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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE GEOGRAFIA Curso de Especialização Ensino de Geografia Para as Séries Iniciais LAIR MIGUEL DA SILVA O LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA (MG) UBERLÂNDIA, MG. 2014

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

INSTITUTO DE GEOGRAFIA

Curso de Especialização Ensino de Geografia Para as Séries Iniciais

LAIR MIGUEL DA SILVA

O LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO

DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA (MG)

UBERLÂNDIA, MG.

2014

LAIR MIGUEL DA SILVA

O LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO

DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA (MG)

Monografia apresentada ao Curso de

Especialização em Ensino de Geografia

Para as Séries Iniciais do Ensino

Fundamental, do Instituto de Geografia da

Universidade Federal de Uberlândia, para

obtenção do Título de Especialista.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Cervo

Chelotti.

UBERLÂNDIA, MG.

2014

LAIR MIGUEL DA SILVA

O LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO

DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA (MG)

Banca examinadora

_____________________________________________

Prof. Dr. Marcelo Cervo Chelotti (IG-UFU)

_______________________________________________

Prof. Dr. Mirlei Fachini Vicente Pereira (IG-UFU)

________________________________________________

Prof. Dr. Antônio Cláudio Moreira Costa (FACED-UFU)

Data ____/____/____

Resultado: ___________

A Geografia , assim como a criança, é um perigo para

os homens sérios que fazem do lucro seu sentido

existencial, porque no meio da brincadeira ela pode

deixar muitos reis completamente nus. (Manoel

Fernandes)

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus que tem me amparado e sustentado, o amigo certo das

horas incertas.

A Universidade Federal de Uberlândia e principalmente aos idealizadores do curso

“Especialização em Geografia para as séries Iniciais do Ensino Fundamental” pela

oportunidade de fazer о curso.

Aos milhões de brasileiros e brasileiras, que pagam para que eu estude em uma

universidade pública.

Ao meu orientador Marcelo Cervo Chelotti, pela paciência, compreensão, e

principalmente pelos ensinamentos. Excelente profissional e amigo.

A minha família, em especial a minha maninha Luciana que mesmo talvez sem entender

muito sobre o assunto sempre me ouve.

Aos professores do curso, que por algum momento foram também meus orientadores

me auxiliando na realização deste trabalho.

Ao professor Antônio Cláudio da (FACED UFU) por ter me auxiliado grandemente

com informações e principalmente por ter disponibilizado um tempinho para participar

da banca juntamente com o professor Mirlei Fachini.

Enfim, minha gratidão vai para todos que direta ou indiretamente contribuíram para que

esse trabalho fosse realizado.

RESUMO

Nos últimos anos tem-se discutido a necessidade de se pensar uma Educação do Campo

enquanto uma possibilidade de reconhecimento dos saberes e fazeres, bem como a

busca pela emancipação dos sujeitos do campo. Nesse contexto, o ensino de Geografia

pode contribuir nesse processo, pois se trata de um saber que tem como objeto de estudo

a compreensão do espaço socialmente construído. Tendo em vista que o livro didático

consiste em um dos recursos mais utilizados nas escolas públicas brasileiras; o presente

trabalho teve como intuito mostrar como o livro didático de Geografia poderia

contribuir na construção da Educação do Campo, em específico no município de

Uberlândia/MG. Assim, o objetivo geral consistiu em compreender se e como esta

ocorrendo a implementação dos livros didáticos de Geografia (PNLD Campo)

destinados às escolas rurais no referido município. Para respondê-lo foram definidos

três objetivos específicos: a) discutir a importância do livro didático de Geografia

específico para escolas rurais na construção da educação do campo no município de

Uberlândia/MG; b) investigar se as escolas rurais do município de Uberlândia estão

adotando os livros didáticos do PNLD Campo 2013; c) saber qual a visão dos docentes

em relação à implementação do livro didático de Geografia, dos anos iniciais,

destinados às escolas do campo. Como procedimentos metodológicos foram realizadas

leituras sobre o ensino de Geografia para os anos iniciais, sobre o livro didático em

geral e em particular o livro didático de Geografia, e sobre a Educação do Campo.

Sendo assim, realizou-se a leitura do documento Guia PNLD Campo 2013, bem como

entrevista com a assessora pedagógica do ensino fundamental da Secretaria de

Educação, e aplicação de questionários aos professores da escola rural Freitas Azevedo.

Portanto, concluímos que realmente o livro didático de Geografia pode contribuir na

aquisição de conhecimentos para a construção da Educação do Campo. Contudo, é

preciso que se faça a capacitação dos professores, bem como uma política de formação

continuada voltada para a educação do campo.

Palavras - chave: PNLD Campo. Livro Didático. Geografia. Educação do Campo.

ABSTRACT

In the last few years, the rural education has been subject of discussion as a possibility

for recognition of knowledge and practices, as well as the search for the emancipation

of the subject field. Within this context, the teaching of Geography can contribute in

this process, for it is a knowledge whose subject of study is the understanding of the

socially constructed space. Considering textbook as one of the most used features in

Brazilian public schools, this paper‟s object is to show how Geography textbook could

contribute to the construction of rural education, specifically in the city of Uberlândia.

Therefore, the overall objective was to understand if and how is occurring the

implementation of Geography textbooks (PNLD Campo - National Textbook Program)

intended for rural schools in said city. Three specific objectives were created to answer

that, namely: a) to discuss the importance of the specific Geography textbook for each

rural school in the construction of the rural education in the city of Uberlândia; b) to

investigate if said schools are using the textbooks from the 2013 National Textbook

Program; c) to know the teachers‟ point of view regarding the implementation of the

Geography textbook, in the early years, for use in the rural schools. The methodological

procedures consisted of readings about teaching of Geography for the initial years,

textbook in general and the Geography textbook, specifically, and rural education. In

addition, there was carried out the reading of the 2013 Guide of the National Textbook

Program, as well as an interview with the educational advisor of elementary school

from the Department of Education. Also, questionnaires were applied to teachers from

the rural school Freitas Azevedo. The conclusion was that Geography textbook can,

indeed, contribute to the acquisition of knowledge in the construction of rural education.

However, it is necessary to train teachers and create a policy of continuing education for

the rural education.

Keywords: National Textbook Program. Textbook. Geography. Rural Education.

LISTA DE ILUSTAÇÕES

Figura 1. Localização do município de Uberlândia MG. ................................... 19

Figura 2. PNLD 2013 distribuição dos livros didáticos ..................................... 29

Figura 3.Texto sobre migração ........................................................................... 42

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Matrículas na rede municipal de ensino em Uberlândia e Minas

Gerais. .................................................................................................................. 20

Quadro 2. Escolas municipais da zona rural de uberlândia ............................... 21

Quadro 3. Informações das coleções aprovadas no PNLD Campo 2013... .. ..... 40

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 11

1 . POR UMA EDUCAÇÃO DO CAMPO ...................................................... 14

1.1 Os desafios da educação do campo no Brasil ............................................... 14

1.2 A educação do campo e a legislação brasileira ............................................ 16

1.3 A educação escolar no campo do município de Uberlândia MG ................. 18

2 .O ENSINO DE GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO ............... 24

2.1O ensino de Geografia nos anos iniciais do ensino fundamental .................. 24

2.2 A contribuição da Geografia na educação do campo ................................... 27

2.3 O livro didático no ensino de Geografia ........................................................ 29

3. O LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA NA CONSTRUÇÃO DA

EDUCAÇÃO DO CAMPO EM UBERLÂNDIA MG .................................... 38

3.1 PNLD Campo: um programa para as escolas rurais ..................................... 38

3.2 Porque o PNLD Campo não foi implementado em Uberlândia MG? ........... 43

3.3 O livro didático de geografia específico para escolas do campo e a opinião

dos docentes ......................................................................................................... 45

3.4 Como o livro didático de Geografia pode contribuir na construção da

educação do campo? ............................................................................................ 49

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 54

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 56

ANEXOS ................................................................................................................................................ 60

11

INTRODUÇÃO

De acordo com o IBGE censo 2010, 84% da população brasileira é considerada

urbana, ou seja, é inegável o nosso intenso processo de urbanização. No entanto,

existem 16% da população que moram no meio rural, e necessitam das mesmas

oportunidades e direitos, tais como saúde, educação, entre outros. Em relação à oferta

de educação no campo, quando existe, a mesma encontra-se muito distante da realidade

dos sujeitos do campo, sendo em muitos casos um apêndice da educação oferecida no

urbano.

Nos últimos anos foram criadas algumas políticas públicas voltadas para a

educação do campo, por exemplo, o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária

(PRONERA), mas ainda assim, muitas vezes essa educação se dá de forma desassociada

da realidade vivida nesse lugar, isso ocorre devido a vários fatores entre os quais

podemos citar a formação dos professores, uma vez que são formados para trabalharem

com um público urbano e não com um público rural. Todavia, não se deve esquecer que

em um processo de ensino e de aprendizagem são muitos os envolvidos, educadores,

educandos e até mesmo as condições para que esse processo possa ocorrer de forma

eficiente. Entre essas condições podem ser citados os livros didáticos que também

precisam estar adequados à realidade do educando.

Contudo o que se percebe nas escolas públicas brasileiras é que nem sempre o

livro didático condiz com a realidade do lugar onde a escola se encontra inserida, tanto

no rural quanto no urbano isso está relacionado a produção do livro didático que em

geral ocorre em escala nacional.

Dessa forma o Ministério da Educação por meio do PNLD Campo (Programa

Nacional do Livro Didático Campo), busca fomentar a produção de livros didáticos para

os anos iniciais do ensino fundamental destinados a educação do campo com o intuito

de considerar as especificidades do meio rural, ou seja, livros didáticos que se

aproximem da realidade vivida pelos docentes e discentes do campo.

Diante disso, e sabendo que o município de Uberlândia possui 13 escolas

rurais, e segundo dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira) em 2013 foram realizadas 1.778 matrículas nos anos

iniciais do ensino fundamental nessas escolas; considera-se importante compreender e

discutir a não implementação desse programa no referido município, com ênfase no

livro didático de Geografia para os anos iniciais do ensino fundamental.

12

Isto pode ser justificado porque a Geografia é uma ciência que tem como objeto

de estudo o espaço socialmente construído, dessa forma pressupõe que a mesma

enquanto disciplina escolar tem muito a contribuir para construção da educação do

campo no município de Uberlândia MG.

Assim para atingir o objetivo geral que inicialmente era, compreender se e como

estava ocorrendo a implementação dos livros didáticos de Geografia destinados às

escolas rurais no município de Uberlândia, foram definidos três objetivos específicos:

a)discutir a importância do livro didático de Geografia específico para escolas rurais na

construção da educação do campo no município de Uberlândia MG; b) investigar se as

escolas rurais do município de Uberlândia estão adotando os livros didáticos do PNLD

Campo 2013;c) saber qual a visão dos docentes em relação à implementação do livro

didático de Geografia, dos anos iniciais, destinados às escolas do campo.

Como procedimentos metodológicos foram realizadas leituras sobre o ensino de

Geografia para os anos iniciais, o livro didático em geral e em particular o livro didático

de geografia e a educação do campo. Foi feita a leitura do documento Guia PNLD

Campo 2013, entrevista com a assessora pedagógica do ensino fundamental da

Secretaria Municipal de Educação e aplicação de questionários aos professores da

escola rural Freitas Azevedo no município de Uberlândia MG.

Após a coleta dos dados os mesmos foram analisados utilizando-se a técnica,

Análise de Conteúdo, que é um procedimento metodológico quantitativo - qualitativo,

que permite realizar levantamentos dos sentidos e significados presentes em

informações de diferentes modalidades entre as quais: palavras, conceitos, jornais,

respostas a questionários, ilustrações, entrevistas, etc. (SANTOS; RAMIRES, 2009)

Para a análise recorreu-se ao quantitativo, número de vezes que determinado

termo ou resposta aparecia, e ao qualitativo onde se analisou o sentido ou significado

dos termos usados nas respostas.

Assim, estruturamos o trabalho da seguinte forma: introdução, três capítulos,

considerações finais e anexos. No primeiro capítulo é feita uma apresentação da

educação do campo e os desafios que a mesma deve enfrentar para se consolidar, é feito

um comentário sobre a legislação brasileira e a educação do campo com referência na

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 e no Decreto nº 7.352, de 4 de

novembro de 2010. Ainda nesse capítulo é abordada a questão do rural no município de

Uberlândia, onde a pesquisa foi realizada, destacando as escolas rurais do município e a

situação das mesmas no contexto da educação do campo.

13

No segundo capítulo é feita uma abordagem a respeito do ensino de Geografia,

mostrando a importância dessa disciplina nos anos iniciais do ensino fundamental, bem

como a sua contribuição na educação do campo. É feito ainda neste capítulo um

comentário sobre o livro didático, a questão da ideologia presente neste recurso, a

comercialização e a sua utilização no ensino de Geografia.

No terceiro capítulo é apresentado o PNLD Campo, os dados obtidos na

pesquisa seguidos de discussão, analisando o porquê da não implementação do PNLD

Campo no município de Uberlândia. Nesse capítulo são tecidos comentários sobre a

opinião de docentes atuantes em escolas no campo sobre o livro didático de Geografia

específico para essas escolas, é feita também uma reflexão sobre a contribuição do livro

didático para a construção da educação do campo no município de Uberlândia MG.

Embora esse trabalho seja apenas o início de uma discussão sobre o livro

didático de Geografia nos anos iniciais do ensino fundamental e a construção da

educação do campo, espera-se que o mesmo venha contribuir no trabalho de

profissionais da educação, bem como para elaboração de novas propostas e projetos

para educação do campo nas escolas rurais do município de Uberlândia.

14

1- POR UMA EDUCAÇÃO DO CAMPO “... um dos saberes fundamentais mais

requeridos para o exercício de tal testemunho é

o que se expressa na certeza de que mudar é

difícil, mas é possível”. Paulo Freire

1.1 Os desafios da educação do campo no Brasil

Nos últimos tempos tem-se falado em uma educação do campo, ou seja, uma

educação que esteja em conformidade com o modo de vida, com a cultura e as

necessidades dos sujeitos do campo. Diante disso julga-se necessário fazer uma

apresentação do que vem a ser essa educação do campo, comentada e discutida por

trabalhadores, educadores e outros sujeitos preocupados com a vida no campo. Caldart,

no Dicionário da educação do campo faz a seguinte afirmação:

O surgimento da expressão “educação do campo” pode ser datado.

Nasceu primeiro como Educação Básica do campo no contexto de

preparação da I Conferência Nacional por uma Educação Básica do

Campo, realizada em Luziânia, Goiás, de 27 a 30 de julho 1998. Passou

a ser chamada educação do campo a partir das discussões do Seminário

Nacional realizado em Brasília de 26 a 29 de novembro 2002, decisão

posteriormente reafirmada nos debates da II Conferência Nacional,

realizada em julho de 2004. ( CALDART, 2011, p.257)

Arroyo (2011, p.82) menciona a educação do campo mostrando que nesta deve-

se ter uma visão mais rica do conhecimento e da cultura “Insisto que não seja apenas um

conjunto de saberes utilitário. Só aqueles saberes que sejam básicos para a vida no

campo, para a sobrevivência, nem para se adaptar às novas tecnologias”. Arroyo

prossegue com sua concepção de educação do campo afirmando que:

Partindo dessa visão teremos que responder a questões concretas e

incorporar no currículo do campo os saberes que preparam para a

produção e o trabalho, os saberes que preparam para a emancipação,

para a justiça, os saberes que preparam para a realização plena do ser

humano como humano (ARROYO, 2011, p.83).

É importante aqui compreender também a distinção entre educação “do”, “para”

e “no” campo, ou seja, não se busca uma educação apenas para fixar o homem no

campo, ou ainda simplesmente para alimentar o capitalismo. Mas a educação que se

persegue e almeja é a educação do campo, feita pelos sujeitos do campo com vista à

humanização. Os autores Fernandes; Cerioli; Caldart (2011, p.27) são bem categóricos

quando afirmam, “Não basta ter escolas no campo queremos ajudar a construir escolas

do campo, ou seja, escolas com um projeto político-pedagógico, vinculado as causas,

aos desafios, aos sonhos, à história e a cultura do povo trabalhador do campo”.

Todavia, conforme afirma Wizniewsky (2013), é recente a preocupação do

15

sistema educacional brasileiro em fomentar políticas educacionais eficientes que

viessem atender as necessidades do campo. Isto porque a escola brasileira se

desenvolveu, tendo em sua base teórica e metodológica uma prática que privilegia o

urbano.

Assim tem havido uma constante luta dos sujeitos do campo no sentido de

reivindicar uma educação em que o educando do campo se sinta parte da mesma. Que

não seja simplesmente uma escola localizada na área rural, mas que seja uma escola

onde se desenvolva uma educação que considere a realidade e o modo de vida rural. E

que seja pautada no humanismo e não apenas uma educação tecnicista como fora

planejada anteriormente conforme mostrado pela Secretaria de Educação Continuada,

Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC)

Ao mesmo tempo, a suposição de que o conhecimento “universal”,

produzido pelo mundo dito civilizado deveria ser estendido – ou

imposto - a todos, de acordo com a “capacidade” de cada um, serviu

para escamotear o direito a uma educação contextualizada, promotora

do acesso à cidadania e aos bens econômicos e sociais, que respeitasse

os modos de viver, pensar e produzir dos diferentes povos do campo.

Ao invés disso, se ofereceu, a uma pequena parcela da população rural,

uma educação instrumental, reduzida ao atendimento de necessidades

educacionais elementares e ao treinamento de mão-de-obra.

(BRASIL/MEC/SECAD, 2007, p.10)

A educação do campo deve ser planejada para muito além de simplesmente

formar mão de obra ou para tentar conter a população no campo para evitar transtorno

na cidade como ocorreu na década de 1960.

Na década de 60, a fim de atender aos interesses da elite brasileira,

então preocupada com o crescimento do número de favelados nas

periferias dos grandes centros urbanos, a educação rural foi adotada

pelo Estado como estratégia de contenção do fluxo migratório do campo

para a cidade. (BRASIL/MEC/SECAD, 2007, p.10)

Aqui vemos uma educação voltada não para a emancipação dos sujeitos do

campo, mas simplesmente como um meio de tentar solucionar problemas do urbano.

Desse modo uma educação que considere os sujeitos do campo nas dimensões social

cultural e econômica no Brasil é um desafio a ser enfrentado.

Caldart, (2012, p 261) chama a atenção para o fato de ser um desafio defender

uma educação dos camponeses uma vez que esta confronta com a lógica da agricultura

capitalista. Diante disso a autora coloca as seguintes perguntas: “como pensar em

políticas de educação do campo ao mesmo tempo em que se projeta um campo com

cada vez menos gente?” e “como admitir como sujeitos propositores de políticas

16

públicas, movimentos sociais criminalizados pelo mesmo Estado que deve instituir

essas políticas?”

Mesmo sabendo que é necessário transpor essas barreiras, não são poucos os

militantes que lutam pela causa buscando não apenas a educação dos camponeses, mas

também a reforma agrária, pelo direito ao trabalho, à cultura, à soberania alimentar, ao

território.

A educação por si só não resolverá os problemas existentes no campo, porém a

educação pode auxiliar de forma significativa no processo de emancipação dos sujeitos

do campo.

1.2 A educação do campo e a legislação brasileira

Quando se fala em educação do campo não se está falando de objetivos utópicos,

pelo contrário, está se falando de objetivos que já se encontram na legislação brasileira,

porém de forma tecnicista requerendo uma reformulação ou adaptação para atender a

concepção de educação do campo mentalizada pelos sujeitos protagonistas dessa

educação.

A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação, 1996) em seu artigo 28

menciona a oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino

promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e

de cada região. Também os incisos I, II e III do referido artigo abordam respectivamente

sobre: conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e

interesses dos alunos da zona rural; organização escolar própria, incluindo adequação do

calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas e adequação à

natureza do trabalho na zona rural.

Outro documento que menciona questões referentes à educação para a população

rural é o Decreto nº 7.352, de 4 de novembro de 2010, no artigo 1º os incisos I e II

trazem definições sobre populações do campo e escolas do campo. O primeiro termo é

definido da seguinte forma:

Populações do campo: os agricultores familiares, os extrativistas, os

pescadores artesanais, os ribeirinhos, os assentados e acampados da

reforma agrária, os trabalhadores assalariados rurais, os quilombolas, os

caiçaras, os povos da floresta, os caboclos e outros que produzam suas

condições materiais de existência a partir do trabalho no meio rural.

(BRASIL, 2010)

17

Entende-se então que todas essas populações devem ser contempladas com a

educação básica. A segunda definição, a de escola do campo é assim expressa: “escola

do campo: aquela situada em área rural, conforme definida pela Fundação Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, ou aquela situada em área urbana, desde

que atenda predominantemente a populações do campo”. Todavia Caldart traz uma

definição mais ampla de escola do campo:

Uma escola do campo não é, afinal, um tipo diferente de escola, mas

sim é a escola reconhecendo e ajudando a fortalecer os povos do campo

como sujeitos sociais, que também podem ajudar no processo de

humanização do conjunto da sociedade, com suas lutas, sua história, seu

trabalho, seus saberes, sua cultura, seu jeito. Também pelos desafios de

sua relação com o conjunto da sociedade. Se é assim, ajudar a construir

escolas do campo é fundamentalmente, ajudar a construir os povos do

campo como sujeitos organizados e em movimento. Porque não há

escolas do campo sem a formação dos sujeitos sociais do campo, que

assumem e lutam por esta identidade e por um projeto de futuro.

(CALDART, 2011, p. 110)

Tanto a definição presente no decreto quanto a apresentada por Caldart são de

suma importância, porém enquanto a primeira está mais relacionada a materialidade,

por exemplo, a localização do prédio da escola do campo, a segunda está mais voltada

para a imaterialidade, ou seja, os princípios da escola do campo. Contudo é preciso

lembrar que o decreto traz também vários princípios relacionados a educação do campo:

I - respeito à diversidade do campo em seus aspectos sociais, culturais,

ambientais, políticos, econômicos, de gênero, geracional e de raça e

etnia;

II - incentivo à formulação de projetos político-pedagógicos específicos

para as escolas do campo, estimulando o desenvolvimento das unidades

escolares como espaços públicos de investigação e articulação de

experiências e estudos direcionados para o desenvolvimento social,

economicamente justo e ambientalmente sustentável, em articulação

com o mundo do trabalho;

III - desenvolvimento de políticas de formação de profissionais da

educação para o atendimento da especificidade das escolas do campo,

considerando-se as condições concretas da produção e reprodução

social da vida no campo;

IV - valorização da identidade da escola do campo por meio de projetos

pedagógicos com conteúdos curriculares e metodologias adequadas às

reais necessidades dos alunos do campo, bem como flexibilidade na

organização escolar, incluindo adequação do calendário escolar às fases

do ciclo agrícola e às condições climáticas; e

V - controle social da qualidade da educação escolar, mediante a efetiva

participação da comunidade e dos movimentos sociais do campo.

(BRASIL, 2010)

Acredita-se que todos esses princípios podem ser utilizados juntamente com

outros elementos para a construção de uma escola pautada no humanismo, conforme

nos mostra Caldart, ou melhor, na valorização dos sujeitos do campo.

18

O artigo 3º desse decreto menciona que:

“Caberá à União criar e implementar mecanismos que garantam a

manutenção e o desenvolvimento da educação do campo nas políticas

públicas educacionais, com o objetivo de superar as defasagens

históricas de acesso à educação escolar pelas populações do campo”

(BRASIL, 2010).

Conforme o decreto, essa medida visa às seguintes ações em relação às escolas

do campo: acesso a educação básica; acesso à educação superior, com prioridade para a

formação de professores do campo; construção reforma, adequação e ampliação de

escolas do campo; formação inicial e continuada específica de professores que atendam

às necessidades de funcionamento da escola do campo; produção de recursos didáticos,

pedagógicos, tecnológicos, culturais e literários que atendam às especificidades

formativas das populações do campo; oferta de transporte escolar, respeitando as

especificidades geográficas, culturais e sociais, bem como os limites de idade e etapas

escolares, entre outras. (BRASIL, 2010).

No artigo 1º do decreto em questão, no 4º parágrafo é mencionado também

materiais e condições para a concretização da educação do campo, entre os quais livros

didáticos, que deverão estar em conformidade com a realidade local e a diversidade das

populações do campo.

Enfim, conforme vimos o Estado por meio da legislação “assegura” direitos aos

sujeitos do campo referentes à educação. Entretanto, cabe aos mesmos exigi-los e

utilizá-los no processo de construção da educação do campo. Somente por meio da

educação, de lutas e de reivindicações que esta educação poderá ser conquistada pelos

sujeitos do campo.

1.3 A educação escolar no campo do município de Uberlândia MG

O município de Uberlândia onde esta pesquisa foi realizada localiza - se entre as

coordenadas 18° 30‟ e 19° 30‟ de latitude Sul e 47° 50‟ e 48° 50‟ de longitude oeste de

Greenwich na mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, estado de Minas

Gerais (Figura 1). A área total de Uberlândia é 4.115,09 km², sendo destes 3.896,09 km²

de zona rural e 219 Km² de zona urbana.

19

Figura 1 - Localização do Município de Uberlândia, MG.

Fonte: Antonio M. M de Oliveira (2014)

Quanto aos setores da economia o setor de serviços é o de maior destaque

seguido respectivamente pela indústria e pelo agronegócio. Uberlândia possui várias

empresas exportadoras como a Souza Cruz, Monsanto do Brasil, ADM do Brasil Cargill

entre outras. Todavia, Silva; Previtali mostram a contradição existente entre as empresas

agroindustriais e a agricultura familiar também presente no município.

Em contraposição às grandes empresas agroindustriais, com

investimento tecnológico “de ponta” existe uma agricultura familiar

precária e intensos conflitos pela posse da terra. A reestruturação

produtiva no campo, com a exigência de aquisição de máquinas,

sementes melhoradas, adubos, agrotóxicos, acirraram a condição de

subordinação dos pequenos produtores, dependentes das linhas de

crédito, dos atravessadores, das indústrias. Assim, o investimento

público através de linhas de crédito e incentivos fiscais dá mais

sustentação às empresas privadas agroindustriais do que aos produtores

da agricultura familiar. (SILVA; PREVITALI, 2011, p.83)

Essa é a realidade do campo no município de Uberlândia MG. As mesmas

autoras ainda mencionam que os filhos dos Trabalhadores Sem Terra assentados

compõem uma parcela considerável dos alunos que estudam nas escolas municipais

rurais. Dessa forma podemos verificar a importância da construção de uma educação do

campo no município de Uberlândia.

Todavia para se ter esse tipo de educação é necessário que se faça a capacitação

dos professores e mais, que disponibilize aos docentes e discentes recursos didáticos

condizentes com a realidade dos alunos que freqüentam a escola do campo e que

20

principalmente conscientize os sujeitos do campo mostrando-lhes seus direitos e “que

os gestores educacionais e professores parem de agir como agentes do capital, e tenham

compromisso com a formação integral do ser humano e não reproduzam a lógica

dominante de formação de mão de obra para atender as demandas capitalista”.

(COSTA, 2012, p.6).

O município de Uberlândia, assim como o estado de Minas Gerais e outros

estados brasileiros tem o ensino escolar concentrado na área urbana. No quadro 1 é

possível observar o pequeno número de matrículas nas escolas rurais em relação às

matrículas realizadas nas escolas urbanas.

Quadro 1 - Matrículas na rede municipal de ensino em Uberlândia e Minas Gerais

ENSINO REGULAR - MATRÍCULAINICIAL

EDUCAÇÃO INFANTIL ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO MÉDIO

CRECHE PRÉ-ESCOLA ANOS INICIAIS ANOS FINAIS

Parcial Integral Parcial Integral Parcial Integral Parcial Integral Parcial Integral

Uberlândia

Municipal

Urbana

2.039 5.217 9.539 0 20.531 665 10.270 612 0 0

Municipal

rural

0 25 233 0 1.661 117 1.251 68 0 0

Minas Gerais

Municipal

Urbana

42942 90.677 274.946 24.968 591.535 88.803 286.091 36.157 6.812 49

Municipal

Rural

1.917 3.087 30.416 1.515 126.958 6.758 45.035 2.309 713 0

A pequena quantidade de matriculas nas escolas rurais pode ser justificada pelo

fato da população rural ser bem menor que a urbana. Quanto às escolas o município de

Uberlândia possui 37 escolas urbanas e 13 escolas localizadas na zona rural. Possui

também escolas estaduais, federais e particulares. No quadro 2 são apresentadas as

escolas rurais do município.

Quadro 2 - Escolas Municipais da Zona Rural de Uberlândia MG

1Disponível em: http://portal.inep.gov.br/basica-censo acessado em 21/01/2013

Fonte: Dados organizados pela autora a partir do Censo Escolar preliminar 2013, sistematizado pelo INEP1

21

1 EM Antonino Martins da Silva Av. Central, s/nº - Dist. De Martinésia

Anexo: Av. Aniceto Antônio da Silva, s/nº

Educação Infantil

Ensino Fundamental

AEE

2

EM Carlos Tucci (EM Babilônia)

Fazenda Cachoeirinha - Estrada Harmonia

Ensino Fundamental

3

EM do Moreno Faz. Tenda dos Morenos / Estrada do Pau Furado

Ensino Fundamental

4

EM Dom Bosco Br. 365, KM 20

Educação Infantil

Ensino fundamental

5

EM Domingas Camin

R. do Comércio, s/nº- Dist. De Miraporanga

Educação Infantil

Ensino Fundamental

6

EM Emílio Ribas Fazenda Floresta do Lobo BR 050 Km 93

Educação Infantil

Ensino Fundamental

7

EM Freitas Azevedo

Av. Aldo Borges Leão, 2309 – Morada Nova

Educação Infantil

Ensino Fundamental

EJA 6º ao 9º Período

PMEA – AEE

8

EM José Marra da Fonseca R. da Educação, 146 - Dist. Cruz. dos Peixotos

Educação Infantil

Ensino Fundamental

9

EM Leandro José de Oliveira

Fazenda Douradinho - BR 497 KM 49

Ensino Fundamental

EJA 6º ao 9º Período

PMEA – AEE

10

EM Olhos D’Água Fazenda Olhos D‟Água - BR 365, Km 14

Educação Infantil

Ensino Fundamental

11

EM Profª. Mª Regina Arantes Lemes Fazenda São José- Km 26, Br 497

Educação Infantil

Ensino Fundamental

12

EM Sebastião Rangel Ensino Fundamental

Av. José Pedro Abalém, 779 - Dist. De Tapuirama

Ensino Fundamental

AEE

13

EM de Sobradinho Fazenda Sobradinho

Educação Infantil

Ensino Fundamental

Fonte: Prefeitura Municipal de Uberlândia2, organizado pela autora, 2014.

2Dados disponíveis em: http://www.uberlandia.mg.gov.br/uploads/cms_b_arquivos/7756.pdf acessado

em: 16/08/2013

22

Em relação à parte material as escolas rurais de Uberlândia, assim como muitas

outras escolas rurais têm que ser melhoradas em alguns aspectos, lembrando que os

problemas da educação brasileira são comuns tanto no rural, quanto no urbano,

entretanto, as dificuldades no meio rural geralmente são mais acentuadas. Costa faz à

seguinte referência às escolas rurais de Uberlândia,

De um modo geral a estrutura física da maioria das escolas é boa, porém

algumas precisam ser reformadas visando garantir melhores condições

de trabalho aos professores, o que pode vir a contribuir na melhoria dos

trabalhos desenvolvidos e conseqüentemente na aprendizagem dos

alunos. Todas as escolas possuem biblioteca (umas maiores, outras

menores; umas organizadas e outras nem tanto), quadra esportiva (a

maioria precisa ser reformada), espaço de convivência para os alunos,

refeitório e laboratório de informática (a maioria já conectada a

internet). (COSTA, 2012, p.4)

Quanto a formação dos docentes, a maioria possui curso superior e os que ainda

não possui estão fazendo graduação à distância (COSTA, 2012). Um problema presente

nas escolas rurais de Uberlândia que pode ser verificado nessa pesquisa e que também

foi constatado por Costa é a questão da rotatividade dos alunos.

Durante as entrevistas realizadas, todas as diretoras foram unânimes ao

afirmar que um dos grandes problemas das escolas da zona rural é a alta

rotatividade de alunos e professores. Segundo as diretoras, a

rotatividade dos alunos está relacionada ao fato de que a maioria das

famílias atendidas pela escola é de assalariados rurais, sendo assim a

permanência das crianças na escola está diretamente ligada à

continuidade dos pais no emprego. (COSTA, 2012, p.6)

Esta rotatividade prejudica o bom andamento do processo de ensino e de

aprendizagem, resultando em conseqüências negativas na formação dos educandos.

Outro problema nas escolas rurais de Uberlândia que também é apontado por Costa

(2012) é o fato do município não possuir um projeto pedagógico específico para as

escolas rurais. Dessa forma as escolas rurais têm apenas sua localização no rural ou

atende uma clientela vinculada a esse espaço, mas os princípios que norteiam as

mesmas ainda são urbanos.

Assim, apesar de já haver pessoas preocupadas com a educação do campo de

Uberlândia e principalmente em auxiliar na emancipação dos sujeitos do campo, há de

se considerar que no município de Uberlândia ainda existem escolas no campo e não

escolas do campo. Vemos aqui a necessidade da construção / formulação de uma

educação do campo nesse município.

23

No próximo capítulo será abordado o ensino de Geografia nos anos inicias do

ensino fundamental, mostrando as dificuldades e as possibilidades existentes, bem como

sua importância; é feito também nesse capítulo comentários sobre a contribuição da

Geografia para a construção da educação do campo, e sobre o livro didático de forma

geral e em específico o de Geografia.

24

2 - ENSINO DE GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO

“Não basta saber ler que Eva viu a uva. É

preciso compreender qual a posição que Eva

ocupa no seu contexto social, quem trabalha

para produzir a uva e quem lucra com esse

trabalho.” (Paulo Freire)

2.1 O ensino de Geografia nos anos iniciais do ensino fundamental

O ensino de Geografia nos anos iniciais do ensino fundamental é de suma

importância para a formação do educando. Porém não se deve esquecer que ensinar

Geografia nesta etapa da educação não é uma questão tão simples o quanto se pensa.

Há dificuldades bem latentes, mas, que, contudo podem ser resolvidas ou amenizadas.

Uma dessas dificuldades vem sendo muito discutida nos congressos e seminários

sobre ensino de Geografia, e se refere a formação de professores. Como se sabe, o

professor dos anos iniciais é polivalente, leciona várias disciplinas, e em geral os cursos

de graduação em pedagogia apresentam um currículo com uma carga horária bem

pequena para se trabalhar conteúdos geográficos, assim o docente sai do curso com

certa deficiência em relação a essa disciplina. Callai faz o seguinte destaque quanto à

formação nos cursos de pedagogia:

As disciplinas que estão voltadas para essa formação, no caso da

Geografia, estão restritas a uma carga horária de 60 horas – 4 créditos e,

que abordam tanto as questões específicas da geografia como as formas

de ensinar a matéria – disciplinas que são denominadas de um modo

geral de fundamentos ou elementos teóricos e metodológicos da

geografia. (CALLAI, 2013, p.283)

Assim acreditamos que é necessário a formação continuada dos professores que

atuam nos anos iniciais para um aperfeiçoamento em relação ao ensino de Geografia.

Outra dificuldade para se ensinar Geografia nos anos iniciais está relacionada

com a prioridade que é dada pelos professores as disciplinas de Língua Portuguesa e

Matemática em relação à outras disciplinas como a História e a Geografia. Isso ocorre

porque geralmente as primeiras são mais cobradas em sistemas de avaliação do

governo, como o PROALFA (Programa de Avaliação da Alfabetização), que avalia a

alfabetização. Dessa forma, geralmente os docentes procuram dar mais ênfase a essas

disciplinas, e o ensino de Geografia muitas vezes fica “esquecido”.

Apesar dessas dificuldades é preciso lembrar, que a Geografia pode e deve ser

ministrada nos anos iniciais, e que ao contrário do que muitos pensam essa disciplina

25

não constitui um entrave, ou perda de tempo, no processo de alfabetização, e pode

contribuir de forma significativa nesse processo. Callai deixa isso bem evidente,

Doutra parte, considerando a Geografia na escola, entendo que seu

papel é, basicamente, possibilitar a leitura do mundo e construir a

cidadania e, nos anos iniciais da escolarização, ao aprender a ler e

escrever, construir as ferramentas que possam instrumentalizar o aluno

a viver no mundo, isto é, a reconhecer esse mundo e situar-se nele como

um cidadão. O conteúdo da geografia pode ser nessa perspectiva, o

pano de fundo que embasa todo esse processo de iniciação escolar, que

tem como fundamento a alfabetização. Esse conteúdo é o aparato

temático que pode ser considerado na perspectiva de dar conta de como

fazer a leitura do mundo, incorporando o estudo do território como

fundamental para que seja possível entender as relações que ocorrem

entre os homens, estruturadas em um determinado tempo e espaço.

(CALLAI, 2013, p. 137-138)

Entende-se que a Geografia deve estar presente no processo de alfabetização,

uma vez que é necessário que a criança aprenda não apenas ler e escrever, mas também

que aprenda a fazer a leitura do mundo em que vive,para Callai,

A par do prazer de saber ler a palavra e saber escrevê-la, podemos

acrescentar o desafio de ter prazer em compreender o significado social

da palavra - o que significa ler para além da palavra em si, percebendo o

conteúdo social que ela traz, e, mais ainda, aprender a produzir o

próprio pensamento que será expresso por meio da escrita. E se, quando

se lê a palavra, lendo o mundo, está-se lendo o espaço, é possível ler o

próprio pensamento, fazendo a representação do espaço em que se vive.

Compreender a escrita como resultado do pensamento elaborado

particularmente por cada pessoa é diferente de simplesmente escrever

copiando. (CALLAI, 2005, p.233),

Pensando assim é preciso entender que do mesmo modo que o ensino de

Geografia não pode estar vinculado apenas a enumeração e descrição, o processo de

alfabetização também não se deve resumir a ler e escrever as palavras, mas é necessário

que as palavras tenham um significado na vida do estudante.

Na charge3 fica bem claro a crítica e o descontentamento da Mafalda com a

alfabetização “insignificante”, ou seja, que não tem relação com a realidade e com os

interesses dos educandos.

3 Charge retirada da internet, disponível em: http://marcohailer.blog.uol.com.br/arch2011-09-25_2011-

10-01.html acessado em: 02/01/2014

26

Sem dúvida é importante que a criança aprenda a ler e escrever as palavras,

todavia estas devem ser contextualizadas. Infelizmente isso não ocorre principalmente

quando se trata do ensino em escolas rurais ou de classe social menos favorecida. Dessa

forma entendemos que o ensino de Geografia junto ao processo de alfabetização deve

ocorrer de forma contextualizada a fim de que a aprendizagem possa ser significativa na

vida do educando.

Oliveira, utilizando-se da Pedagogia do oprimido de Paulo Freire, alfabetizou

alunos de um acampamento a partir da realidade dos mesmos. O processo de

alfabetização ocorreu concomitantemente com o ensino de Geografia.

A Geografia fazia parte de cada aula porque, geograficamente falando,

estavam todos num pequeno território em disputa por outro território

maior para que mais pessoas pudessem produzir alimentos para sua

própria sobrevivência. A discussão da concentração da terra no Brasil,

da questão agrária fazia parte dos textos para interpretação e o material

concreto estava presente em cada fala dos estudantes. (OLIVEIRA,

2012, p.122)

Assim é possível notar que ensino de geografia e processo de alfabetização não

se excluem, pelo contrário se complementam. Entretanto Callai chama a atenção para

algo que não deve ser ignorado

(...) ensinar geografia a crianças pequenas que estão aprendendo a ler e

escrever não é simplesmente dar-lhes informações, mas trabalhar estas,

a fim de que sirvam para construir os conceitos que são básicos na área

e básicos para a vida.(CALLAI, 2013, p.138)

Dessa forma a criança vai aprendendo ler e escrever ao mesmo tempo em que

aprende a conhecer e a compreender o espaço geográfico, ou o espaço socialmente

construído, adquirindo assim uma visão de mundo apta para o exercício da cidadania

pautada na execução dos deveres e na reivindicação dos direitos.

É preciso lembrar também, que a intenção aqui não é de apenas preparar a

criança para que a mesma possa vir a ser um adulto responsável e compromissado, mas

estamos principalmente pensando na criança enquanto sujeito participativo.

27

As crianças podem ser atuantes na elaboração de práticas, regras e

conhecimentos de que se apropriam em diferentes contextos sociais, de

forma que a participação nos grupos de idade não se opõe:

complementam-se. Em quaisquer das possibilidades, é necessário

garantir as crianças o direito de elaborar e expressar a sua experiência

de mundo. (SILVA; FELIPE; RAMOS; 2012,p.422)

Dessa forma, apesar de tantas controvérsias formuladas nos últimos tempos

sobre o ensino de Geografia nos anos iniciais do ensino fundamental, o que se pode

afirmar é que mesmo diante das várias dificuldades existentes para ministrar esse

ensino, o certo é buscar alternativas para que o mesmo venha a ser realizado da melhor

forma possível. Uma vez que, se desejamos uma educação para além da formação de

mão de obra, ou seja, uma educação com a formação de sujeitos críticos e atuantes;

necessitamos urgentemente auxiliar as crianças no desenvolvimento de uma visão

crítica, frente às problemáticas da contemporaneidade, sejam ambientais, sociais,

econômicas ou culturais e para isso é preciso conhecer e compreender o espaço

geográfico por meio do ensino de Geografia.

2.2 A contribuição do ensino de Geografia na educação do campo

A educação do campo, diferentemente da educação no campo, busca a

emancipação dos sujeitos do campo. Camacho (2011, p.26) assinala que esta educação

“(...) está sendo construída pelos movimentos socioterritoriais4 camponeses como forma

de resistência camponesa à invasão do seu território por parte do capitalismo no campo

na forma de agronegócio”. Diante disso, o campo brasileiro passa a ser um cenário

marcado por lutas e conflitos, onde os atores envolvidos possuem interesses

divergentes. De um lado, o latifundiário defendendo o agronegócio, e do outro lado o

camponês reivindicando a reforma agrária e a justiça social,

Não podemos omitir que o espaço rural brasileiro foi construído pela

tríade latifúndio, monocultura e trabalho escravo. Diante desse fato, a

sua estrutura fundiária – historicamente marcada pela concentração de

terras – é desigual e injusta, caracterizando-se como um dos principais

problemas do meio rural brasileiro, interferindo diretamente nas

condições de trabalho e nos modo de vida dos trabalhadores rurais.

(PORTUGAL; SOUZA, 2013, p.100)

4Corrente da Geografia agrária que estuda os movimentos sociais do campo pela perspectiva territorial.

Maiores informações consultar, Fernandes, Bernardo Mançano. Movimentos Socioterritoriais e

Movimentos Socioespaciais: contribuição teórica para uma leitura geográfica dos movimentos sociais.

Revista NERA, Presidente Prudente, v. 8, n. 6, p. 24-34, jan./jun. 2005. Disponível em:

http://revista.fct.unesp.br/index.php/nera/article/viewFile/1460/1436 Acessado em: 24 mai. 2014

28

Desse modo entende-se, que para construir uma educação do campo com caráter

emancipatório e libertador, não se deve menosprezar as contribuições que a Geografia

tem a oferecer. Camacho mostra a importância da Geografia na educação do campo,

Compreendemos que a importância da ciência geográfica, nesta

experiência concreta de relação com a Educação do Campo, está na

capacidade de transformação que a geografia contém. Esta capacidade

se deve ao fato da mesma possuir uma relação intrínseca com a

realidade. A partir da realidade, a geografia pode desenvolver no

Estudante-Camponês a capacidade de interpretar criticamente a

realidade com o objetivo de fomentar uma ação transformadora sobre

essa realidade. Assim, a geografia tem que propiciar aos educandos

pensarem as relações socioterritoriais e as suas contradições de classe,

inerentes a sua realidade. (CAMACHO, 2011, p. 27)

Para isso é preciso lembrar, que a geografia que deve ser ensinada hoje, não é

apenas aquela descritiva e enumerativa ou ainda a quantitativa, mas deve ter sobretudo

um caráter humanístico. É preciso conhecer o lugar ou o território, podendo até mesmo

descrevê-lo e quantificar os elementos que o compõem, entretanto, só isso não é

suficiente é preciso também questionar porque tais elementos e condições estão

dispostos daquela forma. Isso é papel da Geografia, mesmo porque suas categorias de

análise são bem abrangentes e reveladoras.

O lugar com a questão da identidade, do pertencimento e da cultura, a região

com as particularidades, o território e a relação de poder, a paisagem, o espaço, todas

essas categorias são capazes de fornecer subsídios para se compreender o rural e

conseqüentemente construir a educação do campo. Camacho ilustra muito bem essa

colocação,

Neste sentido, a capacidade de transformação da geografia se deve ao

fato de possuir uma relação intrínseca com a realidade. Daí, a facilidade

de contextualização com a realidade vivida pelo aluno. Pois, no próprio

caminho do aluno para a escola, ele está vivenciando o espaço

geográfico, ou da mesma forma, ao falar a respeito do local onde mora,

está descrevendo seu território. (CAMACHO, 2011, p. 28)

Contudo, Camacho nos chama atenção para o fato de que é preciso trazer a

Geografia estudada para a realidade do educando do campo, o aluno deve ser um sujeito

ativo e não passivo nesse processo de ensino e de aprendizagem.

Dessa maneira, se faz de extrema importância discutir a realidade do

espaço rural com mais profundidade se estamos lecionando para alunos

que vivenciam essa realidade. Da mesma forma que, se nós

estivéssemos lecionando para alunos de uma periferia de uma grande

metrópole, iríamos focar a questão da segregação socioespacial e da

29

violência urbana. Pois, sempre a geografia deve estar relacionada à

realidade socioespacial do aluno. (CAMACHO, 2011, p.28)

Entretanto, o mundo em que vivemos é globalizado, ou seja, as comunidades não

vivem isoladas, muito pelo contrário mantém certa dependência. Assim o ensino de

Geografia deve estar relacionado com a realidade socioespacial do aluno, mas deve

também possibilitar ao educando o entendimento de como se manter conectado em meio

a essa globalização, sem que, contudo venha perder o enraizamento com o campo.

Portanto, o ensino de Geografia pode contribuir com a educação do campo de

várias formas, ou seja, ele fornece literalmente as coordenadas para a construção dessa

educação além de fornecer subsídios para o educando perceber as contradições

existentes no sistema capitalista e buscar meios para combatê-las.

2.3 O livro didático no ensino de Geografia

Embora o título desse tópico esteja referenciando o livro didático de Geografia,

serão tecidos aqui também comentários sobre o livro didático de forma geral. E ainda

que muitos critiquem esse recurso, devido algumas fragilidades nele contidas ou por ser

utilizado de forma incorreta, há de se considerar que o livro didático é uma das

“ferramentas” que mais é utilizada pelos docentes, ou melhor, a mais disponibilizada

aos docentes e discentes pelo Estado.

A grande oferta desse recurso pelo governo pode ser justificada por dois

importantes fatores: primeiro é importante para o Estado a homogeneização do saber;

segundo, é mais cômodo para um professor que tem que trabalhar dois ou três turnos

devido a precarização salarial ter um recurso que possa “ditar” as suas aulas.

Na figura 2 é possível verificar a quantidade de livros didáticos distribuídos

pelo Estado no Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) 2013.

Figura – 2 PNLD 2013 distribuição dos livros

didáticos

30

Fonte: MEC/FNDE5 2013

O livro didático é um material muito conhecido e debatido, sendo acessível a

quase todos os docentes e discentes das escolas públicas no Brasil, o livro didático, de

forma bem simplificada pode ser entendido como um material impresso, contendo

vários conteúdos e com finalidade didática, ou seja, de orientar os processos de ensino e

de aprendizagem. Ferreira et al. definem este recurso da seguinte forma:

O livro didático, no termo propriamente da palavra, é algo que dita, é o

meio específico de ensino e aprendizagem, ele não é o único material na

sala de aula, mas norteia o que se ensina e a quem ensina. Este

instrumento utilizado pelo professor contribui para o desenvolvimento e

aprendizagem, ele é quem vai direcionar o trabalho, muitas vezes, o

trabalho dos docentes no ambiente escolar. É um recurso educacional

que pode provocar mudanças no modo de pensar, agir e sentir dos

alunos, ajudando-os a alcançar determinados objetivos propostos pelos

docentes nas diferentes áreas do conhecimento. Pode ser utilizado tanto

no ensino privado, quanto no ensino público, já que ele será aproveitado

nas salas de aula nos seus variados contextos. (FERREIRA et al. 2013

p. 4)

Todavia, principalmente no meio acadêmico, existem acirrados debates sobre

esse recurso, enquanto uns concordam com a utilização desse material, afirmando que

em muitos casos o livro didático é o único livro que a criança tem acesso, ou ainda, que

esse recurso é um auxiliar do professor; outros já o censuram, e em casos mais extremos

acreditam até que o mesmo deveria ser banido da escola.

Essa não aceitação do livro didático está relacionada a uma série de fatores entre

os quais alguns que serão aqui enumerados: o primeiro a ser citado está vinculado aos

erros contidos nos livros didáticos, sobretudo, erros conceituais. Sposito, ao analisar

livros didáticos de Geografia das séries iniciais do ensino fundamental constatou vários

erros dentre os quais os seguintes: “A vila transformou-se em cidade em volta dela

apareceu a zona rural”; “Todas as modificações feitas no meio ambiente prejudicam os

seres que vivem nele”; “O bairro é uma coisa permanente” e “Planalto: região mais alta

que suas vizinhas”. (SPOSITO, 2006 p.60)

Muitos autores por estarem produzindo livros didáticos para um público infantil

acabam simplificando tanto o conceito que acabam por tirar seu sentido original, outros

apresentam conceitos ou afirmações totalmente fora de nexo, talvez por falta de

5 Disponível em: http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico acessado em 06/01/2013

31

conhecimento. Todavia o PNLD tem se atentado a esse fato e feito avaliações dos livros

didáticos para evitar esse tipo de problema.

O segundo fator que fazem muitos autores e professores acadêmicos

abominarem o livro didático é a questão da ideologia da classe dominante presente nos

mesmos. Deiró (2005, p.17) nos mostra que,“As mensagens ideológicas, veiculadas por

diferentes meios, entre os quais se destacam os livros didáticos, transmitem valores que

não correspondem ás necessidades e aos interesses da classe trabalhadora”. Essa

mesma autora prossegue afirmando que, “Os textos de leitura dos livros didáticos das

quatro primeiras séries do primeiro grau transmitem uma ideologia, formulada e

imposta pela classe dominante á classe dominada, como sendo a única e verdadeira

visão do mundo”.(DEIRÓ, 2005, p. 20).

Ainda em relação à ideologia contida nos livros didáticos Deiró chama a atenção

para um aspecto que não pode passar despercebido: o modo como o rural brasileiro é

apresentado nos livros didáticos.

Enquanto o texto descreve a fartura brasileira, o problema agrário no

Brasil é um dos mais sérios e com poucas probabilidades de ser

solucionado. É no campo que se encontra o cerne da luta de classes no

país. Aí está a classe mais explorada: o proletariado rural, os textos de

leitura, portanto, não descrevem a estrutura social real que existe na

agricultura brasileira, constituída de diferentes classes sociais. A

realidade da exploração do proletariado rural é silenciada pelos textos.

(DEIRÓ, 2005, p. 112)

Ao analisar livros de didáticos de Geografia, Cordeiro também pôde presenciar a

ideologia da classe dominante contida nesse material em relação aos movimentos

sociais do campo, em que os autores do livro analisado criminalizam a luta pela terra ao

simplificarem as condições concretas e simbólicas da luta.

Os autores deixam bem claro suas escolhas ideológicas ao optarem pela

categoria “invasão” ao invés de “ocupação”, já que o primeiro termo

refere-se a um ato ilegal e o segundo ganha uma conotação política de

lutas por direitos negados, assim como pelo uso da expressão “apossar”.

Também usam da ironia ao criticarem os líderes que, em suas visões,

tratam a luta como uma “profissão” como se esse fato carregasse em si

estigmas negativos. Para os alunos que vivem no campo estas posições

ideológicas negam a necessidade de organização de movimentos sociais

ao mesmo tempo que incentivam passividade, já para os alunos que

vivem em acampamentos e assentamentos do MST as conseqüências

são bem mais profundas já que estão possivelmente integrados na luta.

Esta forma de tratar a questão pode levar aos alunos do MST até mesmo

a sentimentos de vergonha e humilhação. (CORDEIRO, 2009, p.34).

32

O certo é que em nenhum livro didático, seja voltado tanto para a educação

urbana quanto para a educação do campo, não deve conter essas ideologias em seu

conteúdo. Todavia como pode ser visto na citação, o efeito dessas ideologias nas escolas

do campo pode vir a ser mais nocivo para os educandos. Isso pode contribuir para que o

aluno crie certa aversão à escola, que por sua vez utiliza um recurso didático em

desfavor do educando, levando conseqüentemente a evasão escolar desse aluno. Ou

prevalecendo a ideologia desses autores nos livros didáticos, os alunos podem passar a

negar a sua condição e a luta como sujeitos do campo.

É evidente que não cabe aqui fazer uma generalização à respeito da abordagem

do rural brasileiro nos livros didáticos. Há autores, ainda que de forma tímida abordam

os problemas existentes no campo nos livros didáticos. Porém, o natural é idealizar o

campo por meio de um cenário de fartura e bonança, ou estereotipá-lo por meio da

pessoa do Jeca Tatu, caipira criado por Monteiro Lobato.

A interação campo-cidade faz parte do desenvolvimento da sociedade

brasileira, só que via submissão. O camponês brasileiro foi

estereotipado pela ideologia dominante como fraco e atrasado, como o

Jeca Tatu que precisa ser redimido pela modernidade, para se integrar à

totalidade do sistema social: ao mercado. (FERNANDES; CERIOLI;

CALDART, 2011, p.31)

O terceiro fator está relacionado à elaboração e a avaliação do livro didático que

na maioria das vezes são feitas por especialistas que não tiveram um contato ou uma

experiência em sala de aula na educação básica.

(...) E a elaboração desse material deve ser feita por professores que

trabalham no 1º. E 2º. graus, por aqueles que participam das lutas pela

melhoria do ensino, e não por pretensos"especialistas", detentores de

uma suposta "competência" e que, normalmente, nunca pisaram numa

sala de aula desse nível do ensino. (VESENTINI, 2008, p.22)

Existe uma crítica tanto aos especialistas que conhecem o conteúdo, mas que não

tem uma experiência com a docência, quanto aos docentes que tem experiência, porém

não possuem o domínio dos conteúdos necessário para a elaboração de livros didáticos.

O quarto fator diz respeito à comercialização do livro didático. No Brasil é muito

grande o comércio livreiro, são várias editoras comercializando livros, e um dos maiores

compradores é o governo, com o dinheiro público.

Enquanto mercadoria, o livro didático tem valor de uso e valor de troca.

Seu valor de uso se realiza nas mãos do professor desqualificado e da

criança frustrada do verdadeiro aprendizado. Como valor de troca, o

livro didático enriquece editores e burocratas. E tudo isso sob o manto

da “assistência à criança carente”. (FREITAG; MOTTA; COSTA;

1993, p.63)

33

Quando se fala na comercialização do livro didático, vale lembrar que muitos

livros são distribuídos nas escolas, mas nem sempre a quantidade recebida é totalmente

utilizada em alguns casos no final do ano letivo há pacotes fechados de livros ainda

lacrados. Em muitos casos essa não utilização está vinculada ao fato desse recurso não

condizer a realidade dos discentes. Há também docentes que preferem produzir o

material que será trabalhado em sala de aula. Vesentini nos dá a sua opinião sobre esse

assunto:

O ideal, em nosso ponto de vista, seria o próprio professor elaborar seus

textos, a partir do conhecimento da realidade de seus alunos e procurar

fazer com que estes sejam co-autores do saber. Isso ocorre em alguns

casos, mas é raro, pois pressupõe uma série de condições cada vez mais

difíceis: datilografia dos textos, mimeógrafos, papel, tempo para

elaborá-los, bibliografia atualizada e disponível na qual se basear, etc.

Pelos baixos salários dos professores em geral (com a possível exceção

de uma ou outra escola particular), além do número muito grande de

alunos por sala de aula, a necessidade de tempo para corrigir provas e

exercícios, e a ausência quase geral daquelas condições citadas, coloca-

se a necessidade de se elaborar um bom material didático, seja em

forma de livros didáticos ou paradidáticos, seja de "cartilhas", seja de

algum tipo de "material alternativo" elaborado por professores-

geógrafos (individualmente ou em equipe) voltados para a criticidade.

(VESENTINI, 2008, p. 21-22)

Vesentini concorda tanto com a utilização de material elaborado pelos

professores, quanto do uso do livro didático no processo de ensino e de aprendizagem.

Pensamos aqui que não se deve ser maniqueísta, isto é, imaginar que

apenas uma das formas citadas (o material alternativo, os livros...) seja a

correta, e as outras consistam em "desvios" a serem combatidos. Todos

os espaços disponíveis devem ser ocupados pelos geógrafos críticos,

desde que surjam ou se criem oportunidades. Deve-se elaborar todos os

tipos de materiais, pois alguns atingem certas faixas do professorado e

outros atingem faixas diferentes. E não há a necessidade de se buscar

um "programa único", ou uma homogeneidade no conteúdo ou na forma

de apresentação desse material didático. Pelo contrário, a diversidade é

desejável e democrática. (VESENTINI, 2008, p. 22)

O que não se pode esquecer é que para a maioria dos professores brasileiros,

elaborar material didático para utilizar em suas aulas não é muito fácil. Isto porque o

professor deve planejar suas aulas, elaborar provas e trabalhos e corrigi-los, preencher

diários além de executar outras tarefas; sendo que muitas vezes isso é feito em jornada

dupla, já que muitos professores ocupam dois cargos.

Assim a nossa opinião seria que o professor utilizasse o livro didático em suas

aulas e se possível elaborasse também material didático, até porque como já foi

mencionado, o livro didático por ser geralmente elaborado em escala nacional, muitas

34

vezes não contempla a realidade do aluno. Dessa forma o professor poderia a partir dos

conteúdos do livro didático e de seus conhecimentos elaborar materiais que contemplem

a realidade de seus alunos. Podendo até mesmo fazer comparações e reflexões entre os

exemplos apresentados no livro didático e a realidade vivida pelos alunos. Porém se o

professor ou a escola não tem a pretensão de trabalhar com o livro didático melhor seria

optar por não recebê-lo, uma vez que esse recurso é adquirido com dinheiro público.

O quinto e último fator diz respeito à utilização do livro didático pelos docentes.

Este poderia assim dizer que é o um dos mais criticados no meio acadêmico, haja vista

que muitos professores ao invés de conduzir suas aulas usando a criatividade acabam

por deixar que o livro didático “dite” as aulas, por meio de resumos de páginas do livro

e resolução dos exercícios.

Ele acaba, assim, tomando a forma de critério do saber, fato que pode

ser ilustrado pelo terrível cotidiano do "veja no livro", "estude, para a

prova, da página x até a y", "procure no livro", etc. Entendido nesses

termos, o livro didático, apesar de não ser como querem alguns o grande

culpado pelo autoritarismo e pela precariedade no ensino, acaba

consubstanciando a sua forma usual e institucionalizada com o saber

"competente" externo à prática educativa, e passa a ser meramente

assimilado (mas não produzido) pelos alunos. (VESENTINI, 2008, p.

55-56).

Outros autores reconhecem também o mau uso do livro didático “O livro

didático não é visto como um instrumento de trabalho auxiliar na sala de aula, mas sim

como a autoridade, a última instância, o critério absoluto de verdade, o padrão de

excelência a ser adotado na aula”. (FREITAG; MOTTA; COSTA; 1993, p.124).

Entretanto, Vesentini nos deixa a dica mostrando que o livro didático pode ser utilizado

de outra forma,

Contudo, é possível manter uma outra relação com o livro didático. O

professor pode e deve encarar o manual não como o definidor de todo o

seu curso, de todas as suas aulas, mas fundamentalmente como um

instrumento que está a serviço dos seus objetivos e propostas de

trabalho. Trata-se de usar criticamente o manual, relativizando-o,

confrontando-o com outros livros, com informações de jornais e

revistas, com a realidade circundante. Em vez de aceitar a "ditadura" do

livro didático, o bom professor deve ver nele (assim como em textos

alternativos, em slides ou filmes, em obras paradidáticas, etc.) tão-

somente um apoio ou complemento para a relação ensino/aprendizagem

que visa integrar criticamente o educando ao mundo. (VESENTINI,

2008, p. 56)

Aqui podemos ver o papel do livro didático no processo de ensino e de

aprendizagem, ou seja, ele não deve e nem pode ser um “ditador” como bem nos mostra

Vesentini, mas deve ser um instrumento ou ferramenta a ser utilizada pelo professor.

35

Assim, podemos fazer uma analogia entre o cozinheiro e suas ferramentas de

trabalho e o professor e o livro didático. Se o cozinheiro não possuir boas ferramentas,

terá que fazer um grande esforço para dar conta do seu trabalho e ainda corre o risco de

algo sair errado como, por exemplo, queimar a comida por causa do fogão desregulado.

Por outro lado, o cozinheiro pode ter o melhor fogão, mas se não souber manuseá-lo

poderá de igual modo queimar a comida. O mesmo acontece com o professor e o livro

didático, este sem dúvida precisa ser bom, contudo o professor precisa saber utilizá-

lo.“O melhor livro nas mãos de um péssimo professor não terá tanta serventia e um

livro ruim nas mãos de um bom professor poderá ser um ótimo recurso de ensino-

aprendizagem.”(FERREIRA et al. 2013 p. 7)

Porém, ainda paira uma dúvida: o que significa “saber utilizar o livro didático”

ou “utilizá-lo de forma correta ou adequada”? A nosso ver, saber utilizar o livro didático

é de fundamental importância para o desenvolvimento do processo de ensino e de

aprendizagem. Lembrando que não estamos aqui nos referindo ao manual que

geralmente acompanham os livros, mas a forma ou como se utiliza o mesmo. Assim a

utilização adequada do livro didático é regida por dois procedimentos básicos: o de

comparação e o de criticidade.

O procedimento de comparação exige do professor um espírito pesquisador.

Pesquisar materiais como livros, revistas, jornais, entre outros, fazer comparações e

discutir as informações presentes nesses materiais e o conteúdo do livro didático é um

passo a ser seguido para utilizar o livro didático de forma correta.

Para se trabalhar de forma construtiva com o livro didático é necessário

que o professor exerça na escola uma função reprodutora e inovadora,

para tanto, além de uma boa formação acadêmica, ele precisa se

posicionar numa reciclagem permanente, dando lhe chances contínuas

de renovação e atualização.(FERREIRA et al. 2013 p. 9)

Assim, o professor precisa estar sempre atualizando seus conhecimentos, de

outro modo não terá como avançar para o procedimento da criticidade. Este

procedimento está relacionado às ações adotadas pelo professor quanto a utilização do

livro didático. Em primeiro lugar o professor precisa ter em mente que o livro é apenas

um recurso ou um instrumento. Dessa forma não basta apenas o aluno responder as

questões propostas, ou fazer cópias e resumos das páginas do livro didático. A

explicação do professor é essencial, e aqui não se pode deixar imperar a “ditadura” do

livro didático como menciona Vesentini (2008), ou seja, o livro didático não é a fonte

36

absoluta de verdade, assim cabe ao professor proporcionar juntamente com os alunos

um aprendizado pautado na discussão, no questionamento, e na crítica.

Enfim, para se utilizar o livro didático de forma adequada “O docente precisa ter

cuidado para não considerar o livro como uma bíblia (possuidora da verdade irrestrita),

ou como uma bengala (instrumento indispensável no auxílio do caminhar)”(FERREIRA

et al. 2013 p. 7). Se o professor apenas reproduzir o livro didático, o processo de ensino e

de aprendizagem estará fadado a estagnação ou até mesmo a regressão, mas se ao invés

disso o conteúdo do livro didático for trabalhado com criatividade e com criticidade,

esse processo certamente estará contribuindo para despertar e conscientizar os alunos

para lutar pelos seus direitos e cumprir seus deveres por meio da aquisição de

conhecimentos.

Quanto ao livro didático de Geografia que é nosso objeto de estudo, também

há algumas considerações a serem feitas. Em primeiro lugar esse livro deve ter uma

finalidade ou um objetivo,

Um livro didático de Geografia deve primeiro, preparar o aluno para

atuar num mundo complexo, localizar-se nele, decodificá-lo,

compreender seu sentido e significado; e em segundo, desenvolver seu

espírito crítico, que implica a capacidade de problematizar a realidade,

propor soluções e reconhecer sua complexidade. (HESPANHOL 2006,

p.77),

Diante disso vemos que um livro didático de Geografia deve fornecer subsídios

ao professor e ao aluno tais como, mapas com atualizações recentes, imagens,

ilustrações, gráficos, sugestão de música, poesia, vídeos, filmes, entre outros. Até

porque a Geografia é uma disciplina que pode ser trabalhada utilizando diversos tipos

de linguagens. Deve também apresentar um conteúdo elaborado a partir de reflexões

sobre as temáticas a serem abordadas e principalmente livres de conceitos errados ou

preconceituosos. O livro didático de Geografia deve, sobretudo, apresentar temáticas

que possam levar o aluno à compreensão do espaço geográfico.

Ensina-se Geografia para que os alunos possam construir e desenvolver

uma compreensão do espaço e do tempo, fazer uma leitura coerente do

mundo e dos intercâmbios que o sustentam, apropriando-se de

conhecimentos específicos e usando-os como verdadeira ferramenta

para seu crescimento pessoal e para suas relações com os outros.

(SELBACH et.al, 2010, p.37)

Assim, o livro didático de Geografia para os anos iniciais deve ser atrativo e

principalmente procurar despertar a criança a fim de que ela possa reconhecer a

importância de se estudar Geografia. Todavia o que não pode ser esquecido em hipótese

37

alguma é que o livro didático de Geografia assim como o livro de outras disciplinas

também, constitui-se apenas em um recurso no processo de ensino e de aprendizagem.

Portanto, cabendo dessa forma ao docente usar a sua criatividade utilizando-se

de outros recursos juntamente com o livro tais como o trabalho de campo, a música, etc.

para que esse processo possa ser enriquecido e atinja o objetivo principal: auxiliar o

educando na compreensão do espaço geográfico para assim desenvolver uma visão

crítica capaz de buscar alternativa de transformar a realidade atual em uma realidade

melhor, respeitando as gerações presentes e as futuras.

No capítulo a seguir será apresentado o PNLD Campo, e as causas de sua não

implementação no município de Uberlândia; a opinião dos docentes sobre esse

programa e as possibilidades do livro didático de Geografia contribuir na aquisição de

conhecimentos para a construção da educação do campo.

38

3. O LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA NA CONSTRUÇÃO DA

EDUCAÇÃO DO CAMPO EM UBERLÂNDIA MG

“Seria uma atitude muito ingênua esperar que as

classes dominantes desenvolvessem uma forma de

educação que permitissem às classes dominadas

perceberem as injustiças sociais de forma crítica.”

(Paulo Freire)

3.1 PNLD CAMPO: um programa para as escolas rurais

O Programa Nacional Do Livro Didático (PNLD Campo), como o próprio nome

já diz é um programa voltado para atender as escolas do campo. De acordo com o Guia

de Livros Didáticos PNLD Campo 2013, poderão participar desse programa as escolas

situadas ou que mantém turmas anexas em áreas rurais e estiverem vinculadas às redes

de ensino estaduais, municipais e do Distrito Federal, que tenham firmado termo de

adesão ao PNLD. Serão atendidas pelo PNLD Campo 2013, escolas rurais com até 100

alunos matriculados nos anos iniciais do ensino fundamental, e as escolas rurais com

mais de 100 alunos que não realizaram a escolha do PNLD 2013, ou que tenham optado

por não receber livros naquele programa. O PNDL Campo tem como objetivo,

(...) considerar as especificidades do contexto social, econômico,

cultural, político, ambiental, de gênero, geracional, de raça e etnia dos

Povos do Campo, como referência para a elaboração de livros didáticos

para os anos iniciais do ensino fundamental (seriado e não seriado), de

escolas do campo, das redes públicas de ensino. Com esse objetivo, o

PNLD Campo se inscreve como uma política pública de

reconhecimento da Educação do Campo como matriz referencial para

pensar o Campo e seus Sujeitos, como contexto gerador de conteúdos,

textos, temas, atividades, propostas pedagógicas, ilustrações, e

organização curricular do livro didático. (BRASIL, 2012, p. 8)

Esse programa visa também, abordar temáticas relacionadas aos povos do campo

que muitas vezes não são abordadas nos outros livros como: as práticas culturais,

registros orais e escritos vinculadas as suas lutas, ao trabalho, ao espaço sócio-territorial

e as suas identidades. Tem a intenção também de abordar conteúdos que vençam a

dicotomia “(campo/cidade; arcaico/moderno; atraso/desenvolvimento; agricultura

moderna/agricultura convencional) que colocam o Campo como lugar do atraso e/ou do

espaço idílico” (BRASIL, 2012, p.14).

39

Assim, foi feita por uma equipe de especialistas a avaliação de várias obras

utilizando os seguintes critérios objetivando obras que atingisse um padrão de

qualidade:

(1) respeito à legislação, às diretrizes e às normas oficiais relativas ao

ensino fundamental, séries - anos iniciais, com as especificidades da

educação do campo;

(2) observância de princípios éticos necessários à construção da

cidadania e ao convívio social republicano;

(3) coerência e adequação da abordagem teórico-metodológica

assumida pela obra, no que diz respeito à proposta didático-pedagógica

explicitada e aos objetivos visados;

(4) correção e atualização de conceitos, informações e procedimentos;

(5) observância das características e finalidades específicas do manual

do professor e adequação do livro do aluno à proposta pedagógica nele

apresentada;

(6) adequação da estrutura editorial e do projeto gráfico aos objetivos

didático pedagógicos da obra. (BRASIL, 2012, p.15)

Segundo o Guia de Livros Didáticos PNLD Campo 2013, dezoito obras foram

inscritas, porém apenas duas foram aprovadas, as coleções, Girassol - Saberes e Fazeres

do Campo da editora FTD SA e Projeto Buriti Multidisciplinar da editora MODERNA

LTDA. No quadro 3 encontram-se informações apontadas pelos avaliadores sobre as

duas coleções. Em relação aos avaliadores da área de Geografia, que é o foco deste

trabalho, estão disponíveis algumas informações a respeito dos mesmos no (anexo A).

40

QUADRO - 3 Informações das coleções aprovadas no PNLD Campo 2013

Coleção Girassol – Saberes e Fazeres

do Campo

Projeto Buriti

Multidisciplinar

Pontos fortes Os conteúdos são apresentados

com retomadas nos anos

seguintes, com ampliação da

complexidade.

O trabalho com os eixos da

leitura, produção escrita de

textos e o ensino da escrita

alfabética/ortografia.

Pontos fracos Excesso de conteúdos em

algumas áreas como Ciências,

História e Geografia, o que

pode ocasionar prejuízo nos

necessários aprofundamentos de

alguns temas e, sobretudo, no

ritmo/tempo adequado para

aquisição/construção dos

conhecimentos, pelos alunos.

Tentativas pontuais, nos v.1,

v.4 e v.5, de incluir questões

específicas da Educação do

Campo nas atividades.

Destaques A preocupação em

contextualizar as atividades e as

ilustrações em situações

relativas ao campo brasileiro.

A pesquisa, a construção de

significados, as conexões

entre o conhecimento novo e

os conhecimentos prévios

dos alunos são estimulados

na coleção.

Programação do

ensino

A coleção apresenta uma boa

organização dos conteúdos e

destina uma maior atenção ao

trabalho com Alfabetização e

Letramento e a Alfabetização

Matemática, reservando a esses

componentes curriculares um

maior número de páginas.

Trabalho adequado no plano

metodológico, na proposta

didática e nas estratégias

pedagógicas concebidas e

aplicadas nos componentes

curriculares, o que permite

uma integração entre as

disciplinas.

Manual do

professor

Traz uma discussão sobre a

Educação do Campo e

apresenta os fundamentos

teóricos e metodológicos, além

de sugestões e soluções das

atividades para o professor.

Preocupa-se em explicar

detalhadamente cada

atividade e apresenta

sugestões ao professor,

favorecendo a ampliação das

suas ações.

Fonte: Guia de Livros Didáticos PNLD Campo 2013, Organizado pela autora, 2014

41

Em relação à proposta para educação do campo, conforme é mencionado no

Guia de Livros Didáticos PNLD Campo 2013 a coleção Girassol – Saberes e Fazeres do

Campo apesar de apresentar várias temáticas abordando fatores relacionados ao campo

a mesma contém algumas fragilidades.

A proposta didática reconhece alguns povos que vivem no campo, tais

como quilombolas, índios, acampados, assentados bem como certa

diversidade das práticas dessas comunidades. Apresenta também

diferentes tipos de moradia no campo, tais como agrovilas, ecovilas,

acampamentos, etc. Nota-se, porém, que questões centrais da vida

campesina, relativas a organizações sociais e luta pela terra, são pouco

abordadas, bem como as relações entre cidade e campo. (BRASIL,

2012, p.30-31)

A coleção Projeto Buriti Multidisciplinar não abrange uma proposta para

educação do campo eficiente,

A obra, nos v.2 e v.3, traz uma proposta didático-pedagógica específica

para a Educação do Campo, principalmente, nos conteúdos de

“História” e “Geografia”, nos quais se reconhecem os modos próprios

de vida das populações do campo. Nesse momento, considera-se a

história dos povos do campo em sua diversidade e são introduzidas

temáticas referentes à relação campo-cidade.Nos v. 1, v.4 e v.5, há

tentativas de adequação dos conteúdos à realidade do campo, por

exemplo, imagens e fotografias que representem o campo, o ambiente

rural, a agricultura, a pecuária, mas somente esse recurso não é

suficiente para se afirmar que há nos v.1, v.4 e v.5 uma proposta

pedagógica de Educação do Campo. (BRASIL, 2012, p. 36-37)

Cabe aqui abrirmos parêntese para explicar que não tivemos contato direto com

a coleção Girassol – Saberes e Fazeres do Campo. Quanto a coleção Projeto Buriti

Multidisciplinar tivemos acesso a mesma por meio digital6. Assim queremos tecer um

comentário sobre a coleção a qual tivemos acesso. Podemos dizer que os volumes 4 e 5

não diferem muito dos livros destinados as escolas urbanas. O volume 2 apresenta

paisagens tanto do rural quanto do urbano, por exemplo, é apresentado o caminho que o

aluno faz de casa até a escola tanto na cidade quanto no campo. Isso é positivo, pois,

como veremos nos próximos tópicos há um temor de que os livros do PNLD Campo por

serem específicos para escolas rurais contribuam para segregação dos sujeitos do campo

deixando os mesmos sem ter conhecimentos sobre os espaços urbanos.

6É possível visualizar os livros da coleção Projeto Buriti Multidisciplinar acessando o site:

http://www.modernadigital.com.br/main.jsp?lumPageId=4028818B3A04EC55013A1D5D7677

027C&lumItemId=8A8A8A833A2C637D013A69AEA9A64FA6 acessado em 05/04/2014

42

O volume 3 aborda de forma bem sutil a concentração de terras no Brasil; a

reforma agrária; os conflitos pela terra. Porém o que nos chamou atenção nesse volume

foi um texto referente aos processos migratórios (Figura 3).

Figura 3 - Texto sobre migração

Fonte: Coleção Projeto Buriti Multidisciplinar vol. 3

Este texto se encontra na página 376 do volume 3. Por se tratar de um livro

específico para escolas rurais podemos ver perfeitamente uma mensagem vinda dos

atores do agronegócio falando aos camponeses: “Saiam do campo o lugar de vocês é na

cidade”. Aqui podemos observar com clareza a ideologia da classe dominante no livro

didático. É certo que a pessoa tem o direito de escolher viver no campo ou na cidade,

mas a questão que se coloca é a ilusão que o texto transmite, ou seja, nem todos que

saem do campo e vão para a cidade se dão bem. Em muitos casos, o camponês vende

tudo que tem para vir morar na cidade onde seu dinheiro é rapidamente consumido

obrigando-o a trabalhar por um salário injusto. Em outros casos não se encontra o tão

sonhado emprego, e o camponês passa a viver em condições precárias às margens da

sociedade.

43

As três questões que seguem após o texto procuram reafirmar que realmente a

melhor solução é migrar do campo para a cidade, ou seja, no campo, José Andradino

ganhava pouco, na cidade ele passou a ser sócio da floricultura.

Os autores do referido livro poderiam pelo menos ter apresentado a outra versão,

ou seja, mostrar que nem todas pessoas conseguem um bom emprego na cidade como

ocorreu com José Andradino, porque senão a criança já vai crescendo com o

pensamento de abandonar o campo e ir para cidade em busca de melhores condições de

vida, ao invés de lutar para ter essas condições no campo.

Ainda em relação ao texto há algo que nos chama a atenção, bem na parte

superior do texto nota-se a expressão “Compreender”. Será que as crianças do campo

precisam compreender que elas necessitam deixar o campo e devem migrar para a

cidade? Esse parece ser um discurso apresentado por uma das coleções aprovadas no

PNLD Campo 2013.

3.2 Porque o PNLD Campo não foi implementado em Uberlândia MG?

A fim de atingir o objetivo geral dessa pesquisa, foi feita uma entrevista (anexo

B) com a assessora7 pedagógica do ensino fundamental do município de Uberlândia,

Marize Santos Borges. A assessora considera o programa importante e afirma que

Como as escolas rurais têm identidades diferentes das escolas da zona

urbana, faz necessário então, que o material didático dessas localidades

contemple a realidade desses alunos e alunas. Trabalhar o real, o

concreto, a vivência deles fará com que o aprendizado seja mais

significativo”(BORGES, 2013).

Todavia segundo a assessora o programa não foi implementado no município de

Uberlândia por dois motivos. Ela afirma que de acordo com os diretores e diretoras

alguns não adotaram o programa por falta de interesse e outros porque não atingiram o

quantitativo de alunos mencionados no edital.

Assim achamos por bem consultar os diretores, a fim de verificar por qual dos

motivos os mesmos não aderiram ao programa. Para isso enviamos um questionário

(anexo C) para as 13 escolas rurais do município de Uberlândia. Destas apenas 4

responderam.

A escola “Orquídea”8 respondeu que não recebeu convite da Secretaria

Municipal de Educação para que a escola pudesse aderir ao programa, e que a escola 7A entrevista foi direcionada à secretária de Educação Gersina Santana Novais, entretanto foi a assessora

pedagógica Marize Santos Borges quem respondeu.

44

tem poucas informações sobre o programa. Quanto à pergunta se gostaria de receber

livros didáticos específicos para as escolas rurais a resposta foi a seguinte:

Sim, gostaríamos de receber. A partir do desenvolvimento do

subprojeto Educação Popular com ênfase em Educação do Campo pelo

PIBID/UFU, estamos, gradativamente, compreendendo o que é

Educação do Campo e suas diretrizes; mas falta-nos ainda material

escrito para uma melhor compreensão da prática.

A escola “Crisântemo” respondeu que tem informações sobre o PNLD Campo,

mas que infelizmente não recebeu convite para participar do programa. Respondeu

também que apesar da escola estar localizada na zona rural a realidade da mesma não

está especificamente voltada para o campo, pois muitas famílias trabalham na zona

urbana, mas que gostaria de receber os livros para análise.

A escola “Margarida” respondeu que: “De acordo com relato da direção

passada, as informações sobre o Programa Nacional do Livro Didático são meramente

aquelas vinculadas pelos meio de comunicação.” Esta escola assim como as outras

também não recebeu convite para participar do programa. Quanto ao interesse em

receber livros didáticos específicos para as escolas rurais a resposta foi à seguinte:

A atual gestão da escola reconhece a importância do Programa voltado

para as escolas rurais e dentro da realidade dos alunos. Porém há uma

indagação a respeito do conteúdo contido nesses livros, pois tais

conteúdos não podem ficar somente dentro da realidade das escolas de

zonas rurais.

A escola “Girassol” respondeu que tem poucas informações sobre o PNLD

Campo e que não pode afirmar se houve convite, pois em 2013 a direção da escola era

outra. Quanto ao interesse em receber livros didáticos específicos para as escolas rurais,

a resposta que obtivemos foi essa. “Sim. Seria um ganho para nós podermos atender

nossos alunos com conteúdos relacionados ao contexto dos mesmos. Seguir as

diretrizes do campo sempre foi um sonho para todos nós”.

Apesar de termos conseguido respostas de apenas quatro direções de escolas, a

conclusão a que chegamos é que as mesmas não foram convidadas pela Secretaria de

Educação para participarem do programa.

Na entrevista ao ser indagada sobre ações da atual gestão para as escolas rurais

de Uberlândia, a assessora afirmou,

Estamos em fase de pesquisa em parceria com o Prof. Dr. Antônio

Cláudio Moreira Costa da Faculdade de Educação (FACED), para

reconhecimento dos sujeitos da Zona Rural de Uberlândia (Como

8Demos nomes fictícios para as escolas.

45

convivem, condições de trabalho, relação sujeitos – escola, etc.). São

estudos para implantação da educação do campo, promovendo inclusive

uma formação para educadores/educadoras que atendam às Diretrizes

Curriculares Nacionais da Educação do Campo”.(BORGES, 2013).

Diante disso procuramos conhecer essa parceria; para isso foi enviada uma carta

(anexo D) ao professor Antônio Cláudio, onde obtivemos a seguinte ponderação:

Com relação a parceria que a professora Marize falou para você, posso

te dizer que de fato não existe nenhuma parceria; o que houve foi que

um dia nos reunimos para falar sobre educação do campo, e ela falou

que gostaria de fazer um diagnóstico das escolas rurais do município e

que gostaria de contar com a minha ajuda, já que eu sou um pesquisador

da área. Bom, informei a ela que eu já tinha feito um diagnóstico em

duas escolas rurais (Leandro José de Oliveira e Sobradinho) utilizando

para isso um questionário sócio-econômico-cultural. Mostrei o

questionário a ela e os resultados que obtive em forma de gráficos. Ela

gostou e falou que iria utilizar o mesmo instrumento, com algumas

modificações nas demais escolas. Sugeri a professora Marize que

montássemos um grupo de estudos sobre a temática da educação rural,

ela achou a proposta boa, mas desapareceu. Portanto, não é possível

dizer que existe uma parceria entre a Prefeitura e FACED, para

trabalhar com a educação do campo. (COSTA, 2014)

Diante disso o que se pode depreender é que há interesse tanto por parte de

profissionais das escolas rurais quanto de outros profissionais em trabalhar com a

educação do campo no município de Uberlândia, contudo como pode ser visto há certa

contradição entre as informações prestadas pela Secretaria de Educação a respeito dos

motivos da não implementação do PNLD Campo 2013 e da parceria que a assessora

Marize diz haver com a FACED. Isso mostra que o poder público de Uberlândia se

mantém distante e alheio a situações importantes para a construção da educação do

campo nesse município.

3.3 O livro de Geografia específico para escolas rurais e a opinião dos docentes

Mesmo sabendo que o PNLD Campo 2013 não foi adotado ou implementado no

município de Uberlândia, consideramos pertinente saber a opinião de docentes sobre um

livro didático de Geografia específico para as escolas rurais. Dessa forma foram

aplicados dezesseis (16) questionários a professores (as) dos anos iniciais do ensino

fundamental, da escola rural Freitas Azevedo do município de Uberlândia MG. A

escolha dessa escola está vinculada simplesmente ao fato de maior acessibilidade devida

sua localização, poderia ter sido qualquer uma das outras 12 escolas rurais de

Uberlândia. Docentes de todas as séries (1º ao 5º ano) responderam o questionário (

anexo E). Foram feitas perguntas relacionadas ao ensino de geografia e ao livro didático

de Geografia.

46

Em relação ao ensino de Geografia, dez professores responderam que

consideram o mesmo importante nesta etapa da educação e que conseguem ensinar sem

dificuldades. Quatro professores responderam que consideram importante, mas que há

outras prioridades como, por exemplo, alfabetizar a criança, e dois professores não

responderam nenhuma das alternativas.

Por meio das respostas foi possível verificar uma das dificuldades em ensinar

Geografia nos anos iniciais que está relacionada ao processo de alfabetização, conforme

foi comentado no capítulo dois. Porém a maioria diz considerar o ensino de Geografia

importante, não encontrando dificuldade para ministrá-lo.

Em relação à escola dois professores a consideram uma escola igual às escolas

urbanas, e quatorze consideram que existem algumas particularidades na mesma por ser

uma escola rural. Sete professores afirmaram não terem dificuldades em ensinar de

acordo com a realidade do aluno, e nove disseram ter dificuldades.

As duas dificuldades apresentadas no questionário foram marcadas pelos

professores, ausência de cursos de capacitação para o professor atuar em escolas rurais e

falta de recursos (materiais) didáticos condizentes com a realidade da escola e dos

alunos. Outras dificuldades além das sugeridas foram apresentadas, por exemplo, a

rotatividade dos alunos. Um (a) docente afirma que “(...) entram alunos novos na escola

o tempo todo e os que estão também saem e retornam em outros bimestres”.Outro(a)

também aponta como dificuldade as faltas constantes dos alunos. Como bem destacou

COSTA, 2012.

Um (a) docente afirmou que dependendo do conteúdo ele (a) tem dificuldade em

ensinar de acordo com a realidade dos alunos. Porém não deixou especificado qual, ou

que tipo de conteúdo e o porquê da dificuldade.

Quanto ao recurso mais utilizado em suas aulas, cinco professores afirmaram

utilizar o livro didático, enquanto onze disseram que utilizam outros materiais como:

apostilas, vídeos, trabalhos de campo, atividades retiradas da internet, xerox,

laboratório de informática, textos auxiliares de acordo com a realidade do aluno. Alguns

professores utilizam o livro didático juntamente com outros recursos.

Em relação ao PNLD Campo seis professores disseram conhecer esse programa,

seis já ouviram falar, e quatro não conhecem. Dos professores pesquisados onze

disseram que gostariam de trabalhar com um livro didático elaborado especificamente

para as escolas rurais, dois não responderam, e três responderam que não gostariam de

trabalhar com um livro desse tipo.

47

Um dos professores que afirmou não gostar de trabalhar com um livro didático

elaborado especificamente para as escolas rurais, utilizou-se da seguinte justificativa: “é

importante os alunos conhecerem os dois lados ou espaços urbano e rural”. O docente

tem razão, entretanto pode-se trabalhar as especificidade do rural sem, contudo deixar

de lado o urbano ou o global. Para Wizniewsky (2013), o professor de Geografia possui

um duplo desafio: o de educar os sujeitos do campo, centrado na construção do

conhecimento, já que a Geografia é uma disciplina integradora no processo

interdisciplinar. E também o desafio de promover a significação do lugar, sem, no

entanto perder a relação com o global.

Dessa forma, acreditamos que o livro didático de Geografia elaborado para as

escolas rurais deve ter esse foco, abordar tanto o local quanto o global até porque o

projeto que se tem de educação do campo não é de construir uma escola diferente ou

desvinculada do restante da sociedade, mas sim uma escola que contribua para

integração dos sujeitos do campo com seus costumes, com seu modo de vida e sua

cultura à sociedade.

Quanto aos professores que responderam que gostariam de trabalhar com um

livro didático específico para as escolas rurais, foi possível observar em suas

justificativas a expressão “realidade do aluno”. Essa expressão pode assumir dois

significados: o primeiro está relacionado a um livro didático que aborde conteúdos

relacionados ao rural. Esta é uma proposta do PNLD Campo, ou seja, tratar as

especificidades do rural, lembrando que na coleção Projeto Buriti Multidisciplinar isso é

feito vagamente.

O outro significado está relacionado com a realidade local, muitos professores

sentem falta de material didático quando vão trabalhar, por exemplo, o município, nesse

caso o certo seria um livro didático regional ou municipal.

Contudo mesmo sabendo que muitas vezes faltam dados, mapas e outros, para

que o professor possa trabalhar o município, o certo seria o professor adaptar o

conteúdo do livro didático a realidade do aluno.

Os professores também deram algumas sugestões a respeito do livro didático:

“Gostaria que os próximos livros de geografia tivesse muitas gravuras que pudéssemos

recortar e montar as atividades com material concreto. É importante os alunos

conhecerem os dois lados, ou espaços urbanos e rural.” (professor 2º ano) . “o livro

didático seja elaborado para atender a clientela rural, também o nosso município, pois

na maioria trabalhamos com conteúdos que não condiz com nossa

48

realidade.”(professor 2° ano). “livro didático para o 1º ano de acordo com a realidade

rural”(professor1º ano). “Os alunos necessitam de livros que cubram todo conteúdo

curricular e que satisfaça a condição de aprendizado numa forma seqüencial de

conteúdos.” (professor 5° ano)

Ainda em relação ao PNLD Campo, buscamos obter a opinião de um docente da

Universidade federal de Uberlândia, o professor Antônio Cláudio Moreira Costa, o qual

já foi menciona nesse trabalho. Ele nos deu a seguinte resposta:

“Tenho algumas ressalvas em relação ao livro didático como um todo. Em

primeiro lugar os livros didáticos expressam valores, ideologias, culturas

alinhadas aos interesses da classe dominante. Além disso, o livro didático

representa uma forma muito interessante de parceria entre o setor público e o

privado. Se nós formos pensar em um livro didático para as escolas do campo a

discussão é mais complexa ainda. Eu defendo a tese de que na construção de

uma escola do campo não deva existir um livro didático e se for existir que ele

deva ser uma construção embasada nos princípios da educação do campo, tendo

os sujeitos do campo como autores. Nessa perspectiva, seria interessante ter

como eixo norteador os materiais produzidos pelo MST. No entanto isso jamais

irá ocorrer, pois os materiais elaborados pelo movimento incorporam as

temáticas trabalhadas uma reflexão critica, que foge as explicações fatalistas e

baseadas no senso comum, expressa pelos atuais livros didáticos; os materiais

do movimento tem com objetivo atrelar a formação educacional uma formação

política com vistas a transformação social. Em uma sociedade capitalista, que

esvaziou o sentido do termo democracia, não é conveniente ter um material

didático que venha questionar a “ordem” estabelecida por políticas formatadas

alhures na Europa ou nos EUA. O material didático do governo, na minha

opinião, tem o objetivo de padronizar e/ou homogeneizar os corações e mentes

dos alunos, afim de torná-los futuros robôs humanos, que sempre farão aquilo

que se espera deles, sem questionar”(COSTA, 2014)

Diante disso o que se pode perceber é que as escolas rurais necessitam de

materiais didáticos para que o processo de ensino e de aprendizagem seja realizado,

entretanto, conseguir um livro didático que atenda a todas as expectativas e que

principalmente seja livre de ideologias da classe dominante, seria algo pouco provável

de acontecer. Assim, pensamos que no caso do ensino de Geografia, o professor pode

utilizar o livro didático seja ele do PNLD Campo ou não, porém de uma forma diferente

da qual muitos professores vem utilizando esse recurso, ou seja, não reproduzindo o

livro didático por meio de resumos ou cópias, mas sobretudo, utilizando a criatividade e

a criticidade. Agindo assim o professor estará incentivando os alunos a adquirirem

conhecimentos para serem utilizados na construção da educação do campo.

49

3.4 Como o livro didático de Geografia pode contribuir na construção da

educação do campo?

Em um primeiro momento pode parecer contraditório que um material elaborado

a partir de idéias da classe dominante possa de algum modo contribuir para construção

de uma educação mentalizada pela classe trabalhadora ou pelos dominados.Vendramini

faz a seguinte colocação:

É preciso compreender que a educação do campo não emerge no vazio e

nem é iniciativa das políticas públicas, mas emerge de um movimento

social, da mobilização dos trabalhadores do campo, da luta social. É

fruto da organização coletiva dos trabalhadores diante do desemprego,

da precarização do trabalho e da ausência de condições materiais de

sobrevivência para todos. (VENDRAMINI 2007, p. 123)

Assim entendemos que não serão as políticas públicas que concretizarão a

educação do campo. Entretanto, essas políticas públicas podem ser utilizadas no

processo de construção da educação do campo. Lembrando que isso pode ser feito por

meio da escola. Para Silva (2011) “(...) a escola foi e continua sendo na atualidade uma

arma política e ideológica na formação dos sujeitos com um propósito definido: a

manutenção do sistema capitalista.” Todavia assim como a escola é um lugar de

disseminação de idéias da classe dominante, também pode ser um lugar de formação de

idéias que venham auxiliar a classe trabalhadora para sua emancipação. É evidente que

essa reversão é difícil devido vários obstáculos, porém não é algo impossível.

A escola faz a disseminação da ideologia da classe dominante por meio de vários

recursos metodológicos e didáticos, contudo para Silva (2011), o recurso de maior peso

ou destaque é o livro didático. Assim o que pretendemos mostrar aqui é que esse livro

didático de Geografia que muitas vezes traz uma ideologia hegemônica pode ter uma

finalidade que não seja a manutenção do sistema capitalista. E isso pode ser feito porque

conforme já foi mencionada nesse trabalho a Geografia é uma ciência estratégica, tendo

como objeto de estudo o espaço socialmente construído, pode ser utilizada tanto como

instrumento de dominação quanto de libertação.

Pensando assim, o livro didático pode ser utilizado para mostrar aos alunos essa

ideologia que é ofensiva a classe trabalhadora e que muitas vezes é transmitida de forma

tão sutil podendo até mesmo passar despercebida. Silva (2011), mostra como utilizar o

livro didático dessa forma.

(...) ele pode ser utilizado como uma demonstração da ideologia

dominante para manutenção do sistema que está posto, e por outro lado,

ele pode ajudar na construção da base alfabética, o que significa ler e

escrever dado o contexto social que estamos vivenciando, ou seja, os

50

L.Ds servem para ensinar os conteúdos embora muitas vezes não sejam

num aspecto de criticidade, mas a depender da maturidade pedagógica

do professor pode „puxar” os conteúdos e as atividades propostas para

um contexto que ajude aos estudantes a perceberem suas contradições,

contribuindo assim para o processo de aprendizagem. (SILVA,

2011p.3)

No processo de construção da educação do campo o certo seria as escolas rurais

utilizar materiais didáticos elaborados por pessoas que realmente estão preocupadas

com a emancipação dos sujeitos do campo, porém materiais com essa característica, por

exemplo, os do MST dificilmente serão disponibilizados nessas escolas, conforme

aponta Costa (2014). Assim, o livro didático de Geografia pode ser utilizado no início

dessa construção para mostrar as contradições existentes no campo brasileiro. Uma

delas seria entre a agricultura familiar e o agronegócio em relação aos subsídios do

governo. Outras contradições também podem ser exploradas, uma vez que a educação

do campo não está focada apenas na luta pela terra, mas também na justiça social.

Um exemplo que podemos dar é o da recente política pública: o PNLD Campo,

abordada nesse trabalho. Os livros didáticos de Geografia desse programa podem ser

utilizados para reflexões sobre qual a verdadeira intenção da classe dominante por meio

do governo em distribuir livros didáticos específicos para as escolas rurais. Será que o

Governo está interessado em promover uma educação emancipatória com esses livros

diferenciados?

Nesse caso temos que concordar com Costa, quando o mesmo fala da produção

do livro didático e das parcerias entre o setor público e o privado e principalmente

quando menciona que os livros didáticos expressam valores, ideologias, culturas

alinhadas aos interesses da classe dominante. Primeiro, de dezoito coleções apenas duas

foram aprovadas no PNLD Campo 2013, entendemos que houve critérios para seleção

das mesmas, entretanto o que nos chama a atenção é que as coleções aprovadas

pertencem a duas grandes editoras. Seria uma questão de monopólio? Essa é uma

questão a ser pensada.

Segundo, a ideologia hegemônica presente no livro didático de Geografia do

PNLD Campo, essa a nosso ver parece mais grave e pode ser percebido com muita

facilidade no texto sobre migração (figura 3) o qual foi comentado anteriormente neste

capítulo. Há um visível estímulo nesse texto para o sujeito deixar o campo e ir para

cidade. Quem tem interesse no “esvaziamento” do campo? Certamente são os agentes

do agronegócio. Pensando assim, é muito mais fácil ir trabalhando ideologicamente a

51

mente da criança na escola por meio do livro didático para que a mesma venha

posteriormente deixar o campo, que confrontar com os adultos que já se encontram

“enraizados” no campo.

Todavia isso nunca virá explícito em nenhum material didático proveniente do

governo. No Brasil nunca foi interesse do Estado proporcionar a classe trabalhadora

uma educação que fizesse com que o aluno “enxergasse” as injustiças sociais. Assim

cabe ao professor auxiliar o aluno para que o mesmo venha a desenvolver uma visão

crítica.

É importante lembrar que os livros didáticos sejam os destinados às escolas

rurais ou não, possuem conteúdos que podem ser trabalhados com os alunos no

processo de ensino e de aprendizagem. Todavia por trás destes conteúdos é que estão as

ideologias que devem ser mostradas aos alunos por meio do professor. Assim se o

professor estiver trabalhando migração e se deparar com o texto ou semelhante ao

apresentado na Coleção Projeto Buriti Multidisciplinar vol. 3, deve aproveitá-lo para

mostrar a ideologia hegemônica.

Isso pode ser feito sem que o professor necessite dizer se é a favor ou contra o

agronegócio ou o Governo, com outro texto pode ser mostrado que tanto no campo

quanto na cidade existem dificuldades. A fábula “O rato do campo e o rato da cidade”

de Ruth Rocha (anexo F) pode ser trabalhada para mostrar isso. E apesar dessa fábula

apresentar uma moral que pode exprimir “acomodação”, o professor pode utilizá-la para

mostrar que o certo não é fugir das dificuldades, mas, procurar vencê-las.

Há vários recursos os quais o professor pode utilizar juntamente com o livro

didático para mostrar a ideologia subjacente dos mesmos e assim contribuir na

aquisição de conhecimentos para construção da educação do campo. Entre esses

recursos podemos citar livros como “Açúcar amargo” e “Deus me Livre” (ver resumo

deste livro, anexo G), do autor Luiz Puntel. Há outros livros na literatura infantil e

infanto - juvenil que abordam a luta pela terra e a justiça social. Lembrando que a

literatura contribui tanto no processo de ensino e de aprendizagem da Geografia quanto

no desenvolvimento da leitura que é uma carência em várias escolas públicas

brasileiras.

Outros recursos também podem ser utilizados como músicas, vídeos, filmes,

revistas entre outros. Porém entendemos a realidade da educação brasileira

(principalmente nas escolas rurais) onde nem sempre é fácil o professor ter disponível

52

estes recursos. Dessa forma o professor poderá utilizá-los de acordo com suas

possibilidades.

Contudo há um recurso importantíssimo a ser utilizado no ensino de Geografia

juntamente com o livro didático, que pode contribuir para construção da educação do

campo, mas que infelizmente muitas vezes é esquecido. Esse recurso é o trabalho de

campo. Não estamos nos referindo a longas e extensas viagens, estamos falando aqui

em um trabalho de campo no lugar onde a escola se encontra inserida, ou seja, onde o

aluno vive.

Esse recurso permite que o professor juntamente com os alunos faça

comparações entre o livro didático e a realidade na qual estão inseridos. Se o livro

apresenta um campo brasileiro belo e com fartura, cabe ao professor instigar os alunos

no desenvolvimento do trabalho de campo a comprovar se isso é verdade ou se a

realidade por eles vivida é outra.

Isso pode ser feito tanto com o livro didático de Geografia do PNLD quanto com

o livro do PNLD Campo, entretanto se for feito com o livro deste programa o peso da

criticidade deve ser ainda maior uma vez que os livros do mesmo são destinados

especificamente para escolas rurais.

Na aquisição de conhecimentos para a construção da educação do campo no

município de Uberlândia o livro didático Geografia além de poder ser utilizado com

outros recursos pode também ser utilizado juntamente com o trabalho de campo, até

porque no questionário alguns professores afirmaram realizar trabalhos de campo.

Apesar de ser um desafio sair com as crianças do ambiente escolar, o trabalho de campo

é um recurso que não exige gastos financeiros (quando realizado nas proximidades da

escola), além disso, é uma forma de trazer a imaterialidade dos conhecimentos

adquiridos na sala de aula para a materialidade.

Na construção da educação do campo é importante que os alunos tenham

também conhecimentos do lugar onde vivem. Não estamos defendendo uma educação

tecnicista, pois sabemos que a educação do campo vai muito além de conhecimentos

técnicos, porém conhecimentos que abordam tipos de solos, vegetação, clima entre

outros podem contribuir para a construção dessa educação. Lembrando que conforme

Arroyo, (2011), saberes que preparam para a produção e para o trabalho também fazem

parte dessa educação.

Pensando assim, o livro didático de geografia pode contribuir na construção da

educação do campo de duas formas: a primeira consiste em mostrar a ideologia

53

hegemônica presente nesse recurso e a segunda está relacionada ao ensino dos

conteúdos do livro que podem ser trazidos para a realidade do aluno se utilizando dos

vários recursos já mencionados anteriormente principalmente o trabalho de campo.

Conforme mostrado, o livro didático de Geografia pode contribuir na aquisição

de conhecimentos para a construção da educação do campo. Porém o que não se deve

esquecer é que o livro é apenas um recurso ou instrumento a ser utilizado, é preciso ter

quem o utilize. Como o professor irá utilizar o livro didático na construção da educação

do campo se ele não sabe o que vem a ser essa educação?

Aqui reside uma das dificuldades apontadas pelos professores que responderam

o questionário dessa pesquisa: Ausência de cursos de capacitação para o professor atuar

em escolas rurais. Mesmo que essas escolas atendam alunos que não possuem um

vínculo direto com o campo, é preciso entender que são atendidos também uma

considerável parcela de alunos provenientes do MST, conforme nos mostram Silva;

Previtali (2011), e mais os alunos que estão ligados diretamente ao campo e que não

pertence a esse movimento social. Lembrando que a capacitação dos professores

resultará em aperfeiçoamento do processo de ensino e de aprendizagem que será útil

para todos os educandos. Dessa forma vemos a necessidade de promover cursos para

capacitar esses profissionais.

É preciso que conhecimentos sobre essa educação sejam levados até essas

escolas e isso pode ser feito por meio das instituições de ensino superior, como a

Universidade Federal de Uberlândia vem procurando fazer. Todavia não podemos negar

que o poder público do município de Uberlândia, principalmente a Secretaria de

Educação precisa ter mais sintonia e compromisso com essas escolas.

54

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Aqui iremos resgatar os principais pontos da pesquisa. Em primeiro lugar para

que o objetivo geral da pesquisa fosse atingido foi necessário que se buscasse entender

o que é educação do campo, uma vez que esses livros estão sendo destinados à um

público que vem procurando construir essa educação.Observamos que esta significa

mais que produzir um enraizamento do homem no campo para alimentar o capital ou

impedir o êxodo rural, ou ainda fornecer subsídios para reprodução da educação

tecnicista que também se encontra presente no urbano, pelo contrário essa educação está

pautada no humanismo e na justiça social buscando a emancipação dos sujeitos do

campo mantendo seus costumes, seu modo de vida enfim sua cultura.

Entretanto para se fazer isso, ou para construir a educação do campo é preciso

vencer os obstáculos que são impostos no meio rural representados pela má distribuição

das terras brasileiras e pelo agronegócio. Mas não são apenas esses desafios a serem

enfrentados, principalmente porque no Brasil a educação ainda necessita ser melhorada

em diversos aspectos tanto no espaço rural quanto no urbano. E aqui podemos citar a

necessidade de melhoria nas condições para fortalecimento do processo de ensino e de

aprendizagem, tais como qualificação dos professores e recursos didáticos e

pedagógicos condizentes com a realidade do educando.

Ainda a fim de atingir o objetivo da pesquisa buscou-se contextualizar o ensino

de geografia nos anos iniciais do ensino fundamental, lembrando que também os

referidos livros didáticos são exclusivos para esse público e a Geografia é a disciplina

em evidencia nesse trabalho. Esta pode contribuir de forma significativa para a

construção da educação do campo, uma vez que sendo uma ciência que possui o espaço

geográfico como objeto de estudo, como disciplina escolar contribui, sobretudo, para

conhecer esse espaço e melhor nele se organizar.

Outro ponto relevante na pesquisa foi a questão do livro didático, e apesar das

polêmicas suscitadas em relação a esse recurso, o que se depreende é que o livro

didático pode contribuir de forma significativa no processo de ensino e de aprendizagem

da Geografia. Contudo foi possível verificar também que o mesmo deve ser utilizado de

forma adequada, ou seja, como um instrumento ou ferramenta e não como fonte única

de verdade que não pode ser questionado, devendo ainda ser utilizado juntamente com

outros recursos.

Quanto a não implementação do PNLD Campo no município de Uberlândia

MG, acreditamos que os professores poderiam ter tido oportunidade de conhecer o

55

programa bem como de manifestar sua opinião. É inegável que esse programa possui

várias fragilidades, porém precisamos entender que o PNLD Campo 2013 é a primeira

versão e que as futuras coleções poderão ser melhoradas a partir de críticas e sugestões

dos professores. Sobre a ideologia hegemônica presente nesse material podemos

afirmar que o certo é o professor estar sempre alerta e auxiliar os alunos para que os

mesmos possam também desenvolver uma visão crítica capaz de captar as ideologias

subjacentes. Não se esquecendo que a ideologia da classe dominante está presente

também nos livros do PNLD, e não somente em livros didáticos, mas também em outros

veículos, por exemplo, na mídia.

Em relação à contribuição do livro didático de Geografia na construção da

educação do campo chegamos a conclusão de que, seja ele proveniente do PNLD ou do

PNLD Campo, o mesmo pode ser utilizado para esse fim. Todavia tornaremos ressaltar

aqui a importância da capacitação dos professores para atuarem nas escolas rurais por

meio de cursos de formação continuada voltados para educação do campo.

Portanto, gostaríamos de frisar que os problemas a serem resolvidos a fim de se

construir uma verdadeira educação do campo no município de Uberlândia, bem como os

problemas da educação brasileira de forma geral, não se resumem apenas a materiais

didáticos. Sabemos que esses problemas envolvem muitos outros fatores. Todavia, o

que pretendemos mostrar com esse trabalho é que o livro didático de Geografia pode

contribuir na aquisição de conhecimentos para a construção dessa educação, que luta

pela reforma agrária, que é uma necessidade no Brasil; pela valorização do modo de

vida, dos saberes e fazeres dos sujeitos do campo, e que clama também por justiça

social.

56

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Che Guevara-Ba. V Encontro Brasileiro de Educação e Marxismo. Marxismo,

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59

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campo brasileiro – Porto Alegre: Imprensa Livre, 2013, 288 p

60

ANEXOS

ANEXO A - Informações9 sobre os avaliadores das coleções da área de Geografia

Álida Angélica Alves Leal - Professora do Centro Pedagógico da UFMG e Doutoranda

no Programa de Pós Graduação Conhecimento e inclusão social na Faculdade de

Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FaE/UFMG, 2009), na Linha de

Pesquisa &quot;Educação, Cultura, Movimentos Sociais e Ações coletivas&quot;.

Mestre pelo Programa de Pós Graduação Conhecimento e inclusão social na mesma

instituição (FaE/UFMG, 2009), na Linha de pesquisa &quot;Educação Escolar:

Instituições, Sujeitos e Currículos&quot;. Possui título de Especialista em História da

Cultura e da Arte na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade

Federal de Minas Gerais (FAFICH-UFMG, 2007), Graduação em Geografia,

modalidade Licenciatura, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG, 2006),

além de curso técnico em Turismo e Lazer pelo Centro Federal de Educação

Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG, 2002). Atuou como bolsista do Projeto

Calendários e Horários escolares (2006) e como Tutora (Bolsista do MEC) no Curso de

Educação à distância em Geografia (bacharelado) no Instituto de Geociências da UFMG

(2008-2009). Atua como tutora à distância no Curso JUBEMI (Juventude Brasileira e

Ensino Médio Inovador- MEC/OJ/UFMG). Participa do PRODOC (Núcleo de Estudos

sobre a Profissão e a Condição docente), OJ (Observatório da Juventude), ambos da

FaE/UFMG. Lecionou durante seis anos no Ensino Básico em Escolas Públicas das

Prefeituras Municipais de Ribeirão das Neves, Contagem e Belo Horizonte (concursada)

e durante 02 anos como Professora Substituta na FaE/UFMG. Temas de interesse em

pesquisas: Vidas de professores/as, Condição docente, Juventude e docência,

Juventudes, docências e cidades, Ensino-aprendizagem de Geografia.

Ana Maria Simões Coelho - possui especialização em Diploma in Environmental

Remote Sensing pela McGillUniversity (1985) e mestrado em Geografia pela

Universidade Federal de Minas Gerais (1997) . Atualmente é Professor Assistente da

Universidade Federal de Minas Gerais. Tem experiência na área de Geografia , com

ênfase em Ensino de Geografia. Atuando principalmente nos seguintes temas: raciocínio

geográfico.

Malba Tahan Barbosa - Possui graduação em Geografia pela Universidade Estadual

de Montes Claros (1990); mestrado em Geografia pela Universidade Federal de Minas

Gerais (2002), com o tema de pesquisa "Educação Ambiental Popular: estudo de caso

da experiência do Centro de Vivência Agroecológica - CEVAE/Taquaril"; doutoranda

pela UFMG. Atualmente é professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas

Gerais nos Cursos de Geografia e Pedagogia com disciplinas nas áreas ambiental,

agrária e formação de professores; consultora/assessora em educação ambiental popular;

mobilização social e práticas/metodologia de ensino de Geografia com uso de múltiplas

linguagens.

Fernando Conde Veiga - Aluno de Doutorado da Faculdade de Educação da

Universidade Federal de Minas Gerais, na qual concluiu Mestrado (2011) em Educação

e Inclusão Social, na linha de pesquisa Política, Trabalho e Formação Humana; bolsista

do Eixo Integrador da Licenciatura em Educação do Campo, LECAMPO, e pesquisador

9Informação do Currículo Lattes. Disponível em:

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/busca.doacessado em: 23/02/2014

61

do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Educação do Campo, EDUCAMPO e participante

do Grupo Geografia, Educação e Modernidade, desta faculdade. Graduação (2007) em

Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal de Minas Gerais, em que

participou de atividades e trabalhos sobre a temática de Educação Popular e Questão

Agrária. Participante do Grupo de Trabalho em Educação da Associação dos Geógrafos

Brasileiros - Seção Local Belo Horizonte.

62

ANEXO B - Roteiro de entrevista

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

INSTITUTO DE GEOGRAFIA

CURSO ESPECIALIZAÇÃO GEOGRAFIA PARA AS SÉRIES INICIAIS

Título da pesquisa: LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA PARA A EDUCAÇÃO

DO CAMPO: IMPLEMENTAÇÃO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL DAS ESCOLAS RURAIS DE UBERLÂNDIA (MG)

Pós-Graduanda: LAIR MIGUEL DA SILVA

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Cervo Chelotti

Roteiro de entrevista com a Secretária de Educação Gersina Santana Novais sobre o

PNLD Campo

1) Quais são/serão as ações da atual gestão em relação às escolas rurais de

Uberlândia?

2) A secretária julga importante o PNLD Campo?

( ) Sim ( ) Não

Por quê?

3) As escolas rurais de Uberlândia aderiram ao PNLD campo 2013?

( ) Sim ( ) não

Por quê?

4) Sendo sim, qual a coleção escolhida? Quem escolheu?

5) As escolas já receberam os livros?

( ) sim ( ) não

6) Todas as escolas rurais de Uberlândia receberam (ou receberão os livros)?

( ) sim ( ) não

63

ANEXO C - Questionário enviado aos diretores.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

INSTITUTO DE GEOGRAFIA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOGRAFIA PARA SÉRIES INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL 2ª Edição – 2013/2014

“O livro didático de Geografia no processo de construção da educação do campo

no município de Uberlândia MG”

Prezado (a) diretor (a)

Estamos desenvolvendo uma pesquisa sobre a implementação do PNLD Campo no

município de Uberlândia MG. Dessa forma gostaríamos de pedir sua colaboração

respondendo as questões a seguir:

a) Você tem informações sobre o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD

Campo)?

b) Você recebeu convite da Secretaria Municipal de Educação para que sua escola

pudesse aderir ao PN LD Campo 2013?

c) Tendo recebido o convite, por qual motivo sua escola não aderiu ao PNLD

Campo 2013?

d) Como diretor (a) você gostaria que a escola recebesse os livros didáticos

elaborados especificamente para escolas rurais? Justifique.

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ANEXO D - Carta enviada ao Prof. Dr. Antônio Cláudio

Uberlândia, 08 de dezembro de 2013

Lair Miguel da Silva, Pós-Graduanda do

curso de especialização em Geografia para

as séries iniciais do ensino fundamental,

Universidade Federal de Uberlândia.

Exmo. Professor Antônio Cláudio,

Estou desenvolvendo uma pesquisa com o seguinte tema: LIVROS DIDÁTICOS DE

GEOGRAFIA PARA A EDUCAÇÃO DO CAMPO: IMPLEMENTAÇÃO NOS ANOS

INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL DAS ESCOLAS RURAIS DE UBERLÂNDIA

(MG)sob a orientação do professor Marcelo Cervo Chelotti, do IG UFU. E em uma

entrevista com a assessora Pedagógica do ensino fundamental, Marize Santos Borges,

da Secretaria Municipal de Educação, fiquei sabendo de uma parceria existente entre a

prefeitura e a FACED, para reconhecimento dos sujeitos da zona rural de Uberlândia.

Assim gostaria de obter se possível, maiores informações sobre essa parceria e também

a vossa opinião sobre o PNLD Campo, que segundo a assessora pedagógica não foi

implementado no município de Uberlândia MG.

Agradecendo antecipadamente toda a atenção que me queira dispensar, subscrevo-me,

com a mais elevada consideração,

Lair Miguel da Silva

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ANEXO E - Questionário aplicado aos docentes em escola rural de Uberlândia MG

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

INSTITUTO DE GEOGRAFIA

Caro (a) professor (a),

Estou desenvolvendo a seguinte pesquisa: LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA

PARA A EDUCAÇÃO DO CAMPO: IMPLEMENTAÇÃO NOS ANOS INICIAIS

DO ENSINO FUNDAMENTAL DAS ESCOLAS RURAIS DE UBERLÂNDIA

(MG) e gostaria de contar com sua colaboração, respondendo esse questionário, que

constitui uma das etapas da pesquisa. Sua participação é imprescindível.

Obrigada por sua colaboração.

1. Em qual ano do Ensino Fundamental você está atuando?

( )1º ( ) 2º ( ) 3º ( ) 4º ( ) 5º

2. Em relação ao ensino de Geografia você considera:

( ) Que é importante nesta etapa da educação e você consegue ensinar sem

dificuldades.

( ) Que é importante, mas que a outras prioridades como por exemplo

alfabetizar a criança.

( ) Que não é importante.

3. Em relação à escola, você a considera:

( ) uma escola igual as escolas urbanas

( ) existe algumas particularidades na mesma por ser uma escola rural.

4. Por ser uma escola rural você tem alguma dificuldade em ensinar de acordo com

a realidade dos alunos? ( ) sim ( ) não

5. Se você tem dificuldade, a mesma está relacionada a:

( ) ausência de cursos de capacitação para o professor atuar em escolas rurais.

( ) falta de recursos (materiais) didáticos condizente com a realidade da escola e

dos alunos.

( ) outros (especifique)

6. Qual recurso você mais utiliza em suas aulas?

( ) o livro didático

( ) apostilas

( ) outro material (especifique)

7. Você conheceo Programa Nacional do Livro didático - PNLD Campo?

( ) sim ( )não ( ) já ouvi falar

8. Sua escola se inscreveu nesseprograma? ( ) sim ( ) não

9. Em caso afirmativo, qual ou quais as coleções indicadas?

10. A escola já recebeu os livros? ( ) sim ( ) não

11. Você gostariade trabalhar com um livro didático elaborado especificamente para

escolas do campo ou rurais? ( ) sim ( ) não

Porque?

12. Gostaria de dar alguma sugestão? ( ) sim ( ) não

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ANEXO F - Fábula10

O rato do campo e o rato da cidade

O RATO DO CAMPO E O RATO DA CIDADE

Rocha , Ruth. Fábulas de Esopo

Um ratinho da cidade foi uma vez convidado para ir à casa de um rato do campo.

Vendo que seu companheiro vivia pobremente de raízes e ervas, o rato da cidade

convidou-o a ir morar com ele.

- Tenho muita pena da pobreza em que você vive – disse ele., venha morar

comigo na cidade e você verá como lá a vida é mais fácil.

Lá se foram os dois para a cidade, onde se acomodaram numa casa rica e bonita.

Foram logo à despensa e estavam muito bem, comendo comidas fartas e

gostosas, quando de repente entrou uma pessoa com dois gatos, que pareceram enormes

ao ratinho do campo.

- Eu vou para o meu campo – disse o rato do campo quando o perigo passou. –

Prefiro minhas raízes e ervas na calma, às suas comidas gostosas com todo este susto.

Moral: Mais vale magro no mato que gordo na boca do gato.

10

Disponível em: http://sugestoescolaresdiversas.blogspot.com.br/2011/03/o-rato-do-campo-e-o-rato-da-

cidade.html acessado em: 18/04/2014

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ANEXO G - Resumo11

do livro - Deus me livre! (Luiz Puntel)

Tinho era um adolescente, estudante e estagiário do

Banco do Brasil. Vivia no Beco do Deus-me-livre, também

conhecido como Favelão, uma vila pobre e sem muitas condições

dignas para uma vida saudável, localizada entre os bairros mais

ricos de Ribeirânia. Órfão de pai, Tinho levava uma vida comum

junto aos amigos e na rotina de trabalho/escola, até que um

acontecimento mudaria completamente o curso dos seus planos.

Certa vez, quando ia voltando para casa, Tinho avistara

alguns ladrões arrombando o laboratório de uma faculdade. Sem

pesar as conseqüências, dá voz ao seu lado super-herói e pula a

janela do recinto, na tentativa de impedir o crime. Todavia, os

malfeitores acabam por seqüestrar Tinho e ainda o fazem lavrar um

documento como sendo o responsável por um crime ainda maior que fora planejado. Os

milhares de barbeiros capturados no laboratório, foram soltos no Beco do Deus-me-livre

e, diante de tamanha infestação, os moradores atearam fogo aos barrancos, gerando um

estado de pânico e fazendo milhares de desabrigados. Após disseminar o caos, os

seqüestradores libertaram Tinho, a fim de que a polícia e a população capturassem o

responsável declarado por toda aquela tragédia.

Tinho se tornaria um foragido. Contudo, auxiliado por Padre Bernardo, que

acreditara em sua história, fora levado para o Colégio Santa Inês, onde as irmãs o

abrigariam até que a situação ficasse um pouco controlada. O medo e o assombro vinha

assustar Tinho sempre e o fazia ter pesadelos sempre que dormia. No colégio havia um

grupo de discussão coordenado pelo professor de história Eduardo, que se reunia

semanalmente para tratar de algum tema de interesse social. O grupo se chamava

Movidapaz e Tinho fora convidado a tomar parte em uma das reuniões, justamente

aquela que abordaria a tragédia do Favelão. Mesmo sob a revolta de ser acusado por um

crime que não fez, foi o momento de todos ouvirem a história contada por Tinho, numa

versão que a mídia não divulgara e era perfeitamente plausível. A situação injusta na

qual o garoto tinha sido envolvido gerou um clima de comoção em todos, levando o

grupo a se empenhar na investigação de quem ou o quê estaria por trás daquilo tudo.

Um dossiê envolvendo as principais construtoras da cidade e seus interesses na região

do Beco do Deus-me-livre estaria prestes a vir à tona. E a liberdade e absolvição de

Tinho seria a maior conquista do grupo, bem como a prisão dos envolvidos. No entanto,

eram grandes os riscos dessa difícil tarefa.

A narrativa de Luiz Puntel consegue absorver o leitor jovem de uma forma

bastante envolvente e carregada de suspense. Ao mesmo tempo em que lida com a

adrenalina, toca também o lado emocional, principalmente pela paixão mútua que Tinho

e Cecília (um membro do grupo Movidapaz) começam a sentir. Enfim, o todo da

narrativa acaba por transmitir uma bela lição sobre a importância de se lutar pela justiça,

sem se intimidar com os poderosos.

PUNTEL, Luiz. Deus me livre! São Paulo: Editora Ática, 1984. Col. Vaga-lume. 96

pgs

11

Disponível em: http://chavedeleitura.blogspot.com.br/2013/08/deus-me-livre-luiz-puntel.html acessado

em: 19/04/2013