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MODELAGEM MATEMÁTICA ARAP HANSENÍASE EM CODÓ-MArepositorio.unicamp.br/.../REPOSIP/321010/1/Falcao_DaniloLima_M.pdf · DANILO LIMA ALCÃFO MODELAGEM MATEMÁTICA ARAP HANSENÍASE

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Instituto de Matemática, Estatística e Computação Cientí�ca

DANILO LIMA FALCÃO

MODELAGEM MATEMÁTICA PARA HANSENÍASE EM CODÓ-MA

Campinas-SP

2016

DANILO LIMA FALCÃO

MODELAGEM MATEMÁTICA PARA HANSENÍASE EM CODÓ-MA

Dissertação apresentada ao Instituto de Ma-

temática, Estatística e Computação Cientí-

�ca da Universidade Estadual de Campinas

como parte dos requisitos exigidos para a ob-

tenção do título de mestre em Matemática

Aplicada e Computacional.

Orientador: Prof. Dr. Je�erson Cruz dos Santos Leite

Este exemplar corresponde à versão �nal

da dissertação defendida pelo aluno Danilo

Lima Falcão e orientada pelo prof. Dr. Jef-

ferson Cruz dos Santos Leite.

Campinas-SP

2016

..

Às minhas �lhas Ana Heloísa Sousa Falcão e Daniele Sousa Falcão. À minha esposa

Valberlene Sousa Oliveira. À minha mãe Maria das Graças Lima Falcão.

AGRADECIMENTOS

Meus agradecimentos, em primeiro lugar a Deus Pai eterno e Criador, pois sem Ele

nada sou e nada posso. A minha família pelo apoio, compreensão e motivação, em espe-

cial minha esposa Valberlene e minha mãe Maria das Graças Lima Falcão pela força que

me deste para continuar e superar os desa�os. A meu pai Osvaldo Marinho Falcão, que

nos deixou ano passado, pelo exemplo de superação e amor pela vida. Ao meu orientador

Prof. Dr. Je�erson Cruz dos Santos Leite, que com com humildade, disposição e espirito

de colaboração aceitou me orientar e ajudar na construção desta dissertação participando

da realização do sonho de conclusão deste mestrado em Matemática. Agradeço a todos os

professores do mestrado em especial ao Prof. Dr. Cristiano Torezzan que sempre me mo-

tivou, mesmo nos momentos em que pensei em desistir, acreditou em mim mesmo quando

nem eu mais acreditava. Agradeço pela motivação, apoio, paciência e humildade para

me atender tão gentilmente e colaborar de forma decisiva na conclusão deste mestrado.

Aos colegas do IFMA, Campus Codó, que colaboraram com este trabalho, em especial:

Alberto Faustino, Raimundo Marcolino, Jorge Menor, Antônio Willames Magalhães, Ivo-

nete Mendes, Maria Salete, Jetro Ialem, Francisco Paiva, Abias Rodrigues, Renato Alves

Pedrosa, Irapuan Lira F. Filho e o aluno do curso de Matemática Reginaldo da Silva

França pela colaboração e apoio. À direção do IFMA, Campus Codó, Professora Ivana

Duailibe e Prof. Msc José Cardoso por entender e apoiar a quali�cação pro�ssional dos

professores do Campus. A toda equipe da Coordenação de Vigilância em Saúde do Mu-

nicípio de Codó, representada por Luciano Gonçalves Lima Fraga que assume o cargo de

coordenador do Programa de Controle da Hanseníase - PMHC pela gentileza, paciência e

humildade com que nos recebeu e forneceu os dados da hanseníase no município.

RESUMO

Neste trabalho, aborda-se alguns aspectos da doença Hanseníase: sua história, seus

aspectos clínicos e epidemiológicos. Também acrescentou-se os aspectos históricos, geo-

grá�cos e demográ�cos da cidade de Codó no Estado do Maranhão, bem como um levan-

tamento da situação da doença no município. Apresenta-se como embasamento teórico os

modelos epidemiológicos SI e SIR escritos através das equações de diferenças �nitas como

modelos matemáticos determinísticos de tempo discreto. Finalmente, apresenta-se uma

modelagem matemática da Hanseníase para o município de Codó através de uma equação

logística discreta com o intuito de descrever e avaliar a dinâmica da epidemia da doença,

bem como fazer projeções para a população de infecciosos do município de Codó, com

dados compreendidos no período entre 2001 a 2014 fornecidos pela Secretaria Municipal

de Saúde através do setor de Vigilância Epidemiológica do município de Codó.

Palavras-chave: 1. Epidemiologia 2. Modelagem. 3. Hanseníase.

Abstract

This work, abboard something aspects of the sickness Hanseniase: your history, your

clinic aspects and epidemiologicals. Also increased the aspects historics, geografhics and

demographics of he city of Codo in the State of Maranhao, Well how a raisement of

the situation of the sickness in the community. Present its how theory basement the

epidemiological models SI and SIR write through of the equations of �nnish di�ernces

how mathematic models determinist of discret time. Finally, present its a mathematic

moderat for the community of Codo through of an equation logistic discret with the

purpose of to describle and estimate the dinamic of the epidemic of the sickness, how well

to make projections for a population of infectionely of the community of Codo, with dice

understantings in the age betweem 2001 by 2014, furmisheds by Municipal Secretary of

Health through of sector of Epidemiological Vigilance of the community of Codo.

Keywords: 1. Epidemiological. 2 Moderat. 3 Hanseniase.

9

Sumário

1 INTRODUÇÃO 11

2 A HANSENÍASE 17

2.1 A História . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2.2 A Doença . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

2.2.1 Características Gerais da Hanseníase . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

2.2.2 Aspectos clínicos e laboratoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

2.2.3 Diagnóstico laboratorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

2.2.4 Aspectos epidemiológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

2.2.5 Os indicadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

2.2.6 O Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

3 A SITUAÇÃO ATUAL DA HANSENÍASE 27

3.1 A Hanseníase no Mundo e no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3.2 A Hanseníase no Maranhão e em Codó . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

4 EQUAÇÕES DE DIFERENÇAS FINITAS 33

4.1 Equações de Diferenças Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

4.1.1 Equação de primeira ordem, n−m = 1 . . . . . . . . . . . . . . . . 34

4.1.2 Equação linear de segunda ordem, n−m = 2 . . . . . . . . . . . . 38

4.2 Equações de Diferenças não-lineares (1ª ordem) - estabilidade e pontos de

equilíbrio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

4.2.1 Equação Logística Discreta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

5 EPIDEMIOLOGIA MATEMÁTICA 43

5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

5.2 Um breve histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

5.3 Modelos Epidemiológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

5.3.1 O Modelo SI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

5.3.2 O Modelo SIR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

6 MODELAGEM MATEMÁTICA PARA HANSENÍASE EM CODÓ 49

6.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

6.2 O Modelo SIR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

6.3 Modelagem da Hanseníase em Codó-MA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

6.3.1 Encontrando os parâmetros α, β, γ e r . . . . . . . . . . . . . . . . 53

6.3.2 Projeções da População de Infecciosos pela Hanseníase em Codó-MA 56

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 61

11

Capítulo 1

INTRODUÇÃO

A hanseníase é uma doença infectocontagiosa de evolução crônica que se manifesta,

principalmente, por lesões cutâneas com diminuição de sensibilidade térmica, dolorosa

e tátil. Tais manifestações são resultantes da predileção do Mycobacterium leprae em

acometer células cutâneas e nervosas periféricas. Durante as reações (surtos reacionais),

vários órgãos podem ser acometidos, tais como, olhos, rins, testículos, fígado e baço.[14]

A hanseníase aparece mencionada na Bíblia com o nome de Zardoth e traduzida para o

grego por lepra ou escamas, como se chamava todas as doenças de pele, de acordo com [15]

A denominação lepra foi trocada para hanseníase em homenagem ao médico norueguês

Hansen1 (1841-1912).[14]

O resgate de marcos históricos relativos à terapêutica da hanseníase possibilita o enten-

dimento da meta pactuada internacionalmente de eliminação da endemia como problema

de saúde pública. Em 1986 foi apresentada a primeira proposta de eliminação da han-

seníase até o ano 2000 durante a 44ª Assembleia Mundial de Saúde (WHA). Em 1991

a hanseníase passou a ser vista como problema de saúde pública, bem como de�nida a

meta de menos de 1 caso por 10 mil habitantes durante a 49ª WHA, em compromisso

assumido pelos 122 países mais endêmicos. Nos últimos vinte anos, mais de 14 milhões de

pacientes de hanseníase foram curados, dos quais, cerca de 4 milhões desde o ano 2000.

Houve redução drástica da carga global da doença de 5 milhões de casos em 1985 para

805 mil em 1995, 753 mil em 1999 e 213 mil em 2008 e o mais importante, que 119 países

dos 122 onde a doença foi considerada como um problema de saúde pública, alcançaram

a meta de eliminação em nível nacional.[5]

A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) incluiu a hanseníase no grupo das

doenças negligenciadas e relacionadas com a pobreza. O coe�ciente de prevalência de

hanseníase do Brasil, indicador utilizado para monitorar o progresso da eliminação dessa

doença enquanto problema de saúde pública, vem sofrendo redução progressiva nos últimos

1Gerhard Henrick Armauer Hansen foi um médico bacteriologista e dermatologista norueguês, conhecidopela identi�cação do Mycobacterium leprae como o agente causador da lepra em 1873. Fonte: Saúde eSociedade v.13, n.2, p.76-88, maio-ago 2004 Conforme [14]

12

anos. Os coe�cientes de prevalência são mais elevados em municípios localizados na borda

da Amazônia brasileira, nos estados do Maranhão, Mato Grosso, Pará e Tocantins.[5]

A epidemiologia é o estudo da propagação de doenças transmissíveis em populações

de indivíduos. Através dos modelos matemáticos e epidemiológicos procura-se estudar e

analisar o modo de transmissão e a gravidade de uma epidemia, como o número de do-

entes ou portadores e discutir soluções de saneamento básico, de acesso à saúde médica,

de estado nutricional da população e até mudanças climáticas. Alguns modelos matemá-

ticos epidemiológicos, que descrevem uma epidemia, podem se basear nos conhecimentos

biológicos e na interação hospedeiro - parasita.[7] Sabendo-se a importância de se estudar

o comportamento de epidemias, foram usados neste trabalho os modelos matemáticos

epidemiológicos SI (Suscetível - Infectado) e SIR (Suscetível - Infectado - Recuperado).

Em diversas áreas do conhecimento humano encontram-se problemas cujo equaciona-

mento envolvem variáveis que mudam discretamente. Nos modelos discretos as grandezas

são medidas em intervalos de tempo, de minuto, dia, mês, ano, etc, formando sequências

de pontos isolados. Neste processo, se estabelece relações entre os elementos da etapa

t + 1 e os da etapa anterior t. Estas relações são chamadas fórmulas recursivas ou de

recorrência denominadas Equações de Diferenças. Balde (1993) apresenta dois modelos

determinísticos em tempo discreto que sugerimos a leitura, são eles: Dinâmica Populaci-

onal de uma Colmeia que é descrito por uma equação de diferenças de primeira ordem e

Propagação de Plantas Anuais por uma segunda ordem.

São muitos os modelos matemáticos apresentados nos últimos anos com o objetivo de

analisar e avaliar a dinâmica da epidemia de algumas doenças transmissíveis. A hanse-

níase é uma das doenças que já vem sendo estudada através desses modelos matemáticos.

Destacamos os estudos sobre a modelagem da hanseníase feitos por Balde (1993), o qual

faz um estudo e análise de modelos determinísticos com equações de diferenças voltados

para os fenômenos biológicos. Flores (1995) apresenta diversos modelos epidemiológicos

que procuram descrever a dinâmica da hanseníase na população através de equações di-

ferenciais. Silva (2009) utiliza um modelo matemático determinístico de tempo discreto

construído a partir das Equações de Diferenças Finitas para fazer uma análise e estudo

da hanseníase em Imperatriz no Estado do Maranhão.

Para Bassanezi (2006) um modelo matemático é uma representação simbólica envol-

vendo uma formulação matemática abstrata. Uma formulação matemática somente se

torna um modelo quando as variáveis inter-relacionadas têm signi�cados próprios prove-

nientes da situação modelada. Acredita-se que esta proposta de modelagem da hanseníase

é bastante signi�cativa já que está contextualizada e com dados da cidade de Codó. De

qualquer modo sempre é possível modi�car um modelo já que um modelo matemático é

considerado adequado quando for satisfatório na opinião do seu modelador, o que torna

qualquer modelo matemático vulnerável e sempre passível de ser modi�cado.[3]

A modelagem matemática em epidemiologia descreve situações reais em modelos mate-

13

máticos que, após analisados, fornecem resultados que podem ser interpretados e aplicados

em casos reais. A importância do estudo da epidemiologia está ligada ao fato de se tentar

prever o comportamento de uma epidemia e, antecipadamente, adotar uma política de

prevenção para que ela não se alastre e tome proporções que saiam do nosso controle. Até

aqui abordou-se alguns aspectos técnicos e quantitativos da hanseníase; a importância da

epidemiologia matemática para o estudo, análise e prevenção de epidemias; bem como

alguns trabalhos voltados para o estudo e análise de epidemias da doença. Caracteriza-se,

agora a cidade de Codó, no Estado do Maranhão, onde foi realizada a pesquisa e que,

portanto, é o objeto de estudo deste trabalho.

Codó é um município brasileiro do estado do Maranhão. Possui uma área de 4.364,499

km², dos quais 4,452 km² estão em zona urbana e com população de 118.038 habitantes,

de acordo com o IBGE (2010), sendo então o quinto município mais populoso do Estado.

É sede da Região de Planejamento dos Cocais. O início do povoamento de Codó data do

ano de 1780, sendo um dos seus primeiros exploradores o agricultor Luís José Rodrigues

que morava próximo a um antigo armazém de mercadorias, situado às margens do rio

Itapecuru. Foram fatores importantes para o seu desenvolvimento as atividades agrícolas

mantidas pelos ricos senhores da aristocracia rural maranhense e por agricultores portu-

gueses instalados na Colônia Petrópolis, numa iniciativa de Francisco Marques Rodrigues.

Decisiva também para o seu crescimento foi a imigração de sírios e libaneses, a partir de

1887. [16]

Em 1892, construía-se a primeira indústria de Codó - Companhia Manufatureira e

Agrícola, de propriedade de Emílio Lisboa. Um dos diretores da fábrica, genro do seu

proprietário era João Ribeiro, que em 1908 levava para Codó Sebastião Archer da Silva

que fora para trabalhar como escriturário e anos mais tarde se tornaria o proprietário da

fábrica e um dos principais políticos do estado do Maranhão.

No �nal do seculo XVIII, o comendador Pau Real explorava a região extraindo toda

a madeira de lei da região entre a margem direita do rio Codozinho ou rio Codó e a

margem esquerda do rio Itapecuru, local onde hoje está situada a cidade de Codó. Com a

derrubada das grandes árvores, �caram seus codos, tocos ou troncos cortados, região essa

que passou a ser chamada de região do codório, local onde tem muitos codos cortados,

os primeiros habitantes construíram suas habitações na região dos codórios ou troncos

cortados, onde eram desmatadas criando assim a freguesia do codório ou povoado do

Codório, que com o passar dos anos foi abreviado para Codó, que passou a categoria de

vila na década de 1830 e a categoria de cidade em 1896 com a criação do município de

Codó. [16]

O município de Codó (Figura 1.1) faz parte da Mesorregião Leste Maranhense e integra

a microrregião Codó. Está situado na área de transição entre as Regiões dos Cocais e do

Cerrado Maranhense limitando-se com vários municípios da região: norte com Timbiras,

a sul Governador Archer, a leste Caxias, a oeste Capinzal do Norte. A sede municipal

14

localiza-se nas coordenadas geográ�cas - 4 º27'19 S e 43º53'08 W. A sede do município

está a 47 metros de altitude.[21] A população total de acordo com estimativas do IBGE

(2015) é de 120.265 habitantes conforme [9]

Figura 1.1: Mapa com a localização geográ�ca do município de Codó, no Maranhão eBrasil. Fonte: Wikipédia. Conforme [16]

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) o Brasil ocupa o primeiro lugar

no ranque de países com maior incidência e o segundo lugar na prevalência mundial de

hanseníase, �cando atrás somente da Índia. Concentra 90% dos casos registrados no

Continente Americano, com média de 47 mil casos novos da enfermidade a cada ano, de

acordo com [22]. A hanseníase é uma doença tratada como um grave problema de saúde

publica, além de fazer parte do grupo das doenças negligenciadas e relacionadas com a

pobreza.

A cidade de Codó está entre as cinco cidades com maior coe�ciente de prevalência

de hanseníase do Estado do Maranhão, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (SES-

MA). Em 2014 o município de Codó foi contemplado com o Projeto Ações Inovadoras

para o Controle da hanseníase, com principal objetivo fazer a busca ativa nos bairros

prioritários com alta incidência da doença. Os bairros trabalhados foram: Santo Antônio,

São Francisco, Codó Novo e São Sebastião. Cada bairro conta com Unidades Básicas de

Saúde (Estratégia da Saúde da Família), com pro�ssionais capacitados para prestar um

melhor atendimento. A equipe do Projeto era composta por dois enfermeiros, oito técnicos

de enfermagem, um digitador e pela coordenadora municipal do Programa de Controle da

Hanseníase com o propósito de identi�car precocemente a suspeita da hanseníase durante

15

as visitas realizadas, com a avaliação da pele dos moradores e conscientização dos agravos

da doença e se necessário, encaminhamento ao posto de saúde para avaliação médica.

Estes fatos são motivadores para a realização desta pesquisa na área de Biomatemá-

tica cujo o objetivo principal é fazer uma análise e avaliação da dinâmica da epidemia

da hanseníase, através de uma modelagem matemática da doença para o município de

Codó utilizando-se as Equações de Diferenças Finitas, bem como fazer projeções para

a população de infecciosos com dados compreendidos no período entre 2001 a 2014 for-

necidos pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS-Codó) através do Setor de Vigilância

Epidemiológica.

A relevância deste trabalho reside no fato do modelo utilizado ser de fundamental

importância para avaliação e análise da epidemia de hanseníase em Codó e outras re-

giões. Espera-se estar contribuindo com a Epidemiologia Matemática e também com as

autoridades públicas que atuam na área de epidemiologia.

Esta dissertação está dividida do seguinte modo: No Capítulo 2 apresenta-se alguns

aspectos importantes sobre a hanseníase: sua história, a doença, características gerais,

aspectos clínicos e laboratoriais, o diagnóstico laboratorial, os aspectos epidemiológicos,

os indicadores e o tratamento.

No Capítulo 3 apresenta-se a situação atual da hanseníase com dados numéricos con-

forme os indicadores de monitoramento que retratam a incidência e prevalência da doença

no Mundo, no Brasil e em Codó no Estado do Maranhão.

No Capítulo 4 apresenta-se a de�nição, conceitos e propriedades das Equações de

Diferenças Finitas. As equações de diferenças lineares de 1ª ordem foram apresentadas

através de exemplos, simulações numéricas e representações grá�cas das soluções com o

intuito de facilitar a leitura e a compreensão. Apresenta-se as Equações de Diferenças Não-

Lineares (1ª ordem) - estabilidade e pontos de equilíbrio que é a ferramenta fundamental

aplicada na modelagem da hanseníase, nesta pesquisa.

No Capítulo 5 apresenta-se a Epidemiologia Matemática, estudo da propagação de do-

enças transmissíveis em populações de indivíduos, destacando sua �nalidade para estudar

e analisar o modo de transmissão e a gravidade de uma epidemia. O processo epidêmico só

passou a ter um tratamento matemático a partir da hipótese de Hamer (1906) conhecida

como o Princípio da Ação das Massas e dos trabalhos de Kermack (1898-1970) e Mc-

Kendrick (1876-1943) que em 1927 estabeleceram a Teoria do Valor Limiar. Também

tratou-se os modelos matemáticos SI e SIR, dando ênfase na forma compartimental e o

sistema de equações de diferenças que os compõe.

No Capítulo 6 apresenta-se uma modelagem matemática da hanseníase para o muni-

cípio através de uma equação logística discreta (equação de diferenças não-linear) com o

intuito de descrever e avaliar a dinâmica da epidemia da doença, bem como fazer proje-

ções para a população de infecciosos do município, com dados compreendidos no período

entre 2001 a 2014 fornecidos pela SMS através do setor de Vigilância Epidemiológica do

16

município de Codó

No Capítulo 7 apresenta-se as considerações �nais desta dissertação.

17

Capítulo 2

A HANSENÍASE

2.1 A História

Figura 2.1: Cristo curando um leproso. (Obs: �gura tirada de [20])

O bacilo Mycobacterium leprae tem andado pelo mundo há muito tempo. Já no

século 6 a.C., havia referências à temida doença por ele causada: a Hanseníase. Também

conhecida como lepra ou mal de Lázaro, antigamente a enfermidade era associada ao

pecado, à impureza, à desonra. Por falta de conhecimento especí�co, a hanseníase era

muitas vezes confundida com outras doenças, principalmente as de pele e venéreas. Daí

o preconceito em relação ao seu portador: a transmissão da doença pressupunha um

contato corporal, muitas vezes de natureza sexual e, portanto, pecaminoso.[20] Narrativas

religiosas associavam as marcas na carne aos desvios da alma: eram os sacerdotes, e não

os médicos, que davam o diagnóstico.

No Velho Testamento, o rei Uzziah foi punido por Deus com a doença, por ter realizado

uma cerimônia exclusiva aos sacerdotes. Mesmo sendo rei, teve que ir morar numa casa

isolada e não foi enterrado no cemitério dos soberanos. Já no Novo Testamento, é marcante

o episódio em que Cristo cura um leproso,[1] como mostra a �gura 2.1.

18

A origem da hanseníase não é fácil de ser de�nida. A ideia mais generalizada fornece

como foco originário o velho Egito e a milenária Índia.[14] Acredita-se que do Egito a

doença disseminou-se em duas direções: uma para o Continente Africano e a outra para

o Oriente Médio. Através da dominação Helênica, invade a Grécia dois séculos mais

tarde. A dominação e extensão do Império Romano leva-a ao coração da Europa. As

invasões e conquistas que se sucedem: o ativo comércio que durante a alta Idade Média

mantém os países ocidentais com a Ásia Menor e o Oriente; a invasão da Península Ibérica

pelos Sarracenos e as Cruzadas foram outros fatores primordiais para a disseminação e

incremento da doença. A julgar pelos historiadores americanos, antes da chegada dos

espanhóis à América, os aborígenes deste continente estavam livres da doença. E foram

estes, junto com os portugueses, os portadores. A gravidade que a doença alcançou na

América foi devido ao trânsito de escravos. A superpopulação existente nas costa do Mar

da China, aliadas à miséria reinante e a facilidade pela emigração e sua aclimatação, deu

origem a novos focos nas ilhas oceânicas, nos séculos XVIII e XIX.[15]

Na Idade Média, quando não eram enviados para leprosários e excluídos da sociedade,

os doentes não podiam entrar em igrejas, tinham que usar luvas e roupas especiais, carre-

gar sinetas ou matracas que anunciassem sua presença como retrata a �gura 2.2, e para

pedir esmolas, precisavam colocar um saco amarrado na ponta de uma longa vara. Não

havia cura e ninguém queria um leproso por perto.[20]

Figura 2.2: Um leproso usando um sino na Idade Média. (Obs: �gura tirada de [20])

Somente em 1873, a bactéria causadora da moléstia foi identi�cada pelo norueguês

Armauer Hanse, ver �gura 2.3, a partir dai, as crenças de que a doença era hereditária,

fruto do pecado ou castigo divino foram afastadas. Porém, o preconceito persistiu, e a

exclusão social dos acometidos foi até mesmo reforçada pela teoria de que o con�namento

dos doentes era o caminho para a extinção do mal.[14]

19

Figura 2.3: Armauer Hansen (1841-1912). (Obs: �gura retirada de [20]

No Brasil, até meados do século XX, os doentes eram obrigados a se isolar em leprosá-

rios e tinham seus pertences queimados, uma política que visava muito mais o afastamento

dos portadores do que um tratamento efetivo. Apenas em 1962 a internação compulsória

dos doentes deixou de ser regra. O avanço das pesquisas comprovou que a hanseníase nem

é uma doença tão contagiosa assim. Terapias foram desenvolvidas e, em 1981, a OMS

passou a recomendar a poliquimioterapia. Em muitos países desenvolvidos, a hanseníase

já foi erradicada. Desde 1995, o tratamento é gratuitamente oferecido para os pacientes

do mundo todo, e, nesse mesmo ano, no Brasil, o termo lepra e seus derivados foram proi-

bidos de serem empregados nos documentos o�ciais da Administração, em uma tentativa

de reduzir o estigma da doença. Esse estigma, porém, vai muito além da denominação.

Associada ao pecado na Antiguidade, a hanseníase hoje evidencia desigualdades sociais,

afetando sobretudo as regiões mais carentes do mundo. Por isso, o preconceito persiste

e muitas pessoas ainda acreditam que apenas os pobres adquirem a doença. No entanto,

apesar de ser transmitida mais facilmente quando as condições sanitárias e de habitação

não são adequadas, a hanseníase não escolhe, nem nunca escolheu, classe social.[20]

2.2 A Doença

A hanseníase é uma doença infectocontagiosa de evolução crônica que se manifesta,

principalmente, por lesões cutâneas com diminuição de sensibilidade térmica, dolorosa e

tátil. Tais manifestações são resultantes da predileção do Mycobacterium leprae, agente

causador da doença de Hansen, em acometer células cutâneas e nervosas periféricas. Du-

rante as reações (surtos reacionais), vários órgãos podem ser acometidos, tais como, olhos,

rins, supra renais, testículos, fígado e baço.[14]

20

O Mycobacterium leprae tem a capacidade de infectar grande número de indivíduos

(alta infectividade), no entanto poucos adoecem (baixa patogenicidade), propriedades es-

tas que não são função apenas de suas características intrínsecas, mas que dependem,

sobretudo, de sua relação com o hospedeiro e grau de endemicidade do meio, entre ou-

tros. O domicílio é apontado como importante espaço de transmissão da doença, embora

ainda existam lacunas de conhecimento quanto aos prováveis fatores de risco implicados,

especialmente aqueles relacionados ao ambiente social. O alto potencial incapacitante

da hanseníase está diretamente relacionado ao poder imunogênico do bacilo causador.

A melhoria das condições de vida e o avanço do conhecimento cientí�co modi�caram

signi�cativamente esse quadro e, hoje, a hanseníase tem tratamento e cura.[6]

2.2.1 Características Gerais da Hanseníase

� Agente Etiológico

OM. leprae é um bacilo álcool-ácido resistente, em forma de bastonete. É um parasita

intracelular, sendo a única espécie de micobactéria que infecta nervos periféricos, especi-

�camente células de Schwann. Esse bacilo não cresce em meios de cultura arti�ciais, ou

seja, in vitro.[6] Ver Figura 2.4

Figura 2.4: Imagem do Mycobacterium leprae. Fonte: https://www.google.com.br. Ti-rado de [17]

� Reservatório

O ser humano é reconhecido como a única fonte de infecção, embora tenham sido iden-

ti�cados animais naturalmente infectados - o tatu, o macaco mangabei e o chimpanzé. Os

doentes com muitos bacilos (multibacilares-MB) sem tratamento - hanseníase virchowiana

e hanseníase dimorfa � são capazes de eliminar grande quantidade de bacilos para o meio

exterior (carga bacilar de cerca de 10 milhões de bacilos presentes na mucosa nasal).[6]

� Modo de transmissão

21

A principal via de eliminação dos bacilos dos pacientes multibacilares (virchowianos e

dimorfos) é a aérea superior, sendo, também, o trato respiratório a mais provável via de

entrada do M. leprae no corpo.[4]

� Período de incubação

A hanseníase apresenta longo período de incubação; em média, de 2 a 7 anos. Há

referências a períodos mais curtos, de 7 meses, como também a mais longos, de 10 anos.[6]

� Período de transmissibilidade

Os doentes com poucos bacilos - paucibacilares (PB), indeterminados e tuberculóides

- não são considerados importantes como fonte de transmissão da doença, devido à baixa

carga bacilar. Os pacientes multibacilares, no entanto, constituem o grupo contagiante,

assim se mantendo como fonte de infecção, enquanto o tratamento especí�co não for

iniciado.[6]

� Suscetibilidade e imunidade

Como em outras doenças infecciosas, a conversão de infecção em doença depende de

interações entre fatores individuais do hospedeiro, ambientais e do próprio M. leprae.

Devido ao longo período de incubação, a hanseníase é menos frequente em menores de

15 anos, contudo, em áreas mais endêmicas, a exposição precoce, em focos domicilia-

res, aumenta a incidência de casos nessa faixa etária. Embora acometa ambos os sexos,

observa-se predominância do sexo masculino.[6]

2.2.2 Aspectos clínicos e laboratoriais

O diagnóstico é essencialmente clínico e epidemiológico, realizado por meio da aná-

lise da história e condições de vida do paciente, do exame dermatoneurológico, para iden-

ti�car lesões ou áreas de pele com alteração de sensibilidade e/ou comprometimento de

nervos periféricos (sensitivo, motor e/ou autonômico). Os casos com suspeita de compro-

metimento neural, sem lesão cutânea (suspeita de hanseníase neural pura), e aqueles que

apresentam área com alteração sensitiva e/ou autonômica duvidosa e sem lesão cutânea

evidente deverão ser encaminhados para unidades de saúde de maior complexidade para

con�rmação diagnóstica. Recomenda-se que nessas unidades os mesmos sejam submeti-

dos novamente ao exame dermatoneurológico criterioso, à coleta de material (baciloscopia

ou histopatologia cutânea ou de nervo periférico sensitivo), a exames eletro�siológicos

e/ou outros mais complexos, para identi�car comprometimento cutâneo ou neural dis-

creto e para diagnóstico diferencial com outras neuropatias periféricas. Em crianças, o

diagnóstico da hanseníase exige exame criterioso, diante da di�culdade de aplicação e

interpretação dos testes de sensibilidade.[6] O diagnóstico de hanseníase deve ser recebido

22

de modo semelhante ao de outras doenças curáveis. Se vier a causar impacto psicológico,

tanto a quem adoeceu quanto aos familiares ou pessoas de sua rede social, essa situação

requererá uma abordagem apropriada pela equipe de saúde, que permita a aceitação do

problema, superação das di�culdades e maior adesão aos tratamentos. Essa atenção deve

ser oferecida no momento do diagnóstico, bem como no decorrer do tratamento da do-

ença e, se necessária, após a alta.[4] A classi�cação operacional dos casos de hanseníase,

visando o tratamento com poliquimioterapia é baseada no número de lesões cutâneas,

apresentadas nas Figuras 2.5 e 2.6 que mostram os diferentes casos de hanseníase, de

acordo com o número de lesões cutâneas:

� Paucibacilar (PB) - casos com até 5 lesões de pele;

Figura 2.5: Hanseníase Paucibacilar. Fonte: Guia para o Controle da hanseníase. Con-forme [4]

� Multibacilar (MB) - casos com mais de 5 lesões de pele.

Figura 2.6: Hanseníase Multibacilar. Fonte: Guia para o Controle da hanseníase. Con-forme [4]

2.2.3 Diagnóstico laboratorial

Exame baciloscópico - a baciloscopia de pele (esfregaço intradérmico), quando dis-

ponível, deve ser utilizada como exame complementar para a classi�cação dos casos em

23

PB ou MB. A baciloscopia positiva classi�ca o caso como MB, independentemente do nú-

mero de lesões.[6] A Figura 2.7 mostra uma sinopse para classi�cação das formas clínicas

da hanseníase.

Figura 2.7: Classi�cação das formas clínicas da hanseníase. Fonte: Guia de VigilânciaEpidemiológica. Conforme [6]

2.2.4 Aspectos epidemiológicos

O Programa Nacional de Controle da Hanseníase (PNCH) assume como objetivo

de saúde pública o controle da doença e privilegia, nesse aspecto, o acompanhamento

epidemiológico por meio do coe�ciente de detecção de casos novos, em substituição ao

indicador de prevalência pontual, optando pela sua apresentação por 100.000 habitantes,

para facilitar a comparação com outros eventos. O foco é a atenção integral e uma ação

integrada em regiões, estados e municípios envolvidos, que representam áreas com maior

risco, onde se encontram a maioria dos casos, para reduzir as fontes de transmissão. Essas

áreas concentram 53,5% dos casos detectados, em apenas 17,5% da população brasileira

residente em extensas áreas geográ�cas, sede de muitas tensões, o que adiciona maior

complexidade a intervenções efetivas. Determinantes sociais e históricos, associados à

ocupação da Amazônia Legal e à manutenção de iniquidades sociais na região Nordeste,

ajudam a explicar o acúmulo de pessoas infectadas, em se tratando de doença de longo

período de incubação. O coe�ciente de detecção em menores de 15 anos é prioridade da

política atual de controle da hanseníase no país, por indicar focos de infecção ativos e

transmissão recente. Essa informação fortalece o esforço pelo alcance da meta do PAC

(Mais Saúde/MS), de redução do coe�ciente de detecção dos casos novos em menores

de 15 anos de idade em 10,0%, no país, até 2011. A hanseníase apresenta tendência de

estabilização dos coe�cientes de detecção no Brasil, mas ainda em patamares muito altos

24

nas regiões Norte, Centro-oeste e Nordeste.[4]

2.2.5 Os indicadores

Indicadores são aproximações quanti�cadoras de um determinado fenômeno. Po-

dem ser usados para ajudar a descrever determinada situação e para acompanhar mu-

danças ou tendências em um período de tempo. Os indicadores de saúde permitem a

comparabilidade entre diferentes áreas ou diferentes momentos e fornecem subsídios ao

planejamento das ações de saúde. Os indicadores para o monitoramento da hanseníase

constam na Portaria SVS/SAAS/MS nº 125, de 26 de março de 2009. [6] A Tabela 2.1

apresenta a construção, a utilidade e os parâmetros necessários para se fazer o acompa-

nhamentos, a análise e a avaliação da dinâmica da epidemia de hanseníase a por meio dos

indicadores de monitoramento.

Tabela 2.1: Indicadores de monitoramento e avaliação da hanseníase. Fonte: Guia deVigilância Epidemiológica. Conforme [6]

2.2.6 O Tratamento

O tratamento integral de um caso de hanseníase compreende o tratamento qui-

mioterápico especí�co - a poliquimioterapia (PQT), seu acompanhamento, com vistas a

identi�car e tratar as possíveis intercorrências e complicações da doença e a prevenção e o

25

tratamento das incapacidades físicas. O tratamento especí�co da pessoa com hanseníase,

indicado pelo Ministério da Saúde, é a PQT padronizada pela OMS devendo ser realizado

nas unidades de saúde. A PQT mata o bacilo tornando-o inviável, evita a evolução da

doença, prevenindo as incapacidades e deformidades causadas por ela, levando à cura.

O bacilo morto é incapaz de infectar outras pessoas, rompendo a cadeia epidemiológica

da doença. Assim sendo, logo no início do tratamento, a transmissão da doença é in-

terrompida, e, sendo realizado de forma completa e correta, garante a cura da doença.

A PQT é constituída pelo conjunto dos seguintes medicamentos: rifampicina, dapsona

e clofazimina, com administração associada. [4] Para aprofundamento no tratamento da

doença sugerimos a leitura de [4] e [6]

26

27

Capítulo 3

A SITUAÇÃO ATUAL DA

HANSENÍASE

3.1 A Hanseníase no Mundo e no Brasil

Segundo o boletim epidemiológico da OMS de 27 Agosto de 2010, 16 países no

mundo noti�caram mil ou mais casos em 2009. A Ásia apresentou a maior taxa de

detecção, 9,39 casos por 100.000 habitantes, seguida das Américas com 4,58 casos por

100.000 habitantes. Nestas regiões os dados foram fortemente in�uenciados pelo número

de casos noti�cados pela India com 133.717, maior número de casos, e pelo Brasil com

37.610 casos, o segundo país em número de casos. Dos 40.474 casos novos nas Américas

93% são casos noti�cados no Brasil. O PNCH no Brasil, através de suas ações de controle,

conseguiu reduzir importantes indicadores da gravidade da endemia. O coe�ciente de

detecção de casos novos de hanseníase em menores de 15 anos era de 5,89 por 100.000

habitantes em 2008 e baixou para 5,43 por 100.000 em 2009, representando uma redução

de 7,8%. A meta de�nida pelo Brasil foi uma redução de 10% até 2011.[22]

Os PNCHs nas regiões da OMS implementaram com sucesso a Estratégia Global 2006-

2010, baseada na detecção precoce de casos novos e tratamento com PQT. Em colaboração

com os PNCHs e outros parceiros a OMS desenvolveu a Estratégia Global Aprimorada

2011- 2015 que enfatiza a sustentação da atenção à saúde com serviços de qualidade

e a redução da carga da hanseníase não apenas através da detecção precoce dos casos

novos mas também reduzindo a incapacidade, o estigma e discriminação, e a promoção

da reabilitação social e econômica das pessoas afetadas.[22]

O Brasil ocupa o primeiro lugar no ranque de países com maior incidência e o segundo

lugar na prevalência mundial de hanseníase, �cando atrás somente da Índia. Concentra,

com efeito, 90% dos casos registrados no Continente Americano, com média de 47 mil casos

novos da enfermidade a cada ano. Nota-se que nos últimos 5 anos, a maior concentração

destes casos deu-se nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. Ver [12]

28

Apresenta-se, agora, a distribuição regional da hanseníase no Brasil. As Figuras 3.1 e

3.2 apresentam o grau da epidemia de hanseníase por UF e nas regiões do Brasil através do

coe�ciente de detecção de casos novos no período de 2001 a 2009. Observa-se uma expan-

são da hanseníase em focos localizados nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste com

os mais altos índices do país, provavelmente associados às frentes de colonização agrícola

da Amazônia Legal a partir dos anos 70 e ao crescimento desordenado de determinadas

cidades e regiões metropolitanas [13]

Figura 3.1: Detecção de casos novos por UF do Brasil. (Obs: �gura tirada de [22])

Figura 3.2: Detecção de casos novos por regiões do Brasil. (Obs: �gura tirada de [22])

3.2 A Hanseníase no Maranhão e em Codó

Em relação à hanseníase, as 15 cidades mais endêmicas do Estado do Maranhão

são: São Luís, Timon, Imperatriz, Caxias, Codó, São José de Ribamar, Açailândia, Santa

Inês, Balsas, Santa Luzia, Barra do Corda, Zé Doca, Itapecuru, Bacabal e Coroatá.

29

Para solucionar esses agravos, o Governo do Estado, por meio SES, tem dado ênfase

na capacitação e orientação de pro�ssionais que trabalham no Programa Estadual de

Controle da Hanseníase (PECH). A meta é conseguir reduzir o número de novos casos em

20% até o �nal de 2018, intensi�cando a Busca Ativa, que signi�ca ir de casa em casa nos

bairros mais endêmicos desses municípios em localidades com maior carga da doença. No

dia 18 de agosto de 2015 foi realizado o Seminário Estadual de Avaliação do Programa de

Controle da Hanseníase nos 45 municípios Prioritários do Maranhão, no auditório da Visão

e Per�l Eventos, das 8h30 às 17h30, em parceria com a Associação Alemã de Assistência

aos Hansenianos e Tuberculosos (DAHM). No Seminário, foram debatidos temas como:

Política de Atenção Básica e Hanseníase, Manejo clínico da Hanseníase em menores de

15 anos, Situação da Hanseníase no Brasil e no Maranhão, e Ações Inovadoras para o

Controle da Hanseníase no município de Codó. Foi realizada também, uma mesa redonda

para discussão do Enfrentamento da doença no Maranhão e ainda, trabalho em grupo

para apresentação das Estratégias para alcance das metas. O trabalho de Busca Ativa,

que faz parte das Ações Inovadoras do programa, já está funcionando em sete municípios,

sendo eles: São Luís, Imperatriz, Açailândia, Caxias, Timon, São José de Ribamar e Codó.

[8] A Tabela 3.1 apresenta a frequência dos casos de hanseníase por mês de noti�cação

durante os anos de 2001 a 2014 no município.

Tabela 3.1: Frequência de Hanseníase. Fonte: SMS de Codó-MA

O município de Codó apresenta altos índices de coe�ciente anual de prevalência de

hanseníase por 10.000 habitantes no estado do Maranhão, conforme a tabela 3.2 variando

de 8,51/10.000 habitantes a 12,33/10.000 habitantes no período de 2001 a 2014, respecti-

vamente e com média no período de aproximadamente 10.94017314/10.000 habitantes. (

Brasil: 2,06/10.000, Maranhão: 6,26/10.000 em 2008). Ver Figura 3.4.

30

Tabela 3.2: Variação de Infecciosos, Suscetíveis e Prevalência de Hanseníase em Codó2001 a 2014. Fonte: Secretaria Municipal de Saúde-SINAN

A média de prevalência de hanseníase em Codó no período de 2001 a 2014 é aproxi-

madamente 10,94/10.000 habitantes, isto mostra que a magnitude da epidemia em nosso

município é classi�cada como Muito Alto. Ver a tabela 2.1

Comparando as �guras 3.3 e 3.4 que mostram as prevalências de hanseníase em Codó

e no Maranhão podemos constatar que a epidemia de hanseníase em Codó está em um

guau bem elevado. Por exemplo em 2010 a prevalência em Codó foi de 10,93 por 10.000

habitantes enquanto que no estado do Maranhão foi de 5,67 por 10.000 habitantes, é quase

o dobro de casos. E isto é um padrão que se segue durante os anos de 2001 a 2014 que

foi o período histórico pesquisado.

Figura 3.3: Prevalência Codó - 2001 a 2014. Fonte: Secretaria Municipal de Saúde -SINAN

31

Figura 3.4: Prevalência Maranhão - 2001 a 2012. Fonte: SINAN

Figura 3.5: Equipe do Projeto das Ações Inovadoras recebendo capacitação sobre noçõesbásicas para controle da Hanseníase. Fonte: SMS-PMCH- Codó-MA

A Figura 3.5 mostra a equipe do Projeto das Ações Inovadoras recebendo capacitação

sobre noções básicas para controle da hanseníase. As principais di�culdades encontradas

durante a busca ativa, segundo a equipe do programa, foram

� Encontrar os moradores em suas residências;

� Di�culdade ou recusa ao receber a equipe;

� Não aceitação para serem examinadas;

� Suspeitos não procuram o posto para a realização das consultas.

As Figuras 3.6 e 3.7 mostram a atuação da equipe de Vigilância Epidemiológica durante

a realização da busca ativa no bairro Codó Novo na cidade de Codó. A maioria das pessoas

suspeitas encontradas não se disponibilizaram a colaborar principalmente por conta do

medo, preconceito e discriminação que ainda esta muito forte na cidade, como foi possível

constatar durante as visitas.

32

Figura 3.6: Suspeito encontrado na Busca Ativa. Fonte: SMS-PMCH- Codó-MA

Figura 3.7: Suspeito encontrado na Busca Ativa. Fonte: SMS-PMCH- Codó-MA

33

Capítulo 4

EQUAÇÕES DE DIFERENÇAS

FINITAS

O texto apresentado neste capítulo se baseia no livro Ensino Aprendizagem com

Modelagem Matemática do Prof. Rodney Carlos Bassanezi.[3] Este capítulo tem como

objetivo apresentar os principais conceitos relacionados às Equações de Diferenças Finitas,

que são necessários para uma melhor compreensão dos cálculos apresentados ao longo do

texto.

Os modelos discretos são representados por equações de diferenças e são muito im-

portantes para a modelagem de diversas situações. Neste trabalho aplicou-se um modelo

discreto na análise e estudo da dinâmica da epidemia de hanseníase. Nos modelos dis-

cretos as grandezas são medidas em intervalos como um minuto, uma hora, um dia, um

ano, etc, formando sequências de pontos isolados. Para aprofundamento sobre o assunto

sugeri-se a leitura de [2], [3], [11], [13] e [18].

De�nição 4.1. Equação de diferenças �nitas é uma relação da forma:

yn+k = f (yn, yn+1, yn+2, . . . , yn+k−1) (4.1)

onde f : L ⊂ N→ Y ⊂ R, entre a variável independente n, a variável dependente y e sua

diferença �nita.1

A incógnita de uma equação de diferenças �nitas é uma sequência

(y0, y1, y2, . . . yn−1, yn, . . .) , cujos termos devem satisfazer uma relação dada.

Quando a expressão de f é conhecida, dizemos que: yn+1 = f (yn) é uma equação de

primeira ordem, yn+2 = f (yn, yn+1) é uma equação de segunda ordem, de modo geral,

yn+k = f (yn, yn+1, . . . , yn+k−1) é uma equação de diferenças de ordem k.

Observação. Uma igualdade do tipo yn+1 = f (yn) nos diz que o estado ou contagem de

um sistema no estágio n+1 depende apenas do estado no estágio n anterior. Assim uma1Os valores da variável independente n são igualmente espaçados com amplitude 1. Exemplo um dia, ummês, um ano.

34

vez �xado um valor inicial y0 para a variável dependente, toda a equação de primeira

ordem admite uma solução (y0, y1, y2, . . . , yn, . . .) com valor inicial y0, bastando para

isso tomar y1 = f (y0) , y2 = f (y1) e assim sucessivamente .

4.1 Equações de Diferenças Lineares

As equações lineares de ordem (n−m) são da forma:

yn = αn−1yn−1 + αn−2yn−2 + · · ·+ αmym. (4.2)

com αi constantes, m < ne (n−m) condições iniciais.

4.1.1 Equação de primeira ordem, n−m = 1

Exemplo 4.2. Pode-se resolver a equação 4.3 através de dois modos diferentes.

yn = ayn−1

y0 dado(4.3)

O processo recursivo fornece:

y1 = ay0

y2 = ay1 = a2y0

...

yn = ayn−1 = any0

portanto,

yn = y0an (4.4)

a equação 4.4 é a solução de 4.3 satisfazendo a condição inicial y0 dado.

Uma outra maneira para resolver a equação 4.3 é supor que yn = kλn seja uma solução,

logo substituindo na expressão 4.3, tem-se:

kλn = akλn−1

35

kλn−1 [λ− a] = 0

λ1 = 0

ou

λ2 = a

Desde que, para n = 0 deve-se ter y0 = kλ0, então k = y0. Assim,

yn =

0 se y0 = 0

y0an se y0 6= 0

(4.5)

Para o valor inicial dado y0 6= 0 observa-se que:

� Se a > 1, yn cresce ilimitadamente;

æ

æ

æ

æ

æ

1 2 3 4

n

5

10

15

yn

Figura 4.1: A solução cresce ilimitadamente. Caso em que a = 2, y0 = 1

� Se a = 1, yn é constate;

æ æ æ æ æ

1 2 3 4

n

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

yn

Figura 4.2: A solução é uma sequência constante. Caso em que a = 1, y0 = 1

� Se 0 < a < 1, yn decresce tendendo para zero.

36

æ

æ

æ

æ

æ

1 2 3 4

n

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

yn

Figura 4.3: A solução é uma sequência de pontos tendendo para zero. Caso em quea = 0.5, y0 = 1

� Se −1 < a < 0, yn oscila convergindo para zero.

æ

æ

æ

æ

æ

1 2 3 4

n

-0.4

-0.2

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

yn

Figura 4.4: A solução oscila convergindo para zero. Caso em que a = −0.5, y0 = 1

� Se a = −1, yn oscila entre dois pontos.

æ

æ

æ

æ

æ

1 2 3 4

n

-1.0

-0.5

0.5

1.0

yn

Figura 4.5: A solução é uma sequência que oscila entre dois pontos

� Se a < −1, yn oscila divergindo

37

æ

æ

æ

æ

æ

æ

1 2 3 4 5

n

-30

-20

-10

10

yn

Figura 4.6: A solução é uma sequência que oscila divergindo. Onde a = −2, y0 = 1

Exemplo 4.3. A solução da equação linear yn+1 = ayn + b, onde a, b ∈ R com y0 dado,

uma equação de diferenças �nitas de primeira ordem pode ser encontrada do seguinte

modo:

O processo recursivo nos fornece:

y1 = ay0 + b

y2 = ay1 + b = a2y0 + (1 + a) b

y3 = ay2 + b = a3y0 + (1 + a+ a2) b

y4 = ay3 + b = a4y0 + (1 + a+ a2 + a3) b

y5 = ay4 + b = a5y0 + (1 + a+ a2 + a3 + a4) b...

yn = ayn−1 + b = any0 + (1 + a+ a2 + · · ·+ an−1) b

A solução geral de

yn+1 = ayn + b, (4.6)

é dado por

yn =

y0 + bn se a = 1

y0an + b1−a

n

1−a se a 6= 1(4.7)

� Se b = 0, então a equação 4.6 �ca

yn+1 − ayn = 0 (4.8)

supondo que a solução é da forma yn = kλn, a qual substituída na equação 4.8 encontramos

kλn+1 − akλn = 0, dai vem,

kλn (λ− a) = 0

λ1 = 0 e λ2 = a

a solução é idêntica a solução dada no exemplo 4.2, isto é,

38

yn =

0 se y0 = 0

y0an se y0 6= 0

� Se b 6= 0 então tem-se:

yn=y0an + b

1− an

1− ase a 6= 1

yn=y0an +

b

1− a−(

b

1− a

)an (4.9)

Fazendo y∗ = b1−a em 4.9 tem-se:

yn = y0an + y∗ − y∗an

yn = an (y0 − y∗) + y∗ (4.10)

Se yn+1 > yn então an+1 (y0 − y∗) + y∗ > an (y0 − y∗) + y∗ isto é

an (y0 − y∗) a > an (y0 − y∗)

se y0 6= y∗ logo a > 1.

1. Se |a| > 1, então yn cresce ilimitadamente;

2. Se |a| = 1, então yn permanece constante;

3. Se |a| < 1, yn decresce.

4.1.2 Equação linear de segunda ordem, n−m = 2

Uma equação geral de diferenças de segunda ordem é da forma:

yn = ayn−1 + byn−2 com y0 e y1 dados (4.11)

Considera-se que yn = kλn seja uma solução da equação 4.11, então tem-se,

kλn − akλn−1 − bkλn−2 = 0

kλn−2[λ2 − aλ− b

]= 0

logo, λ = 0 ou λ2 − aλ− b = 0

� Para λ = 0⇒ yn = 0 para todo n que só tem sentido se y0 = y1 = 0;

39

� Para λ 6= 0, P (λ) = λ2 − aλ − b é o polinômio característico de 4.11 e suas raízes

λ1,2 são denominadas autovalores,

λ2 − aλ− b = 0 =⇒ λ1,2 =a±√a2 + 4b

2(4.12)

λ1,2 são univocamente determinado pelos valores dos coe�cientes a e b

Observação 4.4. Para as equações lineares vale o princípio da superposição, isto é, se temos

várias soluções, então a combinação linear entre elas também é uma solução. Como λ1 e λ2foram determinados com kλn1 e kλ

n2 como soluções, podemos concluir que

yn = A1λn1 + A2λ

n2 (4.13)

também é uma solução.

� Quando λ1 6= λ2 as constantes A1 eA2 são determinadas univocamente através das

condições iniciais y0 e y1 :

para n = 0⇒ y0 = A1 + A2; para n = 1⇒ y1 = A1λ1 + A2λ2

O sistema A1 + A2 = y0

A1λ1 + A2λ2 = y1

admite como solução os valores

A2 =λ1y0 − y1λ1 − λ2

e A1 = y0 −λ1y0 − y1λ1 − λ2

(4.14)

� Quando λ1 = λ2 =a2então a solução geral de 4.11 é dada por

yn = (A1 + nA2)(a2

)n(4.15)

para encontrar as constantes A1 eA2 a partir da equação 4.15 , faz-sen = 0⇒ y0 = A1

n = 1⇒ y1 = (A1 + A2)a2⇒ A2 =

2y1a− y0

(4.16)

4.2 Equações de Diferenças não-lineares (1ª ordem) -

estabilidade e pontos de equilíbrio.

Uma equação de diferenças não-linear de 1ª ordem é uma fórmula de recorrência

do tipo

Yt+1 = f(Yt) (4.17)

40

onde f é uma combinação não linear de Yt ( quadráticas, potências, exponenciais etc).

Uma maneira de analisar estas equações é através de seus pontos de equilíbrio. No

contexto das equações de diferenças tem-se a estabilidade do processo quando não ocorre

variações do estágio t para o estágio t+ 1, quando

Yt+1 = Yt = Y ∗ (4.18)

Da equação 4.17, tem-se um ponto de equilíbrio Y ∗ quando

Y ∗ = f(Y ∗) (4.19)

logo, Y ∗ é um ponto �xo da função f.

A estabilidade de um ponto de equilíbrio Y ∗ pode ser determinada pelo valor do

módulo de

λ =

[df (Yt)

dYt

]Yt=Y ∗

(4.20)

λ = coe�ciente angular da reta tangente á curva f(Yt) no ponto Y ∗. O parâmetro λ

é o autovalor do equilíbrio Y ∗ da equação 4.17.

� Se 0 < |λ| < 1, Y ∗ é assintoticamente estável, isto é, se Yt está próximo de Y ∗ então

Yt converge para Y ∗.

� Se |λ| > 1, o ponto de equilíbrio Y ∗ é instável.

� Se |λ| = 1, o ponto de equilíbrio é neutralmente estável, ou estável.

4.2.1 Equação Logística Discreta

Seja a equação de diferenças não linear dada por:

Yt+1 = f(Yt) = rYt(1− Yt), com r > 0. (4.21)

Considerando a equação logística discreta dada por 4.21, seus pontos de equilíbrio são

dados pelos pontos �xos de f ou seja,

Y ∗ = f(Y ∗) = rY ∗(1− Y ∗)

ou

rY ∗ − r (Y ∗)2 = Y ∗

rY ∗2 − Y ∗(r − 1) = 0

41

Y ∗ [rY ∗ − (r − 1)] = 0

logo,

Y ∗1 = 0 (ponto trivial) e Y ∗

2 = 1− 1

r(ponto nao trivial) (4.22)

Os autovalores associados à equação 4.21 são dados por:

λ =

[df (Yt)

dYt

]Yt=Y ∗

λ = r − 2rYt (4.23)

� Para Y ∗1 = 0, temos λ1 = r.

� Para Y ∗2 = 1− 1

r, temos λ2 = 2− r

Deste modo, tem-se:

� Se 0 < r < 1, tem-se 0 < λ1 < 1 e neste caso Y ∗1 = 0 é assintoticamente estável.

Já λ2 > 1 e Y ∗2 < 0 é instável. Neste caso tem-se Yt convergindo para Y ∗

1 = 0 e a

população de infectados deverá entrar em extinção.

� Se r > 1, tem-se λ1 > 1 e Y ∗1 = 0 um ponto instável.

� Se |λ2| < 1 = |2− r| < 1, isto é 1 < r < 3, neste intervalo tem-se Y ∗2 = 1 − 1

rum

ponto assintoticamente estável. Neste caso qualquer população inicial de infecciosos

tenderá para Y ∗2

42

43

Capítulo 5

EPIDEMIOLOGIA MATEMÁTICA

5.1 Introdução

A �nalidade da epidemiologia matemática é descrever o fenômeno observado e estu-

dar os efeitos de um mecanismo de intervenção no sistema hospedeiro/parasita. Através

dos modelos matemáticos e epidemiológicos ela procura estudar e analisar o modo de

transmissão e a gravidade de uma epidemia, como o número de doentes ou portadores, o

acesso à saúde médica, o estado nutricional da população e até mudanças climáticas.[19]

Alguns modelos matemáticos epidemiológicos que descrevem uma epidemia podem se

basear nos conhecimentos biológicos e na interação hospedeiro/parasita, como podemos

constatar em Júnior (2002) que apresenta um estudo epidemiológico do Mal de Chagas na

população hospedeira humana através de modelos matemáticos determinísticos formula-

dos por equações diferencias ordinárias. Balde (1993) faz um estudo e análise de modelos

determinísticos com equações de diferenças voltados para os fenômenos biológicos. Flores

(1995) apresenta diversos modelos epidemiológicos que procuram descrever a dinâmica

da hanseníase na população através de equações diferenciais. Já Silva (2009) utiliza um

modelo matemático determinístico de tempo discreto construído a partir das equações de

diferenças para fazer uma análise e estudo da hanseníase em Imperatriz no Estado do

Maranhão. Devemos destacar que os modelos matemáticos e epidemiológicos precisam

ser aprimorados continuamente a partir das descobertas das ciências médicas e biológicas.

5.2 Um breve histórico

A epidemiologia, estudo da propagação de doenças transmissíveis em populações

de indivíduos, já vem sendo estudada e analisada há tempos bastante remotos. É atri-

buído a Hipócrates1 (458-377 a.C.) a famosa obra Epidemia, na qual mostrava interesse

e preocupação pelo processo epidêmico de doenças infecciosas. A epidemiologia teve um

1Hipócrates viveu na Grécia Antiga e �cou conhecido como pai da Medicina.

44

desenvolvimento muito lento até o século XIX, sendo assumida como pesquisa cientí�ca a

partir dos trabalhos desenvolvidos por Pasteur e Kock.[3] Deste modo, �cou claro a neces-

sidade de controlar e prever a propagação de epidemias. Todavia, o processo epidêmico

só passou a ter tratamento matemático a partir dos trabalhos de Hamer (1906) e Ross

(1908).

A hipótese de Hamer �cou conhecida como o princípio da ação das massas, isto é,

o curso de uma epidemia deveria depender do número de indivíduos suscetíveis

e de uma taxa de contato entre indivíduos suscetíveis e infecciosos. Este modelo

foi originalmente proposto em tempo discretizado e depois Ross transformou num modelo

de tempo contínuo para estudar e analisar a epidemia da malária.[19]

De grande importância para a epidemiologia matemática foram os trabalhos de Ker-

mack (1898-1970) e McKendrick (1876-1943) que em 1927 estabeleceram a teoria do

valor limiar segundo a qual a inserção de qualquer número de infecciosos em

uma população de suscetíveis não acarreta nenhum surto epidêmico desde que

o número inicial de suscetíveis seja inferior a um certo valor crítico. O apare-

cimento dos computadores e o desenvolvimento em análise numérica possibilitaram uma

análise mais profunda de sistemas de equações de diferenças e a introdução de simula-

ções de dados.[2] Estes aparatos cientí�cos possibilitaram um melhor desenvolvimento de

modelos matemáticos para descrever e interpretar os fenômenos referentes aos processos

epidêmicos. Este avanço na epidemiologia matemática tem dado subsídios para as auto-

ridades sanitárias na de�nição de políticas públicas de controle e prevenção de doenças

transmissíveis.[11]

5.3 Modelos Epidemiológicos

Destaca-se, agora, alguns modelos matemáticos aplicados à Epidemiologia, enfati-

zando sua forma compartimental e o sistema de equações de diferenças que a descreve.

Segundo Bassanezi (2006, p. 151) � um sistema de compartimentos consiste de um nú-

mero �nito de subsistemas interligados, chamados compartimentos, que trocam entre si e

com o meio ambiente, quantidade de concentração de materiais. Cada compartimento é

de�nido por suas propriedades físicas�.

Primeiramente, apresenta-se alguns conceitos básicos em epidemiologia necessários

para entendimento, conforme [10], [11] e [13], são eles:

Epidemia: ocorrência de uma doença excedendo a expectativa normal;

Endemia: ocorrência de uma doença por determinado período de tempo;

Doença Noti�cável: doença de natureza infecciosa cuja noti�cação de ocorrência é obri-

gatória por lei;

45

Extinção Epidêmica: extinção de um parasita por serem os números de infecciosos tão

baixos imediatamente a uma epidemia, que é possível remover todos eles por efeito

de pequenas �utuações randômicas;

Exposto: individuo infectado que ainda não é capaz de transmitir a doença;

Infeccioso: indivíduo que transmite a doença;

Suscetíveis: são pessoas sadias, mas suscetíveis à epidemia, podendo ser infectadas

quando em contado com pessoas doentes;

Removidos: são indivíduos que estão isolados, mortos ou curados;

Período Latente: intervalo de tempo entre o momento da infecção e a existência mate-

rial da infecção no organismo de um indivíduo suscetível;

Período de Infecção: intervalo de tempo entre o momento da infecção e a aparição dos

sintomas;

Força de infecção: incidência per capta ou taxa de ataque de uma doença. Dada pela

incidência relativa ao número de indivíduos de uma população;

Razão de Reprodutividade Basal-R0: número de casos secundários que um caso pri-

mário é capaz de produzir em uma população totalmente suscetível. Se a razão de

reprodutividade basal for menor que um (R0 < 1) então a doença se extinguirá, se

a razão de reprodutividade basal for maior que um (R0 > 1) a doença permanecerá

em estado endêmico. [19]

Neste estudo, considera-se uma população P dividida em classes disjuntas de suscetí-

veis e infecciosos, sendo que as proporções de cada classe variam com o tempo t;

� S = St : representa os suscetíveis no instante t;

� I = It : representa os infecciosos no instante t.

Assume-se como hipóteses: 1) A população considerada tem um tamanho �xo P su-

�cientemente grande em cada compartimento, logo podemos tomar P = S + I; 2) Estes

modelos estudados admitem que a dinâmica vital considera as taxas de natalidade e mor-

talidade iguais, assim como todos os recém nascidos são considerados como da classe dos

suscetíveis; 3) Os indivíduos são retirados de cada classe por morte com uma taxa pro-

porcional ao tamanho da classe, denominada taxa de remoção por unidade de tempo; 4)

A população é considerada uniforme e homogeneamente distribuída; 5) A infecção de um

indivíduo acontece a partir do contato de um indivíduo infeccioso com um suscetível; 6)

Todos os indivíduos infectados têm o mesmo poder de transmitir a doença.

46

5.3.1 O Modelo SI

No modelo SI não acontece a recuperação dos doentes, os indivíduos infectados não

retornam para a classe dos suscetíveis. Assim não ocorre a recuperação dos infecciosos.

Sua dinâmica consiste em analisar somente os indivíduos infectados. As principais doenças

que podem ser modeladas por este modelo são a AIDS e a Gripe. A Figura 5.1 mostra

um esquema do modelo compartimental SI. [2]

Figura 5.1: Modelo Compartimental SI

O modelo SI tem sua dinâmica dada pelo sistema de equações de diferenças �nitas

indicado em 5.1 St+1 = St − αStItIt+1 = It + αStIt

St > 0, It > 0, St + It = 1

(5.1)

onde:

� αStIt é a taxa de movimentação da classe de suscetíveis para a classe dos infecciosos;

� St e It representam a proporção na população dos suscetíveis e infecciosos, respecti-

vamente.

5.3.2 O Modelo SIR

Neste modelo epidemiológico os indivíduos se recuperam com imunidade. É o

caso de doenças causadas por agente viral, como sarampo, caxumba e varíola. Este é o

modelo de Kermack-McKendric (1927) no qual os indivíduos podem ser recuperados e

tornados imunes à doença. Sua dinâmica consiste em analisar os indivíduos infectados e

os recuperados. A Figura 5.2 mostra um esquema compartimental do modelo SIR.

Figura 5.2: Modelo Compartimental SIR

47

Para este modelo o sistema de equações de diferenças será indicado por 5.2

St+1 − St = −αStItIt+1 − It = αStIt − βItRt+1 −Rt = γIt

S0 > 0, I0 > 0, R0 > 0St + It +Rt = 1

(5.2)

O sistema 5.2 nos diz que:

� Os suscetíveis decrescem a uma taxa proporcional ao encontro com os infecciosos;

� Os infecciosos aumentam na mesma proporção em que diminuem os sadios;

� Os removidos variam proporcionalmente aos infecciosos.

tem-se,

� α =taxa de variação (crescimento ou decrescimento) da classe de suscetíveis;

� β =taxa de transmissão ou infecciosidade proporcional ao contato entre os indiví-

duos;

� γ =taxa de cura ou mortalidade.

Existem ainda, outros modelos epidemiológicos que não fazem parte do escopo deste

estudo, entretanto, o leitor interessado pode remeter-se à [2], [3], [7], [10], [11], [13], [15]

e [19].

48

49

Capítulo 6

MODELAGEM MATEMÁTICA PARA

HANSENÍASE EM CODÓ

6.1 Introdução

Neste capítulo, fez-se a plicação de um modelo discreto do tipo SI (suscetíveis -

infectados) na avaliação da dinâmica da hanseníase no município de Codó-MA com base

em dados ao período compreendido entre 2001 e 2014, fornecidos pela Secretária Municipal

de Saúde, por meio da Vigilância Epidemiológica do Município. Este capítulo foi baseado

principalmente nas seguintes referências: [2], [3], [11], [13], [15] e [19].

O modelo é uma simpli�cação de um modelo do tipo SIR (suscetíveis-infectados-

removidos) onde a população é constituída apenas por suscetíveis St e infectados It.

6.2 O Modelo SIR

Para compreender a dinâmica da epidemia da hanseníase, utilizou-se um modelo

compartimental de tempo discreto com três compartimentos: St suscetíveis, It infecciosos

e Rt de removidos conforme a Figura 6.1.

Figura 6.1: Modelo compartimental SIR

A Figura 6.1 mostra um esquema do processo epidemiológico para o modelo SIR.

Para este modelo, o sistema de equações de diferenças, de acordo com[13], dado pelo

sistema 6.1, será:

50

St+1 − St = µ(St + It −Rt)− βStItIt+1 − It = βStIt − γItRt+1 −Rt = γIt

St + It +Rt = 1

S0 > 0, I0 > 0, R0 > 0

(6.1)

Sistema 6.1: Modelo SIR

onde:

� µ =taxa de crescimento da população;

� β =taxa de transmissão da doença;

� γ =taxa de recuperação ou remoção.

Supondo que a população se restringe a suscetíveis e infectados, tomando St + It = 1,

pode-se simpli�car o modelo 6.1 e rescrevê-lo como:St+1 − St = µ(St + It)− βStItIt+1 − It = βStIt − γItS0 > 0, I0 > 0 e St + It = 1

(6.2)

Sistema 6.2: Modelo SI

No modelo 6.2 fazendo-se µ(St+ It) = αSt, onde α é a taxa de crescimento dos susce-

tíveis. Deste modo o modelo apresenta somente dois compartimentos S dos suscetíveis e

I dos infectados. Pode-se escrever o modelo 6.2 de uma forma simpli�cada, tal como:St+1 − St = αSt − βStItIt+1 − It = βStIt − γItS(0) = S0 > 0 e I(0) = I0 > 0

(6.3)

Sistema 6.3: Modelo simpli�cado SI

O sistema 6.3 é o modelo matemático formado por equações de diferenças �nitas

escolhido para modelar a Hanseníase em Codó. Onde:

� α = taxa de variação (crescimento ou decrescimento) dos suscetíveis;

� β = taxa de transmissão ou infecciosidade, proporcional ao contato entre os indiví-

duos;

51

� γ = taxa de decrescimento da classe dos infecciosos ( taxa de cura ou mortalidade).

Os valores S0 e I0 para o tempo inicial t = 0 são as condições iniciais do problema.

Seja uma população P formada apenas por suscetíveis e infecciosos, bem como St e Itcomo partes ou porcentagens de P no instante t.

St+1 + It+1 = 1 (6.4)

O modelo dado pelo sistema 6.3 é um modelo dinâmico em tempo discreto. Isolando

St na primeira equação do sistema 6.3, encontra-se:

St+1 = St(1 + α− βIt)

St =St+1

1 + α− βIt, onde It 6=

1 + α

β(6.5)

Em 6.5, substituindo St na segunda equação do sistema 6.3, obtém-se.

It+1 − It = β

(St+1

1 + α− βIt

)It − γIt

It+1 = (1− γ) It +βItSt+1

1 + α− βIt(6.6)

Agora substituindo na equação 6.6 o valor de St+1 a partir da equação 6.4 ou seja,

St+1 = 1− It+1.

It+1 = (1− γ) It +βIt (1− It+1)

1 + α− βIt(6.7)

Desenvolvendo a equação 6.7 obtém-se,

It+1 = (1− γ) It +βIt

1 + α− βIt−(

βIt1 + α− βIt

)It+1 ⇔

It+1 +

(βIt

1 + α− βIt

)It+1 =

[(1− γ) + β

1 + α− βIt

]It ⇔

[1 +

(βIt

1 + α− βIt

)]It+1 =

[(1− γ) (1 + α− βIt) + β

1 + α− βIt

]It ⇔

[1 + α− βIt + βIt

1 + α− βIt

]It+1 =

[(1− γ) (1 + α) + β − (1− γ) βIt

1 + α− βIt

]It ⇔

[1 + α

1 + α− βIt

]It+1 =

[(1− γ) (1 + α) + β

1 + α− βIt

]It −

[(1− γ) β

1 + α− βIt

]I2t (6.8)

Multiplicando a equação 6.8 por 1+α−βIt1+α

com α 6= −1 tem-se:

52

It+1 =

[(1− γ) (1 + α) + β

1 + α

]It −

[(1− γ) β1 + α

]I2t ⇔

It+1 =

[(1− γ) + β

1 + α

]It −

[(1− γ) β

1 + α

]I2t , (6.9)

a equação 6.9 é uma equação de diferenças não linear de primeira ordem, primeiro grau

com coe�cientes constantes.

Fazendo a = 1− γ e b = β1+α

e substituindo na equação 6.9 encontra-se:

It+1 = (a+ b) It − (ab) I2t (6.10)

que é uma equação logística em tempo discreto.

O modelo 6.10 mostra que a quantidade I de infecciosos terá um crescimento logístico

onde a+b representa a taxa de crescimento dos infecciosos e ab representa a inibição da do-

ença por conta de tratamentos, políticas públicas e campanhas que reduzem o crescimento

da epidemia.

A equação 6.10 pode ser escrita como:

It+1 = (a+ b) It

[1− abIt

a+ b

](6.11)

sendo a mudança de parâmetro a+ b = r encontra-se:

It+1 = rIt

[1− abIt

r

](6.12)

Fazendo a transformação abItr

= Yt que é equivalente a It = rYtab

com a 6= 0 e b 6= 0. Tem-se:

r

abYt+1 = r

r

abYt [1− Yt]⇔

Yt+1 = rYt [1− Yt] , r > 0 (6.13)

O valor de Yt na equação 6.13 representa a proporção anual da população infecciosa pela

Hanseníase no tempo t. Se ocorrer 0 < r < 1, isto é os valores de r são menores que um,

a infecção entra em declínio e tende para a extinção, já que sua taxa de reprodutividade

está abaixo da unidade.[2]

6.3 Modelagem da Hanseníase em Codó-MA

Aplicou-se o modelo SI a partir de parâmetros obtidos dos dados da epidemia

de hanseníase na cidade de Codó. Fez-se projeções a partir do valor proporcional de

infecciosos utilizando a equação logística 6.14

53

It+1 = rIt (1− It) (6.14)

6.3.1 Encontrando os parâmetros α, β, γ e r

Tabela 6.1: Número de Infecciosos, Suscetíveis e População de Codó-MA de 2001 a 2014.Fonte: Secretária Municipal de Saúde.

De acordo com a Tabela 6.1 o número total no período de 2001 a 2013 é de 1616

infecciosos e 5471 suscetíveis. Para efeito de aplicação vamos supor que a população é a

soma de infecciosos e suscetíveis dado por P = 7087, pois de acordo com a hipótese do

modelo temos St + It = Pt. De acordo com a equação 6.4 os valores proporcionais iniciais

de infecciosos e suscetíveis são I0 = 16167087≈ 0, 2280 e S0 =

54717087≈ 0, 7720.

Os parâmetros α, taxa de variação dos suscetíveis e β taxa de transmissão da doença

são obtidos através de ajuste linear ou regressão linear a partir das curvas dos suscetíveis

e infecciosos em função do tempo. As curvas dos suscetíveis e dos infecciosos das Figuras

6.2 e 6.3, respectivamente, foram construídas através do Microsoft Excel. Para a curva

dos suscetíveis em função do tempo o coe�ciente de correlação de Pearson1 é 0,2774 e

para a curva dos infecciosos em função do tempo é 0,3989. Esses resultados mostram

uma fraca correlação entre as variáveis estudadas, entretanto, o nosso proposito maior é

encontrar as taxas de variações se suscetíveis e infecciosos em função do tempo.

A estimativa dos parâmetros α e β foi feita através da variação do número de suscetíveis

e infecciosos a partir de 2003 a 2013, por conta de uma grande dispersão dos dados podendo

comprometer sua estimativa, conforme vemos nas Figuras 6.2 e 6.3 respectivamente.

1Instrumento de medida da Correlação Linear. Para aprofundamento do assunto sugeri-se a leitura de[3]

54

Figura 6.2: Regressão Linear do Número de Suscetíveis a Hanseníase em Codó- 2003 a2013

Figura 6.3: Regressão Linear do Número de Infectados por Hanseníase em Codó - 2003 a2013

α = −0, 0088 (6.15)

β = −0, 0035 (6.16)

Os valores negativos dos parâmetros α e β indicam que existe uma tendência de de-

crescimento da doença no município.

O parâmetro γ foi calculado considerando o valor de β = −0, 0035 e as variações de

valores de suscetíveis e infectados de acordo com a Tabela 6.1 substituindo os valores na

segunda equação do sistema 6.3, como segue,

Para o ano de 2003, temos

It+1 − It = βStIt − γIt ⇔

γ = βSt + 1− It+1

It⇔ γ = −0, 0035.0, 529 + 1− 0, 148

0, 144

55

γ = −0, 02963

Continuando, completa-se a Tabela 6.2

Ano (t) γ(t)

2003 -0,029632004 -0,069072005 0,321032006 -0,263082007 0,227732008 -0,328312009 0,063692010 0,099282011 -0,018532012 0,100172013 -0,3977

γ Média -0,02677Desvio Padrão 0,226306

Tabela 6.2: Variação da Taxa de Removidos - 2003 a 2013

O parâmetro

γ = −0, 02677 (6.17)

é dado pela média dos valores referentes aos anos 2003 a 2013. O sinal negativo de γ pode

indicar uma tendência de decrescimento da doença no município, pois mostra que a taxa

de cura ou mortalidade está decaindo.

Para o cálculo do parâmetro r = a+ b usamos as igualdades a = 1− γ e b = β1+α

r = 1− γ +β

1 + α(6.18)

substituindo os valores dados em 6.15, 6.16 e 6.17 na equação 6.18 encontramos

r = 1− (−0, 02677) + (−0, 0035)1− 0, 0088

r ≈ 1, 0232 (6.19)

Uma vez que 1 < r < 3 a tendência da população de infecciosos pela Hanseníase, em

Codó-MA, é estabilizar para um ponto �xo I∗ = 1 − 1r. De acordo com os resultados

encontrados na secção 4.2.

56

6.3.2 Projeções da População de Infecciosos pela Hanseníase em

Codó-MA

A avaliação da população de infecciosos pela hanseníase no município de Codó foi

feita através da equação logística:

It+1 = rIt(1− It), r > 0 (6.20)

com a população inicial I0 = 0, 228 e r = 1, 0232.

As Tabelas 6.3 e 6.4 retratam as projeções da população de infecciosos It para o

município de Codó-MA. As projeções foram obtidas através da equação logística 6.20

para I0 = 0, 2280 e o parâmetro r assumindo os valores r = 1, 0232, r1 = 0, 5917, r2 =

0, 807, r3 = 1, 239 e r41, 4548.

Tabela 6.3: Projeção da População de Infecciosos pela equação 6.14, para diferentesvalores de r / 2015 a 2096

57

Tabela 6.4: Projeção da População de Infecciosos pela equação 6.14, para diferentesvalores de r / 2097 a 2178

Na terceira coluna das Tabelas 6.3 e 6.4 tem-se a projeção da população de infecciosos

pela hanseníase em Codó-MA para o parâmetro r = 1, 0232. Uma vez que 1 < r < 3 a

tendência da população de infecciosos é estabilizar para um ponto �xo I∗ = 1− 1r≈ 0, 023,

o que deve ocorrer no ano de 2151 a partir da iteração de número 136. Esta tendência

de estabilidade da doença deve acontecer independentemente da população inicial de

infecciosos, pois sua razão ou taxa de reprodutividade basal2 (R0) está acima da unidade.

O que caracteriza que a hanseníase em Codó deve permanecer em estado endêmico pela

avaliação do modelo proposto.

As outras colunas das Tabelas 6.3 e 6.4 são projeções hipotéticas para avaliar possíveis

pertubações no valor real de r. Nas quarta e quinta colunas da tabela, os valores de r1 =

0, 5917 e r2 = 0, 807 foram obtidos substituindo o valor de γ por (γ + 2DP ) e (γ +DP ) ,

respectivamente, na equação 6.18. Como 0 < r < 1 a população de infecciosos tem

2Número de casos secundários que um caso primário é capaz de reproduzir em uma população suscetível.Ver [11]

58

a tendência para a extinção, independentemente do valor inicial de infecciosos pois sua

razão de reprodutividade basal está abaixo da unidade. Para r = 0, 5917 a extinção da

hanseníase deveria ocorrer em 2022 e para r = 0, 807 a extinção deveria ocorrer em 2030.

Nas sesta e sétima colunas das Tabelas 6.3 e 6.4 os valores de r3 = 1, 239 e r4 = 1, 4548

foram obtidos substituindo o valor de γ por (γ −DP ) e (γ − 2DP ) , respectivamente

na equação 6.18. Para r = 1, 239 a população de infecciosos tem uma projeção de se

estabilizar em torno de I∗ = 0, 193 o que ocorreria em 2030. Para r = 1, 4548 a tendência

seria estabilizar em I∗ = 0, 313 em 2027.

A tendência de estabilidade da hanseníase no município de Codó é apontada também

pela �guras 6.4, 6.5 que mostram a projeção da população de infecciosos para r = 1, 0232,

tais projeções foram obtidas a partir do modelo proposto para análise e avaliação da

epidemia.

Figura 6.4: Projeção de Número de Infecciosos. Parâmetro r = 1, 02324

Figura 6.5: Projeção da População de Infecciosos para os diferentes valores de r

A Figura 6.5 apresenta as projeções para a população de infecciosos pela hanseníase,

no município de Codó no Estado do Maranhão, para o período de 2015 à 2045, conforme

a equação 6.14 e de acordo com as Tabelas 6.3 e 6.4, para os diferentes valores de r

encontrados da série histórica pesquisada referente ao período de 2001 a 2014.

59

A partir da análise do grá�co da Figura 6.5, obtém-se como resultados:

� Para r = 1, 0232, que é o valor real de r encontrado nesta pesquisa, a curva indica

uma tendência de estabilização da doença no município para um valor proporcional

da população infecciosa próximo de 0,050, o que mostra que a epidemia de hanseníase

não será erradicada;

� Para r = 0, 5917 e r = 0, 807, que são perturbações no valor real de r, as curvas

indicam a tendência de estabilização para a extinção da epidemia, mostrando que

a doença seria erradicada. Essas pertubações são caudadas pelas ações inovadoras,

programas e campanhas promovidas pelo poder público para o controle da epidemia,

assim como investimento em saneamento básico, na saúde e educação;

� Para r = 1, 239 e r = 1, 4548, a tendência das curvas é estabilizar para valores

proporcionais mais altos da população de infecciosos pela Hanseníase.

De modo geral, à medida que o valor de r vai aumentando, a proporção da população de

infecciosos pela hanseníase vai se tornando cada vez maior. Por outro lado, à medida que

o valor de r diminui, a população de infecciosos entra em declínio, indo para extinção.

Assim o parâmetro r é o resultado mais importante deste trabalho e de fundamental

importância para o controle da doença estudada.

60

61

Capítulo 7

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cidade de Codó está entre as cinco cidades com maior coe�ciente de Prevalência

de Hanseníase do Estado do Maranhão, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (SES).

Uma das ações que já está acontecendo em Codó é o trabalho de Busca Ativa, que signi�ca

ir de casa em casa nos bairros mais endêmicos. Este fato serve como justi�cativa para

tratarmos a Hanseníase como um grave e importante problema de saúde pública em nosso

meio, cabendo políticas públicas especí�cas de combate a esta epidemia.

Diante deste quadro, foi feita uma modelagem matemática para a Hanseníase em Codó

- MA através de um modelo compartimental de tempo discreto, composto por Equações

de Diferenças Finitas, formado pelos compartimentos suscetível e infectados - SI, o qual foi

simpli�cado, recaindo na equação logística discreta It+1 = rIt(1− It) onde o It representaos infectados no instante t em anos. O instante t são os anos da série histórica pesquisada

compreendida entre 2001 a 2014. Através deste modelo analisou-se a dinâmica da doença

a partir do parâmetro r = 1, 0232 e de uma proporção inicial da população de infectados

I0 = 0, 228 obtidos acumulando a série histórica de valores dos casos reais registrados no

município, fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde e pelo Sistema de Informação de

Agravos de Noti�cação (SINAN). A análise do modelo proposto mostrou que a tendência

da população de infectados é estabilizar para o ponto �xo I∗ = 1 − 1r≈ 0, 023, o que

acontecerá no ano de 2151. Isto mostra que a Hanseníase em Codó deve permanecer em

estado endêmico pela avaliação do modelo.

Tem-se consciência que esta proposta de pesquisa se constitui como uma iniciação

ao estudo e aplicação das Equações de Diferenças Finitas na modelagem matemática de

doenças, deste modo não aborda-se de forma profunda a fundamentação teórica dos mo-

delos compartimentais abordados. Têm-se plena convicção que o modelo usado é bastante

simples para modelar uma doença complexa como a Hanseníase que está relacionada a

vários outros fatores e variáveis, tais como analfabetismo, pobreza, dentre outros. Sendo

assim temos um problema em aberto para o desenvolvimento de um modelo mais amplo

e completo que possa descrever a Hanseníase ou outra doença de forma mais próxima do

real e mais abrangente.

62

Segundo Santos (2014) a Organização Mundial de Saúde (OMS), frente ao grande

número de casos no mundo, estipulou como meta aos países a redução de prevalência de

Hanseníase à 1 caso para cada 10.000 habitantes até o ano de 2015. A cidade de Codó

apresenta uma média de prevalência de 10,93 casos por 10.000 habitantes entre o período

de 2001 a 2014. As projeções obtidas pelo modelo desenvolvido, assim como os grá�cos de

tendência da situação real, apontam para uma estabilização da doença para I∗ ≈ 0, 023

o que representa 2, 3% da população serão infectados pela Hanseníase no município de

Codó.

Mesmo nosso modelo não apontando para uma extinção da doença, acredita-se que a

erradicação da Hanseníase na cidade de Codó é possível. O sucesso dependerá da imple-

mentação de políticas públicas voltadas ao combate à doença, como a Busca Ativa, políti-

cas públicas voltadas para erradicação de problemas socioeconômicos crônicos e clássicos

do Brasil, como a falta de saneamento básico, a pobreza, a desnutrição, o analfabetismo,

entre outros. Durante visitas aos pacientes, realizadas no programa de Busca Ativa, pode-

se constatar que ainda há muito preconceito envolvendo a Hanseníase em nosso município,

bem como o medo e a resistência ao tratamento por parte dos pacientes, o que caracteriza

alguns fatores que atrapalham a erradicação de�nitiva da Hanseníase em Codó.

63

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