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  1 I. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO A responsabilidade civil tem sua origem no Direito Civil e pauta-se na obrigação de indenizar um dano patrimonial decorrente de um fato lesivo voluntário e, para que ocorra, são necessários os seguintes elementos:  A ocorrência de um dano patrimonial ou moral;  O nexo de casualidade entre o dano havido e o comportamento do agente, ou seja, que o dano efetivamente haja decorrido, direta ou indiretamente, da ação ou o missão do agente.  Que o fato lesivo, causado pelo agente, seja em decorrência de dolo (intenção) ou culpa (negligência, imprudência ou imperícia);  No Direito Público, temos que a responsabilidade civil da Administração evidencia-se na obrigação que tem o Estado de indenizar os danos patrimoniais ou morais que seus agentes, na qualidade de agentes públicos, causem a particulares e com tal reparação se exaure. 1) Evolução a) Irresponsabilidade do Estado: A teoria de não responsabilização do Estado assumiu sua maior notoriedade sob os regimes absolutistas. Baseav a-se essa teoria na idéia de que não era possível ao Estado (o Rei) lesar seus súditos, uma vez que o Rei não cometia erros. Os agentes públicos, como representantes do próprio Rei, não poderiam ser responsabilizados por seus atos, ou melhor, seus atos não poderiam ser considerados lesivos aos súditos. Esta doutrina somente possui valor histórico, encontrando-se inteiramente superada.  b) Responsabilidade Subjetiva do Estado (Culpa Civil Comum):  Esta doutrina, influenciada pelo liberalismo, pretendeu equiparar o Estado ao indivíduo, sendo obrigado a indenizar os danos causados aos particulares nas mesmas hipóteses em que existe tal obrigação para os indivíduos. Assim, o Estado, somente terá obrigação de indenizar quando, os agentes, tivessem agido com culpa ou dolo, cabendo ao particular o ônus da prova desses elementos subjetivos.  c) Teoria da Culpa Administrativa:  Esta teoria representou a transição entre a doutrina subjetiva e a responsabilidade  objetiva atualmente adotada pela maioria dos países ocidentais. Segundo a Teoria da Culpa Administrativa, o dever de o Estado indenizar o particular somente existe caso seja comprovada a existência de falta do serviço. Não se trata de questionar da culpa do agente, mas da ocorrência de falta na prestação do serviço. A tese é que somente o dano decorrente de irregularidade na execução da atividade ensejaria indenização ao particular, ou seja, exige-se uma culpa, mas não culpa subjetiva do agente, e sim uma culpa especial da Administração (Culpa Administrativa). A culpa Administrativa pode decorrer de inexistência do serviço, mau funcionamento do serviço ou retardamento do serviço. Cabe ao particular comprovar sua ocorrência para fazer jus à indenização.  d) Teoria do Risco Administrativo :  Por esta teoria surge a obrigação de reparar o dano sofrido injustamente pelo particular, independentemente da existência de falta de serviço ou de culpa do agente. Basta que exista o dano, sem que para ele tenha concorrido o particular. Resumidamente, existindo o fato do serviço e o nexo causal entre o fato e o dano,  presume-se a culpa da Administração. Compete a esta, para eximir-se da obrigação de indenizar, comprovar culpa exclusiva do particular ou, se comprovar culpa concorrente, atenuar sua obrigação. Cabe a Administração o ônus da prova. e) Teoria do Risco Integral: Esta teoria representa uma exacerbação da responsabilidade civil da Administração. Basta a existência do evento danoso e do nexo causal para que surja a obrigação de indenizar para a Administração, mesm o que o dano decorra de culpa exclusiva do particular.  2) Atos Legislativos: Em regra, não geram responsabilidade do Estado. O Poder Legislativo atua com soberania, somente ficando sujeito as limitações constitucionais. Portanto, desde que aja em estrita conformidade com os mandamentos constitucionais, o Estado não pode ser responsabilizado por sua função legislativa. Porém a doutrina e a jurisprudência firmaram orientação no sentido de se responsabilizar civilmente o Estado por ato legislativo em duas situações distintas:   Edições de Leis Inconstitucionais:  a premissa é de que o Poder Legislativo tem o dever de respeitar as regras constitucionais. Furtando-se a tal dever e caso a norma venha efetivamente causar dano ao particular, surge a responsabilidade do Estado. Essa hipótese depende da declaração da inconstitucional idade da lei pelo STF.   Edição de Leis de Efeito Concreto: são aquelas leis que não possem caráter normativo, que não são dotadas de generalidade, impessoalidade e abstração. São leis que possuem destinatários certos, determinados. A edição destas leis, se causarem danos ao particular, gera a responsabilidade do Estado.  3) Atos Jurisdicionais: A jurisprudência brasileira não admite a responsabilidade civil do Estado e m face dos atos jurisdicionais  praticados pelo Juiz, na sua função típica que é dizer o Direito, sentencian do. A regra é a irresponsabilidade do Estado. Porém a própria CF estabeleceu a regra de que “o Estado indenizará o condenado por erros judiciários  , assim como o que ficar  preso além do tempo fixado na  sentença” (art. 5º, LXXV). Nessa hipótese se o indivíduo é condenado (na esfera penal) em

Joao Lasmar - Direito Administrativo - Responsabilidade Civil - Inss Técnico

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Joao Lasmar - Direito Administrativo - Responsabilidade Civil - Inss Técnico

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    I. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

    A responsabilidade civil tem sua origem no Direito Civil e pauta-se na obrigao de indenizar um dano patrimonial decorrente de um fato lesivo voluntrio e, para que ocorra, so necessrios os seguintes elementos: A ocorrncia de um dano patrimonial ou moral; O nexo de casualidade entre o dano havido e o comportamento do agente, ou seja, que o dano efetivamente haja decorrido, direta

    ou indiretamente, da ao ou omisso do agente. Que o fato lesivo, causado pelo agente, seja em decorrncia de dolo (inteno) ou culpa (negligncia, imprudncia ou impercia);

    No Direito Pblico, temos que a responsabilidade civil da Administrao evidencia-se na obrigao que tem o Estado de indenizar os danos patrimoniais ou morais que seus agentes, na qualidade de agentes pblicos, causem a particulares e com tal reparao se exaure.

    1) Evoluo

    a) Irresponsabilidade do Estado: A teoria de no responsabilizao do Estado assumiu sua maior notoriedade sob os regimes absolutistas. Baseava-se essa teoria na idia de que no era possvel ao Estado (o Rei) lesar seus sditos, uma vez que o Rei no cometia erros. Os agentes pblicos, como representantes do prprio Rei, no poderiam ser responsabilizados por seus atos, ou melhor, seus atos no poderiam ser considerados lesivos aos sditos. Esta doutrina somente possui valor histrico, encontrando-se inteiramente superada.

    b) Responsabilidade Subjetiva do Estado (Culpa Civil Comum): Esta doutrina, influenciada pelo liberalismo, pretendeu

    equiparar o Estado ao indivduo, sendo obrigado a indenizar os danos causados aos particulares nas mesmas hipteses em que existe tal obrigao para os indivduos. Assim, o Estado, somente ter obrigao de indenizar quando, os agentes, tivessem agido com culpa ou dolo, cabendo ao particular o nus da prova desses elementos subjetivos.

    c) Teoria da Culpa Administrativa: Esta teoria representou a transio entre a doutrina subjetiva e a responsabilidade

    objetiva atualmente adotada pela maioria dos pases ocidentais. Segundo a Teoria da Culpa Administrativa, o dever de o Estado indenizar o particular somente existe caso seja comprovada a existncia de falta do servio. No se trata de questionar da culpa do agente, mas da ocorrncia de falta na prestao do servio. A tese que somente o dano decorrente de irregularidade na execuo da atividade ensejaria indenizao ao particular, ou seja, exige-se uma culpa, mas no culpa subjetiva do agente, e sim uma culpa especial da Administrao (Culpa Administrativa). A culpa Administrativa pode decorrer de inexistncia do servio, mau funcionamento do servio ou retardamento do servio. Cabe ao particular comprovar sua ocorrncia para fazer jus indenizao.

    d) Teoria do Risco Administrativo: Por esta teoria surge a obrigao de reparar o dano sofrido injustamente pelo particular,

    independentemente da existncia de falta de servio ou de culpa do agente. Basta que exista o dano, sem que para ele tenha concorrido o particular. Resumidamente, existindo o fato do servio e o nexo causal entre o fato e o dano, presume-se a culpa da Administrao. Compete a esta, para eximir-se da obrigao de indenizar, comprovar culpa exclusiva do particular ou, se comprovar culpa concorrente, atenuar sua obrigao. Cabe a Administrao o nus da prova.

    e) Teoria do Risco Integral: Esta teoria representa uma exacerbao da responsabilidade civil da Administrao. Basta a

    existncia do evento danoso e do nexo causal para que surja a obrigao de indenizar para a Administrao, mesmo que o dano decorra de culpa exclusiva do particular.

    2) Atos Legislativos: Em regra, no geram responsabilidade do Estado. O Poder Legislativo atua com soberania, somente

    ficando sujeito as limitaes constitucionais. Portanto, desde que aja em estrita conformidade com os mandamentos constitucionais, o Estado no pode ser responsabilizado por sua funo legislativa. Porm a doutrina e a jurisprudncia firmaram orientao no sentido de se responsabilizar civilmente o Estado por ato legislativo em duas situaes distintas: Edies de Leis Inconstitucionais: a premissa de que o Poder Legislativo tem o dever de respeitar as regras

    constitucionais. Furtando-se a tal dever e caso a norma venha efetivamente causar dano ao particular, surge a responsabilidade do Estado. Essa hiptese depende da declarao da inconstitucionalidade da lei pelo STF.

    Edio de Leis de Efeito Concreto: so aquelas leis que no possem carter normativo, que no so dotadas de generalidade, impessoalidade e abstrao. So leis que possuem destinatrios certos, determinados. A edio destas leis, se causarem danos ao particular, gera a responsabilidade do Estado.

    3) Atos Jurisdicionais: A jurisprudncia brasileira no admite a responsabilidade civil do Estado em face dos atos jurisdicionais

    praticados pelo Juiz, na sua funo tpica que dizer o Direito, sentenciando. A regra a irresponsabilidade do Estado. Porm a prpria CF estabeleceu a regra de que o Estado indenizar o condenado por erros judicirios, assim como o que ficar preso alm do tempo fixado na sentena (art. 5, LXXV). Nessa hiptese se o indivduo condenado (na esfera penal) em

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    virtude de sentena que contenha erro judicirio, tem direito reparao do prejuzo em face do Estado. Esse dispositivo no alcana a esfera cvel.

    4) Ao de Reparao de Dano

    a) Particular X Administrao (Ao Indenizatria): O particular que sofreu dano praticado pelo agente dever intentar ao de indenizao contra a Administrao. Embora essa seja a regra geral, o STF firmou entendimento no sentido de que facultado ao particular a propositura de ao contra o Estado e o agente pblico conjuntamente.

    b) Administrao X Agente Pblico (Ao Regressiva): O 6 do art. 37 da CF autoriza a ao regressiva do Estado

    contra o agente causador do dano no caso de dolo ou culpa deste, ressaltados: A entidade pblica dever comprovar j ter indenizado a vtima, pois seu direito nasce a partir do pagamento; Que tenha havido dolo ou culpa por parte do agente por ocasio do ato danoso; Os efeitos da ao regressiva transmitem-se aos herdeiros e sucessores do culpado, respeitado o limite do valor do

    patrimnio transferido (art, 5, XLV); Tal ao pode ser intentada mesmo depois de terminado o vnculo entre o servidor e a Administrao, ainda que aposentado,

    em disponibilidade etc; As aes de ressarcimento so imprescritveis; inaplicvel a denunciao da lide pela Administrao a seus agentes, no caso de reparao do dano.

    EXERCCIOS DE RESPONSABILIDADE 1) Levando-se em considerao a teoria do risco

    administrativo, usada para disciplinar a responsabilidade patrimonial do Estado, analise as afirmativas a seguir:

    I. A responsabilidade do Estado subjetiva, estando condicionada a demonstrao de culpa ou dolo do agente pblico.

    II. A culpa exclusiva e a concorrente da vtima so causas excludentes da responsabilidade do Estado.

    III. As autarquias esto sujeitas a normas constitucionais relativas responsabilidade patrimonial do Estado.

    /so afirmativa(s) verdadeira(s) somente: a) I; b) II; c) III; d) I e III; e) II e III. 2) Em relao aos diversos tipos de responsabilidade do

    servidor pblico, analise as afirmativas a seguir: I. A sentena penal absolutria que concluir pela

    insuficincia de provas no afasta a responsabilidade civil do servidor, mas impede a sua punio administrativa.

    II. A lei expressamente prev que o servidor pblico somente responder civilmente perante o Estado. No se admite propositura de ao indenizatria diretamente contra o servidor pblico.

    III. A instaurao de processo administrativo disciplinar poder ser dispensada se a autoridade competente para punir presenciar a prtica da infrao.

    /so afirmativa(s) verdadeira(s) somente: a) I; b) II; c) III; d) I e II;

    e) nenhuma. 3) A respeito das regras atuais aplicveis

    responsabilidade patrimonial do Estado, analise as afirmativas a seguir:

    I. No se aplica mais a responsabilidade subjetiva do Estado, mas to somente a responsabilidade objetiva com fundamento na teoria do risco administrativo.

    II. A culpa administrativa, tambm chamada de culpa annima, prev a responsabilidade do Estado independentemente da identificao do agente causador do dano.

    III. As empresas pblicas e sociedades de economia mista criadas para desempenho de atividade econmica ou para prestao de servios pblicos respondero objetivamente pelos danos causados por seus agentes, na forma prevista na Constituio.

    A(s) afirmativa(s) verdadeira(s) /so somente: a) I b) II c) III d) I e II e) II e III 4) Sobre a responsabilidade do Estado, analise as

    afirmativas a seguir: I. A culpa concorrente da vtima, de acordo com as

    regras atuais, exclui a responsabilidade do Estado. II. Aplica-se a teoria do risco administrativo para definir

    a responsabilidade do Estado por dano resultante da atividade administrativa desenvolvida pelo Poder Judicirio.

    III. A ao indenizatria contra o Estado imprescritvel. /so verdadeira(s) somente a(s) afirmativa(s):

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    a) I; b) II; c) III; d) I e II; e) I e III. 5) Com relao aos diversos tipos de responsabilidade do

    servidor, no correto afirmar que: a) a sentena penal absolutria que conclui pela

    inexistncia do fato ou pela negativa de autoria exclui a responsabilidade administrativa do servidor;

    b) a responsabilidade civil do servidor pblico subjetiva, dependendo da comprovao de sua culpa ou dolo;

    c) a responsabilidade administrativa do servidor pblico federal no pode ser apurada mediante sindicncia;

    d) a sentena penal absolutria com fundamento na falta de prova no interfere na apurao da responsabilidade administrativa do servidor;

    e) a obrigao de reparar o dano estende-se aos sucessores e contra eles ser executada, mas somente at o limite do valor da herana recebida.

    GABARITO RESPONSABILIDADE CIVIL

    1) C 2) E 3) B 4) B 5) C