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Material de apoio à disciplina de Português - 12.º ano

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Material de apoio à disciplina de Português - 12.º ano

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Resumos de Português 12.º Ano

Acronicalitos 1

Fernando Pessoa Ortónimo

Vertente Modernista – abrange vários “-ismos” de vanguarda, em poemas de grande

liberdade formal e desarticulação sintáctica; vocabulário raro.

Vertente Tradicional – poemas breves, rimados, de verso curto (2 a 7 sílabas;

predomínio da métrica tradicional) e estrutura formal fixa (quadras ou quintilhas), com

linguagem e sintaxe simples.

Sinceridade/ Fingimento Poético

Para Pessoa ortónimo, a poesia é um acto de fingimento. O poeta parte da realidade,

mas distancia-se dela graças à dialéctica entre a razão (pensar) e sensibilidade (sentir), para

elaborar intelectualmente a obra de arte. Assim, o poema apenas pode comunicar um

sentimento fingido, pois a dor real (sentida) continua no sujeito que, por meio da escrita, tenta

uma representação mental.

Deste modo, “Fingir é conhecer-se”

E a emoção do leitor? “Sinta quem lê.” O leitor não é capaz de sentir as emoções do

poeta (nem a vivida nem a imaginada); a emoção que o poeta exprime artisticamente é um

estímulo que provoca no leitor novos estados de alma.

O mundo real é apenas um reflexo de um mundo ideal. Só o poeta pode contemplar

essa coisa encoberta pelo “terraço” da vida, porque é capaz de libertar-se de um mundo que o

prende e escrever usando só a imaginação em busca daquilo que é (saber existir) e seguro do

que não é. A tarefa do poeta é essa viagem imaginária (logo, no pensamento), esse pressentir

da essência das coisas. Só a arte permite aprender a sentir melhor, sabendo o que se sente e

sentindo de forma mais intensa. O poeta é, afinal, um simulador que pretende, através da

criação poética.

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Resumos de Português 12.º Ano

Acronicalitos 2

Ruptura e Continuidade

O Pessoa ortónimo escreveu poemas da lírica simples e tradicional, muitas vezes

marcada pelo desencanto e melancolia; fez um aproveitamento cuidado de impressionismo e

do simbolismo, abrindo caminho ao modernismo, onde põe em destaque o vago, a subtileza e

a complexidade.

A Dor de Pensar

Fernando Pessoa sente-se condenado a ser lúcido, a ter de pensar. Gostava, muitas

vezes, de ter a inconsciência das coisas ou de seres comuns que agem como uma pobre

ceifeira. (“O que em mim sente ‘stá pensando.”).

O ortónimo é obcecado pelo pensamento. Contudo, o pensamento está na origem de

ser incapaz de sentir intuitivamente, como quem descobre o mundo sem preconceitos.

Impedido de ser feliz, devido à lucidez, procura a realização do paradoxo de ter uma

consciência inconsciente. Mas ao pensar sobre o pensamento, percebe o vazio que não

permite conciliar a consciência e a inconsciência.

Nostalgia da Infância

Em Fernando Pessoa ortónimo, a infância é entendida como um tempo mítico do bem,

da felicidade e da inconsciência. Nela permanecem sempre vivos a família e os lugares, a

segurança e o aconchego, entretanto perdidos pelo sujeito poético. A inconsciência de que

todo esse bem é irrecuperável, fá-lo sentir-se obsessivamente nostálgico da infância, um tempo

perdido que serve sobretudo para acentuar a negatividade do presente. O profundo

desencanto e a angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e da passagem dos

dias. Ao mesmo tempo que gostava de ter a infância das crianças que brincam, sente a

saudade de uma ternura que lhe passou ao lado.

Frequentemente, para Pessoa, o passado é um sonho inútil, pois nada se concretizou,

antes se traduziu numa desilusão.

Fragmentação do “eu”

O sujeito poético assume-se como uma espécie de palco por onde desfilam diversas

personagens, distintas e contraditórias. Incapaz de se manter dentro dos limites de si próprio, o

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Resumos de Português 12.º Ano

Acronicalitos 3

sujeito poético procura observar o seu “eu”, ou seja, conhecer-se a si próprio, o que leva à

fragmentação e à consciência de que é capaz de viver apenas o presente.

Questiona a sinceridade das emoções escritas nos seus textos, porque não sente hoje

da mesma forma que sentiu no passado, pois as emoções, ao serem escritas e lidas, são

intelectualizadas (“não sei quantas almas tenho”).

Fernando Pessoa e Heterónimos

Alberto Caeiro

• Natureza (Bucolismo);

• Dambulismo (anda pelo espaço da Natureza);

• Poeta da simplicidade;

• Escrita simples; privilegia o uso da comparação, a metáfora e do polissíndeto

(repetição do “e”);

• Poeta anti-metafísico (recusa o pensamento);

• Interpreta o mundo a partir dos sentidos;

• Interessa-lhe a realidade imediata e o real objectivo que as sensações lhe oferecem;

• Uso do verso branco (sem rima), do versilibrismo (estrutura métrica irregular) e da

estrutura estrófica livre.

Fernando Pessoa

Ortónimo (“ele próprio”)

Heterónimos: - Alberto Caeiro; - Ricardo Reis; - Álvaro de Campos

Mensagem (1934) Poesia do cancioneiro

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Resumos de Português 12.º Ano

Acronicalitos 4

Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “Guardador de Rebanhos”, que só se

importa em ver de forma objectiva e natural a realidade com a qual contacta a todo o momento.

Poeta do olhar, procura ver as coisas como elas são, sem lhes atribuir significados ou

sentimentos humanos. Considera que “pensar é estar doente dos olhos”, pois as coisas sãol

como são. Recusa po pensamento metafísico, afirmando que “pensar é não compreender”.

Caeiro constrói uma poesia das sensações, apreciando-as como boas por serem

naturais. Para este heterónimo, o penasamento apenas falsifica o que os sentidos captam. É

um sensacionista, que vive aderindo espontaneamente às coisas, tais como são, e procura

gozá-las com despreocupada e alegre sensualidade.

Ricardo Reis

• Contemplativo (observa);

• Racional (conclui resignando-se);

• Clássico:

� equilibrio

� linguagem

� forma

• Horaciano

� “aurea mediocritas”

� “carpe diem”

� ode

• Pagão

� Crença nos deuses/Fado (destino)

� crença na presença divina das coisas

• Estoico-epicurista

� Estoicismo

o supremacia nos Deuses e no Fado

o aceitação voluntária das leis do universo (ilusão de liberdade)

o ideal de apatia (indeferença)

� Epicurismo

o procura a felicidade moderada (= ausência de sofrimento)

o ideal de ataraxia (indiferença)

o “carpe diem”

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Resumos de Português 12.º Ano

Acronicalitos 5

Ricardo Reis é o poeta da serenidade epicurista, que aceita, com calma lucidez, a

relatividade e a fugacidade de todas as coisas.

A filosofia de vida de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer

do momento, o carpe diem, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos

instintos.

Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que

nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade, ou seja, a ataraxia. Sente que tem de

viver em conformidade com as leis do destino, indiferente à dor e ao desprazer, numa

verdadeira ilusão da felicidade.

Ricardo Reis recorre à ode e a uma ordenação estética marcadamente clássica.

Em Ricardo Reis há a apatia face ao mistério da vida mas também se encontra o

mundo das angústias que afecta Pessoa.

Álvaro de Campos

O mais moderno e multifacetado dos heterónimos. O filho indisciplinado da sensação.

Três fases poéticas:

• Decandentismo: o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações.

• Futurismo e Sensacionismo: exaltação da força, da violência, do excesso, da

civilização moderna e da máquina e de sentir tudo de todas as maneiras: “ode

triunfal”.

• Fase de Abulia: cansaço e tédio existencial em que o “eu” se fragmenta,

desenquadrado, incapaz de viver e sentir a vida e dominado pelo vício de

pensar, vê na infância o paraíso perdido: “Aniversário” e “Lisbon Revisited”.

Álvaro de Campos surge quando “sente um impulso para escrever”.

Para Campos, a sensação é tudo, O sensacionismo torna a sensação, a realidade da

vida e da base da arte. Álvaro de Campos é quem melhor procura a totalização das sensações,

mas sobretudo das percepções conforme as sente.

Em Campos, há a vontade de ultrapassar os limites das próprias sensações, numa

vertigem insaciável, que o leva a querer “ser toda a gente em toda a parte”.

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Resumos de Português 12.º Ano

Acronicalitos 6

Mas, passada a fase eufórica, o desassossego de Campos leva-o a revelar uma fase

disfórica, a ponto de desejar a própria destruição.

Depois de exaltar a beleza e da força da máquina por oposição à beleza

tradicionalmente concebida, a poesia de Campos revela um pessimismo agónico, a dissolução

do “eu”, a angústia existencial e uma nostalgia da infância irremediavelmente perdida.

Versos Ilustrativos

Alberto Caeiro

Antimetafísica (recusa do pensamento)

“Eu não tenho filosofia: tenho sentidos”

Valorização da Natureza

“Sou o Descobridor da Natureza”

Sensacionismo- visualismo

“ O meu olhar é nítido como um girassol”

Poeta da realidade imediata (presente)

“Não quero incluir o tempo no meu esquema”

Deambulismo

“E ando pela mão das estações”

Panteísmo

“E ando pela mão das estações”

Ricardo Reis

Paganismo (crença nos deuses da mitologia e no Fado)

“Pagãos inocentes da decadência”

Estoicismo (aceitar voluntariamente as leis do Fado)

“Nós, imitando os Deuses/Tão pouco livres”

“Só esta liberdade nos concedem os deuses: subtermo-nos”

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Resumos de Português 12.º Ano

Acronicalitos 7

“Carpe Diem”

“Colhe/o dia porque és ele”

“a confiança mole/na hora fugitiva”

Ideal de ataraxia/apatia

“Mais vale saber passar silenciosamente”

“O desejo de indiferença”

Passagem do tempo/a morte

“Passamos como um rio”

“a vida/passa e não fica”

Álvaro de Campos

Futurismo/modernismo- apologia da civilização moderna

“Ser completo como uma máquina”

Sensacionismo

“Ah,não ser eu toda a gente em toda a parte!”

Nostalgia da Infância

“No tempo em que festejavam o dia dos meus anos”

Dor de Pensar

“Tirem-me daqui a metafísica”

“Não penses! Deixa o pensar na cabeça”

Inutilidade das sensações

“(...) nada sois que eu me sinta”

Frustração/negatividade/cansanço existencial

“Somam-se-me os dias/serei velho quando for”

“A única conclusão é morrer”

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Resumos de Português 12.º Ano

Acronicalitos 8

Os Lusíadas e Mensagem

Camões, n’ Os Lusíadas e Fernando Pessoa, na Mensagem, cantam, em perspectivas

diferentes, Portugal e a sua história, realçando a expansão marítima e o alargamento da fé.

Enquanto o primeiro celebra o apogeu e pressente a decadência do Império, o segundo retorna

às origens e às descobertas marítimas, mas situa-se na fase terminal do processo de

dissolução do mesmo império.

Enquanto Camões nos dá conta do heroísmo que permitiu a construção do império

português, Fernando Pessoa procura libertar a pátria de um passado que se desmoronou e

encontrar um novo heroísmo que exige grandeza de alma e capacidade de sonhar.

Classificação Literária

Obra épico – Lírica e simbólica Estrutura da Obra

Mensagem

• Portugal -» Mensagem (poemas produzidos de 1913 a 1914)

• Estrutura: 44 poemas – organizados em três partes que obedecem a uma

estrutura simbólica:

� I parte: Brasão: os fundadores do país -» nascimento da pátria (de

Ulisses ao início das Descobertas)

o Os Campos

o Os Castelos

o As Quinas

o A coroa

o O Timbre

- parte de um núcleo de acontecimentos históricos; - usa,por vezes, o tom sublime ou comovido da epopeia.

Transfigura matéria histórica em símbolos que fecundam o presente, inventando o futuro (mitos que são ideais a seguir): o assunto não são os eventos históricos, mas a essência de ser português.

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Resumos de Português 12.º Ano

Acronicalitos 9

� II parte: Mar Português: época aurea das Descobertas (o império

material) -» vida/realização do país

� III parte: O Encoberto: aponta para o presente de desistência (o império

desfez-se); prevê o Desejado que instaurará o Quinto Império (o

império civilizacional/cultural)-» morte/renascimento da nação

o Os Símbolos

o Os Avisos

o Os Tempos

Os Lusíadas

Estrutura Interna

• Proposição;

• Invocação;

• Dedicatória;

• Narração.

Estrutura Externa

• Forma Narrativa;

• Versos decessilábicos;

• Rimas com esquema abababcc (rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada

nos dois últimos);

• Estâncias- oitavas;

• Poema dividido em 10 cantos.

Planos

Plano da Viagem

A narração dos acontecimentos ocorridos durante a viagem realizada entre Lisboa e

Calecut

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Resumos de Português 12.º Ano

Acronicalitos 10

Plano da História de Portugal

Relato dos factos marcantes da História de Portugal

Plano da Mitologia

A mitologia permite e favorece a evolução da acção (os deuses assumem-se, uns

como adjuvantes, outros como aponentes dos Portugueses) e constitui, por isso, a intriga da

obra.

Plano do Poeta

Considerações e opiniões do autor expressos, nomeadamente, no início e no fim dos

cantos.

Proposição d’ Os Lusíadas – O Herói

Na “Proposição”, o poeta apresenta aqueles que serão os protagonistas da sua

epopeia, Assim, o herói inidividual d’ Os Lusíadas é Vasco da Gama, comandante da armada

que realiza a viagem de descoberta do caminho marítimo para a Índia. Contudo, Vasco da

Gama é paradigma de todo o povo português, já que Camões propõe elogiar todos os

navegadores, reis que dilataram a fé, conquistanto territórios em África e na Ásia e todos os

que imortalizaram, ficando na memória dos homens pelos seus feitos grandiosos. Também o

título aponta para esta colectividade: canta-se um herói colectivo, que é o povo português, o

qual se destacou peçp esforço e pela coragem que superaram todos os heróis da antiguidade.

Reflexões do Poeta

Nos planos narrativos desta Epopeia, encontramos um plano que se diz respeito às

chamadas considerações pessoais do poeta. Estas reflexões surgem ao longo da Narração,

normalmente no final de cada canto. Nestas estrofes, o poeta apresenta a sua perspectiva em

relação ao império português, que perdia o seu brilho e aos valores dominantes do país.

Por um lado, refere os “grandes e gravíssimos perigos”, a tormenta e dano do mar, a

guerra e o engano em terra; por outro lado, faz a apologia da expansão territorial para divulgar

a fé cristã, manifesta o seu patriotismo e exorta D. Sebastião a dar continuidade à obra

grandiosa do povo português.

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Resumos de Português 12.º Ano

Acronicalitos 11

Felizmente Há Luar!

Felizmente Há Luar! recria em dois actos a tentativa frustrada de revolta liberal de

Outubro de 1817, reprimida pelo poder absolutista do regime de Beresford e Miguel Forjaz,

com o apoio da igreja. Ao mesmo tempo, chama a atenção para as injustiças, a repressão e as

persiguições políticas no tempo de Salazar.

A acção de Felizmente Há Luar! centra-se na figura do General Gomes Freire de

Andrade e a sua execução, mostrando, ao mesmo tempo, a resignação do povo, dominado

pela miséria, pelo medo e pela ignorância. O protagonista é construído através da esperança

do povo, das perseguições dos governantes e da revolta impotente da sua mulher e dos seus

amigos. Amado por uns, é odiado pelos que temem perder o poder.

Dentro dos princípios do teatro épico, Felizmente Há Luar! é um drama narrativo que

analisa criticamente a sociedade, apresentando a realidade com o objectivo de levar o

espectador a tomar a posição. Com a denúncia do amibente político repressivo daquela época,

tenta provocar a reflexão sobre a opressão e a censura que se repete no século XX.

Características do modo dramático

1. Texto Principal: constituído pelas falas das personagens

� Diálogo

� Monólogo

� Aparte

2. Texto Secundário: é constituído pelas didascálias.

Estrutura da Obra

O texto organiza-se em dois actos (que não estão delimitados por cenas):

� Acto I- inclui acontecimentos que decorrem entre a tentativa de evitar

uma conspiração que se prepara e a identificação de seu líder e a sua

prisão.

� Acto II- inclui acontecimentos que decorrem entre a prisão do General

e a sua execução.

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Resumos de Português 12.º Ano

Acronicalitos 12

Texto Secundário

A peça é rica em indicações cénicas. Estas didascálias assumem duas funções

essenciais:

� Indicações em itálico, normalmente entre parenteses oferecem marcações típicas das

didascálias: tom de voz, movimentos cénicos das personagens, vestuário, efeitos de

som e luz, entre outros,

� Notas à margem do texto principal: estas didascálias constituem comentários do

dramaturgo que interpretam/explicam as falas e os comportamentos das personagens.

Paralelismo entre o Tempo da História (1817) e o Tempo da Escrita (1961)

O dramaturgo recupera acontecimentos históricos passados (revolta de 1817 que deu

início às lutas liberais em Portugal) para denunciar a situação social e política do seu próprio

tempo (a crise dos anos 60, durante a ditadura Salazarista, que culminará com o 25 de Abril e

o triunfo da Democracia). Sttau Monteiro pretende alertar os seus contemporâneos para a

ignorância, a miséria e a opressão, incentivando-os a lutarem por uma sociedade mais justa e

solidária que permita uma verdadeira realização do Homem. Felizmente Há Luar! é, por isso,

uma obra metafórica/alegórica.

Elementos Simbólicos

� Paralelismo de construção do início dos dois actos:

Os dois actos deste texto dramático começam exactamente da mesma forma, para

sugerir que, após a prisão do General, a situação do povo continua exactamente na

mesma, se não mesmo pior, pois com a prisão de Gomes Freire, o povo perde até a

esperança.

� O título: Felizmente Há Luar!

A expressão é primeiro usada por D. Miguel que, devido às execuções prolongadas, se

alegra por haver luar, de modo a concretizar o castigo que acredita que purificará a

sociedade e irá dissuadir outros conspiradores. As mesmas palavras, são depois

usadas por Matilde e servem de estímulo para que o povo se revolte contra a tirania

dos governantes; para Matilde os heróis amedrontam os poderosos mas tornam-se

uma espécie de luz para que outros, seguindo-lhes o exemplo, lutem pela liberdade. É

de notar que neste texto a escuridão nunca é total, porque pretende ensinar-se que há

sempre esperança.

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Resumos de Português 12.º Ano

Acronicalitos 13

Caracterização de Personagens

General Gomes Freire de Andrade

� Esperança do povo;

� Não aparece na peça, é só uma invocação;

� Soldado brilhante;

� Luta pela liberdade;

� Grão-mestre da Maçonaria Portuguesa;

� Lider carismático.

William Beresford

� Poderoso;

� Interesseiro;

� Calculista;

� Sarcástico e irracional;

� Representante do poder militar inglês em Portugal;

� Odiava Portugal;

� Pragmático;

� Protestante;

� Mau oficial.

D. Miguel Pereira Forjaz

� Quer condenar inocentes para evitar a revolução;

� Prepotente;

� Corrompido pelo poder;

� Vingativo;

� Visão estratégica do país;

� Não é popular;

� Representa a nobreza;

� Primo do General Gomes Freire.

Principal Sousa

� Fanático;

� Hipócrita;

� Não tem valores épicos;

� Representante do alto clero;

� Odeia os franceses;

� Não gosta de Beresford;

� Não gosta do povo devido à sua posição social.

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Resumos de Português 12.º Ano

Acronicalitos 14

Matilde

� Corajosa;

� Romântica:

� Inconstante (mudanças de humor);

� Contra a injustiça:

� Lutadora;

� Meia idade;

� Nasceu em Seia numa família pobre;

� Casada com o General;

� Personalidade forte;

� Mulher solitária.

Sousa Falcão

� Não foi capaz de denfender os seus ideais;

� Amigo de Gomes Freire;

� Tem como ideais “justiça” e “liberdade”;

� Está de luto pela execução do General e por ele próprio;

� Crítico (autocritica-se);

Manuel

� Denuncia a opressão;

� Papel de impotência do povo;

� O mais consciente dos populares;

� Casado com Rita;

� É pobre e vive miseravelmente;

� Crítico;

� Irónico.

Vicente

� Elemento do povo;

� Falso;

� Hipócrita;

� Interesseiro;

� Alpinista Social;

� Cúmplice do conselho de regência;

� Delactor:

� Pretende ser chefe de polícia;

� Revoltado por pertencer ao povo;

� Ambicioso;

� Traidor do povo.

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Resumos de Português 12.º Ano

Acronicalitos 15

Os Símbolos

Saia Verde

� A felicidade: a prenda compradas em Paris, com o dinheiro da venda de duas

medalhas do General.

� Ao escolher aquela saia para esperar o General, destaca a “alegria” do reencontro.

O Título/a luz/a noite/o luar

O título surge por duas vezes ao longo da peça:

� D. Miguel salienta o efeito dissuador que aquelas execuções poderão exercer sobre

todos os que discutem as ordens dos governadores.

� Na altura da execução, as últimas palavras de Matilde, são de coragem e de estímulo

para que o povo se revolte contra a tirania dos governantes.

A Luz está associada à vida, à saúde, à felicidade, enquanto a noite e as trevas se

associam ao mal, à infelicidade, ao castigo, à perdição e à morte.

A Lua, por estar privada de luz própria, na dependência do sol. A lua, é símbolo de

transformação e de crescimento.

A moeda de cinco réis

Símbolo de desrespeito (dos mais poderosos em relação aos mais desfavorecidos)

apresenta-se como represália, quase vingança, quando Manuel nada Rita dar a moeda a

Matilde.

Os Tambores

Símbolo da repressão, provocam o medo e prenunciam com ambiência trágica da

acção.

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Resumos de Português 12.º Ano

Acronicalitos 16

Memorial do Convento

Saramago, em Memorial do Convento, recorrea um momento da História e, em forma

de narração alegórica, propõe uma reflexão sobre esses acontecimentos, sobre o

comportamento e o destino humano e sobre um mundo onde há a magia do inexplicável.

Romance histórico, mas também social e de espaço, este romance articula o plano da

História, com o plano da ficção e o plano fantástico.

As vozes do narrador e das personagens proporcionam, constantemente, uma análise

crítica aos tempos representados e da enunciação, mas, sobretudo, um comentário e uma

crítica ao presente, por onde passa também a História, permitindo confrontar o ser e o tempo.

Título da Obra

Memorial do Convento aponta para o relato de acontecimentos históricos relacionados

com a construção de um convento (em Mafra), recorrendo à memória do autor, com o objectivo

de inscrever na memória colectiva um período da nossa História e os heróis que construiram

um monumento que marcou essa época.

A obra é classificada como um romance, onde se aliam os factos históricos, que podem

ser comprovados pela visão oficial da História, à ficção.

Acção/Estrutura

Memorial do Convento estrutura-se em 25 capítulos, não numerados, que se

organizam em vários planos narrativos: a promessa do rei mandar construir um convento em

Mafra, a construção desse convento concretizada pelo povo, a construção de uma máquina

voadora que realizará o sonho de um padre de voar e a história de amor entre um homem e

uma mulher.

Pode-se considerar que as duas acções principais são aquelas que giram em torno da

construção do convento de Mafra e da relação entre Baltasar e Blimunda; acrescenta-se ainda

a narrativa da construção da passarola que funciona como uma linha de acção secundária.

Estrutura Circular da Obra/Dimensão Simbólica

Memorial do Convento tem uma estrutura claramente circular. É num auto-de-fé, que

se realiza no Rossio, em Lisboa, que Blimunda encontra pela primeira vez Baltasar. No final da

narrativa repete o percurso que fizera 28 anos antes reencontrando Baltasar (quando passa

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Resumos de Português 12.º Ano

Acronicalitos 17

por Lisboa pela 7ª vez, após 9 anos de procura) de novo num auto-de-fé, no Rossio, no qual

Sete-Sóis morre queimado na fogueira da Inquisição.

Esta estrutura tem uma dimensão simbólica, ou seja, Blimunda encontra o seu homem

no momento em que perde a mãe e se torna autónoma. No final da narrativa, ao separar-se de

Blimunda, Baltasar fragmenta a unidade representada por este par; Blimunda procura-o

durante 9anos, numa demanda que se assemelha a um período de gestação, após a qual é

restabelecida a unidade deste par, quando Sete-Luas recolhe a vontade de Sete-Sóis, no

momento em que este morre porque a si e à terra pertence, parecendo iniciar outro ciclo de

vida.

O tema do amor

Em Memorial do Convento opõem-se dois tipos de amor: o amor contractual entre o rei

e a rainha e o amor verdadeiro entre Baltasar e Blimunda. A relação entre o casal real tem

como único objectivo dar um herdeiro à coroa, não existindo qualquer envolvimento afectivo

entre ambos o que acaba por gerar frustração (as infidelidades do rei e os sonhos da rainha

com o seu cunhado). Os encontros entre o casal real são cheios de protocolo, excesso de

roupa, de criados, num artificialismo que contraria um acto que deveria ser natural e

espontâneo.

Baltasar e Blimunda têm uma relação amorosa plena, cheia de carícias, jogos eróticos,

desinibições, transgredindo as regras sociais da época. Vivem um amor natural e institivo, onde

as palvras são desnecessárias e o amor parece eterno.

Categorias do Texto Narrativo

Acção

O rei D. João V, Baltasar e Blimunda e Bartolomeu Lourenço protagonizam o romance.

A acção principal é a construção do Convento de Mafra. Situando-se no século XVIII,

encontra-se um entrelaçamento de dados históricos, como o da promessa de D. João V de

construir um convento em Mafra e o do sofrimento do povo que nele trabalhou. Conhece-se a

situação económica e social do país, os autos-de-fé praticados pela Inquisição, o sonho e a

construção da passarola, as críticas ao comportamento do clero e os casamentos dos

príncipes.

Espaço

Os espaços físicos priveligiados pela acção são Lisboa e Mafra. Entre vários lugares da

capital ou dos arredores são referidos com frequência o Terreiro do Paço, o Rossio,

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Resumos de Português 12.º Ano

Acronicalitos 18

S.Sebastião da Pedreira, Odivelas e Azeitão. Nas referências a Mafra, encontramos a Vela,

onde se constrói o Convento, Pêro Pinheiro, Serra Monte Junto e outros locais.

O Alentejo surge como um espaço social importante, na medida em que permite

conhecer-se a miséria que então o povo passava.

Personagens

D. João V

É megalómano, infantil, devasso, libertino e ignorante, que não hesita em utilizar o

povo, o dinheiro e a posição social para satisfazer os seus caprichos.

Anda preocupado com a falta de descendente, apesar de possuir bastardos. Promete

levantar um Convento em Mafra se tiver filhos da rainha, com quem tem relações para

cumprimento do dever, em encontros frios e programados.

Baltasar Sete-Sóis

Baltasar Mateus é, com Blimunda, uma das personagens mais interessantes da obra.

Baltasar, depois de deixar o exército, por ficar maneta, chega a Lisboa como pedinte.

Conhece Blimunda, com quem partilhará a vida. Vai ainda partilhar do sonho do padre

Bartolomeu Lourenço, ajudando a construir a passarola e participando no seu primeiro voo.

Blimunda Sete-Luas

Filha de Sebastiana Maria de Jesus, que fora, pela Inquisição, condenada e

degredada, por ser cristã-nova. Com capacidades de vidente e possuidora de uma saberdoria

muito própria.

Blimunda é uma estranha vidente que vê no interior dos corpos os males que destroem

a vida e consegue recolher as “vontades” que permitirão o voo da passarola. Por amar Baltasar

recusa usar a magia para conhecer o sseu interior.

O poder de Blimunda permite ver o que está no mundo, as verdades mais profundas

que o sustentam.

Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão

O sonho da passarola e a sua realidade apresentam o padre Bartolomeu Lourenço

como um homem que só conseguirá evitar a Inquisição pela amizade que lhe tem o rei.

Ajudado por Baltasar e Blimunda, o padre Bartolomeu Lourenço construiu a sua obra.

Foi forçado a fugir à Inquisição por possível adesão ao judaísmo ou por se ter

envolvido num caso de bruxaria. Morreu em Toledo.

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Resumos de Português 12.º Ano

Acronicalitos 19

Povo

O povo trabalhador construiu o convento de Mafra, à custa de muitos sacrificios e

mesmo de algumas mortes. Definido pelo seu trabalho, pela sua miséria física e moral, pela

sua devoção, este povo humilde surge como verdadeiro obreiro da realização do sonho de D.

João V.

Clero

A hipocrisia e a violência do clero revela-se em rituais que em vez de elevarem o

espírito acentuam a degradação moral e corrupção religiosa (autos-de-fé, procissões da

Páscoa e procissão do Corpo de Deus).