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imv niw ©ISIS 1®§ SUfLEMENTO LITERÁRIO DE "A MANHÃ" 12/10/941 Publicado semanalmente, sob a orientação de \iim Q ' Mucio Leão (Da Academia Brasileira de Letras) CASIMIRO DE ABREU Se a vida de um escritor mo influência viva da nos- mente permanecem em rão cessa quando ele mor-sa poesia pelos atuais poe- nosso espírito e quase re, e persiste na influência tas brasileiros? Cremos diriamos em nossa lauda- clara ou disfarçada que ele que nenhum. O próprio de, tanto ele continua vivo continua a exercer sobre Alberto de Oliveira, com o é Casimiro de Abreu, as gerações que se seguem seu sentimento imenso da Seus oito anos andam, aqui a sua cremos que Casi- natureza, o próprio Olavo e ali, repetidos, lembrados, niro de Abreu continua a Bilac, com o seu ardente glosados, a todos os ins- ser um dos autores mais sentimento do amor car- tantes, por todos os poetas, vivos do Brasil.nal não parece que se Fórmulas suas, frases que O romantismo se foi, tenha criado deles para os ele construiu sem a mini- s'-m dúvida, meio sé- atuais poetas, nenhuma ma preocupação de fazer culo, com os seus lugares corrente mais íntima de qualquer coisa para a pos- comuns irremediáveis, a compreensão mais profun- tt-ridade, estão, quase sua mole poesia sem for- da. Dos outros parnasia- transformadas em ditados, ma, a sua diluida prosa nos, podemos dizer o mes- e todos os dias relembra- sem ossos. Mas alguns dos mo, e com razão infinita- das por poetas ilustres, escritores românticos fica- mente maior. Idêntica se- Enfim: esse rapaz que ram, e ficaram pela expres- paração sentimos entre eles morreu oitenta anos e siva contribuição pessoal e os simbolistas todos um valor permanente, e, qoe trouxeram contri- os quais estão hoje num tanto quanto podemos sen- buição de idéias, de senti- esquecimento talvez sem tir, atual, mentos, de emoções ou de remédio. Desse esqueci-* estilo.mento nem mesmo Cruz e N(M altigoa ve|hos Seria curioso verificar Souza se salva, e apenas crjticos que vão transcri- como os poetas modernos Afonso de Guimaraensva. tog nag páginaj deste cio Brasil reivindicam para •obrenadando, pela esplen- p|ement0f nos ensai08 „o- si uma filiação romântica, *da contribuição pessoal vog que yão ao ,ado deie8 desprezando os estágios in- do »eu taknto "*ompar*v termediários de nossa poe- ve poe a sia. Não é preciso citar no-* mes; mas é facilimo ver CASIMIRO DE ABREU SUMARIO teremos o depoimento do Brasil de ontem e do Brasil de hoje, diante do encantador poeta das Pri- como cada um deles dos Mas essa afinidade inti- maverai. Verá o leitor co- mais representativos ma, que os poetas moder- mo a posição de Casimiro pi ocura aproximar-se PAGINA 145: casimiro de Abreu O mais ingênuo dos nossos poetas, de Manuel Bandeira (da Acade- mia Brasileira) PÁGINA 154: - O meigo Casimiro, phonsm Sumário PAGINA 1*6: de ora nos não teem com os sim- de Abreu em nossas letras de um Alvares de Azeve- bolistas nem com os par- Vem se tornando mais sóli- do, adotando desse estra- nasianos, tem-na com os da à proporção que os dia» nho poeta até o título dos românticos, livros, ora de um Fagundes Eles estão, os grandes Varela, cujo sabor brasilei- românticos um Gonçal- ro de linguagem é por to- yes Dias, um Azevedo, um dos proclamado, ora de Varela, um Castro Alves um Casimiro de Abreu, vivos, em nossa imagi- cuja poesia dolorida está nação e em nosso espírito, no mais profundo da nos- Algumas das fórmulas ia alma.ma'8 usadas pelos nossos Seria motivo talvez pa- poetas de hoje são vindas ramente o mais simples, o mais ra um curioso inquérito, di.etamente do arsenal ro- ^^TonalSrZ^^o que deveria ser procedido mântico. Os anjos, que en- prlmeiro iugar na prelerêncla entre o. nosso, poeta, chem a. página, do. mo- "-^^^àTE atuais mais representati- dernistas, as exclamações, primeiros sobressaltos amorosos ²O poeta das "Primaveras* Teixeira de Melo ²No jardim público de Casimiro de Abreu, dt Carlos Drummonrl de Andrade PAGINA 147: ²casimiro de Abreu na opinião de Camilo Castelo Branco Atualidade de Casimiro. de Mana Eugenia Celso Retrato de Casimiro de Abreu Busto de Casimiro de Abreu, exis- tente na Academia Brasileira PAGINA 155: ²Celebrando Casimiro de Abreu, de Goulart de Andrade PAGINA IS».: ²Páginas dos Autores Mortos: 1 A casa da rua Cosme Velho, n* 41, antifo lt, de CHavo Bilac i A Carta (Da Noiva Morta), de Alberto de Oliveira S espigas históricas Ralraua- do Corrêa, de D. Funcas - Lembrança de Petrõpolls, Raimundo Corrêa d. vão passando. 0 mais ingênuo dos nossos poetas MANUEL BANDEIRA (Da Academia Brasileira) Casimiro de Abreu é segu vos a questão de saber- as invocações a Deus, Agem quais as afinidades estão, nas páginas ^ dos pgt ele cantados C0m um acen adolescência, os encantos brasileira foram mos aue a nossa ooesia de hoje que eram rapazes em 1850 to de ternura nova. pessoal que a nossa poesia ae nojc i~ ____,__,_ Inconfundível. Formou-se a seu tem no passado.°" em IO/U. Aa aonzeias, rc8pelt0 um Julz0 áe ^a,, lnj, A' Darte Raimundo Cor- as virgens, que enchem as ta a que Infelizmente deu foi Z, EL ..., filosofia, e poesia, de todo. o, român- «•«*'£* ^"^ rêa, pela .ua filosofia, e poesia, por um tal ou qual re- ticos, são talvez as mes- plexo do simbolismo que ma. que hoje andam por nele pudemos desço- nossa, encruzilhadas poéti- brir; à parte PAGNA 157: ²Da correspondência de Casimiro de Abreu. Carta a seu amigo Fran- cisco do Couto Souza Júnior, resi- dente cm Porto das Caixas ²A vida a obra de Fagundes Va- rela, de Paulino Neto ida Acade- mia Fluminense de Letras) Casira.ro d. •>*«»). d. Soirc. _ A vla, , , fM_, it Ci_min ta Abreu, de Silvio Romero (continua- gão da página 149) ²Celebrando Casimiro de Abreu, de Goulart de Andrade (continuação da piüina 155). PAGINA 14J: Estudo sobre o poeta das "Prima- veras", (Prefácio das Obras de Akrax .«I faae d. PAGINA 15S: respeito um Juizo de todo lnjus- - ¦••— força osus como Carlos de Laet, o qual na Antologia Nacional escreveu: Não é escritor correto, mas poe- ta cujos maYiosos acordes sabem o caminho do coração. O pro- tambem Vi- cas, e que agora se batisa- fessor Souza da Silveira, em sua , _ tamoem vi »-<»=. •= h Eedição das obras do poeta, de- cente de Carvalho, de cujo ram com os nomes de Lu» monstra minuciosamente que. 1- »- .„ ..»»;. eiana Esmeralda. Ariana, ao contrário, Casimiro é escritor lirismo espontâneo senti- ciana, umeraraa, «"""•» e poeta correto, pelo menos tão mos tantas ressonâncias nllu, Ua» Uorei, aennon- correto quant0 os outros român- ' ¦» „..=.! nhaticos, tidos por corretos; e Justl em nosso espirito - qual nha...«ços,^ i»^ ^ pretendld05 dos nossos chamados par- tntre esse» românticos, deslizes de iinguaBem e métri- nasianoa .eria indicado co- um do. que mai. forte- ca, apontados em sua obra. Silveira PAGINA 149: ²A vida e a poesia de Casimiro dt Abreu, de Silvio Romero PAGINA 150: ²Casimiro de Modernismo Brasileiro (carta de Ribeiro Couto a Carlos Drum- mond de Andrade) ²O esquisito cantor da saudade, de Ronald de Carvalho. PAGINA 151: ²A poesia de Casimiro ie Abreu! No Lar Morenlnha O que tlmpalla ma» «lu ano» PAGINA 162: ²Retrato de Casimiro de Abreu com sua irmã Albina. ²Correspondência de escritores. Car- ta de Casimiro de Abreu a sua ir- Albina ²Recado para o brasileiro Casimiro, de Ribeiro Couto (da Academia Brasileira) ²Estudo sobre o poeta das "Prima- veras", de Souza da Silveira (con- tinuação da página 141) PAGINA 153: ²A prosa de Casimiro de Abreu.' A Vlrcem Loira. Páginas «o coração ²Galeria de nomes ilustres _ O poeta das "Primaveras", de Te!' xelra de Melo (conclusão d. pàgl- IU 1«> ²Beco, poema de Afonso Schmidt. (com Ilustração de Santa Rosa) ²Túmulo de Casimiro de Abreu, no cemitério de' Barra de S. João. ²Uma questão de Mitologia nas '¦Cartas Chilenas", de Joaquim Ribeiro. PAGINA ISS: ²O poeta do amor e da saudade, de José Veríssimof ²Soneto, de Leão de Vasconcelos (com ilustração de Santa Rosa) ²Casimiro de Abreu em face do Modernismo Brasileiro (conclusão da t>4gln« 150) ²Efemérides da Academia PAGINA ISO: ²Poemas em prosa, de Murilo Men* des ²O esquisito cantor da saudade, de Ronald de Carvalho (conclusão da página 150) ²Página do Dia: A Influência da ei- nema na vida moderna, de Anibal Machado ²Uma pensão para a irmã do poeta ²As "Primaveras", de Justiniano, José da Rocha ...jii.i^,.-:,- .;¦:..,':¦;... v ., ¦, ,--_J¦.:

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SUfLEMENTO LITERÁRIO DE "A MANHÃ"12/10/941 Publicado semanalmente, sob a orientação de \iim Q' Mucio Leão (Da Academia Brasileira de Letras)

CASIMIRO DE ABREUSe a vida de um escritor mo influência viva da nos- mente permanecem em

rão cessa quando ele mor-sa poesia pelos atuais poe- nosso espírito — e quasere, e persiste na influência tas brasileiros? Cremos diriamos em nossa lauda-clara ou disfarçada que ele que nenhum. O próprio de, tanto ele continua vivocontinua a exercer sobre Alberto de Oliveira, com o — é Casimiro de Abreu,as gerações que se seguem seu sentimento imenso da Seus oito anos andam, aquia sua — cremos que Casi- natureza, o próprio Olavo e ali, repetidos, lembrados,niro de Abreu continua a Bilac, com o seu ardente glosados, a todos os ins-ser um dos autores mais sentimento do amor car- tantes, por todos os poetas,vivos do Brasil. nal — não parece que se Fórmulas suas, frases que

O romantismo lá se foi, tenha criado deles para os ele construiu sem a mini-s'-m dúvida, há meio sé- atuais poetas, nenhuma ma preocupação de fazerculo, com os seus lugares corrente mais íntima de qualquer coisa para a pos-comuns irremediáveis, a compreensão mais profun- tt-ridade, aí estão, quasesua mole poesia sem for- da. Dos outros parnasia- transformadas em ditados,ma, a sua diluida prosa nos, podemos dizer o mes- e todos os dias relembra-sem ossos. Mas alguns dos mo, e com razão infinita- das por poetas ilustres,escritores românticos fica- mente maior. Idêntica se- Enfim: esse rapaz queram, e ficaram pela expres- paração sentimos entre eles morreu há oitenta anos esiva contribuição pessoal e os simbolistas — todos um valor permanente, e,

qoe trouxeram — contri- os quais estão hoje num tanto quanto podemos sen-buição de idéias, de senti- esquecimento talvez sem tir, atual,mentos, de emoções ou de remédio. Desse esqueci- *estilo. mento nem mesmo Cruz e N(M altigoa dè ve|hos

Seria curioso verificar Souza se salva, e apenas crjticos que vão transcri-como os poetas modernos Afonso de Guimaraensva. tog nag páginaj destecio Brasil reivindicam para •obrenadando, pela esplen- p|ement0f nos ensai08 „o-si uma filiação romântica, *da contribuição pessoal vog que yão ao ,ado deie8desprezando os estágios in- do »eu taknto "*ompar*vtermediários de nossa poe- ve poe a •sia. Não é preciso citar no- *mes; mas é facilimo ver

CASIMIRO DE ABREU

SUMARIO

— teremos o depoimentodo Brasil de ontem e doBrasil de hoje, diante doencantador poeta das Pri-

como cada um deles — dos Mas essa afinidade inti- maverai. Verá o leitor co-mais representativos — ma, que os poetas moder- mo a posição de Casimiropi ocura aproximar-se

PAGINA 145:

— casimiro de AbreuO mais ingênuo dos nossos poetas,de Manuel Bandeira (da Acade-mia Brasileira)

PÁGINA 154:

- O meigo Casimiro,phonsm

— Sumário

PAGINA 1*6:

de

ora nos não teem com os sim- de Abreu em nossas letrasde um Alvares de Azeve- bolistas nem com os par- Vem se tornando mais sóli-do, adotando desse estra- nasianos, tem-na com os da à proporção que os dia»nho poeta até o título dos românticos,livros, ora de um Fagundes Eles estão, os grandesVarela, cujo sabor brasilei- românticos — um Gonçal-ro de linguagem é por to- yes Dias, um Azevedo, umdos proclamado, ora de Varela, um Castro Alvesum Casimiro de Abreu, — vivos, em nossa imagi-cuja poesia dolorida está nação e em nosso espírito,no mais profundo da nos- Algumas das fórmulasia alma. ma'8 usadas pelos nossos

Seria motivo talvez pa- poetas de hoje são vindas ramente o mais simples, o maisra um curioso inquérito, di.etamente do arsenal ro-

^^TonalSrZ^^oque deveria ser procedido mântico. Os anjos, que en- prlmeiro iugar na prelerênclaentre o. nosso, poeta, chem a. página, do. mo- "-^^^àTEatuais mais representati- dernistas, as exclamações, primeiros sobressaltos amorosos

O poeta das "Primaveras*

Teixeira de MeloNo jardim público de Casimirode Abreu, dt Carlos Drummonrlde Andrade

PAGINA 147:

casimiro de Abreu na opinião de

Camilo Castelo BrancoAtualidade de Casimiro. de ManaEugenia CelsoRetrato de Casimiro de AbreuBusto de Casimiro de Abreu, exis-tente na Academia Brasileira

PAGINA 155:

Celebrando Casimiro de Abreu, deGoulart de Andrade

PAGINA IS».:

Páginas dos Autores Mortos:1 — A casa da rua Cosme Velho,

n* 41, antifo lt, de CHavoBilac

i — A Carta (Da Noiva Morta),de Alberto de Oliveira

S — espigas históricas — Ralraua-do Corrêa, de D. Funcas

- Lembrança de Petrõpolls,Raimundo Corrêa

d.

vão passando.

0 mais ingênuo dosnossos poetas

MANUEL BANDEIRA

(Da Academia Brasileira)Casimiro de Abreu é segu

vos — a questão de saber- as invocações a Deus, — gem

quais as afinidades lá estão, nas páginas ^ dos pgt ele cantados C0m um acen

adolescência, os encantosbrasileira foram

mosaue a nossa ooesia de hoje que eram rapazes em 1850 to de ternura nova. pessoalque a nossa poesia ae nojc i~

____,__,_ Inconfundível. Formou-se a seutem no passado. °" em IO/U. Aa aonzeias, rc8pelt0 um Julz0 áe ^a,, lnj,

A' Darte Raimundo Cor- as virgens, que enchem as ta a que Infelizmente deu foiZ, EL ..., filosofia, e poesia, de todo. o, român- «•«*'£* ^"^rêa, pela .ua filosofia, e poesia,

por um tal ou qual re- ticos, são talvez as mes-

plexo do simbolismo que ma. que hoje andam pornele já pudemos desço- nossa, encruzilhadas poéti-brir; à parte

PAGNA 157:

Da correspondência de Casimirode Abreu. Carta a seu amigo Fran-cisco do Couto Souza Júnior, resi-dente cm Porto das CaixasA vida • a obra de Fagundes Va-rela, de Paulino Neto ida Acade-mia Fluminense de Letras)

Casira.ro d. •>*«»). d. Soirc. d» _ A vla, , , fM_, it Ci_min taAbreu, de Silvio Romero (continua-gão da página 149)Celebrando Casimiro de Abreu, de

Goulart de Andrade (continuaçãoda piüina 155).

PAGINA 14J:

— Estudo sobre o poeta das "Prima-

veras", (Prefácio das Obras de

Akrax .«I faae d. PAGINA 15S:

respeito um Juizo de todo lnjus-• - ¦• •— forçaosus

como Carlos de Laet, o qual naAntologia Nacional escreveu:Não é escritor correto, mas poe-ta cujos maYiosos acordes sabemo caminho do coração. O pro-

tambem Vi- cas, e que agora se batisa- fessor Souza da Silveira, em sua, _ tamoem vi »-<»=. •= h edição das obras do poeta, de-cente de Carvalho, de cujo ram com os nomes de Lu» monstra minuciosamente que.1- »- .„ ..»»;. eiana Esmeralda. Ariana, ao contrário, Casimiro é escritorlirismo espontâneo senti- ciana, umeraraa, «"""•»

e poeta correto, pelo menos tãomos tantas ressonâncias nllu, Ua» Uorei, aennon- correto quant0 os outros român-

' ¦» „..=.! nha ticos, tidos por corretos; e Justlem nosso espirito - qual nha... «ços,^ i»^ ^ pretendld05dos nossos chamados par- tntre esse» românticos, deslizes de iinguaBem e métri-nasianoa .eria indicado co- um do. que mai. forte- ca, apontados em sua obra.

Silveira

PAGINA 149:

A vida e a poesia de Casimiro dtAbreu, de Silvio Romero

PAGINA 150:

Casimiro deModernismo Brasileiro (carta deRibeiro Couto a Carlos Drum-mond de Andrade)O esquisito cantor da saudade, deRonald de Carvalho.

PAGINA 151:

A poesia de Casimiro ie Abreu!No Lar — Morenlnha — O que •

tlmpalla — ma» «lu ano»

PAGINA 162:

Retrato de Casimiro de Abreu comsua irmã Albina.Correspondência de escritores. Car-

ta de Casimiro de Abreu a sua ir-

mã AlbinaRecado para o brasileiro Casimiro,de Ribeiro Couto (da AcademiaBrasileira)Estudo sobre o poeta das "Prima-

veras", de Souza da Silveira (con-tinuação da página 141)

PAGINA 153:

A prosa de Casimiro de Abreu.' A

Vlrcem Loira. Páginas «o coraçãoGaleria de nomes ilustres

_ O poeta das "Primaveras", de Te!'xelra de Melo (conclusão d. pàgl-

IU 1«>

Beco, poema de Afonso Schmidt.(com Ilustração de Santa Rosa)Túmulo de Casimiro de Abreu, nocemitério de' Barra de S. João.Uma questão de Mitologia nas'¦Cartas Chilenas", de JoaquimRibeiro.

PAGINA ISS:

O poeta do amor e da saudade, deJosé Veríssimo fSoneto, de Leão de Vasconcelos(com ilustração de Santa Rosa)Casimiro de Abreu em face do

Modernismo Brasileiro (conclusãoda t>4gln« 150)Efemérides da Academia

PAGINA ISO:

Poemas em prosa, de Murilo Men*desO esquisito cantor da saudade, deRonald de Carvalho (conclusão dapágina 150)Página do Dia: A Influência da ei-

nema na vida moderna, de AnibalMachadoUma pensão para a irmã do poetaAs "Primaveras", de Justiniano,

José da Rocha

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PT""-

DOMINGO, U-M-1M1PAGINA 1W — SUPLEMENTO LITEttAlt.O D'A MANHA •

0 POÍM DAS «PRIMAVERAS» - r-, * a*Na última edição (1880) das

Efemérides Nacionais, escrevina data de 4 de janeiro de1837:

—Nasce o melodioso poeta,tão prematuramente roubadoàs laureas que o esperavam ea que tinha incontestável di-reito. Casimiro José Marquescs Abreu, mais conhecido peloseu nome de batismo e últimos pálido, que ele soube .azerimortais.

Nasceu esse nosso infortuna-do poeta na vila da Barra rieSão João, município de Macaé,província do Rio de Janeiro. Onome desta vüa tem sido mui-tes vezes confundido com o dsS. João da Barra, cidade dan.c.ma provincia.

No acreditado colégio de No-va Friburgo. dirigido pelo be-nemérito instrutor da mosi-dade brasileira, o ilustrado in-glês John Henrique Freese. on-de completava Casimiro os seusestudos de humanidades, com-pôs o menino predestinado paraa glória os seus primeiros ver-sos que denominou Ave Maria!in.pirados de súbito pela som-bria majestade da Serra dosOrijãos; casada à saudade dolar materno e ã tristeza agri-doce que produz nas naturezasimpressionáveis o cair da tar*de cm céu americano: tinhaentão quinze anos de ídad*?.Seu pai, porem, homem práti-co, avesso a essas sagacidadesda poesia e filigranas do sen-timentalismo, que não podiacompreender o que não temdesconto nem cotação na pra-ça, retirou-o do colégio no fimde dois anos, e, depois de o ter,por alguns meses, em sua casacomercial no Rio de Janeiro,mandou-o em novembro de1853, para Portugal, semprecom a idéia de fazer dele umnegociante.

O menino poeta comprimiuo mais que poude a sua vocaçãopara as letras: mas a força danatureza venceu o respeito,sobrepujou o temor da cólerapaterna, e lá compôs ele umacena dramática, tendo poiobjeto e título Camões e o Jáu,que foi representada em 18 dejaneiro de 1856 no teatro D.Fernando, e a sua Canção doExílio e outras. Dai datam osseus triunfos. Ali começou tam-bem a se desenvolver nele ogerme da fatal moléstia pul-monar, que o devia arrebatartão moço da cena do mundo.Foi de novo chamado (em1857) para o Brasil e de novolançado no comércio. Nas horasque podia furtar às suas obri-gações e à vigilância paternaescreveu ele a mor parte dascomposições poéticas que cons-tituem o volume a que deno-minou Primaveras, que foi pu-blicado em 1859, ainda em vidado poeta, e que tem tido depoistantas edições sucessivas, aquie em Portugal, tal e tão rápi-da foi a reputação que ele 1. pgrangeara. Enfim, depois deum viver atribulado e de todotravado de contrariedade, su-cumbiu o harmonioso poeta nafazenda paterna, em Indaiassú.a 18 de outubro de 1860, compouco mais de 23 anos de ida-de. deixando suas desconsola-das mãe e irmãs órfãs do seuamor. Seu pai tinha falecidoantes, inteiramente reconcilia-do com o filho e em seus bra-ços.

Casimiro de Abreu é umadas puras glórias literárias. Ro poeta mais popular da gera-Ção contemporânea: conquistouo lugar de honra que ocupa -sem ruído, sem estrépito. semlutas pelo plano suave da man-sidão e da znelgulcs. Pela es-pontaneidade e naturalidadedos seus canto, vê-se qie ti-nha diante de si um grandefuturo como posta lírico; o seulivro denuncia uma decidida?ocação para esse gõnero depoesia.

Repousa na localidade emque na_cera, ao ladp da sepul-tura do seu p?*.*

À propósito da , ,ediçêp, da3„

suas obras completas, com trezepoesias inéditas, dada em 1884,no Rio de Janeiro, pelo sr. dr.Joaquim José de Carvalho Fi-lho, escrevi na Gazeta Literá-ria deste ano: .

Dos poetas da geração con-temporânea, nenhum tem tidoas honras de tão repetidas re-impressões como o malaventu-rado poeta fluminense. E' queele, depois de Gonzaga, foi oque conseguiu falar a maiornúmero de corações e meiiioisoube vibrar a corda do senti-mentalismo popular, pairandoem certa esfera, não se elevan-do nem descendo, de tal modoque ficasse insuficiente parauns por deficiente, nem min-teligivel para outros por supe-rior. Foi o. poeta do seu tem-po: o lugar que ocupa na .ite-ratura nacional conquistou-oele do modo mais legítimo esuave, de pancada, sem lutanem esforço, pela fluência doritmo, naturalidade da v pres-são e pureza do sentimento.Sem se al,ar às regiões inacessi-veis, não descaiu no trivial ecomum.

Nem Alvares de Azevedo, queentretanto possuía um fundode erudição admirável para asua idade e a quem nada eraestranho do que então contavade mais adiantado a literaturaeuropéia, mereceu tais honras.

Casimiro de Abreu não seabalanço a plantar-nos essascomoções violentas com que ai-guns dos seus sucessores abala-ram a atmosfera do sentimen-talismo social e que tão ao seusabor parece terem sido; poi-que a sua natureza era meiga csofredora como a da donz.iarecatada, que nâo sabe revol-tar-se contra as injustiças domundo e as exigências desix>-ticas do meio em que lhe foidado viver.

A sua poesia, fluente e har-moniosa, é do coração que can-ta o que sente e sente o quecanta; não a do cérebro incan-descente e doentio, que exageratudo que passa pelo seu cadi-nho e exprime no verso, novevezes em dez, antes o que lhoparece ou devia sentir do qu?o que na realidade sente.

Não obstante os altos esfor-ços da poesia moderna, no in-tento de substituir o sentimjn-to pela imaginação, fazendofalar o cérebro em vez do cora-ção rendilhando a frase, alcan-tíorando o estilo; Casimiro áeAbreu há de satisfazer pormuito tempo ainda à parte dasociedade brasileira que abreum livro de versos e se deleitamais com a sua leitura do quecom a do Deve e haver.

Creio que as treze poesiasnovas edicionadas à presenteedição não lhe aumentam nemdiminuem o valor e o méritocomo poeta. Sempre me pare-ceu perigoso para a reputaçãodos autores, cedo arrebatadospela morte, esse escavar em ruinas, esse tal ou qual prurido(perdoe-me o douto biógrafo),esse prurido de acrescentar ai-guma coisa ao que o autor jádeixara feito. As obras que ernvida publicara sofreram semdúvida a seleção criterio_a doautor, que nos teria dado tu-do o que escreveu se tivesseachado tudo que escreveu cig-no da publicidade. Felizmentepara Casimiro de Abreu, coma presente edição não se fize-ram revelações inconvenientes,a não ser, até certo ponto,os alexandrinos da peça titu-lada "A um poeta", de que jáfalou com tanta .sensatez a"Gazeta de Notícias". O pen-samento da poesia em questãonão desmerece do autor: osversos teem rigorosamente onúmero de sílabas exigido pela"Arte poéticaú, a contar-jepelos dedos; mas a medir-se pelo ouvido, na mor partedeles a cisão da metade de ca-da verso para o resto faz-se nofinal da palavra, ficando des-locado o acento predominante,cortada a sílaba tônica, e o ver-so portanto desgracioso c man-,<*9, ,,-., .1,1: ...1-1

Deve entretanto o belo daidéia redimir a imperfeiçãcf daforma.

Do mesmo defeito se ressentea que tem por titulo "No ai-bum de uma senhora".

Em abono da verdade pare-ce-me poder assegurar que nãome é desconhecido o final da-qucla poesia:O nosso patrimônio existe na íabeça!

Quem sabe se não seria opróprio poeta quem alguma vezmo recitou, pois tive a fortunade o conhecer?

Era de mediana estatu.cheio de corpo, moreno, de ummoreno delicado e aveludadocomo a penugem do pêssego;cabelos pretos, corredios, sembarba, apenas um leve bigode,pouco mais que uma nuvem debuco; bem proporcionado deformas, de modo que toda rou-pa lhe assentava bem.

Quanto à sua vida intima,aos profundos dissabores quelhe amarguravam e minavam aexistência, só os conheci quar.-do, morto o poeta, os jornaisos revelaram. E como "fazerconfidencias" em uma "repú-•blica" de estudantes?

José Joaquim Cândido de Ma-cedo Júnior e Gonçalves Bra-ga (conheci-os também pelomesmo tempo), amigos maischegados do poeta, tiveram d*-certo conhecimento dos seussofrimentos íntimos, partilha-ram dos "seus segredos; mas fa-lecidos antes dele, levaram-nosconsigo para o insondavel.

O retrato de Casimiro dcAbreu- que acompanha algu-mas das edições das "Prima

veras", tem apenas remotostraços da simpática e meiga fi-sionomia do poeta. Foi aindaassim um pouco mais feliz, nes-se particular, do que um outroilustre representante da poe-sia fluminense, Laurindo Ra-belo, cujo retrato de modo ne-nhum representa a individuali-dade que indica. Refiro-me aoque vem na edição das suaspoesias dada em 1867 pelo ba-charel Eduardo de Sá Pereirade Castro. •'Camões e o Jáu", cena dra-mática ajuntada ao volume,veio satisfazer a longa curiosi-dade dos apaixonados do liricafluminense; foi uma lembrai!-ça feliz, porque aquela compu-sição, sobre ser desconhecidapara muitos, se tinha tornadorara. Alem da nobreza do as-sunto, é esse em grande parteo seu mérito.

Deu-nos mais o editor doisromances em prosa como um

espécime" do "modus escrl-bendi" do laureado poeta iuan-do depunha a lira, da quai po-de também dizer-se, como dado imortal cantor do "Lusia-dasú, que -foi mais afamadaque ditosa".

Todas as variantes que o edl-tor apresenta proveem de umasó fonte, a •Ilustração Luso-brasileira", Lisboa- 1856. ondeo poeta fizera as suas primei-ras armas. Os senões de umaprimeira impressão corrigiu-oso poeta com muito discerni-mento na edição que preparoue nos deu no Rio de Janeiro em18S9. Não se contem nos ma-nuscrltos que o sr. dr. Carva-lho possue do poeta, como sepoderia supor.

Para fechar com chave deouro esta pequena notícia, exi-guo tributo de saudade pago ámemória do melodioso poeta,transcrevo das inéditas que orase publicaram a poesia que se-gue e que o leitor não desesti-mará de reler, se já leu no vo-lume, onde ocupa o primeirolugar- Tem uns laivos "garre.teanos", que a fazem repetircom prazer:

POR QUE?

Ai! por que? — Dize, responde.Vida minha, noite e diaTeu roslo tle mim se esconde,E teu iãbio não murmuraComo d antes, ao luar.

Naqueles cumpridos ninosEssas frases de ventura.Esses segredos divinosQue eu bebia a suspirar?

Bem sabes, amei-te loucoComo nas ânsias ardentesPuni amor santo e primeiro:

Fizera da tua ImagemA ítor dos meus castos sonhos,E cio leu rosto adoradoCriara um poema inteiro!

Deus, os pais, a pátria, tudo,Deixei por li no delírioDesta teimosa paixão,E fiz-te rainha altiva,SisHana do coração.

Nào negues. — teu lábio puroSorriu-me um dia; teus olhosLímpidos, belos, tremeramCerrados de ianguidez;E junto a mim, docemente,

Quando o mar tranqüilo estava.Teu peito que transbordavaSuspirou mais unia vez?"{Continua na página 153)

NO JARDIM PUBLICOO encanto de Casimiro de Abreu está no tocante

vulgaridade. Em sua poesia tudo é comum o todos.Nenhum sentimento nele se diferencia dos sentimen-tos gerais, que visitom qualquer espécie de homem,de qualquer classe, em quolquer país, Casimiro di-rige-se igualmente a todos, e por isso mesmo é res-Irito a matéria de sua poesia: abronge somente aque-Ia região em que não operam as distinções filosó-ficas, os credos políticos, o tumultuosa torrente dovida social. Evita mesmo o campo subjetivo em quecada um de nós, sofrendo diferentes pressões, se re-vela incoerente e descontínuo. Cosimíro ignora 3 ruae seus problemas; ignora tudo que é drama coletivoe até qualquer drama individual que nâo se incluanum destes esquemas:

a) o homem se recorda da infância e fica triste;b) o homem tem um omor que nõo pode rea-

lizar-se e também fica triste;c) o homem está longe da terra natal e sente

saudade.Apenas uma vez, Casimiro fugiu a esses pa-

drôes. Foi quondo compôs "GamÕes e a Jau", em queperpassa um vento de epopéia e se sente à sombrade novios conquistadores, de infortúnios clássicos, oespirito da raça no quodro histórico. Tinha 17 anose nâo- repetiu a aventura.

Foltou-lhe, reolmente, o sentido da oventura.A viagem a Portugal surge-lhe como uma tragédio:"Jó dois anos se passaram longe da pátria. Doisanos! Diria dois séculos, E durante este tempo te-nho contado os dias e as horas pelas bagas do oran-to que lenho chorodo" Seu ideal é bem pacifico eparo concretizá-lo não seria preciso destruir nenhu-ma instituição nem magoar nenhuma creatura: 'Fe-liz aauele que morre debaixo do mesmo céu que oviu nascer!" Só isto: morrer na terra do nascimantaEro a único ambição de Casimiro de Abreu, e pensarque sua morte poderio ocorrer em Lisboa, entre "osseus mil e um atrativos", o fazia mergulhar na maisnegra infelicidade. O grito de fuga. de pesquizo dasilhas fabulosas, o fascinação do asiático, que dila-cero o espírito romântico, nõo penetra o pequenojardim das "Primaveras",

onde Casimiro nasceu edeseja viver e morrer sem sobressaltos.

Está entendido que esse jardim não é fechadonem ostenta espécies raras. O poeta não ama o 'aroe o difícil. Ha nele uma disposição natural paro asemoções fáceis, ligada a uma graciosa modéstia, queo faz murmurar sem fingimento: Nós, cantores novéis,somos às vozes secundárias que se perdem no conjun-to de umo grande orquestra; há o único mérito de nâoficormos calados". Apresentando-nos suo primeiraprodução, adverte que

"essas notas são tiradas pe-Ias mãos trêmulas dum novato, na mais humilde edesconhecido lira". Note-se que era um tempo emque os novatos nâo tinham mão trêmula (e algumdia a tiveram?), Casimiro guardou; pois, a inocênciaentre dois demônios poéticos. Antes, dele, já Alvo-res de Azevedo zombara de todas as metafísicas edo própria poesia, recomendando em verso que cortas-sem umi tripa de seu cadáver para a .feitura ,á$

umo humilde tira que contosse os amores da vida.Pouco depois, Castro Alves, oo mesmo tempo emque renovava o conteúdo dos velhos temas amoro-sos, agredia o leitor com a insolêncio de novos os-suntos: o conspiração de Tiradentes, o tráfico dosescravos, a batolho política. O frógil Cosimíro es-gueirou-se na tempestade, à procura de obrigo pa-ra a suo sensibilidade de contornos tõo limitados.E à donzela que amo envia este certificado de Domcomportamento poético:

"Podes ler o meu livro: — adoro o infância,Deixo o esmola na enxerga do mendigo,Creio em Deus, amo a pátrio, e em noites lindasMinh'olmo — aberta em flor — sonha contigo".

Sabe-se o que nó de perigoso para o litero-tura em uma conduto exemplar; o perigo é tão po-sitivo como o da falta de conduta, De bons senti-mentos nâo germinam obrigatoriamente bons ver-sos. Casimiro correria O risco de tornar-se aborre-cido, se não viesse salvá-lo certa simplicidade na-tiva, que dá aos seus versos um perfume de florpobre, tombem ele fraco, mos decente.

"Meu Deus! eu chorei tonto lá no exílio!"

Não há nodo menas pcrticularizodo. E' tõosimples que, em público, nos sentiríamos inclinadoso sorrir da confissão Mas em casa, lendo o livro aoitenta onos de distância do poeta, uma ternura,cúmplice nos embebe, como a agua que passandopor baixo da parto vai lentamente molhar o tapete.

Essa espécie de infiltroçáo sem surpresa tazde Casimiro um poeta popular. Explico-me: ele èo poeta que nós todos nos imaginemos capazes deser, se quizessemos. (Não queremos! . Enquan-to o homem da rua considero com prevenção a ti-guro de Paul Valéry, que traz no bolso um r.pa-.relho de fabricação de sonhos tsabe-se lá o que es-condem essas máquinas!!, acolhe de coração aber-to o vulto tranquilizador de Casimiro, que acaboude colher beninss e vai depô-los no túmulo da no-morado. Temos ai várias sugestões suaves: idéiade virgindode, idéia de flor, idéia de melancolia.Dá para um instante de poesia módica, na agitaçãobancária do rua Primeiro de Março ou nas conversasarrastadas da farmácia de Mato Grosso,

Se Casimiro chegasse ao desespero em amor,sua voz seria mais rouca, não o estimaríamos tanto,Com acento maguado mas límpido, ele nos ;ontade amores que doem, mos passam; fala-nos de w-xòes que não conduzem ao aniquilamento, são na-moradas que morrerom ontes que o poeta as pos-suisse; emoções que umo valsa desperta, e fogemcom a valsa l"Tu, ontem — Na dança — Quecansa, — Voavas — Co as faces — Em rosas —Formosas. . .") . ¦ Seu infinito recato sofre mesmacom a hipótese de ver, após essa valsa

"A tuo coróo de virgemRolando no pô das j-fllcs^,.? ....- ,-

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JWfe domiKOO, Ú-M-1N1 ' ¦

' ¦ *

. : Q ' *; SUPLljMEWTO MTEKAalO D'A MANHA - Pt<*IWA ««

o poeta da mocidade Atualidade de Casimiro - m EMuoaíPEDRO LUIZ .,,„„„, canlanl ,u. t„„

Também vou rantai a minha"Quereis por ventura vasuer t\\, - disse islo nio iui eu.

livremente no meio de sonhos e i »i um poda no passado,flores, entre sorrisos e galas TJ';^J^wZitmnk morreullCSSe jardim sempre Viçoso, qae mi n > rccordaçiVo ttM homens certa-

profundo de uma No outro dia a pobre rosaTão vaidosa

No h-t-itH se dclmn*ou.Pobre iteln! Teve a morte

Porqtie o Norte.Porque o Norte a desTolIiout.

se chama mocidade? Quereis,pondo de parte o mundo e suasteorias positivas, embalar-vospor alguns momentos nos bra-ços da fantasia às melodias ter-nas e queixosas da lira do co-ração? Quereis levar algumashoras pensativo » mudo be-bendo a vida em um raio ar-dente de soi dos trópicos, a es-perança no anil do céu e o amor

Nada mais romântico em ver-

sentimentoépoca.

Do longo sofrimento da in-compreensão do meio e da hos-tllidade do ambiente familiaronde Casimiro de Abreu, desdecriança, haui-lu os elementos dade do que esse rimado contocriadores da sua tristeza, por de fadas à Nodier, essa peque-uma reação instintiva do talen- na aquarela de matizes tãoto oprimido, fez ele como o deliciosamente primaverís e detrampolim da sua obra poéti- tão sábia exatidão' psicológica.ca. Ao mais fraco que-suspira, —

A Saudade fora a sua primei- rosa ou mulher, — há de pre-iconoclasta ado- ra Musa, confessou um dia no ferir sempre o mais forte que

arWt aamente prefácio do seu livro. Foi a Mu- domina, rjesfolhando-a emboraexistência, a fia- que importa?... o que importa

CASIMIRO ItE ABREU."

Quanto são errados por viadc regia o3 juizos da primeiramocidade! Esse esquecimento,segunda morte mais total e de-íinitiva do que a verdadeira, aque a minha

Retrato pouco conhecido do crji'nrias ~ Primaveras". Pertence ao ar-quivo da Academia Brasileira, decuja cadeira n* fi é Casimiro de

Abreu patrono

«rança no anil do ceu e o amor '"XTava Tpoeta das Primo- sa de toda sua existência, a fia- que importar.. u qu» '

as nuvens douradas que bnn- ™P°en^ existia no emtanto. ma inspiradora de sua poesia, e a mao que a desfolha

*» no horizonte? «£»¦ ™ ™^ae das es- a intima e enternecida presen- E por esta graça¦

J*Com a mao no peito e a fran- colas meràrlas e as variações ça de sua alma Saudade_ da "™??:d/fede7™D„esca"mo-queza nos lábios, ninguém ou- de pl.efei-ência e de conceito do separação prematura da mae a *?*v™°fer«lmiín

HeAbreu sesara dizer - nao. séc„,0 os vers05 tão espontã- quem adorava, saudade da pa- Ç.ao que casimiro de noreu seMoco ou velho, alma cheia de S

'tão senTdos, tão poéticos ti-ia tantos anos distante, sau- equipara as

^J^J^em suma, do "choroso Casimi- ***<*>£%£

^^'semp™ V^T^olXZdTv.uíio-ro" permanecem vivos e lem- quais o coração qttei sempre . Ramaih0 orti-brados, nessa frescura intangi- emprestar um cunho de tmpos- Je :a^ahdade Ramainçuru_

vel e perene atualidade das pro- sivel eternidade, saudade qu.ça ^°* CT^

gênto desenvoWdoducões verdadeiramente essen- da vida que tao cedo lhe ia fu- ™^* u™ ^ literato" com-

humano. Nin- gir e de que antecipadamente nem um p«nd^tt.»to. com

fogo ou coração enrejelado. Lo-dos amam no fundo a naturezacom suas festas, a vida comseus esplendores, e a mocidadecom seus desvaneios. Se as?iiné, abri comigo as "Primaveras"de Casimiro de Abreu.

deCdsimiro c/e Abreu na opiniãoCdmiío Castelo Bronco

"Faz pena este moço que de- Deus, porque as suas obras sãoseiava viver e começava a amar incomparaveis. Mas é grande quando a alma lhe fugiu das obséquio, devido aos tubereules x»mbe'i«"vou cantar a miuliaasas do gênio para as da mor- ou amolecimento cerebral, mor-te. Ele esteve perto destes car- rer-se novo. quando se é tào onrje o amorvalhais tristes onde escrevo es- querido e chorado. comovidamente se exalta emtas linhas. Lá ruge em baixo imagens e comparações enalte

pelhou lágrimas saudosos dn Which men weep over may be tempo. São a própria vozBrasil. Também teve sorrisos meant to save. nosso romantismo, porquantoaquele rapaz que não teve m- Aos preceitos, como Byron, sc correspondem na sua ternurafanch! Ah! como este mundo e lhes tirarem o desafogo da iro- dolente e no arrebatamentobom! Bem se está vendo que ha ni-i. a estrangulação é perfeita.'- emocional do seu lirismo, ao

guem taivez" tenha conhecido *°$^f^r^0 %". po^Ke^SoTuTcmnTaislTrXrse Z- J^ãsT^^l ~t°Con 'iZgSHS

» entregue a sua Musa Minha tristoa ?£

Pf dido ou do J ^^fKeliíWtoWalma é triste como a rola alli- sonho ineauzaao. - ."""" n.,., última comparação mefa, Simpatia. Meus Mo anos, afinal as construtoras de sua Esta Ultim co p^ .Amor e medo, Saudades, Minha gloria. ^ um M11ievoye tubercuo'soMãe, e, acima de tudo, esse Saudade e tristeza, exaltadas com0 seu emu]0 francês. tradu-

até o excesso se quiserem ao 2ido pâra a (iocma sentimentalinfluxo passional do amor, mas d0 português. tim Millevoye àtambém um extraordinário sen- brasUeira. se não atingiu à al-

na terra natal tão s0 da nobreza, um divino en- t criadora de Gonçalvesda teu a naiai mu tendlmento da v,da „ da beleza Dia= que tant0 admirava e comdas coisas. Basta lembrar 0 Ouai ofeerce. não raro. sin-inegualavel musicalidade da „ulares analogias de estados

, Rosa e a Briia. a que o baian-ço cantante do ritmo dá a im-pressão nitida do bp lanço daflor no galho batido de ara-gem:

DE CASIMIRO - Carlos Drumondde Andrade

Brotam-lhe, ds raro em raro, pensamentos lü-brice;.

"Vampiro infame, eu sorveria em beijosToda inccjncia quo teu lábio encerra,E t*u serias no lascivo abroç»Anjo enlodoLO nos pauss cio terra".

Mas tam o cuidado de úezaevcr es^e oto nc

condicional — e instante? de fauno, qual o bur-

guès moderado que não os conhece? Ainda pi Ca-simiro satisfaz oiscuras aspirações do homem indis-

criminado, que guarda em si um recanto disponível

para a devassidão montai. A preocupação de presor-var a coroa do virgem é, porsm, dominante nos seusdevanoios de poeta casto.

O segredo de diier coisas tristes sem envjnc-nar de todo, a vida. faz de Ccsimiro um parente dstodos nós. Sua leitura nõo é uma provocação oo

suicídio, nem torna sedutora o imogem da morte

Pe'o contrário. O poeta receia morrer moço e jeds

que, se isto tenha de acontecer, "não seja já las-

sonância a meu ver admirável, pelo que lembra da

gagueira de pavor diante da morte! :

"Tenho pena... sou tão iA vida tem tanto enlevo!"

10ÇOI

Ele concilio o pessimismo de determinada con-

dicâo pessoal — o moço pobre, escravizado eco-nômicamente co pai, à espera de que a glória ou o

amor o vá tiror da tiiste vida de empregado no co-mercio — com o gosto da vida natural, entre ár-vores frutíferas, pássaros que nos distraem com o

seu canto e que apanhamos em armadilhas, e o

mais que compÕ3 o quadro singro das pequenas a-

dades do interior, confundidas com o campo. E"

uma poesia de horta e campina, em que há laian-

leiras com sabiás, regatos brincalhões, raios de tua

e brisas travemos; nenhumo suspeita do AmazonasTudo isso envolto na névoa das recordações ou mais

pateticamente no que ele chamo, num achado, "este

pó da infância" .As "Poesias Elegíacas" inserem nesse todo de

melancolia conformada umo nota áspera e descon-

certamente. Ai, Casimiro por vezes de'xa de ser -> jo-vem de soniim-ntalismo epidérmico, csvoinrjo-se em

cyeixumes e suspires crepúsculo res, para exprimir— ou denunciar — alguma coisa de mais forte, mais

^lnquie!*ante, que nele irrompe surdamente:

"Agora em vez dos hinos d'esperonça,Dos contos juvenis,

Tenho sátiro pungente, o riso amargu,"» '

O canto que maldiz! *

Os outros — os felizes deste mundo.Deleitam-se em sarou*/; y

Eu solitário sofro e odeio os homens,P'ra mim são todos maus! •

Eu olho e vejo. . . — o veiga é de esmeralao,O céu é todo azul.

Tudo canta e sorri... só na minIValmaO lodo dum paul!"

Casimiro vai fazer, enfim, a descoberta do

mundo:'Há dores fundas, agonias lentas.Dramas pungentes que ninguém consola

Ou suspeita siquer!Máguas maiores do que a dor dum dia,Do que a morte bebida em toca enorme.

De lábios de mu'her!

Doces talas de amor que o vento espalhgJuras sentidas de constância eterna

Quebradas ao nascer;Perfídia e olvido de passados beijos...São dores es;as que o tempo cicatriza

Dos anos no volver.

Se a donzela infiel nos rasga os folhasDo livro d'olma, maguado e triste

Suspira o coração; .Mos depois outros olhos nos cativam,E ioucos vamos em delírios novon

Arder noutra paixão.

, . , Não! a dor sem cura, a dor que mata,E', moço ainda, e perceber na mente

A dúvida a sorrir!E' a perda duro dum futuro inteiroE a desfolhar sentido das gsntís coroas

Dos sonhos do porvir!

E' ver aue nos arrancam uma o umaDa.; osas do talento as penas de ouro,

Que voam para Deus!E' vsr que nas arrancam uma a umaE qu*? profanam o que santo temo»

• Co'o riso dos ateus!

E' assistir co desabar tremendo,Num mesmo dia. d'i!uEÕes douradas, '

Tão cândidas de té!

. . . Horcs há em que o voz ruesi blcsíerr.a, . ,E o suicídio nos acena ao longe

Nas longcs sa turrai:'.Murcha-se o viço no verdor dos anos,

Dorme-se moço e despertamos velhos,Sem fôlego para amar!

Dores na sombra, sem carícia** d'anjo,• Sem voz de amigo, sem palavras doces.

Sem beijos de mulher!..."

Estas poesias dão-nos o pressentimento de uroutro e maior Casimiro O Casimiro que a morte aos21 anos não deixou nos revelasse toda a sua amor-

ga fisionomia, e que de bom grado colocaríamos aolado de Fagundes Varela, no viril desencanto que os-segura o este outro poeta fluminense um lugar a

parti; entre os nossos românticos. Casimiro que nõo

chegou o formar-se, oi dele! e que transborda das"Primaveras"-. " '

"A hriK-i dizia íi rosa:_ -ná. r,,. ¦ -¦

ná-inc. linda, o teu amor.Ucixa eu dormir i"> tí -i **:*<*

Sem rfcei-}Sem receio, mhiha flor.

l>c tarde virei da selvaSobre a relva

Os meus r;irinhos te darF. ilu noile n:t corrente

Mansamente.Miinsiimente te embalar!**E a rosa dizia àbrista.

— "Nâo precisaMlniralma dos beijos tens,Não te adoro, és inconstante

Outro amante,Outro amante ans sonhou meus.

Tu passas de noite e diaSem poesia,

A repetir-me teus aisNão te quero... quero ¦

Qne c mais íorte,,Que é mais íorte e e» amo maís!'

Norte

cTplma Casimiro, não obstantetodos os desuses de sua poéticae as distrações de sua sintaxefoi a expressão mais pura emab si™nific*tiva da nossa faseromântica. Sua obra tão des-pida de subterfúgios verbais eartifícios literários perdurou eperdurará, eraeas ao condão dasua simplicidade e de seu sen-timento.

Bem aventura d o Casimiro,chamou-lhe Goulart de Andra*de.

Destino de bemaventurança,com efeito, pois como a esseoutro tuberculoso, esse outropoeta, Rodrigues de Abreu, osenhor o assinalara "pondo oseu sinal resplandescente" sobrea miséria física da criatura.

Nada mais foi do que um poe-ta. o que quer dizer, entre asefêmeras ocorrências do mundo,um portador de eternidade.

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i9 ¦*-.'^^'"Busto de Casimiro de Abreu, existente na Academia. No salão denimra. ao reoiieno Trianon encontram-se. igualmente, os bustos em ifcronse ãe outros Ms grandes poetas io Romantismo — Goiifalcíj

Dias, Fagundes Varela e Castro Alves»

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PAGINA 11»

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SUPLEMENTO LITERÁRIO D'A MANHA

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DOMINGO, II-U-IM1

Estudo sobre o poetd c/as "Pr/maveros' -qrefácio dd «Oòra c/e s©i«o da

de /\6reu»j"St'ípcírfCasimiro José Marques de

Abreu nasceu em Inüa-açu, fre-gutsia do Rio São João, na eu-luu fiovincia do Bio de Janeiro,no ma 4 de janeiro de 183S, dcpai português e mãe brasileira.

üs primeiros tempos de suaviaa, a sua 'infância querida',passou-os no torrão natal. Par-tiu em seguida para Nova Fri-burgo, onae cursou durante ai-guns anos o Instituto Freese.>oi ai que, uma tarde, a horaem que em sua casa paternadeviam estar merendando, elese lembrou do seu lar, viu nelea mana pequenina, e então,assaltado pela saudade, choroue compôs a sua primeira poe-sia. Infelizmente, em momentotie desânimo e desgosto, ras-gou-a, embora mais tarde viés-se a arrepender-se do que íize-ra, e sentisse tanto o haverdestruído aquela produção, que,para recuperá-la, daria em tro-ca todo o volume das "Prima-veras", isto é, o livro que o tor-naria imortal em nossa li ter a-tura.

Não terminados completa-mente os seus estudos de hu-znanidades veio para o Rio atrabalhar no escritório do pai,que, á fina força e contra avontade do rapaz, queria enca-ttiinhá-lo na carreira comercial.Casimiro submeteu=se, mas nàose resignou, e essa contra-riedade foi grande amargurana sua vida.

Depois de um ano de perma-nência no Rio. o pai mand.i-opara Portugal. Isto foi em 1853.No exílio atormenta-o a nostàl-gia do torrão nata! e da famí-lia, sobretudo da irmã e damãe, a quem Casimiro amavaextremosamente, de quem laiamais de uma vez nos seus ts-entos e para quem fez aquelapoesia tão transbordante desaudade e ternura filial e comlorma poética tão adequada,•que dificilmente se encontrará(caso se encontrei outra que aIguale na força do sentimentoe na formosura da expressão.

* * *Costuma dizer-se que no exl-

lio lhe apareceram os primeirossintomas da tísica pulmonar.que havia de matá-lo. Isto cons-titue, porem, um ponto por elu-cidar na biografia de Casimiro.Pois de cartas autografadas dopoeta, existentes no arquivo daAcademia Brasileira, e das quaistomei conhecimento por inter-médio de cópia fidedigna, pa-rece que ele gozava de boa sau-tíe. Ao amigo, destinatário dareferida correspondência e pa-ra o qual abria a sua a'ma depar em par, conta que voltoude Portugal, e nem então nemdepois alude a enfermidade ai-guma positiva a não ser a va-•riola de que ficara marcado,mas de que já se restabelecera:e. pelo contrário, mais de umavez, queixando-se de enfermodo moral, informa que está sãodo físico, e certa ocasião chegaa J&stimar-se da monotonia da«ua boa saúde, em lugar daqual queria a titisa com todases suas peripécias para ir defi-nhando liricamente até acabarde morte romântica sob o ceuazul da Itália ou mesmo do nos-so (desejo, como se sabe, muitodo gosto da época e que o nos-er vate exprime, tafvez com ai-gum humorismo). (1).

Ainda em carta de 11 de Ja-neiro de 1860, isto é, nove mesesantes de sua morte, escrevia:wEu continuo sempre bom dofísico e sempre enfermo do mo-ral". * * *

Há, contudo, uma carta, de17 de maio, sem indicação dolugar nem do ano, mas oue su-ponho s?r de 1859, na qual selêem as seguintes palavras (ogrifo é meu):"Vivo muito triste *? padeçomesmo um pouco do 'íslco: aminha saúde vai-se estradandot eu desconfio que o canastronão dura muito tempo Aléns;estima-me sempre e lamenta

o teu velho ttm.Casimiro".

Dessas palavras transpira tunsentimento sincero; podia, po-

rem, ser um abatimento passa-geiro. Enfim, a saúde boa oumá de Casimiro é, como disse,uma questão por esclarecer.* *

Situei, hipoteticamente, ncano de 1859 a citada carta de17 de maio. E' que esse é o anoda saida, creio, que em setem-bro (2), das "Primaveras", ehá na carta o seguinte período:"O meu livro, nada de novoainda! Diz o Paula Brito que emjunho está pronto e eu supo-nho que nem no fim do ano; ohomem manga comigo á gran-de e eu vou aturando tudo coma minha negligência habitual".

* * *De volta pois ao Rio, onde

chegou em 9 de julho de 1857,(3), parte sem demora para afazenda paterna de Indaiaçú,e lá. revendo os sítios queridosda sua infância, desabafa aemoção naqueles deliciosos ver-sos da poesia "No lar".

Um mês depois vem de novopara o Rio. colocado no escri-toro de uma casa de consigna-ções. Em carta do Rio. de 18 dcdezembro de 1857, escreve aoseu amigo Francisco do CoutoSouza Júnior, o qual residia noPorto das Caixas:

"Querido am.Recebi com verdadeiro pra-

zer a tua carta e se te não res-pondi logo foi porque tenho es-tado estes dias bastante ocupa-do aqui no escritório com asaida dos paquetes para a Eu-ropa e para o Sul. Como sabesestive em Portugal 3 anos emeio e voltei em julho p.do;passei por aí já duas vezes elembrei-me de visitar-te. masnão tinha tempo e provável-mente não te encontraria".

Pelas datas de grande nume-ro de suas poesias vê-se que oano de 1858 foi de intensa ati-vidade literária para Casimiro.Também cogita da publicaçãodas "Primaveras", seu vo'umede versos, que sai a público em1859.

Dizem que o pai, doente en.Indaiaçú, comoveu-se à leituradas "Primaveras", e mandouvir o filho. Este chegou, aindaestando com vida o pai, e re-conciliaram-se.

Tendo regressado ao- Rio ai-gum tempo depois da morte dopai, a enfermidade agravou-se-lhe fse tinha alguma) ou assai-tou-o então. Busca alívio noclima de Nova Friburgo, Não oencontra. Volta a Indaiaçú. eaí. no regaco materno, expirana tarde* de 18 de outubro de1860. Tinha 22 anos incomple-tos. * ,*

Houve dúvida sobre o ano donascimento de Casimiro deAbreu. 1837 ou 1839?

A certidão de bat:smo, já pu-blicada até no "Diário Oficial",reunida a testemunhos indire-tas do poeta, que daqui a poucovamos considerar, resolve apendência a favor do ano de1839.No começo do Prólogo de "Ca-

mões e o Jau" conta o poetaque transpunha a barra do Riode Janeiro em demanda dascostas ce Portugal a 13 de no-vembro de 1853, e mais adlan-te diz que Já lhe haviam pas-sado dois anos longe da pátria.Fazendo-se os cálvios. — le-vada em consideração a dura-ção da viagem que, naqueletempo, era demorada, e adml-tido que a expressão "dois anos'rão teria rigor matemático, oque é comum na linguagpmcorrente, — conclue-se que Casimiro estava escrevendo oPrólogo ao expirar de 1855 ounos princípios de 1856: a data27 de março de 1856, sotopostaao Prólogo, confirma a segundahipótese a que nos levou o cá!-culo. um tanto grosseiro, tr.asaproximado.

No mesmo Prólogo diz Casl-miro que lhe arde no peito ologo dos seus de2«ssete anos.Descontados estes de 1856. ten-se 1839 para ano in nascimci-to do poeta.

Aa dedicatória das "Prima-

veras" a **. Otaviano, datadade 20 de agv-ilo de 1859 pergut.-ta: "Meu Deus! que se há cieescrever aos vinte anos...?'.Ora, quem em 1859 tinha vin-te anos, nasceu 3m 1839.

* * *A correspondência de Casl-

miro, guardada no arqulvj daAcademia Brasileira compreen-de uma série de trinta cartuscom as datas completas — sériecujos extremos são as duas, Járefeiidas de 18 de dezembro de1857 e '! de janeiro de 1860 --e, sen: ceclaração do ano, maissete curtas e um fragmento iacar'»'.. Por meio do conteúdodelas, i-t-nferido com fatos conheciòi? talvez se ines pulassefixar o ano com exatidão oupelo menos, aproximadamente;faltou-me, porem, vagar parao necessário exame e estudo,que reservo para outra ocasião.

Ao amigo querido e confiden •te aponta Casimiro jorna's erevistas em que saíram poesiassuas indicações de que aindaespero utilizar-me mais larga-mente do que me foi posriveiagora); revela os seus estadosde tristeza e aborrecimento,apesar do seu gênio alegre ..-estouvado; dá m itas outrasinformações preciosas ao bíò-grafo e ao crítico literário, dnalgumas das quais já mé apro-veitei no comentário do pre-sente volume; insiste na suaaversão à vida comercial; alu-de à dificuldade com que, mo-riinclo em casa do patrão, e nãolho querendo este permitir, es-barra para sair à noite, e. até.para escrever. Na carta de 15de fevereiro de 1858 vemo-lo,Instigado pela sedução do Car-naval, disposto a uma reaçãocontra a compressão que íhemolestava o gênio:

"Não me respondas antes dcescrever-te outra vez, porqueparece-me que vou mandar ocomério à tábua, e que raspo-me desta casa.

O carnaval está brilhante.Ontem estive no São Pedro até3 horas da manhã; houve dan-sa e pulos bravios.

Desculpa a pressa com quete escrevo; bem vês que1 são mo-metos furtados".

Quanto à desinteligência en-tre Casimiro e o pai penso quehá, na correspondência, ele-mentos que poderão servir pa-ra um estudo que a reduza àssuas verdadeiras proporções. Aeste propósito peço ao leitorque veja a minha nota final àpoesia "Dores".

* * *Uma feição do caráter de Ca-

simiro que ressalta das cartas,e que desejo não fique na som-bra, é o seu respeito pela suaobra e pelo público que a vailer. traduzido no empenho deretocá-la, de aperfeiçoá-la elevado ao ponto de fazer o poe-ta adiar a impressão, em volu-me, de composições a que nãopoude dar a última demáo.Leiamos algumas palavrassuas:"Quero ir arranjando" e reto-cando todas as minhas asneiras,pois preparo-me para em janei-ro, nos meus anos, dar à luz umvolume de poesias e depois...quem sabe? ICarta do Rio, 1— abril — 1858. ao seu amigoFrancisco do Couto Souza Ju-niorl."O volume há-de ser peque-no, pois que não entram neletodos os meus versos que eureservo para outro volume, vis-to estarem muitas poes;as ain-da por acabar e retocar". (Car-ta do Rio, 7 de julho de 1858,ao mesmo).

Notava e emendava os errostipográficos. Em carta do Riode 10 de abril de 1858, dizia aoseu amigo:"Caríssimo —

— Antes principiar uma car-ta por um agradecimento doque por uma descompostura;por isso agradeço-te a remessada — Virgem Loura — embru-lhada em papel branco, ou an-tes transformada em letras.

õsimiroFico à espera da — Morenl-

nha — mas, palavra de honra,não desejo que ela venha comtantos erros como a dita Vir-gem (isto entre nós)''.

Ainda do Rio e ao mesmoamigo, escrevia em 21 de maiode 1858:"Mio caro.

— Incluso te remeto a poe-sia que fiz ao Macedo Jr.; veiocom alguns erros tipográf.cotique vão emendados com pena".

E em PS à mesma carta."Os erros são — laurel e náo

lourel —raiar e não rair -e mudez e nâo nudez —Com semelhante sensibilida-

de aos erros, como não ficariadesgostoso se pudesse saber uque se tem feito as suas poesiasnas múlMplas reedições delas,e principalmente ás que teempor titulo "Anjo" e "A J...!"

8c o leitor pode consultarvárias edições das obras de Casimiro, compare, com o quevem nelas, o texto da seguintequadra de "Anjo", a qual, sal-vg a ortografia, assim está naedição de 1059 das "Prlmavt-ras :"A fronte que ardia em brasasA seus delírios pôs fimSentindo o roçar das asas,O soi-.ro dum querubim."

Ponha o texto das ediçõesque tiver, ao lado do verdadet-ro texto de "A J. .".o qual é(salvo a ortografia):"Mas se dócil a teus dedosO teu piano palpita.Si- derramar teus segredosKepsa harmonia infinita,Nessa queixa vaga e incerta. 'Er.tpo minhalma — desperta.Desse fatal pesadelo —Stede o manto dc geloBanha-se em novo fulgor,A.r.r, a luz que o sol exala,E at: cada nota que falaSoletia um hino da amor!"

e dli>a-me se não fo. esta unadas reais sacrificadas poesias deCí'.s'ii)iro. * *

Por falta de tempo (a pre-sente edição tem de sair esteano, que é o do centenário donascimento do poeta) deixo dealudir a outros fatos interes-santes a que se refere a corres-pondência, ou que dela se po-dem deduzir. * *

Foi bem curta a existência deCasimiro, e, alem disso, ele nãopode aplicar-se aos estudossossegadamente (vimos que atécartas escrevia em "momentosfurtados"). Todavia revela ooaleitura, e cultura intelectualapreciável. Era-lhe inato o sen-timento da língua portuguesa.Em geral, escreve-a bem. comcorreção, respeitando-lhe asnormas consignadas nos com-pêndios, mas percebendo-lhetambém as sutilezas que esca-pam à visão da Gramática e deque só um conhecimento prá-tico do idioma, aliado a fortedom natural, permite aos escii-tores utilizarem-se com feftci-dade. « * *

O estilo de Casimin encanta:suave, espontâneo, simples,conciso, claro, adequado à ter-nura dos seus sentimentos deamor e de saudade, à tradiçãode uma dor profunda, mas,quase sempre, serena. Certosestados psíquicos vagos, indeíi-niveis, acham nele expressãosimbólica eficiente:"... e em noites lindas

Minhalma — aberta em flor— sonha contigo".

Na cena de "Camões n o Jau"a linguagem é familiar, comoconvém nos diálogos íntimos,mas. em dados momentos, adi-quire oportuna ressonânciaépica.

Nas páginas em prosa da"Virgem Loura" mostra-se na-tural, fluente, leve. Em "Cami-Ia" as mesmas qualidades,acrescidas de certa facécia. Co-meçado 'a desenrolar-se o en-

jreu»,trecho, no momento em que acuriosidade se nos aguça, in-teressada na continuação danarrativa, cessa o escrito, queficou inacabado; e a sensaçãode pena que então nos invade,é documento cabal das quall-dades de imaginação dc Casi-miro na criação de cenas c si-tuações, e da sua habilidade noexpô-las e encadea-lss, p»sn-dendo a atenção do leitor. Fi-ca-se com a conveção de que,com o poeta, perdemos igual-mente um excelente prosador

Na metrificação Casimiroacompanha as praxes do tem-po- A sua individualidade ar-tistica, porem, faz que as vez^sse não submeta servilmente aospreconceitos dominantes e que-bre os moldes comuns, o que meprovocou uma ou outra censu-ra da parte dos críticos, se o-mque dessas, digamos, irregular*-dades se pudesse escudar na au-toridade de Gonçalves D as. Nasminhas. notas procurei inter-pretar o significado estético detais anomalias métricas e ava-liá-las com a possivel justeza

Longe da pátria, Casimirosentiu saudades do torrão na-tal. do lar. da mãe adorada, daIrmã, da infância — e produziuaquelas doces poesias subordi-nadas ao título geral de "Can-ções do exílio". Paisagens, ce-nas e tipos nossos deram-lheas "Brasilianas" e mais algunspoemas.

A sua alma adolescente, nassuas aspirações de amor, nosseus sonhos e devaneios, na re-cordação de cenas intimas,' naluta das suas ousadias com osseus receios, ministrou-lhe as-suntos a outras composições,numerosas e variadas, que cons-tituem a maior parte do vo-lume.

Já se tem chamado a Casiml-ro "o poeta do amor e da sau-dade" e aflgura-se-me razoávela denominação, mas com umaressalva. Não se tome ali"amor" como significando aque-le sentimento, profundo e ab-sorvente, capaz de dominaruma existência inteira. Emborao poeta nos diga que "amououtrora com amor bem santoos negros olhos de gentil don-zela" e faca outras confissõessemelhantes, e José Veríssimo;he sinta nos versos "a impres-são pungente de um amor in-feliz que lhe deixou a almaroalferida e para sempre dolo-rosa , (4), a mim parece-me queCasimiro é, sim, o poeta doamor, mas do amor que vai nas-eendo, que mal desabotoa naalma virgem, que cria, ele pró-prio, o seu objeto, mas que ain-da não viu. fora do domínio dafantasia, no mundo real. esseobjeto concret-zado para nelese empregar, se assim me nos-so exprimir, de corpo e alma.

E' um amor como o de agu-lha magnética que pressente onorte, o busca com ansiedade,mas que outros centros de atra-ção ainda desviam do rumocerto e fazem oscilar em conti*nuo desassossego. De fato, atra-vés das poesias de Casimiro,entrevejo um adolescente que,sensível aos encantos da mu-lher menina e moça, em maisde uma supõe encontrar a rea-lização da virgem dos seus so-nhos e arde em desejos de acada instante lhe dar beijos eabraços, sentir-lhe as suas ca-rícias, e a seu lado ter vidaque a ambos deslize com a se-rena doçura da felicidade. Di-rige-lhes galanteios, diz-lhe col-sas amáveis e ternas, gosta detodas, — mas ainda não ama,verdadeiramente, a nenhuma.

Os temas de Casimiro, se bemque às vezes possam parecerpueris, não deixam nunca deinteressar ao leitor, porque elesoube dotá-los de valor poético,e porque são humanos, como re-flexo dc uma alma jovem e íri-l-ga. que vibrou ao Influxo damulher, amou a terra r>-<tal,

(Continua na página 152)

Page 5: imv©ISIS niw1®§ - BNmemoria.bn.br/pdf/066559/per066559_1941_00009.pdf · vivos do Brasil.nal — não parece que se Fórmulas suas, frases que O romantismo lá se foi, tenha criado

DOMINGO, It-U-1M1

^wmmwm^^" .•- rrm > ¦ • ' <r>tmsffi^^ms^sm^mm>i^' •. - . "

SUPUUKNTO LITEBARIO D'A MANHA- PAOINA 14»__—————————

A yidae a poesia de Casimiro de Abreu-silvio romeroBem diferente do de Teixeira entios, como o de Casimiro, ás gião áspera da morte que lhe travados o gênio do poeta e o no período das alegrias, dos en-

dc- Mello foi o destino literário vezes essas pequenas lutas, vinha crestar todos os deva- espirilo do catóeíro...» nfníir. nrinéiniamos a ler osdo Caümlro de. Abreu; não transformam-se em grandes neios e esperanças. Era a luta Estes dizeres do folhetinista Os que principiamos aMeros

houve jamais entre .nós posta pugnas e deixam sulcos mapa- entre dois animais bravios e re- português, sao umirrecusável poetas ejscritores ^nsn™_mais lido. tem sido o predileto gaveis. rozes: o carrancisrno ...e o ro-do Oslo sexo nacional. E essa Mas dai a concluir que sua manttcismo. Aquele era" essen-

bela infância na Barra de São cialmente português e o outroJoão, sua estada na poética Fri- estava já cheio de cismas eburgo, onde estudou alguns pre- scijtimentalidades brasilianas,paratorios, sua residência, na Era uma luta em falso, oriun-esplêndida Rio de Janeiro, on- da de uma péssima orientação trabalhode foi caixeiro estimado, e na social. E' que o sr. Ortigao. dispor . ¦ ,histórica Lisboa, onde exerceu O pobre poeta especialmente do apenas de certa habilidade de hoje, que ja acnaram a muiguai profissão com a mesma foi vitima de preocupações descritiva, especialmente para taçao feita, como era aqueie

_ .... . „ distinção, concluir que tudo Isto fantasiastas de seu meio. exa- paisagens e festanças. é sofri- amuriar literário e que Dai.*vem sido uma pobre vitima de foi o inferno'em vida. parece- geradas por seu temperamento velmente despido de cultura.fi- nas toi preciso lerir para acue

¦_ „-. ._-_4_ _-;J„ «.„_ .K ^_,.:J_ —=.1 ._.... - = ...í_t:__ _ _i_-4.:«„« «. «ntn..u. íai o inimigo e preparar o atual

notoriedade é merecida; omoco fluminense foi um espi-liio cie mereeimrnto.

Em torno do seu nome for-mou-se logo uma legenda de so-frimentos, e outorgaram-lhe acoroa do martírio. .

O poeta, na opinião geral, ha'jobre vitima dt

ios paternos; teria sido ata- me um pouco exagerado,do ao poste dó comércio como Nem tanto, ao mar. nem tan-a um suplício; teria sido con- to á terra; nem vida de rosastraiisdo em sua vocação mal- nem tratos lnquisltoriais.tratado, injuriado, por entregar- E' preciso que me compreen-se a qualquer leitura; nào te- dam: eu não contesto a since-ria recebido educação alguma ridade do poeta quando nos reli crema; rena sido desterrado lata os seus sofrimentospara Portugal afim de lhe aca-barem ali com as valeidades erc*",'"',,,r",ôo? em poetar.

Ha em tudo isto mais de umex f.vero e mais de uma ilusão

O nróprio*Casimlro de Abreu

atestado de sua profunda inca- te ou vinte cinco anos atraspacidade critica. ainda encontramos a literatura

Ainda se banqueteia na mergulhada nas trevas da me-mesa dós sonhadores romãnti- lancoliacos, proclamadores da incort-patibilidade da poesia e do

Assisti e tomei parte na rea-ção contra esse estado de pre-guiça mental.

E' preciso, porem, dizer aos

mórbido, preocupações que não losófica e científica, e notável- ... . - .teve força para combater. mente desajeitado quando ma- estado de coisas que elesos

Hoje tudo isto passou; já neja a critica literária, ou ar- presunçosos de hoje, julgamachamos tão prosaica a vida tistica. ou política, ou social. ser obra sua...mercantil, nem tão poético Tal a razão pela qual de su- Em 1870 comecei a atacarodotifonsmo. muitas vezes iner- as duas grandes publicações inimigo, e em 1872, a Propósitote e que leva não raro ao com- jornalísticas As Farpas e as da poetisa Narcisa Amalia, que

Creio pleto pauperismo. Cartas Portuguesas os melho- ainda teimava em choramingar,bem em tudo que nos conta Casimiro de Abreu, em sua res trechos são o3 que descre- em lazer de Casimiro de Abreu

Censuro os excessos dos seus ingenuidade, supunha ser mais vem as cenas das viagens do au- menos a sincenaaue, e_*.rcvipanegiristas insensatos e pro- adequado à poesia o viver do tor em Portugal, na Holanda, na isto: iu-rat„r_j nn «ícuro diagnoticar-lhe a verda- homem graduado numa acade- Inglaterra, etc. _Na "aa ™ ..„ „„I,j " ™„ideira medida e intensidade das mia qualquer. O poeta desejava Essa habilidade descritiva, çulo atual ha um quadro maldores. talvez formar-se em direito. existente já no«livrinho de via- desenhado, um quadro som-

nm „rn\r,m* nue nôs em tren- Todo aquele barulho era ape- Ora, os nos.-os bacharéis em gem intitulado Em Paris, acha- Mio, que "»°e Parecer extra

? d ll pfimaTefaf de Camols nas nela mór parte um desequi- direito, que não se .vão meter se bem acentuada no volume vagante V™u™lapredadore».te cias primaveras^ d Camões |ibrio &n|co e sub)etlva esM. n0 comércio ou na lavoura, as também de viagem sobre as é o da tflsteza romântica.o o Jau. c no fragmento A Vir.gem Loura oferece documentospara as lamentações que le-vauàram à conta de reu ffiãrti-ro'o3io.

l^ual intenção revela-se emsr" *"oesia Dores:"Ha dores fundas, agonias lentas.Dra—as pungentes que ninguém con-

(soaOtt suspeita sequer!

Ma;o;»s maiores do que a dor dum(dia.

Do f|*ie .1 morte bebidí em taça mor-[na

de lábios de mulher!

Dorrs falas dc amor qne o vento es-[m'*a.

Jur::1; sentidas de constância eterna(t-cbndas no nascer:

Por' 'Ita e olvido de passadas hei-(l"s..

São dores essas que o lempo cicatrizaDns anos no volver.

Se a donzela infiel nos rasga as folha»Do 'ívro da Ima, magoado e triste

«••splra o coraçio:Mas depois outros olhos nos cativam.E In-Tos vamos em delírios novos

Ard?r noutra p?íxão.

de secretaria, ou

líbrio orgânico e subjetivo. esM-mulado nor uma exquisita ma-nh da é^oca.

O poeta foi vitima de sua or-ganizacão franzina e débil edas tolices e extravagâncias domeio social que o cercava. , .

E' certo que o nai lhe vedou Poética doa matricula numa academia eo atirou ao comércio com velhacos de. toda a casta,

Este fato simolissimo. e mui- com mercinhos ensebados ees-

Parece impossível que a umacomércio ou na lavoura, as também de viagemduas profissões anti-poètlcas Praias de Portugal e no seu guia ,--..-. -, .... - . .„dos românticos, ou vão ser ad- de viagem sobre Banhos de Cal- vivacidade cientifica seriavogados, ou magistrados, ou das e Águas Minerais. despreocupada juntasse "nossoempregadosprofessores¦

. . . , tempo uma expressão artisticaO próprio autor tem concl- sono[enta e mórbida. Mas o

ência de ser-lhe esse dom prin- faU> é rea, e tem a sua ]Ust«i-

a cibe^a. do poeta e apareceu-lhe como um suplício intolera-vel. Daí a exacerhacão. a tris-tesa. o desesnero íntimo. TudoTvra st'h'pfividade

Qual destas carreiras é mais cp"ár do talento, quando de suas «"i "«¦-•£ ¦£ £™letica do oue a do comercio? ,,' X-andei ..nieenps de folhe- callva nisiorica. y «ue v*"*-*

*rL!L±.*ÍI°£S? .' i»S? S &?eCcarTa?seepar?os J ^^"Z^U^tttrechos de eloqüência voyageu- er semprei hoje como on-se e com eles forja livros como £ h , mcsma gania,.»„ t„ul.,UoUo j. s'"=-"-^' john Buli e A Holanda abun- _ ',„. «neidamente Dela

l°rt»í°m™S}!,tÓ° ?LUi" dantes em bem sofríveis págl- SmTelave E' uma incPonsi-com ladrões, assassinos e rela-psos de toda a ordem?

Será a do empregado de se-cretaria a azinificar-se no meioda papelada do expediente edas importunações dos preten-dentes?

A razão disto? E' a seguinte:naquele temoo estávamos nafase agudissima da sensiblérienacional: o romanticismo me-lancolisante imperava sem es-torvo algum.

A sociedade dividia-se em ... *¦„,._.„„dois grandes «rupos. os homens va^2f„ °?„

^l"P p™7.práticos e positivos e os poetase sonhadores.

nas de prosa descritiva e reple-tos de banalidades críticas detoda a espécie.

E é a um simples escritordestes que se lembraram dechamar o Taine potruguês!...

. . . Seu artigo sobre Casimiro deSerá a do punhado de profes- * é s=m préstlm0; camba.sores dos cursos jurídicos e dos ,e,a de Irac0

v0 pobrezlnhocursos secundários a ouvir mui

tas vezes sandices de rapazes

mesma clave. E' uma inconsi-derada porfia que se destina amostrar carunchosa e ridículaao vindouro observador.

O papel da tristeza e da ale-gna na literatura contemporâ-nea é um sintoma bem poucopara contentar. Os poetas lan-çaram-se precipitadamente alem

do termo da estância queridaVamos adiante procurar por d0 seu ideal: a meiancolia dei-

Creio que não. Parece-me queem todo caso antes a carreiramercantil, tão cheia de encan-

Os primeiros eram os homens tos, especialmente nas lojas esérios, os outros eram os boê- armarinhos elesantes. residên-mios, os aénios alterados de Cja habitual do high-life

Amor 6 o rio claro das de'iciasQue atravessa o deserto, a veisa. c

[prado,E o mundo todo o tem! _ „ „ __c)..e impnrta ao viajor qoe a «dn ideal; aqueles eram os biirsme- mais de uma cidade rica e pre-

nessas águas ^ chatos e estúpidos na lin- tendida mui civilizada...[e'»ra*. guagem dos qcnios: estes para gm que pese a Casimiro. nãoser aqui ou alem? os seus inimigos não pasmavam creio no Drosaismo do comer-A veta corro, a toote aão se estanca. J «,„;„»„, ,mdertr-mn- Pio^'1""1" "u

E as veraes mar-e^s não sc cresla-n ae «ns mOlUCOS, Uns extrema a0[nunca gantes nocivos.

Na calma dos verões; q desacordo não podia serOU 0„er ra primavera, ou quer m, mf,js

comr,etoNo 'ivrt? anseio do huür das ondiis O3 tai« homens sérios tinham

sua profissão de fé e o primei-

Que quer banhar-

outros sítios e eom outros guiasa compreensão perfeita do poe-ta.

Casimiro de Abreu é de 1837;seu talento poético desenvolveu-se de 1854 a 60. ano de seu fa-

em leeimento.Foi na crise aguda do lamu-

riar dos românticos.O poeta, franzino do corpo,

predisposto à tuberculose, fez

xou de ser um estado mais oumenos passageiro do espíritopara tornar-se, extremo des-propósito!... o alvo supremodos sonhadores.

Como o misticismo alexandrl-no procurava na destruição asuprema condição para fruir aeterna verdade o romantismodos últimos tempos buscava nodesespero sentimental a últim&

(¦iiipít.im cornei

Nào! a dor sem ciira. a dor que mata.ir. mona ainda, e rerceber na mente

\ dúvida a snrrir!E' a pprda Oura dum futuro inteiroE u desfolhar srnt:do das gentis ro-

[roas,Dos sonhos do porvir!

Esta nobre profissão e estailustre e poderosa classe, umdos mais valentes propulsoresdo progresso universal, poderáter 03 seus ridículos, os seus ses-

de seu coração um ninho para mUo d0 belo infinito! A doen.asilar e aquecer todas as ilusões, „ propagou-se deshumana icismas, vaporosidades. sonhares atrozmente; tornou-se endêirisados e fantasias aladas deseu tempo.

Esta impressionabilidade mór'

mica.Em meio do geral desânimo

a alegria afogou-se em pran-„~ „„fi..„ j,ii„ „,.„ r. «»«....« nnr. Ltii °3 seus iiuiuujus, ua açus aeo —-«- -— a alegria, aio^uu-se cíii piautoíl.i,l,r. ™ H^T tros e emperramentos; mas pos- b.da e expressa na linguagem =,ou^e de , sumlu.

»rfl?nHn ?™ ™e ™ compensação muita vi- e nas formas_ mais simples do • d0 ousava mostrar.dos poetas: o segundo nrtrao rfo mll„„ „„t1„(„,m„ i_, rti„r falar português enriquecido so- „„' „ro^f„„ort, „ mo^tirt,.

* ver que nos arrancamas ps:«s do talento ns penas dc urro.

Oi>e voam para Dpíís!' ver que nos apagam dalma as[rreoçis

q"e profanam o que santo temosCoo riso dos ateus!

lí' assistir ao fV_sa')ar tremendoNii"i mesmo fl'a, i1? ilusões douradas,

T'5-j cândidas da fé!E* ver sem dA a voeaçio torcidaPor quem devera dar-lhe alerto e

[vid*E respeitá-la até!

F,' viver, flor nascida nas montanha».Paia íclimar-se, aiertada mima <*s-

|t'la.\ falta de ar e luz!

E' viver, tendo nslma o desalento.Sem um qiietxunif, a disfarr-r ;«

[doresCarregando a crui!

era a propaganda, e o endeosamento da ignorância.

Os intitulados aêntos tinhamuma também r-?u programa, cuio

nrimeiro artigo era a tibação domanac e o segundo era a va-db^em.

Fnvia nor rerto algumas ex-cecões de um lado e doutro-mas essa era a intuição geraldi pnoca.

Literatura e comércio eram

muito entusiasmo, ia dizermuita poesia.

E quantos poetas não a teemseguido e cultivado, sem porisso perder ou sequer enfraque-cer o estro!

E' o caso. entre nós, do gran-de Fernando Schmid, célebre

norizado, amenizado no Brasil,eis a poesia de Casimiro deAbreu.

A facilidade dos tons, a des-

se, era forçada e mentidaEra o humorismo, essa cria-

ção moderna, esse rir desconso-lado e factício de uma triste-za falsa, que se supunha In-

pretenciosidade da plástica lhe curavel '

A natureza humanadao todo o valor. se achava c0ntrafeita; e certa-O poeta fala-nos de suas ma- mente a história bem estava In-

poeta alemão conhecido sob o goas. de suas ambições, de seus dicando qual devia ser o idealpseudônimo de-Dranmor. anelos naquele mesmo tom em do século XIX.

E para que estas e outras con- que se queixaria à sua mãe das a alegria paga, serenidadedera"ões que poderia alegar? saudades que teve por ela na majestosa da vida sa da anti-

.... .„ „„ O poeta é. o poeta nasce, como ausência ou das dores que sen- o-uidade; a agonia dolorosa dost"a| n°e-ócio e™m o cãó ' " diz ° Pov0' íia em seH. d?bil Peit0 a0 b0.rí0' espírito ascético medieval, anelo

Não é a carreira que na luta tar as golfadas de sangue. Nin- místico do teológismo cristão,guem resiste. "s" **" «rtPn«an »^. .>~

Oh! ninguém

Quanto pranto sc

sabe como a dor ê(f'indi.

engole e quanta[angf^tia,

\ alma nos desfaz!flora» há em que a vez quase h'a3-'[fenri—E i. suicídio nos acena .-»« loni-e

N-is lon^s s.iturnais".

Devemos lor estas e outras li*

era ser bem estúpido, ter a ca-beca bem fechada às insinua-cões das letras de forma.

Era isto justamente na épocaem que para os poetas e litera-

tos a carreira do comércio eraa região do vrosaismo duro einsuportável.

Quanta ilusão, quanto des-íadas semelhantes cum grano propósito de uma banda e dou-sníis. tra!

Não é verdade que o mance- bo não sofresse contrariedades ignorante do velho estilo ana vida. dessas contrariedades idéia do filho querer ser ho-de menino, de criança, digamos mem de letras, escritor e poeta,assim, que intenta seguir um afigurava-se um disparate, umarumo que não é precisamente imitação da vadiagem literáriaaquele que a família deseja. do tempo Ao moço poeta, idéia-

Nos temperamentos excessl- lista, sonhador, o comercio sur-vãmente Imnrcssionaveis e do- gia na imaginação como a re-

!rd^profSesPerPamUfnJom: ^""exis^dãTo "embãTe

das mero .resiste, não há coração tinham passado/nativef, Pr° relações sociais, lhe é dado <1<* "a0 * abrande. Exclusivas, na órbita da res-

Ainda me lembro bem do abraçar que o vai fazer poeta. Doce e miserando moço que- pectiva evolução, legaram aotemno em oue a condição pri- Se tal fora. não teriam arjare- rem0' chorar contigo as dores tempo da Renascença um espi-Sdlal mr2"cr bem"aceito no cido nem Dante. nem Tasso, oue nos contas em tao sonorosa rito dúbio, que. pendendo, aroméicio ser

"go bem empre- nem Camões, e menos ainda ün^em: da-nos dos teus sus- para o sonho e para o ceu ja

íXe ter bra e forte proteção Shakesoeare. verdadeiro homem piros. reparte conosco a tua para a realidade e para a ter-gado e terJBoa e lora proiecao monodial-E' a linguegem de to- ra. distendeu-se no período dede negócio. dos.Eis porque são um testimo- aos- , i ,. ¦ „ três séculos ate nos.niiim naunertatis da critica de A P°esla a1ui é ta0 Intima, No século atual os dois im'Ramaiho Ortto-ão o hábil folhe- ta0 nessoal. que dizer mal dela pulsos deviam contrabalançar-tinista português, estas pala-vras suas. referindo-se a Casi-rmro de Abreu*"N-s horas tristes em que asaudade lhe turbasse a vistacom lágrimas, e o tédio lhe

ennivalerla a dizer mal do ca- je. Mas não foi assim; e vimosraíer do poeta; e quem seria qUe na sua primeira metadeçfnaz de deixar de amar um este século pertenceu quase ex-tão delicado e sincero compa- clusivamente às cismas donheiro? transcendentalismo. e só a cus_to

Importa isto absolver comple- agora vai buscando a direçãoobriíass? a soltar dos dedos a tamente a tristeza sistemática oposta, iá parecendo que pre-

Ün nai rtp Cisimiro burcuês Pena empregada no mercená- dr, poesia romântica? De forma tende exagerar-se. O Idealismoao pai de uisrauro. uui_,uc5 ._ ,_^__'-J_ _.JI„^_)Í„„ ,.._. „,„nma a tristeía sistemática abstruso e o empirismo erossel-rio labor da aritmética... Junto dele. acorrentando-o e escar-necenão-o. a áesaceiada labu'tação do tráfego mercantil. ¦As' poesias 4nío. Horas Tristes,Sonhando, Noivado... são bri-

afetada e será sempre cen- ro perderam o sentido das suassuravel; mas Casimiro foi sin- lutas. A ciência hodlerna pisacero e escapa às severidades da em um terreno mais sólido emcrítica Que não se nos deparam as ex-

.„„„„„, „„...„„„.,. „„„ „..- Hoje'as coisas estão mudadas; travagâncias. E' o que a Mstó-lhantes provas da terrível luta nâo existem mais tristezas e la- ria Tal fazendo para as jprodu-em que deviam de enconfrar-se múrlas afetadas; agora estamos ções da humanidade, filhas ao

¦¦- :-¦...- ¦¦¦¦¦ :¦¦•¦¦-. ¦¦¦¦ .-•¦¦¦ ,-„..¦.., ::^^.^.-^- ¦ -.^-^

Page 6: imv©ISIS niw1®§ - BNmemoria.bn.br/pdf/066559/per066559_1941_00009.pdf · vivos do Brasil.nal — não parece que se Fórmulas suas, frases que O romantismo lá se foi, tenha criado

PAGINA IM — SUPLEMENTO LITERÁRIO D'A MANHA _1_ DOMINGO, ll-H-IMl jjjjjfc,

sentimento e as criações orlun-das da inteligência. Umas e ou-tias corresponderam sempre emtodos os tempos aos Ímpetos dohomem para explicar-se o eni-gma do universo.

As velhas doutrinas poéticase religiosas de um lado e as me-tafisicas e cientificas de outro,teem um desagravo justo, quedeve porem ficar nas páginasda história.

E é o que nâo compreendemtodos aqueles que ainda hojelhes querem dar o influxo davida.

Os poetas da primeira porçãodeste século excederam-se; asua tristeza foi vestindo todasas formas possiveis até a defingida alegria.

Esta em sua vitalidade exatararamente denunciava-se. Tu-do indicava uma falsa expan-são da vida. Os cismadores en-ganaram-se. O alvo, o fim, oideal da arte, repita-se a ver-dade mil vezes, está em estam-

,par a realidade do homem e danatureza.

Ora, a existência de ambosnão se afirma nem pela alegrianem pela tristeza, que são mo-mentos excepcionais, são horasde anomalia- Quando um dosdois cái em algum dos extre-mos arranca-nos logo o espan-to. "Que tarde fttaü" fala amoca que sente um vago medodiante do céu carregado..."Que adivinhas?" diz 0 velhoà mocoila, que loucamente gar-galha... Ouvimo-lo diariamen-te E' que a tristeza, bem comoa alegria, em sua expressãoexagerada, passa pelo cora-cão como rápidos toques de luzou de sombra que correm sobreo fundo límpido da vida.

O íntimo desta é a atividade,a luta, o trabalho, cuja fisionô-mia principal c a sisudeza. E.sejamos justos, não é mais con-solador, depois de tantas ilu-soes arrancadas, depois do per-passar áspero das revoluções,mostrar-se a humanidade seie-na e altiva, séria e desapaixo-nada?

Não é mais sublime a poesiaque partindo do íntimo de umcoração por onde ficaram asimpressões do flagício. qualuma onda alva, cristalina,transborda por cima dessasagruras e via expraiar-se adi-ante fulgurante, transparente?Mais valente, por certo, é o co-ração, que alem dos dissaboresda vida, pode. calando-os. ar-rojar a ode esplendida de ma-ravilhas.

E' a poesia impávida, essasuave ambrosia que os eleitosde tempos a tempos vêem dar-nos a saborear.

Suguemos esses perfumes quelão hoje os que mais nos po-dem aviventar- Depois da revo-luçâo politica do século passa-do, tivemos o romanticismoplangente por uma aberração;depois da revolução filosófica ereligiosa, que vai adiantada,tentamos a poesia humana, semdelíquios, sem extravagâncias.Tem ela por condição mostrar-se serena e majestosa, eomo a\ida do homem da virilida-de." d)

O belo talento de Casimiro deAbreu deixou-se influenciarpela intuição geral de seu tem-po.

A poesia sentimental, recor-dativa, pessoal,' íntima, todaeivada de melancolismo é queressoa principalmente no seu«laude.

Os exmplos poluíam em todolivro das Primaveras; é abrir ovolume e ler ao acaso. Os do-tes principais do poeta são asimplicidade e a espontaneida-de da forma aliadas ao calor eà intensidade do sentimento.

E' muitas vezes um cantar defogo disfarçado em volatas do-ces e subtis como coebichos debrisas e flores: é alguma coisade doloroso, de veemente vela-do em gazas de seda e armi-nho: sentido como uma punha-íada. mas suave e macio comopétalas de odorosos jasmins.

Não quero Ir longe: basta-meabrir a primeira página e ler aInvocação a A..."Fato a ti — doce virgem dos meus

[sonhos,Vislo donrada dum cismar Ua puro.Que sorrias por noite de vigíliaEntre as rosas gentis do meu **-'Tu aTlasplrastt, ah musa de

Mimosa Mor da Mngulda saudade!l'or li correu meu eslro ardente e

[loucoNos verdorex febris da mocidade,

Tn vinhas pelas horas das tristezasSobre o meu ombro debruçar-te a

[medo.A dizer-me baixinho mil cantigas,Como vozes sulis d^lgum segredo!

Por ti eu me embarquei, cantando e(rindo.

— Marinheiro de amor — no batei[curvo

Rasgando atonto em hinos despe[rança

As ondas verde-azues dum mar que[é turvo.

Por ti corri sedento atrás da glória,Por U queimei-me cedo em seus fui-

[gores;Queria de harmonia encher-le a vida.Palmas na Ironte — no regaço flores!

Tu. que foste a vestal dos sonhos(douro.

O anjo tutelar dos meus jinelosEstende sobre mim as asas bran-

[cas..Desenrola os anéis dos teus cabelos!

Muito nelo. meu Deus, crestou-me as[galas!

Muito vento do sul varreu-me as Ho-Tres!

Ai de mim — se o relento de teus[risos

Não molhasse o jardim dos meus

Nào tesqurcas de mim! Eu tenho o[ peito

De santas ilusões, de crenças cheio!_ Guarda os cantos do louco serta-

[itejoNo leito vlrginkt qne tens no seio.

Podes ler o meu livro: — adoro a in-1 fãncia.

Deixo a esmola na enehcrsn do men-[diso.

Creio rm Deus. amo a pátria, c em[noites lind-s

Minhalma — aberta em flor — so-[nha contigo

Se entre as rosas das minhas — Pri-[mavcr.is —

Houver rosas gentis, de espinhos|nuns:

Se o futuro atirar-me algumas pa!-[mas.

As palmas do cantor — são todasItnas!"

A poesia chorosa e senti-mentalista. tão monótona emSoares de Passos por exemplo,em Casimiro de Abreu é gosto-samente legível.

E' que a imaginação travessado brasileiro sabe ungi-la degraciosidade; é que muitas no-tas alegres e saborosamente cô-micas aparecem para diversifi-cá-la, para diferenciá-la agra-davelmente.

Esta última circunstância nãotem sido notada conveniente-mente em Casimiro de Abreusendo, entretanto, uma das me-lhores manifestações de seu talento.

O poeta não foi só um senti-mentalista, qual se diz geral-mente, foi também algumas vezes expansivo e deliciosamentealegre. Esta nota acha-se emCena íntima. Juramento, Segre-dos, Quando?

Por ser o poeta muito conhe-cldo quero ser parco em cita'côes.

As pecas que reproduzi —Dores e A servem bem paraexemplificar o seu estilo napoesia melancólica e na amoro-sa.

O Juramento é só "por si suficiente para mostrar o talentofaceto do poeta:"Tu dizes, 6 Mariqulnhas,Que não crês nas juras minhas,Que nunca cumpridas sâo!Mas se eu nâo te furei nada,Como hás-de lu. esto» va da.Saber se eu as cumpro ou não?

Tu dizes que en sempre iiiiníx»,Que protesto o que nâo sinto,Que todo o poeta é vário.Que é borboleta inconstante;Mas agora, neste instante.Eu vou provar-te o contrário.

Vem cá, sentada a meu lado,rom. esse rosto adorado.Brilhante de sentimento.Ao rolo o braço cinvído,Olhar no meu embebido,Escuta o meu juramento.Espera: — inclina essa fronte ..Assim!... — Pareces no monteAlvo lírio debruçado!— Agora, se em mim te fias,Fica seria, não te rias,O juramento é sagrado:"— Eu juro sobre estas trancas,E pelas chamas que lanças"Desses teus olhos divinos;"Fu juro. minha inornnte,"Embalar-te docemente"Ao som dos mais ternos hinos!"Pelas ondas, pelas flores."Que se estremecem de amores"Da brisa ao sopro lascivo;"Eu Juro. por minha vida."Delt?r-me a teus pes. querida,"Humilde como um cativo!"Pelos lírios, pelas rosas,"Pelas estrelas formosas."Pelo sol que brilha agora,"— Eu juro dar-te. Maria,"Quarenta beijos por dia,"E iez abraços por hora!"

(Contínua na página 157)

Casimiro de Abreu O EXQUlSITO CANTORem fdCe do moder- [)/\ SAUDADE RonaM de Carvalho

niSmO OrdSl.ieirO casimiro de Abreu (1837-1860) é o mais exqutsito cantor daCarla de Ribeiro Couto saudade na velha poesia brasileira; sua obra é um grito de amorn Carlos Diumttiond de Por tudo quanto andava distante de si, pela terra e pela fami-

j../#.•<.<!» '""> de onde se apartou ainda infante, para satislazer os capri-.mamãe chos de um pai relativista e prático.O movimento modernista bra- Suas jmpressões da natureza fazem lembrar as de Gonçalves

sileiro não joi apenas uma agi- Djas de quem herdou não só a sensibilidade mas também astaçáo iiferária, apressa em li- agruras do exílio. Não há em seu estilo os requintes do de Alva-uros, conferências e artifos de _.es de Azevedo, nem a pujança do de Castro Alves; suas pre-jornal e revista. Foi também 0CUpaçô5S literárias não lhe ultrapassam o coração, ficam-lhe aalguma coisa de mais intimo e Il01, da a]ma de adolescente predestinado. A natureza lhe apa-cordial; a comunicação entre os _.ecla qUase sem fulgurações, nas horas de maior melancolia, âespiritos que se sentiam toca- jejçj0 ^e uma sombra de árvore amiga e reconfortadora. Nâodos de uniu inquietação comum conheceu sua inteligência as grandes dúvidas da vida, mas so-e realizavam, cada um o sua mente as de um amor apaixonado e ingênuo, que adivinhava amaneira, a mesma experiência ln{e]jcjdade próxima e pressentia a borrasca inevitável que ocfceto de emoção e surpresa. As- ameaçava.

Casimiro nào se revoltava, entretanto. Suplicava, não reagiasim, restam desse período não

ToZTeiUe^âí "o7

menos co- nem7oma nrompa bronzeada" do poeta das -Vozes CAfricã",nhêce- restZcarlas numero- nem com a ironia acídula, às vezes mesmo cínica, do autor dasa!e curioZsimaiTas últimas, "Noite na Tavema". "Meu Lar" revê perfeitamente o modo portalvk qut• os «fcrttorel"brasi- que ele recebia esses golpes da fortuna que, afinal, o abateram.ieiro se dirigiram uns ao ou-

Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morroRespirando este ar;

Faz que eu viva. Senhor! dá-me de novoOs gozos do meu lar!

íros.. Cada um dos elementosque se empenharam na campa-nha modernista pode mostrarum arquivo opulento de recor-dações. Esses homens, apare»-temente ferozes, carteavam-secom ternura e punham muitode si mesmo nas confidenciasepistolares. A um desses arqui-vos dó modernismo — o do sr.Carlos Drummond de Andrade

é que lõliws tirar a carta, de-liciosa por mais de um aspecto,em que o sr. Ribeiro Couto,tantas vezes apontado comocontinuador e herdeiro de Ca-simiro de Abreu, expõe a suainterpretação da obra casimi-riana. Vale registar o testemu-nho desse moderno sobre o ro-màntico das "Primaveras". Opoeta do "Jardim das Conlidên-cias" escrevia áe Pouso Alto, em29 de novembro de 1925:

"... Posiíiuameiite, eu deviater mandado a outro carta. Ne-la, abrindo-me com Vs., eu la-lava "dos meus pontos de vis-ta". E caçoava do Graça por-que me dissera um casimiriano,pensando que me reduzia...

Quero dormir à sombra dos coqueiros,As folhas ser docel; *

E ver se apanho a borboleta brancaQue vôa no vergel!

Quero sentar-me ã beira do riachoDas tardes ao cair,

E sozinho cismando no crepúsculoOs sonhos do porvir!

Dá-me os sítios gentis onde eu brincava,Lá na quadra infantil.

Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,O céu do meu Brasil

Minha campa será entre as mangueiras,Banhadas ao luar,

E eu contente dormirei tranqüiloÀ sombra do meu lar!

As cachoeiras chorarão sentidasPorque cedo morri,

S eu sonho no sepulcro os meus amores,Na terra onde nasci!

, Sua vida era um desejo constante de felicidade íntima e sos-Ora, se eu sou exatamente um segada, feita de sereno bucolismo, entre os pássaros, as águas eneio de Casimiro! Isso eu enxerguei sempre em mim. Não as árvores do bom Deus, sem grandes torturas de espirito, nem

outras cogitações que não fossem a família e a poesia. Os homenstratei de indagar nunca se era nâo ]he perturbavam 0 sonho dlscret0 e meigo; passavam-lhequalidade boa ou ma: _»»«<"« pela memória como sombras apagadas e longínquas, sem reali-apenas a realidade. Ue jesiO. fofo nnasta &nn& imnr»j»np« nrpnriinm.cp tnriac «« fnrtrin Km-há netos do Casimiro com ta-lento e netos sem talento...

Agora, tenha paciência: Casi-miro é a sensibilidade mais ri-ca da nossa literatura de on-tem.

Os parnasianos puzeram emmoda o debique às -Primave-ras". Tempo houve <c nele eusurgia para a poesia) em quechamar casimiriano a uni cana-lheiro era tão ofensivo quantoftoie... chamá-lo parnasiano.'TFeLmeSnte,'passou

o prestigio vadas na Juventude malsinada pela doença e pela miséria mo-dos parnasianos - esses alfaia- >»>• * 1™ ele ainda nao sabia definir as coisas que o rodeavamtes de mimeira classe da poe- e os pensamentos que o oprimiam, senão com as palavras inge-sia Com eles passou o gosto de nui>s aprendidas nas vozes maternas. Seu Deus não era nem acaçoar de uni poeta oue nin- criatura transcendente de Magalhães, nem a visão mística dequem conhecia Junqueira. Era apenas um anjo maior e mais poderoso que os

De fato, V. mesmo, V. que me outros. Não era um Deus do espírito, mas do coração,considera um casimiriano, V. —

Eu me lembro! eu me lembro! — Era pequepoE brincava na praia; o mar bramia,E erguendo o dorso altivo sacudiaA branca espuma para o céu sereno.

dade quase. Suas impressões prendiam-se todas ao fundo bru-moso do passado, á ingênua infância de "livre filho das mon-tanhas", quando

ia bem satisfeito,Da camisa aberta o peito,— Pés descalços braços níis —Correndo pelas campinasA roda das cachoeiras,Atrás das asas ligeirasDas borboletas azues.

Não se lhe encontrara, porventura, em todos os versos umasõ blasfêmia contra as crenças, bebidas na meninice, e conser-

dê-me a sua palavra de honra— V. iá leu a obra do Casimirode Abreu? Estou em jurar queV. conhece dele algumas poe-sias, as melhores poesias, o su-liciente para que V. possa ava-liar ào resto. Porem, se esse di-reito lhe cabe, não cabe eptre-tanto àquela genti de mentali-dade estreita, de visão-torre demarfim, que se chamou nestepais: a geração parnasiana, âaqual restam uns parentes cola-terais como o Martins Fontes.

Há dez anos eu ficaria allitoicomo Hcava) se alguém desço-

E eu disse à minha mãe nesse momento:" - Que dura orquestra! Que furor insanolQue pode haver maior do que o oceano.Ou que seja mais forte do que o vento?"

Minha mãe a sorrir olhou prós céusE respondeu: — "Um ser que nós não vemos:E' maior do que o mar que nós tememosMais forte que o tufão! meu filho, é — Deus!"

Para ele, a natureza sorria, às vezes: os ramos tortos e asbrtsse na minha versalhada o folhas secas douravam-se e reverdeciam na luz do seu olhar:ponto de contato com o tisico deNa primavera tudo é riso e festa,

Brotam aromas do vergel florido,E o ramo verde de manhã colhidoEnfeita a fronte da aldeã modesta.

S. João da Barra. Hoje já nãoé assim. Porque, de um modoqeral. eu considero parentes deCasimiro de Abreu todos aque-les que teem uma nota de ãesen-canto. V. não esaueça que elemorreu aos 23 anos. Não esque-ca a venda do pai. Não esqueçao ambiente de província. Náoesqueça o menino doente emPortugal. Tudo isso nos obrigaa chegar a esta conclusão: Ca-simiro foi a nossa maior orga*nisaçâo lírica (no sentido res-frito, esfe ffrica). porem não te-

(Continua na página 1591

A natureza se desperta rindo,Um hino Imenso a criação modula;Canta a calhandra. a Jurití arrulha,O mar é calmo porque o céu é lindo.

A'egre e verde se balança o galho.Suspira a fonte na linguagem meiga.Murmura a br sa: — Como é linda a veiga!Responde a rosa — Como é doce o orvalhol

(Continua na pagina wn

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'¦^fc,DOMINGO, ll-M-IMI IUrLKM(NTO LltntAmo 0'» MANHA - PAGINAIS!

A POESIA DE CASIMIRO DE ABREUNO LAR

i

Longe da pátria, sob um céu diversoOntle o sol como aqui tanto não arde,Chorei saudades do meu lar querido— Ave sem ninho que suspira a tarde. —

Nu mar — de noite - solitário e tristeF.tando os lumes que no ceu tremiam.Ávido e louco nos meus sonlios claimaFolguei nos campos qn? mnis oi hos viam.

Era pátria e íamiiia e vida e nulo.Glória, amores, mocidade e crença.E todo em choros, vim beijar as praiasPorque choTá"a ne5sa )or*«n ?-,,?*ncia.

E.s-me ua patria. no pais tuu> suores,_ O filho pródigo a seus lares vosve,E concertando as suas vestes rotas.O seu passado com prazer revolve! —

Eis meu lar. minha caía, meus amores,A terra onde nasci, meu teto amigo,A gruta, a sombra, a solidão o noOnde o imqr me nu "eu — cresceu comigo.

Os mesmos campos que eu deixei criança.Arvores novas... tanta flor no.prado!...Oh! como es linda minha terra daima,_ Noiva enf"'taó*a para o seu noivado! —

Foi aqui. loi ali. alem. ..mais longe,Quê eu sentei-me a ctiorar no fim do dia;

Lá vejo o atalho que vai dar na várzea...Lã o bí>rrnn?o por onde eu 'ubiti!...

Acho agora mais seca a c<*w.*..-.ue-raOnde banhei-me no Intantil cansaço...

Como está velho o laranjal tamanhoOnde eu caçava o sanhassú a laço!...Como eu me lembro dos meus dias puros!Nada m'esquece!... e esquecer quem hâ-de?...

Cada pedra que eu paipo. ou tronco, ou tolha.Fala-me ainda dessa doce idade!

Eu me rcu.utb icco.u«i...o a iniancta,B tanto a vida me palpita agurawjue eu dera, oh! Deus! a mocidade inteirapor um so dia do viver doutrora!

E a casa? .as saias, estes moveis... tudo,o crucifixo pendurado ao muro...O quarto do oratório... a sala grandeOnde eu temia penetrar no escuro!...

E ali naquele canto... o Berço armado!E minlia mana. tão gentil, dormindo!E mamãe a contar-me histórias lindas

- Quando eu chorava e a beiiava rindo!

Oh1 primavera! oh! minha mãe querida!Oh' mana! - anjinho que eu amei com ânsia —Vinde ver-nie em soluços de joelhos —

Beijando em choros este pó da intancsai

Terra ria minha pátria, abre-me • sei*'Na morte — a ao menos

GARRRTT.II

Meu Deus! eu chorei tanto lá no exílio!Tanta dor me cortou a voz sentida,Que agora neste gozo de prosCritoChora trinhalma e me sucumbe a vida!(|u..u aia-ut! quero vida! e longa e Dela,Que eu. Senhor! não vivi — dormi apenas!Miniiulma que se expande e se entumeceDespe o -pu luto nas canções amenas.

Que scue que eu sentia .u^sas noites!Quanto Dei.10 roçou-me os lábios quentes!£, pálido, acordava no meu leito_ SíSfinho —e orfâo das visões ardentes!

Quero amor! quero vida! aqui, na sombra,No silêncio e na voz desta natura-,

Da primavera de minhalma os cantosCaso co' as flores da estação mais pura.Quero i-.aori que*.o v*au! oi, K.bios ardem.**Preciso as dores dum sentir profundo!

Sólrego a taça exgotarei dum tragoEmOora a morte vá topar no fundo.

Qik-i m..uii quino vida! Um rosto virgem,Ama de arcanjo que me fale amores.

Que na e chore, que suspire e gemaE doure a vela sobre um chão de flores.

Quem a.i.oi! quão amor! Uns dedos brancoiQue passem a brincar nos meus cabelos;Posto lir.di de fada vaporosaQue dê-me vida e que me mate em zelos!

On! ceu dt minha terra — azul sem mancha —•on! soi de fogo que me queima a fionte.Nuvens .ouradas que coireis no ocaso,Fevrcs »1.i tarde que cnt.ru o monte;

Pe:iU:ii' r». foresta, »*o>:es docesMansa lagoa que o luar prateia.Claros riachos, cachoeiras altas.Ondas tranqüilas que morreis na areia;

Aves dos Dosques, ti:w*$ aas .auitanhas,Bentevis do campo, saoiu da oraia,

Cantai, correi, afilia; — minhalma im insta»Treme de gozo e de prazer desmaia!

Pkies, pei-iuiues, so.idões, gosgeiusiAr...»r. ternura — n.oduiai-m.: a üra!

Seja um poema este ferver A', idéias,Que a mente clama e o coração suspira.

Onl mociaac.t! bem te sinto e vejo!De simor e ».ida me transoorda o peito..._ Basta-me um ano!... e depois... na sombra.Once tive o berço quero ter meti leito!

í.i. canto, eu chora, eu rio, e grt.tc e loucoVos pobres .-sinos te ban;l'?o. or.: Deus!Deste-me os gozos do meu lar querido...Bendito sejas! — vou viver C os meus!

MORENINHAMoreninha, Moreninha,Tu és do campo a ra.nna,Tu és senhora de m.m;Tu matas todos de amores.Faceira, vendendo as floresQue colhes no teu jardim.Quando tu passas na aldeiaDiz o povo à boca cheia:— "Mulher mais linda não há!Ai vejam como é bonitaCo'as trancas presas na fita,Co'as flores no samburá!" —

Tu és me.ga, és inocenteComo a rola que contenteVoa e folga no rosai;Envolta nas simples galas,Na voz, no riso, nas falas.Morena — não tens rival!

Tu, ontem, vinnas do monteE paraste ao pé da fonteA fresca sombra do til;Regando as flores, sozinho,Nem tu sabes, Moreninho,O quan'o a**"*-i-te aentil!

Depois segui-te colaaoComo o pássaro estaimadoVai seguindo a iuriti;Mas tão pura ias brincando.Pelas pedrinhas saltando,Que eu tive pena de íi!

E disse então: — Moreninho,Se um dia tu fores minha,Que amor, que amor não tetas.

¦ Eu dou-te noite de rasas

Cantando canções formosasAo

"som dos meus" ternos ais.

Morena, minha sereia.Tu és a rosa da aldeia,Mulher mais linda não há;Ninguém t'iguala ou t'imitaCo'as trancas presas na fita,Co'as flores no samburá!

Tu és a deusa da praçaE todo homem que passaApenas viu-te. . . parou!Segue depois seu caminhoMas vai calodo sozinhoPor que sua alma ficou!

Tu és belo, Moreninha,Sentada em tua banauinhaCercada de todos nós;Rufando alegre o pandeiro.Corro a ave no espinheiraTu soltas tombem a voz:

"Oh! quem me compra estasSão lindas como os amores.Tão belas não há assim;Foram banhadas de orvalho,São flores do meu serralho,Colhi-as no meu jardim." —

Moiena. minha Moreno.Ês bela. mas nãc tens penaDe quem morre de paixão!_ Tu vendes flores singelasE guardas as flotes Delas,As rosas do coração»»*!...

Moreninho, Moreninha,Tu és dos belas rainha.

Mas nos amores és má; Como tu ficas bonita

Co'ass trancas presas na fitn,Co'as flores no samburá!

Eu disse então: — "Meus amores,Deixa mirar tuas flores,Deixa perfumes sentir!"Mas naquele doce enleioEm vez das flores, no seio,No seio te fui bulir!

Como nuvem desmaiadaSe tinge de madrugadaAo doce olvor da manhã;Assim ficaste, querida,A face em pejo acendida,Vermelha como a romã!

Tu fugiste, feiticeira,E de certo mais ligeiraQualquer gazela não é;Tu ias de saia curta. ..

Flores? Saltando a moita de muitaMostraste, mostraste o pé!Ai! Moreno, ai! meus amores,Eu quero comprar-te as flores,

. Mas dá-me um beijo também;Que importam rosas do pradoSem o sorriso engraçadoQue a tua boquinha tem?...

Apenas vi-te sereio,Chamei-te — rosa da aldeia —Como mais linda não hc.— Jesus ! Como eras bonitaCo'as trancos presas na fita,

Co'as flores no samburá.

O QUE E'SIMPATIA

A UMA MENINA

Simpatia — é o sentimentoQue nasce num sâ momento,Sincero, no coração;São dois olhares acesosBem juntos, unidos, presosNuma mágica atração.

Simpatia — são dois galhos •Banhados de bons orvalhosUas mangueiras do jardim;Bem longe ás vezes nascidos,Uas que se juntam crescidosE que se abraçam por fim.

São duas almas bem gêmeasQue riem no mesmo riso,Que choram nos mesmos ais;ião vozes de dois amanles,Duas liras semelhantes,Ou dois poemas iguais.

Simpatia — meu anjinho,E' o canto do passarinho,E' o doce aroma da flor;São nuvens dum céu íagosloE' o que m'inspira leu rosto..

Simpatia — é — quasi amor

MEUS OITOANOS

OH! souvanirs! printemps! aurores!V. Hugo.

Oh! que saudades que tenhoOa curoro da minha vida,Da minha infância queridaQue os anos não trazem mais!Que amor, que sonhos, que flores.Naquelas tardes fogueirasA' sombra das bananeiras.Debaixo dos laranjais!

Como são belos os diasDo despontar da existência!

Respira a alma inocênciaComo o perfume da flor;O mor — é lago sereno,O céu — um monto azulado.O mundo — um sonho dourado,A vida — um hino de amor!

Que aurora, que sol, que vida*Que noites de melodiaNaquela doce alegria.Naquele ingônuo folgor!

O céu bordado d'estrelas,A terra de aromas cheio.As ondas beijando a areiaE a lua beijando o mar!

Ohl dias da minha infância!Oh! meu céu de primavera!Que doce a vida não eraNessa riwnha manhã!Em vez das móguos de agora,Eu tinha nessas delícias.De minha mãe os coriciasE beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,Eu ia bem satisfeito,Da camisa aberto o peito,

Pés descalços, braços nús —»Correndo pelas campinasA' roda das cachoeiras».Atrás das asas ligeirasDas borboletas azues!

Naqueles tempos ditosotIa colher os pitangas.Trepava a tirar as manga*Brincava à beira do mar;Resava ás Ave-Morios,Achava o céu sempre lindo,Adormecia wrrindoE despertava o cantar!

Oh! que saudades que tenhoDa aurora da minha vida,Da minha infância queridoQue os anos não trazem mais!— Que amor, que sonhas, que flortNaquelas tardes fagueiras "*

A sombra dos bananeiras, ,Debaixo dos laranjais! v

:i.-~, t,.,-a.-:, .¦ju:Ííj».=:.íí.v,^»j ;.,.'«*.¦¦.. i-^-ír'-..--..- :oi-.-,-^-. .OLO . .. .„¦:¦,,.,-.i^r^m

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PAGINA 152 — .SirirrilàNTO I1IERAKIO D'A MANHA<- <>">•¦ -¦<¦¦ , , --' J* ' v

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Casimiro de Abreu, criança, no tempo dos seus oito anos. da sua "in-fancia querida" que não voltou mais... A mesma jotogràjia nosmostra ai/o ir nia. Albina, a companheii azínha dileta das travessurastio poeta, na meninice. Albina Marques de Abreu Pciis morreu há ai-guns anos, septuagenária, necessitando, para viver, de uma pensão uzAcademia, como se verá de um documento que em uma de nossas

páginas, publicamos.

O extraordinário serviço queuni honioin <lo alio valor (ilo-lógico c literário ile Smi-ai tiaSilveira prestou ás letras lira-sileiras, com a erudita publica-ção das "Obras tic Casimiro ileAbreu" (Companhia KditoraNacional, 19-10) só poderá sertalvez devidamente apreciadodenlro de alguns ancs. A essetempo, o Casimiro de Abreudas edic/ies populares, dus reci-talivos de inovas pálidas, decaixeiros pálidos, terá desapa-recido, graças aos tc\tns cumtanta argúcia agora '.notados

por Sousa da Silveira. Veie-mos. em seu lugar, um (.n-imi*ro - precursor - da - nacional:-dade - presente, um grande poe-ta da nossa natureza v do nos-so pnvo.

Parecerá difícil falar dc umCasimiro - precursor. KiUrtlan-to, ouçam: "O lilho «los trúpi-cos deve escrever numa lingua-gem propriamente sua. laiigui-da como cie, quente como o soi

que o abrasa, grande c misle-riosa como as suas malas se-culares. . ."

Não parece o Graça Aranhade 1920 ?

Ribeiro CoutoAcademia Brasilciia)

rado, naquele ano de 1920, com na véspera de unia nova parti-o epitclo herói-côiuico dc "Ca- da para o estrangeiro. Passa da

Recado para o brasileiro Casimiro -(J

A propósito de Graçanlia: ainda que ele me lia ja

Ara-

^- :-S l^iC ~fZ. ^'-- "^^^'^ ^:êf$,-f--~. ...— -_--.--_«.: ._<__.-<-.—-*^. _— ^^.,^oo^^^g^/£^-^^WitâMm

" ¦ *"*';:"'í:'-' imiiii^^oo^^M^Lo^Looi^LWÊÊ

sniuro de Abreu do modernis-mo", confesso (jue só agora co-nheco em toda a sua extensão aobra do nosso grande fluminen-se e só agora me sinto a seulado, como ordenança fiel.

Eu daria tudo para ter i-scri-to. como ele, em Lisboa, aindaquase menino:lin nasci alem das mares:

Os meus lares,Meus amores ficam lá !Onde canta nos retiros

Seus suspiros.Suspiros o sabiá f

Oh '. que céu, aue terra aquela,h'ica e bela.

Como o ccit ile claro and !'(Jue seiva, que luz, que galas,

Xào exalas,Xão exalas, meu Hrasil !

Oh •1"Uns

i saudades tamanhasmontanhas,

Daqueles campos natais !Daquele céu de saf.ra

Que se mira,Que se mira nos cristais !

Nao amo a terra do exílio,Sou bom filho,

Quero a palria, o meu pais.Quero a terra das mangueiras,

li as palmeiras,li as palmeiras tão gentis.

C orno a ave dos pülmaresI'elos ares

1; agindo do caçador;Lu vivo loiuje do ninho,

Sem carinho.Sem eariuhr, e sem amor !

Debalde nt olfiu c procuro...Judô escuro

Só trjo em redor de mini .'falta a luz do lar paterna,

Doce eterno,Doce e terno fará num.

ihcia noite. Denlro (le algumashoras, um vapor me levará loporto. Passarei ao largo da cos-ta fluminense — da costa deSão João da Barra, pais ca-imi-riano. li desde já estou man-dando este recado a Casimiro rioAbreu, no céu. -Vo céu "de cl-i-

Assim sejamos todos nõ\brasileiros de hoje, tâo dignosdo Hrasil como foste lu, poetados mal-entendidos . de rhtl-ccaixeiral, indevidamente usadoeumo consolo de namoradastristes.

Forte c ardente poeta do tt upovo. poeta do pais bruto e iro-j.ical, é o que és tu:

Sc brasileiro eu nasci,l>rasilc;ro hei de morrer.

Já agora, está entendido. Ca-simiro. Te levo comigo. Para teler cm Brooklin.

Distante do solo amado— Dcslcrrtitlo —

A Tida não é feliz.A''essa eterna primavera

Quem me dera,Qnem me dera n meu pais.

O pequeno tinha dezesseisanos. Já escrevia essas coisas.Já sentia essas coisas. "Sou bomfilho", "o meu país"... Senhores, inclinemos a cabeça dianteda criança maravilhosa.

Eu tinha o dobro dos anos deCasimiro quando fui sentir asmesmas reações da nostalgia,mn palpitar de ferida secretadiante de paisagens distantes ede povos alheios a mim. \'áoque tais paisagens e povos mefizessem completamente infe-W/.: mas saudoso. Me lembrai.-dn da praia do José Menino di-ante do Vieux Port de Marse-lha; e da igreja do Carmo aoouvir os sinos de Notre Damefie la Garde.Todos cantam sua terra,Também vou cantar a minha

Estudo sobre o poetadas "Preverás"

Continuação da pagina 148)|adorou a mãe e a irmã teve

saudadas, e sofreu.i + +

Como poeta foi Casimiroapreciado em vida. tanto noBrasil eomo cm Portugal, econtinuou a sê-lo depois damorte. Sucediam-se firmem* asbs suas edições num e noutro;ais. e duos delas traziam ueprefácios laudatór.os de a-malho Ortigão e Pinheiro C/ia-gas. Ainda cr.anca (1353» ru-Ql.cou cm Portugal vários tra-balhos seus. Tornou-se no Bra-sii poeta Dooular. e nunca odovo o esqueceu E.ubora geral-irente louve do. recebeu ateu-mas censuras, relativas a ra-tos ria üniua^em Se prevo,r-orno creio tê-lo feito nas ano-fr."ões. serem tais censuras in-fundadas, fica renosto no seu'utar. não o poeta, que este¦"unca esteve realmente de"re-^ado. mas o escritor, que a e-vian.1'ide ^a crítica e a infire-'Hoiir rian ¦'"n-^rosas reeci^n^seon»orrrram nara nue fo^se in-imat«iriçnte pQuilatado.

-;- 'r í-

Se me cumprisse estabeleceruma classilicação dos grandespoetas nossos, eu daria o pri-me.ro lugar a Gonçalves Dias,atendenao a excelência cia suainspiração, co seu conhecimentoreal da vida, a sua capacidadeae expressão puetica, a su.i ri-qu:za lingüística Na ocasião,porem, de escolher o merpce-dor ao segundo lugar, me vi-riam hesitações, rr.as certamen-te i m dos nomes cm que í-uL^i-iria, sen i u iii- Casimirod'; Alreu, por ry_;sa da suapõem comm,.^;_"._i, da suarn.tT •,ecida. o-i?.s a alista evo*.:i;ai da nos.ia |.*«isagem aabeleza da sua j jifi.i.-i^em facii £c-nci-a da i-ímiria de .;«;<r.olii'* r.r-side à e *r,i»;ra dos ie.r.c^nu. e da ma' losidadc v*.5ta Ttisifí?açVí

Estou escrevendo estas linhas

Correspondência de escritoresCARTA DE CASIMIRO DE ABREU A SUA IRMÃ ALBINA

Todos estão bons e mandam-te muitos abraços.Adeus, aceita um beijo meu e nunca te esqueças te teu irmão

do coraçãoCasimiro J. M. Abreu

XOTA — A carta dc Casimiro de Abreu à irmã, anui publi

KIO, 1.5 DE JANEIRO UE 1S58Querida Irmã

Desejo que ao receberes esta continues a gozar saude a qualpeço a Deus seja nunca iníerronipáda.

Lembrei-me muito de ti no dia 3 de dezembro, e lembrar-tc-ias lu do dia 4 dc janeiro ? Acredito que sim. mas não posso cada, foi ofertada por Goulart de Andrade à Academia Brasileiradeixar de confessar que és muito preguiçosa, pois que ainda nào Havia ele prometido à instituição os originais das "Prima-

me escreveste carta alguma. veras". Posteriormente verificou que os originais de que podiaDesejo que estudes bastante e já em breve possas sair pron- dispor não eram do punho de Casimiro — mas sim uma cópia,

ta do colégio. — Aplica-te ao francês e ao piano e quando recebe- e ainda assim infiel. Resgatou a dívida, oferecendo, em 10 de jares esta carta quero que toques uma fantasia sobre a Traviata. neiro de 1924, a carta autêntica que se acaba de ler.

ti) "Talvez julgues caçoada, masolha que è verdade. Eu desejo umadoença grave, perigosa, longa mesmo,nois iá me cansa esta monotonia deboa saude,

Mas queria a ttsica com todas assuas peripécias, queria ir definhan-do liricamerle, soltando sempre osúltimos cantos da vida e depois ex-pirar no meio de perlumee debaixodo ceu azulado da Itália, ou mesmono meio dessa natureza sublime 'ievegetação oue rodeia o Queimado".(Carta do Hio. 4 de outubro de 1858).

(2) Em carta de 2 de agosto de1859 escrevia' "E' escusado dizer-tenue o excomurrado do meu volumeainda não saiu"; mas na de 7 de se-tembro do mesmo ano jà diz: Ti-palmeníe, meu amigo, saiu o meulivro de poesias". (V. a nota finala "LXIV Clara").

(3) V. a nota Ma "XXXVIII,Palavras no mar".

(3) V. a nola 34 a "XXXVIII.Literatura Brasileira", 1816, pág. 308.

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DOMINGO, IMt-lMI gPPLEMtWTO L1TEBAMO D'A MANHA - PAGINA H3

tttua k notei iim1 A PROSA DE CASIMIRO DE ABREUA VIRGEM LOURA - € Páginas c/o Cordção»

des-I/.ji dos mais importantes critt- Ul

/esssor Souza Ha Silveira - rei?.»- NEf> n° f»PO. . , ,

cucou para o posta tias -Prima- Prender-me das faixas mtantis,istras" as qualidades áe poeta <sa0 saltar do Berço, vi quaseprosador correto Durante muitos i ao mesmo tempo o céu e omuitos anos. predominou a idéia mar, os campos e as matas. Nãode que Casimiro era um incoeren- foi na cidade, onde se morre

O CORONEL COSTA NETO. supe-r. Jcj-.dente ile A ilANIIA. recebeur. p.ressiva homenagem tios s"usr::::;ros, num almoço que se reali-tu no Automóvel Clubs, na ullimai.;..iita-feira. Naquela ocasiãor .r.-lhe entregues as insígnias dec-:;icndaáor ia Ordem de Cristo,(.ü? lhe acabam üe ssr conferidasr:ío governo português. Fez a en-trega o embaixador Mar Unho No-

bre üe Melo,

abafado, nâo; foi ao ar livreinfante ainda, senti a. brisa

da praia brincar com meus ca-belos e o vento da montanhatrazer-me de longe o perfume

te, ou um ignorante, qus nada sabia da s.ntaxe portuguesa, que nãoaprendera nunca a colocar os seuspronomes, que 7ião conhecia as re-gras essenciais da metrijicação...Ta.s críticas caíram por terra,diante das argumentações sábias e das florestas¦jíaras ds um exegsta erudito e piz- Que deliciosa vida aquela!doso. E hoje sabemos que Casimiro Como eu corria por aqueles

Abreu era um poeta e um pio- prados! Que colheita que faziasadar eon cto - tão correto quan- de flores! Que destemido caça-ío 1/ie permitia sser a sua idade iu- dor de borboletas!™ mo-

"alTTTe"vTveu™ ' Ah! meus olto anos! Queraosns-io a nós — se pudemos me dera 'ornar a tê-los... Mas...

dar a nossa opinião cm tal assim- nada, não queria, não; aos oitolo — achamos Casimiro um poeta anos ia eu para a escola, e con-cm tudo: c também na sua prosa. fesso francamente que a pai-Imagens em abundância, uma so- matória não me deixou grandesnoridade ds versos que se sucedem, saudades.musica, música — eis a sua prosa. iy

Para que o leitor possa julgar porsi imsiiio, aqui reproduzimos um Masconto do poeta — a sua simbólica quando eu era pequeno, aquilo

quem era essa virgem? Donde mos necessidade de amar, -.- csunha vindo? lábios que escasdem csr ;;.i

— Adivinhem. Veio do céu, e que os beijos àé ama muüiti

quando Deus concluiu o mun- vennam matar a sede que ostio ela achou-se de pê no meio at.ii.za. Aos .pjnize anos ani ¦).

da criação esplêndida, apare- Mas era ess.: amor puro ccendo em toda a parte e a to- cândido como nunca mais sen-do momento: de manhã ao ti; amor que deixou vestidosdespontar da aurora, de tarde imorredouros porque foi o pri-ao ícciinar do dia e de noite meiro, e que, hoje inteiramenteao clarão da lua. perdido para mim, ainda cons-

F.lha do céu, foi formaoa titue uma das mais gratas re-dum sorriso do Eterno, b.-in- cordações da minha vida.cou com as asas querubins, eno Edem debruçou-se sobre oombro de Eva, quando a natu-rezu pasmava dianie da maisperfeita obra do Criador.

Nessa época de felicidade intinia, em que meu coração no-vel lia pela primeira vo? as pa-ginas de um livro ?ue nunesahavia aberto; nessa época em

O seu nome quando eu era qUe a minha alma cheia de en-pequeno nâo o sabia; chama- tusiasmo nadava em ondas utva-a unicamente — a Virgem harmonia; nessa época a —Bouia. Virgem Loura — esteve cons-

VII tantemente a meu lado.Koras longas e longas, 1,0 si-

Era muito nossa amiga, min- °ca nos abandonava, e era belo lençio augusto da noite, incll-ver um grupo de crianças, fres- nada sobre o meu ombro, ela

suave Virgem Loura1

Como é poética e oela a qua-dra da infância!

Nessa primavera da vida.como na primavera do anj>.

oue me acontecia cas e alegres como um dia de murmurava queixumes de amoi,?ue _?_*_Aco!l??í!í mai0, cobBrlndo de beijos e ca- e minha mão corria sobre o pa-

pel procurando reproduzir ¦uma

coisa quecido a todas as crianças e emque bem poucas terão feito re

que vos quero contar, é uma rícias essa — Virgem Loura . .decerto tem aconte- a quem todos chamavam sua que me fervia na mente.

DCFui feliz, muito feliz!Às vezes, enebriada de trinta

entumecida de tanto

irmã.Se a tarde era linda, se as

paro águas quietas do rio refletiamF.„„„,..„ ..„ ....... Era uma mulher duma jeleza toda pureza deste céu brasileiro,

tudo que nos cerca são flores "ís extrema e de uma graça en- se a brisa ciciava na folhagem ventura, -„,„„,-perfumes, e tudo que vemos cantadora que, sempre coroa- da mangueira, então cornamos goso, a minha alma aroerte

fala e nos sorri. da de rosas e sorrindo terna- todos para o campo e íamos foi- f-^ranada soltava narras

Os campos viçosos e floridos mente, vinha todos os dias a.s- gar a beira do riacho. Ai cada incoerentes gr ™ ™™">; "''

são o nosso recreio, as borbile- sociar-se a nossos folguedos e qual colhia flores; um trazia e clioiM ^™"'tane»me""L*

tas e os colibris nos seduzem, o partilhar nossas alegrias e ps rosas, outro açucenas, outro nac1 ha Palavras que possam

gorgeio dos passarinhos i.os de- sares. Era uma virgem; dizia- boas-noites; e rosas, açucenas, "¦>°«™ »«''« r?euem aue meleita e a tempestade que passa o a pureza de seus belos olhos boas-noites, violetas, e todas as *™™ ™ta0 a'Suem 1ue me

no céu, bramindo na voz do ea suavidade da fala. flores da campina, formavam mamou poetaApesar de tantos anos. vou ramos gigantes e formosas en- X

tentar pinta-la como a vi na naldas com que coroávamos Mas depojs... a _ virgeminfância. Se o retrato sair im- — Virgem Loura. Liura — voiuvel e capncnosuperfeito e as cores esmorecidas., Cercada de tanto perfume, c„m0 todas us mulheres, aBan-

EVAPJSTO DA VEIGA, o grandejornalista da época tía Regv.ncia.No dia 8 transcorreu a data do seu

nascimento.

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trovão, nos assusta e faz-nosesconder a fronte no seio ma-tornai.

Como é poética e bela a qua-dra da infância! e *ue saúda-dc, que funda saudade nãotemos desse tempo, quando nnossa alma cheia de decepções

ciespoetisada p?las misén^sda vida se recorda melancóli-ca do passado!

Pelo menos a mim \con'.e-ceu-me isso; toda a vez que me folhetista escreveu a propôs!-lembro dos meus Delos dias de to de Talberg? Se o lestescriança, estremeço e sinto que quass que conhcceis a minhauma lágrima se desfia silenciosa virgem, porque des=on.io quepela face. E gosto dessa lágri- ela e a fada eram amigas muito com o m^f,0^?^.,™™^

CARLOS DE VASCONCELOS,brilhante escritor brasileiro, queteve em seu estilo ressonâncias

cv.cliãeanas

JOSE' CO PATROCtmO nas-ceu no dia 9 üe outubro úe 1853.Foi um dos maiores jornalistasbrasileiros e um dos campeões¦mais ardentes da causa da

Abolição

desculpem-me; ¦ a minha pa- coberta de tantas flores, parelheta não ê variada, e ao to- cia um verdadeiro jardim! Ascar nessas páginas do coração, folhas de rosas escondidas nasa mão treme e o pincel enodoa suas trancas douradas caídasa tela. no colo, no regaço, por toda a

parte, diminuiam-lhe a alvuraJá lestes aquele lindo conto das vestes e a palidez encanta-

de lada aue um espirituoso dora do rosto. Mar se lhe dava-mos flores, ela pagava-nos combeijos.

Outras vezes ianvos à praja

douou-me.Foi num di'*

p-.;-!teitamente,

acanhar conchas, tíritavamo.

ma: q/ando se chora é perquecoração está vivo. c porque

embora embotado em parte,tem ainda um 'ado sensívelque o lodo do mundo não poetemanchar.

intimas.Era bela.

rizado bramia e recuava; dejá vos disse, e pois, tranqüila, a on

nào acho com qúe a possa com- lamber a areia e fuga muriimparar.

Uma vestal?Se

i&ndo uma queixa.Se batia o sino — Ave Marias

— e!ci orava conosco e não sei.

lembro-menum dia tíe

setembro, rtrjiil.i.ido o grito de' -.mentos im rainha vocaçãocontrariada, iui sentar-me àcarteira dum escritório e em-!_¦;•_ nhei-me .10 n;yndo dos ai-garismos. Abracei a vida co-üir-rcial, essx vida prosaica queEDSorve as faculdades numúnico pensamento, — o dinhei-ro — e que se não debilita o

vinha corpo, pelo menos enfraquece emata a inteligência.

Fatal dia, negra hora.Desde então fugiu-me a —

Virgem Lou..r --• e debalde aeria! mas ssu íosto div parecia_me

que a oraçã0 assim tenho procur-ido ao clarão ü-.iPor isso eu gosto de chorar, namente belo. n;m sempre ti- ,. , vi... :ua na luz aas estrelas, nasapraz-me, as vezes, quando nha essa suavidade angélica tinlla mais valor e,"BS,J - «'---- ¦"*

estou sozinho, mergulhar o das vestais antigas, e seuspensamento nesse passado que olhos, segundo ela me dissejâ vai tão longe, e pelo poder depois, se umas vezes morriamda imaginação vejo, sintogozo tudo que vi, senti e goKfeinessa idade de risos e de imo-res.

Minha querida infância!II

Nasci em... não, nãonome do lugar onde eu nasci

gem Mãe sorria-se satisfeita àspreces da infância.

Muitas vezes, acordando denoite, achei a — Virgem Lou-ra — á minha cabeceira: finjoria guarda, velava o meu sonode inocência e velava tambr-mo das outras crianças, norque

cimas do mar ras flores doprado, em f»uo, nunca mais a

po. apagar: mas, creio, que

de voluptuosidade, outras ve*zes falseavam de cólera.

Naquele tempo eu vi-a sem-pre bondosa, terna e ingênua.

Quando ela sacudia açueiacabeça digna da estatuária an-

o tiga. os s:us cab2los, seus lindoscabelos louros, presos nu frente

Para que?... Hoje, na casa por uma grinalda, fugiam eem que vi a luz moram tstra- flutuavam livres em graciososnhos, e estranhos nâo sabem anéis.nem podem compreender o en- Trajava roupas talares, tâo .canto que eu achava nessa pe- alvas, e tão alvas, que todos aos meus companheiros nao

quena casa. para mim mais nós temíamos mancha - Iasbela que todos os palácios db quando as tocávamos,mundo. Era muito linda; mas o que

Moram estranhos, e quem eu sobretudo admirava, na mi-sabe? tolvez que suas mãos nha ingenuidade infantil, era ™t« que matszam o alvorecer

profanas fossem der.ibar a fi- a pureza e o brilho de seus aa ;ma.

gueira velha que me viu nas- olhos azues, que refletiam -idade infantil

ícr, e arrancar as roseiras que cor do céu. Como. eram belos! Passou-se a d rie 1nfantil,

eu mesmo plantara no canto ^J^^-X Í-SAM

d°oíi!ldse • eu entrasse agora olhos para Deus e^o-rvava- opulenta

^se.va^a efesen-

tioje a muil-ulma, árida etnste de 'a-u sonho d'j^j-.í*e de tanta ilusão brilhante, 60;'„m lagnnuii rata chorur .-.'.stshe*<'S dias f-Tt euf ela mt ilüa

ela reproduzia-se e apsirecia os seus segredos divinos,im mais dum lugar ao mesmo aí de mim! parece-me »juetempo, 0uço uma voz pausada e fria

Tudo isto fez com que eu lhe i;.i::smurar sr.tat palams icconsagrasse uma amizade ler- fito: — Kmca mais ni.s dunn. santa e profunda, que nada encontrá-la!

aconteceu o mesmo. Muitos de . (les. envolvidos no turbilhão do LouríKmundo, esqueesram em breveeísas cenas e esses amores càn

Mas quem era a — Virgem

A dos olhos azues?Sim.Aquela que eu amava?Sim.Pois não adivinharam?!

ra a — poesia.

todos os afetos nobres e santosnessa casa, estou certo que ao os assim

£.SPOerquePOata S^Z S^fdl^suas^pêbrai, fi'- -me,a flor da solidão aos ralos

transbordando de saudade, ha- mia e brilhava uma lagrima dc .01 nascente.

via de romper em um desses como o cristal no lampadano *me>-choros prolongados e sentidos do templo E chorávamos tam- E qui 1. deixa ae amar an,oue revelam uma dor profun- bem, e uníamos nossas vozes quinze anos? ^uem. se nessada Algumas das recordações frescas à sua voz melodiosa que idade a nossa alma se apaixonavagas aue conservo se aviva- entoava o cântico da infância, tât, facilmente? Se nao for ariam então, santas reminiscên- sublime de simplicidade. uma mulljer. ha de ser as fio-cias do lar me cercariam, e A minha virgem vivia sem- res, as ondas, a Deus. e debaldecom o rosto escondido nas pre cantando; mas fazia-o com perguntamos porque se inclinamãos sufocado em pranto, jui- tal suavidade, com tal senti- a nossa fronte languidamssníe

garia ouvir o éco de vozes já mento, que nós suspensos e porque se nos fecham os oiV 5

extintas e soar de novo a meus imóveis, ficávamos presos amortecidos.ouvidos o canto melancólico esse doce gorgeio, que nos des- Oh! aos quinze anos o cora-

com aue minha mãe acalentava pertava sensações desconheci- çao pede amor como a terra^LSSSiZp daí sequiosa pede as chuvas do ceu.a í?SÍ_.r nessa ca- VI e como a flor penada uma gota.»?Yar-me-Sa SS - Mas, pautara o feitor, de orvaiho. Aos quinze anos. te-j

0 POETA DAS

(Continuação da página 146)

Alf porque, oh caprichosa,Desfolhaste num momentoA grinalda esperançosaOos nossos castos amores?Agora as pálidas flores

Soltas, da brisa * mercê,Nâo erguerás tu um dia,Oh flor da melancolia?

— Ai! fala, dize — por que?

Rio, 1859.

(Publicado na ."Renascença")

•iMt+mmíMmiisM

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SUPLEMENTO LITFSR i«IO D*A MANHA DOMINGO, It-U-lMl¦'«"«Ut

Aquela inconsistência ou me-Usor aquela inconsideraçào deístsoiescéncia iquando menoshuelectuali fez ssravar na mi-nua memória, pe)a própria de-licia que o dito me proporcio-liava, toda a irreverência comque Antonio Torres aludia aCasimiro d? Abreu: "caixeirotecretino". Era demais, porem opróprio exagero produzia o ri.so,o gozo como já então se dizia,sem outras considerações paracom a memor.a do poeta cno-ramingas. Lembrava-me dessaexpressão do terrível panfletá-rio e parecia-me que teria sidoescrita num artigo sobre aA.ua Correnle, dc Olegário Ma-riai.o; no entanto, o artigo foiincluído em vo.ume, Pasquina-das Cariocas, mas lá há apenasisto. pág. 188:"Chorar por motivos de amor,corno o finado Casimiro deAbreu, excede os limites dascoisas lícitas, principalmentequando o indivíduo jà transpôsa casa dos vinte anos". E ain-cia, noutro assunto, pág. 251:"... cor tesas, como se dizia notempo do sempre chorado Ca-sirairo de Abreu". E na páginaseguinte: ".,. ver as cortesãs(u Alvares de Azevedo!)..."

As transcrições mostram•acentuada implicância do jor-niilista para com os poetas ro-mànticos ou certas expressõesdeles, e talvez mais para com ofinado Casimiro. uma certaironia ao nomeá-lo, mas não abrutalidade daquilo que me fi-cou na memória: "caixeirotecretino". Será que Antônio Tor-res. bondoso no fundo, houves-se suprimido o epíteto, ao in-cluir o artigo em livro? E' umapergunta que não tenho e'e-mentos para responder, dese-3 a ndo, entretanto, a afirma-tiva.

Se o meigo Casimiro tenhaparentes vivos, estomagadoscom aqueles e outros remoquesque se publicaram contra oposta mais popular do Brasilde Wdos os tempos, tais paren-tes tiveram lima compensaçãona carinhosa e valiosa publica-ção das Obras de Cas.miro deAbreu, edição comemorativa docentenário do poeta (19391.organização, apuração do tex-to! escorço biográfico e no-ta* do professor Souza daSilveira, Companhia EditoraNacional. São Paulo, E' com-pensação a fazer perder de vis-ta tudo que se tenha dito im-

I pesadamente em detrimentoi da obra casimireana.

O que se nota desde logo éque a tarefa não foi entregue

, ao professor Souza da Silve.radentro das normas comuns dasedições e traduções nacionais.Isto é. sem especiais afinidades

! eletivas: sobressai aos dotes in-\ vulgares do organizador, sufi-

fcsf-ntes para o cometimento,( desde as suas primeiras pala-

?ras, uma comovida e sólidaiidmiração pelo vate de Indaia-çú. a ponto de concluir assim© escorço biográfico: "Sé mecumprisse estabelecer uma elas-íificação dos grandes poetasnossos, eu daria o primeiro lu-gar a Gonçalves Dias. atenden-do à excelência da sua inspira-,ção, ao seu conhecimento realda vida, á sua capacidade deexpressão poética, à sua riquezalingüística. Na ocasião, porem,de escolher o merecedor do se-gundo lugar, me viriam hesl-tacôes, mas certamente um dosnomes em que eu pensaria, se-ria o de Casimiro de Abreu, porcausa de sua poesia comunica-tiva. da sua enternecida masrealista evocação da nossa pai-¦agem, da beleza da sua lin-Ruugem fácil e concisa, da har-munia de gosto que preside àestrutura dos seus poemas, eda maviosidade da sua versifi-cação".

Pediria permissão para d's-cordar de mestre Souza da Sil-veira, pois um segundo lugarnão me provocaria a lembran-Ca do autor das Primaveras,nem mesmo para hesitar. Essaclassificação, a que o mestrealude para fixar objetivamentea sua admiração, prescindirianecessariamente do meu pare-Cfr Quero, rjorem, chegar aum ponto de vista pessoal,dentro de outra hipótese elas-sifleativa: se me pedissem adje-

tivos para os nossos maiorespoetas românticos, chamariagrandioso a Gonçalves Dias,grandiioquo a Castro Alves,grandes a Fagundes Varela eÁlvares de Azevedo, meigo aCasimiro: o meigo CasimiroSua obra não requer uma adje-tivação com raiz na sua gran-deza, porque esta não existe;u que existe é meiguice, quali-dade do que é afavel, carinho-so, terno, afetuoso, doce. sua-ve, cheio de bondade e mansi-dão. Por isso mesmo, nenhumoutro alcançou nem a'cançarámaior popularidade no nossoBrasil .. Igualmente por issomesmo se nota muita atitude,muita intelectuaitzaçâo repro-vavel. naqueles que desdenhamdo nosso poeta do coração

A!nda agora, graças à exce-lent memória musical da se-nhora João Alphonsus que asouviu cantar na velha cidademineira de Bonfim, posso citarseis das suas poesips cantadascomo modinhas e perpetuadasanonimamente, sem vaidadesliterárias, mas de um modo afazer inveja a qualquer inte-lectual desdenhoso. Com as res-pectivas pág-nas na edição co-mfmorativa, são Canção doExílio, pág. 59, Minha Terra,páa. 62. Minha Mãe, pag. 78,Violeta, pá™. 186. Assim!, pá".11)4, e Uma História, pás. 284.E poderia lhes dar aqui a mú-sica de cada uma. caso este meuartigo comportasse notaçõesmusicais,

A popularidade tem váriosaspectos e não é despiciendoaquele que será popularí.ssimo,Isto é, popular de tal modo aprovocar uma ruga de censuraaos que encaram a coisa literá-ria acima do efêmero e do oca-sional Quem é que se lembrade Juó Bananére? O criadordos versos em pitoresco dialetoitalo-paulistano, de um gostosupcr-popular tipo chanci.a.-tade circo (digo isso com o olhona ruga, dos gran finos), paro-diou os Meus Oito Anos. E foium sucesso tremendo. Justa-mente porque era enorme apopuai-idade dos Meus «liioAnos, tão refertos de meiguice.contrastando na naródia cemos aspectos ia lnfâ"c'a de ummoleque ítalo-paulistano doBraz E a propósito, até cumesmo, com o meu péssimo ou-vido para guardar música,posso recordar aoroxim ativa-mente o canto desses Meus Oi-t*» Anos, que Já ouvi quandomenino. —- mais uma a ar res-centar às poesias musicadasac*ma aludidas.

Porem há algo muito maisimportante do que tudo isso: otrabalho do professor Souza cUSir eu a. Creio qu-.v em tace daatitude dos intelectuais, poisse-ss ííuíU' em reabilitarão deCasimiro de Abreu, feita cemodo definitivo. Percorrer suaoura, gu:ado pela segurança ü*;gosto «c de saber do mestre, econvencer-se dessa rehabilita-ção Não que Soj.'a da r*u*/e-rase dispusesse a ei;amar a sten-

¦ção do leitor para a excelên-.iaüa inspiração ou a beVza dasimagens, com muitos ponto* op

„,3Xd&iração. em cada poe?ia. —ripi.lesc simplesai"nte in,;iii'*o-sa íi üua compreensão literáriae à altura da sui inteligência,O problema de Casimiro eraíir,?u!armente comnlexr* e uaiacriá-lo, na leviandade e supor-ficialidade com que transforma-mos juízos preconcebidos emjulgamentos inapelaveis, deveter concorrido fortemente alenda do caixeiro a verseiar àsescondidas em papel de embiu-lho, em cima de um balcão. Al-guem, sem a autoridade de Sou-za da SMveira. que viesse falarem "primores estilísticos" deCasimiro de Abreu, principal-mente há tempos atra-; recebe-r.a chutas. Porem o t estre f:i-ia e prova:"J. Norberto apreciava a Ca-simiro; mas haveria de apre-ciá-lo ainda muito ma!s. se sou-besse que a quase totalidadedo que lhe notou como defel-tos e erros, era. pelo contra-rio, primores estilísticos e cor-reção de linguagem! Vejamosem outros autores i construçãode Casimiro". A respeito dcdeterminada construção queNorberto acolmara de "viciosa

O meigo Casimiro - João /,/P,wredundância". Souza cita en-tão Camões, Vieira, Garrett,Machado de Assis... Essas uno-tações se repetem inurnsuavel-mente e mostram come nào sóJ Norberto, esle oeni Intendo-nado. mas lambem muitos ou-tros. mercê de sensível precon-certo, só enxergavam erros naobra do caixeiro, mesmo q-ian-do apoiado na melhor 'uris-pri dência da linguagem'

Às vezes, o anotador adquireum tom verdadeiramente atuar-go. como a respeito de surgirum choupo na pões*a Sonhan-do. págs 245 e 217: 'Reprova-ram a Casimiro sendo brasi ei-ro falar em chouiio. O raoazacnava-se em Portugal .1856",estava-se recordando de umacena certamente passada emPortugal (para ond? tintia idoem novembro de 1853» e nàoqueriam que ele fosse verdadei-ro nas referências \ pa-sagemcircunstante! Pobre moço!Aperreado, nos seus pendoresliterários, pela vida comercial,e, nas suas produções poéticas,pelas mesquinharias de certascriticas! E provavelmente foidestas censuras imerecidas quelhe veio o labéu de escritor"não correto", que. infeltzmen-te. ainda perdura'.

E ainda o censuravam de ta-lar em carvalho, cm calhan-dra...

A situação do poeta leviana-mente mal apreciado conduz oprofesfor Souza da Silveira ademorar-se em interpretaçõese explicações dos textos asquais, em certos casos, seriamdesnecessárias (ao menos pa-ra mi.nl. Mas trata-se de com-bater uma Incompreensão ar-raigada. e ele o raz sempre comregular cópia de exemplos dosmaiores do idioma, não poder.-do. aliás, ajuizar do maior oumenor alcance do possível lei-tor casimireano... Da mesma,forma esclarecem as notas áscitações, nos versos, do Petrar-ca fln>r"eiro (Gonzaga). Dase Magalhães. Gilbert e Dantee outros. Sobre Gilbert. ass'manteposto a Dante (mais pornecessidade de rima», a notade ná» 203 é preciosa e me'an-colida:"Minha fronte, que oende sonhadora,Acharia, mini Deus, insoirações,E o fo<;o que queimou Gilbert e DanteCorrer', mais puro e mai? constante

No foHO das canções!'*

Embora colocado ao lado deDante, eu ignorava (e como eupossivelmente muitos outros»,esse " Nicolas- Joseph -LaurentGilbert, poeta francês, que vi-veu de 1751-1780, autor de sa-tiras mas que é conhecido, so-bretudo, pela sua poes*a intitu-lada "Adieux à Ia vie".

Com as observações sobre alinguagem do Poeta, surgemreferências, incidentes à impor-tancia poética, à força expres-siva, ao valor musical de algunsversos ou mesmo de poemas.Incidentemente: não como guiaintencional do gosto do leitor.Notadamente quanto á musica-lidade, são preciosas as nota-ções da métrica, igualmente malcompreendida; a começar pelapág. 84: "Vem de longe o par-tirem-se palavras no final dosversos e com o excedente pre-encher-se o imediato. Assim fl-zeram os gregos, assim fizeramos romanos, por exemplo Hora-cio, de que aponto..." (Seguemtrês exemplos). "Também ostrovadores medievais..." (No-ves exemplos). "Casimiro vi-veu apenas pouco mas de vln-te e um anos; alem disso, teveo s?u gosto dos estudos contra-riado. E' possivel. pois. que elenão soubesse dessa partirão depalavras do 3o para o 4o versoda estrofe sáfica tanto entreos gregos como entre os romã-nos, nem conhecesse as com-posições dos nossos trovadoresmedievais. Mas era verdadeiropoeta e tinha, para o verso.aque'a excelente organizaçãomusical que D?us lhe deu. Issolhe bastava para que. elevan-do-se acima das regras co^e-zlnhas dos compêndios, pratl-

casse em métrica ceitos atos,que, tuis, o pussauu jl.-*.-*^*-.».*,uutios, u lumio vu.,1 coinpio-ender meinor. — entretanto,um sianue autor nusso, Uon-calvas Dias, tido e aümira^upór Ciisunlro... olerecia-i.it!mode.o uessa transposição desílabas Ue um verso para uimediato".

As injustiças se acumulam eaquilo que não era censuradoem Gonçalves Dias. c apontadocomo relaxam ente da métricado poeta menor .. lá acuinu-lam-sse us notas, nsio somenteapoiadas no auto. do l-Juca-1'ininisi, chegando, quanto assílabas, a conclusões que po-dem ser assim resumidas: ou aúltima silaba do verso anteriordesce para o verso deficiente(com menus uma silaba). ou aprimeira sílaba do verso exces-sivo (com mais uma silaba» de-ve ser lida como pertencendoao verso anterior. Essa regra éconvocada no mais das vezespara justificar o encontro deen decassílabos, com acento na5." e na 11*. entre decassílabosregulares. Por mim. dispensariaa regra: lidos em voz alta. taisonzessiábicos não psejudicamo embalo geral da estrofe, a

•musicalidade do poeta destina-do mais a ser cantado. Deixarfa'ar ..

Vivendo tão pouco, e vivendopoesia. Casimiro o fez quasetrês anos em Portugal, paraproduzir não uma só Cançãodo Exílio, como Dias, mas di-versas, enfeixadas na primeiraparte das Primaveras com o ti-tulo geral de Canções do Exilo,o que mostra como não escon-dia a sua admiração por aque-le e lhe tomava o nome dopoema.

"Jesus! Como eras bonitaCo'as trancas presas na fita.Co'as flores no samburá!"

("Moreninha", pág. 124)

Parece-me bem português ls-so de misturar a tais ternuraso nome de Jesus. Mas fora des-se verso, do carvalho, da ca-lhandra, tudo o mais é bembrasileiro, arvores, flores, pás-saros. mulheres. A prática inu-meravel das elisões. sobretudode pronomes, marcadas, podiaser apontada como coisa do fl-lho de português que vivera emPortugal, se não fora geral nosromânticos nacionais, como assincopes de esp'rança, c'roa,formas "que nâo devem ser to-madas como licenças poéticase sim como hábitos prosódicos"(Manuel Bandeira. Antologiados Poetas Brasileiros da FaseRomântica, pág. 209, onde senota que Casimiro chega a es-crever s*reia na poesia "Mi-nh'alma é triste).

Contrariamente às elisõesobrigatórias, os tratos são co-muns na versificação casimi-reana. A evolução da métrica,mesmo encarada superficial-mente, revela-nos uma série depreconceitos. Os versificadoresparnasianos vieram a impor,compulsorlamente. a contagemde uma silaba em eom seguidodo art'5.0. não exigindo indica-ção gráfica, no verbo é segui-do de artigo. Exagerou-se enum poeta fora das escolas. Au-frusto rios Anios. existe o decas-sílabo mais cheio da lingua por-tuguêsa:

"Sóbe-me à boca uma ânsialanáloga à ânsia"..,

Hiatos e outros defeitos co-muns nos românticos (v. napág. e obra citadas a nota deManuel Bandeira sobre Gonçal-ves Diasi. a honestidade literá-ria do professor Souza da Sil-veira, entregue a apurar ostextos, a corrigir as edições malcuidadas de Casimiro de Abreu,para à pág. 119 nos versos Nolar: "Estou em presença de ver-soe dos mais belos e de umapoesia de mais poesia que co-nheço. — Por isso não queroperder a ocasião de levantarum brado de aviso aos que melêem •" E revela um caso pa-ra reunir-se ao anedotárlo par-

nasiano: -Digo Isto pensandoem mu tas coisas, mas sooretu-do no que nào se iuitou a ta-zer a estes versos de Casimiroum alto espirito nosso. Goulartde Andrade, ocupante, que tolna Academia Brasileira, da ca-deira n° 6, posta sob o patruci-nio estriritual de Casimiro naAbreu. Imbuido dos prec?itostécnicos do parnas anismo. naoadmifa o hiato, ou pe o m?noscertos hiatos, nem tolerava asmudíuiças de mêd'da des ver-sos quando esporádicas, isto e,quando nào ocorressem reasi-larmente em cada estro!?. Quese conformasse a tal diretriz,bem estava: podia uma ou ou-tra vez prejudicar-se como d.»-ta. mas tinha o direito d; assimproceder e a ninguém !*ss***»lao de o censurar por isso. Mas,para pôr de acordo com as nor-mas que seguia, alterar o oueoutrem escrevera, e escreverachamando-se Casmiro de Abreuc antes de ter chegado o tem-po em que se tendia a reduzir a"formas a forma", mas pe ocontrário, se concebia esta co-mo a rouoagem. _ embora Ius-ta — elástica e transoarente,do Densamente isso não oodeadmitir-se, mormente havendosido perpetradas as alteraçõescomo o foram, nem sequer li--reira advertência ao leitor Noseu livro Cadeira n" 6 da *>ca-demia Brasileira". R*o. 1931,Goulart de Andrade cita assimos v-sos de Casimiro:"Oh! Mocidf>de, bem te sinto e vejo!De amor e vicia me transborda o peito.Basta-me um ano só... denoi? . na

f sombra ..Quero, onde tive o berço, ter meu

rietto."

"Para afastar o hiato substi-tuiu e por só, embora modiíi-cando o ritmo do verso, isto é,uma das suas característicasmusicais; e, no verso imediato,separou quero de ter com a In-tercalação de onde tive o ber-ço, do que resultou, juntamen-te cum a mudança da cadên-cia, um verso prosaico, frio.sem alma... — Como o sensonatural dos verdadeiros poetasvale mais do que todas as re-gras, sejam da Versificação, se-jam da Gramática!"

...diz o sapo parnasiano dasátira de Manuel Bandeira, deonde o anotador tirou aquelefôrmas a forma (Poes*as Esco-lhidas, 1937. pág. 341.

Os versos verdadeiros de Ca-simiro são estes:"— Basta-me um ano!... c depois...

fna sombra...Onde tive o berço quero ter meti¦"leitor*

Quem é que não dará razãoao emérito anotador? Músicasobretudo!

Ainda sobre um verso igual aeste último:"A dor imensa da perda do futuro..."

Souza da Silveira diz à pág. 203:"desconhecendo este processode metrificação" (o artigo ase integra no verso anterior i —"alguns editores de Casimiro,com a costumada ousadia, al-teraram o verso para"A imensa dor da perda do lutura."

Mais ou menos semelhante,na intenção, è o que nota Ma-nuel Bandeira, na Antologia, iácitada, acerca dos versos deMaciel Monteiro: (pág. 2951:"Formosa, qual se a natureza e a arte.Dando as mãos em seus dons. em seus

flavores.Jamais soube imitar no todo nu

(parte.""Houve quem. achando defel-

tuosa a sintaxe desse terceto, ocorrigisse para:"Formosa, qua! se a natureza â

íarte.-* etc.

•'E' como se lê no discurso derecepção do general DantasBarreto na Academia Brasi'eirade Letras "Revista da Acade-mia Brasileira de Letras. n° 15".

A solidez do trabalho do pro-fessor Souza da Silveira me

Page 11: imv©ISIS niw1®§ - BNmemoria.bn.br/pdf/066559/per066559_1941_00009.pdf · vivos do Brasil.nal — não parece que se Fórmulas suas, frases que O romantismo lá se foi, tenha criado

jKfe. DOMINGO, 1MI-1M1

••¦,v- '^wwTwflpuf^j

¦ U FLEMENtO UTOBAMO D'* MANHA — PAÒ1NA IM

levou a uma releltura da obra sim, vaisa. é doce a alegria.de Casimiro de Abreu de modo JTnílT ^.S^S1 -umque nunca lana desajuaaao. A Dos prazeres na vertigem.conclusão foi aquela — meigui- A tua coroa de vlrge,-ce. Porque jã se fora o tempoem que achava graça no ditode Antônio Torres... E' umafigura comovente de poeta na-morado, borboleteando entreJulia, Elisa, Maria, Clara, Lau- "Mas desi;ra, Helena, e outras misteriosa- " '" ""

mente embuçadas em iniciais,todas donzelos, José Veríssimoachou-lhe nos versos "a im-

Rolando no pó das salaSi..."

De uma namorada que beljara e que se casou com outrem(pág. 355):

fronte que sublimo tantoOutro tirou a virgin.il capela,"

De uma carta a um amigo(pág. 340): -Qualquer dia voufazer um anúncio dizendo que

pressão pungente de um amor 0 meu coração está devoluto einfeüz que lhe deixou a alma qUem quiser que tome contamalferlda e para sempre do- dele". Digno de qualquer heróilorosa" (apud Souza da Silvei- de Macedo... Embora, menos

ele mesmo o di?, em convincentemente, adiante•••Feliz quem ama e é amadoNão se pode ser moço semvalhada.

Esta rosa foi-me dada

Rosa Murcha:lágrima

_ jsa foi-meAo rom dum beijo primeiro.

E hoje, e hoje. meus Deus?!— Hei-de ir junto aos maurolé>isNo íundo dos cemitérios,E ao baço clarão da luaDa campa ti3 pedra nuaInterrogar os mistérios!

amar, e e ponsso que eu soumoço em anos e velho caducona alma.". Mentira, Casimiro!Se fosses assim, não dirias;

"Pelos lírios, pelas rosas.Pelas estrelas formosas,Pelo sol que brilha agora,— Eu juro dar-1e. Maria.Quarenta beijos por diaE dez abraços por hora!"

(Pág. 160)

Celebrando Casimiro de Abreu - £&*Para acompanhar as oscilações atenção para isto: Casimiro foi teresse as quadras dessa medida,

do pensamento desse poeta, não noivo de D. Joaquininha ,assim lhe que lui encontrai no curso> mme guiei pelo critério adotado nas chamavam na intimidade) em Literatura Brasileira ou escolha"Primaveras" estudando as dlvi- 1860, no mesmo ano em que mor- de varies trechos em prosa e ve,-soes arbitrárias da obra, livro por reu, contando ela apenas 15 anos so de autores nac onais, antigos elivra' - primeiro — as "Canções de idade. A noiva conservou-se modernos, por Melo Moraes Fiino,do Es lio" e as "Brasilianas"; de- solteira até 1870, casando-se então edição Livraria Serafim Jose Al-pois os "Cantos de Amor", as com um negociante português, que ves, publicada em 1870:"Poesias Diversas"; até chegar às laleceu poucos anos depois, fl-elegíacas do "Livro Negro". cando deste casal o lilho a que

Preferi escu.ar-lhe os intuitos, se- me refiro. Alem do ímorreuouroguindo as datas em todo o rimãrlo, afeto que ela me disse conservarde modo que tivesse diante dos sempre vivaz pelo seu poeta, mui-olhos o diagrama da sua existên- ca retirou do quarto, onde dormia, 0 viajor peidld0 a0 declinar do diacia o mais aproximado possivel da um retrato de Casimiro, em busto pir.ge ao ceu sereno, o »¦»",«.realidade do tamanho natural. Olhando Mas a coraeem volta e novas imim

E a amplitude dessas oscilações sempre para aquela imagem, que responder-não excede de sete anos, tendo por jamais lhe saiu do coração, isso se a voz annea ao s.^ £ gnloextremos a poesia de metro in- poderá explicar o fenômeno suges-certo idéias mineiras, composta tivo, que perdurou por tanto tem- Nós [lll<( somos irmãOS „a lula e noem agosto de 53. intitulada "A po. o que naturalmente determi- lca"?"ç°:Moeidade" e de que Laura é ins- Sou a extraord náüa• Pj^ença, do nós que a„ mesnro ca.varo a

=piradora, e as estrofes já límpidas filho com o s™

^'"f™ n0V_°-

Depols „„ aperto amiEo e do íralen.oe escorreitas a Paustino Xavler_tíe Am. at. eic.... >¦ labroco,

Com novo ardor e vida nós dizemos_£¦£•!• [— vamos!

UM POETA

Away"

"Porqu

Ardeu

minh'í atrevida

em loucos desejos,eobrir-te de beijos

E quis manehar-1e na orgia!"(Pág. 228,

E ainda págs. 261, 316, 295 eoutras, sendo aquela uma car-

Carpir o lírio pendidoPelo vento desabrido..."

Reconneça-se, porem, ape-nas a criação literária, urgindopur um amor infeliz, ceifadopela fatalidade. Outra conclu-são que se tira é que Casimironão é tão chorão como se pen-sava por efeito de tantos pre-conceitos despertados em tor-no dele. Não há na sua poesia ta, sobre a possibilidade de unilinear nenhuma dor séria, ou plágio: ¦'..: pois que nuncaseriamente trabalhada. O pró- tive o mau costume de roubarprio problema da morte... A em literatura e o único roubopoesia No Leito começa pela ei- que me podem imputar é detacão de Álvares de Azevedo um ou outro beijo de vez em("Se eu morresse amanhã!"), quando" 'oh! Macedo). E aindümas no fundo o seu desejo é aquele jeito de falar em seioseste- '"QuiEera a vida mais longa

Se mais louca Deus me dera,Porque c linda a primavera,Porque é rloce este arrebol.Porciue é linda a flor dos anosBanhada da luz do sol!Mas se Deu? cortar-me os dias..

inumeravelmente, desde a pá-gina 123:

"Mas naquele doce enleio,Em vez das flores, no seioNo seio de ti fui bulii!'"

Novaes e a Nicolau Vicente Pe-reira. escritas em 60, ano em quefaleceu ou melhor — da sua trans-formação subjetiva.

Desta maneira, pode notar-seErrado ou não, foi pelas datas, Mova-se

que quase todas as produções o passo afouto no abrazarIda areia,

q„ao!mp",_ Coloca* dS X-iSm. ™ f^OS « A vlda esperançosa a.cncc ^on.c

s~ Sf^sr-= 2Ess SSss'""'""""""'—OS anos de 55 a 57. ",.._:_, obra desacertada, afim de Caminhar! Caminhar! A ferra pro.talvez

talvez conseguíssemos identificar a &e e^t>írito melindroso e sensitivo,Quase sempre simples e corren- Caminha,

tio, talvez terra a terra; em naoiioucos lances claudicante no bom o nosso patri'" ._ ___ __„„.,„„_-,„, nu tnptvi-

A não ser, paia o tempo, a no-

A poesia Ainoí e Medo (pá-gina 219) motivou, ou quandomenos deu o título, ao famosoensaio de Mario de Andrade.Amor e Medo, publicado naRevista Nova, São Paulo, se-tembro, 1931, e depois no livroO Aleijadinho e Alvares de

Não é absolutamente o poeta Azevedo, São Paulo, 1935, jus-da morte, mas do amor. Queria tamente sobre os nossos io-viver .. Seu amigo F. Gonçal- manticos que tinham medo doves Braga, num poema que ele amor- "a primeira "•<¦-''-

mesmo incluiu nas Pr.maveras,

Ou nos versos mais conheci-dos:"Se eu tenho de morrer na flor dos

lano.»,Meu Deus! não seja já;

Eu quero ouvir na laranjeira, ã tarde,Cantar o sabiá!"

chamou-o de Byron lusitano:"Caminlia, c deixa em seu prazer

[mundanoA esses, que aos poetas estão vendo

Com escárneo sem fim;Encara-os como Byron lusitanoE dize-lhes;"De vós eu nada entendo,

E vós nada de mim!"

literalidade em que a timidez deamar, se fixa nos românticoso respeito à mulher. Parece atéengraçado se afirmar em respeito à mulher na taverna emque os nossos românticos lios-pedaram os Heine, Musset aByron que tinham no coração,porem, a própria maneira desa-

Byron, por que? Os versos busada com que Alvares deDores, págs. 332-334,. parecem Azevedo às vezes trata da mu-marcar dúvidas, descrenças ilu- lher, e cretinamente safadota"soes mortas, e ai o drama espi- (oh! Antônio Torres) das mi-ritual conduziria o Poeta às núsculas libertinagens de Casi-saturnais, aos bordéis, ao lupa- miro de Abreu, são provável-nar, ás Marcos modernas, às mente procuras de libertaçãolânguidas Frinés, comparentes concientes, e por isso exagera-no poema. Trata-se, porem, de das, daquele respeito" (Revistamera adaptação poética a uma Nova, pág. 439).atitude imaginária, sem raizes E 0 que provoca em Mariona personalidade do rapaz, essa eXpreasã0 torreana,

""

muito mais sincero quando fi- jUSt,amente aqueles versosca simplesmente no amor, ou Manscrjtos da pág. 123. Como,melhor, no namoro. Então estano seu elemento, não faltandouma indicação, graças a Souzada Silveira, de que tazia atéversos para os amigos daremcomo deles às namoradas, Cy-rarni brasilico (pág. 3061...

D^verfa-se e nem uma vezfala em tédio, -nal de profun-didarie. cacoete dos outros ro-mêntieos ..

O caso de Casimiro de Abreu

| metidaivaz dos alcantís talxez nos

I apareça.Caminhar! Sem maldizer

[da vida,mônio existe na cabeça",

gosto, na linguagem, na métri-f, Spih' Mas aue coisa e queSé'dá aos versos esses transcen- vidade da medida, ter-se-ia curió-

ros"™ mesmo ano de 59 e que JJl„™ a°,sores

lunares, circundan- sidade cm saber qua o motivo queoutra não seria, senão aquela mes- ™™sdpe

„ma auréola de espiri; levou o venerando publIcisfa» b.au-ma Julia. invocada nas estrofes ualidíldc? Que perfume agreste e no, alias excelente poeta, » (*.< rsob a epígrafe "Lembras-te?" já esse aue sai das suas rimas, como nas suas paginas escolhidas, a o..-¦eíe,fdasP caso não fosse essa dona XS fragíante que envol- formldade desse corpo com . ,,Joaquina, de que trota a carta a ° "™

úmidas corolas? Que trls- donha giba do velso final... Con-m?m endereçada pelo eminente ™

a é ™™de

angelus, com sinos tuuo ai. mesmo se verjf,ça o pro--¦ • n: invisíveis a arqueiarem em vibra- posito de Casimno em vanal uc

Sêf comovidas e a nos lembra- metro, indo ao longo de sua übaa,Meu caro confrade: ^

™ d™uas cepusculares de do mor.osilabo ao duodecasllabo

Não encontro os versos alexan- ™ terra melhor? Que sabor é hein que se demorasse mais nu,

drinos de Casimiro. mas, em com- ™ de ,'osa e de cinza, de crença ledondilhas da içada popular,

nénsacão mando-te outros, até Ts„ °t,\to' Cometeu também os chamados ver-

EoSTSitoT cuj0 autógrafo me * ^f Co lss0 que mal se per- ^brancos

em res pioduçoes:foi obsequiosamente oferecido pe- b 0„ se adivinha apenas, que Camões e jao , cena esc ,_a rmta derradeira musa dos seus dores "„ão

precisa bem nem sc toca; 56: "Fragmentos e "Ba^mo ,tapondeíavel poeira, odorante e poesias compostas em 53.

sua derradeira musa, a quem con'ciente, prometera, nas quadras deabertura, as palmas que por ven-tura houvesse dc receber, com apessoa, mal velada pela inicial Jà qual se referem os versos escri

poeta Mucio Teixeira:

can tares:

TUA VOZA' J.

A tua voz vem d'alma. fresca e ouraComo um balo de infante adormecido:Se cantas — dás '"""Se choras¦

um raio de ventura,-tudo chora ao teu gemido!

Quando mc deixas, longo tempo aindaOuço-te a laia — música divina.Que sai sorrindo dessa boca linda.Harpa mimosa que kó Deus alma.

A lua voz me alesra e me embriaga;Assim a Diisa. dc perfumes rica,Sussurra nos rosais, suspira e afaga...Passa, ê verdade; mas o aroma fica.

(Janeiro. 1860)

Conheci-a em 1883. Chamava-seJoaquina Peixoto; e tinha um ir-

"",*¦" «..o » mmo a emana- Apesar, porem, dos modiur.esSS*'\maqUdivUade° esSSva obsoletos dos gemidos simulados,fadiosl tudo isso, que encanta as mais das vezes, dos termos sas-fasdna' que comove e acalenta, tos das expressões vetustas, san-„ v^Hnrleira a rara, a essência gue e corpo da escola romântica,a veidaclena, a ia ia, ^ ^^ sptárit)s teve ..„ Bra.mS

ele M poeta na mais le- sil ainda hoje nos sentimos em--Mima sínificação do vocãbulo. polgados pelo prestigio mirõcuiu-Não cei âmeS, como o enten- so de muitos de seus carmeõ, vieX, _S erandes gregos, que fa- em cada um de nos, recoruaia,ztam da arena a continuação da como suave reiiiiniscência ullatl-ziam "» ";™

niiria sempre em va, os tempos jocundos da menl-asSoe ttnto CtribS como nice e as fases idílicas d. pnmel-IfaSeaío, inspirando-lhes ra moeidade.Sfsruiso ou o hexâmetro. não! Florirão com viço eterno as a-Síf. «veitíu sentimentos suaves trotes amorosas, que se enfeia-^-nTi emoções ternas. Se n&o ram sob as epígrafes Minha Mae,tran.,mitm e™.c;ioeass5^1ral. na tuba Deus!, Amor e Medo, Meus oi,.

.\ j. . - _-...__. n cila inas Nn I.arteve alento .canora c belicosa, tanto que a sua anos, No Lar, A' morte de Mésse-

Joaquina Peixoto; e unna um ,,- canora e "*"£™' ""- J „or de der, No leito, cunhos indeléveis de

mão, também poeta que foi cola- „bra nao «<«mece aa» ns^ vu aeaUmas

borador da "Semana Ilustrada uma clarmada de "it?™^J'_uv_f'„ ^otl„"irf„. í„ „,„ .i.innnmi, ,s„com o pseudônimo de Luiz D'A1- preto,, os suspiros ua saudade e a definidos da sua fisionomia, t&o

¦rulos Se n ode que duradoura quantes aqueles que uni• " — -,:~ ~;~j~ K-1S" patrícia man-mão comovi-^^rtVr^gTção^&sS" SSfSK ^''de"se-íembro:,éa- dia ainda,.a gratidão patrícia man

Quantdo a visS"^a"=a ^^ «Tm*"«^"g: ãfnf^SãS indcstruUvc.vez, já viuva, morava ela emJfco tando ate findar em limiu das ^^Domingos, na mesma habitação, vor ao »"Peiante, wj» sussurrantes de um dos nossosonde Cas miro costumava visita- «Amer e medo i™="íf1" m, ual.oues"quando

solteira. Era uma resi- ;6es «brazados a que "^««^ «"ffli, aos 23 anos, levou par.

dencia campestre mas conforta- tênue penus ™ f

™™2 °01.ua. 0 túmulo a certeza do que valeu,

vel. de jardim a frente e vasto po- „0SSOs feitos mUHau» o ^

is lhe ,oi dad0 conhecer. antes

mar aos lados e que se esttndia dos com a 1 b=rt»vao ae^ un MP v° , ,fepor muitos metros de fundo. Na amigo, nao lhe meieteiaiu «m ^^ ,„í.„„,„^" „„_«„ _,„„_,_,„,_,„_.

a respeito dos de pág. 226, diz:•poesia toda de um carioquls-

mo seresteiro, que nem textode samba..."

Apesar disso, Casimiro, sim.me parece um irrealizadu emamor, em que não seria preço-ce, mas atè atrasado, ficandoem minúsculas libertinagens.ma:s de imaginação, nos seusnamoros borboleteantes, poetado amor juvenil, bem pouco ( . ssa e ainda se tornara

por niuiuis nio».".. ».- .•-"--•,„;— ",""«¦•• •Ti;,i"„" „urei,ndo ao mc- dele formavam. Ditoso acabamen-sala de visitas havia dois preaosos simples dístico e=tieitaao ao |)01,tallto,

entre magoas e bcn.quadros emoldurando desenha, de „cs, por ^"fêSSaSS e os di- çãos! E aquí me refiro ã lalsa no-Casimiro, que os fazia primorosos, ças, os esto apauonm ^ ^ ^ ^^ ^^ o(.m_quadros

EssTUniiòra SiIsTun,' único fi- iúcúios dalma nunca. i_ n.__i_. _.,m mnn-Pii _-,„i»„^«m mnll-inr tom O em fins

ecoando em lo-Essa senhora tinna um umeo u- íuçuios ua,, » ¦ ""-

iue « do seu rido em Nova Frlbui_go.lho. chamado Mario que moneu acharam melhoi tom que ^ de ^mna flor da juventude, em 84. ou Instrumento d fâo de6C0„s0|a(jameme.85 e era o retrato vivo do Canto» Mas.

^ens.bUiz.u veino se v

das "Primaveras" que morrera moveu moços,_ se «ns-iou in» ^ adjeUviçào fimé-

onze anos antes de seu iiascunen- e ™balou berços se aos i.uzes^ v deram; antes

to. Digo isto em abono da honra- sorrir « »f ™e'l mvswt emrlu» chamíi-lhe bemaventurado, por-

tidade materna, pois a semelha n- se aos seus cantos mu ires espnn .„„„,_ . „„„,„„„-„ .,„ „„.,',.;,„._ça era lal. que fiquei admirado, se fundiram e muitos 'a^ssetor_ssim que o vi pei '"•"•"' '""

Não è demasia

quanto a afirmação do seu íníor-túnio á que o tornou amado, mais

é que. tendo morrido pouco de- marguvad0 pda' situação dra- n homem práticopois de ter atingido os 21 anos. ™»|

resultvante da tiI.an,a ""^S™o drama da tuber-

nao teve nenhuma precocidade. paterna a quel.er ihe abalar o culose râpida nâo inspirou ao

-im-que.0 ^e,asSa^VtSa IZili ÇSS-2? fSSsfSS. do q„e a.guns de remises ma„solecismos. repetições, desliscs de

estilo* imsçens plebéias, homolo-r.ias. colisões, hiatos, cacofatos eEinccpes?

tendo poetado como se deviapoetar naquela ocasião da vida,'íom os dotes que Deus lhe deu.Pnuco intelectualizado ,no sen-tido moderno de poliramento),_P^"orit,fineo oortanto. gentil,suas dores são lineares, Iguais àdsnueles mancebos que pensam .• ¦

lados e sem alegria uuno -nicidio só rara dar remor- distraçà0 aiguma".so às namoradas. Entrega-seao desoeit.o às vezes de modocensurável, como para a vir-gem que nreferia a dansa àcompanhia dele:

*Tens razão! Mais vatem risosFineidos. desses Narcisos— Bonecos que a moda enfeita -¦Do tiue a voz sincera e rudeDe quem. nre*pndo a virtude.

estro. Nem bem dramática, nem ta paginas sérias. A doençabem tirania. Nào acredito mui- pal.ece que o abafou iateiri-to nsquela expressão de uma mepte. tanto mais quanto nâosua carta: ..."maldita a hora dcseiaVa na verdade morrer.... . .„,»» „.,. mocQ e n0 prefàclo das primu-

verás, dizendo que seus versoseram "trovas de mancebo"."flores próprias da estação",prometia

"frutos de outono". Equais teriam sido os seus frutosdo outono? A edição teve para

em que comecei a fazersos! (pág. 339). Ou de pág. 340:

com aporrlnhação de to-

O pai escreveu à casa dos pu-trões do Poeta autorizando-oL . _.-_,.dar o dinheTO para a edição mim a importância extraordidas Primaveras: "se achavam nária de me revelar Casimiroaue eu assim cumprirei melhor prosador: seriam obras de pro-as minhas obrigações". O velho sa, de ficção, levemente humo-não era lá muito irredutível: risticas, discretamente maçha-

gaste-se a'gum dinheiro para deanas, como aquelas páginassatisfazer a veleidade do rapaz surpreendentes de Camila, Me-

o» atavios rejeita. (ele j^,, pjdjra em carta), que monas de uma virgem...

possantes e que mais alto pararam.Essa famosa desventura de Casi-miro íoi talvez invejada por Tel-xeira ds Melo sepulcro de si mes-

O oue Casimiro tinha a contai, mo, como expressivamente disse e,trarismit-a-o losó ao cracão para quiçá anhelada por Luiz Delfino,oue as uuls-cões não se lhe enfra- ainda hoje desconhecido na suacmecessem nos rodeios dos Moer- terra, para falar apsnas de doisbatons. P3rdendo de vibração, cis dos s:us contemporâneos,durezak das anastrofes. usou. ools Ditoso, escrevi afinal, pelo re--onstantemente. da ordem direta ceio de o ver, numa existência•"iDnpisuoiuodia :otijiuS>s atib mais dilatada, emudecido e mc..-não emme»ou (amais' cs artifiuis qulnhouou, o que e peior. decadentedos ersamblamentos - o que Ua- e aviltado, como tantos de nos, naduz- dominio de conceito ooccd ultima estância da vida!a emitir- jogou com quase túóns Assim, quando me ajoelhei dian-as metrifl-ações - o que criri- te do humilde jazigo do cantorme- po,«se con_i?nte de ritmo. das "Primaveras-', nao pense, «-

Não tratou talvez por ,dt.«li- quer cm balbuciar as orações crls-crasia, o octasllabo. de cuja ca- Ms .apreendidas oa puencia; mudencia Machado de Assis, seu repeti, instintivamente, como pre-contemporâneo, tirou lantos efe;- ce, aquele alto dfsejo seu. bemtos musicais: nem chegou a com- presto realizado. E. so enlao cou.-preender es preceitos do alexa,,- preendl o motivo pelo qual man-drino, de cujo segredo Teixeiia dc dam se leiam poetas no lugar mes-Melo, seu companheiro, tão de mo das suas creaçôes. afim de quepronto se apossou.

Não deixam, todavia, de ter in-se sinta o intimo laço que une a

(Continua na página 157)

—.—.———

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PAGINA 1S> — 8UPLKMKNTO LITERÁRIO D'A MANHA DOMINGO. 11-laMMI jMk

PÁGINAS DOS AUTORES MORTOSA casa da rua Cosme Velho

(Di

n. 48, antigo 18 - "'<1

I rmkW (Discurso de Olavo itii.-u-,hHL AO l' *l na '«iiHKuracáo tlu pl.iiM~ comemora Uva a Machado

de Assis)Poucas palavras, poucas e carinhosas, devem ser ditas aqui.

para que em tudo a comemoração seja digna do comemorado.Seria' uma ofensa à memória do mestre qualquer manifestaçãoque destoasse da sobriedade encantadora e do recato severo quegovernaram a sua vida artística e a sua vida intima, a sua teo-ria l.terárta e o seu estilo. O culto deve ser sempre adequado aonome: buíhento e borbulhante, para os que tiveram ou .teemamor da adoração, pomposo — e simples e pensado, emais tecido de ternura e de respeito do que entusias-mos para aqueles cuja sublimidade reside mais na soli-dez do que no brilho, mais na verdade do que na aparência,mais na harmonia temperada e justa do que no exalamentonem sempre fecundo. Qando se dirige a certos homens, aindaa mais ardente admiração há de ser calma e raciocinada, sequiser honrar a seu objeto. Machado de Assis temia acima deludo o barulho e a cintüação das palavras vasias, que tantoagradam aos espíritos íuteis. A sua face triste e suave, o seumodo natural, a brandura da sua palavra e do seu gesto, a mo-déstia dos seus gostos, a moderação dos seus juízos, a sua filo-soíia que condenava como os crimes, as cegueiras da paixão, e oseu estilo que repudiava como vicios ou exageros retóricos, —torto nele aconselhava e pedia, não o aplauso frenético, mas asatisfação sincera e a consideração inteligente; tudo nele pare-cia dizer: nào me admireis; amai-me. e compreendeí-me.

Amaram-no com extremada ternura os seus íntimos; com-preenderam-no e compreendem-no os seus companheiros e disci-pulos, os seus irmãos em arte, aqueles que, pelo hábito de pensare de escrever, podem sentir e entender o inegualavel tesouro deidéias e de expressões que se encerra nos seus livros, monumen-to perene votado à glória da lingua vernácula. Não o compreendeuainda todo o seu pais, porque ele foi de algum modo um hon.emsuperior àsua época e ao seu meio; mas essa compreensão unâ-nime há de vir com o tempo, com o aperfeiçoamento progressi-vo e fatal dos homens, com a fixação definitiva de uma culturageral que já começa a afirmar-se.

Então o mestre será admirado, com admiração conciente eprecisa que a sua obra requer; e a história da nossa civilização háde guardar, com orguho, esse formoso legado, esses livros emque o ceticismo vive de par com a diedade, em que a misericór-dia pela miséria humana tempera o amargor da ironia, em quea descrença é adoçada pela bondade, e em que as idéias, meigasou duras, de tolerância ou de revolta, sempre se vestem de umaforma pura e nobre, simples e majestosa, aliando a força àgraça, a energia ao bom gosto.

A ceremonia de hoje é intima. E' a romaria dos primeirosfieis. E' a primeira peregrinação dos que sentiam assoberbadoculto. E é a homenagem da família ao chefe que perdeu.

Um dia. descrevendo a austera figura de -Spinoza, em um.soneto de rara beleza. Machado de Assis mostrou-se o filósofo,grave e solitário, no seu retiro de lida e pensamento, apartadodas vãs ambições, das cobiças grosseiras, cativo apenas do mun-do interior de suas idé^.s:

"Soem ca fora agitações e lutas,Sibile o bafo aspérrimo do inverno.Tu trabalhas» tu pensas e executas.Sóbrio e tranqüilo, desvelado e terno,A lei comum e morres, e transmutasO suado labor no prêmio eterno..."

Inspirou e ditou estes versos uma afinidade real entre doisespíritos de eleição. Sem o temperamento, nosso grande esentorteve a mesma dignidade de vida, a mesma abnegação modesta amesma escravização, o domínio exclusivo das idéias — e o mes-mo gosto da solidão, que. em certos homens, nâo é timidez, nemorgulho, mas somente a tristeza de quem se reconhece diverso docomum das gentes, e fadado a viver, senão ignorado.ao menosmal entendido dos seus contemporâneos,

Como não recordar esses versos, na visita que hoje fazemosft casa do escritor, filósofo, um ano depois da extinção da suavida?

Aqui viveu Machado de Assis vinte e quatro anos de trabalho«em trégua e de pensamento inc?ssante. Neste quieto recanto dacidade- longe de "agitações e lutas", fugindo à curiosidade púbioca. ao louvor da mítídão, à popularidade fácil, e à sedução bri-lhante, mas estéril da política dividiu ele o melhor da sua exis-têncía. vinte e quatro anos da sua maturidade fecunda, entre ogoso recatado c!a sua felicidade doméstica e o goso igualmentediscreto da sua arte.

Aqui sonhou- aqui penou, aqui edificou a sua glória. Noitealta, entre estas folhagens amigas, que resguardavam zelosamen-te o ninho do seu afeto e a oficina do seu pensamento, brilhava.o clarão da lâmpada que alumiava a sua operosa vigília. Conhe-ciam-no bem estas árvores, estas flores, e as aves que o saúda-Tam ao romper da manhã; todas as coisas inanimadas e todosos seres inocentes deste poético retiro conheciam e amo vamaquele austero e aquele meigo beneditino, voluntariamente clau-surado na tarefa paciente e no sonho criador.

Aqui experimentou ele, com a satisfação de ser amado e comas agruras dos padecimentos físicos, o prazer de tratar o id'omaque prezava tanto, as torturas da análise interior, cs sobressaltos« angústias da criação literária, a febre a um tempo deliciosa ecruel da composição, e a ânsia dos que correm atrás da perfei-ção esquiva... Daqui sairam muitos dos seus melhores livrosvasta cadeia de primores, coroada por essa flor de saudade eamargura, por esse amável "Memorial de Ayres" onde. sob o véude uma ficção romanesca, alma viuva e fsrida do escritor célebrena virtude e na ventura de um lar modelo, a antiga ventura e aantiga virtude do seu próprio lar eniutado. Aqui, por vinte equatro anos, ele trabalhou, pensou, executou a lei comum, mor-reu e transmutou."O suado labor do prêmio eterno..."

E aqui vem hoje a Academia Brasi'eira trazer-lhe a expres-são comovida do seu respeito e da sua saudade. Perdendo o mes-tre. nâo perdemos o exemplo constante, a viva lição, o modelonobre que ele sempre nos foi. Há de acompanhá-lo na morte omesmo afeto que lhe dedicamos em vida. Aqui vimos e/viremos;e aqui virão, quando tivermos desaparecido, aqueles que nas su-cederem.

Já, três de nós, depois de Machado de Assis, no escasso prazode um ano, desertaram também, levados pela morte, do seio da

companhia. Mas toda a nossa força reside na continuidade mo-ral da nossa missão. Não nos sucedemos apenas, também nos con-tinuamos; mudam-se os nomes, mas fica o ideal que os encadeia;há de perdurar, na Academia, exemplar e consoladora, a memò-ria do Mestre. E há de o tempo morder c devorar esta placa dcbronze; hão de as soalheiras e as chuvas arrumar e aluir estacasa; — mas se um horroroso oataclisma social não dispersaresta nossa raça e não aniquilar a iínsua que falamos, a nossaromaria dc hoje terá sido o inicio do uma glória perpetua.

Rio — 29-9-900.

2 1 A CARTA(DA NOIVA MORTA)

Que lindas são neste papel lunçailiitÀs suas letras \inas e elegantes!Qimis inda esláo de lágrimas banhadas,Al jorradas de lágrimas brilhantes:

Quais inda o alar de suas mãos nevadasTem nas trêmulas liasles einlilnnlcs...Carla, cubro-te as páginas amadasDe um dilárin dr Lei'as n-l-mnles.

lila fiassun seus dedos oi ae rasaSobre estas linhas. Sinlo-lhc o ferlxtme...A pena aqui voava-lhe nervosa.

Aqui — Saudade — vejo escrito, vejoO sinal de num lágrima, c o queixumellá na papel e a mús ca de um beijo.

AI.ISb.KIO UE OLIVEIRA(Cidade do Rio — 23-10-S8) — I8SC1

espaço errante, ale qnc encotx-traiulo um ninho no ci-rcbio ileum poeta, p'ra dai lu.-: e enmn-lamento aos sonhos do pensa*atento, nessa \rmile te aboleta,

Desde então nas alegrias ,,„tristezas dos cantores, evotavninpetos ares as mágicas Sinlonnsque o poeta màvioso nas ninasouvir fazia, quando ins pira-fotangia o ataude louoroso

li,s porque nào há sereia ./uetanto, tanto seduza, eomo essaencantada Musa dei-' - h,n-mundo Corrêa

D Ftl.XtV/i..( Novidades (lc I-C-NS7).

4 ,uLemòrançasde Petrópolis

3- El . , . x Rai mudo

SpigaS históricas - CorreiaEra um dia um gemo horren-

do, e gemo do liarbarisino, quedo seu Ircvoso abismo formosaprinceza vendo, tâo encantadoficara por lat beleza csplcndeiüc,gue o lero monstro insolenleconquistá-la então jurara.

Era a princeza jo intua, quejamais seria sua, filha do mar eda lua. nascida em noite formo-sa.

Embalada pela vaga, no ber-ço leito de espuma, como abranda e leve phtina qne o veniode plaga em plaga, inconstanteva% levando, assim ela petaságuas, fugindo às terrenas má-guas, ia aligera boiando

Era seu corpo formado dettma pérola intente; seu odiarera lulgoilc, pot lu: mciyaahtarada. Afirmaui que por en-canto, sc por acaso cantava, ostormentos serenava com seudidcíssono canto.

Que paixão ardente e loucanão tinha por cia o vento, queao passar, como um Lincuto, sc-gredava-tlie em voz rouca umafrase apaixonada, ou as tnsto-tiltas endechas das suas eternasqueixas, que ouvia ruborizada.

E a princeza, sem clemênciapor tanto amor, lá seguia, can-tandb a etetna alegria da suaeterna inocência.

Como disse, o genio horren-do, o gemo do /'arharismo, quta vira uni dia do abismo, puta-ra-lhe amor; mas vendo que itaa tudo resistia, que dele se ho, ¦rorisara, desta \orma sc v.ngata,sequestrando-a à luz do dia.

Numa caverna medonha, emdura rocha cavada, cie quataoenclausurada a Princeza gue cmvão sonha com um principe \or~moso que apareça, porventura, edaquela scpullwa a tire, e após,amoroso, tta paixão a mais cstranha, só lhe peça em recompensa que ao seu coração per-tença por tão heróica façanha!

Mas emhalde assim sonhava aPrinceza na enxovta... Vinha anoile, e vinha o dia... to prxn-cipe não chegava!

Todas as tardes o horrendo c

min gemo vinha vê-la e puniu-se a convencê-la dc que ao senamor cedendo, teriam ambos, nuvida, por lelio as verdes al\ombras, por docel as negras som-bras. .. e ventura indefinida!

Porem cia, sempre esquiva,ao \ero monstro dista que jamaisa venceria, quando mesmo as-sim cativa ele a tivesse, porquan-to, cm tão triste isolamento, emvez de contentamento, ele sócausava espanto!

E o gemo mau, atrevido, omonstro feroz, horrendo, cons-tància tal não vencendo, là saiaenraivecido, p'ra vir de noio,amoroso, àquela negra enxoria,na tardinha do outro dia, e sairmais \urioso!

Ass-m vivia a princeza, seuduro lado carpmdo, sem ver aluz naquele inf indo cativeiro...

Mas, surpresa, um dia pracima olhando, viu de uma fres-Ia, espiando, um raio de sol quea tinha, ua sua carreira, lesta,ouvido daquela jresta, e queconsolá-la vinha

O raio entrou curioso, e foi,tímido brilhando, da princeza ospés beijando todo em ânsias,amoroso. . .

Depois fot indo. e foi indo...E a princeza em tais caricias,

sentia as doces delícias de umprazer ideal, inf indo. ..

E o raio foi dos artelhos, nassensações as mais ternas, sttbw-do, beijando as pernas, e daifoi aos joelhos... e cada vesmais fremeute. ele foi indo, e foiindo, e foi subindo, e subindo,até á fronte esptendentef...

E a princeza eutebrecida porventura tão estranha, sentiusensação tamanha, que caiu en-languecida.

Deste consórcio ditoso, naqtte-le langue desmaio, nasceu logoelerco raio, tào rtdente e taoformoso, que tinha a luz quepompeia no assetmado das ro-sas, e as canções fantasiosas aavaga que beija a aretaf

Fugtndo ao antro mesquinho,esse raio fulgurante andou peto

Raimundo CorrêaE' a cidade amena c aeliciosa;E' a verde Petrópolis cm fiar.E' Petrópolis, siíli, onae, sau-

\üosa.Cada palmeira uma lembrança

iexuiaDe Teresa e do velho Impera*

[dor;E' Petrópotis bela, qne assim

[Ia aNum claro dia da estação cai-

imo.tt.Peta boca de amargo trovador:

"Vem nos ares salubres ãa[monianua

lavar-te, ó musa cortesá. 10-I mat .1

Como o lirio, que o seio aquiIdcsccrra

A frcsquidâo ambiente, a atma\se banha

No higiênico fluido matinal ..Vem I Galga de Petrópolis a

\se-ra,E dos tens borzeguins. no Pin-

[banna.Sacode o pó da infecta capital!"Bem que prefiras cerimônias

(fetfnsAo gesto simples da serrana

\alvar.Despe o teu corpo de penadas

| sertotsE, vestida de pétalas, a gosto,Vem meu hálito puro resmrar;Vem percorrer-me as larnas

\alameiisDe maavóUas, sentindo con'ra

|0 rosíoGolfadas âe bom ar...

"Aqui verás, em breve, como\ odeias

A capital, com asco e lti'H-\qnacâo.

Ela é um monstro hediondo -intentas vetai

Canos de esgoto — em vez 'te\sanque ^utsa

A vasa e a corrupção 'Em mil betesgas de tmvniicie

\cketas,Todas as fezes, que o Euroneu

[renulm,Là, em monturos, fermentando

\ctao í"Teu ódio. contra os pr&orios

\moradnre$Da estrumeira dos povos h»*a-

\mirá.Políticos sonmdos vela órma.Agiotas, barões comendadores'Repúblicos emborai; tanto* hãQue, fugindo o verão e aos sem

\oueimores,O que ganham por lá dnrn-"*e

Io dia.Durante a noite vêm gastar rm'

\cá."Musa, enxota-os de mim, rai-

| vosa e b*'i.Que os não veia eu. de novo. evi

\mens umbrais,Deixa-os ferver na rü Gomor-

t'a: — é ncaQue das outras nações a tirva

Ieicó'iiFerve, como em caldeira" m-

[temais fA febre ão ouro, on antes a

1 "amarela",Em que arde a cavital auei-

\me-a, devore-n tE não pensemos em tal coisa

[mais /

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^.a»!ava,t,„S;,..,.,;>JÇ.

DOMINGO, Íll-U-MM SUPLEMENTO LITERÁRIO D'A MANHA — PAGINA Ul

Da correspondência de Casimiro de AbreuCorta a seu amigo Franciscodo Couto Souza Júnior, resi-

dente em Porto das Caixas

Rio 27 de outubro de 1858.Querido amigo.

Li a tua carta e a merecidaacusação do meu silêncio.

Que queres? Eu sou dumapreguiça e dum desleixo incor-rigiveis, mas sabes perfeita-mente que isto nada influe nosmeus sentimentos. — Sintomuito dizer-t« que ngo fiz, nemtaco a tal glosa que me pedistee espero que não te hás de zan-gar comigo por tão pouca coi-sa.

— Não me fales mais em Pn-maveras, maldita a hora emque ou comecei a fazer versos!Parece que por uma fatalidade

todos os que teem essa maniahão de sofrer constantemente!Bem sabes o desgosto que meacompanha e que me tem mu-dado o gênio para* uma triste-za que nada consola; bem sa-bes a luta constante em quntenho vivido, porque infeliz-mente não tenho um Pai, comoos outros que auxiliam e pro-tegem a vocação de seus filhos.Tenho sido sempre contraria-do em tudo. Hoje tenho o meufuturo perdido e a minha moci-dade gasta moralmente. Amar-raratn-me numa escrivaninha,querem que eu siga á força umacarreira para a qual não possoter inclinação, e querem queeu viva satisfeito!

Há pouco tive uma decepçãoque tirou as minhas últimasesperanças e fez-me quase des-crer. de tudo e de todos. Digo-

te confidencialmente como deamigo a amigo e espero que nãodigas a ninguém.

Paz hoje exatamente um mèsque escrevi a meu Pai pedindolicença para a publicação domeu volume, e também di-nheiro para isso — (que é oprincipal e úunico motivo por-que ainda não tem saído),Ainda não recebi resposta ecreio mesmo que nâo me ha-de responder. Outro dia fiqueitão zangado que mandei umapoesia levada dos 600 diabospara o -Mercantil" mas o Ota-viano não a quis publicar.

Tudo isto me entristece e medesgosta ainda mais, e depoiscu tenho feito tanta asneira egasto tanto dinheiro à toa quetenho medo de ir em dezembroá fazenda ajustar contas com omeu velho. Parece-me que se as

coisas não mudarem eu mato-me ou fujo e vou ser marinhei-ro... Tu não podes fazer umaidéia da dor que sinto por terperdido a minha carreira e davida triste que eu levo, com des-gostos de familia, com aporri-nhaçôes de todos os lados e semalegria ou distração alguma.

Também dizes que estás tris-te e eu vou logo perguntar aoTomaz qual a razão. Faço idéiaque hâ de ser volta de namoro.Ao menos és feliz porque tensnamorada e tens a certeza queela te ama. Eu nem isso! Vivocomo um monje. e com o meugênio esquisito não acho pe-quena que goste de mim (talvezporque não procure).

Gostam dos meus versos masda pessoa nada sabem, e eu es-tou aborrecido que nem me im-porto com elas. Quando quero

... vou ás mulheres de Már-more, gasto os meus 5$000 e-não tenho jeito para paixõesromânticas. Qualquer dia voufazer um anúncio dizendo ueo meu coração está devoluto equem quiser que tome contadele.

Feliz quem ama e é amado!Não se pode ser moço semamar, e é por isso que eu soumoço em anos e velho caducona alma.

— Agora vou perguntar aoTomaz qual o profundo des-gosto que te faz andar triste.Se não somos irmãos pelo san-gue sejamos ao menos pelasdores como sempre temos sidopela amizade.

Teu do coraçãoCasimiro.

A vida e a obra-de FagundesV I Paulino Neto

VilA OBRA Dlü VARELA

E, no entanto, nào é nomogê-nea, una, apresentando em to-dos seus elementos o mesmo qui-late, mantendo em todos os poe-mas que a compõem a mesma ealta qualidade dos mais nota-veis entre eles. Comparando-a,por exemplo, com a de umgrande poeta contemporâneo,com a obra de Bilac, esta. porcerto, é muito mais igual, maishomogênea na sua perfeição.Bilac é sempre Bilac, tem sem-pre o cunho próprio e únicoque, em qualquer de seus ver-sos, marca e assinala a sua per-sonalidade, o seu modo espe-ciai. E, no dizer dos críticosmais autorizados, "um dos si-nais pelos quais é posivel reco-nhecer os homens de primeiraplana, parece que é um certotimbre de uniformidade de quetodas as suas obras se apresen-tam marcadas". Ora, Varelaproduziu muito, produziu semmétodo, trabalhou sem ritmo;muitas vezes terá composto,mesmo, sob a ação mais ou me-nos forte e perturbadora do ai-cool. E por isso, embora nota-vel em seu conjunto, a sua obranâo deixa de ser. entretanto.desigual, incerta e vária. Alau-mas monofonias, alguns versos

CELEBRANDOCASIMIRO DE ABREU

[Continuação da -página 155)obra aos costumes, ao céu, e à ai-ma da paisagem:"Quero morrer cercado de perfumes

Dum clima tropical,E sentir, expirando, as harmonias.

Do meu berço natal.

Minha campa será ent re as ma n[gueiras,

Banhada de luar;E eu, contente, dormirei tranqüilo

A' sombra do meu lar.

As cachoeiras chorarão sentidaspor que cedo morri...

E eu sonho no sepulcro meus amores,Na terra onde nasci".

(Meu lar — Lisboa. 1857)

E naquela tarde, casta e iumi-nosa, alheio a mim mesmo, quedeia haurir ignoto perfume. escutandouma harmonia, uns soluços e unssuspiros tais, que dantes nunca oscuvira nem sentira, pTque i.á.>vinham das coisas circunstantcs;eram murmúrios, vozes e aromasde um mundo quimérico, que ib.iao pórtico para o meu sonho, aii àbeira de uma sepultura...* * *

Sempre que de qualquer cidadeda antiga Helade saia uma coto-ma — dizem as crônicas — levavaa expedição a imagem do deus —patrono, e, com ela. atiçado e vi-vido, o fogo santo! Atingida queíosse, a terra de adoção, escolhiamos emigrados uma colina para otemplo, depositando aí, a efígie ve-nerada, e mais o lume em que paraeles crepitava a alma da pátrialongínqua... .

Se para o doce lume tutelar/acuja sembra me acolhi, imo pútíeerguer um templo que chegasse '*¦entestar com as nuvens, senão unipobre nicho humilde, não deixareicontudo, que. diante de sua una-gem. se apague nunca a chamavottva do mais fervoroso dos aí'.-tos e o incenso puro da mais en-terneclda saudade.

frouxos, outros duros, muitoscm que o poeta ficou estranholiitelrameiiie ao trabalho doversejador. Mas nos seus poe-mas. por asim dizer, padrões,naqueles, e são inúmeros, emque ele empregou o melhor deseu espirito e de sua forma, emque deu a medida Justa de seuestro. Varela também e sempreVarela, inconfundivel e único,na música no estilo da frase,na cor das imagens, na técnl-ca do verso.

Um dos grandes defeitos dealguns de seus poemas e que"Pranklin Tavora" aponta, é oabuso dos adjetivos, a adjetiva-não imprópria, excessiva, de talmodo que quase não se conse-gue encontrar um substantivosem o acompanhamento de umatributo qualificativo qualquer.Dir-se-ia que ai o adjetivo en-tra. não para completar a idéia,para colorir o conceito, para ex-primir uma qualidade integran-te do pensamento do artista,mas exclusivamente para com-pletar o metro, para acabar overso ou fazer a rima. E' ver-dade que "Musset". já em 1836.na "Revue des deux Mondes",apontava a adjetivarão comoum dos vícios dos românticos desegunda plana. Mas, mesmo osgrandes românticos, não esca-param da pecha por vezes, e en-tre eles o nosso Varela. E odefeito, então, se avoluma quan-do o poeta força o estro em gê-nero estranho ao pendor na-tural de sua inspiração. Lede.por exemplo todas as poesias do"Pendão auriverde" e vereisque não é exagero; a adjetiva-ção é mais ou menos canhestra.em todos esses poemas, na maio-ria inspirados pela chama da"questão Christie" e, muito em-bora o livro tenha lhe dadouma Imensa popularidade nomeio da opinião pública, exa-cerbada pela brutalidade desas-trada do ministro inglês, aí Va-rela fica muito abaixo de seupróprio estalãn. E' que lhe nãopulsava nalma a veia patrlóti-ca: tanto assim que como ob-serva um de seus críticos, aguerra do Paraguai transcorreude princípio a fim, com lancesnão raro emocionantes, sem ar-rançar, ao que se s:-.iba. umaestrofe sequer ao vate flttmi-nense, que, na época, era noentanto, o grande poeta do sul.Ao contrário, o gênero épico,condoreiro. patriótico, nos poe-tas do norte, já havia atingidoum cliapasão altíssimo nas es-trofes de fogo de "Castro Al-ves". de "Tobias Barreto", de"Vitoriano Palhares".

Mas, em compensação, quan-ta beíeza de sentimentos de ou-tra ordem cintila. através de re-quintes de forma e de metro,nos versos de Varela. Quantasingeleza, quanta naturalidadena evocação, mormente quan-do, poetando em sonho, cami-nhando talvez por aquelas lon-gas estradas, que tanto amava,ele se evadia para o tempo fe-liz de sua infância. Escutai-ofalar em "Juvenilia":

"Saudades! Tenho saudadesnaqueles serros azues,Que a larde o sol inundavaUe louros toqoes de luz!Tenho sauõ'.tdes dos prados.lios coqueiros debruçadosA margem do ribeirão,E o dobre da Avc-MariaQue o sino da freguesiaLançara pela amplidão!Oh! minha Infância querida!Oh! doce quartel da vida!Como passaste depressa!Se tinhas dc abandonar-me,Por que, falsaria, enganar-meCom tanta meiga promessa?Ingrata, por que te foste?Por que te foste, infiel?E a taça de etereas ditas.As ilusões tão bonita*Cobriste de lama e fei?

Ou, então, quando da humil-dade de sua pobreza, da modés-tia a que o reduzira um ve-lho complexo de inferioridade, opoeta modula um cântico dcamor tão triste, tão de vós co-nhecido e que ele por certo re-citava como quem rezasse:"Não te esqueças de mim, quando er-

[radiaPerder-se a lua no sidêreo manto;Quando a briza estivai roçar-te a

[fronte.Não te esqueças de mim, que te amo

[tanto,

Não te esqueças de mim, quando es-[cutares

Gemer a rola na floresta escura,E a saudosa viola do tropeironesfazer-se em gemido de tristtira.

Quando a flor do sertão, aberta a[medo,

Pejar os ermos de suave encantoLembra-te os dias que passei contigo,Não te esqueças de mim, que te amo

{tanto.

Não te esqueças de mim, quando a(tardinha

Se cobrirem dc névoa as serranias.E na torre alvejante o sacro bronzeDocemente soar nas freguesias!

Quando de noite, nos serões de In-[verno.

A voz soltarcs modulando um canto.Lembra-te os versos que inspiraste

[ao bardi."Não te esqueças de mim, que te amo

[tanto.

Quando os anos de dor passado nou-[verem,

E o frio tempo consumir-te o pranto.Guarda ainda uma idéia a teu poeta,Não te esqueças de mim, que te amo

[tanto.

Onde Varela, entretanto, atin-ge, a meu ver, culminânciasnunca mais igualadas na suaarte, é rm manejo magistral doverso branco. Já deste versodisse o velho "Castilho" que sóera possivel nas "línguas de siformosas". Nele a ausência derima exige alem da melodia na-tural da-^ngua, uma intuiçãoaguda do ritmo no poeta e prin-cipalmente um conteúdo ideo-lógico de grande poder emotivo.Ninguém excedeu Varela nesteparticular; ele continua sendoincontestavelmente o mestreinexcedivel do verso solto, semnada perder de suas atualidadeseminentemente românticas. Overso sem rima exige realmenteuma língua especialmente me-lodiosa, sem o que não chega aser um meio de expresão poeti-ca. E, no entanto, entre osfranceses — que, segundo omesmo Castilho, "por mais es-forços que fizessem, não se H-bertaram, nem se hão de liber-tar nunca, da rima" — esta foio elemento preponderante do

verso romântico, segundo a ob-servação de "Lanson". Entrenós é o contrário que se verifi-ca — porque o modo de falaré suave, porque a lingua é belae já de si, sonora; foram os nos-sos românticos, desde "Gonçal-ves de Magalhães" e "AraújoPorto Alegre", que vulgarisa-ram e, muitas vezes, nas suasproduções de maior emoção, co-mo Varela, preferiram, mesmo,a harmonia mais sutil, mais re-quintada do verso branco aopostiço da rima, elemento pu-ramente melódico da composl-Ção.

No "Proscrito", no "Cânticodo Calvário", no "Evangelhodas Selvas", no "Diário de Lâ-zaro", os versos brancos atin-gem em Varela modulações tãoaltas e tão perfeitas, que aoescutá-los, — tão cantantes eharmônicos são, — não chegao ouvido a perceber a usênclaabsoluta de rima. E' pelo jogodas cesuras e dos hemistiquios.pela distribuição das tônicas edas pausas, apenas, pelo em-prego adequado dos finaistoantes, pela polifonia das vo-gais, e das consoantes, pela re-messa hábil ao verso seguintede palavras que completam opensamento do verso anterior,a que Os franceses chamam"enjambement". é pelo manejoperfeito de sua arte. enfim, queVarela consegue deste gênerodificil de versificação efeitosmágicos, só comparáveis aos decertas passagens de "Gonçalvesde Magalhães" em "Napoleãoem Waterloo", por exemplo.Mas tenho para mim que Va-rela o supera. Tivesse eu aarte difícil da declamação e ve-rieis a beleza musical dessestrechos do "Cântico do Calva-rio", a nênia imortal da língua,a elegia mais dolorosa que jáfoi posta em versos pela paixãohumana. Tendes tudo aí. des-de as notas agudas que tradu-zem a angústia lancinante daalma que grita e que protesta,até os acordes baixos, solucan-tes, em tom menor, de quemchora baixinho:"F < na vida a pomba prediletaQiii obre um mar de angústias con-

[dúziaO ramo da esperança!... eras a es-

[trelaQue entre as névoas do inverno ein-

[tilavaApontando o caminho ao pegureiro!...Eras a messe de um dourado estio!...Eras o Idílio de um amor sublime!..Era»; a glória, a Inspiração, a pátria,O porvir de teu pai! — Ah! no en-

I tanta.Pomba — varou-te a flecha do des-

[tino:Astro — ensullu-tc o temporam do

[norte'Teto — calste! Crença — jâ não vives!

Mas Varela era um poetacristão por natureza, penitentee contrito de seus próprios er-ros; é nitido em toda a sua obrao,sentimento de culpa — a cul-pa de seu vicio que o atormen-ta, a culpa que traduz tão bemno "Proscrito", em que fala aofilho, ainda vivo, e mais tardeem "Sombras", onde eu sintono fundo da tela humbrosa omeigo vulto de Alice Luande,

que tanto sofreu por ele. Eracristão e humilde e, por isso,aos acordes dolorosos, aos pni-testos de rebeldia, com que co-meça a subir o seu calvário depai, seguem-se doces melodiasdescritivas; a imprecação caiaos poucos, e ao fim a sinfoniade dor termina entre notas cia-ras e puras, num "andante vi-vo". quase "allegro", em que otema musical é «rna esperançaluminosa, a esperança do céu:"Mas não! Tu dormes no infinito seloDo Criador dos seres! Tu me falarNa voz dos ventos, no chorar das

[aves,Talvez das ondas no respiro flebil!Tu me contemplas là do céu, — quem

[sabe?No vulto solitário de uma estrela...E são teus ralos que meu estro aque-

[cem!Pois bem! Mostra-me as voltas do

[caminho!Brilha e fulgura no azulado manto!Mas não te arrojes, lágrima da noite,

Ías ondas nebulosas do ocidente!

rllha e fulgura! Quando-* morte friaSobre mim sacudir o pó das asas,Escada de Jacob serão teus raiosPor onde azlnha subirá mlnhalma'*.

Foi um versejador emérito,mas não teria chegado à poste-ridade se não tivesse sido tam-bem, um grande poeta, umgrande poeta que fez refletirem sua obra, com a sinceridadee a fidelidade qüe só as almasbem formadas possuem, todo oseu drama interior, toda a suavida. A obra de Varela reflete-!he a personalidade, em seuspróprios vicios, como em suasvirtudes, com a mesma natura-lidade, com que o espelho re-flete o vulto que lhe chega afrente. Hâ homens, e suneno-res pelo talento, que produzeme deixam uma obra. bela norvezes, mas estranha a si mes-mos; vivem num estilo e pro-duzem noutro. Varela não; ex-ceção feita de alguns ¦•pasti-ches", de algumas composiçõesprotocolares, de pura conven-ção — e inferiores por t.ssomesmo — pôs em cada verso* umpouco de sua própria essência eem cada poema um transe desua própria vida. Pena é quecada uma de suas produçõesnão esteja precisamente data-da; poder-se-la fazer-lhe a bio-grafia com os próprios versos.Mas de tal forma a obra espe-lha a vida do homem, que porela podemos recompor as qua-dras mais características, os es-tados dalma mais tipleos aspreocupações mais constantese. até, as obcessões mais lnsis-tentes do poeta. E é desse eon-fronto entre a sua obra e a suavida, que a figura de Varelasurgirá mais perfeita e maisbela, como homem, como poetae como cristão. Seria assuntopara um estudo empolgante noqual. tanto quanto belezas 11-terárias, encontraríamos erísi-namentos morais, porque, trans-viado e erradio. embora, ébrlo,pusilânime diante dos embatesda vida. Varela foi um bom eum simples, foi um crente e umJusto, cujo espírito provado portodas as amarguras, deixou mu-sicada em versos a mals nobreexpressão de h—.'Wod« cristã,

(Continua)

Page 14: imv©ISIS niw1®§ - BNmemoria.bn.br/pdf/066559/per066559_1941_00009.pdf · vivos do Brasil.nal — não parece que se Fórmulas suas, frases que O romantismo lá se foi, tenha criado

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I' iOINW ISS — SUPLEMKNTO IJTER IRIO D'A MANHA

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DOMINGO, ll-HMIII -€t

SECO~^W ^0>^ ' *^sH? ' JEcf

Uma questão de mitolo-M,/^ t ^i .1 // -- JOAQUIM RIBEIRO

gia nas Lartas L-hilenasConfesso que é para mim um qUe tanto num como noutro ca-

prazer dialogar com Afonso Pe- so> a idéia de mar resulta dena Junior, espirito de esplendi- uma metáfora, e é sempre fi-da erudição e de cativante ca- ^m-ailamente que se traduz avalheirismo intelectual. palavra suar pelo nome de qual-

Prazer maior seria poder con- quel. (jas deidades marinhas".cordar com o notável exegeta ora, esta asserção de A. Pena

Junior é que me autoriza a di-zer que o erro de apreciaçãoé de sua parte.

Vejamos a lição dos mito-gratos.

Tethys tanto quanto o Ocea-nn, ensina Arnaldo Foresti naobra "Mitologia grega" IMila-no. 13921 é considerada "divi-nitá cosmogõnica". E explica:"Come égl: é il padre imiver-saio. cosi Tethys era conside-rata come madre". E logoadiante: "Madri erano soventeehiamate le acque". (pág. 38).

E' sabido que os gregos an-tropomorfizavam as forças daNatureza. Tethys é a água omar. A sua representação hu-mana é que c uma figura, umtropo.

P. Decharme na sua "Mytho-

r'Ante-manhã,

garoa,

a luz se apaga e a rua cisma;

vultos que a sombra traga

batem e chamam:

Margarida. . .Sônia...

Naquela veneziana mais escura

ha uma nostalgia, uma ternura,

uma velha cantiga da Polônia.

AFONSO SCH1MIDT

1. '¦' ""m^smmWsVf "" -V-A1.V' ^ísÍJ^XfV¥999sm\sWr^s%mmVSS£B!SsSsmmi ^¦ÍHSw

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das "Cartas Chilenas", mas, sousincero, e é a sinceridade queme impede de saudar e festejara verdade com o mesmo e capi-toso vinho de suas saborosaslições.

Não me sinto convencido, efui educado na escola em queu direito de divergir dignificao pensamento e constitue amais liclima força do espíritohumano.

Divergir, em nosso caso, ain-da é a melhor maneira de nosentendermos.

Afonso Pena Junior atribueminha divergência a dois pon-tos:

I _ Não ter levado em con-ta. como ponto de partida, aaaiafia Thetis, que está nos ma-nuscritos das Cartas Chilenas.

II Ter incidido num "erro \0%\e de la Grece Antque" (Pa-

de apreciação" em pensar queTethys leom y) significa perse o mar e Thetis, só o signifi-ca, por metonímia.

Analisemos, porem, os funda-mentos dc tais objeções.I — A GRAFIA UOS MANUS-

CRITOS

ris, 1886. elucida, com careza,a ou?stão:père qui est Ocean et d'unmére qui est Tethys. Tethys. lamourr'"?, e*est l*cau e^sdíuédans son action fecondante".

Quando o poeta d?s CartasChilenas pintou o sol rlescan-

Diz o meu erudito e eminente SEmdo "no regaço de Tethys"opositor que eu nãõ considerei outra não poderia ser a entida-o fato de aparecer nos manus- de mitológica,ditos das Cartas Chilenas a Hermann Steuding na suagrafia Thetis em vez de Tethys. "Mitologia Ri-iega y . romana"

Não considerei e nem deveria (trad. eso. d? .!. Camón Azn?r>,considerar, pelas seguintes ra- 4.1» edição. 1934, H. de la Villezões: cie M'rmont na sua "Mvtholo-

Primeiro, porque os autores gie" e outros mitógrafos n.'o-clássicos não possuíam nenhu- demos explicam a mitoYgiama precisão na grafia. Basla «rega pelo "preanimismo".

lembrar a respeito da própria atribuição de um nrincímo vi-grafia desses dois nomes mito- tal às forças da Natureza, oulógicos o que diz o eminente como ensina Mirmont: os gre-camonólogo José Maria Rodrl- gos representavam "'es nhé-

obra "Algumas obser- nomèncs de la Nature sous lavacões a uma edição comentada dos Lusiadas" (Coimbra,Imprensa da Universidade),trabalho infelizmente desço-nhecldo de A. Pena Junior. As-sim escreve o sábio comenta-dor:

"Apesar da confusão gráficados dois nomes, que nas duasprimeiras edições dos "Lusia-

das" são escritos Thetis (Tetisuma vezl. o poeta distinguiubem as duas entidades. Bastacomparar V, 52, I com VI. 21 eIX. 85". (Obra ctada. pág. 65,nota 1 *.

Secundo, porque os manus-ditos das Cartas Chilenas sãotóíiias e todo exegeta, de bom

forme de personnes vivantes".Veja-se. por exemplo, o queD?charme diz de Achéloos:

"Achéloos, fils d'Oeéan etde Tethyj. ne designe telcours d'eau deternrné; il estla rivicre en general*'.

Thetvs. como o Oceano, éigualmente um elemento daNatureza: a água, o mar.

Erro de apreciação é pensar,como Afonso Pena Junior. queTethys (com y>, personifica om?r nor metáfora. Ao contra-rio. Tethys é uma diviníaO;cosmogònica, identificada coma orópria Natureza, (a águai.

O erudito Afonso Pena Jiciiornão quis ir aos nVtógrafos.

cie nróprio reconhece, de mito-legia.

aviso, não deve confiar cega- «eio que por isso não pode es-

mente em documentos dessa c!al'f^y*_^àeAue.,e.* 1°™°natureza. Aliás, o próprio Afon-ro Arinos não é fanático, dostex*,os manuscritos, tanto que E' de mister, portanto, des-erroneamente pretende emen- crlmlnar o fato gera!, mitoló-dar. noutra passagem, a ex- gico (Tethys, a água. o mar. el-siessão "a paridade", que, es- o fato particular (Thetis, ne-tá certo, por "a puridade" reida. que, por metonímia re-que não se enquadra ao contex- presenta o mar. segundo o usoto. conforme provei na minha de alguns poetas latinos).critica inicial. Está. cor conseqüência, de

Ora. se nào há, nos clássicos, pé, a minha exegese não só doprec!são gráfica e nem os ma- ponto de v:sta lógico como tam-niiscritos são originais, claro bem filológico. Critilo quendoestá que não incidi em nenhum versejou:vício de lógica (petição de prin- E. apenas. Doroteu. o sol declina

A descansar de Tetis no regaçologicamente se referia ao ele-mento da Natureza (o mar aágua,,Tethys) e filologieamsn-te só poderia ser essa deusanela espociação sugestiva pntre"regaço" e o significado etimo-

Tethys famamrnta-

Túmulo de Casimiro de Abreu, no cemitério da Barra de S. João. Está colocado ao lado... . ,- ,. .*. pai do poeta. „ >.•-.,.,.-. • • •

cípioKO comentador devia partir,

portanto, da exegese lógica quetracei: verificar a que enfdademitológica se refere o texto, sea Tethys ou a Thetis.

A grafia por si só não é pon-to de partida, uma vez que lógico deacerca desses nomes mitológicos dorat.não houve ianiais uniformidade Defender outra exegese é que-entre os clássicos. rer como''car o simoles e obscu-

Portanto, não procede a obje- reeer o que está claro.cão do meu ilustre opositor. Por todas estas razões nãoPrevalece, por conseqüência, posso reconhecer a procedênciaponto de part:da de minha exe- da arguição do eminente Afon-gese lógica e a procedência de so Pena junior. çuio talentominha exegese filológic?. aprecio, cuia erudição a'Vaii^o

II — o Fltnn DE APUE- e cuja personalidade admiroC1AÇAO tapto quanto estimo.

Acusa-me ainda Afonso Pena Não termino -?m dizer queJunior de resvalar num erro de as reticências do meu últimoapreciação e escreve: artigo, tão maliciosamente in-

"O engano, a meu ver, está terpretado por meu ilustre opo-em supor que uma das deusas sitor, nada mais eram do auesignifica per se, diretamente, um convite ao diálogo. Estoumar ao passo que a outra só por certo que o prazer de dialogartranslação de sentido teria tal é uma heresia venial e per-sianlficado: Quando a verdade doavcl.

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DOMINGO, 12-10-194, SUPLEMENTO LITERÁRIO DA MANHA — PAGINA I»

O poeta do amor e da saudade -J( ;éVCasimiro José Marques de

Abreu era natural da Barra deSão João, na província do Riocie Janeiro, onde nasceu em1837 e morreu em 1860. Seu pai,português como o de GonçalvesDias, como esse o destinava aocomércio- Menos tratavel. po-rem, que aquele, quis obrigar ofilho a ficar numa profissão aque este era de todo avesso.

Dos poetas da sua geração éCasimiro de Abreu, talvez maisque outro qualquer, o poeta doamor e da saudade. Os dois sen-timentos são a alma da suapoesia. Este pobre rapaz fracoc enfermiço nascera poeta, coma sensação viva, dolorosa do queo grande poeta latino chamaraas lágrimas das coisas cujomortal encanto lhe penetroucedo a alma melancólica. Odrama íntimo da sua vida. o¦desconhecimento do seu talen-to, a contrariedsde oposta a .«uavocação e, acaso, as imperfei-ções do lar paterno, tudo teriasido exagerado até ao trásicopela sua sensibilidade doentia- E' grande a magoa que de tudolhe vem; grande, real e sincera.Da sua vida amorosa nada decerto sabemos. Os seus biógra-fos. mesmo aqueles que maisintimamente, parece, o conhe-ceram e trataram, como Revnaldo Montoro e Teixeira deMello, divagam e amplificamsegundo tem sido aqui o muuyP*n H-*»*-. biófrrafos, em vez de

lhe investigarem a vida e de acontarem sem impertinente.',recatos Ui. Nos seus versos, po-rem, há a impressão pungentede um amor infeliz que lhe dei-xou a alma mal ferida e parasempre dolorosa. O afasta-mento, a ausência da terra na-tal. o exílio, como, imitando aGonçalves Dias, lhe chamou,completaria a exacerbação dasua sensibilidade orgânica e lhedaria ao estro o tom nostálgicoque, sem igualar a simplicida-de*genial do seu inspirador, nãolhe ficará somenos em emoção

E' sob a influência da nostal-gia e do amor. ambos de fatonele uma doença, que se põe acantar o Brasil, Mas o Brasilque canta em seus sentidos ver-sos. a pátria por quem chorae que celebra, é principalmentea terra em que lhe ficaram ascoisas amadas e mormente adesconhecida a quem dedicouo seu livro e que, segundo ameia confidencia de um daque-les biógrafos, teria encontradomorta quando voltou á terranatal. A saudade desta com osencantos que a saudade empres-ta aos seus motivos, é que ofaz patriota, se mesmo comesta restrição se lhe pode apli-car o eoíteto. que não vai ?quícomo elogio, a .ma nostalgia esobretudo o amor. não só àmulher querida, mãe a quantoe**te amoropo amava, o torrãonatal, a rasa pat<*rn». a vida

SONETO

Ter um livro entre as mãos e não ler uma frase,Pensando nesse alguém que passou sem me verE cruzou seu olhar com o meu, num fim de tarde calma,E deixou, na minha alma, o que não quizera ter...

Pensar, ingenuamente, que num dia nunca vistoEla pousará de leve a mão sobre x> meu ombroE me ha de chamar meigamente de irmão,Olhando dentro dos meus olhos surpreendidos...

Pressentir a sua caricia mansa na minha cabeça,Embalando e adormecendo Iodos os meus pensamentosTristes, ó tristes, como crianças que estão para morrer.

E adormecer sorrindo à miragem de sua vinda,Oue encherá de ternura o meu ser desigualE r-ele ha de deixar o sinal de sua sombra...

L E A O DE ,Y, A S ,ÇrO, N ,C, E; LOJ, ,

campestre, que para as almassensíveis como a sua se enchede prestígio ignorado do vulgo.

La de longe cantou a suaterra, os sítios da sua infância,as suas recordações de toda aurdem, avivadas pela saudade,com sentida e comovedora emo-ção. As penas de amor e desaudade fizeram-no o poeta quefoi. Toda a sua curta vida, ain-da depois de restituido a suaterra, uma saudade incerta,uma indefinida nostalgia ficar-lhe-ia na alma como um ferre-te daquelas penas. E o nossopovo. que do português herdouo senso desses dois sentimen-tos, em a nos.:a raça irmana*dos na mesma emoção, achouporventura em Casimiro deAbreu o mais fiel intérprete dassuas próprias comoções eie-mentares, primárias, do amordo torrão e da mulher querida.Pelo que é Casimiro de Abreuo focta brasileiro que o nossopovo mais entende e a quemmais quer Ama-o, recita-o, can-ta-o, fazendo-o um poeta popu-lar, em certos meios quase anô-nimo. Comprova este asserto ofato de ser Casimiro de Abrlm;de todos os nossos poetas, ex*ce.uando o Gonzaga, certa-mente o que tem sido mais ve-zes reimpresso, total ou parcial-mente. As suas Primaverasteem, pelo menos, oito edições.

Voltando doente e abatido àterra natal, a vista daquelascoisas tão choradas no exílionõe-lhe na alma dolente acen-tos raro atingidos pela nossapoesia. E dele se haviam deinspirar Luiz Guimarães Ju-nior, Lúcio de Mendonça e ou-tros que cantaram iguais esta-dos d alma:Eis meu lar, minha casa, meus amo-

[res,A terra onde nasci, meu teto amigo,A gruta, a sombra, a solidão, o rioOnde o amor me nasceu, cresceu co-

imlgo.

Os mesmos campos que eu deixei[criança.

Arvore»* novas, tanta llor no prado!...Oh! como és linda, minha terra dal-

Im».Noiva enleilada para o seu noi-[vado.

Foi aqui, foi ali, alem... mais longe.Qne cu sentei-me a chorar no fim

[do dia.Lá vejo o atalho que vai d;ir na

[vár/ea...t.á o barranco por onde eu subia!...

Acho agora mais seca a cachoeiraOnde banhei meu infantil cansaço,

Como está velho o laranjal lama-[nho

Onde eu caçava o sanhaçú a laço!...

Como eu me lembro dos meus dias[puros!

Nada me esquece!... Esquecer quem[há-de?Cada pedra qne eu palpo ou trenco

[ou folhaFala-me ainda dessa doce idade

E a casa?... as salas, estes móveis,[tudo.

O crucifixo pendurado no muro...O quarto do oratório, a sala grandeOnde eu temia penetrar no escuro!...

E' da melhor, da mais alta,da mais profunda poesia. Co-mo poeta do amor, não é de-mais dizer que Casimiro deAbreu deu à nossa lingua, tãorica sob este aspecto, algumdos seus mais comovidos se nãomais formosos cantos. A un:destes os prejudicou, no concei-to da geração imediata ao poe-ta, a mesma popularidade queos vulgarizou nos recitativos desalão, como foram de modaNão obsta que poemas comoAmor e medo e Minha alma ètriste, sejam, sem encareci-mento, apesar da sua toada queuos é hoje menos agradável,dos mais belos da nossa poesia.

Com incorreções de formapoética, a que somos depois doparnasianismo demasiadamentesensíveis, teem eles em alto31-au, sentimento, idealização,emoção da melhor espécie poé-tica, e até. em mais de um pas-so, peregrinas excelências de ex-pressão. Há em Amor e medonotadamente um ardor de vo-lúpia ao mesmo tempo contidae exuberante, que lhe realça so-bremodo a beleza, e formosu-ras de sensação e de expressãoque não teriam o direito de des-denhar os mais reputados se-quazes de Baudelaire. E' fortea sua tradução das tentações

ose veríssimoamorosas da carne, como o dl-riam estes poetas, e, mais, detodo nova na nossa poesia, senão também na da lingua por-tuguésa:

Ai! Se eu te-visse, Magdalena pura,A mão tremente no calor das tuas,Amarrotado o teu vestido branco,Solto o cabelo nas espáduas nuas...

Ai! Se- eu te visse, Magdalena pura.Sobre o veludo redimida a meio.Olhos cerrados na volúpia doce.Os braços frouxos, palpitante o

[seio!...

Ai! Be eu te visse em languidez su-[bltme,

Na face as rosas virginais do pejo,Trêmula a fula. a protestar baixinho.Vermelha a boca soluçando um bei-

1)0!...Despresados, como necessa-

riamente sucederá dentro empouco, os preconceitos que avulgarização de tais versos con-tra eles criou, eles nos aparece-rão em toda a sua novidade ebeleza de sensação e expressão.Ver-se-á o seu realismo deidéias e estilo, nem sequer sus-peitado então como fórmula ouprocesso de escola, do mesmopasso que se lhes sentirá o ar-dor e a intensidade que desa-fia quanto a paixão à cola da-quele poeta francês e dos seusdiscípulos pôs nos versos dosnossos ulteriores poetas. Em quelhes pese ao estúpido desdémpelo verdadeiro e notável poetaque é Casimiro de Abreu fácil-mente se verifica que eles lhesofreram a influência e fre-quentemente o imitaram, raroo igualando e nunca o exceden-do na realidade da emoção nemno sublime da expressão. Pelaprofundeza e sinceridade doseu sentimento poético, tem elemais razão de viver do que es-tes; jâ vive de fato mais doque eles viverão, e o futuro, nãoduvido vatieinar, o desforrarácabalmente dos seus tolos des-dens.

Tristeza ingênita, melancoliaamorosa, acerba nostalgia, an-gustioso sofrimento de uma al-ma rica de ingênuas e ardentesasoiracões de glória e de amor,tudo deu a este delicioso poetaa feição dolorosa que ainda nomeio dos poetas dolentes dasua geração o distingue. Tinhatambém, como os outros, opressentimento da morte pre-matura. Mis de um poema seuo declar ou o revê.

A um amigo recem-morto di-zia:Dorme tranqüilo à sombra do ei-

[preste.,.— Não tarda a minha vez;

Com efeito, dois anos depois,finava-se com vinte e três deidade, na sua fazenda ou sitiode Indaiassú, no torrão natal,às cinco horas e vinte e cincominutos da tarde do dia 18 deoutubro de 1860. (2)

^MC-^.- JF^PPVP^^ ___i____H

RmnP BiBusto de Casimiro ün Abreu, na

praia das Flechas, em Niterói

EFEMÉRIDES

(1) — V. Casimiro de Abreu, porR. Carlos Montoro, Revista Popular.Rio. 1862. XVI. 351. Idem por Tei-seira tle Mello, Gazeta Literária, Rio,1884. I. 124.

Í2\ — Montoro, artigo citado.

DA ACADEMIA3 DE OUTUBRO

1S47 — Nasce no Rio, Carlosde Laet

DE OUTUBRO1799 — Nasce Evaristo da

Veiga.DE OUTUBRO•S53 — Nasce José do Patro-

cinio10 DE OUTUBRO

1914 — Eleição de Alberto Fa-ria para ocupar a cadeira n.° 18,

11 DE OUTUBRO1901 — Falecimento de Fran*

cisco ãe Castro

A VIDA E A POESIA DECASIMIRO DE ABREU

{Continuação da página 150)O juramento está feito,Foi dito co'a mão no peitoApontando ao coração;E agora — por vida minha,Tu verás, ó mort-iiinlia.Tu verás se o cumpro ou não!... (1)

Não vejo que seja misterdesenvolver demasiado a cara-cteristica deste poeta imensa-mente conhecido. Basta umasò nota mais.

Não tinha defeitos? Por cer-to os tinha, e entre eles o prin-cipal é por vezes descambar navulgaridade até cair na prosa.Isto, porem, é raro.

Se faço esta declaração é nointuito de evitar a transforma-ção deste livro num compêndiode elogios. Meu alvo não é en-comiar nem vituperar. Compre-ender e explicar, eis o fim dacrítica, sabemo-lo hoje.

íl) Obras Completas de Casimirode Abreu. Sexta edição, pág. 206

Casimiro de Abreu em face domodernismo brasileiro

(Continuação da página 150ve tempo de dar a obra que erade esperar-se üete. Deixou-nosum ensaio, um ensaio admira-vel. tão admirável que é precisoque o amemos. Os quilo?, deaçúcar e os litros de farinha demandioca que vendeu no balcãoacanharam-lhe a vida- E comoessa vida /oi curta.. Agora dèa Casimiro de Abreu um pairico que o admirasse; dê-lheuma mesada gorda; dê-lhe gra-vaias; ponha-o numa mula bemarretada, com dois camaradasatrás com as malas, a caminhoda Corte e das mulheres: po-nha-lhe nas veias um sanauerico; suspenda a obra da tu-berculose por mais alguns anos;e V. verá Casimiro de Abreumorrendo aos 30 anos, tisicosim, porem tendo deixado umaobra mais vasta, mais forte,uma obra < ponto de vista pas-sadistai tão qrande quanto a deGonçalves Dias e a de CastroAlves. ....., , ..,,

Sei perfeitamente que CastroAlves morreu com a mesma ida-de. Mas há a considerar as di-ferentes maturações do espíri-to. Castro Alves, no meu en-tender, se vivesse mais des anos,não daria obra melhor que aque fez. (Caso Hermes Fonteí).Casimiro. no entanto, esse fa-Ihou: morreu ainda verde. Cas-tro Alves deitou "a sua obra".Casimiro deixou "acenas umensaio da sua obra".

Emfim. eu posso estar errado*Nunca sabemos quando anda-mos certos ou errados. E' tudo,no terreno do pensamento eo-mo no mais um jogo de formasque no$ Vudem...

Conc'uindo: sou portanto umneto tio Casimiro. Porem umneto tio diferente do avô! Aporção ãe sangue que se conser*vou tot nvenas a ave canA^ve,na minha poeAn o t*<nâo irre- 'mod-a^e1 d» mf^^ccHa.

Ou: de "poesia?"

Page 16: imv©ISIS niw1®§ - BNmemoria.bn.br/pdf/066559/per066559_1941_00009.pdf · vivos do Brasil.nal — não parece que se Fórmulas suas, frases que O romantismo lá se foi, tenha criado

poemds em prosdMURILO MENDES

A DAMA DO MAR

Pelos teus olhos tu és mar — peta tua alma cs pedra.

Kxistc um resto de sereia no formato de tuas coxas.Balança1* nostalgicainentc os quadris. E cantas para a morte. ...-

polindo os viajantes.

Foste erlada para os navios, para respirar as tempestades. Xãoa nen ras cm nenhum homem. Tua cabeleira pertence aosventos. Os marinheiros mostram a seus filhos tatuagens re-preseni-mdo tua cabeça. E's a amante abstrata de todos. Xaupertences a nenhum. Teu canto dinyc-se mais para a mor-te, do que para a vida.

Espera, voltar para a água.

ESPOSOS

Expulsam-nos para sempre do Paraíso. Jamais te ouvirei can-tar à beira do grande rio azul.

As plantas, os animais, os aviões fogem da nossa vista.Diante de nós somente estas vastas construções de pedra.Não temos mais onde comer. Não sabemos mais amar.Afivclam máscaras contra gás asfixiante cm nosso rosto.Escrevem ern letras de fogo no alto du céu: MÜKUliUElS.

Ji

Nós

nossos esqueleto

VIOLETA

encontramos na origem dos tempos — e por tsto quimus a nos procurar — c naijueic jardim pobre. Un

um piano bárbaro — interrompe o idiiio.ii

1

Aquelas nuvens monumentais no céu parado...Tiu irmã ponteia os cabelos olhando o mar — e tem ciúmesde mim. Prepara-se para as longas confidencias noturnascomigo. Tuas visinhas lc espreitam e coníabulam. Comose estuda micronrcl ricamente o amor !

Entras em casa outra vez — abraças e beijas teus irmãos comuma ternura maior. Ollias quasi com desprezo para teu re-trato de primeira comunhão; entretanto é a mesma mulher

O DITADOR

Ser.tru-mc ru cadeira dc pedra. Desenrolai as profecias c lede aHistória passada, presente e futura de todas as gerações.Cercai-me de dansas violentas vermelhas, de músicas de to-d.is a» épocas c de todas as gerações. As mulheres deverãoprrrir cm plena praça pública ao som de hinos tristes. Os ho-meus deverão morrer cm plena praça pública ao som de limo»(I- alegria.

Transportai minhas amadas para os altares. Perfume, músicasviolentas, dansas ! Abrlguemo-nos na tempestade de pe-dia. Já esla escrito de nós e de nossos filhos alé a con-stunação dos féculos.

UMA E ÚNICA

Ela ve.ii dos céus de bronze — arfandopurai, — dansa mais do que anda.

Quantos anos tem esta mulher ? Não tem época. Não foi gerada segundo a carne. Só as estrelas poderão falar sobreseu nascimento.

Assiste impassível à destruição dos corpos e à derrubada dos ai-tares. Os homens emigram para lhe buscarem flores ra-ras: e Ibe oferecem corações, pensamentos, pernas, braços.E os guerreiros lutam porque ela existe. E os operáriostrabalham porque ela existe. E os poetas escrevem porque, ela existe. E seu poder se prolongará através dos ciclosdas gerações.

- empurrada pelos tem-

PAGINA DO DIA:

INFLUÊNCIA DO CINEMANA VIDA MODERNA

Anibal Monteiro Machado —llterariamente Anibal Mac.hu-ao — nasceu em tins do séculopassado, cm Sabará, Minas Oe-rais. Aos 12 anos começou asua instrução, a principio in-terno em um colégio de BeloHorizonte, logo depois externodo Ginásio Mineiro. Matri-culou-.se na Faculdade de Di-reito daquela cidade, tendo-setransferido, no correr do curso,para a Faculdade de Direitodo Rio de Janeiro. Bacharel,(oi nomeado promotor públicono interior de Minas. Foi de-pois proíessor do Ginásio deque tinha sido aluno. Trans-ferindo-se para o Rio. foi pro-fessor de literatura no PedroII. Hoje ocupa o cargo de es-crivão Geral dos Feitos.

Sua obra acha-se toda iné-dita, tendo, ele escrito um ro-mance de intenso lirismo sub-jetivo e mesmo suprarealista,que se intitula "João Ternuralírico e vulgar". Tem publica-do notáveis trabalhos, contos,ensaios sobre história da artee da literatura, poemas eniprosa, destacando-se entre elesalgumas conferências sobre po-etas da língua inglesa, como aque dedicou a Shakespeare, aque dedicou a Edgar Poe e aque dedicou a Walt Whltman.

INFLUÊNCIA DO CINEMA NAVIDA MODERNA

Eu vos trouxe de muito lon-

O exquisito cantor da saudade{Continuação da página 150)Mas como ás vezes sobre o ceu sereno

Corre uma nuvem que a tormenta gula,Tambem a lira alguma vez sombriaSolta gemendo de amargura um trenó.

Sào flores murchas; — o jasmim fenece,Mas bafejado se erguerá de novo.Bem como o galho de gentil renovoDurante a noite, quando o orvalho desce.

Com todas as irregularidades apontadas na sua arte depoeta, e todos os desvios da sua sintaxe negligente, Casimiro pos-suia um saboroso estilo colorido, sensível, personalíssimo. A igno-rância tranqüila de qualquer sistema filosófico, literário oucientífico, deu-lhe a sorridente sabedoria que vem de uma ai-ma livre, sem compromissos de nenhuma espécie, clara e trans-parente como um veio de água que, na sua humildade rasa econfiante, vai refletindo o mundo sem sentir, e levando emcada palheta mobil e errante, ora o brilho da estrela milenar,ora a sombra da asa efêmera e passageira.

Uma pensão para airmã do poeta

Albina Marques dc AbreuPaes, irmã de Casimiro deAbreu, findou a sua vida emgrande penúria. No arquivo daAcademia Brasileira, tivemosocasião cie copiar um requen-mento do punho dela, bem re*velador das necessidades que es-tava padecendo em 1921.

Diz esse documento:

"Exino. sr. presidente aaAcademia de Letras

Albina Marques de AbreuPaes, maior de 77 anos de laa-de, residente nesta cidade, únicairmã sobrevivente do poeta La-suniro de Abreu, lutando comdificuldades de vida. e sem queo seu estado de saúde llie permi-ta ganhar honestamente como ofazia até certa época no profes-sorado, vem rogar a V. Exc,em nome da memória do seupresado irmão, que essa doutaAcademia de Letras lhe conce-da a graça de uma pensão men-sal, de maneira a lhe tomarpossível os seus últimos anos aeexistência.

P. deferimento.Rio de Janeiro, 28 de agosto

de 1921.(a) Albina Marques de

Abreu Paes'*.Esse requerimento foi lido na

sessão de 1 de selembro de1921. c deferido.

Albina Paes mandou então aosr. Ataulfo de Paiva a seguintecarta de agradecimento:" Exmo. sr. desembargadorAtattlío Nápoles de Paiva

Tem por fim esta, agradecer aV. Exc. e aos dignos membrosda Academia de Letras, o gran-de e inestimável favor a mnafeito e como unia homenagem ameu querido irmão Casimiro de Abreu, concedendo meuma pensão vitalícia, e que cons-tituirá o animo de minha ve-Ilnce.

Gratina. Vcnra. Obâa.(a) Albina Marques de

Abreu Paes'.

ge, das raizes mesmas dos cl-nemas para chegarmos ate aqui.Mas, cm compensação a nãoser que queirais ouvir de mimafirmações fáceis, estais emcondição de tirar por contaprópria as vossas conclusões.

Se considerardes que o bomcinema pode colher o indivi-duo ainda num grau interiorde cultura e dai elevá-lo àcompreensão da grande arte eo sentimento da poesia, ao pas-so que diante de uma obra

prima musical, plástica ou !i-teraria, esse mesmo indivíduodificilmente esperimentará aoprimeiro contacto outro senti-mento que não seja de tédiaou incompreensão; se conside-Tardes ainda que as maior'scriações da tela podem comovere penetrar o mais rude espiri-to, ao passo que as obras pri-mas de um Bach, ou de umGoethe, ou de um Picasso :ãolograrão ' esse resultado ime-diato. — poderets avaliar quãopoderosa, inumerável e insinu-ativa é a influência do cinamana vida do homem de hoje.

Arte popular e coletiva e so-bretudo ás multidões que elase dirige. Aos analfabetos eaos requintados. Pela uni versa-lidade de sua linguagem, pe-Ia comunicabilidade de seusmeios, pela soma de valores quegera e divulga; pelo alargamen-to dc vida que traz; pela suaincalculável expansão. Daí asua influência no comporta-tamento humano, na concep-ção da vida, na maneira de sen-tir e de amar. nos usos e cos-tumes e na indumentária. Osgaúchos alteram as suas ves-timentas características, tro-cando a bonbacha pelo culotedo "cow-boy". Os nossos ne-gros da cidade dansam tambemcomo os seus irmãos da Amé-rica. Até as moças da provin-cia mais remota seguem ospenteados dominantes em Hoa-lywood. E muitos daqueles oudaquelas que acaso encontramem semelhanças físicas com as-tros e estrelas do cinema, sejulgam satisfeitos da vida e fi-cam para sempre perdidos nu-ma contemplação idiota de simesmos.

De tal maneira está o cine-ma incorporado ãs nossas ne-cessidades que as gerações dovinte anos o supõem existir háséculos, ele que nasceu outrodia.

A máquina de projeção jogadiariamente na tela, em todasas cidades do mundo, as ima-gens de objetos, de seres e sen-timentos, imagens da vida reale da falsa vida.

Já imaginastes qual possa sero efeito de uma obra darte ote-recida quase de graça á popu-lação de uma cidade do inte-rior?

Todos ficam ansiando pelaterminação do dia, para o mo-mento do grande êxtase. Umhomem qualquer, analfabeto eobscuro, vai tomar conheci-mento dos fatos recentes quese passam na linha da frentedo mundo através das atuall-dades dos cine-Jornais: vaicompreender mehor e sentirpelos filmes de ficção o psiquis-mo humano, nas suas compli-cadas reações e conflitos; va)admirar depois o vôo do alml-rante Byrd ao Polo Sul, ou itcorrenteza do Amazonas enca-minhando-se para o mar: vaiver como se planta algodão,como se constroe uma represa,como se trabalha numa mina,vai, enfim, sentir-se alguém,parcela de um mundo cujasvibrações lhe chegam aos olhose aos ouvidos, de um mundoque ele quer tambem ajudar aconstruir.

As imagens o acompanhamnoite a dentro, até se diluíremna nebulosa do sub-conciente.Ele as contemplou no retán-guio luminpso, admirando asriquezas da criação e a diver-sidade dos sentimentos queagitam a humanidade. O ho-mem sentado cm qualquer cl-

ANIBAL MACHADO(De

"O Cinema e sua in-fluência na vida moderna")

nema de qualquer lugarejo daterra assiste ao destile das M-mas e aparências do mundo,vê o drama dos outros e se rp-conhece irmão dos seus irmunsde outras raças. Assiste a pa.vsagem do que é visiveLe dyque lhe parecia invlsiveíT

Ha uma circulação secretadas torças da matéria. Tmné ritmo e movimento tanto uumundo cósmico como no mim-do espiritual. A vida aparece ese manifesta. A alma das cou-sas está no seu movimento, naona sua inércia.

As tormas gesticulam ; secombinam numa continuidadeharmoniosa. De tudo resultar*a visão sinfônica do mundo iverdadeira imagem do Univer-so e da Vida.

A Ciência colocou à disposi-ção do homem o mais poder.)-so instrumento com que ei«possa exprimir-se. Que seria dahumanidade de hoje sem o cr-nema? Que será do cinema secondições estranhas a sua es-sência o impedirem de traao-zir c divulgar os anseios pro-fundos, o sonho e as aspiraçcie.-ido homem de hoje?

AS "PRIMAVERAS"Jitstiaiano José da [<»ctta

Nos dias de prosaico positiris-mo cm qae vivemos, acabam asleiras brasileiras de recebermais um mimo.

O sr. Casimiro ie Abreu acabade publicar as suas Primaveras-Cumpre ser moço na veraaae.para no meio da iiiiiierençaque enrejcla a sociedade, numeio do borborinho metálicoque soa a todos os ouvtdos te-vantar a. voz sonora e dizei aessa sociedade egoísta — Aten-dei-me! — vou cantar os segredos de ternura da alma huma-7ia; vou expor-vos na lingua amais doce e harmoniosa os sen-timentos que estão nos vossoscomo estão em todos os «ra-çòes, mas àe que tâo acurada'mente vos distrais. — Cumpreser vioço para tentá-lo, e cum-pre ter recebido do céu essa su-blime inspiração, que constituea verdadeira arte poéfica. paraconsegui-lo. O sr. Casimirode Abreu o conseguiu; seus ver-sos são influentes, ricos de me-lodia, apropriados oo assunto.doces como ela. Qual é o as-santo? Podeis perguntá-lo? Oque pode cantar um moço se-não o que lhe transborda dopeito? — O amor.

A saudade da pátria, a con-fiança nos destinos dela, sauúa-de ia família, a lembrança aoafago materno, do berço do ir-mão, tudo isso inspira o poeta:tudo quanto é sentimento ternoacha-se no seu tesouro. E' po-rem o amor que mais constantelhe faz vibrar o coração.

Não lhe escaceando o devidotributo de louvor e de anima-ção, a nossa imprensa devemostrar ao jovem poeta quenem tuio está tão trio. nemtudo é tão indiferente como pa-rece: aqui e ali ainda batemcorações simpáticos a todos ossentimentos nobres, nobremen-te exprimidos, e não faltam es-piritos que presem e cultivem asbelas-letras.

Se para esses quiser viver osr. Casimiro de Abreu, se tivercoragem de dizer aos mais —"Odi profanam vulgus et ar-ceo", — animações lhe «ão hãode faltar, e longe de retirar-seda liça, depois ie táo bela es-trêia. acrescentarão mais cor-das a sua lira, aproveitara oraro talento de metrificaçâo queinostra possuir, em algumacomposição de inais alento. Pa-ra então o aguardarmos nós; quehoie com tanto prazer lemos osseus versos e os aceitamos co-mo um agouro ou uma promes-sa, para colocá-lo na primeiralinha dos nossos vates e mos-trar com análise ie critico osseus títulos a essa glória.

14 de outubro de 1859.