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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA DAS EMPRESAS Prof. Sérgio Leal Caldas Mesbla s.a. RELATÓRIO DE ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA Marcus Quintella Agosto/95 1. OBJETIVO DA ANÁLISE O sobe e desce das bolsas de valores não é a única realidade de quem investe no mercado de ações. Para os investidores que estão visando o recebimento de dividendos, que pensam a longo prazo e fogem das blue chips, a segunda metade do primeiro semestre é o período para se começar a analisar os balanços de 1994, entregues até 30 de março último à Comissão de Valores Mobiliários, por todas as empresas abertas do país. Assim sendo, o presente relatório tem por objetivo analisar a situação econômico-financeira da Mesbla S.A., a partir de seus últimos balanços consolidados, já com os resultados de 1994, de forma a fornecer aos clientes de conceituada e tradicional corretora de valores um bom retrato da saúde financeira do grupo e da gestão comercial do negócio. Esta análise poderá servir como subsídio para a tomada de decisão de incluir ou não o grupo Mesbla numa carteira de investimentos, com boas chances de otimização do capital aplicado. 2. BREVE HISTÓRICO DO GRUPO A Mesbla S.A. é uma companhia aberta de capital privado e controle nacional. Foi fundada em 1912, como filial brasileira da Etablissements Mestre & Blatgé francesa, vendendo peças e acessórios para os automóveis que, na época, começavam a circular nas ruas do Rio de Janeiro. Em seguida, passou a vender também carros, máquinas e ferramentas em geral. Hoje, a Mesbla Divisão de Veículos é um dos três principais negócios do grupo. Em 1924, a filial francesa foi nacionalizada, transformando-se Sociedade Anônima Brasileira Estabelecimentos Mestre e Blatgé. Através de escritórios e filiais, expande-se rapidamente por todo território nacional. Foi uma das primeiras empresas a obter registro de capital aberto no Brasil. A partir de 1939, já com o nome de Mesbla, a empresa agregou nova atividade: a representação dos aviões Douglas. Foi apenas em 1952, dois anos após a chegada da Sears ao país, que a Mesbla abriu sua primeira loja de departamentos, no prédio da Rua do Passeio, no centro do Rio de Janeiro.

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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA DAS EMPRESAS Prof. Sérgio Leal Caldas

Mesbla s.a. RELATÓRIO DE ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA

Marcus Quintella

Agosto/95

1. OBJETIVO DA ANÁLISE O sobe e desce das bolsas de valores não é a única realidade de quem investe no mercado de ações. Para os investidores que estão visando o recebimento de dividendos, que pensam a longo prazo e fogem das blue chips, a segunda metade do primeiro semestre é o período para se começar a analisar os balanços de 1994, entregues até 30 de março último à Comissão de Valores Mobiliários, por todas as empresas abertas do país. Assim sendo, o presente relatório tem por objetivo analisar a situação econômico-financeira da Mesbla S.A., a partir de seus últimos balanços consolidados, já com os resultados de 1994, de forma a fornecer aos clientes de conceituada e tradicional corretora de valores um bom retrato da saúde financeira do grupo e da gestão comercial do negócio. Esta análise poderá servir como subsídio para a tomada de decisão de incluir ou não o grupo Mesbla numa carteira de investimentos, com boas chances de otimização do capital aplicado. 2. BREVE HISTÓRICO DO GRUPO A Mesbla S.A. é uma companhia aberta de capital privado e controle nacional. Foi fundada em 1912, como filial brasileira da Etablissements Mestre & Blatgé francesa, vendendo peças e acessórios para os automóveis que, na época, começavam a circular nas ruas do Rio de Janeiro. Em seguida, passou a vender também carros, máquinas e ferramentas em geral. Hoje, a Mesbla Divisão de Veículos é um dos três principais negócios do grupo. Em 1924, a filial francesa foi nacionalizada, transformando-se Sociedade Anônima Brasileira Estabelecimentos Mestre e Blatgé. Através de escritórios e filiais, expande-se rapidamente por todo território nacional. Foi uma das primeiras empresas a obter registro de capital aberto no Brasil. A partir de 1939, já com o nome de Mesbla, a empresa agregou nova atividade: a representação dos aviões Douglas. Foi apenas em 1952, dois anos após a chegada da Sears ao país, que a Mesbla abriu sua primeira loja de departamentos, no prédio da Rua do Passeio, no centro do Rio de Janeiro.

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A diversificação de atividades nas décadas de 60 e 70, tendo à frente Henrique La Saige de Botton, transformou a Mesbla em uma das maiores empresas do país. Em 1980, ela ocupava o primeiro lugar entre as Maiores e Melhores, da revista Exame, e detinha a liderança do comércio varejista não-alimentar do país. Os anos seguintes foram de muito crescimento e alguns sustos. Em 1982, a empresa obteve lucro de 1.400% no primeiro semestre, em relação a igual período de 81. Ao completar 70 anos, tinha 33 lojas de departamentos em todo o país. No ano seguinte, de Botton, anunciou, após boatos de que a empresa estaria em dificuldades, que a Mesbla vinha sendo preparada para de tornar um grande conglomerado na área de varejo”, desativando alguns setores. Os resultados do balanço eram bons: as vendas haviam aumentado 99,1%. Houve uma reformulação, com encerramento de alguns setores, restando 80 lojas distintas para os negócios com automóveis, motocicletas e magazines. A Mesbla Náutica, criada com esta nova filosofia de especialização, passou a dar retorno excepcional. Em 1985, nova reformulação pôs fim às seções de móveis e eletrodomésticos de grande porte. Um novo período de crescimento veio a seguir: em 1986, inaugurou mais 17 lojas (totalizando 180 filiais do grupo); comprou 20% do capital do Makro Atacadista Ltda.; quadruplicou exportações (US$ 52 milhões). No ano seguinte, a Mesbla inaugurou sua maior loja náutica na Barra, com 5 mil metros quadrados. Começou a investir na valorização de suas marcas: Mr.& Mrs. Baby, Folia, Bazooka, Daniel Hechter, Tucano e, especialmente, Alternativa, para jovens, com o patrocínio de shows de rock e atletas. O vestuário representava, então, 50% das vendas. No final de 88, foi inaugurada sua 50ª loja de departamentos, em São Paulo, numa tentativa de investir em um mercado pouco explorado. Em 1990, a Mesbla teve prejuízos de US$ 23 milhões, o primeiro de sua história. Para reverter o resultado, adotou medidas de austeridade e demitiu 10 mil funcionários. Em agosto de 91 divulgou seu balanço, com lucro de US$ 1,5 milhão. Fechou mais algumas lojas (Next, Folia, revenda de autopeças e duas de departamentos). Para superar as dificuldades, fez duas emissões de ações em 92. Em 23 de janeiro de 94 morreu, aos 86 anos, Henrique de Botton. Em setembro, a empresa registrou prejuízo de R$ 39,13 milhões nos primeiros seis meses, com as lojas de departamento sendo responsáveis pelo maior prejuízo: R$ 41,03 milhões. Logo em seguida, se desfez das ações do Makro e anunciou a venda de 13 das 15 lojas para barcos. Mesmo assim, em dezembro anunciou prejuízo de R$ 70,2 milhões. Hoje, a empresa tem em torno de 12.000 funcionários, 160 pontos de venda e um faturamento global, em 1994, de US$ 1,8 bilhões. 3. CARACTERÍSTICAS DO SETOR DE ATUAÇÃO No comércio não há restrições à entrada de novos participantes. Trata-se de um segmento de livre acesso para empresas pequenas ou grandes, nacionais ou estrangeiras. A inexistência de barreiras, estimula a concorrência gerando maior eficiência.

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Na linha de frente das mudanças da economia, o varejo passa agora por um novo desafio, no qual, em uma economia com maior grau de estabilidade, o setor intensificará esforços na segmentação do mercado e na automação tanto administrativa quanto das operações com fornecedores. Tal postura deve-se às alterações econômicas causadas pelo avanço tecnológico, que ao propiciar o surgimento de novos produtos a velocidades crescentes, demanda uma estrutura de comercialização de alta eficiência, o que é sentido principalmente em empresas varejistas com elevado grau de diversificação. O comércio apresenta-se como grande alternativa de fomento sócio-econômico, pois produz benefícios imediatos através dos seguintes e importantes fatores: - maior geração relativa de empregos do que na indústria de transformação (150 novos empregos por US$ 1 milhão de investimentos em média); - difusão de produtos manufaturados a nível nacional, acesso de novas camadas da população a esses produtos e abertura de novos mercados para o setor industrial; - disseminação de técnicas de comercialização mais eficientes e éticas, treinamento de recursos humanos e prática de menores preços; - geração e arrecadação de impostos. 4. PRODUTOS E SERVIÇOS OFERECIDOS O grupo Mesbla situa-se entre os maiores grupos privados nacionais com atuação concentrada nos segmentos de comércio e serviços, onde através de divisões operacionais independentes abrange os seguintes setores, cujos percentuais da receita líquida do grupo aparece entre parênteses (Não inclui a Divisão de Alimentos, cujos resultados se refletem através de Equivalência Patrimonial.): ◊ Lojas de Departamentos (47,9%) ◊ Distribuição de Veículos (42,3%)

- automóveis nacionais: VW, GM, Ford e Fiat; - automóveis importados: Mazda; - caminhões/ônibus: VW, Ford, Mercedes-Bens; - motocicletas: Honda; - consórcio: todas marcas; - equipamentos náuticos: lanchas e motores Mercury e Mercruiser. ◊ Serviços Financeiros (7,5%) - administração de cartões de crédito private label: cartões dos principais shopping centers; do país e de várias redes de lojas, dentre as quais se destacam: Paes Mendonça, Makro, Mesbla, Dimpus, Wrangler etc; - financiamentos ao consumidor: automóveis e cartões de crédito. ◊ Lojas especializadas em Móveis (2,3%)

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5. POSICIONAMENTO NO PROCESSO COMPETITIVO O grupo situa-se entre os maiores grupos privados nacionais do país com atuação concentrada nos segmentos de Lojas de Departamentos, Distribuição de Veículos (automóveis, caminhões, ônibus, equipamentos náuticos), Serviços Financeiros (administração de cartões de crédito private label e financiamento ao consumidor) e Lojas Especializadas em Móveis. A Mesbla Lojas de Departamentos tem como principais concorrentes no setor as redes nacionais e regionais, dentre as quais, destacam-se: Lojas Americanas, C&A, Ultralar, Mappin, Casa Anglo e Lojas Renner. A Mesbla Divisão de Veículos é líder de mercado, atuando com todas as marcas, e responsável por quase 3% do total dos veículos novos nacionais comercializados no país. Na importação e distribuição de carros importados Mazda, na condição de representante exclusivo da marca no país, foi alcançada a marca recorde de 2.700 unidades comercializadas, contra 914 unidades em 1993. No final de 1994 já contava com uma rede de 22 distribuidores. A operação de produtos náuticos foi reorientada do varejo para a importação e distribuição, mantendo-se lojas apenas no RJ e SP. Foi assinado contrato de exclusividade com a empresa americana Marine Power para a distribuição de motores de popa e centro-rabeta das marcas Mercury e Mercruiser. A Mesbla Serviços Financeiros atua nos segmentos de lojas de departamento, supermercados, shoppings e cadeias de lojas, proporcionando financiamento direto ao consumidor final, usuário de cartões de afinidades “private label”. Também opera através de contratos diretos com o consumidor pessoa física, oferecendo uma gama de produtos diferenciados, principalmente em financiamento de veículos e seguros. Atua ainda em turismo e financiamento de capital de giro para fornecedores do varejo.

RETRATO DO SETOR DE COMÉRCIO VAREJISTA EM 1994 Valores em milhões de US$

Empresa Patrim Fatura- Lucro Endivida- Rentabilidade** Líquido mento Líquido mento* 92 93 94

MESBLA 314 1.507 -87 0,45 -16,7% -7,3% -20,3% LOJAS AMERICANAS 402 1.600 42 0,27 5,3% 17,4% 12,9% LOJAS RENNER 42 138 7 0,16 5,7% 22,5% 28,5% CASA ANGLO 175 689 19 0,45 -45,8% -6,8% 17,1% * Relação entre as dívidas e o patrimônio em 94 (para cada 1 R$ de patrimônio, a empresa tem R$ 0,01 de dívidas). ** Lucro ou Prejuízo dividido pelo capital próprio da empresa, em percentual. Fonte: Jornal do Brasil

6. PROCESSO DE COMERCIALIZAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E MERCADOS A comercialização é feita diretamente ao consumidor final. A distribuição é feita através de mais de 160 pontos de venda em todo o Brasil, sendo 45 Lojas de Departamentos (em 28 cidades), 47 lojas da Divisão Veículos (em 18 cidades), 26 de

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Móveis (em 11 cidades) e 15 da Náutica (em 10 cidades). Não estão incluídos os pontos de venda de Serviços Financeiros e nem do MAKRO (24 lojas em 20 cidades). Os mercados atingidos, exclusivamente em território nacional, são os seguintes: Lojas de Departamentos: Rio de Janeiro, Niterói, Volta Redonda, Vitória, São Paulo, Santo André, Santos, São José dos Campos, Piracicaba, Ribeirão Preto, Campinas, Belo Horizonte, Salvador, Brasília, Recife, Fortaleza, Curitiba, Londrina, Porto Alegre, Pelotas, Campo Grande, Aracaju, Maceió, Goiânia, Manaus, Belém, São Luís e João Pessoa. Veículos: Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Santo André, Belém, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre, Fortaleza, Sobral, Feira de Santana, Santos, São Luís, Vitória, Ribeirão Preto, Curitiba e Goiânia. Móveis: Rio de janeiro, Niterói, Brasília, Goiânia, Belo Horizonte, Vitória, Salvador, Juiz de Fora, Recife, Belém e Fortaleza. Náutica: Rio de Janeiro e São Paulo. Em virtude da natureza das atividades do grupo, comércio varejista e financiamento ao consumidor, suas operações são essencialmente voltadas ao consumidor final, de forma que não existem clientes principais. Como é característica do segmento do comércio varejista em que o grupo atua, os meses de março, maio, junho, agosto, novembro e dezembro assumem importância maior nas vendas anuais, devido respectivamente aos seguintes eventos: início do ano letivo, dia das Mães, Namorados, Pais: Criança e Natal. Desta forma, o setor enfrenta uma certa sazonalidade que poderia ser assim definida em relação aos trimestres fiscais: - o 1º trimestre (jan/mar) é normalmente o mais fraco; - o 2º (abr/jun) e o 3º (jul/set) se equivalem e são melhores que o 1º trimestre; - o 4º trimestre é significativamente o mais forte. As múltiplas atividades da empresa não geram problemas ambientais de nenhuma ordem, e o grupo nunca sofreu qualquer tipo de autuação por desrespeito à legislação em vigor. 7. RECURSOS TECNOLÓGICOS A Mesbla considera a tecnologia de informações como um recurso estratégico e fator chave de sucesso para competitividade dos seus negócios. Durante o período de 1990 a 94, ela concentrou 70% dos investimentos totais do grupo. A estratégia baseada na arquitetura de sistemas abertos, processamento distribuído e descentralizado, além do uso intensivo de avançada tecnologia de telecomunicações e automação, tem trazido maior velocidade e eficácia em nos processos de decisão e controle do grupo, e permitido aprimorar a gestão e operação dos negócios, com significativa redução de custos. Em 1994, foi mantida ênfase na automação das unidades comerciais, com a qual foram obtidos ganhos de produtividade e qualidade em todos os negócios, e na disseminação, por todo o nível gerencial, das facilidades de automação de escritórios e correio eletrônico. Esta

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infra-estrutura está permitindo a redução para 24 horas do ciclo de informações para gestão dos negócios, aumentando a qualidade dos controles e a agilidade das decisões. Destaca-se, também, a modernização realizada nas telecomunicações com a implantação de uma rede privativa de telefonia, de abrangência nacional, interligando todas as 160 localidades do grupo, além de efetivação de uma aliança estratégica e pioneira com a Embratel, para serviços de rede privativa de transmissão de dados, em tecnologia “VPN”(Virtual Private Network). 8. RESULTADOS DO GRUPO EM 1994 1994 foi um ano de contrates tanto para o varejo quanto para a economia como um todo. Para o país, foi um período de adaptação rumo a uma economia de mercado mais aberta e orientada à internacionalização. Foi também um período de expectativas de uma nova era de baixa inflação, moeda forte e prosperidade. O comportamento do consumidor foi fortemente influenciado pelos eventos políticos e pelos esforços de estabilização econômica. O anúncio do Plano Real, o quinto em nove anos, despertou expectativas positivas e ao mesmo tempo de incerteza. Para o segmento de varejo, o primeiro trimestre começou com vendas maiores que as esperadas. A introdução da URV em março, no entanto, levou a uma reversão, traduzida numa acentuada queda das vendas durante o segundo trimestre. Apesar do bom desempenho do grupo na segunda metade do ano, o impacto inesperadamente ruim do período da URV pesou negativamente nos resultados finais do ano. A segunda metade de 94 se caracterizou por uma nova mudança no cenário, com a introdução do Real em julho e a subsequente drástica redução da inflação. O Plano Real teve um impacto positivo tanto na renda disponível quanto nas expectativas dos consumidores, liberando uma demanda reprimida que se traduziu em crescimento das vendas. Embora tenham sido as faixas de renda mais baixas que sentiram mais diretamente os benefícios do Plano, o público-alvo da Mesbla - as classes média e média alta - também aumentou sua propensão ao consumo, baseada na mais ampla disponibilidade de crédito e num sentimento de segurança causado pela estabilidade da nova moeda. Em outubro, o governo decidiu mais uma vez frear a economia, para conter o consumo e prevenir o recrudescimento da inflação, principalmente através de restrições ao crédito. Isto teve conseqüências especialmente para a Mesbla Serviços Financeiros (MSF) e o Consórcio da Mesbla Automotiva (MAV). Apesar dessas restrições, a expansão das vendas persistiu ao longo do último trimestre, tradicionalmente o melhor período do ano. O Plano Real revelou-se mais consistente e eficaz do que os anteriores, reforçando as esperanças de um crescimento sustentado da economia de 95 em diante, desde que sejam levadas adiante as reformas estruturais.

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O grupo Mesbla realizou em 94 a terceira maior venda de sua história. Com crescimento de 9% sobre 93, as receitas brutas alcançaram R$ 1,5 bilhões (equivalentes a US$ 1,8 bilhões). Esta marca mantém o crescimento registrado no ano anterior e confirma a recuperação do volume de vendas. Desde 92, o faturamento global do grupo cresceu 25%, sem aumento da base física. Este resultado não revela, no entanto, as oscilações consideráveis registradas pelo grupo e suas empresas ao longo de um ano turbulento. Do prejuízo líquido de R$ 68,7 milhões, metade (R$ 35,0 milhões) se deve exclusivamente ao segundo trimestre. As despesas financeiras, na ordem de R$ 57,4 milhões, contribuíram pesadamente para o prejuízo líquido do ano. Deste total, R$ 45,8 milhões se referem ao custo financeiro do desequilíbrio patrimonial do início de 94. Este exerceu uma pressão considerável sobre o capital de giro e sobre o fluxo de caixa do grupo. Excluídas estas despesas financeiras, o prejuízo do ano foi de R$ 22,9 milhões. O lucro líquido realizado no último trimestre de 94 foi de R$ 6,6 milhões, após todas as despesas financeiras. Este resultado é basicamente fruto de ganhos de competência na gestão de giro, margens e custos, já que o crescimento da receita bruta foi de 8,6% em relação ao mesmo período de 93. Excluindo-se o prejuízo da MSF no segundo semestre, fruto de uma estratégia mercadológica inadequada, já corrigida, o grupo manteve o seu “break even” durante este período, mesmo com todos os custos financeiros do desequilíbrio patrimonial. Para este resultado contribuiu de forma significativa o excelente desempenho operacional da Mesbla Lojas de Departamentos (MLD), conseqüência já dos ajustes estruturais em curso. Dando continuidade ao processo de reestruturação financeira do grupo, foram vendidos ativos no valor de R$ 36,3 milhões, sendo R% 14,7 milhões de vendas definitivas e o restante em operações de lease-back. A conversão de debêntures em ações preferenciais e ordinárias resultou em R$ 29,8 milhões, acumulando desde 93 uma conversão de 67% do total emitido. O endividamento líquido total do grupo cresceu 5% em 1994. O endividamenteo comercial (excluída a Financiadora Mesbla e a Presta Administradora de Cartões de Crédito) se manteve no mesmo nível de 93. A relação endividamento líquido sobre capital próprio alcançou 50,4%, sendo metade deste endividamento de longo prazo. Ao final do ano, o patrimônio líquido era de R$ 289,6 milhões, equivalendo a 40% dos recursos envolvidos nos negócios. A geração de caixa do período montou a R$ 1,6 milhões e foi resultado de uma significativa melhoria no giro de estoques, da venda de ativos e do alongamento do perfil da dívida. O número de ações mais do que triplicou entre o final de 93 e 94, alcançando um total de 1,9 bilhões. O valor das ações da Mesbla mostraram um ganho real de 8% nos últimos 12 meses. As negociações envolvendo ações da Mesbla em bolsas de valores nacionais cresceram em 58%, refletindo maior lucidez. O percentual de ações da Mesbla em poder de investidores estrangeiros aumentou durante o ano.

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9. DESEMPENHO NOS ÚLTIMOS ANOS A Diretoria da Mesbla manteve a firme determinação de não se desviar dos dois compromissos básicos em relação ao programa de ajuste estrutural iniciado em 93: reposicionamento estratégico dos negócios e reestruturação financeira do grupo. Com relação ao primeiro compromisso, cada empresa do grupo encontra-se em estágios diferentes. A MLD, que iniciou a implantação das conclusões dos estudos de reposicionamento em fins de 93, já começou a colher os resultados econômico-financeiros destes esforços na segunda metade de 94. As outras empresas começaram esta implementação em 95. Novos investimentos, totalizando no grupo R$ 24 milhões, foram aplicados principalmente em tecnologia de informações, automação e reforma e modernização de lojas. Comparados com os R$ 13,7 milhões investidos no ano anterior, representam um acréscimo de 75%, indicador ainda mais expressivo se considerarmos a pressão sobre o caixa do grupo em 94. R$ 10,5 milhões foram gastos somente em tecnologia de informações, no sentido de aperfeiçoar os processos de gestão dos negócios e os serviços prestados aos clientes. Ao fim de 94, estávamos em condições de ter diariamente os registros de todas as transações referentes a vendas, entrega de mercadoria e estoques em todos os segmentos de negócio. Como uma das principais estratégias, dentro do processo de ajuste estrutural, a Mesbla deu continuidade aos investimentos em capacitação de seus recursos humanos, aplicando R$ 1,5 milhões em atividades de treinamento e desenvolvimento, abrangendo todas as áreas e níveis das empresas do grupo. A extensa reforma de lojas da MLD, a remodelagem de diversas revendas da MAV e o adensamento geográfico das lojas da Mesbla Móveis (MM), são evidências adicionais do desejo do grupo de se identificar o máximo possível com os hábitos e as tendências dos seus públicos-alvo. Nestes programas pré-estabelecidos, a Mesbla não tem hesitado, quando necessário, em sair de negócios e linhas de mercadoria existentes, com o objetivo de concentrar suas energia naquelas áreas em que é esperada uma lucratividade mais elevada no futuro. Em 94, a MLD decidiu com base em sua estratégia de mix de mercadorias retirar-se da linha de eletro-eletrônicos. No segmento de empilhadeiras, dada a intenção da MAV de operar em outros mercados que não só RJ e Nordeste, encerramos a nossa parceria com a Hyster, sem gerar descontinuidade para os nossos clientes. No tocante à reestruturação financeira e redução da dívida, a venda de ativos para a geração de caixa e conseqüente melhoria da relação endividamento/patrimônio foi um dos objetivos primordiais da direção ao longo de 94.

EVOLUÇÃO DOS NÚMEROS DA EMPRESA

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Correção Integral - Valores em Milhares de US$

31/12/90 31/12/91 31/12/92 31/12/93 31/12/94

Patrimônio Líquido 300,6 386,2 336,2 298,8 335,5 Receita Operacional Líquida 1.052,4 843,3 836,8 1.042,6 1.509,3 Lucro Operacional -47,5 1,4 -101,5 -51,2 -108,9 Lucro Líquido -23,0 6,0 -104,3 -24,9 -81,2 Rentabilidade do Patrimônio (%) -7,7 1,6 -31,0 -8,3 -24,2 Endividamento Geral (%) 48,5 35,1 44,0 52,7 60,4 Fonte: Gazeta Mercantil

A revitalização do portfólio patrimonial da empresa foi buscada com persistência ao longo do ano. Quando recomendado, propriedades do grupo foram colocadas à venda para tirar proveito das oportunidades favoráveis do mercado. Por exemplo, o prédio da Avenida do Estado em São Paulo foi vendido e os seus ocupantes realocados em locais mais apropriados. A participação de 36% da Mesbla no Makro está em fase de estruturação para venda ao mercado, no Brasil e no exterior, operação a ser completada ainda na primeira metade de 95. Na evolução do desempenho do grupo Mesbla, um número de indicadores-chave tem mostrado um constante melhoramento e merece destaque. Estes parâmetros, específicos para o varejo, servem para ilustrar os progressos consistentes realizados em determinadas áreas-chaves, conseqüência da reestruturação realizada ao longo dos últimos anos.

INDICADORES DE DESEMPENHO

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91

92

93

94

Receita Bruta / Funcionário (R$ mil) 81,6 65,7 78,2 90,5 123,3 Custo Oper. / Receita Bruta (%) 25,0 28,3 28,8 26,0 24,8 Desp. Financ./ Receita Bruta (%) 1,0 0,6 1,7 3,8 3,8 Giro de Estoques 12,7 7,3 7,4 9,6 10,9 Número de Funcionários (mil) 19,2 19,1 15,3 15,2 12,2 Fonte: Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

10. SITUAÇÃO ATUAL DO GRUPO A Mesbla S.A., subholding da Mesbla Holding S.A., que engloba um total de sessenta empresas, entrou, em 2 de agosto último, com pedido de concordata preventiva na 7ª Vara de Falências e Concordata do Rio de Janeiro, juntamente com quatro outras empresas do grupo, a Mesbla Lojas de Departamentos S.A., a Mesbla Móveis S.A., a Presta Administradora de Cartões de Crédito S.A. e a Brazfabril S.A. Indústria e Comércio, administradora de imóveis que atua como garantidora nas operações de crédito do grupo. Juntas, estas empresas são devedoras de um passivo quirografário (que não exige garantias reais, sejam elas bancárias, bens ou imóveis) no valor total de R$ 258.775.296,00 junto a 1.500 credores, entre fornecedores e prestadores de serviços, se constituindo na maior

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concordata do período pós-Real, depois do pedido semelhante feito pela tradicional empresa varejista de São Paulo, a Casa Centro. A concordata destas empresas do grupo foi atribuída à combinação de juros altos, aperto da liquidez e queda nas vendas. Foi o primeiro pedido de concordata feito nos 83 anos de existência do grupo e não envolve a Mesbla Holding S.A. e tampouco a Mesbla Automóveis, Mesbla Financiadora e a Mesbla Seguradora. As cinco empresas se comprometeram a pagar 100% dos respectivos créditos no prazo de 24 meses, à razão de 40% no primeiro ano e de 60% no segundo ano, a partir do deferimento da concordata. A empresa possui um patrimônio líquido, já descontado o total da dívida envolvida na concordata, de R$ 280 milhões, sendo, portanto, maior do que é devido pela empresa. Cabe destacar que neste valor patrimonial estão incluídos bens com valores intangíveis, que não consideram, por exemplo, as localizações e instalações dos imóveis da empresa. A dívida global do grupo, incluindo a parte envolvida na concordata, são estimadas pelo mercado em R$ 330 milhões, sendo R$ 170 milhões de curto prazo e o restante com perfil alongado. O grupo tem um custo mensal entre R$ 8 milhões e R$ 10 milhões apenas com o carregamento da dívida junto ao mercado financeiro. Este também pode ser considerado um dos principais motivos para o pedido de concordata, uma vez que a empresa imaginava que as taxas de juros ficariam em torno de 24% ao ano e não num patamar anual de 60%, como encontra-se atualmente. O quadro também foi agravado pela queda média nas vendas de 10% no primeiro trimestre e de 15% apenas em junho. Os últimos balanços da Mesbla já indicavam suas enormes dificuldades. Ela vinha de prejuízos consecutivos desde 1992, e, este ano, no primeiro trimestre registrou um resultado negativo de US$ 16 milhões, contra US$ 8,2 milhões em igual período de 1994. O grande problema da Mesbla é seu alto endividamento. Em novembro de 1994, sua dívida era de cerca de R$ 300 milhões, que representavam 71% do seu patrimônio. A venda recente de sua participação no Makro (36% do capital total), no valor de cerca de R$ 72 milhões, não aliviou muito a sua situação, pois este dinheiro já havia sido adiantado pelo Banco Garantia. O mercado acionário vinha antecipando os problemas que acabaram levando a Mesbla à concordata. Sua ação de maior liquidez, a preferencial, acumulou uma queda este ano, até o último dia 26 de julho, de 77,3% em dólar, quando a desvalorização média das 240 maiores empresas abertas transicionadas em bolsa ficou em 29,8%. Os papéis da Mesbla não estavam com muita liquidez. Durante julho de 1995, foram só cinco negócios com ordinárias no mercado brasileiro, totalizando 674 mil títulos. Já as preferenciais foram negociadas em quase todos os dias de julho último, sendo contabilizadas operações com 124 milhões de ações. Em 1º de agosto, véspera do pedido de concordata, não foi

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transcionada na Bolsa do Rio, mas em São Paulo foram feitos 17 negócios com 3.170 milhões de títulos. Sua cotação final foi de R$ 33,00 o lote de mil ações, o que representou uma queda de 8,335 em relação à véspera.

EVOLUÇÃO DAS AÇÕES Mesbla PN

DATA COTAÇÃO (R$) Lote de 1000 Ações

29/12/94 152 26/01/95 128 24/02/95 90 31/03/95 89 28/04/95 95 31/05/95 70 30/06/95 55

31/07/95 36 02/08/95 33

Fonte: Jornal do Brasil

11. AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO EMPRESARIAL ATRAVÉS DE INDICADORES ECONÔMICO-FINANCEIROS O desempenho empresarial da Mesbla será avaliado aqui a partir da análise do seu último Balanço Patrimonial e da interpretação da evolução dos principais indicadores econômico-financeiros necessários para um diagnóstico preciso da situação da empresa. Além disso, na avaliação da situação econômico-financeira da empresa também serão analisadas as causas primárias da evolução dos indicadores ao longo dos últimos cinco anos, com base nas características e peculiaridades do grupo, em sua história, na conjuntura político-econômica do país e no seu próprio desempenho empresarial. Apresenta-se a seguir um quadro com vários indicadores econômico-financeiros utilizados em análise de balanços. Entretanto, foram selecionados nesta análise apenas os índices considerados mais relevantes para o objetivo proposto, conforme segue: ⇒ ÍNDICES DA ESTRUTURA DE CAPITAL • Participação de Capitais de Terceiros / Endividamento • Composição do Endividamento • Imobilização do Patrimônio Líquido ⇒ INDICADORES DE LIQUIDEZ • Liquidez Geral

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• Liquidez Corrente • Liquidez Seca ⇒ ÍNDICES DE RENTABILIDADE • Giro do Ativo • Margem Líquida • Rentabilidade do Ativo • Rentabilidade do Patrimônio Líquido

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INDICADORES ECONÔMICO-FINANCEIROS

ÍNDICES FUNDAMENTALISTAS 31/12/90 31/12/91 31/12/92 31/12/93 31/12/94

Preço / Lucro x -0,752 3,950 -1,100 -7,440 -4,160

Preço / Lucro+Depreciação x -1,300 0,874 -1,560 31,400 -9,830

Lucro / Preço % -132,930 25,340 -91,210 -13,430 -24,030

Lucro por Ação R$ -0,321 0,082 -0,994 -0,047 -0,043

Valor Patrimonial por Ação R$ 4,190 5,280 3,200 0,574 0,182

Preço / Valor Patrimonial x 0,058 0,061 0,340 0,614 0,987

Dividend Yield % 10,590 0,000 0,529 0,000 0,000

Price Sales Ratio x 0,017 0,028 0,137 0,177 0,224

Valor de Mercado R$ 17.505 23.373 114.351 185.049 338.005

ÍNDICES ESTRUTURA DE CAPITAL 31/12/90 31/12/91 31/12/92 31/12/93 31/12/94

Exigível Total / Ativo Total % 48,50 35,12 44,02 52,68 60,42

Exigível Total / Patrimônio Líquido % 94,18 54,12 78,65 110,41 149,59 Exg - Disp - Invest. CP / Patr. Liq. % 84,11 49,44 65,23 97,11 132,54 Passivo Circulante / Exigível Total % 95,58 97,70 95,44 78,22 83,18 Financ. CP+LP / Ativo Total % 15,69 10,83 16,50 13,21 18,70

Financ. CP+LP / Patrim. Líquido % 30,47 16,69 29,48 27,70 46,29

Financ. CP / Patrimônio Líquido % 26,47 15,58 26,76 26,15 44,74 Financ. LP / Patrimônio Líquido % 4,00 1,11 2,72 1,54 1,56 Financ.CP+LP-Disp-Inv CP / PL % 20,40 12,00 16,07 14,39 29,24 Ativo Fixo / Patrimônio Líquido % 19,22 28,10 78,54 88,85 89,45

INDICADORES DE LIQUIDEZ 31/12/90 31/12/91 31/12/92 31/12/93 31/12/94 Liquidez Geral x 0,946 1,160 0,896 0,796 0,772 Liquidez Corrente x 0,965 1,140 0,927 0,899 0,731 Liquidez Seca x 0,718 0,634 0,714 0,606 0,525 Capital de Giro R$ -9.459 28.957 -18.372 -26.159 -114.576

INDICADORES DE CICLO 31/12/90 31/12/91 31/12/92 31/12/93 31/12/94 Prazo Médio Estoques dias 31,52 65,75 30,28 36,32 28,37

Prazo Médio Fornecedores dias 47,84 45,86 37,93 42,74 40,51

Prazo Médio Recebimento dias 46,20 38,21 47,43 36,51 26,48

Ciclo Financeiro dias 29,88 58,10 39,78 30,09 14,34

Ciclo Operacional dias 77,72 103,96 77,71 72,83 54,85

ÍNDICES DE RENTABILIDADE 31/12/90 31/12/91 31/12/92 31/12/93 31/12/94

Giro do Ativo x/ano 1,80 1,42 1,39 1,65 1,78

Giro do Patrimônio Líquido x/ano 3,50 2,18 2,49 3,46 4,41

Margem Bruta % 27,33 32,43 23,59 27,44 26,23

Margem Operacional Própria % 5,51 6,22 -3,60 5,33 -2,18

Margem Operacional % -4,51 0,17 -12,13 -4,91 -7,22

Margem Líquida % -2,19 0,71 -12,46 -2,38 -5,38

Rentabilidade do Ativo % -3,95 1,01 -17,37 -3,94 -9,58

Rentab. Patrim. Líquido (L/P-L) % -7,12 1,57 -23,68 -7,62 -19,18

Equival. Patr. / Lucro Líquido % 26,33 2,23 -1,61 -35,79 -15,13

Alavancagem Financeira x 75,74 0,58 2,48 -1,06 14,97

Alavancagem Operacional x 4,96 5,21 -6,55 5,15 -12,05

Lucro Bruto / Equival. Patrim. % -4.741 205.177 11.751 3.216 3.221

Lucro Oper. / Equival. Patrim. % 782 1.060 -6.045 -575 -886

Lucro Líquido / Equival. Patrim. % 380 4.492 -6.210 -279 -661

Fonte : ECONOMÁTICA

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O Índice de Participação de Capitais de Terceiros, ou Grau de Endividamento, passou de 94%, em 90, para 150%, em 94, evidenciando a crescente dependência do capital de terceiros por parte da empresa. O endividamento de curto prazo da Mesbla saltou de US$ 64 milhões para US$ 166,1 milhões entre 1991 e 1994. Nestes três anos, essas dívidas que têm vencimento até um ano aumentaram 160%. As dívidas foram se avolumando justamente numa época em que o faturamento da empresa aumentou, voltando aos patamares de 1989. O faturamento caiu de US$ 1,571 bilhão, em 1989, para US$ 834 milhões, em 1991. No ano passado, as vendas somaram US$ 1,509 bilhão. Em compensação, as dívidas foram contratadas num período em que o país registrava os mais elevados juros da sua história, chegando a 70% ao ano acima da inflação. Entretanto, o pedido de concordata do grupo não deve ser atribuído exclusivamente ao endividamento. Há, na verdade, um quadro de má administração, desorganização e péssima gestão dos negócios do grupo, somando-se, obviamente, o excessivo endividamento. Trata-se de uma empresa que opera com capital de giro negativo e faz a maior parte de suas vendas financiadas, dependendo, sempre, de recursos externos. A Composição do Endividamento, apesar de decrescer de 90 para 95, indica que a dívida da Mesbla é eminentemente de curto prazo, num quadro de díficil geração de recursos a curto prazo, uma vez que as vendas do grupo caíram bastante ultimamente. O grupo alterou o perfil de sua dívida, pois o percentual de dívidas de curto prazo, que era de 96% em 90, passou para 83% em 95, dando-lhe um pouco mais de prazo para pagamento das mesmas. A Imobilização do Patrimônio Líquido vem crescendo bruscamente nos últimos cinco anos, evidenciando a grande dependência de capitais de terceiros para o financiamento do Ativo Circulante, sobrando menos recursos próprios para este último, já que a Mesbla investe muito no Ativo Permanente. Os indicadores de Liquidez Geral dos últimos três anos decresceram sensivelmente, mostrando nitidamente que o grupo não apresenta condição de saldar suas dívidas, devendo gerar recursos futuros, uma vez que os atuais recursos circulantes são insuficientes. Os indicadores de Liquidez Corrente também vêm caindo bastante, evidenciando que os investimentos no Ativo Circulante são insuficientes para cobrir as dívidas de curto prazo, já que as vendas estão caindo e a maioria destas vendas é financiada ao consumidor. A Liquidez Seca teve a maior queda nos últimos cinco anos e mostra, de certa forma, a dificuldade da Mesbla em desovar seus estoques, gerando a atual situação financeira insatisfatória. O Giro do Ativo está num patamar muito bom para uma empresa em sérias dificuldades. Apesar da retração do mercado, a Mesbla adotou uma estratégia de aumentar seus preços, tentando, assim, obter uma margem de lucro maior, compensando a queda das vendas. Em 94, houve aumento nas vendas, já que para cada US$ 1,00 investido, a empresa vendeu US$ 1,78, contra US$ 1,65, no ano anterior. O último lucro da Mesbla foi em 1989, quando foram apurados US$ 33,3 milhões. De lá para cá, a empresa enfrentou cada vez mais problemas financeiros e, em 1991, registrou um lucro

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de US$ 4,9 milhões, o que é quase nada para uma empresa que tem 45 lojas e fatura US$ 1,5 bilhão. Enquanto isso, a Margem Líquida vem crescendo negativamente, apesar do aumento da receita operacional bruta do grupo, ou seja, o aumento das vendas. O lucro bruto dimdinuiu de 93 para 94 e o grupo vem apresentando grandes prejuízos operacionais e líquidos a cada ano. A Rentabilidade do Ativo e do Patrimônio Líquido apresentam-se negativas e crescentes nos últimos anos, em conseqüência, obviamente, dos prejuízos apresentados pelo grupo nos últimos anos. Com isso, a rentabilidade do Patrimônio Líquido é negativa e para cada US$ 1 do capital próprio investido em 94, o grupo conseguiu - US$ 19 do prejuízo. Uma breve análise vertical do último balanço, conforme mostrado no gráfico abaixo, permite avaliar que os negócios do grupo estão envolvidos com uma administração desequilibrada dos recursos financeiros. Apesar do Exigível a Longo Prazo ter diminuído de 93 para 94, o Passivo Circulante cresceu bruscamente, aumentando em 16% o endividamento de curto prazo do grupo, enquanto o Ativo Circulante permaneceu estável, porém bem menor que o Passivo Circulante. De 1990 a 1993 foram investidos US$ 32 milhões em informática e em 1994 cerca de US$ 15 milhões foram direcionados para esse setor. Os investimentos da Mesbla em informática foram logo apresentando resultados e muitos analistas já observavam melhora no desempenho de controle de estoque da empresa. O giro do estoque caiu de 45 dias em média, em 1993, para 38 dias em 1994. Além disso, a empresa tinha, em média 52 dias para pagar fornecedores (a meta é 60 dias de prazo). Como o giro do estoque era de 38 dias, pode-se observar que além dos créditos financeiros a empresa vinha se utilizando de crédito junto a fornecedores. Estimular o tamanho de seu estoque nunca foi forte da Mesbla. Muitos analistas atribuem a essa falha o embróglio financeiro em que se meteu a Mesbla nos últimos anos. Em dezembro de 1989, um erro para dimensionar o estoque ideal para entrar o ano de 1990 foi um ingrediente de peso para multiplicar seu endividamento nos anos seguintes. Naquele ano, o controle de estoque da Mesbla era todo feito manualmente e levava cerca de vinte dias para ser atualizado. A conseqüência foi um verdadeiro desastre financeiro. A Mesbla entrou o ano de 1990 com um estoque superestimado até mesmo para bons momentos da economia, o que definitivamente não era o caso. O plano econômico do governo Collor deflagrou uma recessão que transformou o superestoque da Mesbla num pesado e caro fardo para a empresa carregar. 12. PERSPECTIVAS FUTURAS A Mesbla começará brevemente a receber os fornecedores para reprogramar dívidas e encomendas. De uma maneira geral, os fornecedores, que já conheciam as dificuldades financeiras da Mesbla, mostram-se dispostos a colaborar com a empresa e pretendem manter o suprimento mas acreditam que a própria Mesbla reduzirá as encomendas para diminuir custos. Os fornecedores, de uma maneira geral, estão tratando a concordata da Mesbla como um acidente de percurso e têm a pretensão de ajudar o cliente.

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A empresa deverá rever a estrutura de suas lojas a fim de verificar os segmentos mais rentáveis. A concordata da Mesbla é um aprendizado para ambos os lados, já que no mundo inteiro verifica-se uma tendência de crise nas lojas de departamentos devido às estruturas exageradas. O pedido de concordata da Mesbla é mais um sinal de alerta para estimular lojistas em geral a pensarem um pouco. Todavia, se com suas medidas anticonsumo o governo esfriar demais as vendas acabará perdendo, pois deixa de recolher impostos. Quando começaram a circular as primeiras informações de que a Mesbla poderia pedir concordata, sem perder tempo, a J.C.Penney, gigante do varejo nos Estados Unidos, despachou um grupo de executivos para o Brasil para fazer uma oferta de parceria à Mesbla. A Mesbla não descarta a busca de novos sócios e parceiros no esforço para equilibrar as empresas concordatárias. Outro grupo americano - a cadeia Sachs - está interessado em se associar à Mesbla. Além disso, há forte predisposição da indústria em manter próximo da regularidade o fornecimento para a Mesbla. A maior parte das empresas ainda não teve contato com a rede varejista depois do recente pedido de concordata preventiva. Mas todos qualificam a Mesbla como um cliente importante e sério, que merece algumas concessões de crédito, pois ninguém deseja perdê-la como cliente. Uma das poucas empresas que já definiram sua estratégia em relação à Mesbla foi a Origin C&T Services Brasil, que processa os cartões de crédito da rede, decidindo apoiar o grupo mesmo em situação de concordata, com juros de 12% ao ano. Várias outras empresas também confirmaram a intenção de continuar fornecendo para a Mesbla. São elas: BMG Ariola, Grow, Sony, Xerox e Glasslite. A Mesbla pretende buscar um reestruturador no mercado de capitais para atuar na negociação de alongamento da dívida do grupo, buscar capitalização e encontrar um parceiro que agregue experiência no ramo varejista. A empresa espera encontrar um parceiro com estratégia específica de controle de qualidade e que opere no ramo de venda por catálogo. 13. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Em 1989, logo após a quebra das lojas de departamentos Sears e Dillers, as concorrentes Lojas Americanas e Mesbla iniciaram um processo de restruturação para superarem as dificuldades. A Mesbla optou por ser um maganize sofisticado e especializado, mas ainda muito grande. A Lojas Americanas escolheu o caminho do supermercadão, do tipo loja de descontos, modelo que tem como vantagem custos muito baixos. A Mesbla não teve habilidade para rever sua estratégia.. A Mesbla foi o terceiro grande grupo de varejo a entrar em concordata este ano. Antes, foram Casa Centro, em São Paulo, e Casas Pernambucanas. mas isso não significa que haja crise no setor de varejo. A Lojas Americanas, que fatura por ano US$ 1,6 bilhão - quase a mesma coisa que a Mesbla - é o exemplo de empresa varejista rentável. A Americanas trabalha alongando o prazo de pagamento a fornecedores e vendendo à vista e adotou uma estratégia correta de longo prazo ao se associar a uma rede estrangeira, a Wal Mart, que tem experiência de economia estável.

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Mesbla e Lojas Americanas também adotaram estratégias diferentes nos últimos anos. Em 1989, no ano que apresentou seu último lucro (de US$ 33,3 milhões), a Mesbla apostou no aumento de consumo. Em março veio o Plano Collor, o bloqueio de dinheiro dos investidores e seguiu-se uma fase de juros altos. Outra avaliação equivocada foi dar preferência à clientela classe B. Nos últimos anos, a empresa tem cometido sucessivos erros na sua previsão de vendas. As diversas bolhas de consumo são invariavelmente interpretados como indícios de uma era dourada. Este erro de cálculos para uma varejista é extremamente danoso, principalmente numa economia onde as taxas de juros são muito altas. A cada superdimensionamento de estoques, a Mesbla era obrigada a recorrer a financiamentos bancários e pagar juros para financiar o encalhe de produtos. Isso é uma bola de neve. A Mesbla sabia disso, tanto que em 1993 o grupo anunciou a terceirização de parte dos serviços de informática. A empresa promoveu um downsizing, o que na prática significou a aposentadoria de um computador de grande porte IBM 4381, que foi substituído por estações Risc da marca HP na função de servidor da rede de micros. A mudança significou para a Mesbla um ganho expressivo de tempo e dinheiro. Em menos de 24 horas, os gerentes e outros funcionários da Mesbla passaram a ter acesso a informações sobre vendas, desempenhos por cada setor, posição de estoque e outros dados. Tudo vem na tela de um microcomputador e pode, em questões de segundos mostrar gráficos históricos de desempenhos. Com faturamento de US$ 1,5 bilhão por ano, mesmo que a companhia conseguisse uma margem de lucro de 4% (média obtida no varejo), teria US$ 60 milhões por ano para saldar seus compromissos. Mas a quantia seria insuficiente, levando-se em conta o endividamento de US$ 330 milhões a juros em torno de 30% ao ano. Para arcar com essa despesa, precisaria de US$ 90 milhões. A tese de má gestão empresarial é contestadas por alguns, baseado no fato de que a filosofia da empresa é a mesma há quase um século e só agora é que eles tiveram problemas. Pode estar neste ponto o cerne da questão, pois a Mesbla modernizou-se técnica e operacionalmente ao longo dos anos, mas a mentalidade empresarial ficou emperrada no passado, com uma direção familiar que não abria mão do comando das decisões em favor de uma empresa gerencialmente moderna, altamente profissionalizada. A situação da Mesbla é muito delicada e foi provocada por erros na estratégia adotada pela empresa e pela má gestão administrativa, já citada anteriormente. A dívida da Mesbla, de mais de R$ 330 milhões, é maior do que o patrimônio do grupo, de US$ 314,5 milhões, divulgado pela empresa no balanço do primeiro trimestre deste ano. O grande erro estratégico da Mesbla foi partir para marcas próprias e tentar atingir a classe média alta, elitizando uma loja de departamentos. Só que a camada da população com maior renda não compra roupas nesse tipo de loja. Fazendo-se uma comparação com o caminho seguido pela Lojas Americanas, que atravessa uma fase extremamente confortável, a Mesbla, na verdade, andou na contramão.

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Conclui-se, também, que existem duas explicações fundamentais para a quebradeira das empresas comerciais na atual conjuntura do país: a formação de estoques e o açodamento na concessão de crédito aos consumidores. Na realidade, os brasileiros não estavam acostumados a tomar dinheiro emprestado num ambiente de inflação baixa e, por sua vez, as empresas e os bancos tinham se desacostumados a emprestar. Ademais, o que define o mercado de varejo é a capacidade de competição que o mercado livre impõe, já que antes as diretrizes vinham de cima. Hoje, com o mercado livre, as empresas não sabem nem definir seus preços. A solução para a Mesbla depende agora da venda de participações de mudanças no controle da empresa, da associação com grupos fortes, da política e filosofia a serem adotadas, da confiança dos banqueiros e fornecedores e da receptividade do mercado. Este pedido de concordata pode ser um ótimo negócio para a Mesbla, já que, pela Lei, a empresa ganha um período de 2 anos para pagar suas dívidas, sendo que a primeira parcela, 40% do total, só começa a ser paga ao final do primeiro ano. A vantagem é que a dívida passa a ser corrigida pela inflação mais juros de 1% ao mês. Com as taxas de juros atuais na casa de 4% ao mês, isso significa um lucro real de mais de 42% em um ano, para a empresa que aplicar sua receita no mercado. No caso da Mesbla aconteceu uma situação interessante: o antigo inimigo, as taxas de juros, passou a ser o maior aliado para tirar a rede de lojas da crise. Finalmente, pode-se chegar à conclusão que dois ingredientes que causam danos enormes à saúde financeira das empresas que vivem do comércio são: um alto índice de imobilizado e falta de agilidade. Uma empresa comercial, por definição, tem que ter um bom ponto, não ter imóveis e otimizar o seu retorno sobre os estoques. Nos últimos anos, muitas redes varejistas se transformaram em holding e não trazem mais em seus balanços importantes indicadores de desempenho como loja comercial. Este tipo de comportamento complica as análises e os resultados podem sair distorcidos, ainda que os cálculos sejam feitos com os números publicados. Assim sendo, deve-se recomendar cautela na intenção de se incluir a Mesbla numa carteira de investimentos de longo prazo, pelo menos até a situação ficar mais clara, ou seja, quando o mercado conhecer as intenções do grupo, dos banqueiros e dos fornecedores. Entretanto, com base em tudo que foi mostrado neste relatório, considerando-se a tradição e idoneidade do grupo e, sobretudo, acreditando-se na estabilidade da economia brasileira, pode-se optar por incluir a Mesbla como um investimento altamente promissor, a longo prazo. 14. BIBLIOGRAFIA MATARAZZO, DANTE C., Análise Financeira de Balanços - Abordagem Básica e Gerencial, Atlas, São Paulo, 1995. CALDAS, SÉRGIO L., Apostila do Curso de Pós-Graduação em Administração Financeira, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 1995. COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS, Relatório Anual, Rio de Janeiro, 1995. GAZETA MERCANTIL, Coletânea de Artigos e Notícias, Rio de Janeiro, Agosto/95.

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JORNAL DO BRASIL, Coletânea de Notícias, Rio de Janeiro, Agosto/95.

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ANEXO 1

Mesbla s.a. BALANÇO PATRIMONIAL EM 31 DE DEZEMBRO DE 1994 e 1993

Em moeda de poder aquisitivo constante

1 9 9 4 1 9 9 3

ATIVO R$.103 R$.103

CIRCULANTE 263.409 278.990 Caixa a Bancos 10.314 22.703 Aplicações Financeiras 39.073 25.075 Contas a Receber 93.930 126.023 Outros Créditos, Valores e Bens 39.834 13.090 Estoques 74.220 90.976 Despesas do Exercício Seguinte 6.038 1.123

REALIZÁVEL A LONGO PRAZO 70.955 36.479 Aplicações por Incentivos Fiscais 811 117 Créditos Tributários 67.867 28.935 Outros Créditos 2.277 7.427

PERMANENTE 382.704 437.205 Investimentos 76.370 69.706 Imobilizado 259.055 319.073 Diferido 47.279 48.426

TOTAL 717.068 752.674

PASSIVO

CIRCULANTE 360.340 310.174 Fornecedores 105.992 107.051 Recursos de Aceites Cambiais 10.960 5.921 Empréstimos e Financiamentos 129.563 88.000 Debêntures 26.734 Impostos, Encargos e Contr. Sociais 62.158 30.576 Provisão para Imposto de Renda 3.472 678 Sinais e Créditos de Clientes 15.249 15.613 Provisões para Despesas a Pagar 32.946 35.601

EXIGÍVEL A LONGO PRAZO 72.879 86.345 Emprétimos e Financiamentos 4.507 5.540 Debêntures 50.412 60.548 Provisão para Imposto de Renda 1.249 9.322 Impostos e Encargos Sociais Parcelados 13.960 9.028 Outras Exigibilidades 2.751 1.907

PARTICIPAÇÃO DOS MINORITÁRIOS (5.756) (2.966)

PATRIMÔNIO LÍQUIDO 289.605 359.121 Capital Social Realizado e Atualizado 260.998 221.052 Reserva de Capital de Prêmio Debêntures 21 21 Reserva de Reavaliação 110.064 142.046 (-) Ações em Tesouraria (21) (21) Prejuízos Acumulados (81.457) (3.977)

TOTAL 717.068 752.674

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ANEXO 2

Mesbla s.a. DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADOS DOS EXERCÍCIOS FINDOS EM 31/12/1994 E 1993

Em moeda de poder aquisitivo constante

1 9 9 4 1 9 9 3

R$.103 R$.103

RECEITA OPERACIONAL BRUTA Venda de Mercadorias 1.350.985 1.204.496 Prestação de Serviços 55.820 39.132 Rendas de Financiamentos 92.862 128.020 Receita Operacional Bruta 1.499.667 1.371.648

DEDUÇÕES DE VENDAS Impostos e Contr. s/ Vendas e Serviços (222.820) (196.936) Receita Operacional Líquida 1.276.847 1.174.712

CUSTO MERCAD. E SERV. VENDIDOS Custo Mercadorias e Serviços Vendidos (900.264) (779.502) Custo Interm.Financ./Desp. Aceites Camb (41.613) (47.482)

334.970 347.728 RESULTADO EQUIV. PATRIMONIAL 10.401 10.605 Lucro Bruto 345.371 358.333

RECEITAS (DESPESAS) OPERACIONAIS DESPESAS COM VENDAS Comissões sobre Vendas (36.184) (25.816) Propaganda e Publicidade (38.266) (26.489) Despesas com Pessoal (92.590) (107.802) Despesas Gerais das Lojas (100.326) (94.301)

(267.366) (254.408) DESPESAS ADMINISTRATIVAS Honorários da Diretoria e Conselhos (2.085) (2.394) Despesas com Pessoal (49.308) (63.012) Impostos e Taxas Diversas (3.947) (4.744)

(55.340) (70.150) CONTRIBUIÇÃO SOCIAL (443) DESPESAS FINANCEIRAS LÍQUIDAS (57.358) (52.512) OUTRAS RECEITAS (DESP) OPERAC. (17.402) (15.283) DEPRECIAÇÕES E AMORTIZAÇÕES (39.623) (36.733) Prejuízo Operacional (92.161) (70.753)

RESULTADO NÃO OPERACIONAL Receitas Não Operacionais 16.640 19.922 Despesas Não Operacionais (3.294) (2.495)

13.346 17.427 Prejuízo Antes do Imposto de Renda (78.815) (53.326) PROVISÃO P/ O IMPOSTO DE RENDA 4.843 22.542 Prejuízo Antes dos Minoritários (73.972) (30.784) PARTICIPAÇÃO DOS MINORITÁRIOS 5.245 1.153 PREJUÍZO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO (68.727) (29.631)

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ESTRUTURA PATRIMONIAL - REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

1 9 9 4 1 9 9 3

ATIVO PERMANENTE

53 %

RLP 10%

ATIVO CIRCULANTE

37 %

PATRIMÔNIO LÍQUIDO

40 %

PASSIVO CIRCULANTE

50 %

ATIVO PERMANENTE

58 %

PATRIMÔNIO LÍQUIDO

48 %

ATIVO CIRCULANTE

37%

ELP 11 %

PASSIVO CIRCULANTE

41 %

RLP 10 %

RLP 5 %