Intensivo3 ProcessoPenalMilitar Aula2 RenatoBrasileiro 280209 Marco

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    INTENSIVO III FEDERAL E INTENSIVO III ESTADUALDisciplina: Direito Penal e Procesual Penal MilitarProf.: Renato BrasileiroData: 28.02.2009Aula n02

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    MATERIAL DE APOIO - MONITORIA

    ndice

    1. Artigos Correlatos1.1 Crimes militares: conceito e jurisdio2. Simulados

    1. ARTIGOS CORRELATOS

    1.1 Crimes militares: conceito e jurisdio

    Azor Lopes da Silva Jnior. Mestre em Direito Pblico pela Universidade de Franca, Ps-graduado pelaUniversidade Estadual Paulista, Ps-graduado pelo Centro de Aperfeioamento e Estudos Superiores daPolcia Militar SP, Ps-graduando em Segurana Pblica pela PUC-RS/SENASP, Multiplicador de DireitosHumanos habilitado pela Anistia Internacional, Professor de Direito Penal e Direito Constitucional noCentro Universitrio de Rio Preto, Major e Professor de Direito Penal do Centro de Aperfeioamento eEstudos Superiores da Polcia Militar do Estado de So Paulo (CAES) no Curso Superior de Polcia e Cursode Aperfeioamento de Oficiais.

    Resumo: O artigo traz uma abordagem histrica e atual do aparente conflito de normas possvel nabusca de subsuno de um fato norma penal comum ou castrense, estabelecendo conexo temticacom a jurisdio penal militar.

    Palavras-chaves: crime militar, transgresso disciplinar, crime comum, conflito aparente de normas,princpio da especialidade, jurisdio militar, Lei n 9299/96, Reforma do Judicirio, conflito de atribui-es, conflito de competncia, indiciamento abusivo, direitos fundamentais, Habeas Corpus.

    I. Introduo: A pertinncia e atualidade do tema.

    Dois fatores nos levaram a lavrar este breve ensaio relativamente ao direito penal militar e a jurisdiomilitar: a inexistncia da disciplina nos cursos de graduao e o eventual conflito de atribuies geradopela ignorantia juris entre autoridades policiais, civis e militares, e membros do Ministrio Pblico.

    No primeiro caso insero da disciplina nos cursos de graduao em direito lembra o eminente JuizRonaldo Joo Roth [01]que no perodo entre 1925 a 1930 a disciplina era obrigatria nos currculos doscursos de Direito, sendo aps, pela reformulao da Lei de Ensino, tornada facultativa. A questo notem aporte meramente acadmico, mas sobretudo no que toca aos direitos fundamentais de acesso

    jurisdio e de direito defesa tecnicamente habilitada, mormente num universo em que seguramentemais de 400 mil cidados brasileiros so militares de carreira e sofrem jurisdio das cortes militares,sem considerar ainda, que a jurisdio militar aplicvel tambm a civis, como demonstraremos maisminudentemente a seguir. No se pretende aqui advogar em favor da incluso curricular, mas de des-pertar para a necessidade de habilitao dos operadores do Direito.

    A segunda de nossas preocupaes ignorantia juris e conflito de atribuies , certamente decorrenteda primeira, toma relevo no somente sob o prisma de que, se ao leigo no escusvel o desconheci-mento da lei, maior rigor cientfico ainda deve ser cobrado dos profissionais da cincia jurdica, sendo

    sofrvel o estabelecimento de conflitos positivos ou negativos de atribuies por conta de desconheci-mento da norma.

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    II. A base da compreenso: o conceito de crime militar.

    II.1 Distino entre crime militar e transgresso disciplinar.

    Ao leigo razovel, e portanto perdovel, confundir crimes militares com transgresses militares que,em regra, brotam na caserna [02] tendo como pano de fundo a violao de regras de hierarquia [03] edisciplina [04]. De mesma sorte, tratar jurisdio militar e processo penal militar como mecanismos ad-ministrativos conseqente efeito do primeiro equvoco.

    Conceituando materialmente crime, veremos, v.g., Noronha t-lo como "a conduta humana que lesa ouexpe a perigo bem jurdico protegido pela lei penal" [05], para Fragoso " a ao ou omisso que, a

    juzo do legislador, contrasta violentamente com valores ou interesses do corpo social, de modo a exigir

    seja proibida sob ameaa de pena, ou que se considere afastvel somente atravs da sano penal" [06]e, Bettiol para quem " qualquer fato do homem, lesivo de um interesse, que possa comprometer ascondies de existncia, de conservao e de desenvolvimento da sociedade" [07], e para Asua "aconduta considerada pelo legislador como contrria a uma norma de cultura reconhecida pelo Estado elesiva de bens juridicamente protegidos, procedente de um homem imputvel que manifesta com suaagresso e periculosidade social" [08].

    A transgresso disciplinar todavia, ainda que ontologicamente no se distinga de crime, porquanto am-bos decorrem de uma conduta humana ilcita pelo descumprimento de uma norma jurdica, dele se dife-re em substncia e, bem assim, Meirelles [09] diz:

    No se deve confundir o poder disciplinar da Administrao com o poder punitivo do Estado, realizado

    atravs da Justia Penal. O poder disciplinar exercido como faculdade punitiva interna da Administra-o, e, por isso mesmo, s abrange as infraes relacionadas com o servio; a punio criminal aplica-da com finalidade social, visando a represso de crimes e contravenes definidas nas leis penais e poresse motivo realizada fora da Administrao ativa, pelo Poder Judicirio.

    Masago [10], por sua vez, enumera quatro distines elementares entre a responsabilidade penal e aadministrativa que fazem diversa suas substncias:

    a)o fundamento da responsabilidade criminal a proteo de bens fundamentais do indivduo e da soci-edade, como a vida, a liberdade, a incolumidade pessoal, a honra, a propriedade, a organizao poltica.Muito mais modesto e restrito o fundamento da responsabilidade disciplinar, que consiste na tutela dobom funcionamento do servio pblico e dos fins por ele visados.

    b)Qualquer crime funcional constitui tambm falta disciplinar, mas a recproca no verdadeira. E,quando coincidem as duas espcies de responsabilidade em razo do mesmo fato, sofre seu autor, cu-mulativamente, a pena criminal e a disciplinar. Isso no sucederia se ambas tivessem o mesmo carter,em face da regra nom bis in idem.

    c)Ningum pode ser criminalmente punido pela prtica de ato que no tenha sido anteriormente definidopela lei como crime. Mas todos os atos contrrios aos deveres do funcionrio do azo a penalidades dis-ciplinares, independentemente de especial definio anterior da lei.

    d)Salvo os casos excepcionais de ao privada, os crimes desencadeiam ao penal, desde que cheguemao conhecimento da autoridade. Ao contrrio, a falta disciplinar pode ser reprimida ou no, conformeconvenha aos interesses do servio, cabendo aos superiores hierrquicos larga margem de discricionari-edade no assunto.

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    Assim, vem, no Direito ptrio, o Cdigo Penal Militar deixar claro: "Art. 19 Este Cdigo no compreen-de as infraes dos regulamentos disciplinares".

    1.2 Distino entre crime militar e crime comum.

    Eis aqui um dos pontos que exige esforo dos mais rduos ao aplicador da lei ou operador do Direito, eisto reconhece at mesmo o douto Mirabete: "rdua, por vezes, a tarefa de distinguir se o fato crimecomum ou militar, principalmente nos casos de ilcitos praticados por policiais militares" [11].

    Ocorre que, tanto o Direito Penal comum quanto o militar, em respeito ao constitucional princpio dareserva legal [12], definem: "No h crime sem lei anterior que o defina. No h pena sem prvia comi-nao legal." (CP, Art. 1) ou "No h crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prvia comi-nao legal."; adiante vem a Lei de Introduo ao Cdigo Penal ditando: "Considera-se crime a infraopenal a que a lei comina pena de recluso ou de deteno, quer isoladamente, quer alternativa ou cu-

    mulativamente com a pena de multa;". Assim, idnticas as definies legais de crime, tanto comum oumilitar, deve-se recorrer, diante do caso concreto s regras de hermenutica.

    Se at aqui vemos igual definio de crime, tanto comum quanto militar, a partir daqui traaremos adiferena. Ocorre que, para se verificar eventual subsuno do fato norma penal comum, basta umconfronto do fato a um determinado tipo penal encontrando ali presentes todos os elementos de suadefinio legal, sejam eles elementos objetivos ou descritivos, normativos ou subjetivo, conforme o ca-so. Diversamente, para que haja subsuno no campo penal militar, alm de buscar a tipicidade na Par-te Especial do cdigo, o operador deve verificar se o fato tambm se enquadra numa das hipteses cir-cunstanciais [13] ditadas pelo seu artigo 9. A operao de hermenutica portanto desenvolve-se emduas etapas: 1) busca de tipicidade na Parte Especial (exatamente como ocorre no Direito Penal co-mum; 2) busca de adequao em uma das hipteses circunstanciais previstas no artigo 9do Cdigo

    Penal Militar.

    No ocorrendo subsuno do fato e circunstncias em qualquer das duas operaes o delito no sercrime militar, v.g., a prtica de contraveno penal pelo militar, mesmo que dentro de um quartel e con-tra outro militar, ser considerado delito comum; da mesma forma, a leso corporal praticada por ummilitar, fora do ambiente do quartel e fora da situao de servio, contra um civil; igualmente o trficode entorpecentes por um militar, mesmo que dentro do quartel, j que prevalece a Lei n 6368/76; ocrime de tortura, mesmo que praticado dentro do estabelecimento militar tipifica-se por lei especial (Lein 9455/97); ao abuso de autoridade de igual forma aplica-se a Lei n 4898/65; etc.

    Desta forma, se a conduta no foi tipificada no Cdigo Penal Militar, mas em alguma lei penal especial,esta prevalece. Se, todavia, o fato se subsume tanto norma penal militar quanto comum, preponde-

    ra a primeira em razo do princpio da especialidade.Diante do conflito aparente de normas, buscamos soluo no magistrio de Noronha [14]:

    Assunto afim do concurso de crimes o de leis, tambm enunciado como conflito aparente de normas.Ocorre quando duas ou mais leis ou disposies legais a respeito de determinado fato se apresentamcomo aplicveis, devendo decidir-se se uma admite a aplicao da outra ou a exclui. Em tordo do assun-to giram trs princpios: o da especialidade, o da subsidiariedade e o da consuno. O primeiro enun-ciado pela frmula lex specialis derogat legi generali. Duas disposies se acham em relao de geral eespecial quando os requisitos do tipo geral esto todos contidos no especial, o qual tem um ou mais re-quisitos (chamados especializantes).

    Assim, poderemos encontrar no caso concreto perfeita subsuno do fato tpico a duas espcies de nor-mas penais (penal comum e penal militar), como se observa nos crimes impropriamente militares, ouseja, aqueles que sendo definidos como crimes militares, podem de igual forma ter como sujeito ativo

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    um militar ou mesmo um civil (v.g. o homicdio, definido do artigo 205 do CPM e no artigo 121 do CP,sem exigir qualquer dos tipos penais a condio de militar ao sujeito ativo; da mesma forma, o delito deleses corporais: art. 209, CPM e 129, CP; a Rixa: art. 211, CPM e art. 137, CP; o furto: art. 240, CPM e155, CP; etc.). Na verdade, quase todos os crimes tipificados no Cdigo Pena "comum" de igual forma oso no Cdigo Penal Militar, tendo este ltimo um outro nmero de crimes que somente so por ele tipi-ficados (geralmente os crimes propriamente militares).

    Desta forma, ao contrrio do que supem alguns que o crime militar somente possa ter como sujeitoativo um militar , vem o artigo 9 do Cdigo castrense e dita:

    Art. 9 Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

    I - os crimes de que trata este Cdigo, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nelano previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposio especial;

    II - os crimes previstos neste Cdigo, embora tambm o sejam com igual definio na lei penal comum,quando praticados:

    [...]

    III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituies milita-res, considerando-se como tais no s os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintescasos:

    a) contra o patrimnio sob a administrao militar, ou contra a ordem administrativa militar;

    b) em lugar sujeito administrao militar contra militar em situao de atividade ou assemelhado, oucontra funcionrio de Ministrio militar ou da Justia Militar, no exerccio de funo inerente ao seu car-go;

    c) contra militar em formatura, ou durante o perodo de prontido, vigilncia, observao, explorao,exerccio, acampamento, acantonamento ou manobras;

    d) ainda que fora do lugar sujeito administrao militar, contra militar em funo de natureza militar,ou no desempenho de servio de vigilncia, garantia e preservao da ordem pblica, administrativa ou

    judiciria, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obedincia a determinao legal supe-rior.

    Da mesma forma cai por terra o raciocnio equivocado de que o crime militar somente possa ter comosujeito passivo outro militar:

    Art. 9 Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

    II - os crimes previstos neste Cdigo, embora tambm o sejam com igual definio na lei penal comum,quando praticados:

    [...]

    b) por militar em situao de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito administrao militar, contramilitar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

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    c) por militar em servio ou atuando em razo da funo, em comisso de natureza militar, ou em for-matura, ainda que fora do lugar sujeito administrao militar contra militar da reserva, ou reformado,ou civil; (Redao dada pela Lei n 9.299, de 8.8.1996)

    d) por militar durante o perodo de manobras ou exerccio, contra militar da reserva, ou reformado, ouassemelhado, ou civil;

    [...]

    Incide igualmente em erro quem imagina que, no que toca ao militar, praticando crime contra um civil, oilcito somente ser militar se o fizer durante o servio:

    Art. 9 Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

    [...]

    II - os crimes previstos neste Cdigo, embora tambm o sejam com igual definio na lei penal comum,quando praticados:

    [...]

    c) por militar em servio ou atuando em razo da funo, em comisso de natureza militar, ou em for-matura, ainda que fora do lugar sujeito administrao militar contra militar da reserva, ou reformado,ou civil; (Redao dada pela Lei n 9.299, de 8.8.1996)

    [...]

    Por fim, tambm labora em equvoco quem supe que o crime militar somente possa ocorrer dentro dosquartis:

    Art. 9 Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

    [...]

    II - os crimes previstos neste Cdigo, embora tambm o sejam com igual definio na lei penal comum,quando praticados:

    a) por militar em situao de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situao ou asseme-

    lhado;[...]

    c) por militar em servio ou atuando em razo da funo, em comisso de natureza militar, ou em for-matura, ainda que fora do lugar sujeito administrao militar contra militar da reserva, ou reformado,ou civil; (Redao dada pela Lei n 9.299, de 8.8.1996)

    d) por militar durante o perodo de manobras ou exerccio, contra militar da reserva, ou reformado, ouassemelhado, ou civil;

    [...]

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    III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituies milita-res, considerando-se como tais no s os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintescasos:

    [...]

    c) contra militar em formatura, ou durante o perodo de prontido, vigilncia, observao, explorao,exerccio, acampamento, acantonamento ou manobras;

    d) ainda que fora do lugar sujeito administrao militar, contra militar em funo de natureza militar,ou no desempenho de servio de vigilncia, garantia e preservao da ordem pblica, administrativa ou

    judiciria, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obedincia a determinao legal supe-rior.

    [...]

    III. A jurisdio militar: breve retrospecto histrico e atualidades.

    A jurisdio militar acompanha nosso direito desde o Imprio. Assim ditava a Constituio de 1824 [15]:"Artigo 179 [...] X exceo de flagrante delito a priso no pode ser executada, seno por ordemescrita da Autoridade legtima. [...] O que fica disposto acerca da priso antes da culpa formada nocompreende as Ordenanas Militares".

    Na esteira da Carta Imperial vinha o Cdigo Criminal do Imprio: "Art. 308 Este codigo no compre-hende: [...] 2 - Os crimes puramente militares, os quaes sero punidos na frma das leis respecti-

    vas".

    Em comentrio a este artigo Tinoco [16] aduzia:

    (241) Considera-se crimes militares os declarados nas leis militares e que s podem ser commetidospelos cidados alistados nos corpos militares no exercito ou armada, como so: 1 - Os que violam asantidade e a religiosa observancia do juramento prestado pelos que assentam praa. 2 - Os que of-fendem a subordinao e boa disciplina do exercito ou armada. 3 - Os que alteram a ordem, policia eeconomia do servio em tempo de guerra ou paz. 4- O excesso ou abuso de autoridade, em occasiode servio ou influencia de emprego militar, no exceptuados por lei que positivamente prive o delin-quente do fro militar.

    Diferente no ocorreu com o advento da Repblica:CONSTITUIO DA REPBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL (DE 24 DE FEVEREIRO DE 1891)

    Art 76 - Os oficiais do Exrcito e da Armada s perdero suas patentes por condenao em mais de doisanos de priso passada em julgado nos Tribunais competentes.

    Art 77 - Os militares de terra e mar tero foro especial nos delitos militares.

    1 - Este foro compor-se- de um Supremo Tribunal Militar, cujos membros sero vitalcios, e dos con-selhos necessrios para a formao da culpa e julgamento dos crimes.

    2 - A organizao e atribuies do Supremo Tribunal Militar sero reguladas por lei.

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    Na mesma linha, vinha o Cdigo Penal da Repblica dos Estados Unidos do Brasil para, em seu artigo 6preceituar: "Este codigo no comprehende: [...] b) os crimes puramente militares, como tais declaradosnas leis respectivas;".

    Em nota que comenta tal dispositivo, Oscar de Macedo Soares [17] pontuou:

    Os militares de terra e mar tero fro especial nos delictos militares. Vide no Codigo Penal para a Arma-da que acompanha o dec n. 18 de 7 de maro de 1891, approvado e ampliado ao exercito nacional pelalei n. 612 de 29 de setembro de 1899. O Supremo Tribunal Militar, usando da faculdade contida no art.5, 3 do dec. Legisl. n. 149 de 18 de julho de 1893, expedio em 16 de julho de 1895 o Regulamentoprocessual criminal militar para ser observado no exercito e armada. Vide ainda J. Barbalho, Comm. Aosarts. 52, 2, 53, 54 e 77 da Const. Fed.; Joo Vieira, Obr. Cit., p. 73 e segs, Dir. Pen. Do Exerc.e Ar-mada.; e o nosso Cod. Penal Mil. (1903, ed. Garnier).

    A Carta de 1934 tambm dispunha relativamente ao foro militar:

    CONSTITUIO DA REPBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL (DE 16 DE JULHO DE 1934)

    Art 84 - Os militares e as pessoas que lhes so assemelhadas tero foro especial nos delitos militares.Este foro poder ser estendido aos civis, nos casos expressos em lei, para a represso de crimes contraa segurana externa do pas, ou contra as instituies militares.

    Art 85 - A lei regular tambm a jurisdio, dos Juzes militares e a aplicao das penas da legislaomilitar, em tempo de guerra, ou na zona de operaes durante grave comoo intestina.

    Art 86 - So rgos da Justia Militar o Supremo Tribunal Militar e os Tribunais e Juzes inferiores, cria-

    dos por lei.

    A chamada "Constituio Polaca" de 1937 tambm no se omitiu em relao ao foro militar:

    CONSTITUIO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL (DE 10 DE NOVEMBRO DE 1937)

    Art 111 - Os militares e as pessoas a eles assemelhadas tero foro especial nos delitos militares. Esseforo poder estender-se aos civis, nos casos definidos em lei, para os crimes contra a segurana externado Pais ou contra as instituies militares.

    Art 112 - So rgos da Justia Militar o Supremo Tribunal Militar e os Tribunais e Juzes inferiores, cria-dos em lei.

    Na seqncia, vem o Cdigo de Processo Penal, institudo pelo Decreto-Lei n. 3.689, de 3 de outubrode 1941, para excetuar da jurisdio comum os crimes militares ("Art. 1 - O processo penal reger-se-,em todo o territrio brasileiro, por este Cdigo, ressalvados: [...] III - os processos da competncia daJustia Militar;").

    A democrtica Constituio de 1946 manteve a jurisdio militar:

    CONSTITUIO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL (DE 18 DE SETEMBRO DE 1946)

    Art 106 - So rgos da Justia Militar o Superior Tribunal Militar e os Tribunais e Juzes inferiores que alei instituir.

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    Pargrafo nico - A lei dispor sobre o nmero e a forma de escolha dos Juzes militares e togados doSuperior Tribunal Militar, os quais tero vencimentos iguais aos dos Juzes do Tribunal Federal de Recur-sos, e estabelecer as condies de acesso dos Auditores.

    [...]

    Art 108 - A Justia Militar compete processar e julgar, nos crimes militares definidos em lei, os militarese as pessoas que lhes so, assemelhadas.

    1 - Esse foro especial poder estender-se aos civis, nos casos, expressos em lei, para a represso decrimes contra a segurana externa do Pas ou as instituies militares.

    2 - A lei regular a aplicao das penas da legislao militar em tempo de guerra.

    A Constituio de 1967 e sua Emenda Constitucional de 1969 mantiveram os Tribunais Militares:

    CONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1967

    Art 120 - So rgos da Justia Militar o Superior - Tribunal Militar e os Tribunais e Juizes inferiores ins-titudos por lei.

    [...]

    Art 122. - A Justia Militar compete processar e julgar, nos crimes militares definidos em lei, os militarese as pessoas que lhes so assemelhadas.

    1 - Esse foro especial poder estender-se aos civis, nos casos expressos em lei para represso de cri-mes contra a segurana nacional ou as instituies militares, com recurso ordinrio para o Supremo Tri-bunal Federal.

    2 - Compete originariamente ao Superior Tribunal Militar processar e julgar os Governadores de Estadoe seus Secretrios, nos crimes referidos no 1.

    3 - A lei regular a aplicao das penas da legislao militar em tempo de guerra.

    Nem mesmo a "Constituio Cidad" no extinguiu a Justia Militar:

    CONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

    Art. 122 - So rgos da Justia Militar:

    I - o Superior Tribunal Militar;

    II - os Tribunais e Juzes Militares institudos por lei.

    [...]

    Art. 124 - Justia Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.

    Pargrafo nico - A lei dispor sobre a organizao, o funcionamento e a competncia, da Justia Militar.

    [...]

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    Art. 125 - Os Estados organizaro sua Justia, observados os princpios estabelecidos nesta Constituio.

    [...]

    3 - A lei estadual poder criar, mediante proposta do Tribunal de Justia, a Justia Militar estadual,constituda, em primeiro grau, pelos Conselhos de Justia e, em segundo, pelo prprio Tribunal de Justi-a, ou por Tribunal de Justia Militar nos Estados em que o efetivo da polcia militar seja superior a vintemil integrantes.

    4 - Compete Justia Militar estadual processar e julgar os policiais militares e bombeiros militares noscrimes militares definidos em lei, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e dapatente dos oficiais e da graduao das praas. (Redao anterior Emenda Constitucional n 45/04).

    Do texto constitucional observa-se que, respeitando-se o pacto federativo, clusula de natureza ptrea,

    fixou-se diferentemente competncia para as duas esferas de Justia Militar: federal e estadual. pri-meira, diz a Constituio competir o julgamento dos crimes militares definidos em lei, enquanto se-gunda restringiu a jurisdio aos casos de crime militar praticados por policiais militares e bombeirosmilitares. Assim, como anotamos anteriormente, ainda que possa o civil cometer crime de natureza mili-tar (impropriamente militares), somente ficar sujeito jurisdio castrense se ofender bem jurdicovinculado s Foras Armadas (Exrcito Brasileiro, Marinha de Guerra e Fora Area Brasileira), porquan-to se o fizer em detrimento das Polcias Militares ou Corpos de Bombeiros Militares, dever ser julgadopela Justia comum (somente caso a infrao tenha correspondente tipicidade na legislao penal co-mum), por carecerem os rgos das Justias Militares estaduais de competncia para julgamento decivis.

    Seguindo no estudo da jurisdio militar, foroso tratar, na esteira histrica, ainda que infraconstitu-

    cional, da Lei n 9299/96. Pois bem, em agosto de 1996, aps tramitar o Projeto de Lei n 899-A, deautoria do Deputado Federal Hlio Bicudo (PT), obteve rejeio pelas comisses, diante de inconstitucio-nalidades apresentadas. Por acordo com o autor, o Deputado Federal Jos Genuno (PT) apresentou umsubstitutivo que, ainda assim, diante de uma enormidade de incongruncias, foi rejeitado pelo Senadoque, todavia, submeteu votao diverso projeto de lei (2801-F, de 1992), j anteriormente aprovadopela Cmara, que sancionado transformou-se na Lei n 9299/96.

    Em minucioso artigo [18] publicado pela Associao dos Magistrados das Justias Militares Estaduais, oProfessor Dr. Marcos Rodrigues Caldas aponta toda sorte de incorrees e desatinos por que passou oprojeto de lei at sua redao final, anotando:

    O Deputado Bicudo restou insatisfeito e apresentou em 17.7.96, Cmara Federal um novo Projeto de

    Lei (n 2190/96) pretendendo aprofundar a alterao de competncia jurisdicional das Justias MilitaresEstaduais. Pretende, agora, o deputado paulista, seja revogada a alnea "f" supra referida (o que j o-correu). Prope seja acrescido ao artigo 9 do Decreto Lei n 1.001/69 um outro pargrafo com o se-guinte texto: "Os oficiais e praas das polcias militares dos Estados, no exerccio de funes de policia-mento, no so considerados militares para efeitos penais, sendo competente a justia comum para pro-cessar e julgar os crimes cometidos por ou contra eles.". Prope, ainda, que: "Os inquritos instauradospara apurao dos crimes mencionados nesta lei podero ser avocados a critrio do Procurador Geral deJustia que designar membro do Ministrio Pblico para acompanhar as investigaes.". No dia 13 deagosto de 1996, em artigo estampado na "Folha de So Paulo" o deputado afirma que o texto assinadopelo Presidente da Repblica foi desvirtuado por "presses das Justias Militares estaduais" e continha"imperfeies tcnicas e limites materiais que no foram intencionalmente corrigidos por ambas as casasdo Congresso.".

    Aps tais contratempos, era sancionada a Lei n 9299, trazendo notveis mudanas no que toca juris-dio das Cortes Militares. De um lado, o objetivado pelo parlamentar, mitigava-se a amplitude jurisdi-

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    cional da Justia Militar para dela retirar a competncia de julgamento dos crimes contra a vida de civispraticados por militares, dando nova redao ao artigo 9do Cdigo Penal Militar, ao nele incluir um pa-rgrafo nico, que fazia simetria com a alterao do artigo 82 do Cdigo de Processo Penal Militar, bemcomo para retirar a natureza de crime militar aquele praticado com armamento militar (art. 9, II, f).Contudo, alargou-se a competncia da justia castrense para nela incluir o julgamento de casos em queo militar atuando em razo da funo, mesmo que fora de servio, praticasse um crime militar, situaoantes no includa pela redao original do cdigo:

    LEI N 9.299, DE 7 DE AGOSTO DE 1996.Altera dispositivos dos Decretos-leis n s 1.001 e 1.002, de 21de outubro de 1969, Cdigos Penal Militar e de Processo Penal Militar, respectivamente.

    Art. 1 O art. 9 do Decreto-lei n 1.001, de 21 de outubro de 1969 - Cdigo Penal Militar, passa a vigo-rar com as seguintes alteraes:

    "Art. 9 [...]

    II [...]

    c) por militar em servio ou atuando em razo da funo, em comisso de natureza militar, ou em for-matura, ainda que fora do lugar sujeito administrao militar contra militar da reserva, ou reformado,ou civil;

    [...]

    f) revogada.

    Pargrafo nico. Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos contracivil, sero da competncia da justia comum."

    Art. 2 O caput do art. 82 do Decreto-lei n 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Cdigo de Processo PenalMilitar, passa a vigorar com a seguinte redao, acrescido, ainda, o seguinte 2, passando o atual pa-rgrafo nico a 1 :

    "Art. 82. O foro militar especial, e, exceto nos crimes dolosos contra a vida praticados contra civil, aele esto sujeitos, em tempo de paz:

    [...]

    2 Nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra civil, a Justia Militar encaminhar os autos doinqurito policial militar justia comum."

    Como se observa pela leitura da nova redao dada ao 2, do artigo 82 do Cdigo de Processo PenalMilitar, mesmo nos crimes dolosos contra a vida praticados por militar contra civil, ainda que em lugarno sujeito administrao militar e por militar em servio ou atuando em razo da funo, no se reti-rou da polcia judiciria militar a atribuio de conduo do Inqurito Policial Militar, mas se determinouque, remetido este Justia Militar, cabe Corte castrense a remessa justia comum, caso entendatratar-se, o caso apurado, de crime doloso contra a vida de civil.

    De incio, questionou-se a constitucionalidade da referida norma, porquanto teria ferido a Lei Maior quedeixa claro competir Justia Militar o julgamento dos crimes militares definidos em lei (art. 124, caput,CRFB), cabendo ao Pleno do Supremo Tribunal Federal decidir pela constitucionalidade da norma nostermos a seguir ementados:

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    EMENTA: Recurso extraordinrio. Alegao de inconstitucionalidade do pargrafo nico do artigo 9 doCdigo Penal Militar introduzido pela Lei 9.299, de 7 de agosto de 1996. Improcedncia. - No artigo 9do Cdigo Penal Militar que define quais so os crimes que, em tempo de paz, se consideram como mili-tares, foi inserido pela Lei 9.299, de 7 de agosto de 1996, um pargrafo nico que determina que "oscrimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil, sero da compe-tncia da justia comum". - Ora, tendo sido inserido esse pargrafo nico em artigo do Cdigo PenalMilitar que define os crimes militares em tempo de paz, e sendo preceito de exegese (assim, CARLOSMAXIMILIANO, "Hermenutica e Aplicao do Direito", 9 ed., n 367, ps. 308/309, Forense, Rio de Ja-neiro, 1979, invocando o apoio de WILLOUGHBY) o de que "sempre que for possvel sem fazer demasia-da violncia s palavras, interprete-se a linguagem da lei com reservas tais que se torne constitucional amedida que ela institui, ou disciplina", no h demasia alguma em se interpretar, no obstante sua for-ma imperfeita, que ele, ao declarar, em carter de exceo, que todos os crimes de que trata o artigo 9do Cdigo Penal Militar, quando dolosos contra a vida praticados contra civil, so da competncia da

    justia comum, os teve, implicitamente, como excludos do rol dos crimes considerados como militares

    por esse dispositivo penal, compatibilizando-se assim com o disposto no "caput" do artigo 124 da Cons-tituio Federal. - Corrobora essa interpretao a circunstncia de que, nessa mesma Lei 9.299/96, emseu artigo 2, se modifica o "caput" do artigo 82 do Cdigo de Processo Penal Militar e se acrescenta aele um 2, excetuando-se do foro militar, que especial, as pessoas a ele sujeitas quando se tratar decrime doloso contra a vida em que a vtima seja civil, e estabelecendo-se que nesses crimes "a JustiaMilitar encaminhar os autos do inqurito policial militar justia comum". No admissvel que se te-nha pretendido, na mesma lei, estabelecer a mesma competncia em dispositivo de um Cdigo - o PenalMilitar - que no o prprio para isso e noutro de outro Cdigo - o de Processo Penal Militar - que paraisso o adequado. Recurso extraordinrio no conhecido. (STF. RE 260404 / MG - MINAS GERAIS. RE-CURSO EXTRAORDINRIO. Relator: Min. MOREIRA ALVES. Julgamento: 22/03/2001. rgo Julgador:Tribunal Pleno. Publicao: DJ 21-11-2003 PP-00009 EMENT VOL-02133-04 PP-00750).

    Mesmo com a "Reforma do Judicirio", advinda da Emenda Constitucional n 45, de 08 de dezembro de2004, promulgada em pleno governo do Partido dos Trabalhadores, ao contrrio de se mitigar a jurisdi-o militar, ela sofreu uma exasperao de competncia:

    Redao com as alteraes da Emenda Constitucional n 45/04:

    Art. 125 [...]

    3 A lei estadual poder criar, mediante proposta do Tribunal de Justia, a Justia Militar estadual, cons-tituda, em primeiro grau, pelos juzes de direito e pelos Conselhos de Justia e, em segundo grau, peloprprio Tribunal de Justia, ou por Tribunal de Justia Militar nos Estados em que o efetivo militar sejasuperior a vinte mil integrantes.

    4 Compete Justia Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militaresdefinidos em lei e as aes judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competncia do jriquando a vtima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patentedos oficiais e da graduao das praas.

    5 Compete aos juzes de direito do juzo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militarescometidos contra civis e as aes judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho deJustia, sob a presidncia de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares.

    Com a nova redao do texto constitucional, alm da questo semntica de substituir-se a denominaode "Auditores Militares" ou "Juizes Auditores", referente aos Juzes togados atuantes na Justia Militar,alargou-se a competncia destes para, monocraticamente, conhecer e julgar os crimes militares cometi-dos contra civis (exceto aqueles dolosos contra a vida, que na Justia comum competiro ao Tribunal doJri), antes julgados pela Auditoria (rgo colegiado composto pelo juiz togado e militares na funo de

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    juizes leigos), e, ainda, as aes judiciais contra atos disciplinares militares, at ento litigados pela viado Mandado de Segurana na Justia Comum e esfera cvel.

    Mais ainda, por conta da Emenda Constitucional foi de vez afastada a tese de inconstitucionalidade daLei n 9299/96, recepcionada agora por completo pela nova ordem constitucional reformada.

    IV. Consideraes finais.

    Procuramos pr o leitor em sintonia com um ramo do direito pouco estudado, mas em perfeita vignciae aplicabilidade prtica, com o objetivo de reduzir o elevado grau de desconhecimento e, assim, desper-tar nos operadores do direito e, em especial nos acadmicos, a curiosidade e desejo de se iniciarem nes-ta seara. Ao mesmo tempo, esperamos que, esclarecendo o conceito de crime militar, o campo de atri-buies da polcia judiciria militar e do Ministrio Pblico Militar, bem como da competncia da Justia

    Militar, possamos minimizar os casos de conflito, especialmente de atribuies, estabelecidos entre auto-ridades de polcia judiciria comum e militar.

    No que toca a estes ltimos, temos que, sob pena de inconcebvel omisso, lembrar que a ConstituioFederal grava em seu artigo 144, 4, competir s polcias civis a apurao das infraes penais, excetoas militares, bem por esta razo, o assunto foi disciplinado, no Estado de So Paulo, ainda que sem amerecida abordagem jurdica em razovel profundidade, pela Portaria DGP-20, de 08 de setembro de1992, editada pelo Delegado Geral de Polcia, e Portaria CORREGPM-1/130, da mesma data, subscritapelo Comandante Geral da Polcia Militar, que, respectivamente ditam:

    Portaria DGP-20 Art. 1- [...] II Na Delegacia de Polcia: a) se a ocorrncia tratar da prtica de infra-o de natureza no militar, dever ser determinado pela Autoridade Policial o competente registro do

    fato, seguido das medidas atinentes Polcia Judiciria, observadas as normas processuais vigentes; b)havendo divergncia quanto natureza da ocorrncia, deve a Autoridade Policial que tiver competnciapara decidir sobre a mesma, ajuizar da convenincia da instaurao de procedimento de Polcia Judici-ria, ainda que de forma concomitante com medidas afins que venham a ser adotadas na rea da PolciaJudiciria Militar;

    Portaria CORREGPM-1/130 [...] Art. 2- Nas ocorrncias de crime militar, praticado por policial militar,em servio ou em razo da funo, as partes sero apresentadas autoridade policial militar competen-te, que tomar as medidas de polcia judiciria militar cabveis, em autos prprios, observadas as nor-mas legais. [...] Art. 4- Nas ocorrncias em que haja conexo de crimes, comum e militar, o Oficialconduzir todas as partes ao Distrito Policial, para a realizao conjunta dos registros de polcia judici-ria, de acordo com as atribuies legais respectivas.

    Certo que o inqurito policial, ou mesmo o inqurito policial militar, pea dispensvel propositurada ao penal e meramente informativa, como assegura a doutrina baseada na lei. A concomitncia dedois indiciamentos sobre um mesmo indivduo (em IP e IPM), salvo no caso de crimes conexos ou deconcurso de infraes, no nos parece da melhor exegese jurdica, mormente se analisada sob o prismade garantia dos direitos fundamentais.

    Ora, salvo nas hipteses excepcionadas, ou o crime comum ou militar, e assim competente a polciajudiciria comum ou militar e a justia comum ou castrense [19]! No se desconhece de igual forma queo indiciamento de um indivduo ofende seu status libertatis bem como o status dignitatis sanvel por viado remdio herico [20] (Habeas Corpus).

    Na construo do Estado Democrtico de Direito no h margem ao arbtrio, nem espao para a igno-rantia juris.

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    V. NOTAS

    01 ROTH, Ronaldo Joo. Temas de Direito Militar. So Paulo: Suprema Cultura, 2004, p. 95.

    02Caserna: s. f. 1. Habitao de soldados, dentro de quartel ou praa. 2. Vila militar. (MICHAELIS. Di-cionrio prtico da lngua portuguesa. So Paulo: Melhoramentos, 1987).

    03Artigo 3 - Hierarquia policial-militar a ordenao progressiva da autoridade, em graus diferentes,da qual decorre a obedincia, dentro da estrutura da Polcia Militar, culminando no Governador do Esta-do, Chefe Supremo da Polcia Militar. 1 - A ordenao da autoridade se faz por postos e graduaes,de acordo com o escalonamento hierrquico, a antigidade e a precedncia funcional. 2 - Posto ograu hierrquico dos oficiais, conferido por ato do Governador do Estado e confirmado em Carta Patenteou Folha de Apostila. 3 - Graduao o grau hierrquico das praas, conferida pelo Comandante Ge-

    ral da Polcia Militar. (So Paulo: Lei Complementar n 893, de 09 de maro de 2001, que instituiu oRegulamento Disciplinar da Polcia Militar).

    04Artigo 9 - A disciplina policial-militar o exato cumprimento dos deveres, traduzindo-se na rigorosaobservncia e acatamento integral das leis, regulamentos, normas e ordens, por parte de todos e decada integrante da Polcia Militar. 1 - So manifestaes essenciais da disciplina: 1 - a observnciarigorosa das prescries legais e regulamentares; 2 - a obedincia s ordens legais dos superiores; 3 - oemprego de todas as energias em benefcio do servio; 4 - a correo de atitudes; 5 - as manifestaesespontneas de acatamento dos valores e deveres ticos; 6 - a colaborao espontnea na disciplinacoletiva e na eficincia da Instituio. 2 - A disciplina e o respeito hierarquia devem ser mantidos,permanentemente, pelos militares do Estado, tanto no servio ativo, quanto na inatividade. (So Paulo:Lei Complementar n 893, de 09 de maro de 2001, que instituiu o Regulamento Disciplinar da Polcia

    Militar)

    05 NORONHA, Edgard Magalhes. Direito Penal. So Paulo: Saraiva, 1978, v. 1, p. 105.

    06 FRAGOSO, Heleno Cludio. Lies de direito penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 1980, 149.

    07 BETTIOL, Giuseppi. Direito penal: parte geral. Coimbra: Coimbra Editora, 1970, v. 2, n. 9.

    08 ASUA, Jimnez de. Tratado de derecho penal. Buenos Aires: Losada, 1951, v. 3, p. 61.

    09 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1990, p.103.

    10 MAZAGO, Mrio. Curso de direito administrativo. Tomo II. So Paulo: Max Limonad, 1960, p. 263.

    11 MIRABETE, Jlio Fabrini. Manual de direito penal parte geral. So Paulo: Atlas, 2004, p. 137.

    12 CRFB, Art. 5, XXXIX - no h crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prvia cominaolegal;

    13 CPM, Art. 9 Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: I - os crimes de que trata este Cdi-go, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela no previstos, qualquer que seja oagente, salvo disposio especial; II - os crimes previstos neste Cdigo, embora tambm o sejam comigual definio na lei penal comum, quando praticados: a) por militar em situao de atividade ou asse-melhado, contra militar na mesma situao ou assemelhado; b) por militar em situao de atividade ouassemelhado, em lugar sujeito administrao militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou as-semelhado, ou civil; c) por militar em servio ou atuando em razo da funo, em comisso de natureza

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    militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito administrao militar contra militar da reser-va, ou reformado, ou civil; (Redao dada pela Lei n 9.299, de 8.8.1996) d) por militar durante o per-odo de manobras ou exerccio, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; e) pormilitar em situao de atividade, ou assemelhado, contra o patrimnio sob a administrao militar, ou aordem administrativa militar; f) revogada. (Vide Lei n 9.299, de 8.8.1996) III - os crimes praticadospor militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituies militares, considerando-se comotais no s os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: a) contra o patri-mnio sob a administrao militar, ou contra a ordem administrativa militar; b) em lugar sujeito admi-nistrao militar contra militar em situao de atividade ou assemelhado, ou contra funcionrio de Minis-trio militar ou da Justia Militar, no exerccio de funo inerente ao seu cargo; c) contra militar em for-matura, ou durante o perodo de prontido, vigilncia, observao, explorao, exerccio, acampamento,acantonamento ou manobras; d) ainda que fora do lugar sujeito administrao militar, contra militarem funo de natureza militar, ou no desempenho de servio de vigilncia, garantia e preservao daordem pblica, administrativa ou judiciria, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obe-

    dincia a determinao legal superior.

    14 NORONHA, Edgard Magalhes. Direito penal: introduo e parte geral. v. 1. So Paulo: Saraiva,1980, p. 293.

    15 NOGUEIRA, Octaviano. Constituies brasileiras: 1824. Braslia: Senado Federal e Ministrio da Cin-cia e Tecnologia, Centro de Estudos Estratgicos, 2001, p. 104.

    16 TINCO, Antnio Luiz Ferreira. Codigo criminal do Imperio do Brazil annotado. Edio fac-sim. Bras-lia: Senado Federal, Conselho Editorial, 2003, p. 523.

    17 SOARES, Oscar de Macedo. Codigo penal da republica dos Estados Unidos do Brasil. Edio fac-sim.

    Braslia: Senado Federal, Conselho Editorial, 2004, p. 24.

    18 CALDAS, Marcos Rodrigues. Observaes sobre: "um problema no resolvido". Revista Direito Militar.Associao dos Magistrados das Justias Militares Estaduais. Agosto/Setembro 1996, n 1. Disponvelem: http://www.amajme-sc.com.br/revista1.htm. Acesso em: 22 ago. 2005

    19 STJ - SMULA N 90. Compete Justia Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela pr-tica do crime militar, e Comum pela prtica do crime comum simultneo quele. Referncia: Constitui-o Federal, art. 125, 4. Cd. de Pr. Penal, art. 79, I. CC 762-MG (3 S 01.03.90 - DJ 19.03.90),CC1.077-SP (3 S 07.06.90 - DJ 06.08.90), CC2.686-RS (3 S 05.03.92 - DJ 16.03.92), CC 3.532-SP(3 S 19.11.92 - DJ 08.03.93), CC 4.271-SP (3 S 05.08.93) - DJ 06.09.93), Terceira Seo, em21.10.93. DJ 26.10.93, p. 22.629. RSTJ 61, p. 101.

    20 HABEAS CORPUS TACRIMSP 15 CMARA PROC. N 392472/5 RELATOR JUIZ CARLOS BIA-SOTTI 04/10/2001. No mesmo sentido: RECURSO DE HABEAS CORPUS TACRIMSP 5 CMARA PROC. N 1188987/1 RELATOR JUIZ PAULO VITOR 27/01/2000 RJTACRIM46/433. HABEAS COR-PUS TACRIMSP 6 CMARA PROC. N 354788/7 RELATOR JUIZ A.C. MATHIAS COLTRO 05/01/2000. RECURSO DE HABEAS CORPUS TACRIMSP 15 CMARA PROC. N 1270389/8 RE-LATOR JUIZ CARLOS BIASOTTI 21/06/2001.

    Fonte: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7195

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    2. SIMULADOS

    I. Marque se verdadeiro (V) ou falso (F) as seguintes questes:

    1. correto afirmar que compete justia comum processar e julgar crimes cometidos pelos militares.Resp. F

    2. Um civil que causa dano em uma viatura que fazia ronda na sua comunidade comete crime militar.Resp: F

    3. Um policial militar que em servio envolve-se em uma perseguio a assaltante civil, vindo a dispararnele, intencionalmente matando-o, responde pelo possvel crime perante uma das auditorias militaresinstaladas na Justia Estadual.Resp: F