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Autor Denilson Matos Língua Portuguesa II: Morfologia I 2009 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

Lingua portuguesa ii_morfologia_i_01

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Autor

Denilson Matos

Língua Portuguesa II: Morfologia I

2009

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www.iesde.com.br

M433 Matos, Denilson. / Língua Portuguesa II: Morfologia I /Denil-son Matos. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009. 168 p.

ISBN: 978-85-7638-799-2

1. Língua Portuguesa – Morfologia 2. Língua Portuguesa – For-mação de palavras 3. Língua Portuguesa – Gramática. I. Título.

CDD 469.5

Capa: IESDE Brasil S.A.Imagem da capa: IESDE Brasil S.A.

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Sumário

morfologia | 7Conceito de morfologia | 8Estudos lingüísticos | 9Significação lexical e gramatical | 10Formas livres, presas e dependentes | 11Etimologia | 12Dupla articulação da linguagem | 13

morfema | 19Conceito de morfema | 19Análise mórfica | 22Tipos de morfema | 25

Estrutura das palavras I | 33Estrutura das palavras | 34

Estrutura das palavras II | 45Conceituação | 45modo | 45Pessoa | 47Número | 47Estruturas do verbo | 48O acento tônico nos verbos | 55

Processo de formação de palavras I | 59Afixos | 60Derivação | 63

Processo de formação de palavras II | 71Composição | 71Outros tipos de processos | 73

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Criatividade lexical | 79O que é? | 79Neologismo | 81Considerações finais | 88

Classes de palavras I | 93Algumas informações essenciais | 93

Classes de palavras II | 107Artigo | 107O adjetivo | 110Numeral | 114

Pronomes | 121Pronome | 121O pronome pode ser de seis espécies | 123Colocação pronominal | 129

Locuções e interjeições | 133Locuções | 133Interjeição | 136

Narração | 141Texto | 141

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Apresentação

Nesta etapa de nosso estudo, abordam-se as diversas partes que constituem

o léxico de nossa língua preferencialmente aquelas que determinam a for-

mação e construção dos termos que a caracterizam e a identificam. Aqui,

conheceremos os mecanismos de formação previstos no sistema da Língua

Portuguesa, bem como aqueles que transcendem às expectativas do regis-

tro padrão.

Na mesma direção, iniciaremos o estudo das classes de palavras que re-

presenta, indubitavelmente, conteúdo capaz de determinar o sucesso do

estudante diante da constituição e análise da frase e da oração em Língua

Portuguesa, a saber: a sintaxe.

Desta feita, pretende-se apresentar, sob o amparo da gramática normativa,

a língua enquanto sua formação, estrutura e classe de palavras.

Mais especificamente, enquanto estudiosos da linguagem, devemos en-

tender que todo indivíduo que pretenda estudar uma língua, seja ela qual

for, deve atentar para certas considerações que determinam e auxiliam o

reconhecimento dessa língua. Assim, o estudo da forma é uma das possi-

bilidades de análise que traz à tona o entendimento de que as palavras se

organizam não apenas numa frase, mas, também, internamente. Se por um

lado, palavras quando combinadas podem constituir frases, textos, por ou-

tro, letras, morfemas, sílabas também podem formar palavras.

Portanto, é neste espírito que se busca entender os procedimentos lingüísti-

cos que participam e atuam efetivamente na morfologia das palavras.

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morfologiaDenilson Matos*

Seguindo o raciocínio do texto de apresentação, sugerimos o estudo da morfologia, que é exata-mente aquela que vai conceber a língua sob um prisma formal, ou seja, a partir da forma da palavra.

Antes de apresentarmos os subsídios teóricos que formulam o conceito dessa parte da gramá-tica, veja-se o texto a seguir que mostra o jogo com as palavras, feito pelo autor Augusto de Campos, observando mais pontualmente que a maestria do autor é percebida no jogo que faz com as partes das palavras, para construir novos sentidos.

Tensão

(Aug

usto

de

Cam

pos,

195

6)

Vale ressaltar que, por enquanto, o que se pretende demonstrar é a possibilidade de estudar as palavras pelas suas partes, já que estas podem, quando recombinadas, formar novos termos e novos sentidos. No caso do poema Tensão, o autor combina e recombina as sílabas e fonemas/letras das palavras.

* mestre em estudos da linguagem (Língua Portuguesa e Lingüística) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Especialista em Língua Portuguesa pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Bacharel e Licenciado em Letras (Português/Literatura) pela UERJ.

comsom

contem

cantem

tensão

também

tombem

semsom

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8 | Língua Portuguesa II: Morfologia I

Exemplo:

Com Tem Contém

Som Bem Tensão

Tom Sem Também

Se na primeira coluna colocarmos, no lugar da letra [c], a letra [s] ou [t], veremos como resultado ou-tras palavras. O mesmo na coluna da palavra “tem”, se colocarmos [b] ou [s]. Na terceira coluna, chamamos a atenção para a presença da sílaba “tem”/”ten” que participa na formulação de diferentes palavras. Isso comprova que toda palavra é formada por vários pedaços que se combinam.

Esta reflexão serve para fazermos a inferência de que o estudo da morfologia deve estar presente em nossas investidas lingüísticas, toda vez que se quiser tratar da forma da palavra.

Conceito de morfologiaAssim, pretende-se apresentar o âmbito dos estudos morfológicos, pode-se afirmar, segundo as

propostas de Ernani Terra (1996), que ao analisarmos a maioria das palavras percebe-se que elas podem ser divididas em segmentos. Nessa direção, por exemplo, na palavra “bonitas”, sob a ótica da morfologia, devemos reconhecer a existência de dois grupos de unidades significativas:

a) “bonita”

b) “bonit-“, “-a”, e “-s”

O primeiro grupo (a), representado pela palavra “bonita”, pode ser empregado como palavra iso-lada e isto sempre trará um significado. Já o segundo grupo (b), “bonit-“, “-a”, e “-s”, nunca poderá reali-zar-se, em Língua Portuguesa, como palavra provida de significado, destacada do restante da palavra, solta na frase ou descontextualizada.

A esses segmentos mínimos (“bonit-“, “-a”, e “-s”) dá-se o nome de morfema. E a análise dessas par-tes, chama-se análise mórfica, isto é, processo pelo qual se divide a palavra em seus elementos mórficos: unidades mínimas significativas.

Aqui a preocupação está em apresentar o estudo que se preocupa em analisar essas partes ou morfemas: a morfologia, que tem como objetivo precípuo, estudar a estrutura e a formação das pala-vras de uma língua, a partir de suas partes constitutivas.

A própria palavra morfologia já nos conduz a uma análise de suas partes. Por exemplo, é possível separá-la em dois segmentos, são eles:

“morf(o)” = forma

+

“logia”= estudo

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9|Morfologia

Diante dessa divisão, podemos concluir que:

A morfologia tem como objetivo estudar a estrutura e a formação das palavras de uma língua.

Desta feita, com o objetivo de apresentar o conteúdo, fez-se essa breve incursão sobre a morfo-logia. Todavia, daremos início ao estudo morfológico das palavras da Língua Portuguesa através dos caminhos sinalizados pelos estudos da significação lexical e gramatical das palavras, a compreensão do que seriam as formas livres, presas e dependentes, a abordagem panorâmica sobre a etimologia e o estudo da dupla articulação da linguagem

Estudos lingüísticosSegundo manoel Pinto Ribeiro (2003), as palavras da Língua Portuguesa podem ser subdivididas

em vocábulos formais variáveis e invariáveis. Temos um vocábulo formal quando um segmento fônico se associa a uma significação lexical ou gramatical.

Um dos aspectos do estudo dos vocábulos é o que procura verificar se ocorre uma variação (mas-culino / feminino) ou flexão (singular / plural). Dessa forma, os vocábulos podem ser subdivididos em vocábulos formais variáveis e vocábulos formais invariáveis.

Os vocábulos formais variáveis podem ser exemplificados pelas seguintes classes de palavras:

Substantivos (menino, meninas)1.

Verbo (tenho, tenhas)2.

Artigo (o, os, a, as)3.

Adjetivo (lindo, lindas)4.

Pronome (sua, suas)5.

Numeral (um, umas, primeiro, primeiras)6.

Já os vocábulos formais invariáveis são exemplificadas pelas seguintes classes de palavras:

Advérbio (1. mais cansada, não fiques com medo)

Preposição (a, de, desde, contra)2.

Conjunção (e, mas)3.

Interjeição (ah! hum!)4.

Vale lembrar que não é necessário, por enquanto, preocupar-se com relação a tais classes, pois, passo a passo, desde o começo, entenderemos os aspectos morfológicos da língua através de uma abordagem que pretende, didaticamente, levá-los a conviverem com as questões da morfologia que podem ser analisadas em grupos básicos, a saber:

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10 | Língua Portuguesa II: Morfologia I

1 Estrutura de palavras.

2 Formação de palavras.

3 Classe de palavras.

Assim, juntos, construiremos os conceitos que nos permitirão transitar nas veredas da estrutura, formação e classe das palavras. Trataremos, inicialmente, da significação lexical e gramatical.

Significação lexical e gramaticalSegundo Celso Cunha & Lindley e Cintra (2001), quanto à natureza da significação, os morfemas

classificam-se em lexicais ou gramaticais.

Por que falar de significação lexical e gramatical?

Primeiro ressaltamos que não se pode perder de vista que estamos tratando de palavra. Por isso, convém, antes de entender as suas partes constitutivas (estrutura) e a relação que há de umas com as outras (classes), compreender que há um significado latente em cada uma delas. Portanto, numa abor-dagem morfológica, convém saber quais significados estão em jogo, ou seja:

o significado lexical;::::

o significado gramatical. ::::

Significação lexicalOs morfemas lexicais apresentam significação externa, porque fazem referência a fatos do mun-

do extralingüístico, aos símbolos básicos de tudo o que os falantes distinguem na realidade objetiva ou subjetiva.

Em casa, casebre, casinha, casarão, podemos verificar que cas- é o elemento vocabular que faz referência ao mundo extralingüístico, além de o radical ser a parte comum a todas as palavras.

A significação dos radicais é chamada de lexical, dessa forma, a formação das palavras em desta-que recebe o nome de formação lexical. Podemos acrescentar aqui a significação dos prefixos (partícu-las que são inseridas antes do radical das palavras), que dão origem a novos vocábulos. Por exemplo: pré- (prefixo que indica algo que vem antes); curso pré-vestibular (curso que ocorre antes do exame do vestibular).

Significação gramaticalJá a significação dos morfemas gramaticais deve ser classificada como interna, pois deriva das

relações e categorias da língua. Observando o enunciado As meninas gostavam de boneca, dizemos que é composto por cinco vocábulos formais que apresentam a seguinte estrutura:

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11|Morfologia

As = -a (feminino) + -s (plural); meninas = menin- (radical) + -a (feminino) + -s (plural); gostavam = gost- (radical) + -a (vogal temática de 1.ª conjugação) + -va (desinência modo-temporal do imperfeito do indicati-vo) + -m (desinência número-pessoal); de (relaciona gostavam a bonecas, morfema relacional); boneca = bo-nec- (radical) + -a (feminino). Todos esses morfemas, indicadores de feminino, plural, vogal temática, modo e tempo, número e pessoa, além do morfema relacional, são os que possuem significação gramatical.

Agora que vimos o significado lexical e gramatical cuidaremos de alguns conceitos que justificam o nome morfologia, como vimos no início. Lembram?

“morfologia é o estudo da forma”.

Veremos como são agrupadas e analisadas as palavras a partir da perspectiva da forma.

Formas livres, presas e dependentes1

Forma livreSão os vocábulos que são capazes de estabelecer alguma comunicação. Consideremos a frase:

”Os homens e as mulheres podem ser independentes”

Podemos citar como exemplos de vocábulos livres: homens / mulheres / podem / ser .

Atualmente as classes de palavras que podem servir de exemplo para a forma livre são : os subs-tantivos, os adjetivos, os verbos e alguns advérbios.

Por exemplo:

“Os índices de miséria aumentam, trazendo preocupação para os países menos desenvolvidos”.

Substantivo –“índices”, “miséria”, “preocupação”, “países”.

Adjetivo – “desenvolvidos”

Verbo – “aumentam”, “trazem”

Advérbio – “menos”

Todas as palavras retiradas do texto são exemplos de formas livres.

1 Segundo Bloomfield (1933), os vocábulos formais são de 2 espécies: a) formas livres - são aquelas que podem constituir, isoladas, um enunciado suficiente para comunicação. Ex. lei. b) formas presas - aquelas que não são suficientes para, sozinhas, constituírem um enunciado. Ex.: pro-(de proscrever), trans- (de transformar). Segundo Carone (1995, p. 32), uma palavra pode ser constituída de: uma forma livre mínima- leal; de duas formas livres mínimas - couve-flor; de uma forma livre e uma ou mais formas presas - leal-dade, in-feliz-mente; apenas de formas presas - re- a-bert-ur-a. Aos conceitos de formas livres e formas presas, mattoso (2006, p. 70) acrescenta as formas dependentes, que de acordo com o autor não são livres porque não constituem, isoladas, um enunciado; e não são presas porque são separáveis como vocábulos formais. São consideradas formas dependentes os artigos, preposições, algumas conjunções e os pronomes oblíquos átonos. São exemplos de formas dependentes: o rapaz, diga-me, preciso de ajuda.

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12 | Língua Portuguesa II: Morfologia I

Forma presaSão os vocábulos que não existem isoladamente. Podemos citar como exemplo: a desinência de

plural, a de feminino, a modo-temporal, a número-pessoal, os prefixos, os sufixos, as vogais temáticas. Os radicais normalmente aparecem como formas presas.

É interessante notar que o conceito de forma presa, muitas vezes, depende do contexto. Por exemplo, o vocábulo “mar” é considerado indivisível (um único elemento: radical), porém, observando o vocábulo “mares” (forma livre), estamos diante de três formas presas = mar + e + s, pois o radical passou a ser uma forma presa nessa palavra.

Forma dependenteAs formas dependentes não são suficientes para estabelecer comunicação, pois dependem das

formas livres. Ou seja, embora sejam estruturas necessárias para conexão e ajustes entre os termos das frases isoladas, perdem sua função comunicativa e relacional.

Por exemplo:

“Os homens e as mulheres podem ser independentes”.

Podemos citar como exemplos de vocábulos dependentes: “os”, “e” e “as”.

São chamados de formas dependentes as classes dos artigos, pronomes e conectivos.

Outra linha de estudos que complementa a abordagem da morfologia é a Etimologia, que com sua perspectiva histórica apresenta a trajetória da palavra através dos tempos sobre o prisma da evolu-ção e transformação da mesma. Vale ressaltar que tal estudo, embora tratado de forma complementar, é absolutamente independente enquanto área do saber e representa um campo especifico dos estudos lingüísticos.

Nosso desejo é estimular o interesse pela Etimologia, compreendendo que tal aprofundamento trará maior mobilidade para o entendimento da morfologia, bem como da Língua Portuguesa de uma forma geral.

Objetivamente, realizaremos uma abordagem mais ampla do ponto de vista do estudo da pala-vra, enquanto forma lingüística. Proponho uma passagem pela Etimologia. Esse estudo pode ser muito útil quando concebido simultaneamente ao estudo da morfologia.

EtimologiaAs palavras certamente representam importantes ferramentas do espírito e do conhecimento

humano. A ampliação do conhecimento pode ser alcançada a partir do estudo das suas histórias. Assim, o estudo da Etimologia2 (do grego ethymon – verdadeiro) é a possibilidade que se tem de entender,

2 Os etimologistas são os estudiosos da língua, que buscam reconstruir a história das palavras (etimologia): em que época surgem numa determinada língua; quais suas fontes e como suas formas e significados se transformaram.

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13|Morfologia

reconhecer e aprender mais sobre a história de uma língua, e por conseqüência, sobre o homem e sua visão de mundo numa determinada época.

Nesta etapa, trataremos dos derradeiros conceitos que nos darão uma idéia da relação que há entre os estudos morfológicos e a linguagem propriamente dita. Afinal, só há sentido no estudo morfo-lógico se visto como parte integrante de um sistema maior, chamado gramática da língua, que por sua vez se realiza através da linguagem.

A linguagem é fundamental para efetivação da comunicação, entretanto, sob uma perspectiva morfológica, não basta apenas associá-las à idéia de comunicação, mas, também, de entender como ela se articula. Nesse intuito, veremos algumas considerações sob a articulação da linguagem.

Dupla articulação da linguagemA articulação é característica da linguagem humana, diferenciando-a fundamentalmente das ou-

tras produções vocais não-lingüísticas e dos outros sistemas de comunicação (os códigos e as quase-linguagens: linguagem gestual, dos animais, musical etc.). O método de articulação é o mais utilizado para entendermos como se constitui ou se estrutura uma língua.

Conforme manoel Ribeiro (2003), foi martinet, o lingüista francês, quem introduziu a expressão “dupla articulação da linguagem” no estudo das línguas. Assim, podemos afirmar que toda língua pode ser analisada em dois tipos de unidade:

1 Significativas (1.ª articulação).

2 Distintivas (fonológicas) (2.ª articulação).

Vejamos então cada uma delas:

Primeira articulação da linguagem: unidades significativasNa primeira articulação da linguagem, são estudadas as suas unidades significativas. Podemos

citar como exemplos da primeira articulação da linguagem:

o :::: discurso - unidade maior, este poderia conter: um parágrafo, um texto ou uma simples frase;

a :::: frase - divisão elementar do discurso, que tem como objetivo estabelecer comunicação;

a :::: oração - divisão elementar de uma frase verbal;

os :::: termos da oração - sujeito, objetos, complementos nominais, etc.;

os :::: vocábulos formais - as palavras da nossa língua;

as :::: unidades mínimas ou elementares - o radical e os elementos mórficos constituintes de um vocábulo.3

3 Conforme vimos os morfemas.

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14 | Língua Portuguesa II: Morfologia I

Segunda articulação da linguagem: unidades distintivasNa segunda articulação da linguagem, são estudadas as unidades que pertencem ao campo fo-

nológico (unidades distintivas), que mostram quais são e como funcionam os fonemas de uma língua, com seu papel distintivo.

Pela substituição de um fonema, verificamos que ocorre uma oposição lingüística, visto que moti-va uma mudança de significado na nossa mensagem. Podemos citar como exemplo dessa característica o grupo de vocábulos: mala X cala X fala X bala no qual a troca do fonema inicial da palavra dá origem a vocábulos distintos, isto é, embora, isoladamente, seja desprovida de quaisquer significado lexical ou gramatical.4

Na 2.ª articulação, verificamos os sons das palavras.

Assim, numa frase como “Telefone-me agora”, teremos as seguintes unidades da segunda ar-ticulação:

1. te /lê /fo /ne /me /a/go/ra

Ou

2. t/e/l/e/f/o/n/e m/e a/g/o/r/a

Desta feita, poderíamos, de forma geral, organizar as unidades de articulação da linguagem em 2 grupos:

Grupo I

DiscursoFrase

OraçãoTermos da oração

Vocábulos

morfemas

4 Vide 1.1.1

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15|Morfologia

Exemplos:

Discurso: Entremos, já que as portas se abrem de par em par, cerrando-se logo depois de nossa passagem. A sala não é grande, mas espaçosa; cobre as paredes um papel aveludado de sombrio es-carlate, sobre o qual destacam entre espelhos duas ordens de quadros representando os mistérios de Lesbos. Deve fazer idéia da energia e aparente vitalidade com que as linhas e colorido dos contornos se debuxavam no fundo rubro, ao trêmulo da claridade deslumbrante do gás.” (Trecho da obra Lucíola, de José de Alencar, Cap. VI)

Frase: “A sala não é grande, mas espaçosa”

Oração: “mas espaçosa”

Vocábulo: “espaçosa”

Morfema: “-a”

Grupo II

SílabaFonema

Sílaba: (Amizade) A-mi-za -de

Fonema: s/a/p/a/t/o

Enfim, nesses quadros podemos compreender que:

1. A maior unidade significativa é o discurso, por exemplo, o trecho do livro Lucíola, de José de Alencar; e a menor unidade significativa é o morfema, por exemplo, o morfema “-a” da palavra espaço-sa, que significa feminino.

2. O fonema é a menor unidade distintiva da linguagem.

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16 | Língua Portuguesa II: Morfologia I

Texto complementar

Um passeio etimológico no pescoço da girafaA semelhança da girafa com o camelo levou os europeus, em épocas passadas, também a de-

signá-la de camelo-leopardo, no entanto com uma pequena diferença na forma de grafar a palavra: camelopardo.

Também a chamaram assim por julgarem que a girafa era o cruzamento de um camelo com um leopardo. Apesar de há muito se saber que essa não corresponde à realidade, esse erro per-manece imortalizado, pois o nome científico da girafa é Giraffa camelopardalis – versão latina de camelo-leopardo.

Os camelos, embora não estejam classificados na subordem dos ruminantes, são animais que ruminam e, ao contrário da maioria deles, eles não têm cornos. Como os girafídeos, mas com menor tamanho, os camelídeos também apresentam pescoço longo.

A grande diferença entre as duas famílias está no fato dos girafídeos andarem sobre suas patas desenvolvidas com cascos (ungulígrados), enquanto que, entre os camelídeos, o contato com o solo se dá por meio das duas últimas falanges (digitígrados).

“Zarafa” é palavra de origem árabe na Língua Portuguesa: ZARAFA. A palavra girafa provém da antiga palavra arábica ZIRAFAH, a qual significa “o mais alto de todos”. Diz-se também que a palavra girafa tem origem no nome árabe XIRAPHA, que significa “o que caminha muito depressa” ou “aquela que anda muito rápido”. O nome girafa vem também do árabe ZURAFA, que significa “a graciosa”. Embora o termo derive de uma palavra árabe, a letra G que veio de uma derivação da letra Z, não é natural. Podemos supor que a palavra zirafah é uma mistura comum chamada metátese. Em lingü-ística (transposição de fonemas dentro de um mesmo vocábulo) e relativa à desordem neurológi-ca chamada dislexia (incapacidade, devida a lesão central, para se ler compreensivelmente) ZaVaR (pescoço).

Enquanto Adão ou qualquer ancestral humano fizeram bem em chamar a girafa de uma cria-tura “pescoço”, o termo hebreu enfatiza a garganta ou a parte frontal do pescoço mais que a parte proeminente detrás da girafa. Em hebreu, essa parte da anatomia é OREF, mais corretamente pro-nunciada por Sephardim como KHOREF ou GHOREF.

Assim, podemos verificar quantas discussões se pode fazer a partir da história de apenas uma palavra.

A título de curiosidade, vejamos como a girafa é chamada em outras línguas: o selo postal da França mostra a palavra girafa escrita em francês: GIRAFE. O selo do Congo mostra a palavra girafa em latim: GIRAFFA, que se grafa igual ao italiano. E o selo dos Estados Unidos mostra a palavra girafa, em inglês, que se grafa igual ao alemão: GIRAFFE. Girafa em suaíle é TWIGA. Girafa em espanhol é JIRAFA, girafa em polonês é ŻYRAFA e girafa em tcheco é ŽIRAFA.

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17|Morfologia

Desta feita, podemos afirmar que o patrimônio lingüístico de uma nação é um dos seus maio-res bens, além de representar o legado para as gerações futuras, pois com a transmissão dos idio-mas transferem-se milhares de características, fatores e costumes especiais e únicos.

Enfim, o estudo da etimologia é imprescindível para se circunscrever a história, o tempo e a vida de uma nação. E funciona como estudo complementar para a compreensão da morfologia.

(Disponível em: <www.sergiosakall.com.br/girafas/etimologia/html> (Adaptado).

Acesso em: 14 jun. 2007).

Análise lingüística1. Faça o que se pede:

a) Procure em pelo menos quatro dicionários diferentes de Língua Portuguesa, qual o significado da palavra morfologia.

b) A morfologia pode ser estudada em três partes distintas. Quais são?

2. O estudo da Etimologia pode ser utilizado para ampliar o horizonte histórico de análise dos estudiosos da morfologia, assim, escolha três palavras quaisquer cuja origem e história você gostaria de conhecer. Temos certeza que você fará boas e interessantes descobertas.

a) Para ajudar nessa pesquisa utilize o dicionário (GUÉRIOS, R. F. m. Dicionário de Etimologias da Língua Portuguesa. São Paulo, Nacional: [Curitiba] Univ. Federal. Paraná, 1979 e o Dicionário Etimológico de Nomes e Sobrenomes. 2. ed. São Paulo: Ave maria, 1973.

b) Faça buscas na web sobre etimologia.

3. Complete:

Sabe-se que -logia significa estudo, então descubra as especialidades abaixo, em seguida crie ou encontre pelo menos um exemplo de unidade significativa, a partir das palavras descobertas.

a) Olhos: _____________________

b) Pele:________________________

c) Da mulher: __________________

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18 | Língua Portuguesa II: Morfologia I

d) Da estrutura e formação da palavras:___________________

e) Dos sons:____________________

4. Classifique os vocábulos do poema de Cecília meireles em formas livres, presas e dependentes:

CompensaçãoCecília Meireles

(...)Hoje eu queria andar lá em cima,

Nas nuvens,

com as nuvens,

pelas nuvens,

para as nuvens.(...)

5. Responda o que se pede:

a) Na 1.ª articulação de uma língua, temos unidades __________________ da linguagem.

b) Escolha uma das unidades da 1.ª articulação e escreva sobre ela.

c) Em “nuvens”, podemos dizer que o -s é uma unidade da 1.ª articulação. Explique.

d) No vocábulo universidade, é possível dizer que temos 12 ou 6 unidades distintivas. Por quê?

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Gabaritomorfologia

1. Faça o que se pede:

a) Livre.

b) Estrutura das palavras, processo de formação de palavras e classe de palavras.

2. Livre.

3. Complete:

a) oftalmologia (a oftalmologia é muito importante para o cuidado com a visão. unidade significativa: frase).

b) dermatologia (Estudei para a prova de ginecologia, mas só havia vagas para a área de odontologia e dermatologia / unidade significativa: oração).

c) ginecologia (-logia / unidade significativa: morfema (sufixo que significa estudo).

d) morfologia.

e) fonologia.

unidade significativa: a fonologia e a morfologia são estudos importantes para o conhecimento de uma língua. Por isso devemos, enquanto estudiosos da língua, procurar sempre aprofundamento nessas áreas. / unidade significativa: discurso.

4. Classifique os vocábulos do poema de Cecília Meireles em formas livres, presas e dependentes:

Formas livres –:::: hoje, eu, queria, andar, lá, cima, nuvens.

São as classes dos substantivos, adjetivos, verbos e advérbios.

Forma presa –:::: nuvens /-s /

São as desinências de plural, as de feminino, modo-temporal, número-pessoal, os prefixos, os sufixos e as vogais temáticas. Os radicais normalmente aparecem como formas presas.

Forma dependente – em, nas, pelas, para.

São as classes de artigos, pronomes e conectivos.

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| Língua Portuguesa II: morfologia I

5. Responda o que se pede:

a) significativas.

b) explicação a partir da unidade que for escolhida.

discurso (unidade maior, este poderia conter um parágrafo, um texto ou uma simples frase);

frases (divisão elementar do discurso, que tem como objetivo estabelecer comunicação);

oração (divisão elementar de uma frase verbal);

termos da oração (por exemplo, sujeito e predicado);

vocábulos formais (as palavras da nossa língua);

unidades mínimas ou elementares (o radical e os elementos mórficos constituintes de um vocábulo).

c) Sim, é uma unidade de 1.ª articulação, pois, enquanto morfema gramatical, tem significado na Língua Portuguesa: indica plural.

d) Porque, considerando que as unidades distintivas são a sílaba e o fonema, podemos observar, no vocábulo universidade, 12 fonemas e 6 sílabas.

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