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R E S U M O No presente artigo, apresenta-se o estudo das ânforas romanas exumadas durante a
intervençãoarqueológicanaRuadosBacalhoeiros,n.º32,levadaaefeitoentreOutubrode
2005eFevereirode2006.Alémdevestígiosdeperíodoshistóricosmaisrecentes,foiidentifi-
cado um núcleo de transformação de pescado da Época Romana, tendo sido registados
quatrotanquesdesalga,entreoutrasestruturasdamesmaépoca.
A B S T R A C T InthisarticletheauthorpresentsthestudyoftheRomanamphoraerecovered
duringarchaeologicalexcavationscarriedoutintheRuadosBacalhoeiros,no.32,between
October 2005 and February 2006. Additionally to the remains of more recent historical
periods, was identified a fish sauce industry of the Roman period that included, amongst
otherstructures,fourtanksforfishsaucetransformation.
1. Introdução
A intervenção arqueológica no n.º32 da Rua dos Bacalhoeiros (Lisboa) decorreu entreOutubrode2005eFevereirode2006,inserindo-senumconjuntodemedidasdeminimizaçãopréviasàsobrasdereabilitaçãodoreferidoedifício,que,porsuavez,seinseremnomegaempre-endimentoderequalificaçãoereabilitaçãodaRuadaMadalenaeartériasenvolventes,promo-vidopelaCâmaraMunicipaldeLisboa.Aintervenção,asseguradapelostécnicosdoServiçodeArqueologia do Museu da Cidade da Câmara Municipal de Lisboa (Dr.ª Lídia Fernandes eDr.AntónioMarques1),abrangeuaquasetotalidadedaáreadoedifício(160m²),tendo-seproce-didoàdivisãodoespaçoemtrêsSectoresdistintos,porsuavezsubdivididosnumtotaldeonzesondagens.
Importação e exportação de produtos alimentares em Olisipo: as ânforas romanas da Rua dos Bacalhoeiros
VICTORFILIpE*
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 301–324
Victor Filipe Importação e exportação de produtos alimentares em Olisipo: as ânforas romanas da Rua dos Bacalhoeiros
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Duranteaescavaçãofoipossívelregistaraexistênciadeváriosníveisdeocupação,doséculoId.C.aoséculoXX,dequesedestacamaquelesquesereferemaumnúcleodetransformaçãodepescadodaÉpocaRomana.paraalémdasestruturasdaqueleperíodo,foiexumadoumsignifica-tivoconjuntocerâmico,dequesedestacamasânforaseaterra sigillata (emestudoporLídiaFer-nandeseEuricoSepúlveda),dereconhecidaimportâncianoqueserefereaoestudodaeconomiaantiga,àcompreensãodasdinâmicascomerciais,ritmosdeconsumoehábitosalimentares,paraalémdeseconstituíremcomoexcelentesindicadorescronológicos.Éprecisamenteoestudodasânforasromanasrecolhidasduranteareferidaintervençãoqueaquiseapresenta.
2. A intervenção arqueológica na Rua dos Bacalhoeiros, n.º 32
Olocaldaintervenção,entreaRuadapadariaeaRuadaMadalena,situa-senosopédacolinadoCastelo,juntoàentradadoantigoesteiroderioqueocupavaaactualzonadaBaixapombalina,geomorfologicamente“nointerfaceentreosaluviõesdaspraiasfluviaisdaembocaduradoTejoeaformaçãoMiocénicadasArgilasdoFornodoTijolo”,apresentando“solosinstáveiseexpostosaosefeitosdeassoreamentoerosivosdorio”(Fernandes&alii,2006a,p.1).
Fig. 1 LocalizaçãodaintervençãoarqueológicanaplantadeLisboa.
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Aproximidadede relevantes evidênciasarqueológicas epatrimoniais, comoaCercaVelha(Silva,1987,p.94),umpossívelcaisromano(Silva,1987,p.118)e,entreoutros,osvestígiosdaCasadosBicos(Amaro,1982,2002),deixavaanteveroprovávelaparecimentodeimportantesruí-nasarqueológicas.
Defacto,duranteareferidaintervenção,foipossívelregistarumaintensaocupaçãodoespaço,traduzidanasobreposiçãodenumerosasestruturasedepósitos,aolongodeumarcotemporalqueseestendedesdeaprimeirametadedoséculoId.C.atéaosnossosdias.DasÉpocasMedievaleModernaforamidentificadasváriasestruturaseníveisdeocupaçãoeabandonorelacionadoscomasantigasfangasdafarinhaecomassubsequentescarniçariasdacidadedeLisboa,bemcomoníveisdeincêndiohistoricamenterelacionáveiscomoterramotode1755(Fernandes&alii,2006a,p.6,2006b,p.61).Foramaindapostasadescoberto,emboraapenasparcialmente,algumasestruturasdegrandeenver-gaduraenquadráveisemfinaisdoséculoXIeprimeirametadedoséculoXII,cujafuncionalidadesenosafigura,demomento,dedifícilinterpretação(Fernandes&alii,2006a,p.7,2006b,p.63).
NoqueserefereàocupaçãoduranteoperíodoRomano,afinalaquelaqueaquidirectamenteinteressa,foramidentificadasváriasestruturasconservadas,distribuídaspelosSectores1,2e3,embora apenas no Sector 1, particularmente na Vala 5, se tenha escavado níveis arqueológicospreservadosdaquelaépoca.
Fig. 2 plantadoedifícioeimplantaçãodasestruturasdecronologiaromana.
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Assim,noSector1,forampostosadescobertodoistanquesdesalgadepeixecontíguos,comorientaçãoSO–NE,revestidosaopus signinumnointerior,comumaalturamáximaconservadade1,60melargurainternade2,65m.Ambosforamcortadospelasfundaçõesdoedifício,sendoque,notanquelocalizadomaisasul,nãoseconservouorespectivopavimento,queterásidodemolidoaquandodaconstruçãodeumpoçodaÉpocaModerna(séculosXVI–XVII),precisamentenointe-riordotanque.Foramaindaregistadosquatroembasamentosdesecçãorectangular,alinhadosperpendicularmente aos tanques, orientadosNO–SE,osquaisparecemterfuncionadocomoinfra-estruturadesuporte,muitopossivelmentedo pátio da unidade fabril (Fernandes & alii,2006a,pp.7–8).
RelativamenteaosSectores2e3,áreasuldoedifício,foiigualmenteregistadaaexistênciadedois tanques revestidos a opus signinum, emboraestesseencontrassememmuitomauestadodeconservação,preservadosapenasparcialmenteaoníveldasuabase.Otanquelocalizadomaisaesteencontrava-seapoiadosobreummuroromano,deorientação idênticaàdostanques identifica-dos no Sector 1, preservado numa extensãomáximade5,50mecom0,60mdelargura.Estaúltima estrutura entronca, a sul, num outromuro, perpendicular àquele, preservado numcomprimentomáximode5melarguraquevariaentre0,90me1m,comorientaçãoNO–SE.Estagrande estrutura, onde se observavam várioschumbadores em bronze e ferro embutidos naspedras de maior dimensão, parece poder corres-ponder ao limite sul do núcleo de cetárias, pro-longando-seoriginalmenteemambosossentidos(Fernandes&alii,2006a,pp.9).
Sublinhe-sequeotopodomurodelimitadordestenúcleodecetáriasasulseencontravaaumacotaabsolutadecercade1,76m,emnívelfreático,portanto,tendosidoescavadopoucomaisqueoseu topo preservado. por razões essencialmenterelacionadascomosníveisfreáticos,mastambémde segurança e com a reduzida área disponível,nãofoipossívelescavarosdepósitosqueencosta-vam e ladeavam esta estrutura. Resumidamente,nãoforamescavadosquaisquerníveisarqueológi-cospreservadosdaÉpocaRomananosSectores2e3,emborasetenhaafloradootopodasestrutu-rasanteriormentereferidas, indubitavelmentedeconstruçãoromana,sendoquesobreelasseregis-
Fig. 3 MurosromanosdosSectores2e3.
Fig. 4 TanquesdesalgadoSector1.
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taramníveisdeocupaçãoislâmica.Destemodo,osúnicosdadosestratigráficosquepermitemesbo-çarumquadrocronológicoparaoperíododeconstrução, laboraçãoeabandonodestenúcleodetransformaçãodepescadosãoaquelesrecolhidosduranteaescavaçãodoSector1,particularmenteaVala5.
3. Os contextos
Aintensaocupaçãoqueseprocessounestelocaldesde,pelomenos,oséculoId.C.,traduzidanumacumulardesucessivasconstruçõesereconstruções,característica,aliás,própriadosambien-tesurbanos,resultarianumregistoarqueológicoextremamentetruncado,nestecasoparticular-mentenoqueaoscontextosdeépocaromanadizrespeito.
Nocasovertente,osníveisromanosparecemtersidosobretudoafectadosduranteoperíodoIslâmicoeaquandodaconstruçãodoactualedifício,cujosalicerceschegamaatingirmaisde3mdeprofundidade,cortandoliteralmenteasestruturaspré-existentes.Emboraestesfactores,assimcomooutrasquestõessobretudorelacionadascomadinâmicadofluxoerefluxodosníveisfreáti-cos,condicionembastantealeituradoregistoarqueológico,considera-sequeoscontextosestrati-gráficospreservadosdaquelaépocapermitem,aindaassim,reconstituiralgunsfactosrelaciona-doscomacronologiaedinâmicadeocupaçãodesteespaço(Fernandes&alii,2006a,p.9).
paralelamente,aestratigrafiapreservadadocumentaumasucessãodealteraçõesearranjoslevadosaefeitoaindaduranteoperíodoRomano,aparentementerelacionadoscomremodelaçõesefectuadasnonúcleodetransformaçãodepescadoaolongodasualongadiacroniadeutilização,provocando,igualmente,váriasintrusõesnosníveisestratigráficosprecedentes(Fernandes&alii,2006a,p.9).
Fig. 5 perfilsuldoSector1,Valas2,4e5.
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Conformeanteriormentesereferiu,osmencionadoscontextospreservadosdaÉpocaRomanaforamsobretudo identificadosnaVala5doSector1,2.ª fase,procedendodaíosconjuntosdemateriaisquedeseguidaseapresentam,tendo-seseleccionadoosdepósitosondesedocumentouaexistênciadeânforasapardeoutrosmateriaiscerâmicosqueforneçambonsindicadorescrono-lógicos.
NaCamada8(Fig.7)foramrecolhidosváriosfragmentosdeânfora,destacando-seasprodu-çõeslusitanasedovaledoGuadalquivir.Quantoàsprimeiras,estãopresentesbordosecoloscomasa,paraalémdosopérculos,queevidenciamascaracterísticasformaisdasmaisprecocesprodu-çõesanfóricasdoExtremoOcidentepeninsular,cujacronologiaabrange,pelomenos,desdeiní-ciosdeAugustoatéaoprimeiroterçodoséculoId.C.(Morais,2003,p.40;Morais&Fabião,2007,p.131).RelativamenteàsproduçõesdovaledoGuadalquivir, identificaram-seváriosbordosdeHaltern70,cronologicamenteenquadráveisentremeadosdoséculoIa.C.efinaisdoséculoI/iní-ciosdoIId.C.(RemesalRodríguez&CarrerasMonfort,2003,pp.21–22).
FoiaindaidentificadoumbordodeDressel1deproduçãoitálica,balizadaentremeadosdoterceiro quartel do século II a.C. e meados da segunda metade do século I a.C. (Desbat, 1998;pimenta,2005);umfundodebaseplana,possivelmentedeumaDressel28deproduçãogaditana,de finais do século I a.C. à primeira metade do II d.C. (peacock & Williams, 1986, p.170); umfundodeumaOberaden83produzidanovaledoGuadalquivir,deproduçãoatestadadesdeoiníciodoprincipadodeAugustoaofinaldodeTibério(BerniMillet,1998,p.30);eumaasadeânforadeproduçãogaditanacommarcadeoleiro,infelizmentesemparalelosconhecidos.poderápertenceraumaânforadetipoBeltrán2ouDressel7–11,ambasproduzidasnaquelaáreaecomcronologiasemtornodoséculoId.C.(GarcíaVargas,1998).
paraalémdasânforas,foramaindarecolhidosinúmerosfragmentosdecerâmicadeparedesfinascomdecoraçãogranitada,cronologicamenteenquadráveisnaprimeirametadedoséculoId.C.(Fernandes&alii,2006a,p.10).
Fig. 6 perfilnortedoSector1,Valas1e5.
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Dacamada10(Fig.8)provémumconjuntosignificativodeterra sigillatadeproduçãoitálica(TSI)esudgálica(TSSG),asaber:formaConspectus22.1.3.(TSI-entre20a.C.eTibério);Conspectus11(TSI-meadosdoprincipadodeAugusto);Conspectus22(TSI-entreamudançadaEraeoprin-cipadodeTibério);Drag.18(TSSG-15–60d.C.);Drag.27(TSSG-10–120d.C.).Identificaram-seaindatrêsmarcasemterra sigillataitálicaeumaemterra sigillatasudgálica.Asprimeirasindicam--noscronologiasbalizadasentre15a.C.e40d.C.,eagalo-romanaapontaparaoprincipadodeTibério.
Refira-seaindaumfragmentodecerâmicadeparedesfinascomdecoraçãoamoldenoexte-rioregranitadoarenosonointerior,datávelentreTibérioeNero,edeumfragmentodediscodelucerna,decoradocommotivosgeométricos,daformaDeneauveIVC(ouDressel/Lamboglia9),enquadrávelemmeadosdoséculoId.C.(Fernandes&alii,2006a,p.11).
Quantoàsânforasdacamada10,destacam-sequatrobordosdeOvóidesLusitanas,umdosquaisconservaaindaatotalidadedocolo,asaepartedoombro,observando-seaindaapresençadeopérculosedeumfundocompéemanel,igualmentedeproduçãolusitana,possivelmentedeumaDressel28.Deproduçãobética,concretamentedovaledoGuadalquivir,registou-seapenasapre-sençadeumbordodeHaltern70edeumopérculo.
Fig. 7 MateriaisdaCamada8,Sector1,Vala5.
Fig. 8 MateriaisdaCamada10,Sector1,Vala5.
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Relativamenteàcamada13(Fig.9),foramexumadosquatrobordosdeânforadetipoHal-tern70,umdetipoOberaden83eumdetipoDressel7–11,estaúltimatipologiacomcronologiadeproduçãoecirculaçãobalizadaentreoúltimoterçodoséculoIa.C.eosfinaisdoséculoI/iní-ciosdoséculoIId.C.(GarcíaVargas,1998,pp.76–92).Foiaindaregistadaapresençadeopérculosdeânforadeproduçãolusitanaedeumdiscodelucernacompleto,comaletaslaterais,enquadrá-velnaformaDeneauveVEdaprimeirametadedoséculoId.C.(Fernandes&alii,2006a,p.12).
Fig. 9 MateriaisdaCamada13,Sector1,Vala5.
Fig. 10 MateriaisdaCamada14,Sector1,Vala5.
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Nacamada14(Fig.10)recolheram-setrêsbordosdeânforadetipoHaltern70,umconside-rávelnúmerodeopérculosdeproduçãolusitanaegaditana,eumbordodeânforaMañáC2b,deproduçãogaditana,cronologicamenteenquadrávelentremeadosdoséculoIIa.C.eoúltimoquar-teldoséculoIa.C.(Arruda&Almeida,1998,p.212).Foramaindarecolhidosalgunsfragmentosdebordodecerâmicacinzentaeumfragmentodecerâmicadeparedesfinascomdecoraçãoapro-ximadaàsparedesfinascomespinhosdaÉpocaRepublicanacomumacronologiaentre30a.C.e20d.C.(Fernandes&alii,2006a,p.12).
porúltimo,dacamada17a(Fig.11)procedemdoisfragmentosdebordodeHaltern70eumdeDressel1deproduçãoitálica,bemcomoumbordodealmofarizdeproduçãobéticadaprimeirametadedoséculoId.C.Foramaindaidentificadosdoisfragmentosdeterra sigillatasudgálica:aformaDrag.27,datávelentre10e120d.C.,eumaDrag.18,deidênticacronologia(Fernandes&alii,2006a,p.12).
AleituradassincroniasevidenciadasporestescontextosremeteaedificaçãodestenúcleodetransformaçãodepescadoparameadosdoséculoId.C.,provavelmenteaindaduranteosegundoquarteldaqueleséculo(Fernandes&alii,2006a,p.9).poroutrolado,aantiguidadedealgunsdosmateriaisanfóricosaquipresentes,comoasDressel1eaMañáC2b,oumesmoaOberaden83ealgumasformasdeterra sigillata,indicam-nosaexistênciadecontextosanterioresqueterãosidoremexidosaindaduranteoperíodoromano,muitoprovavelmenteduranteasobrasdeconstruçãoeremodelaçãodaunidadefabril.
Relativamenteaoseuabandono,talpareceter-severificadoduranteoséculoIV,estandopre-sentesalgunsfragmentosdeterra sigillataclaraD,nomeadamenteaformaHayes61Aproduzidaentre325e400d.C.(Fernandes&alii,2006a,p.13).Curiosamente,epeseemboraalongadiacro-niadelaboraçãodestenúcleodetransformaçãopiscícola,cronologicamente,asânforasdocumen-tadas na Rua dos Bacalhoeiros não ultrapassam o final do século I/meados do século II d.C.,estandoausentesformasmaistardias.
4. As ânforas
NaintervençãoarqueológicadaRuadosBacalhoeirosforamidentificados98fragmentosdeânfora(entrebordos,fundoseasas),dedeztipologiasdiferentes,quecorrespondemaumNMI
Fig. 11 Materiaisdacamada17a,Sector1,Vala5.
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(NúmeroMínimodeIndivíduos)de40indivíduos.Noestudodaspastas,procedeu-seàanálisemacroscópicacomumalupade15aumentos,tendo-seemcontaotipodepastaedecozedura,natureza,frequênciaeformadoselementosnãoplásticos,eacordapasta,deacordocomadesig-naçãoecódigodeMunsellSoilColorCharts(1998).
Nopresenteconjuntodestacam-seclaramenteasHaltern70produzidasnovaledoGuadal-quivireasânforasdeproduçãolusitana,enquadráveisnasprecocesformasdecorpoovóidedaÉpocaRomana.
4.1. Ânforas de importação
4.1.1. As Dressel 1 itálicas
Foram identificados dois fragmentos de bordo desta tipologia e um fragmento de asa quepoderápertenceraumaânforadetipoDressel1ougreco-itálica.Trata-sedeumcontentordestinadoatransportarosvinhositálicosproduzidosnasregiõesdaEtrúria,CampâniaeLácio(Hesnard&Lemoine,1981)duranteoperíodoRepublicano,cujadisseminaçãoseassocianormalmenteàpassa-gemdoscontingentesmilitaresromanos,tendosidoproduzidadesdemeadosdoterceiroquarteldoséculoIIa.C.atémeadosdasegundametadedoséculoIa.C.(Desbat,1998;pimenta,2005).
Fig. 12 Gráficorepresentandoapercentagemdasdiferentesregiõesprodutoras(sobreoNMI).
produçõesitálicas
produçõeslusitanas
produçõesbéticas
60%
35%
5%
Fig. 13 ÂnforasdetipoDressel1deproduçãoitálica.
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Estaformaestáamplamentedocumentadaportodooterritórionacional(pimenta,2005,p.120,Fig.31;Bargão,2006,p.40,Fig.17),emboraseregisteumamaiorincidêncianaszonascosteirasenasáreaspróximasaosgrandesrios,nomeadamenteemLisboa,ondeseconhecemmaisdeduascentenasdeexemplares,nasuaesmagadoramaioriaprovenientesdoCastelodeSãoJorge(pimenta,2005).
Aanálisemacroscópicadaspastasreveloutratar-sedeproduçõesdapenínsulaitálica,emborasetivessemidentificadodiferentescaracterísticaspetrológicasemcadaumdostrêsfragmentos,correspondendo,portanto,atrêsgruposdefabricodistintos.
Grupo PI 1 – pastapoucodepurada,compactaedura,decozeduraoxidanteecorrosada(7.5YR7/4).Oselementosnãoplásticossãomuitoabundantes,essencialmentecompostosporinúmeraspartículasnegrasdeorigemvulcânica,quartzossub-roladosdepequenaemédiadimensão,mica,grãoscarbonatadosegrãosferruginososdepequenaemédiadimensão.pre-sençadevacúolos.Trata-sedastípicasproduçõesdaregiãodaCampânia,caracterizadaspelaabundânciadepartículasnegrasdeorigemvulcânica,habitualmentedesignadascomopro-duçõestipoEumachi(peacock&Williams,1986;Hesnard&alii,1989).CorrespondeaogrupopI2dasânforasdoteatroromanodeLisboa(Filipe,2008,p.85).
Grupo PI 2 – pasta depurada, homogénea e dura, de cozedura oxidante e cor amarelo--avermelhado(5YR7/6).Oselementosnãoplásticossãopoucoabundantesebemdistribuí-dos, sendo essencialmente constituídos por quartzos sub-rolados de pequena dimensão,grãoscarbonatadosdepequenadimensão,grãosferruginososdemédiadimensãoeminúscu-lasmicas,observando-seaindapequenosvacúolos.CorrespondeaogrupopI1dasânforasdoteatroromanodeLisboa(Filipe,2008,p.85).
Grupo PI 3 – pastapoucodepurada,compactaedura,decozeduraoxidanteecorbege(10YR7/3).Oselementosnãoplásticossãoabundantesebemdistribuídos,depequena,médiaegrande dimensão, sendo constituídos por quartzo, partículas negras de origem vulcânica,micasdouradas,nódulosdeargilacozidaeocasionaisgrãosferruginosos.CorrespondeaogrupopI4doteatroromanodeLisboa(Filipe,2008,p.85)e,provavelmente,aogrupo2dasproduçõesitálicasdoCastelodeSãoJorge(pimenta,2005,p.54).
4.1.2. As Mañá C2b
Destinadaaotransportedospreparadospiscícolasproduzidosnaregiãomeridionalhispâ-nica(Arruda&Almeida,1998,p.208),estatipologiafoiproduzidaduranteoperíododetempocompreendidoentremeadosdoséculoIIa.C.eoúltimoquarteldoséculoIa.C.naáreado“Cír-culodoEstreitodeGibraltar”(RamonTorres,1995).
Trata-sedeumadasformasanfóricasmaisbemdocumentadasemOlisipo,especialmentenasescavaçõesdoCastelodeSãoJorge(pimenta,2005),noClaustrodaSé(pimenta,2006)enoteatroromanodeLisboa(Diogo&Trindade,1999;Diogo,2000;Filipe,2008),ondeseconhecemmaisdeduascentenasdeexemplares,estandopresenteumpoucoportodaacolinadocastelo.
OúnicofragmentodebordodeMañáC2bexumadonaintervençãodaRuadosBacalhoeirosexibeascaracterísticaspastasdaáreacosteiradaregiãomeridionalhispânica,grupodepastaspB1.DeentreasproduçõesanfóricascomorigemnaprovínciadaBética,foramidentificadostrêsgru-posdepastasdistintos:
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Grupo PB 1 – pasta depurada, arenosa, compacta e de cozedura oxidante e cor vermelho--amarelado (2.5 YR 7/6; 5 YR 6/8; 7.5 YR 7/6; 2.5 Y 8/4). Os elementos não plásticos sãopoucoabundantesebemdistribuídos,constituídosporquartzosroladosesub-roladosdepequenadimensão,ocasionaisnódulosdeargilacozidadepequenadimensão,calcite,mica,algunsgrãoscarbonatadosegrãosferruginosos.presençadevacúolos.Correspondeàspro-duçõesdazonacosteiradaBética,eaogrupodepastaspB2doteatroromanodeLisboa(Filipe,2008).
Grupo PB 2 – pasta depurada, arenosa, pulverulenta e friável, de cozedura oxidante e coramarelo-claro (2.5 YR 8/3; 2.5 Y 7/4). Os elementos não plásticos são pouco abundantes,constituídos por quartzos rolados e sub-rolados de pequena dimensão, nódulos de argilacozidademédiadimensão,rarosgrãoscarbonatados,grãosferruginososdemédiadimensão.Correspondeàsproduçõesdabaíagaditanaeaosgrupos2doCastelodeSãoJorge(pimenta,2005)epB3doteatroromanodeLisboa(Filipe,2008).
Grupo PB 3 – pastapoucodepurada,compactaedura,arenosa,decozeduraoxidanteeemtonsdebegeeamarelo-avermelhado(10YR7/4;5YR8/3).Oselementosnãoplásticossãomuitoabundantesedematrizarenosa,bemdistribuídos,observando-sesobretudoaprofu-sãodequartzosangulososdepequenaemédiadimensão,feldspatos,calciteemica.Observam--seabundantesvacúolos.CorrespondeàsproduçõesdovaledoGuadalquivireaogrupodepastaspB4doteatroromanodeLisboa(Filipe,2008).
4.1.3. As Haltern 70
Trata-sedatipologiamaisbemrepresentadanoconjuntodasânforasrecolhidasduranteaintervençãoarqueológicadaRuadosBacalhoeiros,tendo-seidentificado18fragmentosdebordo.EmboraasuapresençasefaçanotarsobretudoapartirdoprincipadodeAugustoeaolongodetodooséculoId.C.,oiníciodasuaproduçãorecuaameadosdoséculoIa.C.(RemesalRodríguez&CarrerasMonfort,2003,pp.21–22),oumesmoaosegundoquarteldomesmoséculo(Tchernia,1990,p.296),estandopresentenoscontextostardo-republicanosdeMesasdoCastelinho(Fabião&Guerra,1994,p.280),LombadoCanho(Fabião,1989,pp.61–64)eSantarém(Almeida,2006,pp.59–66).OseufabricoteráterminadoemfinaisdoséculoI/iníciosdoIId.C.(RemesalRodrí-guez&CarrerasMonfort,2003,pp.21–22;GarcíaVargas,1998,p.98).
Relativamenteàsáreasdeprodução,aHaltern70foiprincipalmenteproduzidanaregiãodomédioealtovaledoGuadalquivir,deondesãoprovenientesamaioriadosexemplaresconhecidos
Fig. 14 BordodeânforadetipoMañáC2b.
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Fig. 15 ÂnforasdetipoHaltern70.
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nosvárioscentrosdeconsumo,mastambémnaactualprovínciadeCádisenaregiãodasMaris-masedeHuelva(CarrerasMonfort,2003,pp.75–81).Comexcepçãodapeçan.º2766,defabricogaditano(grupodepastaspB1),todososexemplaresidentificadosnaRuadosBacalhoeirossãoprovenientesdovaledoGuadalquivir.
Emboraaproblemáticaemtornodaquestãodosprodutostransportadosporestasânforassemantenha(veja-se,entreoutros,Fabião,1998,2000),tudoindicatratar-sedeumcontentorpreferen-cialmentedestinadoaotransportedevinho,emboratenhasidoigualmenteutilizadoparaotrans-portedeoutrosprodutos,comosubprodutosvínicoseconservas(Fabião,1998,p.180,2000,p.668).
Asuapresençaregista-seumpoucoportodooterritórionacional,emboracomespecialinci-dêncianaregiãodoNoroeste(Morais&CarrerasMonfort,2003,p.101).TendoemcontaqueemScallabisforamregistadasmaisdeduascentenasdeânforasdaquelatipologia(Almeida,2006),arealidadeconhecidaparaOlisiponãodeverá,porcerto,reflectiroverdadeiropanoramadasimpor-taçõesdeHaltern70paraestacidade,representando,muitoprovavelmente,antesumreflexodoestadoactualdainvestigação.Defacto,emLisboa,atéhárelativamentepoucotempoapenaseramconhecidoscercade26exemplaresdestatipologia(Morais&CarrerasMonfort,2003,p.101),aosquais se acrescentaram, nos últimos anos, seis do núcleo arqueológico da Rua dos Correeiros(Sabrosa&Bugalhão,2004),32doteatroromanodeLisboa(Filipe,2008,p.46),umdopaláciodoMarquêsdeAngeja(Filipe,2008,p.46,estampaXLII),umoutrodoBecodoMarquêsdeAngeja(Filipe&Calado,2007,p.7)eestes18daRuadosBacalhoeiros.
4.1.4. As Oberaden 83
Ânforadecorpotendencialmenteovóide,aOberaden83destinava-seaenvasaretransportaroazeiteproduzidonaregiãomeridionalhispânica,particularmentenovaledoGuadalquivir,cor-respondendoaumaevoluçãoformaldaDressel25eàpredecessoradaDressel20(BerniMillet,1998).TerásidoproduzidaentreosdoisúltimosdecéniosdoséculoIa.C.e,presumivelmente,ofinaldoprincipadodeTibério,surgindogeralmentebemdocumentadanosacampamentosmili-taresromanosapardeoutrasproduçõesbéticasdamesmaépoca,comoaHaltern70,asDressel7–11eaBeltránIIA(BerniMillet,1998,pp.27–30;Almeida,2006,pp.85e86).
Emportugal,emboraseobserveasuapresençadenorteasuldoterritório,elaestáespecial-mentebemrepresentadaemSantarém(Arruda,Viegas&Bargão,2005;Almeida,2006),encontrando--seatestadaemLisboaprincipalmentenoconjuntodoteatroromano(Filipe,2008).
NaRuadosBacalhoeirosfoirecolhidoumfragmentodebordoeumdefundoatribuíveisaestatipologia,ambosapresentandoastípicaspastasdovaledoGuadalquivir.
Fig. 16 BordoefundodeânforadetipoOberaden83.
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4.1.5. As Dressel 7‑11
Destatipologiaforamrecuperadosdoisfragmentosdebordo,ambosdeproduçãogaditana(grupodepastaspB1).Trata-sedeumaânforadestinadaaotransportedepreparadosàbasedepeixe,genericamenteproduzidaentreoúltimoterçodoséculoIa.C.eosfinaisdoséculoI/iníciosdoséculoIId.C.(GarcíaVargas,1998,pp.76–92).Apesardetersidoprincipalmenteproduzidanaregiãodabéticacosteira,estaformafoiigualmentefabricadanovaledoGuadalquivir(Almeida,2006),naTarraconense(MolinaVidal,1997),naGália(MolinaVidal,1997),naMauritânia(Boube,1973–1975)enaLusitânia,nosfornosdoMorraçaldaAjuda,empeniche,enoportodoSabu-gueiro,Muge,noValedoTejo(Cardoso,1990;Cardoso,Rodrigues&Sepúlveda,2006).
Emterritórioactualmenteportuguêsencontra-seamplamenteatestada,estandoigualmentepresenteemOlisipo(Sabrosa&Bugalhão,2004;Filipe,2008).
4.1.6. Outras ânforas de produção bética
Foiexumadoumfragmentodeasadeânfora,provavelmentedetipologiaBeltránIIouDres-sel7–11,deproduçãogaditana,commarcadeoleiroimpressanazonadoarranqueinferior(Fer-nandes&alii,2006a). Infelizmente,nãosãoconhecidosparalelosparaestamarca,emborasejarelativamentecomumaexistênciademarcasdeoleirocomletrasemnexosobrecartelacircularprovenientesdaquelaregiãoprodutora.Dasualeitura,apenasépossívelobservarseguramentealetraB,eumaoumaisletrasemnexo(Fernandes&alii,2006a,p.10).
Fig. 17 ÂnforasdetipoDressel7–11.
Fig. 18 Asadeânforadeproduçãogaditanacommarcadeoleiro.
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Ofragmenton.º2890pertenceseguramenteaumaânforadetipoDressel2–4,deproduçãoatribuívelàbaíagaditana.Trata-sedeumaimitaçãodasasasbífidasdasDressel2–4itálicas,com-postaspordoisrolosdesecçãocircularjustapostos,típicosdestaforma.
ADressel2–4,originariamenteproduzidanapenínsulaItálicaedestinadaaenvasarvinho,foiamplamenteimitadaportodooImpérioRomano,balizando-seasuaproduçãoentremeadosdoséculoIa.C.eosfinaisdoséculoIId.C.(Morais,1998;Almeida,2006).Emportugalsãoconhe-cidosexemplaresdestatipologia,deproduçãobética,porexemplo,emLisboa(Filipe,2008)emBraga(Morais,1998)eemSantarém(Almeida,2006).
Deproduçãoigualmentegaditanaéofundon.º1663,debaseplanaepébaixo,emanel,pos-sivelmentepertencenteaumaânforadetipoDressel28.Trata-sedeumcontentordepequenadimensão,decorpoovóideefundoplano,produzidoentreosfinaisdoséculoIa.C.eaprimeirametadedoséculoIId.C.(peacock&Williams,1986,p.150),caracterizadonoestudodonaufrágioport-VendresII(Colls&alii,1977).FoiproduzidanaAndaluzia,naTarraconense,naGáliaNarbo-nensee,aparentemente,noValedoTejo(Fabião,1998),estandorelativamentebemdocumentadanoterritórioactualmenteportuguês(umpontodasituaçãoemFilipe,2008,pp.47–48).
Foramaindarecolhidosalgunsopérculosdeânforacujaspastasevidenciamcaracterísticasassimiláveisàsproduçõesbéticas,dequeseapresentamosquesemantêmemmelhorestadodeconservação.
Fig. 19 Marcadeânforasobreoarranquedeasa,possivelmentedeumaânforadetipoBeltrán2AouDressel7–11,deproduçãogaditana.
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Fig. 20 AsadeDressel2–4deproduçãogaditana.
Fig. 21 Fundodeânfora,possivelmentedeumaDressel28.
Fig. 22 Opérculosdeproduçãobética.
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5. Ânforas de produção lusitana
5.1. As Ovóides Lusitanas
OsegundogrupoanfóricomelhorrepresentadonoconjuntodasânforasdaRuadosBacalhoei-rosé,semdúvida,odasânforaslusitanas,concretamenteasproduçõesmaisantigas,tendosidoreco-lhidos10fragmentosdebordo,umdosquaisconservaaasaecolo,edoisfragmentosdecoloeasa,aqueseacrescentamdoisfundoseumconjuntosignificativodeopérculosdeproduçãolusitana.
Trata-sedeumconjuntodefragmentosqueapresentagrandevariedadeformalaoníveldoperfildosbordos,invariavelmentemarcadosporumamolduramaisoumenosacentuada,coloseasas curtas, de secção ovalada e com ou sem um sulco longitudinal no dorso, aproximando-semorfologicamentedasânforasovóidestardo-republicanasealto-imperiaisproduzidasnaregiãomeridionalhispânica,concretamente,dostiposHaltern70eDressel7–11.
Oestudodestasânforaslusitanasmaisprecoces,decorpoovóide,encontra-seaindapoucodesenvolvido devido, principalmente, à falta de materiais provenientes de contextos primários,associadosaestratigrafiasseguras,quepermitamprecisaracronologiadasuaproduçãoedifusão,domesmomodoqueoestadofragmentadodamaioriadestasânforasimpedeumamelhortipifi-caçãoecaracterizaçãomorfológica.Tambémnoâmbitodoscentrosprodutoresconhecidosarea-lidadeactualébastantetruncada,sendoque,aparentemente,nenhumrecuaparaládoperíodoJúlio-Cláudio(Fabião,2004,p.402),podendo-seenumeraraolariadoMorraçaldaAjuda,peniche(Cardoso,Rodrigues&Sepúlveda,2006),oLargodaMisericórdia,Setúbal(Silva,1996),Abul,noValedoSado(Mayet&Silva,2002)emesmoaHerdadedopinheiro,igualmentenoValedoSado,cujafasemaisantigaparececentrar-seemmeadosdoséculoId.C.(Mayet&Silva,1998).
Contudo,nosúltimosanostem-seassistidoaumamultiplicaçãodepublicaçõesdeconjun-tosdestesmodelosanfóricos,começando-seaesboçarummapadedifusãobastanteamploque,parajá,seestendedesdeAlcácerdoSal(pimenta&alii,2006),Lisboa(Bugalhão,2001;Fernandes&alii,2006b;Morais&Fabião,2007;Filipe,2008),VilaFrancadeXira(Quaresma,2005),Coruche(Quaresma&Calais,2005),Santarém(Arruda,Viegas&Bargão,2006),CastelodaLousa(Morais,2003),IlhadaBerlenga(Bugalhão&Lourenço,2006),peniche,nestecaso,umcentrodeprodução(Cardoso&Rodrigues,2005;Cardoso,Rodrigues&Sepúlveda,2006),várioslocaisdaregiãoentreDouroeMinho(Morais,2003),atéàGaliza(Morais,2003).
Aindaassim,aescassezdedados,relativamenteaestesmodelosanfóricos,levouaquealgunsinvestigadores(Morais,2003;Morais&Fabião,2007)tivessempropostoadesignaçãomaisgené-ricadeOvóidesLusitanasnoquerespeitaàclassificaçãodestesmateriais,pelomenosenquantoovolumeequalidadedosdadosconhecidosnãopermitaumamelhoremaiscorrectacaracterização(Morais&Fabião,2007),propostaqueaquiseadopta.parajá,aquiloquepareceestarbemassenteéaantiguidadedestasproduçõesfaceaoqueseconhecia,cominício,pelomenos,apartirdasúlti-masdécadasdoséculoIa.C.,recuando,possivelmente,ameadosdomesmoséculo(Morais,2003,p.40),bemcomoumprovávelconteúdopiscícola(Morais&Fabião,2007,p.132)e,possivelmente,vinícola(Cardoso,Rodrigues&Sepúlveda,2006,p.276).Damesmaforma,sãoevidentesasafini-dades formais com as ânforas ovóides produzidas na região meridional hispânica em idênticoperíodo,aproximando-sebastante,conformejáfoireferido,dasHaltern70edogrupodasDressel7a11,bemcomodasClasse67(Morais&Fabião,2007,pp.128–129).
OsmelhoresparalelosparaaspeçasdaRuadosBacalhoeirospodem-seencontraremalgunsexemplaresdeSantarém(Arruda,Viegas&Bargão,2006),deAlcácerdoSal(pimenta&alii,2006)edoteatroromanodeLisboa(Filipe,2008).Foramaindaidentificadosdoisfragmentosdefundo
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deproduçãolusitana,umdosquaispoderápertenceraumaDressel28(n.º2037),sendoqueooutrofragmento(n.º3372)sepoderáenquadrartantonogrupodasOvóidesLusitanascomonasprimeirasDressel14.
ÀsemelhançadoqueacontecenoAljubedoporto,ondeforamrecolhidoscercadeumacen-tena(Morais&Fabião,2007,p.129,Fig.7),oumesmodarealidadedoteatroromanodeLisboa,onde se recolheram 29 (Filipe, 2008, p.78), na Rua dos Bacalhoeiros registou-se um elevadonúmerodeopérculosdeânforadeproduçãolusitana,tendo-seexumado33fragmentoscomdiâ-metrosquevariamentreos8eos9cm.
Fig. 23 ÂnforasOvóidesLusitanas.
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Fig. 24 Fundosdeânforadeproduçãolusitana.
Fig. 25 Opérculosdeproduçãolusitana.
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NaanálisemacroscópicadoconjuntototaldosfragmentosdeânforadeproduçãolusitanadaRuadosBacalhoeiros,foramindividualizadostrêsgruposdepastasdistintos.
Grupo PL 1 – pastapoucodepurada,porosa,poucodura,decozeduraoxidanteedetonsver-melhoseacastanhados(7.5YR6/6;10YR6/4).Oselementosnãoplásticossãoabundantesedereduzidaemédiadimensão,constituídosessencialmenteporquartzosrolados,grãosfer-ruginososemicas,observando-seaindaapresençadepequenosvacúolos.
Grupo PL 2 – pastapoucodepurada,compacta,dura,decozeduraoxidante,corvermelho--claro(2.5YR6/8)ecerneacinzentado.Oselementosnãoplásticossãoabundantesederedu-zidaemédiadimensão,compostosprincipalmenteporquartzosrolados,grãosferruginosos,rarasmargasemica.CorrespondeàsproduçõesdaolariadoMorraçaldaAjudaempenicheeaogrupopL3dasânforasdoteatroromanodeLisboa(Filipe,2008).
Grupo PL 3 – pastapoucodepurada,compactaedura,decozeduraoxidanteeemtonsaverme-lhados(2.5YR7/6;5YR6/8;7.5YR6/6).Observa-seapresençadeabundanteselementosnãoplásticos,constituídosporquartzossub-roladosdepequena,médiaegrandedimensão,oca-sionaisgrãosferruginososdegrandedimensão,nódulosdeargilacozida,micadepequenasdimensõeseaexistênciadevacúolos.Algunsexemplaresexibemumengobepoucoespessodecorcastanho-acinzentado (7.5YR6/4;10YR6/2).CorrespondeaogrupodepastaspL1doteatroromanodeLisboa,atribuívelàsproduçõesdoTejoeSadojusante(Filipe,2008).
5.2. As Dressel 14
Trata-sedeumcontentorlargamenteproduzidonasolariasdaLusitânia,concretamentenoAlgarve,nosvalesdorioTejoedorioSadoeempeniche,entremeadosdoséculoIeiníciosdoséculoIIId.C.,eamplamentedifundidopeloterritórionacional(pimenta&alii,2006).Constitui--se como uma criação local, posteriormente imitada nos centros de produção béticos (Mayet&Silva,2002;Fabião,2004),destinadaatransportarospreparadosdepeixeproduzidosnaLusi-tânia.
NaRuadosBacalhoeirosfoiidentificadoapenasumbordo,deperfiltriangular,enquadrávelnosprimeirosanosdeproduçãodestaforma,fabricadonovaledoTejoounobaixovaledoSado(grupodepastaspL1).
Fig. 26 BordodeânforadetipoDressel14.
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6. Considerações finais
Emboratendoemcontaa reduzidaexpressividadequantitativadoconjuntodeânforasdaRua dos Bacalhoeiros, bem como a especificidade dos contextos arqueológicos em que aquelasforamrecolhidas,járeferidaaolongodestetexto,osdadosqueorasãodadosàestampapermitemteceralgumasbrevesconsideraçõesacercadadinâmicacomercialedoshábitosalimentaresemOli‑sipo,especialmentesecontextualizadoscomarealidadeconhecidaparaesteperíodocronológico.
Desdelogo,apresençademateriaisrepublicanos,concretamentedeDressel1itálicaseMañáC2b, amplamente documentados em Lisboa, principalmente no Castelo de São Jorge (pimenta,2005),mastambém,entreoutros,noteatroromanodeLisboa(Diogo,2000;Filipe,2008)enaRuadeSãoJoãodapraça(pimenta,Calado&Leitão,2005),demonstra,umavezmais,apreponderânciadosvinhositálicosedospreparadosàbasedepeixeprovenientesdaregiãomeridionalhispânicanoquadrodasimportaçõesalimentaresdaépoca,faceàtotalausênciadaimportaçãodeazeite.Situaçãoanálogaverifica-seemSantarém,novaledoTejo(Arruda&Almeida,1998;Bargão,2006).
AcronologiadeproduçãoedifusãodasrestantesânforasexumadasnaRuadosBacalhoeiroscentra-se,sobretudo,nadinastiajúlio-claudiana.Assim,observa-seumapreponderânciadospro-dutos alimentares importados da província da Bética face aos da Lusitânia, particularmenteexpressivanapresençamaioritáriadeânforasdetipoHaltern70.Ovinhobéticoé,portanto,oprodutomaisimportadodaquelaprovíncia,sendoqueoazeiteeosprodutospiscícolasseencon-tramescassamenterepresentados.
Seafracarepresentatividadedoscontentoresoleícolasseafiguradedifícilexplicação,princi-palmentesesetiveremcontaosdadosdeSantarém(Almeida,2006)edoteatroromanodeLisboa(Filipe,2008),ondeaimportaçãodeazeitebéticoébastantesignificativa,afracarepresentativi-dadedosprodutospiscícolasbéticosparecepoderexplicar-sepeloemergirdasproduçõeslusita-nasmaisantigas,que,paulatinamente,foramsubstituindoosprodutosdaquelaregião.NoteatroromanodeLisboaobserva-seidênticopanorama(Filipe,2008),emboraomesmonãoseverifiqueem Santarém, onde a presença das produções lusitanas mais precoces parece ser mais discreta(Arruda,Viegas&Bargão,2005,2006;Almeida,2006).
Fig. 27 Tipologias,zonasdeproduçãoeconteúdosdasânforasdaRuadosBacalhoeiros.
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nOTAS
* Mestreempré-HistóriaeArqueologia.ColaboradordoMuseudaCidade,Lisboa.
1 Aquemnãopossodeixardeagradecerapossibilidadeeoincentivoparadesenvolveropresenteestudo.
ArestanteequipadearqueologiaeraconstituídaporMarcoCaladoepelopróprio.
2 paraumaactualizadageografiadasuadistribuição
verpimenta,2005,p.120,fig.31,eBargão,2006,p.40,fig.17.
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