Rendimento de grãos da soja nos diferentes tratamentos, épocas e dose, no controle da plantas daninhas, trapoeraba. Fazenda guarita, Rondonópolis, 2009.

Ingredientes ativos3Test. no limpo

3Test. sem controleglifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L / glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L1

glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/Lglifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L / glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L

glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/Lglifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L

glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L + glifosato-sal de isopropilamina2

glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L + glifosato-sal de isopropilaminaglifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L + glifosato-sal de isopropilamina

Dose g de p. c .ha1

1,8 / 1,83,0

1,8 / 1,83,03,0

1,8 + 2,01,8 + 2,0 1,8 + 2,5

época de Aplicação2 capinas

Zero5 e 15 1DAE

5 DAE10 e 20 DAE

10 DAE15 DAE15 DAE20 DAE26 DAE

No Trat.12345678910

c.V(%)

Na coluna, média não ligada pela mesma letra diferem entre si pelo teste de Duncan (p< 0,05). 1= Aplicação seqüencial; 2= mistura de tanque; Test = Testemunha.

Kg.ha1

3330 ab1590 c3475 a3480 a3560 a3480 a3250 ab3300 ab3130 ab3020 b10,8

Quadro 3 - Percentagem de controle da planta daninha trapoeraba, nos diferentes tratamentos herbicida aos 35, 47 DAA (dias após aplicação) e na pré-colheita. Fazenda guarita, Rondonópolis, 2009

Ingredientes ativosTest. sem controle

Test. no limpoglifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L / glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L 1

glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L / glifosato 177,8 g/Lglifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L / glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/Lglifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/Lglifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L

glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L + glifosato-sal de isopropilamina 2

glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L + glifosato-sal de isopropilamina

glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L + glifosato-sal de isopropilamina

época de aplicaçãoZero

2 capinas5 e 15 1DAE

5 DAE10 e 20 DAE

10 DAE15 DAE15 DAE

20 DAE

26 DAE

Na coluna, média não ligada pela mesma letra diferem entre si pelo teste de Duncan (p< 0,05). 1= Aplicação seqüencial; 2= mistura de tanque; Test = Testemunha

35 daa0 d83 b 95 a

94 a94 a

94 a81 b77 b

77 b

67 c

7,1

Dose g de p. c.ha1

------

1,8 / 1,8

3,01,8 / 1,8

3,03,0

1,8 + 2,0

1,8 + 2,0

1,8 + 2,5

47 daa0 d74 c 95 a

91 a92 a

94 a83 b80 b

85 b

83 b

6,4

Pré-colheita0 b96 a97 a

96 a97 a

95 a94 a97 a

96 a

95 a

2,3

No Trat.123

45

678

9

10

c.V (%)

tratamentos herbicidas ainda estavam atuando na morte da planta daninha. O que pode ser conferido, na avaliação realizada por ocasião da pré-colheita, em que os tratamentos apresentaram um controle superior a 90% (Quadro, 3). O resultado mostra que estes tratamentos podem ser utilizados com sucesso no controle da trapoeraba. Entretanto, a escolha de um ou de outro tratamento vai se dar em função do estágio da planta daninha e do residual que se deseja ob-ter com o herbicida glifosato 177,8g/L + imazetapir 30g/L.

O rendimento de grãos, apresentado no Quadro 4, mostrou que os tratamen-tos em que foram realizadas aplicações do herbicida glifosato 177,8g/L + ima-zetapir 30g/L em aplicação sequencial ou em uma única aplicação, até dez dias após a emergência da soja, apresentaram maior rendimento de grãos em valores absolutos, porém, sem diferenças es-tatísticas dos tratamentos realizados até 20 dias após a emergência. No tratamento realizado aos 26 dias após a emergência, apesar de ter controlado a trapoeraba, ocorreu interferência nega-tiva da daninha sobre a cultura da soja, resultando em um menor rendimento de grãos. Resultados semelhantes de matointerferência foram também ob-tidos por Melhorança & Ribeiro, 2008, que registraram perdas no rendimento de grãos da soja a partir dos 28 dias após a emergência. Entretanto, trabalho realizado por Constantin et al, 2006, relata perdas no rendimento de grãos a

Figura 1- Efeito dos tratamentos herbicidas no controle da trapoeraba em dias após a emergência

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partir dos 14 DAE. Neste trabalho, as condições de precipitação pluvial nos dois primeiros meses após o estabele-cimento da cultura (novembro 225mm e dezembro, 277mm) provavelmente tenham contribuído para menor com-petição da trapoeraba com a cultura da soja, principalmente no fator água.

A fitotoxicidade dos tratamentos herbi-cidas nas plantas de soja foi observada aos

sete dias após a aplicação. Os sintomas fo-ram paralisação temporária do crescimento e uma clorose generalizada da planta. En-tretanto, os sintomas foram diminuindo à medida que ocorria o desenvolvimento da planta de soja. Os tratamentos com apli-cação sequencial proporcionaram menores sintomas visuais de fitotoxicidade na soja, quando comparados com os tratamentos em uma única aplicação. Este resultado

pode ser, em parte, relacionado à capaci-dade da planta em metabolizar o herbicida com princípio ativo imazetapir (Rodrigues & Almeida, 2005).

cONcLUsõEs1) O controle da planta daninha,

trapoeraba, foi superior a 90% em todos os tratamentos, independentemente da época de utilização do herbicida glifosato 177,8g/L + imazetapir 30g/L, aplicado em dose única de 3,0L/.ha-1, sequencial de 1,8L/ha-1 ou em mistura com glifosato.

2) O efeito da matocompetição sobre o rendimento de grãos da soja foi verificado somente após 26 dias da emergência da cultura. O maior rendimento de grãos, em valores absolutos, foi obtido quando o controle ocorreu até dez dias após a emer-gência da soja.

3) O controle da planta daninha, trapoeraba, até 26 dias após a emer-gência da soja, proporcionou ganho de 1.430kg/ha em relação a testemunha sem controle.

AVALIAçãO DOs TRATAmENTOs POR OcAsIãO DA PRé-cOLHEITA

Walter José Souza Buzatti,W-Buzatti Cons. e Pesq. AgrícolaJairo dos Santos,Basf

CC

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Soja

20 Setembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Resistência a caminho?

Cresce a preocupação com a mancha alvo, causada por Corynespora cassiicola, fungo capaz de atacar mais de 70 espécies vegetais. Severidade tem aumentado e estudos

apontam que a doença se mostra insensível à aplicação de alguns fungicidas, que não têm sido capazes de conter o

progresso do patógeno na cultura da soja

A agricultura é um processo dinâ-mico e, portanto, em constante mudança. O ideal de agricultura

sustentável contrasta com a realidade de 90% das áreas de cultivo, arraigadas no monocultivo sucessivo de espécies. Aliado ao monocultivo, o uso de sementes de baixa qualidade fisiológica e sanitária, bem como a expansão para novas

áreas de cultivo, incrementou os problemas sanitários aumentando significativamente sua importância. Ressurgência de pragas, plantas daninhas resistentes aos herbicidas e doenças tidas como secundárias têm se destacado entre os problemas atuais e desafiado agricultores e técnicos.

Especialmente no caso de doenças, tem

sido verificado aumento expressivo de doenças até pouco tempo sem importância econômica ou mesmo que eram facilmente controladas pelas aplicações rotineiras dos fungicidas. Nas últimas safras, as doenças conhecidas como de final de ciclo têm incidido na cultura cada vez mais cedo e permanecido até a fase de colheita. Muitos produtores de sementes têm verificado o aumento significativo de doenças, como, por exemplo, a mancha púrpura da semente, causada por Cercospora kikuchii.

Outra doença que tem aumentado sig-nificativamente em importância é a mancha alvo, causada pelo fungo Corynespora cassiicola. Poucos são os trabalhos de campo realizados com essa doença, mas estudos preliminares realizados na Universidade de Rio Verde (Fesurv) indicam que o fungo pode causar danos severos em ampla faixa de temperatura. Pesquisas conduzidas desde a safra 2006/07 em Goiás, Tocantins e Mato Grosso (Vale do Araguaia) indicam que as perdas variam em função da cultivar e do tratamento químico realizado, podendo reduzir a produtividade entre 10% e 20%.

Para que as perdas sejam evitadas ou mini-mizadas, os agricultores devem adotar o mane-jo integrado da doença, priorizando variedades menos sensíveis, optando por sementes de boa

Luís Henrique Carregal

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22 Setembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Tabela 1 – Fungicidas registrados para controle da mancha alvo em soja

grupos químicosEstrobilurina + triazol

BenzimidazolBenzimidazolEstrobilurinaBenzimidazol

Estrobilurina + triazolintionaTriazol + benzimidazol

BenzimidazolEstrobilurina + triazolEstrobilurina + triazolEstrobilurina + triazol

Benzimidazolcarboxanilida + ditiocarbamato

Princípio ativopiraclostrobina + epoxiconazol

carbendazimcarbendazim

piraclostrobinacarbendazim

trifloxistrobina + protioconazolflutriafol + tiofanato metílico

carbendazimtrifloxistrobina + tebuconazolpiraclostrobina + epoxiconazolazoxistrobina + ciproconazol

carbendazimcarboxina + tiram

Dados obtidos junto ao site do mapa (Agrofit) - em 15/06/2011.

qualidade, adotando espaçamento e popula-ção de plantas que desfavoreçam o patógeno, realizando adubação equilibrada (baseada em análises de solo e foliares), além do controle químico quando necessário.

É importante salientar que as dificuldades ainda são muitas, pois praticamente não se conhece a reação de mais de 70% das cultivares a esse fungo e com a introdução de materiais de outros países nos últimos anos, o problema ficou ainda maior.

Outro entrave é a utilização de sementes de boa qualidade, uma vez que é permitido que o agricultor multiplique sua própria se-mente (semente salva), não se tem a garantia de que o material produzido está isento do patógeno.

Em relação ao espaçamento e à população de plantas, ainda há muito que se estudar, uma vez que não há receita de bolo e o espaçamen-to e a população de plantas poderão variar grandemente em função das características das cultivares, principalmente aquelas rela-

cionadas a ciclo, hábito de crescimento, porte e arquitetura.

A estratégia baseada no controle químico, teoricamente seria de fácil recomendação e utilização, mas o que se tem verificado a campo é um grande conflito de informações. Assim, quais seriam os fungicidas mais reco-mendados para o controle desta doença? Qual a dose a ser utilizada? Qual a melhor época de aplicação? Existe a necessidade de tecnologia de aplicação específica para as doenças?

Segundo dados do Agrofit (http://www.agricultura.gov.br) do Ministério da Agri-cultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), os fungicidas recomendados para o controle dessa doença encontram-se na Tabela 1.

Os produtos listados na Tabela 1 ainda são realmente eficazes no controle da do-ença? Os trabalhos conduzidos em Goiás e Tocantins evidenciam que para os defensivos à base de estrobilurina ou estrobilurinas + triazóis a resposta é não. Podem apresentar efeito supressivo inicial, mas quando a planta atinge a fase de enchimento de grãos, princi-palmente após R5.2/R5.3, tais fungicidas não são capazes de conter o progresso da doença. Em revisão realizada por Hideo Ishii (Japan Agricultural Research Quarterly, 40:3, p. 205-211), foi verificada a existência de populações resistentes do patógeno aos fungicidas estrobi-

lurinas na cultura do pepino. Embora seja em outra cultura, segundo Silva et al (Australian Journal of Botany, 43:3, p.609-618, 1995), esse fungo (Corynespora cassiicola) pode atacar mais de 70 espécies vegetais, incluindo plantas cultivadas e invasoras. Estudos de patogeni-cidade realizados por Oliveira et al (Summa Phytopathologica, 33:3, p.297-299, 2007) demonstram haver grande inespecificidade dos isolados, ou seja, o isolado que infectada uma cultura, pode infectar outra.

Para os pesquisadores da Fesurv, o melhor controle da doença sempre foi verificado quando do uso de benzimidazóis, que devem ser aplicados a partir do início da floração, em doses não inferiores a 800ml/ha e em duas a três aplicações. Devido ao menor período residual desse grupo químico, o intervalo entre as aplicações não deve exceder os 15 dias. Em trabalhos conduzidos pela Agrodi-nâmica (Tangará da Serra-MT), através do pesquisador Valtemir Carlin, verificaram-se resultados semelhantes no Mato Grosso até a safra 2007/08, quando os benzimidazóis proporcionavam de 50% a 80% de controle. Entretanto, nas últimas safras, o que tem se observado no Mato Grosso é um aumento significativo na severidade da doença mesmo em cultivares que anteriormente não apre-sentavam sintomas severos, como no caso de

Carregal, Campos, Juliana e Carlin integram grupo que monitora a sensibilidade da mancha alvo à aplicação de fungicidas

A mancha alvo é uma doença que tem crescido em importânciana soja, com poder de reduzir a produtividade da cultura

Reação de dois isolados ao carbendazim. O isolado1 é sensível enquanto o isolado 2 é insensível

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Tabela 2 – Resultados experimentais de controle químico da mancha alvo com fungicidas benzimidazóis. Deciolânia (mT), 2010

Dose (mL ha-1)-

5005005005007507507507501000100010001000

época de aplicação-

R1R1 e R3

R1, R3 e R5.2R1, R3, R5.2 e R5,4

R1R1 e R3

R1, R3 e R5.2R1, R3, R5.2 e R5.4

R1R1 e R3

R1, R3 e R5.2R1, R3, R5.2 e R5,4

severidade em R5.5 33,3 b33,3 b34,0 b32,0 b32,8 b32,5 b32,8 b30,8 a30,5 a33,0 b31,8 b31,0 a29,0 a

6,4

TratamentosTestemunhacarbendazimcarbendazimcarbendazimcarbendazimcarbendazimcarbendazimcarbendazimcarbendazimcarbendazimcarbendazimcarbendazimcarbendazim

c.V. (%)

n.s. – não significativo ao teste de skott-Knott. médias seguidas pela mesma letra em cada coluna não diferem estatisticamente pelo teste de skott-Knott a 5% de probabilidade.

Produtividade (kg/ha)3046,6n.s.

3059,23302,62942,22830,32858,02882,22926,62849,82942,13032,43007,32834,5

8,5

MG/BR 46 (Conquista).Para alguns pesquisadores, atualmente os

benzimidazóis não apresentam efeito algum no controle da doença, conforme evidencia-do na Tabela 2. Os resultados obtidos nesse experimento indicam a ineficácia dos ben-zimidazóis no controle da mancha alvo em Deciolânia (MT) durante a safra 2009/10, fato que não ocorria até duas safras anteriores.

Segundo Date et al (Japanese Journal of Phytopathology, 70: p.7-9, 2004), trabalhos conduzidos na cultura do tomate comprova-ram a existência de isolados de Corynespora cassiicola resistentes aos fungicidas benzimi-dazóis. Como no Mato Grosso os benzimi-dazóis vêm sendo utilizados há mais de dez anos e, muitas vezes, em subdoses (300 a 500ml/ha-1), existe a possibilidade da seleção de isolados resistentes ou menos sensíveis a esses fungicidas.

Atualmente, ainda são poucas as ins-tituições (Universidade de Passo Fundo, Fesurv, Embrapa Soja) desenvolvendo tra-balhos de pesquisa para monitorar a sensibi-lidade de isolados de Corynespora cassiicola a fungicidas. Os estudos realizados na Fesurv analisam isolados provenientes de diferentes regiões, com ou sem relatos de ineficiência de alguns fungicidas. Entretanto, ainda são escassos na literatura dados que evidenciem

Luís Henrique Carregal e Hercules Campos,FesurvJuliana Campos Silva,Campos Carregal Pesq. Tec. Agr. Valtemir Carlin,Agrodinâmica

a variabilidade do patógeno ou mesmo estudos para monitorar a sensibilidade de Corynespora cassiicola aos fungicidas. Neste contexto, existe a necessidade urgente do envolvimento de outras instituições e, até mesmo, o desenvolvimento de um grupo de estudos acerca do assunto para obtenção de mais informações e para otimizar o manejo da mancha alvo. Os trabalhos prelimi-nares na Fesurv indicam que há isolados

insensíveis a benzimidazóis e também às estrobilurinas. CC

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24 Setembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Milho

Vulnerável a insetos

Pragas iniciais como larvas, corós, brocas, lagartas e percevejos são comuns nas lavouras de milho, por serem

cultivadas em época favorável ao ataque dessas espécies. O tratamento de sementes, aliado a outras práticas de

manejo, está entre as principais estratégias de controle

A cultura do milho, por ser culti-vada no Brasil, em época clima-ticamente propícia a um grande

número de espécies de insetos e de outros organismos herbívoros, serve de alimento para inúmeras destas espécies.

Praticamente em todos os órgãos e nos mais diversos estádios fenológicos desta cultura existem insetos e outros organismos associados, embora poucos atinjam a situação de pragas, do ponto de vista econômico. Des-taque especial merecem as chamadas pragas iniciais, que atacam sementes e plântulas e cujos danos se traduzem pela redução da população de plantas.

PRAgAs DE sEmENTEs, RAíZEsE PARTEs sUBTERRâNEAs

Larva-alfinete – Diabrotica speciosaA larva-alfinete é a forma jovem da va-

quinha verde-amarela, também conhecida por “patriota”. O adulto, que é polífago, oviposita no solo ou junto às plântulas de milho, geralmente duas a quatro semanas após a semeadura no cedo; em semeaduras de novembro a janeiro, as posturas são realizadas diretamente nas plantas recém-emergidas. Embora não seja um fator determinante, tendo em vista a grande mobilidade dos adultos, a presença de outros hospedeiros nas proximidades pode facilitar a incidência de larvas em milho. As larvas-alfinete atacam as raízes, inclusive as adventícias, geralmente a partir de um mês após a semeadura. As plantas atacadas ficam menos produtivas e mais sujeitas ao acamamento.

corós, bicho-bolo, pão de galinhae outras larvas de escarabeídeosOs corós são larvas de solo, a forma imatura

de besouros e, durante o seu desenvolvimento se alimentam das sementes recém-semeadas e das raízes das plantas. Três espécies são aquelas de maior frequência nas áreas cultivadas com milho no Sul do Brasil.

As espécies mais comumente encontra-das são o coró-das-pastagens (Diloboderus abderus), o coró-do-trigo (Phyllophaga tri-ticophaga) e o coró-pequeno (Cyclocephala flavipennis). Todas apresentam ciclo biológico relativamente longo, passando pelas fases de ovo, de larva (coró), de pupa e de adulto (besouro). Somente as larvas, que são polífa-gas, são capazes de causar danos às culturas. Em geral, a infestação ocorre em manchas na lavoura.

Coró-das-pastagens - A espécie apresenta ciclo anual: os adultos podem ser encon-trados de dezembro a março; a postura é feita nesse período, com mais frequência em janeiro; principalmente em áreas onde há ocorrência de palhada sob a cultura de

Pragas iniciais como larvas, corós, brocas, lagartas e percevejos são comuns nas lavouras de milho, por serem

cultivadas em época favorável ao ataque dessas espécies. O tratamento de sementes, aliado a outras práticas de

manejo, está entre as principais estratégias de controle

Vulnerável a insetos

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25www.revistacultivar.com.br • Setembro 2011

verão ou mesmo nos pastos. Após um período de incubação, que dura entre uma e duas semanas, eclodem as larvas, que passam por três instares até empuparem, geralmente em novembro. Escava galerias no solo e ocorre mais em sistema de plantio direto e em pastagens, devido à necessidade de palha para nidificação e oviposição, e mesmo para a alimentação das larvas. O dano decorre da ação das larvas, especialmente as de terceiro instar, que consomem sementes, raízes e partes verdes da planta, que carregam para dentro da galeria. As larvas se concentram en-tre 10cm e 20cm de profundidade, podendo em anos de pouca precipitação atingirem até 60cm. Os maiores danos às culturas ocorrem de maio a setembro.

Coró-do-trigo - A espécie apresenta uma geração a cada dois anos: os ovos são postos em novembro do ano 1; a fase de larva ocorre desde o final do ano 1, prolonga-se durante todo o ano 2 e termina em janeiro/fevereiro do ano 3; as pupas ocorrem de janeiro a abril do ano 3; os adultos surgem a partir de março e permanecem no solo até outubro/novem-bro do ano 3, quando vêm à superfície para acasalamento e dispersão. Ocorre tanto em sistema plantio direto como em convencio-nal. As larvas apresentam três instares; não escavam galerias, são favorecidas por solos não compactados e vivem muito próximas da superfície, concentrando-se até os 10cm de profundidade. Os danos ocorrem em anos alternados e devem-se às larvas, especialmen-te as de terceiro instar, que se alimentam de sementes, raízes e parte aérea das plantas, que puxam para o interior do solo. O período mais crítico para as culturas vai de maio a outubro/novembro do ano 2, quando as larvas param

de comer e permanecem inativas até a pupa-ção. De uma maneira geral, tem se observado, em áreas onde a ocorrência é frequente, que os níveis de danos geralmente são elevados no ano de alta ocorrência de larvas grandes e no seguinte, os prejuízos são mínimos.

Coró-pequeno - Apresenta uma gera-ção por ano e é mais comum em lavouras com abundância de palha e em pastagens. Os adultos fazem revoadas em setembro/outubro de cada ano. As larvas não escavam galerias, têm reduzida capacidade de causar danos às plantas e, provavelmente, também consomem matéria vegetal em decomposi-ção. Mesmo em populações elevadas, como 80 larvas/m2 a 100 larvas/m2, não tem causa-do danos às culturas. Sua ocorrência é mais frequente em áreas de rotação de pastagens perenes com cultivos de inverno.

mANEjO DOs cORósOs pontos a serem considerados e as

medidas a serem adotadas são:1) Observar e demarcar as áreas com

ocorrência de corós, com vistas ao acompa-nhamento nos anos seguintes;

2) A mortalidade natural, normalmente provocada por patógenos e condições extre-mas de umidade do solo, pode ser expressiva e o colapso de uma população pode ocorrer de uma geração para outra;

3) Identificar a(s) espécie(s) de coró existente(s) na lavoura e a respectiva densi-dade, através de amostragens em trincheiras de 25cm x 50cm x 20cm de profundidade, para D. abderus, e de 25cm x 100cm x 20cm de profundidade, para Phyllophaga

triticophaga; 4) Estima-se que danos expressivos

ocorram a partir de cinco corós/m2 (nível de dano);

5) O coró-das-pastagens, apesar dos danos causados, também pode proporcionar benefícios, como melhorar a capacidade de absorção de água do solo, em função das ga-lerias que escava, e otimizar as características físicas, químicas e biológicas do solo, através da incorporação de matéria orgânica;

6) Os sistemas de rotação de culturas e de manejo de resíduos que reduzem a disponibi-lidade de palha no período de oviposição de D. abderus desfavorecem o estabelecimento ou o crescimento populacional do inseto;

7) O tratamento de sementes com in-seticidas é tecnicamente viável no controle de corós.

8) Na constatação de áreas infestadas pelo coró, após a implantação da cultura e durante a fase vegetativa, pode-se lançar mão do tratamento curativo com pulverização total da área infestada com organofosforado Clorpirifós, na dose de 1,5 litro/ha, em alto volume e antes de uma chuva ou irrigação de 25/30mm, pois há necessidade da pe-netração do inseticida no solo, para realizar um bom controle. Devido ao alto custo desta técnica, somente áreas com alta infestação (mais de dez corós/amostra) compensam sua utilização.

PRAgAs DE cOLmOs E DA BAsE DE PLâNTULAsBroca-do-colo – Elasmopalpus ligno-

sellus.

Raízes estão entre os alvos de pragas na cultura do milho

Uma extensa gama de insetos éregistrada em lavouras de milho

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26 Setembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

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Lagarta-rosca – Agrotis ipsilon.Percevejos – Dichelops furcatus, D. mela-

canthus, Nezara viridula.A broca-do-colo é uma lagarta de colo-

ração marrom-esverdeada, muito ativa, que mede cerca de 2cm de comprimento e ataca as plantas com até 30cm de altura. Faz uma galeria ascendente a partir do colo da planta, provocando o secamento da folha central (coração morto) e até a morte de plântulas. Sua incidência está associada a períodos de seca e a solos bem drenados; geralmente não é problema em plantio direto e em cultivos irrigados.

A lagarta-rosca é uma praga que vive enterrada no solo, à pequena profundidade, junto à plântula. Tem coloração pardo-acinzentada, é robusta e atinge até 5cm de comprimento. Sai à noite e corta as plântulas ao nível do solo. Pode abrir galeria na base de plantas mais desenvolvidas provocando o aparecimento de “coração morto” e de estrias claras nas folhas. A planta que sobrevive ao ataque pode perfilhar excessivamente, gerando uma “touceira” improdutiva. Sua ocorrência pode ser influenciada pela exis-tência de plantas hospedeiras na área, como língua-de-vaca, picão branco, roseta, erva-de-bicho e caruru, antes da semeadura.

Nos últimos anos, percevejos, pragas principais e até secundárias de soja e de outras leguminosas têm atacado milho logo após a emergência, dependendo muito da cultura anterior e da forma como é manejada. Sugam plântulas ao nível do solo ou mais acima, danificando tanto pela sucção da seiva em si como pela injeção de saliva tóxica, provocando deformações, mau crescimento e morte de plantas. A intensidade de ataque dos percevejos barriga-verde está intimamente ligada ao volume de palhada dessecada. Densidades

Redução da população de plantas e ataque nos diversos estádios fenológicos estão entre os danos causados por pragas iniciais

de percevejos superiores a 0,5 adulto/metro de linha na semeadura, se não controladas, podem reduzir em até 100% o número de plântulas emergidas, nos primeiros dez dias após a emergência.

cONTROLE PREVENTIVOO tratamento de sementes é um dos

métodos mais eficientes no controle destas pragas iniciais, principalmente na relação custo/benefício. Dependendo de que pragas ocorreram nas safras anteriores e do cultivo precedente, o tratamento de sementes é uma garantia de um bom estande e desenvolvi-mento inicial do cultivo. Para a maioria das pragas iniciais da cultura do milho, somente o tratamento das sementes resolve a questão; no caso dos percevejos barriga-verde, em amostragem com mais de cinco exemplares por dez metros de linha, ou aproximadamen-te um percevejo por metro quadrado, haverá necessidade de uma pulverização curativa entre quatro e sete dias após a emergência, pois os resultados de pesquisa indicaram que neste nível de infestação, somente o trata-mento de sementes consegue, no máximo, 55% de controle, resultado este não satisfa-tório para o produtor. No mercado existem vários produtos registrados para estas pragas com diferentes ingredientes ativos.Dionísio Link,UFSM

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forma diferenciada pelo mercado, como aliada do produtor.”

Durante o evento os convidados par-ticiparam de um jantar seguido de show com o grupo de música gaúcha Os Fa-gundes. A programação contou, também, com palestras e debates sobre avanços da rizicultura, boas práticas e crescimento do mercado, incluindo resultados obtidos em 2010 e soluções integradas da empresa para o setor.

Eventos

Grupo de música gaúcha realizou show durante jantar oferecido no evento

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Feijó

Arroz em focoSyngenta reúne orizicultores em evento, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul

A Syngenta realizou em agosto a 3ª Reunião do Arroz, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

O evento reuniu pesquisadores, distribui-dores e outros envolvidos com a cultura no País.

A abertura do evento foi feita por Felipe Fett, responsável pela implemen-tação do Projeto Arroz, da Syngenta, no Brasil. Fett apresentou o desempenho da empresa nessa cultura, nos últimos

três anos, e as estratégias desenvolvidas no período, na busca de torná-la líder no segmento.

Laercio Giampani, presidente da Syngenta, salientou que faz questão de participar de todos os anos do evento, de-vido à importância que a cultura tem para a companhia. “A empresa precisa pensar como o agricultor e para isso deve conhecer suas necessidades, para oferecer a solução adequada a cada cliente e ser percebida de

Fett e Giampani destacaram importânciada cultura para a companhia

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Café

Monitoramento eficiente

Armadilha confeccionada a partir de garrafas PET e mistura de etanol e metanol, como atrativos, auxiliam produtores na tomada de decisão quanto ao controle da broca-do-café, praga com alta

capacidade destrutiva, com poder de afetar a produtividade da cultura e depreciar o produto final

A produtividade e o preço do café estão relacionados à ocorrência de insetos-praga que causam

grandes perdas e oneram o custo de produ-ção. A broca-do-café, Hypothenemus hampei (Ferrari) (Coleoptera: Scolytidae), é con-siderada uma espécie monófaga de grande importância nesta cultura no mundo. Esse inseto é nativo da África, principalmente no centro de origem do café, Etiópia, localizada no leste deste continente. Foi relatado primeiramente no Brasil em 1913 no estado de São Paulo e, desde então, tem se espalhado pelas regiões produtoras comprometendo a produtividade devido à sua alta capacidade destrutiva.

As larvas e os adultos da broca-do-café confeccionam galerias no endosperma das sementes de café, causando três tipos de perdas: (I) redução da produtividade e perdas na qualidade do produto final; (II) danos físicos decorrentes da entrada de microrganismos; e (III) queda prematura dos frutos.

O ciclo de vida de H. hampei, desde a postura dos ovos até a emergência dos

adultos, varia de 28 dias a 34 dias. A lon-gevidade média dos machos é de 20 dias a 87 dias e das fêmeas em torno de 157 dias, ocorrendo até nove gerações por ano em regiões de clima tropical. A postura é realizada preferencialmente no interior dos frutos, em pequenos grupos de ovos com cerca de 0,44mm de comprimento e 0,23mm de largura. Os ovos apresentam coloração branco-leitosa. A incubação é cerca de quatro, seis dias e 14 dias a 27ºC, 22ºC e 19ºC, respectivamente.

Na fase larval a broca-do-café passa por três instares. A larva é ápoda, recur-vada, branca, com a cabeça e as peças bucais pardacentas. Inicialmente, a cabeça marrom-escura apresenta-se mais larga que o corpo, não se distinguindo ainda a placa quitinosa. O período larval varia de 29, 14 e 11 dias a 19ºC, 22ºC e 27ºC, respecti-vamente. As pupas são brancas no início da fase larval e tornam-se castanho-claras próximo à emergência do adulto. O período pupal é de quatro, oito e 14 dias a 27ºC, 22ºC e 19ºC, respectivamente.

As fêmeas adultas copulam com os

machos irmãos nas primeiras horas após emergirem. Esses besouros possuem co-loração marrom a preto brilhante, corpo cilíndrico e recurvado na região posterior. Os machos possuem as mesmas caracterís-ticas das fêmeas, sendo, porém, menores e com asas rudimentares. A razão sexual é de 1:10 machos:fêmeas. Os machos nunca deixam os frutos onde se originaram, por não serem capazes de voar.

As fêmeas ovipositam de 31 a 119 ovos. O período de pré-oviposição é de três/dez dias. Na fase de trânsito, a fêmea adulta abandona os frutos remanescentes na planta e no solo à procura de novos frutos para oviposição e alimentação. Perfura os frutos verdes na região da coroa, por onde penetra. Após ocorrer a perfuração, as fêmeas adultas confeccionam galerias, que funcionam como uma câmara de postura para a oviposição.

A alta capacidade de injúria dessa praga aliada à exigência de qualidade do produto pelo mercado consumidor resulta em aumento do número de aplicações de inseticidas, o que eleva o custo de pro-

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Monitoramento eficiente

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30 Setembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

dução, com poder de provocar, também, impacto ambiental. Em todo o mundo, o controle químico é a forma mais utilizada para a proteção de cultivos, por ser efetivo, de baixo custo e fácil adoção. Atualmente, até duas aplicações de inseticidas têm sido realizadas ao longo de uma safra para controlar a broca-do-café. No entanto, o aumento do número de casos de resistên-cia dos insetos aos inseticidas e os riscos ambientais levaram à busca por melhorias no sistema. Esta melhoria foi alcançada com a adoção da filosofia do Manejo Integrado de Pragas (MIP), que tem por base o monitoramento e as análises de risco ambiental e de custo-benefício para a tomada de decisão.

De acordo com a filosofia do MIP as medidas de controle devem ser adotadas sempre que uma praga estiver presente em densidade populacional capaz de ocasionar dano econômico ao cultivo. Dessa forma recomenda-se que seja constantemente monitorada por amostragens sistemáticas para determinação do melhor momento de intervir, reduzindo as densidades popula-cionais para patamares abaixo do Nível de Dano Econômico (NDE).

O NDE corresponde à densidade populacional em que o custo de controle é igual ao benefício esperado por sua adoção e pode ser estimado por meio de fórmulas específicas. A densidade popu-lacional da praga a ser comparada com o nível de dano econômico, necessária à to-mada de decisão, é determinada pela ado-ção de planos amostrais, que podem ser tanto sequenciais quanto convencionais. O plano de amostragem convencional é uma importante ferramenta utilizada na tomada de decisão de controle por ser o ponto inicial de geração de sistemas de tomada de decisão em programas de manejo integrado de pragas e permite determinar o nível de dano econômico e a escolha da melhor unidade e técnica amostral.

A amostragem da broca-do-café é ca-racterizada por coletas exaustivas de três mil a cinco mil frutos de café por lavoura. Essa amostragem possui baixo fundamento

científico e se utiliza de método destrutivo, pela coleta superestimada de frutos de café, exige muito tempo para avaliação e envolve alto custo. Assim, o processo de amostra-gem é de difícil adoção, possui elevados custos e, por essas razões, impossibilita o seu uso pelos produtores.

Armadilhas com atraentes têm sido utilizadas com sucesso para amostragem de insetos-praga por permitirem uma to-mada de decisão e serem de rápido e fácil uso. Além disso, as armadilhas permitem a captura e o aprisionamento dos insetos adultos. As armadilhas devem ser usadas na amostragem quando o número de in-setos capturados nesses instrumentos se correlacionarem com o ataque do inseto à planta. Nesse sentido, armadilhas con-feccionadas com garrafa PET em cores atrativas e contendo etanol e metanol mostraram-se como uma ótima técnica amostral para o monitoramento das den-

sidades populacionais de H. hampei. Em nossos estudos, na amostragem

das fêmeas adultas de H. hampei, foram usadas armadilhas confeccionadas com garrafas de refrigerante tipo PET de dois litros, com abertura lateral retangular (20cm x 15cm) e pintadas com tinta a óleo vermelha. Essa cor foi empregada por ser a mais atrativa aos adultos de H. hampei. As garrafas devem ser fixadas às plantas a 1,5 metro de altura do solo, com arame galvanizado número 12. No interior da ar-madilha foi fixado frasco de vidro de 10ml contendo o atrativo. Esse frasco deve ser vedado com tampa de borracha com duas perfurações onde serão inseridas duas anilhas metálicas inoxidáveis (1,2mm de diâmetro x 10mm de comprimento) para liberação do atraente. Este atraente deve ser composto por uma mistura de etanol (99,9%) e metanol (100%) de pureza na proporção de 1:3, com 1% de ácido benzoico. No fundo da armadilha recomenda-se colocar 120ml de água contendo 5% de detergente neutro para captura dos adultos da broca. A abertura da armadilha deve ser posicionada para o centro da entre linha do café de forma a possibilitar que a pluma odorífera do atrativo se disperse entre as fileiras.

Em relação à tomada de decisão de con-trole, nossos estudos finais indicaram duas armadilhas/ha e nível de dano econômico de 28 adultos de H. hampei/armadilha/15 dias. Este plano amostral para o monito-ramento da broca-do-café é extremamente aplicável, pois possui custo e tempo de dois minutos e custo de R$ 26,00 por amostra. Assim, a armadilha pode ser utilizada no monitoramento desta importante praga na cafeicultura brasileira.

Flávio Lemes Fernandes Marcelo Coutinho Picanço Francisco Pinheiro Vieira Universidade Federal de Viçosa

Insetos capturados a partir do uso de cores atrativas e da mistura de etanol e metanol

CC

A cafeicultura no Brasil, no ano de 2010, foi responsável pela produção

de 43.543 sacas de 60 quilos do produto beneficiado. A região Sudeste responde por 83% desta produção, destacando-se os esta-dos de Minas Gerais e do Espírito Santo. Os grãos do café apresentam elevados teores de potássio, vitamina B3, antioxidantes, beta-caroteno, vitamina E, compostos fenólicos, lignanas (precursores de fito-hormônios) e folatos (inibidores do acúmulo de homocis-teína no sangue). Além da importância eco-

CAfé NO BrASIl nômica e nutricional, essa atividade exerce notável influência social devido à geração de grande número de empregos diretamente no campo e nas diversas fases de sua cadeia produtiva. Estima-se que 25 milhões de agricultores no mundo dependem dessa cultura para subsistência.

Os principais problemas enfrentados pelos cafeicultores são alto custo dos insu-mos, mão de obra, ataque de pragas e de doenças, além das variações dos preços de comercialização.

Armadilha com garrafa de refrigerante auxiliano monitoramento da broca-do-café

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Algodão

34 Setembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Ação complementarFerramenta valiosa no controle de daninhas em algodoeiro, o glifosato se vê ameaçado pelo uso indiscriminado e o consequente aumento do número de infestantes resistentes e tolerantes. A associação com outros herbicidas é fundamental para a preservação da tecnologia e melhora no controle de daninhas como trapoeraba (Commelina spp.), corda-de-viola (Ipomoea spp.),

leiteiro (Euphorbia heterophylla) e erva-quente (Spermacoce latifolia)

Na safra 2010/2011 a área plan-tada com algodão no Brasil chegou próximo de 1,4 milhão

de hectares, sendo aproximadamente 740 mil hectares cultivados no estado do Mato Grosso. Culturas resistentes ao herbicida glifosato (RR) representam mais de 80% dos 120 milhões de hectares cultivados no mundo anualmente com espécies transgê-nicas. Rápida adoção dessa tecnologia no mundo ocorreu em soja, milho, algodão, canola e beterraba, em grande parte por causa da vantagem econômica da tecno-logia, como também pelo controle melhor e mais simples de plantas daninhas com o uso do glifosato (Duke e Powles, 2009). No

entanto, o uso contínuo de glifosato numa mesma área vem selecionando plantas daninhas resistentes e tolerantes, fato que tem reduzido e pode anular os benefícios dessa valiosa tecnologia.

A cultura do algodão precisa ser colhi-da no limpo, sendo necessário mantê-la livre de plantas daninhas a maior parte do ciclo. Além disso, possui características que dificultam o manejo dessas espécies como ciclo longo, crescimento inicial lento, espaçamento amplo entre as linhas e restrições ao crescimento, impostas por motivos agronômicos, realizada através da aplicação de reguladores. Adicionalmente, existem poucos herbicidas seletivos para

controle de espécies de folhas largas.No estado do Mato Grosso, uma tecno-

logia bastante difundida nesta safra foi o uso de variedades transgênicas de algodão Liberty Link, resistentes ao herbicida glu-fosinato. O algodão RR Flex, mais flexível quanto ao estádio da cultura para aplicação do glifosato, é esperado pelos produtores, mas ainda não está disponível para plantio comercial no Brasil. Essa tecnologia, como qualquer outra, no entanto, precisa ser usada com critérios, para evitar a seleção de plantas daninhas resistentes, como ocorreu nos algodoais dos Estados Unidos da América (EUA), onde biótipos de caru-ru e ambrosia já não são mais controlados

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o leiteiro (Euphorbia heterophylla) e a erva-quente (Spermacoce latifolia), entre outras, podem ter o controle melhorado na associação deste herbicida com outros ingredientes ativos.

Assim como na soja e no milho, a tec-nologia RR também deve se constituir em alternativa agronômica e/ou econômica no sistema de produção de algodão. Reforça-se a necessidade de rotação de culturas e mecanismos de ação para evitar ou retar-dar o aparecimento de plantas daninhas resistentes, prolongando o tempo de uso dessas variedades.

Nos EUA, herbicidas como fomesafen, s-metolachlor, pendimethalin e trifluralin são utilizados no sistema de produção do algodão tentando minimizar o problema da resistência de plantas daninhas ao glifosato.

Fotos Anderson Luis Cavenaghi

Tabela 1 - Tratamentos aplicados no experimento. campo Verde (mT)

Nome comercialstaple + Tropstaple + Tropstaple + Trop

stapleTrop

Envoke---

Dose (g ha-1)37,3 g ia+ 360 g ea55,9 g ia+ 540 g ea74,6 g ia+ 720 g ea

70 g ia720 g ea7,5 g ia

---

Dose do Pc ha-1

0,133 L + 1,0 L0,200 L + 1,5 L0,266 L + 2,0 L

0,250 L2,0 L10 g---

Nome comum1. Pyrithiobac + glyphosate2. Pyrithiobac + glyphosate3. Pyrithiobac + glyphosate

4 .Pyrithiobac5. glyphosate

6. Tryfloxysulfuron7. Testemunha

ia – ingrediente ativo ea – equivalente ácido Pc – produto comercial

pelo glifosato. Há consenso de que a diversidade

no manejo de plantas daninhas é uma necessidade para preservar a utilidade da tecnologia de culturas resistentes a herbi-cidas. Dentro do componente químico no manejo, o uso de herbicidas com diferentes mecanismos de ação é incondicional e várias associações de produtos vêm sendo testadas e utilizadas.

Em algodoeiro RR, aplicações asso-ciadas a tratamentos de pré-emergência (Scroggs et al, 2007) ou combinadas com pyrithiobac e trifloxysulfuron (Branson et al, 2005) são as opções mais usuais. Adicionalmente, plantas daninhas que apresentam tolerância ao glifosato, nas doses normais de uso nas culturas trans-gênicas, como as trapoerabas (Commelina spp.), as cordas-de-viola (Ipomoea spp.),

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36 Setembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Figura 1 - Notas médias de controle de Ipomoea triloba com até seis follhas, aos 14 (IPO14), 21 (IPO21) e 28 (IPO28) dias após a aplicação dos tratamentos. Letras maiúsculas, minúsculas ou números comparam tratamentos dentro de uma mesma época de avaliação (scott & Knott; α = 0,20)

Figura 4 - Notas médias de controle de Amaranthus deflexus aos 14 (AmADE14), 21 (AmADE21) e 28 (AmADE28) dias após a aplicação dos tratamentos. Letras maiúsculas, minúsculas ou números comparam tratamentos dentro de uma mesma época de avaliação (scott & Knott; α = 0,20)

Figura 3 - Notas médias de controle de Physalis angulata aos 14 (PHY14), 21 (PHY21) e 28 (PHY28) dias após a aplicação dos tratamentos. Letras maiúsculas, minúsculas ou números comparam tratamentos dentro de uma mesma época de avaliação (scott & Knott; α = 0,20)

Figura 2 - Notas médias de controle de Ipomoea triloba com mais de seis folhas, aos 14 (IPOgde14), 21 (IPOgde21) e 28 (IPO28gde) dias após a aplicação dos tratamentos. Letras maiúsculas, minúsculas ou números comparam tratamentos dentro de uma mesma época de avaliação (scott & Knott; α = 0,20)

Cavenaghi aponta a importância de associar o uso do glifosato com outros herbicidas

Anderson Luis Cavenaghi,UnivagSebastião Carneiro Guimarães,UFMT

No Brasil, os herbicidas pyrithiobac-sodium e tryfloxysulfuron-sodium são se-letivos para aplicações em pós-emergência na cultura do algodão, podendo ser aliados do glifosato em cultivares com a tecnologia RR, pois apresentam mecanismos de ação diferentes do glifosato.

Como exemplo desta possibilidade pode ser citado um experimento realizado em Campo Verde - Mato Grosso -, pro-curando avaliar o controle de corda-de-viola (Ipomoea triloba) em algodão RR com aplicações em pós-emergência utilizando glifosato isoladamente ou associado ao herbicida pyrithiobac (Tabela 1). Além da corda-de-viola, principal planta infestante da área, havia também plantas de caruru (Amaranthus deflexus) e bucho-de-rã (Physalis angulata). A aplicação dos trata-mentos foi realizada com a cultura entre a terceira e a quarta folha, utilizando-se um pulverizador costal pressurizado a CO2,

contendo seis pontas TeeJet TT110015, com volume de aplicação de 120L/ha. As avaliações de controle ocorreram aos 14, 21 e 28 dias após a aplicação. Nas avalia-ções foram consideradas separadamente plantas de corda-de-viola até seis folhas e plantas com mais de seis folhas. Nos dois estádios avaliados para corda-de-viola a associação de glifosato com pyrithiobac nas doses mais altas testadas (tratamentos 2 e 3) melhoraram o controle em relação à aplicação isolada dos dois herbicidas (Fi-guras 1 e 2) e os resultados para glifosato isoladamente foram melhores para plantas no menor estádio de desenvolvimento. Este fato normalmente é observado para outras espécies tolerantes ao glifosato, ficando o sucesso do controle dependente de dose utilizada e estádio de desenvolvimento no momento da aplicação. Não houve controle de caruru e bucho-de-rã com aplicações isoladas de pyrithiobac ou tryfloxysulfuron,

mas a eficiência foi excelente quando se utilizou glifosato ou glifosato associado ao pyrithiobac (Figuras 3 e 4).

Desta forma, fica evidente que o herbi-cida glifosato é importante ferramenta para controle de plantas daninhas na cultura do algodão, mas deve ser preservado e ter sua ação complementada por meio da associação adequada com herbicidas de outros mecanismos de ação, quer seja em pré-emergência ou pós-emergência. CC

Diversas características, como o ciclo longo, dificultam o manejo de plantas daninhas na cultura do algodoeiro

Fotos Anderson Luis Cavenaghi

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Fotos José Ednilson Miranda

Algodão

38 Setembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Migração concomitante

Ao mesmo tempo em que a cultura do algodão migrou do Sul e Sudeste para o Centro-Oeste do Brasil, pragas como a broca-da-raiz fizeram o mesmo caminho. Favorecido por fatores

como o cultivo sucessivo, inseto causa prejuízos severos, com poder de levar as plantas à morte. A rotação de culturas é um dos principais trunfos para enfrentar o problema

Praga muito conhecida dos cotoni-cultores desde as épocas áureas de produção de algodão nos estados

do Sul e Sudeste (Paraná e São Paulo), a broca-da-raiz (Eutinobothrus brasiliensis) já foi responsável por muitas perdas na produção de pluma daquelas regiões. A cultura migrou para as áreas do Centro-Oeste, porém, o inseto também a acompanhou. Quais seriam os fa-tores que permitiram a sua manifestação nos solos do Cerrado? Evidentemente que as con-dições edáficas (de solo), embora não sejam exatamente as mesmas daquelas existentes no Sul, não variam a ponto de serem impeditivas para o estabelecimento da praga.

Tampouco o clima seria um fator agravan-te, uma vez que as altas temperaturas e as boas condições de umidade reinantes no Cerrado são excelentes para a manutenção de popula-ções de pragas de solo. A existência de plantas hospedeiras alternativas também pode favore-cer as populações do inseto. É conhecido que plantas da família das malváceas (assim como

o algodão), como o Hibiscus e o quiabo servem de alimento para o inseto. Também se sabe que o Cerrado é o bioma de maior biodiversidade e é possível que outras plantas presentes nas áreas de vegetação natural possam servir de alimento para a broca da raiz.

Entressafra e início da primavera com chuvas abundantes permitem o aumento po-pulacional da broca-da-raiz. Solos de baixada, onde a umidade se acumula e se mantém por mais tempo, são então locais perfeitos para o inseto. Entretanto, os fatores que mais contri-buem para a manutenção de populações em alta densidade na cultura do algodão são o seu cultivo em sucessão (algodão após algodão) e a permanência de plantas de algodão vivas durante a entressafra.

O INsETO E Os sINTOmAs DE sEU ATAQUEO adulto da broca-da-raiz é um besouro

de coloração pardo-escura, que mede em torno de 5mm de comprimento. A fêmea usa suas mandíbulas para romper a casca das plantas

novas e ali fazer a oviposição. O ovo, de colora-ção creme esbranquiçada, tem no seu interior o embrião da broca se desenvolvendo por dez dias, quando ocorre então a eclosão das larvas, que principiam a alimentação abrindo galerias na região dos vasos lenhosos da planta. Estas galerias aumentam de diâmetro à medida que as larvas crescem e impedem a circulação da seiva bruta, devido ao seccionamento dos vasos, determinando a paralisação do cresci-mento da planta.

Os prejuízos são maiores no período de estabelecimento da cultura, início do cres-cimento das plantas, quando coincide com chuvas intensas e constantes, uma vez que ocorre redução no estande.

As observações iniciais de plantas de algodoeiro com sintomas de ataque de broca-da-raiz coincidem com o início do período de estiagem, quando então as plantas com o sistema vascular comprometido demons-tram o estresse ocasionado pela infestação do inseto.

Migração concomitante

Ao mesmo tempo em que a cultura do algodão migrou do Sul e Sudeste para o Centro-Oeste do Brasil, pragas como a broca-da-raiz fizeram o mesmo caminho. Favorecido por fatores

como o cultivo sucessivo, inseto causa prejuízos severos, com poder de levar as plantas à morte. A rotação de culturas é um dos principais trunfos para enfrentar o problema

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40 Setembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

- A destruição de soqueiras e de plantas voluntárias;

- Faixas de plantio-isca podem ser utili-zadas para atrair indivíduos sobreviventes da entressafra, onde, aplicações de inseticidas podem suprimir a população, evitando assim prejuízos econômicos à cultura;

- Fungos entomopatogênicos presentes no solo exercem o controle biológico natural, mas em áreas desequilibradas tais organismos apresentam eficiência parcial;

- A medida mais importante de todas é a rotação de culturas, evitando-se o cultivo do algodoeiro por três safras em áreas infestadas com o inseto. A adoção de sistemas de rotação de culturas é de grande importância, tanto do ponto de vista de redução de pragas, doenças e plantas invasoras, como do ponto de vista da qualidade física e química do solo. Lavouras com manejo adequado e esquemas eficientes de rotação de culturas não apresentam pro-blemas com o inseto.

A planta atacada começa a definhar. Os sintomas começam por um avermelhamento do limbo foliar, murcha, seca e queda das folhas. Na região do colo da planta nota-se engrossamento devido ao ataque da praga e à presença das larvas nas galerias. As plantas atacadas morrem devido à interrupção da seiva ou persistem no campo, porém totalmente comprometidas.

cONTROLEEm experimento realizado em campo

com inseticidas para o controle da praga, o produto carbofuram (350 TS, 2L p.c./100kg de sementes) exerceu o melhor controle de broca-da-raiz. No entanto este controle é insa-tisfatório. Com a repetição do experimento no ano seguinte, verificou-se que a infestação nos tratamentos em geral e mesmo na testemunha havia se reduzido drasticamente. Embora a área experimental tenha sido cultivada nas duas safras consecutivas, no restante da área efetuou-se a rotação de culturas, com o cultivo de outras culturas, que não o algodão. A re-dução da área de algodão após algodão influiu decisivamente nos resultados, mostrando que o controle cultural através da rotação de cul-turas e substituição do algodoeiro por outras espécies vegetais por duas ou três safras é altamente recomendável para complementar a supressão populacional do inseto.

Assim, para o controle da broca-da-raiz, algumas medidas podem ser sugeridas:

- Preparo correto do solo, com uma aração

Quadro 1 - Produtos registrados para o controle da broca-da-raiz em lavouras de algodão

Princípio ativo

Tiocarbamatocarbofuramcarbofuramcarbofuramcarbofuram

TiocarbamatoEndossulfanoTiametoxamTiametoxam

AcefatoParationa metílicaParationa metílicaParationa metílicaParationa metílica

Triazofósclorpirifós

Parationa metílicaParationa metílica

AcefatoclorpirifósFipronilFipronil

Dose Recomendada Produto comercial1,0 a 1,5kg/ha30 a 40kg/ha15 a 200kg/ha

2 a 3L/ha30 a 40kg/ha1,0 a 1,5kg/ha

1,25L/ha400 a 600ml/100kg sementes200 a 300 g/100kg sementes

1 kg/100kg sementes600 a 800ml/ha

0,7L/ha500 a 800ml/ha600 a 800ml/ha

1,2L/ha0,8 a 2L/ha700ml/ha700ml/ha

1,0kg/100 kg sementes0,8 a 2,0L/ha

200 a 300ml/100kg sementes200 a 300ml/100kg sementes

grupo Químico

carbamato

ciclodienocloradoNeonicotinóide

Organofosforado

Pirazol

Fonte: Agrofit, 2011.

e duas gradagens em áreas de cultivo con-vencional do solo. O uso de calcário também desfavorece a praga. Em áreas de plantio direto há mais de sete anos recomenda-se uma subsolagem;

- A semeadura concentrada em até 30 dias na época recomendada diminui as chances de migração da praga para áreas mais novas e a manutenção de sua população em nível populacional elevado;

- O tratamento de sementes com insetici-das sistêmicos contribui para evitar explosões populacionais (vide Quadro 1);

- A aplicação de inseticidas sistêmicos no sulco de plantio tem apresentado efeito moderado, contribuindo para a mortalidade de adultos e larvas. Tal aplicação é recomen-dável quando a umidade do solo estiver acima de 50%;

- A eliminação de plantas hospedeiras (plantas da família das malváceas, como o quiabo e o hibisco);

José Ednilson Miranda Embrapa Algodão

CC

Figura 5 - Notas médias de controle de Amaranthus deflexus aos 14 (AmADE14), 21 (AmADE21) e 28 (AmADE28) dias após a aplicação dos tratamentos. Letras maiúsculas, minúsculas ou números comparam tratamentos dentro de uma mesma época de avaliação (scott & Knott; α = 0,20)

Figura 1 - Plantas atacadas por broca-da-raiz em experimento com tratamento de sementes com diferentes inseticidas. santa Helena de goiás (gO). miranda et al, 2008

Ataque da praga impede a circulação da seiva e causa a paralisação do crescimento da planta

Miranda destaca o papel da rotação de culturas no combate ao inseto

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Empresas

Nova versãoBasf lança Digilab 2.0, com a meta de agilizar e oferecer

maior precisão nos diagnósticos de pragas, doenças e plantas daninhas que afetam cultivos agrícolas

42 Setembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

A Basf apresentou em agosto, du-rante o Top Ciência, o Digilab 2.0, uma nova versão do equi-

pamento, lançado pela empresa em 2009, para auxiliar na identificação e combate a pragas, doenças e plantas daninhas que limitam os cultivos agrícolas brasileiros. O novo modelo propõe mais agilidade e precisão no diagnóstico de alvos no cam-po, por meio de um sistema de navegação intuitivo, de fácil manuseio e que permite a troca rápida de informações.

Com a atualização do software, o equipamento torna-se compatível com a maioria dos sistemas operacionais. Além da navegação por ocorrências de pragas, doen-ças e plantas daninhas, oferece informações personalizadas, atendendo às necessidades específicas de cada usuário.

Outra novidade se refere à presença de um GPS acoplado ao hardware do equi-pamento, que possibilita georreferenciar a saúde de determinadas culturas do País, da região e até mesmo da propriedade dos usuários. A meta proposta pela empresa, com a nova versão, é de que em breve todos os alertas diagnosticados estejam disponíveis em um roteiro de ocorrências, que será visualizado através de um mapa, via satélite.

VERsãO mOBILE Além do modelo 2.0, a Basf lançou du-

rante o evento a versão mobile do Digilab, com o intuito de facilitar a mobilidade dos diagnósticos no campo. O aplicativo já está disponível aos usuários de smartphones com sistema operacional android, que poderão utilizá-lo para fotografar pragas, doenças e plantas daninhas, com resposta automática. A versão mobile oferece, ain-da, um banco com mais de 200 imagens

específicas, que abrangem 15 culturas, 27 pragas, 65 daninhas e 108 doenças.

APLIcAçõEs E OUTRAs VERsõEsO Digilab consiste na união de um mi-

croscópio digital, capaz de aumentar a imagem em até 200 vezes, e um software com banco de dados e imagens das principais pragas e doenças. Ao suspeitar que a lavoura esteja sofrendo o ataque de doença, praga ou dani-nha o técnico recolhe algumas amostras das plantas, como folhas, hastes ou raízes. Com a amostra em mãos, realiza avaliação compara-tiva entre o material e as imagens da biblioteca virtual do Digilab. O software com o banco de dados foi desenvolvido com base na literatura especializada e com apoio de pesquisadores universitários. O banco de dados contempla 33 diferentes pragas, 138 tipos de doenças e 89 espécies de ervas daninhas separadas em 16 culturas. O acervo serve de consulta para os usuários que fazem o comparativo com a amostra recebida. Desde 2009 os usuários já captaram mais de 40 mil imagens. Desse total, 12 mil foram catalogadas e seis mil publicadas na biblioteca virtual do serviço.

Em 2010 a Basf firmou parcerias com cooperativas, entidades e pesquisadores para cessão do serviço. Atualmente a tecnologia já está presente em 40% do território nacional. Também em 2010, a empresa lançou uma versão do serviço destinada à comunidade científica: o Digilab 500. Seu microscópio possui lente com capacidade de aumento de até 500 vezes, ideal para professores, pesqui-sadores e consultores. O equipamento reúne as funcionalidades de alguns microscópios e máquinas fotográficas digitais utilizadas em laboratórios. Ligado a um laptop, também pode ser transportado para o campo facil-mente, permitindo a coleta de amostragens e estudo in loco.

Foto

s Ba

sf

Novos recursos foram apresentadosem agosto, durante o Top Ciência

Equipamento lançado em 2009 auxilia na identifi-cação de pragas, doenças e daninhas nas lavouras

CC

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44 Setembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Coluna ANPII

Benefícios consolidados

Uma das tecnologias usa-das em soja mais elogia-das no mundo todo é o

uso intensivo e maciço de inoculan-tes no Brasil. É um fato que causa admiração, que se possa cultivar per-to de 25 milhões de hectares de soja praticamente com zero de nitrogênio mineral, obtendo-se elevados níveis de produtividade. Existem relatos de

de J.R. Jardim Freire e de Johanna Dobereiner, respaldados pelos atu-ais pesquisadores da área, o Brasil montou uma estrutura exemplar em fixação biológica do nitrogênio (FBN), com uma criteriosa seleção de estirpes, um sistema de reco-mendação rigoroso, em que somente as melhores bactérias entram na produção de inoculantes e com uma

Solon de AraujoConsultor da ANPII

O Brasil conquistou sua liderança, juntamente com aArgentina e o Uruguai, no uso de inoculantes no mundo

a elevada qualidade dos inoculantes comercializados no país.

Com toda esta estrutura, cons-truída ao longo de 50 anos, o Brasil conquistou sua liderança, juntamen-te com a Argentina e o Uruguai, no uso de inoculantes no mundo. Como toda a tecnologia, a inoculação tem que ser constantemente atualizada, seja através de seleção de novas

Uso de inoculantes no Brasil chama a atenção do resto do mundo, pelo incremento em produtividade e outras vantagens

proporcionadas pela tecnologia

pesquisa e de lavouras com obtenção de mais de 4.000kg de grãos/ha sem o uso de 1g sequer de outras fontes de nitrogênio: o uso de nitrogênio biológico é suficiente para suprir a planta em toda sua necessidade deste nutriente. Dados recentes de pesquisa mostram que um hectare de soja pode trazer até 300kg de ni-trogênio atmosférico para o sistema solo/planta.

Basta olhar o enorme acervo de trabalhos científicos, todos condu-zidos dentro dos moldes estatísticos que devem nortear os experimentos, para se ter a clara noção de que a inoculação é condição suficiente, em termos de nitrogênio, para se obter elevada produtividade. Existem hoje mais de 100 trabalhos científicos que demonstram, sem sombra de dúvidas, que a inoculação bem feita é condição suficiente para fornecer todo o nitrogênio do qual a soja necessita para suas mais elevadas produções.

Através dos trabalhos pioneiros

fiscalização que garante a qualidade dos produtos oferecidos ao mercado. Dentro desta estrutura, a existência de um Centro de Referência em Rhizobium, alocado na Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), em Porto Alegre, é peça fundamental para o crescimento contínuo da aplicação da FBN nas culturas de leguminosas e, mais re-centemente, nas gramíneas (em que já se utilizam bactérias fixadoras de nitrogênio).

Este centro de referência me-rece todo o prestígio das entidades governamentais e privadas ligadas à agricultura, pois ali são mantidas as matrizes das quais, a partir de uma simples ampola, são produzidas as milhões de doses de inoculante no Brasil. Esta matriz tem que estar em excelentes condições, pois, sem isto, toda a produção ficará prejudicada. E este centro de referência tem sido um dos pilares desta tecno-logia de enorme sucesso no Brasil, contribuindo de forma efetiva para

estirpes, do desenvolvimento de ino-culantes cada vez mais eficazes e de novas formas de aplicação. A cultura da soja se desenvolve continuamente e as técnicas de inoculação também devem acompanhar esta evolução. Assim, toda a energia despendida para suprir a soja em nitrogênio deve ser voltada para a FBN, pois esta tecnologia traz expressivos ganhos econômicos para o agricultor, o Bra-sil e o ambiente como um todo.

Até o momento, tudo indica que a inoculação da soja tem plenas e totais condições de suprir todo ni-trogênio necessário para a cultura mesmo que se chegue a níveis acima de 5.000kg de grãos/ha. E, a julgar pelas pesquisas que continuam em desenvolvimento, esta tecnologia permanecerá como uma das práticas mais rentáveis e atualizadas para o agricultor brasileiro. CC

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Coluna Agronegócios

45www.revistacultivar.com.br • Setembro 2011

Desafio de Produtividade de soja

Pela segunda safra consecutiva, o Cesb (Comitê Estratégico Soja Brasil) realiza o Desafio

de Máxima Produtividade de Soja, cuja cerimônia de entrega dos prêmios aos vencedores ocorreu na primeira se-mana de agosto, em Brasília. Antes de tudo, quero relembrar que não se trata simplesmente de obter a máxima pro-dutividade, porém, de conjugá-la com maior rentabilidade, com observância das legislações ambientais e trabalhistas, ou seja, em tudo lembrando o que todo o produtor de soja deve fazer, normal-mente. Os vencedores foram auditados para verificar o seu cumprimento – e todos cumpriram – caso contrário seriam desclassificados!

O desafio foi dividido em áreas irri-gadas e não irrigadas, em quatro regiões:

fio. Os cinco melhores produtores obti-veram produtividade média de 5.979kg/ha; os dez melhores atingiram 5.728kg/ha; e os 100 melhores alcançaram 4.270kg/ha. De acordo com a Conab (le-vantamento de julho/2011), nesta safra o Brasil produziu 75.039.300 toneladas de soja, em 24.158.000 hectares, com produtividade média de 3.106kg/ha. Caso a produtividade brasileira fosse igual à produtividade média de todos os sojicultores participantes do desafio, o Brasil haveria colhido 17% mais soja, na mesma área, ou seja, mais 13 milhões de toneladas. E, se a produtividade fosse igual aos dez melhores produtores, haveríamos colhido mais 69 milhões de toneladas! Os produtores líderes demonstraram que isto é possível, que a tecnologia existe. Se ela for, progres-

a produtividade variou entre 5.087 e 4.573kg/ha.

Sudeste: Ivaldo Lemes da Costa foi o vencedor, com produtividade de 5.938kg/ha (quase 100 sacos por hectare!). Do 2º ao 4º colocado as pro-dutividades situaram-se entre 5.341 e 3.876kg/ha.

Norte/Nordeste: o produtor Roberto Pelizzaro venceu a etapa regional com 6.036kg/ha, seguido por outros quatro produtores com produtividade variando de 5.920 a 5.160kg/ha. Os participantes desta região apresentaram a produtivi-dade média mais elevada entre todas as regiões.

Sul: nesta região, o vencedor foi Le-andro Sartorelli Ricci, com produtivida-de de 6.027kg/ha, enquanto os seguintes colocados desta região produziram entre

Décio Luiz GazzoniO autor é Engenheiro Agrônomo,

pesquisador da Embrapa Soja

A importância do Desafio conduzido pelo Cesb está em mostrar que dispomos de tecnologia e condições para aumentar a produtividade média da soja no Brasil

Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte/Nordeste. A partir da produtividade de 4.800kg/ha de soja foi realizada uma auditoria independente, para confirmar a produtividade e o cumprimento das regras do Desafio. Em 2010 inscreveram-se 800 participantes e, para esta safra, a adesão atingiu 1.185 sojicultores, sendo que 7-8% utilizaram irrigação. Os produ-tores eram majoritariamente do Sul (PR) e do Centro-Oeste (MT), as maiores regiões produtoras do Brasil.

A média geral da produtividade de soja dos participantes foi de 3.966kg/ha (irrigada) e 3.617kg/ha (não irrigada). A Tabela 1 mostra a distribuição dos resultados alcançados.

Interessante destacar outros resulta-dos que chamaram a atenção no Desa-

sivamente, transferida aos demais pro-dutores de soja, nos próximos 20 anos, seguramente poderemos diminuir a área plantada de soja no Brasil, aumentando a produção para atender à demanda do mercado, e com custos menores – logo, rentabilidade maior.

Os mELHOREs PRODUTOREsNa categoria Irrigada, o vencedor foi

Edinelson Lopes da Silva, que atingiu a produtividade de 5.316kg/ha. Entre a 2ª e a 4ª colocação, as produtividades varia-ram de 5.160 a 4.991kg/ha. Na categoria Não irrigada, a premiação foi regional, ficando assim distribuída:

Centro-Oeste: o vencedor foi Ed-milson Ribeiro Santana, com 5.304kg/ha, e da segunda até a quinta colocação,

5.975 e 5.074kg/ha.O vencedor nacional foi o produtor

Roberto Pelizzaro, que superou o vence-dor da safra 2009/10 (Leandro Sartorelli Ricci) por meros 9kg/ha. O fato de Ricci situar-se, por dois anos consecutivos, no topo da escala de produtividade, mostra como o sistema de produção por ele utilizado é sólido e consistente e tem permitido produzir acima de 100 sacos por hectare, em sua lavoura.

A importância do Desafio conduzido pelo Cesb está em mostrar que dispomos de tecnologia e condições para aumen-tar, consistentemente, a produtividade média da soja no Brasil. Este incre-mento de produtividade trará diversos benefícios ao País e à cadeia produtiva, sendo sempre interessante destacar que a maior rentabilidade dos produtores e a redução da área de expansão de soja são fatores fundamentais para mantermos e ampliarmos, de forma sustentável, a nossa participação no mercado interna-cional de soja. CC

Tabela 1 - Distribuição da produtividade de soja

Irrigada34121728-

Não Irrigada25032664

Kg/ha

até 3.0003.000-3.6003.600-4.2004.200-4.8004.800-5.4005.400-6.000

% Produtores

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Coluna Mercado Agrícola

Uma grande safra 2011/12 aparece no horizonte do Brasil

TRIGO - O mercado do trigo vê a safra deste ano ser consumida pelo clima, com grandes perdas no Paraná, problemas com clima também no Rio Grande do Sul e tudo indica que haverá perdas muito acima de um milhão de toneladas. O cenário obriga o país a importar mais produto e como as cotações internacionais do grão também estão em alta, com indicativos acima dos 350 dólares por tonelada nos próximos meses, isso irá refletir beneficamente no mercado brasileiro, para os produtores que conseguiram colher um bom produto, que terá fôlego para ser negociado entre R$ 500,00 e R$ 600,00 por tonelada.

ALGODÃO - O mercado andou navegando na linha negativa nas últimas semanas, mas isso pouco refletiu no ânimo dos produtores para a nova safra, porque boa parte do setor já tem negócios realizados até mesmo para a safra de 2013 e assim os custos já foram diluídos nas vendas futuras com cotações muito acima dos patamares atuais. Sinalizando que a cultura é de alta tecnologia de lavoura e também de negócios, com os produtores tendo obrigação de fechar posições nos momentos que o mercado está em alta e depois aguardar a fase de baixa passar. Segue com baixa liquidez, mas com alto potencial de lucratividade em longo prazo.

EUA - A safra está em colheita neste mês de setembro, com problemas de perdas, que segundo o USDA superam as 20 milhões de toneladas de grãos, sendo que somente o milho está perdendo mais de 15 milhões de toneladas frente ao potencial que teria se conseguisse ter plantado na hora certa. Com

mILHOSafrinha fechada e mercado em altaO mercado do milho assistiu à primeira safra

passar e às cotações avançarem. Agora, com o fechamento da colheita da safrinha (que registrou grandes perdas no Paraná e no Mato Grosso do Sul devido ao clima e à forte queda na qualidade do produto por conta de seca e geadas), começa a passar a fase de mercado frouxo e volta ao mercado de pressão positiva, porque há espaço para exportar e forte demanda nestes últimos meses do ano. A demanda de carne no mercado internacional está em crescimento. Muitos países importadores estão vindo até o Brasil em busca de oportunidade de compra de carnes e desta forma abre-se espaço para ajustes no setor e para alta no milho, que fechou a colheita da safrinha sem necessidade de apoio do governo e agora coloca nas mãos dos produtores, que ainda têm alguma coisa para negociar, fôlego para ajustes nos indicativos. Existe espaço para ganhos nos indicativos a partir deste mês de setembro. A fase de milho barato do Mato Grosso acabou em agosto e agora caminha para operar com cotações acima de R$ 20,00 na região, o que empurra os preços para

mais de R$ 30,00 no Sul e Sudeste.

sOjAPouca soja para negociar de agora em dianteO mercado da soja livre mostra escassez de

ofertas, com poucos produtores tendo o grão para ser negociado. Desta forma, a partir deste mês haverá um “descasamento” das cotações internas e externas em favor dos indicativos locais, que ten-dem a ser maiores do que os praticados no mercado externo, porque as indústrias necessitarão de soja e os produtores formarão as cotações. Isso porque parte dos que ainda têm o produto guardaram como ativo financeiro e somente o venderão quando lhes for vantajoso economicamente. Bons momentos devem vir pela frente.

FEIjãONordeste perdeu e deu fôlego às cotaçõesO mercado do feijão, que tinha como opções

de oferta em setembro e outubro o produto irrigado do Brasil Central e a safra do Nordeste (Ribeira do Pombal, Adustina e arredores), agora tem somente o irrigado central, porque o Nordeste perdeu apro-

ximadamente 80% da safra, está colhendo somente a semente que plantou e desta forma dará fôlego às cotações, que navegaram ao redor dos R$ 80,00 a R$ 110,00 nas últimas semanas na base do Carioca e agora tem espaço para ir mais longe. Tudo aponta que o Carioca Nobre, que chegará, pode novamente furar a barreira dos R$ 200,00. Com espaço até mesmo para o crescimento do feijão Preto, que tende a extrapolar os R$ 100,00 contra patamares de R$ 65,00 registrados nos últimos meses.

ARROZGanhando com apoio do governoO mercado de baixa do arroz, que até julho

vinha em marcha lenta, com cotações baixas e chegou a negociar abaixo dos R$ 17,00 entre maio e junho, em agosto mostrou avanços importantes, chegando a alcançar acima de R$ 25,00 via apoio do governo. Estão à disposição PEP, Pepro, AGF e Opções para alavancar os indicativos que devem crescer novamente nestes próximos meses, porque o mercado ficará com pouca pressão de venda e fôlego para ajustes, podendo conquistar a marca dos R$ 28,00, antes do fechamento de outubro.

CURTAS E BOASisso, o mercado internacional terá fôlego para se manter em alta por muito tempo. O consumo cresce em ritmo maior do que o avanço na produção mundial e desta forma gera apelo positivo às cotações. Neste momento, o consumo mundial, mesmo com abalos econômicos, cresce em ritmo de dez a 30 milhões de toneladas anuais, acima do que a produção consegue colocar no mercado.

CHINA - As compras seguem dentro do ritmo normal de forte crescimento do país. Com fechamentos acima das cinco milhões de toneladas de milho entre janeiro e julho e mais de 29 milhões de toneladas de soja neste mesmo período. O cenário indica que a demanda continua aquecida e o país terá que manter o avanço no mercado mundial de alimentos nos próximos anos, para assim poder continuar crescendo internamente rumo à maior economia do mundo.

ARGENTINA - Os produtores estão satisfeitos com o fechamento da safra local, que rendeu ao redor de 21 milhões de toneladas de milho, aproximada-mente 49,2 milhões de toneladas de soja, 1,78 milhão de toneladas de arroz e outras 350 mil toneladas de feijão. Além disso, uma boa safra de trigo está se apresentando e pode alcançar a marca das 17 milhões de toneladas. O país já tem como grande cliente o Brasil, que teve grandes perdas no trigo e terá de importar aproximadamente sete milhões de toneladas neste novo ano.

CLIMA - Deixa de ter importância nos EUA e na China. Agora começa a ser fator importante para safra da América do Sul.

46 Setembro 2011 • www.revistacultivar.com.br

Vlamir [email protected]

A nova safra começa a ser plantada, com as primeiras áreas com plantas já em desenvolvimento. O cenário é de otimismo dos produtores, com opor-tunidades de lucros prontas para serem fechadas, com milho tendo chances de fechamentos na exportação de 2012 e com bons lucros. A soja apresenta volumes maiores que em anos anteriores e tudo indica que já se registra o maior volume negociado de safra nova da oleaginosa da história do Brasil. Além disso, o algodão possui grandes volumes de produto fechados para entrega futura. Tudo indica que será um grande ano para o feijão, que passou por momentos difíceis nestes últimos meses. O arroz, que amargou prejuízos até julho, sinaliza também para um bom ano, novamente com avanço no potencial produtivo dos orizicultores gaúchos e catarinenses, que se manterão com expectativa de voltar a ganhar com a cultura. Os primeiros indica-tivos apontam para uma safra acima dos recordes anteriores, com expectativas de superar a marca das 170 milhões de toneladas de grãos, tendo como carro-chefe a soja (que caminha pela primeira vez na história em busca de chegar às 80 milhões de toneladas, contra 75 milhões de toneladas deste último ano). Veremos o milho em busca de bater a marca das 60 milhões de toneladas, contra pouco mais de 55 milhões de toneladas do ano anterior, com indicativos de que arroz, trigo e feijão possam ter redução de safra, devido a perdas no trigo pelo clima e redução na área dos outros dois. Desta forma, haverá um ajuste no quadro tritícola, com safra ao redor das 13 milhões de toneladas (ou abaixo) para o arroz e pouco mais de três milhões de toneladas para o feijão. Esse cenário coloca os três produtos com volume de safra menor que o consumo, o que resulta na abertura de espaço para cotações mais atrativas e lucrativas aos produtores. Mesmo com forte avanço na produção da soja e do milho, seguimos com bom potencial de preços aos produtores. Para não correr riscos, é recomendável que os produtores optem por fazer parte das negociações destes dois produtos antecipadamente, já buscando escapar do pico da oferta, que ocorre entre fevereiro e maio. A medida tem por objetivo garantir as boas cotações registradas no momento e que asseguram lucratividade. Tudo indica, novamente, que o Brasil terá uma grande safra e grandes divisas para manter e dar suporte ao saldo da balança comercial. Se não existisse o agronegócio, provavelmente seríamos um dos países mais pobres do mundo, enquanto as potencialidades nos põem a caminho de nos tornarmos um dos mais ricos do mundo.

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