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John Gunnel – teoria política “Nos primórdios de 1950 os cientistas políticos que lideravam o movimento behaviorista ou a ideia de uma ciência política modelada pela metodologia das ciências naturais tinha como objetivo estabelecer a autonomia da disciplina como uma ciência empírica e identificação da teoria política com a história das ideias políticas e os estudo dos textos clássicos desde Platão até o presente. “Easton argumentava que, no século xx, a teoria política tinha deixado de “analisar e formular uma nova teoria do valor” em favor de varejo de informações sobre o sentido, consistência interna e desenvolvimento histórico de valores políticos contemporâneos e passados”. [segundo Gunnel a crítica de Easton se direciona a atacar os historiadores das ideias políticas por sua passividade e neutralidade na análise dos valores do passado e só estavam preocupados com as narrativas. Não estavam preocupados com valores práticos do presente.] “A divisão oficial da disciplina da teoria política em seções empírica, normativa e histórica, durante os anos 60, refletia mais a premissa padrão do que a prática da ciência exigia – uma separação estrita entre o que é e o que deve ser e a situação de facto do estudo da teoria política – do que qualquer enfoque integrado à teorização. Os historiadores da teoria política formaram um partido de oposição quando o domínio dos behavioristas se tomou mais pronunciado. Eles estavam também preocupados com o que entendiam ser o declínio da teoria política, mas, em seu ponto de vista, esse declínio era, em grande parte, função da adoção pela moderna ciência política do método cientifico e da rejeição do que acreditavam ser os objetos tradicionais da teoria política. “O estudo do pensamento político do passado era de singular importância para uma compreensão adequada dos fenômenos políticos modernos, assim como para a iluminação e solução de problemas políticos cotemporâneos” – Leo Strauss em Gunnel

John Gunnel Fichamento

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John Gunnel – teoria política

“Nos primórdios de 1950 os cientistas políticos que lideravam o movimento behaviorista ou a ideia de uma ciência política modelada pela metodologia das ciências naturais tinha como objetivo estabelecer a autonomia da disciplina como uma ciência empírica e identificação da teoria política com a história das ideias políticas e os estudo dos textos clássicos desde Platão até o presente.

“Easton argumentava que, no século xx, a teoria política tinha deixado de “analisar e formular uma nova teoria do valor” em favor de varejo de informações sobre o sentido, consistência interna e desenvolvimento histórico de valores políticos contemporâneos e passados”.

[segundo Gunnel a crítica de Easton se direciona a atacar os historiadores das ideias políticas por sua passividade e neutralidade na análise dos valores do passado e só estavam preocupados com as narrativas. Não estavam preocupados com valores práticos do presente.]

“A divisão oficial da disciplina da teoria política em seções empírica, normativa e histórica, durante os anos 60, refletia mais a premissa padrão do que a prática da ciência exigia – uma separação estrita entre o que é e o que deve ser e a situação de facto do estudo da teoria política – do que qualquer enfoque integrado à teorização. Os historiadores da teoria política formaram um partido de oposição quando o domínio dos behavioristas se tomou mais pronunciado. Eles estavam também preocupados com o que entendiam ser o declínio da teoria política, mas, em seu ponto de vista, esse declínio era, em grande parte, função da adoção pela moderna ciência política do método cientifico e da rejeição do que acreditavam ser os objetos tradicionais da teoria política.

“O estudo do pensamento político do passado era de singular importância para uma compreensão adequada dos fenômenos políticos modernos, assim como para a iluminação e solução de problemas políticos cotemporâneos” – Leo Strauss em Gunnel

[Empiristas, behavioristas e historicistas se atacavam mutuamente, a questão era saber quem era o legitimo herdeiro do conhecimento político].

[história é considerada como raciocínio relativista, e ciencia como isenta de valores]

[Os historiadores da teoria política segundo gunnel são Leo Strauss, Hannah Arendt, Eric Voegelin, que trazem a luz da modernidade a sabedoria das obras clássicas]

“De um levantamento dos estudos de história da teoria política até e durante a década de 1950, emergem dois pontos importantes para a compreensão dos desenvolvimentos subsequentes neste campo. Primeiro, estes estudos raramente foram compreendidos por razões meramente acadêmicas ou motivados primariamente por interesse arqueológico. Foram concebidos como diretamente relevantes a problemas contemporâneos e valores políticos, bem como ao desenvolvimento de uma ciência política empírica, usualmente considerada como tendo aplicações práticas. Segundo, durante este período, ganharam força as suposições de que havia uma importante tradição ocidental de teoria política, composta

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pelos textos clássicos de literatura política e de que esta tradição era o parâmetro principal para a interpretação de certas obras. Esta tradição ‘gratuita’ tomou-se uma convenção acadêmica básica”.

“Easton deixou de notar o profundo interesse desses indivíduos em esclarecer e avaliar a política contemporânea, bem como em relação a princípios em desenvolvimento e conceitos que poderiam dar base a um estudo cientifico de política socialmente relevante”.

[Gunnel comenta os trabalhos criticados por Easton. Grande parte deles estão dentro da ideia de uma tradição que nos liga aos gregos]

“...em 1930, aceitou-se a ideia de que havia uma tradição de teoria política relevante para a compreensão da política contemporânea e que tinha evoluído continuamente desde o tempo da Antiga Grécia até se tornar suficientemente definida para ser uma matéria padrão nos compêndios colegiais e a pesquisa acadêmica na ciência política. “estudar a história das ideias políticas é estudar nossas próprias ideias e ver como chegamos a elas . Deve ser acentuado neste ponto que o debate que se segue na ciência política sobre os métodos históricos tem pouco a ver com a história da teoria política.

“Para Sabine, a tradição da teoria política não era somente uma construção analítica, mas um fenômeno histórico concreto que, malgrado sua aparente diversidade, manteve ‘a unidade através de sua história’”.

“Do ponto de vista de Sabine, estas obras constituem uma unidade natural, já que têm numerosas similaridades, tais como seu surgimento em tempos de crise, mas ele também fortaleceu a suposição de que eram, em grande parte, produto de uma atividade reconhecível que poderia ser investigada históricamente e que a história do pensamento político ocidental poderia ser focalizada de maneira holística”.

A teoria política e a história das ideias

[Gunnel insiste que o fim da polemica entre uma nova e velha teoria política praticamente se encerrou em decorrência da diferenciação disciplinar nos estudos da política]

“Até certo ponto, este distanciamento intelectual pode responder por uma certa interiorização da parte dos historiadores da teoria política e por uma crescente interesse pela natureza de seu empreendimento. Eles estão interessados em justificá-la em seus próprios termos, mais do que como remédio para as deficiências da ciência política. Tem aumentado a reflexão sobre problemas metodológicos da interpretação dos textos clássicos que constituíram caracteristicamente matéria deste campo, e importantes temas filosóficos sobre a compreensão e explicação foram levantados, os quais são de muitas maneiras comuns à maioria das ciências humanas e sociais. Uma vez levantados estes problemas, não é fácil se complacente com o caráter geral, bem como com as declarações específicas de muitos dos mais influentes autores neste campo. Entretanto, qualquer exame crítico de pensamento passado, bem como as propostas para métodos alternativos de investigação requerem uma compreensão nítida dos tipos de interesses que os motivaram”.

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[para Gunnel não é exatamente a emergencia de uma método novo, mas é mais certo dizer que um novo nível de consciência crítica foi gerado]

Gunnel critica: “Há também a suposição de que a história das ideias pode ser tratada como se fosse uma atividade ou disciplina especifica e, consequentemente, que é possível e válido tanto discutir os problemas metodológicos na história das ideias em termos de vários exemplos acadêmicos da história da teoria política, como considerar a pesquisa na história da teoria política em termos de interesses e propósitos atribuídos à história das ideias. No entanto, não parece razoável presumir que a história das ideias se refere a uma atividade definida com qualquer matriz disciplinar comum e programa de pesquisas ou que é algo mais do que uma categoria genérica de trabalho que tenham certas semelhanças familiares (história da religião, história da ciência, história da filosofia, etc). Ademais, é um erro presumir que vários tipos de literatura que cabem dentro da história das ideias tenham o mesmo grau de coerência. Enquanto a história da ciência, por exemplo, pode, apesar de certas controvérsias metologicas marcadas, constituir uma campo de estudos relativamente bem definido, a história da teoria política na é uma disciplina comparável. Embora reconhecida como uma subcampo da ciência política, seus profissionais nem sempre são cientistas políticos e não é imediatamente aparente que toda a literatura admitida como esse campo seja usualmente considerada como pertencente a um gênero diferente. Há boas razões sugerindo que, como na história das ideias, a história da teoria política seja uma categoria abarcando um variado corpo de literatura mais do que designação de uma atividade claramente circunscrita com padrões de avaliação e processos de análise geralmente aceitos”

Cap. II a ideia da tradição e a crise da teoria política

Leo Strauss

“Para Strauss, o estudo do passado é essencialmente de caráter prático. A tentativa de compreender as obras de filósofos políticos do passado e o curso do desenvolvimento das ideias políticas na tradição ocidental é exigida pelo que ele diagnostica como ‘a crise de nosso tempo, a crise do ocidente’. A meta era separa o erro da verdade e restaurar o conhecimento passado dos fenômenos políticos, especialmente o conhecimento relativo à natureza da boa sociedade política, que tinha sido esquecido ou turvado”.

“Strauss sustenta que a filosofia política clássica é a verdadeira ciência da política e que um conhecimento universal da política está incorporado à obra de Aristóteles. Aqui apareceu a ‘verdadeira filosofia política’ e ‘a verdade política’ foi descoberta. A filosofia política clássica surgiu com as origens da política na polis grega e, num momento de crise naquela cultura que, como na crise da era contemporânea, forçou o filósofo a procurar a natureza dos fenômenos políticos e o caráter da melhor ordem política”

“enquanto os conceitos da filosofia política clássica eram originais e explicáveis em termos dos próprios fenômenos políticos, nossos conceitos são secundários ou tradicionais, e seu verdadeiro significado só pode ser compreendido pelo estudo histórico. Para compreender hoje as coisas políticas, estando como nós ao fim da tradução, é necessário um desvio histórico que recupere a visão original conseguida pela filosofia política clássica. Isto, no entanto, ainda requer uma análise dos primórdios da moderna filosofia política que era baseada numa

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rejeição consciente do ensino clássico e que pode ser compreendida com precisão somente em contraste com a filosofia política clássica. Argumenta Strauss que, se é para restaurar os conhecimentos clássicos, é necessário reabrir a velha querela entre antigos e modernos, que precipitou o declínio da filosofia política e culminou na crise moderna”.

“Na opinião de Strauss, Maquiavel era um ‘mestre do mal’ consciente, que deliberadamente solapou o ensino clássico e provocou um ‘rebaixamento dos padrões da vida política’, excluído questões sobre como o povo deve viver em favor de uma ênfase sobre como ele vive. A revolução iniciada por Maquiavel, que Strauss denomina ‘a primeira onda de modernismo’, foi perpetuada por Hobbes que procurou abrandar as asperezas do ensinamento de Maquiavel e tornar sua intenção básica capaz de realizar-se. Entretanto, mesmo ‘o ensinamento de Hobbes era demasiadamente ousado para ser aceitável. Ele também necessitava ser abrandado. Essa mitigação foi o trabalho de Locke”.

[Gunnel considera tudo isso uma ficção, o mito da tradição]

“O problema é que o veículo, isto é, a ideia da tradição, começou a ter uma vida própria e os que empregam esta forma de análise tornaram-se, às vezes, prisioneiros de sua própria invenção. Há também uma propensão para outros, tanto estudantes como intelectuais, de aceitá-la sem compreender suas implicações ou as intenções dos seus criadores. Durante o século XX, a ideia da tradição adquiriu uma existência independente dos interesses que lhe deram nascimento, e os historiadores da teoria política, que foram mais influentes nas duas ou três décadas passadas, adotaram a ideias da tradição e transformaram-na no mito da tradição. Para muito intelectuais e professores, o mito se tornou a realidade e o paradigma com base nos quais trabalharam. Muitas pessoas foram educadas dentro deste paradigma e agiram simplesmente debaixo de suposições de que um propósito primário de interpretar um texto clássico de teoria política é o de iluminar um segmento da tradição e que a tradição é o principal contexto intelectual para interpretar essas obras.

“A visão da tradição de Strauss era, em grande parte, uma resposta ao ataque a este campo de conhecimento pelos cientistas políticos contemporâneos e designar boa parte de sua obra como histórica, em um sentido literal, seria ilusório e distorceria o caráter de suas representações da tradição e de sua obra exegética. Apontar falácias em seu método seria de pouca valia para a compreensão de seu raciocínio. Seu relato sobre a tradição só é inteligível em vista do argumento sobre política e ideias políticas contemporâneas que sustenta e é inteiramente compreensível que sua interpretação de imagens, como as de Locke, se destina a impugnar o que é comumente aceito como base intelectual do moderno liberalismo.”

“A descrição de Strauss da crise moderna e das forças intelectuais que a produziram carece de contato com eventos concretos e se move dentro de um domínio de discursos que não somente desafiam o criticismo como conflitam com sua busca pela confrontação de ideias em seus próprios termos. O emaranhado de política e de ideias políticas persiste nesta obra e os filósofos políticos são por vezes, como se fossem representantes de estágios da tradição. A maneira como indivíduos, como Maquiavel, tiveram uma grande impacto no pensamento e na prática da sociedade ocidental, que Strauss lhes atribui, nunca foi esclarecida, e a evidência, que daria credibilidade às conexões causais entre ideias e ações a que ele constantemente alude, é raramente sugerida”.

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“As obras que Strauss seleciona como tradição já são expressivas dentro de sua visão de tradição, antes que comece a interpretá-las”.

Cap. IV – A “Nova” História da Teoria Política

“O que alguns chegaram a ver como a nova história da teoria política ou, ao menos, a proposta para empreender um novo tipo de análise histórica de ideias políticas é, até certo ponto, o produto de uma desapego crescente dos interesses práticos que geraram grande parte da literatura prévia. Envolve uma ênfase nos resultados metodológicos relacionados com o estudo da teoria política passada. Embora esta ênfase possa ser um sintoma do declínio de interesses práticos e críticos, é em alguns aspectos uma herança do mito da tradição. O problema da metodologia tinha estado sempre implícito, e, com frequência, explicito, nas obras dos interpretes principais da tradição. Se o problema era o de extrair a sabedoria do passado e separar o erro e a falsidade, a questão de como empreender esta tarefa com propriedade dificilmente pode ser evitada. Era um aspecto intrínseco das reivindicações sobre a tradição. Entretanto, uma vez que estas eram na realidade, um sua maioria, ideias não-históricas, as discussões metodológicas foram raramente realizadas de maneira satisfatória”.

“Até certo ponto, o crescimento dos interesses metodológicos devem também ser atribuídos a uma atenuação de uma das questões centrais associadas à últimas fase da literatura sobre a tradição, isto é, o conflito entre a chamada teoria científica e a tradicional. Era, em parte, o mito do tradicionalismo incorporado na crítica behaviorista que tinha produzido o mito da tradição, mas, nos fins da década de 1960, o debate esmorecia. A resolução desse conflito entre a crença dominante na ciências política e o subcampo da história da teoria política foi menos a eliminação de um dos contendores do que retirada de cada um a sua respectiva iniciativa. O behaviorismo na ciência política tornou-se mais interessado em ataques à integridade de suas concepções de empreendimento científico e suas suposições particulares sobre a natureza da explanação cientifica do que com o caso em favor de uma ciência política contra as reivindicações do tradicionalismo. Similarmente, os interesses de alguns historiadores da teoria política começaram a interiorizar-se à medida que cessava a controvérsia, e era inevitável que se aproximariam dos problemas gerais associados com a história das ideias.

“...os interesses de alguns historiadores da teoria política começaram a interiorizar-se à medida que cessava a controvérsia, e era inevitável que se aproximariam dos problemas gerais associados com a história das ideias. Temas relacionados à epistemologia da história ou caráter do conhecimento histórico e como recuperar o significado de temas passados assumiram maior importância. O estudo da teoria política nasceu de interesses práticos, mas o seu destino era tornar-se crescentemente acadêmico, ligado a temas de forma simbólica, neste caso a história, que era o seu principal modo de expressão.

“Como assinalei no Capítulo I, a recente crítica dos acadêmicos à história da teoria política começou na base, isto é, de uma análise dos problemas metodológicos aparentes inerentes às reivindicações específicas sobre o passado, mais do que de uma consideração do que estes historiadores estavam realmente fazendo e que tipo de literatura produziram. Esses

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problemas foram amplamente definidos em termos de uma concepção geral de história das ideias e de temas relacionados à recuperação do sentido histórico. Havia uma singular falta de análise das intenções e propósitos desta literatura e, consequentemente, grande parte da crítica só era pertinente admitindo-se que esta literatura era de fato o produto de uma atitude histórica, e que os que estavam sendo criticados tinham os mesmos interesses básicos que os críticos. A atitude, entretanto, era essencialmente prática. Enquanto a literatura característica do mito da tradição tendia a destacar o que deveria ser estudado e por quê, a crítica histórica se concentrava no problema do como e admitia que as questões anteriores eram diferentes e de caráter ancilar. Enquanto, para aqueles fiéis do mito da tradição, quais as obras a serem escolhidas para inclusão e por quê eram estudadas, era ditado pelos interesses do presente, os críticos desejavam desenvolver um método para livrar de preconceitos presentes e para realizar uma reconstrução objetiva do significado de textos passado, e insistiam em uma clara distinção entre o significado histórico de uma obra e sua subsequente influência e significância.

(Skinner) “Ele denuncia que grande parte dessa literatura envolveu: imposições de premissas modernas e de categorias de análise dos dados, anacrônicas e desautorizadas; os extremos tanto de procurar o significado do simplesmente como uma expressão de um contexto social particular; um malogro em distinguir uma explicação da produção de uma obra, da compreensão do que o autor estava dizendo; e outros erros que, de uma modo ou de outro, acompanham uma atitude não-histórica em face de ideias passadas e eventos e, em particular, não reconhecem a “autoridade especial de uma agente sobre suas intenções” e a necessidade de descobrir essas intenções a fim de compreender o significado histórico de uma obra.

“Para Dunn, a história do pensamento político deveria ser uma história de proposições normativas e descritivas e uma história das atividades em que os homens estavam engajados quando enunciaram estas proposições’”.

“A história reconhece Dunn, é sempre escrita em termos de interesses e perspectivas filosóficas correntes, mas qualquer relato filosófico razoável ou análise do pensamento passado pressupõe uma compreensão histórica adequada, e ‘sua historicidade é sua suficiente e única imunidade legítima a nossos preconceitos filosóficos’”.

(Pocock) “Na maior parte dos casos, os objetos de estudo não eram realmente fenômenos históricos, mas criações do filosofo e de seus interesses presentes, e, assim é impossível relacioná-los a eventos históricos reais e compreendê-los históricamente. Em vez de simplesmente abordar os textos clássicos como filosofia, Pocock é pelo desenvolvimento de uma método de ‘tratamento do pensamento político como fenômenos históricos e – já que a história trata de coisas que estão acontecendo – mesmo como eventos históricos: como coisas que acontecem em um contexto que define o tipo de eventos que são’”.

Skinner “’uma abordagem estritamente histórica ao estudo do pensamento político’ é, em grande parte, uma ciência social retrospectiva, que provento ‘um quadro realístico de como o pensamento político em todas as suas variadas formas foi conduzido no passado’, tornaria possível ‘estabelecer conexões entre o mundo da ideologia e o mundo da ação política’”.

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“Pocock se apoia fortemente na popular teoria de Thomas Kuhn sobre paradigmas e mudanças de paradigma na história da ciência. Assim como as teorias e a matriz disciplinar de uma ciência formam o contexto significativo de postulados científicos, o contexto relevante para entender o pensamento e a linguagem do pensador político é a ‘comunidade política’, sua ‘linguagem pública’, e o complexo de paradigmas de que é composto. Pocock sustenta que, metodologicamente, ‘o primeiro problema do historiador, portanto, é identificar a linguagem ou vocabulário como que e dentro dos quais o autor operou, e como funcionou paradigmaticamente para prescrever o que poderia dizer e como deveria dizer”.

“Embora tanto Skinner como Pocock digam estar advogando um método para interpretação, o que eles apresentam não é tanto um método, mas um raciocínio filosófico sobre interpretação. Voltarei a este ponto na última seção deste capítulo, mas rotular argumentos de não-históricos, porque os julgam não se conformarem a seu modelo de interpretação, equivale ao mesmo que classificar explicações em alguma atividade de não-cientificas porque não se conformam a um determinado modelo filosófico de explicação científica. O que eles especificam como um método de interpretação é, na realidade, uma declaração sobre aquilo que pensam que acontece ou pensam que deve acontece, fazendo as interpretações. Mesmo se tais relatos de interpretação fossem tomados como corretos para dar uma descrição precisa ou uma recomendação sólida, eles não poderiam constituir um método para realizar certas interpretações.

“Skinner e Pocock empreendem uma crítica do conhecimento existente na história da teoria política, mas o fazem em termos de uma modelo particular de interpretação histórica que eles sugerem como uma explicação do, e uma receita para, uma bem sucedida compreensão de ideias passadas. Entretanto, eles nem explicam completamente este modelo, nem o defendem contra modelos alternativos. Suas teses, particularmente a de Skinner, foram objeto de consideráveis comentários críticos, mas esses comentários, muitas vezes, aceitaram as próprias definições dos autores e trataram a tese como uma proposta metodológica. Os críticos focalizaram temas tais como a lógica interna do raciocínio, as dificuldades no desempenho dos seus mandatos, e a limitação da ótica recomendada. Aqui, não estou preocupado com uma análise crítica de seus raciocínios como um método, mas em examiná-lo como uma declaração filosófica geral sobre a natureza da interpretação. É tão fútil criticar seu método como guia processual da interpretação histórica quanto para eles é apresentá-los como tal guia. O que está em jogo não é tanto a determinação de um processo para interpretar textos históricos, mas o que constitui uma interpretação histórica. O problema que o tipo de enfoque defendido por Skinner e Pocock mostra não é tanto o de poder ser o seu método efetivamente empregado, mas saber se fornecem um relato adequado de historicidade. A posição representa uma faceta de um velho debate sobre a filosofia da interpretação ou hermenêutica.

[Gunnel cita o autor Hirsch e diz que ele sim formulou uma problemática verdadeira sobre a interpretação dos textos ancorado na tradição hermenêutica de Schleiermacher Dilthey Gadamer].

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Dilthey “tentou expandir a teoria hermenêutica até uma filosofia do conhecimento e das ciências humanas em geral que justificaria estas disciplinas como metodologicamente distintas, embora comparáveis, das ciências naturais. Ele argumentava que, diferentemente da explicação naturalística, a compreensão histórica, bem como toda explicação de atividade humana, era basicamente psicológica ou intuitiva. Esta explicação era possível em virtude de uma identidade fundamental de sujeito e objeto.

“Tanto a ideia de uma consciência histórica especial como a noção de que a interpretação histórica envolve uma recuperação da subjetividade de um autor foram mais desenvolvidas por R. G. Collingwood (1889 – 1943). Algumas das versões correntes da tese de interpretação como a reconstrução da intenção e do autor, e particularmente as versões anglo-americanas, podem ser ligadas mais diretamente a Collingwood do que a Dilthey, e seus argumentos têm certos paralelos com o trabalho recente na filosofia da ciência social que iguala a explicação da ciência social com a compreensão do seu sentido pelo ator”.

“Esta série de problemas que tem persistido ou sido revivida no interesse recente pela historicidade na interpretação dos textos clássicos ou sido revivida no interesse recente pela historicidade na interpretação dos textos clássicos da teoria política. Para os que não concordam que a interpretação implica uma recuperação do significado intentado pelo autor, as noções de que as intenções são externadas em certas formas de ação linguísticas pareciam fornecer um meio de ultrapassar o incomodo problema da distância (psicológico, temporal, cultural) entre o autor e o intérprete e sugerir um ‘método’ amplamente baseado em um reconstrução do que se passa na tradição de uma língua ou na compreensão de uma oração. Parecia também oferecer uma base para a prática da ciência histórica, bem como das ciências humanas em geral, quando reconhecia o caráter intencional ou mentalístico dos fenômenos históricos e sociais, mas ao mesmo tempo prometia que podiam ser estudados objetivamente. Entretanto, o que foi negligenciado na literatura recente foi um bom número de ideias que se propõem estes problemas tradicionais do conhecimento histórico por uma rejeição da moldura em que foram postos e por uma redefinição fundamental da compreensão histórica. Esta alternativa foi sistematicamente apresentada na hermenêutica filosófica de H. G. Gadamer.

“Para Gadamer, o problema das condições universais ou ontológicas da compreensão humana devem preceder as resoluções epistemológicas e os interesses metodológicos determinadas disciplinas”.

“Gadamer faz duas afirmações principais. Primeiro, ele rejeita a ideias de que um compreensão adequada requer algum tipo de eliminação das influências das circunstâncias do intérprete. Segundo, ele insiste que, ao compreender um texto, a mens auctoris não é admissível como uma medida”.

“Enquanto as primeiras teorias hermenêuticas influenciadas pelo racionalismo cartesiano e pelas ideias de conhecimento do iluminismo viam a presente situação do conhecedor como uma barreira que devia ser ultrapassada, Gadamer sustenta que não é ela somente uma condição necessária para toda compreensão, mas também geradora de compreensão. Libertar-se do horizonte do presente é menos possível do que se libertar da linguagem, pois ‘a experiência do mundo na linguagem é absoluta’ e ‘quem quer que tenha linguagem tem o

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mundo’. As relações humanas, bem como o relacionamento do homem como o relacionamento do homem com o mundo são linguísticas e expressadas pela linguagem. A linguagem não deve ser tomada fundamentalmente como um instrumento de expressão da subjetividade. ‘A linguagem não é apenas um dos bens do homem no mundo, mas dela depende o fato de que o homem tenha um mundo’. Isto significa que não faz sentido dizer que se está aprisionado à linguagem, pois a própria universalidade da linguagem é o que ultrapassa as suas relatividades particulares. ‘A compreensão está ligada à linguagem. Mas esta assertiva não nos leva a qualquer espécie de relativismo linguístico’. Só é possível aprender uma nova língua quando já se conhece uma e, assim, ‘não há cativeiro na linguagem’. Similarmente, o horizonte particular, cultural e histórico de um interprete não é algo que iniba a compreensão, mas antes é a própria base da compreensão”. (questão de Skinner, pág. 155)

“A teoria hermenêutica de Gadamer desafia formalmente a suposição de que a compreensão de um texto é, em primeiro lugar, uma questão de reconstruir os pensamentos ou intenções de um autor. Ajudará a compreender a posição de Gadamer vendo-a tanto como uma manifestação de uma tendência da filosofia contemporânea afastada das noções dos séculos XVII e XVIII de que a função básica da linguagem é exprimir o discurso mental ou ideias, quanto uma rejeição da visão mais moderna de que a palavra é uns meios para veicular significados diferentes. Embora os que possam ser identificados com essa tendência não sejam de modo algum membros de uma só denominação filosófica, todos, de um modo ou de outro, questionam a suposição de que a linguagem ou é um modo de representar ideias que constitui ‘a interface entre o conhecedor e o conhecido’ ou essencialmente um portador instrumental de significados divididos inter-subjeticamente relacionados com crença e conhecimento que fazem a comunicação possível. Em vez disso, a própria linguagem é vista como a interface entre o conhecimento do assunto e a experiência da realidade e como um objeto autônomo de investigação. O resultado é potencialmente um transformação radical em nossos modos de compreensão. Há um crescente reconhecimento das ideias de que o conhecimento se insere em ‘alguma entidade linguística, um texto ou talvez um discurso, considerado como um objeto em si e não meramente como o portador de algum significado anterior’”.

“Embora razoável sugerir que as posições de Gadamer e, por exemplo, de Hirsch representam paradigmas alternativos de interpretação, é necessário evitar encetar um debate artificial entre os que sustentam que para compreender um texto deve-se decifrar o sentido do autor, ou retraduzir a intenção que o autor traduziu em palavra, e o que sustentar que a interpretação é uma questão de compreender um texto e não a pessoa que o escreveu. Poder-se-ia arguir que, até certo ponto, o que existe aqui é uma diferença de ênfase. Gadamer não está negando que as circunstâncias históricas de um texto são relevantes para compreendê-lo. Ele não está sugerindo eu a interpretação depende de um capricho do interprete ou mesmo que um preocupação com técnica e método não seja importante para disciplinas nas ciências humanas. O que ele acentua, entretanto, é que a interpretação não é simplesmente uma questão de realizar um ‘virtuosismo técnico’ de leitura, mas ‘uma legítima experiência, isto é, um encontro com algo que se auto-afirma como verdade. De outro lado, os que se interessam com o método não estão advogando que as declarações substantivas de um texto ou sua importância para o leitor sejam ignorados, mas que a declaração de verdade de um texto ou do que ele diz e sua relevância contemporânea não podem ser razoavelmente discutidos até que o seu significado histórico seja esclarecido.

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[Gunnel retorna a questão sobre o fato de que Skinner e Pocock não produzem de fato um método mas uma teoria da linguagem, coloca as relações entre teoria e prática para explicar o procedimento e a problemática]

“Uma questão tem de ser colocada sobre a relação entre a teoria e a prática da interpretação. No começo deste capítulo, sugeri que o que os autores como Skinner e Pocock propuseram como um método para a história da ideias, não foi um método no sentido de um processo para a prática, antes, basicamente, um relato filosófico da natureza da interpretação. Embora haja um sentido em que qualquer declaração interpretativa se baseia, que consciente ou inconscientemente, em certas suposições sobre a natureza da interpretação, há, contudo, uma diferença lógica fundamental entre um raciocínio sobre o caráter da interpretação textual – isto é, um relato do que deve ou deva ter lugar no curso da interpretação de um texto – e saber como compreender um texto e avaliar declarações interpretativas. Por exemplo, a suposição de Skinner de que sua teoria do significado linguístico produz um método para compreensão de textos em teoria política não é mais defensável do que a ideia que a competência na oração cotidiana é baseada na filosofia da linguagem ou na habilidade artística sobre o conhecimento estético. Isto não quer dizer que não haja relação entre a hermenêutica e a prática da interpretação. Esta prática é objeto de investigação hermenêutica, e um relato descritivo ou normativo da interpretação ou historicidade pode de certo modo realçar a prática interpretativa ou serve como um instrumento crítico para avaliá-la. Os possíveis relacionamentos são muitos e variados. Entretanto, este relato é dificilmente a condição para tal prática, ou mesmo componente teórico da mesma, não mais do que a teoria e a prática na ciência estão baseadas na filosofia da ciência. As discussões filosóficas sobre interpretação tem uma relação necessária à validade de uma determinada interpretação menor do que têm discussões na filosofia da ciência para os padrões de verdade na prática científica, ou a filosofia da religião tem para a aceitação de doutrinas teológicas. Entretanto, há um problema especial sobre a relação entre a filosofia e as ciências humanas que frequentemente leva à confusão neste ponto”.

[Vemos que Gunnel desconsidera absolutamente que Skinner e Pocock produzem um método que seja possível trazes a prática um interpretação, no máximo eles fazem considerações filosóficas sobre a interpretação]

“Eles [os cambridgeanos] se dirigiram à filosofia precisamente porque procuravam estabelecer-se como práticos e é por isto que a ideia do método, quanto encontrada em filosofia, tem sido tão atraente. No caso da história das ideias em geral, bem como da história da teoria política, a situação é bem clara. Esses rótulos não se referem a maneiras distintas de investigação disciplinada, mas, antes, designam um grupo relativamente díspar de empreendimentos que não obstante suas similaridades são, frequentemente, seguidos de modos bem diferentes, com propósitos muito diferentes. Pode haver pouca dúvida de que tanto os interesses recentes como os passados com a historicidade e o método na historia das ideias sejam mais uma tentativa de estabelecer do que de depurar uma prática. Este interesse levou a história das ideias ao contato com a filosofia da interpretação e tornou difícil distinguir as fronteiras entre a prática da história e as declarações filosóficas sobre isto.

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“ O que eles desejavam então estabelecer era a autonomia de método histórico. Entretanto, o que é necessário ter em mente é que este suposto método é um reconstrução filosófica da interpretação e não uma técnica para a prática, não mais que o relato filosófico do método científico dá a base da investigação”.

“A filosofia pode ser agente de investigação na teoria, prática, método, e outras categorias, e reuni-las de vários modos, de maneira a apresentar uma reconstrução de algum tipo de investigação, mas isto não é uma receita para a conduta de uma investigação. Os que declaram que estão oferecendo uma teoria ou método para a prática das ciências humanas estão quase sempre apresentando uma versão de algum relato filosófico de investigação nesses campos. Por mais importantes e interessantes que tais relatos e as diferenças entre eles possam ser, as decisões sobre estes assuntos não são mais um pré-requisito para a prática da interpretação do que a decisão sobre o caráter do sentido da linguagem é uma pré-condição para uma oração significante. Os homens estão compreendendo uns aos outros, mais ou menos, durante a existência do ser humano. As filosofias da interpretação são basicamente relatos do que acontece quando as pessoas compreendem e do que vai mal quando elas não compreendem. Esta filosofia, se correta, pode de algum modo aumentar a capacidade de compreender, mas não necessariamente, não mais do que conhecer motores de automóvel pode fazer de alguém um bom mecânico. Certamente não fornece um método”.

“A despeito de sua rejeição do que acreditava ser o caráter não-histórico de grande parte da literatura passada no campo, o legado do mito da tradição está, ainda, bem visível mesmo entre aqueles que se puderam considerar como praticantes de uma nova história da teoria política. Eles herdaram os textos clássicos como objeto de estudo. Agora, contudo, a razão se foi, e uma filosofia da interpretação não pode fornecer uma matriz substantiva disciplinar e programas de pesquisa. Em suas várias formas, a ideia da tradição e do mito da tradição deu uma base para o estudo da história da teoria política. Eles responderam a questões sobre como este material deveria ser estudado, que obra deveriam ser focalizadas na pesquisa e no ensino, como estas obras se situavam umas em relação às outras, como deveriam ser abordadas, de que consistia a teoria política como uma atividade e como a teoria política se relacionava com a vida política. Se deve haver um estudo da história da teoria política como parte da disciplina da ciência política e como a teoria política se relacionava com a vida política. Se deve haver um estudo da história da teoria política como parte da disciplina da ciência política e como um programa coerente de erudição e ensino, estas questões devem ser examinadas. A ideias da tradição como foi entendida no passado não pode mais ser tomada a sério como um paradigma para este campo de estudo, mas sem a concepção da história da teoria política como um tema particular e uma ideia clara de por que deve ser estudada, a acusação de um gosto pelo passado irrefletido que Easton e outros incorretamente levantaram contra os primeiros autores pode agora ser válida.

[Gunnel e o modo como ele sugere que deva ser articulados história e política]

“Minha tese básica não é muito controvertida. Simplesmente, certas obras clássicas são casos exemplares do encontro e engajamento de uma mente criativa com o problema da ordem política e que, nos termos de seu conteúdo e das circunstâncias de sua produção, apresentam

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certas semelhanças de família e tem certos motivos comuns, o que torna razoável construir um paradigma de teoria política e o teórico político, a que obras específicas se conformam em vários graus. Designar esta literatura como um tipo particular que pode ser distinguido em alguns aspectos importantes como um tipo particular que pode ser distinguido em alguns aspectos importantes como sui generis, não é especificar alguma forma literária como adotada pelos autores nem identificar alguma atividade em que eles intencional e refletivamente participaram, mas antes reconhecer que, embora estas obras pertençam a várias categorias convencionais baseadas no seu gênero intrínseco e no contexto histórico a que pertenceram, há boas razões para abordá-las em termos do gênero extrínseco ‘teoria política’. Embora seja perfeitamente apropriado designar, por exemplo, a ‘Orestia’ de Ésquilo como uma tragédia grega ou ‘Hamlet’ de Shakespeare como um drama elisabetano, não é apropriado designar a ‘republica’ de Platão simplesmente como filosofia ou ‘O Príncipe’ de Maquiavel como uma espécie da literatura espelho-de-príncipes. Até certo ponto, a abordagem que estou recomendando envolve tanto manifestações analíticas como históricas. Os atributos que aplico à teoria política e ao teórico político são idealizações, mas são derivadas historicamente. Este não é um tipo de ideal apriorístico, mas um ideal cujos elementos essenciais resultam de uma análise de certas obras clássicas. Alguns textos podem ser distinguidos pela extensão em que não se conformam com este modelo (os de Burke, John Stuart Mill, etc.) e não sugiro que um escritor que possa ser considerado dentro da categoria do pensamento político ocidental seja, proveitosamente, abordado dessa perspectiva. Não é feita nenhuma tentativa para esgotar os temas introduzidos na próxima seção, e o que se oferece é mais um convite a um modo particular de pensar sobre este material do que uma coleção de declarações interpretativas elaboradas”.

“A possibilidade, por exemplo, de decidir se ‘O Príncipe’ de Maquiavel foi um pequeno conselho para empreendedores políticos ambiciosos, um protótipo da moderna ciência política, uma tática para conseguir um emprego, um apelo a um líder para unificar a Itália, uma sátira para denunciar as políticas da época, ou tudo isto junto, é muito pouco, e não está muito claro quanto ao que poderia ser ganho por um consenso acadêmico sobre tais questões.

[Gunnel sobre o problema da tradição]

“O problema não é tanto o de encontrar razões legítimas, práticas e acadêmicas, para investigar esta literatura e racionalizar a escolha de obras para estudo, mas é um problema de errar na seleção de uma tradição cronológica auto-definida que modelou a moderna política, acreditando que a exumação desta tradição encerra uma solução para a crise contemporânea, ou qualquer dos demais aspectos da síndrome associada ao mito da tradição. A questão de por que os clássicos podem ser estudados, entretanto, está intimamente ligada ao problema de definir com precisão o que está sendo estudado”.

[sobre os problemas de definição de teoria e prática política. Ação política, teoria política, filosofia]

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“Entretanto, a identificação com a filosofia lembra uma característica importante da teoria política: sua localização fora do domínio da ação política. Isto não significa que a atitude do teórico seja apenas contemplativa. O relacionamento da teoria política com a ação política é complicado, e grande parte do problema de compreensão das obras com a ação política gira em torno de sua relação com a prática política, não somente como tema constante e interesse desta literatura, mas como um aspecto do contexto de sua produção. Em um sentido bem fundamental para distinguir a teoria política como uma espécie de atividade criativa e um corpo de literatura está o grau com que a visão do teórico é inseparável do problema da reestruturação da sociedade política nos termos dessa visão. Como a do artista, é uma visão que requer uma encarnação e expressão pública”.

Parei na pág. 96

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“Apesar do seu isolamento, o teórico está, sob alguns aspectos, mais perto da comunidade do que o ator político que atua todos os dias. Embora excluído da participação, ele, como o profeta hebreu, acaba por considerar a personificação da comunidade. Ele sente as feridas da sociedade mais profundamente, em parte devido a sua própria exclusão, e percebe mais objetivamente, dado o seu isolamento, a condição da sociedade. Embora sua atitude, às vezes, aparente quase uma atitude de ódio e de vontade de agir com violência contra a sociedade, tal como Platão sugeriu a necessidade de apagar o quadro negro completamente antes de tentar um novo começo, ela é uma aversão ao que tinha atacado a comunidade. A afirmação de Maquiavel de que amava sua cidade natal mais do que sua própria alma pode exprimir bem o sentimento da maior parte dos teóricos. Sua posição é de sofrimento. Ele como Sócrates ou o profeta, é o servo sofredor, o peregrino, numa sociedade corrupta que traz dentro de si a dolorosa verdade da fonte de perturbação política. No entanto, como em toda a tragédia o sofrimento traz sabedoria e ele se vê, afinal, como repositório de uma nova ideia de ordem, como remanescente da verdade na sociedade e como portador do segredo da redenção.”