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I Fórum da Educação de Jovens e Adultos Região das Águas Roda de conversa nº 3: Matriz Curricular e Livro Didático para EJA Professora: Dinorá de Castro Gomes [email protected] Itumbiara Agosto de 2010

I Fórum da Educação de Jovens e Adultos - forumeja.org.br · SILVA,Tomaz Tadeu da. Documentos de Identidade: Uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica,

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I Fórum da Educação de Jovens e Adultos

Região das Águas

Roda de conversa nº 3:

Matriz Curricular

e Livro Didático para EJA

Professora: Dinorá de Castro Gomes

[email protected]

Itumbiara Agosto de 2010

Abordagem do tema a partir de:

SILVA,Tomaz Tadeu da. Documentos de Identidade: Uma introdução àsteorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

PAIVA, Jane. Currículo e Formação de Jovens e Adultos. Textoapresentado no seminário de Formação Continuada da SME de Goiânia paraa Educação de Jovens e Adultos, em maio de 2002.

MELLO, Paulo Eduardo Dias de. Política de Materiais Didáticos para a Educação de jovens e Adultos. Natal, RN: EDUFRN, 2009.

FREIRE, Paulo. Medo e Ousadia. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

A questão central que serve de panode fundo para qualquer teoria docurrículo é a de saber qual conhecimentodeve ser ensinado.

De forma mais sintética a questãocentral é: o quê?

Para responder a essa questão, asdiferentes teorias podem recorrer adiscussões sobre a natureza humana,sobre a natureza da aprendizagem ousobre a natureza do conhecimento, dacultura e da sociedade.

O currículo é sempre o resultado de uma seleção.

As teorias do currículo buscamjustificar por que “esses conhecimentos”e não “aqueles” devem ser selecionados.

Quando pensamos em currículo pensamosapenas em conhecimento, esquecendo-nos deque o conhecimento que constitui o currículoestá centralmente envolvido naquilo quesomos, naquilo que nos tornamos: na nossaidentidade, na nossa subjetividade.

É precisamente a questão do poder quevai separar as teorias tradicionais dasteorias críticas e pós-críticas do currículo.

As teorias tradicionais pretendem ser apenas isso:“teorias” neutras, científicas, desinteressadas.

As teorias críticas e as teorias pós-críticas, emcontraste, argumentam que nenhuma teoria é neutra,científica ou desinteressada.

Toda teoria do currículo está sempre implicada emrelações de poder.

A questão central das teorias críticas e pós-críticas não se limita a perguntar “o quê?” mas“por quê?”.

Quais interesses fazem com que esseconhecimento e não outro esteja no currículo?

As teorias críticas e pós-críticas de currículoestão preocupadas com as conexões entre saber,identidade e poder.

A dinâmica da sociedade capitalista gira emtorno da dominação de classe, da dominação dosque detêm o controle da propriedade dosrecursos materiais sobre aqueles que possuemapenas sua força de trabalho.

Essa característica da organização daeconomia na sociedade capitalista afeta tudoaquilo que ocorre em outras esferas sociais,como a educação e a cultura, por exemplo.

Há uma clara conexão entre a formacomo a economia está organizada e aforma como o currículo está organizado.

A seleção que constitui o currículoé o resultado de um processo quereflete os interesses particularesdas classes e grupos dominantes.

A dinâmica da reprodução social estácentrada no processo de reproduçãocultural.

É através da reprodução da culturadominante que a reprodução mais ampla dasociedade fica garantida.

A cultura que tem prestígio e valorsocial é justamente a cultura dasclasses dominantes: seus valores,seus gostos, seus costumes, seushábitos, seus modos de se comportar,de agir.

O currículo da escola está baseadona cultura dominante: ele se expressana linguagem dominante, ele étransmitido através do códigocultural dominante.

[Os alunos] das classes dominantespodem facilmente compreender essecódigo, pois durante toda sua vidaeles estiveram imersos, o tempo todonesse código. É o seu ambiente nativo.

Em contraste, para as crianças ejovens das classes dominadas, essecódigo é simplesmente indecifrável.Eles não sabem do que se trata.

A vivência familiar das crianças ejovens das classes dominadas não osacostumou a esse código, que lhesaparece como algo estranho e alheio.

O resultado é que os alunos dasclasses dominantes são bemsucedidos na escola, o que lhespermite o acesso aos graussuperiores do sistema educacional.

Enquanto os alunos das classesdominadas só podem encarar ofracasso, ficando pelo caminho.

As crianças e jovens das classesdominantes vêem seu capital culturalreconhecido e fortalecido.

As crianças e jovens das classesdominadas têm sua cultura nativadesvalorizada, ao mesmo tempo emque seu capital cultural, jáinicialmente baixo ou nulo, não sofrequalquer aumento de valorização.

É essencialmente através dessareprodução cultural, por sua vez, queas classes sociais se mantêm tal comoexistem, garantindo o processo dereprodução social.

Incluir o sujeito-aluno/a de EJAsignifica reafirmar o seu inequívoco papelnesse processo de propor um projetopedagógico.

O currículo, portanto, deve buscar oconhecimento como forma de repartir opatrimônio produzido por toda a sociedadede modo mais equânime.

O currículo deve preparar aspessoas para o seu tempo, ampliandosua capacidade de agir na construçãodo novo, compreendendo e criticandoo que, até então, vem sendoproduzido.

E o que se pode entender pormateriais didáticos?

Existe alguma especificidade queindique a necessidade de que livrosdidáticos sejam destacados doconjunto de materiais didáticos?

Para os educadores das chamadasteorias crítica e pós-crítica aprodução e o uso de materiaisdidáticos em situações pedagógicasestá centralmente articulada aocurrículo.

Nesta linha de pensamento, osmateriais didáticos deveriam serpreferencialmente elaborados nopróprio processo de aprendizagem, eaqueles já existentes deveriam sermatéria prima a partir da qual sepode contestar, resistir e desafiar ossignificados e as representaçõesdominantes.

Dentre os materiais didáticos mais utilizados no ambiente escolar está o livro didático.

Nas análises atuais sobre os livrosdidáticos têm-se demonstrado que osmanuais escolares ou livros didáticossão um objeto de natureza complexa,de difícil definição, e que apresentamúltiplas dimensões.

Conforme a perspectiva adotada, olivro didático pode ser analisadoenquanto uma mercadoria, um objetomaterial, veículo portador de umsistema de valores, de uma ideologia,de uma cultura, ou ainda como umdepositário dos conteúdos escolarese um instrumento pedagógico.

A educação sempre tem umanatureza diretiva, que não podemosnegar.

O professor tem um plano, umprograma, um objetivo para o estudo.

Mas existe o educador diretivolibertador, por um lado, e o educadordiretivo domesticador, por outro.

• A aula libertadora não aceita o statusquo e os mitos de liberdade. Elaestimula o aluno a desvendar amanipulação real e os mitos dasociedade. Nesse desvendamento,mudamos nossa compreensão darealidade, nossa percepção.