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História da Habitação e Mobiliário Antonio Castelnou EXTRA 02

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História da Habitação e Mobiliário

Antonio Castelnou

EXTRA 02

Casa Brasileira

Basicamente, a habitação no Brasil foi fruto de um longo processo de adaptação a diferentes realidades sociais, políticas, econômicas e geográficas existentes em todo o país, de dimensões continentais, ao mesmo

tempo em que recebia influências exteriores.

O jeito de viver brasileiro é resultado da mistura de várias origens culturais, de bases essencialmente

portuguesas e espanholas, mas com elementos indígenas, africanos e muçulmanos e africanos, além

dos demais imigrantes e dos EUA.

A família brasileira não

foi a lusa transferida para cá, mas sim o resultado da incorporação de várias

tradições, tanto ibéricas como nativas, estas mescladas com aspectos da cultura negra e de

outras origens.

Com a chegada dos primeiros colonos, no século XVI, as

construções indígenas foram desprezadas pela classe

dominante, pois sugeriam provisoriedade e nomadismo.

Habitação indígena

Moradia colonial

Em uma ocupação que se limitou inicialmente ao litoral, foram introduzidas as técnicas

do adobe (tijolo cru) e da cantaria de pedra, que foram

associadas às práticas do pau-a-pique e taipa (sopapo e pilão).

Terminado o breve ciclo de

extração do PAU-BRASIL,

iniciou-se o grande período do açúcar nordestino, que

impulsionou as vilas fundadas a partir de 1550.

Habitações primitivas

Mapa de Giacomo Gastaldi (1550)

De traçado espontâneo e irregular, as primeiras vilas

brasileiras possuíam aparência compacta e

homogênea, de tradição medievo-renascentista.

Enquanto isso, no sertão, poucos índios e mestiços

cuidavam do gado necessário à indústria açucareira da

zona fértil das matas litorâneas, em construções

muito simples.

Vila de São Salvador da Bahia de Todos os Santos (1549)

Mapa do Brasil (1600)

Bandeira Real (Séc. XVII)

Mapas do Brasil

(Séc. XVII)

Linha Demarcatória do Tratado de Tordesilhas (07/06/1459)

Capitanias Hereditárias

O desenvolvimento do sudeste só foi possível graças ao caminho das minas e a

descoberta do ouro, o que provocou a transferência da

capital da Colônia, de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1762.

Vila de São Sebastião do Rio de Janeiro (1565)

Ouro Preto MG

Olinda PE

Mapas do Brasil (Séc. XVIII)

Mapa de Thomas Jefferys (1749)

Fronteiras definidas pelo Tratado de Madri (1750)

Mapa de George Matthäus (1740)

Neoclassicismo no Brasil

A chegada no Rio de Janeiro da Corte portuguesa (1808) provocou uma série de modificações na colônia,

tais como a abertura dos portos, a implantação da imprensa, a criação de novas escolas e a chegada de

profissionais qualificados.

Com isto e durante todo o século XIX, especialmente depois da Independência (1822), ocorreu a

europeização da cultura brasileira, assim como seu aburguesamento, pela adoção de usos e costumes

urbanos inclusive nas casas rurais.

Implantado a partir da vinda da Missão francesa (1816),

o NEOCLASSICISMO

tomou conta do país, no qual se desconsiderava as

condições brasileiras de existência para reproduzir

conceitos europeus, totalmente ausentes de originalidade ou

valor artístico próprio.

Bandeira do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve (1815/22)

Vistas do Rio de Janeiro RJ no início do século XIX Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830)

A Missão consistiu em um grupo de professores e artífices

contratados por D. João VI (1767-1826) e dirigidos por Joachin Lebreton (1760-

1819), para ensinar aos brasileiros todas as novas técnicas

e manifestações artísticas.

Entre seus principais expoentes estavam: Nicolas-Antoine

Taunay (1755-1830 ), Jean-Baptiste Debret (1768-1848)

e Auguste Grandjean de Montigny (1776-1850).

Joachin Lebreton (1767-1826)

Teatro S. João do Rio de Janeiro e Palácio de Governo de São Paulo (1827) Jean-Baptiste Debret (1768-1848)

Depois disso, os proprietários rurais e a

BURGUESIA URBANA começaram a imitar os

costumes da Corte, adotando seus padrões

artísticos oficiais, como que tentando exteriorizar os

vínculos do seu poder local com o central.

Primeira Praça do Comércio Atual Casa França-Brasil (1820, Rio de Janeiro RJ)

Academia Imperial de Belas-Artes (1826, Rio de Janeiro RJ)

Grandjean de Montigny (1776-1850)

Estilos D. Maria I D. João VI

D. João VI (1767-1826)

D. Maria I (1734-1816)

Canapé

Cadeira de bordar

Meia- Cômoda

Toucador

Cômoda

A abertura dos portos possibilitou a importação de novos produtos, que contribuíram para a alteração das construções:

Uso de platibandas com condutores e calhas ao invés de beirais

Uso de vidros simples ou coloridos nas bandeiras das portas e janelas

Uso racional de tijolos (maiores vãos e vazios) e da madeira (estrutura de cobertura calculada).

Com a Independência (1822), intensificou-se a vida social,

na qual a mulher devia aparecer em público, cujos modos e vestimentas expressavam o

status social da família.

Surgiram os PALACETES URBANOS onde o alpendre

retraiu-se ou anulou-se, aparecendo um pátio colunado

à maneira de um átrio. Ao mesmo tempo, o jardim tem seu uso aumentado como continuidade do interior.

Joaquim Cândido Guilhobel (1787-1859) Palácio Imperial – Atual Museu Imperial (1845/62, Petrópolis RJ)

Palácio do Itamaraty – Atual Arquivo Histórico (1851/55, Rio de Janeiro RJ) José Maria Jacinto Rabelo (1821-71)

O Grito do Ipiranga (1888) Pedro Américo (1843-1905)

Bandeira provisória (1822) e Bandeira do Império do Brasil (1822/89)

Independência (07/09/1822)

De composição simétrica e altamente contida, as casas neoclássicas eram feitas em pedra ou tijolo, com

elementos greco-romanos, em especial frontões, arcos,

colunas e pilastras.

Apareceu um novo tipo de residência, que representava a transição entre os velhos

sobrados coloniais e as casas térreas, a casa de porão alto, localizada em bairros

exclusivamente residenciais. 1 Salas de receber e jantar 2 Alcovas 3 Sala de viver ou varanda 4 Cozinha e serviços

Utilizadas no pavimento térreo, as CASAS DE PORÃO ALTO possuíam:

Porões mais elevados, revelando-se na fachada pela presença de óculos ou

seteiras com gradis;

Pequena escada com porta almofadada, dando acesso a um

patamar em mármore xadrez que se abria a outra porta em meia-altura, de

vidro ou madeira recortada;

Ânforas, estátuas ou fruteiras de louça sobre a platibanda da cobertura;

Mobiliário junto às paredes decoradas com papel e constituído de sofás, poltronas, pianos, espelhos, etc.

Entre as décadas de 1820 e 1850, predominou o ESTILO IMPÉRIO

BRASILEIRO, em que se reproduziram as

composições simétricas e altamente contidas, respeitando as normas vitruvianas, através do

uso de elementos e decoração neoclássica.

D. Pedro I (1798-1834)

Fachadas neoclássicas

Pierre-Joseph Pézerat (1801-72) Casa da Marquesa de Santos - Atual Museu da Moda Brasileira

(1827, Rio de Janeiro RJ)

Domitila de Castro Canto e Melo (1797-1867)

O aumento da vida social fez com que surgissem salas de recepção, jantar, escritório, biblioteca e música, com uma

grande valorização decorativa (papéis de paredes, tapeçarias, pratarias, cristais, porcelanas, etc.).

1 Saguão 8 Almoço 2 Escritório 9 Serviços 3 Salão principal 10 Cozinha 4 Sala de música 11 Quartos 5 Biblioteca 12 Sala de 6 Galeria Banho 7 Sala de Jantar

Casa Rafael Aguiar Paes de Barros (São Paulo SP)

Pav. Térreo Pav. Superior

Em paralelo à adoção de comportamentos

cerimoniais, aos poucos, ocorria uma melhoria da

PRIVACIDADE das áreas íntimas da casa (dormitórios e sala de almoço), passando o

quarto a se comunicar com um boudoir ou quarto de se trocar.

Trono

Mesa

Canapé

Estilo Império Brasileiro

D. Pedro II (1825-91)

Meridiénne

Ecletismo

Com a supressão do tráfico negreiro (1850), além da

cultura cafeeira e imigração europeia, assim como a

implantação das ferrovias entre 1868 e 1878, houve modificações na cidade brasileira, acelerando o

processo de urbanização e transferindo o polo econômico para o Sudeste e Sul do país.

Palacete Vicente de Palmeira - Atual Museu D. Pedro I e D. Leopoldina

(1850/64, Pindamonhangaba SP)

Enquanto a classe média passou a ocupar casas de aluguel com porões altos

habitáveis, a elite (latifundiários do café e industriais em ascensão) começaram a viver em

MORADIAS ECLÉTICAS, caracterizadas pela mistura

de estilos.

1 Jardim 5 Quintal 2 Sala de visitas 6 Criadagem 3 Sala de jantar 7 Dormitórios 4 Cozinha 8 Sala de banho

Pav. Superior

Esquema planimétrico de uma casa eclética