63
A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio de Matemática da Região Sul Florianópolis, SC 2014

Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

  • Upload
    docong

  • View
    219

  • Download
    1

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

A. T. Baraviera e Flávia M. Branco

Introdução à Álgebra Max-Plus

III Colóquio de Matemática da Região

Sul

Florianópolis, SC

2014

Page 2: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio
Page 3: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

A. T. Baraviera e Flávia M. Branco

Introdução à Álgebra Max-PlusIII Colóquio de Matemática da Região Sul

Minicurso apresentado no IIIColóquio de Matemática da Re-gião Sul, realizado na Universi-dade Federal de Santa Catarina,em maio de 2014.

Florianópolis, SC

2014

Page 4: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio
Page 5: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

". . . e a vida o que é?diga lá meu irmão

ela é a batidade um coração . . . "

(Luiz Gonzaga Júnior)

Ao Pedro

Page 6: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio
Page 7: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

Resumo

Nesse texto introduzimos a álgebra max-plus, motivando breve-mente a teoria e apresentando seus aspectos mais elementares;os conceitos de autovetor e autovalor são apresentados nesse con-texto bem como a ideia de polinômios, seus gráficos e interseções.Fazemos também um breve desenvolvimento de formas quadrá-ticas e conjuntos convexos no sentido max-plus.

Palavras-chaves: max-plus. autovalor. autovetor. polinômio.

Page 8: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio
Page 9: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

Lista de ilustrações

Figura 1 – Gráfico de p(x) = 2⊕ (3⊗ x) . . . . . . . . . 37Figura 2 – Gráfico de q(x) = −2⊕(1⊗x)⊕(−1⊗x⊗x⊗x) 38Figura 3 – Gráfico de r(x) = (−1⊗ x)⊕ (x⊗ x) . . . . . 39Figura 4 – Região max-plus (x⊗ x)⊕ (y ⊗ y) = 1 . . . . 48Figura 5 – Região max-plus x⊕ y ⊕ 1 = 0 . . . . . . . . 51

Page 10: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio
Page 11: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

Sumário

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

1.1 Tempo de Tarefas Combinadas . . . . . . . . . 13

1.2 Ganho com Tarefas Repetidas . . . . . . . . . 14

1.3 Crescimento Exponencial de Funções Reais . . 15

2 Conceitos Básicos . . . . . . . . . . . . . . . 19

2.1 Semianel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

2.2 Álgebra Max-Plus . . . . . . . . . . . . . . . . 20

3 Álgebra Linear Max-Plus . . . . . . . . . . . 23

3.1 Vetores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

3.2 Funções Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . 24

3.3 Matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

4 Autovalores e Autovetores Max-Plus . . . . 31

5 Polinômios Max-Plus . . . . . . . . . . . . . 37

5.1 Raízes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

5.2 Interseção de Polinômios . . . . . . . . . . . . 41

5.3 Polinômios Min-Plus . . . . . . . . . . . . . . 44

6 Formas Quadráticas Max-Plus . . . . . . . . 47

6.1 Definindo Regiões . . . . . . . . . . . . . . . . 47

6.2 Forma Quadrática . . . . . . . . . . . . . . . . 48

6.3 Forma Quadrática em R̄n . . . . . . . . . . . . 49

6.4 Outra Forma de Definir Regiões . . . . . . . . 50

7 Conjuntos Convexos . . . . . . . . . . . . . . 55

Page 12: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

7.1 Convexidade em R2 . . . . . . . . . . . . . . . 557.2 Convexidade Max-Plus . . . . . . . . . . . . . 56

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

Page 13: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

11

Introdução

Estas notas têm o objetivo de servir de apoio ao mini-curso Introdução à Álgebra Max-Plus ministrado no III Colóquiode Matemática da Região Sul realizado na Universidade Federalde Santa Catarina - UFSC, em Florianópolis. Não sendo especi-alistas no assunto (no qual chegamos por um caminho indireto)desejamos apenas fazer um texto de caráter bastante elementar,que sirva de motivação e de primeiro passo para que os leito-res procurem depois bibliografia mais especializada e possam seaprofundar nesse rico assunto se sua curiosidade for despertadapor essas poucas linhas. Um texto básico interessante é [3]; paraalgumas aplicações o leitor pode consultar, por exemplo, [1] e [4].Por fim, uma outra sugestão é visitar a página maxplus.org queapresenta uma série de referências sobre o assunto, em diversosníveis de complexidade.

Agradecemos aos organizadores do evento, em especiala Artur Lopes, pela oportunidade de apresentar esse mini-curso.

Todo texto está longe de ser perfeito e esse não é umaexceção; o leitor que quiser nos comunicar erros, fazer comentá-rios ou apenas discutir um pouco dos assuntos aqui apresentadospode entrar em contato por meio de nossos endereços eletrônicos

[email protected] [email protected].

A. T. Baraviera Flávia M. Branco

Page 14: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio
Page 15: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

13

1 Motivação

A álgebra max-plus é basicamente a álgebra dos núme-ros reais (com uma extensão, que será feita no momento certo)munidos de duas operações binárias, a saber a ⊕ b = max(a, b)

e a ⊗ b = a + b; existem algumas motivações distintas para aintrodução desse objeto matemático, algumas vindo da área depesquisa operacional, como veremos a seguir.

1.1 Tempo de Tarefas Combinadas

Vamos imaginar, por exemplo, que em uma fábrica umdeterminado trabalhador i precisa esperar a conclusão das ta-refas de dois de seus colegas, j e k, de forma a poder realizarsua parte do trabalho. Imagine que j leva um tempo Tij paraconcluir e entregar sua tarefa a i e k leva um tempo Tik paratambém concluir e entregar sua tarefa a i. Já i, para realizar suaprópria tarefa, gasta um tempo ai. Qual é o tempo total envol-vido no trabalho? Como i precisa esperar pelo trabalho de j e kpara só então executar sua tarefa temos que o tempo total nessecaso será ai + max {Tij , Tik}. Na notação introduzida acima issopode ser reescrito como ai ⊗ (Tij ⊕ Tik). Se agora consideramosum conjunto maior de trabalhadores, é possível utilizar o mesmoformalismo para determinar o tempo total de execução de umtrabalho e isso permite, entre outras coisas, estudar melhor oprocesso de forma a torná-lo, por exemplo, mais eficiente comoum todo.

Page 16: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

14 Capítulo 1. Motivação

1.2 Ganho com Tarefas Repetidas

Imaginemos que numa dada situação certas tarefas se-jam executadas em sequência e o ganho depende da ordem emque isso é feito. A informação do ganho pode então ser traduzidanuma matriz A onde cada entrada Aij significa exatamente o ga-nho quando uma certa tarefa inicial i é seguida de outra tarefaj, ambas escolhidas em uma lista com d opções.

Nesse caso, sabendo que devemos começar com uma ta-refa i, executar alguma tarefa k e terminar com a execução dej, qual é o ganho total? Claramente é dado por

Aik +Akj = Aik ⊗Akj

E de que forma podemos escolher a tarefa intermediáriak de forma a maximizar o ganho? Nesse caso queremos

maxk{Aik +Akj} = max

k{Aik ⊗Akj} =

⊕k

Aik ⊗Akj

Como o leitor verá no capítulo sobre a álgebra linear max-plus,isso corresponde exatamente a entrada ij do produto matricialAA (no sentido max-plus).

Naturalmente podemos fazer a mesma pergunta com q

tarefas intermediárias k1, k2, . . . , kq:

maxk1,k2,...,kq

{Aik1+Ak1k2

+ · · ·+Akqj} =

= maxk1,k2,...,kq

{Aik1⊗Ak1k2

⊗ · · · ⊗Akqj}

=⊕

k1,k2,...,kq

Aik1 ⊗Ak1k2 ⊗ · · · ⊗Akqj

Page 17: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

1.3. Crescimento Exponencial de Funções Reais 15

E esse termo corresponde exatamente a entrada ij de Aq+1.

Desta forma, o formalismo de álgebra linear max-pluscorresponde ao problema de se maximizar o ganho num processocomo o descrito acima.

1.3 Crescimento Exponencial de Funções Reais

De um ponto de vista puramente matemático, podemosver essa álgebra como, por exemplo, a estrutura básica que des-creve o crescimento exponencial de funções reais. Mais precisa-mente: dada uma função h : R→ R, tal que h(x) > 0, definimoso crescimento exponencial de h como sendo o limite (claro, nasituação em que o referido limite existe)

e(h) = limx→+∞

1

xlog h(x).

Para fixar ideias, considere o caso simples

f(x) = eax e g(x) = ebx.

Da definição é imediato que e(f) = a e e(g) = b. Convidamos oleitor a obter e(x2eax). Já para uma função como h(x) = x não édifícil ver que e(x) = 0 e de fato isso seria verdade também paraqualquer potência de x, o que é uma tradução precisa do fatoque muitas vezes é lembrado na afirmação (nada incomum numcurso de cálculo) de que uma potência cresce mais lentamenteem função de x do que uma função exponencial.

Exemplo 1.1. Qual é o crescimento exponencial da função realf(x) = exsen x? Nesse caso

1

xlog f(x) =

1

xxsenx = senx

Page 18: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

16 Capítulo 1. Motivação

Bem, a função senx não tem um limite quando x → +∞ (poisfica sempre oscilando entre −1 e +1). Portanto nesse caso nãofaz sentido falar em e(f).

Então podemos agora, supondo f e g funções para asquais e(f) e e(g) estão bem definidos, indagar qual é o cresci-mento exponencial de fg ou f + g? Voltando aos nossos exem-plos, note que (fg)(x) = eaxebx = e(a+b)x e assim temos que afunção fg cresce exponencialmente com uma taxa a+ b, ou seja,e(f)+e(g). Portanto e(fg) = e(f)+e(g) = e(f)⊗e(g). Para f+g,temos que (f+g)(x) = eax+ebx = emax {a,b}x(1+ekx), onde k =

min {a, b}−max {a, b} < 0. Logo, e(f + g) = max {e(f), e(g)} =

e(f)⊕ e(g).

De fato isso não é válido apenas nesses exemplos, massim em geral:

Lema 1.1. Dadas duas funções reais f e g tais que e(f) e e(g)

estão bem definidos, então

e(f.g) = e(f) + e(g) = e(f)⊗ e(g)

ee(f + g) = max {e(f), e(g)} = e(f)⊕ e(g)

Demonstração. Para a primeira igualdade, note que

e(f.g) = e (f(x)g(x)) = limx→∞

1

xlog f(x)g(x)

= limx→∞

1

xlog f(x) +

1

xlog g(x)

= limx→∞

1

xlog f(x) + lim

x→∞

1

xlog g(x)

= e(f) + e(g) = e(f)⊗ e(g)

Page 19: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

1.3. Crescimento Exponencial de Funções Reais 17

Para a segunda igualdade, vamos esboçar as principaisideias da prova. Como e(f) e e(g) estão bem definidos, podemospensar que, para valores suficientemente grandes de x, f(x) =

Cfee(f)x e g(x) = Cge

e(g)x onde Cf e Cg são tais que

limx→∞

1

xlog (Cf (x)) = 0 e lim

x→∞

1

xlog (Cg(x)) = 0

Vamos assumir, sem perda de generalidade que e(f) ≥ e(g).Então:

e(f + g) = limx→∞

1

xlog (f(x) + g(x))

= limx→∞

1

xlog (Cfe

e(f)x + Cgee(g)x)

= limx→∞

1

xlog

(Cfe

e(f)x(

1 + (Cg/Cf )e(e(g)−e(f))x))

= limx→∞

1

xlog ee(f)x = e(f) = max {e(f), e(g)}

= e(f)⊕ e(g)

como afirmamos.

Exercícios

1) Obtenha o crescimento exponencial e(f) (se este estiverdefinido) para as seguintes funções:

a) f(x) = e5x+sen (x)

b) f(x) = 3x25x

c) f(x) = 4x+ (1/10)x

Page 20: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio
Page 21: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

19

2 Conceitos Básicos

Neste capítulo lembramos algumas definições básicas daálgebra e enunciamos as principais propriedades das operações⊕ e ⊗ que foram brevemente mencionadas no capítulo anterior.

2.1 Semianel

Um semianel é um conjunto S dotado de duas operaçõesbinárias + e · tais que:

1 - (S,+) é um monóide comutativo com elemento iden-tidade 0, ou seja:

i) (a+ b) + c = a+ (b+ c)

ii) 0 + a = a+ 0 = a

iii) a+ b = b+ a

2 - (S, ·) é um monóide com elemento identidade 1, ouseja:

i) (a · b) · c = a · (b · c)

ii) 1 · a = a · 1 = a

3 - A multiplicação é distributiva à direita e à esquerda:

i) a · (b+ c) = (a · b) + (a · c)

Page 22: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

20 Capítulo 2. Conceitos Básicos

ii) (a+ b) · c = (a · c) + (b · c)

4 - A multiplicação por 0 anula S, ou seja, resulta nopróprio elemento identidade de +:

i) 0 · a = a · 0 = 0

Se o leitor deseja ver um exemplo de semianel então po-demos exibir um velho familiar, o conjunto R munido das opera-ções usuais de adição e subtração. No entanto há uma diferença:dado um número real qualquer x então temos que existe o oposto−x, que também é real, e tal que x + (−x) = 0. Isso faz de Rum conjunto ainda mais especial, uma estrutura que é chamadade anel. Portanto, ainda que esse seja um exemplo de semianel,podemos dar um exemplo mais genuíno, no sentido que em quenão é um anel (ou seja, basicamente não tem a propriedade dooposto), mas deixamos isso para a próxima seção.

2.2 Álgebra Max-Plus

Neste texto usaremos a notação

R̄ = R ∪ {−∞}

para o conjunto R estendido (com a inclusão de −∞), com aconvenção x+ (−∞) = −∞ para todo ponto x ∈ R̄.

Esse conjunto será dotado de duas operações:

a⊕ b = max(a, b)

a⊗ b = a+ b.

Page 23: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

2.2. Álgebra Max-Plus 21

Com essa notação, temos que a⊕ (−∞) = a, mostrandoque −∞ é o elemento neutro para a operação binária ⊕. Alémdisso, podemos reescrever a convenção acima como a⊗ (−∞) =

−∞, o que verifica a condição (4) da definição de semianel.

Para a operação ⊗ temos que a⊗0 = a+0 = a para todoa ∈ R̄, mostrando que 0 é o elemento neutro da mesma. Deixa-mos como exercício para o leitor verificar as demais propriedadesdas operações ⊕ e ⊗.

Desta forma, definimos a álgebra max-plus como sendoo semianel munido das operações ⊕ e ⊗ sobre o conjunto de reaisestendidos R̄.

Algumas das principais propriedades dessa álgebra estãoresumidas no resultado abaixo:

Lema 2.1. Dados a, b e c em R̄, temos

1 - Associatividade: a ⊕ (b ⊕ c) = (a ⊕ b) ⊕ c e a ⊗ (b ⊗ c) =

(a⊗ b)⊗ c

2 - Comutatividade: a⊕ b = b⊕ a e a⊗ b = b⊗ a

3 - Distributividade: a⊗ (b⊕ c) = (a⊗ b)⊕ (a⊗ c)

4 - Identidade aditiva: a⊕ (−∞) = (−∞)⊕ a = a

5 - Identidade multiplicativa: a⊗ 0 = 0⊗ a = a

6 - Inverso multiplicativo: se a 6= −∞ então existe um únicob tal que a⊗ b = 0

7 - Elemento absorvente: a⊗−∞ = −∞⊗ a = −∞

8 - Idempotência da adição: a⊕ a = a.

Page 24: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

22 Capítulo 2. Conceitos Básicos

Demonstração. Mostraremos aqui algumas das propriedades acima,deixando as demais como exercício para o leitor.

A distributividade, por exemplo, segue naturalmente de

a⊗ (b⊕ c) = a+max(b, c) = max(a+ b, a+ c) = (a⊗ b)⊕ (a⊗ c).

Para o inverso multiplicativo, basta notar que para cadaa real podemos tomar b = −a (o que ocorreria se a = −∞?) eentão

a⊗ b = a+ (−a) = 0.

Note que o elemento −∞ não tem oposto; exatamentepor isso esse conjunto, dotado dessas operações, não é um anel(e assim temos um exemplo mais legítimo, que é semianel masque não é anel).

Exercícios

1) Obtenha o resultado das seguintes operações:

a) (34⊕ π)⊗−π

b) (−∞⊕√

2⊗−4

c) (7⊗ 8)⊕ (−∞⊗−4)⊕ (−63⊗ 3)

d) (4⊗ x)⊕ 3 = 9

Page 25: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

23

3 Álgebra Linear Max-Plus

Nesse capítulo desenvolveremos o formalismo da álgebralinear quando produto e adição usuais são trocados por suasversões max-plus.

3.1 Vetores

Um vetor d-dimensional v é um elemento de R̄d, queé denotado por v = (v1, v2, . . . , vd), ou, como também é usual,representado como um vetor coluna

v =

v1

v2...vd

.

Dados dois vetores u e v em R̄d e um escalar λ ∈ R̄d,podemos definir a soma vetorial como sendo

u⊕ v := (u1 ⊕ v1, u2 ⊕ v2, . . . , ud ⊕ vd),

e o produto por escalar como

λ⊗ u := (λ⊗ u1, λ⊗ u2, . . . , λ⊗ ud).

Não é difícil ver que o vetor (x1, x2) pode ser escritocomo

(x1, x2) =(x1 ⊗ (0,−∞)

)⊕(x2 ⊗ (−∞, 0)

)

Page 26: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

24 Capítulo 3. Álgebra Linear Max-Plus

3.2 Funções Lineares

Definição 3.1. Dizemos que uma função f : R̄d → R̄D é linearse

1) f(λ⊗ v) = λ⊗ f(v)

2) f(u⊕ v) = f(u)⊕ f(v)

Exemplo 3.1. Considere f(x1, x2) = (a1⊗x1)⊕(a2⊗x2), entãonão é difícil verificar que f é linear.

O exemplo acima, na verdade, é a forma geral de umafunção linear do espaço R̄2 em R̄, como mostramos no lemaabaixo.

Lema 3.1. Uma função f : R̄2 → R̄ é linear se e somente sef(x1, x2) = (a1 ⊗ x1)⊕ (a2 ⊗ x2)

Demonstração. Dada uma função f : R̄2 → R̄ linear então, como

(x1, x2) =(x1 ⊗ (0,−∞)

)⊕(x2 ⊗ (−∞, 0)

)temos que

f(x1, x2) = f

((x1 ⊗ (0,−∞)

)⊕(x2 ⊗ (−∞, 0)

))

=

(x1 ⊗ f

((0,−∞)

))⊕(x2 ⊗ f

((−∞, 0)

))

= (a1 ⊗ x1)⊕ (a2 ⊗ x2)

onde a1 = f(

(0,−∞))e a2 = f

((−∞, 0)

).

A recíproca é deixada ao leitor como exercício.

Page 27: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

3.3. Matrizes 25

3.3 Matrizes

Uma matriz m×n A é definida como no caso usual, umarranjo de m colunas e n linhas.

Dadas duas matrizes m × n A e B, definimos a somamatricial A⊕B como sendo a matriz m× n cujas entradas são

(A⊕B)ij := Aij ⊕Bij = max {Aij , Bij}.

Dado λ ∈ R̄, podemos também definir a matriz λ ⊗ Acomo sendo a matriz m× n cujas entradas são

(λ⊗A)ij = λ⊗Aij = λ+Aij .

Das propriedades básicas das operações ⊕ and ⊗, nãoé difícil verificar que as operações com matrizes satisfazem asseguintes propriedades:

Lema 3.2. Dadas A, B e C matrizes m× n e dado um λ ∈ R̄então temos:

1 - Existe uma matriz m× n [−∞] tal que A⊕ [−∞] = A;

2 - A⊕B = B ⊕A;

3 - A⊕ (B ⊕ C) = (A⊕B)⊕ C;

4 - λ⊗A = A⊗ λ;

5 - λ⊗ (A⊕B) = (λ⊗A)⊕ (λ⊗B).

Demonstração. Vamos provar as propriedades 1, 4 e 5. As de-mais são deixadas como exercício para o leitor.

Page 28: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

26 Capítulo 3. Álgebra Linear Max-Plus

Para mostrar a propriedade 1, basta observar que, paraqualquer elemento Aij da matriz A, max(Aij ,−∞) = Aij .

A propriedade 4 é verdadeira pois

λ ⊗

A11 A12 · · · A1n

A21 A22 · · · A2n

......

......

Am1 Am2 . . . Amn

=

=

λ+A11 λ+A12 · · · λ+A1n

λ+A21 λ+A22 · · · λ+A2n

......

......

λ+Am1 λ+Am2 . . . λ+Amn

=

A11 A12 · · · A1n

A21 A22 · · · A2n

......

......

Am1 Am2 . . . Amn

⊗ λ

Mostramos a propriedade 5 observando que:

λ⊗ (A⊕B) =

=

λ+ max(A11, B11) · · · λ+ max(A1n, B1n)

λ+ max(A21, B21) · · · λ+ max(A2n, B2n)...

......

λ+ max(Am1, Bm1) · · · λ+ max(Amn, Bmn)

Page 29: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

3.3. Matrizes 27

=

max(λ+A11, λ+B11) · · · max(λ+A1n, λ+B1n)

max(λ+A21, λ+B21) · · · max(λ+A2n, λ+B2n)...

......

max(λ+Am1, λ+Bm1) · · · max(λ+Amn, λ+Bmn)

= (λ⊗A)⊕ (λ⊗B)

Dadas uma matriz m×n denotada por A e uma matrizn× l denotada por B definimos o produto matricial A⊗B comosendo a matriz m× l cujas entradas são

(A⊗B)ij =⊕k

(Aik ⊗Bkj) = maxk

(Aik +Bkj) .

Algumas propriedades básicas do produto matricial es-tão listadas no resultado abaixo.

Lema 3.3. Sejam A uma matriz m× n, B uma matriz n× p eC uma matriz p× q. Então temos que:

1 - (A⊗B)⊗ C = A⊗ (B ⊗ C)

2 - λ⊗ (A⊗B) = A(λ⊗B) = (A⊗B)⊗ λ

3 - Se B e C são matrizes de mesma ordem então

A⊗ (B ⊕ C) = (A⊗B)⊕ (A⊗ C)

Demonstração. Para provar a propriedade 1, vamos consideraras matrizes m×q dadas por D = (A⊗B)⊗C e E = A⊗(B⊗C)

Page 30: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

28 Capítulo 3. Álgebra Linear Max-Plus

e mostrar que (D)ij = (E)ij . De fato,

(D)ij =

p⊕l=1

((A⊗B)il ⊗ Clj

)= max

l∈{1,··· ,p}

((A⊗B)il + Clj

)

= maxl∈{1,··· ,p}

(max

k∈{1,··· ,n}

(Aik +Bkl

)+ Clj

)

= maxl∈{1,··· ,p}

(max

k∈{1,··· ,n}

(Aik +Bkl + Clj

))

= maxk∈{1,··· ,n}

(max

l∈{1,··· ,p}

(Aik +Bkl + Clj

))

= maxk∈{1,··· ,n}

(Aik + max

l∈{1,··· ,p}

(Bkl + Ckl

))

=

n⊕k=1

(Aik ⊗ (B ⊗ C)kj

)= (E)ij

Pelo lema 3.2 temos que λ⊗(A⊗B) = (A⊗B)⊗λ então,para provarmos 2, basta mostrarmos que λ⊗(A⊗B) = A(λ⊗B).(

λ⊗ (A⊗B))ij

= λ+ (A⊗B)ij = λ+ maxk

(Aik +Bkj

)= max

k

(Aik + λ+Bkj

)=(A(λ⊗B)

)ij

Para mostrar 3, vamos verificar que:(A⊗ (B ⊕ C)

)ij

= maxk

(Aik + max(Bkj , Ckj)

)= max

k(Aik +Bkj , Aik + Ckj)

=(

(A⊗B)⊕ (A⊗ C))ij

Page 31: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

3.3. Matrizes 29

Se m = n dizemos que a matriz A é uma matriz qua-drada de ordem n. Considere a matriz

In =

0 −∞ −∞ . . . −∞−∞ 0 −∞ . . . −∞...

......

......

−∞ −∞ . . . −∞ 0

.

Então podemos mostrar que

A⊗ In = In ⊗A = A,

para qualquer matriz A de ordem n.

Exercícios

1) Efetue as operações indicadas:

a)

[1 3

4 2

]⊗

[0

4

]

b)

[0

4

]⊕

[3

2

]

c)

[−1 −∞2 −4

]⊗

([0 1

−1 −∞

]⊕

[4 2

−∞ 1

])

d)

−∞ 0 0

1 −∞ 0

1 1 −∞

⊗ 0 −∞

0 1

−∞ 2

Page 32: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio
Page 33: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

31

4 Autovalores e Autovetores

Max-Plus

Vamos considerar uma matriz quadrada A de ordem n

cujas entradas são elementos de R̄ e um vetor coluna v (que nadamais é do que uma matriz n× 1).

Da definição de produto matricial temos que a matrizA⊗ v, de ordem n× 1, assume a forma:

(A⊗ v)i =⊕j

(Aij ⊗ vj) = maxj

(Aij + vj).

Dado λ ∈ R̄ temos também que

λ⊗ v = (λ⊗ v1, . . . , λ⊗ vn) = (λ+ v1, . . . , λ+ vn).

Nesse contexto uma questão totalmente natural é a pro-cura de autovalores e autovetores de A no sentido max-plus, ouseja, soluções da equação A⊗ v = λ⊗ v. Essa equação pode sertraduzida, em termos das operações usuais, como sendo

maxj

(Aij + vj) = λ+ vi para todo i = 1, . . . , n.

Exemplo 4.1.[1 0

0 1

]⊗

[0

−1

]=

[max (1,−1)

max (0, 0)

]=

[1

0

]= 1⊗

[0

−1

].

Temos também[1 0

0 1

]⊗

[−1

0

]=

[max (0, 0)

max (−1, 1)

]=

[0

1

]= 1⊗

[−1

0

].

Page 34: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

32 Capítulo 4. Autovalores e Autovetores Max-Plus

Nesse caso vemos que 1 é um autovalor da matriz asso-ciado a dois autovetores distintos.

Exemplo 4.2. Considere a matriz[−∞ a

b −∞

],

que tem autovalor λ = (a+ b)/2 e autovetor[x

x+ (b− a)/2

]= x⊗

[0

(b− a)/2

]

(onde qualquer escolha de x é permitida).

O resultado mais interessante sobre esse tópico, dentrode nossos objetivos, é que matrizes com entradas reais tem umúnico autovalor no sentido max-plus. Para provar isso usaremosuma ferramenta muito importante, o Teorema do Ponto Fixo deBrower, que recordamos a seguir. Para uma demonstração desteresultado, consulte por exemplo [5].

Teorema 4.1. Seja C um subconjunto fechado de Rn e f : Rn →Rn uma função contínua. Então, se f(C) ⊂ C, existe ao menosum ponto p ∈ C tal que f(p) = p.

De posse desse resultado podemos então provar nossoprincipal teorema nesse capítulo:

Teorema 4.2. Seja A uma matriz d× d com todas as entradasAij ∈ R; então existe um número real λ e um vetor v, tal que,A⊗ v = λ⊗ v. Além disso, o autovalor λ é único.

Page 35: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

33

Demonstração. Antes de mais nada, note que se M ⊗ v = µ⊗ v,então (α⊗M)⊗ v = α⊗ (M ⊗ v) = α⊗ (µ⊗ v) = (α+ µ)⊗ v.Mas sabemos que

α⊗M =

α+M11 α+M12 · · · α+M1d

α+M21 α+M22 · · · α+M2d

......

......

α+Md1 · · · · · · α+Mdd

Portanto, não perdemos em generalidade ao supor que todas asentradas da matriz A são maiores ou iguais a zero. Assim, temosque

0 ≤ Aij ≤ L.

Agora vamos introduzir uma função T : Rd → Rd definida deforma que

(Tx)i = maxj

(Aij + xj)−mink

maxj

(Akj + xj).

Não é difícil verificar que esta expressão depende continuamentedo vetor x. Também segue diretamente da definição que (Tx)i ≥0. Por outro lado, temos

(Tx)i ≤ maxj

(L+ xj)−mink

maxj

(0 + xj)

≤ maxj

(L+ xj)−maxj

(xj) = L.

Em particular, isso mostra que a região do espaço {x =

(x1, x2, · · · , xd) ∈ Rd : 0 ≤ xj ≤ L para todo j} tem comoimagem pela função T um subconjunto dela mesma; como T éuma função contínua isso implica (como consequência direta doteorema de ponto fixo de Brower) que T tem ao menos um pontofixo v. Portanto

v = T (v)⇒ vi = (Tv)i = maxj

(Aij + vj)−mink

maxj

(Akj + vj).

Page 36: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

34 Capítulo 4. Autovalores e Autovetores Max-Plus

Se denotamosλ = min

kmax

j(Akj + vj),

então a expressão acima implica que

v = A⊗ v − λ⇒ λ+ v = A⊗ v ⇒ λ⊗ v = A⊗ v,

no sentido max-plus, como afirmamos.

Para provar a unicidade desse autovalor vamos supor,por absurdo, que temos dois autovalores distintos λ e µ. Emoutras palavras, existem vetores v e u, tais que,

A⊗ v = λ⊗ v e A⊗ u = µ⊗ u.

Sem perda de generalidade podemos supor que λ < µ.

Antes de prosseguirmos, observamos que, denotando porA2 o produto max-plus A⊗A, temos:

A2⊗v = A⊗(A⊗v) = A⊗(λ⊗v) = λ⊗(A⊗v) = λ⊗λ⊗v = (λ+λ)⊗v

ou, mais geralmente, An ⊗ v = (nλ)⊗ v.

Podemos então considerar um valor suficientemente grandede t, tal que, t⊗ v ≥ u (no sentido de que t⊗ vi ≥ ui, para cadai ∈ {1, . . . , d}). Então

(t⊗ v)⊕ u = t⊗ v.

Portanto,

An ⊗ (t⊗ v) = An ⊗((t⊗ v)⊕ u

)= An ⊗ (t⊗ v)⊕An ⊗ (u)

⇒t⊗ (An ⊗ v) = t⊗ (An ⊗ v)⊕An ⊗ (u)

⇒t⊗ (nλ)⊗ v =(t⊗ (nλ)⊗ v

)⊕ (nµ)⊗ u

Page 37: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

35

o que é equivalente a dizer que, para todo inteiro n, temos t ⊗(nλ)⊗ v ≥ (nµ)⊗ u. Ou ainda:

t+ v − u ≥ n(µ− λ)

Mas isso é uma contradição pois observamos que ambos os ladosdesta desigualdade são valores positivos e, portanto, existirá umn suficientemente grande para o qual a desigualdade não seráverificada. Então temos que λ = µ e o autovalor max-plus éúnico, conforme queríamos mostrar.

Se removemos a hipótese de que as entradas da matrizsão todas reais (ou seja, se permitimos que ao menos uma de-las seja −∞) então a situação é bem diferente. Considere, porexemplo,

A =

1 1 −∞ −∞1 1 −∞ −∞−∞ −∞ 2 2

−∞ −∞ 2 2

.

Então não é muito difícil ver que

A⊗

−∞−∞

1

1

=

−∞−∞

3

3

= 2⊗

−∞−∞

1

1

,e que

A⊗

1

1

−∞−∞

=

2

2

−∞−∞

= 1⊗

1

1

−∞−∞

.

Page 38: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

36 Capítulo 4. Autovalores e Autovetores Max-Plus

Logo, 1 and 2 são autovalores max-plus de A, mostrando quea unicidade dos autovalores não vale mais quando admitimosmatrizes com entradas −∞.

Exercícios

1) Obtenha o autovalor max-plus (e respectivos autovetores)das seguintes matrizes:

a)

[−3 −∞−∞ 1

]

b)

[4 0

0 2

]

Page 39: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

37

5 Polinômios Max-Plus

Nesse capítulo faremos um breve estudo de polinômiosno mundo max-plus.

Um polinômio max-plus p : R̄ → R̄ de grau d é umafunção do tipo

p(x) = a0 ⊕ (a1 ⊗ x)⊕ (a2 ⊗ x⊗ x)⊕ . . .⊕ (ad ⊗ x · · · ⊗ x)

= max {a0, a1 + x, a2 + 2x, . . . , ad + dx}

com os coeficientes ai ∈ R̄ e ad 6= −∞.

Exemplo 5.1. Considere o polinômio max-plus p(x) = 2⊕ (3⊗x) de grau 1. Usando as operações usuais, podemos escrevê-lo daseguinte forma p(x) = max{2, 3 + x}. Destacamos o gráfico dep(x) na figura 1.

-4 -3 -2 -1 0 1 2 30

1

2

3

4

5

6 y

x

Figura 1. Gráfico de p(x) = 2⊕ (3⊗ x)

Page 40: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

38 Capítulo 5. Polinômios Max-Plus

Exemplo 5.2. Seja q(x) = −2 ⊕ (1 ⊗ x) ⊕ (−1 ⊗ x ⊗ x ⊗ x).Ou ainda q(x) = max{−2, x + 1, 3x − 1}. Observe que q(x) éum polinômio de grau 3 e que não possui o termo de grau 2.Cabe ressaltar que, como a identidade para ⊕ é o elemento −∞,consideramos aqui que a2 = −∞. O gráfico de q(x) está na figura2.

-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

6 y

x

Figura 2. Gráfico de q(x) = −2⊕ (1⊗ x)⊕ (−1⊗ x⊗ x⊗ x)

Exemplo 5.3. O polinômio r(x) = (−∞) ⊕ (−1 ⊗ x) ⊕ (x ⊗x) é de grau 2. Observe que o coeficiente do termo de maiorgrau não está escrito mas é zero, o elemento identidade para aoperação ⊗ e não o 1, como na operação multiplicação usual. Damesma forma, como −∞ é o elemento identidade da operação⊕, também podemos escrever

r(x) = (−1⊗ x)⊕ (x⊗ x) = max{−1 + x, 2x}.

Seu gráfico está na figura 3.

Page 41: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

39

-4 -3 -2 -1 0 1 2 3

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4 y

x

Figura 3. Gráfico de r(x) = (−1⊗ x)⊕ (x⊗ x)

Um primeiro fato simples sobre uma função dessa formaé que elas são não-decrescentes.

Teorema 5.1. Dado um polinômio max-plus p(x) de grau maiorou igual a 1 temos:

1 - p(x) é contínua

2 - p(x) é não-decrescente

3 - existe x0 tal que p(x) é estritamente crescente quando x ≥x0.

4 - limx→−∞

p(x) = a0

5 - limx→∞

p(x) = +∞

Page 42: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

40 Capítulo 5. Polinômios Max-Plus

Demonstração. Seja d o grau do polinômio max-plus p(x). Cadauma das funções a0, a1 + x, a2 + 2x, . . . , ad + dx presentes nadefinição de p(x) é contínua (de fato diferenciável). Desta formap(x) é uma função contínua, por ser o máximo entre funçõescontínuas, e também é não-decrescente por ser o máximo entrefunções não-decrescentes.

Para mostrarmos o item 3 basta observarmos que, sea0 6= −∞, o polinômio p(x) passa a ser estritamente crescentequando o máximo entre as funções deixa de ser o termo constantea0. Sendo assim, seja ai + ix a função com menor i ∈ {1, · · · , d}tal que ai 6= −∞, então se escolhemos x0 = (a0 − ai)/i temosque:

x ≥ x0 ⇒ ai + ix ≥ a0 e p(x) ≥ ai + ix

que é uma função estritamente crescente. Se a0 = −∞, estetermo será sempre menor que qualquer outro termo ai + ix eeste polinômio será estritamente crescente para todo x ∈ R.

Quando consideramos valores de x muito pequenos (ouseja, próximos de −∞) então todos os termos com x se tornammuito pequenos e assim o máximo entre eles acaba sendo o termoconstante a0, o que mostra o item 4.

Quando escolhemos valores de x suficientemente gran-des, os termos com x claramente se tornam maiores do que a0;de fato cada um deles vai a +∞ e portanto seu máximo tambémvai a +∞, o que mostra o item 5.

Page 43: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

5.1. Raízes 41

5.1 Raízes

Dado um polinômio max plus de grau d

p(x) = a0 ⊕ (a1 ⊗ x)⊕ (a2 ⊗ x⊗ x)⊕ · · · ⊕ (ad ⊗ x⊗ x . . .⊗ x)

= max {a0, a1 + x, a2 + 2x, . . . , ad + dx}

queremos encontrar as soluções da equação p(x) = 0.

Observando os gráficos de alguns polinômios podemosimaginar que, de fato, só temos três casos possíveis: nenhumaraiz, uma única raiz ou infinitas raízes. Isso é deixado claro nopróximo resultado.

Teorema 5.2. Seja p(x) um polinômio max-plus. Então o nú-mero de soluções da equação p(x) = 0 é zero, uma ou infinitas.

Demonstração. Suponhamos, primeiramente, que a0 = −∞. En-tão, p(x) é estritamente crescente e, além disso, limx→−∞ p(x) =

−∞ e limx→+∞ p(x) = +∞. Podemos concluir assim que p(x)

possui uma única raiz. Caso tenhamos a0 6= −∞, então o grá-fico de p(x) possui uma reta paralela ao eixo x; se essa reta estáexatamente sobre o eixo (a0 = 0) então p(x) tem infinitas raízes.Se esta reta está acima do eixo (a0 > 0), e considerando quep(x) é uma função não-decrescente, então não existe raiz. Se,por outro lado, esta reta está abaixo do eixo (a0 < 0) então, seo grau de p(x) é maior ou igual a 1, estamos na situação em quehá exatamente uma raiz pois, pelos itens 3 e 5 do teorema 5.1,p(x) é estritamente crescente a partir de um ponto x0 e tendea +∞ quando x tende a +∞. Entretanto, se o grau de p(x) forzero, isto é, se p(x) = a0 < 0, então este polinômio não possuiraiz.

Page 44: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

42 Capítulo 5. Polinômios Max-Plus

5.2 Interseção de Polinômios

Dados dois polinômios max-plus p(x) e q(x) queremossaber em que pontos temos p(x) = q(x).

Uma observação básica é que podemos, em princípio, terum número infinito de interseções. Considere, por exemplo, ospolinômios p(x) = 1⊕x e q(x) = 1⊕ (x⊗x). Nesse caso, quandox < 1/2 ambos valem 1, e então todo ponto x < 1/2 é umponto de interseção desses dois polinômios. Porém é muito fácilmodificar completamente essa situação: bastaria, por exemplo,considerar o polinômio r(x) = 0, 99999 ⊕ (x ⊗ x) no lugar deq(x). Ou seja, uma pequena perturbação em um dos coeficientesfaz com que as infinitas interseções desapareçam. De uma certaforma o caso p(x) e q(x) é um tipo de caso degenerado, quenão pretendemos abordar, mas uma pequena perturbação de umcaso desses nos leva a p(x) e r(x), que é a situação mais geral einteressante, para a qual é possível estabelecer uma cota para onúmero de interseções.

Teorema 5.3. Sejam p e q dois polinômios max-plus de graus,respectivamente, P e Q. Então o número de soluções da equaçãop(x) = q(x) é um elemento do conjunto {0, 1, . . . , P ⊕Q}.

Demonstração. Por simplicidade, vamos considerar que os coe-ficientes dos polinômios p e q não assumem o valor −∞. Consi-dere o polinômio p. Vamos definir uma divisão da reta em pontosp1, p2, . . . , pP de forma que, no intervalo [−∞, p1], p(x) tem in-clinação zero, no intervalo [p1, p2], p(x) tem inclinação 1 e assimsucessivamente, até que em [pP ,+∞) p(x) tem inclinação P . Deforma similar definimos uma divisão em pontos q1, . . . , qQ, de

Page 45: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

5.2. Interseção de Polinômios 43

forma que em cada subintervalo determinado temos que q(x)

tem inclinação constante.

Vamos então denotar os intervalos definidos acima como

I0 = [−∞, p1], I1 = [p1, p2], . . . , IP = [pP ,+∞)

e

J0 = [−∞, q1], J1 = [q1, q2], . . . , JQ = [qQ,+∞)

De acordo com o que já estudamos sobre polinômiosmax-plus, temos que a primeira interseção entre os polinômiosnão pode ocorrer em um ponto em [−∞, p1) e [−∞, q1), ou seja,pontos de I0 ∩ J0, pois se isso ocorresse, como ambos são cons-tantes nessas regiões, então teríamos uma infinidade de pontosem comum nos gráficos. De fato o mesmo argumento mostra quenão podemos ter interseção dos gráficos em nenhum ponto quepertença a um conjunto do tipo Ii ∩ Ji.

Consideremos então os intervalos na forma Ii ∩ Jj ; va-riando os índices i e j podemos ver que todos os pontos da retaestão em algum desses conjuntos. O intervalo que está mais aesquerda é, claro, I0 ∩ J0. Um intervalo do tipo Ii ∩ Jj pode serseguido por Ii+1 ∩ Jj (se o extremo de Ii está dentro de Jj ), ouIi ∩ Jj+1 (se o extremo de Jj está dentro de Ii) ou Ii+1 ∩ Jj+1

(se Ii e Jj têm o mesmo extremo). Toda essa informação podeser resumida na seguinte notação: vamos identificar o conjuntoIi ∩ Jj com o par ordenado (i, j). Então o par (i, j) só pode serseguido por um dos três pares seguintes: (i + 1, j), (i, j + 1) ou(i+ 1, j + 1). Portanto a sequência dos intervalos Ii ∩ Jj na retacomeça com (0, 0) (correspondente a I0∩J0 e continua seguindoa regra acima até chegar ao intervalo (P,Q).

Page 46: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

44 Capítulo 5. Polinômios Max-Plus

Dentre esses intervalos, onde podemos ter as interseçõesdos gráficos? Já sabemos que isso não pode ocorrer em nenhumdos intervalos do tipo (i, i). Imagine que temos a primeira inter-seção no intervalo (i0, j0); se i0 é maior do que j0 então o polinô-mio p(x) cresce mais rápido do que q(x) nessa região. Para quevoltem a se cruzar é preciso que q comece a crescer mais rápidodo que p, o que significa que o novo cruzamento só pode ocorrerquando tivermos um novo par (i1, j1) com j1 maior que i1. Deforma similar, se i0 é menor do que j0 então o proximo possívelcruzamento só poderá ocorrer num novo par (i1, j1) tal que i1 émaior do que j1.

Portanto é preciso haver uma certa inversão na ordemdos pares para que possamos ter cruzamentos dos gráficos. In-verter a ordem (ou seja, trocar um par (maior,menor) por outro(menor,maior), ou vice-versa) envolve cruzar a diagonal (i, i).A maneira de fazer isso maximizando o número de cruzamentos(e portanto permitindo o máximo de interseções dos gráficos) écom algo do tipo

(0, 0) (0, 1) (0, 2) . . . (0, Q)

(1, 0) → (1, 1) → (1, 2) . . . (1, Q)

↓(2, 0) (2, 1) (2, 2) . . . (2, Q)

↓(3, 0) (3, 1) (3, 2) → . . . (3, Q)...

......

......

(P, 0) (P, 1) . . . . . . (P,Q)

ou seja, um caminho que serpenteia em torno da diagonal. Su-ponha que P > Q; nesse caso o número máximo de pares que

Page 47: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

5.3. Polinômios Min-Plus 45

podem corresponder a cruzamentos do gráfico é de Q + 1 ≤max{P,Q}.

Quando P = Q podemos, de forma similar, ver que onúmero de pares que podem corresponder a cruzamentos é deQ = max{P,Q}, o que conclui a prova.

5.3 Polinômios Min-Plus

Existem algumas variações da álgebra max-plus, umadelas sendo a álgebra min-plus onde consideramos a operação⊕ dada por a ⊕ b = min{a, b}. Nesta álgebra, consideramos oconjunto R com a inclusão de +∞. Esta álgebra também é co-nhecida como álgebra tropical. Neste contexto, é interessante,por exemplo, estudar o comportamento de polinômios como:

p(x) = a0 ⊕ (a1 ⊗ x)⊕ (a2 ⊗ x⊗ x) = min {a0, a1 + x, a2 + 2x}.

Observe que os gráficos desses polinômios são, em umcerto sentido, parecidos com os estudados na álgebra max-plusmas com a diferença que as inclinações dos segmentos de retaque o compõem vão diminuindo, ao contrário do que acontecequando consideramos o máximo. A investigação geométrica des-ses objetos é conhecida como geometria tropical; o leitor interes-sado pode consultar o bonito texto expositório [2].

Exercícios

1) Esboce o gráfico do polinômio m(x) = 3⊕ (2⊕x)⊕ (x⊗x)

2) Determine um polinômio s(x) cuja única solução para aequação s(x) = 0 ocorra em x = −2.

Page 48: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

46 Capítulo 5. Polinômios Max-Plus

3) Determine os intervalos onde ocorrem as interseções dep(x) e m(x) e p(x) e s(x) onde p(x) é o primeiro exem-plo de polinômio max-plus dado no capítulo e m(x) e s(x)

são os polinômios definidos nos exercícios acima.

Page 49: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

47

6 Formas Quadráticas Max-Plus

Um outro problema clássico dentro da álgebra linear éo de se maximizar (ou, eventualmente, o de se minimizar) umaforma quadrática sobre uma determinada região, por exemploum círculo, o que é um exemplo de problema de maximizaçãocom vínculos. Neste capítulo desejamos apresentar o equivalentemax-plus desse problema.

6.1 Definindo Regiões

Vamos considerar o equivalente max-plus de uma equa-ção como x2 + y2 = 1, que define um círculo de raio unitário noplano xy. Esta expressão na verdade é a forma curta de

x.x+ y.y = 1

Trocando então as operações · e + por ⊗ e ⊕ temos

(x⊗ x)⊕ (y ⊗ y) = 1

ou seja,max {2x, 2y} = 1

Esta é então a equação do vínculo max-plus. A região acima éformada por duas semi-retas no plano que podem ser escritascomo

R = {x = 1/2, y ≤ 1/2} ∪ {y = 1/2, x ≤ 1/2} (6.1)

e podem ser conferidas na figura 4.

Page 50: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

48 Capítulo 6. Formas Quadráticas Max-Plus

-2 -1 0 1 2

-2

-1

0

1

2 y

x

b

Figura 4. Região max-plus (x⊗ x)⊕ (y ⊗ y) = 1

6.2 Forma Quadrática

Uma forma quadrática em R2 é uma função q : R2 → Rdefinida a partir de uma transformação linear A : R2 → R2 daseguinte forma:

q(x1, x2) = [x1x2]A

[x1

x2

]= a11x

21 + (a12 + a21)x1x2 + a22x

22

Inspirados por isso, podemos definir uma forma quadrá-tica max-plus como sendo a função Q : R̄2 → R̄ dada por:

Q(x1, x2) =

=(a11 ⊗ x1 ⊗ x1)⊕((a12 ⊕ a21)⊗ x1 ⊗ x2

)⊕ (a22 ⊗ x2 ⊗ x2)

= max {a11 + 2x1,max {a12, a21}+ x1 + x2, a22 + 2x2}

= max {a11 + 2x1, a12 + x1 + x2, a21 + x2 + x1, a22 + 2x2}

Então agora queremos maximizar a função Q no con-junto R e de fato podemos mostrar o resultado seguinte.

Page 51: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

6.3. Forma Quadrática em R̄n 49

Lema 6.1. Seja Q uma forma quadrática max-plus e R a regiãodefinida em 6.1 então

maxx∈R{Q(x)} = 1 + max

1≤i,j≤2{aij}

Demonstração. Temos que o ponto (1/2, 1/2) ∈ R eQ(1/2, 1/2) =

1 + max1≤i,j≤2

{aij}. Naturalmente, maxx∈R{Q(x)} ≥ Q(1/2, 1/2).

Mas para um ponto x = (x1, x2) qualquer na região Rtemos que

Q(x) = max {a11 + 2x1, a12 + x1 + x2, a21 + x2 + x1, a22 + 2x2}

≤ max {a11 + 1, a12 + 1/2 + 1/2, a21 + 1/2 + 1/2, a22 + 1}

= Q(1/2, 1/2)

Assim, o máximo é, de fato, realizado em (1/2, 1/2) eportanto temos o lema.

6.3 Forma Quadrática em R̄n

Vamos agora definir a forma quadrática Q : R̄n → R̄dada por

Q(x) = xTAx = maxi,j∈I

{aij + xi + xj}

onde I = {1, · · · , n}.

Consideremos a região R definida por

maxi∈I{kxi} = 1

onde k é uma constante tal que k ∈ N e k > 1.

Observe que, se k = 2, temos uma generalização naturalda região definida em 6.1.

Page 52: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

50 Capítulo 6. Formas Quadráticas Max-Plus

Então podemos mostrar o seguinte resultado:

Lema 6.2. Seja Q(x) uma forma quadrática definida em R̄n ea R a região definida acima então

maxx∈R{Q(x)} =

2

k+ max

i,j∈I{aij}

Demonstração. O ponto (1/k, 1/k, . . . , 1/k) ∈ R e

Q

(1

k,

1

k, . . . ,

1

k

)=

2

k+ max

i,j∈I{aij},

portanto

maxx∈R{Q(x)} ≥ 2

k+ max

i,j∈I{aij}

Por outro lado, dado um x qualquer em R temos

Q(x) = maxi,j∈I

{aij + xi + xj}

≤ maxi,j∈I

{aij +

1

k+

1

k

}=

2

k+ max

i,j∈I{aij}

=⇒ maxx∈R{Q(x)} ≤ 2

k+ max

i,j∈I{aij}

e o lema esta provado.

6.4 Outra Forma de Definir Regiões

Agora apresentaremos uma outra forma de definir cur-vas; embora pareça menos natural que a anterior, de fato essaforma é a mais usada no contexto max-plus.

Começamos com um exemplo: queremos saber qual é aregião em R̄2 definida pela equação x+y+1 = 0, ou x⊕y⊕1 = 0,usando a soma max-plus. Vamos definir essa região como sendo

Page 53: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

6.4. Outra Forma de Definir Regiões 51

o conjunto de pares (x, y) para os quais a expressão max {x, y, 1}é realizada em ao menos dois pontos (o que inclui o 1). Então aregião definida consiste em três semirretas, a saber

{(x, 1) : x ≤ 1}

{(1, y) : y ≤ 1}

{(x, x) : x ≥ 1}

Esta região de R̄2 pode ser observada na figura 5.

-2 -1 0 1 2 3

-1

0

1

2

y

x

b

Figura 5. Região max-plus x⊕ y ⊕ 1 = 0

Definição 6.1. Dizemos que a equação max-plus

(a⊗ x)⊕ (b⊗ y)⊕ c = 0,

com a, b, c ∈ R̄, define a região de R̄2 onde o máximo

max {a+ x, b+ y, c}

é realizado simultaneamente em pelo menos dois pontos.

Page 54: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

52 Capítulo 6. Formas Quadráticas Max-Plus

Observe que se tivermos duas das constantes a, b, c assu-mindo o valor −∞ então esta equação não determina uma regiãopois não teremos o máximo atingido em dois pontos. No entanto,se a = b = c = −∞ então o máximo é atingido sempre, paraquaisquer valores de x e y determinando o próprio R̄2. Sendo as-sim, excetuando o caso particular onde a = b = c = −∞, temosque a região R consiste em três semirretas definidas por

{(c− a, y) : y ≤ c− b}

{(x, c− b) : x ≤ c− a}

{(x, x+ a− b) : x > c− a}

Podemos, de forma análoga, definir uma região em R̄n.

Definição 6.2. Dizemos que a equação max-plus

(a⊗ xn)⊕ (b⊗ ym)⊕ c = 0,

com a, b, c ∈ R̄, define a região de R̄n onde o máximo

max {a+ nx, b+my, c}

é realizado em pelo menos dois pontos.

Podemos agora perguntar qual região de R̄2 a equaçãodo círculo de raio 1 no plano xy determina nesta nova acepção.Observe que x2 + y2 − 1 = 0 é a região onde

max {2x, 2y,−1}

ocorre em ao menos dois pontos. Então esta região consiste em

Page 55: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

6.4. Outra Forma de Definir Regiões 53

três semirretas, a saber

{(x,−1) : x ≤ −1/2}

{(−1, y) : y ≤ −1/2}

{(x, x) : x ≥ −1/2}

O leitor pode notar que agora temos valores de x e dey ficando arbitrariamente pequenos (isto é, próximos de −∞) etambém muito grandes (ou seja, próximos de +∞. Desta formamaximizar ou minimzar expressões nessa região é algo que tipi-camente não será tão interessante quanto nos casos anteriores.

Exercícios

1) Encontre a região definida pela expressão dada:

a) (x⊗ x)⊕ (y ⊗ y ⊗ y) = 1

b) (5⊗ x⊗ x)⊕ (3⊗ y ⊗ y) = 15

2) Considere a região R definida pela expressão

max {2 + 10x, 2 + 4x} = 1

a) Reescreva-a na notação max-plus.

b) Considere a função definida em R pela expressão

Q(x, y) = max {20 + 2x, x+ y, x+ y, 2y}

Verifique que o máximo da função acima ocorre em qual-quer ponto de R na forma (−5, y).

Page 56: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio
Page 57: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

55

7 Conjuntos Convexos

Vamos aqui rapidamente recordar o importante conceitode conjunto convexo; como estamos mais interessados nas ideiasprincipais e não em fazer uma teoria absolutamente geral, vamosnos limitar a subconjuntos do plano R2.

7.1 Convexidade em R2

Dados dois pontos x e y em R2, definimos o segmento[x, y] como sendo o conjunto

[x, y] := {(1− t)x+ ty : para t ∈ [0, 1] }

(ou seja, geometricamente esse é exatamente o segmento de retacujas extremidades são os pontos x e y). Note que a definição ésimétrica, isto é, [x, y] = [y, x].

Observação 1. Podemos pensar em (1 − t) e t como sendoα = 1− t e β = t reais não negativos tais que α+ β = 1.

Definição 7.1. Um subconjunto C ⊂ R2 é dito convexo se paratodo par de pontos x e y pertencentes a C temos que o segmento[x, y] está contido em C.

Alguns exemplos simples são o próprio R2, R2+ e um

disco de raio r e centro p, Dr(p) = {x ∈ R2 : |x− p| ≤ r}.

Uma propriedade que pode ser provada sem muito es-forço é a seguinte:

Page 58: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

56 Capítulo 7. Conjuntos Convexos

Lema 7.1. Se C1 e C2 são conjuntos convexos então C1 ∩ C2

também é um conjunto convexo.

Demonstração. De fato, sejam p1 e p2 pontos pertencentes aC1∩C2. Então o segmento [p1, p2] está contido em C1 e tambémestá contido em C2, pois ambos são convexos,mostrando que[p1, p2] está contido em C1∩C2. Isso nos leva à conclusão de queC1 ∩ C2 é convexo, como afirmado.

7.2 Convexidade Max-Plus

Vamos agora estender o conceito de convexidade parao conjunto R̄2. Em primeiro lugar, é preciso redefinir o conceitode segmento no contexto max-plus.

Vamos considerar α e β elementos de R̄ tais que

α⊕ β = 0

ou seja, max{α, β} = 0. Estes elementos estão no conjunto R1 ∪R2, e essas regiões são dadas por:

R1 = {(α, β) ∈ R̄2 : α = 0, β ≤ 0}

R2 = {(α, β) ∈ R̄2 : β = 0, α ≤ 0}

Definimos também

max {(x1, x2), (y1, y2)} =(

max {(x1, y1)},max {(x2, y2)})

(ou seja, o máximo é feito coordenada a coordenada).

Então a definição de segmento é feita da seguinte forma:

[x, y] := {(α⊗ x)⊕ (β ⊗ y) : α e β em R1 ∪R2}

Page 59: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

7.2. Convexidade Max-Plus 57

onde

(α⊗ x)⊕ (β ⊗ y) = (α+ x1, α+ x2)⊕ (β + y1, β + y2)

= max {(α+ x1, α+ x2), (β + y1, β + y2)}

=(

max {α+ x1, β + y1},max {α+ x2, β + y2})

Exemplo 7.1. Vamos encontrar o segmento max-plus que ligaos pontos (0, 0) e (1, 1). De acordo com a definição acima temosque os pontos do segmento satisfazem(

max {α, β + 1},max {α, β + 1})

Na região R2 temos α ≤ 0 e β = 0, donde(max {α, β + 1},max {α, β + 1}

)=(

max {α, 1},max {α, 1})

= (1, 1)

Na região R1 temos α = 0 e β ≤ 0, donde(max {0, β + 1},max {0, β + 1}

)Se β < −1 o par acima é igual a (0, 0); para β ∈ [−1, 0] temosque o par é (β + 1, β + 1), o corresponde ao segmento de retausual que liga (0, 0) a (1, 1).

Exemplo 7.2. Vamos determinar o segmento max-plus que liga(0, 0) e (1, 0). Da definição temos(

max {α, β},max {α+ 1, β})

Em R1 temos(0, 1)

Page 60: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

58 Capítulo 7. Conjuntos Convexos

Já em R2 temos(max {α, 0},max {α+ 1, 0}

)=(

0,max {α+ 1, 0})

Se α < −1 a expressão acima nos dá (0, 0); se α ∈ [−1, 0] temos(0, α+ 1), o que nos dá o segmento de reta usual que liga (0, 0)

a (1, 0).

Esses dois exemplos parecem sugerir que o segmentomax-plus é de fato o mesmo que um segmento usual, mas issonão está correto.

Exemplo 7.3. Vamos encontrar o segmento max-plus [x, y] quandox = (1, 0) e y = (0, 1). Da definição queremos os pontos nosquais (

max {α+ 1, β},max {α, β + 1})

Em R1 temos(max {1, β},max {0, β + 1}

)=(

1,max {0, β + 1})

Para β < −1 temos (1, 0); para β ∈ [−1, 0] temos (1, β + 1) queé o segmento de reta usual que liga (1, 0) a (1, 1).

Na região R2 temos(max {α+ 1, 0},max {α, 1}

)=(

max {α+ 1, 0}, 1)

Para α < −1 temos (0, 1); para α ∈ [−1, 0] temos (α+ 1, 1), queé o segmento de reta usual que liga (0, 1) ao ponto (1, 1).

Portanto nesse caso o segmento max-plus é na verdadea união de dois segmentos de reta.

Os exemplos acima nos sugerem que os segmentos max-plus são de fato formados por segmentos de reta de inclinação 0,

Page 61: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

7.2. Convexidade Max-Plus 59

1 ou +∞ (ou seja, um segmento vertical); efetivamente é isso oque ocorre, mas não provaremos esta afirmação.

Definição 7.2. Um conjunto C é dito convexo se para todo parde elementos x e y pertencentes a C temos que o segmento max-plus [x, y] está contido em C.

Abaixo temos alguns exemplos de conjuntos convexosno sentido max-plus.

Exemplo 7.4. O conjunto

A = {(x, y) : 0 ≤ x ≤ y}

De fato, se x e y estão na mesma vertical então o seg-mento [x, y] é o segmento de reta vertical que os liga, que estáem A. Se não estão na mesma vertical então imagine, sem perdade generalidade, que x1 < y1. Se x2 = y2 então o segmento queos liga é um segmento de reta horizontal, que está contido emA. Se x2 < y2 o segmento max-plus que os liga é uma união dedois segmentos de reta, um horizontal e outro de inclinação 1,estando assim contido em A. Por fim, se x2 > y2 o segmentomax-plus que os liga é uma união de um segmento de reta hori-zontal com outro vertical, ambos então contidos em A. Assim ossegmentos que unem dois pontos do conjunto estão no conjunto,mostrando que o mesmo é efetivamente convexo.

De forma similar podemos mostrar que também é con-vexo o conjunto seguinte:

Exemplo 7.5.

Ba = {(x, y) : 0 ≤ x ≤ a, 0 ≤ y}

Page 62: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

60 Capítulo 7. Conjuntos Convexos

(onde a é um número real positivo)

Um fato cuja prova é simples (e é, com pequenas adap-tações, exatamente a prova já apresentada no caso anterior) é oseguinte:

Lema 7.2. A interseção de dois conjuntos convexos é tambémum convexo.

Desta forma podemos dar mais um exemplo de conjuntoconvexo, a saber:

Exemplo 7.6.C = A ∩Ba

que corresponde à região delimitada pelo triângulo de vértices(0, 0), (a, 0) e (a, a).

Exercícios

1) Obtenha o segmento max-plus que conecta os pontos (0, 0)

e (1, 2). Faça o mesmo com os pontos (0, 0) e (2, 1).

2) Prove que a interseção de dois conjuntos convexos max-plus é também um convexo max-plus.

3) Considere os pontos (x1, x2) e (y1, y2), com x1 < y2. Vamosconsiderar dois casos:

a) x2 > y2: nessa situação, mostre que o segmento que ligaesses pontos é uma união de um segmento horizontal comum segmento vertical.

b) x2 = y2: nesse caso, mostre que o segmento que ligaesses pontos é um segmento de reta horizontal.

Page 63: Introdução à Álgebra Max-Plus, III Colóquio de ...mtm.ufsc.br/coloquiosul/notas_minicurso_3.pdf · A. T. Baraviera e Flávia M. Branco Introdução à Álgebra Max-Plus III Colóquio

61

Referências

[1] A. T. BARAVIERA, R. LEPLAIDEUR e A. LOPES, Er-godic optmization, zero temperature limits and the max-plus algebra, 29 Colóquio Brasileiro de Matemática - IMPA,2013.

[2] E. BRUGALLÉ, Um pouco de geometria tropical, RevistaMatemática Universitária, 46 (2009)27-40.

[3] K. FARLOW, Max-Plus Algebra, Dissertação de Mestrado,Virginia Polytechnic Institute and State University, 2009.

[4] E. GARIBALDI e J. T. A. GOMES, Otimização de médiassobre grafos orientados, 29 Colóquio Brasileiro de Matemá-tica - IMPA, 2013.

[5] C. S. HONIG, Aplicações da topologia à análise, ProjetoEuclides - IMPA, 1976