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LEAN-ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO
SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE ATRAVÉS DA
UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS LEAN
João Miguel dos Santos Morais Margaça
Tese submetida como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Gestão
Orientador(a):
Profª. Doutora Ana Lúcia Henriques Martins, Profª. Auxiliar, ISCTE – IUL,
Departamento de Marketing, Operações e Gestão Geral
Outubro 2013
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
II
Resumo
A certificação pela norma ISO 9001 não assegura excelência organizacional e as
conclusões sobre os benefícios e respetivos impactos no desempenho das organizações
são contraditórias. Neste contexto, pretendeu-se analisar se a utilização conjunta ou
integrada da norma ISO 9001 e de ferramentas ou metodologias lean potencia os
benefícios esperados da certificação da qualidade. Para o efeito, utilizaram-se como
bases conceptuais a norma ISO 9001 e o pensamento lean.
Foi desenvolvido um questionário, com base na revisão bibliográfica sobre os
benefícios dos sistemas de gestão da qualidade e nas ferramentas lean referidas num
estudo de integração ISO 9001 e lean, para testar as hipóteses e as proposições
resultantes da revisão de literatura. Este foi enviado para 4068 empresas certificadas
pela norma ISO 9001 em Portugal. Obtiveram-se 231 respostas, correspondendo a 6%
da população em estudo. Os dados foram analisados por intermédio de estatísticas
simples e de testes paramétricos e não paramétricos.
Os resultados obtidos mostraram que as empresas portuguesas após se certificarem
sentiram os benefícios relatados na literatura. Estes benefícios variaram, em tipo e
expressividade, consoante a motivação para certificação, antiguidade do certificado e
dimensão da empresa. A implementação de ferramentas lean nas empresas certificadas
provocou um acréscimo médio positivo em todos os benefícios obtidos com a
certificação, apresentando valores superiores aos sentidos pela certificação na redução
de custos e na redução do tempo de entrega. O tipo de ferramentas mais utilizadas e a
integração das ferramentas lean utilizadas com a norma ISO 9001 apresentam
similaridades com resultados internacionais.
Palavras-chave: ISO 9001, Lean, Sistema de Gestão da Qualidade, Integração
Classificações no Sistema de Classificação JEL:
L15 - Information and Product Quality; Standardization and Compatibility
Y40 - Dissertações (sem classificação)
III
Abstract
The ISO 9001 certification does not ensure organizational excellence and conclusions
about the benefits and their impacts on organizational performance are contradictory. In
this context, we sought to examine whether the joint or integrated ISO 9001 and lean
tools/methodologies enhances the expected benefits of quality certification. To this end,
we used ISO 9001 and lean thinking as conceptual basis.
A questionnaire was developed based on literature review on the benefits of quality
management systems and lean tools, to test the hypotheses and propositions developed.
This was sent to 4068 companies certified by ISO 9001 in Portugal. 231 responses were
obtained, corresponding to 6% of the study population. Data were analysed using
simple statistics and parametric and nonparametric tests.
The results showed that Portuguese certified companies felt the same benefits reported
in the literature. These benefits vary in type and expression, depending on the
motivation for certification, age of the certificate and company size. The
implementation of lean tools in certified companies caused an average positive increase
in all the benefits gained from certification, with values higher than those experienced
by the certification on reducing costs and reducing delivery time. The most commonly
used tools and the integration of lean tools used with ISO 9001 has similarities with
international results.
Keyword: ISO 9001, Lean, Quality, Quality Management System, Integration
Classifications of JEL Classification System:
L15 - Information and Product Quality; Standardization and Compatibility
Y40 - Dissertations (unclassified)
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
IV
Agradecimentos
Apesar de ter conseguido atingido este importante objetivo pessoal, ele não tinha sido
possível sem o contributo de várias pessoas a quem passo a agradecer.
Em primeiro lugar à Anabela pelo amor constante e a partilha do esforço e sacrifício
para atingir este objetivo.
Aos meus filhos Rodrigo e Maria pela fonte inspiracional constante na minha vida
À família com quem cresci e me formou com amor e princípios. Aos meus Pais e à
minha irmã, um muito obrigado
Um especial agradecimento à Professora Dra. Ana Lúcia Martins por ter sido
inexcedível no apoio, incentivo e disponibilidade para a concretização desta tese.
Ao Engº Manuel Nascimento pelo grande incentivo, compreensão e amizade
demonstradas, assim como a todos os meus colegas de trabalho pela força que me
transmitiram.
V
Índice Geral
Resumo ............................................................................................................................. II
Abstract ........................................................................................................................... III
Agradecimentos .............................................................................................................. IV
Índice Geral ...................................................................................................................... V
Índice de gráficos........................................................................................................... VII
Índice de tabelas ........................................................................................................... VIII
Lista de siglas e abreviaturas .......................................................................................... IX
Capítulo 1. Introdução ...................................................................................................... 1
1.1. Relevância do tema ................................................................................................ 1
1.2. Objectivo geral .......................................................................................................... 4
1.3. Questões de investigação ........................................................................................... 4
1.4. Metodologia ............................................................................................................... 5
1.5. Âmbito ....................................................................................................................... 5
1.6. Estrutura da Tese ....................................................................................................... 5
Capítulo 2. Revisão da Literatura ..................................................................................... 7
2.1 A norma ISO 9001 e Certificação .............................................................................. 7
2.1.1 A Norma ISO 9001 .................................................................................................. 7
2.1.2 A certificação ISO 9001, estrutura, origem e evolução. .......................................... 9
2.1.3 Benefícios associados à certificação pela norma ISO 9001 .................................. 13
2.2. Pensamento Lean ..................................................................................................... 16
2.3 Complementaridade entre ISO 9001 e Lean............................................................. 21
2.4 Conclusão ................................................................................................................. 28
Capítulo 3. Metodologia ................................................................................................. 31
3.1. Abordagem à análise das questões de investigação................................................. 31
3.2. Ferramenta e procedimento de recolha de dados..................................................... 33
3.3. População e amostra ................................................................................................ 35
Capítulo 4. Resultados .................................................................................................... 39
4.1. Caracterização da amostra ....................................................................................... 39
4.2 Abordagem à questão de investigação 1 (QI 1) ........................................................ 42
4.3 Abordagem à questão de investigação 2 (QI 2) ........................................................ 49
4.3 Abordagem à questão de investigação 3 (QI 3) ........................................................ 52
Capítulo 5. Conclusão .................................................................................................... 55
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
VI
5.1. Discussão dos resultados ......................................................................................... 55
5.2. Limitações dos resultados obtidos ........................................................................... 59
5.3. Linhas de Investigação futuras ................................................................................ 60
Referências ..................................................................................................................... 61
Anexos ............................................................................................................................ 67
Anexo I. Questionário .................................................................................................... 67
Anexo II. ......................................................................................................................... 71
VII
Índice de gráficos
Gráfico 1 - Evolução do número de certificados ISO 9001, por região do mundo ........ 11 Gráfico 2 -Taxa de crescimento anual do número de certificados ISO 9001 ................. 12 Gráfico 3 - Evolução do número de certificados ISO 9001 emitidos em Portugal ........ 12 Gráfico 4 População vs Amostra - Distribuição por principais sectores de atividade ... 36
Gráfico 5 - População vs amostra – Distribuição geográfica ......................................... 37 Gráfico 6 - Dimensão das empresas da amostra (em nº de funcionários) ...................... 39 Gráfico 7 - Motivação para a certificação na amostra .................................................... 40 Gráfico 8 - Antiguidade da certificação na amostra ....................................................... 41 Gráfico 9 - Empresas na amostra que possuem ferramentas ou metodologias lean....... 41
Gráfico 10 – Média do impacto dos grupos em cada um dos benefícios ....................... 44 Gráfico 11 – Antiguidade de certificação vs Impacto nos Benefícios ........................... 46 Gráfico 12 - Dimensão da empresa vs Impacto nos benefícios ...................................... 48
Gráfico 13 – Comparação das médias dos impactos após certificação ISO 9001 vs
acréscimo de impacto após implementação de ferramentas lean ........................... 50 Gráfico 14 –Impactos após certificação ISO 9001 em empresas sem ferramentas lean vs
impactos após certificação ISO 9001 em empresas com ferramentas lean ............ 51
Gráfico 15 - Ferramentas/metodologias lean utilizados nas empresas certificadas em
Portugal ................................................................................................................... 52
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
VIII
Índice de tabelas
Tabela 1 – Requisitos do sistema de gestão da qualidade na norma NP EN ISO
9001:2008 ................................................................................................................. 9 Tabela 2 - Benefícios relatados na literatura associados à certificação ISO 9001 ......... 13 Tabela 3 - Princípios da Qualidade vs Princípios lean ................................................... 23
Tabela 4 - Requisitos ISO 9001 vs Ferramentas/Metodologias lean ............................. 27 Tabela 5 - Benefícios e respetivos impactos após certificação ISO 9001 ...................... 42 Tabela 6 – Resultados do teste à igualdade de médias nos vários benefícios, segundo o
motivo para a certificação (interno vs externo) ...................................................... 44 Tabela 7 – Resultados do teste à igualdade de médias nos vários benefícios, segundo a
antiguidade do certificado ...................................................................................... 46 Tabela 8 – Resultados do teste à igualdade de médias nos benefícios da certficação,
segundo a dimensão da empresa ............................................................................. 48
Tabela 9 - Ferramentas lean utilizadas e requisitos ISO 9001 para os quais se destinam
................................................................................................................................ 53 Tabela 10 Teste de Tukey Antiguidade de certificado vs benefício............................... 71 Tabela 11-Teste de Tukey Dimensão da empresa vs benefício...................................... 72
Tabela 12Teste de Tukey Dimensão da empresa vs benefício ....................................... 73
IX
Lista de siglas e abreviaturas
BSI – British Standard Institute
CMMI-DEV - Capability Maturity Model Integration for Development
CT – Comissão Técnica
EFQM– European Foundation for Quality Management
IPAC- Instituto Português de Acreditação
IPQ – Instituto Português da Qualidade
ISO – International Organization for Standardization
OGCT - Organismos Gestores de Comissão Técnica
ONN - Organismo Nacional de Normalização
ONS - Organismos de Normalização Setorial
PDCA – Plan, Do, Check, Act
TPS – Toyota Production System
TQM – Total Quality Management
1
Capítulo 1. Introdução
1.1. Relevância do tema
As normas internacionais de gestão da qualidade da família ISO 9000 conquistaram
reconhecimento global como documentos de referência para a implementação de
sistemas de gestão da qualidade (SGQ). De entre esta família de normas destaca-se a
norma ISO 9001, a qual “pode ser utilizada pelas partes internas e externas, incluindo
organismos de certificação, para avaliar a aptidão da organização para ir ao encontro
dos requisitos do cliente, estatutários e regulamentares aplicáveis ao produto e aos
requisitos da própria organização (IPQ, 2008:7) ”, e desta forma obter proveitos
internos e o reconhecimento externo da implementação do seu sistema de gestão da
qualidade.
Num estudo efetuado por Santos et. al. (2011) em pequenas e médias empresas em
Portugal, é referido que a certificação é certamente uma opção estratégica das empresas
no sentido destas obterem maior quota de mercado. Os resultados que estes autores
obtiveram demonstram que os maiores benefícios que as empresas sentiram pela
obtenção da certificação foram, entre outros, uma melhoria da organização interna e da
imagem externa.
Segundo Sousa e Aspinwall (2010), a verdadeira motivação para implementar um SGQ
deve ser obter proveitos organizacionais, no entanto, algumas pequenas e médias
empresas são compelidas pelos clientes a implementar este sistema, referindo também
que a certificação do sistema de gestão da qualidade tem pouco ou nenhum poder
explanatório em termos de desempenho organizacional. A ISO 9001 providencia os
requisitos mínimos para obter a certificação, mas os seus princípios não asseguram
excelência organizacional.
Sampaio et al. (2011), ao estudarem o impacto económico de sistemas de gestão da
qualidade em empresas certificadas em Portugal, não conseguiram encontrar indícios
que associem a certificação a um melhor desempenho financeiro. No entanto, de acordo
com as suas conclusões, a obtenção da certificação por motivação interna possui maior
probabilidade de melhorar o desempenho financeiro do que por motivos externos. Os
autores referem que, apesar de todos os estudos levados a cabo para analisar o impacto
da implementação e certificação do sistema de gestão da qualidade na performance
financeira das empresas, as conclusões obtidas são de natureza contraditória.
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
2
Alguns autores, segundo Sampaio et al. (2011), concluem que existe uma relação
positiva entre a certificação e a melhoria do desempenho financeiro, enquanto outros
não encontram evidências que confirmem a relação entre a certificação ISO 9001 e o
desempenho financeiro das empresas.
Gutiérrez (2010) refere que a forma mais comum de obtenção de um sistema de gestão
da qualidade é a implementação das normas ISO. Sem estas, segundo o referido autor, é
quase impossível competir no mercado global. Estas normas representam um passo
inicial importante para as empresas que pretendem um sistema de gestão da qualidade,
visto envolverem um nível inicial mais baixo de compromisso com os seus princípios.
No entanto, Gutiérrez (2010) refere que outras visões menos otimistas argumentam que
as empresas que implementam as normas ISO visam apenas obter a certificação, a qual
utilizam para promover o negócio sem se envolverem realmente com a gestão da
qualidade.
No ISO Survey of certifications 2011 (ISO, 2011) observa-se que, apesar de um bom
resultado de 6650 certificados atribuídos em Portugal em 2012, entre 2006 e 2011
existia aparentemente uma tendência de decréscimo do número de empresas certificadas
em Portugal. Verifica-se também que a taxa de crescimento de certificados ISO 9001 a
nível global continua a evidenciar uma tendência de decréscimo. No estudo efetuado
por Sampaio et. al. (2009), os resultados apontam que, aparentemente, atingiu-se a
saturação do mercado de certificações pela norma ISO 9001 e é referido que a
motivação a longo prazo para as empresas se certificarem não é clara, resultando numa
incerteza em termos de aumento da rentabilidade e competitividade das organizações
certificadas.
Sampaio et. al. (2010), num estudo sobre o futuro da qualidade em Portugal, definiram,
como primeira prioridade de intervenção, pugnar pela correcta aplicação efectiva no
terreno das ferramentas e referenciais da qualidade (novos ou já existentes) nas
organizações. Referem também que, ao longo dos próximos 5 a 10 anos, entre outras
medidas, deve-se fomentar a aplicação das ferramentas da qualidade existentes e algum
desenvolvimento/utilização de novas ferramentas. Esta necessidade é também relatada
por Chinvigai et. al. (2010), os quais referem que existe uma falha de padronização para
a implementação da norma ISO 9001 e de ferramentas de análise estatística para
recolher dados, além de ser necessário integra-las para melhorar o desempenho dos
processos. O mesmo é reforçado por Fotopoulos e Psomas (2009) ao caracterizarem
3
como baixo o nível de utilização de ferramentas e técnicas da qualidade nas empresas
certificadas pela norma ISO 9001, sendo comum a utilização de ferramentas da
qualidade mais fáceis de compreender e implementar em detrimento da utilização de
ferramentas da qualidade mais complexas.
Moosa e Sajid (2010) referem que a segunda revisão da norma ISO 9001:2000 enfatiza
a melhoria contínua em vez de apenas a garantia da qualidade, introduz a abordagem
por processos como um dos elementos chave de um sistema de gestão da qualidade e
fomenta a melhoria contínua. No entanto, nenhuma ferramenta ou metodologia é
aconselhada na norma. Como resultado, mesmo sabendo os requisitos, os processos e as
ações de melhoria, a maioria dos responsáveis da qualidade, auditores e consultores não
estão focados nem possuem competências em ferramentas de melhoria contínua. Moosa
e Sajid (2010) referem ainda que sem conhecimento e implementação de ferramentas
eficazes de melhoria da qualidade a norma não tem impacto nas organizações. Como
resultado, não existe consenso nas empresas sobre os benefícios desta norma, aspecto
que deixa uma lacuna na literatura atual.
Micklewright (2011) defende que implementando simultaneamente ferramentas e
metodologias lean e um sistema de gestão da qualidade de acordo com a norma ISO
9001 juntam-se duas forças complementares que, quando combinadas, podem-se
transformar numa fonte importante de lucros para qualquer empresa. O autor refere que
o efeito poderá ser sinergético pois existem dezenas de milhares de empresas em todo o
mundo a participar numa jornada lean para eliminar desperdício nos seus processos. No
entanto, um dos maiores problemas que as organizações possuem na implementação de
um sistema lean é manter a melhorias efectuadas na organização. Esta sinergia é
também relatada num estudo efetuado por Chiarini (2011), em empresas certificadas
que possuem ferramentas e metodologias lean, no qual é referido que considerando que
a ISO 9001 está mais focada na eficácia, as empresas que integram lean e ISO 9001
recebem o bónus de aumentar a eficiência. Refere ainda que a redução de desperdício
nos processos é algo peculiar ao pensamento lean e a norma ISO 9001 pode ajudar a
estruturar e formalizar e manter este conceito nas empresas.
Lean, segundo Bentley e Davis (2010), é a abreviatura para pensamento lean, e é a
adaptação de um sistema desenvolvido pela Toyota, o Toyota Production System (TPS).
Foi desenvolvido como uma forma de pensamento e conjunto de ferramentas para tornar
os processos produtivos mais eficientes, cresceu mundialmente primeiro como TPS, e
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
4
mais tarde como lean, e adaptou-se também a várias áreas de negócio distintas da
indústria, tais como saúde, finanças e gestão da cadeia de abastecimento.
Para George (2003), através da aplicação de conceitos e ferramentas lean pode-se
observar quais as etapas dos processos essenciais, e podem-se diminuir ou remover os
custos e atrasos inerentes após serem aplicados os conceitos ou ferramentas lean. Refere
que se consegue visualizar a diferença entre as práticas importantes para a criação de
valor e aquelas que só trazem custos e não trazem valor acrescentado para os clientes.
Hines et al. (2004) referem que sem contradizer este objetivo-chave do lean, fornecer
valor ao cliente, podem-se integrar outras aproximações e conceitos que estejam
alinhados com uma estratégia lean.
1.2. Objectivo geral
Indo ao encontro da linha de pensamento apresentada, no presente estudo, ao mesmo
tempo que se pretende verificar se realmente são sentidos nas empresas em Portugal os
benefícios associados à certificação do sistema de gestão da qualidade pela norma ISO
9001 relatados na literatura, pretende-se analisar também se a utilização conjunta ou
integrada de sistemas de gestão da qualidade, de acordo com a norma ISO 9001, e
ferramentas ou metodologias lean potencia os benefícios esperados da certificação do
sistema de gestão da qualidade.
1.3. Questões de investigação
Para a concretização do objetivo do presente estudo pretende-se, ao longo da tese,
responder às seguintes questões de investigação:
QI 1 – Confirmam-se nas empresas portuguesas os benefícios atribuídos na literatura à
certificação de um sistema de gestão da qualidade pela norma ISO 9001:2008? Quais os
principais benefícios que estas empresas consideram?
QI 2 – A utilização de ferramentas ou metodologias lean em empresas certificadas em
Portugal potencia os benefícios associados à certificação do sistema de gestão da
qualidade?
QI 3 – Quais as ferramentas e/ou metodologias lean mais utilizadas nas empresas
certificadas em Portugal e que associação têm com as cláusulas da norma ISO
9001:2008?
5
1.4. Metodologia
No sentido de ir ao encontro do objectivo geral da presente investigação, será
desenvolvido um questionário, com base em revisão bibliográfica (sobre os benefícios e
possíveis desvantagens ou pontos fracos atribuídos aos sistemas de gestão da qualidade,
e ferramentas e/ou metodologias que se enquadram no pensamento lean, e procurando
também referências de complementaridade entre a norma ISO 9001 e ferramentas ou
metodologias Lean), o qual procurará obter dados cuja análise permita responder às
questões de investigação.
1.5. Âmbito
No âmbito do presente estudo estão incluídas todas as empresas certificadas pela norma
NP EN ISO 9001:2008 em Portugal e constantes na base de dados de empresas
certificadas do Instituto Português de Acreditação – IPAC em 2013.
1.6. Estrutura da Tese
O presente documento é composto por cinco capítulos, sendo os seus conteúdos
descritos sumariamente em seguida:
O capítulo 1, a introdução, procurou enquadrar e definir o objectivo da investigação, a
apresentação das questões de investigação, a metodologia, o âmbito de aplicação e a
estrutura do trabalho.
O capítulo 2 apresentará uma revisão da literatura sobre o tema em análise. Este
capítulo pretende descrever os principais conceitos teóricos que irão servir como base
para a prossecução do objetivo geral da tese, foca-se em literatura relacionada com a
certificação de sistemas de gestão da qualidade, benefícios e pontos fracos relatados, o
pensamento lean e uma abordagem referente à integração de lean e sistemas de gestão
da qualidade.
O capítulo seguinte descreve a metodologia a utilizar, o âmbito e a caracterização da
amostra, a ferramenta e procedimento de recolha de dados, as hipóteses e preposições a
analisar para responder às questões de investigação e identifica o modo de realização do
tratamento e da análise dos dados.
No capítulo 4 são descritos os resultados obtidos e é efetuada a análise e discussão dos
mesmos em função das hipóteses e preposições formuladas.
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
6
O último capítulo compreende as conclusões do estudo em relação ao objetivo proposto
e às questões de investigação formuladas, sendo indicadas limitações aos resultados
obtidos e fornecidas pistas de investigação futura.
7
Capítulo 2. Revisão da Literatura
De forma a responder ao objetivo do presente estudo, o presente capítulo pretende
fornecer a fundamentação teórica para o desenvolvimento da investigação. Neste
sentido, o capítulo inicia-se com uma abordagem à norma ISO 9001, a origem, a
estrutura, a certificação e a sua evolução em Portugal e a nível global, assim como os
benefícios relatados sobre a certificação do sistema de gestão da qualidade. De seguida
descreve-se o pensamento lean, a sua origem, algumas ferramentas e metodologias e os
benefícios associados. Por fim é feita a conjugação das duas abordagens através de
literatura que saliente a complementaridade e as sinergias entre a norma ISO 9001 e
ferramentas ou metodologias que se enquadram no pensamento lean.
2.1 A norma ISO 9001 e Certificação
2.1.1 A Norma ISO 9001
Como descrito pela International Organization for Standardization ISO (2013a), a
família de normas ISO 9000 foca vários aspetos da gestão da qualidade, estando entre as
normas mais conhecidas da ISO. As normas fornecem orientações e ferramentas para
empresas e organizações que queiram assegurar que os seus produtos e serviços
satisfazem de forma consistente os requisitos do cliente e que a qualidade é melhorada
de forma consistente.
Existem várias normas da família ISO 9000, entre as quais se destacam:
ISO 9001:2008 – Define os requisitos de um sistema de gestão da qualidade
ISO 9000:2005 – Aborda os conceitos e linguagem básicos
ISO 9004:2009 – Foca-se em como tornar um sistema de gestão da qualidade
mais eficiente e eficaz.
ISO 19011:2011 – Define linhas de orientação para auditorias internas ou
externas aos sistemas de gestão da qualidade.
A norma ISO 9001:2008 é única norma desta família que pode ser alvo de certificação.
Esta norma estabelece os critérios para um sistema de gestão da qualidade. “Pode ser
utilizada por qualquer organização, grande ou pequena, independentemente da sua área
de atividade” (ISO 2013a).
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
8
A norma ISO 9001 é publicada em Portugal pelo Instituto Português da Qualidade, a
qual, na última versão, se designa NP EN ISO 9001:2008 -Sistemas de gestão da
qualidade - Requisitos (ISO 9001:2008)
A norma está baseada em oito princípios de gestão da qualidade, descritos na norma NP
EN ISO 9000:2005 (IPQ, 2005) como se apresenta em seguida:
1. Focalização no cliente - As organizações dependem dos seus clientes e,
consequentemente, deverão compreender as suas necessidades, actuais e futuras,
satisfazer os seus requisitos e esforçar-se por exceder as suas expectativas.
2. Liderança - Os líderes estabelecem unidade no propósito e na orientação da
organização. Estes deverão criar e manter o ambiente interno que permita o pleno
envolvimento das pessoas para se atingirem os objetivos da organização.
3. Envolvimento das pessoas – As pessoas, em todos os níveis, são a essência de uma
organização e o seu pleno envolvimento permite que as suas aptidões sejam utilizadas
em benefício da organização
4. Abordagem por processos – Um resultado desejado é atingido de forma mais
eficiente quando as atividades e os recursos associados são geridos como um processo.
5. Abordagem à gestão como um Sistema (SGQ) – Identificar, compreender e gerir
processos interrelacionados como um sistema, contribui para que a organização atinga
os seus objetivos com eficácia e eficiência.
6. Melhoria contínua – A melhoria contínua do desempenho global de uma organização
deverá ser um objetivo permanente dessa organização.
7. Abordagens à tomada de decisões baseada em factos – As decisões eficazes são
baseadas na análise de dados e de informações.
8. Relações mutuamente benéficas com fornecedores – Uma organização e os seus
fornecedores são interdependentes e uma relação de benefício mútuo potencia a aptidão
de ambas as parte para criar valor.
A norma ISO 9001 define os requisitos que o sistema deve cumprir (4. a 8.). Estes
requisitos correspondem a cláusulas, as quais são desdobradas em subcláusulas, que por
sua vez correspondem ou abordam os conteúdos descritos na Tabela 1.
9
Tabela 1 – Requisitos do sistema de gestão da qualidade na norma NP EN ISO
9001:2008
Requisitos Conteúdos
4. Sistema de gestão da
qualidade
Generalidades (abordagem por processos); requisitos da
documentação; controlo de documentos e registos
5. Responsabilidade da
gestão
Comprometimento da gestão; focalização no cliente; política da
qualidade; objetivos da qualidade; planeamento do SGQ;
atribuição de responsabilidades, autoridades e comunicação;
revisão pela Gestão.
6. Gestão de recursos
Os recursos necessários para o sistema de gestão da qualidade
satisfazer os requisitos do cliente; recursos humanos e formação
necessária para aumentar o nível de competência; a infraestrutura
e ambiente necessários.
7. Realização do produto
Processos relacionados com o cliente; concepção e
desenvolvimento; compras; produção e fornecimento do serviço;
controlo de equipamentos de monitorização e medição (EMM).
8. Medição, análise e
melhoria
Satisfação do cliente; auditoria interna; monitorização e medição
dos processos; monitorização e medição do produto/serviço;
Controlo do produto não conforme; análise dos dados; ações
corretivas e preventivas. Fonte: Adaptado da norma NP EN ISO 9001:2008 (IPQ, 2008)
2.1.2 A certificação ISO 9001, estrutura, origem e evolução.
A implementação de um sistema de qualidade de acordo com a norma ISO 9001 não
vincula a empresa à certificação do mesmo. No entanto, uma organização que se
pretenda certificar num âmbito específico deverá preparar a sua organização de acordo
com os requisitos do referencial normativo pretendido e associado, após o que deverá
solicitar a uma entidade certificadora a verificação e reconhecimento do cumprimento
dos requisitos
De acordo com Karthi et. al. (2012), a origem da certificação pela norma ISO 9001
ocorreu em 1971 com a publicação da norma BS 4891 pelo British Standard Institute
(BSI). Esta norma foi desenvolvida para especificar atividades de garantia da qualidade
na indústria eletrónica. Em 1974 foi publicada a norma BS 5179 onde foram descritas as
orientações para a garantia da qualidade e permitiu que a verificação fosse realizada por
uma terceira parte. Esta norma transmitiu confiança ao cliente pois a inspecção passou a
ser efetuada por pessoas externas. Os esforços do BSI para a criação de uma norma
comum de sistemas de gestão da qualidade culminaram na publicação da norma BS
5750, em 1979. Em 1987 esta norma deu origem à norma ISO 9000:1987 Este facto
marcou a origem formal da série de normas ISO 9000.
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
10
A International Organization for Standardization (ISO) foi fundada em 1947, e é a
maior organização mundial de desenvolvimento de normas internacionais voluntárias
que abrangem quase todos os aspetos tecnológicos e de negócios. Estas normas são
desenvolvidas através de consenso global e facilitam o comércio internacional. É um
conjunto de organismos nacionais de normalização. Estes organismos são membros da
ISO e representam-na no seu país (ISO, 2013c).
O Instituto Português da Qualidade (IPQ) é o Organismo Nacional de Normalização
(ONN) em Portugal. Este organismo coordena Organismos de Normalização Setorial
(ONS), Organismos Gestores de Comissão Técnica (OGCT) e Comissões Técnicas de
Normalização (CT), de forma a promover a elaboração, a aprovação e a homologação
dos documentos normativos portugueses, e a adoção dos documentos normativos
europeus (IPQ, 2013).
O Instituto Português de Acreditação (IPAC) é o organismo que acredita os agentes de
avaliação da conformidade (entidades certificadoras) para actuar no mercado. A
atividade de acreditação consiste na avaliação e reconhecimento da competência técnica
de entidades para efetuar atividades específicas de avaliação da conformidade.
Atualmente existem diversas entidades acreditadas (APCER, SGS ICS, Lloyd’s
Register EMEA, Bureau Veritas, EIC, TUV, AENOR, CERTIF) as quais são
responsáveis pela certificação e manutenção de sistemas de gestão da qualidade ISO
9001 das empresas portuguesas. Estas são as entidades que constam, de momento, na
base de dados do IPAC de entidades acreditadas para a implementação de sistemas de
gestão de acordo com a Norma NP EN ISO 9001:2008.
Todos os anos a ISO efectua uma análise do número de certificados emitidos a nível
mundial referentes às normas de sistemas de gestão (ISO 2013b). Este levantamento
considera o número de certificados ISO 9001 submetidos por entidades certificadoras
que foram acreditadas por membros do fórum internacional de acreditação. O
organismo nacional de acreditação pertencente a este fórum é o Instituto Português de
Acreditação (IPAC).
Baseado no levantamento efetuado pela ISO (2013b), o Gráfico 1 mostra a evolução do
número de empresas certificadas a nível mundial e a sua proporção regional.
11
Gráfico 1 - Evolução do número de certificados ISO 9001, por região do mundo
,0
200,000
400,000
600,000
800,000
1000,000
1200,000
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Ano
Nº
de C
ert
ific
ad
os
Médio Oriente
Asia Central e do Sul
Leste de Asia e Pacífico
Europa
América do Norte
América do Sul e Central
Africa
Fonte: Baseado no The ISO Survey of Management System Certifications (ISO, 2013b)
Segundo dados constantes no ISO survey (ISO, 2013b), em 2012 foram emitidos 1 101
272 certificados em 184 países. Em 2012 ocorreu um aumento de 2% no número de
certificados relativamente ao ano de 2011. Analisando o gráfico 1., até 2009 a tendência
foi crescente, no entanto a partir de 2009 aparenta existir uma estagnação desse
crescimento. Segundo Sampaio et al. (2009), as certificações pela norma ISO 9001 a
nível mundial aparentam ter chegado a um nível de maturidade, existindo uma incerteza
relativamente à motivação futura para a certificação. Pode-se observar esta tendência
analisando a taxa de crescimento anual de emissão de certificados apresentada no
Gráfico 2.
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
12
Gráfico 2 -Taxa de crescimento anual do número de certificados ISO 9001
-40%
-20%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
140%
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Ano
Taxa d
e c
rescim
en
to (
%)
Mundial
Portugal
Fonte: The ISO Survey of Management System Certifications (ISO, 2013b)
O Gráfico 3 salienta a evolução do número de certificados ISO 9001 emitidos em
Portugal. Verifica-se que a tendência nos últimos anos parecia ser de estagnação ou
mesmo decréscimo do número de certificados, no entanto, em 2012 registou-se um
grande crescimento neste número, como já salientado no Gráfico 2, com um resultado
de 6650 certificados atribuídos, de acordo com a ISO (2013b).
Gráfico 3 - Evolução do número de certificados ISO 9001 emitidos em Portugal
,0
1,000
2,000
3,000
4,000
5,000
6,000
7,000
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Ano
Cert
ific
ad
os
Nº de certificados ISO9001 em Portugal
Fonte: ISO (2013b)
13
Não foram encontradas na literatura, quer científica quer cinzenta, referências que
permitam justificar o aumento de certificações em Portugal em 2012. No entanto, esta
evidência pode ir ao encontro a uma linha de investigação futura proposta por
Franceschini et al. (2009), o qual sugere a verificação da reação das empresas à recente
crise económica em termos de número de certificados, questionando mesmo se as
empresas tentam encontrar na certificação da qualidade a solução para enfrentar a crise
de forma a encontrar mercado. Outra hipótese que se pode enquadrar numa justificação
é a referida por Marimon et al. (2009), os quais afirmam que é claro que o contexto
político e regulamentar em cada país é determinante, nomeadamente a administração
pública ao incentivar direta ou indiretamente a implementação dos sistemas de gestão da
qualidade
2.1.3 Benefícios associados à certificação pela norma ISO 9001
A certificação pela norma ISO 9001 é relatada na literatura como fonte de benefícios
organizacionais. As revisões efetuadas por Karthi et al. (2012), Sampaio et al. (2010) e
Tarí et al. (2012), resultantes elas próprias da justaposição de variados contributos de
autores anteriores, estão compiladas na Tabela 2, tendo-se identificado treze tipos de
benefícios.
Tabela 2 - Benefícios relatados na literatura associados à certificação ISO 9001
Benefício Autor
1. Aumento da quota de mercado Karthi et al. (2012) e Sampaio et al. (2010)
2. Aumento das exportações Sampaio et al. (2010)
3. Crescimento das vendas Karthi et al. (2012) e Tarí et al. (2012),
4. Aumento da rentabilidade Karthi et al. (2012) e Tarí et al. (2012),
5. Melhoria da posição vantagem competitiva Sampaio et al. (2010), Karthi et al. (2012),
Tarí et al. (2012),
6.Melhoria da sistematização (documentação,
procedimentos, clareza do trabalho, melhoria das
responsabilidades)
Sampaio et al. (2010), Tarí et al. (2012),
7.Eficiência (Produtividade, redução de custos,
redução de defeitos e retrabalho, menor tempo de
entrega, melhoria do controlo de gestão)
Sampaio et al. (2010), Karthi et al. (2012),
Tarí et al. (2012),
8.Melhoria da qualidade do produto/serviço Sampaio et al. (2010) e Tarí et al. (2012),
9.Melhor Imagem Sampaio et al. (2010), Karthi et al. (2012),
Tarí et al. (2012),
10.Melhoria nos indicadores de pessoal (motivação,
satisfação, equipas, comunicação, conhecimento)
Sampaio et al. (2010), Karthi et al. (2012),
Tarí et al. (2012),
11.Melhoria da Satisfação do cliente Sampaio et al. (2010), Karthi et al. (2012),
Tarí et al. (2012),
12.Melhoria do relacionamento com os fornecedores Tarí et al. (2012),
13.Relacionamento com as autoridades e outras
partes interessadas
Sampaio et al. (2010) e Tarí et al. (2012),
Fonte: Elaboração própria
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
14
No entanto, num estudo publicado por Manders e de Vries, (2012), é referido que apesar
dos inúmeros estudos efectuados até ao momento sobre o impacto da certificação ISO
9001 no desempenho financeiro das empresas os resultados são contraditórios. Este
argumento é corroborado pelo estudo feito por Sampaio et al. (2011) em empresas
certificadas em Portugal.
Manders e de Vries (2012) referem que alguns estudos salientam que há aspectos que
podem ter influência no desempenho financeiro. Os mesmos autores referem que esta
influência pode ser explicada ao analisar-se a relação entre os mecanismos da ISO 9001
e os benefícios internos, externos e de sinalização. Referem que estes três tipos de
benefícios podem contribuir para um melhor desempenho financeiro de acordo com o
ilustrado na Figura 1.
Figura 1 - Relação entre tipos de benefícios da ISO 9001 e desempenho financeiro
ISO 9001
Implementação da Norma
Certificação
Benefícios InternosBenefícios de
SinalizaçãoBenefícios Externos
Aumento dos controlo dos processos
Aumento da Qualidade dos produtos e serviços
Aumento da eficiência
Melhoria do desempenho financeiro
Acesso a novos mercadosAumento da Quota de
mercadoAumento das Vendas
Acesso a novos mercadosAumento da quota de
mercadoAumento das vendas
Fonte: Adaptado de Manders e de Vries (2012)
De acordo com a argumentação disponibilizada por Manders e de Vries (2012),
salientada na Figura 1, a implementação da norma provoca benefícios internos. No
entanto, a antiguidade do certificado pode ter influência, pois as organizações podem
não se tornar mais eficientes financeiramente imediatamente após se certificarem. Os
mesmos autores referem que os benefícios internos descritos no esquema podem
15
aumentar a satisfação do cliente e, por sua vez originar benefícios externos. Por último,
segundo Manders e de Vries (2012), o certificado ISO 9001 pode, por si só, trazer
benefícios idênticos aos externos ao sinalizar ou transmitir uma imagem de qualidade.
Manders e de Vries (2012) concluíram no seu estudo que a certificação ISO 9001
aumentou as vendas mas não conseguiram verificar se este efeito foi causado por
aumento da satisfação do cliente ou pelo efeito sinalizador de qualidade transmitido pela
certificação.
Tal como atrás referido, Manders e de Vries (2012) argumentam que algumas variáveis
podem ter influência nos resultados incongruentes descritos na literatura sobre o efeito
da certificação no desempenho financeiro das empresas. Segundo os mesmos autores, as
variáveis mais discutidas são a motivação para a certificação e a internalização da ISO
9001, as quais estão relacionadas. Descrevem melhor ao referir que podem existir
motivações externas para a certificação, tais como pressão dos clientes, mercados ou
outras entidades externas, ou motivações internas, tais como a produtividade e
eficiência. Referem ainda, que as organizações que se queiram certificar por motivação
externa podem esperar maioritariamente benefícios externos. Este facto é consensual na
literatura, segundo Sampaio et al. (2010). De acordo com Tarí et al. (2012), as
organizações que se queiram certificar pela motivação interna obtêm melhor
desempenho interno e externo. Este facto é corroborado por Manders e de Vries, (2012)
os quais referem que estas organizações, devido a uma melhor internalização dos
princípios da ISO 9001, podem esperar uma melhoria real na qualidade, resultando em
efeitos mais expressivos em todos os benefícios. Sampaio et al. (2011) verificaram, em
empresas certificadas em Portugal, que a motivação interna está associada, em média, a
melhores desempenhos.
Além destas variáveis atrás descritas, Pekovic (2010) inclui a dimensão da empresa (nº
de funcionários) como um dos factores determinantes para a certificação. De acordo
com o descrito no ponto 1.2 da norma ISO 9001 (IPQ, 2008), ela é aplicável a todas as
organizações independentemente do tipo, dimensão e produto que proporcionam. No
entanto, segundo Pekovic (2010), as limitações de recursos financeiros, materiais e
humanos nas empresas de menor dimensão podem colocá-las numa posição de
desvantagem em termos de qualidade.
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
16
2.2. Pensamento Lean
Hines (2002) refere que os métodos de produção lean surgiram na Toyota no Japão. As
características de uma organização lean e da cadeia de abastecimento lean estão
descritas no livro Lean Thinking – Banish Waste and Creat Wealth in Your Corporation
de Womack e Jones (1996). Segundo Hines et al. (2002), este livro relata a
transformação de empresas em produção em massa para empresas lean. Os autores
realçam a enorme quantidade de desperdício que ocorre na maioria das organizações e
mostra que um ataque sistemático ao desperdício, tanto nas empresas como ao longo
das cadeias de abastecimento, pode ter benefícios tremendos para a rentabilidade a curto
prazo e nas perspetivas a longo prazo para empresas e organizações.
Segundo Hines et al. (2002), o pensamento Lean é desdobrado em cinco princípios
chave e mostram como os conceitos podem ser estendidos da produção automóvel a
qualquer empresa e organização, a qualquer sector e em qualquer país.
Estes cinco princípios, segundo Womack e Jones (1996), são:
1 - Value: Especificar o que cria e o que não cria valor pela perspetiva do cliente e não
pela perspetiva das empresas, funções e departamentos individuais.
2 - Value stream: Identificar todos os passos necessários para conceber, encomendar e
produzir o produto ao longo de toda a sequência de valor para realçar os desperdícios
que não criam valor.
3 - Flow: Realizar aquelas ações que criam um fluxo de valor sem interrupções, atrasos,
retornos, esperas ou desperdício.
4 - Pull: Só fazer o que é requerido pelo cliente, ao ritmo que é requerido.
5 - Perfection: Procurar a perfeição através da eliminação contínua de desperdícios à
medida que são identificados.
Segundo Hines et al. (2008), estes princípios são fundamentais para a criação de valor
através da eliminação de desperdício, são fáceis de lembrar e devem ser a linha de
orientação para todas as pessoas na organização que estejam envolvidas numa
transformação lean. Foram analisados em maior detalhe no livro Lean Thinking
(Womack e Jones, 1996), e o foco passou da eficiência da produção para a eficácia da
aplicação dos princípios às organizações como um todo, incluindo as suas estratégias.
17
“Desde 1996, o termo lean thinking tornou-se tão famoso como lean production
especialmente nas indústrias ocidentais onde usam simplesmente o termo lean”
(Chiarini, 2011:97).
Como definido por Womack e Jones (1996), o ponto de partida crítico para o
pensamento lean é o valor. O valor só pode ser definido pelo cliente final, e só é
significativo se expresso em termos de um produto específico (um bem ou serviço, e
frequentemente ambos ao mesmo tempo) que vá ao encontro das necessidades do
cliente, com um preço específico e num momento específico.
O foco na criação de valor é também relatado por Hines et al. (2008). Para o efeito estes
autores referem como fundamental para uma organização lean identificar e eliminar
desperdício.
Ohno (1988) identificou sete tipos de categorias de desperdício nos processos. Estes
desperdícios são os que se descrevem a seguir:
1 - Sobreprodução – Produzir demais ou demasiado cedo, resultando num fluxo pobre
de informação ou bens e provocando excesso de inventário.
2 – Esperas – Longos períodos de inactividade de pessoas, informação ou bens,
resultando num fluxo pobre e tempos de entrega maiores.
3 - Transporte – Movimento excessivo de pessoas, informação ou bens resultando em
tempo perdido, esforço e custo.
4 - Trabalho desnecessário – Utilizar nos processos de trabalho ferramentas,
procedimentos ou sistemas não adequados, quando uma abordagem mais simples pode
ser mais eficaz.
5 - Inventário – Armazenamento excessivo e atraso de informação ou produto,
resultando em custos excessivos e fraco serviço ao cliente.
6 - Movimentos – Pouca organização do espaço de trabalho, resultando em má
ergonomia.
7 - Defeitos - Erros frequentes de documentação, problemas na qualidade do produto,
fraco desempenho do serviço
Hines et al. (2004) referem que o lean existe a dois níveis: o estratégico e o operacional.
O pensamento estratégico, centrado no cliente, aplica-se a tudo, ao contrário das
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
18
ferramentas associadas à produção. Os mesmos autores referem que este facto tem
originado frequentemente confusão, ou suscitado dúvidas onde aplicar o lean.
Aconselham a utilização de ferramentas associadas à produção na vertente operacional
do lean, seguindo o exemplo da Toyota, e pensamento lean para a dimensão estratégica
da cadeia de valor.
Segundo Hines et al. (2004), as organizações que não entendem o objetivo estratégico e
assumem que qualidade, custo e entrega é igual ao valor para o cliente, só abordam o
eixo dos custos. Este facto tem levado a otimizações pontuais na cadeia de
abastecimento.
“De um ponto de vista estratégico, pode-se integrar outras abordagens sem contradizer o
objetivo chave do lean – disponibilizar valor ao cliente” (Hines et al., 2004: 1006).
Alguns autores levam o pensamento lean para outras formas de criação de valor
diferentes da atividade produtiva, tal como a metodologia de inovação e
empreendedorismo Lean Startup de Ries (2012).
Num estudo de integração lean e ISO efetuado por Chiarini (2011) foram referenciadas
algumas ferramentas e metodologias lean encontradas em empresas certificadas. Nesse
estudo Chiarini (2011) verificou que as ferramentas e metodologias lean mais utilizados
foram o value stream mapping (VSM), total productive maintenance (TPM) e 5S, e as
menos utilizadas o Hoshin Kanri, A3 report e SMED-quick-changeover. As
ferramentas e termos lean referenciados nesse estudo, descrevem-se a seguir, agrupados
por finalidade de utilização e acrescidos de algumas ferramentas relacionadas e
referidas por Micklewright (2011):
Grupo 1 - Ferramentas lean de identificação e eliminação dos desperdícios
5S - Marchwinski et al. (2008) descrevem como sendo cinco termos que começam por
um S descrevendo boas práticas de posto de trabalho de modo a conduzir a um controlo
visual e produção lean. Os cinco termos em Japonês são Seiri, Seiton, Seiso, Seiketsu e
Shitsuke, os quais são muitas vezes traduzidos para Inglês como Sort, Straighten, Shine,
Standardize e Sustain.
19
Registo e análise de desperdícios 7W (seven wastes) - Identificação dos sete tipos de
desperdício referidos por Ohno (1988) e atrás descritos.
Single Minute Exchange of Die (SMED) e quick-changeover – “Alteração ou mudança
rápida de equipamento ou ferramentas nos processos no menor tempo possível”,
(Marchwinski et al., 2008:90).
VSM (Value stream mapping) – Segundo Marchwinski et al. (2008), é um diagrama
simples com todos os passos envolvidos nos fluxos de material e informação
necessários desde a encomenda à entrega do produto ou serviço. O mapeamento da
sequência de valor pode ser desenhado em diferentes pontos no tempo como forma de
alertar para oportunidades de melhoria.
Grupo 2 - Ferramentas lean de identificação e resolução de causas e problemas
Micklewright, M. (2011) refere que muito poucas empresas efectuam análise de causas.
Descrevem-se a seguir algumas ferramentas para o efeito:
5W (os cinco porquês) – “Os cinco porquês é um método interrogativo que é utilizado
para explorar relações causa efeito sobre um problema ou processo específico”,
(CSCMP, 2013:221).
Diagrama de Ishikawa (Diagrama de causa-efeito) – “É um processo estruturado
utilizado para organizar as ideias em agrupamentos lógicos. Utilizado em exercícios de
brainstorming e em resolução de problemas. Conhecido por Ishikawa ou diagrama de
«espinha de peixe», (CSCMP, 2013:30).
Grupo 3 - Ferramentas lean de planeamento, operações e logística
Sistema de controlo de operações Kanban – “É um sinal que dá autorização e instruções
para a produção ou retirada de materiais ou produtos num sistema pull”, (Marchwinski
et al., 2008:42).
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
20
Just in Time – “Um sistema de produção que produz e entrega só o que é necessário,
quando é necessário e na quantidade necessária. JIT e Jidoka são os dois pilares do
Toyota Production System. JIT baseia-se no heijunka e abrange três componentes
operacionais: sistema pull, takt time e fluxo contínuo”, (Marchwinski et al., 2008:39).
Pull system – Como descrito no glossário de termos do CSCMP (CSCMP, 2013), é um
método de controlo no qual, dependendo das necessidades do cliente, as atividades a
jusante sinalizam as suas necessidades às atividades a montante numa cadeia de
abastecimento ou de procura.
Hoshin Kanri (desdobramento da estratégia) – “É um processo de planeamento
estratégico que efectua o desdobramento estratégico pelas tarefas e atividades de gestão
diárias”, (CSCMP, 2013:97).
Quadro Andon - Gestão Visual – “Refere-se a um quadro com sinais luminosos,
alarmes sonoros, texto ou outros dados, instalados num local de trabalho para alertar
para um problema de qualidade ou de processo”, (CSCMP, 2013:10).
Poka-yoke – “A aplicação de técnicas simples que previnem erros de qualidade no
processo. Um mecanismo que previna tanto a ocorrência de um erro ou torne o erro
rapidamente visível”. (CSCMP, 2013:150).
Jidoka – “Método que fornece a habilidade de detetar quando um erro ou defeito ocorrer
e parar imediatamente o trabalho”, (Marchwinski et al., 2008:37).
Kaizen – “Melhoria contínua de um fluxo de valor ou de um processo individual para
criar mais valor com menos desperdício”, (Marchwinski et al., 2008:40).
Métricas lean (kpis) - Segundo Chiarini (2011), os padrões de medição, ou índices de
referência, mais importantes para uma perspectiva lean são o lead-time, on-time-
delivery, overall equipment effectiveness (OEE), process cycle efficiency, process cycle
time e work in process. São conhecidos como KPIs (Key performance indicators).
TPM (total productive maintenance) - “Processo de manutenção em equipa desenhado
para maximizar a disponibilidade e desempenho dos equipamentos e a qualidade dos
produtos”, (CSCMP, 2013:198).
A3 report – “Prática desenvolvida pela Toyota para descrever o problema, a análise, as
acções correctivas e o plano de ação numa só folha A3, normalmente com a
incorporação de gráficos” (Marchwinski et al., 2008:1).
21
One-piece-flow – “Produzir e mover uma peça de cada vez” (Marchwinski et al.,
2008:66).
Takt time – “tempo máximo para produzir um produto de forma a satisfazer a procura”,
(CSCMP, 2013:193).
Grupo 3 - Ferramentas lean de análise e criação de valor
Voice of Customer (VOC) – “Captura dos requisitos do cliente utilizando pesquisa de
mercado para determinar o que o cliente quer e necessita” (CSCMP, 2013:211) .
2.3 Complementaridade entre ISO 9001 e Lean
Micklewright (2011) defende que implementando simultaneamente lean e um sistema
de gestão da qualidade de acordo com a norma ISO 9001 juntam-se duas forças
complementares, fonte de grandes proveitos organizacionais.
A literatura referente à ligação entre a norma ISO 9001 e o pensamento lean é escassa.
Bamber et al. (2000) discutem a possibilidade da integração entre algumas ferramentas
lean, como 5S e TPM, e sistemas de gestão ISO 9001 – ISO 14001. Oferecem novas
perspectivas em como integrar todos os sistemas de gestão referidos, mas não
descrevem uma relação precisa entre requisitos da ISO 9001 e ferramentas lean. Bendell
(2006) reviu e comparou diferentes sistemas de gestão como Total Quality Management
(TQM), European Foundation for Quality Management (EFQM), ISO 9001,
pensamento lean e Six Sigma, analisando as suas diferenças, e como e o porquê da
implementação.
Chinvingai et al. (2010) propõem um modelo para a integração da norma ISO 9001 e
Lean-Six Sigma com CMMI-DEV (Capability Maturity Model Integration for
Development) para melhoria do desempenho dos processos. Entendem que não existe
um padrão para implementar a norma ISO 9001 e ferramentas de análise estatística para
a recolha de dados no CMMI-DEV.
Gutiérrez et al. (2010) propõem um conjunto de critérios para escolher entre quatro
alternativas de implementação de gestão da qualidade (controlo de qualidade, EFQM,
Six Sigma e ISO 9000) de acordo com o grau de desenvolvimento requerido por cada
uma das alternativas.
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
22
Heras et al. (2011) compararam o impacto de ferramentas de gestão da qualidade no
desempenho de organizações que utilizam a norma ISO 9001:2000 e as que utilizam o
modelo EFQM. Concluíram que as organizações que adoptam a norma ISO 9001:2000
tendem a utilizar, de um modo geral, ferramentas mais qualitativas, ao contrário das que
adoptam o modelo EFQM que tendem a utilizar ferramentas mais quantitativas.
No livro Lean ISO 9001, Micklewright (2011:19) afirma que “não existe conflito entre
lean e sistemas de gestão da Qualidade baseados na ISO 9001. De facto, os dois são, ou
devem ser, complementares se desenvolvidos com conhecimento e sabedoria” e é
aprofundada ao longo do livro a complementaridade e sinergia entre os dois.
A primeira tentativa para perceber os impactos do pensamento lean na norma ISO 9001
foi realizada por Chiarini (2011) que, como resultado do seu estudo, propõe um guia e
modelo para a sua integração ligando os requisitos da Norma a ferramentas ou
metodologias lean.
Segundo Micklewright (2011), uma organização se quiser integrar lean e ISO 9001
deve definir os seus princípios- chave e depois alinhá-los com os princípios do lean e da
ISO 9001. Define a seguinte metodologia: primeiro os “princípios têm de ser
estabelecidos, depois deve ser criada uma cultura que suporte os princípios, depois os
processos internos (muitos deles definidos pela norma ISO) devem ser definidos para
suportar os princípios e, finalmente, as ferramentas (que é o lean) devem ser ensinadas e
implementadas para suportar os princípios” (Micklewright, 2011: 27).
A Tabela 3 procura evidenciar a complementaridade do lean e da norma ISO 9001
esquematizando a conjugação e integração dos princípios da qualidade, na qual se
baseia a norma ISO 9001, e os princípios lean. A Tabela 3 faz a relação entre os
princípios da qualidade, os 14 princípios de uma verdadeira organização lean, referidos
por Liker (2004), e os cinco princípios lean descritos por Womack e Jones (1996).
23
Tabela 3 - Princípios da Qualidade vs Princípios lean
Princípios da
Qualidade Princípios lean, de Liker (2004)
Princípios lean, de Womack e
Jones (1996)
1. Focalização no
cliente -
1- Value: Especificar o que cria e o
que não cria valor pela perspetiva do
cliente e não pela perspetiva das
empresas, funções e departamentos
individuais.
4- Pull: Só fazer o que é requerido
pelo cliente
2. Liderança
1. Fundamentar as decisões de gestão numa
filosofia a longo prazo, mesmo que à custa de
objetivos financeiros de curto prazo
9.Desenvolver líderes que compreendam
inteiramente o trabalho, vivam a filosofia e
que a ensinem aos outros;
12. Verificar o estado do processo
pessoalmente, de forma a compreende-lo;
-
3. Envolvimento
das pessoas
10. Desenvolver pessoas excecionais e
equipas que sigam a filosofia da companhia;
13. Tomar decisões de forma progressiva
através de consenso, considerando
integralmente todas as opções e depois
implementando rapidamente essas opções
-
4. Abordagem por
processos
2.Criar um fluxo contínuo de processo de
forma a trazer os problemas à superfície;
2- Value stream: Identificar todos os
passos necessários para conceber,
encomendar e produzir o produto ao
longo de toda a sequência de valor
para realçar os desperdícios que não
criam valor.
5. Abordagem à
gestão através de
um SGQ
3.Utilizar sistemas pull ou seja, sistemas que
permitam que os processos de produção sejam
função do estado do processo, de forma a
evitar a sobreprodução;
4.Nivelar a carga de trabalho e eliminar
desequilíbrios na calendarização da produção;
3- Flow: Realizar aquelas ações que
criam um fluxo de valor sem
interrupções, atrasos, retornos,
esperas ou desperdício.
6. Melhoria
contínua
5. Criar uma cultura de paragem para
resolução dos problemas, de forma a
conseguir a qualidade correta à primeira vez.
6.As tarefas padrão são a base para uma
melhoria contínua e para a tomada de decisões
por parte dos funcionários;
14. Tornar a aprendizagem intrínseca à
organização através de reflexão persistente e
melhoria contínua.
5- Perfection: Procurar a perfeição
através da eliminação contínua de
desperdícios à medida que são
identificados.
7. Abordagem à
tomada de decisões
baseada em factos
7. Utilizar controlo visual para que os
problemas não sejam escondidos;
8.Utilizar somente tecnologia fiável,
intensamente testada que sirva as pessoas e os
processos;
-
8. Relações
mutuamente
benéficas com
fornecedores
11.Respeitar a extensa rede de parceiros e
fornecedores desafiando-os e ajudando-os a
melhorarem; -
Fonte: Elaboração própria
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
24
Outra forma de verificar a complementariedade e sinergia entre lean e ISO 9001 é
verificar como é que a ISO 9001 e lean compensam os pontos fracos e as críticas um do
outro.
Pontos fracos e críticas à norma ISO 9001 compensados pelo lean:
1- Micklewright (2011) refere que a norma ISO 9001 só requere uma melhoria
contínua do SGQ. Esta norma fomenta melhorias periódicas guiadas
normalmente por reclamações ou auditorias. Fotopoulos e Psomas (2009)
referem que a norma ISO 9001 está feita para ser um promotor da organização
em vez de servir o propósito da melhoria contínua.
Compensação pelo lean - Segundo Micklewright (2011), o lean trabalha sobre
uma melhoria contínua mais frequente, ou Kaizen event. Princípios e
metodologias como o trabalho padrão, reuniões diárias de análise, gestão visual
e liderança disciplinadora trazem melhorias diárias à organização. No estudo
efetuado por Chiarini (2011), os eventos Kaizen trazem melhorias aos processos
e essas melhorias são subsequentemente formalizadas nos procedimentos e
instruções de trabalho da ISO 9001 em 72% dos casos.
2- Fotopoulos e Psomas (2009) referem que as companhias certificadas pela norma
ISO 9001 utilizam só o que está descrito na norma, mas “a norma ISO 9001 não
define como melhorar, só refere que as organizações têm de o fazer”
(Micklewright, 2011:38).
Compensação pelo lean - como referido na norma ISO 9001 (IPQ, 2008),
pretende-se “melhorar continuamente a eficácia do sistema de gestão da
qualidade”. Segundo Micklewright (2011), o lean dá-nos as ferramentas para as
quais podemos integrar no nosso sistema de gestão da qualidade e melhorar
através delas.
3- “A norma ISO 9001 não obriga a procurar e reduzir desperdício
especificamente” (Micklewright, 2011:39)
25
Compensação pelo lean - Estão referenciadas várias vezes na norma ISO 9001
(IPQ, 2008) que se deve melhorar a eficácia do sistema de gestão da qualidade.
A palavra eficiência não aparece. Segundo Micklewright (2011),.a redução de
desperdício é aumentar a eficiência, e segundo Hines et al. (2008), o lean cria
valor através da eliminação de desperdício.
4- Sampaio et al. (2009) referem que o compromisso da gestão é essencial para a
implementação eficaz do sistema de gestão da qualidade. Micklewright (2011)
refere que apesar do terceiro princípio da qualidade ser “envolvimento das
pessoas”, na realidade não existe nenhum requisito na Norma ISO 9001 que
encoraje ou leve ao envolvimento das pessoas.
Compensação pelo lean - No estudo efetuado por Chiarini (2011), quase todo o
pessoal das empresas esteve envolvido pelo menos uma vez na participação de
um evento Kaizen porque lean thinking significa envolvimento a todos os níveis.
Pontos fracos e críticas ao lean compensados pela norma ISO 9001:
1- “Existem poucas condições no lean para ajudar a manter as melhorias
Micklewright, (2011:40)”
Compensação pela norma ISO 9001 - A secção 4.2.1 da norma ISO 9001 (IPQ,
2008) refere que uma organização deve ter documentos, incluindo registos,
determinados pela organização como necessários para assegurar um eficaz
planeamento, operação e controlo dos seus processos, além de controlo da
melhoria como auditorias internas, revisão pela gestão e verificação da eficácia
das ações tomadas.
2- “A Formação em ferramentas lean é muitas vezes iniciada de forma não
planeada e não existe um referencial de implementação e certificação
reconhecido” (Micklewright, 2011:40).
Compensação pela norma ISO 9001: Tal como Tarí et al. (2012) referem, um
dos benefícios associados à certificação ISO 9001 é a melhoria da
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
26
sistematização. Micklewright (2011) refere que as auditorias internas, ações
preventivas e corretivas, planeamento da qualidade e revisão pela gestão devem
ser utilizadas para iniciar eventos Kaizen e/ou formação numa ferramenta lean
específica. A estrutura da norma pode ajudar a formalizar e normalizar a
utilização das ferramentas.
3- “O lean não requer controlo de documentos e registos” (Micklewright,
2011:40).
Compensação pela norma ISO 9001 - A norma ISO 9001 (IPQ, 2008) tem como
requisito o controlo tanto dos documentos como dos registos e requer
documentos obrigatórios tais como um manual da qualidade.
“O responsável da qualidade não está tão envolvido como os responsáveis de
produção no pensamento lean e, consequentemente, os processos lean não estão
documentados e formalizados” (Chiarini, 2011: 103).
No estudo efectuado por Chiarini (2011), em 107 empresas industriais europeias
certificadas pela norma ISO 9001 e num estado maduro de implementação lean,
observou-se que, de uma forma geral, a implementação do pensamento lean afecta a
documentação, tal como o manual da qualidade, procedimentos e instruções de trabalho.
Com base nesse estudo apresenta-se uma tabela resumo (Tabela 4) da ligação entre os
principais requisitos da norma ISO 9001 e as ferramentas e ou metodologias lean que a
encontrou nas empresas industriais certificadas.
27
Tabela 4 - Requisitos ISO 9001 vs Ferramentas/Metodologias lean
Cláusulas ISO 9001 Ferramenta ou metodologia lean
4. Sistema de gestão da qualidade
4.1 Requisitos gerais
VSM, lean Office, levantamento de desperdícios,
Makigami, Lean metrics
4.2 Requisitos da documentação Ferramentas documentadas:5S, SMED e TPM
5. Responsabilidade da Gestão
5.1. Comprometimento da Gestão
Comprometimento com o pensamento lean
5.2 Focalização no cliente Tackt time, pull system e voice of customer
5.3 Política da qualidade Incluir na política eficiência e redução de
desperdício
5.4 Planeamento Hoshin Planning
5.5 Responsabilidade, autoridade
e comunicação
Lean champion ou lean sponsor, Kaizen event
team leader;Visual control and management,
Kaizen events, Resultados diários
5.6 Revisão pela Gestão Entradas: Lean metrics (OEE, lead time, custo da
não qualidade, on-time-delivery performance, etc..)
Saídas: Ações, decisões e planos para reduzir
desperdício
6. Gestão de recursos
6.1 Provisão de recursos
Definir recursos para produção lean
on-time-delivery e Tackt time.
6.2 Recursos Humanos Cross-functional training
Definir funções para, Kaizen team leader, Lean
specialists e Lean Champion
6.3 Infraestrutura VSM, TPM
6.4 Ambiente de trabalho 5S
7. Realização do produto
7.1 Planeamento da realização do
produto
Pull system, Kanban, Visual control and
management
7.2 Processos relacionados com o
cliente
Takt time, Kanban, Makigami – lean Office
7.3 Concepção e desenvolvimento Variety reduction programme
7.4 Compras Kanban
7.5 Produção e fornecimento do
serviço
Visual management e control, VSM, 5S, kanban,
SMED, TPM, one-piece-flow, pull system
7.6 Controlo do equipamento de
monitorização e medição
5S, manutenção autónoma
8. Medição, análise e melhoria
8.1 Generalidades
Visual control and management
8.2.1 Satisfação do cliente Takt time, e outras lean metrics
8.2.2 Auditoria Interna 5S, Auditar a eficiência das ferramentas lean
8.2.3 Monitorização e medição
dos processos
Lean metrics
8.2.4 Monitorização e medição do
produto
Poka-yoke, jidoka
8.3 Controlo do produto não
conforme
Asaichi – A3 report
8.4 Análise de dados Hoshin Kanri, Visual control and management
8.5. Melhoria Kaizen Fonte: Adaptado de Chiarini (2011)
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
28
2.4 Conclusão
A revisão da literatura efetuada no subcapítulo 2.1 visou construir uma base conceptual
que permita o suporte à resposta à primeira questão de investigação. As principais
conclusões retiradas desta revisão foram:
- A taxa de crescimento do número de certificações a nível mundial tem vindo a
estagnar, mantendo-se a dúvida sobre a motivação a longo prazo para as empresas se
certificarem.
- Em Portugal, a taxa de crescimento do número de certificações tinha apresentado uma
tendência de decréscimo entre 2005 e 2011, no entanto registo um elevado crescimento
em 2012. Não foram encontradas referências que relacionem, de forma comprovada,
esta ultima evidência com algum factor interno ou externo às organizações.
- Segundo Sampaio et al. (2010), Karthi et al. (2012) e Tarí et al. (2012), são relatados
de uma forma quase consensual vários benefícios associados à certificação ISO 9001.
Estes benefícios foram agrupados em 13 categorias de benefícios.
- Manders e de Vries, (2012) referem que existem três grupos de benefícios associados à
norma ISO 9001 que contribuem para o desempenho financeiro das empresas,
nomeadamente, benefícios internos, externos e de sinalização. No entanto, a ocorrência
e expressão destes benefícios pode depender de várias variáveis, como o tipo de
motivação para a certificação, a maturidade do sistema de gestão da qualidade
implementado e a dimensão da empresa.
A revisão da literatura efetuada nos subcapítulos 2.2 e 2.3 visaram construir uma base
conceptual que permita o suporte às respostas à segunda e terceira questões de
investigação.
-Segundo Hines et al., (2004: 1006). “De um ponto de vista estratégico, pode-se integrar
outras abordagens sem contradizer o objetivo chave do lean – disponibilizar valor ao
cliente”
29
-Micklewright (2011) defende que a implementação simultânea de lean e um sistema de
gestão da qualidade de acordo com a norma ISO 9001 pode originar grandes proveitos
organizacionais
-A Tabela 3 procura evidenciar a complementaridade do lean e da norma ISO 9001
esquematizando a conjugação e integração dos princípios da qualidade, na qual se
baseia a norma ISO 9001, e os 14 princípios de uma verdadeira organização lean,
referidos por Liker (2004), e os cinco princípios lean descritos por Womack e Jones
(1996).
-A revisão da literatura revela que a ISO 9001 e o lean compensam mutuamente os
pontos fracos e as críticas um do outro.
-Chiarini (2011) , como resultado do seu estudo, propõe um guia e modelo de
integração ligando os requisitos da norma ISO 9001 a ferramentas ou metodologias lean
(Tabela 4.).
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
30
31
Capítulo 3. Metodologia
Neste capítulo procede-se à explanação da metodologia adotada de forma a responder às
questões de investigação, nomeadamente o procedimento de recolha de dados e
metodologia de tratamento dos dados recolhidos. Inicia-se com uma abordagem às
questões de investigação e, com base na revisão da literatura, formulam-se preposições
ou hipóteses a testar para se poder responder à respetiva questão de investigação. No
segundo subcapítulo será descrita a ferramenta de recolha de dados, como foi construída
e o procedimento de recolha dos dados. No ponto seguinte descreve-se a população e
efetua-se uma comparação com a amostra obtida.
3.1. Abordagem à análise das questões de investigação
Neste subcapítulo pretende-se fazer a ligação entre as questões de investigação e a
revisão da literatura. Desta ligação surgem preposições e/ou hipóteses que se pretendem
testar e analisar.
3.1.1 Questão de investigação 1 (QI 1)
No Capítulo 1 a QI 1 foi definida da seguinte forma:
QI 1 – Confirmam-se nas empresas portuguesas os benefícios atribuídos na literatura à
certificação de um sistema de gestão da qualidade pela norma ISO 9001:2008? Quais os
principais benefícios que estas empresas consideram?
A revisão da literatura permitiu conhecer os benefícios associados à certificação pela
norma ISO 9001. Das conclusões desta revisão (ponto 2.1.3.) verificou-se que de
anteriores revisões efetuadas por Sampaio et al. (2010), Karthi et al. (2012) e Tarí et al.
(2012) resultou a identificação de vários benefícios associados à certificação ISO 9001.
Os benefícios identificados foram agrupados em 13 categorias de benefícios. Estes
foram identificados em estudos anteriores, mas não há evidência da sua aderência à
realidade portuguesa. Neste sentido surge a primeira proposição:
P1 – As empresas certificadas em Portugal sentiram os benefícios relatados na
literatura.
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
32
Manders e de Vries (2012) reúnem os benefícios em três grupos: benefícios internos,
benefícios externos e benefícios de sinalização. Estes benefícios têm expressividade
diferente para diferentes variáveis.
Manders e de Vries (2012), Tarí et al. (2012), Sampaio et al. (2010) e Sampaio et al.
(2011) referem que estes benefícios variam conforme o tipo de motivação para a
certificação. Acrescentam que as empresas que se certificam por motivações internas
apresentam resultados organizacionais mais expressivos.
Manders e de Vries (2012) referem que a maturidade do sistema de gestão da qualidade
implementado tem influência nos benefícios alcançados e que estes não se esperam tão
expressivos para empresas certificadas há menos tempo.
Pekovic (2010) refere que empresas de menor dimensão (nº de funcionários) estão em
desvantagem na implementação e manutenção dos sistemas de gestão da qualidade.
Neste contexto surgem as seguintes hipóteses:
H1: Em Portugal, as empresas guiadas por motivação interna apresentam benefícios
mais expressivos H2: Em Portugal, empresas certificadas há mais anos apresentam benefícios mais
expressivos
H3: Em Portugal, empresas de maior dimensão verificam benefícios mais expressivos
3.1.2 Questão de investigação 2 (QI 2)
A QI 2 foi definida no Capítulo 1 do seguinte modo:
QI 2 – Confirmam-se nas empresas portuguesas os benefícios atribuídos na literatura à
certificação de um sistema de gestão da qualidade pela norma ISO 9001:2008? Quais os
principais benefícios que estas empresas consideram?
A revisão de literatura apresentada no ponto 2.3. visou obter referências de
complementariedade entre lean e ISO 9001 e os possíveis efeitos complementares ou
sinergéticos que possam ter.
33
Micklewright (2011) defende que implementando simultaneamente lean e um sistema
de gestão da qualidade ISO 9001 o desempenho organizacional é melhor. O mesmo
autor e Chiarini (2011) relatam que, ao juntar lean e ISO 9001, existem efeitos de
compensação mútua dos pontos fracos do lean e da norma ISO 9001. Desta revisão
sugere a seguinte proposição:
P2 - Em Portugal, as empresas certificadas que implementam ferramentas lean sentem
benefícios e impactos mais expressivos do que os obtidos apenas pela certificação pela
ISO 9001.
3.1.3 Questão de investigação 3 (QI 3)
QI 3 – Quais as ferramentas e/ou metodologias lean mais utilizadas nas empresas
certificadas em Portugal e que associação têm com as cláusulas da norma NP EN ISO
9001?
A revisão da literatura efetuada no ponto 2.3. visou obter referências sobre quais as
ferramentas lean utilizadas em empresas certificadas pela norma ISO 9001 e como se
integram.
No estudo efectuado por Chiarini (2011), em 107 empresas industriais europeias
certificadas pela norma ISO 9001, foram identificadas as ferramentas lean utilizadas e o
seu grau de utilização. A mesma autora enumera-as e propõe um modelo de integração
das mesmas com os requisitos da Norma ISO 9001 (Tabela 14). Neste contexto, surge
então a seguinte proposição:
P3 – Em Portugal, as empresas certificadas pela ISO 9001 que utilizam lean usam as
ferramentas relatadas na literatura e com integração com o sistema de gestão da
qualidade.
3.2. Ferramenta e procedimento de recolha de dados
A ferramenta (questionário) de recolha dos dados necessários à análise das proposições
e ao teste das hipóteses formuladas foi construída com base em três grupos de questões.
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
34
No primeiro grupo de questões incluem-se as questões de caracterização da empresa,
como o ano de constituição da empresa, ano de obtenção do certificado ISO 9001:2008,
o nº de funcionários da empresa e a motivação para a implementação do sistema de
gestão da qualidade.
Em relação à motivação para a implementação do sistema de gestão da qualidade, e de
acordo com Manders e de Vries (2012) considerou-se a motivação interna e a motivação
externa.
O segundo grupo de questões é relativo aos 17 benefícios decorrentes da implementação
de sistemas de gestão da qualidade e do desdobramento dos referidos na revisão da
literatura (Tabela 2). Estes benefícios serão analisados como impactos, os quais poderão
ter sido considerados positivos (benefícios) ou negativos. Neste sentido, é utilizada uma
escala de Likert com 6 categorias negativas((-6) impacto negativo muito significativo; (-
5); (-4); (-3); (-2); (-1)), uma categoria neutra (0 - sem impacto), e 6 categorias positivas
((1); (2); (3); (4); (5); (6) impacto positivo muito significativo).
Pretende-se que o primeiro e o segundo grupo de questões permitam dados para
responder à QI 1.
O terceiro grupo de questões é relativo à utilização ou não de ferramentas e
metodologias lean em conjugação com a certificação. Caso as empresas usem
ferramentas ou metodologias lean, aspeto que é identificado através de uma questão de
triagem, estas deverão indicar, através de escala qualitativa similar à usada no segundo
grupo de questões, qual a expressão extra resultante da utilização de ferramentas e
metodologias lean nos impactos sentidos nos benefícios comummente associados à
certificação do SGQ. Em seguida é apresentada uma listas ferramentas ou metodologias
lean que a literatura (Chiarini, 2011 e Micklewright, 2011) indicam como mais
utilizadas num contexto de empresas certificadas pela ISO 9001 solicitando-se
igualmente, e de forma optativa, a identificação da existência de integração de cada uma
destas com o SGQ. Esta última variável, da integração, é analisada tendo por base a
possibilidade de haver ou não integração. Caso utilizem com integração, questiona-se
também em que cláusula a empresa enquadra a ferramenta, de acordo com a Tabela 4
Este terceiro grupo de questões destina-se a fornecer dados para permitam responder à
QI 2 e QI3.
35
O questionário encontra-se no Anexo 1.
Como procedimento de recolha de dados, foram contactadas as empresas certificadas na
norma NP EN ISO 9001:2008 constantes na base de dados do IPAC (2013) com data de
atualização de 2012-02-15. Os contactos de correio eletrónico foram obtidos através dos
sites institucionais ou de bases de dados constantes na Internet. Das 4994 empresas
constantes na listagem só se conseguiram obter os contactos de correio eletrónico de
4068 empresas. Para estas enviou-se um pedido de resposta do questionário online. Este
pedido é realizado automaticamente por correio eletrónico, através da plataforma
surveymonkey (2013).
Foi feito um pré-teste do questionário, o qual como resultado originou que no terceiro
grupo de questões, pela relatada dificuldade, o enquadramento das ferramentas com as
cláusulas da ISO 9001:2008 fosse optativo.
3.3. População e amostra
A população em estudo são todas as empresas certificadas pela norma NP EN ISO
9001:2008 em Portugal e constantes na base de dados de empresas certificadas do
Instituto Português de Acreditação – IPAC, (2013).
Da população em estudo (4994 empresas) apenas foi possível obter contactos de 4068,
pelo que apenas este segundo grupo foi contactado para responder ao questionário.
Das 4068 empresas contactadas foram obtidas 231 respostas válidas ao questionário,
correspondendo este número à nossa amostra. De acordo com Maroco (2007), a amostra
obtida é uma amostra por conveniência.
O gráfico 4. mostra a distribuição por sectores de atividade mais representados na
população e na amostra.
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
36
Analisando o Gráfico 4, podemos verificar que a amostra recolhida por questionário
apresenta valores de frequência relativa para cada sector de atividade relativamente
semelhantes à população. A amostra possui respostas provenientes de empresas de 34
sectores de atividade dos 39 representados na população, indicando alguma
proximidade. O peso de cada sector na amostra, salientado no gráfico 4., corrobora a
proximidade entre amostra e população, pelo que, apesar da amostra não ser aleatória, é
possível afirmar que as suas características são semelhantes às da população em termos
de sector de atividade.
No Gráfico 5 apresentam-se os dados relativos à distribuição geográfica das empresas
por distrito da população e da amostra.
Gráfico 4 População vs Amostra - Distribuição por principais sectores de atividade
37
Gráfico 5 - População vs amostra – Distribuição geográfica
0,0%
5,0%
10,0%
15,0%
20,0%
25,0%
30,0%
Ave
iro
Be
ja
Bra
ga
Cas
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Bra
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Co
imb
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loca
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ão…
Pe
rce
nta
gem
Distrito
População
Amostra
Verifica-se, também para a distribuição geográfica, uma boa representatividade das
respostas obtidas, pois todos os distritos que possuem empresas certificadas estão
presentes na amostra e em proporções semelhantes às da população.
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
38
39
Capítulo 4. Resultados
Neste capítulo serão apresentados os resultados obtidos através da análise dos dados
recolhidos no seguimento da metodologia descrita no capítulo 3. Começa-se por uma
caracterização da amostra. Seguidamente abordam-se os resultados obtidos de forma a
responder à preposição P1 e às hipóteses H1, H2 e H3. propostas para analisar a
primeira questão de investigação (QI 1). No ponto seguinte analisam-se os resultados do
impacto da implementação de ferramentas lean nos benefícios, no sentido de verificar a
preposição P2 criada para responder à segunda questão de investigação. Por último ir-
se-á verificar as ferramentas lean mais utilizadas nas empresas da amostra e a sua
integração com a norma ISO 9001 de forma a responder à questão de investigação 3 (QI
3).
4.1. Caracterização da amostra
Obtiveram-se 231 respostas válidas ao questionário solicitado. A caracterização da
amostra, de acordo com a dimensão das empresas, ou seja, de acordo com o número de
funcionários que têm, é apresentada no Gráfico 6. Esta variável foi categorizada de
acordo com a classificação presente no site do IAPMEI (2013)
Gráfico 6 - Dimensão das empresas da amostra (em nº de funcionários)
Micro: 1-911%
Pequena: 10-4943%
Média: 50-24930%
Grande: 250 ou mais16%
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
40
Verifica-se, através do Gráfico 6, que as pequenas empresas (empresas com um número
de funcionários entre 10 e 49) são o grupo de maior dimensão da amostra.
A Gráfico 7 indica a distribuição dos elementos da amostra quanto ao motivo da
certificação.
Gráfico 7 - Motivação para a certificação na amostra
Motivação Interna
68%
Motivação Externa
32%
Na amostra recolhida, o motivo apresentado para a certificação foi maioritariamente a
melhoria interna da organização.
De seguida analisa-se a amostra em relação à antiguidade da certificação (Gráfico 8).
Devido ao período muito alargado originado pelo relato das empresas presentes na
amostra, a variável ano de certificação foi categorizada em 5 categorias, as quais estão
representadas no gráfico 8.
41
Gráfico 8 - Antiguidade da certificação na amostra
Até 2000 inclusive
13%
2001-200315%
2004-200727%
2008-201031%
2011-201314%
Ao analisar o Gráfico 8 verifica-se que as empresas com certificação obtida no período
de 2004 a 2010 representam 58,3% da amostra e que 86,1% das empresas da amostra
possuem o certificado há mais de três anos, revelando um bom nível de maturidade dos
sistemas de gestão da qualidade implementados na amostra.
Como o objetivo do presente trabalho inclui empresas certificadas com ferramentas e ou
metodologias lean, é importante verificar a percentagem desta subamostra. Os
resultados estão representados no Gráfico 9.
Gráfico 9 - Empresas na amostra que possuem ferramentas ou metodologias lean
Sim (N=31);
13%
Não (N=200);
87%
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
42
Das 231 empresas da amostra, 31 afirmam ter implementadas ferramentas e ou
metodologias lean.
4.2 Abordagem à questão de investigação 1 (QI 1)
De forma a analisar a proposição 1 analisa-se o impacto sentido pelas empresas nos
benefícios relatados na literatura e cuja qualificação foi solicitada. A Tabela 5 apresenta
a média e o desvio padrão da classificação obtida relativamente aos impactos para cada
benefício.
Tabela 5 - Benefícios e respetivos impactos após certificação ISO 9001
Benefício
Total de
respostas
Média da
classificação do
impacto Desvio Padrão
Aumento da Quota de Mercado 231 1,61 1,963
Aumento das Exportações 231 0,90 1,927
Aumento do Volume de Vendas 231 1,50 1,865
Aumento da Rentabilidade 231 1,92 2,007
Aumento de Produtividade 231 2,32 2,000
Redução de Custos 231 1,39 2,217
Redução nos Defeitos ou Retrabalho 231 1,34 2,421
Melhoria do tempo de entrega 231 1,50 2,208
Melhoria na posição competitiva 231 2,63 1,862
Melhoria da sistematização 231 4,41 1,358
Melhoria no controlo de gestão 231 3,96 1,474
Melhoria na qualidade do produto ou serviço 231 3,49 1,649
Melhoria na imagem da organização 231 3,99 1,527
Melhoria nos indicadores de pessoal 231 3,38 1,527
Melhoria na satisfação do cliente 231 3,61 1,726
Melhoria na relação com fornecedores 231 3,13 1,777
Melhoria na relação com autoridades e outras partes
interessadas 231
3,02 1,955
Apesar de médias positivas em todos os benefícios, ou seja, os impactos médios
sentidos pelas empresas portuguesas são positivos, a expressão desses benefícios é
relativamente variável. A melhoria da sistematização de procedimentos é o benefício
com maior impacto verificado, ao mesmo tempo que é o que apresenta menor
variabilidade entre as empresas da amostra. Este resultado não é surpreendente uma vez
que a certificação envolve um esforço elevado de padronização e consistência.
43
Apesar de apresentar um impacto positivo, o aumento das exportações é o benefício que
apresenta uma expressão média mais baixa. Tendo em conta o desvio padrão
encontrado, é possível concluir que algumas das empresa da amostra atribuem à
certificação a responsabilidade por um decréscimo, mesmo que ligeiro, das exportações.
De uma forma sumária, a análise por benefício revela que a certificação teve menor
impacto no aumento das exportações, redução de custos e na redução nos defeitos ou
retrabalho. Por sua vez, os maiores impactos sentiram-se na sistematização, na imagem
organizacional e na melhoria do controlo de gestão. Estes resultados corroboram os
resultados do estudo de Santos et al. (2011) em que os maiores benefícios que as
empresas obtiveram pela obtenção da certificação foram, entre outros, uma melhoria da
organização interna e da imagem externa.
Apesar da discussão apresentada, é possível afirmar que os resultados obtidos
confirmam valores médios positivos para os impactos em todos os benefícios. Esta
observação vem confirmar os benefícios referenciados na literatura no ponto 2.1.3 do
presente estudo e relatados por Sampaio et al. (2010), Karthi et al. (2012) e Tarí et al.
(2012). Desta forma confirma-se a preposição P1, ou seja, as empresas certificadas em
Portugal sentiram os benefícios.
De seguida pretende-se analisar a relevância das variáveis independentes na
classificação dos impactos nos benefícios, nomeadamente o ano de obtenção da
certificação, a motivação para a certificação e a dimensão da empresa. Para o efeito vão-
se testar as hipóteses formuladas no ponto 3.1:
H1: As empresas guiadas por motivação interna apresentam benefícios mais
expressivos
Para testar esta hipótese, como recomendado por Maroco (2007), foi-se averiguar a
normalidade da distribuição (através do teste de Kolmogorov-Smirnov) e a
homogeneidade das variâncias (através do teste de Levene), no sentido de verificar os
pressupostos para efetuar o teste t-student para comparação de duas médias
populacionais, a partir das duas amostras aleatórias independentes (empresas movidas
por motivação interna e empresas movidas por motivação externa). Como não se
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
44
verificaram os dois pressupostos, utilizou-se, como indicado por Maroco (2007), o teste
não paramétrico Wilcoxon-Mann-Whitney.
Os resultados relativos aos benefícios que apresentaram diferenças estatisticamente
significativas no teste não paramétrico referido estão representados na Tabela 6.
Tabela 6 – Resultados do teste à igualdade de médias nos vários benefícios,
segundo o motivo para a certificação (interno vs externo)
Benefício
Wilcoxon-
Mann-
Whitney
p –value
Aumento da Quota de Mercado 0,062**
Aumento do Volume de Vendas 0,039*
Melhoria da sistematização 0,006*
Melhoria no controlo de gestão 0,077**
Melhoria na qualidade do produto ou serviço 0,016*
Melhoria nos indicadores de pessoal 0,016*
Melhoria na relação com fornecedores 0,054**
Melhoria na relação com autoridades e outras partes interessadas 0,015*
*significativo para α = 0,05
**significativo para α = 0,08
No sentido de verificar o sentido da diferença entre os grupos nos benefícios descritos
na Tabela 6 foi-se comparar as médias da classificação obtida para cada benefício por
tipo de motivação (Gráfico 10).
Gráfico 10 – Média do impacto dos grupos em cada um dos benefícios
45
Da análise da Tabela 6, conjugada com o Gráfico 10, podemos concluir que a motivação
externa leva a resultados significativamente melhores em aspetos de natureza externa e
comerciais (aumento da quota de mercado e aumento do volume de vendas), enquanto
que a motivação interna leva a diferenças significativas em aspetos de natureza interna e
relacionais. Como referido por Sampaio et. al. (2010), as organizações que se queiram
certificar pela motivação externa obtém maioritariamente benefícios externos. Este
aspeto foi, como referido, também verificado na presente investigação.
A mesma relação verificou-se relativamente ao aumento da quota de mercado,
corroborando o estudo efetuado por Santos et al. (2011) em pequenas e médias
empresas em Portugal, onde é referido que a certificação é certamente uma opção
estratégica das empresas no sentido destas obterem maior quota de mercado.
Tari et al. (2012) e Sampaio et al. (2011) defendem que a motivação interna provoca
benefícios internos e externos. Os resultados salientados no Gráfico 10 corroboram esta
conclusão.
Tendo em conta toda a argumentação apresentada, é possível afirmar que se confirma
parcialmente H1, ou seja, embora as empresas motivadas por questões internas
apresentem benefícios tanto em aspetos internos quanto em aspetos externos, em relação
a benefícios externos as empresas movidas por motivações externas apresentam
resultados estatisticamente mais significativos.
H2: Empresas certificadas há mais anos apresentam benefícios mais expressivos
Como recomendado por Maroco (2007), foi-se testar a normalidade da distribuição dos
grupos (através do teste de Kolmogorov-Smirnov) e a homogeneidade das variâncias das
mesmas (através do teste de Levene) para verificar as condições para efetuar o teste
ANOVA a um factor (One Way)
Como não se verificaram os dois pressupostos utilizou-se o teste não paramétrico
alternativo à one-way Anova, ou seja, o teste de Kruskall-Wallis. Segundo Maroco
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
46
(2007:161) “este teste serve para testar várias amostras relativamente à proveniência de
uma população com a mesma distribuição ou de populações com a mesma distribuição”.
Os resultados estatisticamente significativos ao efetuar o teste de Kruskal-Wallis à
igualdade de médias dos vários benefícios segundo a antiguidade do estão representados
na Tabela 7.
Tabela 7 – Resultados do teste à igualdade de médias nos vários benefícios,
segundo a antiguidade do certificado
Benefício
Kruskal-Wallis
p –value
Aumento do Volume de Vendas 0,063**
Aumento de Produtividade 0,056**
Melhoria na posição competitiva 0,079**
Melhoria da sistematização 0,016*
Melhoria na satisfação do cliente 0,067**
Melhoria na relação com autoridades e outras partes interessadas 0,002*
*significativo para α = 0,05
**significativo para α = 0,08
No sentido de verificar o grau e tipo de impacto nos benefícios descritos na Tabela 7,
apresenta-se a comparação das médias da classificação obtida para cada benefício por
cada grupo de antiguidade de certificado (Gráfico 11).
Gráfico 11 – Antiguidade de certificação vs Impacto nos Benefícios
47
Segundo Maroco (2007), caso a hipótese nula seja rejeitada apenas podemos concluir
que existe pelo menos uma média populacional que é significativamente diferente das
restantes. Ou seja, a diferença estatisticamente significativa do impacto em cada
benefício, que é salientado na Tabela 7, pode ser só devido à diferença de médias de um
par dos grupos de antiguidade de certificado previamente definidos. Para o efeito, e
como indicado por Maroco (2007), foi-se a seguir efectuar uma comparação múltipla de
médias entre os grupos utilizando o Teste de Tukey. Os resultados detalhados destes
testes estão no Anexo II (Tabela10). Os resultados obtidos mostram que os impactos
positivos descritos na Tabela 7 em função da antiguidade do certificado resultam, para a
maioria das associações, das diferenças de médias estatisticamente significativas (para α
= 0,08) entre o período mais antigo (até 2000 inclusive) e o grupo mais recente (2011-
2013), excepto no caso da relação com autoridades e outras partes interessadas cuja
diferença de médias entre cada grupo é estatisticamente significativa para quase todas as
comparações.
Tendo em conta a argumentação apresentada, confirma-se apenas parcialmente H2, ou
seja, só para alguns benefícios (explicitados na Tabela 7) é que as empresas certificadas
há mais anos apresentam benefícios significativamente diferentes e, de acordo com o
Gráfico 11, mais expressivos. Desta tendência exclui-se o benefício da melhoria da
relação com autoridades e outras partes interessadas.
Estas conclusões estão em linha comos resultados obtidos Maders e de Vries (2012), os
quais referem que a antiguidade do certificado pode ter influência na expressão dos
benefícios sentidos, pois as organizações podem não se tornar mais eficientes
financeiramente imediatamente após se certificarem.
H3: Empresas de maior dimensão verificam benefícios mais expressivos
Tal como referido para os testes de hipóteses anteriores iremos testar a distribuição
normal dos dados (através do teste de Kolmogorov-Smirnov) e a homogeneidade das
variâncias (através do teste de Levene) dos grupos relativos à dimensão as empresas da
amostra. Embora se tenha verificado a homogeneidade das variâncias não se verificou a
distribuição normal dos dados, pelo que, de acordo com Maroco (2007), se efectuará o
teste de Kruskall-Wallis.
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
48
Os resultados estatisticamente significativos ao efectuar o teste de Kruskal-Wallis em
relação aos benefícios da certificação segundo a dimensão da empresa estão
representados na Tabela 8.
Tabela 8 – Resultados do teste à igualdade de médias nos benefícios da certficação,
segundo a dimensão da empresa
Benefício
Kruskal-Wallis
p –value
Aumento da Rentabilidade 0,049*
Aumento de Produtividade 0,060**
Melhoria da sistematização 0,000*
Melhoria no controlo de gestão 0,056**
Melhoria na satisfação do cliente 0,070**
Melhoria na relação com fornecedores 0,077**
Melhoria na relação com autoridades e outras partes interessadas 0,027**
*significativo para α = 0,05
**significativo para α = 0,08
De forma a verificar o grau e tipo de impacto nos benefícios descritos na Tabela 8
apresenta-se a comparação das médias da classificação obtida para cada benefício por
cada grupo de antiguidade de certificado (Gráfico 12)
Gráfico 12 - Dimensão da empresa vs Impacto nos benefícios
49
Na Tabela 8 verifica-se que existem diferenças significativas no impacto sentido nos
benefícios da certificação, em função da dimensão da empresa. Conjugando estes
resultados com o Gráfico 12, verifica-se que, de um modo geral, quanto maior a
dimensão da empresa maior é o impacto relatado, no entanto isto limita-se aos
benefícios descritos.
Como efectuado para a hipótese anterior, e recomendado por Maroco (2007), utilizou-se
o teste de Tukey para efectuar uma comparação múltipla de médias entre os grupos. Os
resultados detalhados encontram-se no Anexo II (Tabela 11 e 12).
Os resultados obtidos mostram que os impactos positivos descritos na tabela 8 em
função da dimensão da empresa resultam, para a maioria das associações, das diferenças
de médias estatisticamente significativas (para α =0,08) entre as micro empresas (1 a 9
funcionários) e as empresas médias (50 a 249 funcionários), excepto no caso do
controlo de gestão, cuja diferença de médias entre cada grupo é só estatisticamente
significativa entre pequenas e médias empresas, e no caso da relação com autoridades e
outras partes interessadas cuja diferença de médias entre cada grupo é estatisticamente
significativa só entre micro e grandes empresas. O benefício cujas diferenças de médias
entre todos os grupos é estatisticamente significativo é o da melhoria da sistematização.
Tendo em conta os resultados obtidos e a argumentação apresentada, confirma-se H3,
mas apenas parcialmente, ou seja, só para alguns benefícios (explicitados na Tabela 9) é
que as empresas de maior dimensão apresentam benefícios significativamente diferentes
e, de acordo com o Gráfico 11, mais expressivos.
4.3 Abordagem à questão de investigação 2 (QI 2)
O Gráfico 13 permite fazer uma análise comparativa entre as médias dos impactos
relatados em cada benefício após a implementação de ferramentas lean
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
50
Gráfico 13 – Comparação das médias dos impactos após certificação ISO 9001 vs
acréscimo de impacto após implementação de ferramentas lean
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
Cla
ssif
icaç
ão d
o im
pac
to
Benefícios
Impacto apósSGQ
Impacto apósferramentaslean
Analisando o Gráfico 13 verifica-se que as empresas após implementarem ferramentas
ou metodologias lean sentiram um acréscimo médio expressivo nos impactos em todos
os benefícios que tinham obtido após a certificação ISO 9001. A implementação de
ferramentas ou metodologias lean, por si só nestas empresas, potenciou todos os
benefícios, realçando-se o acréscimo superior aos impactos anteriores sentidos com a
implementação do SGQ na redução de custos e no tempo de entrega. Este facto está
alinhado com o referido por George (2003), o qual afirma que através da aplicação do
pensamento lean pode-se observar quais as etapas dos processos essenciais e podem-se
diminuir ou remover os custos e atrasos inerentes após serem aplicados os conceitos ou
ferramentas lean.
De acordo com o Gráfico 13, as empresas certificadas que possuem neste momento
implementadas ferramentas lean, em comparação com as que só estão certificadas,
apresentam impactos muito mais expressivos em todos os benefícios resultantes da
certificação ISO 9001.
51
Gráfico 14 –Impactos após certificação ISO 9001 em empresas sem ferramentas
lean vs impactos após certificação ISO 9001 em empresas com ferramentas lean
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00C
lass
ific
ação
do
imp
acto
Benefícios
Empresas com ferramentas lean
Empresas sem ferramentas lean
Os resultados apresentados no Gráfico 14 levam à formação de duas hipóteses
justificativas:
- Um efeito sinergético positivo relatado à posteriori entre lean e ISO 9001, em linha
com o referido por Micklewright (2011), o qual defende que implementando
simultaneamente ferramentas e metodologias lean e um sistema de gestão da qualidade
de acordo com a norma ISO 9001 permite gerar sinergias no impacto nos proveitos
organizacionais.
- As que adoptaram lean podem revelar uma maior apetência para a internalização dos
princípios da ISO 9001, daí optando posteriormente por adoptar ferramentas lean no
sentido da melhoria contínua e potenciar os benefícios. Este aspecto é salientado por
Maders e de Vries (2012), os quais referem que todas organizações, que internalizem os
princípios da ISO 9001, podem esperar efeitos mais expressivos em todos os benefícios.
Atendendo à proposição P2 (Em Portugal, as empresas certificadas que implementam
ferramentas lean sentem benefícios e impactos mais expressivos do que os obtidos
apenas pela certificação pela ISO 9001), pode-se, de acordo com os resultados
apresentados e a argumentação fornecida, afirmar que as empresas que implementam
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
52
ferramentas ou metodologias lean após a obtenção da certificação experienciam
benefícios mais expressivos.
4.3 Abordagem à questão de investigação 3 (QI 3)
Neste ponto pretende-se analisar a preposição P3, ou seja, se em Portugal as empresas
certificadas pela ISO 9001 que utilizam ferramentas e metodologias lean utilizam as
ferramentas relatadas na literatura e com integração com o sistema de gestão da
qualidade. No gráfico 15 estão representadas as ferramentas e metodologias lean que, de
acordo com a literatura, são mais utilizadas pelas empresas e a existência ou não de
integração com a norma ISO 9001.
Gráfico 15 - Ferramentas/metodologias lean utilizados nas empresas certificadas
em Portugal
0
5
10
15
20
25
30
5S
5W
s
Ishik
aw
a
Ka
izen
JIT
Ka
nban
Quadro
andon
VS
M
métr
icas lean
7W
Po
ka Y
oke
Vo
ice o
f custo
mer
TP
M
Pu
ll syste
m
SM
ED
Takt tim
e
Hoshin
Kanri
Jid
oca
A3
repo
rt
One p
iece flo
w
Nº
de
em
pre
sa
s
Ferramentas/ metodologias lean
Utiliza semIntegração
Utiliza comintegração
Analisando as ferramentas e metodologias lean mais utilizados (Gráfico 15), verifica-se
que as mais adoptados são 5S, 5Ws e Ishikawa, e os menos relatados, A3 report, One
piece flow, Hoshin Kanri e Jidoka.
Chiarini (2011) relatou ter encontrado como mais utilizados o Value stream mapping
(VSM), total productive maintenance (TPM) e 5S, e as menos utilizadas foram o
Hoshin Kanri, A3 report e SMED-quick-changeover.
Se se retirar as ferramentas de análise de causas propostas por Micklewright (2011) (5W
e Ishikawa) verifica-se que os resultados encontrados na presente pesquisa são próximos
53
dos encontrados por Chiarini (2011), inclusivamente coincidentes em relação a 5S,
A3report e Hoshin Kanri e com alguma proximidade em relação a VSM e SMED.
A Tabela 9 apresenta os resultados de 15 respostas recebidas ao questionário em relação
à questão optativa de enquadramento das ferramentas nos requisitos da norma ISO
9001. Salienta-se a negrito os resultados coincidentes com Chiarini (2011)
Tabela 9 - Ferramentas lean utilizadas e requisitos ISO 9001 para os quais se
destinam
Requisito ISO 9001 Ferramenta/metodologia lean (Número de
observações)
4. Sistema de gestão da qualidade
4.1 Requisitos gerais
5S(1)
4.2 Requisitos da documentação SMED(1)*
5. Responsabilidade da Gestão
5.1. Comprometimento da Gestão
Ishikawa(4)
5.2 Focalização no cliente 5W(1)
5.3 Política da qualidade Lean metrics(1))
5.4 Planeamento Hoshin Kanri (1)* SMED(1),
Pull system(1),
VSM(1);
6.3 Infraestrutura TPM (1)*; 5S(1)JIT(1)
7. Realização do produto
7.1 Planeamento da realização do produto
Pull system(1)*;
JIT(1) ;
TPM(1)
7.2 Processos relacionados com o cliente VOC - voice of customer (1)
7.5 Produção e fornecimento do serviço VSM(1)*
SMED(1)*,
kanban (1)*;
Quadro Andon(Gestão visual)(1)*
5S(1)*
8.2.3 Monitorização e medição dos processos Lean metrics(2)* Quadro Andon-Gestão Visual(1)
8.3 Controlo do produto não conforme 5W(1)
Ishikawa
8.4 Análise de dados Ishikawa
8.5. Melhoria Kaizen(2)*
5W(6)
Ishikawa(4)
SMED(1)
VSM(1)
Lean metrics(1);
5S(1)
*Coincide com Chiarini (2011)
Verificaram-se várias ferramentas coincidentes com a associação efetuada por Chiarini
(2011). No entanto o requisito da norma ISO 9001 que possui maior consenso nas
ferramentas utilizadas é o requisito 7.5 – Produção e fornecimento do serviço.
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
54
Em relação à proposição P3, verificou-se que existe alguma proximidade entre os
resultados deste estudo e os do estudo efetuado por Chiarini (2011), nomeadamente na
frequência de ferramentas encontradas. Assim, confirma-se P3 na parte relativa à
utilização pelas empresas certificadas em Portugal de ferramentas e metodologias
semelhantes às relatadas na literatura.
55
Capítulo 5. Conclusão
Visando o objetivo proposto, o presente capítulo apresenta as conclusões do estudo
através da resposta às questões de investigação definidas no Capítulo 1. De seguida são
descritas as limitações aos resultados apresentados e, por fim, definem-se linhas de
orientação para futuras investigações relacionadas com o presente estudo.
5.1. Discussão dos resultados
Pretende-se neste sub capítulo discutir os resultados visando o objectivo de verificar se
a utilização conjunta ou integrada de sistemas de gestão da qualidade de acordo com a
norma ISO 9001:2008 e ferramentas ou conceitos lean potencia os benefícios sentidos
nas empresas em Portugal após a certificação do sistema de gestão da qualidade.
Para o efeito, foi desenvolvida, como ferramenta de investigação, um questionário
desenhado para obter dados que permitissem responder às questões de investigação
definidas e às proposições e hipóteses associadas. Este questionário foi enviado para
4068 empresas certificadas pela norma ISO 9001 constantes na base de dados do IPAC
(2013) tendo sido obtidas 231 respostas válidas.
A primeira questão de investigação centrou-se na investigação, nas empresas
certificadas pela norma ISO 9001 em Portugal, dos benefícios associados à certificação
e a sua expressividade relativamente ao relatado na literatura.
Para efeitos de investigação foram definidas proposições e hipóteses. A sua discussão e
teste são resumidas em seguida.
A preposição P1 afirmava que as empresas certificadas em Portugal sentiram os
benefícios que decorrem da certificação e que são relatados na literatura. Os resultados
obtidos confirmaram que todos os benefícios relatados são, em média, sentidos pelas
empresas certificadas em Portugal, tendo sido obtida uma classificação média positiva
em todas as categorias de benefícios. Assim, os resultados obtidos estão em linha com
os relatados por Sampaio et al. (2010), Karthi et al. (2012) e Tarí et al. (2012). Neste
contexto, confirma-se P1.
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
56
Manders e de Vries (2012) referem que alguns estudos salientam que algumas variáveis
podem ter influência na expressividade de cada benefício. Nesse sentido formularam-se
várias hipóteses (H1, H2 e H3) para verificar a influência destas variáveis na
expressividade dos benefícios, nomeadamente, a motivação para a certificação, a
antiguidade do certificado e a dimensão da empresa, respetivamente.
Ao analisar a influência da motivação na expressividade dos benefícios (H1), observou-
se que a motivação externa está associada a um impacto maior no aumento da quota de
mercado e no aumento do volume de vendas. Esta relação foi também referida por
Sampaio et al. (2010) ao afirmar que as organizações que se queiram certificar por
motivação externa obtêm maioritariamente benefícios externos. Os resultados obtidos
estão em linha com os obtidos por Santos et al. (2011) em pequenas e médias empresas
em Portugal, o qual refere que a certificação é certamente uma opção estratégica das
empresas no sentido destas obterem maior quota de mercado.
Por outro lado, e tal como referido por Tari et al. (2012) e Sampaio et al. (2011),
verificou-se que a motivação interna provoca benefícios internos e externos. Verificou-
se que a motivação interna está associada a um impacto maior em benefícios internos e
externos, nomeadamente na melhoria da sistematização, na melhoria do controlo de
gestão, na melhoria da qualidade do produto ou serviço, na melhoria dos indicadores de
pessoal, na melhoria da relação com fornecedores e na melhoria da relação com
autoridades e outras partes interessadas.
Neste contexto, H1 é confirmada parcialmente, ou seja, a motivação interna leva a
maior expressividade nos benefícios potenciais, mas de modo significativo apenas para
alguns desses benefícios.
De seguida foi-se testar se as empresas certificadas há mais anos apresentavam
benefícios mais expressivos (H2). Esta hipótese coincide com a colocada por Manders e
de Vries (2012), os quais referem que a antiguidade do certificado pode ter influência
nos benefícios sentidos com a certificação, pois as organizações podem não se tornar
mais eficientes financeiramente imediatamente após se certificarem.
Os resultados obtidos permitiram verificar esta relação mas apenas para alguns dos
benefícios. Verificou-se que quanto mais antigo é o certificado, maior é o impacto
57
positivo sentido em alguns dos benefícios: aumento do volume de vendas, aumento de
produtividade, melhoria de posição competitiva, melhoria da sistematização, melhoria
na satisfação do cliente, melhoria na relação com fornecedores e melhoria na relação
com autoridades e outras partes interessadas. Os resultados obtidos mostram que os
impactos positivos descritos em função da antiguidade do certificado resultam, para a
maioria das associações, das diferenças de médias estatisticamente significativas entre o
período mais antigo (até 2000 inclusive) e o grupo mais recente (2011-2013), exceto no
caso da relação com autoridades e outras partes interessadas cuja diferença de médias
entre cada grupo é estatisticamente significativa para quase todas as comparações. Neste
contexto, confirma-se H2, mas apenas para alguns dos benefícios.
Segundo Pekovic (2010), as limitações de recursos financeiros, materiais e humanos nas
empresas de menor dimensão podem colocá-las numa posição de desvantagem em
termos de qualidade. Nesse sentido, foi-se testar a última hipótese (H3), se as empresas
de maior dimensão verificam benefícios mais expressivos.
A hipótese foi confirmada para o impacto nos seguintes benefícios: aumento da
rentabilidade, aumento de produtividade, melhoria da sistematização, melhoria no
controlo de gestão, melhoria na satisfação do cliente, melhoria na relação com
fornecedores, melhoria na relação com autoridades e outras partes interessadas. Este
efeito foi maioritariamente e estatisticamente significativo sentido na diferença entre as
microempresas (1-9 funcionários) e as empresas médias (50-249 funcionários), exceto
no caso da melhoria no controlo de gestão, cuja diferença de médias entre cada grupo é
só estatisticamente significativa entre pequenas (10-49 funcionários) e médias empresas,
e no caso da relação com autoridades e outras partes interessadas cuja diferença de
médias entre cada grupo é estatisticamente significativa só entre micro e grandes
empresas. O impacto no benefício cujas diferenças de médias entre todos os grupos são
estatisticamente significativas é o da melhoria da sistematização. Assim, confirma-se
parcialmente H3.
Em resposta à primeira questão de investigação poderemos dizer que as empresas
certificadas em Portugal sentem os benefícios atribuídos na literatura à certificação de
um sistema de gestão da Qualidade pela norma ISO 9001. O seu tipo e expressividade
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
58
variam com as variáveis motivação, antiguidade do certificado e dimensão da empresa,
também de acordo com alguns estudos anteriores.
A segunda questão de investigação (QI 2) pretendia averiguar se a utilização de
ferramentas ou metodologias lean em empresas certificadas em Portugal potencia os
benefícios associados à certificação do sistema de gestão da qualidade.
Para o efeito foi criada uma proposição (P2) afirmando que as empresas certificadas que
implementam ferramentas ou metodologias lean sentem benefícios e impactos
diferentes dos obtidos apenas pela certificação. Os resultados mostraram que após a
implementação de ferramentas ou metodologias lean as empresas sentiram um
acréscimo de impacto em todos os benefícios previamente obtidos com a certificação.
Este acréscimo superou os impactos sentidos pela certificação nos benefícios relativos à
redução de custos e do tempo de entrega. Este último aspecto vai ao encontro do
referido por George (2003), o qual concluiu que após serem aplicados os conceitos ou
ferramentas lean podem-se diminuir ou remover os custos e atrasos dos processos. Os
resultados obtidos estão igualmente em linha com os de Chiarini (2011) quando esta
afirma que estando a ISO 9001 mais focada na eficácia, as empresas que integram
ferramentas e metodologias lean e ISO 9001 recebem o bónus de aumentar a eficiência.
De acordo com a investigação, em resposta à segunda questão de investigação,
verificou-se que a utilização de ferramentas e ou metodologias lean em empresas
certificadas potenciou todos os benefícios associados à certificação do sistema de gestão
da qualidade, e com maior incidência na redução de custos e na redução do tempo de
entrega
Por último, para responder à terceira questão de investigação (QI 3) sobre quais as
ferramentas e/ou metodologias lean mais utilizadas e que associação têm com as
cláusulas da norma ISO 9001:2008, foi compilada a informação recolhida referente ao
tipo de integração de ferramentas e conceitos lean utilizados nas empresas. Os
resultados mostraram alguma coerência com os encontrados no estudo efetuado por
Chiarini (2011). Verificou-se que os mais utilizados são 5S, 5Ws, Ishikawa, Kaizen,
JIT, Kanban, Gestão Visual, VSM e métricas lean e os menos relatados, A3 report, One
piece flow, Hoshin Kanri, Jidoka e Takttime. Os que são mais utilizados de forma
59
integrada com o sistema de gestão da qualidade são ferramentas de análise de causas
(5Ws e Ishikawa) e outros como 5S, Kaizen, métricas lean, JIT e TPM.
Na relação com as cláusulas da norma ISO 9001 obteve-se um número reduzido de
observações mas este revelou algumas congruências com os resultados do estudo de
Chiarini (2011), nomeadamente nas seguintes relações Cláusula ISO 9001- Ferramenta
lean;
4.2 Requisitos da documentação- SMED documentado;
5.4 Planeamento- Hoshin Kanri;
6.3Infraestrutura- TPM;
7. Realização do produto – Pull System;
7.5 Produção e fornecimento do serviço – VSM; SMED, Kanban; Gestão Visual e 5S
8.5 Melhoria –Kaizen;
Em resposta à terceira questão de investigação o estudo permitiu conhecer o tipo e a
frequência de utilização de algumas ferramentas lean relatadas na literatura. A sua
integração com as cláusulas da norma ISO 9001:2008 não foi conclusiva, mas
apresentou algumas congruências com um estudo internacional.
Como consideração final, julga-se que se atingiu o objetivo proposto neste estudo. A
metodologia seguida foi permitindo uma validação pela literatura, dos resultados
obtidos. O que pode levar a considerar que a utilização conjunta ou integrada da norma
ISO 9001:2008 e ferramentas ou metodologias lean, potencia os benefícios sentidos
com a certificação. e consequentemente uma melhoria do desempenho organizacional.
5.2. Limitações dos resultados obtidos
Em consequência da falta de aleatoriedade da amostra obtida, e apesar da proximidade
entre as características desta e as da população de onde foi retirada, os resultados
obtidos padecem de algumas limitações, nomeadamente da impossibilidade da sua
generalização para a população. No entanto, são resultados congruentes com os
encontrados na literatura e obtidos a partir de uma metodologia que se considera válida
na sua construção.
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
60
5.3. Linhas de Investigação futuras
Apresentam-se a seguir propostas de investigação futuras decorrentes da pesquisa que
se efectuou:
- Analisar o efeito longitudinal da certificação pela ISO 9001 nos benefícios relatados
na literatura, com acompanhamento de empresas com novas certificações ao longo de
um horizonte temporal alargado;
- Continuar a investigação sobre as ferramentas lean utilizadas ou a utilizar em
empresas certificadas de modo a desenhar um modelo de integração entre requisitos da
ISO 9001 e ferramentas lean.
61
Referências
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LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
66
67
Anexos
Anexo I. Questionário
EMAIL: Exmo(a) Sr(a) O meu nome é João Margaça e sou aluno de mestrado do INDEG-ISCTE. Encontro-me de momento a elaborar a tese de mestrado e para o efeito encontro-me a efetuar um estudo onde procuro obter informação relativa a integração de sistemas de gestão da Qualidade de acordo com a Norma NP EN ISO 9001:2008 e metodologias e/ou ferramentas Lean Pretende-se demonstrar que a junção dos dois sistemas possui grande potencial de criação de valor para as empresas. Procuro, desta forma, empresas que possuam o seu sistema de gestão da Qualidade certificado e utilizem ou pretendam utilizar ferramentas Lean, e ao mesmo tempo possam participar no estudo. Para o efeito estaria muito grato se respondessem a um inquérito muito breve através do link [SurveyLink] Mesmo que não possuam ferramentas ou metodologias Lean e não as pretendam utilizar, agradecia se respondessem ao questionário no que concerne ao impacto e satisfação com o sistema de Gestão da Qualidade. Muito obrigado pela atenção e disponibilidade demonstradas Os melhores cumprimentos João Margaça Email: [email protected] Tlm: 964890518 Caso não pretenda voltar a ser contactado clique no seguinte link [RemoveLink] Questionário Q1. Q1.1 Dados da Empresa
Ano de constituição da empresa
Ano de obtenção do certificado ISO 9001:2008
nº de funcionários da empresa
Q1.2 Qual foi a principal motivação para a implementação do Sistema de Gestão da Qualidade?
Motivação Interna (Melhoria da Organização e Processos Internos)
Motivação Externa (Marketing, pressão dos clientes ou mercado)
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
68
Q2 Q2.1 SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE (NP EN ISO 9001:2008) Assinale o escalão que melhor define o impacto proveniente da certificação do Sistema de Gestão da Qualidade da sua Organização, em cada um dos tópicos fornecidos.
Impacto negativo
muito significativo
-6
-5 -4 -3 -2 -1 Sem
impacto 0
1 2 3 4 5
Impacto positivo muito
significativo 6
Aumento da quota de mercado
Aumento das exportações
Aumento do volume de vendas
Aumento da rentabilidade
Aumento da produtividade
Redução de custos,
Redução de defeitos ou retrabalho
Redução do tempo de entrega
Melhoria da posição competitiva/vantagem competitiva
Melhoria da Sistematização (Documentação, procedimentos de trabalho, definição de funções, responsabilidades)
Melhoria do Controlo de gestão
Melhoria da qualidade do produto ou serviço
Melhoria da imagem da organização
Melhoria dos indicadores de pessoal (motivação, satisfação, equipas, comunicação, conhecimento)
Melhoria da satisfação do cliente
Melhoria da relação com fornecedores
Melhoria da relação com autoridades e outras partes interessadas
Q2.2 Utiliza metodologias e/ou ferramentas lean? Caso não utilize, o seu questionário termina aqui
Sim Não
Q2.3 Em que ano iniciou a implementação de metodologias e/ou ferramentas lean?
69
Q2.4 LEAN Assinale o escalão que melhor define o impacto proveniente da implementação de metodologias e/ou ferramentas Lean na sua Organização, em cada um dos tópicos fornecidos.
Impacto negativo
muito significativo
-6
-5 -4 -3 -2 -1 Sem
impacto 0
1 2 3 4 5
Impacto positivo muito
significativo 6
Aumento da quota de mercado
Aumento das exportações
Aumento do volume de vendas
Aumento da rentabilidade
Aumento da produtividade
Redução de custos,
Redução de defeitos ou retrabalho
Redução do tempo de entrega
Melhoria da posição competitiva/vantagem competitiva
Melhoria da Sistematização (Documentação, procedimentos de trabalho, definição de funções, responsabilidades)
Melhoria do Controlo de gestão
Melhoria da qualidade do produto ou serviço
Melhoria da imagem da organização
Melhoria dos indicadores de pessoal (motivação, satisfação, equipas, comunicação, conhecimento)
Melhoria da satisfação do cliente
Melhoria da relação com fornecedores Melhoria da relação com autoridades e outras partes interessadas
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
70
Q3 Q3 Q3.1 Que soluções Lean utiliza regularmente ou tem implementadas? Caso a solução lean esteja integrada com o sistema de Gestão da Qualidade em que cláusula e correspondente sub clausula da Norma a utiliza mais frequentemente?
Utilizo sem integração/Utilizo com
integração/Não Utilizo Cláusula da Norma NP EN ISO
9001:2008 Subcláusula da Norma NP EN ISO
9001:2008
5S
Registo e análise de desperdícios 7W(seven wastes)
Single Minute Exchange of Die (SMED) e quick-changeover
VSM (mapeamento da cadeia de valor)
5W (os cinco porquês)
Ishikawa (Diagrama causa-efeito)
Sistema de controlo de operações Kanban
Just in Time
Pull system
Hoshin Kanri (desdobramento da estratégia)
Quadro Andon Gestão Visual
Poka-yoke
Jidoca
Kaizen
Métricas Lean(kpis)
TPM (total productive maintenance)
A3 report
One-piece-flow
Takt time
Voice of Customer (VOC) e House of Quality (HOQ)
71
Anexo II.
Tabela 10 Teste de Tukey Antiguidade de certificado vs benefício
Limite inferior Limite superior
2001-2003 ,228 ,488 ,990 -1,11 1,57
2004-2007 ,304 ,436 ,957 -,89 1,50
2008-2010 ,602 ,428 ,624 -,57 1,78
2011-2013 1,265 ,498 ,085 -,10 2,63
Até 2000 inclusive -1,265 ,498 ,085 -2,63 ,10
2001-2003 -1,038 ,475 ,189 -2,34 ,27
2004-2007 -,961 ,422 ,155 -2,12 ,20
2008-2010 -,663 ,413 ,497 -1,80 ,47
2001-2003 ,373 ,462 ,928 -,90 1,64
2004-2007 ,662 ,413 ,496 -,47 1,80
2008-2010 1,091 ,405 ,058 -,02 2,21
2011-2013 ,907 ,471 ,307 -,39 2,20
Até 2000 inclusive -1,091 ,405 ,058 -2,21 ,02
2001-2003 -,718 ,380 ,325 -1,76 ,33
2004-2007 -,429 ,318 ,661 -1,30 ,45
2011-2013 -,184 ,391 ,990 -1,26 ,89
2001-2003 ,353 ,336 ,831 -,57 1,28
2004-2007 ,042 ,300 1,000 -,78 ,87
2008-2010 ,358 ,295 ,743 -,45 1,17
2011-2013 ,974* ,343 ,039 ,03 1,92
Até 2000 inclusive -,042 ,300 1,000 -,87 ,78
2001-2003 ,311 ,282 ,804 -,46 1,09
2008-2010 ,316 ,231 ,649 -,32 ,95
2011-2013 ,933* ,290 ,013 ,13 1,73
Até 2000 inclusive -,974* ,343 ,039 -1,92 -,03
2001-2003 -,621 ,327 ,320 -1,52 ,28
2004-2007 -,933* ,290 ,013 -1,73 -,13
2008-2010 -,616 ,285 ,197 -1,40 ,17
2001-2003 ,424 ,430 ,862 -,76 1,61
2004-2007 ,455 ,385 ,760 -,60 1,51
2008-2010 ,589 ,378 ,526 -,45 1,63
2011-2013 1,169 ,439 ,063 -,04 2,38
Até 2000 inclusive -1,169 ,439 ,063 -2,38 ,04
2001-2003 -,746 ,419 ,389 -1,90 ,41
2004-2007 -,714 ,372 ,310 -1,74 ,31
2008-2010 -,581 ,365 ,505 -1,58 ,42
2001-2003 -,296 ,481 ,973 -1,62 1,03
2004-2007 ,419 ,430 ,867 -,76 1,60
2008-2010 ,036 ,423 1,000 -1,13 1,20
2011-2013 1,276 ,492 ,075 -,08 2,63
Até 2000 inclusive ,296 ,481 ,973 -1,03 1,62
2004-2007 ,714 ,404 ,395 -,40 1,83
2008-2010 ,332 ,396 ,918 -,76 1,42
2011-2013 1,571* ,469 ,008 ,28 2,86
Até 2000 inclusive -,036 ,423 1,000 -1,20 1,13
2001-2003 -,332 ,396 ,918 -1,42 ,76
2004-2007 ,382 ,332 ,778 -,53 1,29
2011-2013 1,239* ,408 ,022 ,12 2,36
Até 2000 inclusive -1,276 ,492 ,075 -2,63 ,08
2001-2003 -1,571* ,469 ,008 -2,86 -,28
2004-2007 -,857 ,416 ,241 -2,00 ,29
2008-2010 -1,239* ,408 ,022 -2,36 -,12
2011-2013
Até 2000 inclusive
Impacto da implementação
do SGQ na relação com
autoridades e outras partes
interessadas
Até 2000 inclusive
2001-2003
2008-2010
2011-2013
Impacto da implementação
do SGQ na satisfação do
cliente
Até 2000 inclusive
2011-2013
Impacto da implementação
do SGQ na sistematização
Até 2000 inclusive
2004-2007
2011-2013
Impacto da implementação
do SGQ na posição
competitiva
Até 2000 inclusive
2008-2010
Impacto da implementação
do SGQ na Produtividade
Variável dependenteDiferença Desvio Padrão Sig.
Intervalo de confiança 95%
LEAN- ISO9001: ESTUDO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
72
Tabela 11-Teste de Tukey Dimensão da empresa vs benefício
Limite inferior Limite Superior
Pequena: 10-49 -,463 ,436 ,713 -1,59 ,67
Média: 50-249 -1,241* ,454 ,034 -2,42 -,07
Grande: 250 ou
+
-,797 ,509 ,400 -2,11 ,52
Micro: 1-9 ,463 ,436 ,713 -,67 1,59
Média: 50-249 -,778 ,309 ,061 -1,58 ,02
Grande: 250 ou
+
-,334 ,385 ,822 -1,33 ,66
Micro: 1-9 1,241* ,454 ,034 ,07 2,42
Pequena: 10-49 ,778 ,309 ,061 -,02 1,58
Grande: 250 ou
+
,444 ,406 ,694 -,61 1,49
Micro: 1-9 ,797 ,509 ,400 -,52 2,11
Pequena: 10-49 ,334 ,385 ,822 -,66 1,33
Média: 50-249 -,444 ,406 ,694 -1,49 ,61
Pequena: 10-49 -,688 ,438 ,397 -1,82 ,44
Média: 50-249 -1,123 ,456 ,068 -2,30 ,06
Grande: 250 ou
+
-,756 ,511 ,451 -2,08 ,57
Micro: 1-9 ,688 ,438 ,397 -,44 1,82
Média: 50-249 -,435 ,311 ,501 -1,24 ,37
Grande: 250 ou
+
-,068 ,387 ,998 -1,07 ,93
Micro: 1-9 1,123 ,456 ,068 -,06 2,30
Pequena: 10-49 ,435 ,311 ,501 -,37 1,24
Grande: 250 ou
+
,367 ,407 ,804 -,69 1,42
Micro: 1-9 ,756 ,511 ,451 -,57 2,08
Pequena: 10-49 ,068 ,387 ,998 -,93 1,07
Média: 50-249 -,367 ,407 ,804 -1,42 ,69
Pequena: 10-49 -,686 ,285 ,079 -1,42 ,05
Média: 50-249 -1,404* ,297 ,000 -2,17 -,64
Grande: 250 ou
+-,934
* ,333 ,028 -1,80 -,07
Micro: 1-9 ,686 ,285 ,079 -,05 1,42
Média: 50-249 -,718* ,202 ,003 -1,24 -,19
Grande: 250 ou
+
-,248 ,252 ,760 -,90 ,40
Micro: 1-9 1,404* ,297 ,000 ,64 2,17
Pequena: 10-49 ,718* ,202 ,003 ,19 1,24
Grande: 250 ou
+
,471 ,265 ,289 -,22 1,16
Micro: 1-9 ,934* ,333 ,028 ,07 1,80
Pequena: 10-49 ,248 ,252 ,760 -,40 ,90
Média: 50-249 -,471 ,265 ,289 -1,16 ,22
Impacto da
implementação
do SGQ na
sistematização
Micro: 1-9
Pequena: 10-49
Média: 50-249
Grande: 250 ou
+
Impacto da
implementação
do SGQ na
Produtividade
Micro: 1-9
Pequena: 10-49
Média: 50-249
Grande: 250 ou
+
Impacto da
implementação
do SGQ na
Rentabilidade
Micro: 1-9
Pequena: 10-49
Média: 50-249
Grande: 250 ou
+
Variável dependente
Diferença de
média Desvio Padrão Sig.
Intervalo de confiança 95%
73
Tabela 12Teste de Tukey Dimensão da empresa vs benefício
Limite inferior Limite Superior
Pequena: 10-49 -,577 ,374 ,413 -1,54 ,39
Média: 50-249 -,934 ,389 ,080 -1,94 ,07
Grande: 250 ou
+
-1,105 ,436 ,057 -2,23 ,02
Micro: 1-9 ,577 ,374 ,413 -,39 1,54
Média: 50-249 -,357 ,265 ,533 -1,04 ,33
Grande: 250 ou
+
-,528 ,330 ,381 -1,38 ,33
Micro: 1-9 ,934 ,389 ,080 -,07 1,94
Pequena: 10-49 ,357 ,265 ,533 -,33 1,04
Grande: 250 ou
+
-,171 ,347 ,961 -1,07 ,73
Micro: 1-9 1,105 ,436 ,057 -,02 2,23
Pequena: 10-49 ,528 ,330 ,381 -,33 1,38
Média: 50-249 ,171 ,347 ,961 -,73 1,07
Pequena: 10-49 -,027 ,318 1,000 -,85 ,80
Média: 50-249 -,588 ,331 ,287 -1,44 ,27
Grande: 250 ou
+
-,092 ,371 ,995 -1,05 ,87
Micro: 1-9 ,027 ,318 1,000 -,80 ,85
Média: 50-249 -,561 ,225 ,064 -1,14 ,02
Grande: 250 ou
+
-,065 ,281 ,996 -,79 ,66
Micro: 1-9 ,588 ,331 ,287 -,27 1,44
Pequena: 10-49 ,561 ,225 ,064 -,02 1,14
Grande: 250 ou
+
,496 ,295 ,337 -,27 1,26
Micro: 1-9 ,092 ,371 ,995 -,87 1,05
Pequena: 10-49 ,065 ,281 ,996 -,66 ,79
Média: 50-249 -,496 ,295 ,337 -1,26 ,27
Pequena: 10-49 -,764 ,385 ,198 -1,76 ,23
Média: 50-249 -1,049* ,401 ,046 -2,09 -,01
Grande: 250 ou
+-1,220
* ,449 ,036 -2,38 -,06
Micro: 1-9 ,764 ,385 ,198 -,23 1,76
Média: 50-249 -,286 ,273 ,723 -,99 ,42
Grande: 250 ou
+
-,456 ,340 ,538 -1,34 ,42
Micro: 1-9 1,049* ,401 ,046 ,01 2,09
Pequena: 10-49 ,286 ,273 ,723 -,42 ,99
Grande: 250 ou
+
-,171 ,358 ,964 -1,10 ,76
Micro: 1-9 1,220* ,449 ,036 ,06 2,38
Pequena: 10-49 ,456 ,340 ,538 -,42 1,34
Média: 50-249 ,171 ,358 ,964 -,76 1,10
Pequena: 10-49 -,708 ,423 ,341 -1,80 ,39
Média: 50-249 -,855 ,441 ,214 -2,00 ,29
Grande: 250 ou
+-1,547
* ,494 ,010 -2,83 -,27
Micro: 1-9 ,708 ,423 ,341 -,39 1,80
Média: 50-249 -,147 ,300 ,961 -,92 ,63
Grande: 250 ou
+
-,839 ,374 ,115 -1,81 ,13
Micro: 1-9 ,855 ,441 ,214 -,29 2,00
Pequena: 10-49 ,147 ,300 ,961 -,63 ,92
Grande: 250 ou
+
-,692 ,394 ,296 -1,71 ,33
Micro: 1-9 1,547* ,494 ,010 ,27 2,83
Pequena: 10-49 ,839 ,374 ,115 -,13 1,81
Média: 50-249 ,692 ,394 ,296 -,33 1,71
* significativo para α=0,05
Impacto da
implementação
do SGQ na
relação com
autoridades e
outras partes
interessadas
Micro: 1-9
Pequena: 10-49
Média: 50-249
Grande: 250 ou
+
Impacto da
implementação
do SGQ na
relação com
fornecedores
Micro: 1-9
Pequena: 10-49
Média: 50-249
Grande: 250 ou
+
Impacto da
implementação
do SGQ no
controlo de
gestão
Micro: 1-9
Pequena: 10-49
Média: 50-249
Grande: 250 ou
+
Impacto da
implementação
do SGQ na
satisfação do
cliente
Micro: 1-9
Pequena: 10-49
Média: 50-249
Grande: 250 ou
+
Variável dependente
Diferença de
média Desvio Padrão Sig.
Intervalo de confiança 95%