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Mídia e Cultura na Amazônia Aula 6 Localismo e identidade: A pesquisa sobre Parauapebas. Prof. Dr. Fábio Fonseca de Castro Programa de Pós-graduação Comunicação, Cultura e Amazônia – UFPA Belém, 18 de abril de 2012

Mestrado 2012 aula 6

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Mídia e Cultura na AmazôniaAula 6

Localismo e identidade: A pesquisa sobre Parauapebas.

Prof. Dr. Fábio Fonseca de CastroPrograma de Pós-graduação Comunicação, Cultura e Amazônia –

UFPABelém, 18 de abril de 2012

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Introdução

Objeto estudado: A experiência geracional do jovem de classe média da fronteira amazônica.

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Para caracterizar o que chamamos de fronteira amazônica partimos da reflexão de Otávio Velho sobre o caráter conflitivo e transitório dos processos sociais de ocupação do território amazônico.

Segundo Velho, o modelo de ocupação recente da Amazônia produz um choque intermitente entre a situação social antes existente e os interesses do estado, agente promotor central dessa ocupação. O resultado desse choque seria um espaço social e histórico marcado pela indefinição, pela crise, pela mutação e pelo transitório[1].

1 VELHO, Otávio. Capitalismo autoritário e campesinato : um estudo comparativo a partir da fronteira em movimento. São Paulo, DIFEL, 1979, p.61.

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Tese

• A fronteira amazônica possui dinâmicas sociais importantes, que geram compromissos regionais peculiares, tanto no campo político como no campo cultural.

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• Ela não seria o vazio ontológico que lhe reprovam as populações de Belém e certos analistas.

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• Ao contrário, o que se verifica nela é um vitalismo social importante, marcado por representações sociais da Amazônia e de si mesmo que não são nem amorfas e nem estáticas.

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Metodologia

• Utilizamos o método da coleta de representações sociais, desenvolvido por Moscovici[1], para efetuar uma percepção do campo simbólico constituído pelos entrevistados. Como se sabe, a proposição de Moscovici está centrada na idéia de que a produção dos sentidos se dá coletivamente, por meio de tipificações sociais, às quais compreende como representações.

• [1] Cf. MOSCOVICI, S. The Invention of societe. Cambridge, Polity Press, 1988 et Id. Representações sociais. Investigações em psicologia social, 3ª ed. Petrópolis, Vozes, 2003.

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Universo pesquisado

• Os atores sociais observados foram 38 universitários. Seu perfil econômico e sócio-cultural os situa na classe média local.

• Deles, desejou-se evocar a experiência geracional de fazer parte de uma fronteira em movimento.

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Procurou-se perceber de que modo a sua percepção de mundo e as suas práticas de socialidade produzem uma representação social de sua identidade geracional e como essa representação interpreta a condição de serem amazônidas e, nessa condição, os habilita a evocar e produzir uma identidade social ou cultural regional.

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Universo pesquisado

• 30 mulheres (79% do total pesquisado) e 8 homens (21%).

• A maioria deles (35%) está na faixa-etária de 21-23 anos. Seguem-se as faixas-etárias de 24-26 anos (28%), acima de 29 anos (17%), 27-29 anos (14%) e 18-20 anos (6%).

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Universo pesquisado

• 2 já possuem outro curso superior e outros 2 possuem uma qualificação técnica que os habilita a exercerem atividades profissionais especializadas.

• 29 (76%) exercem uma atividade profissional e 9 (24%) são estudantes em tempo integral.

• Desses 9 apenas um se descreveu como desempregado.

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• Dentre os que trabalham, 13 (33%) são auxiliares administrativos em empresas do setor privado, inclusive a CVRD, 4 (11%) são funcionários públicos, 4 (11%) são técnicos especializados e 1 (3%) é comerciante.

• Outros 7 entrevistados (18%) trabalham já na área profissional da Comunicação, seja como jornalistas, seja prestando serviços de assessoria de comunicação às empresas locais.

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Universo pesquisado

• Apenas 2 nasceram em Parauapebas. • Sua procedência se reparte da seguinte maneira:

– 14 (37%), aí incluídos os 2 entrevistados nascidos em Parauapebas, são naturais do próprio estado do Pará,

– 9 (24%) nasceram no Maranhão, – 4 (11%) do Tocantins, – 2 (5%) em Goiás, 2 (5%) no Piauí e outros 7 (18%)

nasceram em outros tantos estados brasileiros.

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Universo pesquisado

• Percebe-se uma maioria significativa, embora não dominante, nascida no próprio estado do Pará – o que sugere uma migração que começa a se consolidar.

• Porém, se projetamos sobre esses dados a procedência de seus pais, encontramos um quadro diferente, no qual apenas 26% dos indivíduos (pais e mães dos 38 entrevistados somados), o equivalente a 19 indivíduos, são paraenses.

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• Tem-se, a seguir, 18 maranhenses (23%), 9 goianos (12%), 7 piauienses (9%), 5 mineiros (6%), 4 baianos (5%), além de 3 paranaenses, 2 paraibanos, 2 cearenses, 1 pernambucano e 1 gaúcho que, juntos, perfazem 14% do total.

• Observe-se ainda que 2 entrevistados não informaram a origem de seus pais ou de um deles.

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Universo pesquisado• A idéia de fronteira em processo de consolidação

se define melhor quando observamos, no universo dos entrevistados, o momento em que eles se estabeleceram em Parauapebas.

• Sabendo que apenas 2 deles (6%) nasceram no município, projetamos o momento de fixação dos demais em quatro períodos de cinco anos cada: 1981-86, 1987-1992, 1993-1998 e 1999-2005.

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• Nessa projeção, observa-se que 31% dos entrevistados estabeleceu-se na cidade no primeiro período, 17% no segundo, 19% no terceiro e 33% no quarto.

• Porém, considerando que 8 dos entrevistados estabeleceu-se em Parauapebas nos anos de 2004 e 2005, justamente o momento em que

se produziu seu ingresso no curso, sendo este, possivelmente, o motivo real de sua atração para Parauapebas

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• percebemos que 40% dos entrevistados se estabeleceu na cidade entre os anos de 1981 e 1986, ou seja, nos primeiros anos de existência de Parauapebas. É a parcela mais importante, observando-se uma tendência

decrescente a partir de então.

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Universo pesquisado

• Uma outra projeção interessante, desta vez por evocar um padrão familiar na estrutura dos movimentos de migração para o sudeste paraense, é obtida quando lançamos no gráfico a idade dos entrevistados no momento em que se estabeleceram no município.

• Excetuando os dois entrevistados que nasceram no município, percebemos 27% dos demais ali chegaram entre seu primeiro e seu sexto aniversário.

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Universo pesquisado

• As camadas entre 7 e 12 anos e entre 13 e 18 anos é similar: cada uma delas responde por 19% dos entrevistados. Somando-se esses números e considerando que até os 18 anos pode-se imaginar vínculos familiares mais sólidos envolvendo os indivíduos, encontra-se uma base de 65% de indivíduos migrados no contexto provável de uma decisão familiar. Outra parcela significativa aparenta ter migrado por conta própria: 31% dos entrevistados estabeleceu-se entre os 19 e os 24 anos de idade e 4% entre os 24 e os 30 anos de idade.

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Universo pesquisado

• Essas diferenças produzem um imaginário sobre a fronteira. Comum à maioria, parece haver a idéia de que sua estada em Parauapebas é transitória.

• Indagamos se pretendem viver definitivamente na cidade e 71% dos entrevistados respondeu imediatamente que não.

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• Dos restantes, 5% condiciona sua permanência em Parauapebas às possibilidades futuras de trabalho e realização pessoal e 24% afirmam categoricamente que sim, que estão definitivamente estabelecidos na cidade.

• Todos, porém, demonstram uma percepção aguda de que o espaço-mundo que os envolve está em movimento rapidamente.

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Universo pesquisado

• Um dado a nosso ver importante, diz respeitos aos vínculos que os entrevistados mantêm com seu lugar de origem.

• Cerca de 61% deles afirmam possuir algum vínculo, ainda que tênue, com seus familiares e amigos no local de origem.

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Universo pesquisado

• Porém, também percebemos que o lugar de origem não constitui um pólo atrator e que apenas uma parcela pequena dos entrevistados costuma retornar a esse lugar periodicamente.

• Ou seja, parece haver uma disposição de permanência, ou ao menos de trânsito, na sua subjetividade.

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Universo pesquisado

• Essa disposição de permanência não significa, necessariamente, uma permanência em Parauapebas, mas sim um distanciamento do lugar de origem – o que equivale a uma permanência na fronteira.

• Se, como vimos, 71% dos entrevistados não pretende permanecer em Parauapebas definitivamente, 92% deles, por outro lado, não pretende retornar a seu lugar de origem.

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Práticas culturais da fronteira amazônica

• Que se faz em Parauapebas nas horas e dias de folga e nas férias, como atividade de lazer?

• As práticas de lazer fornecem um indicador importante para a subjetividade. Perguntado se integram algum grupo regular de amigos, apenas 11% dos entrevistados responderam que não.

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Igreja, praça 10%

Comer, beber 24%

esporte, natureza 14%

clube 10%

dançar, shows 10%

amigos 8%

nada 3%

outros 4%

cinema, filmes, 17%

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Práticas culturais da fronteira amazônica

• O aceso à Internet, por sua vez, é ágil e fácil no município. A freqüência média semanal de acesso dos entrevistados é significativa: 53% acessam diariamente a Internet, contra 34% que afirmam acessá-la de 2 a 3 vezes por semana e 8% que afirma um acesso semanal.

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• Apenas dois entrevistados (5% do universo) acessam a Internet apenas ocasionalmente. Todos, no entanto, possuem email e mais de 70% possuem contas nos serviços MSN e Orkut. Em acréscimo, seis entrevistados possuem fotologs, cinco possuem blogs e um deles possui um website pessoal.

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Práticas culturais da fronteira amazônica

• Em relação ao uso da televisão aberta, percebemos que 54% dos entrevistados afirmam assistir a uma média diária de 2 a 3 horas da programação, enquanto 32% assistem a menos de duas horas diárias e 14% assistem a mais de três horas diárias.

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Práticas culturais da fronteira amazônica

• Por outro lado, há uma grande quantidade de locadoras de filmes no município. Em relação à freqüência no consumo de filmes (DVDs e vídeo-cassetes), 42% dos entrevistados afirmaram locar ao menos um filme por semana, enquanto 39% loca, em média, de 2 a 3 filmes e 16% loca mais de três filmes. Apenas 3% dos entrevistados não costumam locar filmes regularmente.

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Práticas culturais da fronteira amazônica

• Em contraposição, há a freqüência ao cinema. O único em atividade no município fica no núcleo urbano de Carajás e constitui um local de socialidade importante.

• Aparentemente, não é todo morador da cidade de Parauapebas que se sente à vontade para subir a serra e freqüentar o cinema. Essa tendência parece se refletir no universo pesquisado, pois apenas 5 entrevistados, 11% do total, afirma freqüentar o cinema semanalmente.

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Práticas culturais da fronteira amazônica

• A freqüência quinzenal é sugerida por 11% dos entrevistados e a freqüência mensal por 16% deles.

• Os demais 60% dos entrevistados não freqüentam o cinema do núcleo de Carajás ou o faz muito esporadicamente.

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Destino de ferias

Belém 20%

Litoral PA 6%

Sudeste PA 18%

Redondezas 19%

Nordeste 10%

São Luis 6%

Outros 8%

Não sai 13%

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Representações da fronteira amazônica: método de coleta

• Indagamos, seqüencialmente as seguintes 3 questões:– idependentemente do momento em que o entrevistado

se estabelecera no município, sobre como era a Parauapebas de quando lá chegou;

– sobre o que mudara na cidade, no tempo presente, em relação a como ela era quando lá chegou e, porfim,

– como imagina Parauapebas em de trinta anos.

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• Solicitamos respostas livres e sem elementos-estímulo e inventariamos, depois, os diversos campos semânticos constituídos em cada uma dessas três perguntas.

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A primeira questão: Temporalidade da fronteira amazônica.

• A primeira questão tendeu a evocar um espaço social crítico, perigoso e confuso. Algumas poucas vezes, também idílico, associado ao mito de uma floresta amazônica virgem e bela.

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A primeira questão: Temporalidade da fronteira amazônica.

• Do total das respostas, inventariando a soma dos signos utilizados para descrever “como era Parauapebas quando lá se estabeleceu”, percebemos que 81% delas expressavam uma idéia negativa sobre o espaço-tempo evocado, enquanto que apenas 15% expressavam uma idéia positiva.

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A primeira questão: Temporalidade da fronteira amazônica.

Quanto aos entrevistados que se estabeleceram mais recentemente no município, eles tenderam a fornecer, naturalmente, respostas indiferente a essa questão, somando 4% das idéias referidas.

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Representações da fronteira amazônica: resultados (representações negativas)

• O que foi percebido de negativo nesse espaço-tempo?

– Observamos que, de um total de 90 imagens empregadas pelos entrevistados para descrever negativamente essa Parauapebas fixada enquanto uma imagem de fronteira, 52 imagens ressaltavam as questões infra-estruturais do lugar e 38 evocavam impressões subjetivas de caos e insegurança.

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Representações da fronteira amazônica: resultados (representações negativas sobre a

infra-estrutura)

• Dentre as questões referentes à infra-estrutura – ou melhor, à falta dela – 15 destacaram a ausência de pavimentação e os efeitos decorrentes, 10 mencionaram a ausência de saneamento, 7 a ausência de energia elétrica e 4 a carência de equipamentos educativos e de lazer

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Representações da fronteira amazônica: resultados (representações negativas sobre

caos e insegurança)

• A seu turno, dentre as imagens usadas na evocação das impressões de caos e de insegurança, 19 mencionavam, com uma variedade semântica aberta, plena de subjetividade, o aspecto urbano daquela cidade de fronteira: “um povoado”, “vilarejo”, “pequena vila”, “vila de zona rural”, “estágio inicial”, “praticamente não existia”, “em fase de mobilização”, “ainda não era cidade”, “extremamente feia”, “um lugar muito feio”, “empoeirada”, “conglomerado de barracos de madeira distribuídos desordenadamente”, “casinhas”, “em processo de construção”, “poucas ruas e muitas casas”, etc.

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Outras imagens evocam diretamente a falta de segurança:

“matavam gente todos os dias”, “altos índices de violência”, “violenta”, “inóspita”, “muitos bordéis”, “bebidas e prostitutas”, “covil de ratos”, “sem segurança” e “o trem trazia centenas de desesperados”.

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• Outro grupo de imagens evocou o perfil da população nessa fronteira em mutação – um perfil já entrevisto nas referências sobre a falta de segurança, mas, de qualquer forma, mais específicos no que tange à descrição do tipo mais comumente descrito como o homem da fronteira e os aspectos populacionais de Parauapebas: “poucos habitantes”, “pouco habitada”, “muita prostituição”, “pobreza”, “lotado de pessoas boas e ruins”, “híbrido cultural”, “famílias pobres”.

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Representações da fronteira amazônica: resultados (representações positivas)

• As respostas positivas tenderam a evocar uma floresta amazônica ainda idílica, vislumbrada fugidiamente e rapidamente perdida nas duas décadas de história da cidade.

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Representações da fronteira amazônica: resultados (representações positivas)

• Assim, as imagens que descreviam um espaço-tempo positivo, no começo da vivência do indivíduo entrevistado no lugar, referia Parauapebas como “pacata”, “pequena”, “porém os rios eram limpos”, “com grande expectativa de crescimento”, “população bem menor”, “comércio crescente”, “população menor”, “não havia especulação imobiliária”, “mais tranqüila” e mesmo “corria mais dinheiro”.

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A segunda questão: A temporalidade relativa da fronteira

• Quando projetamos a transformação do espaço de Parauapebas entre o momento de chegada do entrevistado e o momento presente, encontramos, da mesma maneira, uma descrição intensa do processo de fronteirização.

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A segunda questão: A temporalidade relativa da fronteira

• O presente se constitui como um antípoda do passado.

• Por oposição às 90 diferentes imagens usadas para descrever os aspectos negativos de Parauapebas no passado, tem-se agora 64 imagens positivas.

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• Por sua vez, contra as 17 imagens positivas do passado, tem-se novas 41 imagens negativas usadas para representar o presente do município.

• Em meio às 64 imagens positivas usadas pelos

entrevistados para descrever as transformações sofridas pela cidade, a grande maioria aponta aspectos objetivos do progresso urbano, referentes quase todos à superação dos problemas apontados nas respostas à questão anterior. Assim é que, por exemplo, contra a memória da falta de pavimentação e de saneamento, aponta-se, no presente, grandes progressos nessas áreas. Contra as idéias de “vilarejo” e “povoado”, assinala-se, com orgulho, a expansão territorial e da malha urbanizada e, curiosamente, de maneira muito recorrente, usa-se a expressão “criação de novos bairros” para referir a essa expansão.

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A terceira questão: O projeto da fronteira

• As respostas à terceira questão, referentes a “como imagina Parauapebas em 30 anos”, parece completar a representação sobre a história da fronteira como um ciclo mítico, marcado pelo destino de uma história que volta ao ponto de partida.

• Isso porque o futuro é representado por meio de uma espécie de fábula de triunfo e morte: nenhum dos entrevistados duvida do crescimento assombroso que Parauapebas terá em trinta anos.

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• A percepção positiva está presente em 36% do total das respostas, enquanto que a percepção negativa se encontra em 64% delas.

• O futuro descrito positivamente, respostas subjetivas e objetivas misturadas, sugere, principalmente, a “melhoria da infra-estrutura urbana” (61% das respostas positivas), enquanto 21% sugerem o desenvolvimento social e 19% o desenvolvimento industrial.

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Desorganização urbana21%

Desemprego14%

Excesso populacional

14%Criminalidade

12%

Crise infra-estrutura

12%

Caos social21%

Crise ecologica6%

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• As representações do futuro da cidade de Parauapebas parecem construir essa significação contraditória: que dizer de um lugar que era “ruim”, ficou “bom” mas que tornará a ficar “ruim”, no futuro?

• Há uma coesão no espaço-tempo do passado-presente-futuro da fronteira.

• A fronteira é, apesar de tudo, um espaço moral. Isso resulta dela ser, sempre, em qualquer cenário histórico, um experimento social, um laboratório de limites e conexões.

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Síntese de resultados: Observação sobre a temporalidade da narrativa e da representação

• Mesmo sabendo que, materialmente, o momento de chegada ao município foi diferente entre os diversos entrevistados, eles parecem partilhar uma experiência temporal comum, disposta na duração dos processos sociais e na percepção historicamente constituída e sedimentada que, em última análise, compõe a própria experiência geracional desses indivíduos.

• De certa maneira, todos eles são pioneiros, ainda que alguns o tenham sido involuntariamente, da fronteira amazônica.

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Síntese de resultados: Observação sobre a temporalidade da narrativa e da representação

• Vista de um espaço social contíguo, mas – aparentemente – consolidado, como Belém, a fronteira amazônica é o território do caos, do vazio, do condenável. Porém, vista a partir de sua própria experiência histórica, a fronteira amazônica é um espaço de laboratório, de ensaio.

• A experiência geracional de fazer parte da fronteira amazônica conforma, no horizonte dessas dinâmicas e contradições, um feixe de representações sociais cuja idéia central nos parece ser a de “missão”. Ser jovem e universitário em Parauapebas, em 2006, parece sugerir que se tem um compromisso geracional.

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Síntese de resultados: Observações sobre o vitalismo da fronteira.

• As respostas coletadas indicam uma experiência geracional com muitos canais de socialidade:

• Em primeiro lugar, quanto à solidificação de redes de contato e solidariedade, demonstradas na coesão das respostas sobre as práticas de lazer.

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Síntese de resultados: Observações sobre o vitalismo da fronteira.

• Em segundo lugar, quanto aos indícios de consolidação da estrutura populacional, indicados quando se percebe que os jovens universitários entrevistados, segunda geração, em sua maioria, dos migrantes desbravadores da fronteira amazônica mais recente, tendem a se considerar amazônidas, efetivamente, procurando estabelecer conexões com outras experiências sociais ditas “tradicionais” e a construir laços de pertencimento a uma generalidade regional que parece estar presente em Belém e em outras áreas tradicionais, mas não plenamente na fronteira.

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Síntese de resultados: Observações sobre o vitalismo da fronteira.

• Em terceiro lugar, enfim, quanto à percepção de compromissos sociais que lhes cabem, na sua especificidade de indivíduos da fronteira amazônica e, particularmente, de habitantes do município de Parauapebas, que centraliza as ações da Companhia Vale do Rio Doce no Pará e que abriga a jazida de Carajás. Aliás, a função da CVRD na vida econômica do município é um dos aspectos centrais da percepção do espaço-tempo dos seus habitantes.