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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE JOSÉ VICTOR MORAES DE BARROS PEREIRA Crimes Previdenciários Rio de Janeiro Janeiro/2009

JOSÉ VICTOR MORAES DE BARROS PEREIRA - AVM - Pós ... · e da Roma antiga, logo, ... 2.1 APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA ... 2.2 ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

JOSÉ VICTOR MORAES DE BARROS PEREIRA

Crimes Previdenciários

Rio de Janeiro Janeiro/2009

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JOSÉ VICTOR MORAES DE BARROS PEREIRA

Crimes Previdenciários

Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Direito Penal e Processo Penal. Orientadora: Professora: Valesca Rodrigues.

Rio de Janeiro Janeiro/2009

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JOSÉ VICTOR MORAES DE BARROS PEREIRA

CRIMES PREVIDENCIÁRIOS

Monografia apresentada para obtenção do grau de especialista em Direito Penal e Processo Penal pela Universidade Cândido Mendes.

Aprovado em 31/01//2009

BANCA EXAMINADORA

_______________________________ Prof.ª Valesca Rodrigues.

Presidenta

________________________________ Prof.____________________

2º Examinador (a)

_________________________________ Prof. ____________________

3º Examinador (a)

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À Deus, por me iluminar e estar comigo em todos os momentos; Aos meus amados pais, José Pereira Filho e Elisabeth Cristina Moraes Barros, por me proporcionar cursar à Pós-Graduação em Direito Penal e Processo Penal e por estarem sempre ao meu lado; Ao meu avô, José Pereira, in memoriam, de quem sinto saudades até hoje; Ao Ministério Público Federal, pela valiosa vivência profissional concedida.

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Agradecimentos

Ao meu querido pai, pelo exemplo de determinação, sabedoria e pelo Advogado que é. À minha mãe, por estar sempre disposta a ouvir meus anseios profissionais e pessoais. Aos meus padrinhos, Tiago Fernandes e Cely Hélia, pelo apoio moral e pela amizade verdadeira. Ao amigo e mestre, Dr. Luiz Fernando Voss Chagas Lessa, pela confiança e pelos ensinamentos morais e jurídicos concedidos durante o tempo de estágio junto à Procuradoria da República no Rio de Janeiro.

À professora Valesca Rodrigues, pelas idéias, sugestões, ensinamentos e pelos conselhos dados durante a jornada da Pós-Graduação junto à UCAM.

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“Todos os homens estão presos numa teia inescapável de mutualidade; entrelaçados num único tecido do destino. O que quer que afete a um diretamente, afeta a todos indiretamente. Não posso nunca ser o que deveria ser até que você seja o que deveria ser e você não pode nunca ser o que deveria ser até que eu seja o que devo ser.”

Martin Luther King

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RESUMO

Atualmente, inúmeros casos de fraudes previdenciárias vêm sendo noticiados em todos os meios de comunicação, a fim de que seja dado conhecimento dos fatos criminosos à sociedade. O instituto da Previdência Social surgiu pela primeira vez nas cidades da Grécia e da Roma antiga, logo, não é um direito contemporâneo, não podendo ser ignorado das vidas de todos os cidadãos brasileiros. De acordo com o art. 6.º, caput, da Constituição da República de 1988, a previdência social é um direito fundamental, devendo o Estado prestá-lo, bem como protegê-lo; portanto, trata-se de uma garantia constitucional pertencente a todos, que convivem mutuamente. Diante disso, o presente trabalho de monografia jurídica tem por objetivo apresentar os principais delitos tipificados no ordenamento jurídico pátrio, praticados em desfavor da Previdência Social. Além disso, pretende-se analisar e comentar as Leis n.ºs 9.964/2000 e 10.684/2003, que implementaram no ordenamento jurídico brasileiro os Programas de Recuperação Fiscal – REFIS, bem como os seus impactos no direito de punir do Estado e a controvérsia sobre a prisão por dívida tributária e seus aspectos doutrinários. Por fim, visa-se demonstrar quais são os reais objetivos ou princípios basilares da Previdência Social elencados no texto da Carta Magna de 1988 e, ainda, analisar a atuação preventiva e repressiva do Direito Penal e sua relação com o Direito Previdenciário.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO..................................................................................................................7 CAPÍTULO 1 – DIREITO PREVIDENCIÁRIO E A SUA RELAÇÃO COM O DIREITO PENAL 1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA NO BRASIL.............................................................................................................................9 1.2 PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL NA ORDEM CONSTITUCIONAL DE 1988..................................................................................................................................14 1.3 ATUAÇÃO PREVENTIVA E REPRESSIVA DO DIREITO PENAL....................17 CAPÍTULO 2 – OS CRIMES PREVIDENCIÁRIOS NO BRASIL 2.1 APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA.................................................21 2.2 ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO......................................................................26 2.3 SONEGAÇÃO PREVIDENCIÁRIA.........................................................................30 CAPÍTULO 3 – O PARCELAMENTO DOS DÉBITOS PREVIDENCIÁRIOS E SEUS EFEITOS NA PRETENSÃO PUNITIVA DO ESTADO 3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS PROGRAMAS DE RECUPERAÇÃO FISCAL DO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO.........................................................36 3.2 ASPECTOS JURÍDICOS DAS LEIS N.ºS 9.964/2000 E 10.684/2003 NO DIREITO DE PUNIR DO ESTADO................................................................................................37 3.3 PRISÃO POR DÍVIDA TRIBUTÁRIA.....................................................................45 CONCLUSÃO..................................................................................................................52 REFERÊNCIAS...............................................................................................................55

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INTRODUÇÃO

A presente monografia tem por escopo apresentar, modestamente, os principais delitos

tipificados no ordenamento jurídico brasileiro praticados em desfavor da Previdência Social.

Para isso, adotar-se-á como metodologia o tipo de pesquisa descritiva no que pertine

aos conceitos, idéias e fenômenos. Alem disso, será usada, outrossim, como metodologia a

pesquisa exploratória e a explicativa para atacar o tema em comento, bem como elucidar as

questões norteadoras levantadas durante a confecção deste trabalho.

Note-se que a pesquisa descritiva tem por fim reunir um conjunto de idéias e analisá-

las, apontando suas principais características, métodos e finalidade, a fim de que possa

proporcionar um maior entendimento e compreensão do tema em tela.

Frise-se que a pesquisa descritiva ocorreu com base no material coletado através da

leitura das obras e manuais doutrinários relacionados ao assunto, dos textos instados nos

periódicos especializados, tendo como fito elucidar dúvidas e controvérsias.

No primeiro capítulo, será abordada a evolução histórica da legislação previdenciária,

bem como os princípios fundamentais da Seguridade Social elencados no texto da

Constituição da República de 1988 e, por último, analisar a atuação preventiva e repressiva do

Direito Penal e sua relação com o Direito Previdenciário.

O segundo capítulo tem por objetivo especificar quais são as principais condutas

delituosas perpetradas em face do Instituto Nacional de Seguro Social – INSS, analisando os

seguintes pontos: bem jurídico tutelado, o tipo objetivo, o tipo subjetivo, a conduta, a

possibilidade de tentativa ou não, a pena e a ação penal, de acordo com a doutrina e

jurisprudência dominante, a fim de que possa ter uma exata compreensão do modus operandi

da cada crime.

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Por derradeiro, no terceiro capítulo, a finalidade será abordar a questão do

parcelamento dos débitos previdenciários e seus efeitos no direito de punir do Estado, nos

termos das Leis n.ºs 9.964/2000 e 10.684/2003. Ademais, será apresentada a evolução

histórica dos programas de recuperação fiscal, assim como os seus respectivos efeitos nos

institutos da suspensão da pretensão punitiva, da prescrição e da extinção da punibilidade e,

por conseguinte, a problemática da prisão por dívida tributária no ordenamento jurídico

pátrio.

De outro giro, é sabido que a maioria dos professores de Direito Penal das faculdades

de Direito não abordam os delitos previdenciários, haja vista a imensidão de matéria a ser

dada durante o período ou até mesmo, pela pequenez da visão de que estes tipos penais são

irrelevantes, o que proporciona aos alunados, por conseqüência, um profundo

desconhecimento da matéria.

Portanto, o principal motivo da realização deste trabalho é a possibilidade de

proporcionar a todos uma visão ampla dos principais crimes cometidos em desfavor da

Previdência Social e sua real importância para sociedade, em especial para aqueles que

trabalham e contribuem para obtenção do benefício previdenciário digno.

CAPÍTULO 1 – DIREITO PREVIDENCIÁRIO E SUA RELAÇÃO COM O DIREITO PENAL

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1.1 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA NO BRASIL

O instituto da Previdência Social no mundo apareceu através de pequenas instituições

de cunho mutualista, situadas na Grécia e na Roma antiga, ou ainda em certos períodos da

história chinesa.

Sabe-se, também, que durante a Idade Média, existiram algumas corporações

profissionais que mantiveram seguros sociais para seus membros, denominadas como guildas

germânicas e a caixa de socorros dos mineiros, mas, legislativamente, há somente registros de

disposições a respeito no Talmud e nos Códigos de Manu e Hamurabi. 1

Marcelo Tavares indica à Revolução Industrial como ponto crucial para a criação da

Seguridade Social, no entanto, foi a partir da revolução francesa e do liberarilsmo, que surgiu

o ideal da igualdade, passando o indivíduo a ser o centro de tudo, fazendo com que o Estado

começasse a intervir na ordem econômica, a fim de proporcionar algum equilíbrio às relações

sociais, logo, com o passar do tempo e, por conseqüência, com o progresso gradativo da

sociedade, o ente estatal foi criando um sistema organizado para tutelar essas atividades.

É sabido que o primeiro país a incluir a previdência no bojo de sua Carta

Constitucional foi o México, em 1917, sendo seguido da Constituição alemã de Weimar, no

ano de 1919. 2

No Brasil, os primeiros aparecimentos do seguro social foram em razão das Santas

Casas de Misericórdias, como a de Santos, criada no ano de 1593, montepios e sociedades

beneficentes, cuja natureza era mutualista e privada. Nos arquivos do governo brasileiro se

registra o nascimento do Montepio para a Guarda Pessoal de D. João VI, no ano de 1808 e a

1 BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo. O crime de omissão no recolhimento de contribuições sociais arrecadadas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2000, p.23. 2 TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito previdenciário. 6. ed., Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2005, p.41.

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criação do Montepio Geral dos Servidores do Estado (Mongeral), em 1835, como a primeira

entidade particular a funcionar no país. 3

Nessa trilha, a Constituição de 1824 trouxe em seu art. 179, inciso XXXI, os socorros

públicos, mas foi a partir do Código Comercial, de 1850, que se estabeleceu uma obrigação

para os empregadores, pois estes deveriam manter, por três meses, o pagamento dos salários

dos trabalhadores nos casos de acidentes e imprevistos. 4

Por sua vez, a Constituição de 1891 mencionou, pela primeira vez, a terminologia

aposentadoria para servidores públicos, sendo custeada pela própria sociedade brasileira. Em

1919, a lei n.º 3.724/1919 criou o seguro obrigatório de acidentes do trabalho e as

indenizações decorrentes deles, devendo ser custeado pelos empregadores. 5

Todavia, o grande marco da Seguridade Social no Brasil ocorreu em função do

Decreto Legislativo n.º 4.682/1923, mais conhecido como Lei Eloy Chaves, pois instituiu as

Caixas de Aposentadoria e Pensão para os trabalhadores das empresas ferroviárias, possuindo

uma característica que até hoje é adotada no país: a administração colegiada, prevista no art.

194, parágrafo único, inciso VII, da CRFB/88. 6

Diante disso, o governo criou o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio no ano

de 1930, com a finalidade de supervisionar e fiscalizar as Caixas de Aposentadoria e Pensão,

porém, com o passar do tempo, esses fundos de aposentadoria foram transformados em

Institutos Públicos de Aposentadoria e Pensão, logo, não estavam mais ligados aos

empregadores através de suas empresas, mas sim as classes e categorias de trabalhadores, com

conotação nacional. 7

3 RIBEIRO, Julio César Garcia. A previdência social do regime geral na constituição brasileira. São Paulo, LTr, 2001, p.84. 4 TAVARES, op. cit., p.46. 5 Ibid, p. 46. 6 BALTAZAR JUNIOR, op. cit., p. 26. 7 TAVARES, op. cit., p. 46.

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Em razão dos decorrentes progressos, a terminologia previdência social foi

empregada, pela primeira vez, somente com a Constituição de 1946, logo, o legislador

necessitou unificar os Institutos de aposentadoria e pensão, sendo realizada por meio do

Decreto-Lei n.º 72, onde fora criado o Instituto Nacional da Previdência Social (INPS). 8

Assim, em 1/07/1977, o governo brasileiro criou o Sistema Nacional de Previdência e

Assistência Social (SINPAS), cuja missão era unificar as atividades da previdência social, da

assistência social, da assistência médica e da gestão financeira e patrimonial das inúmeras

entidades ligadas ao Ministério da Previdência Social. 9

O Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social era composto pelas seguintes

entidades: Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), Instituto de Administração

Financeira da Previdência e Assistência Social (IAPAS), Instituto Nacional de Assistência

Médica da Previdência Social (INAMPS), Legião Brasileira de Assistência (LBA), Fundação

Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM), Central de Medicamentos (CEME) e, por

fim, pela Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social (DATAPREV). 10

Com a promulgação da Constituição da República de 1988, a maioria das entidades

foram extintas, tendo o texto constitucional reestruturado completamente a previdência, a

saúde e a assistência social no país. Note-se que a Lei n.º 8.029/90, regulamentada pelo

Decreto n.º 99.350/90, instituiu o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), sendo este uma

fusão entre o Instituto Nacional de Previdência (INPS) e o Instituto de Administração

Financeira da Previdência e Assistência Social (IAPAS). 11

Contudo, na década de noventa, após a criação do Instituto Nacional de Seguro Social

e em virtude das mudanças trazidas pela Carta Magna de 1988, o legislador derivado

confeccionou as Leis n.ºs 8.212/91 e 8.213/91, sendo que a primeira cuida do Plano de

8 RIBEIRO, op. cit., p. 87. 9 TAVARES, op. cit., p. 47. 10 Ibid, p. 47.

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Organização e Custeio da Seguridade Social, enquanto que a segunda versa sobre o Plano de

Benefícios da Previdência Social. Os legisladores, também, elaboraram a Lei n.º 8.080/90

para tratar especificamente da saúde, e a Lei n.º 8.742/93 para dispor sobre a Lei Orgânica da

Assistência Social (LOAS), com o propósito de organizar a Seguridade Social no Brasil. 12

Por fim, em 05/03/1997, o legislador derivado editou o Decreto n.º 2.172/97 que

regulamentou os Benefícios da Previdência Social (RBPS) e, por conseguinte, o Decreto n.º

2.173/97 que regulamenta a Organização e Custeio da Seguridade Social (ROCSS).

Entretanto, deve-se mencionar a Emenda Constitucional n.º 20/98, pois a mesma veio

inserir no ordenamento jurídico brasileiro uma série de alterações, tais como: normatização

das regras de previdência para os funcionários públicos, determinação da destinação

específica da receita arrecadada com as contribuições previdenciárias pelo INSS à previdência

e assistência social, além de outras modificações, a fim de possibilitar a sociedade um maior

bem-estar e uma melhor organização do erário arrecadado. 13

Não obstante a isso, no contexto criminal, o primeiro precedente foi no tocante à

apropriação indevida do tributo, pois no Decreto-Lei n.º 65/37, em seu art. 5.º, havia uma

modalidade deste crime, onde estabelecia a possibilidade do empregador não recolher as

contribuições devidas aos cofres públicos, descontadas das remunerações dos trabalhadores

aos cofres públicos, sob pena de incorrer nas penas do art. 331, nº 2, da Consolidação das Leis

Penais, de 1932. 14

Nesse passo, no ano de 1960, foi promulgada a Lei 3.807/60, que tratava da

organização da Previdência Social, sendo que, em seu art. 155, inciso I, equiparava algumas

condutas ao crime de sonegação fiscal, tipificado pela Lei n.º 4.729/65; já no inciso II, do

mesmo dispositivo, o legislador da época equiparou certas condutas ao crime de apropriação

11 Ibid, p. 48. 12 TAVARES, op. cit., p. 48. 13 Ibid, p. 49.

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indébita, previsto no art. 168, Código Penal, e, por fim, no inciso III, igualaram outras

condutas à falsidade ideológica, elencada no art. 299, do CP e outros tipos como sendo delito

de estelionato, disposto no art. 171, do Diploma Penal.15

Deste modo, com o advento da Lei n.º 8.212/91, a Lei n.º 3.807/60 foi revogada

tacitamente. Frise-se, ainda, que no art. 95, da Lei n.º 8.212/91 se encontrava tipos penais,

em que a Previdência Social figurava como sujeito passivo das condutas delituosas ali

relacionadas, podendo estas serem praticadas por particulares ou funcionários.16

Observa-se que, com a promulgação da Lei 9.983/2000, o legislador inseriu no

Diploma Penal figuras delituosas lesivas à Previdência Social, revogando expressamente as

disposições contidas no art. 95, da Lei n.º 8.212/91. Assim, os tipos penais bem como as

respectivas sanções passaram a ser reguladas totalmente pela lei penal revogadora, pois antes

a norma legal revogada descrevia apenas as condutas criminosas, sem estabelecer as

respectivas sanções, ou seja, não havia punição abstrata prevista na norma, logo o operador do

direito teria que se dirigir ao Código Penal, para tentar punir o agente criminoso.

Todavia, apesar das mudanças trazidas pela Lei n.º 9.983/2000, o legislador

desperdiçou a oportunidade de confeccionar uma norma legal incriminadora específica para

tratar especialmente desses tipos de crimes, desvinculada de qualquer outra lei, haja vista o

bem jurídico tutelado e a gravidade dessas condutas para o erário público, bem como para

sociedade. 17

Por derradeiro, deve-se asseverar a existência de um delito contra a previdência social,

que não foi abordado pela Lei n.º 9.983/2000, já que no art. 19, § 2º, da Lei n.º 8.213/91,

norma esta que estabelece regras sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social, prevê

14 BALTAZAR JUNIOR, op. cit., p. 59. 15 MONTEIRO, Antonio Lopes. Crimes contra a previdência social. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p.10. 16 Ibid, p. 10. 17 Ibid, p. 10.

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uma contravenção penal, punível com multa, se a empresa deixar de cumprir as normas de

segurança e higiene do trabalho.18

1.2 – PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL NA ORDEM CONSTITUCIONAL DE 1988

Nos incisos I a VII, do parágrafo único, do art. 194 da Constituição da República de 1988 estão elencados as diretrizes da seguridade social, isto é, os objetivos e regras que o legislador originário deve buscar e respeitar ao conceder os benefícios, afim de que se obtenha um Estado Democrático de Direito. 19

Além disso, pode-se se extrair, ainda, da leitura dos incisos, que a finalidade da seguridade social está relacionada diretamente com os preceitos constitucionais instituídos em seus outros dispositivos, tais como: a dignidade da pessoa humana, a isonomia entre os seus beneficiários, o interesse público e o dever da prestação social do Estado para com a sociedade.

O primeiro dos objetivos, fixados pela Carta Magna de 1988, é a universalidade da cobertura e do atendimento.

Essa diretriz visa o alcance geral e irrestrito de todas as pessoas, inclusive daqueles que não contribuíram para receber o respectivo benefício, assim como os que não exerceram atividade remunerada, condicionado, nestes casos, a necessidade da clientela e do órgão concedente.

Por sua vez, a segunda diretriz diz respeito à uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais, ou seja, que não há duplicidade de sistemas, haja vista o princípio da isonomia, previsto no art. 5.º, caput, da CRFB/88, mas sim um único sistema, a fim de que se superem as histórias diferenças de tratamento entre ambas,20 mesmo que haja diferença para melhor atende às peculiaridades eventualmente existentes.

O terceiro princípio é a seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços, pois de acordo com esta diretriz, a seguridade social poderá ponderar critérios de atendimento pela necessidade21, dando mais vantagens aos carentes e aos casos mais urgentes.

Nesse passo, a quarta diretriz corresponde à irredutibilidade do valor dos benefícios, razão pela quais os benefícios devem manter o poder aquisitivo das aposentadorias e pensões, pois são prestações pecuniárias. No entanto, deve ser atentar que não pode se aplicar à Saúde, vez que é a única formada somente por prestação de serviços à sociedade, enquanto que na Assistência e na Previdência, os serviços podem ser prestados mediante pagamento em dinheiros pelos seus constituintes. 22

A Constituição da República, no seu art. 194, parágrafo único, inciso V, prevê como sendo o quinto objetivo a eqüidade na forma de participação no custeio da seguridade social. 18 Ibid, p. 2. 19 TAVARES, op. cit., p. 2. 20 GONÇALES, Odonel Urbano. Manual de direito previdenciário. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p.29. 21 GONÇALES, op. cit., p. 30. 22 RIBEIRO, op. cit., p. 73.

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Pode-se ver que esta diretriz decorre do princípio da igualdade, porém, não significa que todos os contribuintes do sistema terão que pagar o tributo da mesma forma, ou seja, haverá variação de acordo com o princípio da capacidade contributiva de cada um;23 o que não poderá existir é diferenças na mesma classe de contribuintes.

Portanto, a seguridade social tem por escopo a igualdade entre os contribuintes, no entanto, deverá ser respeitada a capacidade contributiva, com supedâneo na análise das situações fáticas apresentadas.

O penúltimo princípio se refere à diversidade da base de financiamento, isto é, significa que a seguridade social será mantida pelos trabalhadores e pelas empresas, mediante o pagamento de contribuições sociais e, pelos recursos provenientes dos orçamentos dos entes da Federação, caracterizando, assim, um sistema tripartite de fonte de custeio para implementação dos serviços necessários à sociedade.

Logo, é por meio da diversidade de financiamento e da eqüidade de participação no custeio que se manifesta a solidariedade, cabendo, neste caso, ao Estado gerir com o máximo de eficiência os recursos arrecadados e empregá-los em prol da sociedade de forma impessoal, a fim de que se obtenha realmente um Estado Democrático de Direito.

Por fim, o último preceito da seguridade social corresponde ao caráter democrático e descentralizado da administração, isto é, de acordo com a Constituição da República os trabalhadores, os empregadores, os aposentados e o próprio Governo exercerão uma participação conjunta para discutir interesses previdenciários, a fim de que haja um consenso entres as partes e os pontos debatidos.

Note-se que nesta situação, a diretriz fixada pelo legislador originário consolida de forma efetiva o valor da democracia, através do diálogo entre trabalhadores, empregadores, aposentados e Governo; fazendo com que ocorra uma maior cautela e proteção para com os direitos previdenciários. 24

Todavia, o jurista Odonel Gonçales critica essa diretriz, pois assevera que ela cria uma imensa dificuldade em administrar à Previdência Social, o que dificulta o combate a possíveis fraudes. 25

Obstante a posição do autor Odonel Gonçales, caráter democrático e descentralizado foi colado em prática pelo legislador ordinário, visto que o art. 3. º da Lei n.º 8.213/91 instituiu o Conselho Nacional de Previdência Social – CNPS, devendo este ser compostos por representantes do Governo Federal, pelos inativos e pensionistas, por trabalhadores em atividade e pelos empregadores.26

Assim, compete a esse Conselho Nacional de Previdência Social – CNPS, entre outras funções, estabelecer diretrizes gerais e apreciar as decisões políticas aplicáveis à Previdência Social, bem como examinar e deliberar os planos e programas da Previdência Social.

1.3 – ATUAÇÃO PREVENTIVA E REPRESSIVA DO DIREITO PENAL

Observa-se que ao falar de Direito Penal pensa-se sempre em condutas ilícitas, bem jurídico tutelado e, as penas que deverão ser aplicadas aos eventuais delinqüentes. Ao pensar sob esse prisma repressivo, realmente, o Direito Penal é aquela parte do ordenamento jurídico 23 TAVARES, op. cit., p.7. 24 TAVARES, op. cit., p. 8. 25 GONÇALES, op. cit., p.32. 26 RIBEIRO, op. cit., p. 73.

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que estabelece características de ação criminosa, ligando-lhe penas e medidas de segurança, ou seja, seria um conjunto de normas jurídicas que regulam o exercício do direito de punir do Estado, vinculando-o ao delito como pressuposto e, a pena como conseqüência.

Todavia, a principal característica do Direito Penal é a sua finalidade preventiva e, não apenas a repressiva. Logo, o Estado antes de punir, ou com o punir, pretende coibir novas condutas delituosas, a fim de que se obtenha harmonia, paz social e justiça na sociedade. 27

Frise-se que o Estado-Legislador ao tipificar uma conduta criminosa, revela também de forma visível aquilo que lhes é vigorosamente vedado fazer ou deixar de fazer, para aqueles que estejam submetidos às Leis do País, isto é, no tipo penal estará delineado um comportamento proibido e reprovável que, neste caso, será considerado como crime pelo Poder Público. Note-se que neste momento, o Estado apenas obtém uma prevenção de caráter geral para todos aqueles que convivem em sociedade.

Sendo assim, o Estado traça tipos de condutas que a sociedade deverá respeitar e seguir; além disso, ao fixar penas em abstrato nos casos de violação, estará exercendo uma função intimidadora, bem como gerando o aprimoramento de um sentimento ético e moral nas pessoas, a fim de que seja evitada a conduta proibida. 28

Logo, à pessoa que infringir esses preceitos, materializados por meio de tipos penais, estará sujeita a responder perante o Estado, que detém o direito de punir e; por conseguinte, terá que suportar as conseqüências jurídicas impostas pela própria Lei, em prol do interesse público e da ordem jurídica.

Neste instante, o Estado estará em frente de uma prevenção especial, já que terá que processar e julgar o infrator específico, por meio de processo-crime, onde ao final será lavrada uma sentença pelo Estado-Juiz condenando-o ou absolvendo-o.

Segundo Francisco Toledo, a pena é a verdadeira expiação, meio de neutralização da atividade criminosa potencial ou, ainda, o ensejo para recuperação, se possível, pelo delinqüente, possibilitando, o seu retorno à convivência pacífica na sociedade. 29

No entanto, ressalta-se que nem sempre esse caráter intimidador é passado para sociedade, em especial para os delinqüentes. Portanto, necessário se faz que o Estado esteja sempre presente; que possa mostrar a sua real capacidade de perquirir condutas criminosas e, que tenha normas jurídicas dotadas de eficácia, a fim de que os órgãos estatais tenham subsídios para o combate à criminalidade.

Não se pretende aqui supor edição de novas leis penais, mais abrangentes e severas, mas sim a edição de normas penais de cunho eficaz, para que os órgãos da administração pública possam combater à criminalidade corretamente e, por fim, proteger o direito tutelado.

Com efeito, a principal missão imediata do Direito Penal é proteger todos os bens jurídicos tidos como relevantes para a sociedade. A partir desta assertiva o ordenamento jurídico penal também tem caráter subsidiário, isto é, o Direito Penal age como protetor de outros ramos do próprio direito, desde que estejam expostos a um grande perigo ou, que o bem jurídico tutelado esteja ameaçado, em virtude de reiteradas práticas criminosas. 30

27 TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 5. ed., São Paulo: Saraiva, 1994, p. 03. 28 Ibid, p. 03. 29 TOLEDO, op. cit., p. 03. 30 Ibid, p. 14.

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Assim, o presente trabalho de pesquisa teve por objetivo tratar sobre os principais delitos praticados em face da previdência social, bem como a repercussão dos programas de recuperação fiscal nos créditos previdenciários desviados e sonegados.

De acordo o que foi apresentado, vê-se que o Estado literalmente abdica do direito de punir, desde que o infrator recolha os tributos apropriados indevidamente ou fraudados, gerando, assim, para toda sociedade um sentimento de impunidade e de desigualdade de tratamento para os infratores em geral, isto é, entre aquele que, por exemplo, pratica um crime de roubo e quem sonega ou se apropria de contribuições sociais devidas à previdência social.

Note-se que geralmente quem pratica crimes de roubo são pessoas da camada social mais baixa, enquanto que crimes de sonegação de tributos e apropriação indébita de contribuições sociais são perpetrados por pessoas influentes, ou seja, de camadas socioeconômicas de grande influência na política ou no meio empresário.

Por sua vez, vê-se que as contribuições sociais são fontes de custeio da seguridade social. Além disso, frise-se, ainda, que a Constituição da República de 1988 estabelece a previdência social como sendo direito fundamental da sociedade, devendo, neste caso, o Estado protegê-la e garanti-la a todos os cidadãos, a fim de que resguarde à ordem social, elencada no texto constitucional.

Portanto, quem comete um crime contra á previdência social pode estar lesando mais do que quem pratica um crime de roubo.

Portanto, o Estado age de forma equivocada, uma vez que edita leis com mero caráter arrecadador, sem qualquer comprometimento com Direito Penal e com a sua respectiva finalidade e missão.

Todavia, ressalta-se que a previdência social é um instituto social de suma importância para toda sociedade, pois se trata de um direito fundamental; sendo assim, é lídimo o Estado usar o Direito Penal como ultima ratio regum, para tutelar esse bem jurídico e garantir sua existência.

Observa-se que a princípio do Direito Penal é limitado, em razão do princípio da intervenção mínima, porém, deve ser mitigado sempre que se visar coibir uma lesão de grande potencial lesivo para sociedade, isto é, que esteja um bem jurídico de imensa importância em perigo e, que reflita indubitavelmente na paz social e harmonia na sociedade, bem como não haja subsidiariedade em outros ramos do direito para protegê-lo. 31

Ademais, cumpre assinalar os ensinamentos do Procurador da República Luciano Feldens, pois, de acordo com ele, o Estado estará sempre apto a criminalizar condutas, com fundamento no Estado Democrático de Direito, quando este estiver em perigo. 32

Diante disso, vê-se que o Estado abandonou completamente o comprometimento com o Direito Penal e com o instituto da seguridade social, já que não se preocupa em criar leis que detenham caráter preventivo e repressivo; pelo contrário, edita normas que deixam a previdência social a mercê dos criminosos.

Sendo assim, ao examinar as leis dos programas de recuperação fiscais, conclui-se que não possuem caráter algum, quer preventivo, quer repressivo; por outro lado, o único aspecto que se detecta nessas normas jurídicas é meramente arrecadatório e, ainda, o colocam de forma desgovernada, violando, assim, os preceitos e finalidades do Direito Penal.

31 TOLEDO, op. cit., p. 14. 32 FELDENS, Luciano. Tutela penal de interesses difusos e crimes do colarinho branco. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002, p. 107.

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CAPÍTULO 2 – OS CRIMES PREVIDENCIÁRIOS NO BRASIL

2.1 – APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA

O presente delito de apropriação previdenciária está previsto no art. 168-A, do

Diploma Penal. Esta conduta delituosa foi introduzida pela Lei n.º 9.983/2000, revogando,

assim, as disposições descritas no art. 95, da Lei n.º 8.212/91.33

O art. 168-A encontra-se no Título II da Parte Especial do Código Penal – Dos Crimes Contra o Patrimônio. Na verdade esse novo dispositivo visa proteger o patrimônio não só de uma pessoa ou de algumas pessoas, como nos demais crimes estabelecidos nesse Título, porém o patrimônio de todos os cidadãos que compõem o sistema previdenciário brasileiro. 34

Além disso, embora se use a terminologia crimes contra a previdência social, é a seguridade social descrita no art. 194, da CRFB/1988 que está sendo tutelada e, em especial, as contribuições sociais, visto que, apesar de terem sua natureza tributária discutida, não podem ser excluídas, sem mais, do sistema tributário como um todo, uma vez que a elas se aplicam as normas gerais da legislação tributária, arts. 146, inciso III e 149, da Carta Constitucional, sendo, portanto, a ordem tributária protegida também por esse dispositivo. 35

Trata-se de crime próprio, sendo o sujeito ativo qualquer pessoa que tem o dever legal de repassar à previdência social a contribuição recolhida dos contribuintes. 36

Frise-se que o caput do art. 168-A menciona prazo convencional. As contribuições, inúmeras vezes, são recolhidas em instituições bancárias, que, por convênios ou acordos

33 MONTEIRO, op. cit., p. 19. 34 Ibid, p. 31. 35 Ibid, p. 31. 36 BALTAZAR JUNIOR, op. cit., p. 79.

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celebrados com o INSS, dispõem de prazo para repassarem os valores à previdência social, portanto, poderão também figurar como sujeitos ativos. 37

Nessa trilha, há também de se cogitar que os agentes públicos podem praticar o delito de apropriação indébita, haja vista que as contribuições das empresas incidentes sobre o faturamento e o lucro, bem como aquelas referentes à receita de concursos de prognósticos, são arrecadadas e fiscalizadas pela Secretaria da Receita Federal, cujos valores devem ser repassados mensalmente ao Tesouro Nacional. 38

Portanto, o principal sujeito passivo dessa conduta delituosa é a previdência social e, em segundo plano, os próprios segurados, pois estes acabam sempre sendo afetados, uma vez que são privados das importâncias que lhe seriam canalizadas.

Pode-se observar que o tipo objetivo desse crime sempre causou uma testilha na doutrina, vez que o art. 168, do CP é um crime essencialmente comissivo e material, isto é, será praticado mediante a ação de apropriar-se, ao passo que o art. 168-A, do mesmo diploma empregou dois tipos de verbos “deixar de repassar”, logo mostra um tipo penal omissivo próprio e formal, diferente daquele. 39

Nesse mesmo sentido se manifesta o ex-Procurador Geral da República, Cláudio Lemos Fontelles:

A meu juízo nada tem a ver com a apropriação indébita. Apropriação indébita é outra realidade, eloqüentemente diferente, que vai realmente exigir a demonstração da posse ilegítima para o ato de dominus, de proprietário ilegítimo. Aí não tem nada a ver com isto. Aqui, o crime é, para mim, crime omissivo puro. 40

Logo, o sujeito, primeiro, recolhe as contribuições (comportamento comissivo) para, em seguida, deixar de recolher (conduta omissiva) as contribuições descontadas a título de pagamento ao INSS.

Deste modo, extrai-se uma ação positiva no início e uma conduta negativa no final da execução do crime de apropriação previdenciária. 41

Não obstante, o art. 168-A, do CP prevê um delito de conduta mista, pois há implícito em sua configuração uma ação e uma omissão, como formas de execução do tipo. 42

Entretanto, a jurisprudência se posicionou quanto à conceituação da apropriação indébita comum elencada no art. 168, do CP e da apropriação indébita previdenciária do art. 168-A, do mesmo codex, o Excelso Pretório, por intermédio do Ministro Eros Grau, no recurso ordinário em habeas corpus43, entendeu que ao contrário do crime de apropriação indébita comum, o delito de apropriação indébita previdenciária não exige, para sua configuração, o animus rem sibi habendi, ou seja, concluiu pela não aplicação do mesmo entendimento para aquele primeiro crime, isto é, a presença do animus de ter para si os valores não recolhidos, logo se não ficasse comprovado esse elemento subjetivo, a conduta apropriatória face às contribuições sociais devidas ao INSS era considerada atípica.

37 JESUS, Damásio E. de, Direito penal - parte especial. v2, 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2001, p.425. 38 JESUS, op. cit., p. 426. 39 MONTEIRO, op.cit., p. 32. 40 FONTELLES apud MONTEIRO, op.cit., p. 33. 41 JESUS, op. cit., p. 426. 42 JESUS, op.cit., p. 426. 43 Recurso Ordinário em Habeas Corpus n.º 88144, relator o Min. Eros Grau, publicado no DJU 16/06/2006.

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Portanto, considerando a necessidade da construção de um melhor entendimento para atender a função do Direito Penal, imperioso se fez reconhecer que o tipo penal descrito no art. 168-A é autônomo e não modalidade simplesmente de apropriação indébita.

Desta feita, com supedâneo nos inúmeros precedentes, o delito consiste na conduta de o sujeito ativo arrecadar a contribuição do empregado e não repassar aos cofres da previdência social, independente da destinação dada aos valores não recolhidos. 44

Além disso, é cediço que o tipo subjetivo é a carga psicológica que o sujeito ativo atribui à conduta praticada, isto é, dito de maneira simples, o dolo. Na apropriação indébita comum, o dolo se dá de forma específica, logo ausente o animus habendi, do tipo subjetivo, não há crime, ao passo que, na apropriação previdenciária, basta a vontade livre e consciente de apropriar-se da coisa, ou seja, dolo genérico.45

O momento consumativo no crime de apropriação comum dá-se a partir da exteriorização dos atos praticados pelo agente, ou seja, aqueles que demonstrem de forma inequívoca, a vontade livre, consciente e dirigida de se apropriar da coisa, enquanto que na apropriação previdenciária, o momento em que se consuma o delito é aquele em que vencido o prazo do recolhimento, este não é efetuado.

Desta forma, no primeiro se admite a tentativa, já que tem a necessidade de se comportar como dono da coisa apropriada, ao contrário da apropriação indébita previdenciária, pois esta por ser considerada um tipo penal omissivo próprio, a tentativa é impossível. 46

No art.168-A, § 3.º, do Diploma Penal está asseverada a hipótese de perdão judicial. De acordo com doutrina e com os julgados, o perdão judicial é uma faculdade dada ao magistrado, que apesar de declarar o cometimento de uma prática penal e sua respectiva autoria, deixa de aplicar a sanção em razão da presença de uma certa circunstância. Tem natureza jurídica de causa de extinção de punibilidade, embora seja reconhecido como uma faculdade, tendo uma aplicação restritiva, haja vista sua limitação imposta pela norma legal, em consonância com o disposto no art. 107, IX, do CP. 47

Com efeito, o perdão judicial torna-se um direito subjetivo do agente delituoso, se presentes às circunstâncias subjetivas e objetivas delineadas pela lei permissiva. 48

No dispositivo acima ressaltado, encontram-se duas hipóteses para julgador: conceder o perdão judicial, isto é, deixar de aplicar a sanção concreta; ou fixar somente a multa. Nesta segunda opção, na verdade, não há perdão, mas apenas uma forma atenuada ou privilegiada, devendo o juiz optar por uma das duas, levando em consideração as circunstâncias subjetivas descritas no art. 59 , do CP, assim como as circunstâncias objetivas firmadas no inciso I, do art. 168-A, também daquele diploma, pois, nesta situação, exige-se o pagamento da contribuição social e dos seus acessórios efetuado dentro de dois marcos temporais.49

O primeiro marco temporal se refere ao momento da fiscalização, ao passo que o segundo se direciona ao Ministério Público Federal, que ocorre quando já oferecida a exordial acusatória.

44 GOMES, Luiz Flávio, Crimes previdenciários, série as ciências criminais no século XXI. v1, 1.ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 35. 45 MONTEIRO, op. cit., p.38. 46 GOMES, op. cit,.p.30. 47 MONTEIRO, op. cit., p.41 48 Ibid, op. cit., p. 41. 49 MONTEIRO, op.cit., p. 42.

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Logo, se o pagamento for feito no curso da ação fiscal, mas antes do oferecimento da exordial acusatória, o magistrado deverá aplicar ao agente o § 2.º, do art. 168-A, do CP, extinguindo-se a punibilidade.50 No entanto, caso o pagamento não seja efetuado na fase da ação fiscal, mas depois de recebida a denúncia pelo juízo competente, o agente será apenas beneficiado com o arrependimento posterior, consoante a determinação prevista no art. 16, do CP, o que resultará na redução de um a dois terços na pena.51

Outrossim, esse agente será beneficiado pela atenuante genérica do art. 65, inciso III, alínea “b”, do CP, se o pagamento for realizado após o oferecimento da peça incriminatória. 52

Frise-se, também, que a sentença que concede o perdão judicial é, ainda hoje, uma questão controvertida na doutrina e na jurisprudência, pois pode ser entendida como sentença condenatória, devendo, neste caso, o julgador condenar primeiro e logo depois deixar de aplicar a pena, o que implica conseqüências de ordem penal, tais como: maus antecedentes, lançamento do nome do condenado no rol dos culpados, reincidência e a reparação na esfera civil. 53

Porém, Alberto Silva Franco e Heleno Fragoso sustentam que a sentença que concede o perdão, é uma das causas de extinção da punibilidade, visto que a decisum é declaratória, não subsistindo qualquer efeito condenatório, inclusive os de natureza secundária, com embasamento no verbete 18 do Superior Tribunal de Justiça: a sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.

Ademais, vale salientar que, segundo Basileu Garcia, “a natureza da sentença que concede o perdão é de natureza absolutória, pois não existe sentença condenatória sem imposição de pena”. 54

Por fim, no tocante à rejeição da denúncia, o STJ entende que se o contribuinte confessa e paga o débito com o INSS, conseqüentemente, obterá extinção da punibilidade, conforme o disposto no art. 168-A, § 2ª, do Diploma Penal; por outro lado, o juiz poderá rejeitar de plano a peça inaugural do Ministério Público, entendendo que o valor seja insignificante, aplicando-se, assim, o princípio da bagatela no caso aventado, logo o julgador estaria criando outra modalidade de exclusão para processo, na forma do art. 43, inciso II, do Código de Processo Penal.55

2.2 – ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO

Cuida-se de uma das condutas criminosas mais praticadas em face da previdência social. Antigamente o estelionato previdenciário era previsto na alínea “j”, do art. 95, da Lei n.º 8.212/91, porém com as modificações inseridas pela Lei n.º 9.983/2000, aquele dispositivo foi revogado, passando a ser configurar pelo art. 171, § 3º, em consonância com o enunciado da Súmula n.º 24, do Superior Tribunal de Justiça.56

50 GOMES, op. cit., p. 63 51 JESUS, op. cit., p. 429. 52 MONTEIRO, op. cit., p. 42. 53 ALBERTO SILVA FRANCO; HELENO FRAGOSO apud MONTEIRO, op. cit., p. 43. 54 GARCIA apud MONTEIRO, op.cit., p.44. 55 MONTEIRO, op. cit., p. 44. 56 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de direito penal - parte especial. v2, 22.ed., revista e atualizada por Renato N. Fabbrini. São Paulo: Atlas, 2004, p.327.

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Verifica-se que a conduta narrada na alínea “j”, do art. 95, da Lei n.º 8.212/91 era mais ampla, pois além das expressões usadas pelo o art. 171, caput, do Código Penal, aquela norma acrescenta outras, tais como: a contrafação, imitação, alteração ardilosa, falsificação ou qualquer outro meio fraudulento, que ocasionasse dano ao patrimônio do Instituto nacional de Seguro Social.57

O crime de estelionato corresponde ao fato do sujeito obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento. 58

Por sua vez, visa proteger o direito patrimonial, tendo como o sujeito ativo deste tipo penal, em primeiro momento, quem induz ou mantém a vítima em erro, utilizando-se de artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento, no entanto, em uma segunda análise, vê-se que um terceiro também pode ser autor deste crime, visto que na hipótese de concurso de agentes, um agente empregue contra a vítima, enquanto outro obtém para si a vantagem indevida, propiciando diminuição patrimonial. Neste caso, ambos responderão pelo crime de estelionato, posto que este terceiro será o destinatário doloso da vantagem indevida.59

Examina-se que o crime de estelionato é considerado pela doutrina e pela jurisprudência delito material, ou seja, é aquele cujo tipo descreve a conduta e menciona o resultado, exigindo o seu resultado. Note-se que o núcleo do tipo é o verbo obter, sendo assim, para a configuração do delito, é necessário que o sujeito ativo obtenha a vantagem esperada, ao passo que o sujeito passivo tenha o efetivo prejuízo, logo o Diploma Penal exige um resultado duplo, isto é, vantagem ilícita do agente e prejuízo alheio. 60

Nesse passo, a principal característica do crime do estelionato é a fraude, ou seja, o engodo empregado pelo agente para induzir ou manter a vítima em erro, com fito de obter para si ou para terceiro, vantagem patrimonial ilícita. Consignado este entendimento, mister se faz compreender o que seja empregar artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento para obter a vantagem ilícita almejada. Artifício é a sedução utilizada através de aparato material, ou seja, uma encenação, enquanto que o ardil é o engano praticado por meio de insídia, com a mentirosa qualificação profissional e, por fim, qualquer outro meio fraudulento. 61

O crime de estelionato alcança a consumação ao adquirir à vantagem indevida do Instituto Nacional de Seguro Social – INSS, porém admite a forma tentada, quando o fraudador, ao executar a conduta delituosa, não a obtém, ou, conseguindo-a, não acarreta à Autarquia Previdenciária lesão ao seu patrimônio. Além disso, o estelionato previdenciário admite a forma privilegiada, pois no art. 171, § 1.º, do CP, prevê dois casos: o criminoso for primário e a lesão ser de pequeno valor; Portanto, neste caso, o magistrado deverá aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, § 2.º, daquele diploma legal.62

Assinala-se que o estelionato previdenciário é crime permanente e não instantâneo, logo a prescrição computar-se-á a partir da cessação do último recebimento do benefício, ou seja, a consumação deste delito propaga-se no tempo desde o instante em que se reúnem os seus elementos até que cesse o comportamento do agente criminoso, enquanto que, se fosse

57 MONTEIRO, op. cit., p. 88. 58 JESUS, op.cit., p.435. 59 DELMANTO, Celso. Código penal comentado. 6.ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p.397. 60 Ibid, p. 399. 61 JESUS, op. cit., p.437. 62 MIRABETE, op. cit., p. 328.

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considerado instantâneo, a pretensão punitiva do estado começaria a correr a partir do recebimento da primeira parcela indevida. 63

Nessa trilha, o Supremo Tribunal Federal se posiciona acerca da questão em debate:

Ementa

ESTELIONATO QUALIFICADO (CP, ART 171, § 3º). FRAUDE NA PERCEPÇÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. PRESCRIÇÃO. 1. Cuidando-se de estelionato qualificado - fraude contra o INPS - que visou o recebimento de benefício previdenciário a terceiro, não há cogitar do crime de certidão ou atestado ideologicamente falso. Quanto à prescrição, dada a natureza permanente da conduta, o prazo começa a fluir a partir da cessação da permanência e não do primeiro pagamento do benefício. Precedente (HC 83.252). 2. HC indeferido. HC 83967 / SP - SÃO PAULO HABEAS CORPUS Relator(a): Min. ELLEN GRACIE Julgamento: 17/08/2004 Órgão Julgador: Segunda Turma Publicação: DJ 03-09-2004 PP-00034 EMENT VOL-02162-01 PP-00127

Há juristas como Damásio e Luís Flávio Gomes que entendem de forma contrária a do Excelso Pretório; segundo eles o estelionato previdenciário é delito instantâneo e não permanente.64 O embasamento utilizado para fundamentar seus entendimentos é de que o estelionato é crime instantâneo, consumando-se com a obtenção da vantagem ilícita em prejuízo alheio.

Sendo assim, tratando-se de vantagem parcelada, há tão-somente um delito, alcançando o agente ao exaurimento com a obtenção do primeiro recebimento do benefício. 65

No entanto, deve prevalecer o entendimento do Supremo Tribunal Federal, pois, de acordo com este órgão máximo, o crime de estelionato previdenciário é crime permanente e não instantâneo, devendo a prescrição ser contada a partir da cessação do último pagamento.

Ademais, outra discussão que paira sobre o estelionato previdenciário é acerca de sua configuração como crime único, continuado ou concurso formal de delitos. A maioria dos precedentes, de acordo com a posição adota por Nelson Hungria, tem considerado o estelionato previdenciário de rendas mensais crime continuado, visto que se trata de delito da mesma espécie e que se assemelham pelos seus elementos subjetivos e objetivos. 66

Alberto Silva Franco considera “que para os crimes continuados, o prazo prescricional da pretensão punitiva deve ser considerado com relação a cada crime isolado, para fins de excluir o aumento de pena do crime continuado no cômputo do prazo prescricional”. 67

O Luis Flávio Gomes entende “como uma só conduta fraudulenta, dotada de periculosidade, produzindo vários resultados jurídicos, em contextos fáticos distintos, respondendo assim, pelo estelionato previdenciário na forma do concurso formal”. 68

Portanto, a prescrição, neste caso, conta-se com espeque no disposto no art. 119, do Diploma Penal, isto é, no caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, de forma isolada. 69

63 GOMES, op. cit., p. 88. 64 DAMÁSIO E LUIS FLAVIO apud MIRABETE, op. cit., p. 238. 65 JESUS, op. cit., p. 43. 66 HUNGRIA apud GOMES, op. cit., p. 93. 67 FRANCO apud GOMES, op. cit., p. 93 68 GOMES, op. cit., p. 94.

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Outrossim, mister se faz comentar o modus operandi do estelionato previdenciário, pois ocorre por meio da inserção de vínculos empregatícios fictícios e que, por conseguinte, levam a erro o Instituto Nacional de Seguro Social – INSS.

Os vínculos empregatícios são examinados com base no Cadastro Nacional de Informações, denominado como CNIS, entretanto, caso não seja confirmado ou esteja datando períodos diferentes ou ainda, a majoração dos salários de contribuições informados para o período básico de cálculo para obtenção do benefício fraudulento esteja se mostrando incompatível com as anotações na Carteira de Trabalho, extrai-se da análise conjunta destes documentos a confirmação da fraude previdenciária. 70

Observe-se o enunciado do verbete n.º 24, do Superior Tribunal de Justiça: “aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como vítima entidade autárquica da previdência social, a qualificadora do § 3.º do art. 171 do Código Penal.”

Desta feita, considerando esses argumentos, assim como a existência de interesse da União Federal, compete à Justiça Federal processar e julgar aqueles que lesionam o INSS.

Por fim, o Instituto Nacional de Seguro Social é um ente administrativo federal autônomo, criado pela Lei n.º 8.029/01, tendo sido regulamentada pelo Decreto n.º 99.350/90, com personalidade jurídica própria de direito público interno, patrimônio próprio e atribuições estatais específicas. A autarquia é forma descentralizada administrativa, por meio da personificação de um serviço delegado pela administração direta e centralizada. 71

2.3 – SONEGAÇÃO PREVIDENCIÁRIA

Pode-se observar que, em tempos remotos, o crime de sonegação previdenciária foi tratado de maneira desonrosa, visto que a Lei n.º 3.807/1960, com redação concedida pelo Decreto-lei 66/66, já atribui como delito de sonegação fiscal parte das condutas dispostas nos incisos I e II, do dispositivo mencionado, onde seus tipos penais foram reproduzidos no artigo 222, incisos I a IV, da Consolidação das Leis da Previdência Social.72

Por sua vez, a Lei n.º 8.137/90 também cuidou dos delitos previdenciários em seu Capítulo I, que dispõe sobre os crimes contra a ordem tributária, porém, com o advento da Lei n.º 8.212/91, o seu art. 95 inseriu no ordenamento jurídico condutas atentatórias à previdência social, mas, por má técnica legislativa, o legislador derivado estabeleceu tipos penais sem as respectivas sanções, logo acabaram sendo desqualificadas como normas penais, ante a ausência da sanção, elemento este peculiar e essencial para estabelecer um normal penal incriminadora.73

Nesse diapasão, considerando o fracasso legislativo e em razão da necessidade de tutelar as condutas criminosas praticadas contra a previdência social, foi editada a Lei n.º 9.983/00, que derrogou expressamente o art. 95, da Lei n.º 8.212/91, no que pertine às

70 TEIXEIRA, Francisco Dias. Crimes contra a previdência social em face da lei n.º 9.983/00. São Paulo: Boletim dos Procuradores da República – Ano III, n.º 30, outubro de 2000, p. 4. 71 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 30. ed., São Paulo: Malheiros, 2005, p. 336. 72 PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal brasileiro – parte especial, v4, 4. ed, São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2006, p. 535. 73 Ibid, p. 535.

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condutas incriminadoras previdenciárias, bem como o art. 1.º, inciso I, da Lei n.º 8.137/90, que tratava, também, da sonegação de créditos previdenciários.74

Pois bem, a sonegação é toda ação ou omissão dolosa visando impedir ou retardar, de forma total ou parcial, o conhecimento por parte da autoridade fiscal fazendária da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza e as condições materiais, bem como as condições pessoais do contribuinte, suscetíveis de interferir na obrigação principal ou no respectivo crédito tributário.

No entanto, no que se refere à fraude, entende-se que é toda ação ou omissão dolosa com o fito de impedir ou retardar, total ou parcialmente, o nascimento do fato gerador do dever tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, a fim de reduzir o montante do tributo devido, ou a evitar ou diferir o seu efetivo pagamento. 75

Desta forma, se vê que a sonegação consiste na ocultação do fato gerador, com o fim de não pagar o tributo devido à fazenda pública, de acordo com a lei, enquanto que a fraude visa à falsificação de documentos fiscais, na prestação de informações inverídicas ao fisco ou na inserção de elementos inexatos ou majorados nos livros fiscais ou nas declarações, de modo a não efetuar o pagamento, assim como de pagar o valor inferior ao devido. 76

O tipo penal estabelecido no art. 337-A, do Diploma Penal, visa proteger, primeiramente, o patrimônio da previdência social, mas, ao examinar em um segundo plano, apura-se o fito da coletividade, representada nos segurados presentes e futuros, que usufruem e naqueles que usufruirão um dia, quando se aposentarem. 77

Nesse contexto, O Direito Penal contemporâneo passou a tutelar também os bens jurídicos transindividuais, tais como: meio ambiente, a saúde, a ordem econômica e outros, com o principal objetivo de garantir as prestações das políticas públicas, ou seja, garantir o cumprimento do direito do cidadão e do dever do Estado em possibilitar a dignidade a todo cidadão, que vive no seio dessa sociedade. 78

Os sujeitos ativos do crime de sonegação previdenciária podem ser os empresários individuais, assim como aqueles que ocupam cargo público administrativo ou técnico-contábil-financeiro nas sociedades empresariais, os sócios-gerentes, os membros dos conselhos de administração, os diretores, os contadores, os gerentes de contabilidade, administradores e financeiros, ou ainda, os chefes do departamento de emissão de documentos fiscais de interesse do INSS, ou seja, o responsável tributário. 79

No tocante ao sujeito ativo, somente pode ser o Estado, representado pela União Federal e por sua autarquia, pois somente esta tem capacidade ativa para arrecadar as contribuições previdenciárias. 80

O tipo objetivo de cada delito se manifesta por meio dos verbos consignados em sua disposição, visto que os núcleos verbais retratam as elementares do tipo, isto é, os núcleos incriminadores. No caso em testilha, extraim-se do dispositivo 337-A, do CP os tipos

74 TAVARES, op. cit., p. 403 75 PRADO, op. cit., p. 536. 76 TORRES, Ricardo Lobo. Curso de direito financeiro e tributário. 13. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 328. 77 DELMANTO, op. cit., p. 689. 78 PRADO, op. cit., p. 537. 79 DELMANTO, op. cit., p. 689. 80 PRADO, op. cit., p. 539.

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alternativos, materializados na conduta de suprimir ou reduzir contribuição previdenciária, podendo ser praticadas nas formas assinaladas nos incisos daquele artigo. 81

Urge mencionar que, apesar do núcleo verbal do tipo penal seja supressão ou redução das contribuições previdenciária, as condutas dos incisos do art. 337-A, do Diploma Penal são todas omissivas, uma vez que a previdência social é altamente rigorosa com a escrituração contábil das empresas, estabelecendo normas detalhadas e minuciosas para evitar a sonegação. 82

O crime de sonegação previdenciária exige a lesão patrimonial para a sua consumação, haja vista ter natureza de crime material, ou seja, necessário se faz o resultado ou dano para sua configuração, logo não basta a conduta omissiva (omitir ou deixar de lançar) para se obter a consumação; portanto, necessário se faz a ocorrência do dano em desfavor da previdência social.83

Ademais, cuida-se de delito de crime comissivo de conduta mista. É comissivo em razão da norma final ser proibitiva (está proibido suprimir ou reduzir contribuição social), mas ao mesmo tempo, pela maneira que a conduta delituosa ocorre é omissiva, possibilitando, assim, a tentativa, em tese.84

Obstante a isso, é o entendimento do jurista Antonio Lopes Monteiros:

De acordo com o art. 14, I. do Código penal. Diz-se do crime consumado quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal. Ou seja, “a noção da consumação expressa a total conformidade do fato praticado pelo agente co a hipótese abstrata descrita pela norma incriminadora”. Assim sendo, a consumação dar-se-á com a prova de que houve efetiva supressão ou redução do tributo mediante uma das condutas praticadas pelo agente e descritas nos incisos. Mesmo sendo crime contra a Administração Pública. Entendemos que não se pode falar em consumação se de fato não houver a presença de uma das elementares do tipo. Na vigência da Lei n.º 4.729/65. como já observado podia admitir-se a consumação “antecipada”, já que se tratava de crime formal ou de mera conduta. Com a Lei n.º 8.137/90 e mais ainda com atual, entendemos que deve prevalecer o raciocínio acima exposto.

Sendo crime omissivo, a tentativa é impossível. 85

Para corroborar o entendimento do jurista Antonio Lopes descrito acima, Celso Delmanto também assinala que se trata de crime material, com especial fim de agir, o que impossibilita a sua ocorrência na modalidade tentada. 86

Com relação ao tipo subjetivo, o delito em comento impõe o dolo específico para sua ocorrência, isto é, o especial fim de agir, qual seja, vontade livre e consciente em suprimir ou reduzir contribuição previdenciária ou acessório. 87

Por conseguinte, vê-se que é possível a aplicação do perdão judicial no delito em tela, haja vista expressa disposição. Como foi dito no crime de apropriação indébita, o perdão judicial é tratado pelo legislador como uma faculdade do juiz, porém, quando se encontrarem

81 MONTEIRO, op. cit., p. 60. 82 Ibid, p. 61. 83 GOMES, op. cit., p. 81. 84 Ibid, p. 81. 85 MONTEIRO, op. cit., p. 62. 86 DELMANTO, op. cit., p. 690. 87 PRADO, op. cit., p. 540.

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presentes as circunstâncias subjetivas e objetivas exigidas pela norma permissiva, o julgador estará obrigado a concedê-lo, logo se torna um direito subjetivo do réu e não mais uma faculdade concedida ao magistrado. 88

Além disso, examina-se no crime de sonegação, que ao contrário do próprio art. 168-A, § 2.º, do CP, que prevêem a extinção da pretensão punitiva do Estado quando o agente efetua o pagamento da contribuição social devida antes do oferecimento da exordial acusatória, o sonegador não será punido se, de forma espontânea, declarar e confessar as contribuições, importâncias ou valores sonegados e prestar as devidas informações à previdência social, desde que não tenha sido iniciada a ação fiscal.89

Por fim, urge comentar, ainda, a Lei n.º 10.684/2003, pois o art. 9, § 2.º estabelece a extinção se a pessoa jurídica, por meio do seu responsável efetua o pagamento, quitando, assim, os débitos fiscais com a previdência social, inclusive os acessórios; porém, poderá a pretensão punitiva do Estado ficar suspensa durante o período em que a pessoa jurídica estiver incluída no regime de parcelamento, conforme o disposto no art. 9.º, § 1.º da mesma norma.90

Desta feita, com o implemento desse instituto no ordenamento jurídico, o parcelamento, que era considerado uma benesse, passou a ser um grande causador das impunidades, pois grandes empresários, por meio de bons advogados, começaram a usá-lo como instrumento de barganha com o Estado para retardar o efetivo pagamento das contribuições sociais e dos tributos em si devidos. 91

Por derradeiro, Hugo de Brito salienta que a extinção da punibilidade pelo pagamento do tributo tem sido objeto de sérias divergências, porém o Supremo Tribunal Federal consagrou que o pagamento do débito fiscal a qualquer tempo extingue a punibilidade de qualquer desses crimes (apropriação indébita e sonegação previdenciária e os crimes contra ordem tributária), mesmo depois de já oferecida à denúncia pelo Ministério Público. 92

88 MONTEIRO, op.cit., p. 64. 89 PRADO, op.cit., p. 545. 90 Ibid, p. 546. 91 TORRES, op.cit., p. 325. 92 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 489.

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CAPÍTULO 3 – O PARCELAMENTO DOS DÉBITOS PREVIDENCIÁRIOS E SEUS EFEITOS NA PRETENSÃO PUNITIVA DO ESTADO

3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS PROGRAMAS DE RECUPERAÇÃO FISCAL DO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

O primeiro programa de recuperação fiscal foi introduzido no ordenamento no final do ano de 1999, por meio da Medida Provisória n.º 1.923, de 06 de outubro de 1999, tendo sido reeditada duas vezes à qual se seguiu a MP n.º 1.931, de 1.º de dezembro de 1999 e por sua vez, a MP n.º 2.004, de 04 de dezembro de 1999.

Note-se que esta medida provisória foi reeditada quatro vezes até surgir a Lei n.º 9.964/2000, sendo que esta também sofreu inúmeras alterações pelas leis n.ºs 10.002/2000 10.189/2001, e, por conseguinte, sobreveio a Lei n.º 10.684/2003.93

Por conseguinte, o REFIS foi alvo de diversos decretos regulamentadores, assim como de uma série de portarias, instruções normativas expedidas pela Secretaria da Receita Federal regulando o parcelamento dos débitos tributários.

Todavia, Sabe-se que o grande móvel do Estado é a arrecadação dos tributos, pois sem eles, a Administração Pública não pode implementar suas políticas, logo não atendendo o disposto na Carta Constitucional de 1988, bem como o interesse da coletividade e a fiel organização do Estado.

Com efeito, vê-se que a Lei n.º 9.964/2004 e a Lei n.º 10.684/2003 são diplomas básicos para promover a arrecadação dos tributos para o Estado.

O programa de recuperação fiscal tem o objetivo de regularizar os créditos da União Federal, decorrentes de débitos de pessoas jurídicas, relativos a tributos a contribuições, supervisionados pela Secretaria da Receita Federal e pelo Instituto Nacional de Seguro Social.

Deste modo, ao observar o conteúdo dessas normas legais, encontra-se em seu corpo questões tributárias, administrativas e penais, que causam muitas divergências entre a doutrina e a jurisprudência.

Por fim, conclui-se que a Lei n.º 9.964/2004 estabelecia conflitos entre o Direito Penal e o Direito Tributário, gerando inúmeros transtornos quando da pretensão de punir do Estado, no entanto, a Lei n.º 10.684/2003 é menos confusa por um lado, porém ainda comete erros gravíssimos, pois mistura questões administrativas com penais, causando, assim, testilha na doutrina e na jurisprudência; mas o principal desiderato desta norma é incentivar cada vez mais que os contribuintes em débito recolham os tributos devidos à fazenda pública, proporcionando uma maior arrecadação do Estado brasileiro para o implementos de seus planos de governo.

3.2 ASPECTOS JURÍDICOS DAS LEIS N.ºS 9.964/2000 E 10.684/2003 NO DIREITO DE PUNIR DO ESTADO

93 MONTEIRO, op. cit., p. 157.

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A norma legal n.º 9.964/2000 que implementou o REFIS tem caráter estritamente temporário, vez que a opção por este parcelamento teria que ser realizado até o último dia do mês de abril e abrangiria até 29 de fevereiro de 2000, constituído ou não, inscritos ou não na dívida ativa da Fazenda Nacional, enquanto que a lei n.º 10.684/2003, se destina a promover a regularização dos créditos da União e do INSS e naqueles mesmos termos, no entanto, sua aplicação seria relativo a tributos com vencimentos até 28 de fevereiro de 2000.94

Note-se que, apesar dos enormes benefícios concedidos pela lei para aquelas empresas que fizessem a opção pela sua inclusão ao programa de parcelamento, as exigências, ou seja, os requisitos impostos pela própria norma inviabilizavam a entrada de inúmeras empresas. 95

Desta forma, o dispositivo 3.º da Lei n.º 9.964/2000 discriminava os seguintes requisitos para a inclusão da empresa ao programa de consolidação e parcelamento dos créditos tributários e previdenciários: I – confissão irrevogável e irretratável dos débitos inseridos no programa; II – autorização de acesso irrestrito pela Secretaria da Receita Federal, bem como pelo INSS à movimentação financeira da empresa durante todo o período de aderência ao parcelamento especial; III – acompanhamento fiscal específico, com fornecimento periódico, em meio magnético, de dados completos da contabilidade da empresa; IV – aceitação plena e irretratável de todas as condições estabelecidas no programa; V – cumprimento regular das obrigações para com o FGTS e o ITR; VI – pagamento regular das parcelas do débito submetido ao programa especial e, por fim, a norma legal acrescentava outras condições e garantias, como fiança, hipoteca, penhor, anticrese e seguro.

Sendo assim, caso a empresa não preenchesse os requisitos delineados na respectiva norma legal; não poderia aquela submeter seus débitos tributários ao programa de parcelamento especial, bem como se fosse submetida a tal, caso as pessoas jurídicas descumprissem as hipóteses descritas nos incisos I a V, consignados no art. 3.º, da Lei n.º 9.964/2000 seriam excluídas do programa.

Além disso, com relação ao inciso VI, daquele dispositivo, o inadimplemento ocorreria depois de passado três meses consecutivos ou seis alternados, para as empresas serem excluídas do programa de recuperação fiscal. 96

No art. 15, caput, da lei n.º 9.964/2000 se encontrava a suspensão da pretensão punitiva do Estado cuja aplicação poderia ser nos crimes previdenciários e nos delitos praticados contra a ordem tributária, porém, deve-se mencionar que este instituto não se confunde com a suspensão do processo, elencada no art. 89, da Lei n.º 9.099/95.

A suspensão da pretensão punitiva do Estado é conhecida como sursis processual, numa comparação com a suspensão condicional da pena descrita no art. 77, do CP, logo, descumpridas as condições para o gozo do benefício, este será revogado imediatamente. 97

Portanto, estará suspensa a pretensão punitiva do Estado para aqueles que conseguirem manter o pagamento em dia dos débitos inclusos no programa, isto é, enquanto estiverem incluídos no programa de recuperação fiscal, o Ministério Público não poderá, apesar de condicionalmente, ajuizar a competente ação penal, pois, neste caso, o Estado abriu mão de ius puniendi.

Além disso, se extrai do art. 15, § 3º, daquela legis, uma nova causa de extinção da punibilidade para a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos

94 PRADO, op. cit., p. 546. 95 MONTEIRO, op. cit., p. 159. 96 MONTEIRO, op. cit., p. 160. 97 MONTEIRO, p. 161.

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débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusiva acessórios, que tiverem sido submetidos ao programa de recuperação fiscal, antes do recebimento da exordial acusatória.

Logo, se houver a suspensão da pretensão punitiva do Estado em razão do parcelamento especial da lei que institui o REFIS e, tendo a pessoa jurídica cumprido com todas as disposições imposta pela aquela norma e pago todo o parcelamento, a punibilidade do agente estará extinta.

Todavia, note-se que esta expressão: antes do oferecimento da denuncia não tem sentido, uma vez que a lei já traz o requisito explícito quando concede a opção ao programa, gerando a suspensão da pretensão punitiva, isto é, mais uma vez, em função da má técnica legislativa, tem-se outro erro de redação. 98

Por derradeiro, o último ponto a se destacar e comentar da Lei 9.964/2000 é referente à suspensão da prescrição criminal instituída fora do Diploma Penal, isto é, no art. 15, § 1.º, da Lei n.º 9.964/2000 se extrai que a prescrição não corre durante o período de suspensão da pretensão punitiva do Estado. O instituto da prescrição é de direito material, logo as causas que suspendem ou interrompem seu curso possuem a mesma natureza. 99

Aponta-se que a criação de uma suspensão da pretensão punitiva estatal é um desfavor ao réu e, em razão do disposto no art. 5.º inciso XL, da CRFB/88 c/c art. 2.º, parágrafo único, do Código Penal não pode retroagir a um fato que ocorreu no passado.

Deste modo, a lei nova não poderia ser aplicada aos crimes ocorridos antes de sua vigência, porém a norma que institui o REFIS é puramente temporária e visa afetar as condutas criminosas que ocorreram antes da sua edição.100

Contudo, assinala-se que o REFIS se aplica aos débitos tributários com vencimentos antes do dia 29 de fevereiro de 2000 e, portanto, não poderia se aplicar a regra de prescrição trazida pela própria lei, em seu art. 15, § 3.º, sendo assim, estaria-se de frente com uma inconstitucionalidade clara.101

Assim, conclui-se que o REFIS, instituído pela Lei n.° 9.964/2000, proporcionava um enorme benefício ao contribuinte devedor, pois se o pagamento dos débitos previdenciários ocorressem antes do recebimento da denúncia extinguiria a punibilidade do ilícito tributário, ao passo que o requerimento de parcelamento do débito tributário antes do recebimento da exordial do Ministério Público, implicava na suspensão da pretensão punitiva do Estado.

Em contrapartida, com o advento da Lei n.º 10.684/2003, um novo conjunto de regramento dos efeitos do pagamento foi instituído no ordenamento jurídico brasileiro, refletindo indubitavelmente na ação penal a ser proposta pelo Ministério Público.

Assim, ao analisar o art. 9º da Lei n.º 10.684/2003 se extrai que o marco temporal do recebimento da exordial oferecida pelo Órgão Ministerial foi suprimido pelo novo texto normativo, logo não há mais limites para o efeito sobre a punibilidade do agente.

Por sua vez, observa-se que a Lei n.º 10.684/2003 não exige mais do contribuinte que esteja incluído no parcelamento instituído somente por ela, ou seja, no caput do art. 9.º encontra-se apenas a denominação “parcelamento”, logo a Lei 10.684/2003 amplia os efeitos jurídicos e penais, podendo ser qualquer tipo de parcelamento regido por outro regramento, ao

98 Ibid, p. 163. 99 PRADO, op. cit., p. 546. 100 GOMES, op. cit., p. 82. 101 MONTEIRO, op. cit., p. 164.

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contrário do que dispunha a antiga Lei n.º 9.964/2000, pois nesta somente se admitia o seu próprio parcelamento e não de outras normas.102

Sendo assim, não importa mais o momento em que ocorreu o requerimento do parcelamento, visto que de acordo com o art. 9º, § 1º, da Lei n.º 10.684/2003 a suspensão da punibilidade passou a ser a regra, independendo do instante que é ofertada a exordial acusatória pelo Órgão Ministerial.

Logo, se vê que o interesse em arrecadar do Estado se sobrepôs ao seu interesse de punir, o que fatalmente ocasiona uma imensa sensação de impunidade para toda sociedade.

Nesse sentido, se posiciona o Supremo Tribunal Federal através do entendimento do Ministro Relator Eros Grau, nos autos da ação de habeas corpus instada abaixo:

Ementa EMENTA: HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. APROPRIAÇÃO INDÉBITA DE CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS DESCONTADAS DOS EMPREGADOS. PARCELAMENTO E QUITAÇÃO APÓS O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE, POR FORÇA DA RETROAÇÃO DE LEI BENÉFICA. As regras referentes ao parcelamento são dirigidas à autoridade tributária. Se esta defere a faculdade de parcelar e quitar as contribuições descontadas dos empregados, e não repassadas ao INSS, e o paciente cumpre a respectiva obrigação, deve ser beneficiado pelo que dispõe o artigo 9º, § 2º, da citada Lei n. 10.684/03. Este preceito, que não faz distinção entre as contribuições previdenciárias descontadas dos empregados e as patronais, limita-se a autorizar a extinção da punibilidade referente aos crimes ali relacionados. Nada importa se o parcelamento foi deferido antes ou depois da vigência das leis que o proíbe: se de qualquer forma ocorreu, deve incidir o mencionado artigo 9º. O paciente obteve o parcelamento e cumpriu a obrigação. Podia fazê-lo, à época, antes do recebimento da denúncia, mas assim não procedeu. A lei nova permite que o faça depois, sendo portanto, lex mitior, cuja retroação deve operar-se por força do artigo 5º, XL da Constituição do Brasil. Ordem deferida. Extensão a paciente que se encontra em situação idêntica. Decisão:A Turma deferiu o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator. Unânime. 1a. Turma, 17.05.2005.HC 85452 / SP - SÃO PAULO HABEAS CORPUS Relator(a): Min. EROS GRAU Julgamento: 17/05/2005 Órgão Julgador: Primeira Turma Publicação: DJ 03-06-2005 PP-00045 EMENT VOL-02194-02 PP-00418 RDDT n. 120, 2005, p. 221 RTJ VOL-00195-01 PP-00249

Além disso, observa-se que o entendimento acima explicitado aplica-se também ao caso do pagamento integral, logo pode ser feito ante do recebimento da denúncia ou depois dela para que se opere o efeito da extinção da punibilidade do Estado, tendo em vista o princípio da isonomia previsto no art. 5. º caput, da CRFB/88. 103

Outrossim, observando a exegese da Lei n.º 10.684/2003 se depreende que esta norma jurídica possui apenas o caráter meramente arrecadatório, vez que em nenhum momento o legislador se preocupa com o direito penal, ou ainda com os efeitos gerados pela descriminalização implícita, tendo em vista que o Estado não detém nenhuma medida coercitiva prevista nesta norma, quer para coibir à prática de sonegação fiscal, quer para impor aos contribuintes que pagem à Fazenda Pública o devido.

O Procurador da República José Maurício entende que a Lei n.º 10.684/2003 é claramente inconstitucional, uma vez que fere o princípio da isonomia ao tratar igualmente

102 FÖPPEL, Gamil. Crimes tributários. v1. 1.ed., Salvador: JusPODIVM, 2005, p.75. 103FÖPPEL, op. cit., p.77.

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situações desiguais, ou seja, este norma trata igualmente o sonegador e o inadimplente, pois lhe oferece um benefício sem apurar realmente quais foram as razões que levaram à empresa a ficar em débito com a fazenda pública, logo será favorecido o sonegador.104

Ora, de fato, o sonegador poderá quitar o seu débito de maneira mais fácil, pois terá dinheiro em seu caixa, evitando, assim, aplicação da lei penal, enquanto que o inadimplente não; tendo este a incumbência de demonstrar, ao longo da instrução criminal ou mesmo durante o apuratório uma excludente de antijuridicidade ou da culpabilidade, o que acresce ainda mais a desigualdade entre eles, proporcionando maiores vantagens aos sonegadores.

Com efeito, há que se mencionar também sobre a independência das instâncias, neste caso, a administrativa e judicial. Frise-se que o caput, do art. 83 da Lei n.º 9.430/96 prevê que a Secretaria da Receita Federal, assim como o Instituto Nacional de Seguro Social – INSS encaminhará a representação fiscal para fins penais relativa aos seus respectivos débitos ao Ministério Público após proferida a decisão final, no âmbito administrativo, sobre a exigência da constituição do crédito tributário, logo é visível a violação daquele preceito.105

Com base nisso, os advogados criminais da área tributária, defensores dos sonegadores, sustentam que a constituição do crédito tributário e o término do processo administrativo seriam uma espécie de condição de procedibilidade para o ajuizamento da ação penal imposta ao Ministério Público, no entanto, esse argumento deve ser visto com cuidado, uma vez que o procedimento administrativo não suspende e nem interrompe o curso da prescrição penal.

Todavia, o Supremo Tribunal Federal assim se manifesta na Ação Direta de Inconstitucionalidade ajuizada pelo Procurador Geral da República:

EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Art. 83 da Lei no 9.430, de 27.12.1996. 3. Argüição de violação ao art. 129, I da Constituição. Notitia criminis condicionada "à decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário". 4. A norma impugnada tem como destinatários os agentes fiscais, em nada afetando a atuação do Ministério Público. É obrigatória, para a autoridade fiscal, a remessa da notitia criminis ao Ministério Público. 5. Decisão que não afeta orientação fixada no HC 81.611. Crime de resultado. Antes de constituído definitivamente o crédito tributário não há justa causa para a ação penal. O Ministério Público pode, entretanto, oferecer denúncia independentemente da comunicação, dita "representação tributária", se, por outros meios, tem conhecimento do lançamento definitivo. 6. Não configurada qualquer limitação à atuação do Ministério Público para propositura da ação penal pública pela prática de crimes contra a ordem tributária. 7. Improcedência da ação

ADI 1571 / UF - UNIÃO FEDERAL AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. GILMAR MENDES Julgamento: 10/12/2003 Órgão Julgador: Tribunal Pleno Publicação: DJ 30-04-2004 PP-00027 EMENT VOL-02149-02 PP-00265

Note-se que o Supremo Tribunal Federal acertou em sua interpretação sobre esse assunto, pois entendeu que a exigência disposta na Lei n.º 9.430/96 apenas regula a atividade administrativa, não se tratando de questão de procedibilidade para propositura da respectiva ação penal, com base nos princípios da inafastabilidade das decisões judiciais e da separação e

104 GONÇALVES. José Maurício. Da inconstitucionalidade do art. 9.º, § 1º e § 2º, da lei 10.684 de 30 de maio de 2003. Rio de Janeiro: Boletim dos Procuradores da República – Ano V, n.º 62, junho de 2003, p. 10. 105 GONÇALVES, Luiz Carlos dos Santos.. Crimes contra a ordem tributária e a nova lei do refis. São Paulo: Boletim dos Procuradores da República – Ano V, n.º 62, junho de 2003, p. 20.

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independência dos poderes, previstos nos artigos 2.º e 5.º, inciso, XXXV, ambos da CRFB/1988.

Nesse diapasão, insta salientar que essa questão continuava em plena testilha entre os seus próprios membros, tendo em vista que o Excelso Pretório não tinha se manifestado de forma definitiva, porém, no HC 81.611-DF, o seu Tribunal Pleno entendeu que o exaurimento da via administrativa é condição de procedibilidade para o Ministério Público deflagrar a competente ação penal.

Desta forma, é hoje o entendimento pacífico do Supremo Tribunal Federal sobre acerca do procedimento administrativo como condição de procedibilidade para o ajuizamento da ação penal pelo Ministério Público:

EMENTA: I. Crime material contra a ordem tributária (L. 8137/90, art. 1º): lançamento do tributo pendente de decisão definitiva do processo administrativo: falta de justa causa para a ação penal, suspenso, porém, o curso da prescrição enquanto obstada a sua propositura pela falta do lançamento definitivo. 1. Embora não condicionada a denúncia à representação da autoridade fiscal (ADInMC 1571), falta justa causa para a ação penal pela prática do crime tipificado no art. 1º da L. 8137/90 - que é material ou de resultado -, enquanto não haja decisão definitiva do processo administrativo de lançamento, quer se considere o lançamento definitivo uma condição objetiva de punibilidade ou um elemento normativo de tipo. 2. Por outro lado, admitida por lei a extinção da punibilidade do crime pela satisfação do tributo devido, antes do recebimento da denúncia (L. 9249/95, art. 34), princípios e garantias constitucionais eminentes não permitem que, pela antecipada propositura da ação penal, se subtraia do cidadão os meios que a lei mesma lhe propicia para questionar, perante o Fisco, a exatidão do lançamento provisório, ao qual se devesse submeter para fugir ao estigma e às agruras de toda sorte do processo criminal. 3. No entanto, enquanto dure, por iniciativa do contribuinte, o processo administrativo suspende o curso da prescrição da ação penal por crime contra a ordem tributária que dependa do lançamento definitivo. HC 81611 / DF - DISTRITO FEDERAL HABEAS CORPUS Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE Julgamento: 10/12/2003 Órgão Julgador: Tribunal Pleno Publicação: DJ 13-05-2005 PP-00006 EMENT VOL-02191-1 PP-00084

Em razão desse posicionamento do STF, o Procurador da República no Estado de São Paulo entende: “é em relação aos crimes contra a ordem tributária que se procede, no Brasil, à maior desmoralização do instrumental do Direito Penal”. 106

A doutrina e a jurisprudência classificam o Direito Penal como sendo um instrumento usado para proteção de bens jurídicos mais importantes, ou seja, é a ultima ratio usada pelo Estado lato sensu para coibir a prática de condutas delituosas em face de toda coletividade.

Contudo, considerando a posição acima do Supremo Tribunal Federal, vê-se que a essência do Direito Penal ficou totalmente abandonada, ante o visível interesse de arrecadar do Estado, porém a verdade real parece ser outra, pois, neste caso, há muitos interesses em jogo; além disso, insta salientar que a clientela da Justiça Federal, isto é, os que cometem esses tipos de crimes, é bastante selecionada, sendo às vezes compostas por políticos, servidores públicos, membros do Poder Judiciário, advogados ou, por seus familiares.

106 GONÇALVES, L. C. S. op. cit., p. 21.

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3.3 – PRISÃO POR DÍVIDA TRIBUTÁRIA

Preliminarmente, antes de adentrar no estudo do tema “prisão por dívida tributária”, devem ser analisadas as seguintes expressões: Direito Penal Tributário e Direito Tributário Penal, a fim de que se obtenha um maior entendimento acerca desse ponto.

Observa-se que a sociedade confere ao Estado a realização do bem comum, no entanto, para que ele desempenhe esse papel, mister se faz a instituição de receitas.107 Daí, é que surge a necessidade de se instituir tributos, a fim de se consiga manter o Estado e suas atividades a ele impostas por nós através da Constituição da República.

Portanto, o tributo é um instrumento legítimo para a mantença do Estado, cujo pagamento se torna um dever cívico de todos os cidadãos. 108

Todavia, é certo que nem todos cumprem os seus deveres, devendo, neste caso, ser impostas as devidas sanções, desde que estas estejam previstas em lei de forma prévia, consagrando, assim, também os preceitos exarados no texto da Carta Magna de 1988.

Diante disso, nasce para o Estado o dever de criar meios para prevenir condutas e combater aqueles que não cumprem com as suas obrigações tributárias, isto é, a partir da violação das leis fiscais, se poderá aplicar sanções de natureza administrativas ou penais aos contribuintes.

Note-se que os comportamentos podem se revestir de características diferentes, ou seja, as infrações poderão ter duas classificações: a primeira de meras infrações fiscais, ao passo que na segunda, serão taxados como ilícitos tributários ou crimes fiscais. Neste caso, as condutas são consideradas pelo Estado mais graves e mais lesivas à sociedade, uma vez que serão utilizados meios de artifícios fraudulentos para o seu efetivo exaurimento.

Por sua vez, há divergência quanto à autonomia acerca daquelas expressões: Direito Penal Tributário e Direito Tributário Penal.109 Lídia Maria estabelece que as normas de Direito Penal Tributário visam tutelar o patrimônio do sujeito ativo da obrigação tributária, prescrevendo pena ou medida de segurança sempre que o descumprimento das obrigações tributárias se der por meio de artifícios fraudulentos, seguindo a descrição legal e quando estiverem presentes os elementos que informam a culpabilidade;110 ao passo que o Direito Tributário Penal tem por objetivo obter a punibilidade do agente apenas em relação às obrigações tributárias, descritas na órbita das leis tributárias.

Sendo assim, os crimes de cunho tributário como sonegação, fraude e apropriação indébita de tributo sujeitam o autor do delito a jurisdição criminal, logo, estes delitos estão inseridos no âmbito do Direito Penal Tributário, enquanto que as infrações meramente tributárias, estipuladas em leis tributárias, estão no âmbito do Direito Tributário Penal.

Por fim, José Frederico Marques assevera que o Direito Penal Tributário tem como escopo tutelar os interesses estatais e punir a prática de condutas graves tipificadas como crimes, que afetem diretamente o Estado e, por conseguinte, a sociedade, enquanto que o Direito Tributário Penal se destina a punir meros ilícitos administrativo-tributários, isto é, o Estado aplicará somente sanções administrativas, não havendo qualquer repercussão na esfera

107 MACHADO, op. cit., p.49. 108 RIBAS, Lídia Maria Lopes Rodrigues. Direito penal tributário. 2ª. ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p.14. 109 RIBAS, op. cit., p. 16 110 Ibid, op. cit., p. 17.

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criminal, uma vez que não houve qualquer ofensa ou dano direto ou indireto ao patrimônio público. 111

Ultrapassados esses pontos introdutórios, mister se faz debater a questão da “prisão por dívida tributária”. O art. 5. º, inciso LXVII, da Constituição da República de 1988, estabelece que não haja prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e do depositário infiel, sendo que este último foi relativizado pelo próprio Supremo Tribunal Federal.

A partir desse preceito constitucional, surgem dois aspectos acerca do instituto da prisão, os quais devem ser analisados e diferenciados entre si, a fim de que se possa identificar a natureza jurídica de cada um deles.

Na Carta Magna de 1988, o legislador originário preconizou a proibição da prisão civil por dívida, ou seja, o ordenamento jurídico constitucional impede que se ameace com prisão o devedor civil.

Todavia, é importante ressaltar que esse instituto diverge da prisão decorrente da prática dos crimes tributários ou aqueles cometidos em detrimento da previdência social, pois, neste caso, se exige a apuração inequívoca da intenção do agente de tomar para si os valores correspondentes aos tributos ou às contribuições sociais que se deve pagar à autoridade fazendária, ou seja, deve estar presente o dolo em lesar o erário público.

Isso já não ocorre na prisão civil por dívida, visto que o credor, bem como o Estado, não pode compelir um devedor a efetuar o respectivo pagamento de uma dívida, sob a ameaça de prendê-lo, salvo as exceções previstas na Constituição da República de 1988. 112

Ademais, insta trazer à baila a discussão acerca da Lei n.º 8.866/94, eis que neste ordenamento há previsão quanto à hipótese de prisão por dívida, haja vista que considera como depositário infiel aquele que deixar de recolher ao Tesouro tributo devido no momento hábil.

Neste caso, observa-se que a lei considera como depositário infiel aquele que retiver ou receber tributo e não repassá-lo ao fisco; invertendo, assim, o conceito desse instituto jurídico criado há tempos pela legislação civil.

Outrossim, de acordo com o art. 110, do Código Tributário Nacional, pois prevê que a lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição da República e pelos demais ordenamentos jurídicos, para definir ou limitar competências tributárias.

Portanto, o legislador, em matéria tributária, não poderá alterar o conceito de depositário para atender o seu interesse pessoal, ou seja, o desiderato de arrecadar a qualquer custo, mesmo que tenha que prender o contribuinte ou quem tinha o dever de repassá-lo e não fez no tempo devido.

É sabido, ainda, que o depositário infiel é aquele que não restitui a coisa que lhe foi entregue em depósito, ao ser reclamada pelo depositante, o que diverge flagrantemente do conceito criado pela Lei n.º 8.866/94.

111 MARQUES apud EISELE, Andreas. Crimes contra a ordem tributária. São Paulo: Dialética, 1998, p. 16. 112 RIBAS, op. cit., p.98.

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Lídia Maria Ribas conclui que a Lei n.º 8.866/94 é inconstitucional, tendo em vista que impõe prisão civil por dívida tributária em circunstâncias diversas daquelas estabelecidas no texto constitucional pátrio.113

Além disso, a citada autora acrescenta, ainda, que legislador cria um outro tipo de depósito que não está disposto no ordenamento jurídico brasileiro e, que é claramente incompatível com a Constituição da República de 1988.114

No entanto, o STF, através do relator Ministro Gilson Dipp, teve entendimento contrário àquele da jurista Lídia Maria, vez que considerou a Lei n.º 8.866/94 de índole eminentemente civil, não persistindo qualquer relação com à esfera criminal, ou seja, a contrario sensu entendeu que a norma é constitucional e, que a prisão pode ser imposta sem qualquer objeção, por se tratar de depositário infiel.115

De outro giro, com relação aos delitos tributários, não há que se aventar em nenhuma hipótese de inconstitucionalidade; 116 uma vez que o Estado tem direito de regular a ordem tributária, também terá direito de criar mecanismos de defesa, a fim de que se possa garantir a aplicação das políticas públicas e, por conseguinte, garantir a paz social e da preservação dos bens públicos.

Todavia, não poderá o legislador derivado criminalizar toda e qualquer conduta, haja vista o princípio da intervenção mínima; segundo este preceito, somente devem ser criados crimes e cominadas penas quando houver necessidade de se proteger um bem jurídico bastante importante para a sociedade.117

Desta forma, sempre será lídimo criminalizar uma conduta, quando houver violação a um bem jurídico ou a direito instado no texto da Constituição da República de 1988. A partir daí, é indubitável a constitucionalidade das condutas tipificadas como crime para proteger à Seguridade Social, estabelecida no art. 194, da CRFB/1988.

Nesse sentido, se posiciona o jurista e Procurador da República Luciano Feldens, posto que de acordo com ele, ao Direito Penal é reservada uma missão de grande relevância, voltada à proteção dos direitos e dos interesses constitucionais.118

Ademais, observa-se de forma irreprochável, que o Direito Penal por si só denota claramente a transindividualidade. Por isso, incumbe a ele à missão de proteger os direitos e interesses coletivos e difusos, a fim de assegurar a paz social.

Registre-se, ainda, que a missão central do Direito Penal se resume em proteger apenas os valores elementares da vida em comunidade, ou seja, a defesa dos valores e preceitos fundamentais previstos na Tábua Axiológica de 1988, tendo como fundamento o Estado Democrático de Direito. 119

Além desses fortes fatores, note-se que o Estado Democrático de Direito é constituído pela existência de uma Constituição e, que representa um instrumento político-normativo; além de ser considerado cimeiro das fontes de direito,120 também é o meio pelo qual promove 113 RIBAS, op. cit., p. 101. 114 Ibid, p. 101. 115HC n.º 11831/MG - Habeas Corpus n.º 2000/0000909-1, Min. Gilson Dipp, publicado no DJU em 27/06/2000. 116 MACHADO, op. cit., p. 483. 117 BALTAZAR JUNIOR, op. cit., p.183. 118 FELDENS, op. cit., p.31. 119 WELZEL, HANS. Derecho penal alemán – parte geral, 11. ed., 4. ed., castellana. Santiago, Editorial Jurídica do Chile, 1993, p 2. 120 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constitucional. 4. ed. Coimbra: Almedina, 2001.

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a garantia de direitos individuais e da sociedade, delineando, assim, o Estado Social e seus deveres para com a sociedade e vice-versa.

Sendo assim, entende-se que o Estado Democrático de Direito significa uma forma de estruturar o Estado e impor regras às pessoas que nele habitam, podendo criar direitos e pretensões e obrigações. Com base nisso, poderá o mesmo Estado tipificar condutas e cominar penas para elas, a fim de que se adeque realidade social do país e, que corresponda a um Estado Social, democrático e justo para todos os membros da sociedade.

Portanto, o Estado Democrático de Direito instituído no art. 1.º, da Constituição da República de 1988, é também um fundamento de validade para legitimar a organização da estrutura estatal criminalizante.121 De conseguinte, isso pode ser claramente visto nas atribuições dadas pelo legislador originário ao Ministério Público, quer no âmbito da União Federal, quer na órbita dos Estados membros da Federação, pois a ele compete zelar pelo Estado Democrático de Direito, nos termos do art. 127, caput, da Carta Magna de 1988.

Por derradeiro, conclui-se que em se falando em inadimplência de dívida tributária, não haverá necessidade de tutela penal, devendo, neste caso, o inadimplente sofrer apenas sanção administrativa;122 porém, caso haja práticas de fraudes, bem como a intenção e a vontade inequívoca de provocar prejuízos, apropriando de tributos ou sonegando-os ao Fisco, caberá a interpelação jurisdicional na órbita criminal pelo Ministério Público, independentemente das sanções a serem estabelecidas nas esferas administrativa e cível, haja vista o princípio da garantia jurisdicional,123 prevista no art. 5.º, inciso XXXV, da CRFB/88.

121 FELDENS, op. cit., p.107. 122 MACHADO, op. cit., p. 483. 123 RIBAS, op. cit., p.54.

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CONCLUSÃO

Efetuado o estudo proposto, conclui-se que a história da legislação previdenciária é um verdadeiro caos, principalmente, no âmbito criminal, visto que não há ainda uma lei específica regulando apenas os crimes previdenciários, como é o caso da Lei dos Crimes contra o Sistema Financeiro e na Lei de Lavagem de Ativos.

Por sua vez, no primeiro capítulo deste trabalho, foram apresentados os preceitos fundamentais da Seguridade Social descritos na Constituição da República de 1988, evidenciando, assim, a verdadeira importância da previdência social para toda sociedade e a necessidade do Direito Penal protegê-la.

Questionou-se, também, a atuação preventiva e repressiva do direito penal e a sua correlação com as normas que instituíram os programas de recuperação fiscal.

Diante disso, conclui-se que os REFIS não possuem qualquer aspecto preventivo e repressivo; pelo contrário, incentivam cada vez mais aos empresários a sonegarem e se apropriarem das contribuições sociais devidas ao INSS.

No segundo capítulo foram apresentados os principais delitos praticados contra a previdência social e elencados no Direito Penal brasileiro. A partir daí, definiu-se o objeto jurídico, o tipo objetivo, o tipo subjetivo, a conduta, a possibilidade de tentativa ou não, a pena e a espécie de ação penal a ser deflagrada, de acordo com cada delito examinado, bem como em consonância com a doutrina e a jurisprudência contemporânea.

Diante disso, conclui-se ainda que, embora esses delitos estejam tipificados no Diploma Penal brasileiro, mister se faz a elaboração de uma lei exclusiva para tratar a matéria de forma correta, a fim de que se obtenha a preservação da previdência social e, por conseguinte, um país menos desigual e mais justo, visto que os tipos penais vigentes não alcançam o grau de efetividade desejado e necessário para isso.

Por conseguinte, já no terceiro capítulo, foi traçado um panorama sobre a evolução histórica dos programas de recuperação fiscal - REFIS criados no Brasil, tendo como fundamento as Leis n.ºs 9.964/2000 e 10.684/2003.

Desta forma, pode-se estabelecer o principal motivo do Estado para criação dessas normas jurídicas e, de conseguinte, demonstrar os conflitos por elas trazidos, já que confundem a matéria penal com a tributária, evidenciando, assim, à vontade arrecadatória desenfreada.

Portanto, conclui-se que o principal interesse do Estado é arrecadar, mesmo que isso represente abrir mão do seu direito de punir, violando, assim, os preceitos e princípios estabelecidos pelo Direito Penal e pelo Direito Constitucional pátrio.

Além disso, abordou-se o instituto da prisão por dívida tributária, tendo sido concluído que a mesma se encontra vedada pela Constituição da República de 1988. Com base nisso,

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traçou-se um paralelo entre a prisão por dívida tributária e os crimes tributários e previdenciários, a fim de que fossem solucionadas algumas dúvidas acerca desse tema.

Com efeito, foi concluído que o Estado tem legitimidade para tipificar certas condutas como crimes, tendo por finalidade à proteção de direitos coletivos e importantes para toda sociedade e para manutenção do Estado Democrático de Direito.

Logo, a prisão por dívida tributária não tem qualquer relação com os crimes contra a ordem tributária e os previdenciários; não podendo os advogados de defesa alegar que a proteção penal de interesses coletivos viola os preceitos constitucionais exarados na Carta Política pátria.

No terceiro capítulo foram apresentadas as principais finalidades da Seguridade Social dispostas na Constituição da República de 1988, evidenciando, assim, a verdadeira importância da previdência social para toda sociedade.

Por fim, conclui-se que os crimes previdenciários ocasionam vários reflexos no erário público e na própria sociedade, tais como: as reformas previdenciárias e a diminuição do fator previdenciário para o efetivo cálculo do benefício de aposentadoria.

Portanto, embora seja um trabalho monográfico de graduação e não uma defesa de tese, o autor buscou-se, em certos instantes, consignar e comentar seus pensamentos e críticas sobre o tema aqui discutido, sem, contudo, divergir da doutrina e da jurisprudência majoritária, fazendo, com que os leitores possam ter uma maior reflexão do assunto, assim como entendam a real importância da Previdência Social para a sociedade, principalmente, para os mais pobres e necessitados.

REFERÊNCIAS

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