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17 T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008 REPORTAGEM INOVAÇÃO: A ESTRATÉGIA COMPETITIVA CRISTINA MONTE A inovação passou a ser considerada em anos recentes a mola do desenvolvimento econômico e tem nas diferentes formas de conhecimento os recursos vitais para sua dinamização e progres- so. No mundo empresarial nunca se falou tanto em inovação como nos tempos atuais. Algumas justi- ficativas explicam sua disseminação, eis uma: se antes o modelo de produção se baseava sob os moldes da extração dos recursos naturais, hoje, pela constatação da sua finidade é certo que sua sustentação agora é fundamentada em novos in- sumos, matérias-primas, meios e métodos. Portanto, é nesse cenário que a inovação cres- ce - quando ela busca criar oportunidades de ne- gócios sustentáveis -, grosso modo aliando pes- quisa científica tecnológica a novas estratégias e métodos organizacionais e de mercado. Sob a perspectiva comercial, ganha força em virtude de minimizar a concorrência, já que sua implementação pode representar serviços ou pro- dutos diferenciados por preços competitivos. Um dos maiores problemas relacionados à ino- vação é que não há uma fórmula que sirva de mo- delo e que uma vez implantada defina a empresa como inovadora. Há toda uma análise de gestão e de processos conjunturais que deve ser consi- derada. Ou seja, os processos inovativos devem ser integrados às demais atividades da empresa, conciliando com a estrutura e modelo de negócio. No ambiente externo, há a necessidade de análise macroestrutural, envolvendo fatores que vão desde a disponibilidade de recursos naturais, incentivos financeiros, leis associadas e políticas local e internacional. A constatação da importância da inovação nos negócios não surge no senso comum apenas pela observação de que é necessário mudar, mas sim, pelo embasamento científico, sobretudo, por inter- médio da pesquisa e desenvolvimento (P&D), e de preferência que o resultado se efetive no chão das fábricas e nas práticas de produção e de re-

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REPORTAGEM INOVAÇÃO: A ESTRATÉGIA COMPETITIVACRISTINA MONTE

A inovação passou a ser considerada em anos recentes a mola do desenvolvimento econômico e tem nas diferentes formas de conhecimento os recursos vitais para sua dinamização e progres-so.

No mundo empresarial nunca se falou tanto em inovação como nos tempos atuais. Algumas justi-ficativas explicam sua disseminação, eis uma: se antes o modelo de produção se baseava sob os moldes da extração dos recursos naturais, hoje, pela constatação da sua finidade é certo que sua sustentação agora é fundamentada em novos in-sumos, matérias-primas, meios e métodos.

Portanto, é nesse cenário que a inovação cres-ce - quando ela busca criar oportunidades de ne-gócios sustentáveis -, grosso modo aliando pes-quisa científica tecnológica a novas estratégias e métodos organizacionais e de mercado.

Sob a perspectiva comercial, ganha força em virtude de minimizar a concorrência, já que sua

implementação pode representar serviços ou pro-dutos diferenciados por preços competitivos.

Um dos maiores problemas relacionados à ino-vação é que não há uma fórmula que sirva de mo-delo e que uma vez implantada defina a empresa como inovadora. Há toda uma análise de gestão e de processos conjunturais que deve ser consi-derada. Ou seja, os processos inovativos devem ser integrados às demais atividades da empresa, conciliando com a estrutura e modelo de negócio.

No ambiente externo, há a necessidade de análise macroestrutural, envolvendo fatores que vão desde a disponibilidade de recursos naturais, incentivos financeiros, leis associadas e políticas local e internacional.

A constatação da importância da inovação nos negócios não surge no senso comum apenas pela observação de que é necessário mudar, mas sim, pelo embasamento científico, sobretudo, por inter-médio da pesquisa e desenvolvimento (P&D), e de preferência que o resultado se efetive no chão das fábricas e nas práticas de produção e de re-

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lações sociais nos vilarejos longínquos ou nas co-munidades carentes.

Os desafios para sua implantação são muitos: para o empresário, decidir quando e quanto inves-tir em inovação não parece uma tarefa fácil, con-siderando as nuances e oscilações do mercado globalizado; para o governo, criar uma estrutura operacional e a complementaridade entre os ór-gãos afins, de modo a dispor de recursos e ins-trumentos legais, atuando eficientemente, é uma missão que exige esforços; e para o pesquisador, o desafio não é menor, atuar em um ambiente com infra-estrutura necessária e entender o funciona-mento mercadológico do ambiente empresarial, exige muito mais do que conhecimento científico.

Portanto, analisar o conceito inovação e sua si-nergia com os ambientes envolvidos merece uma análise que transcende a superficialidade, dada a densidade que o assunto exige, principalmen-te em virtude de cada realidade empresarial e do ambiente institucional para a prática da inovação.

NADA SE CRIA TUDO SE RENOVACapaz de adentrar nos mais distintos ramos de

atividades, a inovação está presente nos setores químico, telecomunicações, terapêutico até no da moda. Isso comprova que não há limites quando se quer criar ou renovar processos que sejam efi-cazes e monetariamente interessantes. Mas, afi-nal o que é inovação?

Consta no Wikipédia algumas definições sobre inovação, como por exemplo a publicada pela Or-ganização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e traduzida pela Financiado-ra de Estudos e Projetos (FINEP): inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um pro-cesso, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negó-cios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas.

Em outra definição no mesmo site, há a afir-mação: inovação, em seu sentido mais genérico,

pode ser definida como algo novo para a organi-zação. A palavra inovar, do latim, significa tornar novo, renovar, enquanto inovação traduz-se pelo ato de inovar.

Já o teórico Joseph Schumpeter dizia que a inovação é o impulso fundamental que coloca e mantém em movimento a engrenagem da econo-mia.

O desafio em efetivar um processo inovativo é imenso – não basta ter uma boa idéia, a qual pode ser revertida em oportunidade, e nem mesmo achar que a possível solução para um problema completa um cenário inovador. Até que o produto ou serviço chegue ao consumidor, há uma série de etapas a ser superada, o que exige mais que espírito empreendedor e criatividade.

Os obstáculos são muitos: as vezes o proces-so pode ser interrompido pela falta de avanço tecnológico associado, pela ausência de financia-mento ou até mesmo pela falta de conhecimento sobre a área, entre tantos outros. Portanto, consu-mar um processo de inovação não é tão simples quanto pode parecer, porém, a decisão em não implementá-lo pode representar a mortalidade empresarial, principalmente no caso das micros e pequenas empresas que além dos escassos recursos financeiros para a aquisição de tecno-logia, ainda sofrem com a falta de informação.

INOVAÇÃO REQUISITO PARA A SOBRE-VIVÊNCIA DAS MPES

Exemplificando, no Estado do Acre, são regis-tradas mensalmente, somente na Junta Comercial do Acre, cerca de noventa empresas, no entan-to, a maioria delas pede falência logo após a sua abertura. A afirmação é da reportagem intitulada “Inovação é chave para a sobrevivência de mi-cros e pequenas empresas”, assinada pelo Ser-viço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Acre (Sebrae/AC) e exibida no site da Agência de Notícias do Acre, no dia 14 de janeiro. Observou-se, na matéria, que há algumas falhas em comum entre as que encerram suas atividades precoce-

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mente, destacando-se: a falta de planejamento, de controle financeiro e estoques ou de conheci-mento sobre o mercado em que atuam, seguindo o padrão do País.

Para minimizar esses problemas, o Sebrae/AC está investindo no estímulo à inovação como forma de evitar a mortalidade das empresas acreanas. Dessa forma, dentre outras medidas, realizará um acompanhamento acirrado, por meio de visitas monitoradas, com o objetivo de diagnosticar a si-tuação, elaborar um plano de ação personalizado e orientar os micros e pequenos empresários atra-vés de palestras e seminários.

Para Célio Luís Picanço de Matos, especialista como Agente de Difusão e Informação Tecnoló-gica e líder da Unidade de Inovação Tecnológica do Sebrae/AM, há diversos impeditivos às MPEs quando o assunto é inovação. “Os maiores gar-galos das MPEs são a falta de acesso à tecno-logia (informação e serviços); disponibilidade de infra-estrutura tecnológica (interno às empresas e externo às Instituições de Ciência e Tecnologia - ICTs); ambiente inadequado (incentivo e legis-lação); custo e a ausência da cultura inovadora que a maioria não tem; falta de gestão empreen-dedora e de conhecimento sobre programas que financiam capital de risco ou capital semente, por isso não investem em P&D&I e praticamente não fazem parcerias institucional e empresarial; não cooperam entre elas e as ICTs. Tudo isso, em sua maioria, eleva as taxas de mortalidade das MPEs”, declara o líder.

Diante da situação exposta, Célio explica a im-portância da inovação: “A inovação, no mínimo, permite a sobrevivência da MPE no mercado glo-balizado. Caso ocorra maior investimento planeja-do por parte dela em tecnologia, aumentará ainda mais sua capacidade de crescimento e faturamen-to”, finaliza o especialista.

BRASIL O PAÍS DO PRESENTECom as medidas anunciadas pelo governo Lula

para áreas estratégicas como a Ciência e a inova-

ção tecnológica no final do ano passado, espera-se que o País salte para o futuro. Dessa forma, o governo federal demonstra a inclinação de priori-zar as áreas, conforme a apresentação do Plano de Ação 2007-2010: Ciência, Tecnologia e Inova-ção para o Desenvolvimento Nacional, que integra o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ocorrida no dia 20 de novembro de 2007. Para sua implementação o governo disponibilizará cerca de 41 bilhões de reais para as áreas da Ciência e tecnologia.

Na ocasião do lançamento, o ministro da Ci-ência e Tecnologia, Sérgio Rezende, explicou que o plano tem duas metas: formar recursos huma-nos qualificados e fazer com que a inovação faça parte da agenda das empresas nacionais. Para isso, o programa está dividido em quatro priorida-des que norteiam todas as suas ações: expansão e consolidação do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação; a promoção da inovação tecnológica nas empresas; a pesquisa, o desen-volvimento e inovação em áreas estratégicas e a ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvi-mento social.

O diferencial do plano consiste na sua articu-lação com os demais ministérios e instituições afins. Esse sim é o maior desafio da implantação do plano, segundo Ivan Rocha Neto, doutor em Eletrônica, assessor de Planejamento da Associa-ção Brasileira das Instituições de Pesquisa Tec-nológica (ABIPTI) e chanceler da Universidade Corporativa Alberto Pereira de Castro da ABIPTI (UCA). “O governo federal tem feito esforços para investir no desenvolvimento de áreas estratégicas para o País. A questão principal não tem sido o volume de recursos disponíveis, mas se concen-tra na gestão do sistema em pequena dimensão, e na infra-estrutura física e de pessoal da base técnica, científica e tecnológica. Em virtude de di-versos problemas, sobretudo relacionados à falta de cuidados em remover os entraves burocráticos e legais para o desenvolvimento de projetos de C&T. Para se ter uma idéia, o Brasil é o quarto País em investimentos per capita (R$/Grupos de

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Pesquisa)”, analisa o assessor da ABIPTI.

POLÍTICAS PÚBLICAS EM CT&I E SEUS BENEFÍCIOS

A primeira vez em que o governo federal buscou dar unicidade às políticas públicas de CT&I desen-volvidas pelos estados foi em 1975, quando criou o Sistema Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Naquele momento as instituições organizaram-se na forma de um sistema nacional. Adiante, seguiram-se os Planos Básicos de Desen-volvimento Científico e Tecnológico, sob a adminis-tração do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Somente em 1985, foi criado o Ministério da Ciência e Tecnologia como órgão central do sistema federal de C&T.

A abertura de mercado, proporcionada pela políti-ca econômica do governo Collor, na década de 1990, contribuiu para que as empresas aumentassem os investimentos na área da inovação tecnológica.

E, ao final da década, surgiram os fundos seto-riais, que apesar das dificuldades devido ao con-tingenciamento de seus recursos, foi uma política bem-sucedida e, em virtude do controle da inflação e o conseqüente investimento em inovação efetuado pelas indústrias, empresas e o estado, o governo fe-deral elaborou a Lei de Inovação, tendo sido sancio-nada em dezembro de 2004, sob o número 10.973.

A lei foi criada com o objetivo de melhorar a efi-ciência do setor produtivo, de forma a capacitá-lo tecnologicamente, por meio de um amplo conjunto de medidas cujo objetivo maior é ampliar e agilizar a transferência do conhecimento gerado no ambiente acadêmico para a sua apropriação pelo setor produ-tivo, estimulando a cultura de inovação e contribuin-do para o desenvolvimento industrial do País, sendo considerada um marco legal.

Em relação às políticas públicas do setor, a opi-nião não é unânime quanto ao estímulo à inovação. O doutor Ivan Rocha Neto da ABITPI analisa: “As po-líticas públicas não têm criado um ambiente de real estímulo às inovações tecnológicas. A Lei do Bem (Lei 11.196/2005) restringe o incentivo fiscal para

inovação tecnológica apenas ao Imposto de Renda sobre o lucro real. Ora, esse regime fiscal é pratica-do quase exclusivamente pelas grandes empresas (6% do total). As demais empresas estão no regime do lucro presumido e não têm direito aos incentivos. Sob competição agressiva de produtos importados, as empresas terão baixos lucros, ou nenhum, e não poderão recorrer aos incentivos justamente quando mais estiverem precisando investir em inovações tecnológicas competitivas. A Lei de Inovação (Lei 10.973/2004), em seu artigo 19, oferece subvenção econômica para projetos de inovação com recursos do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Para isso foi criada uma Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide, Lei 10.332/2002) que tira recursos das em-presas a pretexto de promover o desenvolvimento tecnológico. Mas em 2006 apenas menos de 10% desses recursos e de royalties de concessões rever-teram para essa finalidade”, expõe Neto.

CAPITAL INTELECTUAL, CIÊNCIA E A IN-DÚSTRIA

Segundo estudo apresentado no painel “Políticas de inovação e parcerias público-privadas: o que pre-cisa ser feito”, realizado na cidade de São Paulo em novembro de 2007, e durante o seminário “O Desafio da Inovação no Brasil”, o diretor científico da Funda-ção de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Carlos Henrique de Brito Cruz, mostrou que as universidades brasileiras formam mais dou-tores do que as americanas, sendo que o Estado de São Paulo detém a maior produção científica da América Latina.

Brito apontou a Universidade de São Paulo (USP) como a que mais forma doutores, são em média dois mil por ano; em seguida vem a Universidade Esta-dual de Campinas (UNICAMP), com cerca de 870; só então, em terceiro lugar, aparece a Universidade da Califórnia em Berkeley, com mais de 760; seguida da Universidade do Texas em Austin, com 700; e da Universidade da Califórnia em Los Angeles, com 660 doutores formados.

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Mas, apesar disso apenas 10% dos cientistas brasi-leiros estão atuando na indústria, enquanto na Coréia esse porcentual se aproxima de 80. Outro exemplo vem da Espanha, que mantém quase 60% dos pesquisado-res atuando na indústria.

No Brasil, um possível impeditivo dessa transferên-cia de ambiente pode estar relacionado ao receio que o empresário tem das constantes mudanças legais e falta de políticas públicas de longo prazo.

Por isso, como forma de estimular a produção cien-tífica e dentro do Plano de Ação apresentado, o presi-dente Luis Inácio Lula da Silva anunciou que concede-rá em março de 2008 um aumento de 20% no valor das bolsas de mestrado e doutorado, além de aumen-tar o número de bolsas concedidas pela Capes e pelo CNPq.

O objetivo do governo com a iniciativa é superar o número de bolsas concedidas no País, já que em 2006 foram 65 mil bolsas de estudos oferecidas, e em 2007 o número passou para 95 mil.

Segundo informações da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), institui-ção associada à ABIPTI, haverá um acréscimo de 20% nas bolsas de mestrado e doutorado, em relação ao que será pago pelo CNPq e pela Coordenação de Aper-feiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (Capes). O valor das bolsas também será

ampliado para os pesquisadores que estão cursando fora do Estado do Amazonas. Nesses casos, o aumen-to será de 30%. Portanto, as bolsas de mestrado serão de 1.356 reais para os pesquisadores que cursarem no Estado do Amazonas e de 1.762 reais para bolsas concedidas em outros Estados. Já as de doutorado serão de 2.008 reais para o Amazonas e 2.610 reais para os pesquisadores que estão em outras unidades da Federação. Os novos valores também vigorarão a partir de março.

É bom que se lembre que a Região Norte conta com um número ínfimo de doutores, já que no Estado do Amazonas eles somam 650 titulados.

O estímulo incentiva a produção científica e conse-qüentemente a inovação. São as pesquisas, através do processamento de métodos e viabilizadas tecnica-mente que melhoram a vida das pessoas, das empre-sas e dos países.

As revolucionárias descobertas científicas como, por exemplo, as leis de Newton, o princípio da relati-vidade e a evolução das espécies continuam sendo objetos de estudos, mas, atualmente, os avanços científicos têm proporcionado pesquisas em outras áreas. Conheça os principais ocorridos no campo científico em 2007, segundo a revista Science, pu-blicação mundialmente reconhecida.

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INDUSTRIALIZAÇÃO E A INOVAÇÃODe acordo com a Pesquisa Industrial de

Inovação Tecnológica 2005 (Pintec), do Ins-tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 33 mil empresas implementaram inovação tecnológica seja em produtos ou seja em processos. Desse total de empresas, cerca de 30 mil são industriais e as restantes são de serviços de alta intensidade tecnológica (telecomunicações, informática e pesquisa e desenvolvimento).

O Estado de São Paulo reúne mais de 35% das empresas industriais inovadoras e, do total do investimento industrial em inovação em todo o País, mais da metade (55,6%) foi efetuada pelas empresas paulistas.

A referida pesquisa de 2005 aponta um au-mento no número de empresas que passaram a utilizar a inovação tecnológica em relação à edição passada que considerou os dados de 2003. O número passou de 28.036 para 30.377, um aumento que representa 8,4%, conforme tabela abaixo.

Ainda na pesquisa da Pintec 2005, os em-

presários discorreram sobre as dificuldades para realizar a inovação tecnológica em seus negócios. São elas: os elevados custos, ris-cos econômicos excessivos e escassez de fontes de financiamento.

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E DESI-GUALDADE SOCIAL

Em artigo publicado no O Estado de São Paulo de 19 de novembro de 2007, José Goldemberg, professor da USP, abordando a questão da energia e as academias de ciência, inicia seu texto recorrendo à História. Cabe-nos a reflexão da possível analogia entre a inovação, a sociedade e as MPEs na atualidade: “Existe uma crença generalizada de que os avanços científicos e tecnológicos dos últimos 200 anos resolveram muitos problemas da humanidade, como a eliminação de doenças, o aumento da vida média das pessoas, e permitiram estender conforto e prosperidade a um terço do gênero humano (cerca de dois bilhões de pessoas), o que não

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tem precedentes na História. Roma, no seu esplendor, deu aos romanos um excelente nível de vida, mas à custa do trabalho de cerca de 100 milhões de outros seres humanos escravizados. Apenas 1% da população mundial da época se beneficiou dos confortos da Cidade Imperial”, descreve o professor.

Como se vê a proporção de beneficiados com as conquistas tecnológicas vem crescen-do, entretanto, há um fosso - não só social - que impede os micros e pequenos empresários, por exemplo, de desfrutarem da inovação.

Por isso, nem todos comungam que o de-senvolvimento econômico traga a premissa da igualdade social. É o caso da professora e coordenadora da Comissão Setorial de Inves-tigação Científica da Universidade da Repú-blica, no Uruguai, Judith Sutz, que afirmou no Seminário Internacional RedeSist “Dez Anos de Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovati-vos Locais”, ocorrido em novembro no Rio de Janeiro: “A ordem de prioridades deve ser vis-ta de modo inverso: o investimento nas ques-tões sociais leva a uma economia estável, por meio da eliminação das desigualdades e do conseqüente acesso de todos à informação, aos bens culturais e econômicos”. Ela ainda pontuou: “Enquanto as primeiras beneficiariam a parte mais rica da população, o desenvol-vimento seria uma forma de tentar alavancar as populações mais pobres, alheias aos pro-cessos de inovações tecnológicas”, afirmou a professora.

Uma forma de estimular a inserção social e articulação de pequenas instituições com o intuito de impulsionar a inovação e o desen-volvimento parte da Rede Norte de Proprieda-de Intelectual, Biodiversidade e Conhecimen-tos Tradicionais (RNPIBCT), criada em 2003, com a proposta de promover a função social da propriedade intelectual, o uso sustentável dos recursos da biodiversidade e dos meca-nismos diferenciados para a proteção dos co-

nhecimentos tradicionais oriundos da Região Norte. Sua criação ocorreu em virtude do de-senvolvimento da Ciência e Tecnologia nas úl-timas décadas, o que estimula o crescimento da propriedade intelectual, devido a diversos fatores, entre os quais destacam-se: o rápido avanço científico e tecnológico, a criação de tecnologias de caráter diferenciado em relação àquelas tradicionais, novas formas de agregar valores a produtos e serviços, diferentes pa-drões de inovação entre os países, surgimento de novas formas de proteção ao trabalho inte-lectual e questionamentos sobre os requisitos tradicionais para a concessão da proteção.

Entre as instituições integrantes da rede, a Fucapi participa coordenando a Comissão do Amazonas/Roraima, por meio da colabo-radora Sônia Tapajós, que atua no Núcleo de Propriedade Intelectual e Informação Tecnoló-gica (NUPI/FUCAPI). Ela aponta os desafios da Rede Norte: “Apesar de sua importância estratégica para o desenvolvimento científico e tecnológico do País, esse assunto ainda é pouco difundido, principalmente quando fala-mos em Região Norte. A comunidade científica e tecnológica, bem como o empresariado local, ainda conhece pouco sobre as vantagens da utilização do sistema de propriedade intelectu-al, tanto para suas pesquisas quanto seu uso como ferramenta estratégica pela competição no mercado. No entanto, graças à ação do pró-prio governo federal, através do INPI e de seus parceiros regionais, como a Fucapi, SECT-AM, CESUPA, Museu Emílio Goeldi, por exemplo, esse cenário está começando a mudar, haja vista, o número de cursos, treinamentos e eventos realizados ano passado na região, na área de propriedade intelectual”, afirma Sônia.

Apesar de o conceito “inovação” ter se tor-nado o motor da economia mundial, é preciso que ele se incorpore às mais diferentes confi-gurações empresariais, de modo a proporcio-nar um crescimento solidário, inserindo outras

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camadas sociais no contexto econômico. Mas isso é um esforço conjunto – como afirmava um dos maiores inventores da História, Thomas Ed-son, toda invenção tem 1% de inspiração e 99% de transpiração, portanto, trabalhar é preciso.

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