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' <¦/ ' * i-l.-fl&X' fti-T-1 ANNO III RIO DE 'JANEIRO, 19 DE AGOSTO DE 1883 Espectador 0R6ÃQ CONSAGRADO A ARTE DRAMÁTICA ¦¦fllll.. -C» PUBLICA-SE AOS DOMINGOS E VENDE-SE TODAS AS NOITES NASPORnS^OSJH^ATOOS IZriDIDTS Toda a correspondência deve ser dirigida á rua de D. Feliciana n. 50. Estabelecemos o preço das as- signaturas do seguinte modo: Trimestre 1#000 Semestre. 2^000 Anno 4$000 Pagamento adiantado Numero avulso 40 rs. Fazemos seiente aos Srs. assignan- les, que estamos procedendo a cobrança das àssignaturas do segundo trimestre do corrente anno, (Abri! a Junho). D'ora em diante haverá nesta jornal uma secção de annuncios, sob o titulo de—INDICA DOR—. Os annuncios para esta secção serão pagos a rasão de 60 rs. por linha, e os para a—Secção Livre—a 80 rs. ESPECTADOR Rio, 19 de Agosto de 1883. A installação da companhia da actriz-cantora Esther de Carvalho no theatro Principe Imperial, deu- lhe na noite de 14 do corrente uma casa cheia de...espectadores, de applausos e de flores. Não ha que duvidar; a maré é de felicidades para a empreza. Encetamos neste numero, ò mo- nologo, sob o titulo—O argumen- to de um drama—, escripto ex- pressamente por Echegaray, para a actriz Lucinda Furtado Coelho recitar na noite de seu beneiieio, que teve logar ultimamente em Madrid. Novidades Tlieatrae» Os ensaios opera «D. Juá- nita» no theatro das Novidades, vão adiantados, segundo nos con.sta o primeiro e o segundo acto se acham promptos. Parte da companhia lyrica- italiana do Sr. Mu sei lá, que ul- timamente trabalhou no theatro Principe Imperial, vai em pro-, cura de outras cidades, onde sejam mais freqüentados os seus espectaculos. Os ensaios da « D. Juanita» RABECADAS Apezar de tantos assumptos importantes que forneciriam «ma- teria» sufficiente para duas co- lumnas do «Espectador», nãoin- cluindo a D. Juanita; apezar da tudo isso eu não posso rabequear! » E' triste. Dr. Anísio. As recitas da companhia dra- matica da actriz Apollonia, que se acha no theatro S. Luiz, têm sido concorridas. Felizmente. RECEBEMOS O n. 2 da «LunetaD, pu- no theatro Principe Imperial, í blicaçào quinzenal. E' um inte- , „»• ressante periódico litterario e proseguem com alguma activi- 1 ___A..._F O..:-*«„ ** dade, se acha prompto o pri- recreativo, os escriptos do no- mero que temos a vista, muito meiro acto. Esta peça obrigou a j recommendam a redacção. 1 Cremos ter dito tado, fazendo empreza à retirar de scena a operela militar em tres actos '«AsGeorgianas»,que se achava em ensaios. V Quem não tem pressa em montar em scena a «D. Juanita»» é a empreza do theatro Santa Anna. Nesta companhia ainda não se efíectuou a distribuição de partes. Ao que parece a empreza está a espera da Sra. Rosa Meriss, que se acha em França, e de mais algum artista; e a ser ex- acto isto não temos senão para o íim deste anno ou priri- cipicio doentnnte a «D. Juaiii- t;i» pela companhia deste thca- Diversos escritores acompa- lmnharam o enterro. esta .declaração. ²O n. 9 do «Evolucionista» publicação quinzenal. Como sempre. Agradecemos. NOTICIAS DE FORA ²Na noite de 4 do corrente mez cantou-se pela primeira vez, em Buenos-Ayres, uma opera nova, escripta pelo maestro argentino Torrens. ²Eduardo Brazão e Rosa Da- masceno iam aproveitar as férias, visitando á exposição de Amster- dam. ²Falleceu, em Paris, a actriz Gabriella Gauthier. A sua morte causou profunda dor; Gabriella Gauthier, era uma das mais for- mosas actrizes que pisava o palco pariziense, e deixa duas vagas: uma na litteratura e outra no theatro.

i-l.-fl&X' fti-T-1 Espectador'JANEIRO, 19 DE AGOSTO ANNO IIImemoria.bn.br/pdf/369454/per369454_1883_00022.pdf · Estabelecemos o preço das as-signaturas do seguinte modo: Trimestre

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' * i-l.-fl&X' fti-T-1

ANNO III RIO DE 'JANEIRO, 19 DE AGOSTO DE 1883

Espectador0R6ÃQ CONSAGRADO A ARTE DRAMÁTICA

¦¦fllll.. -C»

PUBLICA-SE AOS DOMINGOS E VENDE-SE TODAS AS NOITES NASPORnS^OSJH^ATOOS

IZriDIDTSToda a correspondência deve

ser dirigida á rua de D. Felicianan. 50.

Estabelecemos o preço das as-signaturas do seguinte modo:Trimestre 1#000Semestre. 2^000Anno 4$000

Pagamento adiantado

Numero avulso 40 rs.

Fazemos seiente aos Srs. assignan-les, que estamos procedendo a cobrançadas àssignaturas do segundo trimestredo corrente anno, (Abri! a Junho).

D'ora em diante haverá nesta jornaluma secção de annuncios, sob o titulode—INDICA DOR—. Os annuncios paraesta secção serão pagos a rasão de60 rs. por linha, e os para a—SecçãoLivre—a 80 rs.

ESPECTADORRio, 19 de Agosto de 1883.

A installação da companhia daactriz-cantora Esther de Carvalhono theatro Principe Imperial, deu-lhe na noite de 14 do correnteuma casa cheia de...espectadores,de applausos e de flores.

Não ha que duvidar; a maré éde felicidades para a empreza.

Encetamos neste numero, ò mo-nologo, sob o titulo—O argumen-to de um drama—, escripto ex-pressamente por Echegaray, paraa actriz Lucinda Furtado Coelhorecitar na noite de seu beneiieio,que teve logar ultimamente emMadrid.

Novidades Tlieatrae»Os ensaios dá opera «D. Juá-

nita» no theatro das Novidades,vão adiantados, segundo noscon.sta o primeiro e o segundoacto já se acham promptos.

Parte da companhia lyrica-italiana do Sr. Mu sei lá, que ul-timamente trabalhou no theatroPrincipe Imperial, vai em pro-,cura de outras cidades, ondesejam mais freqüentados os seusespectaculos.

Os ensaios da « D. Juanita»

RABECADASApezar de tantos assumptos

importantes que forneciriam «ma-teria» sufficiente para duas co-lumnas do «Espectador», nãoin-cluindo a D. Juanita; apezar datudo isso eu não posso rabequear! »

E' triste.Dr. Anísio.

As recitas da companhia dra-matica da actriz Apollonia, quese acha no theatro S. Luiz, têmsido concorridas.

Felizmente.

RECEBEMOS

O n. 2 da «LunetaD, pu-no theatro Principe Imperial, í blicaçào quinzenal. E' um inte-

, „»• • ressante periódico litterario eproseguem com alguma activi- 1 ___A..._F ..:-*«„ ** ™dade, já se acha prompto o pri-

recreativo, os escriptos do no-mero que temos a vista, muito

meiro acto. Esta peça obrigou a j recommendam a redacção.1 Cremos ter dito tado, fazendoempreza à retirar de scena a

operela militar em tres actos'«AsGeorgianas»,que se achavaem ensaios.

V

Quem não tem pressa emmontar em scena a «D. Juanita»»é a empreza do theatro SantaAnna.

Nesta companhia ainda nãose efíectuou a distribuição de

partes.Ao que parece a empreza está

a espera da Sra. Rosa Meriss,

que se acha em França, e demais algum artista; e a ser ex-acto isto não temos senão lá

para o íim deste anno ou priri-cipicio doentnnte a «D. Juaiii-t;i» pela companhia deste thca- Diversos escritores acompa-lm nharam o enterro.

esta .declaração.O n. 9 do «Evolucionista»

publicação quinzenal. Comosempre.

Agradecemos.

NOTICIAS DE FORANa noite de 4 do corrente

mez cantou-se pela primeira vez,em Buenos-Ayres, uma opera nova,escripta pelo maestro argentinoTorrens.

Eduardo Brazão e Rosa Da-masceno iam aproveitar as férias,visitando á exposição de Amster-dam.

Falleceu, em Paris, a actrizGabriella Gauthier. A sua mortecausou profunda dor; GabriellaGauthier, era uma das mais for-mosas actrizes que pisava o palcopariziense, e deixa duas vagas:uma na litteratura e outra notheatro.

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ESPECTADORg .;¦' ^^^—wrgr-M,MMaa»Ja^-a^a^aMWBaWaa^^

3)evia realizar-se na noite4e 27 do mez passado o beneficioda actriz Lucinda Furtado Coelho,no theatro Baquet, do Porto.

Preparavam-lhe grandes mani-festações de apreço; para estebeneficio haviam encommendas délogares para pessoas residentesem Lisboa!

—¦ A Comedia Franceza, deParis, vai fazer «reprise» da peçaem $ actoSj de Scribe, «Bertrandet Raton», que fôra representadapela primeira vez em 1833, com osub-titulo: «ou Tart de conspi-rer».

A actriz Favart regressou |a Paris, depois de uma excursão fartística feliz e rendosa, pela Al-sacia-Lorena.

Em seguida partiu para Dun-kerque.

Representar-se-ha, no pro-ximo mez de Dezembro, no Odeon,de Paris, o famoso drama «Crom-w<*Í> de Victor Hugo, escripto em1826

Diz um jornal estrangeiro :« A peça tem scehas episódicas

interessantes, detalhes encanta-dores e typos de um alto relevocômico.

A representação do «Cromwelkserá um verdadeiro acontecimentoHa quarenta annos que Paris nãoassiste â «première» de um dramade Victor Hugo, pois que a suaultima peça, os «Burgravos», foirepresentada em 1843.

O novo drama de Victor Hugotem 5 actos: 1.° Os conjurados,2." Os espiões,3.° Os loucos, 4.° Asentinella e 5.° Os operários».

O theatro des Bouffes, emParis vai ser vendido.

Ensaia-se na Comedia Fran-ceza, afim de subir á scena no mezde Setembro próximo futuro, umanova peça de Albert Delpit, inti-tuía-se «Maucroix».

Os «Sinos de Còrneville» jáalcançaram no theatro das FoliesDramatique, de Paris, oitocen-tas e tantas representações!

Vão dar uma serie de espec-taculos no Casino de Trouville, osirmãos Coquelin, o tenor Talazacl,Margarida Ugade, e outras ceie-bridades musicaes e dramáticas.

(Disse isso dirigindo-se a um tantas emoções.: Porém eu me

creado que depois se retira, eer- distraio outra vez: ah! trabalho,

raudo a porta); ' I*•*¦"»• Entretanto recordemos

Oh ! a empreza é difflcil: ne- o argumento: o primeiro se pene-

cessito muita calma, muita pa- ' tnw-nm na idéa, abrangerá a

() ARGUMENTO DEüM DRAMA

J. ECHEGAKAY

Adama(entra pela portado fundo.)Não estou em casa para nada;

para nada comprehende o senhor ?Quero estar só.

ciência e sobretudo muito estudo.Ahi é nada: representar em cas-

telhano!Expressar sentimentos, paixões

.. .amor e ódio... tristezase ale-

grias n'um idioma distineto da-

quelle, cujos assentos acostumam-se em nossos lábios desde ainfan-cia! Eu bem sei que o publico é

amável e galante: provai tenhorecebido de sua galanteria e bon-dade, que nunca olvidarei; porémrasões demais ha para demonstrar-lheaminha gratidão... gratidão...Ah! Esta palavra.. .eunao sei... eucreio que a pronuncio mal... mas

que importa que a pronuncie mal,se eu a sinto bem! Para as almasha um idioma que sabe fallar...todo elle que sabe sentir; e esseidioma vão fallando uma comoutra correctamentee sem assentoestrangeiro, graças a Deus, a. pa-tria de Camões e de Cervantes.

(Passeiando com inquietação).Porém o tempo passa, o dia do es-

pectaculoseapproxima,e eu entroem imaginações e recordações semoecupar-me, do meu drama, demeu papel!... vamos! vamos!Ao meu drama! (Approxima-se auma mesa e toma um caderno) Atrabalhar! (Pausa) Vejo um papelgrande e difflcil! Ah ! estes auto-res! Não ha duvida são mui res-

peitaveis... porém ás vezes sãomui cruéis! Tres actos... \m\,dous, tres... (Contando-os) Elogo cheios de situações! Situa-ções cômicas, situações trágicas-suspiros, sorrisos, olhares lan-guidos; aqui devo ruborisar-mefalli devo empallidecer; luetas econflUtos... que sei eu! Vamos... vamos... (Mirando as ultimaspaginas) Me matará este senhor,emfim, porque se elle não me mataparece-me que vou a morrer com

acção dramática em seu con-

juneto. (Deixa o manuscripto so-bre a mesa e passeia meditando).

Primeiro acto. A scena repre-senta um grande hotel ou um es-tabelecimento balneário, dos damoda; eraflm, um sitio em quepode reunir-se um numerossimo

publico, boa sociedade, pessoasdistinetas, isto é, preparar a outro

''publico o que está além do prosce-nio, e com certa attenção ! Aquise esconde um bom escândalo;frueta amarga, porém appettitosa,e a única compatível, segundo ahygiene, com o uso das águasmedicinaes.

Personagens: em primeiro lo-

gar o galã e a dama.

O galã: joven e elegante man-cebo é libertino por natureza. Ea moral começa a inquietar-se. Chama-se André, e eu digosem ter confiança, que o homemnão me parece bem escolhido. Seao menos se chamasse Carlos!...

Mas, emfim, assim o quiz oautor. Passemos a segunda per-sonagem. A dama: Maria! Nomeda victima: joven, muito joven;18 annos; pura, innocente, poe-tica. extraordinariamente formosae muito boa. Essa sou eu. Istome agrada, nem sempre hei de serDalila ou Tereza Raquin; ai que*ia alternando: umas vezes maloutras bem. A monotonia é a ne-

g ição da arte e da eterna desposa-da doestio. Não conheço mais queuma monotonia aceitável: a do

publico quando applaude.

Em segundo logar: um terceiropersonagem, D. Gaspar, meupa-drasto; quero dizer, o padrastode Maria. Padrasto! que palavratão difficil de pronunciar! Quan-tas asperezas por toda ella!... Se

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ESPECTADOR

lit tao facilmente em todos os

idiomas, meu pai! minha mãi!

por nada se diz meu padrasto! se

não padrasto só; nada quero queaeja seu. Porém senhor, semeahir

em erro, porque .eu estou no meu

papel, (Maria). -

Resumemos o pesssoal do dra-

ma: Maria, André, D. Gaspar e

povo.Um anjo, que sou eu; um cava-

lheiro, que é elle; um senhor,

muito antipathico, que é o outro,

e o publico que está em accesso.Ao começar a leitura do drama,

ea imaginei que André, o anjomau, ia namorar com tenções si-nistras a Maria, o anjo bom; po-rém não era isso; Maria e Andréuao se conhecem, não se hão visto

jamais, e o primeiro acto terminasem que se vejam nem se conhe-

çam. Isto me parece já outracousa; quero dizer que André vemás escondidas, de noite, com certatimidez e mysterio, porque o iu-íame entretem reiaçôes amorosascom certa mulher casada, umadoente do estabelecimento. Daquivem o enredo, que é inútil referücom todos os seus pormenores.Isto é o que succede; e o que sue-cede algumas vezes em certoscasos; no theatro é infallivel: nosalbores da manhã o marido quechega de prompto; o amante quebusca sabida com mais pressa do<pie o marido traz; uma portamal cerrada,qae se abre sem ruido;liaria que dorme, sonhando comos anjos, era seu leito virginal.André, que sem reparar na mini-ua, passa cauteloso e desorientadopor uma febre da impureza de suasveias; a porta do corredor cer-rada; ás rolulas das venezianasentre-abertas; o seduetor, que seprecipita pela janella e o seu ca-vallo toma, e para sempre se vai

• •. longe muito longe sem cuidar«te que levava a honra de um serpuro em troca da infâmia e do«scandalo.

(Continua).

HÜGQ LEAL

(Ao amigo 9 poeta B. Pi ato)

À 'POSSlA.

Aqui sobre esta campa, espera caminheiro...Nós somos viajores d'uns áridos sertões-^-Que fazes, bella virgem, diante deste túmulo.— A tarde a contemplar da noite as cerraçoes^—!

Tu és a vida; e a vida a contemplar a morte !E pedes pelo bardo em tremula oração. . ,Porque choras assim? amava-o por ventura?Ai, pobre phantasia... ai, pobre coração!

A lagrima aljofrada, o pranto de tua alraaSão mysticos orvalhos de novos arreboesEspalham-se em teus olhos os brilhos d'alvoradaEspalham-se em teus olhos os raios doutros soes!

Abriste por accaso os seios ao poeta?. . .P'ra que deixaste, pois, partir o sonhador!!Ah! louca Poesia, quedorlethaIat.ua!. . .Não perturbes assvo o somno do cantor!. . .

Resa baixinho, assim. . . não ves pois elle dorme,Sonha talvez comtigo, estrella matinal

Noiva da solidão ríum véu estrellejanteFilha da madrugada — amante do ideal í

Mais vejo-te chorai'! Não curves tanto a fronteBeijas a gelidez do marmor tumular?No ninho de teus seios o pranto vai crescendo,Socega, alma infantil, . . . deixai-o repousar!

\ pátria

A noite se approxima tristemente,Desce do espaço a negra cerração,Vai-te, pois, bella amante vaporenta,Deixa lugar á estrella macilenta— A scismadora eterna d'amplidão —!

Quando reina o silencio nestes laresQuando a brisa suspira eternos «ais*Brilha um raio d'estrella n'esta campa.Baio que tomba, desce peln rampaDos céus azues, dos céus auroreaes. .

E o sol brazileo entorna-lhe no túmuloUma porção de luz e de fulgorEmquanto a Pátria chora desgrenhadaSobre a campa trevosa, regeladaEm que repousa —o bardosônhadoi!.

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-ESÇEGÍADQR

III

0 TÚMULO

*

AU» não pulsa o coração nem sentoMnrtyrios do viver, quem já não vive 1

(G. Dias).

Todos querem ornar-te o sepulturaA brisa jo<ra-te um milhão de floresn, a estrella vesper n*uui desmaio langueBeija-te a campa—sonhador de amores 1

E o vento passa perguntando ao espaçoQjae canto è cstè que o persegue assim

Barpejos magos, divinaes, celestes,Notas que fogem pelos mil cyprestes

Murmúrios brandos d-um cantar setn fim!

Mas Deus responde na solidão dos astros :Quem canta é o bardo que íepousaalli,Erguei a lage, . . quanta luz lá dentro!.Vèrfe?; . . dá campa no funeréo centroEnVóltò éft louros o cantor sorri!. . .

1883.Honorio Nascimento.

Passou-se ha mezes, n'ümtheatro de Bruxellas, este casoengraçadissimo.

Organizai a-se uma«matinóc»em beneficio d'um dos artistasdo theatro. A' hora annunciadapara a representação, havia nasala tres pessoas apenas: duassenhoras e um homem.

O contra-regra apercebe-sedesta situação lamentável, e,querendo poupar ao artista be-neíiciado o desastre que o espe-rava, manda levantar o panno.— Minhas «senhoras e... meusenhor, como as despezas da«matinèe» excedem muito a re-ceita, o beneficiado renuncia aosproventos do espectaculo.

Réstituiu-se o dinheiro aostres espectadores e fechou-se aporta.

VARIEDADEUMA HISTORIA VULGAR

(A Boa ventura P nto)

Arthur morava no Jardim Bo-tanico. Era elle de uma destasorganisaçòes delicadas onde asensibilidade e a imaginaçãopredominam excessivamente, e

onde ha o amor a tudo que é

grande e bello.A natureza e seus phenome-

nos seduziam-no.Quando a estrella cfóilva pre-

nunciava a aurora — prophetizada luz—elle já se achava no seu

jardimzinho a espera que o solsacudisse a sua luminosa juba;quando o crepúsculo—beijo danoite—sombreava á terra e abrisa suspirava uns idyllios áscientes rosas, Vésper castamentese reflectia no manto azulado dofirmámento,e a natureza espre-quiçava-se voluptuosamente en-volvida em mystico silencio in-terrompido de quando em vez

pelo plangenle dobre do campa-nano tangendo «Ave-Maria», eo céo encrustado deestrellas, deestrellas— bagas do pranto danoite—elle scismava.

Sua imaginação esvoejavapelos olorosos jardins da poesia,sorvendo os perfumes arrebata-dores de suas odorosas llores, e

Poesia ao céo do Amor! Entãoidealisava ixmx mulher de bel-te ésculpturali de cábellòs ne-gròãicomò as faucesd'umáby sinoé amante casta cotiro Beatriz.N'um baílé vira umá mullier

que correspondia quasi ao seuideal physico de mulher. Elle aamava. Sentira por ella um amorexpontâneo e inexplicável. Ma-nifestara-lhe o seu amor, ella oaceitara.

Todas as tardes elle ia áó RioComprido vel-*a.

Vivia para aquelle amor, estamulher Herminia ocCupava todaa sua vida, enchia todos os seusdesejos, era todo o seu pensa-mentò. Perdel-a era morrer!Ha um anno que se amavam.Uma doença grave prostraraArthur por 15 dias sem vel-a!

Que torturas para um coraçãoapaixonado!... Restabelecera-see o seu primeiro cuidado foivel-a.

Ia sahindo, um carteiro en-trega-lhe uma perfumosa carta.Beija-a, rasga o envolucro e ex-clama:

— Ií delia! Aberta a cartaencontra um cartão de Herminiaconvidando-o para assistir o seucasamento que deve eíTecluar-seno dia seguinte. Pelo rosto deArthur a pallidez se derramarae o corpo cedendo ao pezo dador cae inerte.

Um anno depois via-se ummoço pallido, maltrapilho, per-seguido por uma multidão de

garotos. Este moço era Arthur:estava louco.

A turba que passava ria-sedas carantonhas do louco!

Desditoso moço!Benkdicto Juniou.

depois librando-se nas azas da' Ty particular do «Espectador