JARDIM, Torquato. a Regulamentaçao Legal Dos Partidos Politicos No Brasil

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    A regulamentao legal dos partidos polticos no Brasil

    Torquato Jardim *

    (A) A evoluo histrica recente

    A primeira experincia de democracia representativa moderna no Brasil se deu com

    a queda do ditador Getlio Vargas em 1945 e com a eleio de uma assemblia nacional

    constituinte que promulgou a Constituio de 18 de setembro de 1946.

    Os partidos polticos atuaram com ampla liberdade em ambiente democrtico at a

    deposio do presidente Joo Goulart em 31 de maro de 1964 por uma coligao de

    militares e lderes civis e religiosos.

    De ento, e at 1984, os partidos polticos, ora extintos, ora submetidos a um falsobipartidarismo, ora condicionados legislao que lhes era imposta por atos

    revolucionrios, ora formalmente votantes no Congresso Nacional, tiveram funcionamento

    substantivamente menos expressivo que no perodo anterior.

    Reinstalado o poder civil, e promulgada a Constituio de 5 de outubro de 1988, os

    partidos polticos voltaram sua funo clssica de livre expresso e intermediao dos

    interesses da sociedade civil democrtica e libertria.

    2. Curiosamente, os primeiros atos preparatrios para as eleies que poriam termo

    ao Estado Novo criado pelo golpe de 1937 foram tomadas ainda por Getlio Vargas. A Lei

    Constitucional n 9, de 28 de fevereiro de 1945, ao dar nova redao Carta de 1937,

    convocava eleies diretas para presidente da Repblica para noventa dias aps a sua

    edio.

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    O Decreto-lei n 7.586, de 28 de maio de 1945, tambm editado por Vargas,

    regulava o alistamento eleitoral (qualificao e inscrio, cancelamento e excluso), criava

    os rgos dos servios eleitorais (um Tribunal Superior, Tribunais Regionais e Juntas

    Eleitorais); cuidava do sistema eleitoral (legislativo proporcional e executivo majoritrio),

    das condies de elegibilidade e do registro de candidatos, e de todos os procedimentos

    eleitorais (da votao apurao diplomao e aos recursos).

    O mesmo decreto-lei ditava que toda associao de, pelo menos, dez mil eleitores,

    de cinco ou mais circunscries eleitorais, que tiver adquirido personalidade jurdica nos

    termos do Cdigo Civil, ser considerada partido poltico nacional (art. 109). Criava,

    ainda, o registro dos partidos no Tribunal Superior e de seus rgos executivos estaduais

    nos Tribunais Regionais (art. 110).

    O Decreto-lei n 7.750, de 17 de julho de 1945, j dissociava o domiclio civil dodomiclio eleitoral, facultando ao eleitor, nas capitais dos estados e no Distrito Federal,

    escolher o domiclio eleitoral fora do distrito, parquia ou freguesia de sua residncia.

    3. Com a deposio de Vargas, o presidente da Repblica, por sucesso, foi Jos

    Linhares, ento presidente do Supremo Tribunal Federal. Durante seu mandato vrios

    outros importantes atos foram editados em preparao para as eleies convocadas para 2

    de dezembro de 1945.

    O Tribunal Superior Eleitoral, interpretando a Lei Constitucional n 9, de 28 de

    fevereiro de 1945, entendeu que o Parlamento a ser eleito era constituinte e, portanto,

    dotado de poder originrio. Para por termo controvrsia, o presidente Jos Linhares editou

    a Lei Constitucional n 13, de 12 de novembro de 1945, mediante a qual convocou os

    Deputados e Senadores a se reunirem, sessenta dias aps as eleies, em Assemblia

    Constituinte para votar, com poderes ilimitados, a Constituio do Brasil.

    4. Foram vrios os atos editados pelo governo Linhares, ainda com os poderes da

    Carta de 1937, para organizar o pleito eleitoral de 2 de dezembro de 1945, e dispor sobre

    inmeros outros temas conexos instalao da Assemblia Constituinte e do Congresso

    Nacional que se lhe seguiu, eleio, posse e ao mandato do presidente da Repblica

    eleito na mesma data, assim como reabertura do alistamento eleitoral.

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    5. J sob a presidncia de Eurico Gaspar Dutra, mas ainda antes da promulgao da

    Constituio, outros atos foram editados para agilizar a prtica democrtica.

    No que toca aos partidos polticos, o Decreto-lei n 9.258, de 14 de maio de 1946,

    alterou os requisitos para sua constituio, aumentando de dez mil para cinqenta mil o

    nmero de eleitores, ainda distribudos por cinco ou mais circunscries eleitorais, desde

    que com um mnimo de mil em cada circunscrio (art. 21).

    O Decreto-lei n 9.422, de 3 de julho de 1946, admitiu o registro de partidos

    polticos cujos estatutos estivessem aprovados antes de 2 de dezembro de 1945 e tivessem

    eleito representante Assemblia Nacional Constituinte.

    A Lei n 85, de 6 de setembro de 1945 Lei Eleitoral de Emergncia, tratou das

    eleies de mbito estadual.

    6. A Lei n 1.164, de 24 de julho de 1950, instituiu o novo Cdigo Eleitoral para

    regular a Justia Eleitoral e os partidos polticos.

    Os partidos foram definidos como pessoas jurdicas de direito pblico interno. Os

    requisitos para sua constituio continuaram os mesmos: cinqenta mil eleitores,

    distribudos por cinco ou mais circunscries eleitorais, com o mnimo de mil eleitores em

    cada uma; programa e estatuto de sentido e alcance nacional e registro no Tribunal

    Superior (art. 132).

    A lei fixou como rgos de deliberao as convenes nacionais, regionais e

    municipais, e como rgos de direo o diretrio nacional, os diretrios regionais e os

    municipais (art. 136-137). Permitiu-se, tambm, a aliana de dois ou mais partidos

    polticos para o fim de registro e da eleio de um ou mais candidatos comuns, no crculo

    nacional, regional ou municipal (art. 140).

    Firmaram-se, ainda, regras sobre violao dos deveres partidrios, sobre

    contabilidade e finanas dos partidos polticos, a suspenso de seu funcionamento e do

    cancelamento do registro e sobre propaganda partidria.

    7. A Lei n 4.740, de 15 de julho de 1965, denominada lei orgnica dos partidos

    polticos, tratou extensamente do tema, revogando o Cdigo de 1950.

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    Seus principais captulos versavam: a fundao e o registro; o programa e os

    estatutos; os rgos partidrios de deliberao, direo, ao e cooperao; a fuso e a

    incorporao; a extino; a violao dos deveres partidrios; as finanas e contabilidade, e

    o fundo partidrio.

    Vivia ento o Brasil j sob o regime revolucionrio. Os fundamentos da ordem

    poltica e seu conseqente ordenamento legal eram postos pelo comando militar. Fundado

    em que no se disse que a revoluo foi, mas que e continuar e que seu Poder

    Constituinte no se exauri[ra], tanto [era] ele prprio do processo revolucionrio, que te[ria]

    de ser dinmico para atingir os seus objetivos, os partidos polticos foram extintos

    mediante o Ato Institucional n 2, de 27 de outubro de 1965 (prembulo e art. 18).

    8. O presidente da Repblica, poucos dias aps, com os poderes que lhe conferira o

    Ato Institucional n 2, editou o Ato Complementar n 4, de 20 de novembro de 1965, que

    admitiu que membros efetivos do Congresso Nacional, em nmero no inferior a 120

    deputados e 20 senadores tivessem a iniciativa de promover a criao, dentro do prazo de

    45 dias, de organizaes (sic) que [teriam], nos termos [daquele] Ato, atribuies (sic) de

    partidos polticos, enquanto estes no se constitussem na forma da Lei Orgnica dos

    Partidos Polticos.

    Mediante o Ato Complementar n 29, de 26 de dezembro de 1966, o presidente da

    Repblica estendeu, at a realizao das eleies de 1968, o mandato dos rgos de direo

    das organizaes que se transformaram em partidos polticos.

    Com a Lei n 5.306, de 5 de julho de 1967 (o Congresso Nacional fora reaberto em

    15 de maro para a posse do novo presidente da Repblica), convocaram-se convenes

    municipais para o primeiro domingo do ano, convenes regionais para o segundo domingo

    de junho e convenes nacionais para o primeiro domingo de agosto.

    Com o Ato Complementar n 54, de 20 de maio de 1969, editado com os poderes do

    Ato Institucional n 5, de 13 de dezembro de 1968, o presidente da Repblica fixou regras

    minuciosas para as convenes partidrias municipais, regionais e nacionais. conveno

    regional tiveram acesso os delegados escolhidos na conveno municipal; e conveno

    nacional chegaram os delegados estaduais, dos territrios e do Distrito Federal.

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    Mediante o Ato Complementar n 66, de 19 de setembro de 1969, a Junta Militar,

    que substitura o presidente Costa e Silva durante seu impedimento, prorrogou os mandatos

    dos diretrios nacionais. Com o Ato Complementar n 77, de 27 de outubro de 1969, a

    mesma Junta Militar convocou as convenes nacionais dos partidos para o dia 20 de

    novembro seguinte.

    9. O Congresso Nacional, em 21 de julho de 1971, editou a Lei n 5.682, a nova lei

    orgnica dos partidos polticos. Sua estrutura a mesma da lei de 1965.

    Com a nova lei, funcionava imediatamente o partido poltico que, registrado no

    Tribunal Superior, tivesse, como fundadores signatrios de seus atos constitutivos pelo

    menos dez por cento de representantes do Congresso nacional, participando a Cmara dos

    Deputados e o Senado Federal ou apoio expresso em voto de no mnimo cinco por cento doeleitorado que [houvesse] votado na ltima eleio geral para a Cmara dos Deputados,

    pelo menos por nove Estados, com o mnimo de trs por cento em cada um deles (art. 14).

    A lei trouxe, ainda, em captulo prprio, normas sobre perda do mandato por

    infidelidade partidria. Assim, perderia o mandato o parlamentar que por atitude ou voto,

    se opuse[sse] s diretrizes legitimamente estabelecidas pelos rgos de direo partidria,

    ou deixa[sse] o partido, salvo para participar, como fundador, da constituio de novo

    partido (art. 72).

    Esta lei orgnica foi modificada por onze leis posteriores. Outras oito leis

    intervieram na vida intra-partidria para estabelecer prazos de registros de candidaturas aos

    cargos partidrios municipais, escolha e candidatos a cargos eletivos na ausncia de

    deliberao dos rgos locais, ampliar o nmero de membros de diretrios municipais,

    estender mandatos partidrios, organizar comisses organizadoras provisrias, ou dispor

    sobre filiao partidria em casos de incorporao de partidos.

    10. Em 19 de setembro de 1995, o Congresso Nacional editou a Lei n 9.096, a atual

    lei dos partidos polticos.

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    (B) A autonomia constitucional dos partidos polticos

    11. Segundo expresso conhecida, os partidos polticos so a vida da democracia

    (KELSEN).

    Surgem eles ora de circunstncias histricas, como os tradicionais partidos ingleses

    e americanos, sados da Revoluo Gloriosa e da Guerra Civil, ora da mobilizao de

    interesses de classes, como os partidos operrios na busca dos chamados direitos sociais;

    seja da fora de uma forte personalidade carismtica (caudilhismo), seja da luta pela

    imposio forada de uma ideologia, como os partidos totalitrios do sculo XX.

    Onde estvel a vida poltica e previsveis os direitos, em princpio estveis e

    previsveis, por igual, a normatividade e o papel social dos partidos polticos.

    A democracia representativa, neles assentada, os admite enquanto (a) veculos doliame necessrio entre os diversos grupos e interesses que compem, de um lado, a

    sociedade civil, e, de outro, o Estado, e (b) instrumentos de divulgao das idias e

    coordenao da atividade poltica.

    Da, no Brasil, seu status constitucional.

    Na ordem democrtica material, os partidos so agremiaes de pessoas para a

    promoo e concretizao de um programa poltico comum mnimo, com o objetivo de

    assumir e manter o controle do processo estatal de distribuio do poder, da democracia, da

    liberdade e da igualdade, ou, quando menos, de co-participar da gesto da res publica, em

    nome dos interesses ou idias dos segmentos da sociedade civil que pretendam representar.

    12. O Supremo Tribunal Federal traa eloqente perfil dos partidos polticos no

    sistema constitucional ptrio:

    A posio institucional dos partidos polticos no sistema consagrado pela

    Constituio do Brasil confere-lhes o poder-dever de, mediante instaurao do controle

    abstrato de constitucionalidade perante o STF, zelarem tanto pela preservao da

    supremacia normativa da Carta Poltica quanto pela defesa da integridade jurdica do

    ordenamento consubstanciado na Lei Fundamental da Repblica.

    A essencialidade dos partidos polticos, no Estado de Direito, tanto mais se acentua

    quando se tem em considerao que representam eles um instrumento decisivo na

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    concretizao do princpio democrtico e exprimem, na perspectiva do contexto histrico

    que conduziu sua formao e institucionalizao, um dos meios fundamentais no processo

    de legitimao do poder estatal, na exata medida em que o Povo fonte de que emana a

    soberania nacional, tem, nessas agremiaes, o veculo necessrio ao desempenho das

    funes de regncia poltica do Estado (ADIn 1.096, DJU 22.set.95).

    A filiao partidria como condio de elegibilidade (Const., art. 14, 3, V) torna

    inequvoco seu papel duplo de poder intermedirio entre a sociedade civil e o Estado, de

    enquadrar os eleitores e os eleitos.

    13. A Constituio alterou profundamente o estatuto dos partidos polticos. livre

    sua criao, fuso, incorporao e extino, desde que assegurados a soberania nacional, o

    regime democrtico, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana.Conseqentemente, devem revestir carter nacional, no podem receber recursos

    financeiros nem se subordinar a entidade ou governo estrangeiro, devem prestar contas

    Justia Eleitoral e ter funcionamento parlamentar de acordo com a lei (Const., art. 17).

    Tm autonomia para definir sua estrutura interna, organizao e funcionamento, e

    seus estatutos devem conter normas de fidelidade e disciplina partidrias (Const., art. 17,

    1).

    Adquirem personalidade jurdica na forma da lei civil, mas s agem enquanto

    partidos polticos em sentido prprio aps o registro de seus estatutos no Tribunal Superior

    Eleitoral (Const., art. 17, 2).

    Por fim, tm direito a recursos do fundo partidrio e acesso gratuito ao rdio e

    televiso, na forma da lei, sendo-lhes vedado o uso de organizao paramilitar (Const., art.

    17, 3 e 4).

    Tal autonomia compreende a realizao vlida de prvias eleitorais para escolha dos

    candidatos do partido, desde que no se exclua nem condicione a competncia da

    conveno partidria prevista em lei: o estatuto no prev, mas isso no impede que a

    autoridade competente do partido poltico crie, por ato prprio da vida intrapartidria, esse

    instrumento de preparao, de estudo ou conhecimento das tendncias partidrias na sua

    agremiao poltica. (...) Se as prvias no excluem a competncia da conveno, (...) a

    matria exclusivamente interna corporis; um processo em que cada partido livre para

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    comear a selecionar e a conhecer as muitas manifestaes de opinio que estejam no

    quadro partidrio (TSE, MS 2.163, JTSE 6(2), p. 52).

    (C ) O controle judicial dos partidos polticos

    14. O controle judicial dos partidos polticos tornou-se, dessarte, mais restrito, e

    apenas para o que defluir dos princpios postos na Constituio. Isto no exclua, por

    exemplo, o registro dos diretrios partidrios perante a Justia Eleitoral para o fim de

    prover os meios de que necessita o Judicirio para o exerccio de sua competncia

    jurisdicional e administrativa.

    A lei, contudo, inovou com vigor no relacionamento dos partidos polticos com aJustia Eleitoral; estes agora apenas comunicam, para anotao, a constituio de seus

    rgos de direo e os nomes dos respectivos integrantes (pargrafo nico, art. 10, Lei n

    9.096/95, acrescido pela Lei n 9.259/96). Por isso mesmo, a Comisso Municipal, uma vez

    constituda na forma do estatuto do partido, no tem sua existncia condicionada

    comunicao Justia Eleitoral, fato esse que no impede nem mesmo o registro de

    candidatura pelo partido.

    Fez mais a lei: deu efeito retroativo at mesmo para as questes surgidas sob a velha

    Lei Orgnica dos Partidos Polticos (lei cit., art. 3).

    15. A mesma Lei n 9.259/96, expandindo o mbito da autonomia partidria,

    modificou a lei do mandado de segurana para excluir, do rol das autoridades no plo

    passivo da ao, os representantes ou rgos dos partidos polticos (art. 2).

    16. A autonomia constitucional dos partidos polticos, todavia, no exclui a

    apreciao pelo Judicirio de qualquer leso ou ameaa a direito de sede constitucional

    (Const., art. 5, XXXV). o quanto impe o equilbrio das duas normas constitucionais.

    Assim, intervir o Juiz Eleitoral quando dissolvido diretrio sem observncia do

    devido processo legal, do contraditrio e da ampla defesa previstos no prprio estatuto

    partidrio.

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    Tome-se por paradigma esta deciso do Tribunal Superior Eleitoral:

    A autonomia a que se refere o preceito constitucional diz respeito ao

    estabelecimento de normas que tenham por escopo delinear a estruturao de seus quadros,

    o estabelecimento de rgos partidrios e seu funcionamento.

    Esse mister se desempenha precipuamente na definio das normas estatutrias, que

    se destinam a reger, entre outras coisas, as relaes jurdicas entre seus filiados e entre estes

    e o Partido. Contudo, uma vez estabelecidas tais normas, delas decorrero direitos

    subjetivos que uma vez violados podero ser amparados pelo Poder Judicirio a teor do art.

    5, XXXV, da Constituio Federal. E nisso no haver qualquer vilipndio ao princpio da

    autonomia partidria; ao contrrio, cuidar-se- de revelar o exato sentido das normas

    definidas pelo prprio partido.

    Poder-se-ia, em sentido oposto, argumentar que essa tarefa haveria de ser cometidaaos rgos internos do partido, no sendo dado ao Poder Judicirio nele imiscuir-se. Tal

    concluso, contudo, (...) denegaria vigncia ao (...) inciso XXXV (...) pois estar-se-ia

    admitindo a excluso de violao de direito ou ameaa da apreciao do Judicirio. Seria

    deferir autonomia partidria elastrio extremamente largo a ponto de afastar a incidncia

    de outra norma constitucional. Antes, porm, impe-se a regra de hermenutica que exige a

    compatibilizao dos mandamentos postos em confronto.

    No entendo, assim, ser possvel caracterizar o partido poltico com um verdadeiro

    enclave, em que o nico remdio deixado disposio dos filiados desrespeitados em seus

    direitos seria o de abandonar a agremiao. (Rec. 13.750, 12.nov.96).

    17. Outras hipteses revelam o mesmo sentido de um controle judicial contido pelo

    Tribunal Superior Eleitoral.

    Assim, inexistente violao de direito individual e no estando em jogo interesse

    pblico, a Justia Eleitoral no haver de negar registro a candidatura a pretexto de que no

    observada norma interna do partido que s a ele interessa (Rec. 14.055, DJU 17.dez.96).

    A validade da interveno de diretrio estadual em diretrio municipal, ausente

    violao de direito individual, deve ser discutida antes no rito estatutrio (RMS 21, DJU

    6.nov.96; RMS 9, DJU 28.jun.96, RMS 13, DJU 23.ago.96).

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    18. Embora livre a criao, a fuso, a incorporao e a extino dos partidos

    polticos, desde que observados os princpios postos na Constituio, e embora adquiram

    eles personalidade jurdica na forma da lei civil (Const., art. 17, caput e 2), s deixam de

    ser mera associao civil, para se tornarem partido poltico no sentido prprio e, assim,

    tornarem-se pessoa jurdica de direito pblico interno, no plano do direito constitucional,

    quando do registro de seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral (Const., art. 17, 2, in

    fine). No ponto, esta a deciso do Tribunal Superior Eleitoral:

    Toda prerrogativa eleitoral ativa se traduz na titularidade de direitos-funo, em

    cujo exerccio se conjugam, de um lado, a atuao de um direito pblico subjetivo do

    cidado ou da coletividade organizada de cidados que dele seja titular e, de outro, o

    desempenho da funo pblica de rgo parcial da formao de vontade eleitoral do

    Estado.Creio que, com essa natureza bifronte e suas prerrogativas, tem a ver a duplicidade

    do status do partido poltico, que est base do regime do art. 17, 2, Const., a teor do

    qual os partidos polticos, aps adquirirem personalidade jurdica, na forma da lei civil,

    registraro seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.

    Instrumentos do exerccio plural da cidadania, os partidos, enquanto titulares de

    direitos pblicos subjetivos, so associaes civis, como tal constitudo; reinam a os

    princpios da liberdade de criao (...) e da autonomia para definir sua estrutura interna,

    organizao e funcionamento (...).

    No obstante, porque os partidos no so apenas titulares de direitos subjetivos,

    mas, por imposio da natureza de suas prerrogativas, so, tambm e simultaneamente,

    rgos de funo pblica no processo eleitoral, ao mesmo tempo em que a liberdade e a

    autonomia constituem os princpios reitores de sua organizao e de sua vida interna,

    imperativo que se submetam ao controle da Justia Eleitoral, na extenso em que o

    determina a lei, sobre a existncia e a validade dos atos de sua vida de relao, cuja eficcia

    interfere no desenvolvimento do processo das eleies.

    Sob este prisma que se legitima a existncia de registro [com a Lei n 9.259/96,

    apenas anotao], nos tribunais eleitorais, da composio de rgos diferentes dos partidos

    polticos: o registro (anotao) e sua publicidade visam primacialmente a propiciar Justia

    Eleitoral e a terceiros interessados a verificao da imputabilidade a cada partido dos atos

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    de repercusso externa que, em seu nome, pratiquem os que se pretendam rgos de

    manifestao da vontade partidria (TSE, Ac. n 12.209, DJU 27.abr.92).

    Essa perspectiva de distinguir entre a atuao privada na sociedade civil e a relao

    constitucional de representao poltica da sociedade civil faz compreender a deciso do

    Tribunal Superior Eleitoral segundo a qual versando a ao a insubsistncia de ato de

    interveno a envolver rgos de partidos polticos e desde que no se arga ofensa a

    direitos de sede constitucional, a competncia para julg-la no da Justia Eleitoral e sim

    da Justia Comum (TSE, Rec. 13.456, 30.set.96).

    19. A lei dos partidos polticos estende o controle judicial sobre vrios aspectos da

    atuao partidria, desde a certificao do apoio de eleitores para seu registro no Tribunal

    Superior Eleitoral at a investigao ex officio da contabilidade, como se ver adiante.

    (D) A lei dos partidos polticos (Lei n 9.096/95)

    20. A lei dos partidos polticos compreende (a) a organizao e funcionamento, (b)

    as finanas e contabilidade, (c) o acesso ao rdio e televiso, alm de disposies gerais e

    outras finais e transitrias.

    I

    Organizao, funcionamento e extino dos partidos polticos

    21. Este ttulo versa sobre a criao e o registro, o funcionamento parlamentar, o

    programa e o estatuto, a filiao partidria, a fidelidade e disciplina e, por fim, a fuso,

    incorporao e extino dos partidos polticos.

    22. O partido poltico adquire personalidade jurdica na forma da lei civil, mediante

    requerimento ao cartrio do registro civil das pessoas jurdicas de Braslia, subscrito por, no

    mnimo, cento e um fundadores com domiclio eleitoral em, pelo menos, um tero dos

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    Estados e documentado com a ata de reunio de fundao, da publicao do programa e do

    estatuto e da qualificao civil e eleitoral dos fundadores (art. 1).

    Adquirida a personalidade jurdica, tem o partido que buscar o apoio mnimo de

    eleitores, para assim obter carter nacional: meio por cento dos votos dados na ltima

    eleio geral para a Cmara dos Deputados, no computados os votos em branco e os nulos,

    distribudos por um tero, ou mais, dos Estados, com um mnimo de um dcimo por cento

    do eleitorado que haja votado em cada um deles (art. 7, 1 c/c art. 8, 3). Do apoio de

    eleitores esto dispensados os partidos com registro definitivo obtido sob a lei anterior (art.

    55).

    Obtido o apoio dos eleitores, e feitas as designaes dos dirigentes, poder o partido

    requerer o registro do estatuto junto ao Tribunal Superior Eleitoral (art. 9).

    Somente aps o registro pode o partido participar do processo eleitoral, receberrecursos do fundo partidrio, ter acesso gratuito ao rdio e televiso e ter uso exclusivo da

    sua denominao, sigla e smbolos (art. 7, 2 e 3). No caso de fuso, todavia, a

    existncia legal do novo partido se d com o registro, no ofcio civil, do estatuto e do

    programa (art. 29, 4).

    23. Dita a Constituio que a lei dispor sobre o funcionamento parlamentar dos

    partidos (art. 17, IV). Assim, a tanto tem direito, em todas as Casas Legislativas em que

    tenha elegido representante, por intermdio de suas bancadas e de lideranas constitudas

    na forma do estatuto, o partido que, em cada eleio para a Cmara dos Deputados, obtenha

    o apoio de, no mnimo, cinco por cento dos votos apurados, no computados os brancos e

    os nulos, distribudos em, pelo menos, um tero dos Estados, com um mnimo de dois por

    cento do total de cada um deles (arts. 12 e 13).

    A primeira disposio transitria fixa que, no perodo entre a data da publicao da

    lei e o incio da prxima legislatura (1999), fica assegurado o direito ao funcionamento

    parlamentar na Cmara dos Deputados ao partido que tenha elegido e mantenha filiados, no

    mnimo, trs representantes de diferentes Estados. Mais, que a Mesa Diretora da Cmara

    dos Deputados dispor sobre o funcionamento da representao partidria conferida, no

    mesmo perodo, ao partido que possua representao eleita ou filiada em nmero inferior a

    trs (art. 56, I e II).

  • 7/26/2019 JARDIM, Torquato. a Regulamentaao Legal Dos Partidos Politicos No Brasil

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    A segunda norma transitria dispe que, no perodo entre o incio da prxima

    legislatura (1999) e a proclamao dos resultados da segunda eleio geral subseqente

    para a Cmara dos Deputados (2005), ter direito a funcionamento parlamentar o partido

    com registro definitivo no Tribunal Superior Eleitoral at a data da publicao da lei, desde

    que, a partir de sua fundao tenha concorrido ou venha a concorrer s eleies gerais para

    a Cmara dos Deputados, elegendo representante em duas eleies consecutivas:

    (a) na Cmara dos Deputados, toda vez que eleger representante em, no mnimo,

    cinco Estados e obtiver um por cento dos votos apurados no Pas, no computados os

    brancos e os nulos;

    (b) nas Assemblias Legislativas e nas Cmaras de Vereadores, toda vez que,

    atendida a exigncia do item anterior, eleger representante para a respectiva Casa e obtiver

    um total de um por cento dos votos apurados na circunscrio, no computados os brancose os nulos (art. 57, I).

    24. O programa e o estatuto, uma vez observadas a Constituio e a lei, so criao

    livre dos partidos, nos quais explicitam seus objetivos polticos, estrutura interna,

    organizao e funcionamento, e dispem sobre filiao e desligamento e direitos e deveres

    dos filiados; sobre composio, competncia, eleio e mandato dos seus rgos

    partidrios, como tambm sobre fidelidade e disciplina, escolha de candidatos s eleies,

    finanas e contabilidade, limites de despesa com eleio e de doaes, critrios de

    distribuio do fundo partidrio, e procedimentos de reforma (arts. 14 e 15).

    25. A filiao partidria condio de elegibilidade. Com a lei, exige-se a filiao

    pelo menos por um ano antes da data fixada para as eleies, majoritrias ou proporcionais

    (art. 18).

    26. A fidelidade e a disciplina partidrias so exigncias da Constituio (art. 17,

    1, in fine). A lei, portanto, prev a responsabilizao por violao dos deveres partidrios,

    desde que tipificada a conduta, a ser apurada e punida na forma do estatuto, assegurada ao

    acusado a ampla defesa (art. 23).

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    Na Casa Legislativa, o integrante da bancada de partido deve subordinar sua ao

    parlamentar aos princpios doutrinrios e programticos e s diretrizes estabelecidas pelos

    rgos de direo partidrios, observados os termos do estatuto (art. 24).

    A punio do filiado, parlamentar ou no, pode incluir o desligamento temporrio

    da bancada, a suspenso do direito de voto nas reunies internas ou a perda de todas as

    prerrogativas, cargos e funes que exera em decorrncia da representao e da proporo

    partidria na respectiva Casa Legislativa (art. 25).

    27. A lei no prev escusa de ordem filosfica ou religiosa ou de convico ntima.

    Trata-se de lacuna a ser preenchida pelos estatutos. A Constituio protege, dentre os

    direitos e as garantias fundamentais, a inviolabilidade da liberdade de conscincia e de

    crena, vedando qualquer privao de direitos por motivo de crena religiosa ou deconvico filosfica ou poltica, exceto em hiptese inaplicvel relao poltico-partidria

    (Const., art. 5, VI e VIII). Razovel supor que a norma constitucional se revele barreira

    intransponvel literalidade da lei.

    28. Com a fuso, incorporao ou extino de partido ficam cancelados os registros

    no ofcio civil e na Justia Eleitoral.

    Pode qualquer eleitor, representante de partido ou o Procurador-Geral Eleitoral

    denunciar partido poltico perante o Tribunal Superior Eleitoral com fundamento em

    percepo de recursos financeiros de procedncia estrangeira, em subordinao a entidade

    ou governo estrangeiros, por falta de prestao de contas Justia Eleitoral ou por manter

    organizao paramilitar. Se o processo, observada a ampla defesa, for julgado procedente,

    com o trnsito em julgado da deciso cancelar-se-o os registros do ofcio civil e da Justia

    Eleitoral (art. 28).

    No caso de fuso, os rgos de direo nacional dos partidos elaboraro projetos

    comuns de estatuto e programa, sobre os quais deliberaro por maioria absoluta em sesso

    conjunta, na qual elegero o rgo de direo nacional que promover o registro do partido.

    A existncia legal do novo partido surge com o registro civil, sem prejuzo de igual ato no

    Tribunal Superior Eleitoral (art. 29, 1 e 4).

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    Na hiptese de incorporao, caber ao rgo nacional de deliberao do partido

    incorporando decidir, por maioria absoluta de votos, sobre a adoo do estatuto e do

    programa da outra agremiao, aps o que, em reunio conjunta dos mesmos rgos,

    eleger-se- o novo rgo de direo partidria, seguindo-se, ao final, a fase de registros no

    ofcio civil e no Tribunal Superior Eleitoral (art. 29, 2, 3, 5 e 7).

    (II)

    Finanas e contabilidade

    29. Os partidos polticos tm como estrutura bsica diretrios em cada um dos

    nveis da federao: nacional, estaduais e municipais. Cada um deles deve manter

    escriturao contbil, de forma a permitir o conhecimento da origem de suas receitas e adestinao de suas despesas (art. 30).

    A escriturao do exerccio findo deve ser enviada Justia Eleitoral at o dia 30 de

    abril do ano seguinte, para publicao imediata, observados os nveis da federao:

    diretrios nacionais perante o Tribunal Superior Eleitoral; diretrios regionais perante os

    Tribunais Regionais Eleitorais e diretrios municipais perante os Juzes Eleitorais. Nos

    anos de eleio os balancetes sero mensais nos quatro meses anteriores e nos dois

    posteriores data da eleio (art. 32).

    30. vedado ao partido receber, direta ou indiretamente, sob qualquer forma ou

    pretexto, contribuio ou auxlio pecunirio ou estimvel em dinheiro, inclusive atravs de

    publicidade de qualquer espcie procedente de qualquer das seguintes fontes:

    a) entidade ou governo estrangeiros;

    b) autoridade ou rgos pblicos, exceto as do fundo partidrio, o que no exclui

    nem parlamentares nem filiados que exeram cargos pblicos de que demissveis ad nutum;

    c) autarquias, empresas pblicas ou concessionrias de servios pblicos,

    sociedades de economia mista e fundaes institudas por lei e para cujos recursos

    concorram rgos ou entidades governamentais;

    d) entidade de classe ou sindical (art. 31).

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    31. Os balanos devem conter, minimamente, a discriminao dos valores e a

    destinao dos recursos oriundos do fundo partidrio; a origem e o valor das contribuies

    e doaes; as despesas de carter eleitoral, com a especificao e comprovao dos gastos

    com programas no rdio e na televiso, comits, propaganda, publicaes, comcios e

    demais atividades de campanha; e uma discriminao detalhada das receitas e despesas (art.

    33).

    32. Justia Eleitoral compete a fiscalizao da escriturao contbil e dos

    balanos e, mais ainda, das despesas de campanha eleitoral, para o que exigir:

    a) a obrigatoriedade de constituio de comits e designao de dirigentes

    partidrios especficos para movimentar recursos financeiros nas campanhas eleitorais;

    b) a caracterizao da responsabilidade dos dirigentes do partido e comits,inclusive do tesoureiro, que respondero, civil e criminalmente, por quaisquer

    irregularidades;

    c) escriturao contbil com documentao que comprove a entrada e sada de

    dinheiro ou de bens recebidos e aplicados;

    d) a obrigatoriedade de ser conservada pelo partido a documentao comprobatria

    de suas prestaes de contas, por prazo no inferior a cinco anos;

    e) a obrigatoriedade de prestao de contas pelo partido poltico, seus comits e

    candidatos, no encerramento da campanha eleitoral, com recolhimento imediato

    tesouraria do partido dos saldos financeiros eventualmente apurados (art. 34).

    33. Podem os Tribunais Eleitorais, em face de denncia de filiado ou de delegado de

    partido, ou de representao do Ministrio Pblico Eleitoral, ou mesmo por iniciativa ex

    officio, determinar auditoria financeira e contbil nos partidos para saber da observncia

    das exigncias legais, para o que poder at mesmo determinar a quebra do sigilo bancrio

    das contas dos partidos (art. 35).

    Os partidos podem tambm fiscalizar uns aos outros. Quinze dias aps publicar a

    Justia Eleitoral as prestaes de contas mensais ou anuais de um partido, os demais tm

    cinco dias para impugn-las mediante relato de fatos, indicao de provas ou pedido de

    investigao fundado em violao de lei ou estatuto partidrio (art. 35, pargrafo nico).

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    34. Comprovada, em processo que observe o devido processo legal, a violao de

    lei ou estatuto, o partido ficar sujeito a uma das seguintes sanes:

    a) na hiptese de omisso ou de falta de esclarecimento sobre a origem dos

    recursos, a suspenso do recebimento das quotas do fundo partidrio at a aceitao de

    justificativa pela Justia Eleitoral;

    b) se recebidos recursos de fontes proibidas (n 30, supra), a suspenso, por um ano,

    da participao no fundo partidrio;

    c) no caso de doaes acima do limite legal (n 37 infra), a suspenso, por dois

    anos, da participao no fundo partidrio, e multa no valor igual ao que exceder o limite

    legal (art. 36).

    O partido perder ainda a participao no fundo partidrio nas hipteses de falta deprestao de contas ou de sua rejeio, total ou parcial, podendo mesmo, em situao

    extrema, ter cancelado, pela Justia Eleitoral, seu registro civil e do estatuto, mediante

    processo em que observado o rito do devido processo legal (art. 37).

    35. O Fundo Especial de Assistncia Financeira aos Partidos Polticos fundo

    partidrio, uma das inovaes marcantes da nova lei dos partidos polticos. Busca-se,

    idealmente, criar mecanismo que, alm de ser transparente e de fcil acesso investigao

    da imprensa e da sociedade civil, tambm enseje aos partidos polticos a oportunidade de

    financiar suas atividades essenciais desvinculado das injunes prprias de um sistema

    dependente de doaes privadas intrinsecamente condicionadas.

    36. O fundo partidrio tem quatro fontes:

    a) as multas e penalidades pecunirias aplicadas nos termos do Cdigo Eleitoral e

    das leis conexas;

    b) os recursos financeiros que lhe forem destinados por lei em carter permanente

    ou eventual;

    c) as doaes de pessoas fsicas ou jurdicas efetuadas mediante depsitos bancrios

    diretamente conta do fundo partidrio;

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    d) as dotaes oramentrias da Unio em valor nunca inferior, cada ano, ao

    nmero de eleitores inscritos em 31 de dezembro do ano anterior ao da proposta

    oramentria, multiplicados por trinta e cinco centavos de real, em valores de agosto de

    1995 (art. 38).

    37. As doaes devem observar, primeiro, a vedao de fontes antes mencionada (n

    30 supra). A seguir, cuidar de um detalhado conjunto de regras:

    a) podem ser feitas diretamente aos rgos de direo nacional, estadual ou

    municipal, do que se notificar a Justia Eleitoral e o rgo partidrio hierarquicamente

    superior e se far demonstrao no balano contbil;

    b) doaes no pecunirias devem constar da contabilidade do partido em valores

    lanados em moeda corrente;c) as doaes em moeda sero efetivadas mediante cheque cruzado nominativo para

    o partido ou depositadas diretamente em sua conta bancria, vedada a transao em espcie

    (art. 39).

    38. A gerncia da parte do fundo partidrio originria do oramento da Unio (n 36

    supra) compete ao Tribunal Superior Eleitoral.

    A Constituio Federal de 1988 assegura ao Poder Judicirio autonomia

    administrativa e financeira e ao Tribunal Superior Eleitoral compete, ele prprio, enviar ao

    Congresso Nacional o oramento anual da Justia Eleitoral. Do oramento do Tribunal

    Superior Eleitoral, em anexo prprio, fica consignada a previso dos recursos para o fundo

    partidrio (art. 40).

    Recebidos os depsitos mensais na conta especial do Tribunal Superior Eleitoral

    (art. 40, 1 e 2), nos cinco dias seguintes far-se- a distribuio para os rgos nacionais

    dos partidos, obedecidos os seguintes critrios:

    a) um por cento, em partes iguais, a todos os partidos com estatuto registrado no

    Tribunal Superior Eleitoral;

    b) noventa e nove por cento aos partidos que tenham funcionamento parlamentar na

    forma da lei, na proporo dos votos obtidos na ltima eleio geral para a Cmara dos

    Deputados (art. 41).

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    Um dos preceitos da Constituio Federal para a existncia do partido poltico o

    funcionamento parlamentar de acordo com a lei (Const., art. 17, IV). Da a norma da Lei

    dos Partidos Polticos: Tem direito a funcionamento parlamentar, em todas as Casas

    Legislativas para as quais tenha elegido representante, o partido que, em cada eleio para a

    Cmara dos Deputados obtenha o apoio de, no mnimo, cinco por cento dos votos apurados,

    no computados os brancos e os nulos, distribudos em, pelo menos, um tero dos Estados,

    com um mnimo de dois por cento do total de cada um deles (art. 13).

    A movimentao bancria de todas as fontes dos recursos do fundo partidrio, por

    quaisquer rgos de direo partidria, deve ser feita em bancos oficiais, federais ou

    estaduais; somente quando inexistente um deles na circunscrio do rgo partidrio poder

    outro ser escolhido (art. 43).

    39. Os recursos oriundos do fundo partidrio tm destinao especfica sob controle

    ex officio da Justia Eleitoral. Podem eles ser aplicados na manuteno das sedes e dos

    servios do partido, limitada a despesa com pagamento de pessoal a vinte por cento do total

    recebido; na propaganda doutrinria e poltica; no alistamento de filiados e em campanhas

    eleitorais; e, no mnimo de vinte por cento do total recebido, na criao e manuteno de

    instituto ou fundao de pesquisa e de doutrinao e educao poltica (art. 44).

    Esses recursos no esto sujeitos lei geral das licitaes (art. 44, 3, acrescido

    pela Lei n 9.504/97).

    40. A eficcia legal e social do sistema de financiamento dos partidos sob auditoria

    da Justia Eleitoral, como posto na Lei dos Partidos Polticos, depender, essencialmente,

    da competncia dessa mesma Justia Eleitoral.

    Se, no passado, a insuficincia de pessoal especializado e de meios operacionais

    justificou a cautela da Justia Eleitoral no exame das contas dos partidos e dos candidatos,

    limitando-se a afirmar apenas a sua regularidade formal, a existncia, agora, de uma

    norma que tende estabilidade e permanncia, impe Justia Eleitoral o desafio de

    selecionar e educar quadros profissionais especializados nessa tarefa.

    A primeira pedra sobre que assentar esse trabalho est na prpria Constituio

    Federal. Nesta se consagra como norte controlador da gerncia da res publica um conjunto

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    de quatro formidveis princpios: a legalidade, a impessoalidade, a moralidade e a

    publicidade. Os estudiosos do direito constitucional e do direito administrativo tm

    publicado notveis monografias sobre o tema, a revelar, de forma insofismvel, o quanto o

    Poder Judicirio tornou-se, sob tal mandamento, um protagonista apoltico da escolha

    mesma de polticas pblicas, o qual, mediante argumentao jurdica, pode e deve emitir

    at mesmo um juzo de convenincia e oportunidade polticas, nunca com a finalidade de

    fazer poltica, mas, e sempre, com o objetivo de submeter seja o rito da escolha, seja a

    escolha mesma, de polticas pblicas, aos comandos constitucionais. Esta , afinal, a

    essncia da garantia de liberdade no estado de direito, democrtico e representativo.

    Tanto assim o que a Constituio Federal, em passo seguinte, elege os princpios

    da legalidade, legitimidade e economicidade como os vetores da fiscalizao contbil,

    financeira, oramentria, operacional e patrimonial do Poder Pblico mediante rgopoltico autnomo, o Tribunal de Contas da Unio.

    41. Ora, na mesma linha de princpio, uma vez submetidos os partidos polticos

    mesma fiscalizao contbil, financeira, oramentria, operacional e patrimonial da Justia

    Eleitoral, nada h que impea essa Justia de exercer, extensa e substantivamente, a sua

    competncia legal.

    Assim, de esperar que a transferncia das quotas do fundo partidrio no seja

    automtica; que, antes, o Tribunal Superior Eleitoral proceda a uma auditoria adequada que

    afirme, no mais a regularidade formal das contas, mas, tambm, a sua legalidade

    material.

    III

    Do acesso gratuito ao rdio e televiso

    42. A Constituio Federal assegura aos partidos polticos acesso gratuito ao rdio e

    televiso na forma da lei.

    A lei dos partidos polticos, em ttulo prprio, regulamenta minuciosamente o

    exerccio dessa faculdade (arts. 45-49).

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    43. Fixado o horrio de 19:30 horas s 22:00 horas, a lei, alm de vedar

    expressamente a propaganda paga, limita a exclusividade da transmisso a trs hipteses:

    (a) difuso dos programas partidrios;

    (b) transmisso de mensagens aos filiados sobre a execuo do programa partidrio,

    a realizao de eventos e das atividades congressuais do partido; e,

    (c) divulgao da posio do partido em relao a temas poltico-comunitrios (art.

    45, caput e 3).

    Note-se que a expresso atividades congressuais, embora sugira atividades no

    Congresso Nacional, deve, contudo, ser compreendida, menos restritivamente, como

    atividades de natureza legislativa para, nos programas de mbito estadual, compreender o

    trabalho nas Assemblias Legislativas e nas Cmaras de Vereadores.

    44. Sob pena de cassao do direito de transmisso no semestre seguinte, o partido

    deve, ainda, observar trs proibies expressas aos seus programas:

    (a) a participao de pessoa filiada a outro partido, exceto o responsvel pelo

    programa;

    (b) a divulgao de propaganda de candidatos a cargos eletivos e a defesa de

    interesses pessoais ou de interesses de outros partidos; e

    (c) a utilizao de imagens de cenas incorretas ou incompletas, efeitos ou quaisquer

    outros recursos que distoram ou falseiem os fatos ou a sua comunicao (art. 45, 1 e

    2).

    45. Os partidos, tanto na televiso quanto no rdio, dispem de dois modelos de

    programas. Podem escolher entre (a) uma transmisso em cadeia, nacional ou estadual, ou

    (b) dez inseres de trinta segundos, ou cinco de um minuto, por dia, nos intervalos da

    programao normal das emissoras.

    A transmisso em cadeia, nacional ou estadual, ser autorizada pelo Tribunal

    Superior Eleitoral. As inseres, quando solicitadas pelo rgo nacional de direo do

    partido para exibio em todo o Pas, sero tambm determinadas por aquele Tribunal;

    quando pedidas pelo rgo de direo regional do partido, para exibio em um Estado,

    sero determinadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (art. 46).

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    46. O partido poltico com estatuto registrado no Tribunal Superior Eleitoral e que

    tenha funcionamento parlamentar poder, a cada semestre: (a) realizar um programa de

    cadeia nacional e outro de cadeia estadual, com durao de vinte minutos cada; e (b)

    utilizar, para as inseres de trinta segundos ou um minuto, quarenta minutos em rede

    nacional e outros quarenta minutos nas emissoras estaduais (art. 49).

    (E) A lei geral das eleies e o financiamento de campanhas eleitorais (Lei n 9.504/97)

    47. O financiamento de campanhas eleitorais est agora regulamentado por uma lei

    geral das eleies, de vocao mais permanente, feita para substituir as seguidas leisbienais, casusticamente concebidas para cada pleito eleitoral Lei n 9.504 de 30 de

    setembro de 1997.

    O sistema de financiamento dos gastos eleitorais pode ser posto didaticamente da

    seguinte forma.

    O primeiro evento h de ser a conveno para escolha dos candidatos e para

    deliberao sobre as coligaes no perodo de 10 a 30 de junho (art. 8).

    O segundo passo o pedido de registro das candidaturas at 5 de julho

    concomitantemente com a comunicao dos valores mximos de gastos (...) por

    candidatura em cada eleio. Se se tratar de coligao, cada partido que a integrar fixar o

    seu prprio valor mximo por candidatura (art. 11 e 18, caput e 1).

    O terceiro momento a constituio dos comits financeiros em at dez dias teis

    aps a conveno, os quais devem ser registrados na Justia Eleitoral em at outros cinco

    dias de calendrio (art. 19, caput e 3).

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    Somente na quarta fase dos procedimentos, isto , aps o registro dos comits

    financeiros, que as pessoas fsicas podero fazer doaes em dinheiro ou estimveis em

    dinheiro para campanhas eleitorais. No mesmo prazo as pessoas jurdicas (art. 23 e 81).

    48. So seis as fontes de recursos financeiros (doaes ou contribuies em dinheiro

    ou estimveis em dinheiro):

    (i) pessoas fsicas at o limite de dez por cento dos rendimentos brutos auferidos no

    ano anterior eleio (art. 23, 1, I);

    (ii) recursos prprios do candidato at o valor mximo de gastos arbitrado por seu

    partido (art. 23, 1, II);

    (iii) pessoas jurdicas at o limite de dois por cento do faturamento bruto do ano

    anterior eleio (art. 81, 1);

    (iv) qualquer eleitor at a quantia de um mil UFIR, no sujeitos a contabilizao

    desde que no reembolsados (art. 27); e

    (v) o fundo partidrio (n 39 supra);

    (vi) o fundo de recursos de cada partido poltico (n 37 supra).

    Restou excludo o financiamento pblico direto (art. 79).

    49. O controle das doaes se faz por dois mecanismos (art. 23, 2 e 4).

    Primeiro, toda doao em dinheiro ou estimvel em dinheiro a candidato especfico

    ou a partido poltico, entregue ao comit financeiro ou ao candidato, far-se- mediante

    recibo em formulrio impresso, com identificao da quantia e do doador.

  • 7/26/2019 JARDIM, Torquato. a Regulamentaao Legal Dos Partidos Politicos No Brasil

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    Os recibos sero numerados em srie, sua emisso controlada mediante

    demonstrativo e os utilizados relacionados tambm em formulrio especfico.

    O segundo mecanismo: as doaes depositadas diretamente na conta bancria de

    partido ou de candidato, sem emisso de recibo, sero efetuadas mediante cheques cruzados

    e nominais, os quais sero relacionados com identificao completa do doador.

    No podem fazer doaes, direta ou indiretamente, em dinheiro ou estimvel em

    dinheiro, entidade ou governo estrangeiro; rgo da administrao pblica direta e indireta

    ou fundao mantida com recursos provenientes do Poder Pblico; concessionrio ou

    permissionrio de servio pblico; entidade de direito privado que receba, na condio de

    beneficiria, contribuio compulsria em virtude de disposio legal; entidade de utilidadepblica; entidade de classe ou sindical; ou a pessoa jurdica sem fins lucrativos que receba

    recursos do exterior (art. 24).

    So gastos eleitorais, em dinheiro ou estimveis em dinheiro, e, portanto,

    contabilizveis para fins de controle do limite registrado na Justia Eleitoral, a confeco de

    material impresso de qualquer natureza e tamanho; a propaganda e publicidade direta ou

    indireta, por qualquer meio de divulgao, destinada a conquistar votos; aluguel de locais

    para a promoo de atos de campanha eleitoral; despesas com transporte ou deslocamento

    de pessoal a servio das candidaturas; correspondncia e despesas postais; despesas de

    instalao, organizao e funcionamento de comits e servios necessrios s eleies;

    remunerao ou gratificao de qualquer espcie a pessoal que preste servios s

    candidaturas ou aos comits eleitorais; montagem e operao de carros de som, de

    propaganda e assemelhados; produo ou patrocnio de espetculos ou eventos

    promocionais de candidatura; produo de programas de rdio, televiso ou vdeo,

    inclusive os destinados propaganda gratuita; pagamento de cach de artistas ou

    animadores de eventos relacionados a campanha eleitoral; realizao de pesquisas e testes

    pr-eleitorais; confeco, aquisio e distribuio de camisetas, chaveiros e outros brindes

    de campanha; aluguel de bens particulares para veiculao, por qualquer meio, de

    propaganda eleitoral; custos com a criao e incluso de stios na Internet; e as multas

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    aplicadas aos partidos ou candidatos por infrao do disposto na legislao eleitoral (art.

    26).

    A abertura de contas bancrias obrigatria para o partido e para os candidatos,

    exceto para os candidatos a prefeito e vereador nos municpios onde no haja agncia

    bancria e para os candidatos a vereador em municpios com menos de vinte mil eleitores

    (art. 22, caput e 2). No abrir a conta bancria, todavia, no implica rejeio automtica

    das contas do candidato, o qual poder, por outros meios, provar sua regularidade.

    50. A prestao de contas ser feita:

    (i) para os candidatos s chefias dos Executivos e ao Senado Federal (eleiesmajoritrias), por intermdio dos comits financeiros, como disciplinado nas instrues do

    Tribunal Superior Eleitoral, destas constando, minimamente, os extratos das contas

    bancrias e a relao dos cheques recebidos -o modelo 4 do anexo da lei (art. 28, I, e 1);

    (ii) para os candidatos a deputado federal, estadual ou distrital e a vereador (eleies

    proporcionais), pelo comit financeiro ou pelo prprio candidato, de acordo com os

    modelos da lei (art. 28, II e 2).

    Submetidas as prestaes de contas Justia Eleitoral, a lei, com apuro tcnico,

    assim como j o fazia a lei da eleio de 1996, limita o visto judicial afirmao de

    regularidade (art. 30, caput).

    No h, por conseguinte, juzo de julgamento, ou deciso judicial de aprovao ou

    rejeio. O ato administrativo; logo, a assertiva de regularidade no exclui condenao

    posterior, em processo judicial prprio, por qualquer dos crimes previstos no Cdigo

    Eleitoral ou na Lei Geral das Eleies.

    A rejeio das contas relativas campanha eleitoral, por si s, no autoriza a

    cassao do diploma.

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    A Lei Geral das Eleies condiciona a diplomao dos eleitos ao julgamento (aqui o

    termo da lei tecnicamente imprprio), at oito dias antes da diplomao, das contas de

    todos os candidatos, mesmo os no eleitos. Para tanto, pode a Justia Eleitoral requisitar

    quantos auditores e tcnicos queira dos tribunais e conselhos de contas pelo tempo que for

    necessrio (art. 30, 1 e 3).

    O controle da Justia Eleitoral compreende, portanto, nos termos desta Lei:

    (i) a verificao do teto de gastos eleitorais que o partido impuser a si prprio (art.

    18);

    (ii) a origem dos recursos (art. 24);

    (iii) o dispndio para os fins permitidos pela lei (art.26); e

    (iv) os limites individuais dos doadores.

    51. No h limite mximo para os gastos eleitorais; o teto de livre estipulao do

    partido. A lei exige, apenas, que, com o pedido de registro da candidatura, venha a mera

    comunicao do valor mximo de gastos por candidatura em cada eleio (art. 18, caput e

    1).

    No h mais, igualmente, para a pessoa jurdica, o limite por municpio: a soma das

    contribuies de uma mesma pessoa jurdica a todos os candidatos num mesmo municpio

    no poderia, na eleio de 1996, exceder de dois por cento da receita de impostos,

    arrecadados pelo municpio no ano anterior ao da eleio, acrescida das transferncias

    constitucionais (Lei n 9.100/95, art. 36, 4).

    No h limite, ainda, para o grupo econmico; o teto legal por pessoa jurdica

    individualmente.

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    52. No h, por fim, limite mximo para doaes ao fundo de recursos de cada

    partido para dispndio em campanhas eleitorais.

    A lei dos partidos polticos traz como uma das fontes do fundo de recursos de cada

    partido as doaes de pessoas fsicas e jurdicas feitas diretamente aos rgos de direo

    nacional, estadual ou municipal, mediante cheque cruzado ou depsito bancrio

    diretamente na conta do partido, contabilizadas na prestao de contas Justia Eleitoral

    (Lei dos Partidos Polticos, art. 39).

    No se impem limite de valor nem doao, nem destinao dos recursos,

    porquanto a Lei Geral das Eeleies expressamente revogou a norma da Lei dos PartidosPolticos que vinculava o mximo de doao a um percentual da dotao oramentria da

    Unio ao fundo partidrio geral gerenciado pelo Tribunal Superior Eleitoral.

    O controle dessas despesas pela Justia Eleitoral limita-se escriturao contbil

    formal e integral das despesas de carter eleitoral, com a especificao e comprovao dos

    gastos com programas no rdio e na televiso, comits, propaganda, publicaes, comcios

    e demais atividades de campanha (Lei n 9.096/95, art. 33, III e art. 34).

    Da a concluso: para escapar aos tetos da Lei Geral das Eleies, o doador, pessoa

    fsica ou jurdica, deve fazer o depsito diretamente conta do fundo partidrio, para que o

    partido decida pelo gasto. O limite real nico dos gastos eleitorais , na verdade, aquele que

    o partido livremente arbitrar para seus candidatos.

    O nico cuidado operacional ser o doador, no cheque cruzado nominal ao partido,

    nunca ao candidato, indicar expressamente o nmero da conta bancria do fundo do

    beneficirio.

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    (F) As coligaes eleitorais

    53. A Lei Eleitoral (Lei n 9.504, de 30 de setembro de 1997, art. 6) permite que os

    partidos polticos se agrupem em coligaes para eleies majoritrias (presidente da

    Repblica, governadores dos Estados e do Distrito Federal e prefeitos municipais) ou

    proporcionais (legislativos da Unio, dos Estados ou Distrito Federal e dos Municpios).

    As coligaes podem ser apenas para a eleio majoritria ou para a proporcional.

    Se forem para ambas, dentre os partidos coligados na majoritria podem se formar vrias

    coligaes proporcionais.

    Tm elas as prerrogativas e obrigaes de partidos polticos e devem funcionar

    como se fora um nico partido, seja no relacionamento com a Justia Eleitoral, seja no trato

    dos interesses interpartidrios.

    (G) Reformas em debate

    54. H hoje, no Brasil, preocupao marcante com os custos das campanhas

    eleitorais e, por conseguinte, com a publicidade das fontes de seu financiamento. O acesso

    gratuito ao rdio e televiso para propaganda eleitoral, por exemplo, tornou-se um nus

    pesado; os custos de produo so exorbitantes cerca de 70% do total das principais

    campanhas.

    De outra parte, o sistema eleitoral faz de todo o estado um mesmo colgio eleitoral.

    Os candidatos aos cargos proporcionais deputados federais e estaduais, so obrigados a

    viagens de longa distncia e a acordos eleitorais em todo o Estado. A par disso, o longo

    tempo de campanha em geral trs meses, onera ainda mais o custo. Para alguns a adoo

    do voto distrital reduziria esse custo; a maioria, contudo, depende exatamente da geografia

    para sua eleio seus votos so obtidos em pequenas expresses por toda a extenso do

    Estado.

    55. H os que propugnam pelo financiamento pblico integral dos partidos e das

    campanhas eleitorais.

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    Comisso especial do Congresso Nacional redigiu projeto de lei tornando

    exclusivamente pblico o financiamento das campanhas eleitorais. Segundo o projeto, em

    ano eleitoral, a lei oramentria incluir financiamento no valor de R$7,00 (sete reais ou

    US$2.41) por eleitor registrado em 31 de dezembro do ano anterior elaborao da lei.

    O voto no Brasil obrigatrio. Por isso mesmo, o Tribunal Superior Eleitoral

    mantm um cadastro, neste ano de 2004, com cerca de 117 milhes de eleitores. Esta seria

    a base para o clculo do montante total do financiamento para as eleies de 2006 ou seja,

    algo em torno de US$282,413,790.

    O debate sobre o tema, no entanto, est restrito ao Congresso Nacional e a alguns

    poucos interessados. No h motivao na opinio pblica em geral.

    O desafio pragmtico, no entanto, saber se os tradicionais financiadores informais

    - ou alternativos, ou seja, o crime organizado e os grandes fornecedores de servios e bensao Poder Pblico, efetivamente obedecero lei.

    56. Em face da experincia contada desde 1945, pode-se hoje afirmar que o direito

    eleitoral no Brasil estvel. A lei dos partidos polticos de 1995; a lei das eleies de

    1997.

    Mesmo as vrias leis editadas aps a promulgao da Constituio de 1988 traziam

    modificaes inerentes ao processo de redemocratizao. Ora eram regras de coligao, ora

    condies de reelegibilidade no mesmo partido, ora condies de financiamento das

    campanhas, ora requisitos para uma nova filiao partidria ajustes que acomodavam as

    circunstncias da nova experincia partidria.

    O prprio Direito Eleitoral comea a ser mais estudado nas universidades o que

    realado pelo nmero crescente de livros e artigos publicados. Eleies e partidos deixaram

    de ser temas exclusivos da cincia poltica para serem estudados nas faculdades de Direito.

    A prpria Justia Eleitoral inovou profundamente com a criao da Escola Judicial Eleitoral

    no Tribunal Superior Eleitoral e nos Tribunais Regionais como centros de estudos e de

    treinamento do pessoal necessrio gerncia das eleies.

    Tambm os principais partidos polticos, cumprindo a lei, mantm institutos de

    pesquisas e educao poltica no qual so obrigados a aplicar, ao menos, vinte por cento do

    total recebido no respectivo fundo partidrio (Lei dos Partidos Polticos, art. 44, IV).

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    * Advogado e ex-ministro do TSE (1992 - 96). Presidente do IBRADE (2002 - 05).

    Professor de Direito Constitucional da UnB (1977 - 95).

    Disponvel em:

    Acesso em.: 22 out 2007.