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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO COMARCA DE de SÃO PAULO Foro Regional XI - Pinheiros 1ª VARA CÍVEL Rua Jericó s/n, Sala A4/A5, Vila Madalena - CEP 05435-040, Fone: (11) 3815-0146, São Paulo-SP - E-mail: [email protected] 1011590-36.2014.8.26.0011 SENTENÇA Processo: 1011590-36.2014.8.26.0011 - Proce dime nto Ordinário Requerente: Maria Apar ec ida Pi sapia d e Alme ida Requerido: Sul Amé ri c a Companhia d e Seguro Saúd e Juiz(a) de Direito: Dr(a). R égi s Rodrigu es Bonvi c ino Vistos. Maria Apar ec ida Pi sapia d e Alme ida, qualificado(a), propôs ação cominatória contra Sul Amé ri c a Companhia d e Seguro Saúd e , igualmente qualificado(a). A autora é beneficiária do Seguro Saúde, produto 445, possuindo código de identificação 76384 0000 4701 0019. Insurge-se, através da presente demanda, contra os reajustes por mudança de faixa etária aplicados na mensalidade de seu seguro saúde. Juntou documentos. A tutela antecipada foi concedida, conforme despacho a fls. 45. Citada, a ré contestou a fls. 61/87, com documentos também. Houve réplica a fls. 140/148. É a sínt ese . D ec ido. A autora é beneficiária do Seguro Saúde, produto 445, possuindo código de identificação 76384 0000 4701 0019. Insurge-se, através da presente demanda, contra os reajustes por mudança de faixa etária aplicados na mensalidade de seu seguro saúde. A matéria é de fato e de direito e dispensa a produção de quaisquer outras provas. No mérito, a ação procede. Embora haja previsão de aumento em documento unilateralmente emitido pela ré, a previsão é abusiva e visa apenas burlar o Estatuto do Idoso ao fazê-la incidir ao segurado que completa 59 anos de idade. Estranha-se que a ré não tenha oferecido proposta de mudança da adaptação do contrato às regras vigentes a partir de 1999. Leia-se a jurisprudência: Plano de saúde. Aumento na mensalidade por mudança de faixa etária. Autora-apelada que completou 60 anos. Inadmissibilidade. Ilegalidade e abusividade no reajuste da mensalidade, em razão da idade do beneficiário com mais de 60 anos. Aplicação do Estatuto do Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 1011590-36.2014.8.26.0011 e o código BCC844. Este documento foi assinado digitalmente por REGIS RODRIGUES BONVICINO. fls. 153

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Cliente Périsson Andrade Advogados. Justiça considerou ilegal reajuste de plano de saúde por faixa etária.

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T RIBUN A L D E JUST I Ç A D O EST A D O D E SÃ O PA U L OCOMARCA DE de SÃO PAULOForo Regional XI - Pinheiros1ª VARA CÍVELRua Jericó s/n, Sala A4/A5, Vila Madalena - CEP 05435-040, Fone: (11) 3815-0146, São Paulo-SP - E-mail: [email protected]

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SENTENÇA

Processo: 1011590-36.2014.8.26.0011 - Procedimento O rdinárioRequerente: Maria Aparecida Pisapia de A lmeidaRequerido: Sul Amér ica Companhia de Seguro Saúde

Juiz(a) de Direito: Dr(a). Régis Rodrigues Bonvicino

Vistos.

Maria Aparecida Pisapia de A lmeida, qualificado(a), propôs ação cominatória contra Sul Amér ica Companhia de Seguro Saúde, igualmente qualificado(a).

A autora é beneficiária do Seguro Saúde, produto 445, possuindo código de identificação 76384 0000 4701 0019. Insurge-se, através da presente demanda, contra os reajustes por mudança de faixa etária aplicados na mensalidade de seu seguro saúde.

Juntou documentos.

A tutela antecipada foi concedida, conforme despacho a fls. 45.

Citada, a ré contestou a fls. 61/87, com documentos também.

Houve réplica a fls. 140/148.

É a síntese.

Decido.

A autora é beneficiária do Seguro Saúde, produto 445, possuindo código de identificação 76384 0000 4701 0019. Insurge-se, através da presente demanda, contra os reajustes por mudança de faixa etária aplicados na mensalidade de seu seguro saúde.

A matéria é de fato e de direito e dispensa a produção de quaisquer outras provas.

No mérito, a ação procede.

Embora haja previsão de aumento em documento unilateralmente emitido pela ré, a previsão é abusiva e visa apenas burlar o Estatuto do Idoso ao fazê-la incidir ao segurado que completa 59 anos de idade. Estranha-se que a ré não tenha oferecido proposta de mudança da adaptação do contrato às regras vigentes a partir de 1999. Leia-se a jurisprudência:

Plano de saúde. Aumento na mensalidade por mudança de faixa etária. Autora-apelada que completou 60 anos. Inadmissibilidade. Ilegalidade e abusividade no reajuste da mensalidade, em razão da idade do beneficiário com mais de 60 anos. Aplicação do Estatuto do

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T RIBUN A L D E JUST I Ç A D O EST A D O D E SÃ O PA U L OCOMARCA DE de SÃO PAULOForo Regional XI - Pinheiros1ª VARA CÍVELRua Jericó s/n, Sala A4/A5, Vila Madalena - CEP 05435-040, Fone: (11) 3815-0146, São Paulo-SP - E-mail: [email protected]

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Idoso , do CDC e da Lei 9.656 /98, sem ofensa ao ato jurídico perfeito. Inteligência da Súmula 91 do TJSP. Reajuste por faixa etária aplicado aos 59 anos do apelado, que tem o intuito de burlar o Estatuto do Idoso , pois, este seria o último reajuste por idade permitido. Abusividade dos reajustes reconhecida. Sentença mantida. Recurso improvido. (TJ-SP - Apelação APL 704264620098260576 SP 0070426-46.2009.8.26.0576 (TJ-SP) )

A requerida não traz critérios técnicos para justificar o aumento de mensalidade. Além disso, nos pactos de seguro saúde, o aumento da sinistralidade é álea contratual que deve ser suportada pela seguradora, sob pena de se desvirtuar a natureza e a finalidade dessa modalidade de contrato.

Os contratos não regulamentados, em tese, vigoram de acordo com suas cláusulas, todavia, aplicam-se a elas o Código de Defesa do Consumidor. E, no caso específico, o §3º, do art. 15, do Estatuto do Idoso, que veda discriminação pela idade nos planos de saúde. As mensalidades dos Planos de Saúde contratadas por jovens são mais caras justamente para compensar a dos idosos.

A cláusula em questão se mostra nula de pleno direito, pois, além de não ser clara, permite à requerida elevar a mensalidade de forma a impedir que os beneficiários acima de 59 anos consigam efetuar os pagamentos, expelindo-os de sua carteira, quando mais necessitam da assistência do seguro. Ora, o artigo 51, do CDC, do qual participei da formulação do anteprojeto de lei, estabelece que são nulas as cláusulas que estabeleçam obrigações iníquas e abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, o que é o caso da cláusula que ora declaro nula e que permitiu o aumento ilegal.

A postura da seguradora, bem como os argumentos de sua contestação, viola o disposto na Súmula 91 do Tribunal de Justiça de São Paulo. Confira-se:

Súmula 91: Ainda que a avença tenha sido firmada antes da sua vigência, é descabido, nos termos do disposto no art. 15, § 3º, do Estatuto do Idoso, o reajuste da mensalidade de plano de saúde por mudança de faixa etária.

Em 21 de agosto de 2003, o Supremo Tribunal Federal, em liminar, afastou a regulação da ANS sobre os contratos antigos, permitindo que eles tivessem prêmios mensais reajustados segundo o determinado no contrato. Todavia, a cláusula de US, desses contratos antigos, é obscura, sem critério e informação que possa ser entendida pelo consumidor médio. Daí porque também rejeito qualquer hipótese de prescrição.

O ato do STF foi em vão, porque judicando a respeito de cláusula obscura, inexistente, do ponto de vista jurídico. Deste modo, o único critério que sobra é o critério do reajuste da ANS, que deve ser aplicado aos contratos antigos. Portanto, é de se compelir a requerida a aplicar como índice de reajuste apenas aqueles autorizados pela ANS para os contratos novos, pois, como já

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se disse, a US dos antigos consistia em cláusula obscura, ininteligível.

A Sul América, desde o ano de 2002, tem aplicado os índices estabelecidos pela ANS para os planos novos, publicados por meio de Resoluções Normativas. Inclusive, a Agência Nacional de Saúde Suplementar, em seu site na Internet, informa aos consumidores da requerida os índices de reajustes aplicados ao seguro contratado pelo requerente. Os referidos índices forma adotados aos contratos antigos por força de decisão judicial proferida nos autos da Ação Civil Pública nº 2004.073209-3, proposta pelo Ministério Público Estadual contra a Sul América, na qual foi determinado, liminarmente, que a companhia seguradora reajustasse seus contratos pelo índice máximo atinente aos contratos posteriores à Lei 9656/98. Até então, a operadora não possuía nenhum fundamento legal para amparar seus reajustes, baseando-se apenas nas cláusulas contratuais obscuras e declaradas nulas pelo Poder Judiciário.

O contrato de saúde tem finalidade precipuamente social, visando ao bem-estar físico dos contratados. Por outro lado, o artigo 197, da CF, afirma que ações de serviços de saúde são de relevância pública, cabendo ao Poder Público dispor sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. Deste modo, a cláusula do contrato assinado entre as partes é inconstitucional. Na verdade, o artigo 197 constitui-se uma supercláusula, que se encontra em todo e qualquer contrato de plano de saúde. As argumentações feitas pela ré estão todas no âmbito do Código Civil, hierarquicamente sujeito à Constituição Federal. Não se trata de apólice de bens móveis ou imóveis, mas de apólice relativa à vida humana e, em conseqüência, afirmo que as alegações da ré se revestem de tecnicalidades pouco jurídicas. É de transcrever a seguinte jurisprudência: “Não pode ser acolhido o argumento da ré de que recusou o tratamento por ser experimental e por não estar previsto contratualmente. Não é razoável a suspensão de tratamento indispensável, bem assim diante da vedação de restringir-se em contrato direito fundamentais e da regra de sobre-direito, contida no art. 5º da Lei de Introdução do Código Civil, segundo a qual, na aplicação da lei, o juiz deve atender aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”. Ora, seria excessivamente arbitrário interromper-se um tratamento por recusa administrativa em virtude de não estar prevista numa cláusula inconstitucional. Os contratos de saúde devem ser interpretados também com base no artigo 51, inciso IV, do CDC.

O art. 15 da Lei 9.656/98 somente autoriza os reajustes com base nas normas da ANS, sendo indevido o mencionado reajuste técnico, por inexistência de previsão legal.

Leia-se a seguinte ementa, da 7ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo:

“Ementa Plano de Saúde Aplicação da Lei 0.656/98 aos contratos celebrados anteriormente à sua vigência Contrato que se renova anual e automaticamente Nos contratos de trato sucessivo aplicam-se as disposições da novel legislação bem como o CDC Reajustes limitados aos percentuais definidos

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pela ANS Majoração da contribuição em razão de faixa etária Possibilidade Hipótese, no entanto, em que os beneficiários

participam do plano há mais de 10 (dez) anos Reajuste vedado pelo artigo 15, parágrafo único da Lei nº 9.656/98 Recurso improvido”.

Em suma, não cabe reajuste por faixa etária nos contratos anteriores à Lei 9656/98, em virtude da Resolução 61/1998 e do fato de a obrigação ser de trato sucessivo e de, igualmente, incidir o Estatuto do Idoso.

Ante o exposto, confirmando a tutela antecipada, JU L G O PR O C E D E N T E para declara nulo o reajuste por faixa etária e o reajuste por sinistralidade e suas cláusulas contratuais correspondentes, fixando-se o valor do prêmio em R$ 702,44, autorizando-se apenas a mudança do preço do prêmio de acordo com os reajustes anuais autorizados pela Agência Nacional de Saúde, bem como para condenar a ré a restituir aos autores as quantias cobradas a maior, tudo com base no art. 269, I, do Código de Processo Civil, e com base no artigo 51 e seus incisos, do CDC. Condeno a ré ao pagamento de custas, despesas processuais e honorários de advogado que fixo em 15% do valor da condenação. A correção monetária e os juros legais de 1% ao mês contam-se a partir do desembolso.

De acordo com a Lei de Protestos, os documentos que estampem dívidas podem ser protestados por serem considerados títulos executivos. Deste modo, a sentença judicial, que é título líquido, certo e exigível, pode ser levada a protesto tanto quanto os títulos extrajudiciais. Neste sentido, diga o(a) requerente/requerido(a) se deseja certidão para o protesto da sentença ou do contrato em cinco dias. No silêncio, remetam-se os autos ao arquivo, após o trânsito em julgado. Destaque-se que há orientação da Corregedoria Geral da Justiça, consubstanciada em parecer, aprovado pelo Corregedor Geral, reafirmando a legalidade de tal procedimento. O protesto da sentença poderá levar o executado a pagar o débito e, caso não o faça, poderá levá-lo a sofrer restrições de crédito de modo geral, possibilitando inclusive o pedido de falência de sua empresa, se for o caso. A certidão só pode ser expedida após o trânsito em julgado da sentença.

A egrégia 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná já teve a oportunidade de se manifestar pormenorizadamente sobre a tema:

“PROTESTO DE TÍTULO JUDICIAL SENTENÇA CONDENATÓRIA TRANSITADA EM JULGADO VIABILIDADE INTERPRETAÇÃO DO ARTIGO 1º DA LEI 9.492/97. A sentença judicial condenatória, de valor determinado e transitada em julgada, pode ser objeto de protesto, ainda que em execução, gerando o efeito de publicidade específica, não alcançado por aquela.

P.R .I .C . São Paulo, 25 de novembro de 2014.

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