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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva Ano V | Nº 38 | Novembro de 2009 LINCE De olho na notícia PROJETO VISA MAIOR SEGURANÇA DOS USUÁRIOS COM RASTREAMENTO DE CELULARES | PÁGINA 15 OS CADÁVERES DEVEM OU NÃO SEREM USADOS NOS ESTUDOS CIENTÍFICOS? | PÁGINA 15 Lagoinha: O tempo parou? | PÁGINA 5 ALDEN STARLING

Lince _38

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Jornal Lince

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Jo rna l L abora tó r io do Curso de Jo rna l i smo do Cent ro

univer s i t á r i o newton Pa i va ano V | nº 38 | novembro de 2009

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Lagoinha: O tempo parou?

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Novembro/20092

O ganho de R$ 4 bilhões, que parece uma boa notícia, é

apenas uma maquiagem para uma obrigação

que sempre é empurrada

com a barriga.

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crônica

ReitoRLuis Carlos de Souza Vieira

PRó-ReitoR aCadêmiCoSudário Papa Filho

Co oR de na doRa do CuRSo de JoR na LiSmoPro fes sora ma ri a lice em bo ava

ReS Pon Sá VeL PeLa edi çãoPro fes sor eus tá quio trin dade netto (dRt/mG 02146)

PRo Jeto GRá FiCo e diReção de aRteHelô Costa (mG 00127 dG)

diaGRamação: adrielle Lopesalana amorimÉrica Caetano, Rodrigo Honóriothamires Lopes

monitoReS: Frederico alvesGabriel mouramichael eudes (textos) e dayse aguiar e alden Starling (fotos)

RePoRtaGenS:alu nos do 4º Pe rí odo do Curso de Co mu ni ca ção do Centro universitário new ton Paiva (manhã e noite)

Este é um jor nal-la bo ra tó rio da dis ci plina la bo ra tó rio de jorna lismo ii. Dis tri bu i ção gra tu ita. Edi ção men sal. o jor nal não se res pon sa bi liza pela emis são de con cei tos emi ti dos em ar ti gos as si na dos e per mite a re pro du ção to tal ou par cial das ma té rias, desde que ci ta das a fonte e o au tor.

CoR ReS Pon dên CianP4 - Rua Ca tumbi, 546 – Bairro Cai çaraBelo Horizonte - minas Gerais CeP 31230-600 – te le fone: (31) [email protected]

EDUCAÇÃO FICA PARA

DEPOISlucas simõEs

Os bons ventos da economia brasileira têm feito nosso País olhar cada vez mais para fora. A Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 são exemplos de investimentos pesados do governo, em função da modernização, geração de emprego, e crescimento do Brasil. Entretanto, um fator fundamental para o desenvolvimento de qualquer país está fora da pauta: a educação, pelo menos ao que parece, não está nos planos de investimento.

Na semana passada, o Senado aprovou emenda que proíbe o uso do instrumento conhecido como Desvinculação das Receitas da União (DRU) na educação. Na prática, o governo não poderá mais desviar dinheiro desta pasta para outras áreas. Assim, a educação teria um acréscimo de R$4 bilhões em sua receita, ainda neste ano. Segundo a revista Época, desde 1994 o DRU desviou da educação uma quan-tia aproximada de R$ 100 milhões para outras áreas e, principalmente, para cobrir rombos financeiros.

O ganho de R$ 4 bilhões, que parece uma boa notícia, é apenas uma maquiagem para uma obrigação que sempre é empurrada com a barriga. Levantamento da revista Época aponta que estados e municípios investem cerca de R$ 1.200 por aluno a cada mês. Com o dinheiro poupado da DRU, este valor aumentaria para R$ 1.400. Entretanto, os gastos mínimos necessários para cada aluno, hoje, ficam em R$ 1.960, segundo a revista.

Além do problema de insuficiência financeira para os gastos básicos com os alunos, a educação brasileira não teve a mesma sorte de grandes investidores que retomaram o caminho do lucro após a “marolinha”. O Fundo de Manu-tenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) — usado para pagar salário de professores e compra de material escolar —, perdeu R$ 10 bilhões neste ano, em função da crise.

Esses dados ilustram que a educação no Brasil ainda é assunto para segundo plano. O governo brasileiro insiste no discurso de criação de empregos e investimentos pesados em infra-estrutura a curto prazo. Mas, não parou para dar atenção ao longo, árduo e primordial investimento de um país: a educação.

michaEl EuDEs

nas ondas do rádio, os rit-mos se repetem, as melodias redundantes soam e o alvo, ou melhor, o público-alvo é a juventude. atualmente, as estações de rádio fm não se soltam dos hits de sucessos do hip hop “motherfucker” ou “ love, love, love”. Será esse o estilo musical que o jovem real-mente gosta de ouvir? nas principais estações de Belo Horizonte: Jovem Pan, mix e 98 fm, é absoluto o domínio desse segmento.

a partir da idéia de que música é gosto individual e particular, claro que não devo crucificar quem é fã dos artis-tas pop mais tocados. no entanto, com a diversidade cultural existente no país, principalmente no ramo artís-tico, é um absurdo o fato de

que só algumas músicas tenham espaço para divulga-ção. Pare por um minuto para perceber a diversidade de ban-das e estilos diversos que nem ao menos são citados nessas grandes estações.

Seria a visão mercadoló-gica da coisa? Claro! Pois sem a oportunidade de demonstra-ção de estilos experimentais, ou pelo menos diferentes dos tocados insistentemente nas “Fm-bate-estaca”, restam o anonimato e o underground para esses nichos musicais. a fórmula de fácil absorção dos grandes hits é um prato cheio para as rádios, que comple-mentam o trabalho das grava-doras mais badaladas. os refrões são dançantes, fáceis de decorar, repetitivos, além das letras com histórias linea-res e com enredo previsível: começo, meio e final feliz.

isso não significa que os outros estilos musicais sejam refinados e elitizados. no entanto, a questão é a superfi-cialidade da produção dos hits e o desprezo à diversidade musical, cultural, rítmica, etc. outro fator que chama atenção é o tratamento dado ao ouvinte: consumidor ou objeto. Logo, o comodismo e a reafirmação do senso comum nas artes cres-cem demasiadamente.

Portanto, na hora de sinto-nizar sua estação de rádio pre-ferida para curtir uma simples musiquinha, saiba que existe uma trajetória muito bem pen-sada para o uso do artista tocado. também se lembre de que a exclusão a outros artistas e a ignorância de estilos musi-cais são prejudiciais à demo-cracia artística. tudo isso con-tribui para um mundo mecâ-nico, previsível e ignorante.

OS HITS QUE TOCAM, TOCAM E

TOCAM

NO SEU RÁDIODay

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Novembro/2009 3

CRIANÇAS ESPECIAIS ENFRENTAM

KEila martins E KarEn guY

um dos maiores problemas do brasileiro atualmente é o pre-conceito, seja contra pobres, negros, analfabetos e também contra portadores de insanidade mental. o deficiente intelectual (mental) enfrenta um grande pro-blema social: a resistência da população quanto à sua inclusão na sociedade.

a maioria dos professores de escolas em Belo Horizonte, sejam elas particulares, estaduais ou municipais não possui qualifica-ção para atender alunos excepcio-nais. a aPae – associação de Pais e amigos de excepcionais de Belo Horizonte está há algum tempo lutando em defesa da inclusão do deficiente intelectual na socie-dade mineira. o coordenador téc-nico pedagógico da associação, eraldo dutra , explica que cada dia está mais difícil incluir esses pacientes em salas de aulas para participarem junto com alunos “normais”. “Quando recebo pais para matricularem os seus filhos na aPae, eu sempre sugiro que tentem entrar em contato com alguma escola estadual ou muni-cipal mais próxima de sua residên-cia. Sem dúvida, eu sou a favor de

colocar o paciente excepcional para estudar junto com crianças “normais”, afirmou.

Para ele, as famílias sem-pre retornam à aPae recla-mando que o filho ia às aulas e "acabava excluso" da sala, que os professores não têm paciên-cia para trabalhar com os alu-nos especiais e, ao invés de melhorar o comportamento, o aluno regrida no desenvolvi-mento social.

lista DE EsPEra

a presidente da associação e membro do Conselho estadual da educação, maria da Cunha, enfa-tiza a questão de a aPae estar com lista de espera de famílias, cujos filhos não foram aceitos em outras escolas. a maioria das escolas estaduais e municipais de Belo Horizonte não tem condições de receber alunos deficientes. a insti-tuição deve ser acessível para crianças que usam cadeiras de rodas e sem dúvida que tenham uma equipe pedagógica que possa atender às necessidades e cuida-dos que as crianças precisam.”

a dona-de-casa eni Gonçal-ves, moradora do bairro Bom Jesus, leva de ônibus o neto Leo-

nardo, portador de hidrocefalia, todos os dias para a aPae, em Santa tereza. ela conta que ten-tou matricular o garoto em outras escolas, mas ele não foi aceito. “Sou a favor de colocar meu neto para estudar com crianças nor-mais. ele fica imóvel na cadeira de rodas, mas tenta se comunicar, gosta de rir e tenta movimentar as mãos para desenhar”, revela. dona eni conta que Leonardo “ gosta de companhia — é uma pena que algumas escolas com que entrei em contato e tentei matricular o Leonardo tenham dito que não podiam recebê-lo”.

nádia Souza, diretora da escola estadual doutor amaro neves Barreto, no bairro Santa Lúcia, afirmou que aceita alunos com deficiência intelectual. “acho que seria melhor para as pessoas portadoras de deficiência estudar junto a outras crianças; elas devem se incluir na socie-dade. na escola, nós temos um aluno deficiente em cada turma e não temos problemas com isso”, disse. Segundo nádia, “os profes-sores tentam trabalhar com eles da mesma forma que trabalham com os outros alunos, mas é claro que isso exige um pouco mais de paciência”, reconhece.

Sim ou não à inclusão social? Deficientes intelectuais são

vítimas de preconceito dentro das escolas da rede pública na

Grande BH, sempre que buscam ampliar

seu raio de ação

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Conheça melhor a APAE

PRECONCEITO NAS ESCOlAS

a aPae visa atender, em sua maioria, famílias de classe baixa, que não têm condições de pagar um tratamento especial para o deficiente. ela mantém uma clínica chamada inteRViR, que realiza exames periódicos no paciente. a associa-ção desenvolve projetos em busca de qualificar

professores de estabelecimentos da rede pública para ajudar na inclusão dos alunos deficientes nas escolas. entre vários projetos da associação está o Casa Lares, que acolhe crianças deficientes que são abandonadas pelas famílias, com a finalidade de reconstruir os seus laços familiares.

a aPae fica à Rua Cristal, no bairro Santa tereza, e é uma entidade sem fins lucrativos, que presta serviços na área da assistência social, saúde e educação, mas também trabalha em defesa dos direitos dos jovens e adultos portadores de defici-ência intelectual.

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VAlE A PENA SER FUNCIONÁRIO PúblICO?

Priscilla DE olivEira E juliana castro

“Funcionário Público é todo empregado de uma admi-nistração estatal. É todo aquele que mantém um vínculo empregatício com o estado e seu pagamento vem da arreca-dação pública de impostos”. É o que diz o aurélio.

depois da aprovação no concurso, o funcionário terá estabilidade no órgão após três anos de efetivo exercício; ao contrário do empregado da empresa pública ou sociedade de economia mista, este, ainda que admitido mediante apro-vação em concurso público, não tem garantia de estabili-dade.

essa estabilidade só se concretiza depois do cumpri-mento do estágio probatório, sendo que a avaliação é dirigida à administração da empresa. depois de três anos, com ou sem avaliação, a empresa é obrigada a reconhecer a estabi-lidade do servidor. o estágio confirmatório ou estágio pro-batório visa verificar os deve-res, a eficiência, disciplina e a assiduidade do servidor.

todos os entrevistados mostraram não se importar com esse estágio confirmató-rio; afinal, e a estabilidade ainda é um dos principais moti-vos para quem quer o funcio-nalismo público. maria antô-nia Santos, funcionária da Caixa econômica Federal há 27 anos, ingressou no serviço público em busca da garantia de um salário para uma apo-sentadoria mais tranqüila. “o salário está defasado, porque no governo Fernando Henri-que Cardoso ficamos oito anos sem aumento”, afirma.

m e s m o a s s i m , e l a influencia os filhos para seguir no funcionalismo público, em especial na Caixa econômica Federal, tendo em vista as van-tagens adquiridas ao longo dos anos trabalhados. Seu salário

é de R$ 3.797, mais vale ali-mentação de R$ 530,00 e plano de saúde. o salário incial é de R$ 1.300.

vantagEns E DEsvantagEns

Guilherme novaes, fun-cionário do Banco do Brasil há um ano, ganha R$ 1.500, mais plano de saúde Cassi e vale refeição de R$ 550.

“Com uma semana de banco, consegui fazer uma cirurgia no olho, que custaria R$ 3 mil e o plano cobriu tudo", conta.

Guilherme ainda diz que

começar a carreira com um bom salário e estabilidade "é muito bom". ele está se for-mando em administração na Pucminas.

Ronaldo martins, 54 anos, formado em Letras na univer-sidade Federal de minas Gerais e com cursos de aperfeiçoa-mento nos estados unidos (Chicago e Califórnia), traba-lha como professor de inglês no Colégio tiradentes, da Polícia militar, há 14 anos. Seu salário é de apenas R$ 2 mil. na rede pública, um professor recebe pouco mais de dois salários mínimos, comprovando que

nem sempre o funcionário público é bem remunerado.

Ronaldo dá 36 aulas por semana, sendo 18 do cargo efetivo (fixo, através do con-curso púbico), que é o caso da maioria dos professores da rede pública, e 18 no cargo efetivado, que é feito por con-trato. Segundo ele, é muito cansativo, mas se ele não der as aulas do 2° cargo, o efeti-vado, o salário diminui muito. de R$2 mil bruto vai para R$1.200 bruto. mas o direito ao iPSm (instituto de Previ-dência dos Servidores milita-res) é uma das vantagens, pois

os filhos até 24 anos também podem usufruir do benefício.

Fábio Henrique trancou o 3° período de direito no Centro universitário newton Paiva, onde pagava R$ 650, para entrar em um cursinho preparatório para o concurso da Polícia militar e assim poder retomar seu curso. o salário inicial de um soldado é de R$ 1.600, mais plano de saúde iPSm. o plano de car-reira da PmmG empolga os candidatos, principalmente se comparado aos de outros estados. no Rio de Janeiro, salário é de R$ 600.

Nem sempre vale a pena

ser um servidor público

devido ao salário. Mas a

estabilidade garante a

satisfação da maioria

arquivo CPJ

Funcionários públicos trabalhando na câmara municipal de belo horizonte não tem do que reclamar

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Entre mitos e verdades, a memória de

um dos bairros mais tradicionais da capital mineira

sobrevive apenas na lembrança

de moradores

antigos

tra

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ÃolAGOINHA!

úlTIMA PARADA,

josias PErEira

“a história é a verdade que se deforma, a lenda é a falsidade que se encarna”. Sábias palavras de Jean Cocteau, poeta e cineasta francês. talvez, se em uma de suas várias via-gens tivesse a sorte de estar em Belo Horizonte, o Bairro da Lagoinha seria cenário para algumas de suas obras. Respiraria a efervescência de uma cidade ainda nova, degustaria o pra-zer do vinho ou até mesmo o calor de um corpo feminino. entretanto, os tempos mudariam, trazendo consigo o progresso de um novo mundo, transformando um bairro antes conhecido em mais uma lenda no imaginário popular.

Lagoinha de tantos amantes... os primeiros deles imigrantes. italianos que se dispuseram a erguer a nova capital de minas Gerais. e com eles, o espírito de liberdade, a luta sindical engendrada no sangue. Lugar melhor

para habitar não se encontraria, e assim aliado a esse sentimento, o bairro foi crescendo e se desenvol-vendo rapidamente. a influência ita-liana não se limitou apenas às raízes, mas moldou a arquitetura.

Prova maior disso, a residência chamada “Casa da Loba”, construída em 1920 por octaviano Lapertosa para João abramo, o proprietário. mais um pedaço de uma história rica, transfor-mada em apenas lenda, pois o casarão antigo já não existe mais, e seus regis-tros são obtidos só por meio de fotogra-fias que retratam um período impor-tante da formação de Belo Horizonte.

novos tEmPos

Porém, os tempos passaram e com ele novas personagens surgiram. nomes como o do sambista e compo-sitor Gervásio Horta, que em seus enredos retrata com saudosismo a Lagoinha que antes fervilhava. Prova

disso, é a letra “adeus, Lagoinha!”:"adeus, Lagoinha, estão levando o

que resta de mim. dizem que é força do progresso, quando é noite eu peço para ver seu fim", diz a rima.

Craques do futebol, como o meia do Cruzeiro e da seleção, tostão, figuras controvérsias, como o lendário travesti “Cintura fina”, que circulava a zona boêmia da capital mineira, e também a família Vaz de mello, sobrenome que deu origem a principal Praça do Bairro, além da principal atração, Hilda Fura-cão, personagem fictícia, criada por Roberto drummond, que rendeu uma minissérie na Rede Globo de televisão, caracterizam apenas uma pequena parte da rica história da Lagoinha.

João de Faria, 77, relembra com saudade de fatos que construíram a memória do local. “no bairro havia muitos bordéis, me recordo de alguns como o ‘maravilhoso’ e o ‘Chanteclair’, esse que virou posteriormente um clube de dança. isso era tradicionalís-

simo em Belo Horizonte. turmas de estudantes sempre iam para lá, isso era facilitado pela proximidade da Lagoi-nha com o centro de Belo Horizonte, a avenida afonso Pena chegava até lá, não existia nem a Rodoviária”, recorda o aposentado, que ainda faz uma crí-tica ao ritmo de progresso da Capital mineira. “essas obras atrapalharam a história de BH, hoje você não encontra mais o tradicionalismo”.

entretanto, para alberto Souza, 53, também freqüentador da Lagoi-nha, as mudanças que ocorreram em Belo Horizonte, principalmente em relação ao bairro, foram benéficas. “a Lagoinha melhorou demais. o local era podre, em função daquelas zonas, eu convivi muito tempo lá, naquela sujeira, inclusive o que mais tinha no bairro era roubo e violência, conseqü-ências da prostituição. Hoje, não, a Lagoinha evoluiu junto com a cidade; esse passado foi apagado, virou um bairro como outro qualquer”.

as mudanças relatadas por alberto Souza se concretizaram na Lagoinha a partir da década de 1960, quando o Bairro foi abando-nado pelas famílias de bem e Belo Horizonte começou seu processo de modernização. a paisagem foi modificada com a construção do túnel da Lagoinha e posterior-mente, sua duplicação.

o metrô, praticamente extin-guiu o local preferido dos serestei-ros, dançarinos e amantes da noite

boêmia da capital mineira. o fervor dos botequins lotados foi substitu-ído pelo progresso e a Lagoinha encolheu.

Para muitos, o Bairro ainda não encontrou seu rumo na história, fato que só será possível quando houver um encontro do tradicional com o progresso. “Hoje no bairro há mais a evolução de imóveis, tanto é que a ‘Feira permanente de amostras’ era no local onde hoje é a Rodoviária. o tradicionalismo acabou, e não há um

aproveitamento melhor da história do local”, reclama João de Faria, apo-sentado e morador da região.

no entanto, na lembrança popular, o passado resiste. Para muitos jovens, o símbolo do Bairro se tornou a igreja Batista da Lagoi-nha, confirmando a desinformação, já que o templo nem se localiza no local, e sim, no Bairro São Cristó-vão. “o que me vem à mente quando é falado Lagoinha, é a igreja”, diz arnon César, 19, estudante.

Já para Glauber oliveira, 24, editor, o que contribui para esse esquecimento histórico é o desinte-resse da Prefeitura e ausência de campanhas de promoção dos bairros da Capital. “Falta algum tipo de cam-panha que vá da criança ao idoso para contar a história de BH. algo abrangente, que demonstre a impor-tância não só de nossos monumen-tos, mas de nossas peculiaridades em relação às outras cidades, e isso deve partir da Prefeitura”, reclama!

O “trem” do progresso pede passagem

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Novembro/20096

arquivo CPJ

NOS DOCES MARES DE MINAS

Mesmo longe do litoral, o estado é destaque em um esporte inusitado para quem tem uma

geografia acidentada: o mergulho

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minas Gerais é o estado brasileiro com maior con-centração de montanhas no Brasil. Por conta da sua geo-grafia, se destaca pelas pai-sagens de perder o fôlego e por ser uma potência nos esportes de aventura. entre-tanto, é o segundo estado em um esporte que, pelo menos na essência, teria maior referência no litoral: o mer-gu lho. É o segundo em número de mergulhadores registrados. Há alguns anos, os mineiros descobriram que aqui é o lugar certo para a prática do mergulho. os mineiros estão indo cada vez mais fundo, seja nos lagos, nos rios e até no mar.

o mergulho é recomen-dado para qualquer pessoa acima de 10 anos – em uma das escolas, o mínimo é de 15 anos –, sem limite de idade. Segundo o instrutor Charles alvarenga miranda, 31 anos, instrutor da escola de mergulho mar a mar, o mergulho é um esporte de endorfina e não de adrena-lina. esporte de endorfina é aquele no qual a dor ou o medo são substituídos pelo prazer. neste caso, o coração do mergulhador tende a desacelerar, acomodando-se e apreciando o momento. É comum nos esportes radi-cais de aventura o organismo liberar adrenalina, mas não no mergulho. os lugares mais procurados em minas para a prática do mergulho

são: Lagoa dos ingleses, mariana (mina da Passa-gem), escarpas do Lago e S e r r a d o c i p ó ( V é u d a noiva).

onDE aPrEnDEr

na capital mineira exis-tem aproximadamente três escolas de mergulho que são regularizadas. elas são sub-metidas às certificadoras de mergulho internacional, tais como Padi (Professional association of diving ins-tructors) e a SSi (Scuba Schools internat ional) . acima destas certificadoras, uma ent idade chamada RStC (Recreational Scuba training Council) determina a carga horária e os métodos que serão utilizados em todo mundo como exigência de conclusão do curso.

o curso tem a duração de 20 horas, e é divido em dois módulos: o primeiro com 10 horas de aula prática e 10 horas de aula teórica. o aluno tem a possibilidade de escolher realizá-lo em um fim de semana ou em qual-quer dia útil. o preço do curso varia entre R$ 480, para quem possui equipa-mento, a R$ 544 – para quem deseja utilizar o equi-pamento da escola. depois de concluído o curso, o aluno deverá desembolsar um valor que varia de R$ 429 a R$ 600, preço que inclui a viagem e o exame que irá verificar suas habili-dades como mergulhador.

ao término, receberá o certi-ficado de mergulhador autô-nomo.

uma noviDaDE?

Segundo Charles, a prá-t ica do mergulho não é nenhuma novidade para os mineiros. minas é o segundo estado em números de mer-gulhadores registrados no Brasil. Só perde para São Paulo. “o fato de não termos mar fez com que criássemos uma cultura turística”, diz. “Por isso”, continua Char-les, “um grande número de mineiros busca as cidades litorâneas em suas férias; o mergulho associa uma ativi-dade a mais em suas via-g e n s ” . a l é m d i s s o , o aumento da consciência ambiental está fazendo com que a humanidade busque esportes que não agridam à natureza.

o mergulho é uma prá-tica esportiva que visa, prin-cipalmente, conscientizar os praticantes de que o ecos-sistema aquático é funda-mental para nossa existên-cia. o apelo ecológico, junto com o prazer único, faz com que a prática do mergulho esteja em ascensão. além disso, o Brasil já possui uma infraestrutura adequada para uma demanda que tende a aumentar. Cabe ao aluno, após conquistar sua carteira de mergulhador, continuar estudando e se aprofundando para um dia vir a ser um instrutor.

apesar de ser considerada uma atividade segura, esta é uma prática que requer uma atenção especial. muitas vezes, a beleza do ambiente aquático tira do mergulhador este zelo necessário que pode levá-lo a consequências trágicas. “ao contrário dos esportes de adrenalina, a sensação de conforto e bem-estar prove-niente do mergulho fazem com que esta prática seja recomendada a todos”, explicou.

um caso para ser lembrado é o do ex-técnico da seleção brasileira de futebol, Cláudio Coutinho. exí-mio mergulhador de apneia — o mergulho sem utili-zação de cilindro de oxigênio —, que tinha nesse esporte um dos seus principais hobbies. em 27 de novembro de 1981, Coutinho faleceu em um mergu-lho próximo às ilhas Cagarras, no litoral do Rio de Janeiro, em frente à praia de ipanema. apesar de atleta, relatos dão conta de que ele estava se sentindo sem fôlego quando arriscou o mergulho. talvez por conta da alta confiança mergulhou assim mesmo.

Riscos

SERVIÇO

DIVELIFE ESCOLA DE MERGULHO

Tel: (31) 2512-2309 – procurar pelo

instrutor Felipe Lima

Escola de Mergulho Mar a Mar

Tel: (31) 3225-0029 – procurar pelo instrutor Charles

Alvarenga Miranda

MERGUlHO

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Novembro/2009 7

aDriEllE loPEs E brEno anDraDE

Fanatismo é tudo que leva a pessoa ao exagero. Gostar demais, amar demais, ser devoto. antes, esse conceito era algo exclusivamente religioso e político, mas hoje não é bem assim. os fanáticos chegam a cometer insanidades em nome de um artista ou personalidade, ideal, amor ou algo parecido. existem muitas polêmicas sobre o assunto, pois o fana-tismo, (ou o “ser fanático”), gera situações incômodas fazendo que tanto o fã – pessoa dedicada a expressar sua admiração por algo – quanto o ídolo se prejudi-quem. até que ponto esse fana-tismo é saudável?

o problema surge quando a admiração por alguém se transforma numa obsessão. Quando alguém deixa de ser ele mesmo e passa a viver a vida se baseando na do ídolo. um exemplo claro é quando o fã perde a noção da realidade ao fantasiar um relacionamento

maior com seu ídolo. “a idola-tria torna-se preocupante quando o interesse pelo ídolo passa a ser o foco central do adolescente, quando a sua vida gira completamente em torno do seu ídolo e ser fã passa a ser a sua pr incipa l e única ocupação”,explica a psicóloga Sylvia Flores, professora do Centro universitário newton Paiva. Sylvia também ressalta que a busca por um ídolo marca a fase da adolescência. É quando procuramos referência fora do convívio familiar e pro-jetamos o que gostaríamos de ser. mas a psicóloga também deixa claro que a admiração pode prejudicar. “Se por um lado, ser fã é uma fonte de ins-piração, por outro pode ser prejudicial ao se perder a racio-nalidade e se ver totalmente dependente da fantasia e per-der a personalidade”, observa.

a tietagem e o carinho por uma pessoa vêm desde a época de grandes astros, como elvis Presley e Beatles, quando exis-

tiam as groupies, termo que surgiu nos anos 60, criado pela revista Rolling Stone, a "bíblia" do rock. aquela época, anos de ouro do rock´n´roll, foi, o auge das groupies, que eram moças abusadas que participaram de vídeos e shows do elvis Presley e Beatles, fazendo escândalo. Hoje a tietagem continua a mesma só que, é claro, mais obsessiva. Graças ao avanço da tecnologia, as pessoas podem ter mais acesso a bastidores de seus ídolos.

"o amor nÃo DEiXa"...

a estudante Camila Fer-nandes, 18 anos, é superfã da cantora Wanessa Camargo. desde os doze anos, a estu-dante afirma colecionar tudo que sai na imprensa e sempre que possível vai a shows e aos aeroportos tentar uma foto com a cantora. “Gosto muito da Wanessa, e por ter um carinho enorme por ela procuro com-prar tudo que se refira a ela.

Quando ela vem a Belo Hori-zonte, corro aonde ela for”, diz Camila. mas ela afirma que, às vezes, essa admiração enorme por Wanessa acaba prejudi-cando-a no relacionamento social. “deixo, às vezes, de sair com meus amigos para ver a Wanessa na tV e acabo gas-tando todo o meu dinheiro em revistas e jornais. apesar de me atrapalhar, é uma coisa que me alimenta e não consigo parar”.

o fanatismo pode virar uma obsessão compulsiva e por fim virar esquizofrenia. Foi o caso de mark david Chap-man, que aos 25 anos assassi-nou John Lennon, no dia 8 de dezembro de 1980, horas depois de o ex-Beatle autogra-far uma cópia de seu recém lançado álbum, "double Fan-tasy". Segundo consta, Chap-man sentiu-se traído por Len-non, ao "perceber" que o can-tor não era, no cotidiano, o mesmo que se apresentava nos palcos e proclamava por meio de suas músicas.

Até que ponto a admiração por um ídolo é saudável? Alguns sabem dosar esse sentimento, mas os que não aprenderam podem sofrer com isso

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tranquilidade e sutileza. esses eram os adjetivos que caracterizavam uma das mais belas atrizes dos anos 40: Gene tierney. além do talento, a atriz ainda ganhava destaque ime-diato por sua beleza física. tierney estrelou em vários filmes, e arrastava multidões com o seu talento e beleza extraordinários.

anos após a ascensão da carreira, teve a primeira filha, daria, que foi considerada um momento especial de sua vida. mas a criança nasceu com problemas de saúde devido à rubéola, que tierney pegou de uma fã. a moça queria muito conhecer a atriz, e tinha acabado de sair de uma base americana, às escondidas, só para vê-la. Gene descobriu isso atra-vés da própria fã; tempos depois de dar a luz a daria. a atriz ficou arra-sada, por se achar culpada pela reali-dade da filha. de forma triste, a fã se instalou de vez na vida da pessoa que mais idolatrava. a atriz que um dia foi considerada diva, começou a se dro-gar devido aos problemas da filha, e chegou a ser internada por depres-são. ela morreu aos 71 anos, vítima de enfisema pulmonar.

CURIOSIDADE

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Grupo galpão:

uma companhia mineira de

origem, ligada ao

teatro popular e

de rua

tea

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DAS RUAS PARA ACONSAGRAÇÃO DO PAlCO

KEilla martins

Há 27 anos, foi criada em BH uma companhia de teatro de pesquisa. desde então, espetáculos de grande comu-nicação com o público foram montados. o Grupo Galpão é uma companhia que tem sua origem ligada ao teatro popular e de rua. Sediado na capital mineira, é um dos grupos que mais viajam, não só pelo Brasil, como também pelo exterior, tendo participado de vários festivais em 17 países da amé-rica Latina, américa do norte e europa.

o Galpão desenvolve pes-quisas com vários elementos cênicos, com destaque para as linguagens do circo e da música. Constitui um grupo de atores que convidam diferen-tes diretores para suas monta-gens. Sua linguagem de traba-lho é resultado de uma série de encontros com diretores, como Fernando Linares, Paulinho Polika, eid Ribeiro, Gabriel Vil-lela, Cacá Carvalho, Paulo José, ulisses Cruz, Paulo de moraes e tantos outros.

nesse pouco mais de um quarto de século, o grupo tea-tral adquiriu muitas conquis-tas e firmou-se como uma referência do teatro no Brasil. Com característica brasileira, e vários clássicos, o Galpão sem-pre buscou as raízes de um teatro de rua numa fusão do erudito e do popular.

Para o jornalista Ângela Rodrigues, ex-editora de Cul-tura do diário do Comércio, o Galpão é hoje o mais impor-tante grupo teatral do Brasil, "não apenas pela inovação da linguagem, mas também pelo repertório. Sua montagem de "Romeu e Julieta" é um dos momentos mais sublimes do teatro brasileiro contemporâ-neo", afirma.

dentro da tradição de gru-pos fundamentais para o desenvolvimento do teatro brasileiro, é inevitável mencio-nar o Grupo Galpão. inquietos, ousados e extremamente cria-tivos, seus integrantes se lança-

ram como um grupo de rua e souberam arejar o panorama, inovando sempre, transitando com soltura através de diferen-tes escolas e estilos, criando linguagem própria e singular. Fiéis às tradições mais profun-das do teatro, conseguiram imprimir em seu trabalho uma linguagem contemporânea e universal – basta comprovar o respeito que conquistaram mundo afora, com suas repre-sentações profundamente cal-cadas na cultura popular.

"till - a saga de um herói torto" vem reafirmar a tradi-ção do Grupo, construída em mais de 25 anos de estrada: a de estar sempre perto de seu público. desta vez, nas praças de várias cidades do Brasil, contando uma saga carregada de alegorias e de picardia, num mosaico múltiplo que bem retrata a alma humana, com seus desmazelos e suas grandezas.

Para o diretor e ator da companhia teatral, Paulo José, “a linguagem do grupo se mis-tura com Brecht e Stanislavski, que são conceitos teatrais livres, com técnicas circenses, teatro balinês, música folclórica com experimentos musicais mais contemporâneo – a dramatur-gia clássica com o melodrama, eugenio Barba com Gabriel Villela, eduardo Garrido com Shakespeare, marujadas com molière, teatro épico com drama psicológico, o provin-ciano com o universal, a tradi-ção com a transgressão. tudo se mistura nesse caldeirão que os alquimistas do Galpão transfor-mam, com visão crítica e gene-rosidade, em teatro da mais pura arte e celebração da vida”, concluiu o diretor.

CONSAGRAÇÃO DO PAlCOCONSAGRAÇÃO DO PAlCO

FoTos guTo MuNiZ

Em 27 anos de estrada, o grupo galpão se tornou um dos mais tradicionaisdo brasil

"O Galpão sempre buscou as raízes de um teatro de rua, numa fusão do

erudito e do popular."

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Novembro/2009 9

aDriEllE martins E Karina vilEla

“o sol nas bancas de revista, me dá tanta alegria e preguiça, quem lê tanta notícia?...” disse Caetano Veloso na emblemática “alegria, ale-gria”. as bancas de revista invadem as calçadas das cidades. antiga-mente, eram só revistas e jornais, mas com o tempo, como tudo muda, as bancas se adaptaram. elas estão cheias de novidades, funcionam como um “stop” para aqueles que vivem na correria do dia - a - dia, e mal têm tempo para parar e comprar um ticket de estacionamento, por exemplo. as bancas de hoje vendem desde os tradicionais jornais e revis-tas, até brinquedos, envelopes, cigar-ros, isqueiro, bomboniere em geral, tiram Xerox e vendem bonecas...

Sabe - se que a internet e a assina-tura de revistas contribuíram para

mexer com esse panorama, e fez com que donos das bancas procurassem novos produtos para vender, pois seu lucro com jornais e revistas começou a cair há alguns anos. “Começamos pro-curar por outros produtos há uns cinco anos, quando a internet entrou de verdade na vida das pessoas; o meu lucro com revistas e jornais, hoje, não me dá 10%”, reclama Sinelson do nas-cimento, que é preposto da banca mônica, na rua Goitacazes, no centro.

alvarÁ

a venda destes produtos variados em bancas ocorreu também porque a prefeitura autorizou exatamente na mesma época em que as vendas pela internet “invadiram” a vida das pes-soas. mas existe um limite para os proprietários das bancas, em relação

aos produtos vendidos e ao tamanho da banca. “o tamanho nós sabemos que deve ser de 4m² por 1,5m², e a distância de uma para outra deve ser de 100m, mas isso aqui em Belo Hori-zonte não é respeitado”, afirma Car-los Roberto tristão, proprietário da banca de revista Boa Viagem, na rua Sergipe. Carlos tem um diferencial, pois há quarenta anos com a mesma banca ele não saiu do seguimento de revistas e jornais, e disse que o seu lucro é razoável.

ao receber o alvará da prefei-tura, o futuro proprietário da banca já recebe uma lista anexada no pró-prio documento constando o que pode vender. alguns produtos como máquina de Xerox não são permiti-dos, por outro lado, produtos como artesanatos, ingressos de shows e preservativos são permitidos, mas poucas bancas se aproveitam disso.

cigarro “golF”

em uma pesquisa com algumas bancas percebe-se que os produtos mais procurados são cigarros e balas – os únicos jornais que competem com esses produtos são os populares. “outra coisa que as pessoas pedem muito é informação”, relata manoel Ferreira Batista, da Banca oliveira, que fica na rua Goiás, número 189.

até então, nenhum proprietá-rio de banca entrevistado contou sobre produtos que encalham. "todos os produtos são vendidos; “o único produto que não saí muito é o cigarro Golf, que ninguém conhece, mas, de vez em quando, vem um e compra, tudo o que colocamos ven-demos”, afirma Glaucilene San-tana, funcionária da banca martins, na avenida João Pinheiro.

A busca pelas bancas

de revista aumentou; só que em

vez de notícias, a procura é

também por produtos

variados que vão de

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eA DIVERSIDADE DAS bANCAS DE REVISTAS

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Novembro/200910 bESOUROSM

ÚS

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inDhiara souZa E lucas horta

Help! Help! todo fã dos Beatles nesse momento pede socorro. o motivo? o deses-pero para conseguir o box lan-çado há poucos meses, e que contém, remasterizada, toda a discografia da banda inglesa.os beatlemaníacos devem estar à beira de uma Hard day’s night de pesadelo por-que ainda não têm o novo objeto de desejo na coleção. Fora o Box e os CdS avulsos dos álbuns de estúdio, é possível ter acesso a coletâneas, covers e músicas do quarteto de Liver-pool em variadas versões; de chorinho a cantigas de bebês.

a vendedora e beatlema-niaca da loja discoplay, maria aparecida Calvo, a Cida, expôs com alegria e satisfação que as novas gerações não abandona-

ram John, Paul, George e Ringo. “o público que vem aqui à procura dos Cds varia muito, de meninos de 13, 14 anos até aos mais velhos, que viveram a época dos Beatles’’, conta Cida. não importa idade, não importa o sexo, todas as pessoas que ouvem os Besouros fazem uma magi-cal mystery tour pelo mundo da música, dos sonhos, do amor e da psicodelia. Para isso, atravesse abbey Road e sinta-se em casa.

E os anos 60...

durante ou depois da car-reira do grupo, todas as bandas carregam influências dos Bea-tles, até mesmo aquelas que faziam outro tipo de som. o impacto e a revolução causa-dos nos anos 60 são tão grandes

que é inegável que alguma coisa tenha sido absorvida por outros músicos. os Ramones — uma das bandas precursoras do Punk Rock — eram fãs declarados dos Beatles. o nome da banda inclusive teria vindo de uma brincadeira com o nome que Paul mcCartney se registrava nos hotéis para não ser reconhecidos pela imprensa e fãs, “Paul Ramon’’.

É importante lembrar que os anos 60 foram responsáveis por mudanças significativas que até hoje permeiam o mundo inteiro. Foi nessa década em que se consolidou a idéia de uma juventude que, até então, existia numerica-mente, mas não tinha identi-dade própria. Segundo a jorna-lista de moda Carla mendonça, até essa época, a pessoa pas-sava da infância para a vida

adulta e não tinha uma adoles-cência como período definido. “nos anos 60 há esse entre-período, no qual não se assume as responsabilidades da vida adulta, porém não se perma-nece na infância”, diz Carla.

os Beatles estouraram bem nesse tempo de novas ideias de juventude, com uma proposta musical totalmente nova. “música e moda sempre tiveram uma relação bem pro-funda e eles vêm de terno para subverter a seriedade que essa roupa tem”, analisa Carla.

PaDrÃo DE bElEZa

os anos 60 também foram o momento de mudança da relação do mundo, com a con-cepção de mulher bonita. Cai o padrão da mulher curvilínea, de quadris largos que reme-

tiam à idéia de maternidade e reprodução. “a twiggy, uma supermodelo, muito magra, com visual e corte de cabelo masculinizados, surge com a androginia que foi emblema dessa mudança”, afirma Carla. uma figura importante no mundo da moda foi mary Quant, que inventou a mini-saia, derrubando o new Look da dior – saia apertada na cin-tura e volumosa até metade da canela – deixando a elegante produção para as mulheres mais velhas. Quant torna famosa a nova saia que caiu no gosto das moças. andré Cour-règes, outro estilista do anos 60, criou o formato em “a” dos vestidos, que era mais liberta-dor, fácil de usar e deixava as pernas de fora. “as mulheres de quadril reto ficavam bem nele”, aponta Carla.

QUE+ Na música,

moda, história e atitude de

várias gerações

Com uma proposta oposta ao modelo comercial de Hollywood, surgiu na França o conceito de nouvelle Vague. os filmes eram de baixo orçamento, con-tinham um clima libertário e carregavam características próprias de cada dire-tor — assinando assim a sua marca e suas peculiaridades em cada história.

os cineastas Jean-Luc Godard e François truffaut são os símbolos do movimentado, que surgiu na França. “a nouvelle Vague desvincula o

cinema da indústria”, ressalta Carla. em tom de crítica aos meios de reprodução surge um novo tipo de manifes-

tação artística, a Pop art. Fácil de fazer e de propagar, o movimento teve como carro chefe os artistas andy Warhol e Roy Lichtenstein. É de Warhol a famosa obra em que marilyn monroe é reproduzida de diversas cores e combinações. “a pop arte é uma arte simples de se compreender”, observa Carla mendonça.

cinEma E artE Embaracam na onDa

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michaEl EuDEs

Quem pensa que o jornalismo se res-tringe apenas aos impressos, rádio, tV e internet está enganado. estende-se também à sétima arte: o cinema. muitas vezes, filmes baseados em fatos reais; outros, ficções pro-duzidas a partir da exploração do dia-a-dia desse sofrido profissional. agora, imagine que você é um jornalista excluído da grande mídia e, para se destacar, cobre com exclusi-vidade o drama de um homem que está preso em uma montanha no novo méxico. deta-lhe: para isso, você mantém o homem nessa situação o maior tempo possível, só para seu nome ficar exposto na mídia e alguém falar

— "você é o cara". Por isso, vale à pena confe-rir “a montanha dos Sete abutres” (1951; dir. Billy Wilder).

Coisas inimagináveis no jornalismo tam-bém são temas para o cinema. no caso de “o Preço de uma Verdade” (2003; dir. Billy Ray), o jornalista Stephen Glass inventa mais da metade de suas matérias. a falta de ética também é colocada em pauta por vários dire-tores nos longas: “a embriaguez do sucesso” (1957; dir. alexander mackendrick); “Rede de intrigas” (1976; dir. Sidney Lumet); “Ver-dades que matam” (1988; dir. oliver Stone); “nos bastidores da notícia” (1987; dir. James L. Brooks) e “um sonho sem limites” (1994; dir. Gus Van Sant).

outro assunto privilegiado pelos direto-res é a cobertura de guerras. “Bom dia Vie-tnã” (1987; dir. Barry Levinson); “os gritos do silêncio” (1984; dir. Rolland Joffé); e “Sob fogo cerrado” (1983; dir. Roger Spot-tiswoode) são ótimas dicas para quem admira esse segmento.

Histórias bem contadas, enredos bem construídos, alguns escândalos e muita repercussão. essas são algumas das caracte-rísticas que traçam a linha tênue existente entre a arte do cinema e o compromisso do jornalismo. Portanto, não esperem que esses filmes sejam exibidos na Sessão da tarde. Vá para as locadoras ou internet para conferir essas ótimas dicas.

um lugar sem alma. Pessoas Vazias. Repressão acima de tudo. esse é o cenário de "1984", livro do escritor inglês George orwell — que também escreveu "Revolu-ção dos Bichos". narrado na terceira pes-soa, a obra retrata uma violenta e implacá-vel ditadura em um estranho país, a ocea-nia, cuja capital é Londres.

Quem controla tudo é o Partido, que é chefiado pelo Grande irmão, figura que fez a revolução e mantêm com mãos de ferro o país. Retratos dele se espelham pela cidade, dando a idéia de eterna vigi-lância. a imprensa é controlada e forja fatos, personagens e com isso os habitan-tes vivem em uma falsa realidade, um

simulacro. dentro de casa existe a cha-mada “teletela’’ que observa cada passo dos seus moradores.

uma idéia subversiva, uma ação fora das normas do Partido e até o contato exa-gerado com outras pessoas é punido pelo Partido, aliás, a punição é sempre a mesma. a prisão e depois a execução. e é nesse medo que vive Wiston, personagem princi-pal da trama e que percebe a podridão do Partido e da sociedade em que vive.

o livro é um misto de crítica aos regi-mes totalitários, a imprensa censurada, e a constante vigilância que sofremos, onde o ser humano perde espaço e a sua individualidade.

Jornalismo já foi tema de variadaos filmes que retratam a rotina e

dificuldades da profissão

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CUIDADO! VOCÊ ESTÁ SENDO VIGIADO

DEZ FIlMES QUE UM

JORNAlISTA

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Projeto que leva alegria às crianças

hospitalizadas completa 18 anos

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PEDro silva

Quando a vida prega peças, o mais difícil é conseguir tirar desses momentos, instan-tes de felicidades. É com esse intuito que, há 18 anos, os doutores da alegria fazem crianças doentes rirem. e mesmo com as dificuldades, continuam com seu objetivo, que é usar a alegria como forma de ajudar na cura de doenças.

a ideia surgiu quando, em 1986, o palhaço ameri-cano michael Christensen fez uma apresentação espe-cial para as crianças que não puderam visitar o circo que passava pela cidade. em 1991, Wellington nogueira trouxe a novidade para o Bra-sil. Hoje em dia, os doutores da alegria contam com cerca de 45 palhaços que atendem 14 hospitais em São Paulo, Recife e Belo Horizonte. o

projeto já ganhou vários prê-mios sendo reconhecido em todo Brasil e internacional-mente. em 2005, foi feito um filme sobre o dia-dia dos palhaços.

o trabalho dos palhaços-médicos consiste em visitar regulamente os hospitais sele-cionados para que, com o tempo, o ambiente tenso se transforme em um local mais agradável, facilitando a recu-peração dos pacientes mirins. mas não só de visitas em hospi-tais vive o projeto. os idealiza-dores oferecem palestras, de teatro e circo, além de propor-cionar oficinas para pais e filhos com jogos e atividades que estimulam a criatividade. a ong inaugurou ainda um espaço cultural que conta com um galpão para eventos, uma biblioteca com livros e revistas para pesquisa e uma sala mul-timídia com vídeos voltados para a arte.

o método é aprovado por médicos e psicólogos. a psicó-loga Regina Lucia alves exalta os benefícios trazidos por esse tipo de iniciativa: ”além de melhorar o clima dentro dos hospitais,quando a pessoa ri, o corpo produz enzimas que ajudam na cura”, afirma.

embora o grupo de palha-ços tenha objetivo de levar ale-gria, o trabalho é levado muito a sério. Para ser um palhaço, além de ser formado em teatro, especializado na arte circense, os novos integrantes passam por um período de aclimatação para que não façam nada que possa atrapalhar na recupera-ção dos pacientes.

apesar das dificuldades que o grupo encontra para seguir em frente, continua na missão de fazer sorrir. e com muita perseverança e vontade de ajudar, os doutores da ale-gria transformam historias de vidas trágicas em risos.

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AR DA GRAÇADANDO O

soliDariEDaDE QuE contagiainiciativas como a dos doutores da alegria já começaram a gerar frutos. o estudante de medi-cina, Pedro igor Guimarães S. Xavier,inspirado nos palhaços doutores,teve a ideia de implatar o projeto de música nos hospitais. ele conta que a iniciativa surgiu ainda na sua cidade. Conse-lheiro Lafaiete. mas na época não teve sucesso e abandonou os planos.

Quando veio para Belo Horizonte estudar medicina, a ideia ganhou força. o projeto ainda está em fase de elaboração. esse é um período de escolha de voluntárioS. Para ele, é a época mais complicada do processo, pois assumir um projeto assim gera grande responsabilidade. “temos que fazer tudo muito bem pensado, para que nada dê errado a ponto de termos de desistir da idéia”, conta. Para Pedro, projetos assim geram muitas expectativas de todos aqueles que usufruem dele; no caso, os enfermos e seus familiares . “Se iniciar-mos o projeto e, na semana seguinte, não voltar-mos mais, geramos uma decepção muito grande em todos, principalmente nas crianças, que são o foco desse projeto”, pondera. mesmo que os obstáculos para seguir em frente continuem, Pedro não desiste de seguir em frente com o projeto de usar a música como forma de cura.

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carla olivEira E municK Dantas

a prática de dissecação, ou estudo interno do corpo humano, não é tão recente quanto a maioria das pessoas imagina. na verdade, pode-se encontrar relatos que confirmam tal estudo desde 287 a.c, pelos discípulos de aristóteles. uma bonança? Sem dúvida. afinal, de outro modo não teríamos hoje — e nem no futuro — a desco-berta de curas de tantas enfermidades. entretanto, mesmo sabendo da grande importância da disponibili-dade de cadáveres para o aprimoramento do estudo das ciências biológicas, a

maioria das universidades brasileiras se depara com um impasse: conseguir corpos para a aplicação da teoria na prática.

Legalmente, qualquer cadáver não reclamado junto às autoridades públicas pode ser destinado a instituições de ensino para fins de estudo e pesquisa. isso, segundo os artigos 1º e 2º da Lei 8.501/92, que ainda estipula um prazo de 20 dias para que o corpo seja procurado pelos familia-res. Vale constar que, na mesma década em que a lei foi promulgada, se iniciaram as lutas antimanicomiais, inter-rompendo o costume de nego-ciar ou doar corpos, às vezes, ilegalmente, às universidades.

Segundo o professor de medi-cina Legal da uni-BH, Paulo Pinheiro, “muitos corpos ainda continuaram nas facul-dades e foram transformados em peças anatômicas”.

Pinheiro, que também é responsável pelo laboratório de anatomia humana da uni-versidade, afirma que a difi-culdade de se conseguir cor-pos é comum a todas as insti-tuições. Há também o agra-vante temporal, que mantêm as entidades na fila de espera por pelo menos um ano. mas o professor ressalta que a pre-ferência se dá, primeira-mente, às universidades públicas, seguidas das priva-das, e em terceiro, outras ins-tituições.

A falta de cadáveres

nas instituições

é um problema

nas faculdades

polÊM

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SEU CORPOVOCÊ DOARIA O

EM NOME DA CIÊNCIA?

É fato comprovado. desde cedo aprendemos na escola que há um enorme abismo entre a religiosidade e o empirismo. ouvimos incessantes narrativas sobre os embates das doutrinas que ocorreram principal-mente no século XVi — era do ‘descobrir’ do universo —, e muito comumente fica-mos perdidos na hora de nos posicionarmos contra ou a favor de uma entidade.

diante da questão da utilização e da doação de corpos para o estudo cientí-fico, dificilmente essa prová-vel guerrilha ficaria de fora do debate. mas afinal de con-tas, há um desencontro nas idéias ou isso é uma coisa que ficou no passado junta-mente com o heliocentrismo X teocentrismo?

Para Geraldo Brasileiro, a rixa entre o cientificismo e a religião ficou para trás. ele afirma que, hoje, é muito fácil conciliá-las e apresentá-las à sociedade de forma amena e até mesmo amigá-vel. “essa contrariedade não existe mais, tanto que faço a divulgação da doação de cadáveres em algumas igre-jas”, disse. Surpreendente-mente, além de apoiarem a veiculação dessa informa-ção, alguns padres e freiras ainda oferecem o próprio corpo em prol do estudo científico. “isso é perfeita-

mente normal. outro dia mesmo um padre veio con-versar comigo a respeito disso”, conta Brasileiro.

Comprovando a tese do professor, o teólogo Fer-nando Liduário assevera que mesmo tendo diferenças entre si, os preceitos se unem por uma só razão: a vida humana. “ainda que haja deslizes como no caso das células tronco, vemos que tanto lá quanto cá, continua-mos sendo demasiadamente humanos”, explica. Quanto à questão de doações de cor-pos, Fernando garante que não há nada na bíblia que condene o ato, e que “é até uma ação digna de ser lem-brada e honrada como már-tir”. o teólogo não descartou, contudo, a ideologia seguida por cada religião, que pode ser um fator influenciador na decisão de doação de cadáveres à ciência. “Sei que no meio católico e evangé-lico não há problema algum, mas em religiões, como tes-temunhas de Jeová que acreditam que o corpo é sagrado, a coisa é mais com-plicada”, reconhece.

a op in i ão en t re o médico e o teólogo é única: é importante que as universi-dades recebam cadáveres — sejam doados ou recebidos do imL —, pois só assim tere-mos médicos totalmente capacitados.

até que ponto seria pertinente a doa-ção de cadáveres? esse é um questiona-mento intrigante, principalmente se levar-mos em conta a resistência da sociedade. ora, se já é difícil de convencer grande parte da população a doar órgãos, o que dirá disponibilizar o corpo inteiro?

na tentativa de vencer esse obstáculo, a uFmG, há 10 anos, vem fazendo campa-nhas de conscientização sobre a falta de corpos para auxiliar na formação dos profis-sionais da área de saúde. e juntamente com o mG transplantes, o projeto enfatiza tam-bém a importância da doação de órgãos.

“o médico precisa conhecer antes de tudo, a estrutura do nosso corpo; como ele funciona e quando ele fica doente. isso é indispensável a qualquer médico”, afirma o professor de patologia da uFmG, Geraldo Brasileiro. ele, que foi o idealizador do projeto e luta com afinco para que a sociedade reco-nheça o valor dessa atitude, diz que doaria o seu próprio corpo em prol da ciência, e que talvez o único embargo, seja a família. “minha esposa e meus filhos não concordam com minha decisão”, conta. Brasileiro aponta que a negação dos familiares é bastante recor-rente, e que já presenciou casos em que a ins-tituição teve que devolver cadáveres reclama-

dos. “assim como é feito na doação de órgãos, mesmo que a pessoa tenha assinado o termo para doar seu corpo após a morte, se a família não autorizar, nada podemos fazer”, diz.

outro ponto levantado por Geraldo Brasi-leiro é que qualquer cadáver pode ser doado para a universidade — seja de homem, mulher ou criança —, desde que não apre-sente mortes violentas como acidentes de trânsito, de trabalho, homicídios ou suicídios. “o artigo 3º do parágrafo 2º inciso 3º da lei 8.501/92, nos proíbe de aceitar tais corpos para estudo”, explica.

o tempo de utilização dos cadáveres nas faculdades não tem validade estipu-lada, o que é levado em consideração é a preservação das peças. Segundo Brasi-leiro, após terem sido usadas em demasia, “os restos mortais são enterrados”.

Geraldo Brasileiro também acredita que deve ser feita uma divulgação continu-ada, repetida e estrategicamente organi-zada, como a uFmG vem desenvolvendo a sua campanha de doação. Para ele, os profis-sionais da mídia são indispensáveis para esse tipo de divulgação. “as pessoas sabendo que é possível a doação de corpos, além de órgãos, já é um passo muito importante”, conclui o professor.

Antagônicas?

Campanhaenfatiza doação de corpos

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Aos 90 anos, Elisa de

Castro Tito é aprovada em vestibular e dá exemplo

de superação

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CAlOURA AOSCAlOURA AOS

90 ANOSjuliana isis E

Priscilla DE olivEira

Com nove filhos, 20 netos e três bisnetos, a pedagoga elisa de Castro tito, 92, pres-tou vestibular para o curso de direito em 9 de dezembro de 2007 e passou. tudo aconte-ceu por uma brincadeira em uma reunião familiar, onde se discutiam assuntos relaciona-dos ao direito. um dos netos, então, disse que iria inscrevê-la no vestibular da Faculdade arnaldo Janssem. na hora, dona elisa não deu muita importância. mas fez a prova e passou.

a prova tinha questões de português, história, geografia, conhecimentos gerais e reda-ção, que teve como tema a “Felicidade”. o assunto não poderia ser mais atraente. em uma parte do texto, ela retratou

seu próprio cotidiano. dona elisa, que mora no bairro man-gabeiras, região Centro-Sul da capital, contou em sua redação que, no bairro onde mora, tra-balha um lavador de carros – um sujeito calmo e simpático. Por causa de um acidente, ele tem apenas um braço. “nota-se a felicidade que o atinge na função simples, mas que eno-brece, mesmo mutilado em decorrência do acidente”, escreveu. Para a caloura, a feli-cidade significa vencer os gran-des obstáculos da vida, como fez o lavador de carros.

ela explica que não se preparou para o vestibular e o que valeu foi sua experiência de 90 anos como educadora e o constante acompanhamento das notícias nacionais e inter-nacionais. Sempre teve o hábito de fazer resenhas com advogados, pedagogos e médi-

cos. além de conhecer vários países do mundo, dona elisa também viajou muito pelo Brasil – como turista e partici-pando de congressos, quando era professora e pedagoga. Para ela, essa bagagem cultu-ral foi fundamental para que conseguisse passar no vestibu-lar aos 90 anos.

aposentada desde 1989, exercia o cargo de diretora da escola municipal Professor Cláudio Brandão, no bairro aparecida. dona elisa encara o segundo curso superior, demonstrando que não há idade para enfrentar novos desafios. amante da leitura, encontrou na faculdade um meio de se atualizar. “a convi-vência com as notícias e com os jovens é sempre muito bené-fica, pois a alegria, a vivacidade que nos atinge melhora nosso astral, um pouco afetado pelos

fatos que se tornaram presen-tes no nosso dia a dia”, diz.

dona elisa diz que sua recepção foi muito calorosa. “os alunos me cumprimenta-ram, talvez pela aparência e presença inusitada”. ela ainda ressalta a atenção privilegiada e respeitosa dos professores que tanto a ajudaram. “eu não esperava tanta repercussão. o meu exemplo é muito impor-tante, pois serve de estímulo aos jovens – novas perspectivas se abrem para um futuro pro-missor. eu me sinto gratifi-cada”, explica.

Sobre sua vitalidade aos 92 anos, ela disse que a falta de interesse só prejudica. É pre-ciso desenvolver a mente; difi-culdades todos nós temos, mas é preciso superá-las. e ressalta: “sempre almejamos construir um patrimônio cultural à altura das nossas possibilida-

des. o direito tem várias áreas em que talvez possa atuar, se deus permitir”.

PolÍtica

dona elisa foi convidada pelo deputado alberto Pinto Coelho (PP) para ser a “madri-nha Cidadania”, um projeto que conta com jovens na polí-tica voltados para os problemas nacionais.

dona elisa também conta que filiou-se a um partido, o Pdt (Partido democrático trabalhista). “a minha filiação foi em homenagem ao esta-dista Lionel Brizola, já que tenho grande admiração pela sua preocupação na formação dos jovens, com a criação de um programa que atende a eles e a crianças na sua forma-ção cultural num período integral”, justifica.

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no ano passado, o ministé-rio da Saúde lançou uma cam-panha, dia mundial de Luta contra a aidS, com o objetivo de despertar nos adultos e ido-sos a importância do uso do preservativo em relações sexu-ais. o slogan, "Sexo não tem idade. Proteção também não", reflete a preocupação funda-mentada por parte do Governo Federal e dos profissionais da saúde, pois, entre 1996 e 2006 o número de portadores do vírus HiV com mais de cin-quenta anos, passou de 7,5 para cada mil habitantes para 15,7. o salto foi maior entre as mulheres, que partiram de 3,7 para 20,6 casos para cada 100 mil habitantes no espaço de 10 anos.

a incidência da epidemia prevalece no sexo masculino, na faixa etária de 25 a 49 anos. ainda segundo dados do minis-tério, apenas 22,3% usaram camisinha na última relação sexual com idade de 50 anos ou mais, contra 57,3% na faixa etária de 15 a 24 anos. Segundo o dr. José ivany, um dos moti-vos desse aumento do número de infectados é o novo estilo de

vida do idoso.de acordo com o dr.

donizetti Ramos dos Santos, médico e cirurgião do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, em entrevista concedida ao também médico dráuzio Varella, a mulher sofre com os problemas causados pela menopausa: “durante a fase reprodutiva, os ovários fabri-cam mensalmente estrógeno e progesterona, produção que vai diminuindo à medida que a mulher se aproxima da meno-pausa. essa redução dos níveis de hormônios femininos pro-voca uma série de alterações físicas importantes: ondas de calor, dificuldade para contro-lar a temperatura do corpo, pele mais flácida, mucosas dos sistemas urinário e reprodu-tivo mais friáveis e secas, alte-rações de humor e quadros depressivos”.

uma alternativa para melhorar a vida sexual da mulher na terceira idade é a reposição hormonal, que por algum tempo, foi famigerada pela mídia, sob a acusação de que causava câncer, principal-mente o de mama. o acadê-

mico do quarto ano de medicina da Faculdade de Ciên-cias médicas de minas Gerais, thiago Carvalho Gontijo, rela-tou que várias pacientes che-gam para a consulta apresen-tando resistência quanto à reposição hormonal. “muitas senhoras já chegam ao ambula-tório com a ideia consolidada de que esse tipo de tratamento provoca câncer, por isso se mostram tão resistentes. na verdade, é necessária uma ava-liação de cada caso”, afirma.

existem alguns requisi-tos básicos para a indicação de reposição hormonal, como a avaliação da massa óssea da mulher, a fim de verificar sua tendência à osteoporose, se tem uma vida sexual ativa, quais são seus anseios e metas e a presença ou não de útero. na ausência do órgão, o trata-mento pode ser feito apenas com estrogênio. a presença do útero exige ainda mais cautela na indicação, sendo a reposição hormonal feita com estrógeno e progesterona, desde que tenha perfil para fazer o tratamento.

Aumento de

infectados pelo vírus do HIV e outras

DSTs na população

idosa preocupa o governo e a área da

saúde

pra

ZerSEXO

camPanhas PElo uso DE PrEsErvativoPara o geriatra José ivany, a mídia peca ao direcionar campanhas pelo uso de preservativos apenas à comunidade jovem: “Por questões comerciais, as indústrias e os fabricantes dos preservativos direcio-nam e usam na mensagem uma linguagem própria dos jovens, pois acreditam que quem irá consumir a camisinha será esse público. os idosos sempre ficam à parte. além disso, é muito difícil mudar a cabeça de uma pessoa que viveu tanto tempo da mesma maneira”. o livre arbítrio de cada um também deve ser respeitado.

Como os empecilhos do sexo na terceira idade são mais fáceis de serem resolvidos no sexo masculino do que no sexo feminino, os homens frequen-temente procuram parceiras fora do casamento, inclusive devido à permissividade da à esposa, muitas vezes, descobrir outros prazeres na vida durante essa faixa etária, como a família (relacionamento afetivo com filhos e netos). além disso, geralmente há uma discrepân-cia em relação à idade – senho-

res procuram relações sexuais com mulheres bem mais jovens. um grande problema é a falta de cultura do uso de pre-servativo, que acomete a socie-dade, mas principalmente o idoso, que é casado há vários anos e, como acontece na maioria das uniões estáveis, não tem o hábito de usar a camisinha. além da aidS, as doenças mais comuns que estão sendo contraídas por essa faixa de idade são a sífilis, gonorréia e a Hepatite B.

bÁrbara calDEira

apesar de a mídia estar aos poucos mudando a forma de retratar o idoso, antes concebido como inativo e frágil, a sexualidade na ter-ceira idade ainda é um tabu para a maior parte da sociedade. não discutir a questão pode ser uma forma de negligência, princi-palmente quando um problema a envolve: o aumento preo-cupante do número de infectados por HiV e outras doen-ças sexualmente transmissíveis nessa faixa etária.

os avanços da medicina aliados à indústria farma-cêutica vêm propiciando maior qualidade de vida aos idosos, inclusive no que diz respeito à sua vida sexual, como os remédios contra a disfunção erétil. Segundo o geriatra José ivany dos Santos, o envelhecimento aliado à qualidade de vida é a grande preocupação na área da geriatria. e é justamente esse o motivo de o crescimento de infectados por aidS e dSts na terceira idade ser perigoso. na idade avançada, doenças como a aidS podem deixar o idoso fragili-zado além do normal proporcionado pela idade.

NA TERCEIRA IDADE:

Dados alarmantes

AINDA UM

TAbU SOCIAl

mico do quarto ano de medicina

SEXOapesar de a mídia estar aos poucos mudando a forma de retratar

o idoso, antes concebido como inativo e frágil, a sexualidade na ter-ceira idade ainda é um tabu para a maior parte da sociedade. não discutir a questão pode ser uma forma de negligência, princi-palmente quando um problema a envolve: o aumento preo-cupante do número de infectados por HiV e outras doen-

à qualidade de vida é a grande preocupação na área da geriatria. e é justamente esse o motivo de o crescimento de infectados por aidS e dSts na terceira idade ser perigoso. na idade avançada, doenças como a aidS podem deixar o idoso fragili-

NA TERCEIRA IDADE: NA TERCEIRA IDADE:

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Homens idosos

fora do casamento

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Novembro/200916 Novembro/200916

Projeto de lei, se

aprovado, obrigará as empresas de

telefonia celular a fornecer

informações sobre

localização de aparelhos,

para combater crimes

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DaniEl souZa

em dezembro de 2008, o universitário P.a.a., de 23 anos, sentiu o pavor de ser rendido e ameaçado sob as miras de revólveres de dois sequestrado-res. o estudante e um amigo foram sequestrados na Praça do Papa, no Bairro mangabei-ras, na Região Centro-Sul. os reféns passaram doze horas rodando pela cidade, sempre com uma arma apontada para eles. durante a incômoda viagem, eram sempre amea-çados de morte pelos bandi-dos. “os criminosos diziam que iriam nós matar, e repe-

tiam isso o tempo todo. mas graças a deus, eles nos liber-taram e apenas levaram R$ 10 mil, entre objetos pessoais e dinheiro”, contou.

Crimes como esse acon-tecem em minas a cada 33 horas. no caso citado, tudo ocorreu sem nada de mais grave. mas segundo pesquisas da defesa Civil, a margem de sequestros, com morte tem crescido assustadoramente. Pensando nisso, o Plenário da assembleia Legislativa de minas Gerais aprovou, em 1º turno, o Projeto de Lei, do deputado délio malheiros, do Partido Verde, que obriga

as operadoras de celular a informar imediatamente a localização de aparelhos, seja em casos de investigação poli-cial ou crimes como seques-tro-relâmpago. a proposição recebeu parecer favorável da Comissão de Segurança Pública, apresentada pelo Relator tenente Lúcio, do Pdt (Partido democrático trabalhista).

o Projeto visa a criação de uma via administrativa, para a localização de aparelhos celu-lares, tanto nas situações de risco de vida do usuário como em investigações policiais, sem custo adicional. atualmente, é

preciso obter autorização judi-cial para localização de celula-res, o que compromete a ação imediata da Polícia.

de acordo com autor do projeto, délio malheiros, para que a ação tenha sucesso, ficará mantida a obrigatorie-dade de uma autorização para ter acesso ao conteúdo das conversas telefônicas. esse pedido será feito pelo delegado responsável pelo caso. o texto, se aprovado, prevê ainda que a operadora seja obrigada a encaminhar ao ministério Público, em até 48 horas, o relatório com as informações solicitadas, para

acompanhamento e controle da ocorrência.

Por outro lado, o usuário poderá se manifestar formal-mente contra o acesso às infor-mações sobre localização de seu aparelho. Para tanto, a con-cessionária do serviço de tele-fonia fornecerá aos seus clien-tes, novos e antigos formulá-rios, próprios para essa mani-festação. nos casos de telefones fixos e móveis que acionarem os números de emergência (190 e 197), a informação de localização às autoridades competentes deverá ser auto-mática, a partir dos meios tec-nológicos disponíveis.

QUAlQUER PREÇOSEGURANÇA A

"a primeira etapa já foi con-quistada no primeiro turno, mas ainda falta a aprovação direta de Brasília, para, aí sim, confirmar-mos o projeto; explicou délio malheiros. Porém, para o tenente Lúcio, que avalia a pro-posta do Projeto Lei sobre rastre-

amento celular, a urgência é relevante, sobretudo nos casos em que o fator tempo de res-posta é condicionante, como nos sequestros-relâmpago. "É certo que a rapidez na localiza-ção das pessoas é essencial para o tratamento de situações de

violência e criminalidade, espe-cialmente para aumentar as chances de sobrevivência da vítima", ressalta. o relator salientou ainda que a proposi-ção fosse discutida em audiên-cia pública com autoridades policiais, ministério Público e

operadoras de telefonia móvel.o deputado, délio malhei-

ros recebeu o apoio da vice-presi-dente da comissão, maria tereza Lara, que se mostrou se favorável ao uso da tecnologia para a pre-servação de vidas e defesa da Justiça. Vale lembrar que, nos

eua, há muito tempo a vida vem imitando a arte. não é só nos seriados da tV – tipo CSi – que a tecnologia se tornou importante aliada no combate à criminali-dade. aqui, nem as impressões digitais foram, com o perdão da palavra, digitalizadas

O projeto ainda depende de uma segunda votaçãoa

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josias PErEira

Três, dois, um, zero... No dia 31 de janeiro de 1959, o placar ao estouro do cronômetro no Está-dio Nacional de Santiago, no Chile, marcava 73 a 49 para a seleção brasileira contra os donos da casa. Vitória essa que não significava apenas um título mundial, mas uma alavancada à prática do basquete no Brasil. E aí veio a geração de Oscar, Mar-cel e Cia., a incrível vitória sobre os americanos no Pan-Ameri-cano de 1987, em Indianápolis, até que, em 1996, o basquete brasileiro entrou em declínio. Más administrações; falta de incentivos e péssimos resulta-dos. Porém, o cronômetro voltou a correr graças as iniciativas ousadas: a criação do NBB (Novo Basquete Brasil) e as recentes vitórias do masculino e do femi-nino na Copa América.

Desde 1996, em Atlanta, a seleção masculina não consegue chegar a uma Olimpíada. O fim da era Oscar contrastou com o declínio do basquete brasileiro, a personificação do Mito atingiu em cheio o então segundo esporte nacional, e pouco a pouco definhando pela má ges-tão de administradores que cor-romperam a imagem do esporte, o basquete perdeu seu espaço na mídia, no prazer e no lazer dos brasileiros.

Os culpados são muitos, o individualismo de Oscar e sua saída da seleção, a má adminis-tração de Gerasime Bozikes, o “cartola” da Confederação Bra-sileira de Basketball, mas entre tantas personagens, nem a vitó-ria sobre os americanos em 1987 conseguiu gerar no desporto colegial um boom para a prática esportiva no Brasil. Só no Rio de Janeiro, 70% dos colégios não

possuem sequer quadras espor-tivas, enquanto que nos EUA e países europeus esta é uma questão central para o desenvol-vimento do esporte, o mesmo ocorrendo na Argentina.

Felipe Oliveira, 26 anos, auxiliar técnico da equipe de Basquete do Olímpico, também credita o declínio do basquete no país pela falta de prática espor-tiva no ambiente escolar. “O fun-damental para o esporte é se tornar popular, temos que levar o basquete para as escolas, você encontra muitos locais hoje que não têm estrutura para a prática do esporte, e quando possuem, os professores de educação física não estão capacitados de maneira correta”.

Ainda de acordo com Felipe, “quando tivermos uma seleção forte, que seja o espelho para a nova geração aí sim teremos um Basquete forte e novamente popular”. Ele completa dizendo que para isso acontecer é neces-sário “um campeonato que dê perspectivas de futuro para o jogador, e uma escola de forma-ção de treinadores, para que se tenha uma unificação do pensa-mento do esporte no Brasil”.

Hoje, há um consenso entre a comunidade do basquete – “não adianta culpar a mídia por um erro que foi nosso”. Guilherme Maia, Professor de Educação Física e treinador do time infantil do Colégio Santo Agostinho, 49, enfatiza o fato. “Para que a mídia destine parte de seu tempo ao produto é necessário que ele seja bom”. O professor também exalta dois fatores importantes para a popularização do esporte. “Agora, com o título da Copa América e a classificação ao Mundial, acredito que o bas-quete retomará seu espaço e a meninada poderá acompanhar

o esporte na televisão” Para marcar essa nova fase

do Basquete no país e a possível volta do masculino a uma Olim-píada, vale ressaltar o renasci-mento do Campeonato Brasi-leiro, hoje chamado de NBB (Novo Basquete Brasil). Criada em dezembro de 2008, a nova liga de basquete brasileira reúne as principais lideranças do esporte no país, além de ter o modelo de administração seme-lhante ao da liga norte-america de Basquete profissional, a NBA. Em sua primeira edição, a aceitação do público foi ime-diata, angariando patrocinado-res de peso, como a Rede Globo de Televisão. O campeão foi a equipe do Flamengo liderada pelo armador Marcelinho.

“É excelente essa volta por cima do basquete. Toda a inicia-tiva esportiva tem que ser apoiada pelo estado para que nós possamos tirar essas crian-ças carentes da periferia”, diz

Ernesto Luiz, 50, que acompa-nhou a equipe de basquete infantil do Colégio Batista Mineiro no 6º Festival de Mini-Basquete realizado pela Federa-ção Mineira.

cultura Do basQuEtE DE rua

Das ruas dos guetos de Washington, nos Estados Uni-dos, até as periferias brasileiras, estilo ligado intimamente ao Hip-Hop, roupas largas, bonés, tênis, muita música, passos de dança, e uma bola de basquete. As disputas são sempre realiza-das em lugares não convencio-nais, como debaixo de viadutos, embaladas pelo som do rap a alimentar o embate.

Os adeptos não param de crescer, principalmente jovens e apesar de se inspirar no bas-quete, o Streetball, como é cha-mado se diferencia por apresen-tar regras próprias como à reali-

zação de passes e dribles que “desconsertam” adversários, tornando as jogadas mais atra-entes e divertidas para os joga-dores, bem como para o público que assiste.

A plasticidade do jogo começou a chegar ao Brasil ainda por influência do Harlem Globetrotters – famoso time de Basquete que rodava o mundo com suas peripécias, mas se difundiu com a criação do And One, o primeiro time de Street-ball dos Estados Unidos, res-ponsável pela realização de turnês em prol da divulgação do Basquete de Rua pelo mundo.

Atualmente, a Cufa realiza em todo país Seletivas Estadu-ais de Basquete de Rua e o único Campeonato Brasileiro da modalidade, denominado Liga Brasileira de Basquete de Rua – LIBBRA, consolidando cada vez mais o Basquete de Rua como uma modalidade esportiva de grande sucesso.

É lOGO AlI...A REDENÇÃO

Há 50 anos, o Brasil chegava ao topo do Basquete Mundial; há poucos anos começou um declínio que levaria o esporte ao fundo do poço. Hoje, nosso basquete dá sinais de redenção. A comunidade do basquete agradece.

com o nbb o basquete brasileiro tenta se reestruturar para voltar ao topo

FoTos aLDeN sTarLiNg

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Novembro/200918

Ricardo divino, assessor de imprensa, que esteve presente no festival, acredita que o evento traz o que há de tendência para a mesa dos mineiros. “uma das grandes novida-des apresentadas foi a técnica de cocção a baixa temperatura — este tipo de cocção diminui perdas e pre-serva a textura e o sabor dis produtos. um bom exemplo foi o que o chef murakami apresentou com o seu filé cozido a 200° graus, por cerca de seis horas, e depois selado na frigideira e servido com telha de batata, acompa-nhado com cogumelos”, contou.

Para Ricardo, “o festival é uma excelente oportunidade de entrar em contato com chefs renomados, caso do francês marc meurin. o que mais impressiona são as várias possibilida-des de sabores que temos em nosso

cotidiano e na maioria das vezes nem imaginamos. Ver as famílias, casais de namorados e crianças descobrindo essas minúcias únicas da vida é muito legal. o clima do festival é incrível.”

Para advogada Valéria Valle, que esteve no primeiro fim de semana do festival, o evento foi surpreendente. “já sabia que era um sucesso, mas só sabe realmente quem tem a oportunidade de comparecer. Vem gente do mundo inteiro e as atrações animam o ambiente. minas deveria investir mais em eventos desse tipo”, afirma.

a última edição do Festival contou com o diferencial: integrou o 1º Circuito Brasileiro de Cultura e Gastronomia, jun-tamente com Paraty (RJ) e Gramado (RS). o sucesso foi tamanho, que a programa-ção segue na edição de 2009. em setem-bro o Circuito chega a Gramado (RS).

QUEM FOI APROVA

Confira o que diz quem foi ao evento

o Festival de cultura e gastronomia, o maior evento desse estilo no país, reuniu cerca de 30 mil pessoas

raqueL viaNNa

Em seu 12º ano de existência, Festival de Cultura e

Gastronomia se consolida pela tradição e inovação tradição e inovação

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Charmosa e acolhedora, tiradentes foi escolhida há mais de uma década para receber o Festival de Cultura e Gastronomia, o maior evento desse estilo no país. durante os dias 21 a 30 de agosto, a cidade se encheu de sabores e aromas. os varia-dos cursos e a farta progra-mação cultural enriquece-ram ainda mais a escolha da cidade. Cercada por monta-nhas e um clima agradável, a cidade de 6.498 habitantes tem tudo que um turista pode querer: hotéis e pousa-das bem estruturadas, cerca de 130 e restaurantes para todos os gostos, além de um cenário encantador, banhado de história e arte.

Refinados jantares con-duzidos por quem mais entende do assunto, oito chefs, seis deles estrelados pelo aclamado Guia miche-lin, referência mundial da alta gastronomia. Realizados nos fins de semana, os janta-res foram o ponto alto do evento, onde o público pode experimentar o que há de melhor. tradicional, sem deixar de lado o caráter ino-vador, o festival contou tam-bém com bate-papos, em que personalidades contaram um pouco de sua experiência e história no mundo gastro-nômico. além de atrações culturais, como exposições de artes e fotografia, inter-venções teatrais e de dança e música ao vivo.

conhEcEnDo a culinÁria brasilEira

os cursos oferecidos nesta edição foram nortea-dos pela temática “o Valor do Brasil”, onde a culinária nacional ganhou luz a partir de receitas típicas, valori-zando as iguarias brasileiras. a idéia é que nos cursos e eventos paralelos ao evento, o Brasil ganhe lugar cativo através de seus produtos. a

vasta programação gastronô-mica trouxe também apre-ciações e diversos stands, que atiçaram o paladar dos diferentes gostos.

Com reconhecimento nacional , est ima-se que aproximadamente 30 mil pessoas participaram do evento. “o fes t iva l tem grande contribuição em vários aspectos: geração de empregos, investimento de patrocinadores e cresci-mento do turismo durante os nove dias de evento”, afir-mou um dos realizadores, Ralph Justino.

Segundo o observatório do turismo do instituto estrada Real (ieR) em par-ceria com a universidade Fe d e r a l d e o u ro P re t o (uFoP), as mais de 120 pou-sadas e hotéis que integram o circuito do município tive-ram um rendimento de R$ 1,8 milhão durante a última edição do Festival. os dados foram animadores em 2009, em vista da movimentação e da procura pe la c idade durante o mês de agosto.

contribuiÇÃo EconÔmica

Para além dos números rentáveis, o Festival de Cul-tura e Gastronomia de tira-dentes tem forte contribuição no setor turístico e econômico, gerando centenas de empre-gos e movimentando a hotela-ria e lazer da região. o evento é responsável pela criação de mais de 200 novos empregos formais, oportunizando tam-bém trabalhos informais para moradores da região.

Seguindo esta linha, o Fes t i va l ge ra inúmeros ganhos, tendo um aumento na demanda por mão de obra, impulsionando o inves-timento local: durante a época do festival, os comer-ciantes têm um lucro de cerca de 40%. Hoje, várias empresas atuam no evento, que está consolidado e vêem mantendo sua tradição.

UM FESTIVAl DE

AROMAS E SAbORES

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aDriEllE loPEs

Livre de pressões sociais e depois de conquistar certa independência, as mulheres começam também a mudar de comportamento. Hábitos antes considerados masculinos, agora têm invadido o mundo feminino com atitude, e princi-palmente, sem pedir licença para entrar. um deles, que deixa muitos marmanjos de boca aberta, é beber uma cer-vejinha e degustar um petisco depois do expediente. essa prática tem se tornado bastante normal para executivas ou até mesmo universitárias, que depois de um árduo dia no batente saem com grupos de amigas para relaxar e jogar con-versa fora — desde assuntos de trabalho a fofocas banais.

depois de abrir mão dos deveres domésticos para enfrentar o mercado de traba-lho, a mulherada agora está abrindo mão de descansar em casa para se sentar à mesa de um bar. “aquela mulher que depois do trabalho ia direto pra casa, não existe mais”, garante a engenheira ege-laine Gomes, que, às quintas-feiras, depois do trabalho, sempre sai com as colegas.

ao contrário de antiga-mente, as mulheres não se sentem mais reprimidas a ponto de deixarem de fazer o que gostam por medo de cau-sar má impressão. Se antes a mulher era mal vista ao se sen-tar à mesa de um bar — princi-palmente em cidades do inte-rior, onde o conservadorismo impera —, hoje esse tabu virou apenas uma notinha a ser acrescida em livros de história. as mulheres modernas che-gam e pedem uma cerveja ou pinga sem o menor problema. na faculdade, isso, além de comum, é ainda mais fre-quente. a maioria das turmas costuma sair para o bar ou fazer uma festa em que a bebedeira tende a ser geral. e é claro que as meninas agitam tanto quanto ou mais do que os rapa-zes. Quer prova maior de que a bebida não foi feita só para os homens?

só Para as mulhErEs

mais do que só beber por beber, algumas mulheres

resolveram criar as chamadas confrarias, para que degus-tem cervejas ou cachaças de inúmeros tipos, e com isso, mostram para qualquer homem que uma boa dose de sensibilidade feminina pode ser essencial para entender de qualquer bebida. em Belo Horizonte, a Confraria Femi-nina de Cerveja (ConFeCe) é formada por um grupo de 15 mulheres que se consideram admiradoras da legítima “loira” e se autodenominam “confreiras”. Com o objetivo de degustar em prol do conhecimento, as confreiras se reúnem uma vez por mês para experimentar um novo tipo de cerveja. a ideia surgiu quando uma degustação especial da bebida foi ofere-cida por um bar em comemo-ração ao dia mundial da mulher. Lá, elas tiveram a oportunidade de provar pela primeira vez outros tipos da famosa geladinha — que em alguns casos foge da regra e é s e r v i d a a t e m p e r a t u r a ambiente. “Foi no encontro em que eu e minhas amigas tivemos a ideia de formar uma confraria só para mulhe-res”, explica uma das confrei-ras, Renata Heitor. ela, que foi uma das primeiras inte-grantes do grupo, ainda chama a atenção para que ninguém pense que a reunião é apenas um happy-hour. “existe toda uma organiza-ção, em que há fichas para que façamos as observações e votemos na melhor cerveja”, anuncia Renata.

apesar de ainda haver resistência do universo mas-culino, as confreiras afirmam nunca ter sofrido diretamente esse tipo de preconceito. Segundo elas, os namorados, maridos ou filhos sempre as apoiam. “É uma maneira e um momento de adquirir conhecimento e poder des-viar um pouco da vida que às vezes é tão rotineira”, filosofa Renata. a confreira ainda garante que o grupo se baseia na união, portanto, intrigas ficam do lado de fora. “É sem-pre bom estarmos reunidas e, além de tudo, a confraria é só para mulheres, então não há porque haver ciúmes”; asse-gura a degustadora.

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Engana-se quem ainda acredita que elas ficam em casa assistindo novelas ou fazendo tricô: O bar é o novo espaço conquistado pelas mulheres

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nos anos 80, não era incomum ver pelo menos cinco rapazes no bar se deleitando com uma cervejinha. enquanto isso, no máximo duas garotas descobriam timidamente, o que a geladinha tinha de tão especial. Hoje, quase 30 anos depois, quem entrar em um bar, vai presenciar uma dife-rença mínima entre os sexos: se uma mesa tiver seis homens; a do lado, na certa, vai ter cinco mulheres. ou mais!

nos anos 80, não era incomum ver pelo menos cinco rapazes no bar se deleitando com uma cervejinha. enquanto isso, no máximo duas garotas

Acredite se quiser!

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Novembro/200920 Novembro/200920

jÉssica bissuli

em virtude de quererem expressar livremente o que sentem e pensam através de desenhos ora psicodélicos, ora factuais, expostos em lambe-lambe – cartaz de rua –, estan-derlau e desali (pseudônimos), graduados em artes Plásticas na universidade Guignard – uemG, encontram na inter-venção urbana modos de se comunicarem e conquistarem um espaço artístico na capital.

inseridos desde os 11 anos na arte de rua, quando ainda pichavam os muros de Belo Horizonte, dedicaram-se a criar possibilidades de inovar a intervenção urbana. trilhando caminhos cada vez mais alter-nativos, estanderlau e desali seguiram modalidades como o graffitti e performance em site especific – criações que só adquirem sentido em determi-nado ambiente – até chegarem hoje ao lambe-lambe.

Para estander lau, o melhor neste trabalho, além de não receber ordens, é con-seguir disputar com o meio publicitário, já que os dois têm o mesmo propósito. “o lambe-lambe comunica uma

ideia com mais propriedade, pois me apoio no formato do cartaz, com isso disputo o mesmo espaço que a publici-dade e tenho quase que a mesma idoneidade na men-sagem”, afirma.

o conceito pregado por estanderlau e desali é de que o receptor imagine o que a anti-propaganda irá transmitir, interpretar de acordo com o próprio conhecimento, sem repressões ou forçar concep-ções. nos desenhos e frases inseridas nas intervenções, os artistas utilizam traçados abs-tratos para que a obra fique sem um fim específico, para que não haja conclusão, pois o objetivo é designar ruídos. “o conflito se concentra no traço que nunca se mantém num estilo especifico, das técnicas utilizadas que sempre mudam. É tudo confuso, tem um começo, mas se perde no meio, assim deixando a obra em aberto, em constante pro-cesso”, completa desali.

a PrÁtica

ta n t o e s t a n d e r l a u quanto desal i preferem fazer as colagens no hiper-

centro ou em lugares aban-donados. a primeira opção é mais garantida, já que o fluxo de pessoas é intenso e o trabalho nesses locais pode ser reconhecido, reparado de maneira positiva. entre-tanto, nem tudo sai como o esperado. apesar de reque-rer esforço em sua produção, o trabalho não é remune-rado, e algumas vezes, por ser um ato proibido na capi-tal, passam por desagradá-veis conseqüências como ser preso e processado.

Porém, por mais que essa arte, como ocupação, deságue em precariedade, seus artistas demonstram a paixão pelo o que fazem e estão decididos a persistir nas intervenções urbanas com o lambe-lambe. “o que eu faço é tentar tornar pequenos momentos em imensos momentos, e é uma coisa em que me faz sentir pleno”, conclui estanderlau.

ar

te

Arte não é apenas

aquela para se expor em

grandes galerias, mas ser afixada por toda a

cidade

NÃO É SÓ COlAGEM

os stickers servem como forma de intervenção urbana

JÉssiCa BissuLi