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Influencia da midia na justica penal
INTRODUÇÃO
Os meios de comunicação são os encarregados de informar sobre os fatos que acontecem ao nosso redor. Nosso
conhecimento sobre a realidade local, nacional e internacional dependem de sua conversão em noticia. Os meios de
comunicação também transmitem idéias. O conhecimento das diferentes valorizações de um acontecimento e das
distintas propostas de inter-relação com o mesmo depende de sua transformação em noticia. Isso pode ocorrer através
dos gêneros de opinião (que em casos mais extremos podem dar lugar a “mídia ideológica” ligados a certos grupos
políticos, religiosos, etc.) ou mediante outros que misturam narração expositiva e descritiva com juízo de valor
(conhecido com mídia de explicação). De modo indireto, pode observar a presença de evidentes premissas axiológicas
nos processos de eleição/exclusão, tematização e hierarquização da noticia.
Os meios de comunicação, por conseguinte, permitem a informação e a formação da opinião publica. Assumindo a
função de foros de exposição e debates dos principais problemas sociais: selecionam os acontecimentos que vão ser
noticiados e estabelecem as noticias que serão objeto de discussão social. Fomentam esse debate através de artigos
de opinião e editoriais que prestam diversos enfoques, perspectivas de analises e solução do problema. Os meios são
autênticos agentes de controle social que reconhecem e delimitam o problema ao mesmo tempo em que generalizam
enfoques, perspectivas e atitudes diante um conflito.
Uma das principais questões que ocupa a atividade comunicativa dos meios é sem duvida o fenômeno criminal. Assim,
vemos ,em jornais e revistas, áreas especializadas na exploração do crime e na televisão os programas dedicados a
explorar o delito aumentam a cada dia, podemos citar: Linha Direta, Brasil Urgente, Record Urgente e para mais
próximo de nós o famigerado Tocantins Urgente.
A violência, privada ou estatal, sempre criou fascinação no publico. No Século XVII os escravos eram surrados e
mortos em praça publica, na Idade Media a Igreja julgava e condenava hereges também em sitio publico, eram o que
Foucault chamava de “espetáculos punitivos”, com o tempo esse contato “sentimental” com a violência fora se
tornando mais indireto, mas não se acabou apenas se transformou sendo que as praças publicas na sociedade
moderna são os meios de massa.
Esta concentração da mídia no fenômeno criminal pode ter um efeito positivo: a visão de certos fatos adverte que
existe um problema social e em que limites esse se encontra. Mas atrás dessa imagem positiva, encontra uma
realidade mais negativa: o protagonismo midiático desse assunto (que faz aumentar e manter a audiência) se dissolve
em uma informação que, tanto com relação ao fenômeno criminal, como sobre as propostas de solução, são inexatas,
pouco coletivas e adulteradas por interesses particulares dos meios e daqueles que os controlam.
Os meios de comunicação apresentam uma realidade criminal distorcida. Se sobre dimensiona a gravidade e a
freqüência de certos delitos ao tempo que outros feitos delituosos são elevados ao nível de excepcional.Deste modo
ocorre a aparição e reforço de medos cognitivos na população (como uma possível vitima do delito).
É um fato notório que a publicidade do instrumento prevista no código processual penal possui, hoje, um significado
diferente da concepção que havia quando foi legalmente estabelecido, devido a erupção dos meios de comunicação de
massa e seus avanços tecnológicos. Esta nova forma de ser da “publicidade processual', parece repercutir não só nas
partes do processo, mas também nas garantias constitucionais que o processo penal deve tutelar, além da vida em
sociedade, pois muitas vezes essa publicidade ampliada pela imprensa contribui para formar a percepção social sobre
o funcionamento da justiça.
Pelo outro lado, hoje a imprensa se interessa cada vez mais pelos assuntos judiciais, às vezes somente para informar
sobre eles, outras para pressionar mediante uma opinião prematura sobre a solução final de um processo e inclusive
para criticar as decisões provisórias ou definitivas dos juízes. Assim, através de verdadeiras campanhas midiáticas, a
opinião publica começa a inclinar e logo a pronunciar de determinada maneira sobre o caso em julgamento e em
muitos casos põem em xeque a imparcialidade dos juízes, sentindo motivados quando não pressionados, a resolver
em tal sentido.
Sem embargos, ante esta realidade, o principal motivo de atenção que cerca o tema de Mídia e Justiça penal parece
centralizar em analisar se os meios de informação podem afetar negativamente e invariavelmente direitos de máxima
hierarquia que pertencem às partes no processo, ou podem comprometer a imparcialidade das decisões judiciais,
diretamente (pelo modo de tratamento da informação sobre o caso) ou indiretamente (influenciando a opinião publica
para que essa exerça a pressão sobre o caso). E se for assim, devemos pensar em algum remédio, ou acomodarmos
e aceitarmos como um custo inevitável e amortizável dessa modernidade.
Concretamente, neste trabalho trataremos de buscar respostas para as seguintes perguntas: A atividade dos meios em
massa na transmissão de um caso judicial pode comprometer a imparcialidade dos Juízes? Pode “revitimizar” a vitima?
Pode lesionar inoxeravelmente o bom nome e honra do acusado? Pode fazer condenar um inocente ou absolver um
culpado? E a solução desse problema?
Em suma, cremos que é demasiado a influencia e manifesta de forma endógena e exógena a sociedade e a Justiça,
para tanto observaremos alguns casos concretos e seus efeitos.
2 CONJUNTO NORMATIVO
No nosso sistema jurídico, a questão da publicidade do processo penal e de suas exceções, se encontra regulamenta
por disposições constitucionais (algumas de origem internacional) e por leis processuais. Isso faz imprescindível
começar nosso trabalho com uma breve enumeração de todo arcabouço legal sobre o que tentaremos desenvolver
nossa investigação, seus antecedentes e suas propostas.
A Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem dispõe em seu Artigo 6º: “Toda pessoa acusada de delito
tem direito a ser ouvida em forma imparcial e pública(...)”.
Já a Declaração Universal de Direitos Humanos estabelece no artigo 11:
“Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade
tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as
garantias necessárias à sua defesa.”
Estatui o artigo 5° da Constituição Federal em seu inciso LVII: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em
julgado de sentença penal condenatória”.
A Carta Magna ainda prevê em seu artigo 5º, inciso LX:“LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem”
E o texto constitucional continua em seu Artigo 93:
“Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura,
observada os seguintes princípios:IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentados todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei, se o interesse público o exigir, limitar
a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes" (grifo nosso).
Por sua vez, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (chamada Pacto de São José da Costa rica), assinala
em seu artigo 8º, nº5:“O processo penal deve ser publico, salvo no que for necessário para preservar o interesse da
Justiça.”
O Código de processo Penal. No §1º do art. 792 trata da restrição da publicidade dos atos processuais estabelecendo
as situações justificadoras de tal medida:
"Art. 792. As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, públicos e se realizarão nas sedes dos juízos
e tribunais, com assistência dos escrivães, do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora
certos, ou previamente designados.
§ 1o Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar escândalo, inconveniente grave
ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da
parte ou do Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas
que possam estar presentes “.
E dando sustento jurídico Maximo ao acesso dos meios de comunicação aos debates penais, o Pacto Internacional de
direitos Civis e Políticos estabelecem em seu artigo 14, nº1:
“Todas as pessoas são iguais perante os Tribunais e as Cortes de Justiça. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida
publicamente e com as devidas garantias por um Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido por lei,
na apuração de qualquer acusação de caráter penal formulada contra ela ou na determinação de seus direitos e
obrigações de caráter civil. A imprensa e o público poderão ser excluídos de parte ou da totalidade de um
julgamento, quer por motivo de moral pública, ordem pública ou de segurança nacional em uma sociedade
democrática, quer quando o interesse da vida privada das partes o exija, quer na medida em que isto seja
estritamente necessário na opinião da justiça, em circunstâncias específicas, nas quais a publicidade venha a
prejudicar os interesses da justiça; entretanto, qualquer sentença proferida em matéria penal ou civil deverá
tomar-se pública, a menos que o interesse de menores exija procedimento oposto ou o processo diga respeito
a controvérsias matrimoniais ou à tutela de menores.” (Grifo Nosso)
Do emaranhado de todas essas disposições, surge à regulamentação da publicidade como uma forma de atos
processuais oposta à forma secreta e seus alcances variam conforme a etapa: limitada no inquérito policial, ampliada
durante o processo, mas com exceções.
3 FUNDAMENTOS DA PUBLICIDADE NO PROCESSO PENAL
Nesse passo realizamos uma precária e quase arbitraria sistematização em um agrupamento de razões e opiniões,
distinguindo as entre políticas, jurídicas e até uma “dimensão sociológica”, tudo com o propósito especial de servir de
base e ir limitando o campo sobre o qual caminhará nossa tese: como os meios de comunicação influenciam na justiça
penal, seus princípios e garantias fundamentais.
3.1 FUNDAMENTO POLITICO
Observa-se que todos os pontos se agrupam sob esse fundamento e poderiam ser enfocados globalmente, mas
efetuaremos uma analise separada em prol de uma melhor compreensão.
O regime republicano de governo exige que todos os funcionários públicos sejam responsáveis frente ao povo
soberano a quem representam, é concreto que a publicidade simboliza uma das aplicações praticas dessa forma de
governo, porque permitem a comunidade controlar quem decide os destinos das pessoas governadas. Disso, inferimos
que o processo penal, como ato de um governo republicano, deve ser público.
É interessante passar algumas das opiniões que pairam nas janelas desse controle popular no âmbito da
administração da justiça e mais adiante sobre os atos que vão fundar a decisão final. Assim, tanto os autores clássicos
como os contemporâneos têm afirmado que este transcendente ato de governo, especialmente em matéria penal não
pode ficar entre as sombras1, sendo que necessita da “luz do sol” 2, que proporciona a mais oportuna garantia de
retitude, liberdade e justiça. Porque ao atuar de cara com o povo, permite a sociedade assinalar algum erro, reduzindo
o risco de comportamentos autoritários e impedem que circunstâncias alheias a causa influam no tribunal e, por
conseguinte, na sentença.
Ademais, do ponto de vista substancial, a exigência da publicidade se baseia no fato de que os juízes exercem um
poder muito grande e grave (tem a faculdade de colocar semelhante por vários anos em “uma jaula” 3), que deve
facilitar ao povo não só a possibilidade de presenciar os atos mediante aos quais se administra a justiça, mas também
de compreender, para poder comprovar que as decisões judiciais não se baseiam no poder, mas sim unicamente na
razão.
Em suma, segundo o fundamento republicano, a sociedade tem a necessidade de conhecer o que sucede nos
tribunais, pois o processo penal não é um assunto privado, ainda que a decisão esteja nas mãos dos juízes.
3.2 FUNDAMENO JURÍDICO
Como fora visto na introdução, aqui destaca a presença explicita da publicidade dos atos processuais penais na
Constituição Federal de 88 e em tratados internacionais que o Brasil é signatário.
Temos também implicitamente que a publicidade é uma garantia para o acusado, pois proporciona uma maior
seguridade contra a ilegalidade e a parcialidade. Isto explica a inclusão da publicidade nos tratados internacionais de
direitos humanos como uma garantia individual.
Os efeitos da publicidade chegam a sua máxima importância quando se consideram relacionados aos juízes, seja para
assegurar sua probidade , seja para outorgar a suas sentenças a confiança publica. Também blindam o juiz contra
qualquer suspeita sobre suas sentenças.
3.3 A DIMENSÃO SOCIOLOGICA-HISTORICA
Os benefícios que brinda a publicidade do processo não só se analisam da perspectiva política e jurídica, mas também
de um ângulo sociológico. Segundo este enfoque, a participação cidadã na resolução de um conflito permite observar a
atitude que a sociedade adota frente a ele, não somente com relação à pena que finalmente estabelece, mas também
com relação ao modo de encarar, em si mesmo, esse conflito. A questão sob essa órbita aponta que o interesse
publico pelas manifestações punitivas esta relacionada com a atração do que é proibido e dramático, com o sentimento
de que o espectador é uma pessoa normal, enquanto que o agressor social é um marginal, um alguém pior,
responsável definitivamente pelos atos que podem causar.
Não cremos equivocado apreciar que a publicidade, nos sistemas processuais que dão origem direta aos vigentes,
começou sendo um atributo do poder que, o bem queria demonstrar a crueldade de sua imposição, aquele precisa
legitimar através de um sentimento popular sobre a equidade de suas decisões, que somente poderia ser conhecidas
se fosse em praça pública. Somente depois a publicidade foi vista como um direito do cidadão em controlar os atos
judiciais.
Um exemplo desta barbaridade ficou registrado na clássica obra de Foucault, Vigiar e Punir:
“Damiens fora condenado, a 2 de março de 1757, a pedir perdão publicamente diante da porta principal da Igreja de
Paris; levado e acompanhado numa carroça, nu, de camisola, carregando uma tocha de cera de duas libras, fora
erguido pelos mamilos, braços e coxas; aplicaram-lhe chumbo derretido, óleo fervente, piche em fogo, cera e enxofre
derretidos conjuntamente, e a seguir seu corpo foi puxado e desmembrado por quatro cavalos e seus membros
consumidos ao fogo, reduzidos a cinzas e, as suas cinzas levadas ao vento” (2001: 9).4
Assim, na sociedade dos Séculos XVI e XVII é notável o alcance da publicidade em matéria de justiça penal (em
alguns casos para o tramite de julgamento do delito, em outros para a execução da pena). E isto explica porque o
poder do soberano em geral e dos magistrados em particular, era algo que havia de ser feito ostensivamente, pois isso
garantia sua funcionalidade. Assim, a administração da justiça vinha intrínseca a um dispositivo de poder que
funcionava espetacularmente5. Abaixo repassaremos pelas idéias de alguns clássicos notáveis.
“O poder das imagens é superior ao da razão”, expressou Pascal, continuando” Nossos Magistrados conhecem bem
este mistério”. Da mesma forma Maquiavel esteve atento a este fenômeno, a fascinação que produzia nas massas a
espectularização do poder e da justiça assim dizendo: “... os homens em geral julgam mais pelos olhos do que pelas
mãos, porque a todos cabe ver, mas poucos são capazes de sentir. Todos vêem o que tu aparentas, poucos sentem
aquilo que tu és; e esses poucos não se atrevem a contrariar a opinião dos muitos que, aliás, estão protegidos pela
majestade do Estado; e, nas ações de todos os homens, em especial dos príncipes, onde não existe tribunal a que
recorrer, o que importa é o sucesso das mesmas...” 6. Também para Kant a publicidade era transcendental. Até chegou
a afirmar que sem ela não haveria justiça, que somente pode ser pensada como uma manifestação pública, nem tão
pouco direito, que somente se outorga da justiça Defendeu esta idéia a tal ponto, que enunciou como máxima o
seguinte:" Todas as ações relativas ao direito dos outros homens cuja máxima não se conciliar com a publicidade são
injustas. ”7.
Como se vê, grandes pensadores consideravam que a gestão judicial não só se justificava com uma sentença justa,
mas que também havia de colocar em evidencia, através da imagem, do espetáculo.
Parece ser, então, que o espetacular, como técnica de expressão do poder jurídico, tem existido desde tempos
remotos. Através da historia da humanidade vemos que a justiça sempre utilizou- para exibir como real- de um espaço,
que podia consistir em uma praça publica Igrejas, palácios, anfiteatros, etc., mas também necessitava de publico para
poder presenciar essas representações, tudo para fortalecimento de seus atores: os titulares do poder penal ou ao
menos nos seus representantes ou detentores e, desde logo, os sujeitos passivos desse poder que sem eles não teria
sentido (os acusados).
4 A APARIÇÃO DA MIDIA
Desde meados do século XIX e durante os primeiros anos do século XX que se põe claramente em evidencia o grande
interesse que a opinião pública tem por certos processos penais. A tal ponto isto é assim, que os jornais da época
começam a ocupar uma boa parte de suas páginas com a crônica de delitos e processos, reproduzindo graficamente a
espectacularidade de seu desenvolvimento. E às vezes empenham em fazer críticas, veladas em certos casos e
abertas em outros, sobre o uso e o efeito dessa justiça de espetáculo. Assim, Carrara alerta sobre o uso que o povo,
em seu afã de participação e excitado ante os casos mais ressonantes, pode chegar a transtornar “os espontâneos e
serenos passos da justiça”.8
Sem duvida, é possível advertir que a relação entre a mídia e o processo tem sido traumática desde o começo. Isto se
deve, quiçá, a incompreensão de juízes e juristas sobre o papel que a imprensa representa no direito a informação e
na formação de opinião. Parece que, para muitos operadores do direito, o primeiro cargo contra a imprensa seria
considera uma “entremetida”.
4.1 A QUESTÃO DA LIBERDADE DE IMPRENSA
Não devemos perder de vista que a liberdade de imprensa é imprescindível para a existência de um estado
Democrático de Direito e para a informação e formação da opinião pública, o sistema judicial é o único legitimado para
julgar a validez das normas que regem uma sociedade e para adjudicar sanções quando elas são violadas.
A partir dessa concepção, cremos que o processo penal implica em um delicado balanço entre o direito da sociedade a
que se sancionem os infratores da lei, o direito a um devido processo legal e o direito dos meios de comunicação a
informar o publico sobre os casos judiciais. Um verdadeiro Estado de Direito concilia estas liberdades evitando tanto a
justiça de portas fechadas como a justiça do “reality show” 9. Por isso não temos que entender a imprensa como
sinônimo de publicidade, nem pretender ver uma violação a liberdade de imprensa onde não tem, quando se
estabelecem limitações na publicidade, pois nosso ordenamento assenta como regra a publicidade imediata, mas não
fundamenta por ele um direito a mídia.
Em definitivo, faz a natureza de todo direito humano seu desenvolvimento harmonioso com todos os outros interesses
sociais, porque é inconcebível pensar que o exercício de um desses direitos pode significar a negação essencial do
outro.
5 ALCANCES ATUAIS DA PUBLICIDADE NA JUSTIÇA PENAL
Nenhuma duvida cabe sobre o conceito de público na sua projeção processual como publicidade, foi sofrendo
mutações até converter se hoje em um vocábulo instável. A aparição do jornal primeiro e da televisão depois tem
transformado e ampliado os sentido e alcance originário desse conceito e tem provocado posições comuns sobre as
vantagens ou desvantagens que a atividade midiática provoca sobre os fins jurídicos ou políticos que com a
publicidade judicial se procura.
Temos que, não se podem negar as mudanças que a televisão produziu na civilização. Tanto é assim, que em todos os
níveis de investigação se falar de um ponto de inflexão marcado pela aparição e difusão da técnica televisiva. Não é
nosso objetivo explicar esse fenômeno sociológico, mas como nossa tese gira em torno do processo penal e meios de
comunicação, não podemos menosprezar a televisão, por seus alcances, é considerada o meio de difusão mais
importante e que os efeitos que ela pode produzir necessariamente repercutem nessa temática. Sem duvida alguma, o
tratamento televisivo do processo penal, evidencia um novo âmbito do publico e amplia os alcances da publicidade
processual, modificando seu conteúdo e potencializando os pontos de conflito com relação aos princípios que regem o
processo penal e os direitos e garantias que deve resguardar.
Mas há também um aspecto que muitas vezes se ilude: os meios de comunicação são em regra geral empresas, cuja
subsistência com tal é um marco econômico do capitalismo globalizado, dependendo da utilidade que produzem. Esta
busca do lucro segue a premissa de que o que não se vende não interessa. E isso é um fator que deve ao menos ser
mencionado, pois não é de maneira alguma neutro na relação mídia-justiça penal.
Sem embargos, não podemos deixar de destacar a contradição de que os processos penais tem sido o tema favorito
da indústria televisiva e cinematográfica.10, ao ponto que os filmes sobre processo e juízos penais inundaram as telas
desde o inicio dos filmes sonoros.
Observamos hoje que a noticias cerca as pessoas e não há pra onde correr, se fugir da revista a televisão te pega, se
escapar da televisão a internet te pega, se escapar da internet o radio te pega e assim temos um circulo vicioso que a
todo o momento somos bombardeados.
6 RESTRIÇÕES LEGAIS A PUBLICIDADE DA JUSTIÇA PENAL
A sociedade tem direito a um processo público (e a imprensa a comunicar e comentar seu desenvolvimento e
conclusões) é um direito fundamental, de hierarquia constitucional. Esta qualidade está submetida a limitações
fundadas no principio da proporcionalidade. Isto significa que qualquer restrição exige: a) uma resolução fundada na lei
e devidamente comprovada; b) a invocação de um bem ou interesse constitucionalmente relevante que legitimem sua
restrição, e c) que essas limitações previstas por lei, sejam interpretadas e aplicadas restritivamente. Sendo assim, a
decisão de celebrar a justiça a portas fechadas está imposta unicamente em salvaguarda dos interesses previstos pela
lei e também dos eventuais interesses das partes (salvo certos casos, como por exemplo, a vitima de violência sexual).
Por outra parte, tem ficado claro que a característica mais importante dos atos processuais, que são essencialmente
públicos, mas dadas certas condições de exceções se fazem secretos, é que o segredo adquire um significado
meramente negativo e impróprio: consiste só na exclusão da publicidade, ou seja, na exclusão do publico dos antes
ditos atos e na proibição de publicar o conteúdo deles; mas a lei não impõe ademais a obrigação do segredo aos que
intervém nos atos, como sucede com os atos instrumentários.
Na democracia a publicidade é, antes de tudo, sinônima de transparência da atividade oficial. Então a gente não tolera
que, queiram impor velos que cubram o exercício de um poder estatal que, por natureza profundamente humana e
muitas vezes dramática da realidade sobre a qual recai e pela violenta- e até cruel- intromissão que realiza nos direitos
das pessoas que invólucro, atiça às vezes atitudes de curiosidade e desconfiança. Contrariamente, o processo penal é
um cenário para sentimentos de justiça ou para percuções de qualquer tipo. Por isso, temos que adjetivar com realismo
o chamado segredo instrutorio, poderia caracterizar como segredo frustrado.
Todo o desenvolvimento precedente demonstra que, no processo penal de especial interesse jornalístico por sua
repercução publica o famigerado segredo para estranhos, ou seja, a proibição da publicidade popular é inexistente. Por
diversas vias, sobre tudo oficiais, mas informais a mídia vai informando das alternativas da atividade judicial, muitas
vezes de modo inexato, sob a sagrada premissa, o que muitas vezes também encobre o tratamento desigualitário na
matéria dessa comunicação informal para todos os meios de comunicação. Os prejuízos que esta realidade – que nos
parece irrecorrível- podem causar o êxito da investigação, a eficácia da defesa, ao direito de presunção de inocência,
honra, intimidade, imagem própria, etc., do imputado, da vitima, inclusive terceiros, exige buscar um método que, pelo
menos, os atenue.
Em tal sentido propomos que, partindo da base de que as autoridades encarregadas da investigação preliminar e seus
auxiliares não podem formular declarações publicas, nem fazer transcender detalhes sobre ela, será possível, de modo
excepcional e em casos de especial interesse publico, que a autoridade judicial encarregada do processo possa dispor
de algum funcionário hierárquico que elabore e ponha a disposição igualitária dos meios de comunicação, com a
periodicidade que estime conveniente, breves noticias sobre a realização futura ou passada de diligencias processuais,
atos probatórios, incidentes das partes. Essas noticias deverão ser apresentadas por escrito, com total objetividade e
cuidando que sua difusão não afete a eficácia da acusação, a defesa do imputado e tão pouco comprometa
desnecessariamente a intimidade e reputação do imputado, ou direitos de terceiros. Cremos que toda a imprensa
devidamente pode requerer tal publicidade e o imputado pode opor se fundamentando.
Também nos parece conveniente aceitar que as resoluções que se adotem sobre a situação legal do imputado podem
sempre comunicar integralmente e que a discussão final sobre o mérito da acusação seja publica para a imprensa.
Deve admitir que qualquer pessoa que haja sido indevidamente prejudicada pela violação ou abuso de qualquer das
disposições precedentes, poderão reclamar aos responsáveis (a mídia e o Estado) a reparação dos danos que por
causa desses houverem sido vitimas. Vejamos essa noticia sobre o assunto:
“O juiz Ari Ferreira de Queiroz , da 3ª Vara da Fazenda Pública Estadual de Goiânia, condenou hoje o Estado de Goiás
e uma emissora de televisão local a indenizarem Wellington Leles Lopes no valor de R$ 20 mil. O Estado foi
condenado porque Wellington foi preso por engano e passou uma noite na cadeia, enquanto a emissora, por ter
exibido, por duas vezes, reportagens nas quais ele era apontado como autor de um assalto que, na verdade, não
cometeu.(...)Portanto, de um começo de atividade lícita ao simplesmente divulgar uma matéria a partir de informações
das autoridades policiais, partiu-se para um comportamento ilícito em insistir na divulgação de nome e imagem de
Wellington como se fosse criminoso, quando já se sabia que não o era", salientou o juiz, entendendo que, no caso, a
emissora teve responsabilidade subjetiva pelo dano causado. “11
Não se relaciona tanto com as restrições possíveis a publicidade da justiça pelas razões já pontadas e que aceitam em
linhas gerais todos os códigos processuais, sem os prejuízos que podem acarretar aos princípios e garantias próprios
do processo penal os excessos da publicidade massiva, motivados pelas necessidades econômicas dos meios de
comunicação (IBOPE), pela natureza própria que é dos meios de comunicação.
Este parece ser o problema que deve enfrentar hoje: estabelecer quais são as restrições, não a publicidade da justiça
através da mídia, mas sim a certos limites a atividade técnica que estes realizam em tal tarefa.
7 DIREITOS DO IMPUTADO, PROTEÇÃO DA VITIMA E PUBLICIDADES DA JUSTIÇA.
Quando começa a analisar, em particular, as possíveis conseqüências da difusão massiva da justiça penal através dos
meios de comunicação, em especial por parte da mídia televisiva, surge como uma das questões mais problemáticas o
impacto que pode causar tal difusão em relação ao imputado, presumido inocente pelo ordenamento jurídico, mais
sobrecarregado de culpa pela persecução pública.
O processo penal, por tudo que traz, é para o imputado um verdadeiro prejuízo12.
Seguindo BATISTA:
“... o processo de executivização das agências de comunicação evidencia-se no exato momento em que os textos
jornalísticos abandonam a intenção de narrar com fidelidade à investigação de um crime ou o um processo em curso,
para assumir uma postura política, investigativa e acusatória, reconstituindo de forma dramatizada os fatos,
condenando, sem defesa, os infelizes réus” 13
7.1 A PUBLICIDADE COMO PENA ACESSORIA
Então, o ponto central da questão que analisamos parece residir no fato de que não se pode prescindir da publicidade
dos atos jurídicos, a civilização moderna tem exagerado de um modo “inverossímil e insuportável” 14 esta triste
conseqüência do processo. Como efeito isso não só prejudica ou estigmatiza o acusado e sua ressocialização, mas
também consegue que o processo penal se converta em si mesmo como uma sanção, em ocasiões mais graves que a
própria pena tradicional, já que os meios, muitas vezes atuando como um poder julgador de fato, penalizam o
submetido a processo sem esperar a sentença do juízo, inclusive, a pesar da absolvição que a sentença proclame. A
constituição federal nos alerta em seu artigo 5º, inciso XLV:“Ninguém pode ser responsabilizado por fato cometido por
outra pessoa. A pena não pode passar da pessoa do condenado.” 15
Para dar fundamentos a essa afirmação podemos numeras varias razões. Assim, encontramos quem defende que a
violência anímica que padece o imputado e que é contemplada através da imprensa, somente serve para que o grande
publica satisfaça seus instintos puramente vingativos, ou suas peculiares concepções penais, ou simplesmente um
desejo de uma sensação pouco agradável. E assim, explicam, porque a sociedade sente o imputado como o
protagonista de um drama, vulnerável e com sentimentos, sendo que o considera alguém ao redor de qual se pode
montar um espetáculo, uma “coisa”, que pode ser convertida em pedaços, no sentido de que sua família, sua casa, seu
trabalho, são inquiridos, requeridos, examinados e desnudados na presença de todo mundo. Isto leva a que o publico
aprecie como natural que certos dados, fatos e circunstancias da vida do imputado, que por varias razões o desejaria
ocultar, devam ser cruelmente expostos durante o transcurso do processo para que possam ser valorados
publicamente. De uma forma metafórica, mas igualmente patética: quando sobre um homem recai a suspeita de haver
cometido um crime, imediatamente “são dadas as bestas” 16, como se dizia nos tempos em que os condenados eram
oferecidos como alimentos para a fera; só que, a fera, a indomável e insaciável fera é a multidão, acrescentada na
atualidade pelos meios de comunicação, nos lembra o típico direito penal do inimigo.
Com a tarefa de demonstrar a existência desses perigos se observa que alguns meios , quando referem ao imputado
costumam utilizar concepções estigmatizastes que o fazem parecer como “um monstro que merece ódio e desprezo”17,
o que para alguns significa um serio risco de que o publico massivo, co, locando a emoção ante a inteligência chegue
ao extremo de demonizar o acusado. Com razão se tem dito, entre os operadores do direito, que a justiça humana está
feita de tal maneira que faz sofrer os homens que são culpados, mas também para saber se são culpados ou
inocentes18. Tão arraigada está essa idéia em alguns juristas que chegam a manifestarem que na maioria dos
processos o imputado não teme tanto a pena, porque às vezes pela morosidade processual o crime está prescrito
perdendo o estado o direito de punir, mas sim a difamação pública que ofende irreparavelmente sua honra e suas
condições e perspectivas de vida e trabalho.
Podemos sintetizar esse tema dizendo que, em nossos dias, tem reaparecido a antiga função infamante característica
do direito penal pré-moderno, quando a pena era pública e o processo secreto. Só que hoje a exibição pública do
acusado está nas primeiras paginas dos jornais e na televisão e não como conseqüência da condenação, quando
todavia é presumidamente inocente.
7.2 DIFUSÃO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
Ante esta realidade, cremos que toda agressão aos direitos do imputado (agressão que é produzida pelo próprio
processo, pelas medidas de coação, ou por sua exposição pública) teria que se restringir ao que seja adequado ao fim
que se procura e na medida de estancamento necessário, o que equivale dizer que deveria existir proporcionalidade
com a finalidade perseguida, para não violentar o principio da inocência. Sem embargos, há quem considera que
quando as constituições garantirem a incolumidade do imputado, este mandado é praticamente inconciliável com o que
consagra a liberdade de imprensa, pois o único que não protege a atividade irrestrita dos meios de comunicação, é a
circunstancia estigmatizante padecida pelo imputado.
8 IMPARCIALIDADE DO JUIZ E A MIDIA
O próprio juiz, ser humano que é, pode sofrer a influência da idéia geral punitiva que cerca a sociedade. Porém, em
relação ao juiz a situação torna-se bastante diversa, já que ele, a princípio, tem formação para atuar nesta posição, o
que inclui conhecer a necessidade de efetividade das garantias penais, bem como filtrar as informações acerca da
culpabilidade de um suspeito difundidas pela mídia. Carnelutti já levantava o problema da imparcialidade dos juízes,
notando a insuficiência humana para tal condição. “A justiça humana não pode ser senão uma justiça parcial; a sua
humanidade não pode senão resolver-se na sua parcialidade. Tudo aquilo que se pode fazer é diminuir a sua
parcialidade”.19
Em se tratando de uma prática que atinge todas as pessoas, assim como o juiz, é muito possível que, de certa forma,
um julgamento acabe atribuindo valor de prova a algo que sequer adentrou no processo. Lopes Jr. afirma que, em sua
opinião, “não há dúvidas de que a exposição massiva dos fatos e atos processuais, os juízos paralelos e o filtro do
cronista afetam o (in) consciente do juiz, além de acarretarem intranqüilidade e apreensão “20.
O professor Sergio Habib ensina que “temos, ultimamente, são alguns magistrados, ou mesmo alguns tribunais,
receosos com a repercussão negativa de suas decisões (...). Não se queira, pois, fazer terror com as suas decisões,
expondo-o à execração pública, seja porque concedeu uma ordem de habeas corpus em favor de determinado réu,
cuja situação processual assim recomendava, seja porque deixou de condenar outro, considerado culpado pela mídia,
mas inocente dentro dos autos. Ressalte-se que nem sempre aqueles a quem a mídia condena, num julgamento
sumário e descartável, poderão ser condenados nos processos a que respondem, porque o verdadeiro juiz julga
segundo a prova, enquanto que o "juiz-
show" julga por ouvir dizer (o que dizem os jornais e a grande mídia nacional. ”21
A independência do poder judiciário, conforme demonstra Ferrajoli, serve justamente para que se possa fazer do juiz o
garantidor dos direitos fundamentais do indivíduo, os quais não podem ser desrespeitados sequer por maioria. A
democracia que se aplica neste caso, não é a democracia formal, e sim a democracia substancial.
“Puesto que los derechos fundamentales son de cada uno y de todos, su garantía exige un juez imparcial e
independiente, sustraído a cualquier vínculo con los poderes de mayoría y en condiciones de censurar, en su caso,
como inválidos o como ilícitos, los actos a través de los cuales aquéllos se ejercen. Éste es el sentido de la frase ‘! Hay
jueces en Berlín! : debe haber un juez independiente que intervenga para reparar las injusticias sufridas, para tutelar
los derechos de un individuo, aunque la mayoría o incluso los demás en su totalidad se unieran contra él; dispuesto a
absolver por falta de pruebas aun cuando la opinión general quisiera la condena, o a condenar, si existen.”22
Quando olhamos a relação entre a magistratura e os meios de comunicação, surgem de imediato diversos aspectos
que podem ter conteúdo suficiente para por em xeque o caráter da imparcialidade da justiça penal. Podem-se
mencionar, entre outros, e como fonte de diversas anomalias, o afã de aparecer na mídia de alguns magistrados, a
pressão da opinião pública sobre as decisões judiciais canalizadas através da imprensa, a insistência dos meios em
informar sobre todos os aspectos do processo, a ausência de limites sobre a informação que os magistrados devem
brindar a imprensa, a crescente fiscalização dos meios sobre a tarefa dos juízes, etc.. Segundo o penalista Amarildo
Alcino Miranda , “é necessário que o juiz não julgue os fatos a ele apresentado, apenas à luz do direito posto, e
perceba que o réu é um membro também da sociedade, e como tal merece ser tratado com mais dignidade, e não
como escória da sociedade posta. Neste aspecto, propriamente, sobre a imparcialidade do juiz no sistema acusatório,
há que se destacar em primeiro lugar que o juiz é um homem, um ser que convive em sociedade, que não é um ser
abstrato, distante dos efeitos de uma ideologia dominante. Logo, enquanto humano, sabe-se que somos muito pouco
originais, que muitas vezes somos portadores de idéias, decisões que não são nossas, mas de uma sociedade na qual
convivemos. Estamos contaminados por idéias, comportamentos, paradigmas, valores, leis dominantes, e com estas
influências passamos despercebidos, que nada muitas vezes pertence a nós mesmos, e que na grande maioria somos
apenas uma engrenagem, nesta grande máquina social”23.
E conclui: ”Neste contexto, e dentro desta ordem, é sabido que possuir um magistrado neutro, e, portanto, alheio ao
litígio é absolutamente impossível. Especificamente, no dia a dia do processo penal, observa-se a interferência do juiz
de maneira bastante parcial, quer na admissibilidade das provas, quer inclusive, o que é mais grave, na busca da
produção da prova, o que é lamentável do ponto de vista da dita imparcialidade. Neste caso, como pode alguém
admitir a prova, e depois julgá-la mais à frente, ou mesmo como alguém poderá julgar os materiais probantes, que
ajudou a construir dentro do processo. Muitas vezes o juiz, durante a instrução criminal, negou por diversas vezes, por
exemplo, a liberdade provisória do réu, e este permanece preso, na fase do art. 499, o juiz até para legitimar sua ação
durante a instrução, solicita mais provas, e determina novas diligências. Neste caso, a imparcialidade cai por terra,
porque já houve um pré- julgamento, que afetará em muito na sua decisão final.” 24
Vale à pena precisar que, em geral, as opiniões da imprensa ou formando a opinião pública, se relacionam muito mais
com a condenação antecipada que com absolvições antecipadas. Este ultimo fenômeno há insinuado entre nós,
respeito daqueles casos em que as vitimas “fazem justiça com as próprias mãos”, ou seja, a indemissível, no Estado
democrático de Direito, Auto-tulela, por outro lado, o fenômeno das condenações sociais, é freqüentemente ante a
especial condição do acusado (funcionário público, por exemplo) ou da vitima (jornalista, por exemplo).
Em quanto primeiro dos riscos que cernam sobre a imparcialidade da justiça, é fato notar que, pela expansão
tecnológica dos meios de comunicação, mas principalmente pelo vedetismo de alguns magistrados, se encontra em
plena crise a venerabilidade que o juiz fala em sua sentença.
Em nossa investigação, temos encontrados com expressões surpreendentes por parte dos magistrados judiciais que,
nos parece, confirmam o que foi dito. Assim, para alguns juízes é muito difícil resistir a extraordinária sedução da
imprensa, pois mesmo que não seja um artista, é um homem que como qualquer é suscetível a popularidade, as
câmeras e o mundo dos meios de comunicação.
Este fenômeno é confirmado pelo próprio jornalista, quando dizemos que alguns juízes e funcionários judiciais apelam
naturalmente aos meios, principalmente quando intuem que a imprensa é capaz de falar bem sobre eles e também
quando essa exposição pública vai formando uma imagem importante. Esta sorte de atração midiática a assinalar-
ironica, mas reflexivamente- que se Narcisio vivesse “não se consumiria de amor por si mesmo frente a sua imagem
refletida em um lago. É muito provável que engoliria um aparelho de televisão, subjugado por revistas de atualidades
adornadas com sua imagem.
Não obstante e afortunadamente, é ínfimo a porcentagem de magistrados judiciais que desfrutam aparecendo na
imprensa, quiçá sob o influxo de quem demonizam que a aparência de um juiz não só tem como objetivo sua
confirmação funcional, sendo melhor sua promoção pessoal e que o vedetismo judicial não ajuda a manter a
investidura do juiz e menos o ato de julgar. Assim, quando algum magistrado aparece imerso em uma forte exposição
pública, os tribunais hierarquicamente superiores realizam severas advertências a eles.
Estas razões hão levado a pensar que, para ser um bom juiz, é recomendável a receita do silencio somente
interrompido pela ressonância que podem despertam suas decisões; a partir delas, a imprensa, a opinião pública e os
interessados passam formular suas conclusões, observações e, em seu caso, suas impugnações. Este mecanismo se
revelou eficaz desde sempre, porque consulta cabalmente os princípios republicanos, com o agregado que evita que
os magistrados se exponham a más interpretações ou incorram, real ou aparentemente, em prejulgamentos
improcedentes, ou concorram, involuntariamente, a montagem de um verdadeiro espetáculo que afetaria, sem duvidas,
sua investidura.
Mas o certo é que um bom juiz é aquele que, no lugar de buscar espaço nos meios de informação, preferem o silencio
de seu despacho, onde sem cair em asilamento podem reflexionar serenamente suas decisões, evitando inúteis
exposições públicas, que não somente entorpecem a alma judicial, mas também geram suspeitas sobre certos atos
que possam praticar. A Lei Complementar Nº 35, De 14 De Março De 1979 suscita em seu artigo 36, inciso III:
“Art. 36 - É vedado ao magistrado:
III - manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem,
ou juízo depreciativo sobre despachos, votos ou sentenças, de órgãos judiciais ressalvados a crítica nos autos e em
obras técnicas ou no exercício do magistério. ”
Do aludido dispositivo acima, percebemos que caso a manifestação do juiz rompa com o principio da imparcialidade,
incorrerá este numa falta, sanada por suspeição, Heleno Fragoso assim nos diz que, “as garantias fundamentais,
dentre as quais está o devido processo legal (que compreende o direito a um juiz imparcial), devem ser tratadas com a
máxima serenidade pelos agentes públicos, não admitindo, nessa matéria, qualquer tergiversação. Por isso, deve ser
sumariamente excluído o juiz que tenha demonstrado por qualquer meio, já ter formado, antes do momento processual
adequado, seu convencimento sobre o meritum causae “ 25
Sem embargos, não podemos ignorar que muitas vezes se faz impossível ao juiz evitar o contato com a mídia que,
insistentemente, lhe requere informações sobre alguma causa de sumo interesse. Como efeito, quando se produzem
fatos ilícitos que estremecem ou ferem a opinião pública, os jornalistas se atrincheram massivamente frente aos fóruns.
Que deve fazer o magistrado ante essa circunstancia?
Temos varias opções. Uma que o limite da informação judicial a imprensa está nas mãos do juiz: ele deve decidir
quando e como falar e quando calar. Outra, que em casos muito ressonantes o juiz deve tratar de informar
transformando um ato de justiça particular em um ato de justiça social, evitando cair na tentação do show midiático e
ao comunicar aos meios sobre uma causa em tramite, deve observar uma prudência especial, evitando assim o risco
de lidar com o vedetismo e prejulgamento. E há outra mais além e recomendam aos juízes saírem de seu gabinete, de
sua cápsula e passe a viver com os jornalistas, subministrando as informações, para que estas sejam dadas
corretamente a comunidade, já que não se trata só de contar a noticia, os juízes devem dar-la abertamente.
Não obstante, alguns magistrados têm manifestado que, no curso de causas ressonantes, chega um momento que é
tão grande a demanda por parte da imprensa, que se faz impossível reduzir a informação a um grau razoável, e não
resta outro caminho se não cortar a relação totalmente com os meios.
Se estamos de acordo em que a missão dos magistrados não é buscar imagem pública nem relacionar se com ela,
sendo assegurar a aplicação equitativa da lei, respeitando os princípios que a inspiram, é inolvidável que a discrição e
a humildade devem ser os melhores companheiros da magistratura, o que significa, em nossos tempos, proceder com
decoro, tanto em sua atuação pública com em sua vida privada.
Mas em relação com nossa problemática, nos parece imprescindível que o juiz “narciso” ou “vedete”, não só
compromete sua investidura ao não observar a lisura ou o decoro que seu cargo lhe exige, sendo que, ademais, se
coloca em serio risco a sua parcialidade. Tal que, expostos publicamente seus anúncios sobre os meios probatórios,
imputações ou detenções passadas ou futuras (que são as mais comuns expressões desse mal moderno), será muito
difícil que aceite logo teses defensivas contrarias, ou que valore serenamente provas que possam demonstrar o erro de
suas apreciações previas. Neste aspecto, a regulamentação e a recusa nos códigos processuais parece antiga e
merece ser modificada.
9 A INFLUÊNCIA DA MIDIA
Desde sempre se cogitou que a independência do poder Judicial (condição necessidade da imparcialidade) devia
resguardar se dentro da própria estrutura, com relação à organização hierárquica e aos outros juízes e também fazia
afora, é dizer, em concordância com outros poderes do Estado. Mas agora se assinala que ademais deve garantir com
relação aos meios de comunicação, que tem sido convertido em uma das mais importantes condições do
funcionamento pratico do sistema penal e, em alguma medida, na configuração de certos critérios da política criminal.
Parece que, as exigências da independência interna e externa poderiam agregar se a necessidade de independência
horizontal.
Temos visto que um dos fatores de pressão mais freqüente a que está submetida à justiça neste tempo, é proveniente
dos prejuízos instalados na própria opinião pública, a qual vai formando seu próprio juízo sobre os casos judiciais mais
ressonantes e não tolera que o magistrado tome uma conclusão distintas daquelas que a sociedade tem convertido em
verdades intangíveis. E a imprensa parece alimentar a percepção do povo, porque existe uma sorte de
retroalimentação cujos limites são difíceis de estabelecer: a mídia não se ocupa de nenhum tema que pareça
desinteressante para a sociedade e uma vez que o da a reconhecer massivamente, ainda assim opinar sobre a noticia
produz um refluxo de interesse geral que impele a imprensa a continuar com a cobertura do caso, assim
sucessivamente. “Por isso, em certos processos, o falar contra a percepção do povo sobre o que é justo alimentada
pela mídia, importa para os juízes que assim se fazem com honestidade, “ditar sua própria condenação social’,
condenar a si mesmo,” quase imolavelmente”.
Sem embargos, ainda que a força impetuosa da imprensa possa naqueles processos de amplo impacto na opinião
publica e forte discussão midiática, afetar efetivamente a imparcialidade do tribunal ou do juiz conforme o caso, esta é
uma circunstancia de proteção legal, pois não existe na lei processual um mecanismo idôneo para cobrir o juiz
imparcial do voraz apetite dos meios de comunicação sobre o animo dele.
Pelo outro lado, a pressão a que estão submetidos os juízes parece variar segundo a etapa do processo que esta
transitando. Assim, por um lado, há que opina que certos magistrados mais a pressão durante a investigação penal
preparatória ou instrução, já que encabeçam operações policiais espetaculares (operação Anaconda, operação
Pandora, Operação Zeus...), expedindo com facilidade mandados de busca e apreensão e prisões preventivas. Além
disso, muitas vezes, ordenam a prisão de alguém somente para “pegar de Cristo” e ter alguém preso, mostrando assim
a sociedade uma pseudo eficiência. Outros , pelo contrario, crêem que os juízes sofrem a máxima pressão durante o
desenvolvimento de um júri, especialmente se este é transmitido, diretamente, pela televisão, pois frente à platéia, o
grande tribunal do júri de infinitas caras e sem rosto já não diz “creio que é culpado!” e sim” para mim é culpado,
criando assim uma forte pressão popular que pode chegar a configurar uma versão dos fatos que obrigue o juiz a falar
a contraposto de seu critério com custos muito grandes para a justiça.
Na atualidade se evidencia não somente um crescente interesse dos cidadãos em conhecerem o desenvolvimento do
processo penal, sendo também um grande despregue informativo e de opinião sobre o particular, o que, há
estabelecido um real fluxo entre o processo e a opinião pública, sendo seu canal natural a imprensa.
Esta questão, que expressa um modo de controle social sobre a atividade judicial, constitui uma fonte de riscos, porque
consideram a publicidade do processo e distanciamento da opinião pública são duas forças antagônicas, ao menos
contrastantes. Pois, como na sociedade moderna quase nada vai controlar os juízos penais, o elidido controle social
fica reduzido ao que a imprensa quer publicar, com maior ou menor quota; então, este translado do controle cidadão
sobre a justiça a imprensa, pode converter se em um grande meio de distorção da opinião social no caso em que a
mídia não cumpra com seu código ético mais sagrado, que é informar sem manipular. Sobre essa manipulação o
jornalista Victor Ribeiro nos diz:
“Os grandes veículos ditos "de massa" estão tomados por empresários que não têm a menor obrigação ética com a
notícia e honestidade para com o público. O interesse financeiro é maior que tudo. Notemos que os manuais das
redações ordenam que os repórteres recusem presentinhos, tais como viagens desta natureza. No entanto, há veículos
(principalmente uma certa revista) em que nem seria necessária tal atitude. ”26
Devemos observar que essa influência midiática possui duas naturezas uma endógena e outra exógena, a primeira é
constituída pela influencia na formação e lapidação do caráter das pessoas (crianças e adolescentes), já a segunda é a
manipulação da opinião pública (adultos) para, a favor da mídia e de seus grandiosos parceiros e patrocinadores, para
a elaboração de leis e decisões que agradam sua expectativa. O que difere uma da outra são basicamente o campo de
atuação e as vantagens da mídia, pois na primeira atua no âmago da pessoa humana, fazendo com que o
discernimento do que é certo e errado se comunicam com o mesmo entendimento midiático e o juiz, como ser humano,
recai muitas vezes aqui e na segunda há uma influencia em forma de pressão, de desgaste, para que com isso a
massa se coloque na linha de frente de uma Guerra que não é deles. Podemos aqui, fazer uma comparação,
sarcástica, de que a mídia é um tribunal paralelo e que, às vezes, a competência em razão da pessoa, assim como no
direito penal, é absoluta, pois quando que é afetado diretamente pelo crime pertence a classes sociais mais elevadas
(Grandes empresários, artistas, políticos etc.) o tratamento de um crime, que às vezes é corriqueiro nas classes mais
abastadas, é grandioso. Vejamos agora os dois tipos mais especificadamente.
9.1 INFUENCIA ENDOGENA
Primeiramente a mídia começa a agir a favor de seus interesses desde cedo, formando a personalidade de crianças e
adolescentes para que no futuro tenha em suas mãos um rebanho de zumbis e robôs totalmente dominados e
engolidos pela fantasia midiática. Sobre os temas diversos estudiosos tem alertado, mas poucos dão ouvidos, se não
vejamos:
Sobre o assunto a Antropóloga Joana de Angelis nos alerta:
“A grande importância que é dada pela mídia ao crime, em detrimento dos pequenos espaços reservados à honradez,
ao culto do dever, do equilíbrio, estimula a mente juvenil à aventura pervertida, erguendo heróis-bandidos, que se
celebrizam com a rapidez de um raio, que ganham somas vultosas e as atiram fora com a mesma facilidade, excitando
a imaginação do adolescente. As emoções fortes sempre deixam marcas no ser humano, e a mídia é, essencialmente,
um veículo de emoções, particularmente no seu aspecto televisivo, consoante se informa que uma imagem vale mais
que milhares de palavras, o que, de certo, é verdade. Por isso mesmo, a sua influência na formação e na estruturação
da personalidade, da identidade do jovem é relevante nestes dias de comunicação rápida. Essa influência perniciosa,
que a mídia vem exercendo nos adolescentes, qual ocorre com os adultos e criança: também, estimulando-os para o
lado mais agitado e perturbado da existência humana, pode alterar-se para a edificação e o equilíbrio, na medida em
que a criatura desperte para a construção da sociedade do porvir, cuidando da juventude de todas as épocas, na qual
repousam as esperanças em favor da humanidade mais feliz e mais produtiva. “27
Para comprovar tal influência o acadêmico da Universidade de Blumenau, Martin Stabel Garrote, realizou uma
pesquisa e obteve os seguintes dados:
“Entre os 160 alunos pesquisados, 96% responderam possuir aparelho de televisão, 73% responderam possuir mais
de uma televisão e 55% afirmam assistirem televisão todos os dias, sendo que 27% responderam que assistem
televisão mais de três horas ao dia. Entre a preferência na programação da televisão, 37% dos alunos preferem assistir
filmes e novelas, sendo que 23% preferem as novelas, 5% os seriados e 9% preferem os filmes. Entre os pesquisados,
45% já compraram algum produto que viram na televisão, 57% afirmam terem comprado artigos de vestuário, sendo
que 21% afirmam terem comprado produtos que viram na televisão devido programas publicitários, e os outros 79%
devido a novelas, filmes, seriados e programas de auditório. “28
E conclui:
“Com base nos resultados obtidos conclui-se que o uso da televisão tem um papel importante no cotidiano dos
adolescentes, sendo que a maioria dos adolescentes assiste televisão com freqüência, e grande parte destes
adolescentes já consumiu produtos sob influencia da televisão, principalmente atribuídos a influência de programas
como anúncios publicitários, novelas, filmes, seriados e programas de auditório. Com isso verificou-se que mídia
televisiva influencia o comportamento dos jovens do ensino médio de Blumenau.”29·.
Segundo Maria Rita Kehl30, a mídia poderia, ainda, ser considerada como uma técnica moderna de produção da
subjetividade já que trabalha com o apelo sedutor ao público e a substituição do pensamento pela imagem pura e
simples. O sujeito, portanto é criado pela mídia, é um “sujeito da cultura do narcisismo, adaptado às condições
desejantes das sociedades de mercado independentemente de suas condições materiais particulares. “31
Analisando do ponto de vista psicológico dessa influencia da mídia a psicóloga Andrea Pavlovith nos ensina:
“o adolescente vive um mundo de fantasia que a televisão vende de forma barata e acessível. Identifica-se com o
comportamento e protagonistas e projeta neles seus desejos e inseguranças. Ali, é possível encontrar os modelos que
tanto são necessários nessa época do desenvolvimento de suas vidas e, de alguma maneira, ensinam os
comportamentos sociais adequados ao mundo dos adultos.” 32
Qual o interesse da mídia nessa formação? Como supracitado, além da mídia e seus patrocinadores lucrarem com
vendas de produtos no presente, há por trás o fato de que a criança e o adolescente de hoje serão os juízes, os
políticos e entre outros de amanhã, então de certa forma a mídia manipula a personalidade hoje para amanha ter seus
atos legitimados por aquela sociedade que ela mesma criou.
9.2 INFLUENCIA EXOGENA
Depois da fase adolescente já com a mente de nossas crianças a seu favor, eles passam a deturpar para de certa
sorte adapta aos seus interesses futuristas, para tanto cria e aproveitam de imagem lúdicas, vejamos o que o aspirante
o jornalista Diego Moretto fala sobre o assunto em seu blog na internet:
“A mídia brasileira funciona da seguinte forma: aproveita-se ao máximo o acontecimento da semana e espera outro
igual ou tão grande para poderem abafar o caso e partir para outra. A exemplo disso temos o recente caso do triste
acidente com o vôo do avião da TAM, o que causou alarde em todo nosso país, nos deixando com um luto eterno por
àquelas vítimas do descaso. Não se falava não se lia não se ouvia outra coisa, tudo passado pela mídia envolvia o
acidente. OK era de extrema importância se tratar do assunto, e abriu mais ainda a ferida que ronda o sistema aéreo
brasileiro, mas o que esta sendo discutido neste artigo, não é a importância das matérias passadas pela mídia (isso em
outro post...) e sim a responsabilidade em passar informação com credibilidade e clareza para o público.” 33(sic)
E continua:
“Enquanto não se via mais nada além do acidente da TAM, Renan Calheiros continuava fazendo do senado seu circo,
onde os palhaços eram o publico e até agora, nada se resolveu; não se sabe mais nada sobre os jovens que
espancaram a doméstica e pior, abafaram a história de outros jovens que também espancaram um idoso e de mais
outros que espancaram uma professora. Aqui no estado (ES), um crime bárbaro aconteceu - padrasto matou enteado
de 2 anos a socos porque ele queria brincar e não o deixava dormir-, digno de ser passado na mídia, mas... ainda tinha
de se vender a tragédia da TAM...” 23 (sic)
Observa que nessa natureza a mídia já possui o caráter da pessoa formada e agora faz manipular e usar os capachos,
como no fantástico filme The wall da Banda de Rock Pink Floyd, para a linha de frente, para assim galgar tudo que
desejas. Bom, essa influencia age de varias formas conforme o contexto, como por exemplo, se for interessante
aprovar uma lei para que um fato se torne crime ela fará de tudo para fazer, se for interessante condenar alguém
porque a mídia acha que é o culpado, eles condenam, se precisar absolver eles escondem a noticia, e assim vai
entrando em um circulo vicioso, vejamos o que a casuística nos trazem:
Recentemente, começou, pela busca do lucro e de audiência, uma intensa cobertura sobre o caso Isabela Nardini, é o
lucro em cima das desgraças alheias, a famigerada justiça do espetáculo. O jornalista Célio J. Lasmar escreveu o
seguinte sobre caso acima:
“É fato incontestável que como qualquer outro animal possuímos o que se convencionou chamar de instinto predador,
e que se manifesta em maior ou menor grau em todos dependendo das situações a que somos submetidos ou em
alguns de nós se manifesta independente de fatores externos, sendo praticamente traço componente de nossa
personalidade do qual não temos até o momento como nos livrar, embora nossas mentes cientificas tentem buscar
respostas e soluções para evitar que cometamos atos incompatíveis com a convivência social desejável dentro de
nossas comunidades.
Assim, temos que aqueles que possuem um grau menor de instinto predador, ou que o mantém sob controle através
da educação obtida no seio familiar ou então por temer as conseqüências estabelecidas pelas regras de convivência
social em nossas sociedades (Leis), ou que atingiu um estágio de respeito e compreensão por outrem que outra
personalidade ainda não conseguiu por si só, ficam perplexos diante de atitudes bárbaras, cometidas por aqueles de
nós que não souberam conter seu lado negativo.
É fato inegável e faz parte de nossa cultura explorar este lado mórbido dos acontecimentos violentos, basta verem a
curiosidade natural das pessoas sobre fatos simples como uma colisão de veículos, por exemplo, e num mundo onde a
informação viaja em alta velocidade, e com instantaneidade como o atual, atos criminosos como este envolvendo no
caso uma criança – se é que se constate de fato crime através das investigações – geram revolta, indignação e tristeza
em muitos de nós em maior ou menor grau, de acordo com a sensibilidade de cada um.Assim temos que a imprensa
sabedora deste fenômeno normalmente entra de sola no assunto, pois para ela tal fato é um gerador de negócio e
renda, e como bem sabemos, quanto mais se fala e publica sobre o caso, mais interesse ele gera no público até que
se atinja o que poderíamos chamar de saturação da informação, ou seja o publico cansou e aí então a mídia perderá
também o interesse, já que passa a não dar mais a renda esperada, ou seja os custos passam a ser maiores que os
benefícios. A maneira doentia de a mídia nacional gerir e alimentar os fatos neste e em outros episódios ocorridos em
nossa sociedade, tem demonstrado influir de forma negativa em sua correta apuração pelas autoridades constituídas
com a tranqüilidade, eficiência e honestidade que a situação exige a fim de não se destruírem reputações, pessoas,
famílias ou grupos de pessoas que podem na verdade nada ter a ver com o fato, independentemente diga-se de
passagem de sua condição social, e que irão carregar o fardo causado pelas pressões a que foram submetidos no
momento atual, talvez por toda a vida, sendo ou não culpados, o que no primeiro caso é inaceitável e injustificável.
Assim sendo, sem dúvida é dever da imprensa informar a sociedade, mas como podemos ver em alguns casos ela
excede suas fronteiras a partir do momento em que passa a externar opiniões, e até mesmo a pressionar autoridades
para que emitam opiniões ou a dirigir entrevistas e depoimentos de envolvidos com o intuito de vender seu peixe,
chegando mesmo a termo de influenciar até decisões de pessoas encarregadas da apuração legal dos fatos tanto na
Polícia como no Judiciário, o que é no mínimo inaceitável. Assim como podemos analisar pelo comportamento da
nossa imprensa neste caso, sua influência a meu entender é negativa a partir do momento que em vez de se ater aos
fatos passa a agir como agente fomentador de especulações de toda ordem sobre o evento objeto da reportagem, aqui
no caso a morte da menina Isabella Nardoni, com a finalidade única de criar uma audiência para si. Creio que nossa
imprensa precisa de um choque ético, e de uma maneira mais adequada para lidar com os fatos que irá cobrir dentro
de nossa sociedade, já que seu comportamento atual não demonstra muito escrúpulo e diria até respeito pela
sociedade e por seus iguais, da qual também é parte integrante.”34
Percebemos que a mídia nesse caso já condenou, para a opinião pública, o pai e a madastra da pequena Isabela. Já
estão condenados, pois mesmo que depois sejam provados inocentes, eles tiveram suas honras manchadas, suas
caras estampadas em todos os jornais e televisões do país , foram presos, posteriormente soltos em uma operação
policial (pois a mídia quer comer a imagem deles, como urubu na carniça), o que restou da dignidade da pessoa
humana, que soa tão bonito nos corredores da magistratura, dos advogados e do ministério público ? Isso é uma
grande farsa, esse principio existe para manter a vaidade de alguns juristas a dizer que possui uma doutrina
constitucional e faz diferente dos demais, mera demagogia, porque o ministério público fica inerte em um caso desses?
Será que a liberdade de imprensa é maior que a dignidade de duas pessoas? E por fim: Quem matou Isabela?
Miramos as palavras de Régis Richael Primo da Silva35
“é impossível não notar, aí, certa predisposição a antecipar eventual condenação do casal Alexandre Nardoni e Anna
Carolina Jatobá, respectivamente pai e madrasta da criança. O tempo do processo (que sequer começou) não é o
tempo da imprensa: o primeiro é demorado e sujeito a formas rígidas (para o nosso próprio bem); o segundo é rápido
como um raio e exige dos atores da justiça bem mais do que cada um pode dar. Diante disso, toma corpo a tendência
de precipitar a solução do caso: se a resposta do judiciário virá tardiamente, por que não confiar desde logo nas
convicções da polícia, respaldadas que estão por laudos de inegável valor científico? Foram eles, proclamou, com
veemência, determinado semanário. Ilustre comentarista de jornal televisivo chegou a acusar o casal de "abuso do
direito de defesa", simplesmente porque os dois insistem em declararem-se inocentes. Numa palavra: nega-lhes o mais
básico dos direitos do acusado, em um regime democrático – o de recusar-se a admitir a própria culpa.”
Nelson Massini, professor da área de Direito Criminal da Faculdade de Direito (FD/UFRJ), repreende a veiculação
irresponsável de informações, mas salientou a importância dos veículos midiáticos e do acesso à informação: “Defendo
sempre o sagrado direito à informação e à imprensa livre, no entanto, é preciso ter em mente o poder da mídia de
formar opinião, de repassar informações supostas e de atingir um público sem o devido preparo emocional para
determinados assuntos”.36
E cita o exemplo da “que aconteceu com Daniele Toledo, de 21 anos, acusada de matar a filha de 1 ano e 3 meses,
em novembro de 2006. A polícia encontrou pó branco na mamadeira da criança e, inicialmente, julgou ser cocaína.
Após esta acusação e a condenação por toda a mídia, sem nenhuma prova, Daniele ficou presa por 37 dias e era
espancada diariamente pelas companheiras de cela. Após laudo definitivo do Instituto de Criminalista, ela foi liberada,
já que se constatou que o pó branco era remédio amassado, medida recomendada pelo médico à mãe.” 37
O jornalista e escritor Celso Lungaretti reclama da mídia dizendo que “o comportamento da imprensa neste episódio foi
o de oferecer a dor extrema de algumas pessoas como espetáculo para a coletividade, sem jamais levar em
consideração os efeitos que isso provocaria: desde os traumas causados em outras crianças cujos pais são separados
até a possibilidade de que as turbas por ela incitadas linchassem os suspeitos ou se ferissem na tentativa. Revirou o
lixo e emporcalhou-se com o sangue. Além disso, ao persuadir maus agentes do Estado a vazarem laudos técnicos e
depoimentos que estavam sob segredo de Justiça, trombeteando-os nos jornais nacionais, inviabilizou um julgamento
justo, já que a opinião pública foi levada a condenar previamente os réus. Nossa polícia sempre teve vezo autoritário,
atuando mais como força repressiva e punitiva. Seus inquéritos tendem a serem peças de acusação e para a
acusação, com o objetivo implícito de convencer promotores a denunciarem os suspeitos.”
O jurista César Barros Leal revela sobre o tema:
“... mergulhada no espiral da violência e manipulada pelos meios de comunicação social e pelos movimentos de lei e
ordem (Law and order), a sociedade, atemorizada, em pânico, sem saber o que fazer, é induzida a não pensar nas
raízes do problema, na possibilidade de enfrentá-lo em suas origens e simplesmente demandar mais repressão, novos
tipos penais, mais prisão.”38
Mas a influência não para por ai, há certas influências posteriores aos crimes, que por razão da pessoa, faz com que a
mídia, não contente com a condenação do imputado, faça uma campanha para que as leis sejam mudadas ou criadas.
Podemos citar a Lei de crimes hediondos, que “é um verdadeiro exemplo de como a mídia influencia o Judiciário
brasileiro. Sua criação/aprovação se deu durante uma onda de extorsão mediante seqüestro (quando o criminoso não
só toma um indivíduo como refém como também exige pagamento de resgate) de empresários no Brasil no final da
década de 80. Seqüestros, como o do empresário Abílio Diniz em dezembro de 1989, foram largamente anunciados
pela mídia e fizeram com que a sociedade clamasse por maior segurança. A solução encontrada (aliás, solução
mágica para a maior parte das mazelas do país) foi a de criar uma lei que desse tratamento diferenciado a este e
outros crimes igualmente bárbaros. Assim, com uma ampla cobertura da mídia, foi fácil conseguir a aprovação, (nossos
legisladores são oportunistas...) e assim surgiu a lei 8.072 de 25 de julho de 1990.” 39
E que teve diversas modificações desde sua criação sendo o mais “emblemático a adição do crime de homicídio
qualificado ao rol de crimes hediondos por ocasião do assassinato da atriz global Daniella Perez, em 28 de dezembro
de 1992, pelo também ator Guilherme de Pádua. Ambos interpretavam o par romântico Iasmin e Bira na novela De
Corpo e Alma (além de viverem um tórrido romance também por trás das telas). Por se tratar de um crime praticado e
sofrido por pessoas públicas — o que causou enorme comoção pública —, e pela feliz coincidência de a diretora da
novela ser também a mãe da vítima, a pressão exercida pela mídia foi tanta que o legislativo não viu outra saída senão
elevar o crime de homicídio à categoria de hediondo. Outro caso bastante noticiado (inicialmente um furo de
reportagem dos jornais da TV Globo) e que foi incluso na lei por conta das pressões da mídia é a questão das
quadrilhas de falsificação de remédios, deflagradas em 1998. A adição é um tanto controversa, pois, por uma
interpretação tosca da lei, é possível chegar à absurda conclusão de que falsificar um batom é um crime hediondo.” 40
Vale destacar o entendimento de Castellar (2002, p. 321) sobre a política criminal processada pelos meios de
comunicação:
“Não se pode fazer política criminal eficiente pregando o indiscriminado aumento de penas o a imposição de mais
restrições às garantias individuais constitucionais, todas as vezes que determinado evento criminal adquira maior
publicidade social. Isso serve unicamente aos interesses da classe política, que deseja ardentemente ocupar os
espaços da mídia com propostas que saciem a natural sede de retribuição e vingança da sociedade, fenômeno que
sempre se estabelece logo em seguida a um acontecimento especialmente violento ou de algum modo mais chocante.
O que resulte deste tipo de abordagem é a produção de uma verdadeira inflação legislativa, que atrapalha e confunde
os aplicadores da Lei, propiciando, mais tarde, insegurança jurídica à população.” 41
O promotor de justiça do Estado de Pernambuco Marcelo Ugiette, assim pensa:
“A lei dos crimes hediondos nasceu hedionda por que é casuística, não nasceu de delitos praticados contra Marias e
Josés dos morros e das ruas, mas ricamente arquitetada por sinais pontuais como o seqüestro de Abílio Diniz, a morte
da atriz global, e outros particulares casos que foram mote para o rigorismo daquela norma.” 42
Há ainda que se destacar a influência que a mídia exerce sobre o tribunal do júri, que é formada por pessoas do povo.
Vejamos o caso de Suzane Von Richthofen, acusada de planejar a morte dos pais Manfred e Marísia Von Richthofen
em outubro de 2002. O “advogado Mário de Oliveira Filho, um dos defensores de Suzane, já contesta a isenção do júri
popular. Para ele, os cidadãos comuns não decidirão apenas pelas provas dos autos, mas pela influência da mídia. E
defendeu que, no julgamento, o mais importante é a isenção dos jurados” 43.
O Código de Processo Penal, no artigo 424, possibilita às partes e ao juiz requererem o desaforamento do julgamento
pelo Tribunal do Júri, “se o interesse da ordem pública reclamar, ou houver dúvida sobre a imparcialidade do júri ou
sobre a segurança pessoal do réu” 44. Todavia há julgados do STF e STJ que não admite como requisito suficiente para
pedir desaforamento originado do clamor social promovido pela imprensa e assim se manifesta:
“A maior divulgação do fato e dos seus incidentes e conseqüências, pelos meios de comunicação social, não basta, só
por si, para justificar o desaforamento, sempre excepcional, do julgamento pelo júri. A opinião da imprensa não
reflete, necessariamente, o estado de ânimo da coletividade e, por extensão, dos membros integrantes do
Conselho de Sentença.” 45
Entretanto uma parte minoritária do STJ já admitiu a possibilidade do desaforamento nos casos de clamor social
gerado pela mídia:
“A opinião desfavorável da imprensa acerca dos fatos e a presença de político como assistente de acusação não
justificam a medida.” 46 (Grifos Nossos)
O pretório e ex Ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, pensa que “se a pressão e a influência da mídia tendem a
produzir efeitos sobre os juízes togados, muito maiores são esses efeitos sobre o júri popular, mais sintonizado com a
opinião pública, de que deve ser a expressão. (...). Com os jurados é pior: envolvidos pela opinião pública, construída
massivamente por campanhas da mídia orquestradas e frenéticas, é difícil exigir deles conduta que não seguir a
corrente.” 47
Sobre a influência da mídia no tribunal do júri, o jurista Orocil Pedreira Santos Junior diz que, “o julgamento dos
crimes dolosos contra a vida vêm precedidos de uma publicização dos acontecimentos que envolveram o fato por
cobertura da mídia impressa, radiofônica, pelos noticiários ou, mais modernamente, por programas televisivos que se
dedicam apenas a apresentar de forma dramaticizada as circunstâncias do crime, a exemplo do programa da Rede
Globo de Televisão, o Linha Direta. Nesses tipos de publicização do fato, é escolhido um enquadramento específico
que, via de regra, se baseia na dicotomia vítima x agressor, construindo-se, baseado apenas nas informações do fato
imediato, um juízo de valor do acontecimento, que invariavelmente promove a condenação do acusado sem direito à
defesa. Algumas vezes existe um processo de "linchamento público" feito pela mídia, que, após transcorridos os
trâmites do julgamento legal, se mostra injusto. Porém, em sua grande maioria, os casos são apresentados, os
suspeitos julgados e condenados pela mídia que, em nome da opinião pública, exige a punição do "suspeito-culpado”.
”48
E conclui dizendo que a solução para o problema seria que:
“Com efeito, como dito alhures, não constituem aliança legítima as pressuposições próprias de quem prejulga e
condena, em nome de uma "sede de justiça do povo", com o devido processo legal, através do qual a presunção de
inocência só é derrogada pelo confronto das provas produzidas nos autos. O júri, como conjunto de atores privilegiados
desse cenário, havia por bem estar imune a essas influências, que em nada contribuem para o florescimento da justiça
social, mas dado que a construção da discursivização do direito, em nossos dias, está umbilicalmente ligada aos
fenômenos midiáticos, é impossível preservar incólume o corpo de jurados. Nesse sentido, urge que a sociedade, sem
prejuízo do trabalho de desconstruir a excessiva manipulação cultural patrocinada pelos meios de comunicação de
massa, também se preocupe em salvaguardar o direito, procurando realizar cada vez mais, através do Poder
Judiciário, julgamentos sadios. E se, para tanto, necessário for sacrificar essa instância decisória do ordenamento
jurídico nacional, o Tribunal do Júri, que se convoque uma Constituinte e assim se faça, já que elencado dentre os
direitos fundamentais e, portanto, cláusula pétrea. De forma contrária, continuaremos assistindo a um espetáculo em
que, no mais das vezes, o roteiro já fora traçado por quem não é legítimo autor e em cujo final a vítima, antes de
qualquer coisa, é a verdade. ”49
8.3 CLAMOR SOCIAL E PRISÃO PREVENTIVA
De pronto cabe relembrar a lição de Hélio Tornaghi – talvez esquecida nos dias atuais – para quem, com relação à
decretação da prisão, “há alguns perigos contra os quais deveriam presumir-se todos os juízes, ao menos os de bem; -
o perigo do calo profissional, que insensibiliza. De tanto mandar prender, há juízes que terminam esquecendo os
inconvenientes da prisão (...) A conseqüência (...) é a de tratar pessoas como se fossem cousas, e cousas
desprezíveis; perigo da precipitação, do açodamento, que impede o exame maduro das circunstâncias e conduz a
erros (...); perigo do exagero, que conduz o juiz a ver fantasmas, a temer danos imaginários, a transformar suspeitas
vagas em indícios veementes, a supor que é zelo o que na verdade é exacerbação do escrúpulo” 50
O Código de Processo Penal prevê, no artigo 312, que a prisão preventiva pode ser decretada como garantia da ordem
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal,
quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. Há entendimento, de alguns juristas e
tribunais, que a prisão preventiva por clamor social se enquadraria na primeira hipótese, qual seja a de garantia da
ordem pública. Tal hipótese seria “uma analogia do dispositivo que prevê o clamor social como fundamento para a
denegação da liberdade provisória com fiança, de acordo com o artigo 323, inciso V do Código de Processo
Penal.”51Mas, se observarmos mais intrinsecamente constataremos que se trata de uma decisão judicial baseada nas
lacunas legais em de verdade mais caracteriza um comprimento antecipado da pena a um garatismo para satisfação
processual penal.
“Através da cortina de fumaça do alarma social e segurança pública, com a pressão dos meios de comunicação,
freqüentemente o juiz acaba perdendo sua imparcialidade em prejuízo do devido processo e da presunção de
inocência, ordenando ou mantendo a prisão preventiva em hipóteses em que, se não fosse tais fatores, não decretaria.
Dessa maneira, a necessidade social de pena em uma sociedade de mass media é satisfeita antecipadamente com a
utilização da prisão preventiva, que substitui a pena e canaliza assim as necessidades psicológico-sociais de
punição.”52
Decisões de tribunais do Rio Grande do Sul tem admitido a possibilidade da prisão preventiva quando da ocorrência de
clamor popular, para tanto vejamos o teor do Habeas Corpus nº 70010847317, Segunda Câmara Criminal, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Des. Antonio Carlos Netto Mangabeira, julgado em 10/03/2005.
“Não há falar em ilegalidade do decreto de prisão preventiva e da decisão indeferitória do pedido de revogação da
custódia cautelar, os quais recomendam a segregação do paciente para a garantia da ordem pública, devido à
gravidade do fato cometido, a periculosidade social apresentada pelo paciente (registra antecedente pelo envolvimento
em incêndio causado a uma viatura policial um dia antes do homicídio cometido) e, ainda, devido à grande repercussão
do delito causada na imprensa e comunidade” (...). (Habeas Corpus nº 70010330546, Segunda Câmara Criminal,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Des. Antonio Carlos Netto Mangabeira, julgado em 21/12/2004).53
A primeira Turma do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás no HABEAS CORPUS N.º 25414-5/217 (200502525686)
– SÃO LUIS DE MONTES BELOS decide de forma diversa ao Tribunal gaúcho:
“... a medida cautelar foi decretada sob o argumento de que há um clamor público na sociedade local, cobrando uma
resposta enérgica do judiciário... o argumento da prisão preventiva com o objetivo de garantir a ordem pública tornou-
se insubsistente, pois a liberdade do paciente não causa intranqüilidade na sociedade local, como conseguiu
demonstrar eficientemente o impetrante. Diante dessas considerações, por vislumbrar constrangimento ilegal ao status
libertatis do paciente, rejeito o parecer ministerial de cúpula, concedo a ordem impetrada e determino a expedição de
alvará de soltura, se por outro motivo ele não deva permanecer preso.” 54
E a Corte Suprema nos autos do HC nº 84.680-PA, Relator Ministro Carlos Britto, DJ 15.04.05, decidiu que o clamor
social não abarca suficiência para ensejar a cautelar ora discutida, senão vejamos:
“... impende notar que, segundo reiterado entendimento pretoriano, a expressão garantia da ordem pública, inscrita no
Código de Processo Penal, não compreende o clamor público (ao contrário do que entendem certos doutrinadores),
visto que, neste caso, a prisão preventiva atenderia tão-somente os anseios da sociedade. Ora, numa interpretação
restritiva do conceito, tem-se por garantia da ordem pública o risco ponderável de o autor da infração tornar a cometer
delitos.” 55
O STJ posiciona junto ao STF com relação ao verbete “clamor” produzido pela mídia, pois “se, além de existirem
dúvidas acerca da autoria e da materialidade dos delitos, a ordem pública não foi afetada, a não ser pelo
sensacionalismo e exagero dos meios de comunicação, não há porque manter decreto de prisão preventiva.” 56, ainda
sobre o assunto, mas em outro julgado, adverte “que a decretação da prisão preventiva, posterior a sentença, com
base em noticias veiculadas pela imprensa sem a necessária comprovação. Constrangimento ilegal caracterizado, já
que, para a prisão cautelar, não bastam meras conjecturas, pressão da mídia ou hipóteses não apoiadas em provas.” 57
10 CONCLUSÃO
Nos tempos que correm, é evidente no marco da política institucional, a criminal joga um papel preponderante como
ferramenta utilizada para intervir em problemas que deveriam ser atendidos do plano econômico e social. O Estado
que se desvincula desses dois aspectos, sem embargos, faz sentir seu peso através de praticas tendente a repressão
de toda atividade que pode desequilibrar a estabilidade das elites que o formão ou que exercem influencias sobre as
decisões governamentais.
Neste trabalho tentamos expor o poder de legitimação que exercem os meios de comunicação, a respeitos das
estratégias da política criminal adotadas para a segurança social, através dos volumes e da uniformidade dos
discursos que emitem.
Os meios de comunicação intervêm no processo de legitimação de tais políticas mediante a manipulação constante de
certas noticias de casos que afetam a sensibilidade social e que logo são observados como paradigmáticos. Fazendo
uso do discurso hegemônico, logram explicar e uma determinada medida que faz a política criminal.
Temos observado que tais decisões ocorrem logo após um fato sobre saliente nunca ocorrem espontaneamente como
o costume social assim o almeja. Nascem como “partes” para tentar cobrir necessidades mediatas, sem que se
observe um plano de fundo estrutural, portanto pragmáticas ante a reclamação de distintos setores sociais que usam
resguardar seus interesses, tentando assim produzir uma segurança pública em seu aspecto subjetivo através de
influenciadas decisões judiciais ou elaborações de leis.
Os conflitos que se dão não se solucionam com a criação e aplicação de leis mais severas, sem observar a evolução
histórica, política, econômica, cultural, religiosa, social deste estado de comoção que vai além da questão criminal.
Devendo ir de mão com a possibilidade de elaborar uma política da justiça penal que seja legitima para nascer da
interação da maior quantidade possível de setores. Trata-se de socializar as políticas criminais e não criminalizar as
políticas sociais.
Podemos concluir que a mídia, usando de seu direito de informar, em certos casos abandona esse âmago , como se
Estado Juiz fosse,passa a acusar certos fatos comotivos, violando os princípios fundamentais da ampla defesa e
presunção de inocência.
Observamos que deve haver uma formação dos operadores da informação especifica para o jornalismo criminal,
fazendo assim com que esses não agem, às vezes por ignorância da Lei, violando os direitos e garantias
fundamentais. Para tanto faz mister, a interdisciplinidade dos cursos de comunicação social e Direito, permitindo
caminhar na linha tênue que divide ambos os cursos e trazer a harmonia e imparcialidade dos julgados, como
prescreve a nossa farta legislação.
Para finalizar tragamos CASTELLAR pensa “que não é momento de aumentar penas ou restringir garantias individuais.
É preciso acabar com a segregação, com a distinção entre morro e asfalto, acreditando-se que lá esta o inimigo, o
bandido, e aqui os mocinhos, o exército regular, pois, ambas a partes acabam por internalizar estes papéis. E aí se
dará o genuíno caos...” 58
Vemos que o assunto é extenso e sinuoso e sabemos que este breve trabalho de conclusão de curso não tem por
escopo extinguir o assunto, mas sim dar subsídios para uma posterior conclusão e aprofundamentos em cursos de pós
graduação.
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CASTELLAR, João Carlos. Violência, imprensa e mudanças na lei penal. Discursos sediciosos: crime, direito e
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ANEXOS
1 CARNELUTTI, Francesco. As misérias do processo penal. Campinas: Conan, 1995. p. 20
2A publicidade estava presente no periodo classico, tanto na Grecia como na Roma Republicana, mas entrou em crise
com o processo inquisitivo da Roma Imperial, quando a sala de audiência( secretarium ) começou a ser fechada com
uma cortina ( velum ) que se levantava ( levato velo) quando se queria dar publicidade ao processo . A publicidade
desapareceu durante a experiência processual medieval, a qual se caracterizou pelo segredo tanto das acusações
como das provas.
3“ ...una cárcel, por más que busquemos hormosas palabras para referirnos a todo eso mundo, no es más que una
jaula; la misma jaula que se usa para encerrar al león, al tigre, al oso em el zoológico es la que se usa para encerrar a
los seres humanos”. Disse Binder, Alberto:” Importancia y límites del periodismo judicial”, justicia penal y Estado de
derecho, Ad.Hoc, Buenos Aires, 1993, p.265.
4http://www.meumundo.americaonline.com.br/vasconlima/pena.html, em 05/03/2008
5“ Sus togas rojas, los armiños entre los que se envuelven como gatos, los palacios donde se juzgan, las flores de lis,
toda esa parafernalia les es muy necessaria. Y si los médicos no llevaran ropa telar ni chinelas y los doctores no
usaran birretes y togas llamativamente amplias, jamás hubieram engañado al mundo que no sabe resistirse ante
semejante espectáculo”. Pascal, Blaise: Pensamentos. Elogio de la contradición, isabel Prieto (trad._. Madrid, 1995,
pp, 17-18.
6Em http://a-lideranca.blogspot.com/2007/11/o-prncipe-captulo-xviii.html, no dia 15/03/2008
7http://br.geocities.com/mcrost04/pequeno_tratado_das_grandes_virtudes_07.htm, em 14/03/2008.
8Carrara, francesco: Opúsculos de derecho criminal, temis, Bogotá, 1978, t.IV, pp 305-307
9Www.tricom.net/rumbo/242/animal.htm em 16/03/2008
10Podemos citar os seguintes filmes: Sede de Mal e A Sangue Frio(1967),Todos os Homens do Presidente (1976). Em
tema nacional podemos citar os suintes programas: Aqui e Agora, Brasil urgente, linha Direta.
11http://www.juristas.com.br/
n_21904~p_452~emissora+de+tv+condenada+a+indenizar+inocente+acusado+injustamente, em 17/03/2008
12 CARNELUTTI, Francesco. As misérias do processo penal. Campinas: Conan, 1995. p. 14:”...a tortura, nas formas
mais crueis, tem sido abolida, ao menos no papel; mas o processo em si mesmo é uma tortura”.
13 BATISTA, Nilo. Mídia e sistema penal no capitalismo tardio. Discursos Sediciosos: crime, direito e sociedade. Rio
de Janeiro, p. 271-274. 2002.
14Carnelutti: Ob. Cit, p.49
15http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=1093 em 10/03/2008
16Carnelutti: Ob. Cit p.49
17Schneider, hans J.: “ A criminalidade nos meios de comunicação de massas”, Doutrina Penal, 1989, p.86
18Carnelluti: Ob. Cit., p.48
19 CARNELUTTI, Francesco. As misérias do processo penal. Campinas: Conan, 1995. p. 34
20 LOPES JR., Aury. Introdução crítica ao Processo Penal: fundamentos da instrumentalidade garantista. Rio de
Janeiro:Lumen Juris, 2004. p. 253
21http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4720&p=3 em 25/04/2008
22 FERRAJOLI, Luigi. Derechos y garantías: la ley del más débil. Madrid: Trotta, 1999. p. 27.
23http://www.direitonet.com.br/artigos/x/20/65/2065/, em 08/03/2008
24http://www.direitonet.com.br/artigos/x/20/65/2065/ , em 08/03/2008
25http://www.fragoso.com.br/cgi-bin/artigos/arquivo62.pdf, em 21/03/2008
26http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=269FDS003, em 16/03/2008
27http://www.espirito.org.br/portal/artigos/diversos/mocidade/influencia-da-midia.html, em 12/02/2008
28http://www.furb.br/faic/seminario/FAIC_3/Humanas/MARTIN%20STABEL%20GARROTE2.htm, em 21/04/2008
29http://www.furb.br/faic/seminario/FAIC_3/Humanas/MARTIN%20STABEL%20GARROTE2.htm, em 21/04/2008
30http://www.redepsi.com.br/portal/modules/smartsection/item.php?itemid=1067, em 20/04/2008
31 KEHL, M.R., Psicanálise & Mídia: Você decide...e Freud explica, [s.l]: [s.Ed.], [s.d]
32http://www.redepsi.com.br/portal/modules/smartsection/item.php?itemid=1067, em 20/04/2008
33http://dmoretto.blogspot.com/2007/08/m-influncia-da-mdia-brasileira.html, em 21/04/2008
23 http://dmoretto.blogspot.com/2007/08/m-influncia-da-mdia-brasileira.html, em 21/04/2008
34http://www.jornaldedebates.ig.com.br/index.aspx?cnt_id=15&art_id=12681 em 14 de Abril de 2008
35http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=483JDB003, em 02/05/2008
36http://www.olharvirtual.ufrj.br/2006/index.php?id_edicao=200&codigo=2, EM 21/04/2008
37http://www.olharvirtual.ufrj.br/2006/index.php?id_edicao=200&codigo=2, EM 21/04/2008
38http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/02/14/materia.2007-02-14.7456794806/view , em 11/04/2008.
39http://www.verbeat.org/blogs/gabrielazago/2006/03/a-progressao-de-regime-em-crim.html
40http://www.verbeat.org/blogs/gabrielazago/2006/03/a-progressao-de-regime-em-crim.html
41CASTELLAR, João Carlos. Violência, imprensa e mudanças na lei penal. Discursos sediciosos: crime, direito e
sociedade. Rio de Janeiro, p. 321-322. 2002.
42http://www.mp.pe.gov.br/arquivo/imprensa/imprensa_clipping/noticias/2006_marco/09_hedionda.htm, em 14/02/08
43http://www.jhoje.com.br/30052006/policial.php, em 16/02/2008
44 BRASIL. Decreto-lei n. 3689 de 3 de outubro de 1941. Código de processo penal. Constituição federal, código
penal, código de processo penal. 5 ed. São Paulo: Editora revista dos Tribunais, 2003.
45 HC70228 / MS - Mato Grosso do Sul – Habeas Corpus, Primeira Turma, Supremo Tribunal Federal, Relator(a):
Min.Celso de Mello, julgado em 04/05/1993. Ainda: “A reação, favorável ou desfavorável, da imprensa em torno do fato
e daspessoas submetidas a julgamento não traduz, necessariamente, para efeito de desaforamento, uma situação
configuradora de eventual parcialidade do conselho de sentença”. HC67749 / MG - Minas Gerais – Habeas Corpus,
Primeira Turma, SupremoTribunal Federal, Relator(a): Min. Celso de Mello, julgado em 20/03/1990. Grifou-se.
46 HC 11.628/SP, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, Superior Tribunal de Justiça, julgado em 19.09.2000,
DJ23.10.2000 p. 151.
47 BASTOS, Márcio Thomaz. Júri e mídia. In: Tribunal do júri: Estudo sobre a mais democrática instituição jurídica
brasileira. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. p. 115.
48http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4720&p=2 em 03/05/2008
49http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4720&p=3 em 03/05/2008
50http://www.r2learning.com.br/_site/artigos/
curso_oab_concurso_artigo_56_Prisao_temporaria_como_medida_de_pressaoem 04/05/2008
51http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/resumos/R1213-1.pdf
52SANGUINÉ, Odone. Clamor público como fundamento da prisão preventiva. In: Escritos em homenagem a
Evandro
Lins e Silva. São Paulo: Método, 2001. p. 274.
53http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/resumos/R1213-1.pdf em 05/5/2008
54http://www.tj.go.gov.br/jurisprudencia/juris.php?acao=query&tipo=P&posicao= ,em 08/05/2008
55http://www.advocaciacremonesi.com.br/escritorio/
modules.phpame=News&file=article&sid=150&mode=thread&order=0&thold=0, em 06/05/2008
56 HC 9.690/RS, Rel. Ministro Fernando Gonçalves, Sexta Turma, julgado em 24.08.1999, DJ 13.09.1999 p. 117.
57 HC 2.733/BA, Rel. Ministro Assis Toledo, Quinta Turma, julgado em 31.08.1994, DJ 10.10.1994 p. 27181. Ainda
nesse sentido: “Processual penal. "Habeas corpus". Homicídio. Prisão preventiva: ordem pública e aplicação de lei
penal. Falta de fundamentação substancial, uma vez que não se pode confundir estardalhaço causado pela imprensa,
em virtude do inusitado crime, com os reais motivos para o decreto prisional”. HC 3.232/RS, Rel. Ministro Adhemar
Maciel, Sexta Turma, julgado
em 28.03.1995, DJ 04.09.1995 p. 27863.
58 CASTELLAR, João Carlos. Violência, imprensa e mudanças na lei penal. Discursos sediciosos: crime, direito e
sociedade. Rio de Janeiro, p. 321-322. 2002.