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Volume 1, Número 2 ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017 Artigo IPERATIVIDADE E INTERVENÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NO CONTEXTO ESCOLAR Páginas 181 a 199 181 IPERATIVIDADE E INTERVENÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NO CONTEXTO ESCOLAR Gilmar Antônio de Oliveira 1 Myllena Petrovisk Freire da Silva 2 RESUMO: As contribuições da psicopedagogia no processo de ensino/aprendizagem são imprescindíveis. O trabalho do psicopedagogo na escola é de relevante importância, apesar da psicopedagogia ainda ser considerada uma atividade relativamente nova em comparação a outras. A Psicopedagogia já é suficientemente reconhecida, sendo sua presença nas escolas indispensável, principalmente nos casos de crianças que apresentam problemas de aprendizagem, necessitando do acompanhamento desse profissional. Nos casos específicos de hiperatividade, a figura do psicopedagogo tem uma importância imensurável, pois com a aplicação dos seus conhecimentos na condução da educação da criança hiperativa, levará, indubitavelmente, a bons resultados. Não somente para o alunado, mas, também, para os docentes, o apoio psicopedagógico tem relevante significado, pois, a aprendizagem não se restringe somente à prática e às técnicas desenvolvidas pelo professor, mas de um conjunto de fatores, que envolve todos os profissionais vinculados ao ensino. A pesquisa do presente tema tem como objetivo principal analisar os resultados decorrentes da participação e da intervenção do psicopedagogo no acompanhamento e nas atividades pedagógicas no contexto escolar. Palavras-chave: Psicopedagogo. Hiperatividade. Escola. ABSTRACT: The contributions of educational psychology in the teaching / learning are indispensable.The work of the psycho-pedagogue in school is of relevant importance, although psych pedagogy is still considered a relatively new activity in comparison to others. Despite educational psychology still be considered a relatively new, it is already sufficiently recognized, and their presence in schools, indispensable, especially in cases of children who have learning problems, requiring the monitoring of this professional. In 1 Doutorando pelo programa de Pós-Graduação em Ciências da Educação pela Unigrendal Corporate University. Email: [email protected]. 2 Doutoranda pelo programa de Pós-graduação em Ciências da Educação pela Unigrendal Corporate University. Email: [email protected].

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Páginas 181 a 199 181

IPERATIVIDADE E INTERVENÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NO CONTEXTO

ESCOLAR

Gilmar Antônio de Oliveira1

Myllena Petrovisk Freire da Silva2

RESUMO: As contribuições da psicopedagogia no processo de ensino/aprendizagem são

imprescindíveis. O trabalho do psicopedagogo na escola é de relevante importância,

apesar da psicopedagogia ainda ser considerada uma atividade relativamente nova em

comparação a outras. A Psicopedagogia já é suficientemente reconhecida, sendo sua

presença nas escolas indispensável, principalmente nos casos de crianças que apresentam

problemas de aprendizagem, necessitando do acompanhamento desse profissional. Nos

casos específicos de hiperatividade, a figura do psicopedagogo tem uma importância

imensurável, pois com a aplicação dos seus conhecimentos na condução da educação da

criança hiperativa, levará, indubitavelmente, a bons resultados. Não somente para o

alunado, mas, também, para os docentes, o apoio psicopedagógico tem relevante

significado, pois, a aprendizagem não se restringe somente à prática e às técnicas

desenvolvidas pelo professor, mas de um conjunto de fatores, que envolve todos os

profissionais vinculados ao ensino. A pesquisa do presente tema tem como objetivo

principal analisar os resultados decorrentes da participação e da intervenção do

psicopedagogo no acompanhamento e nas atividades pedagógicas no contexto escolar.

Palavras-chave: Psicopedagogo. Hiperatividade. Escola.

ABSTRACT: The contributions of educational psychology in the teaching / learning are

indispensable.The work of the psycho-pedagogue in school is of relevant importance,

although psych pedagogy is still considered a relatively new activity in comparison to

others. Despite educational psychology still be considered a relatively new, it is already

sufficiently recognized, and their presence in schools, indispensable, especially in cases

of children who have learning problems, requiring the monitoring of this professional. In

1 Doutorando pelo programa de Pós-Graduação em Ciências da Educação pela Unigrendal

Corporate University. Email: [email protected]. 2 Doutoranda pelo programa de Pós-graduação em Ciências da Educação pela Unigrendal

Corporate University. Email: [email protected].

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the specific cases of hyperactivity, the figure of the educational psychologist has an

immeasurable importance, since the application of their knowledge in the conduct of

education hyperactive child will undoubtedly good results. Not only for the pupils but

also for teachers, the educational psychology has important meaning, because learning is

not restricted only to the practice and techniques developed by the teacher, but a number

of factors, involving all professionals involved in teaching. The theme of this research

aims at analyzing the results arising from the participation and intervention psych

educator monitoring and pedagogical activities in the school context.

Keywords: Educational psychologist. Hyperactivity. School.

INTRODUÇÃO

A psicopedagogia tem como escopo a aprendizagem humana. Realizando

trabalhos mediante processos e estratégias que levam em consideração a individualidade

do discente e do docente, em busca da melhoria do processo ensino/ aprendizagem. Ela

surgiu da necessidade de se alcançar um melhor desempenho do processo de aprender

para poder atender às necessidades individuais, nesse contexto.

Desde há muito tempo, a falta de conhecimento adequado de alguns educadores a

respeito das necessidades específicas de aprendizagem, próprias de cada sujeito, levavam

os educadores a confundirem-nas com déficits de inteligência, dos quais o aluno era

portador, encaminhando-os, portanto, para profissionais das mais diversas áreas da saúde,

como, por exemplo: neurologistas, pediatras, psicólogos clínicos, psiquiatras,

psicanalistas, etc., que muitas vezes não encontravam solução para os referidos

“problemas” enfrentados pelo educando em sala de aula.

Os diagnósticos, em princípio divulgados através dos consultórios, chegavam às

escolas que, imprudentemente, começavam a classificar as crianças com dificuldade para

ler e escrever como “disléxicas”, e as mais agitadas como “hiperativas”. Os profissionais

da área médica que reforçavam o diagnóstico dos educadores recorriam, quase sempre, à

prescrição de fármacos.

Referindo-se a isto Scoz (2006, p. 13) declara:

Os problemas de aprendizagem não são restringíveis, nem as causas

físicas ou psicológicas, nem a análise das conjunturas sociais. É preciso

compreendê-los a partir de um enfoque multidimensional, que

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amalgame fatores orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e

pedagógicos, percebidos dentro das articulações sociais. Tanto quanto

a análise, as ações sobre os problemas de aprendizagem devem inserir-

se num movimento mais amplo de luta pela transformação da

sociedade.

Portanto, fica claro que para entender aos problemas de aprendizagem,

frequentemente encontrados no contexto escolar, os quais não se resumem a fatos

isolados, mas a múltiplos fatores, o psicopedagogo encontra-se habilitado para enfrentá-

los e tratá-los da melhor forma possível.

Na atualidade, o fenômeno do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

(TDAH) tem sido motivo de discussão no contexto escolar e nos consultórios médicos.

As estatísticas demonstram que cada vez mais crianças distraídas, travessas, agitadas e

com baixo rendimento escolar são diagnosticadas com esse transtorno. Esses

comportamentos, geralmente concentram-se mais entre seis e sete anos, idade em que as

crianças iniciam na educação formal, requerendo, portanto, os cuidados de um

psicopedagogo. Diante disso, a pretensão desse trabalho, com base em pesquisa

bibliográfica é analisar com maior profundidade essas questões que envolvem o

comportamento de crianças e adolescentes na escola.

HIPERATIVIDADE E TRANSTORNO DE CONDUTA

Segundo o dicionário Houaiss, hiperatividade é o excesso de atividade; qualidade

ou condição de hiperativo. Atividade excessiva, multiforme, volúvel, frequentemente

frustrada ou abortada, que se apresenta em várias psicoses.

O Transtorno do Déficit de Atenção por Hiperatividade (TDAH) vem, ao longo

do tempo, sendo estudado nos seus mais diversos aspectos pela psicologia, pela

psiquiatria, pela neurologia e outras áreas afins, razão pela qual, muitos rótulos têm

surgido para esse distúrbio, tais como: distúrbio do sistema nervoso central, disfunção

cerebral mínima, dislexia, entre outros.

As primeiras referências aos transtornos hipercinéticos na literatura médica

apareceram no meio do século XIX. Entretanto, o quadro clínico começou a ser descrito

de uma maneira mais sistemática somente no século XX. (ROHDE E BENCZIC, 1999).

O pediatra inglês George Frederick Still, em 1902, em uma série de palestras sobre

crianças agressivas, desafiadoras, resistentes à disciplina, excessivamente emotivas e

passionais, observou que elas mostraram pouca “inibição à sua vontade”, tinham

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dificuldade de seguir regras e eram desatentas, hiperativas, propensas a acidentes e

ameaçadoras a outras crianças devido a atitudes hostis. De acordo com Still: “essas

crianças tinham um defeito maior e crônico no controle moral” (SILVA, 2004).

Na literatura específica encontram-se diversos estudos relativos às crianças com

“Distúrbio de Comportamento Pós-Encefalite”, nos quais eram destacados prejuízos na

atenção, regulação e atividade física e controle dos impulsos.

Em 1934, Kahn e Conhn publicaram um artigo no famoso The New England

Journal Of Medicine, onde afirmaram haver uma base biológica nessas alterações

comportamentais, baseadas em um estudo com as mesmas vítimas de epidemia de

encefalite de Von Economo. Em detrimento desta correlação feita entre a encefalite e uma

possível “deficiência moral” criou-se assim o termo “cérebro danificado ou lesionado”

para descrever tais crianças (SILVA, 2004).

Portanto, nesse lapso de tempo, até aos dias atuais, inúmeras foram as designações

para o problema, culminando com o termo Transtorno do Déficit de Atenção por

Hiperatividade, hoje utilizado.

O reconhecimento que muitas dessas crianças, apesar de serem diferentes de seus

pares etários, apresentavam-se muito espertas e inteligentes para serem portadoras de uma

lesão cerebral de qualquer extensão; ao estudar o período da infância até a adolescência,

exigiu também a tentativa de se vincular o problema a fatores psicológicos e genéticos,

como má formação do feto na gestação, herança poligênica (trauma na ocasião do parto).

Essas afirmativas, no entanto, não tiveram êxito, pois as crianças com características

diferenciadas sem comprometimento neurológico, não tinham relação a esses eventos

como se atribuía antes.

Todavia, Satrauss (1947 apud Silva, 2004, p. 50) define como: “Lesão Cerebral

Mínima”, que terminou por se tornar popularmente conhecido e completamente

disseminado, apesar de não haver lesão cerebral óbvia, ou pelo menos nenhuma que

pudesse ser evidenciada por um teste ou exame médico objetivo. Esse termo foi

posteriormente mudado para Disfunção Cerebral Mínima por falta de evidências diretas

e objetivas que pudessem constatar a presença de lesões cerebrais (SILVA, 2004).De

acordo com o autor supracitado, a classe médica compreendeu o problema como uma

entidade clínica passível de um tratamento à base de fármacos, prescrevendo o uso de

drogas estimulantes e calmantes na tentativa de “curar”.

Em 1937, Charles Bradley realizou uma descoberta acidental, as anfetaminas

(medicamentos estimulantes do sistema nervoso central) ajudavam crianças, hiperativas

a se concentrarem melhor. Ele observou que muitas crianças, especialmente aquelas que

eram hiperativas e/ou impulsivas, com o uso de anfetaminas, apresentavam significativa

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redução em seus comportamentos tão “perturbadores”. Foi uma descoberta contrária à

lógica que acabou por levar ao surgimento do conceito de efeito paradoxal (efeito

contrário ao esperado com o uso de determinada medicação). Essa corrente acreditava

que as crianças que apresentassem características da hiperatividade estariam propensas,

na fase da adolescência, a comportarem-se de maneira antissociais, fazendo uso do álcool

e drogas, com essas interpretações.

O termo hiperatividade infantil foi usado pelo psiquiatra Laufer em 1957 e por

Estella Chess em 1960. Laufer acreditava que a síndrome seria uma patologia exclusiva

de crianças de sexo masculino e teria a sua remissão ao longo do crescimento natural do

indivíduo (SILVA, 2004).

Continuando, Silva (2004, p.65) afirma que em 1973, o Dr. Bem Freingold

apresenta à Associação Médica Americana estudos que estabeleciam um vínculo entre

determinados alimentos e aditivos químicos e o comportamento e a habilidade de

aprendizagem de certos indivíduos. Essa teoria foi aceita por uma grande parte da

população americana, no entanto, não foi bem aceita pela comunidade médica à época.

Portanto, ampliou-se a percepção dessa síndrome comportamental de destaque especial

ao déficit de atenção, que antes era supervalorizado.

Em 1976 surgiu uma nova concepção; Gabriel Weiss demonstrou, mediante

estudos, que quando as crianças atingem a adolescência, a hiperatividade pode diminuir;

mas, os problemas de atenção e impulsividade tendem a permanecer. O consenso anterior

tratava a síndrome como uma alteração exclusiva da infância e que, certamente,

“desapareceria” na adolescência e na fase adulta.

De acordo com Silva (2004, p. 68):

Essa foi uma contribuição decisiva para que esse tipo de funcionamento

cerebral fosse reconhecido na população adulta. A forma adulta foi

oficialmente reconhecida em 1980, com a publicação do DSM – III pela

Associação Americana de Psiquiatria, que trouxe mudanças

importantes em diversos aspectos: desvinculou a nomeação da

síndrome de seus aspectos etiológicos (fatores causais) e deu destaque

aos aspectos clínicos (sintomas); enfatizou a questão aditiva como

sintoma nuclear da alteração; identificou a forma adulta, na época

nomeada de “tipo residual” e renomeou a Síndrome de Distúrbio do

Déficit de Atenção (DDA).

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A partir de 1980, muitos estudos foram incrementados, cujos resultados foram

amplamente divulgados, tornando o Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA) cada vez

mais estudado.

Em 1984, a Associação Americana de Psiquiatria publicou o DSM – IV (Manual

Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de

Psiquiatria, adotado também no Brasil como padrão para definição de doenças). Nessa

atualização, a classificação do DDA era dividida em subtipos básicos e em uma

combinação de ambos: Déficit de atenção: DA, desatento, Déficit de atenção: DA/C, em

que sintomas desatentos e de hiperatividade/impulsividade estão presentes no mesmo

grau de intensidade, DA/HI , predominantemente hiperativo impulsivo (SILVA, 2004).

Hoje, o DSM – IV é um consenso quando se refere a diagnóstico de DDA. Isso

ocorre em virtude de três aspectos básicos oficializados, assim classificados:

1) Os sinais e sintomas listados são os mesmos para crianças, adolescentes e

adultos, com adequada ressalva de serem menos intensos nas fases mais amadurecidas da

vida do indivíduo;

2) O reconhecimento do subtipo predominantemente desatento. Um fato que pode

ajudar a reverter à situação de subdiagnóstico em relação às mulheres, já que entre elas

predominam os sintomas de desatenção em detrimento dos sintomas de hiperatividade e

impulsividade;

3) Destaque das dificuldades pessoais causadas pelos sintomas de DDA no

contexto familiar, profissional-acadêmico ou social da vida de cada indivíduo (SILVA,

2004).

Entretanto, de acordo com as pesquisas mais recentes são necessários, pelo menos,

seis sintomas de desatenção e seis dos sintomas de hiperatividade e impulsividade, para

que se possa pensar na possibilidade de diagnóstico de TDAH (ROHDE; BENCZIC,

1990).

Uma das facetas da hiperatividade é a indisciplina. A indisciplina foi considerada

a grande praga do final do século passado para a educação brasileira, e a violência o seu

efeito mais nefasto.

Entretanto, de acordo com Pedro Silva (2009, p. 113), ao referir-se à indisciplina

e à violência:

Infelizmente, o problema continua, e a tal ponto que passou a ser visto

como produto de uma doença de nome pomposo chamada

hiperatividade. Tanto é verdade que se ouve falar pouco de indisciplina

e violência escolar. Na verdade a moda agora é dizer que determinadas

crianças e adolescentes são hiperativas.

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Para a medicina, a hiperatividade caracteriza-se por um conjunto de condutas

consideradas inadequadas, como a dificuldade de concentração na execução das

atividades escolares, a movimentação física excessiva em sala de aula, os

comportamentos de violência e de auto violência aparentemente injustificados e o

rendimento escolar muito aquém do esperado. Esta descrição médica é semelhante à

empregada pelos educadores. Assim, são rotulados de hiperativos as crianças e os

adolescentes desatentos, violento, dispersos e agitados (SILVA, 2009).

Ainda, de acordo com o autor supracitado, ao contrário do discurso supostamente

médico, a hiperatividade é muito mais um rótulo do que uma doença. A médica Sucupira

(1986), ao realizar retrospectiva sobre os estudos acerca da hiperatividade, não encontrou

evidências científicas que sustentassem a existência dessa doença. Isto não significa dizer

que inexistem casos de crianças e adolescentes excessivamente ativos, provavelmente

influenciados por alguma disfunção ou mesmo lesão cerebral mínima. Contudo, até o

momento se desconhecem estudos científicos que sustentem a tese da relação entre

indisciplina, violência escolar e problemas neurológicos.

Apesar dos inúmeros estudos sobre a hiperatividade e de todo o avanço

tecnológico da medicina, não se conseguiu detectar nenhuma alteração orgânica, seja no

eletroencefalograma, nos raios X de crânio, na ultrassonografia ou mesmo na tomografia

computadorizada, que possa ser considera causa da hiperatividade (SUCUPIRA, 1986).

Continuando a antítese da hiperatividade, Silva (2009, p.101) alega que é

interessante observar, na lista de itens empregados para se formar o veredicto da

hiperatividade, que todos eles são vistos como inerentes ao próprio hiperativo. Assim,

não se questiona se tais condutas inadequadas, e mesmo impeditivas de processo de

ensino e de aprendizagem, estão relacionadas a outros fatores, tais como a interação

aluno/professor e aluno/colegas; o nível de desenvolvimento afetivo, cognitivo

(intelectual) e moral (social) de tais aprendizes; a infraestrutura material e humana

oferecida; as condições objetivas de vida (nível socioeconômico); os fatores

circunstanciais (como separação dos pais e atos de violência doméstica); o uso de métodos

de ensino que não levam em conta a atividade, o aspecto natural no homem, mas que, ao

contrário, desenvolvem procedimentos reforçadores da passividade, entre tantos outros

aspectos.

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O papel da escola

De acordo com Goldestein & Goldestein (1990, p.54), cerca de 20 a 30% das

crianças com TDAH apresentam dificuldades específicas, que interferem na sua

capacidade de aprender. Do total de crianças indicadas para os serviços de educação

especial e de centros de saúde mental, 40% são portadores de TDAH.

Segundo Marcelli (1998):

Quando se aborda o capítulo das inadequações entre escola e a criança,

convêm determinar de imediato dois procedimentos, senão

contraditórios, pelo menos opostos. Por um lado, há aqueles para quem

a criança com dificuldades na escola é uma criança desviante, portanto

patológica ou doente, que deve então ser tratada, se possível, em uma

estrutura adaptada. Na outra vertente, situam-se aqueles para quem a

estrutura escolar é ela própria inadaptada.

Portanto, é bastante louvável a iniciativa recente da inclusão escolar, onde

crianças “especiais” convivem e aprendem junto com os demais considerados “normais”.

A escola, sim, é que precisa adaptar-se para acolher todos.

A criança com TDAH tem grandes dificuldades de ajustamento diante das

demandas da escola. (BARKLEY, 2002). A criança portadora de TDAH, como já dito,

tem um comportamento onde a desatenção, impulsividade e hiperatividade predominam.

O papel da escola é deveras importante nesses casos. Assim, o comportamento do

professor perante a criança com diagnóstico de TDAH tem grande influência no sucesso

do tratamento.

Rohde (2003, p.73), entre outros, afirma: “estudos indicam que as crianças com

TDAH em ensino regular correm risco de fracasso duas a três vezes maiores do que

crianças sem dificuldades escolares e com inteligência equivalente”.

Em todos esses casos, diante da inadequação escolar, deve-se levar em conta os

três parceiros - criança, sua família e a escola e tentar avaliar sua interação recíproca antes

de considerar um auxílio terapêutico. Esta observação vem confirmar que o meio onde

vive a criança é o fator preponderante para o estilo do seu comportamento. Deve-se

distinguir entre as possibilidades de aprender e o desejo de aprender. A avaliação das

possibilidades repousa sobre o exame cuidadoso e completo das capacidades físicas

(busca de déficit sensorial parcial) e psíquica.

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A participação da família no processo de educação da criança também é

inestimável e indispensável, precisa, portanto, estar de mãos dadas com a escola no

objetivo de formação adequada do aluno.

A escola, conforme as ideias de Marcelli (1998, p.91):

É o terceiro tríptico desse triângulo relacional criança-família-escola e

é a escola que apresenta o conceito de integração, ou seja a operação

pela qual o indivíduo ou um grupo se incorpora a uma coletividade, a

um meio. Seu principal objetivo é, portanto, oferecer respostas

adaptadas não somente a cada tipo de deficiência, mas também à

personalidade das crianças, às diferentes etapas de sua evolução, aos

seus desejos e aos de suas famílias, respostas preparadas pelo meio da

acolhida.

A escola deve ser compreendida, também, como o espaço democrático, onde o

professor é um mediador, um orientador, um cooperador de todo o processo

ensino/aprendizagem.

A escola é gestora de conhecimento, com projeto eco-político-pedagógico, isto é,

um projeto ético, para uma escola inovadora, construtora de sentidos e ligada no mundo.

A capacidade de inovar é essencial na educação e esta depende da autonomia do

estabelecimento de ensino, tanto na gestão dos recursos quanto na gestão da própria

escola e da construção do seu projeto pedagógico. Cabe à escola inserir-se no movimento

global de renovação cultural.

De acordo com Visca (1991, p. 99):

Compete à escola proporcionar as oportunidades para um bom começo,

ou seja, para um bom embasamento entre a criança que chega à escola

com adultos e as outras crianças que aí estão. Desse bom

relacionamento inicial vai depender a integração da criança no grupo

social escolar e vai também depender de sua maior ou menor adaptação

ao novo tipo de vida, o gostar ou não da escola e, por extensão, gostar

ou não de estudar.

Portanto, a escola precisa acompanhar os avanços científicos, tecnológicos e a

evolução social, para que possa estar sempre apta a oferecer uma educação de qualidade.

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PSICOPEDAGOGIA E HIPERATIVIDADE

Inicialmente, é preciso conceituar Psicopedagogia. De acordo com o código de

Ética dos Psicopedagogos: “a Psicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e

Educação que lida com o processo de aprendizagem humana; seus padrões normais e

patológicos, considerando a influência do meio – família, escola e sociedade – no seu

desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios da psicopedagogia” (Artigo 1º.).

Segundo Bossa (2000, p. 21):

A Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana, que adveio de

uma demanda - o problema de aprendizagem, colocado num território

pouco explorado, situado além dos limites da Psicologia e da própria

Pedagogia - e evoluiu devido à existência de recursos, ainda que

embrionários, para atender essa demanda, constituindo-se, assim, numa

prática.

Para Castro (2002, p.62):

A Psicopedagogia é um campo emergente e multifacetado, apresenta

seu quadro teórico marcado pelos seguintes aspectos: a definição de seu

objeto, de suas relações com os campos psicológicos e pedagógicos, da

ênfase dada ao indivíduo e, também, da ênfase aos fatores externos ao

sujeito na determinação do problema (contexto social mais amplo).

A Psicopedagogia institucional é uma transmutação da pedagogia, inspirada nela,

com vistas a aperfeiçoar as modalidades de ensino-aprendizagem desencadeadas e/ou

possibilitadas pela escola, com o propósito de prevenção e enfrentamento de conflitos.

Scoz (2006, p. 112) afirma que a Psicopedagogia, como as outras áreas de saúde,

implica um trabalho a nível preventivo e curativo. Na função preventiva, cabe ao

psicopedagogo atuar nas escolas e em cursos de formação de professores, esclarecendo

sobre o processo evolutivo das áreas ligadas à aprendizagem escolar (perceptiva motora,

de linguagem, cognitiva, emocional), auxiliando na organização de condições de

aprendizagem de uma forma integrada de acordo com as capacidades dos alunos.

A Psicopedagogia tem como base conceitual os avanços científicos e sociais. Tem

fundamentos na pedagogia e também na medicina, assim como de outras ciências, que

em virtude dos avanços tecnológicos e descobertas científicas acabam somando-se à

psicopedagogia.

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Páginas 181 a 199 191

Segundo Bossa (1994, p.54): “a Psicopedagogia nasce com o objetivo de atender

a demanda - dificuldades de aprendizagem”. Portanto, entende-se que a Psicopedagogia

não surgiu apenas de uma área específica, mas de um somatório de conhecimentos de

diversas áreas, como por exemplo: a neurologia, a psiquiatria, a psicologia e a educação.

É nas escolas, onde o trabalho do psicopedagogo é extremamente requerido, auxiliando e

orientando nos processos ensino/aprendizagem. Atuando, também, nos casos específicos

de hiperatividade.

Salami & Sarmento (2011, p.74) afirmam que:

O psicopedagogo tem a possibilidade de centrar sua ação e intervir no

conjunto de atores que possuem relação com os processos de ensino e

aprendizagem: a equipe pedagógica, professores, alunos e pais. O

trabalho psicopedagógico é Inter e multidisciplinar, em que vários

atores interagem e protagonizam seus papeis. Os postulados de

Vygotsky e Feuerstein apontam para a necessidade de criação de uma

nova ordem escolar, diferente da realidade que vivenciamos em nossas

escolas, ou seja, uma escola em que os sujeitos da educação possam

dialogar, duvidar, questionar e compartilhar saberes, uma escola em que

haja espaço para erros, contradições e diferenças.

Portanto, a presença do psicopedagogo na escola é de extrema necessidade, num

ambiente de ensino/aprendizagem que requer profissionais devidamente qualificados para

o enfrentamento das questões relacionadas ao processo educativo como um todo, e nos

casos da presença de crianças com TDAH.

De acordo com Césaris (2001, p.77):

É neste contexto atual que o Psicopedagogo conquista espaço. Uma

observação minuciosa e uma escuta atenta sem "pré conceitos",

assinalada pela imparcialidade, pode detectar a real problemática da

instituição escolar. "Esse é o papel do psicopedagogo nas instituições:

olhar em detalhe, numa relação de proximidade, porém não de

cumplicidade", facilitando o processo de aprendizagem.

O psicopedagogo atua em diversas áreas, sendo a mais importante delas o

ambiente escolar. O psicopedagogo atua em conjunto com outros profissionais,

acompanhando e atendendo crianças que apresentam níveis diversos de dificuldade de

aprendizagem.

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IPERATIVIDADE E INTERVENÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NO CONTEXTO ESCOLAR

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Características gerais do tdah

Para lidar com crianças portadoras de TDAH é necessário, antes, um

conhecimento pormenorizado do que realmente é este transtorno. Conforme o manual

DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual, 4ª edição) o TDAH se define por uma

combinação de dois grupos de sintomas: Desatenção; Hiperatividade e impulsividade.

Esses sintomas são catalogados no DSM-IV do seguinte modo:

A) Sintomas da desatenção (devem ocorrer frequentemente): 1. Prestar

pouca atenção a detalhes e comete erros por falta de atenção. 2.

Dificuldade de se concentrar tanto nas tarefas escolares quanto em

jogos e brincadeiras. 3. Numa conversa, parece prestar atenção em

outras coisas e não escutar quando lhe dirigem a palavra. 4.

Dificuldade em seguir instruções até o fim ou deixar tarefas e

deveres sem terminar. 5. Dificuldade de se organizar para fazer algo

ou planejar com antecedência. 6. Evita e antipatiza, ou reluta a

envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante (como

tarefas escolares ou deveres de casa); 7. Perda de objetos

necessários para a realização de tarefas ou atividades do dia-a-dia.

8. Distrai-se com muita facilidade com coisas à sua volta ou mesmo

com os próprios pensamentos. Daí que surgem as expressões que

muitos pais e professores usam quando percebem sua distração:

“Parecem que vivem no mundo da lua” ou que “sonham

acordados”. 9. Esquecem coisas que deveriam fazem no dia-a-dia.

B) Sintoma de hiperatividade e impulsividade (devem ocorrer

frequentemente): 1. Ficar mexendo as mãos e pés quando sentados

ou se mexer muito na cadeira. 2. Dificuldade de permanecer

sentado em situações em que isso é esperado (sala de aula, mesa de

jantar, etc.). 3. Correr ou escalar coisas, em situações nas quais isto

é inapropriado (em adolescentes e adultos pode se restringir a um

sentir-se inquieto por dentro). 4. Dificuldades para se manter em

atividades de lazer (jogos e brincadeiras) em silêncio. 5. Parecer ser

“elétrico” e a “mil por hora”. 6. Falar demais. 7. Responder a

perguntas antes de elas serem concluídas. É comum responder à

pergunta sem ler até o final. 8. Não conseguir aguardar a sua vez

(nos jogos, na sala de aula, em filas, etc.). 9. Interromper os outros

ou se meter nas conversas alheias.

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Conforme a descrição do DSM-IV, os sinais do TDAH devem surgir em um grau

não adaptado e incoerente com o nível de desenvolvimento, os quais vão causar

problemas consistentes, tornando-os diferentes da maioria, por apresentarem problemas

significativos das habilidades acadêmicas, sociais ou ocupacionais. As crianças

portadoras desse transtorno são igualmente inteligentes a qualquer outra criança e quando

apresentarem dificuldades de aprendizagem deverá ser levada em conta outras

morbidades associadas ao transtorno, tais como: Transtorno Desafiante de Oposição

(TOD), dislexia; Transtorno de Conduta (TC), Discalculia, Disortografia, entre outras.

As crianças com TDAH normalmente têm bastantes dificuldades nas relações

sociais, no que tange à comunicação, em especial, estas crianças não conseguem manter

um diálogo adequado com colegas, professores, parentes, irmãos etc.

Segundo Vygotsky (1994), referindo-se à relação indivíduo/sociedade:

As características tipicamente humanas não estão presentes desde o

nascimento do indivíduo, nem estão presentes desde o nascimento do

indivíduo, nem são mero resultado das pressões do meio externo. Elas

resultam da interação dialética do homem e seu meio sociocultural. Ou

seja, ao mesmo tempo em que o homem transforma seu meio para

atender as suas necessidades básicas, ele também se transforma.

Certamente que ao nascer o ser humano irá formando sua personalidade e suas

características à medida que for aprendendo e se relacionando com outros e adaptando-se

ao meio em que vive.

De acordo com Bonet et al. (2008, p.99):

O nosso sistema de comunicação é constituído por um conjunto de

elementos expressivos, interativos e receptivos, que vão se combinando

e se ajustando a cada situação e que, assim, as dificuldades na relação

com os outros podem ser explicadas por diferentes déficits no lobo

frontal, que é uma parte do cérebro responsável pelo desenvolvimento

das funções executivas. As funções executivas do cérebro são

responsáveis não só pelo cognitivo, mas também, são as que fornecem

mecanismos para a auto regulação. As pessoas que são portadoras do

TDAH por terem deficiência de atenção e dos processos cognitivos

responsáveis por receberem e processarem as informações das mais

diferentes fontes, não compreendem de forma correta os sinais para o

bom desenvolvimento das interações sociais e o conhecimento das

normas que regulam essas informações.

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Ademais, não conseguem controlar suficientemente seus impulsos e obedecer

regras, não conseguem resolver problemas satisfatoriamente, tanto podem apresentar

modos lentos como bruscos, movimentam-se excessivamente, muitas vezes são evasivos

em suas respostas, são emocionalmente descontrolados e não conseguem manter um

relacionamento com os demais de forma satisfatória.

Sobre o descrito acima, Barkley (2008, p.115) afirma que:

Estima-se que mais de 50% das crianças portadoras de TDAH têm

problemas significativos nos relacionamentos sociais com outras

crianças. Em geral, essas crianças são excluídas constantemente das

brincadeiras e jogos por não respeitarem as regras, parecem estar

sempre distraídas, não conseguem esperar por sua vez de falar, são

sempre chamadas à atenção por seus professores, pais, amigos,

familiares e funcionários da escola; são desorganizadas e desatentas,

conversam muito em classe, não param quietas, provocam seus colegas

e amigos e quando sentadas estão sempre mexendo os pés ou as mãos.

A criança com TDAH normalmente desvia facilmente sua atenção do que está

fazendo quando recebe um pequeno estímulo. Um assobio do vizinho é suficiente para

interromper uma leitura. Tem dificuldade em prestar atenção na fala dos outros. Numa

conversa com outra pessoa, tende a captar apenas pedaços soltos do assunto. É

desorganizada, tende a perder objetos tais como celular, chaves, etc. Atrasa-se ou falta a

compromissos.

De forma geral, todas as pessoas com problemas de TDAH, têm problemas sérios

de esquecimento de compromissos, esquecendo-se das datas de vencimento de

prestações, etc. Frequentemente, apresentam “brancos” durante uma conversa. A pessoa

está explicando um assunto e, no meio da fala, esquece o que ia fizer. Além do mais,

costuma cometer erros de fala, leitura ou escrita. Esquece uma palavra no meio de uma

frase, pronuncia errado ou “come” sílabas de palavras mais longas.

Bonet et al. (2008, p.56) afirmam, referindo-se à criança com TDAH, que:

As crianças com TDAH podem apresentar dificuldades desde o

primeiro nível, desenvolvendo uma linguagem interna pobre e

inadequada (eventos cognoscitivos), o que impede o desenvolvimento

adequado dos processos da metacognição e dos esquemas mentais.

Consequentemente, as crianças que possuem esse déficit terão

problemas na atenção/concentração, sem necessariamente ter

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problemas com a hiperatividade, ou ainda poderão ter problemas na

atenção/concentração e ainda serem impulsivas, hiperativas. Essas

crianças necessitam de um guia externo, têm dificuldades na

organização das informações, dificuldades para cumprir horários e

prazos para entrega de trabalhos e avaliações, dificuldade em prestar

atenção, dificuldade nas relações sociais e são pouco autônomas. Sendo

assim, os déficits cognitivos estão na base de todos os problemas das

crianças com TDAH: na atenção, na concentração, na impulsividade,

[...], na aprendizagem e na solução dos problemas sociais.

A principal característica do transtorno é a desatenção. A capacidade atencional

persistente normalmente leva à agitação e a impulsividade e cuja incidência é maior que

aquela observada nos demais indivíduos. Normalmente a pessoa com esse transtorno não

consegue ler um artigo de revista até o fim ou ouvir um CD por completo.

Estas atitudes prejudicam o desempenho escolar e a vida social dessa criança, pois

é comum que os portadores de TDAH apresentem rendimento escolar baixo, dificuldades

de aprendizagem, de seguir regras. Além do mais, têm dificuldade de entender as

consequências das suas próprias ações. Apresentam baixa autoestima e pouca integração

social e são muitas vezes, agressivas.

Outra característica dos portadores de TDAH é a hiperatividade. Os hiperativos

têm dificuldade em permanecerem sentados por muito tempo. Durante as aulas, uma

palestra ou até mesmo uma sessão de cinema, costumam se mexer o tempo todo na

tentativa de permanecer em seu lugar. Normalmente, estão sempre mexendo com os pés

ou mãos. São inquietos e ansiosos. Tendem a estar sempre ocupado com alguma

problemática em relação a si ou aos outros. Costumam fazer mais de uma coisa ao mesmo

tempo.

As crianças portadoras de TDAH são inteligentes. Entretanto, apresentam

dificuldades em focalizar a atenção, ouvir e lembrar-se das coisas, algumas ainda podem

ser impulsivas, distraídas, agitadas, ter dificuldades de aprendizado, etc. Sendo assim, é

exigido do professor e dos responsáveis diretos dessas crianças, uma atenção especial e

capacitação adequada para lidar com os mesmos. É preciso arregimentar todos os

conhecimentos relacionados ao TDAH, criar alternativas, atividades específicas etc. no

sentido de contribuir para uma melhora na qualidade de vida desses portadores de TDAH,

em um constante combate das formas de manifestação desse transtorno.

Portanto, aquelas crianças que são portadoras de TDAH necessitam de um

constante amparo, de pessoas que estejam devidamente preparadas para lidar com elas de

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forma eficiente de modo que possam ajudá-las a melhorar sua qualidade de vida e seu

desenvolvimento psíquico e intelectual.

Na maioria das vezes, ao se consultarem com um médico, este lhes prescreve

medicamentos específicos que os ajudam a manterem-se mais calmos por algum tempo.

Na atualidade, a indústria farmacêutica tem ampliado suas pesquisas e descoberto novas

drogas, bastante eficientes e que ajudam no tratamento de pessoas com TDAH

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É preciso entender que a educação é um processo contínuo e recíproco, que

envolve a participação não só dos educadores escolares, mas também da participação dos

pais e da supervisão de um psicopedagogo. Nesse tripé é que se torna mais fácil conquistar

o sucesso na formação da criança.

Como se sabe, no contexto escolar são encontrados muitos desafios, muitas

dificuldades e barreiras, entre elas pode-se citar, como exemplo: a falta de uma política

salarial justa para os educadores, as condições físicas e materiais precárias em que se

encontram a maioria das escolas públicas, a falta de segurança e tantos outros problemas,

levando os profissionais de educação, muitas vezes, a tornarem-se desestimulados no seu

trabalho. Como se não bastasse, soma-se também as questões relativas ao

ensino/aprendizagem com a presença de alunos acometidos por TDAH, agravando,

assim, ainda mais esse quadro caótico.

Para o adequado enfrentamento dos casos de hiperatividade (TDAH), é

indispensável se recorrer à experiência dos psicopedagogos. Estes são os profissionais

devidamente qualificados, para lidar com os mais diversos problemas no contexto escolar,

desde o comportamento da criança até à própria orientação e apoio que deverão ser dadas

aos professores e demais envolvidos com a educação. Portanto, o advento da

psicopedagogia trouxe benefícios incalculáveis para que se obtenha um melhor processo

ensino/aprendizagem.

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