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I SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM PRISÃO -
ANDHEP e o Núcleo de Estudos do Crime e da Pena da Escola de Direito da FGV
02 de Outubro de 2015, Faculdade de Direito da USP, Largo de São Francisco, São Paulo/SP
GRUPO DE TRABALHO GT07: GRAVES VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PRISÃO
MASSACRE DO CARANDIRÚ - IMPUNIDADE DOS CRIMES DE SANGUE E
RESPONSABILIDADE - UM RELATO PESSOAL
FLÁVIO AUGUSTO SARAIVA STRAUS – Advogado inscrito na OAB/SP, Mestre em Direito do
Estado pela PUC/SP e Doutorando em Direitos Humanos pela FADUSP
Resumo: Massacre do Carandirú: Impunidade dos Crimes de Sangue e de Responsabilidade, um
relato pessoal. – Descreve o crime de responsabilidade que originou esta gravíssima violação de
Direitos Humanos pelos poderes públicos brasileiros, até hoje basicamente impune, ao permitir
por telefone o então Secretário de Segurança Pública e Sistema Penitenciário, ironicamente um
"Procurador de Justiça" oriundo do Ministério Público Paulista, assim como o Governador do
Estado que o nomeou, que um Coronel da Polícia Militar comandasse ao seu arbítrio a solução de
um motim de internos do Pavilhão 9 da Casa de Detenção Flamínio Fávero, notoriamente
destinado aos "primários", ou seja, àqueles que ali detidos pela primeira vez no estabelecimento,
sem reféns ou tentativas de fuga, quando presentes e em plena negociação com os amotinados
todas as autoridades civis necessárias e suficientes para lidar com este tipo de situações, a saber
o próprio Diretor da Casa, seu superior, o Coordenador dos Estabelecimentos Penitenciários, um
Juiz Corregedor dos Presídios e até mesmo o Secretário Adjunto para os presídios do mesmo
Secretário de Segurança, ao arrepio da Constituição Estadual, que determina aos Poderes
Estaduais o respeito às Regras Mínimas para Tratamento de Reclusos da ONU, as quais, por sua
vez, recomendam que jamais se ponham a cuidar de presos ou com eles ter contato policiais e/ou
militares, quanto menos policiais militares, relato este baseado na experiência pessoal do autor
como então Coordenador da Subcomissão de Política Criminal e Penitenciária da Comissão de
Direitos Humanos da OAB/SP.
MASSACRE DO CARANDIRÚ - IMPUNIDADE DOS CRIMES DE SANGUE E
RESPONSABILIDADE - UM RELATO PESSOAL
“Os últimos 15 PMs julgados pela participação no massacre do Carandiru foram
condenados nesta quarta-feira (2) pelo assassinato de quatro presos. Cada um
dos policiais recebeu pena de 48 anos de prisão. Além deles, outros 58 policiais
já tinham sido condenados em três júris anteriores. Todos vão recorrer em liber-
dade da decisão que foi tomada pela primeira instância da Justiça.
Ocorrido em outubro de 1992, o massacre teve como estopim de uma briga en-
tre detentos. O processo tem, ao todo, 57 volumes, 111 apensos e 50 mil pági-
nas. Por conta do número de réus, a Justiça desmembrou o caso em quatro par-
tes ou júris diferentes, correspondentes aos andares invadidos. O critério foi jul-
gar o grupo de policiais militares que esteve em cada um dos pavimentos onde
presos foram mortos.
Somados os quatro júris, 73 policiais foram condenados por 77 mortes. Essa di-
ferença de 34 homicídios (do total de 111 mortos) pode ser explicada pelas ex-
clusões ou absolvições pedidas pelo Ministério Público. A maioria em decorrên-
cia da suspeita de que detentos feridos com armas brancas tenham sido mortos
por companheiros. Eles receberam penas que variam de 96 a 624 anos de pri-
são.
(...)
Antes dos julgamentos, somente um acusado havia sido julgado: o comandante
da operação, coronel Ubiratan Guimarães. Ele foi condenado em 2001 a 632
anos de prisão, em júri popular, por ter dirigido a operação. Em 2006, o júri foi
anulado pelos desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).
Meses depois da absolvição, Ubiratan foi morto a tiros no apartamento onde mo-
rava, nos Jardins.”
Portal G1- 02/04/2014 18h25 - Atualizado em 02/04/2014 20h40
“Sentenciados a 156 anos de prisão, os 23 dos 26 policiais militares
condenados no último domingo pela morte de 13 presos no massacre do
Carandiru, em 1992, permanecerão livres. E isso deve continuar pelos próximos
anos.
"Na minha opinião, deve demorar até oito anos para que os réus do Carandiru
passem a cumprir pena", diz o presidente da Comissão de Direitos Humanos da
OAB-SP, Martim de Almeida Sampaio, ao comentar quais devem ser os
resultados imediatos do julgamento. Logo após a leitura da sentença, Justiça
concedeu aos réus o direito de recorrer em liberdade, algo previsto em lei.
"Pensado no caso, o que vem à memória é o caso do Pimenta Neves, onde se
passaram quase cinco anos entre a condenação e a execução da pena", disse
Sampaio.
A morosidade para garantir Justiça aos 111 presos mortos é habitual: passaram-
se mais de 20 anos até que este primeiro grupo de PMs fosse julgado pelo
massacre. Agora, com as primeiras condenações, deve começar a longa fase
em que os réus apresentarão recurso e depois terão novo julgamento no
Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) - possivelmente o caso ainda será
levado a instâncias superiores.
No entanto, o presidente da comissão da OAB afirma ainda que mesmo com
essa previsão de oito anos para o desfecho do caso, a "tendência" é que o TJ
absolva os réus. "No TJ, o caso vai ser submetido a uma turma técnica, que dá
grande valor a esses aspectos [técnicos]. A defesa tem um forte argumento, que
é esse que a promotoria não conseguiu individualizar a conduta de cada policial,
já que muitas provas se perderam com o tempo e nunca foram realizadas
perícias adequadas. Os desembargadores devem levar isso em conta. Em um
júri comum, o debate é outro, e aspectos como emoção e postura têm mais
influência, o que não acontece em uma turma do TJ. A tendência é que eles
sejam absolvidos", diz Sampaio.
Foi o que aconteceu com o coronel Ubiratan Guimarães, responsável pela
operação policial no Carandiru e o primeiro réu julgado pelo massacre. Em 2001,
ele foi condenado por um júri a 632 anos de prisão, mas não passou um dia na
cadeia enquanto recorria. O julgamento do recurso no TJ demorou quase cinco
anos, e terminou com a absolvição do coronel, que passou a desfrutar em paz,
pelo menos por alguns meses, da sua condição de deputado estadual, até ser
assassinado em setembro de 2006.”
Portal VEJA - Por: Jean-Philip Struck 22/04/2013 - Atualizado às 19:00
“Eichmann em Jerusalém - Um relato sobre a banalidade do mal [1] (Original
em inglês: Eichmann in Jerusalem: A Report on the Banality of Evil) é um livro da
filósofa alemã, Hanna Arendt, sobre o julgamento de Adolf Eichmann, em Jeru-
salém, publicado em 1963. Arendt, judia alemã que havia fugido do regime na-
zista, cobriu o processo de Eichmann numa série de cinco artigos para a revista
The New Yorker, os quais mais tarde dariam origem ao livro.
Em 1960, sequestrado num subúrbio de Buenos Aires por um comando israelen-
se, Adolf Eichmann foi levado até Jerusalém para o que deveria ser o mais midi-
ático julgamento de um nazista desde o tribunal de Nuremberg. Mas, segundo
Arendt, durante o processo, em vez do monstro sanguinário, que todos espera-
vam ver, surge um funcionário, um burocrata. É justamente aí que Hannah A-
rendt descobre a banalidade do mal. Numa mescla brilhante de jornalismo políti-
co e reflexão filosófica, Arendt investiga a capacidade do Estado de igualar o e-
xercício da violência homicida ao mero cumprimento da atividade burocrática..”
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
São Paulo, 02 de Outubro de 2015 (23 anos do massacre impune).
O nome deste trabalho é Massacre do Carandirú - Impunidade dos crimes de sangue e
responsabilidade - um relato pessoal.
Como diz o título, é um relato pessoal, e não um trabalho acadêmico, pois vou lhes contar o que
aconteceu comigo desde o dia do massacre, e até um pouco antes, até hoje.
Eu pretendia apresentar esse trabalho na plataforma da GV-LAW sobre o Carandirú, mas não foi
possível filmar, até agora, então o estou fazendo neste Primeiro Seminário Internacional sobre
Pesquisa em Prisão, da ANDHEP, e desde já aproveito para deixar claro que fico à disposição de
quaisquer pesquisadores que queiram aprofundar-se mais no tema, enquanto testemunha dos
fatos.
Meu nome é Flávio Augusto Saraiva Straus, sou advogado, mestre em Direito do Estado pela
PUC-SP, estou fazendo doutorado aqui na USP, em Direitos Humanos, com o professor
Guilherme Assis de Almeida como meu orientador. Mas eu não estou fazendo nessa área, estou
investigando a cláusula democrática dos tratados de integração regional econômica como forma
de proteção aos Direitos Humanos. Eu venho apresentar esse trabalho em face da minha
experiência como Coordenador da Subcomissão do Sistema Prisional da Comissão de Direitos
Humanos da OAB de São Paulo, de 1991 a 1993, em dois mandatos seguidos, do doutor Batochio
e do doutor Piza como presidentes da OAB/SP. O massacre aconteceu durante o mandato do
doutor Batochio.
Um pequeno antecedente que eu faço, e está no ‘hand out’ distribuído, é em relação à
Constituição do Estado de São Paulo, porque algum tempo antes eu fui assessor da Deputada
Clara Ant, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, e ela me cedeu, junto a outros
assessores do PT, para o gabinete da Liderança da Bancada, que então era de Luiza Erundina, a
líder do PT na Assembleia, durante a época da Constituinte Estadual, e nós assessoramos o
Grupo de Trabalho dos Deputados que escreveram o projeto que depois foi votado como
Constituição estadual, e nós tivemos a oportunidade de fazer muitas contribuições em relação à
questão prisional, em especial uma do grande Procurador, então Procurador da Procuradoria de
Assistência Judiciária do Estado, hoje a Defensoria Pública, Pedro Egydio de Carvalho, que trouxe
essa ideia: vamos introduzir, na Constituição Estadual, as Regras Mínimas pra Tratamento de
Reclusos ONU.
Então ele fez essa proposta, que nós fizemos através do PT, e conseguimos colocar esse artigo
143 na Constituição Estadual, que diz o seguinte:
“A legislação penitenciária estadual assegurará o respeito às regras mínimas da Organização das
Nações Unidas para o tratamento de reclusos, a defesa técnica nas infrações disciplinares e
definirá a composição e competência do Conselho Estadual de Política Penitenciária.”
Essas duas últimas questões, a defesa técnica nos procedimentos disciplinares dentro dos
presídios e um Conselho Estadual de Política Criminal e Penitenciária, foram as minhas
contribuições a esse Grupo de Trabalho, o que eu acho que tem relevância, porque quando
finalmente eu integrei a Comissão de Direitos Humanos da OAB, e desde o inicio coordenei essa
Subcomissão do Sistema Prisional, que hoje é uma comissão autônoma dentro da OAB de São
Paulo, a Comissão de Política Penitenciária, pouco tempo depois do início do mandato, o
governador Luiz Antonio Fleury Filho assumiu o Governo do Estado, convidou Pedro Franco de
Campos, um outro membro do Ministério Público de São Paulo, como ele, Fleury, para ser
Secretário de Segurança Pública, e, logo em seguida, eles fizeram aquilo que eu considero que foi
um crime de responsabilidade: eles juntaram a administração do Sistema Penitenciário à
Secretaria de Segurança Pública, e constituíram esse Conselho de Política Criminal e
Penitenciária no seio da Secretaria de Segurança Pública, no qual eu era o representante da
OAB.
Nós não pudemos nos reunir mais do que duas vezes, quando sobreveio o massacre. No dia do
massacre, eu fui procurado pela minha antiga orientadora do Departamento Jurídico do Centro
Acadêmico XI de Agosto, Marilia Kriker Borges, dizendo que estava acontecendo alguma coisa na
Casa de Detenção, alguma coisa grave. Nós fomos procurar o doutor Batochio, que era o
Presidente da OAB, ele me deu uma carta de representação sua perante todo o Governo, e eu fui
para a porta da Casa de Detenção, junto à Doutora Marília. Cheguei lá, tentei entrar, não me
permitiram, no portão externo, e então eu pedi que entregassem essa carta ao Diretor Pedrosa,
que era o Diretor da Casa de Detenção de então. Eles levaram essa carta, e duas horas depois o
Pedrosa mesmo veio até o portão de grades e me disse: "olha, Flávio, eu conheço seu trabalho,
respeito, respeito muito o Doutor Batochio, mas não sou eu que estou mandando lá dentro; quem
está mandando são os Coronéis", e por isso não me deixou entrar.
No dia seguinte era dia de eleições, eu fui presidente de mesa em uma seção aqui na São
Francisco, quando a minha ex esposa e minha filha vieram me dizer: "olha, olha o jornal aqui, 111
mortos pelo menos". A partir da segunda feira seguinte, dia 4, começou a apuração, nós fizemos
uma reunião plenária de entidades de Direitos Humanos na OAB de São Paulo, veio o Presidente
Nacional da OAB, Marcelo Lavenére, veio Aristides Junqueira, o então Procurador Geral da
República, a Comissão de Justiça e Paz, a ABI e várias outras entidades, e nós tiramos uma
pauta de reivindicações, da qual eu fui portador ao Governador Fleury no dia seguinte. A primeira
delas era a exoneração imediata de Pedro Franco de Campos, para garantir uma apuração isenta,
da qual participassem representantes daquelas entidades.
Quando nós chegamos ao Palácio dos Bandeirantes fomos recebidos pelo Secretário de Governo,
Claudio Alvarenga (também oriundo do MP paulista), porque o Governador Fleury deixou o
Palácio assim que chegamos, e houve um membro da SBPC (Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência), que não havia participado da reunião no dia anterior, que tomou a palavra
e procurou contemporizar um pouco as coisas, dizendo ao Secretário: "veja, Secretário, nós não
estamos aqui exatamente atacando o Secretário Pedro Franco de Campos, mas nós queríamos
medidas de apuração", e aí eu tomei a palavra, dizendo "olha, sinto muito secretário, a SBPC não
estava presente na plenária e assembleia de ontem, nossa primeira reivindicação por óbvio é a
imediata exoneração do Secretário, para que a apuração possa ser feita como um mínimo de
lisura", e três dias depois Pedro Franco de Campos pediu a própria exoneração ao Governador
Fleury, e foi exonerado, foi aceito o pedido.
Houve uma apuração, com o acompanhamento da OAB, através do Dr. João Benedito de
Azevedo Marques, e várias entidades da Sociedade Civil também acompanharam, e a primeira
coisa que ficou muito clara, que foi o centro do crime, que eu chamo de crime de responsabilidade
e origem dos crimes de sangue que ali aconteceram, foi o Coronel Ubiratan Guimarães, da PM,
contar que recebeu um telefonema do Secretário Pedro Franco de Campos, de fora,
provavelmente do Palácio dos Bandeirantes mesmo, dizendo: "Coronel, o senhor está no
comando, o senhor resolve o que o senhor faz aí". Isso, apesar e todas as autoridades civis
possíveis e imagináveis estarem presentes. Estava lá o Pedrosa, Diretor da Casa de Detenção, o
chefe dele, o Coordenador dos Estabelecimentos Penitenciários do Estado (da COESPE), um Juiz
Corregedor, não era “o” Juiz Corregedor, que na época já não era mais uma pessoa só, era um
jovem Juiz Corregedor, e o próprio doutor Fillardi, que era o Secretário Adjunto de Pedro Franco
de Campos, justamente para os presídios. Eles estavam negociando, era uma rebelião no
Pavilhão 9, que era o pavilhão conhecido como “dos primários”, não exatamente primários, no
‘stricto senso’ do ponto de vista processual penal, mas aqueles que adentravam a Casa pela
primeira vez. Os reincidentes ficavam no pavilhão 8, e quem chegava pela primeira vez ia para o
Pavilhão 9, que era justamente no fundo da Casa de Detenção.
Era uma briga entre os presos, não havia reféns, não havia tentativa de fugas, e havia sim
negociação com toda essa comissão de autoridades civis necessárias e suficientes, para resolver
o problema, quando o Pedro Franco de Campos, por telefone, disse a Ubiratan:
“O senhor faz o que achar necessário.”
Então, conforme declarado logo no início da apuração pelo próprio Fillardi, secretário adjunto de
Pedro: "Aí foi o estouro da boiada". Aquelas autoridades civis que estavam presentes entre uma
grade e outra, a grade onde estavam os presos que estavam negociando, e uma grade anterior,
estavam ali no meio, e a PM estava atrás dessa primeira grade. Como disse Fillardi, foi o “estouro
da boiada”, porque eles entraram de uma tal maneira que essas autoridades civis, inclusive
Fillardi, foram prensadas na parede pela grade que se abria, enquanto eles invadiam pela outra
grade. A partir daí é o que todos nós sabemos, pelo menos 111 mortos, porque os presos, depois,
na apuração, disseram que haveria mais, que não teriam família, não teriam nenhum vínculo,
então poderiam ter sido jogados em um poço sem fundo que haveria por lá, mas pelo menos 111
mortos houve.
Desde então eu tentei, como Coordenador da Sub-comissão do Sistema Prisional, convencer os
meus colegas da Comissão de Direitos Humanos da OAB a propor ao Conselho da OAB de São
Paulo um processo por crime de responsabilidade contra o Governador Fleury e contra Pedro
Franco de Campos pelo massacre. Hoje a Constituição Estadual mudou, mas na época a
legitimidade era restrita, e a OAB tinha essa legitimidade, para propor o processo por crime de
responsabilidade. Levei algum tempo para convencer os meus pares na Comissão de Direitos
Humanos, mas finalmente consegui uma decisão unânime, e eu o propus ao Conselho da OAB.
Só que, no Conselho, foi nomeado um Conselheiro, Walter Ceneviva, como relator da matéria, e
ele se baseou na interpretação literal da lei 1.079 de 1950, que é a lei de Crimes de
Responsabilidade, a que dizia o seguinte (em primeiro lugar):
“Art. 1º São crimes de responsabilidade os que esta lei especifica.
(...)
Art. 4º São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentarem
contra a Constituição Federal, e, especialmente, contra:
(...)
Art. 7º São crimes de responsabilidade contra o livre exercício dos direitos políticos,
individuais e sociais: (...)
9 - violar patentemente qualquer direito ou garantia individual constante do art. 141 (Dos Direitos e
das Garantias individuais - Art 141 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, a segurança
individual e à propriedade, nos termos seguintes: - que era o artigo da declaração de direitos da
constituição de 1946 que depois foi substituído pelo artigo 153 da constituição da emenda no 1 de
1969, durante a ditadura, e finalmente pelo artigo quinto da nossa constituição atual, todos com
uma redação muito parecida, obviamente começando com o direito a vida, como o primeiro direito
a ser garantido) e bem assim os direitos sociais assegurados no artigo 157 da Constituição;
(...)
Art. 9º São crimes de responsabilidade contra a probidade na administração: (...)
3 - não tornar efetiva a responsabilidade dos seus subordinados, quando manifesta em
delitos funcionais ou na prática de atos contrários à Constituição;
(...) DOS GOVERNADORES E SECRETÁRIOS DOS ESTADOS
Art. 74. Constituem crimes de responsabilidade dos governadores dos Estados ou dos seus
Secretários, quando por eles praticados, os atos definidos como crimes nesta lei. (...) Art. 76. (...).
Parágrafo único. Não será recebida a denúncia depois que o Governador, por qualquer
motivo, houver deixado definitivamente o cargo.”
Vejam que aqui se está falando só do Governador, não se está falando do Secretário, o que é uma
coisa que faz sentido, porque, se o governador deixar o cargo, ele provavelmente será sucedido
por um opositor político, e seria muito fácil esse opositor persegui-lo, politicamente, usando essa
lei, mas, quanto a um Secretário, ainda mais um Secretário quando o Governador que o nomeou
ainda está no poder, isto é ridículo, mas Walter Ceneviva se apoiou nisso pra dizer que não havia
o crime de responsabilidade. Eu defendi o contrário, não só contra o Secretário como contra o
Governador, porque a constituição diz que São Paulo respeitará as Regras Mínimas para
Tratamento de Reclusos da ONU, e as Regras Mínimas recomendam que jamais se coloquem
policiais, ou militares, para cuidar de presos, quanto mais policiais e militares, como o Coronel
Ubiratan, justamente quando havia todas as autoridades civis presentes.
Desde o momento em que eles se reuniram a Segurança Pública e o Sistema Penitenciário, em
minha opinião, estavam incorrendo em um crime de responsabilidade. Não consegui fazer
prevalecer este entendimento, o Conselho da OAB não processou nenhuma daquelas
autoridades, e, pouco tempo depois, eu fiquei mais três meses na Comissão, saí, fiquei um tanto
quanto desiludido da vida, e agora estou voltando ao estudo dos Direitos Humanos.
Como conclusão, lembrando que Ubiratan Guimarães, no fim de sua vida, com a namorada Carla
Cipolina morou muito perto de minha casa, e que o dono da lavanderia da esquina chegou a
comentar, outro dia, sobre o Coronel, que "aquilo sim era homem de bem, tinha só quatro
camisas, ele podia ter tudo mas tinha só quatro camisas, vinha aqui e conversava conosco...",
fiquei pensando muito, naquela história que a Hannah Arendt conta, “Eichmann em Jerusalém”,
que mostra que Eichmann era simplesmente um burocrata, um homem comum, que era a média
do alemão médio, que recebe ordens, cumpre as ordens e não questiona.
Ubiratan recebeu ordens de assumir a responsabilidade, e por trás dele havia uma “boiada” de
capitães, majores, da ROTA, da Tropa de Choque e que tais, que estavam loucos pra soltar os
cachorros e as metralhadoras, praticamente o empurraram, ele tinha que fazer isso, senão ele iria
perder a vergonha ante a tropa, e logo em seguida ele declara, na apuração, que estourou um
bujão de gás, ele foi atingido no tímpano e teve que ficar de lado. Na verdade, ele estava era
morrendo de medo, e ficou de lado, mas ele foi, digamos assim, uma peça errada no momento
errado, e ele chegou a ser condenado, só que depois, o órgão especial do Tribunal de Justiça,
presidido por um Desembargador que fora Professor de Direito Civil na Universidade Paulista,
sem que lhe constasse, salvo engano, qualquer tradição em Direito Penal, anulou aquele Juri que
realmente teria consagrado a punição devida, ao lado daquela dos demais oficiais envolvidos.
Quanto aos soldados, que realmente também “estavam no meio da boiada”, sendo empurrados
pelos que vinham atrás e acreditando que devessem “matar ou morrer” (muito declararam que
circulou entre a tropa, logo antes da invasão, a versão de que os presos costumassem usar
estiletes, ou até lanças improvisadas, para embeber em sangue de aidéticos e contaminar os
policiais invasores...), não deverá acontecer nada muito diferente, quando se concluir o
julgamento de seus recursos no Tribunal de Justiça, conforme declarou o coordenador da
Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP, no trecho transcrito em epígrafe, e/ou nos Tribunais
Superiores, não havendo provavelmente condenação que se sustente, até porque as provas
foram todas desfeitas antes da perícia, e esta ficou imprestável para uma responsabilização
individualizada, como se deve, em Direito Penal.
Não temos, portanto, qualquer expectativa de punição, o que, como o Professor Guilherme, em
outros estudos, mostra muito bem, para o Tribunal de Justiça de São Paulo é uma política, não é
um acaso, inclusive em pedidos de indenização negados a Mães de presos mortos, ou seja, é isso
que nós estamos vivendo, em âmbito local, e tampouco se poderia esperar melhor sorte de
qualquer tentativa de responsabilização do Brasil, por negativa da Proteção Penal contra Graves
Violações de Direitos Humanos, perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos, cuja
iniciativa privativa seria da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, porque há a exigência
de se ter de esgotar os recursos nacionais como condição prévia de procedibilidade, e
possivelmente a Comissão concluísse que "ainda haja recursos em trâmite contra a decisão do
Juri dos policiais", como referido nas epígrafes, ficando de mãos atadas para seguir adiante.
O Professor Guilherme também observou, neste mesmo Grupo de Trabalho sobre Graves
Violações de Direitos Humanos do Primeiro Seminário Internacional sobre Pesquisa em Prisão,
que já foi feita há muitos anos representação a respeito à Comissão Interamericana de Direitos
Humanos, pela America’s Watch, CEJIL e Comissão Theotônio Vilella, então presidida por Paulo
Sérgio Pinheiro, e que uma das “defesas” do Estado brasileiro fora justamente informar sobre
convênio entre os Governos da União e do Estado de São Paulo para destruição física da Casa
de Detenção Flamínio Fávero, o que se esperava, entretanto, não para restringir o Direito à
Memória, mas para fazer cessar as graves violações de Direitos Humanos que ali ocorreriam,
reiterada e sistematicamente, não apenas durante o Massacre de 02 de outubro de 1992 como
antes e depois dele, em um presídio feito para receber provisoriamente menos de 3.000 detentos,
e normalmente superlotado com mais de 7.000. Tal medida foi finalmente implementada, durante
o primeiro Governo de Geraldo Alckmin, sendo o presídio implodido e substituído pelo “Parque da
Juventude”. Lá, entretanto, restou uma pequena sala dedicada ao “Memorial do Carandirú, onde
um único cartaz se refere ao ocorrido em 02 de outubro de 1992 como “um motim de presos que
deixou 111 mortos”...
Do relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos acima referido, destacamos os
seguintes trechos (in ”https://www.cidh.oas.org/annualrep/99port/Brasil11291.htm”):
“RELATORIO Nº 34/00
CASO 11.291
(CARANDIRU)*
BRASIL
13 de abril 2000
I. RESUMO
1. Em 22 de fevereiro de 1994, a Americas Watch, o CEJIL e a Comissão Teotô-
nio Vilela apresentaram esta petição contra a República Federativa do Brasil (do-
ravante denominada "Estado" ou "Brasil") por motivo de fatos que ocorreram em
2 de outubro de 1992 na Casa de Detenção Carandiru, na cidade de São Paulo.
Ela se refere, em síntese, à morte de 111 presos (dos quais 84 processados mas
ainda não condenados) e a lesões graves sofridas por outros internos durante a
repressão de um motim de detentos, ações supostamente praticadas pela Polí-
cia Militar de São Paulo em 2 de outubro de 1992. Os peticionários solicitam que
o Estado seja condenado pela violação dos artigos 4, 5, 8, 25 e 1(1) da Conven-
ção Americana sobre Direitos Humanos (doravante denominada "Convenção")
relativos aos direitos à vida, à integridade pessoal, ao devido processo e à prote-
ção judicial, todos eles em conformidade com a obrigação do Estado de respeitar
e assegurar o gozo desses direitos (artigo 1(1)).
(...)
6. Foram realizadas audiências sobre o caso nestas quatro datas: 8 de setembro
de 1995, 23 de fevereiro de 1996, 7 de outubro de 1996 e 8 de outubro de 1997.
Na primeira delas, a Comissão colocou-se à disposição das partes para dar iní-
cio a um processo de solução amistosa. Esta proposta foi reiterada em diferen-
tes oportunidades, inclusive numa visita do Relator da Comissão ao Brasil, em
julho de 1997, para tratar assuntos desse país, porém como a iniciativa não pro-
grediu dão-se por encerradas as negociações preliminares com vistas a iniciar
um processo de solução amistosa.
7. O Estado apresentou, na audiência de 7 de outubro de 1996, um relatório so-
bre as medidas que estavam sendo tomadas para desativar o complexo peniten-
ciário Carandiru. Nessa audiência, a Comissão "decidiu suspender a considera-
ção do caso até que o Superior Tribunal de Justiça se pronunciasse sobre o con-
flito de competência", esclarecendo que o caso não estava sendo arquivado,
mas sim que prosseguiria no seu curso normal tão logo se conhecesse a decisão
desse Tribunal. Em 13 de dezembro de 1996, o Estado informou que o Tribunal
Superior havia decidido que os processos seriam transferidos para a competên-
cia da justiça criminal comum do Estado de São Paulo, o que fora feito, e que se
esperava no futuro concluir a tramitação processual e realizar o julgamento com
intervenção do júri popular.
(...)
9. Nessa mesma audiência o Estado informou que se havia decidido judicialmen-
te indenizar algumas das famílias das vítimas e estavam sendo tomadas medi-
das para solucionar o caso. Os peticionários responderam que essas medidas
eram ineficazes e parciais e novamente solicitaram à Comissão que interviesse.
Em virtude de os motivos para suspender a consideração do caso terem cessa-
do com a transferência dos processos à justiça penal ordinária, a Comissão de-
cidiu reassumir sua consideração.
(...)
18. Os peticionários informaram em outubro de 1997 que, apesar de todas as
provas acumuladas desde a ocorrência do fato, o Governo não expedira uma
versão oficial dos fatos que reconhecesse o massacre, nem a responsabilidade
dos agentes do Estado. Declararam que tampouco haviam sido pagas as indeni-
zações aos parentes das vítimas. Esclareceram que, embora a Procuradoria
houvesse iniciado 59 ações judiciais de indenização, com decisão favorável a 13
das vítimas, nem sequer essas poucas indenizações haviam sido efetivadas, se-
gundo comprovam com uma notícia de jornal. Informa-se nessa notícia que, para
efetivá-las, o Estado deve destinar fundos especiais no orçamento, ou seja, só a
partir de 1999 poderiam ser efetuadas se esses fundos fossem destinados a es-
sa finalidade pela Legislatura. Cinco anos depois das ocorrências, outras 20
ações de indenização civil nesses casos ainda esperavam sentença de primeira
instância, o que demonstra o não-cumprimento pelo Estado de seu dever inter-
nacional de indenizar as vítimas dessas violações.
(...)
31. Em 15 de outubro de 1996, o Estado informou sobre um convênio entre a
República Federativa e o Estado de São Paulo para a desativação do complexo
penitenciário de Carandiru, como primeiro passo para o cumprimento de um dos
objetivos de longo prazo do Programa Nacional de Direitos Humanos, que prevê
"a desativação da Casa de Detenção de São Paulo (Carandiru) e de outros es-
tabelecimentos penitenciários que contrariem as normas mínimas penitenciárias
internacionais". Ademais, serão construídos considerável número de novos pre-
sídios e instalações complementares, sempre com a intenção de conseguir a
ressocialização dos detentos. Reconhece-se no programa que Carandiru manti-
nha nessa época (1996) quase o dobro dos detentos que sua capacidade regu-
lamentar permitia. Tais afirmações sobre a implementação da reforma penitenci-
ária foram ampliadas em 4 de agosto de 1999 mediante a informação de que
havia sido concluída a desativação de Carandiru e a implementação de outras
medidas preventivas.
32. Informa o Estado que em 27 de novembro de 1996 o Tribunal Superior de
Justiça confirmou a jurisdição comum para o crime relacionado com os 111 pre-
sos, considerando que "o crime pode ser considerado comum, mesmo se fosse
cometido por militares em serviço usando arma militar, e que o Código da Justiça
Militar é claro a esse respeito. Em nota posterior, o Estado sustentou que a deci-
são se baseava na vigência da Lei 9.299/96 (Lei Bicudo), que transfere para a
justiça comum o julgamento dos crimes de homicídio doloso cometidos por poli-
ciais militares.
(...)
34. Sustenta que não foram esgotados os recursos da jurisdição interna no caso
dos processos de homicídio doloso contra os policiais militares, bem como dos
de indenização, instaurados todos eles em obediência às garantias e procedi-
mentos previstos na legislação brasileira.
(...)
43. O processo penal central contra os 119 policiais acusados de homicídio qua-
lificado agravado foi instaurado perante a Auditoria da Justiça Militar de São
Paulo em 23 de junho de 1993 (processo 78/93) e sofreu uma série de atrasos.
Depois de três anos de instaurado, e de numerosas diligências judiciais durante
esse período, o Conselho Especial de Justiça Militar, em 13 de fevereiro de
1996, transferiu-o à justiça civil, pois havia indícios de responsabilidade de auto-
ridades civis devidamente constituídas. Esses indícios contra responsáveis civis
(o Governador e o Secretário de Segurança Pública) eram conhecidos desde a
acusação judicial de 1993, motivo por que a demora de três anos para a transfe-
rência parece à Comissão injustificada. Além disso, a transferência gerou um
atraso adicional quanto ao tratamento do caso, pois de acordo com a lei proces-
sual somente as provas de peritagem técnica e documentais continuavam váli-
das para o julgamento civil, mas a prova de testemunhas devia ser repetida,
quando já haviam sido tomados 253 testemunhos judiciais.
44. Essa decisão do Conselho de Justiça Militar foi revista pelo Supremo Tribu-
nal Federal, que tardou 14 meses para confirmá-la, em abril de 1997. Desde en-
tão, o processo continua em foro civil, para decisão por júri popular.
45. Desse processo 78/93 derivou a acusação contra o único oficial inculpado, o
coronel Ubiratan Guimarães, que se achava no comando da força encarregada
de sufocar o motim e foi acusado da prática de homicídio qualificado combinado
com outras figuras delituosas. Como esse oficial se elegeu deputado estadual
em janeiro de 1997, o processo contra ele não tramitou durante a vigência de
sua imunidade parlamentar, sem que a Assembléia Legislativa tomasse a inicia-
tiva de proceder ao seu julgamento político a fim de suspender tal privilégio, não
obstante o peso da acusação e as solicitações para que o fizesse formuladas
por deputados e organizações civis. Seu mandato expirou no primeiro semestre
de 1999, cessando então a sua imunidade parlamentar.
46. Com respeito à indenização, a Comissão comprova que das 59 ações do Es-
tado nesse sentido, somente em 13 casos foram identificados os familiares das
vítimas, estabelecendo-se então a indenização, que não foi efetivada por não
haverem sido destinados os respectivos fundos no orçamento estadual.
47. As exceções previstas no artigo 46(2) da Convenção procuram garantir a
ação internacional quando os recursos da jurisdição interna e o próprio sistema
jurídico interno não são eficazes para assegurar o respeito aos direitos humanos
das vítimas. Assim, o requisito formal relativo à inexistência de recursos da juris-
dição interna que garantam o princípio do devido processo (artigo 46(2)(a) da
Convenção) não se refere somente à ausência formal de recursos nessa jurisdi-
ção mas também ao caso de que sejam ineficazes. A denegação de justiça (arti-
go 46(2)(b) da Convenção) e a demora injustificada da justiça (artigo 46(2)(c) da
Convenção), por outro lado, também estão vinculadas à eficácia dos referidos
recursos.
(...)
49. Em outras palavras, se a tramitação dos recursos da jurisdição interna demo-
ra de maneira injustificada, pode-se deduzir que os mesmos perderam sua eficá-
cia para produzir o resultado para o qual foram estabelecidos, o que "torna inde-
fesa a vítima". É nessa instância que devem ser aplicados os mecanismos de
proteção internacional, entre outros as exceções previstas no artigo 46.2 da
Convenção.
50. Transcorreram, até a data deste relatório, mais de sete anos desde que a
ocorrência dos fatos denunciados. Entretanto, até este momento, tais recursos
não conseguiram levar a uma condenação de um só dos responsáveis de absol-
vição ou prescrição, ou de demoras injustificadas. Tampouco foram indenizadas
as vítimas e/ou seus familiares.
51. Por conseguinte, a Comissão comprova que os recursos da jurisdição interna
foram esgotados ou tardaram injustificadamente. Por outro lado, tanto na pres-
crição da aplicação da condenação como na falta de indenização das vítimas, os
recursos da jurisdição interna não se mostraram eficazes, pelo menos com res-
peito ao necessário padrão para uma decisão de admissibilidade ou inadmissibi-
lidade. Ante o exposto, a Comissão considera que, neste caso, é aplicável a ex-
ceção prevista no artigo 46, parágrafo 2, alínea c, da Convenção, referente à
demora injustificada dos processos penais.
(...)
79. Por outro lado, as investigações do Governo Federal assinalaram que "foi
uma ação sem planejamento adequado, sem coordenação, uma ação criminal
violenta por excelência e irresponsável". Salientou que a "Polícia Militar de São
Paulo havia assassinado sem justificação 111 prisioneiros sob sua custódia e a
responsabilidade do Estado" e que a ela cabia a responsabilidade penal e civil
pela autoria. Também considerou que se tratava do "resultado natural da política
de violência estabelecida no Estado de São Paulo nessa época, segundo a qual
"a tortura e as execuções sumárias eram um método de trabalho". (AMR p. 26).
Entretanto, esses órgãos federais são consultivos e suas recomendações não
são obrigatórias, como publicamente observou o então Ministro das Relações
Exteriores F. H. Cardozo, que alegou não haver um mecanismo legal que permi-
tisse ao Governo Federal assegurar que os responsáveis fossem adequadamen-
te julgados na justiça estadual.
80. A Comissão conclui que diferentes organismos do Estado de São Paulo e do
Governo do Brasil realizaram investigações sobre os fatos. Embora todas elas
tenham sido prejudicadas pelas atividades de encobrimento e destruição de pro-
vas, desenvolvidas pela Polícia Militar paulista e anteriormente descritas, torna-
se evidente o contraste entre as realizadas pelos organismos do Estado de São
Paulo, que tendem a minimizar e justificar as autoridades estaduais civis e milita-
res e eximi-las de responsabilidade, e as efetuadas pelo Governo do Brasil, que
chegam à conclusão, com base em provas, de que houve um massacre de prisi-
oneiros e violações graves e sistemáticas por parte das autoridades policiais es-
taduais. A Comissão conclui também neste caso que não há, ou não funciona-
ram, na República do Brasil mecanismos eficazes do Governo nacional para
obrigar as autoridades federais a atuar, no que tange a direitos humanos, de
maneira coerente com os compromissos internacionais assumidos pelo Estado
nacional, ou para estabelecer, por meios federais, outros mecanismos de pre-
venção, ação e reparação que compensem tais deficiências estaduais.
Procedimentos judiciais
81. Tal como se analisou na seção sobre o esgotamento dos recursos internos
(parágrafos 39 a 51), decorridos sete anos desses fatos não foram aplicadas
sanções a nenhum dos responsáveis por eles. Um processo em que se acusam
lesões corporais leves, não obstante as gravidades destas, prescreveu (ver o pa-
rágrafo 42); outros estão parados; em outros foram proferidas sentenças absolu-
tórias, e os processos contra o Comandante Guimarães foram tolhidos pela imu-
nidade parlamentar a que este tinha direito, como membro da Assembléia Legis-
lativa, de janeiro de 1997 até a conclusão de seu mandato, em 1999. Não obs-
tante os numerosos pedidos formulados por instituições nacionais e internacio-
nais, a Assembléia indeferiu a suspensão da imunidade parlamentar do Coman-
dante Guimarães, razão por que o processo contra ele está parado.
82. Tampouco houve indenização adequada das famílias. A esse respeito, a
Comissão foi informada pelo Estado de que este havia movido ações indenizató-
rias e que em 49 deles havia sido concedida indenização às famílias. A Comis-
são foi, porém, informada de que tais indenizações, embora tenham sido orde-
nadas, não foram efetivadas, por não haver no orçamento estadual dotações pa-
ra isso destinadas. O Governo também afirmou que o Estado havia reconhecido
sua responsabilidade civil no foro civil e que se devia esperar a resolução no foro
penal.
(...)
94. Conclui a Comissão que a total impunidade até a presente data dos atos pra-
ticados no dia 2 de outubro de 1992 é evidenciada pelo seguinte: (a) a falta de
uma ação eficaz de parte dos juízes que se encontravam presentes enquanto o
motim era debelado e nas primeiras horas seguintes, assim como o entorpeci-
mento de sua ação pelas forças policiais; (b) a destruição e desfiguração intenci-
onal das provas nas horas que se seguiram ao motim e à sua subjugação; (c) o
atraso injustificado na tramitação do processo central na Justiça Militar e do re-
curso junto ao Tribunal Superior de Justiça: (d) a negligência que levou à pres-
crição da ação penal por lesões leves contra um detento (parágrafo 42); (e) o
cancelamento do processo por lesões graves; (f) a não suspensão da imunidade
parlamentar do oficial que comandou a subjugação do motim; por tudo isso o Es-
tado violou o seu compromisso de respeitar e assegurar o direito à justiça e às
garantias judiciais que a Convenção assevera (artigos 1(1), 8 e 25). Essa inefi-
cácia e negligência demonstrada na intervenção judicial durante os aconteci-
mento e nos processo judiciais em curso na esfera penal-militar e na justiça co-
mum leva a que, transcorridos sete anos desses acontecimentos, subsistam a
total impunidade dos responsáveis e a ausência tanto de uma versão oficial e
completa dos fatos como de uma assunção de responsabilidade específica pelos
mesmos, assim como por sua reparação.
(...)
101. A Comissão conclui, por conseguinte, que o Estado não cumpriu sua obri-
gação de investigar de maneira exaustiva, imparcial e concludente os fatos ocor-
ridos em Carandiru objeto deste caso, desse modo contribuindo para a impuni-
dade e a conseqüente falta de indenização.
A obrigação de processar e punir os responsáveis
102. A Comissão conclui que o Estado não cumpriu sua obrigação de processar
e punir os responsáveis. Como corolário do artigo 1(1) da Convenção, o Estado
tem a obrigação de garantir o pleno exercício dos direitos nela reconhecidos e
deve prevenir, investigar e punir qualquer violação. O Estado sustentou que ha-
viam sido iniciados diferentes processos e que estes estavam sendo conduzidos
de acordo com a legislação interna e em coerência com o respeito às garantias
processuais. Contudo, da análise do decurso e resultados de tais processos,
comprova-se que sofreram atrasos injustificáveis e se depararam com negligên-
cias e obstáculos de toda natureza, todos eles de fato ou intencionalmente des-
tinados a assegurar a impunidade dos responsáveis. Sete anos depois das ocor-
rências, essa completa incapacidade de punir os responsáveis é uma manifesta-
ção definitiva do não-cumprimento da obrigação constante do artigo 1(1) da
Convenção.
(...)
A obrigação de indenizar
104. Adicionalmente, a Comissão salienta a falência do Estado brasileiro em in-
denizar as vítimas desses fatos ou seus familiares, segundo o caso. É obrigação
do Estado assegurar à vítima adequada reparação pelas violações da Conven-
ção, por ação de seus agentes ou pela falta de garantias adequadas. Essa repa-
ração depende de que haja uma violação da Convenção e, neste caso, as referi-
das violações do direito à vida, à integridade pessoal, à justiça e às garantias ju-
diciais, ficaram claramente estabelecidas.
(...)
Ações Poteriores ao Relatório120/99 (art.50)
107. A Comissão transmitiu o Relatório anterior ao Estado na data de 26 de ou-
tubro de 1999, concedendo-lhe um prazo de dois meses para dar cumprimento
às recomendações formuladas; e informou os peticionários da aprovação do in-
forme previsto no artigo 50 da Convenção. Vencido o prazo concedido, a Comis-
são não recebeu qualquer resposta do Estado a respeito das citadas recomen-
dações.
VI. CONCLUSÕES
A COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS CONCLUI QUE:
1. Tem competência para conhecer deste caso e que a petição é admissível, em
conformidade com os artigos 46 e 47 da Convenção Americana.
2. A República Federativa do Brasil violou suas obrigações decorrentes dos arti-
gos 4 (direito à vida) e 5 (direito à integridade pessoal), em virtude da morte de
111 pessoas e de um número indeterminado de feridos, todos eles detidos sob a
sua custódia, na subjugação do motim de Carandiru em 2 de outubro de 1992,
pela ação dos agentes da Polícia Militar de São Paulo.
3. A República Federativa do Brasil é responsável pela violação dos citados arti-
gos da Convenção por motivo do descumprimento, no caso dos internos em Ca-
randiru, das devidas condições de detenção e pela omissão em adotar estraté-
gias e medidas adequadas para prevenir as situações de violência e para debe-
lar possíveis motins. A Comissão reconhece que foram tomadas medidas para
melhorar as condições carcerárias, em particular a construção de novas instala-
ções penitenciárias, a fixação de novas normas de detenção e o estabelecimen-
to no Estado de São Paulo de uma secretaria especial responsável por esses
assuntos.
4. A República Federativa do Brasil é responsável pela violação dos artigos 8 e
25 (garantias e proteção judicial) em conformidade com o artigo 1(1) da Conven-
ção, pela falta de investigação, processamento e punição séria e eficaz dos res-
ponsáveis e pela falta de indenização efetiva das vítimas dessas violações e
seus familiares.
VII. RECOMENDAÇÕES
Com fundamento na análise e nas conclusões deste relatório,
A Comissão de Direitos Humanos recomenda à República Federativa do Brasil o
seguinte:
1. Realizar uma investigação completa, imparcial e efetiva a fim de identificar e
processar as autoridades e funcionários responsáveis pelas violações dos direi-
tos humanos assinaladas nas conclusões deste relatório.
2. Adotar as medidas necessárias para que as vítimas dessas violações que fo-
ram identificadas e suas famílias recebam adequada e oportuna indenização pe-
las violações definidas nas conclusões deste relatório, assim como para que se-
jam identificadas as demais vítimas.
3. Desenvolver políticas e estratégias destinadas a descongestionar a população
das casas de detenção, estabelecer programas de reabilitação e reinserção so-
cial acordes com as normas nacionais e internacionais e prevenir surtos de vio-
lência nesses estabelecimentos. Desenvolver, ademais, para o pessoal carcerá-
rio e policial, políticas, estratégias e treinamento especial orientados para a ne-
gociação e a solução pacífica de conflitos, assim como técnicas de reinstauração
da ordem que permitam a subjugação de eventuais motins com o mínimo de ris-
co para a vida e a integridade pessoal dos internos e das forças policiais.
4. Adotar as medidas necessárias para o cumprimento, no presente caso, das
disposições do artigo 28 da Convenção (Cláusula federal) relativas às matérias
que correspondem à competência das entidades componentes da federação,
neste caso o Estado de São Paulo.
VIII. PUBLICAÇÃO
108. Em 24 de fevereiro de 2000, a Comissão decidiu enviar este relatório ao Es-
tado brasileiro, o que foi feito em 3 de março de 2000, de acordo com o artigo 51
da Convenção, e lhe foi concedido o prazo de um mês, a partir do envio, para o
cumprimento das recomendações acima indicadas. Expirado esse prazo, a Co-
missão não recebeu resposta do Estado brasileiro.
109. Em virtude das considerações anteriores e, de conformidade com os artigos
51(3) da Convenção Americana e 48 de seu Regulamento, a Comissão decidiu
reiterar as conclusões e recomendações dos parágrafos precedentes, tornar pú-
blico este relatório e incluí-lo em seu Relatório Anual à Assembléia Geral da
OEA. A Comissão, em cumprimento de seu mandato, continuará a avaliar as
medidas tomadas pelo Estado brasileiro com relação às recomendações menci-
onadas, até que tenham sido cabalmente cumpridas.
Passado e assinado na sede da Comissão Interamericana de Direitos Humanos,
na cidade de Washington, D.C., aos 13 dias do mês de abril de 2000 (Assina-
do):”
Desta forma, ao menos para garantir o Direito à Verdade e à Memória, tanto da Sociedade Civil
como um todo como dos sobreviventes e parentes dos mortos, os quais têm ainda o Direito à
Justa Indenização por Graves Violações de Direitos Humanos cometidas contra eles mesmos ou
seus entes queridos, imprescritíveis, enquanto Crimes contra a Humanidade, como consagra o
Costume Internacional desde Nuremberg, valeria a pena insistir junto à Comissão Interamericana
de Direitos Humanos para que ajuizasse ação perante a Corte Interamericana de Direitos
Humanos, a qual poderia condenar o País (e, “por tabela”, do Estado de São Paulo, sua entidade
federada) a tanto, agora já sem a possibilidade de alegação pelo Estado da necessidade de prévio
esgotamento dos recursos locais, pois, como se viu, já transcorreram mais de 15 anos desde a
publicação do Relatório acima transcrito (que por sua vez já havia acontecido oito anos após os
fatos...), no qual a Comissão já afastara aquele óbice, sem que qualquer providência punitiva e/ou
indenizatória fosse confirmada em âmbito civil ou penal. Enquanto isto, cabe-nos a todos manter
viva a triste e vergonhosa Memória de mais esta gravíssima violação de Direitos Humanos,
provavelmente a mais grave ocorrida no Brasil desde a ditadura militar, até hoje solenemente
impune, quanto mais não seja para que jamais voltem a acontecer violações que tais!
I SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM PRISÃO
FACULDADE DE DIREITO DA USP - SÃO PAULO
02 DE OUTUBRO DE 2015
GT 7) GRAVES VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PRISÃO
VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA PENITENCIÁRIO
SERGIPANO
LUIZ EDUARDO OLIVEIRA - FACULDADE SERGIPANA/SE
GABRIEL RIBEIRO NOGUEIRA JÚNIOR – SSP/SE
VERÔNICA TEIXEIRA MARQUES - UNIVERSIDADE TIRADENTES/SE
CRISTIANE COSTA DA CUNHA OLIVEIRA - INSTITUTO TECNOLOGIA E
PESQUISA/UNIT/SE
Resumo
Apesar de ser o menor estado do Brasil, Sergipe apresenta um perfil da realidade
prisional que mantém uma similaridade com a realidade nacional. Esta investigação foi
elaborada no período de 2013/2014, resultado do projeto de pesquisa Perfil dos
Presos no Estado de Sergipe e Identificação de Políticas Públicas para Egressos,
projeto apoiado pela FAPITEC-SE – Edital 13/2011, com aprovação do Comitê de
Ética e Pesquisa da Universidade Tiradentes, com número de Protocolo CEP
040712R. Foram levantados dados primários e secundários além de pesquisa
documental e bibliográfica. Os resultados possibilitaram verificar que existem
oficialmente políticas públicas de saúde para as unidades prisionais em Sergipe. As
autoridades constituídas dos três poderes da República, o Ministério Público, a Ordem
dos Advogados do Brasil, os Ministérios da Justiça e da Saúde, as ONGs, o Conselho
da Comunidade de Execução Penal, o Conselho Penitenciário, a Sociedade Civil e as
Universidades não podem alegar desconhecimento sobre o que se passa dentro das
Unidades Prisionais Sergipanas, haja vista que há relatórios oficiais oriundos desses
mesmos atores sociais. O estudo também permitiu concluir que as violações às leis
nacionais, bem como aos tratados e convenções internacionais sugerem que o estado
de Sergipe necessita dar efetividade do cumprimento ao arcabouço legal adotado pela
República Federativa do Brasil, sob pena de representação junto aos organismos de
proteção aos direitos humanos por sucessivas e repetidas violações.
Introdução
Os questionamentos e os discursos sobre a realidade prisional se dão em
torno da necessidade de construção de novos complexos penitenciários e de adoção
de penas mais rigorosas, porém, os dados oficiais, os não estatais e os produzidos por
pesquisadores que já se encontram disponibilizados, merecem ser analisados, tanto
por setores oficiais governamentais, quanto pela mídia e pela sociedade em geral, no
sentido de mostrar a realidade prisional em um contexto de violações de direitos
humanos e da necessidade de adoção de medidas pré-violatórias que impeçam a
colocação de uma máscara sobre esta parte da sociedade que se pretende ocultar.
Esta pesquisa apresenta dados recentes e pretende agregar análises que contribuam
para essas reflexões.
O sistema de saúde penitenciário apresenta dados pouco claros para a
sociedade e para a comunidade científica e constantemente são divulgadas
informações, na imprensa escrita e televisiva, sobre as condições caóticas e
desumanas vivenciadas pelos presos e funcionários do sistema penitenciário nacional
durante as últimas décadas (MAIA et al, 2009). Sabe-se pouco sobre a saúde dos
presos talvez pela escassez de pesquisas com foco específico sobre a questão do
direito à saúde da população privada de liberdade, ou mesmo pela maneira de
disponibilizar este direito fundamental à população de uma forma geral.
Para que uma determinada política pública possa ser implementada faz-se
necessária a adoção de medidas preventivas e/ou curativas. Essa discricionariedade
faz parte da gestão de governo que diante de tantas demandas, precisa realizar ações
efetivas para governar. Atualmente o ato de governar já não comporta só um olhar
para dentro, para as questões locais é imprescindível na governança observar seus
reflexos nas sociedades locais e no seu entorno (DIAS, 2012).
Isso porque as políticas públicas são articuladas, pensadas e discutidas em
nível internacional por diversos atores sociais, sendo que vários desses atores
intervêm de forma direta ou indireta no processo de elaboração de uma determinada
política e, quanto maior for a participação da sociedade civil nesse processo, maior
será a cobrança na efetivação dos resultados esperados (DIAS, 2012).
A questão penitenciária demanda um debate amplo, nas mais variadas áreas
do conhecimento uma vez que a população privada de liberdade, diante de sua
vulnerabilidade e especificidade, requer um envolvimento de profissionais capacitados
em várias atividades.
O presente estudo teve como objeto de análise as políticas públicas adotadas
para a população custodiada pelo Estado, com foco nas políticas públicas de saúde,
uma vez que o direito à saúde, estabelecido em nossa Constituição como direito
fundamental1, restou violado de forma perversa nas unidades prisionais, em específico
nas unidades sergipanas estudadas entre 2013 e 2014.
O ambiente prisional por si só constitui, no imaginário popular, um local de
punição, sacrifício e exclusão, principalmente para países como o Brasil onde a
população "em liberdade" não dispõe das condições básicas em saúde. O modelo de
sistema penitenciário brasileiro pode ser objeto de questionamento no sentido do que
se pretende proteger, a quem se pretende e pode castigar e como punir, desde que se
observe o estabelecido em nível legal, com cumprimento das políticas públicas
adotadas. Os vários organismos e organizações de proteção dos direitos humanos
têm revelado preocupações com as sistemáticas violações do direito à saúde da
população privada de liberdade, como a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. As políticas públicas em
saúde são reflexos de um forte debate mundial com interferência no ordenamento
jurídico brasileiro.
Em se tratando de saúde prisional, os profissionais envolvidos, técnicos da
informação e gestores, tanto da saúde, como da justiça, devem estar preparados para,
a contento, lidar com as novas tecnologias como redes, digitalização, programas
específicos para a população privada de liberdade que permita ao setor da saúde
prisional ser eficaz.
Em Sergipe/Brasil os programas como prontuários eletrônicos, agenda digital,
prescrição eletrônica são expressões conhecidas pelos gestores porém com utilização
incipiente, sugerindo que a noção de práticas em saúde e justiça precisam ser
discutidas, estudas e analisadas em rede para eficácia das ações planejadas através
de políticas públicas.
Neste contexto é oportuno que sejam realizados diagnósticos, tanto da
efetividade das tecnologias aplicáveis à saúde, como da avaliação das políticas e
programas que estão sendo realizados no Brasil e mais especificamente no Estado de
Sergipe para o sistema prisional.
Assim, os objetivos deste estudo foram analisar as políticas de saúde prisional
e suas possíveis influências na qualidade da atenção à saúde dos presos sergipanos;
apresentar resultados referentes à percepção dos presos sobre o direito à saúde
dentro das unidades prisionais sergipanas e chamar a atenção para a possibilidade de
representação do sistema penitenciário sergipano perante os organismos
internacionais de defesa dos direitos humanos.
1Dedica a Seção II - Saúde, Capítulo II do Título VIII- Da Ordem Social, para nos artigos 196 a
200 estabelecer as diretrizes que serão utilizadas para nortear as políticas públicas (BRASIL, 1988)
As teorias, os métodos, os modelos e os materiais utilizados
A metodologia deste estudo é referida como pesquisa seccional do tipo
multimétodo no período 2013-2014. Foram aplicados questionários semiabertos aos
presos, após aprovação do Comitê de Ética da Universidade Tiradentes, com número
de Protocolo CEP 040712R. A pesquisa de campo com aplicação de questionários
semiabertos, tabulação de dados e análises foram realizados entre 2013-2014, com
uma amostra de 525 presos em universo de 4528 detentos registrados por ocasião
das visitas de aplicação de questionários (Tabela 1).
Tabela 1- Distribuição dos presos que participaram da amostra 2013 por unidades prisionais em Sergipe-BR
Presídios Nº de presos no dia do
levantamento Nº de presos responderam Percentual de questionários
aplicados/ % Data da coleta
PRESLEN 348 21 6,03 06/08/13
CERSAB II 478 49 10,25 08/08/13
PREFEM 273 61 22,34 14/08/13
CADEIÃO 167 62 37,13 20/08/13
COPEMCAN 2348 238 10,14 Diversos
PREMABAS 440 44 10,00 09/09/13
COMPAJAF 474 50 10,55 Diversos
TOTAL 4528 525 11,59 Diversos
Fonte: MARQUES et al, 2014.
É importante registrar, que foram utilizados nesse estudo, apenas questões
relacionadas ao direito à saúde dos presos que responderam aos questionários no
Sistema Penitenciário de Sergipe na pesquisa “Perfil dos Presos no Estado de Sergipe
e Identificação de Políticas Públicas para Egressos”. Assim, as análises aqui
realizadas não contemplam a totalidade dos dados que foram levantados na pesquisa
de campo, sendo possível uma variedade de leituras sobre os dados.
Políticas Públicas de Saúde no Brasil
As limitações encontradas para elaboração de uma política pública são de
diversas ordens e merecem destaque a falta de recursos financeiros, a falta de
pessoal ou de informação, as obrigações decorrentes de tratados internacionais e a
resistência doméstica. Nesse sentido, para construir políticas públicas eficientes
devem ser respeitadas as diferentes etapas necessárias para a sua elaboração, o que
Vázquez e Delaplace (2011) denominaram de ciclo de vida de uma política pública,
enunciando a observância aos seguintes passos: problema individual - problema
público - estruturação do problema - conjunto de possíveis soluções - análise de
soluções - tomada de decisões - implementação da decisão - avaliação.
Ainda segundo os referidos autores, o principal objetivo da análise da Política
Pública (PP) é dar racionalidade às ações governamentais e a ação estatal deve estar
focada no bem-estar público, e entendida como uma ação pública realizada com
recursos que também são públicos. Segundo os autores, a administração pública deve
funcionar de forma eficiente com mecanismos para averiguar a sua efetivação
(VÁZQUEZ e DELAPLACE, 2011).
Observa-se um forte debate mundial em torno do tema políticas públicas em
saúde que refletiu no ordenamento jurídico brasileiro. Por se tratar de políticas
públicas em saúde, deve-se ter clareza do entendimento do conceito de saúde que já
vem sendo discutido desde a realização das conferências mundiais que começaram
com a Declaração de Alma-Ata em 1978, seguindo-se a Primeira Conferência
Internacional de Promoção de Saúde de Ottawa/Canadá, em 1986, a Declaração de
Adelaide em 1988, a Declaração de Sundsvall em 1991, a Declaração de Santafé de
Bogotá em 1992, a Declaração de Jacarta em 1997, a Rede de Megapaíses em 1988
e a Declaração do México em 2000 (BRASIL, 2002).
Destaca-se que, para a elaboração de políticas públicas no mundo e também
no Brasil, a Primeira Conferência Internacional de Promoção de Saúde de
Ottawa/Canadá, em 1986 foi especialmente relevante. Nesta conferência foram
reconhecidos os componentes que influenciam nas condições de saúde: componentes
sociais, econômicos, políticos e culturais. (FIOCRUZ, 2008).
Segundo a Carta de Ottawa, todos devem trabalhar unidos para a construção
de um sistema de saúde que contribua para elevar o nível de saúde da população em
geral. Os participantes da Conferência se comprometeram, entre outras atividades, a
atuar no campo das políticas públicas saudáveis, a trabalhar pela diminuição das
desigualdades existentes entre diferentes sociedades e distintos grupos sociais e
instaram todos os interessados a lutar pela melhoria constante da saúde pública
(WHO, 1986).
Deve-se compreender que o conceito de saúde estabelecido, inicialmente,
pela Organização Mundial da Saúde (1946), foi o completo bem-estar físico, mental e
social e não apenas a ausência de doenças. Esse conceito, entretanto, tem sido
questionado. Atualmente tem se discutido esse conceito, principalmente, no que se
refere ao estado de completude, entendendo-se este estado como uma idealização
onde o ser humano não atingirá uma satisfação em todos os aspectos da saúde,
portanto não sendo este suficiente para analisar o processo saúde-doença. A
promoção da saúde não se restringe à ausência de doença, mas de outros fatores que
contribuem para os riscos de adoecimento, como a qualidade da água, a qualidade do
ar e do ambiente em geral (FONSECA, 2007).
Esta discussão perpassa necessariamente pela sociedade civil que pode e
deve fazer respeitar suas necessidades e carências básicas, seja através de grupos
de estudo ou pela cobrança direta as seus representantes.
A concepção da promoção de saúde também tem, na Carta de Ottawa, suas
bases sustentadas em cinco princípios básicos: elaboração de políticas públicas
saudáveis; criação de ambientes favoráveis; reforço da ação comunitária;
desenvolvimento das habilidades pessoais e reorientação dos serviços de saúde
(WHO, 1986).
Esse movimento internacional provocou reflexos importantes na orientação
das políticas públicas de saúde brasileiras, visto que, nesse mesmo ano, a 8ª
Conferência Nacional de Saúde no Brasil definiu a saúde como um direito, sendo este
entendido como a garantia pelo Estado de condições dignas de vida e acesso
universal às ações e serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde
(BRASIL, 1986).
O relatório da 8ª Conferência Nacional no Brasil foi o marco da reforma
sanitária e contribuiu fortemente nos debates constituintes que alicerçaram as bases
do Sistema Único de Saúde na Constituição Federal de 19882. Assim, o acesso à
saúde no sistema penitenciário brasileiro, no sentido da universalidade, que
representa a saúde como direito de todos os cidadãos, passou a ser garantido pelo
SUS, regulamentado a partir da Lei nº 8.080/1990 e pela Lei 8.142/1990, tendo esta
última estabelecido diretrizes acerca da participação da comunidade na gestão do
SUS. (BRASIL, 1990).
Esse conjunto de diplomas legais, nacionais e internacionais de proteção dos
direitos humanos vem ao longo do tempo, desde 1948, possibilitando debates e
reflexões sobre o que a comunidade internacional pretende proteger.
Convém ressaltar a importância da I Conferência Mundial de Direitos
Humanos das Nações Unidas, em 1968, que contribuiu para o reconhecimento da
inter-relação ou indivisibilidade de todos os direitos humanos e constituiu-se em um
marco na evolução doutrinária da proteção internacional dos direitos humanos.
2 Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm
Estabeleceu-se nessa conferência uma visão global e integrada de todos os direitos
humanos (TRINDADE, 2009).
A II Conferência Mundial de Direitos Humanos das Nações Unidas, de 1993,
contribuiu para a criação da necessária infraestrutura nacional, para o fortalecimento
das instituições nacionais para a vigência dos direitos humanos e mobilizou as Nações
Unidas no sentido de promover os direitos humanos e incrementar uma maior
interação entre os mecanismos globais e regionais de proteção (TRINDADE, 2009).
O direito à saúde, como um direito humano, encontra-se resguardado por
este sistema de proteção internacional e vem sendo discutido, desde a década de
1960, com vistas a superar o conceito de saúde outrora centrado no controle da
enfermidade, com importantes ações no sentido de conformar um novo paradigma
com proposta de saúde para todos e atenção primária de saúde (BRASIL, 2002).
Convém registrar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia
proposto, em 1995, um projeto de Saúde no Sistema Prisional com a finalidade de
promover a saúde pública e cuidados nas prisões, assim como especificar o
relacionamento entre o sistema de saúde prisional e os serviços de saúde pública.
Naquele mesmo documento a OMS propunha-se a prestar consultoria especializada
aos estados membros para desenvolvimento dos sistemas de saúde nas prisões,
inclusive no que se refere às questões de ordem técnica relacionadas às doenças
transmissíveis, bem como o uso de drogas ilícitas e saúde mental (GOIS et al, 2012).
No contexto brasileiro, buscando responder à problemática da vulnerabilidade
dos presos às doenças transmissíveis mais relevantes para o planejamento em saúde
pública, foi elaborado pelo Ministério da Saúde em conjunto com o Ministério da
Justiça, o Plano Nacional de Saúde no Sistema Prisional (PNSSP) (BRASIL, 2004). O
referido plano, criado através da portaria interministerial nº 1.777, de 2003, sedimentou
o compromisso do SUS perante a população carcerária brasileira, ao adotar a
universalidade e a equidade das ações e serviços de atenção básica para os presos
nas unidades prisionais, inclusive através de equipes interdisciplinares de saúde, de
forma a garantir cidadania na perspectiva dos direitos humanos (BRASIL, 2003).
Entretanto, o PNSSP, por ser um plano, apresentou ação restrita no tempo e
teve sua limitação condicionada à opção de governos e governantes. Havia, portanto,
o desafio da implementação de uma política que pudesse qualificar e quantificar os
dados epidemiológicos, através de metas e indicadores da saúde nas unidades
prisionais e ainda possibilitasse seu monitoramento e avaliação (UNIDOC -OPAS-
OMS, 2012).
Nesse contexto, foi estabelecida a Política Nacional de Atenção Integral à
Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP) no âmbito
do SUS, através da Portaria Interministerial nº 1, de Janeiro de 2014. Essa política
teve no seu bojo o respeito aos princípios de direitos humanos e justiça social e
integralidade da atenção à saúde da população carcerária no conjunto de ações de
promoção, proteção, prevenção, assistência e recuperação, assim como vigilância em
saúde (BRASIL, 2014a).
A Política também apresentou diferencial em relação ao PNSSP (BRASIL,
2003) devido ao fato de ter incluído a atenção à saúde às cadeias públicas, às
penitenciárias federais e a regulamentação do atendimento às pessoas com transtorno
mental em conflito com a lei, bem como sua extensão aos presos provisórios (BRASIL,
2014a).
A PNAISP encaixou-se no cenário internacional em que a diretriz da
Organização Mundial de Saúde para a saúde dos presos publicada em 2014,
orientava que o cuidado deveria ser baseado nas necessidades e reconhecimento dos
direitos humanos, com utilização de equipes, recursos e facilidades semelhantes aos
oferecidos às pessoas que não se encontram em situação de privação de liberdade.
Ressaltava ainda a importância da continuidade do tratamento e a autonomia dos
profissionais das equipes de saúde (WHO, 2014).
Para que a operacionalização dessa política (PNAISP) fosse possível,
implementou-se a Portaria nº. 482/2014 (BRASIL, 2014b) que instituiu que os serviços
de saúde nos estabelecimentos prisionais seriam conformados de acordo com a
população prisional e o modo de funcionamento dos serviços, sendo complementada
pela Portaria nº 305/2014 (BRASIL, 2014c) que estabeleceu normas para a inclusão
no Sistema de Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (SCNES) das
equipes e serviços que iriam fazer parte da Atenção Básica de Saúde Prisional.
Ademais, foram estabelecidos também os tipos de equipes de saúde no sistema
prisional.
O direito à saúde encontra-se expressamente exposto no artigo 25 da
Declaração Universal dos Direitos Humanos3 (DUDH), que estabelece para todo ser
humano um padrão de vida que seja capaz de assegurar saúde e bem-estar social,
bem como cuidados médicos. Também consta, no seu preâmbulo, entre as
considerações, a afirmação da essencialidade da proteção dos Direitos Humanos
através do império da lei.
A participação da sociedade civil no processo de elaboração das políticas
públicas pode ser verificada em diferentes vertentes seja através de Conselhos de 3(DUDH). Declaração Universal Dos Direitos Humanos. 10 de dezembro de 1948. Disponível
em: http://www.dudh.org.br/
Gestão, ONG´s e ou mesmo mediante previsão legal. Os estudos acadêmicos podem
contribuir de forma especial para a formulação de políticas públicas, bem como na
análise das políticas existentes. Neste sentido, merece destaque o presente estudo
sobre o perfil de presos sergipanos que contribuiu de forma relevante para a
compreensão dos resultados das políticas públicas em saúde no estado de Sergipe.
Esse debate serve para fortalecimento e participação da sociedade civil na cobrança
dos resultados almejados.
Resultados
A pesquisa sobre o perfil do preso sergipano possibilitou constatar algumas
condições sobre o ambiente prisional relacionadas pelos presos e verificadas quando
do levantamento dos dados, como a superlotação, má circulação de ar, baixa
iluminação das celas e má qualidade da alimentação que demandam políticas públicas
urgentes.
Com relação às percepções dos presos merece registro o fato de que a
pesquisa proporcionou um olhar que vai além dos diplomas legais. Por certo os
acadêmicos em Direito não estão acostumados com essa modalidade investigativa,
merecendo igual registro o olhar, muitas vezes receoso, dos diretores dos
estabelecimentos prisionais e dos agentes penitenciários.
As dificuldades enfrentadas pela equipe, quando do levantamento dos dados
em pesquisa de campo, no tocante a agendamentos e reagendamentos, por conta das
decisões dos diretores, não comprometeu o resultado, embora tenha servido para
demonstrar o quanto é necessário evoluir em termos de pesquisas e interlocução com
gestores e governantes. O diálogo entre pesquisadores e gestores, assim como
funcionários foi imprescindível para realização da pesquisa, proporcionando
confiabilidade dos dados e análise independente. Após alguns receios e diálogos
iniciais com diversas articulações e esclarecimentos sobre o intuito da pesquisa, o
sigilo das fontes e o compromisso de compartilhar as análises realizadas, o processo
tornou-se mais simples e a pesquisa ganhou celeridade.
Como demonstrou Braga (2014) essa dificuldade e esses entraves sentidos
durante a realização da coleta de dados nas unidades prisionais, devem-se ao fato de
representar uma estratégia de defesa de um monopólio, denominado pela
pesquisadora como saber-fazer institucional. Não há uma lógica linear e o pesquisador
precisar estar consciente dos desafios a enfrentar no campo prisional (BRAGA, 2014).
Vencidas as barreiras iniciais e concluídas as análises referentes ao perfil do
preso sergipano foram encontradas as seguintes evidências: 1- Com relação à faixa
etária, o Estado de Sergipe demonstrou possuir uma grande quantidade de jovens
encarcerados, com idade economicamente ativa. As faixas compreendidas entre18 e
29 anos revelaram um percentual aproximado de 60%. 2- elevado percentual de
detentos que se declararam pardos-mulatos (60,76%). 3- A renda declarada pelos
presos revelou dados que poderiam indicar uma realidade social muito perversa, pois
77,7% dos que participaram da amostra declararam receber até 02 salários mínimos.
4- A pesquisa revelou que 63,1% dos que participaram da amostra, de todo o Sistema
Penitenciário Sergipano possui ensino fundamental incompleto. 5- Em relação à
profissão ou trabalho que realizavam antes de serem recolhidos ao sistema prisional,
os presos relataram que exerciam suas atividades, na sua maior parte, como
autônomo (40,7%), esta considerada como aquela que não demanda formação
profissional.
O perfil acima mencionado revela-se alinhado àquele encontrado no âmbito
nacional, sugerindo um recorte étnico-racial e social no processo de etiquetamento e
seleção do público que ocupa o sistema prisional. Pesquisadores, como Julião (2012)
e Marques et al (2013 e 2014), têm dedicado atenção especial ao perfil dos presos, o
que tem servido para aprofundar o debate com a sociedade em geral.
Em relação às políticas públicas de saúde, na percepção dos presos
sergipanos foram colhidos dados que merecem atenção por parte dos gestores e da
sociedade em geral.
O acesso à saúde é um dos principais Direitos Humanos e deve-se
reconhecer e trabalhar as necessidades em saúde para os presos e as presas que se
encontram em situação de confinamento como uma questão de direito e requer
avanços na efetivação das políticas públicas para o Sistema Prisional (UNIDOC,
2012). Alerta também o Guia sobre gênero, HIV/AIDS, Coinfeccções no Sistema
Prisional que a pena, reside, na privação de liberdade e não na privação dos Direitos
Humanos Fundamentais, devendo também incluir toda a comunidade carcerária, que
envolve os profissionais que atuam no Sistema (UNIDOC, 2012).
O acesso ao serviço em saúde no sistema prisional há muito vem sendo
estudado na comunidade internacional e a World Health Organization alude ao direito
de acesso ao serviço de saúde pública aos que se encontram em situação de
confinamento como pertencentes à sociedade e, portanto possuidores dos mesmos
direitos em saúde (WHO, 2014).
Esta investigação realizada no sistema prisional sergipano e objeto de análise
quanto ao direito à saúde levou em consideração indicadores, entre outros, como:
necessidade de assistência à saúde, acesso aos serviços de saúde, de acordo com a
percepção dos presos. Estes indicadores revelaram uma possível inadequação entre
as políticas públicas em saúde adotadas e a percepção da população privada de
liberdade e impossibilitada de buscar, por vontade própria, esses serviços.
Figura 1 -Necessidade de Assistência à Saúde de acordo com a percepção dos presos nas unidades prisionais de Sergipe-Brasil-2013-2014
As unidades prisionais sergipanas que foram investigadas apresentaram
valores percentuais das necessidades da assistência em saúde, acima dos 60%, com
maior expressão nas Unidades COMPAJAF (92%), CESARB II (81,6%) e PREFEM
(75,4%) (Figura 1). A necessidade em saúde foi analisada de acordo com a presença
dos profissionais em saúde, médicos, dentistas, psicólogos, enfermeiro, assistente
social, quando presentes nas unidades prisionais, bem como quanto a presença ou
não de posto de saúde, hospital e enfermaria.
O acesso ao serviço de saúde em todas as unidades prisionais sugeriu uma
inadequação entre a necessidade da assistência à saúde e o acesso, segundo relato
dos presos, a exemplo das Unidades CADEIÃO onde houve 27% de presos que
relataram ter tido acesso aos serviços de saúde para 64,5% dos que afirmaram ter
necessidades de assistência à saúde. A unidade prisional PRESLEN apresentou a
mesma proporcionalidade entre a necessidade e o acesso em serviços de saúde
(Figura 2). A unidade COPEMCAN, a maior do estado de Sergipe, apresentou um
percentual de acesso aos serviços de saúde de 9,7% e uma necessidade desse
serviço na faixa de 65,1 %, revelando, por si só, um quadro altamente perigoso, uma
vez que a superlotação detectada naquela unidade, aliada a outros fatores, fornecem
dados para adoção de políticas públicas urgentes (Figura 2)..
Segundo a Human Rights Watch, o Brasil foi apontado por apresentar, em
todo o sistema prisional, uma superpopulação carcerária, condições sanitárias
precárias que facilitam a disseminação de doenças, revelando ainda um fornecimento
inadequado de medicamentos aos que se encontram em situação de confinamento
(HRW, 2014).
Figura 2- Acesso aos serviços de saúde de acordo com a percepção dos presos nas unidades
prisionais de Sergipe-Brasil-2013-2014.
A percepção dos presos sobre as doenças contraídas, durante o período de
privação da liberdade nas unidades prisionais sergipanas, revelou a presença de
enfermidades, diagnosticadas ou não, e sintomas associados que ressaltam a
necessidade de atenção dentro do sistema prisional.
Figura 3- Percentual de respostas do/s presos quanto às doenças contraídas durante o período de privação de liberdade nas unidades prisionais de Sergipe – 2013 - 2014
A evidente dificuldade de acesso ao serviço de saúde no sistema
penitenciário sergipano e a inadequação do uso de medicamentos percebida pelos
presos, e apresentados na pesquisa, podem favorecer a disseminação de doenças
graves, como a tuberculose, que sem o correto diagnóstico, prescrição e
acompanhamento, provavelmente aumentará sua incidência nesses estabelecimentos.
Neste estudo foi relatada pelos presos a presença de doenças
infectocontagiosas e parasitárias, como gripe, tuberculose, sarampo, esquistossomose
e também hepatite e catapora. As doenças sexualmente transmissíveis (DST), entre
elas, sífilis, gonorreia e sintomas como irritação do pênis, também constam do relato
dos presos. Os presos também afirmaram ter contraído enfermidades crônicas
cardiovasculares e metabólicas referidas como: diabetes, doenças cardíacas e
pressão alta, além de doenças de pele informadas como micose, coceira e doença de
pele propriamente dita.
Os relatos dos presos também identificaram outros sintomas referidos como:
cálculo nos rins, dores nas costas, dores na coluna, dores no corpo, febre, infecção
urinária, problema de pulmão, problema nas pernas, problemas dentários, síndrome
do pânico, virose, verme e gastrite, entre outras.
Outro aspecto importante encontrado neste estudo e também analisado por
Andrade (2001), é em relação a grupos vulneráveis, como os presos, e seu entorno,
como o intrafamiliar, crianças e idosos, e os profissionais em saúde.
No caso específico do ambiente onde foi realizada a presente pesquisa, deve-
se ressaltar fatores como a superpopulação, condições de higiene e o acesso aos
serviços de saúde, relatados pelos detentos, que parecem contribuir para um ambiente
propício ao contágio.
O Ministério da Saúde do Brasil (2011) recomendou como medidas de
controle da Tuberculose que os ambientes públicos e os de trabalho devem seguir
regras de ventilação e refrigeração estabelecidos pela vigilância sanitária e que o
paciente portador de TB deve ser atendido em ambiente arejado e com luz solar.
Quando não for possível o profissional de saúde deverá utilizar máscaras especiais
até o final da consulta (BRASIL, 2011).
Assim é primordial uma atenção quanto ao local de atendimento nos
presídios, bem como capacitação das equipes de saúde, tanto no diagnóstico,
tratamento e notificação da Tuberculose.
Sousa e Pinheiro (2011) informaram que o governo brasileiro reconheceu a
tuberculose como um problema de saúde pública. O Brasil possui um Plano
Estratégico para o controle da Tuberculose que foi estabelecido para vigorar entre
2007-2015. Foi apresentado como um programa unificado e executado pelas esferas
federal, estadual e municipal, compreendendo uma estratégia de incorporação entre
os provedores do SUS, no controle da Tuberculose (BRASIL, 2006).
Revelou-se com a pesquisa, segundo a percepção dos presos, a presença de
DST e AIDS, no sistema prisional sergipano. Segundo Reis (2011) essas doenças
constituem uma ameaça à população privada de liberdade (REIS, 2011).
O aumento crescente da população carcerária, conforme CNJ (2014), e as
condições dos presídios, bem como os relatos dos presos, parecem corroborar com
Rubio (2013) no sentido da distorção que há entre o que se fala, o que se defende
publicamente e o que se faz no sentido de não violação dos direitos humanos. A
adoção de medidas pós-violatórias parece não fazer reduzir a criminalidade. Em seu
estudo, Rubio (2013) também apontou a necessidade de enfrentar o desafio
contemporâneo do Direito em proceder a uma análise crítica sobre a diversidade e a
complexidade das relações sociais, sendo necessária a observação de um
pensamento interdisciplinar e relacional (RUBIO, 2013).
Os resultados da pesquisa indicaram que os operadores de políticas públicas
precisam exercitar o pensamento interdisciplinar e relacional na observação do direito
à saúde das pessoas privadas de liberdade. As autoridades sergipanas e brasileiras
não podem invocar o discurso dos direitos humanos e os dados revelarem constantes
e desumanas violações.
Relevante registrar que outros sistemas prisionais foram demandados perante
as cortes internacionais de proteção aos direitos humanos, também, por violações ao
direito à saúde dos presos como no caso específico do ocorrido no presídio Urso
Branco4. Neste episódio, o Brasil foi julgado e condenado pela Corte Interamericana
de Direitos Humanos a garantir o direito à vida, à integridade e à proteção dos
custodiados, bem como punir os responsáveis pela tragédia (CIDH, 2014). Segundo o
previsto no relatório da Comissão Justiça e Paz e do Movimento Justiça Global,
ficaram demonstradas as condições degradantes dos internos do presídio Urso Branco
e o descumprimento das normas internacionais de proteção das pessoas privadas de
liberdade. O relatório também destacou de forma clara que as condições de segurança
e de salubridade das celas ofendiam os direitos humanos dos presos (CARVALHO,
2007).
Em 2014 a Corte Interamericana de Direitos Humanos requereu ao Estado
brasileiro a adoção imediata de medidas de proteção eficazes para garantir a vida das
pessoas privadas de liberdade no Complexo de Curado, no Estado de Pernambuco.
Diante das recentes pesquisas sobre o sistema prisional não é difícil constatar
que o Estado brasileiro tem violado os documentos internacionais de proteção aos
4 Resolução da Corte Interamericana de Direitos Humanos, de 26.07.2011. Disponível em:
www.corteidh.or.cr/
direitos humanos, dos quais é signatário, tanto no sistema de proteção global como
sistema de proteção regional (JULIÃO, 2012).
Assim, de nada adiantará a posição dos Tribunais Superiores se não houver
uma profunda reformulação do modelo de justiça existente, com desapego à pena de
prisão. Isso pelo fato de o sistema prisional encontrar-se em situação de penúria,
carente de implementação de políticas públicas, não só de saúde, mas em todas as
áreas que possibilitem a ressocialização de homens e mulheres privados de liberdade.
Considerações Finais
O perfil dos presos sergipanos parece seguir uma tendência nacional quanto à
caracterização da população pesquisada, podendo sugerir um diagnóstico de
padronização perversa e seleção intencional da população prisional. Estabelecer
políticas públicas em saúde para o sistema prisional brasileiro constitui um caminho
importante e necessário para efetivação do estabelecido na Constituição Federal, nos
tratados e convenções internacionais e em leis específicas. As políticas públicas de
saúde para os presos sergipanos sugerem um descompasso entre o estabelecido
legalmente e a percepção dos usuários do sistema prisional. Levando em
consideração que as ações em saúde são estabelecidas cada vez em maior
profundidade por organismos internacionais faz-se necessário o aprimoramento dos
gestores, dos profissionais em saúde, dos pesquisadores e dos profissionais
envolvidos no sistema penitenciário no sentido de entenderem os interesses
envolvidos quando da adoção de determinadas políticas públicas.
As autoridades e os gestores não podem alegar desconhecimento técnico da
situação, haja vista que os relatórios são produzidos por profissionais que exercem
cargos públicos e/ou são servidores dos próprios ministérios ou órgãos. O Brasil como
signatário dos mais importantes tratados e convenções internacionais para a
população privada de liberdade precisa garantir a efetividade aos pactos estabelecidos
perante a comunidade internacional e incorporados ao direito pátrio sob pena de
representação aos organismos de defesa dos direitos humanos. Muito mais que
estabelecer políticas públicas em saúde, ou em qualquer outra área, precisa-se
garantir a efetividade dessas políticas públicas e promover a discussão sobre o
entendimento de ressocialização da população que lá se encontra em situação de total
abandono.
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Resumen
El más pequeño estado de Brasil, Sergipe presenta un perfil de la realidad
penitenciaria que mantienen una similitud con la realidad nacional. Esta investigación
fue elaborada en el período de 2013/2014, como resultado del proyecto de
investigación "Perfil dos Presos no Estado de Sergipe e Identificação de Políticas
Públicas para Egressos", proyecto con apoyo de FAPITEC-SE – Edital 13/2011. con
aprobación del Comité de Ética e Pesquisa de la Universidad Tiradentes, número de
Protocolo CEP 040712R. Fueron levantados datos primarios y secundarios y también
una investigación documental y bibliográfica. Los resultados han demostrado que
oficialmente hay políticas públicas de salud para las unidades penitenciarias en
Sergipe/Brasil. Las autoridades constituidas del tres poderes de la República
brasileña, el Ministerio de Acusación, la Ordene del Abogados del Brasil, los
Ministerios de la Justicia y de la Salud, el Consejo de la Comunidad de la ejecución
pénale, el Consejo Penitenciario, la sociedad Civil y las Universidades no pueden decir
que no conocen lo que pasa adentro de las unidades penitenciarias del Sergipe/Brasil
puesto que hay relatos oficiales que son preparados por los mismos actores sociales.
El estudio también ha permitido concluir que las violaciones de las leyes nacionales,
de los tratados y convenciones internacionales sugieren que el estado de
Sergipe/Brasil necesita garantizar la efectividad del cumplimiento del sistema legal
adoptado por el Brasil, sobe pena de representación junto a los organismos de
protección a los derechos humanos, por sucesivas y repetidas violaciones.