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Texto de introdução à temática Oficina de formação “A Biblioteca Escolar 2.0” 1 A Web 2.0 Potencialidades para as Bibliotecas Escolares Carlos Pinheiro e João Paulo Proença 1 Palavras-chave Web 2.0 A Web como plataforma Inteligência colectiva Biblioteca 2.0 A Web 2.0 Web 2.0 é um termo cunhado em 2003 pela empresa norte-americana O’Reilly Media para designar uma segunda geração de comunidades e serviços baseados na plataforma Web, como wikis, aplicações baseadas em folksonomia e redes sociais. Embora o termo sugira a existência [de] uma nova versão da Web, ele não se refere tanto à actualização nas suas especificações técnicas, mas a uma mudança na forma como a Internet é encarada por utilizadores e desenvolvedores. (in wikipedia). Um filme muito popular no Youtube (http://www.youtube.com/watch?v=NJsacDCsiPg) sobre a Web 2.0 afirma que a máquina somos nós. Traduzindo o entusiasmo despertado pela Web 2.0, a revista Time elegeu-nos (You) como personalidade do ano 2006 (http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,1569514,00.html ) Que estranho fenómeno será então este que coloca o sujeito no centro da actual (r)evolução tecnológica em curso? De que forma as escolas, e em particular as bibliotecas, poderão/deverão conduzir o seu plano de acção tendo em conta os novos serviços e funcionalidades que fazem do utilizador um participante activo na construção do conhecimento? 1 Formadores na Ação “Bibliotecas Escolares e a Web 2.0” (Formação online). 2010.

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Texto de introdução à temática

Oficina de formação “A Biblioteca Escolar 2.0”

1

A Web 2.0

Potencialidades para as Bibliotecas Escolares

Carlos Pinheiro e João Paulo Proença1

Palavras-chave Web 2.0 A Web como plataforma Inteligência colectiva Biblioteca 2.0

A Web 2.0

Web 2.0 é um termo cunhado em 2003 pela empresa norte-americana O’Reilly Media

para designar uma segunda geração de comunidades e serviços baseados na

plataforma Web, como wikis, aplicações baseadas em folksonomia e redes sociais.

Embora o termo sugira a existência [de] uma nova versão da Web, ele não se refere

tanto à actualização nas suas especificações técnicas, mas a uma mudança na forma

como a Internet é encarada por utilizadores e desenvolvedores. (in wikipedia).

Um filme muito popular no Youtube (http://www.youtube.com/watch?v=NJsacDCsiPg)

sobre a Web 2.0 afirma que a máquina somos nós. Traduzindo o entusiasmo

despertado pela Web 2.0, a revista Time elegeu-nos (You) como personalidade do ano

2006 (http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,1569514,00.html)

Que estranho fenómeno será então este que coloca o sujeito no centro da actual

(r)evolução tecnológica em curso? De que forma as escolas, e em particular as

bibliotecas, poderão/deverão conduzir o seu plano de acção tendo em conta os novos

serviços e funcionalidades que fazem do utilizador um participante activo na

construção do conhecimento?

1 Formadores na Ação “Bibliotecas Escolares e a Web 2.0” (Formação online). 2010.

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Figura 1 – A Web 1.0 versus Web 2.0.

A expressão Web 2.0, nas palavras de Tim O’Reilly, não tem fronteiras bem definidas,

mas sim, um núcleo gravitacional, onde orbitam vários conceitos e recomendações das

quais se destacam:

A Web como plataforma

Pode-se visualizar a Web 2.0 como um conjunto de princípios e práticas que interligam

uma rede de sítios e serviços com os quais os utilizadores interagem e aos quais

acrescentam valor. Se antes a web era estruturada por meio de sítios que

disponibilizavam conteúdo online, de maneira estática, sem oferecer a possibilidade de

interacção aos internautas, agora é possível criar uma conexão por meio das

comunidades de utilizadores com interesses em comum. Muitos destes sítios

tornaram-se verdadeiros aplicativos (ex. Google, que disponibiliza processador de

texto, gestor de correio, folha de cálculo, apresentação electrónica, agenda, agregador

de conteúdos, etc.). As suas funcionalidades, a maioria das quais de acesso gratuito e

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“user friendly”, possuem a sofisticação de softwares que antes apenas tínhamos no

disco rígido do computador.

Inteligência colectiva

Na base da Web 2.0 está a participação dos utilizadores: eles acrescentam valor à rede,

o serviço melhora quanto mais pessoas o usam, qualquer utilizador pode criar

conteúdos e avaliar os que encontra (ratting).

À medida que os utilizadores adicionam conteúdo e sítios novos, esses passam a

integrar a estrutura da rede sempre que outros utilizadores descobrem o conteúdo e

se ligam a ele. Do mesmo modo que se formam sinapses no cérebro – com as

associações fortalecendo-se em função da repetição ou da intensidade – a rede de

conexões cresce organicamente, como resultado da actividade colectiva de todos os

utilizadores da rede – transformando a web numa espécie de cérebro global.

Figura 2 – Mapa de noções de Web 2.0 desenvolvido durante uma sessão de brainstorming durante a FOO Camp, uma conferência na O’Reilly Media.

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Mais do que uma tecnologia, a Web 2.0 pode então ser definida como uma nova

atitude e como uma nova forma de as pessoas se relacionarem com a Internet: a rede

deixa de ligar apenas máquinas, passa a unir pessoas, um processo com implicações

sociais profundas. As escolas, talvez a instituição onde as mudanças ocorrem mais

lentamente, acordam lentamente para a nova realidade da Web, e são os jovens

(fundamentalmente mediante as redes sociais, por ex. hi5, com todos os perigos que

representam) quem primeiro traz a Web 2.0 para os computadores da escola.

Entretanto, como acontece com as sucessivas versões de software às quais a Web 2.0

foi buscar a analogia do número, novas webs se anunciam (3.0, 4.0,…), com o

desenvolvimento da Web semântica e de novas linguagens de programação.

Figura 3 – Mapa de evolução da Web.

Biblioteca 2.0

A partir de 2005, começaram a surgir os primeiros estudos internacionais sobre Web

2.0 envolvendo bibliotecas, bibliotecários e ferramentas tecnológicas, originando o

conceito de Biblioteca 2.0.

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O termo Biblioteca 2.0 (Library 2.0) foi concebido por Michael Casey no seu blogue

LibrayCrunch (http://www.librarycrunch.com) em 2005.

Maness (2006) (http://www.webology.ir/2006/v3n2/a25.html) aponta 4

características que definem a Biblioteca 2.0:

• Centrada no utilizador. O utilizador participa na criação de conteúdos e serviços

disponibilizados na Web pela biblioteca.

• Disponibiliza uma experiência multimédia. Tanto as colecções como os serviços da

biblioteca 2.0 contêm componentes, vídeo, áudio, realidade virtual.

• Socialmente rica. Interage com os utilizadores, quer de forma síncrona (por ex. IM –

mensagens instantâneas), quer de forma assíncrona (por ex. wikis).

• Inovadora ao serviço da comunidade. Procura constantemente a inovação e

acompanha as mudanças que ocorrem na comunidade, adaptando os seus serviços

para permitir aos utilizadores procurar, encontrar e utilizar a informação.

Figura 4 – Biblioteca 1.0 versus Biblioteca 2.0.

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Podemos assim considerar que os objectivos da biblioteca 2.0 respondem aos

seguintes enunciados:

Melhorar os serviços actuais para que respondam às autênticas necessidades dos

utilizadores;

Oferecer novos serviços que dêem suporte em larga escala, aos novos utilizadores;

Implicar o utilizador;

Envolvimento com comunidade;

Introdução de áudio e vídeo na página Web;

Para conseguir que uma biblioteca responda a estes objectivos, David Lee King,

bibliotecário de Topeka & Shawnee County Public Library, apresentou em meados do

ano passado um texto a que chamou “as ondas da biblioteca 2.0”. King baseou-se nas

ondas que uma pedra cria ao cair num lago e explicava desta forma gráfica a

transformação de uma biblioteca tradicional numa biblioteca 2.0:

Figura 5 – As «ondas» da biblioteca 2.0.

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1 – Começando pelo centro, temos a biblioteca “tradicional”, o ponto de partida.

2 – Enriquecendo a biblioteca tradicional: as bibliotecas dão-se conta de que os

motores de busca, as bases de dados online e a referência através do correio

electrónico podem melhorar os seus serviços tradicionais, pois ainda não se deram

conta de que estas ferramentas podem constituir serviços por si mesmos, em lugar de

estarem simplesmente a ser melhorados.

3 – Mudança de horizonte: as bibliotecas dão-se conta que os serviços do século XXI

podem manter-se por si próprios. As bibliotecas começam a ver novas tendências e

percebem que para responder às procuras actuais e futuras têm de mudar.

4 – Projectos-piloto: a biblioteca experimenta com estas ferramentas, aprende acerca

da biblioteca 2.0, começa a editar blogues. Aos utilizadores é permitido “interagir”

com estas tecnologias e aplicações, manter conversas digitais, experimentar os vídeos,

podcasting, média, etc.

5 – Participação do utilizador: a biblioteca começa a desenvolver a sua página web

como complemento digital da biblioteca. Oferece aos utilizadores participação em vez

de somente informação. Esta participação pode ser feita de uma forma muito variada,

e a biblioteca dá-se conta de que esta mudança é um progresso.

6 – Envolvimento da comunidade: este é o objectivo, a biblioteca e a sua comunidade

local criam uma comunidade digital através da sua sucursal digital.

Em síntese:

Perspectivar a biblioteca escolar face aos desafios colocados pela Web 2.0 é, antes de

tudo, entendê-la no contexto da sua missão e objectivos, no contexto da escola e dos

diferentes sistemas com os quais interage.

É ainda necessário entendê-la no contexto da Sociedade do Conhecimento, um novo

paradigma que confrontou a escola com diferentes modelos de aprendizagem/

construção do conhecimento. Este novo paradigma exige o alargamento das literacias

implicadas no acesso à informação e à construção do conhecimento, numa sociedade

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em rede e onde a informação, não validada por critérios editoriais, se encontra à

distância de um rato.

À biblioteca escolar, mais do que criar repositórios de informação com ligações à

leitura, ao entretenimento ou aos vários domínios curriculares e das interacções que

no âmbito da Web consiga estabelecer com os utilizadores, cabe uma enorme tarefa: a

de preparar os seus públicos para as literacias necessárias ao acesso e uso da

informação em ambientes digitais. Literacias de natureza operacional, mas também e

acima de tudo de natureza crítica.

Trata-se de um domínio onde os desafios são enormes porque se alicerçam num

conjunto de mudanças e numa inovação sem precedentes. Estão aqui implicadas

problemáticas de diferente natureza acerca das quais é necessário reflectir:

• A necessária infra-estrutura – tecnológica e em termos de recursos humanos

qualificados – com que temos que contar;

• A complexificação do acto de gestão e das competências do professor bibliotecário,

que exigem agora a definição de políticas e a criação de novas ferramentas/ novos

ambientes de disponibilização da informação e de contacto com os utilizadores;

• O alargamento da colecção a novos formatos e a transformação da BE num ponto de

acesso a documentos fora de portas.

• As implicações inerentes à nova information landscape

À biblioteca escolar cabe uma tarefa determinante: incentivar e acompanhar/ apoiar a

escola na mudança. Necessária, mas sempre tão difícil!

Principais referências bibliográficas

KING, David Lee, Library 2.0 Ripples – Another Go at the Graph [em linha]. 2007

[Consult. em 4/10/2008] Disponível em

http://www.davidleeking.com/2007/08/24/library-20-ripples-another-go-at-the-graph

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MANESS, Jack M., Library 2.0 Theory: Web 2.0 and Its Implications for Libraries [em

linha]. 2006 [Consult. em 4/10/2008] Disponível em

http://www.webology.ir/2006/v3n2/a25.html

O'REILLY Tim. What Is Web 2.0 - Design Patterns and Business Models for the Next

Generation of Software [em linha]. 2005 [Consult. em 4/10/2008] Disponível em

http://www.oreillynet.com/pub/a/oreilly/tim/news/2005/09/30/what-is-web-20.html