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DRAGÃO DA CORRUPÇÃO | PÁGINAS 8 E 9 JUVENTUDE E FÉ| PÁGINAS 14 E 15 PROJETO VENCEDOR| PÁGINA 17 CHORO DE UM CAMPEÃO| PÁGINAS 22 E 23 FOGE À LUTA” | PÁGINAS 24 A 27 “VERÁS QUE UM FILHO TÉU NÃO especial aluno Rafael Martins,do 3° período do curso de Jornalismo, mostra como foi a manisfestação JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON | Nº 54 | Junho de 2013 LINCE jornal RAFAEL MARTINS

Jornal lince junho 2013

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universirário Newton

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Page 1: Jornal lince junho 2013

DRAGÃO DA CORRUPÇÃO | PÁGINAS 8 E 9

JUVENTUDE E FÉ| PÁGINAS 14 E 15

PROJETO VENCEDOR| PÁGINA 17

CHORO DE UM CAMPEÃO| PÁGINAS 22 E 23

FOGE À LUTA”| PÁGINAS 24 A 27

FOGE À LUTA”FOGE À LUTA”“VERÁS QUE UM FILHO TÉU NÃO

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Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton | Nº 54 | Junho de 2013Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton | Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton |

LINCEjornal

raFael martins

Page 2: Jornal lince junho 2013

2 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013

JOÃO VITOR CIRILO

3º período

Embalados pelo chamado “Vem pra rua!”,

aproveitando-se da campanha publicitária pré-

-Copa, o Brasil foi tomado por inúmeros protes-

tos durante este mês, marcado também pelo iní-

cio da Copa das Confederações. Enorme gasto de

dinheiro público com eventos esportivos (Olim-

píadas e Copa do Mundo), deixando de lado

questões como saúde, educação e transporte

barato de qualidade — alguns dos motivos que

revoltaram a população.

Tudo legítimo. É pleno direito (e dever) do

cidadão protestar por aquilo que ele acha certo.

Seja por tarifas de ônibus mais baratas ou por

revolta com abusos do Estado. Aliás, enfim che-

gou o dia em que nosso povo voltou às ruas para

lutar por algo que o incomoda. Boa parcela da

população cansou de ficar sentada no sofá ape-

nas apontando o dedo para o que está errado.

E o povo não se abalou com a reação poli-

cial, em muitos lugares extremamente vio-

lenta e repressiva. Alguns deles, evidente-

mente cumprindo ordens superiores, desce-

ram o cassetete em quem vinha pela frente,

independentemente de quem fosse. Alguns

manifestantes e jornalistas, esses últimos

apenas trabalhando, chegaram a ser atingidos

por bombas de efeito moral e balas de borra-

cha, como em São Paulo, local dos primeiros

protestos, Brasília e a nossa Belo Horizonte.

É óbvio que muitos daqueles que estão nas

ruas nem sabem o porquê de estarem ali, e só vão

pela bagunça. É claro, mas estão lá, fazendo pres-

são, incomodando os gigantes. Enfim, alguém

resolveu protestar por algo aqui. E aparece gente

pra dizer que é hipocrisia, idiotice, falta do que

fazer. Há o argumento de que só agora os protestos

foram feitos. Por que não no momento do anúncio

do país-sede? Ou então no momento em que os

gastos começaram a passar do limite? Penso que

antes o pensamento não era esse e o fato de não

haver protestos naquele momento não os impede

agora. As reivindicações são muito válidas.

Vale lembrar a abertura da Copa das Con-

federações, quando Joseph Blatter, presi-

dente da “Dona” FIFA, e a presidente Dilma

Rousseff foram vaiados durante o discurso

inicial. Blatter, esbanjando deselegância,

pediu “fair play” ao público que o vaiava.

«Amigos do futebol brasileiro, onde está o res-

peito e o fair play, por favor?». Ah, pelo amor

de Deus! É o povo quem lhe pede para jogar

limpo, Blatter. Já ouviu falar em democracia?

Vaiar, bater o pé e sair às ruas já é um

ótimo começo. Falta agora é votar direito.

Repensar nosso modo de agir à frente das

urnas também é fundamental. Parar de eleger

aqueles que ontem nos prejudicaram e parar

de votar contra fulano, e sim a favor de um

Brasil melhor. É esse o próximo passo.

Cor res pon dên Cia

NP4 - Rua Ca tumbi, 546

Bairro Cai çara - Belo Horizonte - MG

CEP 31230-600

Contato: (31) 3516.2734

[email protected]

Este é um Jor nal-la bo ra tó rio da

dis ci plina la bo ra tó rio de Jorna lismo ii.

o jor nal não se res pon sa bi liza pela

emis são de con cei tos emi ti dos em ar ti-

gos as si na dos e per mite a re pro du ção

to tal ou par cial das ma té rias, desde

que ci ta das a fonte e o au tor.

SugEStõES dE pautaS?participE do Jornal lincE.

uma publicação feita pelos alunos do curso de Jornalismo do centro universitário newton paiva.

E-Mail: [email protected]

presidente do Grupo spliCeAntônio Roberto Beldi

reitorJoão Paulo Beldi

ViCe-reitoraJuliana Salvador Ferreira de Mello

Coordenadora dos Cursos de CoMuniCaÇÃoJuliana Lopes Dias

Coordenador da Central de produÇÃo JornalistiCa - CpJPro fes sor Eus tá quio Trin dade Netto (DRT/MG 02146)

Conselho editorialProfessora Rosangela Guerra

Professor Menoti Andreotti

pro Jeto Grá fiCo e direÇÃo de arteHelô Costa (127/MG)

MonitoresJoão Paulo Freitas e João Vitor Cirilo

reportaGensAlu nos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário New ton Paiva

diaGraMaÇÃo Geisiane de Oliveira

ExpedienteOpiniãOjornal

LINCEJornal laboratório

do Curso de Jornalismo

do Centro universitário

newton Paiva

PRIMEIRO

PASSO“Sair às ruas já é um ótimo começo; falta agora votar direito”

Joã

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re

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Page 3: Jornal lince junho 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 3

MOMEnTO

sueLI AzeVeDO

3º período

Os dispositivos eletrônicos estão sem-

pre em ritmo de atualização acompa-

nhando a modernidade do mundo. Mas,

será que toda esta correria tecnológica das

grandes empresas e marcas se reflete de

alguma forma na sociedade? Sim, princi-

palmente no bolso de seus seguidores.

Acompanhar o compasso dos eletrônicos é

uma tarefa difícil e fica mais cara a cada

atualização.

Os geeks, pessoas obcecadas por tec-

nologia e eletrônicos, são os que estão

sempre a par do que há de novo neste

imenso mundo cibernético. Leandro

Alves, 28 anos, é um geek assumido e se

considera um viciado em tecnologia.

“Gosto de estar por dentro de tudo que é

novo e tecnológico. Fico muito empolgado

e ansioso”, diz.

Leandro, porém, faz uma ressalva

quando se trata apenas de uma atualiza-

ção do software do aparelho. “Não cos-

tumo trocá-los, pois com toda a tecnolo-

gia e as facilidades existentes é só atuali-

zar o software do aparelho e assim ter o

mesmo sempre atual”. Mas, pra variar, se

o design do aparelho novo for muito

superior ao do que já possui, Leandro

admite que não resiste.

BRINQueDOs CAROs

Leandro não sabe ao certo o quanto já

gastou, mas é uma conta que fica por volta

dos R$ 12 mil. O segredo, diz ele, é sempre

manter a calma “para não fazer nenhuma

loucura”. Ele tem como seus brinquedos

tecnológicos um Iphone 4s 64 GB, um IPod

16 GB, um Xbox com kinet, uma Tv LCD 42

polegadas, um IPad e um notebook HP Core

i7 8 GB RAM 1,5TB HD. Seu atual objeto de

desejo é uma câmera Sony Cibershot, à prova

d’água, que custa em torno de R$ 1.200.

Desejo e consumismo estão interliga-

dos neste caminho para a modernidade e

por este motivo é bom ter cautela na hora de

uma nova aquisição. O preço pode variar

muito, dependendo não só da marca, mas

também da loja. O preço do queridinho

celular da Apple, o Iphone 5, por exemplo,

pode variar de R$ 1.200 a R$ 3 mil.

A tecnologia é muito válida hoje prin-

cipalmente se necessitamos obter infor-

mações mais rapidamente. Da mesma

forma, pode nos ajudar a realizar traba-

lhos antes um pouco mais complicados.

Leandro usa a tecnologia para estudar e

trabalhar, e quando precisa de uma mão-

zinha no trânsito, usa o GPS do seu

Iphone para lhe indicar um atalho.

O geek também diz que a tecnologia

de hoje no Brasil não é das melhores, se

comparada a países mais avançados. “E

ainda é muito cara e lenta, mas ainda

assim, tem feito grandes melhorias para a

vida das pessoas”, afirma Leandro,

lamentando que, infelizmente há pessoas

“que se utilizam desse meio para prejudi-

car outras com mais facilidade que antes,

utilizando dados, imagens entre outras”.

UNIvERSOUNIvERSOUNIvERSOUNIvERSOUNIvERSOUNIvERSOUNIvERSOUNIvERSOCIbERtRôNICOCelulares, games, notebooks entre outros eletrônicos são cada vez mais objetos de desejo no mundo contemporâneo

Mesmo com toda a ajuda e melhorias

que estes eletrônicos trazem à vida das

pessoas, nem todos reverenciam a tecno-

logia. Michele Aguiar, 25 anos, diz que

esta do lado da resistência a toda esta

tecnologia: “Acho toda esta parafernália

uma complicação para aprender a mexer,

não tenho a menor paciência, ainda mais

com estes aparelhos cada vez menores,

mais finos e mais complicados”, ataca.

Dificuldade em lidar com os novos

aparelhos eletrônicos e seus aplicativos,

é uma das maiores reclamações quando

se trata de resistência a eles. Michele é

vendedora de roupas e diz que o único

aplicativo que ela usa em seu celular é a

calculadora. “Tenho preguiça de todos

estes aplicativos; meu celular é dos anti-

gos ainda e com teclado normal”,

comenta. Michele já ganhou um com tela

touchscreen, que não durou nem quatro

meses. “Achei uma chatice aquelas fres-

curas todas”, detona.

Michele afirma que, apesar de pare-

cer, não é nenhuma “tecnófoba”. Diz que

deixa claro que é a favor do avanço da

tecnologia para o desenvolvimento de

novas descobertas, “mas no campo da

saúde, por exemplo”, ressalva. Mas é bom

ir se preparando, seja nos aparelhos ele-

trônicos, no transporte ou na saúde, o

mundo está em pleno desenvolvimento

tecnológico e a tendência é irreversível.

Conviver neste universo cibernético será

uma realização para alguns e um apren-

dizado para outros.

O OUTRO LADO DA MOEDA

Fotos leandro alves

Page 4: Jornal lince junho 2013

4 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013

MEMÓRiA

DEI UM APERtO DE SAUDADE NO MEU tAMbORIM...

Há trinta anos, o Brasil perdia a mineira Clara Nunes, uma de suas maiores cantoras

mARCus sOARes

3º período

Parece que foi ontem, mas já se passaram 30 anos da

morte da cantora Clara Nunes. A mineira da cidade de

Paraobepa, que bateu recordes de vendagens de discos e

quebrou tabus de que mulheres não poderiam ser cantoras

de grande sucesso, ecoou sua voz aos quatro cantos do país

eternizou sua imagem no imaginário nacional. Vestida de

rendas brancas, com as pulseiras, colares e a tiara de

búzios e conchas, com sua voz calorosa, Clara deu nova

vida às raízes africanas do samba.

Inspirada na voz das divas Carmem Costa, Ângela Maria,

Elizeth Cardoso e Dalva de Oliveira, Clara hoje se tornou uma

das maiores referências para a nova geração de cantoras de

samba, embora não gostasse de ser chamada assim, por achar

— e com razão! — que isso a limitava. Preferia ser considerada

uma interprete de MPB, como disse em diversas entrevistas.

rep

ro

du

ÇÃ

o

Page 5: Jornal lince junho 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 5

Clara começou sua carreira no fim da

década de 1950, cantando em programas de

auditório das rádios Guarani e Inconfidên-

cia, e na TV Itacolomi. Em 1966, gravou,

sem muita repercussão, seu primeiro disco,

“A voz adorável de Clara Nunes”, com sam-

bas-canção e boleros. Em 1970, ela se rein-

ventou e começou a cantar o que mais gos-

tava: sambas. E foi com o samba “Você passa

e eu acho graça”, uma insólita parceria

entre Carlos Imperial e Ataulfo Alves, que

alcançou as paradas de sucesso do país.

Na segunda metade da década de

1970 até seu último disco, no ano de

1982, Clara intensificou seu mergulho

nas raízes afro-brasileiras e no samba.

Levou para o palco, canções que traziam

elementos do candomblé, explorou

novos compositores, sobretudo os da Por-

tela, sua escola de samba do coração, e

emplacou sucessos como “Canto das três

raças” (Mauro Duarte/Paulo César

Pinheiro); “O mar serenou” (Candeia);

“Conto de Areia” (Ronildo Bastos/Toni-

nho Nascimento); “Na Linha do Mar”

(Paulinho da Viola); “Feira de Mangaio”

(Sivuca/Glorinha Gadelha), “Morena de

Angola” (Chico Buarque); “Nação” (João

Bosco/Aldyr Blanc/Paulo Emílio) e “Tris-

teza Pé no Chão” (Armando Fernandes).

Também foi das primeiras a gravar sam-

bas do gênio Nélson Cavaquinho.

INFÂNCIA DIFÍCIL

Clara ficou órfã de mãe muito cedo

e acabou sendo criada por sua irmã Din-

dinha (Maria Gonçalves), que hoje

reside na cidade de Sete Lagoas. Ela

lembra que, ainda na infância, Clara

não queria ser cantora, dizia sempre que

não havia nascido pra cantar. “Mas o

destino fez sua parte e nasceu uma das

maiores cantoras brasileiras”, afirma.

Hoje, Dindinha, como é conhecida

pelos fãs da cantora, toma conta da creche

e do recentemente aberto memorial Clara

Nunes, que guarda um pouco da história

de vida da “Voz de ouro”. Há alguns

meses, Maria Gonçalves ficou viúva, e diz

que “ainda se recupera do baque”. Mas

espera se recuperar logo para participar

das homenagens que o país vem pres-

tando à Clara.

— Por enquanto, ainda não participei

de nenhuma, pois foram no Rio de Janeiro

e São Paulo. Mas vou participar das que

forem programadas para Belo Horizonte.

Apesar dos mais de 30 anos que já se

passaram, Dindinha continua impressio-

nada com a gratidão do “povo”. Com voz

mansa, mas repleta de emoção, ela agra-

dece ao repórter do LINCE por ter se

lembrado de Clara Nunes. Mas, se até o

mar serenou quando ela pisou na areia,

quem poderia se esquecer de uma estrela

de brilho tão intenso?

MORENA DE ANGOLA

No dia 2 de abril de 1983, foi noti-

ciada por toda imprensa a morte da can-

tora. Vítima de um choque anafilático em

uma simples cirurgia de varizes,Clara

permaneceu vinte e oito dias em coma. O

corpo da cantora foi velado por mais de

50 mil pessoas na quadra da Portela. O

sepultamento no Cemitério São João

Batista foi acompanhado por uma multi-

dão de fãs e amigos.

Cláudia Tavares Guedes Pinto, 43,

estudante de Direito, começou a gostar

de Clara “por tabela”.

— Minha mãe frequentava o mesmo

salão de beleza que ela, em Copacabana.

Eu devia ter uns seis para sete anos”,

conta. Cláudia afirma que “sempre que

a cantora gravava um clipe”, ela dava

um jeito de acompanhar o lançamento

pela TV. “Mas, por causa da idade, não

tive a oportunidade de ir a nenhum

show dela; quando Clara se foi, eu tinha

13 anos e fiquei arrasada”. Hoje, Cláu-

dia homenageia a estrela com fã-page no

facebook, onde reúne fotos antigas da

cantora, além de clipes, letras de músi-

cas e, claro, muitos fãs.

A produtora audiovisual Júl ia

Ribeiro tem apenas 20 anos, mas conta

que a cantora marcou muito sua vida.

“Quando eu tinha por volta dos sete

anos, me lembro que meus avós mater-

nos ouviam os discos da Clara... Meu

avô, então, era muito fã. Por isso, esse

momento me marcou muito”, revela.

— Sempre que eu ouvia o nome da

Clara Nunes, aqueles momentos voltavam

à minha lembrança. Isso me tornou sua fã.

Adriana de Aquino Baptista, 20, é

vendedora e também começou sua

admiração por Clara Nunes por meio

das conversas de sua mãe, que sempre

falava na cantora. “Me lembro que sem-

pre ouvia fitas cassetes com as músicas

delas”, conta a vendedora, que só

conheceu a cantora mais a fundo depois

de ler sua biografia lançada pelo jorna-

lista Vagner Fernandes.

Várias homenagens estão programa-

das. Além de exposições itinerantes que

mostram parte do mundo da cantora,

vários artistas também vão lembrá-la, revi-

sitando seu repertório.Um exemplo é a ex-

-vocalista do grupo Cheiro de Amor, Carla

Visi, que vai lançar um CD com regrava-

ções de sucessos de Clara Nunes, com

participações pra lá de especiais.

A cantora Alinne Calixto também

vai regravar sucessos da cantora e já

inclui em seu repertório, músicas como

“Conto de Areia” e “Morena de Angola”,

da mesma forma que Tereza Cristina,

talvez a primeira a buscar pérolas dentro

do repertório de Clara Nunes.

Em Caetanópolis, distrito de Parao-

peba, terra natal de Clara, foi inaugu-

rado em abril um museu que traz um

pouco da trajetória da estrela, com rou-

pas e alguns objetos pessoais. Falta agora

Belo Horizonte prestar suas homena-

gens, pois foi aqui que a carreira de

Clara Nunes decolou.

O MAR SERENOU

Page 6: Jornal lince junho 2013

6 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 20136 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013

HUMOR

“O POLItICAMENtE CORREtO É O

Mas os humoristas têm que conviver com isso em seu dia a dia: o humor deve ou não ter limites (ou seria censura?) impostos pela sociedade?

ALIMENtO DO PRECONCEItO”

FeLIPe FReITAs

3°periodo

“Eu como ela e o bebê”. Uma piada

que para muitos foi de mau gosto, fez com

que o humorista Rafinha Bastos fosse

afastado do programa da Rede Bandeiran-

tes, o CQC, e, logo depois, demitido. Ele

ainda teve a dor de cabeça de responder a

um processo pela “brincadeira”. Esse é

uma advertência aos comediantes, para

que tenham mais cuidado com as piadas

que contam. A situação traz varias ques-

tões à tona: O humor tem limites? E, se

tem, quais são? A sociedade mudou ou as

piadas ficaram mais maliciosas?

“Eu faço humor de cara limpa. É

simples. Quando subo no palco, eu sou o

Rafinha Bastos. Se faço uma piada de

estupro, as pessoas tomam isso como a

minha opinião. Porque eu não sou o

bêbado Zé ou o caipira Nerso (referên-

cia à personagem Nerso da Capitinga,

do comediante), às vezes, fica difícil do

público entender que aquela não seria a

minha opinião”, disse Rafinha Bastos

em entrevista à apresentadora Marília

Gabriela.

O LImITe

O caso de Rafinha nos abre uma ques-

tão. Será que o humor tem limite? E qual

seria ele? Para o humorista Leonardo

Núñez, 33, mais conhecido no meio como

“Gigante Léo”, o humor tem que ter um

limite. “Sou radicalmente contra a impo-

sição de qualquer tipo de censura ao

humor ou qualquer expressão artística,

mas o limite se dá naturalmente, através

da relação do humorista com o seu

público”, expõe Léo.

Outro que também partilha da mesma

opinião de Léo é o comediante Glauber

Cunha, 38, do grupo Os Comédia, que pre-

fere não abordar alguns assuntos. “No meu

estilo de humor, o limite é navegar por

assuntos que não sejam tão polêmicos ao

ponto de 90% do público ficar chocado com

a piada. Tem tanta coisa para brincar... Para

que eu vou me arriscar?”, provoca Cunha.

Mario Alaska é comediante e locutor

da rádio 98FM. No programa 98 Futebol

Clube, faz alguns personagens. Um deles,

uma imitação ao repórter Roberto Abras,

da Rádio Itatiaia. Ele opina que o humo-

rista deve usar o bom senso ou o senso

comum, e define o caminho como uma

trilha perigosa. O comediante vive um

desafio a cada piada dita.

— Caminhamos sobre o fio da nava-

lha. Em certos casos, podemos acertar em

cheio, mas também podemos errar muito.

Acredito que com o tempo e a prática você

vai se encontrando.

Para o comediante e improvisador

Allan Benatti, 36, o humor não tem limi-

tes. “O que tem limite é o pudor e o pre-

conceito do mundo atual”, completa

Bennatti. Já o ator Eraldo Fontiny, 30,

acredita que o humor deve ter bom senso.

“O humor não dá o direito de banalizar e

humilhar alguém”, afirma.

Mas, Carol Zoccoli, 36, humorista,

lembra que a essência do humor é reco-

nhecer o que não faz sentido e fazer as

pessoas rirem disso. “Quando alguém se

sente agredido por uma piada, essa pessoa

não compreendeu a intenção do humo-

rista ou o humorista teve a intenção de

agredir (o que é muito diferente da inten-

ção de fazer rir a partir de um tema consi-

derado muito sério). O que agride é a

intenção e não as palavras”

Page 7: Jornal lince junho 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 7Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 7

Fotos arQuivo pessoal

Não é privilégio de Rafinha Bastos

fazer com que alguma pessoa se sinta

ofendida com uma piada. João Basílio,

40, humorista e professor universitário

de comunicação, também teve proble-

mas com pessoas que não entenderam

uma piada sua.

— Em uma ocasião, ao fim de setem-

bro, fiz no Facebook o seguinte comentário:

‘Hoje, 26 de setembro, é o dia dos surdos. Faz

sentido o dia dos surdos ser do signo de

Libras’. A brincadeira, para quem não

entendeu, é com o termo ‘Libras’, que é a

linguagem de sinais usada pelos surdos.

Uma simples piada fez com que alguém

se revoltasse com a brincadeira. ”Por incrí-

vel que pareça, uma pessoa veio me atacar,

dizendo que era uma falta de respeito, um

absurdo e que iria me processar. Fiquei cho-

cado, porque a frase não tem nada de ofen-

sivo! Isso é uma demonstração de como é

difícil — senão impossível — agradar a

todos”, completa Basílio.

VIsÃO CRÍTICA

Bruno Berg, 32, que também é

humorista, teve um caso parecido com o

de Basílio. “Já fiz uma piada sobre cães

onde eu falava sobre o fato de eles se

reproduzirem com seus próprios paren-

tes. Criou o maior alvoroço, porque

alguém achou que eu estava incenti-

vando maltratar os animais”, conta.

“Hoje em dia todo mundo tem se ofen-

dido muito facilmente. Se eu faço piada,

por exemplo, com vários bairros da

cidade, a pessoa morre de rir. Mas se eu

falar do bairro dela, ela fala que não

pode”.

Mas, e aí? As piadas estão ficando

mais maliciosas ou será que o nosso país

mudou? Para Edgar Quintanilha, 19,

humorista e ator, a sociedade mudou

sua concepção de mundo. “Piadas de

cunho sexual e com palavras chulas

sempre existiram. Porém, com a moda

do ‘politicamente correto’ a tolerância

por parte de alguns tem diminuído, e daí

vêm as críticas”, expõe.

Núñez acha que são as duas coisas.

“Toda piada tem algum tipo de malícia

ou visão crítica. O que acredito é que as

pessoas estão cada vez menos tolerantes

com tudo: com o próximo, com as brin-

cadeiras e com as críticas”, diz. Para

Alaska, o mundo está ficando chato.

“Não se pode brincar com mais nada!

Mas, por outro lado, acho que temos que

saber a maneira como brincar com cer-

tas coisas”, fala.

Allan Bennatti afirma que o politi-

camente correto é torto e o maior ali-

mentador do preconceito. “Mudar o

nome de negro ou preto para afro-brasi-

leiro é dizer que é ofensivo chamá-lo de

negro ou preto, mas a ofensa não está na

situação da cor, e sim na maneira como

se fala. Mudemos então de branco para

euro-brasileiro”, completa.

Berg sente que as pessoas estão

ficando mais “sensíveis”, em relação

às piadas. Para ele, isso é um reflexo da

liberdade da internet. “Hoje em dia, do

mesmo j e i t o que você consegue

expressar sua opinião ou fazer uma

piada chegar às pessoas de maneira

mais fácil, através da internet, a crí-

tica também chega”, diz. Para ele, está

faltando “a muitas pessoas rirem de si

mesmas”.

— Acho que a pessoa que não aceita

uma piada onde ela é atingida, deveria

parar de rir de outras piadas onde se tem

uma vítima: toda piada tem uma!

“TODA PIADA TEM UMA VÍTIMA”

SIGNO DE LIBRAS

Page 8: Jornal lince junho 2013

8 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013

QUE PAÍS É Mesmo sendo uma nação marcada

historicamente por atos de corrupção, hoje, Brasil recusa essa identidade e

quer a verdadeESSE?RAYzA KAmKe

3º período

Há quem afirme que a corrupção

aportou no Brasil com os portugueses,

quando a coroa portuguesa resolveu

mandar pra cá os condenados, os

ladrões e as prostitutas. A partir daí,

ficou fácil justificar todo e qualquer ato

de corrupção perpetrado no país. Nas

pequenas falcatruas do dia a dia — furar

fila, surrupiar pequenos objetos, pagar

propina —, a corrupção parece que veio

para ficar. É endêmica entre nós.

O certo é que a corrupção no Brasil

afeta diretamente o bem estar de todos

os cidadãos, quando diminui os investi-

mentos públicos nas diversas áreas de

direitos essenciais à vida. Na saúde, na

educação ou na segurança, os escânda-

los na política, talvez a face mais dura da

corrupção, deixaram de ser novidade

para a população.

“Um dos principais problemas que

dificultam o combate à corrupção é a

impunidade ainda vigente no país”, ava-

lia o bancário Alan Flaviano dos Santos,

26. Em sua opinião, “a justiça é morosa,

e aqueles que desviam milhões e podem

pagar bons advogados dificilmente pas-

sam muito tempo em cadeia, ou nem

mesmo são punidos”.

eNDÊmICA

A corrupção hoje é tratada quase

como um problema endêmico. Endemia

essa que veio da formação da cultura

crescente da nova nação, desde o impé-

rio. Entre uma corte e uma igreja que se

compactuavam, acabou por se criar uma

cultura formada em torno de privilégios

e vantagens. “E o pior é que se trata de

uma cultura que até hoje se reflete em

nossa realidade, e no nosso dia a dia”,

afirma a professora Ana Lúcia Verçosa,

bacharel em História.

No entanto, Ana Lúcia acha que é

errado generalizar. Ela afirma que nin-

guém deve acreditar que a corrupção é

algo que se impôs sobre a sociedade

brasileira. “Há bolsões de corrupção,

principalmente nas elites; apesar de

termos a constatação de que a corrup-

ção é muito forte em nosso país, talvez

estejamos em um momento em que

mais se combate a corrupção do Brasil”,

afirma a professora.

8 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton -

QUE PAÍS ÉQUE PAÍS É

ESSE?RAYzA KAmKe

3º período

Há quem afirme que a corrupção

aportou no Brasil com os portugueses,

quando a coroa portuguesa resolveu

mandar pra cá os condenados, os

ladrões e as prostitutas. A partir daí,

ficou fácil justificar todo e qualquer ato

de corrupção perpetrado no país. Nas

pequenas falcatruas do dia a dia — furar

fila, surrupiar pequenos objetos, pagar

propina —, a corrupção parece que veio

para ficar. É endêmica entre nós.

O certo é que a corrupção no Brasil

afeta diretamente o bem estar de todos

os cidadãos, quando diminui os investi-

mentos públicos nas diversas áreas de

direitos essenciais à vida. Na saúde, na

educação ou na segurança, os escânda-

los na política, talvez a face mais dura da

corrupção, deixaram de ser novidade

para a população.

“Um dos principais problemas que

dificultam o combate à corrupção é a

impunidade ainda vigente no país”, ava-

lia o bancário Alan Flaviano dos Santos,

26. Em sua opinião, “a justiça é morosa,

e aqueles que desviam milhões e podem

pagar bons advogados dificilmente pas-

sam muito tempo em cadeia, ou nem

mesmo são punidos”.

eNDÊmICA

A corrupção hoje é tratada quase

como um problema endêmico. Endemia

essa que veio da formação da cultura

crescente da nova nação, desde o impé-

CORRUpÇãO

Junho 2013

mais se combate a corrupção do Brasil”,

afirma a professora.

sebastião Helvécio, Vice-Presidente do Tribunal

de Contas de minas Gerais

Foto

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ur

a s

enr

a

João Vitor Xavier, deputado estadual e

jornalista da Rádio Itatiaia

Page 9: Jornal lince junho 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 9Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 9

IDEOLOGIA

A história da corrupção,

como um todo, está ligada inti-

mamente com a figura humana.

“Independente do pensamento

ideológico, você precisa ter um

controle estatal para minimizar

ao máximo essa ideia de cor-

rupção”, disse Sebastião Helvé-

cio, Vice-Presidente do Tribu-

nal de Contas de Minas Gerais.

De acordo com Sebastião Hel-

vécio, todo poder corrompe:

– Eu acredito que qualquer

s o c i e d a d e , e m q u a l q u e r

momento, é preciso ter meca-

nismos para poder fazer o con-

trole do poder. E quando eu falo

controle do poder, é realmente

no sentido mais extenso da

palavra. De modo que eu diria

que mais do que uma figura

endêmica, acho que essa ques-

tão da corrupção é uma figura

própria da natureza humana.

Helvécio ainda afirma que

não só o governo, mas a socie-

dade brasileira tem melhorado

ao longo dos anos. E em síntese,

que o governo brasileiro tem

refletido esse sentimento da

sociedade de aprovar regula-

mentações mais rígidas. “Hoje

os órgãos de controle têm

melhorado muito essa percep-

ção. Podemos observar pela

imprensa, não só os Tribunais

de Contas, como a Polícia Fede-

ral, a Polícia Civil e todos os

órgãos que têm essa missão de

fazer o controle, também têm a

oportunidade de atuar em

tempo real, com ações preventi-

vas. Mas é um grande caminho

a percorrer”, declarou.

REPÚDIO

RETRATO

“Apesar de tratada como um pro-

blema crescente no país, podemos anali-

sar que talvez hoje as pessoas vejam a

corrupção muito mais exposta, o que é

um fator positivo para a sociedade”,

explica Ana Lúcia. O deputado estadual e

jornalista João Vitor Xavier diz que “não

devemos nos iludir: havia atos corruptos

há 40, 50 ou 80 anos; talvez aconteces-

sem coisas piores”.

— Não acho que a corrupção hoje

seja pior do que no passado, eu acho que

hoje ela é mais “mostrada” do que foi no

passado; e este é o caminho para com-

batê-la. Eu prefiro pensar que a corrup-

ção fez parte da cultura brasileira, e

cada vez menos as pessoas a toleram.

Segundo o deputado, cada vez mais a

sociedade se rebela contra a corrupção.

“Se cultura é aquilo que é cultivado,

então se muda a cultura”, propõe.

Xavier afirma sentir que o Brasil está

mudando essa cultura.

— Sinto o Brasil fazendo um movi-

mento muito forte de repúdio a essa cul-

tura; acho que a corrupção faz parte ape-

nas de uma parcela de brasileiros, mas

que é cada vez maior a parcela que está

contra seus atos.

De acordo com o deputado, o Ministé-

rio Público, os órgãos de comunicação e as

casas parlamentares, por mais que não

sejam reconhecidos, têm uma ação muito

forte contra a corrupção. “Eu vejo o Brasil

passar por um momento como nunca na

história do país, no que diz respeito ao

combate à corrupção”, afirma. Mas, ape-

sar de toda a movimentação e manifesta-

ção da sociedade, o problema está longe

de uma solução. Para se ter uma política

menos corrupta, é necessário investir em

uma sociedade menos corrupta, o que

engloba uma parcela da grande maioria de

brasileiros que se deixam levar por peque-

nos atos de corrupção no cotidiano. “A

primeira coisa que tem que fazer é acabar

com a imunidade parlamentar”, propõe

Fausto Medina da Silva, 22, estudante de

informática, para quem as leis brasileiras

são muito desiguais.

— Por exemplo, eles ficam por aí con-

denando a impunidade dos menores de 18

anos, mas ninguém condena a impuni-

dade dos políticos.

“ Ladrão que rouba ladrão tem mil anos

de perdão”. Com base neste ditado popular,

e, de acordo com uma pesquisa feita pela

UFMG (Universidade Federal de Minas

Gerais) e o Instituto Vox Populi, parte da

população afirma que pequenos atos ilícitos

cometidos no dia a dia não são considerados

corrupção, mas — pasmem! — legítima

defesa. Quase um em cada quatro brasilei-

ros (23%) afirma que dar dinheiro a um

guarda para evitar uma multa não chega a

ser um ato corrupto. Segundo a pesquisa,

35% dos entrevistados dizem que algumas

coisas podem ser “um pouco erradas, mas

não corruptas”. Entre elas, sonegar impos-

tos quando a taxa é cara demais. As informa-

ções são da BBC Brasil.

“Muitas pessoas não enxergam o desvio

privado como corrupção, só levam em conta

a corrupção no ambiente público”, cita o

promotor de Justiça Jairo Cruz Moreira, que

também é coordenador nacional da campa-

nha do Ministério Público “O que você tem

a ver com a corrupção”, que tem como obje-

tivo conscientizar e incentivar a honesti-

dade para a sociedade.

Por sua vez, o jornalista João Perdigão

afirma que o famoso “jeitinho brasileiro” “já

calhou de ter um lado positivo, e hoje corre

mais para o negativo: o brasileiro prefere não

ver o erro mesmo; aqui todo mundo tem,

teve ou quer ter um rabo preso com qual-

quer corrupto, no intuito de levar alguma

vantagem financeira. O brasileiro prefere

lutar pelo futebol, no máximo pelo seu time,

ao contrário dos nossos vizinhos argentinos,

que são mais engajados politicamente”.

Mas, de acordo ainda com a pesquisa,

dados positivos mostram que 84% dos ouvi-

dos afirmaram que, em qualquer situação,

existe sempre a chance de a pessoa ser

honesta. Especialistas concordam que a

corrupção do cotidiano acaba sendo ali-

mentada pela corrupção política.

vas. Mas é um grande caminho

a percorrer”, declarou.

Page 10: Jornal lince junho 2013

10 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013

MEMÓRiA

E POR FALAR EM

Em tempos em que se acredita que a poesia morreu, a obra de Vinicius permanece como um refúgio seguro para quem acredita no amor, no sorriso e na flor.

SAUDADE...CAmILA VAsseuR e BáRBARA GONTIJO

3°periodo

Chega de saudade. Vinicius de Moraes

continua um dos poetas mais importantes

da literatura brasileira. Visto como um poeta

essencialmente lírico, algumas vezes criti-

cado por isso, construiu uma belíssima obra

poética, que transcende o universo da lite-

ratura e dá uma nova face à música popular

brasileira — e em especial à Bossa Nova.

Vinicius, que foi diplomata e trabalhou

na UNESCO, era um amante das viagens,

do uísque e, mais que tudo, das mulheres

— casou-se nove vezes e viveu intensa-

mente cada casamento (“Que não seja

eterno, posto que é chama, mas que seja

infinito enquanto dure”). Vinicius eterni-

zou-se não somente por suas principais

obras musicais, como a letra de “Garota de

Ipanema”, uma das canções mais gravadas

em todos os tempos, mas pelo conjunto de

sua obra.

— As obras de Vinicius representam o

que ele é, um dos melhores escritores, sem

dúvidas! Sua leveza na escrita é inigualável.

Vinicius tocou muitos com seus sucessos,

ele é um mestre da literatura brasileira —

afirma Ana Cristina Duarte, 35, bacharel

em Letras.

Grande parte da obra de Vinicius, prin-

cipalmente a partir da década de 1960, é

dedicada a seu trabalho como compositor.

De acordo com Malluh Praxedes, jornalista

e poeta, o autor provavelmente foi um dos

únicos que realmente tiveram sucesso ao

criar letras de músicas que fossem verdadei-

ramente poéticas.

— Você lê e sente a poesia pura; não

falta nada, não sobra nada. Acredito que

Vinicius passou para a eternidade pela ter-

nura de seus sentimentos.

Foto: bárbara GontiJo

Page 11: Jornal lince junho 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 11

POesIA muLHeR

Em seu centenário, Vinicius é lem-

brado também pela forma como retratou

as mulheres, por quem sempre foi tão

apaixonado. A forma como o poeta des-

crevia a beleza das mulheres é român-

tica e realista. E contraria o ideal de

beleza estipulado pelos dias de hoje.

Apesar de o primeiro trecho de seu

poema ‘’Receita de Mulher’’ — “As feias

que me perdoem, mas a beleza é funda-

mental” — surgir como um depoimento

radical em favor da beleza, o poeta, na

verdade se refere a uma beleza sem

“máscaras’’. Leia-se, por exemplo, sua

opinião no trecho “Que haja uma hipó-

tese de barriguinha’’.

“A mulher por si só já representa a

beleza de ser mulher, a graça e esplen-

dor que só ela tem”, avalia a artista plás-

tica Pollyana Reyes, para quem Vinicius

foi o poeta que via a mulher como um ser

eternamente apaixonado.

— Em “Serenata do Adeus”, uma de

suas letras mais bonitas, ele mostra isso:

“por isso, meu amor, não tenha medo de

sofrer, que todos os caminhos me enca-

minham pra você”.

BAGAGem De VIDA

A forma como as mulheres são

retratadas na obra de Vinicius, normal-

mente demonstra que carregam uma

“bagagem” de vida. Elas são seres reais,

verdadeiros, que já sofreram. “A mulher

tem que ter qualquer coisa de triste”,

dizia o poetinha no “Samba da Bênção”,

onde lembrava que ela também tem que

ter “as mãos cheias de perdão”.

“Diferentemente das mulheres retrata-

das pela mídia hoje”, avalia Pollyana, que

destaca mais um trecho de uma de suas

letras favoritas: “E os seus olhos, eles têm

que ser só dos meus olhos; seus braços o

meu ninho, no silêncio de depois; e você

tem que ser a estrela derradeira, minha

amiga e companheira no infinito de nós

dois” (“A Minha Namorada” – Vinicius/Car-

los Lyra).

ReCeITA De POeTA

Admirador do poeta, Gustavo Cotta,

55, administrador, afirma que a mulher

retratada por Vinicius é a mulher ideal.

“A mulher de Vinicius é simplesmente

mulher, sem ‘máscaras’ apenas, sem

mais. Para mim, a mulher tem que ser

exatamente assim, bonita e natural por

si só’’. Outro admirador, Hélio Couti-

nho, 36, fotógrafo, lembra mais um

texto, desta feita, em parceria com Ary

Barroso (“Rancho das Namoradas”):

— Hoje ninguém mais compõe ver-

sos assim: “E, no entanto, maior, bem

maior que a do céu, bem maior que a do

mar, maior que toda a natureza, é a

beleza que tem a mulher namorada (...)

Em seus seios, pudores renascem das

dores de antigos amores que vieram,

mas não eram o amor que se espera, o

amor primavera; são tantos seus encan-

tos, que para os comparar, nem mesmo a

beleza que têm as auroras no mar”.

A eTeRNA GAROTA

Os passos de uma mulher, em sua

caminhada para a praia, inspiraram

uma das músicas mais famosas do

mundo, ‘’Garota de Ipanema’’, que pode

ser, sem sombra de dúvida, uma das

representações mais fortes da mulher

brasileira. Tanto que, questionada sobre

sua obra favorita, Malluh Praxedes, se

recorda logo de ‘’Garota de Ipanema’’.

— É uma das mais belas canções,

pois dá uma dimensão única à mulher,

com graça e até certa diversão. O jeito de

cantar uma mulher foi realmente inova-

dor. É delicioso cantar junto: Ah! Se ela

soubesse que quando ela passa, o

mundo inteirinho se enche de graça e

fica mais lindo por causa do amor’’.

FINO eROTIsmO

Se os poetas contemporâneos de

Vinicius representaram um romantismo

mais reservado, hoje em dia ele é tão

liberal, que pode se aproximar do ero-

tismo. Hoje, os poetas têm mais liber-

dade para acrescentar esses “ingredien-

tes” a seus textos. Vinicius, como poeta

lírico, escreveu canções cheias de

romantismo e com uma leveza sem

igual. “Hoje, nos deparamos com pou-

quíssimo uso de poesia aos moldes de

Vinicius; a vida foi ganhando novos ares

e muitas vezes a música ‘sofreu’ uma

depreciação”, pondera Malluh.

Infelizmente, a sensualidade retra-

tada em algumas canções, hoje, foi

influenciada pela vulgaridade e, muitas

vezes, por um erotismo exagerado, em

nome da liberdade de expressão. Assim

como retrata Malluh, a “liberdade está

ligada à alegria de viver, de se sentir, mas

tem que ser com carinho e respeito, como

devemos tratar a pessoa amada — Aí está

a mágica de Vinicius de Moraes; Ele,

como já disseram, era plural”. Mais que

isso, Vinicius era o verdadeiro poeta do

amor, do “amor que eu tanto procurei; Ah,

quem me dera eu pudesse ser a sua prima-

vera e depois morrer”.

Page 12: Jornal lince junho 2013

12 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013

COnSUMO

bEbIDA DE

LUXO!

mercado das cervejas artesanais cresce cerca de 20% ao ano, atraindo cada vez mais novos admiradores

ARmANDO GIAQuINTO

3º período

A cerveja é a segunda bebida mais consumida no mundo, e está presente em nossas vidas

desde a antiguidade. Os primeiros registros de sua existência situam-se na Mesopotâmia, antiga

Suméria, por volta de 4.000 anos A.C . A primeira regulamentação do comércio de cerveja ocor-

reu em torno de 1.750 A.C, e, mais tarde, acrescentou-se à sua composição o lúpulo, ingrediente

que a tornou uma bebida nos padrões atuais de consumo.

A famosa loura gelada é um produto de longa tradição também no Brasil. Porém, sua

ascensão foi vagarosa, pois no início do século XIX, o vinho e a cachaça eram preferidos pela

população. Mesmo assim, nessa época, a cerveja já era comercializada, apesar de que seu con-

sumo ainda não era generalizado. Com o passar do tempo, a demanda aumentou e, em 1836,

surgiu a primeira notícia de sua fabricação no Brasil, e desde então, tornou-se paixão nacional.

Foto

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aFa

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illipe

Page 13: Jornal lince junho 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 13

ARTESANAL VS INDUSTRIALIZADA

Segundo Falcone, o lema

“beber menos, mas beber melhor”,

traduz intensamente a diferença

entre as bebidas. Ele afirma que a

cerveja artesanal não está ligada

somente ao fato de beber, mas tam-

bém ao gourmet. “A qualidade é

bem maior, e quem busca degustar

uma cerveja especial não quer

ficar bêbado, mas sim sentir seu

verdadeiro sabor e também a quali-

dade diferenciada”, diz.

De fato, as cervejas artesanais

possuem um valor de comercializa-

ção mais alto do que as industriais,

mas, para Marco Falcone, isso não é

nenhum obstáculo. “O fato de ser

mais caro acaba gerando certo des-

conforto em algumas pessoas, mas

quem bebe uma cerveja especial,

estará consumindo um produto de

altíssima qualidade e também

muito mais saboroso”, afirma.

A jornalista Emiliana Bicalho

ganhou de presente uma garrafa da

Falke e afirma que gostou, mas não

abre mão das industrializadas.

“Gosto da pilsen, que não é tão

encorpada, mas acho que, no

inverno dá pra variar beber outro

tipo de cerveja, porque não é todo

mundo que gosta de vinho”. Certa-

mente, seja ela artesanal ou indus-

trializada, conhecida como louri-

nha, gelada, breja, cerva ou tchela, a

cerveja sempre terá lugar especial

no paladar dos brasileiros.

QUALIDADE ESPECIAL

SAUDÁVEL E SABOROSA

Atualmente, existem várias micro-

cervejarias espalhadas em nosso país, e

uma das mais reconhecidas e refinadas

está localizada em Minas Gerais. Fun-

dada em 2004, a Falke Bier é uma cerve-

jaria familiar, que tem como objetivo

produzir cervejas artesanais com quali-

dade, história e personal idade. A

empresa nasceu da iniciativa dos irmãos

Marco Antonio, Juliana e Ronaldo Fal-

cone, que abandonaram suas atividades

e investiram em um projeto que buscava

qualidade de vida. “O nosso objetivo era

produzir a cerveja de maneira que ela se

tornasse uma paixão, e não somente um

produto”, ressalta Marco Falcone.

A Falke Bier possui cervejas mais do

que especiais. A Monasterium e a Vivre

pour Vivre, bebidas da marca, são famosas

não só pelo sabor, mas também pela

maneira de preparo. A Monasterium, por

exemplo, é vencedora do prêmio Award

2008 como produto inovador, e leva até

seis meses para ficar pronta. “O processo é

bem meticuloso. Ela é refermentada na

garrada e maturada em uma adega subter-

rânea climatizada, acústica e ao som do

canto gregoriano”, explica Falcone.

Já a Vivre pour Vivre, é feita com uma

fruta brasileira, a jabuticaba. Marco Fal-

cone afirma que ela é a única cerveja no

mundo que leva três anos para chegar à

mesa do consumidor. Por isso, são produ-

zidas apenas 600 garrafas por ano. “Eu

queria fazer uma cerveja com a cara do

Brasil, e ao mesmo tempo inédita. Então,

utilizei a jabuticaba como ingrediente.

Ficou fantástico!”, afirma.

Wellington Rodrigues, 43, biólogo,

é um grande admirador da cerveja

Falke, e sempre que pode, vai com os

amigos degustar a bebida que, segundo

ele, é especial. “Ela é diferenciada.

Resgata valores, sabores e aromas que

não são encontrados em outras marcas,

devido ao processo de industrialização

das mesmas. Por sua fabricação ser à

base de produtos naturais e sem a adi-

ção de conservantes, a Falke produz

cervejas especiais e saudáveis, ricas em

vitaminas do complexo B”, relata

Wellington.

Mas, Fabrício Mendes, 25, universi-

tário, reclama dos preços das bebidas da

marca, que, segundo ele, podem chegar

a incríveis R$ 200 por garrafa. “Eu

adoro beber as cervejas da Falke, mas,

infelizmente, não é sempre que posso

comprar, pois, por serem artesanais e

terem um processo especial de prepara-

ção, o preço acaba aumentando”,

lamenta o rapaz.

Page 14: Jornal lince junho 2013

14 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013

Religião

MUNDIAL DA JUvENtUDE“Ide e fazei discípulos entre todas as nações” — Quatro mil jovens mineiros deverão participar desse evento, em julho.

JORNADA

PÂmeLA mATOs

3º período

A Jornada Mundial da Juventude é

o maior evento católico com jovens do

mundo. O entusiasmo e o caráter juvenil

se revelam por meio da oração, dança,

música e outras manifestações artísti-

cas. Este ano, o evento tem um toque

bem mais especial para os brasileiros,

afinal, a cidade do Rio de Janeiro sediará

sua 38ª edição. É uma festa de alegria,

realizada de 23 a 28 de julho, com o lema

“Ide e fazei discípulos entre todas as

nações” (Mt 28, 19), escolhido pelo

Papa Bento XVI.

É a primeira vez que o Brasil sedia o

evento. E merecidamente, pois ainda

somos a maior nação católica do mundo,

com 123 milhões de pessoas seguindo os

ensinamentos de Pedro, sendo o Rio

Grande do Sul o Estado com maior

número de católicos. Para a Arquidio-

cese de Minas Gerais, “sediar o evento

significa mostrar para o mundo a força

da fé e da comunhão cristã católica do

nosso país”.

sHeilla Cristina

Jovens se preparam

para a JmJ 2013

Page 15: Jornal lince junho 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 15

A HIsTÓRIA DA JORNADA

O evento religioso foi criado pelo Papa

João Paulo II, em 1985, mesmo ano que foi

declarado Ano Internacional da Juventude

pelas Nações Unidas. E desde então a Jor-

nada é celebrada, a cada dois anos, numa

cidade escolhida pelo Papa. Para João Paulo

II, criador do evento, “a esperança de um

mundo melhor está numa juventude sadia,

com valores, responsável e, acima de tudo,

voltada para Deus e para o próximo”.

Para cada edição, o Papa sugere um

tema, sendo esse ano um versículo do Evan-

gelho de Mateus: “Ide, pois, fazer discípulos

entre todas as nações!”. Bento XVI escolheu

este trecho logo após a última edição da Jor-

nada, em Madrid, e convocou os jovens: “A

Jornada Mundial da Juventude em Madrid

renovou nos jovens o chamado a serem o

fermento que faz a massa crescer, levando

ao mundo a esperança que nasce da fé. Sede

generosos ao dar um testemunho de vida

cristã, especialmente em vista da próxima

Jornada no Rio de Janeiro”.

Para o Padre Geraldo Dondici Viera,

essa escolha remete a um sonho antigo da

Igreja Católica, “de que o contato com o

Senhor, a amizade com Ele, desperte o que

cada um tem de melhor em si mesmo”.

— Vivemos em um mundo onde há

muitos desperdícios, perdas humanas, por

falta de chance. O convívio com o Senhor

desperta em nós o que temos de melhor. O

anúncio ‘Ide e fazei discípulos entre todas as

nações’ é para a vida toda. Em nenhum

momento podemos fazer um intervalo dele,

porque ele supõe que aquele que é amigo do

Senhor, pela sua vida, pelo seu estar no

mundo, comunique aos outros a luz, a

beleza e a alegria de ser discípulo do Senhor.

Essa é a missão que a nossa Igreja precisa.

(Fonte: www.rio2013.com).

Durante as JMJ, acontecem eventos

como catequeses, adorações, missas,

momentos de oração, palestras, partilhas e

shows. Tudo isso em diversas línguas. Em

sua última edição, em Madrid, em 2011,

reuniu cerca de três milhões de jovens.

Esse ano estima-se que o número cresça e

a organização espera no mínimo, quatro

milhões de jovens no Rio, sendo cerca de

quatro mil mineiros.

FÉ e CONFIANÇA

Uma cena rara hoje em dia é uma

Igreja lotada de jovens. E os questiona-

mentos quanto ao porquê isso ocorre não

conseguem chegar a um consenso, tanto

que o assunto virou tema de livro. David

Kinnaman e Aly Hawkins escreveram

“You Lost Me: Why Young Christians are

Leaving the Church… and Rethinking

Faith”, que em português é “Fui! - Por que

jovens cristãos estão abandonando a

Igreja... e repensando a fé”. Para eles, a

faixa etária dos vinte anos é a de menos

compromisso cristão, independente-

mente da experiência religiosa vivida.

— O principal problema é o da relação

com a Igreja. Não necessariamente os

jovens perdem a fé em Cristo; o que eles

abandonam é a participação institucional.

Para Gustavo Caetano, 28, analista de

sistemas e cristão atuante na Paróquia

Nossa Senhora da Conceição, outro agra-

vante é a falta de confiança das lideranças

da Igreja nos jovens, já rotulados de brinca-

lhões e baderneiros. “A falta de confiança

realmente é um problema que a Igreja pre-

cisa corrigir”, afirma Gustavo. Para ele, os

fatores que levam as pessoas a terem esse

tipo de preconceito são determinados por

quesitos pré-estabelecidos e julgados.

— Um jovem em formação não tem

uma vida estável. Quando você dá um cargo

de responsabilidade a ele e logo em seguida

ele tem que renunciar, devido a questões de

emprego, estudo ou outro fator, faz com que

os mais velhos continuem à frente e resis-

tentes à renovação da chefia.

Porém, ele chama a atenção para a

vontade de muitos jovens em fazer a dife-

rença, criando grupos e se envolvendo em

projetos, como o Dia Nacional da Juven-

tude, celebrado todo mês de outubro em

uma cidade mineira.

O jovem Thales Camilo passou 19 anos

da sua vida sem possuir algum tipo de fé ou

crença. Para ele, “chega um ponto em que

não é possível existir sem ter a paz de saber

que tem alguém conosco todo o tempo e a

minha luz no fim do túnel foi Jesus”. Mas

afirma que acha muito vaga e deficiente à

maneira como as comunidades têm tentado

buscar mais jovens para o convívio e desco-

brimento de sua fé.

— Se houvesse pessoas mais compro-

missadas em propagar a palavra de Deus, a

mocidade cristã seria muito maior. E, evi-

dentemente, com esse estouro das redes

sociais, a fácil propagação de notícias pela

internet sobre os escândalos envolvendo os

“cabeças“ da comunidade cristã no Brasil

(e fora dele) está deteriorando esse anseio

dos jovens.

Mas, apesar de os índices apontarem

uma queda significativa no número de

jovens frequentando ou participando de

algum evento em suas comunidades, a

Arquidiocese de Belo Horizonte afirma que

isso não acontece aqui. Os jovens, cada um

à sua maneira, têm estado cada vez mais

presentes na vida da Igreja. Segundo a

Arquidiocese, são muitos os jovens que se

envolvem com o trabalho missionário, que

participam de grupos nas paróquias e que

trabalham efetivamente na vida de suas

comunidades.

Fiquem atentos à PROGRAmAÇÃO

Em BH, a preparação para a Jor-

nada começa no dia 15 de julho, uma

semana antes do início das atividades no

Rio de Janeiro, com a Semana Missioná-

ria. Nela, os jovens peregrinos terão a

possibilidade de conhecer a nossa vivên-

cia cristã, nosso trabalho social, cultu-

ral, trocar experiências e enriquecer a

fé. Com uma programação envolvendo

várias atividades, como momentos cele-

brativos e catequéticos nas paróquias,

atividades missionárias e de ação social,

eventos culturais, momentos de parti-

lha e vida comum, estima-se que quase

mil jovens participem desse primeiro

encontro em Minas.

Segundo a Arquidiocese da capital,

“todo o apoio é feito pelas comissões

organizadoras e, a cada 15 dias, é reali-

zado um encontro de formação para os

jovens e as famílias. Os próprios jovens,

com o apoio das paróquias, estão articu-

lando o transporte, hospedagem e reali-

zando eventos para arrecadar recursos

para custear a viagem”. Quem se inte-

ressar, pode procurar a paróquia mais

perto de sua casa e se informar sobre os

projetos envolvendo a Jornada ou se ins-

crever no site www.rio2013.com.

Page 16: Jornal lince junho 2013

16 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013

COTiDiAnO

BRuNO meNezes

7º período

Acordei atrasado. Maldito seja o

indivíduo que inventou a função soneca

para celular. Sempre me faz atrasar. Em

tese, chego ao estágio todos os dias às

8h. Para isso, eu teria que pegar o ônibus

das 7h05, mas hoje não teve jeito, só

consegui o das 7h25. O trânsito é

intenso durante todas as manhãs em

Belo Horizonte. Essa, em especial, era

pior – manhã de sexta-feira é sempre

complicada. Não há um dia em que meu

ônibus não pegue um engarrafamento

na Avenida Pedro II. E a gente sempre

fica pensando – Imagina na copa!

Passando pela área central da

cidade, já na Avenida Augusto de Lima,

próximo ao edifício Maletta, um senhor

de sapatos engraxados, cabelos brancos,

camisa polo amarela e um envelope na

mão entra no ônibus. Ele senta-se na

parte da frente, próximo ao trocador.

Parece que ele pega o mesmo ônibus

todos os dias, afinal, o motorista assim

que o viu já gritou: grande seu Agenor!

71 anos, 5 meses e 10 dias, assim o seu

Agenor orgulhava-se em dizer sua idade.

Em conversa com o motorista do ônibus da

linha 64, ele se gabava de seus feitos. Pai de

quatro filhos e casado há 46 anos, seu Age-

nor esbanja vitalidade e acredita que casar

é a melhor coisa do mundo. “Eu me casei

em 1967, até hoje estou com a mesma

mulher. Casar é bom demais, difícil é con-

tinuar casado”, disse ele já aos risos.

Eu tentava ouvir a conversa dos

dois, mas sempre de olho no relógio. A

previsão era de que eu chegaria 30

minutos atrasado no estágio, isso sendo

otimista. Entretanto, eu estava atento à

boa história de seu Agenor.

– Trabalho em uma construtora que

fica ali na Gonçalves Dias com Olegário

Maciel. Passaremos perto dela, você vai

ver. Comecei a trabalhar lá tem pouco

tempo, comentou.

– Ah é? Tem pouco tempo? Perguntou

o motorista.

– Tem sim, são só 49 anos. Trabalho lá

desde o dia 1º de fevereiro de 1964 – Mais

uma vez ele terminou sua frase aos risos.

O motorista ficou impressionado com

a lucidez de seu Agenor e a vontade de

ainda fazer questão de exercer uma profis-

são. Um verdadeiro apaixonado pelo que

faz, eu diria. Tanto que ele contou, orgu-

lhosamente, que a empresa em que ele

trabalha, construiu a primeira trincheira

na Pampulha.

Na mesma sexta-feira e na mesma

linha de ônibus, porém na ida para casa,

conheci Zuleide, a piriguete da favela

Sumaré. De chinelo roxo, shortinho aper-

tado e uma blusa que deixava a mostra seu

piercing no umbigo, a morena entrou no

ônibus. Estava acompanhada de mais

duas pessoas, um homem e uma mulher.

Já passava das 15h e o calor naquela tarde

estava insuportável.

O trio entrou no ônibus gritando

que não iria pagar a passagem. Eles

pulariam a roleta da forma que eles

mesmo descreveram: “na cara dura”.

Zuleide liderando o grupo, perguntou

aos companheiros se ela teria que ser a

primeira a pular. Os olhos assustados

dos outros passageiros se sobressalta-

ram, todos ficaram apreensivos fitando a

moça. Felizmente tudo não passou de

uma brincadeira. Ela tirou o cartão do

banco e o cartão Bhbus da bolsa e ainda

brincou com a trocadora “vocês não

aceitam cartão de crédito?”.

Assim o gelo foi quebrado, o clima

melhorou e tranquilamente eles passa-

ram pela roleta.

Felizmente só para a trocadora, não

bastasse o ônibus estar cheio eles ficaram

parados nos degraus da porta do meio, atra-

palhando o desembarque dos passageiros.

Meu ponto estava se aproximando, me posi-

cionei perto da porta, atrás do trio, na espe-

rança que eles desconfiassem da minha

intenção de descer. Incomodado, o rapaz

começou a falar:

- Deixa eu sair daqui né!? Esse cara

aqui atrás de mim não tá dando certo.

Zuleide, a grande figura da favela

Sumaré, não podia perder essa:

- Nossa, eu adoro! Se ele quiser ficar

atrás de mim pode.

- Olha ai! Viu o que ela falou para você?

– Disse o rapaz dirigindo-se a mim.

Dei um sorriso e acenei com a

cabeça que sim.

Meu ponto chegou, hora de descer.

Com dificuldade, fui passando pelos

obstáculos, ou melhor, por eles. Já com

meus pés na rua, Zuleide gritou de den-

tro do ônibus: “Ô moço! Eu tava brin-

cando, viu?!” Deu uma gargalhada e

completou. “Mas se quiser levar a brin-

cadeira a sério, também pode!”.

Não aguentei segurar a risada e mandei

um tchau para ela enquanto o ônibus partia.

Definitivamente o transporte coletivo é uma

fonte de boas histórias e grandes figuras que

mereciam ser estudadas. Do seu Agenor à

Zuleide. De A a Z. Depois disso? Fui para o

bar, ora essa. Era sexta-feira e também

sou filho de Deus.

CRôNICAS DO ôNIbUS:

DE A A Z“O transporte coletivo é uma fonte de boas histórias e grandes figuras”

Page 17: Jornal lince junho 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 17Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 17

EnTREViSTA

Lince - Como surgiu a ideia de par-

ticipar do concurso?

Alunos - O professor Paulo Iscold —

coordenador do Centro de Estudos Aero-

náuticos e professor do departamento de

Engenharia Mecânica da UFMG — foi o

primeiro a tomar conhecimento da compe-

tição. A partir daí, ele escolheu os integran-

tes da equipe para começarmos a trabalhar.

Foi uma grande surpresa para nós, e uma

satisfação enorme em participar.

Lince - Houve parceiros para a con-

clusão do projeto, que apostaram na

ideia de vocês, além da UFMG?

Alunos - Não. Uma vez que a competi-

ção exigia apenas muito esforço por parte das

equipes. O principal apoio veio do professor

Paulo Iscold. Se tem alguém que merece

méritos pelo projeto, com certeza é ele.

Lince - Conte-nos um pouco como

foi a premiação feita pela empresa de

motores aeronáuticos Price-Induction.

Alunos - Uma banca de jurados

composta por especialistas da aviação

escolheu o projeto vencedor baseando-

-se em uma série de critérios que envol-

viam desde características estéticas a

dados de desempenho. Após a decisão

dos jurados, foi publicado no site da

empresa Price Induction o resultado.

Uma grande emoção para todos nós, que

nos dedicamos com tanto empenho.

Lince - Há pessoas em especial que

ajudaram na conclusão do mesmo?

Alunos - Foi um trabalho em equipe.

O professor Paulo Iscold, como havía-

mos dito antes, com certeza foi quem

mais ajudou a equipe, sempre cobrando

resultados para que atingíssemos o mais

alto nível em relação à aeronave.

Lince - Como vocês acham que essa

conquista pode intervir positivamente

na vida dos estudantes mineiros, que

vocês representam?

Alunos - Essa conquista, como tan-

tas outras, mostra aos alunos da UFMG,

e às demais instituições, que com

esforço e dedicação é possível, sim,

obter vitórias. Não somente nesse pro-

jeto, mas competições como o Aerode-

sign e o Baja (automóveis), entre outras

competições. Elas ajudam os alunos a

colocar em prática os ensinamentos

obtidos em sala de aula.

Lince - Conte-nos um pouco (tecni-

camente) como foi feito esse projeto.

Alunos - Baseado nos critérios da

competição, a equipe se utilizou de fer-

ramentas computacionais e metodolo-

gias utilizadas em outras aeronaves

desenvolvidas no CEA. Considerando a

eficiência de voo de um planador, a ergo-

nomia de um carro, a utilização dos tur-

bofans DGEN da Price Induction, as

qualidades de voo e controle e, não

menos importante, o aspecto estético da

aeronave. O projeto foi desenvolvido de

forma que o resultado final fosse a com-

binação ótima dessas características.

Lince - Quais os próximos desafios

que os aguardam? Imagino que outros

muitos convites virão.

Alunos - Atualmente iremos apresen-

tar o projeto no Paris Airshow, na França.

E já estamos engajados em outro projeto.

Junto com o auxilio do professor Paulo

Iscold, estamos realizando cálculos de

aerodinâmica, estabilidade e estruturas

da aeronave Bugatti 100P - projeto de

autoria de Scott E. Wilson. Bola pra frente

e que venham mais conquistas. Sucesso

pra todos.

ALtOJOÃO PAuLO FReITAs

3º período

Julliardy Matoso (engenharia aeroespacial), Letícia Soares (engenharia aeroespacial), Sergio Lopes (engenharia mecânica) e

Matheus Vinti (engenharia mecânica) são alunos da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Alberto Santos Dumont ficaria

orgulhoso desses garotos. O motivo? O desenvolvimento do projeto aeronave CEA 312, criado dentro do Centro de Estudos Aeronáuticos

da instituição (CEA). Eles venceram uma competição entre diversos países, realizada na França, por uma empresa local chamada

Price-Induction, uma das maiores montadoras de motores aeronáuticos do mundo. O desafio consistia em projetar um avião para quatro

tripulantes, usando duas turbinas da empresa francesa. Como prêmio, ganharam a apresentação do projeto na feira de Le Bourget, que

será realizada em Paris entre os dias 17 e 23 de junho. Confira o que os estudantes nos contaram sobre essa grande experiência.

SONHANDOLetícia,

Julliardy,

matheus e

sergio.

Autores do

projeto

campeão

Foto

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Page 18: Jornal lince junho 2013

18 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 201318 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013

DiREiTO

Fotos váGner antÔnio/ tJmG

QUEM tEM O PODER DE

Quem pode ser jurado e quais são os critérios necessários para exercer essa função nos tribunais brasileiros

JULGAR

CAmILA CHAGAs

3º período

É bem possível que os brasileiros

estejam mais acostumados à visão de

um júri popular com o que veem na

televisão. Afinal, seriados e filmes em

que as ações transcorrem em tribunais

são frequentes na programação. No

entanto, no Brasil, os júris têm papel

importante para o bom desempenho da

Justiça, sem que muita gente sequer

saiba como se escolhe um jurado.

Em última instância, o júri popular

é responsável para decidir o futuro de

um indivíduo que atentou contra sua

comunidade. Julgar alguém pelo o que

f e z s e m e s t a r p re s e n t e n a q u e l e

momento. Os jurados representam a

sociedade em crimes dolosos, de origens

diversas — homicídios, abortos ou indu-

zimento ao suicídio. Cabe ao juíz,

somente aplicar à pena.

Page 19: Jornal lince junho 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 19Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 19

Para ser um jurado, qualquer pessoa

pode se inscrever na comarca do seu Muni-

cípio. Para isso, o indivíduo precisa ser

maior de idade, morar na cidade e ter bons

antecedentes. Após as inscrições, o juiz, ao

seu próprio critério, seleciona os candida-

tos. Mas também, há indicações de sindica-

tos e repartições públicas.

A cada julgamento são selecionados 25

candidatos. Antes de cada sessão, dentre os

25, são sorteados os sete que constituirão o

conselho de sentença do Tribunal. O Minis-

tério Público e a defesa, no momento da

escolha dos jurados, podem fazer até três

recusas imotivadas, e aproveitam para sele-

cionar pessoas com o perfil que entendam

ser o mais adequado para o caso. “Em caso

de homicídio em que a vítima foi previa-

mente estuprada, por exemplo, a defesa

tentará afastar do corpo de jurados as

mulheres”, explica Dayse Mara Silveira,

Juíza Titular da 1ª Vara Criminal e da Infân-

cia e Juventude de Ponte Nova (MG).

Os jurados escolhidos não recebem

nenhuma remuneração. Mas é assegurado

ao convocado, confinamento especial até o

julgamento final, não podendo haver

nenhum desconto no salário pelo período

da sessão. Na possibilidade de o jurado ser

preso, terá direito a prisão especial. Em caso

de ausência e falta de justificativa, poderá

pagar multa de um a dez salários mínimos.

CRImes

Não há diferença entre os tipos de

crimes para seleção dos jurados. O juiz

avalia se o candidato é bem instruído;

quanto maior o grau de escolaridade,

melhor será o entendimento das ques-

tões que serão levantadas no Tribunal de

Justiça. Lembrando que não é preciso

ter conhecimentos prévios de Direito.

Inúmeras pessoas se inscrevem pela

curiosidade de saber como é um julga-

mento, principalmente pelos benefícios

que a própria lei estabelece. Geisiane

Oliveira, analista de ensino, foi convo-

cada para ser jurada em três julgamen-

tos diferentes. “Quando recebi a intima-

ção fiquei desesperada. Como vou julgar

a vida de alguém se eu não estava pre-

sente quando ocorreu o crime?”. No dia

do julgamento, a partir do momento que

os jurados entram no Tribunal de Jus-

tiça, estão proibidos de se comunicar

entre si, ou com amigos e familiares. O

celular é desligado e o almoço é servido

no próprio Fórum.

Para o estudante M. S. S., 23, que

afirma “adorar julgamentos”, as sessões

de tribunal a que compareceu até agora

(uma delas, no caso do goleiro Bruno)

foram decepcionantes. Acostumado a

ver julgamentos em “filmes de tribu-

nal”, seus favoritos, ele se diz impressio-

nado com o “número de falcatruas dos

advogados de defesa”.

— É a maior avacalhação; eles não

têm o menor respeito pelo juiz, criam a

maior confusão, atrapalham tudo. Tem

muita burocracia também, não é a mesma

emoção que a gente vê no cinema.

Foi por isso que M. “desistiu de ser

jurado” e está repensando se vai continuar

no curso de direito. “Se continuar, quero

ser promotor; advogado de defesa, nunca”.

DECEPÇÃO

Para o advogado e professor de

direito penal, do Centro Universitário

Newton Paiva, Cristian Kiefer, o Tribu-

nal no que pesa aos jurados, é “muito

mais emoção que razão”.

— Estão em jogo os dois maiores

bens do ser humano: a vida e a liberdade.

Entretanto, para aqueles que serão

jurados pela primeira vez, é uma mis-

tura de sensações. Ansiedade, insegu-

rança e vulnerabilidade. “Me senti mal

durante todo o julgamento; como uma

pessoa livre pode deixar que outras pes-

soas decidam o rumo de sua vida?” —

questiona Geisiane.

O transcorrer de um julgamento se

dá em um clima de muita emoção.

Quase sempre, júri fica cara a cara com

o réu e a família da vítima. Esta, indig-

nada, na expectativa que a justiça seja

cumprida. Por outro lado, os parentes do

acusado também ficam à espera que a

pena seja a menor possível. “Quando

recebi a intimação fiquei com medo,

porque não sabia o que a família do preso

seria capaz de fazer”, pondera a analista

de ensino.

LIBERDADE

REQUISITOS

Page 20: Jornal lince junho 2013

20 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013

MÚSiCA

bAtIDA PERFEItAMesmo quando fica à margem do mercado, a música independente cria várias vertentes dentro da atual cultura brasileira

EM bUSCA DA

RAYzA KAmKe

3º período

Os primeiros registros da música

independente são datados na década de

1950, quando pequenas gravadoras nas-

ciam nos Estados Unidos. A cultura

libertária teve ênfase nos anos de 1960 e

1970, quando o movimento punk deu

notoriedade e disseminou cultural-

mente, não só a música, mas toda uma

forma de se comportar e de viver. Desde

então, a cultura do independente vem

crescendo e tomando espaço, inclusive

no Brasil.

Mas, o que é música independente?

Como definição básica, entende-se que

música independente é aquela que não

está vinculada a grandes gravadoras,

quando o intérprete tenha controle

sobre a elaboração e realização do

trabalho em todas as suas etapas. Pouca

gente tem conhecimento da verdadeira

realidade do trabalho árduo praticado

pelo artista, que na maioria das vezes, é

movido só pela paixão, resistindo às difi-

culdades existentes.

Fotos laura senra

Page 21: Jornal lince junho 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 21

INCeNTIVOs

Mesmo com o crescimento, o artista

independente ainda sofre com a falta de

incentivo e estrutura. Em Minas, os mais

procurados atualmente são Vander Lee,

Laiza Morais, Cobra Coral, Sérgio Pererê...

“São alguns dos mais pedidos; é imensa a

variedade de nomes que se sobressaem

hoje, incluindo a moda de viola, que tam-

bém é sempre procurada por aqui”, conta

Carlos Andrade, da loja Discoplay, que tra-

balha no ramo musical há 17 anos, e diz ter

acompanhado grandes artistas mineiros

que nasceram do independente e cresce-

rem internacionalmente.

Carlos diz ainda que é constante a che-

gada de novos artistas para batalhar entre o

meio, mas reconhece que o que falta de

ajuda chega a ser desestimulante.

— Faltam incentivos; o artista tem todo

o trabalho, desde a produção até comerciali-

zação. Ele grava, trabalha na arte, traz os

CDs debaixo do braço para distribuição, e

muitas vezes não recebe o reconhecimento

que merece.

Carlos explica que, na maioria das

vezes, o próprio artista, ou o produtor,

trazem o trabalho até a loja, que é comprado

por remessa pelo distribuidor. Se o trabalho

for bem recebido, entram em contato e

solicitam mais para a comercialização.

DIFICuLDADes

Dentro do contexto independente, os

artistas se deparam com grandes dificulda-

des para mostrar ao público o seu trabalho.

No Brasil, foi criada a Lei do Incentivo a

Cultura, instrumento de apoio às iniciati-

vas culturais. O projeto consiste em permi-

tir que as contribuições de pessoas jurídi-

cas aos projetos culturais sejam deduzidas

do imposto estadual devido pelas empre-

sas. Mecanismo esse, que se torna falho e

mantém um desequilíbrio contínuo por

não conseguir atender a uma grande parte

dos artistas.

Elianne Noronha, empresária da

banda feminina Tamba Tajá, criada em

1998, conta sobre a sua preocupação com o

direcionamento da música independente

dentro do cenário brasileiro. “Nosso traba-

lho não é divulgado em rádios; somente os

das grandes gravadoras. As bandas inde-

pendentes conseguem aprovar projetos

nas Leis de Incentivo, mas a grande maio-

ria destes projetos não se concretiza pela

falta de apoio do empresariado. Então, às

vezes, me pergunto: até onde o gostar, o

prazer, e a alegria de levar musica boa às

pessoas vai nos motivar?”. Apesar dos pesa-

res, mesmo remando contra a maré, a

banda já gravou dois CDs independentes

patrocinados pela Lei do Incentivo.

“É máGICO”

Diante das dificuldades encontradas, o

preconceito, a desvalorização e a baixa

remuneração diminuem os espaços para

apresentações, o que também leva ao tér-

mino de bandas, ou a perda de integrantes,

que deixam os grupos em busca de outras

oportunidades. Com a ascensão do hip hop

nacional, o cantor mineiro Pedro Vuks, lan-

çou seu primeiro CD em 2011, mas afirma

sofrer diante do meio fonográfico por morar

em Belo Horizonte. Vuks conta que já man-

dou seu material para divulgação de traba-

lho para vários sites e não obteve resposta.

“Só que eu não ligo; sempre busco ter um

plano B”, afirma.

Segundo Vuks, é um pouco complicado

ter que trabalhar sozinho. A gravação, arte

da capa, vendas, fechamento de shows, e

envios do material para todo o Brasil são

feitos por conta própria. “É um trabalho

integral”, teoriza.

Apesar de todo o peso do trabalho, a

recompensa chega junto com o reconheci-

mento. Vuks confessa que ainda fica sur-

preso e até encara como novidade quando

vê alguém do meio em uma grande mídia,

ou com uma música muito boa.

— Só Deus e nossas famílias sabem o

que passamos pra chegar a esse momento. É

mágico ver que estamos sendo valorizados;

eu gosto disso. Não vejo como moda. É pro-

gresso mesmo.

CONeCTADOs

A inserção da música independente

dentro do mercado atual segue um parâ-

metro de crescimento junto com a tec-

nologia da comunicação. A banda pau-

lista de rock Emmercia foi criada em

2011 e cresce nacionalmente com a

ajuda da internet e das redes sociais.

Sérgio Kamada, tecladista da banda,

que mistura efeitos eletrônicos com

rock pesado, admite que é uma respon-

sabilidade muito grande movimentar os

próprios projetos, mas a liberdade para o

marketing da banda proporciona facili-

dade para interagir com os fãs. “A tecno-

logia favorece a independência musical;

creio que 80% das pessoas que seguem a

banda vieram pelas redes sociais — por

enquanto, as principais que usamos são

o soundcloud, facebook e youtube! Pre-

tendemos expandir ainda mais nas

redes”, disse.

A tecnologia também ajuda aos artis-

tas para a produção do trabalho. Com a

criação de programas que não precisam

ser manuseados por profissionais da área.

“A produção de parte das músicas que

lançamos foi feita por mim. Produção

caseira. Graças a lançamentos de equipa-

mentos profissionais que servem para

Home Studio. Tudo com baixo custo!

Glória!”, brinca Kamada. Mesmo assim, a

banda mantém o foco de lançar um CD

gravado em estúdio, tornando o material

menos caseiro e mais profissional.

Com a facilidade de produzir, gravar e

disponibilizar o trabalho, o mercado musi-

cal se tornou repleto de variedades de ban-

das e sons. Com o avanço tecnológico, tam-

bém ficou mais fácil descobrir e acompa-

nhar bandas alternativas para quem curte

cada gênero. Hoje é mais fácil encontrar

páginas diversas e espaços exclusivos sobre

o assunto. Cinthia Xavier, 19, conta que há

muito tempo utiliza fontes disponíveis para

conhecer a música independente, de que

não abre mão. “Eu e algumas amigas sem-

pre tivemos o hábito de procurar por músi-

cas ou bandas que não são famosas, porque

algumas marcaram minha vida”, conta.

Segundo Cinthia, a qualidade e a criativi-

dade de algumas bandas são incríveis.

“Acompanhei o término de algumas bandas

de que gostava muito, por falta de chances e

desvalorização. É uma pena”.

Page 22: Jornal lince junho 2013

22 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013

Fotos orlando bento/minas e arQuivo pessoal

Esporte

JOÃO VITOR CIRILO

3º período

Lágrimas de um campeão, de um cara que ama o que faz,

e o faz muito bem. Renato Lamas, 35, ala do Icatu/Minas,

vencedor em quase todos os lugares onde passou, poderia

muito bem encarar a eliminação nas oitavas do Novo Basquete

Brasil 2012/2013 de forma natural. Nada disso. Renato não

segurou a emoção ao falar sobre a carreira e mais uma tempo-

rada difícil que passou. Como ele mesmo disse, “ser campeão

não é nada fácil”.

Durante a entrevista, dada após a derrota do Minas para o

São José, no dia 22 de abril, resultado que eliminou o time

mineiro do NBB 5, Renato, que começou no Ginástico e pas-

sou por COC/Ribeirão Preto, Paulistano, Limeira, São José e

Pinheiros antes de chegar ao Minas, colocou para fora o senti-

mento pós-eliminação que, segundo ele, é a primeira vez que

vem tão cedo. Aliás, ele jogou no sacrifício, pois sofreu uma

lesão nas costas nesta pós-temporada, outro fato que o abateu,

mas não o impediu de lutar até o fim.

ENtREvIStA:

RENAtO LAMAS

Page 23: Jornal lince junho 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 23

Esporte LINCE - De onde veio a paixão pelo

basquete?

RENATO - Eu jogava futebol, mas era

muito grande. As quadras no Olympico

(clube belo-horizontino), de futebol e bas-

quete, eram uma ao lado da outra. O técnico

era o Elmom (que hoje trabalha com jovens

em Itaúna), que lançou o Fab Melo (pivô do

Boston Celtics, da NBA), baita cara pra tra-

balhar com garotada. Ele vivia me enchendo

o saco pra jogar basquete. Num belo dia,

arrisquei. Um mês depois ele foi pro Ginás-

tico, me levou com ele, e comecei ali.

LINCE - Você falou que foi revelado no

Ginástico, é de Belo Horizonte, mas pro-

fissionalmente, nunca havia jogado aqui

ainda. Como foi receber o convite para

voltar a BH e jogar no Minas?

RENATO - Foi muito legal. Meus pais

me cobraram muito. O fato de ter um con-

vite do Minas pesa para qualquer atleta.

Baita clube, estrutura, profissionais. Só

tenho a agradecer. Talvez fosse um ano onde

esperávamos um pouco mais. Pegamos o

campeão paulista, vice nacional, adversário

muito duro. Demos esse azar. Mas foi um

ano extremamente bom pra mim, em todos

os aspectos. (Renato se emociona) Fiquei

muito magoado por sofrer essa lesão no

final. Acho que fui o único jogador a jogar

todas as partidas no campeonato e agora

acabei machucando e não pude ajudar da

melhor forma. Apesar de não ter conquis-

tado o objetivo, fui muito feliz aqui.

LINCE - Da pra ver que você está

emocionado. O amor pelo jogo te faz

seguir jogando. Por quanto tempo você

quer continuar representando, seja o

time qual for?

RENATO - Cara, eu vou fazer 35 anos

agora. Me sinto muito bem. Treino igual os

moleques. No jogo, minha disposição é igual

ou até maior que a deles. Então, vou jogar

até onde aguentar, por amor, por gostar.

Graças a Deus, o basquete me proporcionou

muita coisa. Fiz minha vida com o basquete,

meu “pé de meia”.

LINCE - Você sempre conquistou

alguma coisa em todos os lugares. Sabe

calcular quantas conquistas na carreira,

coletivamente e individualmente?

RENATO - Sem contar finais, títulos

importantes são dez, incluindo seleção bra-

sileira e equipes. Entre os individuais, MVP

do Brasileiro em 2003, do Paulista várias

vezes... Esses prêmios que eles dão aí de

seleção do campeonato, que eu acho uma

babosada, eu quero é ganhar! Minha mãe é

que guarda recorte. Vou perguntar pra ela

depois e te mando um email (risos).

LINCE - Em algum momento da car-

reira, talvez lá no início, você repensou se

queria seguir jogando profissional-

mente?

RENATO - Sempre quis. Comecei a

jogar basquete com 11 anos. Aos 13, já ia pra

seleção mineira. Com 14, fui pra brasileira,

e saí de BH. Você pega um amor cedo e vê

que tem condição de virar jogador. Tentei

estudar ao longo da carreira, mas não conse-

gui terminar, porque é impossível. Era o que

eu queria mesmo desde moleque.

LINCE - Você se vê plenamente satis-

feito com o que alcançou ao longo da car-

reira ou vê que poderia ter conquistado

algo mais?

RENATO - Tudo o que conquistei eu me

orgulho muito. Você conquistar um título é

muito difícil. Tem jogadores excepcionais,

que passam a carreira sem ganhar nada.

Sou muito privilegiado, porque vou termi-

nar a carreira sendo vencedor. Dentro do

meu esporte, sou muito respeitado. (Renato

se emociona) Então, eu estou muito triste

porque nunca tinha saído antes assim. Acho

que estou ficando velho. Com 35, não é hora

de acontecer essas coisas. Me acho um ven-

cedor por tudo o que conquistei e tenho

muito orgulho disso, porque não é fácil, não.

LINCE - Você já pensa no pós-car-

reira, no que fazer quando parar?

RENATO - Sim, penso. Tenho alguns

negócios encaminhados em Ribeirão

(Preto). Joguei dez anos lá. Minha esposa e

meus filhos são de lá. Adoro estar no meio do

esporte. Se eu tiver a oportunidade de fazer

Educação Física, quem sabe ser técnico,

acho que é uma coisa que eu encararia. É

uma carreira que eu seguiria.

LINCE - Quem são seus ídolos no

esporte, no basquete e na vida?

RENATO - Michael Jordan foi um fenô-

meno, um ídolo, um ícone. Jordan e

Ronaldo, pela história de carreira e vida.

Mas o Vanderlei (Mazzuchini, diretor de

seleções da CBB, ex-jogador) foi um cara

que me ajudou demais. Não fossem

algumas pessoas que passam pela vida da

gente, nunca chegaríamos, né? Não tenho

muito contato hoje em dia, mas sempre que

eu o vejo, tenho muito carinho por ele.

LINCE - Como encara essa mudança

no basquete brasileiro nas últimas

cinco temporadas, com a chegada da

Liga Nacional?

RENATO - Ficou mais organizado.

Ainda falta investimento, mas a organização

melhorou demais. Precisamos de resultado,

olímpico, mundial, pra afirmar ainda mais

nossa modalidade. A vinda do Rubén Mag-

nano foi um ponto crucial. Vi uma entrevista

do Carlos Nunes (presidente da CBB)

falando que vai tentar fazer um centro de

treinamento, como o vôlei. Se ele realmente

conseguir isso, trabalhar mais forte na base,

manter o Magnano e os técnicos que estão

surgindo, como o Raul (Togni, ex-Minas), o

Demétrius, o próprio Cristiano (Grama),

nosso técnico do sub-22, um cara extrema-

mente competente, acho que já estaremos

brigando de igual pra igual com os países

europeus, como foi na última Olimpíada.

LINCE - Para finalizar: se tivesse

que dar uma dica pra um garoto que

está começando, como há vários aqui no

Minas agora, qual dica você daria?

RENATO - Acho que treinar muito,

observar os jogadores mais tops. Ver o que o

cara tem de bom e tentar trazer aquilo pra

você. Eu peguei o Guerrinha (hoje técnico

do Bauru) jogador, vi ele passando a bola, e

aquilo mexeu comigo, queria passar igual.

Aprendi a passar vendo o Guerrinha jogar.

Sou um cara muito observador, e isso me

ajudou muito a ter uma leitura de jogo. Hoje

em dia, vejo a molecada muito NBA, muito

“um contra um”, e a leitura do jogo, o que o

jogo pede que você faça, a maioria não tem.

Eu daria essa dica: ver mais a Euroliga, a liga

espanhola, do que a NBA.

Page 24: Jornal lince junho 2013

24 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013

especial especial especialtÁ bONItO DE

VER“É um início.

Talvez um olho se abrindo, um dedo se movendo, uma

esperança nascendo...”

ra

Fael

ma

rti

ns

Page 25: Jornal lince junho 2013

Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 25

especial especial especial especialCÉsAR PAuLO

estudante e maniFestante

Não me importa se é “filhinho de

papai”. Se é classe média revoltada. Se

depois de me manifestar, eu sento no

meu 1.8 e vou pro meu apartamento

arrumadinho e bem decorado. Não me

interessa se quem vai às ruas se mani-

festar está usando T-shirt da Reserva,

ou da Calvin Klein, e muito menos se são

os mesmos que frequentam baladas e

bebem drinks de 20 reais de vodka com

energético. Não. Me interessa a legitimi-

dade do ato. Me interessa o ato.

É burrice desvalorizar uma mani-

festação por quem a faz, ainda mais

morando em um país onde a falta de

educação e uma sociedade alienada,

não polit izada, é um programa de

governo. “Minha alienação, minha

vida”. É o que mais rege e ajuda a popu-

lação de baixa renda no nosso país.

Então, como esperar politização de

onde não se tem educação básica?

É burrice também subvalorizar as

causas. Não há meritocracia quando se

fala em apelo popular. Vá para as ruas.

Tome o que é seu. Ocupe aquilo que

você paga para governarem enquanto

você trabalha quase cinco meses do ano

para se manter com impostos. Não seja

idiota. Ninguém está lutando por 20

centavos. O buraco é mais embaixo. O

buraco é você sentado à frente do com-

putador, ou segurando seu smartphone

lendo isso.

É bonito de ver a imprensa interna-

cional criticando o modo brasileiro de

lidar com movimentos sociais. É bonito

ver uma democracia de bater no peito de

orgulho ser desconstruída nas páginas

internacionais, e degradante ver as coi-

sas sendo distorcidas na imprensa

nacional. É bonito de ver a ONU reco-

mendando o fim da polícia militar no

Brasil, depois de assistirmos vídeos nos

quais PM›s ateiam fogo em barricadas,

quebram seus próprios veículos, para

justificar sua violenta postura.

Não é preciso pintar a cara pra sair

às ruas. Não é preciso ser hipster, se ves-

tir mal, ter barba grande, nem postura

radical. Não é preciso ser afetado direta-

mente, nem que seja só pelos R$ 0,20.

Em um país onde Felicianos, Malafaias,

Mensalões, Cachoeiras, mídia manipu-

lada, terceiro setor com fraudes absur-

das, PEC 37, Código Florestal, onde

tudo isso reina e reclamamos calados,

não é preciso nada para ser manifes-

tante. Toda luta é legítima, e parecem

ter acordado pra isso.

Se quer saber o que está aconte-

cendo realmente, vá às ruas. Saia de

casa. Desligue a TV, ligue a cabeça. Atra-

sou pro trabalho por causa da greve?

Perdeu a festa? Pegou ônibus lotado?

Calma, tem gente querendo que o país

não chegue atrasado na honestidade, na

coerência, na liberdade. Tem gente que-

rendo que a população inteira não che-

gue atrasada na festa da desigualdade

social, que não pegue o ônibus da fome

lotado. Tem gente criando barreiras para

que outras barreiras sejam destruídas.

Pode ser modinha, ondinha, coisa do

momento. Pode ser algo que signifique

muito. Pode tudo ser reprimido em nome

da boa imagem perante o mundo na Copa

das Confederações. Mas é um início. Tal-

vez um olho se abrindo, um dedo se

movendo, uma esperança nascendo. Eu

decidi não ser omisso, decidi participar,

pagar pra ver, correr e ver qual é.

Enfim, está triste, mas «tá bonito de

ver». Estão pintando, não as caras, mas as

redes sociais, as ruas, e tão pintando minha

vontade de ver isso tudo acontecer com

mais barulho ainda, mais paralisações, mais

revolução. Quem sabe assim... Bom,

quem sabe?

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26 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013

especial especial especial

RAFAeL mARTINs

3º período (*)

Tudo começou na hora do almoço.

Estava assistindo o noticiário e vendo algu-

mas pessoas publicando na internet sobre

um manifesto que ocorreria em Belo Hori-

zonte. Do nada, pensei: irei lá. E fui. Primei-

ramente, na manifestação dos professores,

na região da Pampulha. Mas, algo me guiava

pra ir a outro protesto, o maior. Peguei o

ônibus e, dentro dele, havia mais pessoas

indo; outras reclamando e muitas apoiando.

Ligado nas noticias vindas do rádio,

desembarquei do ônibus. Logo já via uma

grande movimentação de policiais e, mais à

frente, muita, mas muita gente. Era um mar

de pessoas cobrindo a Avenida Antônio Car-

los, em meio a palavras de ordem, faixas,

bandeiras, carros buzinando – não pelo

engarrafamento, e sim, apoiando. Tudo em

paz, policiais e manifestantes. Populares

começaram a seguir, literalmente. Vi que o

gigante foi pra rua, como o pedido daquela

campanha publicitária.

Homens e mulheres, jovens e adultos,

crianças, estudantes e educadores, como a

professora Rosalina, que pediam um basta

na roubalheira, um basta na impunidade

que reina no país. “Queremos um país para

todos, um país onde haja justiça, onde quem

nos representa tem que dar o exemplo. Eu

sou educadora e fico constrangida em falar

sobre honestidade com meus alunos”.

No meio da caminhada, uma barreira

da policia. Tensão na Antônio Carlos, pró-

ximo à entrada da UFMG. Paira no ar a

incerteza do que aconteceria. Houve con-

versa entre os militares e uma comissão dos

militantes. Ficou resolvido que poderiam

caminhar mais um pouco.

O “mais um pouco” é que foi o pro-

blema. Mais uma barreira de policiais. O

coronel Alberto Luis conversava com

alguns manifestantes, quando poucos

irresponsáveis forçaram a barra, arre-

messaram objetos na polícia. Foi aí o

estopim da conversa. A Avenida mais

parecia a Faixa de Gaza. Tiros de borra-

cha, pedras, bombas, fogo, estragaram o

protesto. A força usada pelos militares foi

de acordo com o que vinha do outro lado.

Protesto sim, mas sem a violência que

muitas vezes parte de alguns idiotas infil-

trados no meio de civis.

Um dia histórico, inesquecível, fotos

e vídeos marcantes. Espero que seja um

ponto de partida para revolução brasileira.

O POVO ACORDOU.

(*) O repórter Rafael Martins, do Lince, acompanhou e fotografou a manifestação.

DEpOiMEnTO

UM DIA INESQUECÍvEL17/06/2013,

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Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton - Junho 2013 27

especial especial especial especialFotos raFael martins

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