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\r .. . - PODER JUDlcrARIo TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2" REGIA TRIBUNAL PLENO ACORDAO 068/10 - TP PROCESSO TRT/SP N° 80712200900002000 - TP - MANDADO DE SEGURAN(A IMPETRANTE: Joao Carlos Saud Abdala Filho IMPETRADO: ato do Exmo. Sr. Desembargador Presidente da Comissao de Concurso Publico para servidores do TRT da r Regiao no ano de 2008, Dr. Decio SebasWio Daidone MANDADO DE SEGURAN(A - DIRElTO LiQUIDO E CERTO NAO CONFIGURADO. 0 mandado de seguran<;:a, por se tratar de remedio extremo, excepcional, visa it prote<;:aode direito liquido e certo, violado ou amea<;:adopor autoridade, em ate ilegal ou abusivo. 0 direito l[quido e certo e aquele cristalino, comprovado de plano, que nao rende ensejo a duvidas. Nao logrando 0 impetrante comprovar, de plano, qual direito liquido e certo foi lesado ou amea<;:ado,nao ha como conceder a seguran<;:aora impetrada. De fato, 0 portador de perda auditiva unilateral nao preenche a exigencia legal expressa no art. 4° do Decreto nO 3.298/1999, que regulamentou a Lei n° 7.853/89, e constante do Edital do concurso, sendo questionavel a discussao sobre 0 cabimento, em seu favor, do beneficio da reserva de vaga prevista no inciso VIII do artigo 37 da Constitui<;:aoFederal. Seguran~a nao concedida. ACORDAM os Exmos. Srs. Desembargadores do Tribunal Pleno do E. Tribunal Regional do Trabalho da 2 a Regiao em, par maioria, declarar a competencia do Tribunal Pleno para apreciar e julgar 0 processo, nos termos do voto da Exma. Sra. Desembargadora Relatora, vencido 0 Exmo. Sf. Desembargador Davi Furtado Meirelles. No merito, tam bern por maioria, denegar a seguranya, nos termos do voto da Exma. Sra. Desembargadora Relatara, vencidos os Exmos. Srs. Desembargadores Marcelo Freire Gonyalves, Luiz Carlos Gomes Godoi, Luiz Edgar Ferraz de Oliveira, Eduardo de Azevedo Silva, Ricardo Artur Costa e Trigueiros, Valdir Florindo, Silvia Almeida Prado, Davi Furtado Meirelles e Carlos Francisco Berardo. Nao participou do julgamento, em razao do disposto no artigo 99 do Regimento Interno, 0 Exmo. Sr. Desembargador Nelson Nazar. Custas pelo impetrante, no importe de R$ 20,00, calculadas sobre 0 valor atribuido it causa, de R$ 1.000,00 (fl. 19). Sao Paulo, lOde maio de 2010. iuwf SONIA MARIA JRINCE FRANZINI PRESIDENTE REGIMENTAL ANELIALI RELATORA

MANDADO DE SEGURANc;A IMPETRANTE: JOAO CARLOS … · MANDADO DE SEGURAN(A - DIRElTO LiQUIDO E CERTO NAO ... Regiao (fl. 61 - SAMP N° 2857), por intermedio do qual informa ao Servi

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. -PODER JUDlcrARIoTRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2" REGIA

TRIBUNAL PLENO ACORDAO N° 068/10 - TP

PROCESSO TRT/SP N° 80712200900002000 - TP - MANDADO DE SEGURAN(A

IMPETRANTE: Joao Carlos Saud Abdala Filho

IMPETRADO: ato do Exmo. Sr. Desembargador Presidente da Comissao de ConcursoPublico para servidores do TRT da r Regiao no ano de 2008, Dr. Decio SebasWioDaidone

MANDADO DE SEGURAN(A - DIRElTO LiQUIDO E CERTO NAOCONFIGURADO. 0 mandado de seguran<;:a, por se tratar de remedio extremo,excepcional, visa it prote<;:aode direito liquido e certo, violado ou amea<;:adoporautoridade, em ate ilegal ou abusivo. 0 direito l[quido e certo e aquele cristalino,comprovado de plano, que nao rende ensejo a duvidas. Nao logrando 0

impetrante comprovar, de plano, qual direito liquido e certo foi lesado ouamea<;:ado,nao ha como conceder a seguran<;:aora impetrada. De fato, 0 portadorde perda auditiva unilateral nao preenche a exigencia legal expressa no art. 4° doDecreto nO 3.298/1999, que regulamentou a Lei n° 7.853/89, e constante doEdital do concurso, sendo questionavel a discussao sobre 0 cabimento, em seufavor, do beneficio da reserva de vaga prevista no inciso VIII do artigo 37 daConstitui<;:aoFederal. Seguran~a nao concedida.

ACORDAM os Exmos. Srs. Desembargadores do Tribunal Plenodo E. Tribunal Regional do Trabalho da 2a Regiao em, par maioria, declarar a competencia doTribunal Pleno para apreciar e julgar 0 processo, nos termos do voto da Exma. Sra.Desembargadora Relatora, vencido 0 Exmo. Sf. Desembargador Davi Furtado Meirelles. Nomerito, tam bern por maioria, denegar a seguranya, nos termos do voto da Exma. Sra.Desembargadora Relatara, vencidos os Exmos. Srs. Desembargadores Marcelo FreireGonyalves, Luiz Carlos Gomes Godoi, Luiz Edgar Ferraz de Oliveira, Eduardo de AzevedoSilva, Ricardo Artur Costa e Trigueiros, Valdir Florindo, Silvia Almeida Prado, Davi FurtadoMeirelles e Carlos Francisco Berardo. Nao participou do julgamento, em razao do disposto noartigo 99 do Regimento Interno, 0 Exmo. Sr. Desembargador Nelson Nazar.

Custas pelo impetrante, no importe de R$ 20,00, calculadas sobre 0

valor atribuido it causa, de R$ 1.000,00 (fl. 19).

Sao Paulo, lOde maio de 2010.

iuwfSONIA MARIA JRINCE FRANZINI

PRESIDENTE REGIMENTAL

ANELIALIRELATORA

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PROCESSO TRT/SP N° 80712.2009.000.02.00-0MANDADO DE SEGURANc;AIMPETRANTE: JOAO CARLOS SAUD ABDALA FILHOIMPETRADO: ATO DO EXMO. SR. DESEMBARGADOR PRESIDENTE DA

COMiSsAo DE CONCURSO PUBLICO PARA SERVIDORES DOTRT DA 2a REG lAo NO ANO DE 2008

MANDADO DE SEGURAN<;::A - DIRE ITO LiQUIDO ECERTO NAO CONFIGURA DO. 0 mandado de seguran<;a,por se tratar de remedio extrema, excepcional, visa a prote<;aode direito liquido e certo, violado au amea<;ado por autoridade,em ato ilegal au abusivo. 0 direito Hquido e certo e aquelecristalino, comprovado de plano, que nao rende ensejo aduvidas. Nao logrando a impetrante comprovar, de plano, qualdireito Hquido e certo foi lesado ou amea<;ado, nao ha comoconceder a seguran<;a ora impetrada. De fato, 0 portador deperda auditiva unilateral nao preenche a exigencia legalexpressa no art. 4° do Decreto nO3.298/1999, que regulamentoua Lei nO 7.853/89, e constante do Edital do concurso, sendoquestionavel a discussao sobre 0 cabimento, em seu favor, dobeneficia da reserva de vaga prevista no inciso VIII do artigo 37da Constitui<;ao Federal. Seguran~a nao concedida.

JOIIO CARLOS SAUO ABDALA FILHO impetra Mandado de~com pedido liminar, contra ato do Exmo. Sr. Desembargador Presidente da Comissao deConcurso Publico para Servidores do TRT da 2a Regiao no ana de 2008, que tornou semefeito sua nomea9ao para 0 cargo de Analista Judiciario - Area Judiciaria - EspecialidadeExecu9ao de Mandados, em vaga reservada aos portadores de deficiencia. 0 impetrantesustenta, em slntese, ser comprovadamente portador de surdez unilateral, praticamentetotal, irreverslvel e que, por ocasiao da inscri9ao no referido concurso publico, ''[..}observou todos os requisitos para que josse inscrito como portador de deficiencia, inclusive, jazendoprova de sua surdez, encaminhando taudo medico e exame de audiometria" (fl. 3, 2° paragrafo).Alega, tambem, que a altera9ao trazida pelo Decreta n° 5.296/04 ao Decreta n° 3.298/99gerou tratamento desigual entre pessoas portadoras de deficiencia, por estabelecer comodeficiencia auditiva para as efeitos de beneflcios legais, somente a perda bilateral, parcialou total, sendo que tambem a perda unilateral total e uma anomalia que resulta em umaserie de consequencias e limita90es ao seu portador. Assevera, ainda, que essa limita9aoe inconstitucional, seja por limitar injustamente 0 termo usado na Constitui9ao daRepublica, como tambem por ter 0 Poder Executivo extrapolado seu poderregulamentador. Assim, pretende a concessao da seguran9a para que, em razao do

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propalado problema auditivo, seja reconhecido seu direito Iiquido e certo de tomar posseem vaga destinada a pessoas portadoras de deficiencia, nos termos do art. 37, VIII, daConstituigao Federal (fls. 02/19).

Acompanhando 0 libelo foram juntados os documentos de fls. 21/53,dentre os quais procuragao, laudos medicos, audiometrias e ac6rdaos paradigmaticos nosentido de sua tese.

Aditando a exordial (fls. 56/60), 0 impetrante, com espeque no DecretoLegislativo n° 186/2008, reforga os argumentos ja aduzidos no sentido de que, mesmo naose enquadrando na previsao do art. 4°, do Decreto n° 3.298/1999, e considerado deficientepelo ordenamento juridico e que, portanto, faz jus ao beneficio de reserva de vag asprevistas no art. 37 da Constituigao. Desta feita, anexou c6pia do documento expedido peloServigo de Assistencia medica e Psicol6gica do Tribunal Regional do Trabalho da 2a

Regiao (fl. 61 - SAMP N° 2857), por intermedio do qual informa ao Servi<;:o deRecrutamento de Pessoal, que a Junta Medica Oficial concluiu que ele nao se enquadravacomo pessoa deficiente nos termos da lei.

Informa<;:6es da D. Autoridade apontada como coatora a fls. 65/66.

Nao foi concedido 0 pedido liminar deduzido, consoante decisao de fls.69/70.

Parecer do D. Ministerio Publico do Trabalho a fls. 75/79, opinando pela

denega<;:ao da seguran<;:a. L'E 0 relat6rio.

VOTO

Como relatado, trata-se de Mandado de Seguran<;:a, com pedidlo Iiminar,impetrado por JOAO CARLOS SAUD ABDALA FILHO, contra ato do Exmo. Sr.Desembargador Presidente da Comissao de Concurso Publico para Servidores do TRT DA2a Regiao no ana de 2008, que tornou sem efeito sua nomea<;:ao para 0 cargo de AnalistaJudiciario - Area Judiciaria - Especialidade Execu<;:ao de Mandados, em vaga reservadaaos portadores de deficiencia. 0 impetrante sustenta, em sintese, ser comprovadamenteportador de surdez unilateral, praticamente total, irreversivel e que quando da inscri<;:ao noreferido concurso publico, "{ ..J observou todos os requisitos para que josse inscrito comoportador de deficiencia, inclusive, jazendo prova de sua surdez, encaminhando taudo medico eexame de audiometria" (fl. 3, 2° paragrafo). Pretende a concessao da seguran<;:a para sejareconhecido, em razao do aludido problema auditivo, seu direito liquido e certo de tomarposse em vaga destina a pessoas portadoras de deficiencia, de que cogita 0 art. 37, VIII,da Constitui<;:ao Federal.

Ab initio, cumpre ressaltar que nao esta sub examine aqui 0 fato de serou nao 0 impetrante deficiente auditivo, mas, sim, em se saber se a surdez unilateral que 0

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acomete serve para caracterizar deficiencia fisica nos moldes legais a justificar tratamentodiferenciado. De tal sorte, trata-se de materia de direito, que nao exige dila<;ao probat6ria,podendo, quanto a esse quesito, ser objeto de Mandado de Seguran<;a.

Nada obstante, deve-se ter em conta que 0 mandamus, alem dascondi<;6es gerais da a<;ao, tem como pressuposto de sua concessao a necessidade deprote<;ao a direito Iiquido e certo nao amparado por habeas corpus ou habeas data,quando 0 responsavel pela i1egalidade for autoridade publica ou agente de pessoa juridicano exercicio de atribui<;6es do Poder Publico (art. 5°, LXIX, da Constitui<;ao Federal).

Veja-se a prop6sito a li<;ao de Hely Lopes Meireles, que assim seexpressa:

"Dire ito liquido e certo Ii 0 que se apresenta manifesto rza sua existencia,delimitado na sua extensiio e apto a ser exercitado no momento da impetrac;iio. Poroutras palavras, 0 dire ito invocado, para ser amparavel por mandado de seguranc;a,ha de vir expresso em norma legal e trazer em si todos os requisitos e condic;oes desua aplicac;iio ao impetrante: se a sua existencia for duvidosa; se a sua extensiioainda niio estiver de lim itada, se, para ser exercido depender de situac;oes e Jatosainda indeterminados, niio rende ensejo a seguram;:a, embora possa ser deJendidopor outros meios judiciais. " (in Mandado de Seguran~a, 12.a edi~ao, p. 12; grifou-se).

Nesse contexto, necessario se faz, para que se conceda a seguran<;a, quese identifique de plano a existencia do direito Iiquido e certo que a parte diz possuir e queteria side ofendido pelo ato impetrado, 0 que nao se vislumbra no caso dos autos.

Conforme ja asseverado quando da negativa do pedido liminar, a situa<;aofatica dos autos nao pode deixar de ser subsumida, sem maiores indaga<;6es, a hip6teseprevista na norma juridica art. 4°, II, do Dec. nO 3.298/99\ na qual se pq tou 0 ate

impetrado. ( iTambem nao se verifica, nem com 0 refor<;o argumentativlVtmi do na

emenda a inicial (fls. 56/60), com amparo no Decreto Legislativo n° 186/2008, qualquerinconstitucionalidade do inciso II do artigo 4° do Decreto nO 3.298/99, po is as normasconstitucionais invocadas no Iibelo (arts. 5~ XXXV; e 37, VIII, da Constituic;iio da Republica:"Art. 5°... XXXV - a lei niio excluira da apreciac;iio do Poder Judiciario lesiio ou ameac;a a dire ito ","Art. 37... VIII - a lei reservara percentual dos cargos e empregos publicos para as pessoasportadoras de deficiencia e definira os criterios de sua admissiio ") remetem as respectivasmaterias ao disciplinamento da legisla<;ao infraconstitucional, cujo refinamento legalocorreu sem aparente vilipendio ao texto constitucional.

1 Art. 40 E considerada pessoa portadora de deficiencia a que se enquadra nas seguintes categorias:

II - deficiencia auditiva - perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibeis (dB) ou mais,aferida por audiograma nas frequencias de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz; (Reda~ao dadaao inciso pelo Decreto nO5.296, de 02.12.2004, DOU 03.12.2004)

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Assim, considerando que 0 ate impetrado encontra-se respaldado emnorma legal vigente e 0 direito que se diz violado, se e que existe, nao pode serreconhecido sem render ensanchas a maiores discussoes exegeticas, e possivel concluirque 0 impetrante nao e detentor de algum direito Ifguido e certo que mere9a ser albergadopor Mandado de Seguran9a.

Entrementes, ainda que assim nao fosse, por apego ao argumento,analisando a vexata quaestio, nota-se que melhor sorte nao socorre ao impetrante.Vejamos.

Em primeiro lugar, relevante observar que 0 candidato, quando realiza ainscn9ao no concurso, assume 0 conhecimento e a tacita aceita9ao das norm as econdi90es estabelecidas no correspondente edital, em rela9ao as quais nao podera alegardesconhecimento (Capitulo IV, item 1).

Pois bem; as pessoas portadoras de deficiencia que pretendiam fazer usodas prerrogativas que Ihes sao facultadas no inciso VIII do artigo 37 da Constitui9aoFederal e na Lei nO 7.853/89 foi assegurado 0 direito de inscri9ao para os cargos emconcurso, consoante as regras estabelecidas no Capitulo V do Edital do certame emcomento - "DAS INSCRI<;6ES PARA CANDIDATOS PORTADORES DE DEFICIENCIA", restando

muito claro 0 seu item 3 ao estabelecer que: ~

"3. Consideram-se pessoas portadoras de deficiencia aquelas que se n t d' a~nas cat=go~ias discriminadas no artigo 4° do Decreto Federal n° 3.29 9Je suasaltera~oes . ' .

Vale dizer que 0 mencionado decreto regulamenta a Lei nO7.853, de 24 deoutubro de 1989, que dispoe sobre a Polftica Nacional para a Integra9ao da PessoaPortadora de Deficiencia, sendo certo que 0 seu artigo 4°, reproduzido alhures, nao deixaduvidas de que a deficiencia auditiva, para os efeitos da prote9ao legal, e aquela quedecorre da perda auditiva bilateral.

Logo, tem-se que ao proceder sua inscri9ao para 0 concurso, tencionandouma das vagas destinadas a portadores de deficiencia, estava ciente 0 impetrante de quenao preenchia os requisitos da norma aplicavel a especie. Se fosse possivel reconhecereventual direito seu a ser nomeado ao arrepio das disposi90es do art. 4° do Decreto3.298/1999 (frise-se que nao e 0 caso), isso certamente configuraria patente injusti9a emrela9ao a outros portadores de surdez unilateral que deixaram de se inscrever para 0

concurso, atentos as referidas disposi90es.

Demais disso, levando-se em considera9ao que as fun90es do Executantede Mandados compreendem, em sua maior parte, 0 desempenho de atividades externas,por determina9ao judicial, isso acaba tornando maior 0 numero de deficienciasincompatfveis com 0 exercfcio dessas fun90es e, consequentemente, resultando emnumero expressivamente menor de candidatos deficientes que disputam esse cargo.

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Assim, s~ admitida como valida a condi<1aodo impetrante a esse pleito, deixando excluidassitua<1oes similares a dele, ser-Ihe-ia assegurado status ainda mais privilegiado nestecertame.

Nao e favoravel a argumenta<1ao do impetrante de que teria observadotodos os requisitos exigidos para sua inscri<1aocomo portador de deficiencia. No ato de suainscri<1ao,de fato, incumbe ao candidato, conforme 0 seu caso, indicar a deficiencia que 0

acomete, oferecendo laudo medico para atesta-Ia, estando previsto, contudo, que a efetivadeficiencia seria constatada oficialmente em momento oportuno, providencia que serealizou no caso, cuja conclusao contraria a seus interesses, deu azo a presenteimpetra<1ao.

Neste aspecto, registre-se, por relevante, 0 que determina 0 item 10 doreferido Capitulo: verbis:

"J O. 0 candidato pOl'tador de deficiencia aprovado no Concurso, quandoconvocado, devera, munido de documento de identidade original, submeter-se aavaliar;iio a ser realizada pela Junta Medica Oficial do Tribunal Regional doTrabalho da 2n Regiiio ou por eles credenciada, objetivando verificar se adeficiencia se enquadra na previsiio do artigo 4° e seus incisos do DecretoFederal nO3.298/99 e suas alterar;oes, assim como se ha compatibilidade ou niioda deficiencia com as atribuir;oes da Categoria Funcional/Area/Especialidade aser ocupado, nos term os dos artigos 37 e 43 da refer ida norma, observadas as

::g:in~:::IS:::~::~o do Iisto de defidentes 0 condidoto cu101 e},cienciassinalada, na Ficha de Inscrir;iio, niio se jizer constatada na formido artigo 4° eseus incisos do Decreto Federal n° 3.298/99 e suas alterar;oes, devendo 0 mesmopermanecer apenas na lista de classificar;iio geral. "

Por outro lado, nao ha como prevalecer a alega<1aode que a alterac;aotrazida pelo Decreto n° 5.296/2004 ao Decreto n° 3.298/99 gerou tratamento desigual entrepessoas portadoras de deficiencia, por estabelecer, como deficiencia auditiva para osefeitos de beneficios legais, somente a perda bilateral, parcial ou total, sendo que tambema perda unilateral total e uma anomalia que resulta em uma serie de consequencias eIimita<1oesao seu portador.

Sao imaginaveis as agruras pelas quais passa 0 portador de surdezunilateral. Nao se esta negando a existencia de uma deficiencia. Todavia, nao foi essa ahip6tese que a lei almejou proteger. Por outras palavras, esse problema nao Ihe assegurao direito de tratamento legal diferenciado pelo atual sistema juridico vigente. Ao reves doque tenta convencer 0 impetrante, tratamento desigual estar-se-ia perpetrando ao secolocar num mesmo patamar a surdez unilateral e a surdez bilateral.

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Necessario se faz verificar se ha justificativa racional, isto e, fundamentologico, para se conferir 0 especifico tratamento juridico construido em func;ao dedesigualdade evidente, a situac;6es outras nao previstas.

o principio democratico da igualdade, insculpido no art. 5° da Constituic;aoFederal, nao pode servir de amparo as reivindicac;6es tendentes a igualar situac;6esevidentemente desiguais. 0 objetivo da lei ao conferir maior protec;ao juridica adeterminada situac;ao e compensar aquele que suporta um tipo de limitac;ao fisica oupsiquica, que inegavelmente traga uma reduc;ao efetiva e acentuada da capacidade deintegrac;ao social.

E verdadeiro que, para efeito de reserva de vagas, nao se pode exigir quea deficiencia seja tao acentuada que implique impossibilidade de exercer as func;6es docargo postulado. No entanto, e igualmente verdade que a deficiencia que da causa abeneficio legal deva estar definida em parametros legais especificos, sob pena, comosatientou 0 D. Ministerio Publico, de "banaliza<;ao da protec;ao constitucional".

Nao favorece ao impetrante a conceituac;ao de deficiencia trazida no incisoI do art. 3° do Decreto 3.298/1999 ("deficiencia - toda perda ou anormalidade de uma estruturaou fum;iio psicologica, fisiologica ou anatomica que gere incapacidade para 0 desempenho deatividade, dentro do padriio considerado normal para 0 ser humano. "), eis que, alem degenerica, seu teor reporta ao conceito de incapacidade e, portanto, deve ser interpretadoconjugadamente com 0 inciso III do mesmo artigo, 0 qual faz menc;ao expressa anecessidade de equipamentos, adaptac;6es, meios ou recursos especiais para que apessoa portadora de deficiencia possa receber ou transmitir informac;6es necessarias aoseu bem-estar pessoal e ao desempenho de func;ao ou atividade a ser exercidq, 0 que naose ve no caso do impetrante. ( ,

Pelo que, deve prevalecer, porquanto especifica e coerente \d amboscitados incisos, a atual redac;ao do seu art. 4°, II, quanto a conceituac;ao de d ficiencia \

J

auditiva que possibilita a pessoa portadora justificavel protec;ao legal diferenciada.

Tambem por essa razao nao se revela proveitoso 0 argumento, fundadona interpretac;ao da Convenc;ao sobre os Direitos das Pessoas com Deficiencia, de que 0

portador de surdez unilateral, permanente e irreversivel faz jus a reserva de vagas. Issoporque a abrangente definic;ao trazida no art. 1° da anted ita Convenc;ao, assim como ostermos do inciso VIII do art. 37, CF/88, prescindem de maior detalhamento tecnico que seencontra em normas infraconstitucionais.

Considere-se, ademais, que se ha projeto de lei em tramite no Senadopelo qual, segundo 0 impetrante, incluira reserva de vagas aos portadores de surdezunilateral total, de se concluir que, atualmente, essa pretensao nao encontra respaldo legal.

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Como ja asseverado antes, nao vejo nenhuma inconstitucionalidade, naredagao 'atual do inciso II do art. 4° do Decreto 3.298/1999, pelo Decreto nO 5.296/2004.Alias, tambem 0 CONADE - Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora deDeficiElncia, 6rgao superior de deliberagao colegiada, ligado ao Ministerio da Justiga, que eformado por representantes do governo e da sociedade, criado para acompanhar e avaliaro desenvolvimento de uma polftica nacional para inclusao da pessoa com deficiencia,caracteriza a deficiencia auditiva bilateral como aquela merecedora de protegao juridica, ateor do que disp6e sua Resolugao nO17, de 08 de outubro de 2003.

No mesmo sentido trilhado segue 0 Parecer da D. Representante doMinisterio Publico do Trabalho, cujas lucidas e judiciosas ponderag6es, que endosso,merecem ser reproduzidas, verbis:

"Niio se esta aqui se fazendo uma interpretac;iio literal da lei, ao contrario,esta-se buscando qual 0 interesse que a norma constitucional visou proteger, aodefinir uma reserva de vagas aos por/adores de deficiencia.

Nos parece que 0 cunho dessa disposiC;iio e criar uma 'desigualdade'juridica, estabelecendo uma vantagem as pessoas portadoras de deficiencia, paracompensar e equilibrar uma 'desvantagem 'jatica que sofrem essas pessoas.

E certo que pessoas nessas condic;oes enfrentam maiores dificuldades paraa aquisic;iio de qualificac;iio e colocac;iio no mercado de trabalho. POI' isso,importante e manter a protec;iio constitucional as pessoas que, de fato, enfrentamessas dificuldades, evitando-se a banalizac;ao da protec;iio constitucional. E, paratanto, e preciso ficarmos adstritos aos criterios existentes no ordenamentojuridico patrio, que, atualmente, se traduzem no Decreto nO3.298/1999.

Se acaso tais criterios vierem a ser modificados pelo Projeto de Lei doSenado nO382/2003, isso apenas demonstra que 0 legislador infraconstitucional,a quem a propria Constituic;iio concedeu 0 poder de delimitar os termos em queseria exercida a protec;iio a pessoas portadoras de deficiencia, mudou 0 seuentendimento sobre 0 assunto.

Nao impressiona 0 argumento de que a surdez unilateral seria consideradadeficiencia, nos term os do artigo 10 da Convenc;iio sobre Direitos da Pessoa comDeficiencia, que fala em pessoas que tem dificuldade de participac;iio plena eefetiva na sociedade, pois a tal definic;iio tambem faltam criterios objetivos parasaber quais pessoas alc;anc;a.

Niio demonstrou 0 impetrante que possui dire ito liquido e certo a nomeac;iioe posse na vaga pretendida em desacordo com as disposic;oes do edital deabertura das inscric;oes de concurso publico. Pela denegac;iio da seguran ." (fls.78/79)

Acrescente-se, ainda, que casos similares tambem ja foram d i idosconsoante 0 entendimento ora expresso, como se ve das ementas a seguir transcrita :

"CONCURSO PUBLICO. INSCRJ(;AO DE CANDIDATO PARA VAGASRESERVADAS A PORTADORES DE DEFICIENCIA. LAUDO MEDICOOFICIAL. SURDEZ UNILATERAL. DEFICIENCIA QUE NAO IMPEDE

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PROCESSO TRT/SP PLENO N° 80712.2009.000.02.00-0 fl. 8

EXERCiciO DE ATRIBUJ(;6ES NORJvJAIS. PRINCiPIO DA ISONOi\lJIA.A merainscrir;iio em concurso publico na qualidade de dejiciente fisico niio gera, pOl' si,dire ito a nomear;iio nessa condir;ao, sob pena de malferimento ao principio daisonomia. No ato de inscrir;ao, incumbe ao candidato, conforme 0 seu caso,indicar a dejiciencia da qual acometido, oferecendo laudo medico para atesta-Ia,estando previsto, contudo, que a efetiva dejiciencia seria constatada ojicialmenteem momento oportuno. 0 Edital 04/2006 do Tribunal Regional Federal da 4{/Regiiio, quando trata das inscrir;i5es para portadores de dejiciencia, consigna quesao pessoas portadoras de dejiciencia aquelas que se enquadram nas categoriasdiscriminadas no art. 4° do Decreto Federal n° 3.298/99 e suas alterar;i5es. 0Decreto Federal n. ° 3.298/1999, com as alterar;i5es introduzidas pelo Decreto n. °5.296/2004, diz, em seu artigo 4° e inciso 11, que e considerada pessoa portadorade dejiciencia, no que tange a dejiciencia auditiva, quem possui perda bilateral,parcial ou total, de quarenta e um decibeis (dB) ou mais, aferida pOI' audiogramanasfreqiiencias de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz. Ou seja, 0 ato apontadocomo coator niio desbordou da legislar;iio de regencia do tema e da qual estavaciente 0 candidato quando da sua inscrir;ao no concurso, po is, nao se enquadracomo dejiciente auditivo, jiI que a perda auditiva comprovada, ainda que total, eunilateral, atingindo somente um dos ouvidos n. (TRF sa R. - MS2008.04.00.017299-5/RS - ReI. Vilson Daros - DE 12.09.2008 - Orgao Julgador:Corte Especial)

"ADMINISTRATIVO PORTADOR DE DEFICIENCIA. VAGA RESERVADA.DIREITO LiQUIDO E CERTO Se a surdez da candidata fhe permitedesempenhar as atividades de tecnico judiciario dentro "do padrao tido comonormal", nos termos do Decreto n° 3.298/99, nao apresentando, neste particular,nenhuma desvantagem em relar;iio as pessoas com audir;ao plena, nao Ihe assistedireito a vaga reservada na forma da Lei nO 7.853/89, devendo obedecer aclassificar;ao da lista gera/". (TRF 5fJ R. - MS 2002.04.01.047771-5/RS - ReI.Maria Lucia Luz Leiria - DE 11.05.2005 - Orgao Julgador: Corte Especial)

Como se ve, por qualquer angulo que se queira analisar a presentemedida constitucional, nao ha como acolhe-Ia, tendo em vista nao estar configurada aexistencia do direito Iiquido e certo que 0 impetrante alega possuir.

Pelo exposto, ACORDAM os Magistrados do Tribunal Pleno do TribunalRegional do Trabalho da Segunda Regiao em: denegar a seguranc;a vindicada na formada fundamentagao do voto da relatora. Custas pela impetrante, no importe de R$ 20,00,calculadas sobre 0 valor atribuido a causa, de R$ 1.000,00 (fl. 19).

}-/~\Relatora ANELlA LI CHUM

Desembargadora Federal do Trabalho

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