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IMPACTO DA INFORMAÇÃO CONTABILISTICA E DOS FATORES SOCIOECONOMICOS NA REELEIÇÃO DOS AUTARCAS PORTUGUESES Ana Maria Valente da Cunha [email protected] Universidade de Aveiro e Universidade do Minho Augusta da Conceição Santos Ferreira [email protected] Instituto Superior de Contabilidade e Administração da Universidade de Aveiro Centro de Investigação em Contabilidade e Fiscalidade Maria José da Silva Fernandes [email protected] Escola de Gestão do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave Centro de Investigação em Contabilidade e Fiscalidade Área Temática: A14 – Outros Temas Interligados com a Contabilidade e as Finanças Públicas Palavras-Chave: Municípios, Portugal, Reeleição, Regressão Logística, Teoria da Agência Metodologia: Quantitativa – Modelo de Regressão Logística Binário

IMPACTO DA INFORMAÇÃO CONTABILISTICA E DOS FATORES ... · sendo a análise efetuada em dois ciclos eleitorais, 2005 a 2008, e 2009 a 2012. À luz dos pressupostos da teoria da agência,

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IMPACTO DA INFORMAÇÃO CONTABILISTICA E DOS FATORES

SOCIOECONOMICOS NA REELEIÇÃO DOS AUTARCAS PORTUGUESES

Ana Maria Valente da Cunha

[email protected]

Universidade de Aveiro e Universidade do Minho

Augusta da Conceição Santos Ferreira

[email protected]

Instituto Superior de Contabilidade e Administração da Universidade de Aveiro

Centro de Investigação em Contabilidade e Fiscalidade

Maria José da Silva Fernandes

[email protected]

Escola de Gestão do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave

Centro de Investigação em Contabilidade e Fiscalidade

Área Temática: A14 – Outros Temas Interligados com a Contabilidade e as Finanças Públicas

Palavras-Chave: Municípios, Portugal, Reeleição, Regressão Logística, Teoria da Agência

Metodologia: Quantitativa – Modelo de Regressão Logística Binário

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Resumo: A escassa literatura académica existente sobre a temática do presente estudo centra-

se fundamentalmente na questão de avaliar se a informação contabilística influencia a

reeleição dos autarcas (Fernandes, Gomes, & Silva, 2012) e os resultados eleitorais dos

governos locais (Brusca & Montesinos, 2006; Feroz & Wilson, 1994; Ingram & Copeland,

1981). O presente estudo visa colmatar a lacuna existente na literatura, nomeadamente,

procurando avaliar o impacto da informação contabilística e dos fatores socioeconómicos na

reeleição dos autarcas. O objeto de investigação abrange os 308 municípios portugueses,

sendo a análise efetuada em dois ciclos eleitorais, 2005 a 2008, e 2009 a 2012. À luz dos

pressupostos da teoria da agência, partimos do seguinte problema de investigação: A

informação contabilística divulgada pelos municípios portugueses e os fatores

socioeconómicos têm influência na reeleição dos autarcas?. A metodologia de investigação

utilizada no estudo é quantitativa, com recurso à técnica estatística de regressão logística. Os

resultados obtidos mostram que alguns indicadores de natureza contabilística, tais como,

variáveis das componentes do orçamento, dívida municipal, contabilidade financeira,

despesas e receitas municipais, e alguns fatores socioeconómicos, como sejam, a população,

taxa de desemprego e níveis educacionais – básico 2º e 3º ciclos, médio e superior

influenciam a reeleição dos autarcas portugueses.

Palavras-Chave: Municípios, Portugal, Reeleição, Regressão Logística, Teoria da Agência

1. Introdução

As reformas introduzidas na contabilidade das organizações do setor público, provenientes do

movimento do New Public Management (NPM), foram caracterizadas por incorporar nas

entidades públicas novas abordagens e práticas de gestão do setor privado, nomeadamente, a

descentralização, a focalização nos resultados, e a medição do desempenho financeiro. O

NPM também se encontra intimamente relacionado com os conceitos de desempenho,

economia, eficiência e eficácia. As mudanças na contabilidade pública, fruto das ideias do

NPM, potenciam melhor qualidade de informação para a tomada de decisão, e maior

transparência e responsabilidade (accountability) na gestão pública.

A reduzida literatura académica existente sobre a temática do presente estudo centra-se,

fundamentalmente, na questão de avaliar se a informação contabilística tem impacto na

reeleição dos autarcas (Fernandes et al., 2012) ou nos resultados eleitorais dos governos

locais (Brusca & Montesinos, 2006; Feroz & Wilson, 1994; Ingram & Copeland, 1981). Pelo

que, o presente estudo visa colmatar esta lacuna, sendo o seu principal objetivo procurar

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avaliar a influência da informação contabilística e de outros fatores, tais como, os sociais e os

económicos, na reeleição dos autarcas. Assim, colocamos a seguinte questão de partida: A

informação contabilística divulgada pelos municípios portugueses e os fatores

socioeconómicos têm influência na reeleição dos autarcas?

A análise é efetuada para os 308 municípios de Portugal em dois ciclos eleitorais (2005 a

2008 e 2009 a 2012).

A metodologia de investigação utilizada no estudo é quantitativa, com recurso à técnica

estatística de regressão logística. Os resultados obtidos mostram que alguns indicadores de

natureza contabilística, tais como, variáveis das componentes do orçamento, dívida municipal,

contabilidade financeira, despesas e receitas municipais, e alguns fatores socioeconómicos,

como sejam, a população, taxa de desemprego e níveis educacionais – básico 2º e 3º ciclos,

médio e superior influenciam a reeleição dos autarcas portugueses.

O presente trabalho é estruturado em 5 secções. A secção 2 é dedicada à revisão de literatura,

onde enquadramos o estudo em termos teóricos e apresentamos alguns estudos empíricos

prévios. Na secção 3 apresentamos o desenho e a metodologia da investigação, sendo a secção

4 aquela em que apresentamos a discussão dos resultados. Por fim, a secção 5 é dedicada às

conclusões, limitações do estudo e propostas para investigação futura.

2. Revisão da Literatura

2.1 New Public Management, Accountability Pública e Teoria da Agência

A nível internacional, na década de 70 do século passado, as organizações do setor público

confrontaram-se com um novo paradigma de gestão pública, designado por New Public

Management (NPM) (Hood, 1991). O NPM abrange um conjunto de princípios associados às

mudanças organizacionais do setor público (Pillay, 2008) que, segundo Hood (1991),

consubstanciam-se nas seguintes sete componentes: (1) gestão profissional no setor público;

(2) normas claras e mensuração do desempenho; (3) maior focalização no controlo dos

outputs; (4) descentralização; (5) maior competição entre as organizações; (6) focalização nas

práticas de gestão do setor privado; e (7) maior disciplina e rigor na utilização dos recursos

públicos.

Nos anos 80 do século passado, o NPM “… evoluiu como um modelo universal de reforma e

governança” na gestão pública (Pillay, 2008), tendo incorporado nas organizações do setor

público novas abordagens e práticas de gestão tradicionalmente aplicadas apenas no setor

privado, promovendo a passagem de um sistema burocrático para um sistema baseado em

princípios de economia, eficiência e eficácia. Esta evolução exigiu alterações profundas na

contabilidade do setor público, sendo expetável que a informação por ela prestada possa

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permitir avaliar o desempenho dos gestores e das organizações públicas, ou seja, melhorar a

accountability pública.

Neste sentido, a contabilidade passou a ocupar um lugar crucial sobre a nova perceção da

accountability pública, isto porque permite maior transparência das contas públicas (Hood,

1995), maior controlo e cumprimento de contratos a nível económico, social e político (Chan,

2003).

Em uma perspetiva democrática, Bovens, Schillemans, & Hart (2008) consideram a

accountability pública um elemento fundamental, uma vez que os mecanismos da

accountability devem permitir o controlo e a legitimação das ações dos governos. As ideias

subjacentes à perspetiva democrática da accountability são concetualizadas no modelo do

principal-agente (ou teoria da agência), o qual existem relações de agência entre principal e

agente (Bovens et al., 2008).

A teoria da agência pressupõe que, na presença de uma relação de agência, onde existem

conflitos de interesse entre o principal e o agente, o agente procura atuar oportunisticamente

no seu interesse próprio, tendo em vista a maximização do seu bem-estar. Neste sentido, no

âmbito das organizações do setor público, e mais concretamente nos municípios, Fernandes et

al. (2012, p. 5) mencionam que o agente (os autarcas) maximiza a sua utilidade quando é

reeleito, e o principal (os cidadãos/eleitores) maximiza o seu interesse “… quando o Estado

produz bens e serviços que satisfazem as suas necessidades”.

Zimmerman (1977, p. 117) parte do pressuposto que os agentes económicos são, entre outros,

seres racionais, pelo que “… os sistemas contabilísticos são o produto das escolhas racionais

feitas pelos indivíduos”, e nesse sentido, a contabilidade serve para comunicar os efeitos

económicos das decisões tomadas pelos políticos (Ingram & Copeland, 1981). Assim, a

informação contabilística deverá permitir aos cidadãos/eleitores obter informação sobre os

recursos públicos que se encontram a ser geridos e utilizados pelos autarcas, e desse modo

avaliar o seu desempenho.

2.2 Estudos Empíricos Prévios

Em atenção ao objetivo do estudo, e dado que na literatura não encontrámos estudos cujo

objetivo se assemelhe ao objetivo da presente investigação, consideramos importante

apresentar alguns estudos empíricos que analisaram se a informação contabilística tem

impacto na reeleição dos autarcas (Fernandes et al., 2012) ou nos resultados eleitorais (Brusca

& Montesinos, 2006; Feroz & Wilson, 1994; Ingram & Copeland, 1981), e cujo quadro

teórico é a teoria da agência. Nestas investigações os autores identificam outros fatores com

influência na reeleição dos autarcas ou nos resultados eleitorais, tais como, fatores sociais e

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económicos. O Quadro 1 resume a análise aos artigos científicos, designadamente, amostra,

período de análise, variáveis utilizadas e principais conclusões.

Quadro 1. Determinantes com impacto na reeleição dos autarcas e nos resultados eleitorais

Artigo Científico Amostra Período de

Análise Variáveis Utilizadas Principais Conclusões

Fernandes et al.

(2012)

308 municípios

portugueses 2005 a 2009

Contabilísticas e Financeiras

Sociais e Económicas

As decisões de voto são influenciadas pela

informação contabilística.

A influência da informação contabilística e

dos fatores sociais e económicos é dependente

da dimensão dos municípios portugueses.

O índice de qualidade dos relatórios

financeiros e a informação associada à

situação económico-financeira dos municípios

são decisivos nos resultados eleitorais.

A taxa de desemprego e o nível de educação

têm influência na reeleição dos autarcas.

Brusca &

Montesinos (2006)

143 cidades

espanholas com

mais de 20.000

habitantes com

escritórios de

auditoria

eleições de

1999 e

eleições de

2003

Rácios contabilísticos

Os resultados eleitorais são influenciados pela

informação financeira.

Variáveis significativas no modelo: índice de

modificação das despesas e índice de

execução das despesas.

Os resultados sugerem que os

cidadãos/eleitores tomam em consideração a

gestão orçamental em detrimento do nível da

dívida municipal e da pressão fiscal.

Feroz & Wilson

(1994)

220 cidades dos

Estados Unidos

da América com

mais de 25.0000

habitantes

1983 a 1985

Contabilidade Financeira

Sociodemográficas

Variáveis contabilísticas financeiras: caixa e

investimentos em holdings e impostos sobre a

propriedade influenciam os resultados

eleitorais.

As variáveis contabilísticas financeiras têm

maior importância nas cidades com menor

competição política.

As maiores preocupações dos

cidadãos/eleitores prendem-se com o nível de

serviços (em especial a saúde e o bem-estar) e

a dívida.

Ingram &

Copeland (1981)

182 cidades dos

Estados Unidos

da América

1972 a 197

Rácios contabilísticos

Sociodemográficas

Rácios contabilísticos em conjunto com as

variáveis sociodemográficas poderão explicar

os resultados eleitorais.

Nos estudos referidos no Quadro 1, a metodologia utilizada pelos autores para a estimação

dos modelos empíricos incluiu a regressão linear múltipla (Brusca & Montesinos, 2006), o

modelo probit (Feroz & Wilson, 1994), o modelo de dados em painel (Fernandes et al., 2012),

sendo que Ingram & Copeland (1981) utilizaram a análise de clusters e a análise

discriminante. Brusca & Montesinos (2006) utilizaram a análise discriminante stepwise.

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De acordo com o Quadro 1 constatamos que todas as investigações têm como objeto de

estudo os governos locais, sendo que apenas o estudo de Fernandes et al. (2012) analisa a

realidade portuguesa. Assim, dada a reduzida existência de trabalhos científicos realizados em

Portugal associados ao objetivo do presente trabalho, consideramos importante apresentar

outras linhas de investigação, com focalização nos municípios portugueses, não obstante

apresentarmos, igualmente, outras realidades a nível internacional, e que procuram analisar a

informação contabilística e os fatores sociais e económicos.

Nogueira, Tomé, Cordeiro, & Dias (2014) analisaram a divulgação da informação

contabilística por parte dos autarcas de 33 municípios portugueses (Trás os Montes e Alto

Douro) na campanha eleitoral do ano de 2013. Os autores utilizaram a regressão linear

múltipla para a estimação do modelo empírico. As variáveis independentes incluídas no

modelo foram as seguintes: dimensão, ideologia política, forma de governação e coincidência

política, receitas fiscais e dívidas a pagar. No modelo empírico foram testadas variáveis

relacionadas com a natureza da informação contabilística.

Os resultados do estudo mostraram que os autarcas portugueses divulgam mais informação

relacionada com os investimentos realizados e com as dívidas a pagar, e o que fazem com

objetivos de campanha eleitoral. Os fatores que explicam a divulgação da informação

contabilística são: dimensão, tipo de governação do partido político do executivo municipal, e

o valor das dívidas a pagar.

Veiga & Veiga (2007) analisaram a influência de fatores de natureza política nas finanças

locais em 278 municípios do continente de Portugal, no período compreendido entre 1979 a

2001. Para a estimação do modelo empírico, os autores utilizaram o método generalizado dos

momentos, onde foram incluídas as seguintes variáveis exploratórias associadas à informação

contabilística: total de transferências per capita, transferências de capital per capita e

transferências correntes per capita. Os resultados deste estudo mostraram uma relação

positiva entre o total de transferências per capita e transferências de capital per capita com as

despesas municipais. No ano eleitoral (ou nos dois anos anteriores), os impostos municipais

diminuíram e as despesas municipais e o défice do orçamento aumentaram.

Balaguer-Coll & Brun-Martos (2013) procuraram determinar o efeito do gasto público

municipal sobre a probabilidade de os autarcas serem reeleitos em 293 municípios de Espanha

com mais de 20.000 habitantes, no período compreendido entre 2000 a 2007. A metodologia

utilizada neste estudo foi a regressão logit para dados em painel. No modelo empírico, os

autores incluíram variáveis independentes de natureza da informação contabilística,

nomeadamente, despesas, receitas e endividamento municipais, sendo também incluídas no

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modelo algumas variáveis socioeconómicas, tais como, taxa de desemprego e densidade

populacional.

Os resultados do estudo de Balaguer-Coll & Brun-Martos (2013) mostraram um efeito

positivo das despesas municipais, em especial as despesas de capital, sobre a probabilidade de

reeleição dos autarcas. Para além das despesas municipais, as receitas de impostos, o nível de

endividamento, e as receitas de transferências também mostraram um efeito positivo sobre a

reeleição. Os resultados mostraram ainda que a taxa de desemprego não influencia a

probabilidade de reeleição dos autarcas.

3. Desenho e Metodologia de Investigação

Através da análise efetuada na secção anterior aos estudos empíricos, por um lado, demos

conta que os resultados das investigações com base na teoria da agência mostraram que a

informação contabilística influencia os resultados eleitorais. Por outro lado, estas

investigações também mostraram que existiram fatores sociais e económicos com influência

nos resultados eleitorais.

A reduzida investigação nesta área de estudo tem sido referida por outros autores,

nomeadamente, Fernandes et al. (2012) e Brusca & Montesinos (2006) mencionaram que os

estudos que analisam a relação entre as questões de natureza contabilística e os resultados

eleitorais são preteridos em relação àqueles cujo objetivo é analisar as relações entre os dados

macroeconómicos e os resultados eleitorais.

Neste sentido, considera-se importante aferir se nos municípios portugueses a informação

contabilística influencia a reeleição dos autarcas, e procurar aferir, igualmente, se outros

fatores, como sejam, os sociais e os económicos, têm influência na reeleição, uma vez que de

acordo com Nogueira et al. (2014, p. 4) e Tomé, Nogueira, Cordeiro, & Dias (2014, p. 3) os

autarcas “… começam, em termos gerais, a ter consciência da atenção que começa a ser dada

pelos eleitores à informação da prestação de contas e da influência que esta pode vir a ter no

momento do voto eleitoral”.

A escolha recai sobre o setor público local, em especial, os municípios, uma vez que na

literatura académica se assume que os municípios encontram-se mais próximos dos cidadãos

(Brusca & Montesinos, 2006; Nogueira et al., 2014; Tomé et al., 2014). Nogueira et al.

(2014) e Tomé et al. (2014) são da opinião que, pelo facto de os municípios se encontrarem

mais próximos dos cidadãos, existe maior probabilidade de os autarcas percecionarem os

cidadãos como consumidores, i.é., utilizadores dos serviços públicos municipais com

obrigações a nível fiscal (pagamento de impostos municipais), mas também capazes de

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avaliar a gestão municipal quando são chamados às urnas, e de substituir os autarcas quando a

sua gestão é ineficaz.

Neste enquadramento, e tendo por base os pressupostos da teoria da agência, colocamos o

seguinte problema de investigação: A informação contabilística divulgada pelos

municípios portugueses e os fatores socioeconómicos têm influência na reeleição dos

autarcas?

Face ao problema a investigar, procuramos dar resposta às seguintes questões de investigação:

1. A informação contabilística – componente do orçamento tem influência na reeleição

dos autarcas portugueses?

2. A informação contabilística – componente da dívida municipal tem influência na

reeleição dos autarcas portugueses?

3. A informação proporcionada pela contabilidade financeira tem influência na reeleição

dos autarcas portugueses?

4. A informação contabilística – componente das despesas municipais tem influência na

reeleição dos autarcas portugueses?

5. A informação contabilística – componente das receitas municipais tem influência na

reeleição dos autarcas portugueses?

6. Os fatores socioeconómicos têm influência na reeleição dos autarcas portugueses?

3.1 População, Amostra e Recolha de Dados

O presente estudo tem por objeto os 308 municípios portugueses. De acordo com o Anuário

Financeiro dos Municípios Portugueses, 278 municípios pertencem ao Continente e 30

municípios fazem parte das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira (Carvalho,

Fernandes, Camões, & Jorge, 2014, p. 21).

O período de análise do estudo compreende dois ciclos eleitorais, i.é., 2005 a 2008, e 2009 a

2012 e, para o cálculo da variável dependente, tomámos por base os resultados eleitorais dos

anos de 2009 e de 2013, respetivamente.

O modelo empírico da presente investigação é construído com variáveis exploratórias que têm

por base a informação contabilística e também alguns fatores socioeconómicos.

No estudo não foi possível incluir os 308 municípios portugueses, uma vez que para o cálculo

de algumas variáveis independentes eram exigidos dois períodos económicos consecutivos, e

em alguns (poucos) casos essa informação não se encontrava disponível. Neste sentido, a

amostra do estudo inclui 461 observações, para o ciclo eleitoral 2005-2008, e 416

observações, para o ciclo eleitoral 2009-2012.

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A recolha de dados para o cálculo das variáveis baseadas na informação contabilística teve

por base os documentos de prestação de contas dos municípios portugueses (balanço,

demonstração de resultados, e mapas de execução orçamental), e foram cedidos pelo Centro

de Investigação em Contabilidade e Fiscalidade do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave.

Quanto à recolha de dados referente aos fatores socioeconómicos, tivemos por base a

informação disponibilizada no sítio eletrónico do Instituto Nacional de Estatística1 (INE). Os

resultados eleitorais dos anos de 2009 e de 2013 foram extraídos do sítio eletrónico da

Direção Geral de Administração Interna2.

A análise estatística dos dados recolhidos foi efetuada com recurso ao software estatístico

IBM SPSS Statistics, versão 22.

3.2 Definição das Variáveis

3.2.1 Variável Dependente

Em presença do objetivo da investigação, a variável dependente é a Reeleição do Autarca

(RA), calculada com base nos resultados eleitorais dos anos de 2009 e de 2013; é uma

variável nominal dicotómica (dummy) que assume o valor um quando o autarca é reeleito e o

valor zero quando o autarca não é reeleito.

3.2.2 Variáveis Independentes

A seleção das variáveis independentes incluídas no modelo consta da Tabela 1, e teve por

base a análise efetuada na revisão da literatura aos estudos empíricos e alguns indicadores que

foram utilizados no Anuário Financeiro, uma vez que este documento constitui um

instrumento útil na análise económico-financeira das contas dos municípios portugueses.

Componente – Orçamento

Os resultados da investigação de Brusca & Montesinos (2006) mostraram que determinados

indicadores associados à gestão orçamental das despesas parecem influenciar de forma

significativa os resultados eleitorais. A ser assim, parece que os cidadãos/eleitores tomam em

consideração a gestão municipal, podendo dessa forma influenciar os resultados eleitorais.

Por tal facto, para as variáveis despesas comprometidas sobre despesas corrigidas

(DesCompDesCg), excedente do orçamento corrente (ExOrCor), receitas liquidadas sobre

receitas corrigidas (RecLiquiRecCg), grau de independência financeira (GraIndFin), grau

de execução das despesas (GraExecDes) e grau de execução das receitas (GraExecRec)

prevemos um sinal positivo, uma vez que é expetável que os cidadãos/eleitores darão

1 https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_base_dados&contexto=bd&selTab=tab2 2 http://www.dgai.mai.gov.pt/?area=103&mid=015

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importância à gestão municipal no mandato anterior às eleições, aumentando à probabilidade

de os autarcas serem reeleitos.

Tabela 1. Descrição de todas as variáveis

Variáveis Sinal Esperado

Descrição/Cálculo

Dependente

RA --- Reeleição dos Autarcas (1=sim; 0=não)

Independentes

Componente - Orçamento

DesCompDesCg + Despesas comprometidas / Despesas Corrigidas

ExOrCor + Excedente Orçamento Corrente = (Despesas Corrigidas - Despesas comprometidas) / Despesas Corrigidas

RecLiquiRecCg + Receitas Liquidadas / Receitas Corrigidas

GraIndFin + Grau Independência Financeira = Receitas Próprias Cobradas / Receitas Totais Cobradas

GraExecDes + Grau Execução da Despesa = Despesas Pagas / Despesas Corrigidas

GraExecRec + Grau Execução da Receita = Receitas Totais Cobradas / Receitas Corrigidas

Componente – Dívida Municipal

DivTRecTCob ? Dívidas Totais a pagar / Receitas Totais Cobradas

JDivTRecTCob ? Juros e outros encargos sobre as Dívidas Totais / Receitas Totais Cobradas

CusDiv ? Custo da Dívida = Taxa de juro da dívida pública em Portugal

EndiviLiq ? Endividamento Líquido per capita

VarDivLiq ? Variação da Dívida Líquida per capita

DivRecebCprRecTCob ? Dívidas a Receber Curto Prazo / Receitas Totais Cobradas

DivPgCprDesTComp ? Dívidas a Pagar Curto Prazo / Despesas Totais Comprometidas

TFundDivT ? Total Fundos Próprios / Dívidas Totais

Componente – Contabilidade Financeira

PassT - Passivo Total per capita

LiqGeral - Ativo Circulante / Passivo Circulante

ResulOperac - Resultados Operacionais per capita

CusPessCusOperac - Custos com o Pessoal / Custos Operacionais

VarPassFinan - Dívidas de Médio e Longo Prazo n – Dívidas de Médio e Longo Prazo n-1

PesoDivInstCrRec - Peso da Dívida das Instituições de Crédito / Receitas n-1

PesoDivFornRec - Peso da Dívida de Fornecedores / Receitas n-1

ImobCapPerm + Capitais Permanentes / Imobilizado Líquido

Solvabilidade ? Fundos Próprios / Passivo

AutFinan ? Fundos Próprios / Ativo Total

RLE + Resultado Liquido Exercício

Componente – Despesas Municipais

DesTPg + Despesas Totais Pagas per capita

DesCorPg + Despesas Correntes Pagas per capita

DesCapPg + Despesas de Capital Pagas per capita

TransfCorDesCorPg + Transferências Correntes / Despesas Correntes Pagas

TransfCapDesCapPg + Transferências de Capital / Despesas de Capital Pagas

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Tabela 1. Descrição de todas as variáveis - continuação

Componente – Receitas Municipais

ImpDirRecTLiq - Impostos Diretos / Receitas Totais Liquidadas

ImpRecCorLiq - Impostos Receitas Correntes Liquidadas per capita

ImpRecCorLiqDivT - Impostos Receitas Correntes Liquidadas per capita / Dívida Total per capita

ImpRecCorLiqDesCorPg - Impostos Receitas Correntes Liquidadas per capita / Despesas Correntes Pagas

ImpRecCorLiqDesCapPg - Impostos Receitas Correntes Liquidadas per capita / Despesas de Capital Pagas

TransfTLiq + Transferências Totais Centrais Liquidadas per capita

TransfCapLiqDesCapPg + Transferências de Capital Centrais Liquidadas per capita / Despesas de Capital Pagas

TransfCorLiqDesCorPg + Transferências Correntes Centrais Liquidadas per capita / Despesas Correntes Pagas

Fatores Socioeconómicos

População + Nº de Habitantes

Densidade Populacional + Densidade populacional (N.º de habitantes/ km²)

Nível de Rendimento + Ganho médio mensal (€) por trabalhador

Taxa de Desemprego - Taxa de desemprego segundo os Censos 2001 e 2011 (%)

Nível Educacional – Sem Nível Escolaridade

- População residente com 15 e mais anos por nível de escolaridade completo mais elevado segundo os Censos 2001 e 2011 (%)

Nível Educacional – Básico1º ciclo

- População residente com 15 e mais anos por nível de escolaridade completo mais elevado segundo os Censos 2001 e 2011 (%)

Nível Educacional – Básico 2º ciclo

- População residente com 15 e mais anos por nível de escolaridade completo mais elevado segundo os Censos 2001 e 2011 (%)

Nível Educacional – Básico 3º ciclo

- População residente com 15 e mais anos por nível de escolaridade completo mais elevado segundo os Censos 2001 e 2011 (%)

Nível Educacional – Secundário

- População residente com 15 e mais anos por nível de escolaridade completo mais elevado segundo os Censos 2001 e 2011 (%)

Nível Educacional – Médio

- População residente com 15 e mais anos por nível de escolaridade completo mais elevado segundo os Censos 2001 e 2011 (%)

Nível Educacional – Superior

- População residente com 15 e mais anos por nível de escolaridade completo mais elevado segundo os Censos 2001 e 2011 (%)

Nível Económico + Valor acrescentado bruto (€) das Empresas

Controlo

Ano Pré-eleitoral + Variável dummy que assume o valor um quando o ano é 2008, e zero no caso contrário

Dimensão + Variável dummy que assume o valor um quando os municípios portugueses são de pequena dimensão, e zero no caso de os municípios portuguese serem de média e de grande dimensão

Cor Política + Variável dummy que assume o valor um quando se trata do partido da direita, e zero no caso de se tratar do partido da esquerda

Componente – Dívida Municipal

Os resultados das investigações mostraram divergências. Os resultados de Ingram &

Copeland (1981) indicaram que a dívida municipal influencia, positivamente, a decisão de

voto, enquanto os resultados obtidos por Brusca & Montesinos (2006) mostraram que o nível

da dívida municipal não influencia os resultados eleitorais. Assim, admitindo que os

cidadãos/eleitores darão importância aos níveis de dívida municipal, i.é., que a diminuição da

dívida poderá ter influência positiva na reeleição e que um aumento da dívida municipal, por

se poder vir a traduzir em aumentos futuros de taxas ou de impostos, poderá ter influência

negativa na reeleição, não prevemos um sinal para as variáveis dívidas totais a pagar sobre

receitas totais cobradas (DivTRecTCob), juros e outros encargos sobre as dívidas totais sobre

receitas totais cobradas (JDivTRecTCob), custo da dívida (CusDiv), endividamento líquido

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per capita (EndivLiq), variação da dívida líquida per capita (VarDivLiq), dívidas a receber

de curto prazo sobre receitas totais cobradas (DivRecCprRecTCob), dívidas a pagar de curto

prazo sobre despesas totais comprometidas (DivPgCprDesTComp) e total de fundos próprios

sobre dívidas totais (TFundDivT).

Componente – Contabilidade Financeira

Fernandes et al. (2012) e Brusca & Montesinos (2006) incluíram alguns indicadores da

contabilidade financeira, pese embora os resultados de Brusca & Montesinos (2006) serem

inconclusivos em relação à influência desses indicadores nos resultados eleitorais. Os

resultados de Fernandes et al. (2012) mostraram influência de algumas variáveis de natureza

financeira nos resultados eleitorais. Os autores testaram a variável posição no ranking global,

e os resultados obtidos mostraram que a variável afeta negativamente a reeleição dos autarcas.

Dado que na presente investigação consideramos alguns desses indicadores, com exceção

para o prazo médio de pagamentos, prevemos um sinal negativo para as variáveis passivo

total per capita (PassT), ativo circulante sobre passivo circulante (LiqGeral), resultados

operacionais per capita (ResulOperac), custos com o pessoal sobre custos operacionais

(CusPessCusOperac), dívidas de médio e longo prazo do ano n menos dívidas de médio e

longo prazo do ano n-1 (VarPassFinan), peso da dívida das instituições de crédito sobre

receitas do ano n-1 (PesoDivInstCrRec) e peso da dívida de fornecedores sobre receitas do

ano n-1 (PesoDivFornRec), uma vez que de acordo com Fernandes et al. (2012), é expectável

que a probabilidade de reeleição dos autarcas nos municípios portugueses que demonstrem

uma situação financeira deficitária seja menor.

Dada a escassa informação disponível na literatura académica quanto a variáveis explicativas

da contabilidade financeira, consideramos importante estudar outras variáveis que decorrem

do Plano Oficial de Contabilidade Pública para as Autarquias Locais (POCAL3). As variáveis

são: o grau de cobertura do imobilizado, i.é., capitais permanentes sobre imobilizado líquido

(ImobCapPerm), por este representar, segundo o Anuário Financeiro, em média, cerca de

89,86% do ativo total dos municípios portugueses. Se considerarmos que o imobilizado traduz

o conjunto de infraestruturas que permitem, em grande medida, a prestação de serviços ao

cidadão/eleitor, esperamos que esta variável tenha um sinal positivo; a Solvabilidade, i.é.,

fundos próprios sobre passivo, porque traduz o grau de independência dos municípios face

aos seus credores. Para esta variável não prevemos sinal, dado que, quanto maior/menor o

grau de independência maior/menor a probabilidade de reeleição dos autarcas; a autonomia

3 POCAL – Aprovado pelo Decreto-Lei nº 54-A/99, de 22 de fevereiro.

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13

financeira (AutFinan), i.é., fundos próprios sobre ativo total, por traduzir o grau de

dependência de financiamentos externos dos municípios portugueses. Para a variável

AutFinan não prevemos sinal, porque é expectável que quanto maior/menor a dependência

de financiamentos externos, maior/menor a probabilidade de reeleição dos autarcas. Para a

variável resultado líquido do exercício (RLE) prevemos um sinal positivo, uma vez que, de

acordo com os resultados de Ferreira, Carvalho, & Pinho (2012), no período entre 2002 e

2008, e de forma tendencial, os autarcas portugueses divulgam resultados líquidos positivos

mas não muito elevados, tendo em vista sinalizarem a sua competência e o seu desempenho

perante os cidadãos/eleitores.

Componente – Despesas e Receitas Municipais

De acordo com Balaguer-Coll & Brun-Martos (2013) quanto maior forem as despesas totais

incorridas no ciclo eleitoral, maior será a probabilidade de reeleição dos autarcas. Nesse

sentido, para as variáveis despesas totais pagas per capita (DesTPg), despesas correntes pagas

per capita (DesCorPg), despesas de capital pagas per capita (DesCapPg), transferências

correntes sobre despesas correntes pagas (TransfCorDesCorPg), transferências de capital

sobre despesas de capital pagas (TransfCapDesCapPg), prevemos um sinal positivo.

Relativamente à variável transferências, Balaguer-Coll & Brun-Martos (2013) e Veiga &

Veiga (2007) constataram que a variável tinha um efeito positivo sobre a reeleição dos

autarcas, porque isso significa que, quanto maiores forem as transferências totais recebidas

pelos municípios, maiores poderão ser as despesas totais. Neste sentido, para as variáveis

transferências totais centrais liquidadas per capita (TransfTLiq), transferências de capital

centrais liquidadas per capita sobre despesas de capital pagas (TransfCapLiqDesCapPg) e

transferências correntes centrais liquidadas per capita sobre despesas correntes pagas

(TransfCorLiqDesCorPg) prevemos um sinal positivo. Uma vez que um aumento dos

impostos poderá traduzir-se em uma imagem negativa da gestão municipal, prevemos um

sinal negativo para as variáveis impostos diretos sobre receitas totais liquidadas

(ImpDirRecTLiq), impostos receitas correntes liquidadas per capita (ImpRecCorLiq),

impostos receitas correntes liquidadas per capita sobre dívida total per capita

(ImpRecCorLiqDivT), impostos receitas correntes liquidadas per capita sobre despesas

correntes pagas (ImpRecCorLiqDesCorPg) e impostos receitas correntes liquidadas per

capita sobre despesas de capital pagas (ImpRecCorLiqDesCapPg).

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14

Fatores Socioeconómicos

Para além da informação contabilística poder influenciar a reeleição dos autarcas, poderão

existir outros fatores, como por exemplo, sociais e económicos com influência na reeleição

(Fernandes et al., 2012).

Os resultados de Castro & Martins (2013) mostraram que quanto maior é o número de

habitantes nos municípios de Portugal Continental maior a probabilidade de reeleição dos

autarcas. Os resultados de Sakurai & Menezes-Filho (2008) e de Balaguer-Coll, Brun-Martos,

Forte, & Tortosa-Ausina (2015) sugerem que a população tem um efeito positivo sobre a

reeleição. Assim, é expectável que o número de habitantes nos municípios influencie a

reeleição dos autarcas, pelo que, para a variável População, medida pelo número de

habitantes, prevemos um sinal positivo.

A variável Densidade Populacional foi testada por Fernandes et al. (2012) e Balaguer-Coll &

Brun-Martos (2013), sendo que os resultados mostraram uma relação positiva com a

probabilidade de reeleição dos autarcas, pelo que para a variável Densidade Populacional,

prevemos um sinal positivo.

Os resultados do estudo de Fernandes et al. (2012) mostraram que a taxa de desemprego tem

um forte impacto sobre a reeleição dos autarcas nos municípios de pequena dimensão, uma

vez que, um maior nível de desemprego significa uma menor probabilidade de os autarcas

serem reeleitos. Contudo, os resultados do estudo de Balaguer-Coll & Brun-Martos (2013) e

de Balaguer-Coll et al. (2015) mostraram o efeito contrário. Não obstante os resultados

contraditórios, e por o presente estudo recair sobre os municípios portugueses, prevemos um

sinal positivo para a Taxa de Desemprego.

Quanto à variável Nível Educacional (percentagem da população residente com 15 e mais

anos por nível de escolaridade completo mais elevado segundo os Censos 2001 e 2011), os

resultados do estudo de Fernandes et al. (2012) mostraram uma relação negativa e

significativa entre o nível educacional e a reeleição dos autarcas portugueses, com especial

destaque para os municípios de grande dimensão. Pelo que é expectável que quanto maior o

nível educacional dos cidadãos/eleitores, menor a probabilidade de os autarcas serem

reeleitos. Isto porque o nível educacional poderá estar associado com a dificuldade em os

cidadãos/eleitores interpretarem a informação contabilística que é complexa (Brusca &

Montesinos, 2006). Pelo que, para a variável Nível Educacional, prevemos um sinal

negativo.

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No modelo empírico consideramos ainda as variáveis Nível de Rendimento (ganho médio

mensal por trabalhador) e o Nível Económico (valor acrescentado bruto das empresas), uma

vez que segundo Ingram & Copeland (1981) estas variáveis poderão contribuir para a

diferenciação das necessidades dos cidadãos/eleitores. Assim, segundo ainda os autores, uma

vez percecionadas as necessidades dos cidadãos/eleitores, os políticos terão em atenção

fatores sociais e económicos na formulação de políticas de cariz fiscal. Portanto, é expectável

que quanto maior o nível de rendimento e o nível económico maior seja a probabilidade de os

autarcas serem reeleitos. Pelo que, para as referidas variáveis, prevemos um sinal positivo.

3.2.3 Variáveis de Controlo

Ano Pré-eleitoral

Brusca & Montesinos (2006) referem que existe maior consistência nos resultados do seu

estudo empírico, quando a informação que utilizam tem origem no ano anterior às eleições.

Assim, para a variável Ano pré-eleitoral, prevemos um sinal positivo sobre a probabilidade

de reeleição dos autarcas portugueses.

Dimensão

Os resultados do estudo de Fernandes et al. (2012) sugerem que o impacto da informação

contabilística na decisão de voto dos cidadãos/eleitores encontra-se dependente da dimensão

dos municípios portugueses. Ou seja, nos municípios de pequena dimensão, existe maior

preocupação em relação à quantidade de bens e serviços disponíveis para a comunidade local,

e os cidadãos/eleitores encontram-se preocupados com a maximização do seu interesse

próprio. Nos municípios de grande dimensão, os cidadãos/eleitores preocupam-se mais com a

sua qualidade de vida e com as políticas fiscais emanadas pelos autarcas. Assim, para a

variável Dimensão prevemos um sinal positivo sobre a probabilidade de reeleição dos

autarcas portugueses.

Cor Política

Os resultados do estudo de Fernandes et al. (2012) mostraram forte probabilidade de a

reeleição dos autarcas encontrar-se associada ao partido da direita, pelo que para a variável

Cor Política, perspetivamos um sinal positivo.

3.3 Especificação do Modelo Empírico

As variáveis relativas à informação contabilística permitem-nos testar a hipótese de

investigação H1: Em Portugal, a informação contabilística divulgada pelos municípios

influencia a reeleição dos autarcas, e as variáveis relacionadas com os fatores

socioeconómicos permitem-nos testar a hipótese de investigação H2: Em Portugal, os

fatores socioeconómicos influenciam a reeleição dos autarcas.

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16

No presente estudo utilizámos a metodologia quantitativa, aplicando a regressão logística

(método Enter), por a variável dependente, RA, ser dicotómica, vindo o modelo empírico

expresso na seguinte equação:

Quadro 2. Equação do Modelo Empírico

RAit=β0+ β1X1it+ β2X2it+β3X3it+…+ βnXnit+ eit

para i =1…308 e t =2005…2012

onde: RA – reeleição dos autarcas para as eleições de 2009 e de 2013; i – observações para cada município

considerado na amostra; t – observações para cada ano; β0 … βn – coeficientes estimados; X1…Xn – variáveis

independentes; e – erro.

4. Discussão dos Resultados Empíricos

4.1 Análise Multivariada – Modelo de Regressão Logística

No estudo procedemos à validação dos pressupostos do modelo através da análise aos

resíduos em termos gráficos e do diagnóstico aos casos influentes. Desta análise resultaram 15

observações candidatas a outliers (ciclo eleitoral 2005-2008) e 18 observações candidatas a

outliers (ciclo eleitoral 2009-2012). Não obstante, incluimos essas observações no modelo

final para os dois ciclos eleitorais, dado que, para o ciclo eleitoral 2005-2008, a remoção das

15 observações não melhorou a significância do modelo nem a qualidade do seu ajustamento

e para o ciclo eleitoral 2009-2012, a remoção das 18 observações melhorou a significância

mas não a qualidade do ajustamento do modelo.

Os resultados da estimação do modelo para cada ciclo eleitoral são apresentados no Quadro 3.

Quadro 3. Resultados da Estimação do Modelo de Regressão Logística

Variável Independente Sinal Esperado Ciclo Eleitoral 2005-2008 Ciclo Eleitoral 2009-2012

Coeficiente (Wald Statistic)

Coeficiente (Wald Statistic)

Constante 272,757 (1,040)

17,578 (0,987)

Componente – Orçamento

DesCompDesCg + 5,226

(3,545)* -6,699

(4,851)**

RecLiquiRecCg + -1,576 (0,023)

-14,207 (3,799)*

GraIndFin + -2,931 (0,328)

-0,946 (0,201)

GraExecDes + 1,341

(0,142) 7,637

(3,146)*

GraExecRec + -1,994 (0,032)

14,934 (3,134)*

Componente – Dívida Municipal

DivTRecTCob ? 0,323

(0,090) -2,605 (2,564)

JDivTRecTCob ? -2,107 (0,042)

-7,655 (0,110)

CusDiv ? -0,045 (0,031)

2,242 (2,224)

EndiviLiq ? -0,001 (0,633)

0,002 (5,520)**

VarDivLiq ? 0,000

(0,056) 0,000

(0,135)

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DivRecebCprRecTCob ? 0,473

(0,039) -0,134 (0,003)

DivPgCprDesTComp ? 0,835

(0,077) 1,083

(0,161)

TFundDivT ? 0,076

(1,586) 0,363

(5,387)**

Componente – Contabilidade Financeira

PassT - 0,000

(0,022) -0,001

(9,018)***

LiqGeral - 1,039

(2,381) 1,617

(0,928)

ResulOperac - 0,002

(0,335) 0,004

(1,587)

CusPessCusOperac - -7,649

(5,218)** -5,457 (1,794)

VarPassFinan - 0,000

(0,191) 0,000

(0,745)

PesoDivInstCrRec - -1,571 (2,461)

-0,588 (0,178)

PesoDivFornRec - -2,734 (2,624)

0,000 (0,082)

ImobCapPerm + -8,113

(9,015)*** -5,838 (1,136)

Solvabilidade ? -0,122 (1,976)

-0,775 (7,487)***

AutFinan ? -1,179 (0,621)

-3,064 (0,438)

RLE + 0,001

(0,204) -0,002 (0,321)

Componente – Despesas Municipais

DesTPg + -0,002 (2,481)

0,002 (1,263)

DesCorPg + -0,002 (0,858)

-0,007 (5,937)**

TransfCorDesCorPg + 3,855

(0,487) 1,318

(0,056)

TransfCapDesCapPg + -1,059 (0,148)

-1,502 (0,321)

Componente – Receitas Municipais

ImpDirRecTLiq - -4,653 (0,376)

-17,115 (4,797)**

ImpRecCorLiq - 0,008

(2,113) 0,022

(8,652)***

ImpRecCorLiqDivT - -1,563 (1,623)

-2,720 (0,584)

ImpRecCorLiqDesCorPg - 111178,942 (5,182)**

-34318,157 (0,496)

ImpRecCorLiqDesCapPg - -1733,805

(0,022) 14696,743

(1,003)

TransfTLiq + 0,002

(2,569) -0,003 (2,139)

TransfCapLiqDesCapPg + 135,867 (0,093)

9872,417 (3,542)*

TransfCorLiqDesCorPg + -5300,069

(0,468) -5950,028

(0,408)

Fatores Socioeconómicos

População + 0,000

(16,789)*** 0,000

(5,522)**

Densidade Populacional + -0,002 (1,845)

-0,001 (0,735)

Nível de Rendimento + 0,000

(0,007) 0,001

(0,096)

Taxa de Desemprego + 0,457

(24,261)*** 0,157

(3,306)* Nível Educacional – Sem Nível Escolaridade

- -2,553 (0,909)

0,098 (0,322)

Nível Educacional – Básico1º ciclo - -2,635 (0,968)

-0,038 (0,041)

Nível Educacional – Básico 2º ciclo - -2,974 (1,225)

-0,468 (5,564)**

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Nível Educacional – Básico 3º ciclo - -2,205 (0,665)

0,253 (4,270)**

Nível Educacional – Secundário - -2,736 (1,046)

0,091 (0,074)

Nível Educacional – Médio - -6,758

(4,771)** -2,825

(3,554)**

Nível Educacional – Superior - -3,546 (1,713)

-0,556 (7,196)***

Nível Económico + 0,000

(0,185) ,0000

(0,230)

Controlo

Ano Pré-eleitoral + -0,037 (0,002)

2,167 (1,151)

Dimensão + -1,986

(7,124)*** -1,772

(4,838)**

Cor Política + 0,004

(0,000) 0,531

(1,371)

R2 de Nagelkerke 0,504 0,534

Nível de significância: 10% (*), 5% (**), 1% (***) Os erros típicos encontram-se entre parênteses.

Da análise aos resultados constantes no Quadro 3, constatámos que o R2 de Nagelkerke

apresenta-se superior no ciclo eleitoral 2009-2012 (53,40%), comparativamente ao verificado

para o ciclo eleitoral 2005-2008 (50,40%). O que significa que 53,40% da reeleição dos

autarcas no ano de 2013 é explicada pelo modelo, enquanto no ano de 2009, a reeleição dos

autarcas é explicada apenas em 50,40% pelo modelo. O que, de acordo com Maroco (2010),

os resultados mostram um modelo com qualidade adequada.

Quanto à componente do orçamento, os resultados mostraram que a variável DesCompDesCg

tem um efeito positivo e estatisticamente significativo ao nível de significância de 10% na

reeleição do autarca em 2009, consequentemente, apresenta o sinal esperado. Os resultados

obtidos por Brusca & Montesinos (2006) vão no mesmo sentido, i.é, a gestão orçamental das

despesas parece influenciar os resultados eleitorais. Contrariamente, essa variável apresenta

um efeito negativo sobre a reeleição do autarca em 2013, sendo estatisticamente significativa

ao nível de significância de 5%. Neste caso, o sinal obtido é contrário ao sinal esperado, o que

poderá querer significar que os cidadãos/eleitores poderão encontrar-se insatisfeitos com a

gestão autárquica, logo, a probabilidade de os autarcas serem reeleitos diminuirá. A variável

RecLiquiRecCg apresenta-se estatisticamente significativa apenas no ciclo eleitoral que

culmina com a eleição de 2013. O nível de significância é de 10% e o sinal obtido negativo é

contrário ao esperado. As variáveis GraExecDes e GraExecRec mostraram um efeito

positivo sobre a reeleição do autarca em 2013, estatisticamente significativas ao nível de

significância de 10%. O sinal obtido para estas duas variáveis é coincidente com o sinal

esperado. O que poderá querer significar que os municípios cumprem com o princípio do

equilíbrio orçamental, ou seja, as receitas municipais tendem a financiar as despesas

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municipais (Balaguer-Coll & Brun-Martos, 2013), potenciando a otimização de recursos

públicos disponíveis. Logo, a probabilidade de o autarca ser reeleito aumentará.

Quanto à componente da dívida municipal, só as variáveis EndivLiq e TFundDivT são

estatisticamente significativas e apenas para o ciclo eleitoral que culmina com a reeleição do

autarca em 2013. Para este período, ambas as variáveis apresentam um nível de significância

de 5% e o sinal positivo, o que parece querer significar que estas variáveis têm influência na

reeleição do autarca em 2013. No estudo de Balaguer-Coll & Brun-Martos (2013), a variável

endividamento não se mostrou significativa.

Os resultados mostraram que algumas variáveis da componente da contabilidade financeira

apresentam-se estatisticamente significativas. Para o período eleitoral que culmina com as

eleições de 2009, são as variáveis CusPessCusOperac e ImobCapPerm que apresentam,

respetivamente, um nível de significância de 5% e de 1%. Ambas mostraram um sinal

negativo, sendo que para a variável ImobCapPerm este sinal é contrário ao esperado. Para o

período eleitoral que culmina com as eleições de 2013, são as variáveis PassT e

Solvabilidade que se apresentam estatisticamente significativas ao nível de significância de

1%, e, para a variável PassT o sinal é o esperado. Para a variável Solvabilidade, o sinal é

negativo, podendo querer significar que nos municípios portugueses que apresentam uma

situação financeira deficitária, a reeleição do autarca tende a ser menor.

Quanto à componente das despesas municipais, os resultados mostraram que a variável

DesCorPg exerce uma influência estatisticamente significativa ao nível de significância de

5%, e com efeito negativo sobre a reeleição do autarca em 2013. O sinal apresenta-se

contrário ao sinal esperado para esta variável. O que poderá querer significar que quanto

maior forem as despesas correntes pagas, menor será a probabilidade de o autarca ser reeleito.

Ao nível da componente das receitas municipais, e para o ciclo eleitoral que culmina com as

eleições de 2009, apenas a variável ImpRecCorLiqDesCorPg apresenta-se estatisticamente

significativa ao nível de significância estatística de 5% e com sinal positivo, logo, contrário ao

esperado. Para o ciclo eleitoral que culmina com as eleições de 2013, as variáveis que

apresentam significância estatística são: ImpDirRecTLiq que se mostra com efeito negativo

(conforme esperado) e estatisticamente significativo ao nível de significância de 5% sobre a

reeleição; ImpRecCorLiq que apresenta um nível de significância de 1% e um sinal positivo

(contrário ao esperado), e TransfCapLiqDesCapPg com um nível de significância estatística

de 10% e um sinal positivo (conforme esperado). Os resultados obtidos poderão querer

significar que maiores níveis de receitas recebidas pelos municípios (impostos ou

transferências), implicarão maiores níveis de despesas municipais, logo, a probabilidade de o

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20

autarca ser reeleito aumentará. O efeito positivo também foi obtido nos resultados de

Balaguer-Coll & Brun-Martos (2013) e Veiga & Veiga (2007).

Alguns fatores socioeconómicos parecem influenciar a reeleição dos autarcas, nomeadamente,

População, Taxa de Desemprego, Níveis Educacionais – Básico 2º e 3º ciclos, Médio e

Superior. A variável População apresenta-se com efeito positivo (igual ao esperado) e

estatisticamente significativo ao nível de significância de 1% para a reeleição de 2009 e 5%

para a reeleição de 2013, o que vai de encontro aos resultados de Castro & Martins (2013),

Sakurai & Menezes-Filho (2008) e Balaguer-Coll et al. (2015), ou seja, a população poderá

ter influência sobre a probabilidade de reeleição do autarca. A variável Taxa de Desemprego

mostra-se também com um efeito positivo (sinal igual ao esperado) e estatisticamente

significativo ao nível de significância de 1% para a reeleição de 2009 e 10% para a reeleição

de 2013, o que se assemelha ao estudo de Fernandes et al. (2012). Isto poderá querer

significar que, nos municípios em que se registe uma taxa de desemprego elevada, a

probabilidade de o autarca ser reeleito tenderá a diminuir. A variável Nível Educacional -

Médio mostra-se estatisticamente significativa ao nível de significância de 5% para a

reeleição de 2009, e de 10% para a reeleição de 2013, com efeito negativo para ambos os

ciclos eleitorais (sinal obtido igual ao esperado). A variável Nível Educacional – Básico 2º

ciclo mostra-se estatisticamente significativa ao nível de significância de 5% para a reeleição

de 2013 e com efeito negativo (igual ao esperado). Também para a reeleição de 2013, a

variável Nível Educacional – Superior mostra-se com efeito negativo (igual ao esperado),

mas com nível de significância estatística de 1%. Os resultados convergem com o estudo de

Fernandes et al. (2012) quanto ao efeito negativo sobre a reeleição. O que poderá querer

significar que quanto menor for o nível educacional dos cidadãos/eleitores, maior a

probabilidade de reeleição do autarca. Contrariamente, a variável Nível Educacional –

Básico 3º ciclo apresenta-se com efeito positivo e estatisticamente significativo com nível de

significância de 5% para a reeleição de 2013.

Quanto às variáveis de controlo, os resultados mostraram que a variável Dimensão parece

influenciar negativamente (sinal contrário ao esperado) a reeleição do autarca. Esta variável

mostrou-se estatisticamente significativa com nível de significância de 1% para a reeleição de

2009 e de 5% para a reeleição de 2013.

5. Conclusão, Limitações e Bases para Futura Investigação

Esta investigação teve como principal propósito aferir a influência da informação

contabilística e dos fatores socioeconómicos na reeleição dos autarcas em Portugal, em dois

Page 21: IMPACTO DA INFORMAÇÃO CONTABILISTICA E DOS FATORES ... · sendo a análise efetuada em dois ciclos eleitorais, 2005 a 2008, e 2009 a 2012. À luz dos pressupostos da teoria da agência,

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ciclos eleitorais, 2005 a 2008 e 2009 a 2012. Para atingir o objetivo do estudo foi utilizada a

metodologia de investigação quantitativa, com recurso à técnica estatística de regressão

logística.

Na revisão da literatura efetuada aos artigos científicos com base na teoria da agência, os

resultados dos estudos permitem concluir que a informação contabilística tem influência sobre

os resultados eleitorais, sendo que existem outros fatores, como sejam, os socioeconómicos,

com influência nesses resultados. Pelo que, no presente estudo, partimos da seguinte questão

de investigação: A informação contabilística divulgada pelos municípios portugueses e os

fatores socioeconómicos têm influência na reeleição dos autarcas?

De forma a responder ao problema da investigação, colocámos seis questões de investigação e

testámos as seguintes hipóteses de investigação H1: Em Portugal, a informação contabilística

divulgada pelos municípios influencia a reeleição dos autarcas e H2: Em Portugal, os fatores

socioeconómicos influenciam a reeleição dos autarcas.

Para as questões de investigação:

A informação contabilística – componente do orçamento tem influência na reeleição dos

autarcas portugueses? respondemos que apenas as variáveis despesas comprometidas sobre

despesas corrigidas (DesCompDesCg), receitas liquidadas sobre receitas corrigidas

(RecLiquiRecCg), grau de execução das despesas (GraExecDes) e grau de execução das

receitas (GraExecRec) parecem influenciar a reeleição.

A informação contabilística – componente da dívida municipal tem influência na reeleição

dos autarcas portugueses? respondemos que algumas variáveis parecem ter influência na

reeleição, designadamente, endividamento líquido (EndiviLiq) e total de fundos sobre a

dívida total (TFundDivT).

A informação proporcionada pela contabilidade financeira tem influência na reeleição dos

autarcas portugueses? respondemos que só as variáveis passivo total (PassT), custos com

pessoal sobre custos operacionais (CusPessCusOperac), grau de cobertura do imobilizado

(ImobCapPerm) e Solvabilidade parecem influenciar a reeleição.

A informação contabilística – componente das despesas municipais tem influência na

reeleição dos autarcas portugueses? respondemos que apenas e só a variável despesas

correntes pagas per capita (DesCorPg) parece ter uma influência sobre a reeleição.

A informação contabilística – componente das receitas municipais tem influência na reeleição

dos autarcas portugueses? respondemos que algumas variáveis parecem influenciar na

reeleição, nomeadamente, impostos diretos sobre receitas totais liquidadas

(ImpDirRecTLiq), impostos receitas correntes liquidadas per capita (ImpRecCorLiq),

Page 22: IMPACTO DA INFORMAÇÃO CONTABILISTICA E DOS FATORES ... · sendo a análise efetuada em dois ciclos eleitorais, 2005 a 2008, e 2009 a 2012. À luz dos pressupostos da teoria da agência,

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impostos receitas correntes liquidadas per capita sobre despesas correntes pagas

(ImpRecCorLiqDesCorPg) e transferências de capital centrais liquidadas sobre despesas

capital pagas (TransfCapLiqDesCapPg).

Os fatores socioeconómicos têm influência na reeleição dos autarcas portugueses?

respondemos que apenas as variáveis População, Taxa de Desemprego e Nível educacional

– Básico – 2º e 3º ciclos, Médio e Superior parecem ter influência sobre a reeleição.

Neste estudo, não obstante os resultados não terem demonstrado significância estatística para

todas as variáveis incluídas no modelo, algumas dessas variáveis mostraram-se potenciadoras

de influenciarem a probabilidade de os autarcas portugueses serem reeleitos. Logo, em face

dos resultados temos evidência estatística que permite corroborar as hipóteses de investigação

apenas em parte.

O presente estudo apresenta algumas limitações. Por um lado, a escassa literatura académica

no âmbito da teoria da agência na qual se enquadra o estudo, por outro lado, a seleção da

amostra, uma vez que a mesma não abrange a distinção dos municípios portugueses segundo

o critério definido no Anuário Financeiro (municípios de pequena, média e grande

dimensão), pelo que consideramos que esta limitação poderá constituir uma base para futura

investigação. Também consideramos ainda como limitação deste estudo a seleção das

variáveis independentes e de controlo na medida em que pode ter ocorrido a omissão de

variáveis.

Como bases para investigação futura, e no âmbito da presente investigação, consideramos

pertinente o desenvolvimento de um estudo que considere a inclusão de outras variáveis

independentes de natureza orçamental, da dívida municipal e da contabilidade financeira.

Igualmente será pertinente desenvolver um estudo que avalie outros indicadores com

influência na reeleição dos autarcas portugueses, tais como, indicadores de natureza social e

económica.

No pressuposto de que a informação contabilística influencie a reeleição dos autarcas

portugueses, também cremos ser importante investigar se os autarcas agem de forma

oportunista quando preparam a informação com vista à sua reeleição.

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