Manhã Cinzenta e o Cinema Libertário de Olney São Paulo

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/24/2019 Manh Cinzenta e o Cinema Libertrio de Olney So Paulo

    1/6

    197196

    Manh cinzentae o cinemalibertrio de Olney So Paulo

    Camila Albrecht Freitas1

    Discente do curso de Cinema e Audiovisual da U FPEL

    Resumo:Este artigo tem como objetivo disse rtar brevemente sobre a cinematograade Olney So Paulo, frisando o carter poltico e revolucionrio de seus lmes devidoao forte envolvimento com o Cinema Novo. Para isso, tem como principal objeto deestudo o mdia-metragem Manh Cinzentae seu impacto na poca ditatorial no Brasil.

    Palavras-chave: cinema novo, ditadura militar, censura

    Abstract:This articles goal is to briey discourse about Olney So Paulos cinemato-graphy, emphasizing its political and revolutionary character due to its large involve-ment with the New Cinema wave. For doing so, the main study object will be the movieManh Cinzentaand its impact during Brazils dictatorship age.

    Palavras-chave: new cinema, military dictatorship, censorship

    INTRODUO

    O presente artigo prope um maior conhecimento acerca do cine-

    ma poltico e subversivo de Olney So Paulo. Em Feira de Santana

    na Bahia, cidade no qual exerce atividades ligadas comunicao

    e s artes, o cineasta maldito do serto se envolve diretamente

    com o Cinema Novo, quando comea a compor a equipe de lma-

    gem de diretores tais como Alex Viany e Nelson Pereira dos Santos,

    tambm frequentadores da Cinemateca do MAM, no Rio de Janei-

    ro. Desenvolve, ento, um engajamento poltico intelectual onde,atravs de seus lmes e escritos, manifesta reexes de cunho so-

    cial, histrico e cultural acerca do momento no qual se encontrava

    o Brasil: perodo da Ditadura Militar de forte teor censrio.

    1 [email protected]

    Cenas de Manh Cinzenta (Olney So Paulo, 1969).

  • 7/24/2019 Manh Cinzenta e o Cinema Libertrio de Olney So Paulo

    2/6

    199198

    Atravs da obra Manh Cinzenta (1969), de carter documental

    e ccional, que se rma a ltima anlise proposta pelo artigo.

    Buscando clarear a memria de um perodo marcante na histo-

    riograa do Brasil, Olney So Paulo no mede esforos em repre-

    sentar um pas que vive uma tenso de forte aparato repressivo,

    privilegiando a discusso do engajamento poltico em sua narrati-

    va experimental. Porm, ao mesmo tempo em que traduz o caos

    vivenciado por militantes revolucionrios e artistas engajados ao

    verem suas obras sendo banidas do circuito, o faz de maneira sutil

    ao representar um pas imaginrio, no fazendo nenhuma refern-

    cia explcita ao Brasil. A obra aqui citada, apesar de possuir nar-

    rativa que tentava driblar a censura, acabou taxada de altamente

    subversiva pelo Servio de Censura de Diverses Pblicas, e seu

    diretor foi perseguido e preso.

    Portanto, conhecer a trajetria de Olney So Paulo fazer uma bus-

    ca signicativa, porm obscura, passagem de um grande cone do

    cinema brasileiro. Esse artigo, ento, nasce da vontade de ampliar a

    compreenso do escritor, ator e cineasta, visando reconhecimento

    e valorizao do seu papel artstico e intelectual na cultura como

    um todo, principalmente na cinematograa brasileira do sculo XX.

    A TRAJETRIA DE OLNEY SO PAULO

    Olney So Paulo nasceu em Riacho do Jacupe, cidade localizada

    no serto baiano. Aos 12 anos mudou-se para a cidade de Feira

    de Santana, tambm no estado da Bahia, com m de obter for-

    mao escolar e acabou se envolvendo com teatro, jornalismo e

    cinema. Anos depois, engajado na rea da comunicao e das ar-

    tes estabeleceu-se no Rio de Janeiro onde residiu at o m de sua

    vida. Fez parte de uma gerao artstica militante e atuou entre os

    anos de 1960 a 1970. Ainda bastante desconhecido apesar da

    contribuio fundamental que suas obras suscitaram cinemato-

    graa brasileira do sculo XX, p rincipalmente a partir de seu direto

    envolvimento com o Cinema Novo.

    Seu abarcamento no cinema se deu no ano de 1954, ao juntar-se a

    equipe do diretor, e tambm crtico de cinema, Alex Viany que l-

    mava o episdio brasileiro intitulado Ana, do lme produzido pela

    Alemanha Oriental A Rosa dos Ventos (Die Windrose, Alberto Ca-

    valcanti, Alex Viany, Gillo Pontecorvo, Joris Ivens, Sergei Gerasimov,

    Yannick Bellon, 1957), atuando ora como ajudante de set, ora como

    gurante em algumas cenas. Em 1956, com 19 anos, Olney viria a es-

    trear sua carreira como cineasta a partir deUm Crime na Rua(1955),

    seu primeiro curta-metragem lmado nas ruas de Feira de Santana.

    Do m dos anos 50 at meados dos anos 60, um movimento balan -

    ou as estruturas formais de como pensar e fazer lme no Brasil. Foi

    construdo um movimento no cinema que prezava, antes de tudo,

    pelo discurso poltico engajado e fazia questo de passar por cima da

    tcnica do prossional de cinema para dar voz ao intelectual militante.

    [...] Onde houver um cineasta disposto a lmar a verdade e

    a enfrentar os padres hipcritas e policialescos da censura

    intelectual, a haver um germe vivo do Cinema Novo. Onde

    houver um cineasta disposto a enfrentar o comercialismo, a

    explorao, a pornograa, o tecnicismo, a haver um germe

    do Cinema Novo. Onde houver um cineasta de qualquer

    idade ou de qualquer procedncia, pronto a pr seu cinema e

    sua prosso a servio das causas importantes de seu tempo,

    a haver um germe do Cinema Novo. (ROCHA, 1965)2

    Dessa forma, surge o Cinema Novo, onde cineastas com uma c-

    mera na mo e uma ideia na cabea buscavam uma ruptura dos

    padres j datados de produzir cinema, se propondo a realizar l-

    mes autorais que pensassem a realidade brasileira, fazendo com

    que a escassez dos recursos tcnicos se transformasse em pode-

    rosa ferramenta expressiva, onde a esttica suja assumida entrasse

    em sintonia com o momento poltico da poca. As reexes e pre-

    ocupaes presentes nos lmes do Cinema Novo traduziram-se

    na tese-manifesto escrita por Glauber Rocha: Esttica da Fome

    (ou Eztetyka da Fome, como grafado pelo prprio Glauber), onde

    denia os principais compromissos para construo de um cinema

    2 Manifesto: A Esttica da Fome, de Glauber Rocha. Disponvelem < http://goo.gl/5Go8x6 >, acesso em 31/10/2015.

  • 7/24/2019 Manh Cinzenta e o Cinema Libertrio de Olney So Paulo

    3/6

    201200

    revolucionrio em sua forma e contedo. Dentro da lista de lmes

    cinemanovistas se encontra Vidas Secas(Nelson Pereira dos San-

    tos, 1963) como precursor do movimento. H ainda ttulos como

    Deus e o diabo na terra do sol(Glauber Rocha, 1964),A Falecida

    (Leon Hirszman, 1965), O Desafo(Paulo Csar Saraceni, 1965).

    Nesse contexto, Olney une-se a Nelson Pereira dos Santos, onde

    participa das gravaes de Mandacaru Vermelho (1961), rodado

    em Feira de Santana e Juazeiro, na Bahia, no qual atua como as-

    sistente de direo e produo, continusta no set de lmagem,

    alm de compor o elenco. A experincia com Mandacaru Vermelho

    marca a integrao de Olney So Paulo ao grupo dos pioneiros do

    movimento Cinema Novo.

    Realizou seu primeiro longa-metragem, intitulado O Grito da Terra

    (1964), onde aborda a realidade do nordeste brasileiro. Foi produ-

    zido com pouqussimos recursos, como caracterstica j citada do

    movimento. Por exemplo, os cenrios foram arranjados a par tir da

    colaborao dos comerciantes de Feira de Santana que empresta-

    ram os objetos de arte. E os gurinos foram emprestados dos pr-

    prios atores ou amigos. O lme acaba sofrendo cortes da Censura

    Federal, j que fazia meno ao Luiz Carlos Prestes (personicado

    na gura do Cavaleiro da Esperana), membro do Partido Comu-

    nista Brasileiro. Logo aps, produz os documentrios O profeta de

    Feira de Santa (1970), Cachoeira: documento da histria(1973) e

    Como nasce uma cidade(1973).

    A formao de cinema de Olney fortemente inuenciada pelo

    neorrealismo italiano e o cinema clssico americano, principal-

    mente o gnero western. Suas principais referncias se encontram

    em cineastas como Vittorio de Sica, Roberto Rosselini, Giuseppe

    de Santis e Pietro Germi.

    Mais tarde, Olney So Paulo cou conhecido como o cineasta

    maldito do serto entre amigos, crticos de cinema e jornalistas,

    principalmente pelo fato de seus lmes frequentemente aborda-

    rem temas arriscados e subversivos, em se tratando da formao

    poltico-cultural no qual passava o Brasil. Por exemplo, o lme Ma-

    nh Cinzenta (1969), alm do j citado O Grito da Terra, no pde

    ser exibido comercialmente por conta da proibio da censura.

    MANH CINZENTA: UMA OBRAPOLTICA E LIBERTRIA

    O momento da histria do Brasil onde o regime totalitrio alcan-ava o pice de seu aparato repressivo se caracteriza pelo pero-

    do que compreende, tambm, o lanamento do mdia-metragem

    Manh Cinzenta (1969). O lme de Olney So Paulo mostra, mes-

    mo que metaforicamente, os ditames e absurdos ocorridos no pe-

    rodo da ditadura militar brasileira e representativo no sentido

    em que marca a ruptura entre o sistema autoritrio imposto pelo

    regime militar e a postura inconformada dos produtores culturais

    da msica, do teatro, do cinema, da literatura e das artes plsticas,

    alm da militncia estudantil.

    Resumidamente, a histria do lme gira em torno de um casal de

    estudantes, que seguem em uma passeata, onde o rapaz militante

    o lder de um comcio. Alda e Slvio, o casal em questo, s o vti-

    mas de um processo surrealista, onde s o julgados como subversi-vos e opositores da OTB, que seria a Ordem Terceira da Borracha.

    Logo so presos e sofrem um inqurito dirigido por um crebro

    eletrnico robtico.

    Inuenciado pelo Cinema Novo, com pitadas do Cinema Marginal3,

    alm do neorrealismo italiano, Manh Cinzenta trata narrativamen-

    te de um pas imaginrio da Amrica Latina onde os estudantes

    manifestam-se a respeito do sistema em vigncia, que maltrata

    fsica e ideologicamente queles que vo contra seus ditames. Ex-

    perimental e inovador, o lme faz o uso de um rob, que interroga

    e prende os manifestantes, de forma a representar simbolicamente

    a fora da polcia militar e o poder de represso da poca. Entre-

    tanto, o lme no faz nenhuma referncia explcita ao Brasil, tendo

    3 Apesar de no ter se consolidado como um movimento, o Cinema Marginal,prprio dos anos 70 no Brasil, conhecido por s uas caractersticas marcantes, comocontestao dos costumes da poca e experimentao da linguagem cinematogrca.O advento da cmera super-8 foi determinante para o surgimento dessa vertente, j quetinha um baixo custo e praticidade de gravao e revelao dos lmes, sendo possvelproduzir mesmo sem recursos. Apesar de ter existido certa rivalidade entre o CinemaNovo e o Cinema Marginal, ambos possuem pontos que se relacionam no que se refereao baixo oramento e a noo de autor, embora o ltimo propusesse lmes carregadosde um maior radicalismo que alcanava, muitas vezes, o limite do discurso e da tcnica.

  • 7/24/2019 Manh Cinzenta e o Cinema Libertrio de Olney So Paulo

    4/6

    203202

    em vista sua narrativa que cria uma atmosfera imaginria de car-

    ter puramente ccional ou, ainda, uma stira de co cientca4.

    Por conta da diculdade de produzir cinema na poca, primeira-

    mente por uma necessria submisso do roteiro s autoridades

    que s aprovavam o que lhes cabia e, segundo, por falta de verba

    e apoio, Olney So Paulo decidiu mais uma deciso arriscada

    gravar as cenas do comcio na efervescncia de uma manifestao

    que acontecia por parte dos estudantes da UFRJ. Nas palavras de

    Maria dos Santos, em sua pesquisa sobre Olney So Paulo:

    [...] Olney So Paulo e sua equipe aproveitou para registrar

    aperformancedo ator Sonlio Costa, que de acordo com o

    roteiro liderava um comcio e seria preso por policiais. Assim

    estava escrito na co e foi o que realmente aconteceu,

    sendo a cena registrada pela cmera de Jos Carlos Avellar.

    [...] certo que Avellar e Olney So Paulo no foram presos,

    mas tiveram ainda que explicar polcia que se tratava de um

    lme, logo co. Aps dois dias a equipe conseguiu retirar

    Sonlio Costa, sob o argumento de que tudo no passava

    de uma manifestao encenada. (SANTOS, 2013, p. 93)

    O lme uma adaptao de um conto de mesmo nome, escrito

    pelo prprio diretor, que se encontra no livroA Antevspera e o

    Canto do Sol, que tinha como proposta inicial um projeto com-

    posto com trs lmes e trs histrias. Desse modo, alm de Ma-

    nh Cinzenta,dois episdios seriam acrescentados: um deles se-

    ria uma comdia de carter poltico, o outro um registro no estilo

    cinema-verdade. Porm, na poca, estava em pauta a tentativa de

    controlar o processo de produo de todo arquivo histrico que

    constitusse o Brasil, a partir da Diviso de Censura de DiversesPblicas (DCPD). Assim, a apreenso da pelcula de Manh Cin-

    zentafez com que o projeto fosse abandonado, visto as condies

    do diretor aps a obra, preso e torturado sob a Lei de Segurana

    4 Olney So Paulo, conforme depoimento ao Ministrio daAeronutica, apud Maria dos Santos, 2012, p. 7.

    Nacional. Por essas questes o lme foi mais bem valorizado in-

    ternacionalmente, onde teve participao no Festival de Cannes

    em 1970, alm de repercusso na Alemanha, Cuba, Polnia, Chile,

    Itlia e Inglaterra.

    Com a implantao do AI-5 (Ato Institucional n 5), em dezembro

    de 68, a censura ampliada a todos os meios de comunicao,

    sob pena de prises ou torturas. Predominantemente as obras

    com posio de esquerda poltica, so obrigadas a driblar a cen-

    sura para manter sua produo, j que todo e qualquer desvio era

    barrado pela DCPD . Assim, o lme em questo foi proibido no

    Brasil e suas cpias conscadas juntamente com os negativos, no

    ano de 1969. No entanto, uma delas permaneceu escondida no

    MAM Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

    Dessa forma, fez-se necessrio o uso de metforas e alegorias, evi-

    dentes em Manh Cinzenta, alm de adaptaes literrias ou relei-

    turas de personagenshistricosde forma a substituir o discurso

    direto ou as afrontas explcitas dos artistas indignados da poca.

    So caracterizadores desse perodo os lmes Macunama(1969)

    de Joaquim Pedro de Andrade;Azyllo Muito Louco(1971) e Como

    era gostoso meu francs(1972) de Nelson Pereira dos Santos; So

    Bernardo(1972) de Leon Hirszman.

    O enredo de Manh Cinzenta remonta a um misto de realidade e

    co potico-simblicacom m estratgico, por conta da prpria

    censura, de representar de forma alegrica a situao do Brasil. Mas,

    alm disso, se percebe que o lme preocupa-se em fazer transbor-

    dar um sentimento libertrio de mudana, causando identicao

    aos manifestantes ativistas que tivessem contato com a obra. No

    contexto do lme, e de forma potica, se percebe isso evidente-

    mente quando, na priso, um padre e alguns estudantes decidem

    orar por Aurelina, a lder operria assassinada, e se ouve: Aurelina,no entendendo de ordens, tingiu de lils, a bandeira nacional!.

    Glauber Rocha via em Manh Cinzentauma obra de suma impor-

    tncia no contexto de resistncia ditadura. No livro Revoluo do

    Cinema Novo, ele destaca algumas palavras a respeito de Olney

    So Paulo e seu lmexploso:

  • 7/24/2019 Manh Cinzenta e o Cinema Libertrio de Olney So Paulo

    5/6

    205204

    Olney a Metfora de uma Alegorya. Retirante dos sertes

    para o litoral o cineasta foi perseguido, preso e torturado.

    A Embralme no o ajudou, transformando-o no smbolo

    do censurado e reprimido. Manh Cinzenta o grande

    lmexploso de 1967/8 e supera incontestavelmente os

    delrios pequeno-burgueses dos histricos udigrudistas.

    Montagem caleidoscpica desintegra signos da luta contra

    o Syztema - paneto brbaro e sosticado, revolucionrio

    a ponto de provocar priso, tortura e iniciativa mortal

    no corpo do Artysta. (ROCHA, 2004, p. 366)

    No ano de sua estreia, em 1969, o lme foi extremamente comentado

    nos crculos de intelectuais e artistas, transformando-se num cone

    contra a represso do perodo. Custou priso e processo a Olney So

    Paulo, aps o lme ser exibido durante o sequestro do avio Cara-

    velle Cruzeiro do Sul, que foi sequestrado pelo grupo MR-85, no qual

    um dos membros fazia parte da Federao Carioca de Cineclubes e

    tinha acesso a uma cpia do lme. Apesar de Olney no ter nenhuma

    ligao com o sequestro da aeronave, foi interrogado por membros

    do DOPS6, que aps ser liberado precisou ser internado com suspeita

    de pneumonia dupla. evidente que as complicaes na sade, alm

    dos tormentos, angstias e posteriores debilidades se deram, prin-

    cipalmente, pelas recorrentes procuras e perseguies dos militares.

    Com a proibio da censura, o lme Manh Cinzenta teve suas

    exibies realizadas s escondidas, para pessoas mais prximas,

    como amigos, tcnicos e artistas. Dessa forma, enquanto a censu-

    ra via o lme como um ato de subverso, para Olney seu lme era

    um canto desesperado ao amor e liberdade 7. Sobre outro vis,

    5 MR-8 ou Movimento Revolucionrio Oito de Outubro era uma organizao poltica deideologia comunista que participou da luta armada contra a Ditadura Militar Brasileira.

    6 DOPS ou Departamento de Ordem Poltica e Social era um rgo dogoverno brasileiro e, mais tarde, do Regime Militar que tratava de reorganizara polcia do Estado para investigar as aes dos movimentos estudantis edas organizaes clandestinas. Tinha a atribuio de censurar os meios decomunicao atravs da DCPD (Diviso de Censura e Diverses Pblicas).

    7 Trecho retirado de entrevista cedida por Olney So Paulo, nadata de 26/06/1969, ao jornal carioca ltima Hora.

    Angela Jos, estudiosa do baiano Olney So Paulo e seus lmes,

    nos descreve o que h de explicitamente subversivo e perigoso

    nas imagens de Manh Cinzenta:

    Nas cenas iniciais de Manh Cinzenta, temos a cidade

    do Rio de Janeiro com tomadas na Cinelndia, palco das

    manifestaes polticas, o Teatro Municipal, a avenida Rio

    Branco e a enseada do Botafogo. A sequncia inicial do lme,

    em que os atores esto numa sala de aula e Alda (Janete

    Chermont), descala, dana ao som de rock, foi lmada

    na antiga sala da Cinemateca, no terceiro andar do prdio

    do MAM, com a participao dos funcionrios da casa. Na

    cena, a msica mistura-se ao noticirio de prises, torturas

    e aos pronunciamentos polticos. Os estudantes, calados,

    acompanham o rock compassadamente com os ps e as

    mos, observam a companheira no seu ritmo frentico, at

    o momento em que barulho de uma metralhadora congela a

    cena em Alda e o balano interrompido. (JOS, 1999, p. 99)

    A fora de Manh Cinzentaest na forma de representar o Brasil,

    de maneira ousada, em um perodo histrico delicado. O lme tam-

    bm consegue trazer livremente debates acerca dos problemas de

    ensino, das atividades dos estudantes em prol de reformas polticas,

    da represso dos militares e da censura. Dessa forma, a resistncia

    ditadura est evidentemente atrelada ao conceito do lme, ainda

    que, de alguma forma, as imagens e os dilogos, de forma simb-

    lica clamam por mudana e explodem na esperana de um mundo

    novo. Tudo enriquecido com um exato tom de ironia, humor e met-

    foras captadas em um incrvel e esttico jogo de simbologias.

    BIBLIOGRAFIA

    Bernardet, Jean-Claude. Cineastas e imagens do

    povo. So Paulo: Editora Brasiliense, 1985.

    __ __ __ __. Cinema Brasileiro: propostas para uma

    histria. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

  • 7/24/2019 Manh Cinzenta e o Cinema Libertrio de Olney So Paulo

    6/6

    207206

    JOS, Angela. Olney So Paulo e a peleja do cinema

    sertanejo. Rio de Janeiro: Quarteto, 1999.

    PINTO, Leonor E. Souza. O cinema brasileiro face

    censura imposta pelo regime militar no Brasil

    1964/1988 . Disponvel em < http://goo.gl/WUgAKI >.

    ROCHA, Glauber. Revoluo do Cinema

    Novo. So Paulo: Cosac & Naify, 2004.

    SANTOS, Maria. Por uma ordem do (dis)curso em Manh

    Cinzenta: Uma leitura dos depoimentos de Olney So

    Paulo. Disponvel em < https://goo.gl/nU3tLM >.

    __ __ __ __. Olney So Paulo: Maldio e Esplendor em

    Manh Cinzenta. Disponvel em < http://goo.gl/UBw8TQ >.

    SO PAULO, Olney. A Antevspera e o Canto doSol Contos

    e Novelas. Rio de J aneiro: Jos lvaro Editor, 1969.